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Arte Poética

Os temas privilegiados em Nuno Júdice são Poesia, vida e tempo. A poesia de Nuno Júdice constitui,
muitas vezes, uma reflexão sobre o fazer poético e o ato criador, afastando-se das preocupações
sociais que marcaram a poesia portuguesa dos anos 50 do século passado. Os seus poemas
assentam em frequentes referências ao próprio poema, à escrita, à literatura ou condensam a
perspetiva subjetiva de um escritor que escreve e simultaneamente lê por dentro o processo da sua
própria escrita.

Um Amor

Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,

puxaste-me para os teus olhos

transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,

ainda apanhámos o crepúsculo.

As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar

diferente inundava a cidade. Sentei-me

nos degraus do cais, em silêncio.

Lembro-me do som dos teus passos,

uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,

e a tua figura luminosa atravessando a praça

até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,

o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,

continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha

essa doente sensação que

me deixaste como amada

recordação.

Com o título, percebemos de imediato que o tema do poema é o amor sentido entre o sujeito
poético e um outro. O poema começa com o início do seu amor, o "eu" aproxima-se. No verso 3,
temos uma comparação em que " mar dos afogados " remete-nos para sofrimento, despedida.

A ação decorre num espaço citadino noturno. Ambos se sentem tristes pelo facto de se terem
separados.

"Lembro-me do som dos teus passos" - recordação de grande felicidade passada, no presente de
tédio.

O poema acaba com "recordação", não passa de recordação, no momento presente está triste, em
sofrimento, mas as recordações são felizes.
A figura da mulher surge luminosa, o que se opõe ao ambiente crepuscular do cais onde se encontra
o sujeito. O contraste entre luminosidade e escuridão remete ao próprio crepúsculo, momento em
que dia e noite convivem por alguns minutos, até que a noite predomine e, com ela, a imagem da
amada se esvai, deixando-o novamente apenas com recordações melancólicas. Aliado à temática
amorosa, a descrição de ambientes como "o cais" e "o mar" representando um local de partida, local
que semanticamente nos remete à viagem, enfatiza a ideia de vazio deixado pela ausência da
amada.

possível identificarmos na poesia de Júdice a incidência forte desses ambientes relacionados ao mar,
tais como o porto, o cais, a janela de um quarto que tem vista para o mar, os marinheiros, dentre
outras que reiteram a ideia da viagem, tema caro ao imaginário português desde o período medieval
e que remetem não somente a espaços longínquos onde o eu-lírico projeta as imagens de sua
fantasia, mas, principalmente falam sempre de partidas, configurando assim a imagem de uma

ausência.

Os três últimos versos muito se assemelham à moda romântica trazendo ao poema certo
sentimentalismo, como se por alguns momentos este sujeito poético se deixasse levar pelo passado

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