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Com dinheiro na mão, toda sua juventude à frente, Leonardo tinha sua grande chance:

passar no vestibular de medicina. Aos vinte e quatro anos, desde os dezessete estudando
em cursinho em regime integral, Batinho, como a família e os amigos mais chegados o
chamavam estava cansado dessa rotina, embora ainda motivado e encantado pela carreira.
Queria logo o ambiente da universidade, as aulas de anatomia, os professores contando os
casos reais. No futuro, a residência, a mão na massa, ou melhor, nos corpos. E, claro,
porque ninguém é de ferro, as festas, coisa pouca, sem muita bebedeira, duas vezes por
mês para não perder o jeito.
Havia decidido fazia uma semana. Não contaria para seus pais. Eles não aprovarariam,
recriminariam-no Não entenderiam suas razões. Já havia insinuado para eles que estava
ficando velho feito iogurte vencido esquecido no fundo da geladeira, sentado no fundo de
uma turma de cursinho. Diziam que isso não importava, que tudo tinha seu tempo, que ele
ainda seria aprovado na Universidade Federal de Santa Maria, a melhor segundo eles. Para
ele, no fundo, bem no fundo, não tinha lá tanta relevância. A teoria é a teoria. É a
experiência que forma um profissional de verdade.
Gregório não. Greg e Batinho eram céu e nuvem. Um era o que sustentava o outro nos
momentos de crise. Léo tinha sido convencido por ele de que os conhecimentos básicos
sobre organelas citoplasmáticas e balanceamento de equações químicas já tinha sido
suficientes nesse tempo todo. Exagerando um pouco, Gregório considerava que Tinho
havia esperado demais, perdido anos preciosos. Imagine! Poderia estar quase concluindo
sua formação. Mas Leonardo sempre hesitava. O bonitão, como, às vezes Greg se referia à
ele, não gostava de admitir, mas tinha lá seus escrúpulos. O que importa é que agora tinha
se decidido.
Numa lanchonete que se autodenominava restaurante, nos confins da cidade, Leonardo
esperava o tal agenciador, contato fornecido por Gregório. E por instruções dele,
apresentaria um nome falso, Zeca. Nesse meio, nomes pouco importam mesmo, disse
Greg. Batinho reconheceu Roque assim que ele adentrou ao Pasta da Boa. As
características passadas por Greg nem seriam necessárias. Um sujeito bolacho, de barba
por fazer, desodorante vencido. Como seu futuro ia sair dali, santo Deus?
Garantiu que tinha conhecidos, de dentro da universidade mesmo, tudo ia funcionar com a
precisão de um martelo no prego e como prego na parede.
Batinho lembrava das aulas de português e o r carregado de Roque é que martelava em
seu cérebro. Atônito de raiva, a única certeza que tinha é que estava numa roubada. Estava
numa roubada por causa de Gregório. Infame, desgraçado. Mas enquanto pensava em tudo
isso, não havia mais tempo de desistir. As duas mil pratas que Roque havia pedido estavam
em suas mãos. Em notas de cem e cinquenta, dinheiro vivo. Sua vontade era matar
Gregório.
Desejo que perdurou até o dia da prova. Acompanhado pelos pais, compareceu ao local
seguindo os ditames que já sabia de cor. Água, barrinha de cereal, arsenal de canetas e o
amigo no ponto eletrônico. Só esse item era novo e os pais nem desconfiaram. Logo nas
primeiras questões, Leonardo percebeu o quanto valeram os dois mil reais sôfregos que
dera. Se Roque tinha contatos na universidade, tinha decido dá-los folga e mandar uma
ameba no lugar do mentor que a ele estava destinado. Leonardo estava sozinho. Por conta
própria, como sempre.
Dias depois Gregório veio perguntar como tinha sido. Péssimo. Culpa sua Leonardo,
pensou. Péssimo. Culpa sua, respondeu-lhe. Disse que não queria vê-lo por um tempo.
Greg não contestou. Batinho se perguntou porque confiara nele tão cegamente. Mas outra
hora pensaria nisso. Agora tinha outras coisas pra se preocupar.
Tinha outro ano de cursinho pela frente. Na turma do fundão, porque ninguém é de ferro.

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