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La lectura vivenciada: una experiência de formación de lectores en Brazil1

Luciéle Bernardi de Souza2

Escolal Estadual Edna May Cardoso- clednamaycardoso@gmail.com

Resumo: Formar leitores no Brasil é uma árdua tarefa. Pensando nisso, este trabalho
objetiva compartilhar, além de uma realidade educacional singular, uma experiência bem
sucedida de criação de empatia e leitura efetiva do texto literário em uma escola pública da
periferia de uma cidade brasileira. Durante a minha prática de Estágio Docente, optei por
uma bibliografia literária que despertasse a empatia de um público adolescente por obras
literárias, considerando que o interesse e a leitura de textos literários por adolescentes de
baixa renda e pouco acesso à cultura letrada é pouco significativa.Através do texto de um
escritor paulista, pertencente a um movimento cultural que inclui a chamada Literatura
Marginal, mais do que presenciar, de acordo com uma concepção freiriana do ensinar e
aprender, aprendi como a simples escolha por uma literatura que refletisse o mundo
singular daqueles adolescentes contribuiu para provocar a empatia pelo texto e iniciar um
processo de formação de leitores.

Atualmente, no Brasil, a discussão sobre a leitura e a formação de leitores nunca


esteve tão em voga em círculos acadêmicos e fora da academia. Refiro-me a uma discussão
que é realizada pela mídia sobre programas governamentais, como o Programa Nacional de
Incentivo à Leitura (PROLER) que ocorre desde 1992, a criação de instituições como a
Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), Livro, Leitura e Literatura (LLL),
dentre outros projetos a nível nacional, estadual e municipal, abrangendo a micro e macro
escala. Com uma democratização recente, após a Ditadura Militar (1964-1985), o país
vem, a passos lentos, democratizando seu ensino, desde a educação básica até a superior.
Esta democratização abrange inúmeros componentes, desde as metodologias usadas, até a
questão da reconstrução de currículos a nível nacional. Como exemplo disso, somente a
partir de 1996, com período de adaptação, uma lei inclui o ensino de Filosofia e Sociologia
nas escolas, para alunos do Ensino Médio.
Em meio aos antigos, mas sempre pertinentes, questionamentos, encontramos
reflexões sobre os motivos pelos devemos ler, para quê, e como “melhor” ler ou
desenvolver práticas de leitura eficazes para serem aplicadas nas escolas. Acredito que ler,
grande parte dos alunos alfabetizados faz, porém no contexto específico, a dificuldade faz-
se notar relativa à construção de significados provenientes do texto literário, construção

1
Atividade realizada durante o período de Estágio Docente, obrigatório para a graduação em cursos de
licenciatura.
2
Formada em Letras-Português Licenciatura. Mestranda em Teoria Literária pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Brasil.Bolsista Capes-PROEX. Pós-Graduanda no curso de
Teoria e Prática da Formação do Leitor-Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS).
que envolve a dimensão cognitiva, pragmática e, é importante destacar, a dimensão afetiva
dos leitores. É esta última dimensão que norteou a prática desenvolvida.
A escola em que foi desenvolvia da atividade, uma escola pública, periferia de uma cidade
de médio porte (240.000 mil habitantes) do interior do estado do Rio Grande do Sul, Brasil,
recebe, em média, setecentos e cinquenta alunos no início do ano letivo, conforme Censo
Escolar encaminhado pela Secretaria da Educação do município de Santa Maria, realizado
pela escola. Esses alunos são oriundos de famílias com situação sócio-econômica médio-
baixas e alguns poucos de classe média regular sendo que, alguns deles vêm à escola por
exigência do Poder Judiciário. Constatou-se também que determinados pais ou
responsáveis encontram-se desempregados e programas de incentivo do Governo Federal
como a bolsa família tem incentivado a manter os filhos na escola. Apesar das exigências
legais, do esforço dos educadores, mesmo tendo sido reduzido nos últimos anos, alguns
alunos ainda acabam evadindo no decorrer do ano letivo por motivos (migração, trabalho,
gravidez).
O quadro de funcionários é composto por sessenta e três servidores sendo quarenta
e sete professores, quinze agentes educacionais. Contempla-se a participação de todos os
segmentos da comunidade escolar através do Conselho Escolar Associação do Círculo de
Pais e Mestres, Grêmio Estudantil, Comissão de Eventos e da Escola Aberta para a
Cidadania. Através do parecer definido nº 148/92 obteve autorização para introdução de
novo turno de funcionamento, o noturno.
Estruturalmente, é pertinente ressaltar que o espaço destinado à biblioteca é
precaríssimo, descuidado, com goteiras e improvisado. Isso refletia muito no desinteresse
dos alunos em relação a prática de leitura.
A turma em que foi realizada a atividade é uma oitava série do Ensino Fundamental, possui
doze meninos e quinze meninas totalizando vinte e sete alunos entre treze e dezesseis anos. Era
uma turma considerada por professores como uma “turma problema”, pois havia alunos repetentes,
com problemas com drogas, desestruturação familiar e desinteresse pelos estudos.
A grande maioria pertence a uma baixa classe social, em que a família recebe entre
3 e 4 salários mínimos. Enfatizei, mais do que a classe social, o aspecto cultural que muitas
vezes é associado a tal classe, como o pouco acesso à cultura letrada, bem como o quase
inexistente interesse por obras literárias. Saliento que não quis arriscar cair em uma
posição determinista, pois sabemos que alguém de classe baixa pode ter acessos a livros,
por exemplo, na biblioteca pública ou internet (comunitária, me cybers) e ter um hábito de
leitura mais acentuado que um adolescente de classe media-alta, embora sejam raros os
casos.

Para a realização da atividade com a Literatura Marginal, motivou-me o pouco


interesse em literatura brasileira que os alunos revelaram e, somando-se a isso, o grande
interesse em RAP e outras demonstrações da cultura oral que, de acordo com eles “falam
da gente”. Além disso, em um questionário sócio-antropológico que evidenciou questões
sobre leitura, foi constatado que, de um total de vinte e cinco alunos quando perguntados
se “gostam ou não de ir à biblioteca”, dezessete responderam que “não” e apenas oito
alunos responderam que “sim”. Outro questionamento que visou conhecê-los enquanto
leitores ativos (ou não-ativos), foi solicitar que citassem o livro preferido e, dos vinte e
cinco alunos, nove não souberam responder qual era o livro preferido, o restante dos
alunos citaram “best-selles” como O anel de noivado de Danielle Stell, O diário de uma
paixão de Nicholas Sparks e Saga Crepúsculo de Stephenie Meyer.

Com a constatação referida e uma posterior reflexão sobre, com a atividade objetivei,
principalmente, a criação da empatia do leitor com a obra literária, pois, tratava-se de uma turma
formada predominantemente por sujeitos que não eram leitores de literatura, e, mais do que isso,
achavam “chato ler”. Dentre os outros objetivos, procurei desmistificar a literatura enquanto
algo difícil, sagrado e fechado em si mesmo, modelo que afeta o ensino e a aprendizagem
de forma negativa, negando as possibilidades afetivas e reflexivas que a obra pode
proporcionar ao sujeito. Por fim, procurei trazer o texto para uma relação de vivência com
o jovem leitor, através de uma literatura mimética, que falasse daquela realidade dos
jovens que ali estavam, potencializando o desenvolvimento das habilidades leitoras de
acordo com as especificidades de cada texto e leitor.

Estratégias e atuações

Para o cumprimento, com êxito, de tais objetivos, pensar sobre a realidade do aluno
e considerar sua cultura foi fundamental. Primeiramente selecionei a obra de um autor
pertencente à Literatura Marginal3. O termo refere-se à produção de obras de escritores
periféricos de São Paulo a partir dos anos 2000 que, de um ponto de vista da circulação e
dos signos que compõem tais obras, estão à margem do circuito literário “oficial” da
cultura canônica. Atualmente já conhecidos, como é o caso de Ferréz, as obras possuem a
3
Para melhor esclarecimento do termo consultar o trabalho de Érica Pessanha sobre:
<ttp://www.edicoestoro.net/attachments/057_LITERATURA%20MARGINAL%20%20OS
%20ESCRITORES%20DA%20PERIFERIA%20ENTRAM%20EM%20CENA.pdf>
marcante característica de mostrar o Brasil periférico, o homem da periferia, os problemas
cotidianos da mesma (a pobreza, a violência, a falta de perspectiva), mas também o lado
humano, as relações de afeto e luta desta grande parcela da população brasileira. Buscar
obras que dialogassem com o leitor, principalmente por sua temática, mas também por sua
linguagem, foi fundamental para repensar o lugar do cânone literário dentro da escola,
afinal, por qual motivo usá-lo em contextos escolares que, em um primeiro momento, um
momento de formação de leitores, pouco tem a dizer sobre esta realidade específica?

O gênero literário escolhido para facilitar a leitura em períodos de tempo tão curtos
(50 minutos) foi o conto. O conto possui um poder de síntese, a economia de meios e a
rápida leitura. Diferentemente de um romance, é um gênero que propiciou uma agilidade e
facilidade sistemática para gerar um interesse nos alunos em formação enquanto leitores
ativos, principalmente pelas características já apontadas.

O conto escolhido para a atividade foi Uma cota de desprezo, do autor e MC do


grupo de Rap Clãnordestinos Dugueto Shabazz-Ridson, que pertence à obra intitulada
Notícias Jugulares: Contos, Crônicas e Poesias (2007). Portanto, temos um autor vivo,
periférico, que escreve de maneira que comunique com os seus contemporâneos e, além
disso, com uma linguagem coloquial, pertencente a um contexto cultural periférico, a
mesma linguagem pertencente ao mundo dos alunos. Somente esta constatação, na
apresentação do autor, já gerou um interesse pelos alunos, que não viram o autor como
uma caricatura, um velho, distante do seu mundo, um homem inteligente, intocável,
hermético. Além disso, o conto narra uma situação de preconceito,do preconceito racial na
perspectiva de uma criança que narra tudo já adulta, com discernimento para compreender
criticamente a situação pela qual passou.

É importante salientar que também foi lido o conto A máscara da Morte rubra, de
Edgar Allan Poe, um clássico da literatura universal, além de clássicos da literatura
brasileira como Clarice Lispector e Orígenes Lessa. A escolha de outros contos, que não os
pertencentes a autores da Literatura Marginal, deve-se a experiência paralela que o que os
outros contos despertaram nos leitores e o nível de empatia provocado na interação obra-
leitor, além de, não privar, por um recorte cultural, os potenciais leitores da uma interação
com outras obras.

A metodologia recepcional usada é baseada na Estética da Recepção, teoria em que


o leitor é o principal elemento da construção do texto. O primeiro passo desta proposta
seria o horizonte progressivo da experiência estética, em que haveria uma espécie de
apresentação do texto através do primeiro contato com o leitor dentro de limites de
compreensão e sua experiência leitora, ou seja, com o conhecimento dos leitores (suas
preferências e práticas) que eu possuía em sala de aula (aspectos sociais, culturais). Ou
seja, a escolha do conto refletiu esta primeira etapa. Além disso, esta primeira etapa contou
com uma “provocação”, ou seja, o momento crucial em que os alunos, antes de depararem-
se com a obra, foram despertados em seus interesses por ela, mobilizados. A construção
coletiva de sentidos foi realizada na segunda etapa, que priorizou a estrutura da obra
(personagem , tempo, narrador, espaço).

Resultados

A provocação ocorreu através da problematização conjunta das significações da


palavra “marginal”. Cada aluno foi ao quadro, ou comentou o que entendia por “marginal”,
a princípio uma palavra com conotação “ruim” que, aos poucos, durante a construção
conjunta, pode ser positivada através do entendimento de que, se há margem, não é por
acaso, mas porque estamos em uma estrutura social que prioriza uns e exclui outros,
coloca-os a margem. Essa “positivação” foi finalizada com a apresentação da Literatura
Marginal, nome que, para muitos, significou uma surpresa.

A obra, mimética, enquanto uma recriação do real, deixa transparecer a matriz da


desigualdade social, o que também foi motivo para muitos alunos se identificarem e
sentirem-se atraídos pela leitura. Depois de compreendido o tempo, o espaço, a
caracterização dos personagens e a empatia com relação a narradora, as sensações surgidas
e mencionadas, desde a “pena da criança”, a revelações de situações parecidas, até a
tristeza e raiva, foram expostas no quadro para que pudéssemos, em conjunto, tentar
compreender porque tais sensações e impressões ocorreram. Como a linguagem escrita
pode transmitir tais emoções de maneira que sentíssemos as sensações e sentimentos
relatados.

Conclusões

O sociólogo e literato Antonio Candido, quando conceitua a arte literária, afirma


que ela é
“o processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos
essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa
disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a
capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso de beleza, a
percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do
humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na
medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a
natureza, a sociedade, o semelhante” (p.259)

Esta, mais do que uma posição teórica, é uma posição em relação ao ser humano e
ao mundo, referente à produção simbólica e sensível que o homem é capaz de realizar.
Desta maneira, torna-se fundamental, durante nossa trajetória profissional, repensar como
“estudar” e “ensinar” arte, e mais, que tipo de arte estamos levando para determinados
contextos, com um público específico. Arte que, antes de ser “explicada”, deve ser sentida,
deve gerar empatia.
A recepção “positiva” de uma obra em um contexto onde os alunos não leem obras
literárias é fundamental para o estabelecimento de um primeiro momento de leitura
agradável e prazeroso, constatação em prol da empatia primária. Enfatizo que a existência
histórica de cada indivíduo vinculada a cada momento em que a obra foi concebida e
ocasiões diferentes na qual ela foi lida, fazem com que o sentido atribuído à mesma seja
diverso, bem como foram diversas as reações. A aproximação do texto ao contexto de
produção-recepção das obras, não subestimando sua cultura na qual os alunos estavam
inseridos, foi fundamental para que o despertar do apreço pela linguagem escrita torne-se
tão presente quanto a oral.
Muitas vezes, durante minha trajetória profissional, deparei-me com docentes e
colegas que, ironicamente, esqueceram que a arte é, antes de um objeto a ser descrito,
analisado e reflexionado, é um trabalho feito pelo ser humano, um trabalho sobre o
sensível e com o sensível, pois ao falarmos do homem, também falamos na sensibilidade
que nos torna iguais. Enquanto professora em constante formação, tenho a convicção de
que a arte, antes de se tornar um ponto para a criação de um objeto de estudo, de discussão,
reflexão, ou mesmo um conteúdo em forma de texto literário, deve ser sentida, deve ser
vivenciada, deve ser apreciada. Por isso, momentos de recepção em que o aluno possa dar
voz as suas impressões e sentimentos referentes a uma leitura é tão importante para sua
autoestima e compreender que a leitura também pode ser agradável, falar de mim enquanto
fala do outro.

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