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ser Protagonista
Geografia
3
ENSINO MÉDIO
GEOGRAFIA
3º ANO
MANUAL DO PROFESSOR
Organizadora:
Edições SM
Obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida por Ediçõ es SM.
André Baldraia
• Bacharel e Licenciado em Geografia pela USP.
• Doutor em Ciê ncias – Geografia Humana pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciê ncias Humanas da USP.
• Professor no Ensino Superior.
3ª ediçã o
Sã o Paulo
2016
Editora SM
Pá gina 2
3ª ediçã o, 2016
Edições SM Ltda.
Rua Tenente Lycurgo Lopes da Cruz, 55
Á gua Branca 05036-120 São Paulo SP Brasil
Tel. 11 2111-7400
edicoessm@grupo-sm.com
www.edicoessm.com.br
Editora SM
Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras das árvores de florestas plantadas, com origem certificada.
Apresentação
É no espaço geográ fico que caminha a vida, ensinou o geó grafo brasileiro
Milton Santos.
Desse modo, o estudo de Geografia feito nesta obra oferece ferramentas para
entender a realidade em que estamos mergulhados e, dessa forma,
apreender o lugar de cada um. Mais ainda, possibilita refletir e atuar sobre
essa realidade.
Equipe editorial
Pá gina 4
A organização do livro
Pilares da coleção
Essa coleçã o organiza-se a partir de quatro pilares, cada qual com objetivo(s) pró prio(s):
CONTEXTUALIZAÇÃO E INTERDISCIPLINARIDADE
Relacionar o estudo dos conteú dos de Geografia ao de outras disciplinas, á reas do conhecimento e temas atuais, construindo,
assim, uma visã o ampla e integrada dos fenô menos estudados.
COMPROMISSO
Despertar a consciê ncia da responsabilidade e incentivar a reflexã o e o entendimento do mundo, para que você se torne um
cidadã o responsá vel.
VISÃO CRÍTICA
Contribuir para que você seja capaz de entender a realidade que o cerca e refletir sobre seu papel nessa realidade,
desenvolvendo, dessa maneira, sua visã o crítica.
INICIATIVA
Incentivar a atitude proativa diante de situaçõ es-problema, contribuindo para que você tome decisõ es e participe de forma
ativa em diversos contextos sociais.
As seçõ es e os boxes que se propõ em a trabalhar esses eixos estã o indicados pelos ícones que os representam.
Páginas de abertura
Abertura da unidade
Elaborada em pá gina dupla, apresenta um texto introdutó rio da temá tica da unidade articulado a uma imagem para levantar
seus conhecimentos pré vios. Em Questõ es para refletir você é convidado a pensar e a se manifestar sobre o tema.
Abertura do capítulo
Texto, imagens e questõ es se relacionam e introduzem o assunto específico do capítulo.
Apresentação dos conteúdos
O texto didá tico é complementado por imagens (ilustraçõ es, fotos, mapas) e boxes variados, a fim de estimular a sua
participaçã o e facilitar a compreensã o.
Cada volume da coleçã o traz infográ ficos, em pá ginas duplas, com riqueza de imagens (fotografias, mapas, grá ficos) e
pequenos textos que auxiliam na compreensã o do fenô meno representado.
Pá gina 5
A coleçã o conta com boxes para apresentar assuntos complementares aos temas (Saiba mais); sugerir filmes, livros e sites
para ampliaçã o dos estudos (Assista, Leia e Navegue); e destacar no texto didá tico glossá rios sobre termos que você talvez
nã o conheça.
Os boxes vinculados aos pilares contribuem para articular o tema estudado ao cotidiano (Conexã o); refletir sobre a
construçã o da cidadania e o convívio social (Açã o e cidadania); e associar os estudos a outras á reas do conhecimento
(Geografia e...).
Atividades
Atividades
Ao final dos capítulos, um conjunto de atividades possibilita a consolidaçã o, a retomada, a aná lise, a síntese e a pesquisa dos
assuntos abordados. Há trê s subseçõ es nesse conjunto: Revendo conceitos, Lendo mapas, grá ficos e tabelas e
Interpretando textos e imagens.
Vestibular e Enem
A seçã o apresenta questõ es de vestibulares do país e de vá rios Enem (Exame Nacional do Ensino Mé dio) realizados até hoje,
de acordo com o que foi estudado em cada unidade.
Seções especiais
Presença da África e Presença Indígena
Textos e atividades que valorizam a diversidade e combatem o preconceito e a discriminaçã o ao longo dos capítulos.
Em análise
Traz atividades sobre a construçã o de procedimentos e conhecimentos geográ ficos, como a elaboraçã o e interpretaçã o
cartográ fica, no final de cada unidade.
Síntese da Unidade
Atividades esquemá ticas que retomam conceitos bá sicos de cada capítulo.
Informe e Mundo Hoje
Seçõ es destinadas ao desenvolvimento do senso crítico a partir, respectivamente, de textos científicos e textos jornalísticos,
geralmente no final dos capítulos.
Geografia e...
Relaciona a Geografia com outras disciplinas do Ensino Mé dio, por meio de textos, imagens e propostas de atividades em
comum.
Projeto
Propõ e a resoluçã o de uma situaçã o-problema, que promove a iniciativa e o compartilhamento de seus estudos. Sã o
apresentados dois projetos por ano, estruturados em pá ginas duplas.
Pá gina 6
Sumário
Unidade 1 A produção do espaço político 10
Reuters/Latinstock
Capítulo 5 Globalização 70
Os principais fundamentos e atores da globalizaçã o 71
Os grandes grupos econô micos globais 72
A concentraçã o do capital 73
A ocidentalizaçã o do mundo 74
A globalizaçã o financeira 76
Presença da África: O Islã na Á frica 78
Informe: A interdependência global 80
Mundo Hoje: O mundo muçulmano em uma era global: a proteçã o dos direitos das mulheres 81
Atividades 82
Manifestaçã o por medidas de controle das mudanças climáticas, em Le Bourget, França. Foto de 2015.
Pá gina 8
Mulheres palestinas diante do muro entre Cisjordâ nia e Israel. Foto de 2015.
Pá gina 9
A produção do
UNIDADE 1
espaço político
NESTA UNIDADE
1 Territórios e fronteiras
2 As grandes guerras e a reordenação do espaço mundial
3 A geopolítica no pós-guerra
4 A geopolítica no Brasil
O século XX, com duas guerras mundiais e a Guerra Fria, mostrou que o
caminho para o consenso geopolítico é difícil e que as soluções
encontradas em longas negociações podem não agradar a todos os
países envolvidos.
Manifestantes ucranianos, carregando a bandeira nacional, protestam contra a anexação da Crimeia pela
Rússia, na cidade de Odessa, Ucrânia. Foto de 2014.
Pá gina 12
Territórios e
CAPÍTULO 1
fronteiras
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
Os conceitos de fronteira, Estado, territó rio nacional e naçã o.
O papel do Estado na produçã o do espaço geográ fico.
A circulaçã o dos grandes capitais.
As barreiras para as migraçõ es internacionais.
No Brasil, as cidades com populaçã o superior a 2 mil habitantes, cortadas pela linha de fronteira e que apresentam
grande potencial de integraçã o econô mica e cultural com os países vizinhos, são consideradas cidades-gêmeas.
Essas cidades exigem atençã o especial do poder pú blico por possuir forte interaçã o com os países fronteiriços, seja
no comércio e nos serviços pú blicos, como os de saú de e educaçã o, seja nos fluxos financeiros, de pessoas,
mercadorias, etc. Na foto, trecho da fronteira entre Uruguaiana (RS), no Brasil (em primeiro plano), e Paso de Los
Libres, na Argentina (ao fundo), 2014.
O mapa-mú ndi mostra os vá rios países do mundo. As linhas que delimitam esses países sã o as fronteiras. Elas
dão aos países a forma representada nos mapas, podendo ser naturais (uma cordilheira ou um rio, por
exemplo) ou artificiais (uma construção humana).
Embora as fronteiras pareçam elementos fixos, a realidade da divisão política demonstra o contrá rio. Por
serem está ticos, os mapas passam essa falsa impressã o de fixidez, mas basta nos lembrarmos das guerras para
contradizê-la.
Em geral, apó s o término dos conflitos, as partes beligerantes negociam um acordo de paz. Muitas vezes,
impõ e-se ao perdedor alguma sanção relativa a seu territó rio, que pode ser subdividido ou até perdido em
benefício das partes vencedoras. O territó rio do antigo Império Austro-Hú ngaro, por exemplo, foi
desmembrado apó s a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) em três Estados independentes: a Á ustria, a
Tchecoslová quia e a Hungria.
Executivo: poder do Estado com a funçã o de executar as leis e administrar os interesses da sociedade, de acordo com a
legislaçã o do país.
Legislativo: poder estatal responsá vel pela elaboraçã o de leis e normas que regem a sociedade. No Brasil, está a cargo do
Congresso Nacional (Câ mara dos Deputados e Senado Federal), das Assembleias Legislativas estaduais e das Câ maras
Municipais.
Judiciário: poder do Estado com a funçã o de promover a justiça, interpretando e aplicando as leis de modo a garantir os
direitos de todos os cidadã os.
A soberania consiste na liberdade de um Estado exercer poder político sobre seu territó rio,
sem intervençã o de outros países ou grupos. As leis sã o aplicadas aos indivíduos que se
encontram nos limites territoriais de cada Estado.
Nação
A populaçã o de um país é constituída por diferentes grupos. Quando partilham a mesma
origem, língua, religiã o ou cultura, esses grupos formam uma nação. Esta, por sua vez,
submete-se à Constituiçã o, ao governo e à s instituiçõ es do país onde se localiza. Assim, um
mesmo país pode abrigar em seu territó rio naçõ es distintas. O Brasil, por exemplo, abriga
diversas naçõ es indígenas, que, por se localizarem no territó rio brasileiro, respondem aos
desígnios do Estado nacional brasileiro.
Fonte de pesquisa: CALDINI, Vera Lú cia de Moraes; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico Saraiva. Sã o Paulo: Saraiva, 2013. p. 127.
Existe um movimento separatista que defende a criaçã o de um Estado basco autô nomo. O
principal grupo que luta por essa causa é o ETA (Euskadi Ta Askatasuna, que, na língua basca,
significa “Pá tria Basca e Liberdade”), que, desde 1959, reivindica a independência do territó rio
basco. Envolvido em diversos atentados violentos ao longo dos anos, o grupo anunciou em
2011 o fim da luta armada.
SAIBA MAIS
Bixente Lizarazu, o primeiro basco de origem francesa a jogar pelo Athletic Bilbao, foi campeã o do
mundo de futebol em 1998 na seleçã o francesa. Em 2010, o jogador basco Fernando Llorente
conquistou o campeonato mundial de futebol na seleçã o da Espanha.
O Athletic Bilbao, tradicional clube de futebol da cidade de Bilbao (província de Biscaia), nã o aceita
em sua equipe jogadores que nã o sejam bascos. O time conta apenas com jogadores franceses e
espanhó is nascidos dentro dos limites do País Basco.
Mas, se um jogador basco se destacar, ele pode jogar pela seleçã o espanhola ou francesa, dado que o
País Basco, embora tenha um povo, nã o é uma naçã o soberana e autô noma.
Jogadores do Bilbao durante jogo contra o Granada. Bilbao, Espanha. Foto de 2016.
Leia
Mapas e História: construindo imagens do passado, de Jeremy Black. Florianó polis: Edusc, 2005.
O livro é uma importante referê ncia nos estudos de histó ria da cartografia. O autor mostra como as fronteiras foram se
modificando ao longo do tempo.
Pá gina 14
O espaço geográ fico é produzido por toda a sociedade. Sã o agentes da produçã o do espaço
tanto os indivíduos, as organizaçõ es e as empresas como os organismos do Estado. É este o
responsá vel pela formulaçã o e fiscalizaçã o das normas que orientam o processo de produçã o
do espaço geográ fico.
Planejamento estratégico
Uma das principais formas de atuaçã o estatal é o planejamento estratégico. Ele engloba todas
as açõ es que um Estado desenvolve, desde as diretrizes educacionais até a planificaçã o da
economia nacional. Esta, aliá s, tem sido o principal objeto de planejamento, visto que o avanço
dos outros setores depende do sucesso econô mico de um país.
Planejamento urbano
No início do século XXI, a populaçã o urbana ultrapassou a populaçã o rural. Como as á reas
urbanas concentram grande nú mero de pessoas, surge a necessidade de estruturar o territó rio
para abrigar todos os seus habitantes. Em muitas situaçõ es, o Estado nã o consegue prover os
espaços urbanos de infraestrutura necessá ria e adequada para que a populaçã o tenha boa
qualidade de vida.
Em grandes á reas urbanas, serviços essenciais, como saneamento, educaçã o, saú de, transporte
e habitaçã o necessitam de planeja mento do Estado. Nas ú ltimas décadas, o planejamento
também se tornou fundamental para a questã o da mobilidade urbana, visto que é necessá rio
oferecer melhores condiçõ es de deslocamento da populaçã o para o trabalho, o lazer, etc.
GEOGRAFIA E ARQUITETURA
O Estado pode ter papel decisivo na produçã o do espaço, como no caso das cidades planejadas. Na
fotografia abaixo, vemos um dos aspectos de Brasília, um ícone do planejamento e da arquitetura
no Brasil. Em muitas cidades planejadas brasileiras, o processo de urbanizaçã o foi tã o intenso que
nã o seguiu o planejamento urbano proposto originalmente. O resultado foi o surgimento de muitos
bairros periféricos sem infraestrutura urbana.
Thomas Koehler/Photothek/Getty Images
1. Pesquise outras cidades planejadas no país e analise suas características urbanísticas. Em sua
pesquisa, avalie também o modo como essas cidades se desenvolveram ao longo do tempo.
AÇÃO E CIDADANIA
Em 2012, Leonardo Gryner, diretor-geral do comitê organizador das Olímpiadas 2016 no Rio de
Janeiro, afirmou: “Nó s vamos fazer do Rio uma cidade muito acessível [...]. Todas as sedes serã o
acessíveis para deficientes, assim como o transporte pú blico e as principais ruas da cidade”.
(Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2012/09/1150314-brasil-promete-
acessibilidade-no-rio-na-paraolimpiada-16.shtml>. Acesso em: 28 jan. 2016). Para isso, foi
necessá rio aumentar os investimentos em acessibilidade.
Desenvolvimento regional
Todos os países convivem ou conviveram com desigualdades regionais. No caso do Brasil, essa
questã o é antiga e tem suas raízes na formaçã o territorial do país, cuja origem como colô nia de
exploraçã o nã o estabeleceu uma unidade de objetivos, interesses e açõ es comuns em todo o
territó rio.
A defesa e a conquista de territó rios ricos em recursos naturais foram, e muitas vezes ainda
sã o, motivos de disputa e conflito entre países. No século XIX, por exemplo, os Estados Unidos
guerrearam com o México e, ao final do conflito, anexaram a seu territó rio á reas ricas em
minerais preciosos, como o estado da Califó rnia.
Leia
Territórios alternativos, do geó grafo Rogé rio Haesbaert. Sã o Paulo: Contexto, 2006.
A obra propõ e um debate transdisciplinar acerca do territó rio e discute outros conceitos da Geografia sob uma perspectiva
atual.
Ao redor dessa regiã o, constituiu-se o chamado Manufacturing Belt (Cinturã o Fabril), á rea de
tradicional produçã o industrial.
Apó s a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o governo dos Estados Unidos implantou uma
política territorial que privilegiava a expansã o da indú stria para o sul do país, criando-se o
chamado Sun Belt (Cinturã o do Sol).
Outros fatores contribuíram para essa expansã o, como a exploraçã o das reservas de petró leo
no centro-sul, por exemplo, no estado do Texas, e a presença de prestigiadas universidades na
Califó rnia, como as de Stanford e Berkeley.
A partir da década de 1960, o crescimento demográ fico do Sun Belt tornou-se mais intenso. Na regiã o,
desenvolveram-se indú strias dos setores siderú rgico, petroquímico, aeroná utico e aeroespacial, entre outras que
empregam alta tecnologia. Foto de indú stria aeroná utica no Texas, Estados Unidos, em 2016.
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A partir dos anos 1990, houve uma grande flexibilizaçã o do controle dos Estados perante as
aplicaçõ es financeiras mundiais. Tal flexibilizaçã o fazia parte do processo de globalização e
facilitou a circulaçã o de capitais por um mundo praticamente sem fronteiras. No entanto, essa
desregulamentaçã o gerou crises econô micas graves devido à falta de controle da entrada e
saída dos capitais, o que prejudicou as economias nacionais.
Quando há pouca regulamentaçã o para o fluxo de capitais, estes podem se deslocar de um país
a outro com grande facilidade. Além disso, o avanço das telecomunicaçõ es tornou
praticamente instantâ neo o movimento de retirada de capitais investidos no mercado de um
país e de entrada desses capitais no mercado de outro país. Os países emergentes, como Brasil,
Rú ssia, China e Índia, sã o bastante procurados para esse tipo de aplicaçã o financeira.
As economias menores e menos está veis sã o mais vulnerá veis a esse tipo de investimento. De
um dia para outro, um país pode ter uma saída de capital tã o forte que pode abalar sua
economia.
As reservas econômicas
A vitalidade econô mica de um país depende em parte do capital que ele mantém à sua
disposiçã o para usar em situaçõ es de necessidade. Sã o as chamadas reservas monetárias e
cambiais, cuja manutençã o é gerenciada pelo banco central do país.
Com isso, muitas vezes, países de economia mais forte detêm boa parte dos títulos da dívida
pública de outras naçõ es. Dessa maneira, passam a se interessar diretamente pela conduçã o
da política econô mica e pelos rumos de sua economia. Além disso, os países que vendem os
títulos necessitam desse capital para garantir a saú de de sua economia.
Dívida pública: dinheiro que os governos tomam emprestado de entidades e da sociedade para financiar gastos que nã o sã o
cobertos com a arrecadaçã o de impostos, para captar divisas no exterior e para equilibrar a gestã o financeira.
É o caso da China, que investiu grande parte de suas reservas em papéis dos Estados Unidos e
de países europeus. Esses investimentos evitaram que as crises que atingiram tanto os Estados
Unidos como a Europa a partir de 2008 se tornassem ainda mais graves.
João Miguel A. Moreira/ID/BR
Fonte de pesquisa: U. S. Department of the Treasury. Disponível em: <http://ticdata.treasury.gov/Publish/mfh.txt>. Acesso em: 8 jan.
2015.
Pá gina 17
Ao contrá rio da quebra de fronteiras no mercado financeiro mundial que permite a livre
circulaçã o do capital, os fluxos migrató rios populacionais sã o repletos de barreiras.
A maior parte das migraçõ es ocorre por questõ es econô micas, e a pobreza é um dos principais
fatores que levam uma pessoa ou um grupo a se deslocar de um país para outro. Em geral, os
países que atraem migrantes têm economia mais desenvolvida e oferecem mais oportunidades
de emprego e melhores condiçõ es de trabalho.
As populaçõ es também tendem a se afastar dos locais de crise, como os países em guerra, dos
locais afetados por desastres naturais ou onde ocorre perseguiçã o a determinados grupos
étnicos, religiosos ou sociais.
Alguns países, como os Estados Unidos e vá rios países europeus, criaram leis e barreiras para
evitar a entrada de imigrantes porque se tornaram destino de grandes movimentos
migrató rios. Muitos deles utilizam sistemas de vigilância, empregam forte aparato policial e
constroem muros e cercas em suas fronteiras.
Na fronteira entre o México e os Estados Unidos, há um grande muro que divide os dois países.
Existem projetos que visam aumentá -lo e controlar de maneira mais eficaz a entrada de
imigrantes ilegais.
Na Europa, a regiã o do estreito de Gibraltar e o litoral dos países banhados pelo mar
Mediterrâ neo sã o as á reas de maior fluxo de pessoas. Nelas, os países utilizam um forte
aparato policial para evitar a entrada de imigrantes ilegais.
O governo grego, por exemplo, instalou cercas de arame farpado na fronteira com a Turquia,
além de câ meras de vigilâ ncia, para coibir a entrada de imigrantes ilegais vindos do Oriente
Médio e da Á frica.
A Hungria construiu cercas na fronteira com a Sérvia com o mesmo objetivo de impedir o
afluxo de imigrantes ilegais, especialmente aqueles originá rios do conflito na Síria que, entre
2011 e 2015, fez milhares de vítimas e milhõ es de refugiados.
A partir da crise mundial deflagrada em 2008, muitos migrantes retornaram ao país de origem.
Em outros casos, países emergentes, como Brasil, China e Índia, tornaram-se destinos de
migraçã o.
No Brasil, a vinda de imigrantes haitianos e bolivianos ilegais tem sido uma preocupaçã o para
as autoridades, pois essas pessoas, em muitos casos, sã o empregadas na economia local em
condiçõ es precá rias, muitas vezes aná logas à escravidã o.
João Miguel A. Moreira/ID/BR
Leia
Planeta favela, de Mike Davis. Sã o Paulo: Boitempo, 2006.
O livro mostra o avanço do processo de pauperizaçã o da populaçã o mundial paralelamente ao avanço do neoliberalismo.
Pá gina 18
Informe
O solo, a sociedade e o Estado
Como o Estado nã o é concebível sem territó rio e sem fronteiras, constitui-se bastante
rapidamente uma geo grafia política, e ainda que nas ciências políticas em geral se tenha
perdido de vista com frequência a importâ ncia do fator espacial, da situaçã o, etc., considera-se
entretanto como fora de dú vida que o Estado nã o pode existir sem um solo. Abstraí-lo numa
teoria do Estado é uma tentativa vã que nunca pô de ter êxito senã o de modo passageiro. Pelo
contrá rio, tem havido muitas teo rias da sociedade que permaneceram completamente alheias
a quaisquer consideraçõ es geográ ficas; estas têm mesmo tão pouco lugar na sociologia
moderna que é inteiramente excepcional se encontrar uma obra em que elas desempenham
algum papel. A maior parte dos soció logos estuda o homem como se ele se tivesse formado no
ar, sem laços com a terra. O erro dessa concepçã o salta aos olhos, é verdade, no que concerne
à s formas inferiores da sociedade, porque sua extrema simplicidade faz com que sejam
semelhantes à s formas mais elementares do Estado. Mas entã o, se os tipos mais simples de
Estado sã o irrepresentá veis sem um solo que lhes pertença, assim também deve ser com os
tipos mais simples da sociedade; a conclusã o se impõ e. Num e noutro caso, a dependência em
relaçã o ao solo é um efeito de causas de todo gênero que ligam o homem à terra. Sem dú vida, o
papel do solo aparece com mais evidência na histó ria dos Estados que na histó ria das
sociedades, e isso seria devido aos espaços mais considerá veis de que o Estado tem
necessidade. As leis da evoluçã o geográ fica sã o menos fá ceis de se perceber no
desenvolvimento da família e da sociedade que no desenvolvimento do Estado; e o sã o
justamente porque aquelas estã o mais profundamente enraizadas ao solo e mudam menos
facilmente do que este. É mesmo um dos fatos mais considerá veis da histó ria a força com a
qual a sociedade permanece fixada ao solo, mesmo quando o Estado dele se destacou. Quando
o Estado romano morre, o povo romano lhe sobrevive sob a forma de grupos sociais de todo
tipo e é pelo intermédio desses grupos que se transmitiu à posteridade uma multiplicidade de
propriedades que o povo havia adquirido no Estado e pelo Estado.
Assim, quer seja o homem considerado isoladamente ou em grupo (família, tribo ou Estado),
por toda parte em que se observar se encontrará algum pedaço de terra que pertence ou à sua
pessoa ou ao grupo de que ele faz parte. No que diz respeito ao Estado, a geografia política
apó s longo tempo se habituou a levar em consideraçã o a dimensã o do territó rio ao lado da
cifra da populaçã o. Mesmo os grupos, como as tribos, a família, a comuna, que não sã o
unidades políticas autô nomas, somente sã o possíveis sobre um solo, e seu desenvolvimento
não pode ser compreendido senã o com respeito a esse solo; assim como o progresso do Estado
é ininteligível se nã o estiver relacionado com o progresso do domínio político. Em todos esses
casos, estamos na presença de organismos que entram em intercâ mbio mais ou menos durá vel
com a terra, no curso do qual se troca entre eles e a terra todo gênero de açõ es e de reaçõ es. E
quem venha a supor que, num povo em vias de crescimento, a importâ ncia do solo nã o seja tã o
evidente, que observe esse povo no momento da decadência e da dissoluçã o! Nã o se pode
entender nada a respeito do que entã o ocorre se nã o for considerado o solo. Um povo regride
quando perde territó rio. Ele pode contar com menos cidadã os e conservar ainda muito
solidamente o territó rio onde se encontram as fontes de sua vida. Mas se seu territó rio se
reduz, é, de uma maneira geral, o começo do fim.
Friedrich Ratzel (1844 -1904) foi um importante geó grafo alemã o. Ele viveu o momento da constituiçã o do Estado
nacional alemã o, e sua obra está marca da por um projeto estatal que defende a relaçã o fun damental entre o povo, o
Estado e seu territó rio. Foto de c. 1900.
PARA DISCUTIR
1. Em grupo, discuta e responda: Ratzel considera importante a definiçã o de um territó rio com
limites precisos?
2. De acordo com o texto, qual foi a importâ ncia dos grupos remanescentes do antigo Império
Romano, mesmo apó s sua dissoluçã o?
3. Por que, para o autor, a reduçã o do territó rio é o “começo do fim” de um povo?
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Mundo Hoje
Baarle: fronteiras distribuídas entre dois países
Baarle-Nassau e Baarle-Hertog sã o dois municípios que dividem a cidade de Baarle, na
fronteira entre os Países Baixos e a Bélgica. Baarle-Nassau está localizada no sul dos Países
Baixos na província de Brabante do Norte, e Baarle-Hertog está na província belga de
Antuérpia. As duas cidades compartilham uma fronteira comum, mas a fronteira internacional
que separa a cidade belga de Baarle-Hertog da cidade neerlandesa de Baarle-Nassau não é
retilínea. Nem sequer curva.
Em vez disso, há 26 territó rios separados entre si – pequenos fragmentos da Bélgica e dos
Países Baixos distribuídos por Baarle. Há um trecho principal chamado Zondereigen,
localizado ao norte da cidade belga de Merksplas, e 22 exclaves belgas nos Países Baixos além
de três outros trechos na fronteira belgo-neerlandesa. [...]
Exclave: porçã o de um país separada do territó rio principal, encravada em territó rio estrangeiro. Em relaçã o ao territó rio
estrangeiro, pode ser considerada um enclave, ou seja, um territó rio encravado em outro.
A fronteira é demarcada por cruzes brancas nas calçadas e sinalizadores de metal nas vias, e
serpenteia pela cidade sem obedecer ao traçado de casas, jardins ou ruas. Uma linha cruza um
quarteirã o por dentro de uma loja de presentes e sai no outro lado, em um supermercado.
Muitas casas sã o cortadas ao meio pela fronteira e, por convençã o, a nacionalidade é
identificada com base na fachada frontal de cada uma. Se a fronteira cruza a porta da rua, seus
lados pertencem a diferentes Estados, e isso é indicado por uma dupla numeraçã o na fachada
do edifício.
As cidades atraem muitos turistas. Por muitos anos, as lojas da Bélgica abriam aos domingos,
enquanto as dos Países Baixos nã o – com exceçã o daquelas em Baarle. À s vezes, os impostos na
Bélgica e nos Países Baixos diferem muito e um consumidor pode encontrar dois regimes de
taxaçã o diferentes em lojas de uma mesma rua. Por um período, de acordo com as leis
neerlandesas, os restaurantes deviam fechar mais cedo. Para alguns estabelecimentos situados
na fronteira, isso significava que os clientes precisavam simplesmente mudar suas mesas para
o lado belga. Com a entrada na Uniã o Europeia, entretanto, algumas dessas diferenças
deixaram de existir.
KAUSHIK. The curious case of Baarle-Nassau and Baarle-Hertog. Amusing Planet, 6 nov. 2012. Disponível em:
<http://www.amusingplanet.com/2012/11/the-curious-case-of-baarle-nassau-and.html>. Acesso em: 11 jan. 2016. (Traduçã o dos
autores.)
Yves Logghe/AP/Glow Images
As marcas no chã o representam os limites entre Baarle-Hertog, Bélgica (“B”), e Baarle-Nassau, Países Baixos (“NL”).
Foto de 2013.
Fonte de pesquisa: Google Maps. Disponível em: <http://www.google.com.br>. Acesso em: 11 jan. 2016.
PARA ELABORAR
1. Você conhece as fronteiras de seu município? Faça uma pesquisa sobre os limites do
município em que vive e também os do seu bairro.
2. Pesquise também outras fronteiras que tiveram uma fixaçã o problemá tica como a descrita
no texto.
Pá gina 20
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
2. O que é naçã o?
6. Explique por que os bancos centrais têm sua dinâ mica monitorada pelos investidores das
bolsas de valores.
9. Qual é a importâ ncia das reservas monetá rias e cambiais para um país?
Lendo mapas
11. O mar territorial corresponde à s á reas marítimas que se encontram sob a soberania
absoluta de cada Estado. De acordo com a Convençã o das Naçõ es Unidas sobre o Direito do
Mar, de 1982, essa á rea corresponde à s 12 milhas ná uticas adjacentes ao litoral de cada país e
compreende o espaço aéreo, o leito e o subsolo marinhos. É , portanto, uma á rea estratégica
para defesa militar e para a exploraçã o e gestã o dos recursos naturais. O mapa a seguir mostra
o territó rio marítimo brasileiro e a proposta de sua ampliaçã o apresentada pelo país à ONU.
Observe-o e responda à s questõ es.
João Miguel A. Moreira/ID/BR
Fonte de pesquisa: CASTRO, Fá bio de. Brasil propõ e uma ‘Venezuela’ a mais de á rea marítima. O Estado de S. Paulo, 19 jan. 2015.
Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-propoe-uma-venezuela-a-mais-de-area-maritima-
imp-,1621717>. Acesso em: 12 jan. 2016.
a) Comente a importâ ncia de essa reivindicaçã o ser analisada por conselhos internacionais.
b) Como a expansã o do territó rio marítimo pode afetar a exploraçã o brasileira de recursos
naturais?
Pá gina 21
[…] em 1922, Kiev e a Ucrâ nia foram incorporadas formalmente à Uniã o das Repú blicas Socialistas
Soviéticas (URSS). Os ucranianos estavam entã o na URSS, mas nã o pareciam ser de lá.
Obstinadamente as sucessivas mudanças de governo e de controles ajudaram a promover um
sentimento crescente de nacionalismo ucraniano. Nã o fazia diferença quem estava no poder: no
final do dia eles ainda eram ucranianos e sua lealdade a seu país, assim como sua lealdade recíproca
e à sua terra, era tudo o que importava. [...]
DOUGAN, Andy. Futebol e guerra: resistência, triunfo e tragédia do Dínamo na Kiev ocupada pelos nazistas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001. p. 23-24.
Com base na situaçã o descrita no texto (a dominaçã o dos ucranianos pelos soviéticos), reflita
sobre o nacionalismo e aponte algumas razõ es que contribuíram para seu aparecimento e
difusã o no mundo.
14. A foto a seguir mostra a fronteira entre dois países. Com base nela e em seus
conhecimentos, faça o que se pede.
Erich Schlegel/Corbis/Fotoarena
15. Analise a tira de Chip Sansom, a seguir, e redija um breve texto comentando a dinâ mica dos
fluxos financeiros na atualidade.
As grandes guerras e a
CAPÍTULO 2
Aviã o da Força Aérea Real britâ nica sobrevoando o Egito, em 1942. Fabricado pelos Estados Unidos a partir de 1938,
esse modelo de aeronave militar era destinado a patrulhas marítimas e bombardeios.
No século XIX, houve grande desenvolvimento industrial, principalmente na Europa. A industrializaçã o dos
países europeus gerou uma crescente demanda por matérias-primas e, como resultado, os Estados europeus
buscaram ampliar seus domínios para outras á reas do globo e se lançaram à conquista de territó rios nos
continentes africano e asiá tico.
Assim, o quadro geopolítico mundial do final do século XIX até a metade do século XX foi marcado pelo
neocolonialismo. França e Inglaterra, potências até entã o mais industrializadas, garantiram a exploraçã o
econô mica e a dominaçã o política de extensas á reas, estabelecendo colô nias desde a Á frica até o Extremo
Oriente.
2. Com base na fotografia, comente a relaçã o entre Reino Unido e Egito na primeira metade do século XX.
Pá gina 23
A segunda metade do século XIX foi pontuada por acontecimentos importantes, como os
movimentos de unificaçã o alemã e italiana. A consolidaçã o da Alemanha e da Itá lia como
Estados nacionais contribuiu para a formaçã o do quadro político europeu, no qual se
expressaram com intensidade o nacionalismo e o imperialismo.
Desde entã o, o Estado nacional tornou-se um dos principais vetores de onde partem forças
capazes de difundir entre os habitantes de seu territó rio a noçã o de pertencimento a um
conjunto maior, que compartilha uma histó ria e uma cultura.
A partilha da África
Ao passarem pelo processo de unificaçã o, Alemanha e Itália incorporaram á reas que já
possuíam indú strias. Foi assim com o vale do Ruhr, na Alemanha, e com a regiã o norte da Itália.
Os dois países entraram no jogo geopolítico e passaram a desafiar o poderio de França e
Inglaterra, as naçõ es hegemô nicas naquele momento. Essas naçõ es vinham constituindo vastos
impérios, formados por colô nias espalhadas por outros continentes, sobretudo na Á sia, onde a
França se apoderou da Indochina, e a Inglaterra, da Índia. Em escala menor, Bélgica, Portugal
e Espanha também participaram dessa divisã o do mundo.
Indochina: península situada no Sudeste Asiá tico, ocupada por países como Tailâ ndia, Laos, Camboja, Vietnã , Malá sia e
Cingapura. O domínio francê s se estendeu gradualmente por Laos, Camboja e Vietnã , perdurando de 1858 a 1954.
Assim como os outros países europeus citados, Itá lia e Alemanha também objetivavam
adquirir novas fontes de matérias-primas e novos mercados consumidores. Ou seja, buscavam
meios para concorrer em melhores condiçõ es com os outros países industrializados.
Entre 1884 e 1885, realizou-se a Conferência de Berlim, que culminou com a divisã o do
continente africano entre as principais potências da época. Desse encontro participaram
Dinamarca, Rú ssia, Países Baixos, Estados Unidos, Suécia, os impérios Austro-Hú ngaro e
Turco-Otomano, além de Inglaterra, França, Portugal, Espanha, Bélgica, Itá lia e a anfitriã ,
Alemanha.
Como a partilha da África reproduziu a importâ ncia geopolítica e econô mica dos países
participantes, França e Inglaterra ficaram com as maiores possessõ es, ao passo que Portugal,
Espanha, Bélgica, Itá lia e Alemanha dividiram o restante entre si. Os demais participantes nada
receberam.
Fonte de pesquisa: Philip’s atlas of world history – concise edition. 2. ed. London: Philip’s, 2007. p. 206.
Pá gina 24
Leia
A Primeira Guerra Mundial e o declínio da Europa, de Paulo Fagundes Visentini. Rio de Janeiro: Alta Books, 2014.
A obra apresenta uma perspectiva crítica dos fatos que levaram ao conflito.
Vozes esquecidas da Primeira Guerra Mundial, de Max Arthur. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
O livro traz fotos e narrativas de pessoas que vivenciaram a guerra: soldados, costureiras, estudantes, políticos, entre outros.
Apoiado pela Alemanha, o Império Austro-Hú ngaro declarou guerra à Sérvia. Em nome da
defesa da etnia eslava e de seus pró prios interesses, a Rú ssia declarou guerra ao Império
Austro-Hú ngaro, e a Alemanha entrou na guerra para defender seu aliado. De imediato, a
França honrou os acordos com a Rú ssia e a apoiou no conflito; a Alemanha entã o lhe declarou
guerra e atacou a fronteira leste da França, violando o territó rio belga. Em seguida, temendo o
poderio marítimo alemã o, a Inglaterra lhe declarou guerra. O Império Turco-Otomano, por sua
vez, aliou-se à Alemanha, fortalecendo a frente oriental contra a Rú ssia. O conflito bélico se
generalizou por toda a Europa.
Liga das Nações: entidade internacional que teve como objetivo assegurar a paz mundial e promover a resoluçã o de
conflitos por meio da diplomacia, evitando a guerra. Atuou de 1920 a 1942 e, em 1946, foi sucedida pela Organizaçã o das
Naçõ es Unidas (ONU).
O Império Austro-Hú ngaro se dissolveu e a Hungria perdeu territó rios para as atuais Croá cia,
Á ustria, Romênia e Eslová quia.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. Sã o Paulo: Á tica, 2007. p. 27.
Pá gina 25
A Revolução Russa
Na Primeira Guerra Mundial, as fá bricas russas voltaram sua produçã o para o esforço de
guerra, e o envio de soldados reduziu a produçã o de alimentos no país. Resultado: fome
generalizada. O conflito ampliou a insatisfaçã o popular e agravou a situaçã o política interna.
Manifestaçõ es e greves eclodiram em todo o país, e, em fevereiro de 1917, a situaçã o chegou ao
clímax. Diante das pressõ es, o czar Nicolau II acionou as forças do exército, mas estas se
recusaram a atacar a populaçã o. Sem apoio, o czar renunciou e a repú blica foi proclamada.
O governo provisó rio que se instalou na ocasiã o, controlado pelos liberais moderados, não
atendeu à s reivindicaçõ es populares – em especial, a retirada dos soldados russos da guerra.
Leon Trotski comandava a Guarda Vermelha, uma milícia revolucioná ria formada por
camponeses e operá rios. Em 25 de outubro de 1917, os guardas vermelhos tomaram os pontos
estratégicos da capital russa (Sã o Petersburgo, na época Petrogrado), e o governo provisó rio
foi deposto.
Vladimir Lênin assumiu o governo e pouco tempo depois assinou um armistício com a
Alemanha. A Rú ssia estava oficialmente fora da Primeira Guerra Mundial.
Um dos mais sérios problemas enfrentados pelo governo revolucioná rio foi a guerra civil, que
durou até 1921 e opô s o Exército Vermelho, comandado por Trotski, e as forças
contrarrevolucioná rias do Exército Branco, que contava com o apoio de Inglaterra, França,
Japã o e Estados Unidos.
Leia
Rumo à estação Finlândia, de Edmund Wilson. Sã o Paulo: Companhia de Bolso, 2006.
O livro aborda a histó ria do socialismo até o momento em que Lênin partiu da Estaçã o Finlâ ndia para liderar a Revoluçã o
Russa em 1917.
Em 1922, Lênin fundou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) sobre a base
do antigo Império Russo.
A URSS era um conjunto multifacetado de etnias e religiõ es que, desde o início, mantiveram
relaçõ es conturbadas com o governo central, sediado em Moscou.
Com a morte de Lênin em 1924, Josef Stalin saiu vencedor nas disputas internas e assumiu o
governo da URSS.
A partir de 1927, a economia soviética passou a ser gerida por meio de planejamentos estatais
centralizados, os planos quinquenais. No campo, as terras foram transformadas em
propriedades estatais (sovkhozes) e em cooperativas agrícolas (kolkhozes).
Com o objetivo de fazer da URSS uma liderança mundial, foram feitos investimentos pú blicos
maciços na indú stria.
Em 1936, uma nova Constituiçã o estabeleceu plenos poderes para Stalin, que passou a
perseguir e a eliminar seus opositores e a sufocar manifestaçõ es sociais.
Apó s a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em muitos países vizinhos à URSS, nos quais os
alemã es foram vencidos graças à atua çã o do exército soviético, os novos governos
implementaram o regime socialista. Esses países formaram, com a URSS, o bloco socialista.
Veja o mapa ao lado.
ID/BR
Fonte de pesquisa: Antô nio do Carmo Reis. Atlas de história da Europa. Porto: Porto Editora, s. d. p. 59.
Pá gina 26
A Primeira Guerra Mundial deixou graves sequelas na sociedade europeia. O intervalo entre os
anos de 1918 e 1939 foi marcado por crises econô micas e pela ascensã o de regimes
nacionalistas, especialmente na Itália e na Alemanha, derrotadas na guerra.
A Itália
Na Itá lia, a ascensã o do fascismo foi liderada por Benito Mussolini, que, em 1921, fundou o
Partido Nacional Fascista. No poder a partir de 1922, Mussolini imprimiu as principais
características do fascismo: nacionalismo exacerbado, controle do sistema sindical, proibiçã o
das greves e perseguiçã o à imprensa. Além disso, reprimiu violentamente seus opositores e
levou o país ao regime de partido ú nico, em 1929.
A Alemanha
Na década de 1920, a Alemanha passou por uma grave crise econô mica. A arrecadaçã o do
Estado alemã o diminuiu, a moeda alemã perdeu totalmente o valor e houve desemprego em
massa. Tal crise culminou com um pedido de moratória da dívida referente à s indenizaçõ es
aos países vencedores da Primeira Guerra.
Moratória: acordo estabelecido entre credores e devedores para o adiamento do pagamento de uma dívida.
Em 1923, alheia aos problemas alemã es, a França ocupou a regiã o mais rica e industrializada
da Alemanha, o vale do Ruhr, para garantir o recebimento dessas indenizaçõ es.
Nesse cená rio, surgiu e cresceu rapidamente o nazismo, um movimento nacionalista com
fortes ideias totalitá rias e racistas, sob a liderança de Adolf Hitler. Em janeiro de 1933, Hitler
foi nomeado chanceler pelo presidente Hindenburg. No mês seguinte, atribuiu aos comunistas
um incêndio ocorrido no Parlamento e, a partir de entã o, passou a perseguir todas as forças de
oposiçã o. Nas eleiçõ es de março, o Partido Nazista conquistou a maioria dos votos e Hitler
assumiu o governo com poderes ditatoriais.
Os nazistas ampliaram sua política de expansã o do “espaço vital” (territó rio que estaria
destinado à manutençã o e ao domínio dos povos germâ nicos) e de valorizaçã o da “raça pura”,
perseguindo violentamente os grupos que consideravam “raças inferiores” (judeus, ciganos e
outras minorias).
Pela difícil situaçã o das empresas, os acionistas passaram a vender em massa suas açõ es, cujos
preços baixaram até os papéis perderem praticamente todo o valor. O crash (quebra) da Bolsa
de Nova York, em outubro de 1929, causou uma crise econô mica em países capitalistas do
mundo todo.
Ao longo dos anos 1930, a economia estadunidense se recuperou graças ao New Deal, plano
econô mico realizado pelo presidente Franklin Delano Roosevelt.
A alta inflaçã o na Alemanha, nos primeiros anos da década de 1920, provocou uma extrema desvalorizaçã o da moeda
alemã . Na foto, crianças utilizam cédulas como brinquedo. Foto de 1923.
Pá gina 27
Em 1938, a Alemanha iniciou sua política expansionista, anexando regiõ es em países vizinhos
cuja populaçã o tivesse ascendência germâ nica – os primeiros foram a Á ustria e parte da
Tchecoslová quia. Em 1939, com a iminência de um conflito armado, Uniã o Soviética e
Alemanha assinaram um tratado que previa a não agressã o mú tua. Para a Alemanha isso
garantia uma ú nica frente de batalha.
Ainda em 1939, as tropas alemã s invadiram a Polô nia. A França e a Inglaterra formaram o
bloco dos Aliados e declararam guerra à Alemanha. Alegando interesses coloniais em
territó rios franceses, a Itá lia entrou na guerra ao lado da Alemanha. Era o início de um novo
conflito que atingiria escala mundial.
Em 1940, o exército alemã o invadiu o territó rio francês e, em junho desse ano, a França se
rendeu assinando um desonroso armistício. Um governo colaboracionista (pró -alemã o) foi
instalado na cidade de Vichy.
Ainda em 1940, o Japã o, que também tinha aspiraçõ es imperialistas, assinou um tratado com a
Alemanha e a Itália. Estava formado o bloco das potências do Eixo.
A entrada efetiva dos Estados Unidos na guerra deu-se em 1941, apó s os japoneses bombardea
rem Pearl Harbor, base naval estadunidense no Havaí. No mesmo ano, o exército alemã o
quebrou o pacto de nã o agressã o e atacou a URSS. Esta declarou guerra à Alemanha e entrou
no conflito ao lado dos Aliados. As forças alemã s avançaram em territó rio soviético, mas desde
o início encontraram dificuldades, devido nã o apenas à açã o do exército soviético, mas também
à forte resistência popular.
O início do fim
No fim de 1942 e início do ano seguinte, desenvolveu-se a batalha de Stalingrado. Os alemã es
iniciaram um ataque à cidade, mas aos poucos perderam força e o exército soviético os obrigou
a recuar. Em maio de 1943, a URSS já havia recuperado grandes extensõ es de seu territó rio e
avançava para o territó rio do inimigo.
Na outra frente, os alemã es também foram derrotados a partir do famoso Dia D, em 6 de junho
de 1944, quando tropas estadunidenses desembarcaram no norte da França, na Normandia, e
tomaram a direçã o de Berlim com o apoio dos Aliados.
Dia D: expressã o utilizada para designar o dia em que é desencadeada uma açã o militar. Abreviaçã o da expressã o, em inglê s,
departed day (D-Day), ou dia da partida.
Bunker: abrigo geralmente subterrâ neo construído com paredes fortificadas para suportar ataques inimigos.
Fonte de pesquisa: ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. Sã o Paulo: Á tica, 2007. p. 30.
Pá gina 28
Informe
Da paz à guerra
Enquanto apenas alguns observadores civis compreendiam o cará ter catastró fico da futura
guerra, governos que nã o o entendiam se lançaram entusiasticamente à corrida para se
equipar com os armamentos cuja nova tecnologia o propiciaria. A tecnologia da morte, já em
processo de industrializaçã o em meados do século, avançou notavelmente nos anos 1880, não
apenas devido a uma verdadeira revoluçã o na rapidez e no poder de fogo das armas pequenas
e da artilharia, mas também através da transformaçã o dos navios de guerra por meio de
motores-turbina, de uma blindagem protetora mais eficaz e da capacidade de carregar muito
mais armas. […]
Os gastos militares britâ nicos permaneceram está veis nos anos 1870 e 1880, tanto em termos
de porcentagem do orçamento total como per capita em relaçã o à populaçã o. Mas passou de
32 milhõ es em 1887 a 44,1 milhõ es de libras esterlinas em 1898-1899, e a mais de 77 milhõ es
em 1913-1914. E o crescimento mais espetacular foi o da marinha, o que nã o é surpreendente,
pois se tratava da ala de alta tecnologia de guerra, correspondente aos mísseis nos gastos
modernos de armamentos […].
Corrida armamentista: fase marcada pelo maciço investimento dos países em armamentos e demais tecnologias militares
para a formaçã o de poderosos arsenais.
Pessoas elegantes e pouco visíveis, como o grego Basil Zaharoff, atuando em nome de Vickers
(e que mais tarde recebeu o título de cavaleiro pelos serviços prestados aos aliados durante a
Primeira Guerra Mundial), tomaram as providências necessá rias para que a indú stria de
armamentos das grandes naçõ es vendessem seus produtos menos vitais ou obsoletos a
Estados do Oriente Pró ximo e da América Latina, que já estavam em condiçõ es de comprar tais
utensílios. Em suma, o comércio internacional moderno da morte já estava bem encaminhado.
[…] Nã o há dú vida de que havia chegado o momento, ao menos no verã o europeu de 1914, em
que a má quina inflexível que mobilizava as forças da morte nã o poderia ser mais estocada.
Porém a Europa nã o foi à guerra devido à corrida armamentista como tal, mas devido à
situaçã o internacional que lançou as naçõ es nessa competiçã o.
HOBSBAWN, Eric. A era dos impérios: 1875-1914. 7. ed. Sã o Paulo: Paz e Terra, 2002. p. 424-427.
Hulton-Deutsch Collection/Corbis/Fotoarena
Comemoraçã o da vitó ria francesa na Primeira Guerra Mundial. Paris, foto de novembro de 1918.
PARA DISCUTIR
1. O texto ressalta uma forte ligaçã o entre Estado e indú stria bélica. Essa relaçã o ainda existe
em nossos dias? Justifique sua resposta com um caso concreto.
2. Discuta com os colegas: No momento histó rico abordado, os países se preparavam para uma
guerra?
Pá gina 29
Mundo Hoje
A Conferência de Bretton Woods
A Segunda Guerra Mundial ainda nã o havia acabado, mas líderes de 44 países já estavam
decidindo, em julho de 1944, o futuro do planeta. Na Conferência de Bretton Woods, realizada
há sete décadas no Estado de New Hampshire, nos Estados Unidos, os representantes das
naçõ es, incluindo o Brasil, estabeleceram as diretrizes de uma nova ordem econô mica global.
Um dos objetivos da reuniã o era a reconstruçã o do capitalismo, estabelecendo regras
financeiras e comerciais e evitando crises como as registradas apó s a Primeira Guerra (1914-
1918), notadamente a Grande Depressã o dos anos [19]30. Durante o encontro de cú pula foram
criadas instituiçõ es voltadas para tentar alcançar essa estabilidade: o Fundo Monetá rio
Internacional (FMI) e o Banco Internacional para a Reconstruçã o e o Desenvolvimento (Bird ou
Banco Mundial).
A criaçã o formal das duas instituiçõ es ocorreria em 27 de dezembro de 1945, quando foi
assinada em Bretton Woods a ata de fundaçã o do FMI e do Bird, com papéis e perfis de
financiamento distintos. Mas mesmo com a assinatura do Acordo de Bretton Woods, os dois
organismos levaram ainda dois anos para começar a entrar em operaçã o, em 1946,
aguardando a sua ratificaçã o pelos países.
[...] No Hotel Mount Washington, na pequena localidade de Bretton Woods, os mais de 700
delegados discutiram os graves problemas provocados pela eclosã o do conflito em escala
global e os caminhos para superá -los. Um dos objetivos era evitar a repetiçã o de crises geradas
pelas fortes flutuaçõ es cambiais no período entreguerras. O mundo queria fugir do caos
monetá rio, de grandes recessõ es e surtos de hiperinflaçã o – cená rio capaz de facilitar a
ascensã o de governos autoritá rios. Na época, os especialistas se perguntavam: encerrada a
guerra contra a Alemanha de Hitler, como a estabilidade das moedas poderia ajudar na
retomada do comércio e no crescimento econô mico sustentá vel, em países devastados e em
outros ainda em desenvolvimento, com a necessidade de criaçã o de empregos?
Duas propostas, basicamente, estavam à mesa: de um lado a dos EUA, representados por seu
secretá rio do Tesouro, Harry Dexter White. Do outro, a britâ nica, do célebre John Maynard
Keynes. Venceu o mais forte, a potência que sairia vitoriosa da Segunda Guerra: o plano de
White, que temia restriçõ es ao comércio americano terminado o conflito, em oposiçã o a Lord
Keynes, mais intervencionista. O projeto americano previa a criaçã o de uma instituiçã o capaz
de evitar mudanças cambiais bruscas nos países provocadas por desvalorizaçõ es, o que afetava
naçõ es vizinhas.
Ao mesmo tempo, esse ó rgã o teria capacidade para socorrer, temporariamente, governos em
dificuldades de honrar os seus compromissos financeiros. Nas décadas seguintes, esse papel
foi desempenhado pelo FMI, em meio a críticas de governos e setores da sociedade. Ao fim do
encontro, no dia 22 de julho de 1944, ficou decidido que o dó lar passaria a ser a moeda forte
no mundo. Para isso, foi instituído um conjunto de regras para regular a política econô mica dos
países. A moeda americana, nova referência internacional, estava atrelada ao ouro. Um dó lar
equivalia a 31,1 gramas do metal.
[...]
Uma das preocupaçõ es do plano do Brasil na conferência era ajudar as naçõ es latino-
americanas, garantindo mercados constantes para as suas matérias-primas no pó s-guerra. [...]
O chamado Sistema Bretton Woods para gerenciar a economia global obrigava os países a
adotarem uma política monetá ria. A taxa de câ mbio de suas moedas era mantida dentro de
uma faixa, indexada ao dó lar [...] cujo valor, por sua vez, estaria ligado ao ouro. Mas em agosto
de 1971, diante de pressõ es crescentes na demanda global por ouro, o presidente dos EUA,
Richard Nixon, decretou o fim do padrã o-ouro. De forma unilateral, suspendeu o sistema
monetá rio dos acordos de Bretton Woods, cancelando a conversibilidade direta do dó lar em
ouro.
Indexar: considerar um valor como índice; tomar como valor de referê ncia.
VILLELA , Gustavo. Conferência de Bretton Woods decidiu rumos do pó s-guerra e criou FMI. O Globo, 18 jul. 2014. Disponível em:
<http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/conferencia-de-bretton-woods-decidiu-rumos-do-pos-guerra-criou-fmi-
13310362>. Acesso em: 20 jan. 2016.
Bettmann/Corbis/Fotoarena
Conferência de Bretton Woods, em New Hampshire, nos Estados Unidos. Foto de 1944.
PARA ELABORAR
1. O texto afirma que, apesar das críticas de governos e setores da sociedade, o FMI seria a
instituiçã o responsá vel pelo socorro monetá rio a países em crise financeira nas décadas
seguintes à Segunda Guerra Mundial. Faça uma pesquisa sobre o funcionamento do FMI e
sobre as críticas feitas à instituiçã o e crie uma lista de argumentos favorá veis e contrá rios à
atuaçã o do fundo.
Pá gina 30
Presença da África
O grande massacre no Congo
A presença europeia na Á frica Negra por muito tempo seguiu um padrã o inaugurado pelos
portugueses em meados do século XV. Lá não houve um esforço de colonizaçã o, como nas
Américas. Na Á frica, os portugueses mantinham apenas á reas fortificadas permanentes no
litoral e enviavam expediçõ es ao interior para tratar com os líderes locais, com o objetivo de
organizar redes de suprimentos de escravos, marfim, peles e outros produtos.
Os fatos começaram a mudar na segunda metade do século XIX. Naquela época, a economia e a
sociedade capitalistas difundiam-se pela Europa Ocidental. A nova indú stria trazia consigo
uma voracidade cada vez maior por matérias-primas que só podiam ser encontradas fora da
Europa.
É claro que a pura e simples ganâ ncia nunca foi usada como argumento principal da aventura
africana. A presença mais intensa de europeus na Á frica era justificada como busca de
conhecimento ou desejo de levar a civilizaçã o aos “pobres nativos” e convertê-los ao
cristianismo.
No início da década de 1870, Leopoldo II ouviu falar do Congo. Tratava-se de uma regiã o que
se estendia pelo centro do continente africano, banhada pelo grande rio Congo e seus
afluentes. A regiã o hoje é territó rio da Repú blica Democrá tica do Congo.
De acordo com as notícias das expediçõ es de Brazza e de Stanley, existiam no Congo cerca de
du zentos grupos étnicos e mais de quatrocentas línguas e dialetos. E a regiã o não pertencia a
nenhum dos impérios europeus. O Congo despertava no rei grande cobiça, pois ele o queria
não para a Bélgica, mas para si mesmo.
Com o tempo, Leopoldo II obteve a aprovaçã o das grandes potências para suas pretensõ es no
Congo. Como resultado da Conferência de Berlim, o rei da Bélgica conseguiu autorizaçã o para a
criaçã o do Estado Livre do Congo.
O fato é que a presença dos representantes belgas e das empresas europeias no Congo nã o foi
de modo algum filantró pica. Milhares de chefes, em troca de garrafas de gim ou de velhos
uniformes europeus, eram estimulados a assinar documentos em que cediam a soberania de
seus territó rios e de seus povos ao Estado Livre. Muito provavelmente, os chefes africanos nã o
tinham uma ideia clara do significado de sua assinatura, já que o conceito político de soberania,
como entendido na Europa, nã o tinha sentido para eles.
Os representantes do Estado Livre do rei Leopoldo, quando deparavam com a resistência das
tribos em ceder trabalhadores para as companhias europeias, ordenavam mutilaçõ es, a
exemplo de algumas etnias do Congo que, em suas guerras, tinham o há bito de reunir as
orelhas de inimigos mortos.
As rebeliõ es mais contundentes eram reprimidas com a eliminaçã o de aldeias inteiras. Jamais
se saberá com exatidã o quantos dos cerca de 20 milhõ es de africanos do Congo pereceram nos
massacres patrocinados pela “filantropia” do rei Leopoldo.
Uma matança de tais proporçõ es seria difícil de esconder por muito tempo. No início do século
XX, viajantes e missioná rios europeus e estadunidenses, horrorizados com o que haviam
testemunhado, denunciaram nos jornais os massacres, as mutilaçõ es e a exploraçã o do
trabalho escravo no Estado Livre do Congo. Foi a primeira grande campanha internacional em
favor dos direitos humanos no século XX. A campanha surtiu algum efeito. A opiniã o pú blica
internacional passou a acreditar que Leopoldo II era um hipó crita mentiroso. Já a histó ria
desvenda a imagem de um verdadeiro monstro.
Leia
Coração das trevas, de Joseph Conrad. Sã o Paulo: Companhia de Bolso, 2008.
O livro retrata a violê ncia extrema praticada na Á frica pelos colonizadores.
Um pedaço de bolo no meio da África
Reportagem de Marcelo Galli, sobre a exploraçã o colonial do Congo Belga. Disponível em:
<http://civilizacoesafricanas.blogspot.com.br/2010/06/um-pedaco-de-bolo-no-meio-da-africa.html>. Acesso em: 25 maio
2016.
Para discutir
a) O Congo foi explorado por grandes empresas. Em 1890, a exportaçã o de borracha do Congo foi
de 100 toneladas. Esse nú mero subiu para 1,3 milhã o de toneladas em 1896, chegou a 2 milhõ es em
1898, e em 1901 atingiu 6 milhõ es de toneladas.
b) Anotaçã o extraída do diá rio do missioná rio batista inglês A. E. Scrivener, em 1903:
[…] Da forma como foi trazido, cada homem tinha um cestinho contendo mais ou menos quatro
ou cinco libras de borracha. […] O antigo homem branco (eu me sinto envergonhado de minha
cor todas as vezes em que penso nele) se postava na porta do armazé m para receber a
borracha dos pobres coitados trêmulos, que, depois de semanas de privaçõ es nas florestas,
tinham ousado chegar com o que foram capazes de coletar. Quando um homem trazia menos
que a porçã o apropriada, o homem branco encolerizava-se e, tomando um rifle de um dos
guardas, fuzilava-o na hora. Raramente a quantidade de borracha aumentava, mas um ou mais
eram fuzilados na porta do armazém “para fazer os sobreviventes trazerem mais na pró xima
vez”. […]
c) Declaraçã o de Leopoldo II quanto aos seus objetivos no Congo: “Abrir para a civilizaçã o a ú nica
parte do globo que ela ainda nã o penetrou, atravessar a escuridã o na qual populaçõ es inteiras estã o
envolvidas [...]”.
2. A ideia de que se estaria levando progresso para as populaçõ es locais era um dos
argumentos utilizados por Leopoldo II para justificar seus empreendimentos no Congo. Com
base em todas as informaçõ es de que você dispõ e sobre o assunto, elabore uma histó ria em
quadrinhos com o seguinte título: O rei Leopoldo II leva a civilizaçã o ao Congo. O trabalho
poderá ser feito em grupo.
Pá gina 32
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
1. O que é o nacionalismo?
5. Cite as principais características da crise econô mica ocorrida no período entre guerras.
7. Indique os fatores que contribuíram para o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945.
Lendo mapas
8. Compare os dois mapas que mostram a situaçã o da Europa antes e depois da Primeira
Guerra Mundial e explique o que ocorreu com o Império Austro-Hú ngaro e com o Império
Russo.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. Sã o Paulo: Á tica, 2007. p. 27.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. Sã o Paulo: Á tica, 2007. p. 27.
9. Com base no mapa, descreva a expansã o da crise provocada pela quebra da Bolsa de Nova
York em 1929.
Fonte de pesquisa: VICENTINO, Clá udio. Atlas histó rico: geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2011. p. 143.
Pá gina 33
[...] Em troca do reconhecimento do Estado do Congo, sob controle de Leopoldo II, os belgas tiveram
que aceitar a política de “Portas Abertas”, admitindo a navegaçã o e o comércio internacional no rio
Congo para todas as naçõ es europeias. Da mesma forma, capitais francesas e belgas associar-se-iam
rapidamente para a exploraçã o das riquezas minerais do país, conformando, um pouco mais tarde,
a empresa Union Minière, que passa a exercer o verdadeiro controle sobre o cobre, o ouro e os
diamantes do Congo. Na direçã o leste, contudo, a expansã o francesa deparou-se com a forte
projeçã o de força do Império Britâ nico, que fazia a subida do rio Nilo, estabelecendo uma longa
linha férrea paralela ao rio como principal ferramenta de dominaçã o do rico e estratégico Vale do
Nilo. Ambas as frentes imperialistas encontrar-se-iam na junçã o dos dois Nilos, em Fachoda, no
Sudã o. Estavam em jogo, aí, em 1898, dois ambiciosos projetos geopolíticos: a travessia francesa da
Á frica no sentido Atlâ ntico/Índico ou a travessia britâ nica da Á frica no sentido Alexandria/Cidade
do Cabo, através de uma longa ferrovia, que deveria ligar o Cairo à Cidade do Cabo, idealizada por
Cecil Rhodes (1853-1902). [...]
SILVA, Francisco Carlos Teixeira da et al (Org.). Enciclopédia de guerras e revoluções: vol. I: 1901-1919: a época dos imperialismos e da
Grande Guerra (1914-1919). 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. E-book.
O empresá rio inglês Cecil John Rhodes atuou no setor de mineraçã o em regiõ es africanas sob domínio britâ nico e foi
primeiro-ministro da Colô nia do Cabo (que atualmente integra a Á frica do Sul) entre 1890 e 1896. Gravura de
Edward Linley Sambourne, 1892.
12. Analise as fotos a seguir, associando-as aos tratados estabelecidos por Hitler e Stalin e à
entrada da URSS na Segunda Guerra Mundial.
Bettmann/Corbis/Fotoarena
Joachim von Ribbentrop (à esq.), ministro de relaçõ es exteriores da Alemanha nazista, e Josef Stalin (à dir.) apó s a
assinatura do tratado de nã o agressã o, em Moscou, URSS. Foto de 1939.
Bettmann/Corbis/Fotoarena
Os líderes dos Aliados (da esq. para a dir.): Josef Stalin, da URSS, Franklin Roosevelt, dos EUA, e Winston Churchill, do
Reino Unido, em Teerã , Irã . Foto de 1943.
Pá gina 34
A geopolítica no pós-
CAPÍTULO 3
guerra
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
A geopolítica durante a Guerra Fria.
A descolonizaçã o da Á sia e da Á frica.
O movimento dos países nã o alinhados.
A divisã o da Alemanha.
O desmembramento da URSS.
As transformaçõ es no Leste Europeu.
As guerras do sé culo XXI.
Reproduçã o de cartaz de propaganda soviética, dos anos 1960, com os dizeres “Cidadã os da URSS, orgulhem-se:
vocês abriram o caminho da Terra à s estrelas”.
Time Magazine/Arquivo da editora
Reproduçã o de capa da revista estadunidense Time (dez. 1968), com a manchete “Corrida para a Lua”.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e Uniã o Soviética despontaram como potências
hegemô nicas no quadro político mundial. Nas conferências de Yalta e de Potsdam (realizadas
respectivamente em fevereiro e julho de 1945), os limites da divisã o do mundo em dois blocos antagô nicos, o
socialista e o capitalista, foram esboçados. Também se delineou, nessas conferências, a divisão da Europa em
á reas de influência soviética e estadunidense.
A rivalidade entre Estados Unidos e URSS pela “conquista” do espaço durante a Guerra Fria levou as duas
potências a investir maciçamente em pesquisa e desenvolvimento tecnoló gico. Nesta fase, a disputa pela
exploraçã o do espaço, representada nas duas imagens acima, recebeu o nome de “corrida espacial”. Apontava-se
para uma bipolarização com situaçõ es de conflito nos campos ideoló gico, econô mico e político, assim como
nas dimensõ es militar e estratégica. Na segunda metade do século XX, as duas potências buscaram a
consolidação e difusã o de seus regimes e ideologias. O mundo assistiu, entã o, à formaçã o de dois blocos de
países com sistemas políticos e econô micos diferentes.
A Guerra Fria
Em disputa por supremacia, Estados Unidos e Uniã o Soviética tornaram-se antagonistas entre
1945 e 1991, conflito que ficou conhecido como Guerra Fria.
Dada a capacidade bélica das duas potências, uma guerra efetiva nunca ocorreu, mas o clima
de tensã o permanente, típico dos conflitos armados, foi mantido enquanto as posiçõ es políticas
não foram alteradas.
Cosmonauta: termo utilizado na antiga Uniã o Sovié tica para designar tripulante de nave espacial; sinô nimo de astronauta.
Ainda que nã o tenha havido guerras entre elas, houve momentos de grande tensã o, como a
crise dos mísseis, em 1962, quando mísseis nucleares soviéticos foram instalados em Cuba,
sob o pretexto de auxiliar a ilha a defender seu territó rio, que sofrera uma tentativa de invasã o
com o apoio do governo estadunidense.
Houve também guerras em que Estados Unidos e URSS tiveram participaçã o direta ou indireta,
apoiando oponentes para manter sua influência sobre o maior nú mero possível de países,
como na Coreia, no Vietnã e no Afeganistã o. Veja o mapa.
João Miguel A. Moreira/ID/BR
Fonte de pesquisa: BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Rubert. Atlas do mundo global. Sã o Paulo: Estaçã o Liberdade, 2009. p. 18.
Leia
Guerra Fria, de José Arbex Jr. Sã o Paulo: Moderna, 2005.
O livro faz uma análise profunda da Guerra Fria, estabelecendo os nexos que fundamentaram a constituiçã o de dois blocos
antagô nicos de poder.
A cortina de ferro
Apó s o fim da Segunda Guerra Mundial, o governo estadunidense propô s e implementou o
Plano Marshall, programa de ajuda econô mica para a reconstruçã o dos países europeus
destruídos pela guerra. No â mbito político-militar, sob a liderança dos Estados Unidos, foi
fundada, em 1949, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), cujo objetivo era
proteger os países aliados e capitalistas.
A fronteira entre os países socialistas e capitalistas, tã o bem definida pelas alianças militares,
constituía o que veio a ser chamada de Cortina de Ferro.
Pá gina 36
A descolonização
A descolonização da Ásia
As Filipinas tornaram-se independentes em 1946. Antiga colô nia estadunidense, o
arquipélago foi pioneiro no processo de independência. Em 1949, foi a vez da Indonésia.
Apesar de perder uma guerra travada com os holandeses, as forças nacionalistas conseguiram
formar um governo reconhecido pela antiga metró pole.
Denominada Indostão, a regiã o que hoje abrange os territó rios da Índia, de Bangladesh e do
Paquistão tornou-se independente no fim dos anos 1940. Durante o conflito mundial,
acentuara-se a luta dos indianos pela independência, sob a liderança de Mahatma Gandhi – que
pregava a resistência pacífica contra o domínio inglês – e Jawaharlal Nehru, entre outros.
Na Indochina, entre 1946 e 1954, a França entrou em um violento conflito com as forças
locais. A derrota do exército francês resultou na independência da regiã o e no surgimento de
três países: Laos, Camboja e Vietnã. Este ú ltimo dividiu-se em Vietnã do Norte e Vietnã do
Sul, cada qual sob a influência de uma das potências da Guerra Fria. Mais tarde, foi palco de
violenta guerra (1962-1975), que impô s aos Estados Unidos uma grande derrota. Em 1976,
ocorreu a reunificaçã o do país.
A descolonização da África
O processo de descolonizaçã o da Á frica iniciou-se nos anos 1950. Alguns movimentos de
libertaçã o conquistaram a independência de seus países de modo rá pido e relativamente
pacífico, como na Líbia, em Gana e na Nigéria. Já os países da regiã o do Magreb, no norte da
Á frica, principalmente os colonizados pela França, como Argélia, Marrocos e Tunísia, tiveram
conflitos intensos com suas metró poles.
Magreb: regiã o situada no norte do continente africano, que abrange Marrocos, Saara Ocidental, Argé lia, Tunísia, Mauritâ nia
e Líbia.
As colô nias portuguesas (Angola, Guiné Bissau, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e
Príncipe) foram as que mais demoraram a se libertar. Até 1974, Portugal foi dirigido pela
ditadura salazarista, que manteve com mã o de ferro seus domínios na Á frica. Portugal nunca
fora uma potência industrial e mantinha um vínculo com as colô nias ao estilo antigo, como o
do tempo das Grandes Navegaçõ es (séculos XV e XVI). Somente apó s a Revoluçã o dos Cravos,
que derrubou a ditadura, as colô nias portuguesas alcançaram a independência.
Ditadura salazarista: regime ditatorial que vigorou em Portugal entre 1933 e 1974. O nome faz referê ncia a Antó nio de
Oliveira Salazar, que governou Portugal de 1932 a 1968.
A independência do Congo Belga (atual Repú blica Democrá tica do Congo) também ocorreu de
modo violento. Apó s a morte de Leopoldo II, o territó rio tornou-se herança do rei para o
Estado da Bélgica. Nos anos 1950, eclodiram os movimentos de libertaçã o nacional, e em 1960
a independência foi reconhecida.
Os anos seguintes foram marcados por guerras e massacres levados a cabo por Mobutu Sese
Seko, que tomou o poder, mudou o nome do país para Zaire e governou até sua ditadura ser
derrubada, em 1997.
Assista
Hotel Ruanda. Direçã o de Terry George, 2004, 121 min.
Retrata os conflitos entre tú tsis e hutus ocorridos em Ruanda em 1994. O filme apresenta um microcosmo do mosaico é tnico
que compõ e a populaçã o de grande parte dos países africanos.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: VICENTINO, Clá udio. Atlas histórico: geral e Brasil. Sã o Paulo: Scipione, 2011. p. 154; CIA. The World Factbook.
Disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/geos/od.html>. Acesso em: 15 fev. 2016.
Pá gina 37
O movimento dos países africanos e asiá ticos nã o alinhados teve suas origens na Conferência
de Bandung, em 1955, quando 29 países se posicionaram contra um alinhamento aos blocos
capitaneados pelas grandes potências, Estados Unidos e Uniã o Soviética.
Durante a Guerra Fria, era comum dividir-se o mundo em três blocos: Primeiro Mundo (países
capitalistas desenvolvidos), Segundo Mundo (países socialistas) e Terceiro Mundo (países
capitalistas subdesenvolvidos). Foram fundamentalmente os países pertencentes a este ú ltimo
grupo que formaram o bloco dos nã o alinhados.
Atualmente, o movimento dos países nã o alinhados conta com mais de cem países. O ímpeto
inicial anti-imperialista e anti-Guerra Fria se alterou com as mudanças ocorridas nas relaçõ es
internacionais nas ú ltimas décadas. Hoje, as principais causas do grupo se relacionam à defesa
do multilateralismo político e à promoçã o da paz e do diá logo entre as naçõ es.
Fontes de pesquisa: 16th Summit of the Non-Aligned Movement – Final document, Teerã , 31 ago. 2012. Disponível em:
<www.mea.gov.in/Images/pdf/final-document-of-xvi-namsummit.pdf>; Non-Aligned Movement – Centre for South-South Technical
Cooperation. Disponível em: <http://csstc.org/v_ket1.asp?info=13&mn=1#>. Acessos em: 2 fev. 2016.
A divisão da Alemanha
Ao fim da Segunda Guerra, na Conferência de Potsdam, em julho de 1945, a Alemanha foi
dividida em zonas de ocupaçã o militar: três zonas, na porçã o ocidental, ficaram sob a
administraçã o dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França. A porçã o oriental ficou sob a
administraçã o da Uniã o Soviética.
As três zonas ocidentais se fundiram em 1949, constituindo a Repú blica Federal da Alemanha
(RFA ou Alemanha Ocidental), tutelada pelos Estados Unidos. A parte oriental, sob a tutela
soviética, deu origem à Repú blica Democrá tica Alemã (RDA ou Alemanha Oriental). A capital
Berlim também foi dividida entre os Aliados. Berlim Oriental ficou sob influência da Uniã o
Soviética. Berlim Ocidental, integrante da RFA e sob influência de Estados Unidos, França e
Reino Unido, tornou-se um enclave capitalista em territó rio comunista.
As repú blicas alemã s passaram a apresentar processos de reconstruçã o diferentes. Entre 1945
e 1948, cerca de 9 milhõ es de pessoas partiram da RDA rumo ao lado ocidental. Em 1961, a
Alemanha Oriental construiu um muro que durante quase três décadas dividiu a cidade de
Berlim e interrompeu o movimento migrató rio.
Fontes de pesquisa: Atlas da história do mundo. Sã o Paulo: Folha da Manhã , 1995. p. 270-271; Almanaque Abril 2014. 40. ed. Sã o
Paulo: Abril, 2014. p. 304.
Pá gina 38
Por quase setenta anos (de 1922 a 1991), a Uniã o Soviética constituiu um sistema antagô nico
ao capitalismo. O país fez frente aos Estados Unidos em vá rios níveis, da ideologia política aos
processos industriais, desenvolvendo poderio atô mico e forte indú stria aeroespacial.
Durante as décadas de 1970 e 1980, o planejamento estatal dava sinais de fadiga. A excessiva
burocracia político-administrativa gerava corrupçã o e causava desperdícios de matéria-prima,
levando à diminuiçã o da produtividade e à falta de produtos.
Além disso, a populaçã o estava insatisfeita com a falta de liberdade e de participaçã o política,
que era subordinada ao partido ú nico, o Partido Comunista.
Diante desses desafios, Mikhail Gorbachev assumiu a liderança da URSS, em 1985. Seu plano
era fortalecer a economia, diminuindo o peso dos gastos militares.
País satélite: país que apresenta situaçã o política ou econô mica dependente de outro mais poderoso.
Repúblicas bálticas: Estô nia, Letô nia e Lituâ nia, países banhados pelo mar Bá ltico que fizeram parte da URSS até 1991.
Em agosto de 1991, Gorbachev sofreu um golpe de Estado e foi restituído ao poder. Mas,
enfraquecido, em dezembro passou o cargo a Boris Yeltsin, presidente da Rú ssia. Era o fim da
URSS, que se fragmentou em 15 Estados nacionais.
Nasceu assim a Comunidade de Estados Independentes (CEI), bloco que reú ne ex-
repú blicas soviéticas e que teve como objetivo inicial garantir a integraçã o econô mica e
assegurar a transiçã o dos ex-membros da Uniã o Soviética para a economia de mercado. Veja o
mapa abaixo.
A dissoluçã o da URSS demarcou o término da Guerra Fria e estabeleceu a ideia de uma nova
ordem mundial, na qual o capitalismo prevaleceu como sistema econô mico. Nesse cená rio, os
Estados Unidos ganharam destaque como potência hegemô nica, e a Otan figura como
importante aliança militar, tendo agregado membros do antigo bloco socialista, como as
repú blicas bá lticas, a Polô nia e a Hungria.
Há estudiosos que identificam uma multipolaridade na nova ordem mundial; segundo essa
perspectiva, os Estados Unidos dividem a proeminência política e econô mica com outras
potências como a Uniã o Europeia, o Japã o e a China.
Fontes de pesquisa: CALDINI, Vera Lú cia de Moraes; ÍSOLA, Leda. Atlas geográfico Saraiva. Sã o Paulo: Saraiva, 2013. p. 126; CEI.
Disponível em: <http://www.cis.minsk.by>. Acesso em: 12 fev. 2016.
Pá gina 39
A reunificação alemã
O fim da divisã o da Alemanha constituiu um marco da dissoluçã o do bloco socialista. Desde a
década de 1970, as duas Alemanhas vinham estreitando suas relaçõ es comerciais. Na década
seguinte, o enfraquecimento da Uniã o Soviética tornou possível o processo de reunificaçã o,
inicialmente tratado com grande euforia, pois significava o fim de um período de quarenta
anos de separaçã o. No entanto, concretizada a unificaçã o em 1990, surgiram problemas
relacionados principalmente à s grandes desigualdades econô micas e sociais entre as duas
partes.
Em termos sociais, os impactos foram enormes. Os alemã es orientais viviam sob um Estado
que aparentemente lhes garantia segurança e proporcionava um padrã o de vida modesto,
menos sujeito ao risco do desemprego. A unificaçã o transformou sua vida de forma radical. Os
bens de consumo, antes apenas desejados, tornaram-se disponíveis, mas a um custo alto
demais para os baixos salá rios.
Os anos de má gestã o econô mica tornaram a transiçã o muito penosa para a populaçã o. O fim
da proteçã o do Estado e a adoçã o de políticas neoliberais reduziram os benefícios sociais na
educaçã o e na saú de, entre outros. Esse foi um dos principais fatores responsá veis pela forte
emigraçã o de trabalhadores do Leste Europeu, sobretudo jovens, rumo aos países da Europa
Ocidental. Também como consequência das crises sociais, ocorreu no Leste Europeu uma
sensível queda nas taxas de natalidade.
Por outro lado, a antiga prá tica do pleno emprego do período socialista deu lugar ao
desemprego em massa, que chegou aos patamares de respectivamente 37% e 44% na
Macedô nia e na Bó snia-Herzegovina em 2006. Estimativas do Banco Mundial revelaram que,
entre 1988 e 1998, a proporçã o de pobres saltou de 2% para 21%, recuando a partir da década
de 2000.
A transiçã o política e econô mica do Leste Europeu foi favorecida por grandes investimentos
realizados pelos países da Europa Ocidental. Novas indú strias foram instaladas, inclusive
aproveitando o menor custo de mã o de obra qualificada da regiã o.
As privatizaçõ es tornaram-se prá tica comum em todos os países do Leste Europeu. Inú meras
fá bricas foram fechadas, tendo em vista a baixa produtividade e a obsolescência dos métodos
produtivos. Ambas as situaçõ es promoveram crises sociais, manifestaçõ es e greves de
trabalhadores. No aspecto político, o partido ú nico e as eleiçõ es de pequena
representatividade popular cederam lugar ao pluralismo político-partidá rio.
Reuters/Latinstock
Em novembro de 1989, a queda do Muro de Berlim – que dividia Berlim Oriental (comunista) de Berlim Ocidental
(capitalista) – foi o mais evidente símbolo do fim da hegemonia da Uniã o Soviética. Foto de 1989.
Pá gina 40
A desagregação da Iugoslávia
Entre os rearranjos políticos no Leste Europeu no contexto pó s-Guerra Fria, a situaçã o mais
dramá tica aconteceu na Iugoslá via. Norman Stone escrevia, em 1992, no jornal inglês Sunday
Times: “Na Iugoslá via havia seis repú blicas, cinco povos, quatro idiomas, três religiõ es, dois
alfabetos e um partido – o comunista”. A frase sintetiza o caldeirã o étnico-cultural que
compunha o país.
Historicamente, a regiã o dos Bálcãs esteve sob o domínio dos impérios Turco-Otomano e
Austro-Hú ngaro. Terminada a guerra em 1945, o croata Josip Broz Tito, que havia comandado
o movimento de resistência contra os nazistas, assumiu o governo e instaurou um regime
comunista. A Repú blica Popular Federal da Iugoslá via era entã o composta de seis repú blicas:
Eslovênia, Sérvia, Croá cia, Bó snia-Herzegovina, Montenegro e Macedô nia.
Bálcãs: regiã o no sudeste da Europa, entre os mares Adriá tico e Mediterrâ neo, que compreende Gré cia, Bulgá ria, Albâ nia,
Macedô nia, Montenegro, Sé rvia, Bó snia-Herzegovina, Croá cia, Eslovê nia e Kosovo.
A posiçã o privilegiada da Iugoslá via despertou interesse geopolítico nos soviéticos. Seu litoral
no mar Adriá tico oferecia á reas estratégicas para abrigar submarinos, além de permitir a
circulaçã o pelo mar Mediterrâ neo. No entanto, Tito nã o cedeu à s pressõ es soviéticas e,
rompendo com a URSS, manteve a Iugoslá via como país nã o alinhado.
SAIBA MAIS
Durante a década de 1990, enquanto na Europa Ocidental foi percebido um acentuado declínio das
religiõ es, na porçã o oriental ocorreu o contrá rio, com a retomada excepcional da religiosidade apó s
a queda do regime comunista.
Além do crescimento das religiõ es tradicionais, foi substancial o aumento das novas religiõ es
protestantes, introduzidas por numerosos grupos de missioná rios que chegaram aos países do
Leste Europeu.
Em algumas sociedades, a religiã o é defendida, ainda hoje, como uma bandeira e um símbolo de
identidade nacional e étnica que ficou em estado latente durante os anos de regime socialista.
David W. Cerny/Reuters/Latinstock
Durante procissã o cató lica, os homens nos camelos representam os Três Reis Magos, personagens bíblicos. Praga,
Repú blica Tcheca. Foto de 2015.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: LACOSTE, Yves. Géopolitique: la longue histoire d’aujourd’hui. Paris: Larousse, 2006. p. 245.
Pá gina 41
Prevendo possíveis desentendimentos apó s sua saída, Tito havia criado um sistema de
presidência rotativa entre os governantes das seis repú blicas, que foi posto em prá tica e
funcionou até 1991 – ano em que as repú blicas da Croá cia e da Eslovênia declararam
independência.
A Croá cia foi entã o invadida por milícias e tropas sérvias que iniciaram uma guerra civil,
controlada em 1992 pelas tropas da ONU. Em seguida, parte das tropas sérvias ocupou a
Bó snia-Herzegovina, onde a maioria da populaçã o era muçulmana. A guerra assumiu
proporçõ es maiores, pois os sérvios que viviam na Bó snia-Herzegovina, adeptos do
cristianismo ortodoxo, nã o admitiam um governo muçulmano.
Para tentar impedir que as guerras civis se alastrassem, a Uniã o Europeia – que já havia
reconhecido a independência das duas repú blicas – convocou a França e o Reino Unido a
enviar tropas sob a égide da ONU para a regiã o em conflito.
No territó rio bó snio, desenvolvia-se uma guerra étnico-religiosa entre croatas (cató licos),
sérvios (cristã os ortodoxos) e bó snios (muçulmanos). Foi necessá ria a intervençã o aérea da
Otan e dos Estados Unidos para obrigar as partes a negociar acordos de paz, que foram obtidos
em 1995 apó s um massacre no qual cerca de 8 mil muçulmanos (principalmente homens e
meninos) foram mortos. O balanço final dessa guerra chegou a 250 mil mortos e centenas de
milhares de refugiados.
A Otan manteve tropas na Bó snia-Herzegovina entre 1995 e 2004, com o objetivo de garantir a
segurança e o estabelecimento da democracia. O fim do conflito confirmou a independência da
Bó snia-Herzegovina.
Ainda em 1992, a Macedô nia conseguiu autonomia por acordo político. Em 2003, o territó rio
remanescente da Iugoslá via passou a chamar-se Sérvia e Montenegro. Depois de um plebiscito,
em 2006 Montenegro separou-se da Sérvia.
DPA/Album/Fotoarena
Helicó ptero do exército alemã o, a serviço da Otan, sobrevoa Sarajevo, Bó snia-Herzegovina. Foto de 2002.
Assista
A vida é um milagre. Direçã o de Emir Kusturica, França/Sé rvia, 2004, 155 min.
O filme mostra a vida de um engenheiro que constró i uma ferrovia no interior da Iugoslá via e nã o percebe a guerra nem o
que se passa a seu redor.
O resgate de Harrison. Direçã o de Elie Chouraqui, França, 2000, 130 min.
O filme conta a histó ria de uma mulher que vai à Bó snia à procura de seu marido, um fotó grafo que morreu durante a guerra.
Terra de ninguém. Direçã o de Danis Tanovic, Bó snia/ Eslovê nia/Itá lia/ Reino Unido/ Bé lgica, 2001, 98 min.
O filme relata a histó ria de dois soldados, um bó snio e um sé rvio, que acabam isolados em uma trincheira.
A questão do Kosovo
O Kosovo, regiã o encravada no sul da Sérvia, era habitado por albaneses que representavam
uma minoria. Em 1999, essa minoria se insurgiu contra os sérvios, que reagiram com violência,
enviando tropas para a regiã o. Esse confronto provocou um forte êxodo de albaneses em
direçã o à Macedô nia. A comunidade internacional acusou a Sérvia de genocídio, e a Otan
declarou guerra ao país, bombardeando Belgrado – apesar da oposiçã o da Rú ssia, aliada da
Sérvia.
Com a atuaçã o da Otan, cerca de 900 mil albaneses voltaram ao Kosovo. A ONU decretou um
governo provisó rio na regiã o e, em fevereiro de 2008, o Kosovo declarou unilateralmente sua
independência da Sérvia. Sua autonomia, porém, não é reconhecida por todos os membros das
Naçõ es Unidas. Em 2016, cerca de 110 países haviam reconhecido a independência do Kosovo.
Os Bálcã s ainda sã o uma regiã o de conflitos em estado latente. O Kosovo, atualmente com
minoria sérvia, e a Bó snia, onde persistem equilíbrios étnicos muito frá geis, demonstram a
permanência de uma instabilidade geopolítica na Europa.
Pá gina 42
Apó s o fim da Guerra Fria, a natureza dos conflitos modificou-se. Anteriormente, a maior parte
dos conflitos estava associada à s guerras de libertaçã o nacional ou à s disputas de territó rios
entre naçõ es. Já no final do século XX e início do século XXI, guerras civis, religiosas ou étnicas
tornaram-se mais numerosas. Esses conflitos caracterizaram-se pelo aumento do nú mero de
vítimas civis e do nú mero de refugiados.
Intensificaram-se nesse período as chamadas açõ es humanitá rias, por vezes denominadas
“missõ es civilizató rias” ou operaçõ es de “manutençã o da paz”, como as açõ es da Otan na ex-
Iugoslá via e em vá rios países africanos. Cresceram também a “guerra ao trá fico” e a “guerra ao
terror”. Nessas guerras, o inimigo não é um Estado ou um país, mas, sim, um conjunto disperso
de atores, espalhados por vá rios territó rios.
Apesar da dificuldade de identificaçã o do inimigo, diversas vezes o trá fico e o terrorismo foram
utilizados como pretexto para intervençõ es militares estadunidenses e europeias em vá rios
países, como o Afeganistã o, o Iraque, a Líbia e o Panamá , entre outros.
O uso de robô s e de aviõ es nã o tripulados (drones) tornou-se comum nos conflitos atuais. Tais
tecnologias permitem aos países agressores fazer uma guerra por meio de ataques controlados
a distâ ncia, reduzindo a exposiçã o e o nú mero de vítimas de seus exércitos.
Apó s os ataques sofridos pelos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001, houve também um
processo de privatizaçã o do aparato militar americano. Aumentou-se o nú mero de exércitos
privados que têm atuado nas guerras e na proteçã o aos governos e à s empresas.
Leia
Estado de exceção, de Giorgio Agamben. Sã o Paulo: Boitempo, 2007.
O livro analisa os mecanismos utilizados pelos Estados para a manutençã o do poder. Entre os vá rios exemplos, o autor
aborda a prisã o de suspeitos de terrorismo mantidos na prisã o de Guantá namo pelos Estados Unidos.
João Miguel A. Moreira/ID/BR
Fonte de pesquisa: Reference World Atlas. London: Dorling Kindersley, 2013. p. xxxii.
Pá gina 43
Informe
Guerra como prestação de serviços
Empresas militares privadas e “novos mercená rios” sã o fenô menos pouco conhecidos. […] O
que sã o essas empresas militares privadas, de onde vêm, quem lhes dá as incumbências? Em
meio a pesquisas, nó s nos deparamos com sites bem configurados e constatamos, espantados,
que os líderes desse ramo estã o cotizados na bolsa e que os valores dos seus títulos se
elevaram rapidamente à s alturas, enquanto todas as outras açõ es despencaram depois do 11
de setembro de 2001. Muitas recebem seus contratos de instituiçõ es governamentais, por
exemplo, do Departamento de Defesa norte-americano ou do Ministério da Defesa Britâ nico.
No entanto, nã o se fica sabendo oficialmente de lado algum quais contratos específicos sã o
fechados. […] Apesar das cotizaçõ es na bolsa e dos contratos governamentais, o ramo militar
privado é um campo cercado de mistérios. […]
Nos palcos e nas regiõ es em guerra deste mundo, o cronista se depara cada vez menos com
membros de exércitos regulares. O que contribui para isso é o rá pido crescimento do nú mero
de soldados privados. Muito raramente se tem clareza acerca de para quem eles lutam, quem
os paga e quem os mandou para lá . Ninguém sabe dizer corretamente se e por quem eles sã o
responsá veis. E ninguém quer responder também, de maneira inequívoca, de onde eles
receberam o seu aparato de guerra que se encontra no mais moderno está gio tecnoló gico –
tanques, helicó pteros de combate, granadas, mísseis.
Antigamente, eles eram chamados de mercená rios. Hoje, sã o empregados de empresas que
possuem nomes fictícios, como Blue Sky, Genric, Logicon ou Pistris, e não se suporia que, por
detrá s deles, se escondem empresas de guerra privadas. Em sua grande maioria, esses
soldados privados nã o fazem parte de nenhuma força-tarefa nacional. Ao vermos um
combatente croata, paquistanês, colombiano, irlandês ou ucraniano, nã o conseguiremos
constatar nem pela vestimenta nem pelo passaporte se de fato se trata de um membro de um
exército regular, de um mercená rio, de um rebelde ou de um terrorista.
UESSELER, Rolf. Guerra como prestação de serviços: a destruiçã o da democracia pelas empresas militares privadas. Sã o Paulo: Estação
Liberdade, 2008. p. 11-12, 17-18.
João Miguel A. Moreira/ID/BR
Fonte de pesquisa: Stockholm International Peace Research Institute (Sipri). Disponível em:
<http://www.sipri.org/research/armaments/milex/research/armaments/milex/milex_database>. Acesso em: 7 abr. 2016.
PARA DISCUTIR
1. O texto apresenta uma das novas características da guerra no século XXI. Quais sã o as
principais diferenças em relaçã o à s guerras tradicionais?
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
6. Associe o fim da URSS, em 1991, com a ascensã o de uma “nova ordem mundial”.
8. Indique as principais características das guerras do final do século XX e início do século XXI.
10. O mapa a seguir mostra a chamada Cortina de Ferro. Explique essa expressã o,
contextualizando-a historicamente, e aponte seus limites, tendo como base o mapa
apresentado.
João Miguel A. Moreira/ID/BR
Fonte de pesquisa: VICENTINO, Clá udio. Atlas histórico: geral e Brasil. Sã o Paulo: Scipione, 2011. p. 149.
Pá gina 45
11. Observe o grá fico a seguir e comente a evoluçã o dos testes nucleares realizados no mundo
dando especial atençã o ao período da Guerra Fria.
Adilson Secco/ID/BR
Alfredo Martirena/CartoonStock
13. Leia a letra de uma cançã o do grupo Legiã o Urbana, transcrita a seguir, prestando atençã o
ao trecho sublinhado. Depois, faça no caderno uma reflexã o relacionando a questã o da guerra
ao avanço tecnoló gico.
MANFREDINI JR., Renato (Renato Russo). A canção do senhor da guerra. Intérprete: Legiã o Urbana. Rio de Janeiro: Ediçõ es Musicais
Tapajó s Ltda., 1985.
Pá gina 46
A geopolítica no
CAPÍTULO 4
Brasil
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
O Brasil como potê ncia regional.
As desigualdades regionais.
A açã o do Estado.
A construçã o de Brasília.
A geopolítica da Amazô nia.
A presença do Brasil em fó runs internacionais demonstra a notoriedade do país no contexto global. Na foto, Dilma
Rousseff, entã o presidente do Brasil, é retratada ao lado de Barack Obama e Vladimir Putin (presidentes dos Estados
Unidos e da Rú ssia, respectivamente) e entre os dirigentes dos demais membros do G-20, em reuniã o ocorrida em
Antá lia, Turquia. Foto de 2015.
Embora o termo potência tenha surgido fortemente associado à ideia de hegemonia militar, na atualidade o
conceito de potência está relacionado ao conjunto de fatores que possibilitam que um país exerça influência
sobre outros. Além do poderio militar, o cená rio diplomá tico, a atuaçã o estratégica dos Estados e o
desenvolvimento econô mico sã o elementos importantes para avaliar se um país cumpre os requisitos que o
identificam como potência em escala regional ou mundial.
O Brasil pode ser considerado uma potência regional da América do Sul e Latina, título que também pode ser
conferido ao México e à Argentina. A economia brasileira, for temente industrializada e com um setor
agropecuá rio muito produtivo, está entre as maiores do mundo.
O país tem melhorado sua inserçã o nas relaçõ es internacionais. Isso pode ser verificado pelo alto nú mero de
acordos bilaterais fechados na década de 2000 e pela participaçã o de representantes do governo brasileiro em
vá rias reuniõ es do G-20, grupo dos países com as maiores economias do mundo.
Com base na imagem e no texto acima, faça o que se pede.
2. Em sua opiniã o, qual é a importâ ncia da participação brasileira em organizaçõ es econô micas
internacionais? Pesquise e justifique sua resposta com exemplos.
Pá gina 47
O tamanho do territó rio, o poder econô mico e o militar sã o os fatores mais importantes para
que um Estado possa agir de maneira independente e exercer influência sobre os outros
Estados.
O poderio econô mico de um país está ligado a sua importâ ncia no mercado global. O poderio
militar manifesta-se nos conflitos armados e também na capacidade de negociaçã o política
internacional. Um bom exemplo é o Conselho de Segurança da ONU(responsá vel por arbitrar
e adotar medidas para solucionar desavenças entre países), cujos membros permanentes sã o
as maiores potências militares: Estados Unidos, Rú ssia, China, Reino Unido e França.
O controle sobre os crimes ambientais nas regiõ es onde há abundâ ncia de riquezas naturais,
sobretudo na regiã o Amazô nica, também é bastante frá gil. Uma das consequências dessa
realidade é a biopirataria, realizada por meio da retirada ilegal de matéria-prima de nossas
florestas para exploraçã o, comercializaçã o ou para o registro de patentes em outros países.
Ainda que o Brasil apresente algumas fragilidades, a economia do país é bastante forte, e seu
parque industrial é amplo e diversificado. O Brasil produz desde alimentos e tecidos até itens
que requerem altos investimentos em pesquisa e tecnologia, como aviõ es e produtos
farmacêuticos. Também possui grandes empresas de exploraçã o mineral, como a Petrobras e a
Vale, de significativa presença internacional.
Projeto Genoma: pesquisa internacional que tem como objetivo mapear e interpretar o material gené tico de diferentes
seres vivos, para auxiliar a medicina a compreender a origem de doenças e o desenvolvimento de características individuais
das espé cies.
SAIBA MAIS
O gasoduto Brasil-Bolívia
Diante da necessidade de diversificar suas fontes energéticas, o Brasil estabeleceu acordos com a
Bolívia para a importaçã o de gá s natural e, para isso, construiu um gasoduto entre os dois países.
No início do século XXI, com a chegada de um novo governo, a Bolívia questionou o preço do gá s
pago pelo Brasil, exigindo a sua elevaçã o. O fato chegou a afetar o fornecimento de gá s, mas as
negociaçõ es avançaram e o fornecimento foi restabelecido.
Como o Brasil dispõ e de outras fontes energéticas e importantes reservas de gá s foram descobertas,
a dependência em relaçã o ao gá s boliviano tende a diminuir.
GOSMANN, Hugo Leonardo. Integração gasífera na América do Sul. 2011. Disponível em:
<http://bdm.unb.br/bitstream/10483/2422/1/2011_HugoLeonardoGosmann.pdf>. Acessos em: 18 fev. 2016.
As desigualdades regionais
A integraçã o nacional é um bom parâ metro para analisar a organizaçã o espacial do país. É
ainda um fator vinculado aos fluxos econô micos inter-regionais que evidenciam aspectos do
desenvolvimento brasileiro. Entre esses aspectos destacam-se as desigualdades regionais.
O desenvolvimento nã o uniforme do país está relacionado, entre outros aspectos, a sua grande
extensã o territorial. Determinar a origem histó rica das desigualdades regionais não é tarefa
fá cil, pois se trata de um processo complexo, resultante da combinaçã o de contrastes naturais,
articulaçõ es políticas e da dinâ mica econô mica, que se transformou muito desde o início da
colonizaçã o portuguesa.
Medindo as desigualdades
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um indicador adotado pela ONU para avaliar a
qualidade de vida de uma populaçã o. Três variá veis sã o utilizadas: educaçã o, expectativa de
vida e nível de renda. Seus índices podem ser aferidos nas escalas nacional, estadual, municipal
e regional. No Brasil, a coleta de dados é realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
Fonte de pesquisa: Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Brasileiro. Brasília: Pnud/Ipea/FJP, 2013. p. 42. Disponível
em:<http://www.pnud.org.br/arquivos/idhm-brasileiro-atlas-2013.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2016.
Pá gina 49
A ação estatal
No início do século XX, com base nas informaçõ es de que a seca era o principal motivo do
subdesenvolvimento do Nordeste, foi criada a Superintendência de Estudos e Obras contra a
Seca, atual Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS).
Para a Amazô nia, foi criada em 1912 a Superintendência de Defesa da Borracha, quando a base
da economia local era a exploraçã o do lá tex, matéria-prima para a fabricaçã o de borracha.
Diferentemente das intervençõ es pon tuais do início do século passado, açõ es mais abran
gentes e estruturadas por amplas operaçõ es no territó rio marcaram os governos de Getú lio
Vargas, Juscelino Kubitschek e dos presidentes militares, estendendo as fronteiras do
desenvolvimento econô mico para todas as regiõ es do país.
Durante o governo Vargas, foram criadas empresas estatais como a Companhia Siderú rgica
Nacional (1941) e a Petrobras (1953), que, apesar de sediadas na Regiã o Sudeste, serviram
para alavancar a produçã o nacional e atuam hoje, direta ou indiretamente, em diversas partes
do territó rio brasileiro.
No governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961) foi implantado o Plano de Metas, cujo lema
era desenvolver o Brasil “cinquenta anos em cinco”. Um conjunto de obras estava
contemplado, com investimentos em diversos setores de infraestrutura, o que incluía a
construçã o de uma nova capital. JK promoveu também a entrada de capital estrangeiro
destinado ao desenvolvimento de setores produtivos, como a indú stria automobilística.
Durante a ditadura militar, foram realizadas grandes obras estatais, como a construçã o da
usina hidrelétrica de Itaipu e da ponte Rio-Niteró i. Confira o boxe abaixo, sobre a usina
binacional de Itaipu.
Em 1970, foi lançado o Plano de Integraçã o Nacional (PIN), que congregava investimentos na
abertura de rodovias. A mais destacada foi a Transamazô nica, idealizada para interligar a
Paraíba ao Acre, contribuindo para a migraçã o do Nordeste para a Amazô nia. Foram lançados
os Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs) e os polos de desenvolvimento, como o
Poloamazônia, o Polocentro e o Polonoroeste, que incentivavam a exploraçã o mineral e os
projetos agropecuá rios direcionados à exportaçã o.
Nos governos subsequentes, de Luiz Iná cio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o Estado ampliou
sua atuaçã o em obras pú blicas, sobretudo com o lançamento do Programa de Aceleraçã o do
Crescimento (PAC), um conjunto de obras planejadas para estimular o desenvolvimento
econô mico e social.
Leia
O Estado e as políticas territoriais no Brasil, de Wanderley Messias da Costa. Sã o Paulo: Contexto, 2000.
O autor apresenta uma reflexã o a respeito do processo de intervençã o estatal no planejamento territorial brasileiro. Em um
livro abrangente e sinté tico, ele desenvolve o tema em uma perspectiva histó rica ampliada, desde o Impé rio até a atualidade.
CONEXÃO
A usina de Itaipu, que produz cerca de 15% da energia elétrica consumida no Brasil e 75% da
consumida no Paraguai, começou a ser projetada na década de 1960, por meio de acordos entre os
dois países. Desde o início do funcionamento da usina, em 1984, a energia gerada é dividida em
partes iguais entre os dois países, mas o Paraguai consome apenas 5%. Por contrato, deve vender o
restante à Eletrobras a preço de custo, pois, na época da construçã o, o Brasil financiou toda a obra,
inclusive a parte relativa ao país vizinho. Em 2009, o entã o presidente do Paraguai colocou em
xeque os acordos firmados inicialmente, e os valores pagos pelo Brasil foram reajustados.
1. Onde você mora existe alguma usina de geraçã o de energia elétrica? Pesquise de onde vem a
energia elétrica que você consome.
Usina hidrelétrica binacional de Itaipu. Em primeiro plano, aparece o territó rio paraguaio e, à direita, o territó rio
brasileiro, em Foz do Iguaçu (PR). Foto de 2015.
Pá gina 50
A mudança da capital federal para uma á rea interiorana era um projeto antigo, elaborado
ainda no século XIX. Em 1891, a mudança da capital foi formalizada em dois artigos da
Constituiçã o recém-adotada.
Em 1892, uma comissã o exploradora demarcou a á rea destinada à criaçã o de uma nova capital
para o país. No entanto, somente em 1956, o Congresso brasileiro aprovou a lei que criava a
Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). O ó rgã o seria responsá vel pela
construçã o da nova capital, inaugurada em 1960.
O projeto urbanístico de Brasília foi criado por Lú cio Costa. Oscar Niemeyer projetou os
principais edifícios. Seu estilo é marcado pelo uso do concreto armado, empregado na
configuraçã o de formas curvas, e pela valorizaçã o da monumentalidade.
O deslocamento da base do poder nacional para o centro do país também possibilita maior
coesã o territorial, integrando regiõ es distantes, e aproxima o governo federal das zonas mais
isoladas, situadas nas regiõ es Centro-Oeste e Norte.
Como grande parte das á reas pouco ocupadas estava mais pró xima da faixa de fronteira, era
fundamental aumentar a presença do Estado nessas regiõ es e promover sua ocupaçã o, o que
seria viabilizado pela transferência da capital do país para o Planalto Central. Além disso, o
deslocamento da capital expressa uma estratégia de atenuar as grandes manifestaçõ es
populares, muito comuns na época em que o Rio de Janeiro era a capital.
Leia
Geopolítica do Brasil: a construção da soberania nacional, de Edu Silvestre de Albuquerque. Sã o Paulo: Atual, 2006.
O livro trata das relaçõ es internacionais do Brasil e de sua posiçã o no panorama geopolítico mundial.
Com mais de meio século de existência, Brasília e as cidades-satélites vivem hoje uma
realidade muito semelhante à de outras grandes capitais do país, cujos problemas o
planejamento urbano inicial nã o foi capaz de evitar.
Fonte de pesquisa: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. Sã o Paulo: Moderna, 2013. p. 163.
Navegue
Museu Virtual Brasília
O site do museu apresenta documentos, imagens e depoimentos sobre a construçã o e o crescimento da capital brasileira.
Disponível em: <http://linkte.me/mbsb>. Acesso em: 9 abr. 2016.
Pá gina 51
O dimensionamento da á rea ocupada pela floresta Amazô nica fornece elementos fundamentais
para abordar as questõ es geopolíticas que a envolvem. Sã o mais de 5,5 milhõ es de km² de á rea,
dos quais cerca de 60% se encontram em territó rio brasileiro. A floresta estende-se também
pelo territó rio da Bolívia, Colô mbia, Equador, Peru, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e
Suriname.
A floresta Amazô nica, além de ser a maior floresta equatorial do mundo, é constituída por uma
rica diversidade de espécies da fauna e da flora e por uma imensa rede de recursos hídricos.
Essa riqueza natural é complementada por outros recursos de grande interesse econô mico,
como as jazidas minerais de ferro, manganês, ouro, bauxita, cobre, petró leo, etc.
Em grande parte por causa da Amazô nia, o Brasil é considerado detentor de uma
megadiversidade e divide essa posiçã o com outros poucos países. A grande biodiversidade
da Amazô nia é garantida pela abundante quantidade de espécies endêmicas, isto é, exclusivas
da regiã o.
Todo esse potencial coloca a Amazô nia no centro da geopolítica global. O grande conjunto de
recursos é foco de cobiça nas mais diversas escalas e, nesse contexto, além da biopirataria,
ocorre a apropriaçã o indevida dos conhecimentos tradicionais dos povos locais.
O potencial econô mico contido na diversidade da Amazô nia fomenta iniciativas internacionais
que visam estabelecer meios indiretos de influência sobre os recursos da regiã o. Sã o tratados e
acordos que versam sobre as mais diversas questõ es relativas à floresta equatorial, mas que
também trazem em seu bojo temores relacionados à capacidade do Estado brasileiro de gerir
seu pró prio territó rio.
Leia
Amazônia, Amazônias, de Carlos Walter Porto Gonçalves. Sã o Paulo: Contexto, 2001.
Fruto de mais de duas dé cadas de pesquisa, o livro apresenta um retrato profundo da Amazô nia. Questõ es contemporâ neas
latentes sã o apresentadas numa perspectiva que nos permite compreender a importâ ncia da regiã o Amazô nica para o país e
para o mundo.
SAIBA MAIS
O líder seringueiro Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, foi uma das
principais vozes a denunciar a devastaçã o da Amazô nia e as condiçõ es dos trabalhadores da regiã o,
que eram e ainda sã o submetidos a situaçõ es de trabalho escravo. Por suas açõ es, foi reconhecido
nacional e internacionalmente.
Percorreu o mundo defendendo a causa dos povos da floresta e recebendo prêmios por sua
atuaçã o. Mesmo diante de pressõ es e ameaças, continuou a questionar o predató rio modelo de
desenvolvimento praticado na regiã o. Em dezembro de 1988, foi morto a tiros nos fundos de sua
casa, em Xapuri, no Acre. Era o trá gico fim da saga de um homem corajoso e comprometido com a
defesa da floresta e dos trabalhadores.
Chico Mendes no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri (AC). Foto de 1988.
Pá gina 52
Presença Indígena
São Gabriel da Cachoeira: uma cidade diferente
Uma grande cobra vinda de muito longe, do começo do mundo. Uma grande cobra-canoa,
subindo pelo fundo do rio, saindo pelo buraco das pedras e vomitando as pessoas que estavam
dentro dela. Esse povo formou uma aldeia, que se comunicava com as outras aldeias que
também saíram da Cobra Grande. Assim o mundo foi habitado e encheu-se de lugares e
histó rias sagradas.
Essa pequena histó ria é o resumo do mito de criaçã o de muitos povos indígenas que habitam o
estado do Amazonas. Narrada de diferentes maneiras, segundo cada povo, a histó ria da Cobra
Grande conta como se formou a regiã o onde atual mente convivem 23 povos indígenas
diferentes, com idiomas pertencentes a três troncos linguísticos: maku, aruak e tukano. Sã o
mais de quinhentas comunidades em Sã o Gabriel da Cachoeira, o “município mais indígena do
país”.
Sã o Gabriel é parecida com outras cidades do país, com uma grande diferença: 85% dos
habitantes sã o indígenas. E jovens: metade da populaçã o tem até 19 anos. Em Sã o Gabriel, eles
têm muitos costumes dos jovens de outros centros urbanos: andam de skate e de bicicleta,
praticam esportes, usam o computador e procuram se vestir seguindo a moda. Há grupos de
street dance e de quadrilha de festa junina formados só por indígenas. Casamentos entre
indígenas e nã o indígenas sã o comuns.
No giná sio da cidade, os festivais culturais indígenas misturam carros alegó ricos e fantasias
coloridas com as tradicionais danças e ritos da regiã o, em um impressionante espetá culo.
Rodeadas pelas corredeiras do rio Negro, nos fins de semana as “praias” da cidade se enchem
de guarda-só is, onde indígenas e nã o indígenas ouvem mú sica em alto volume, fazem
churrasco e levam os filhos para passear.
Festival Cultural das Tribos Indígenas do alto rio Negro (Festribal), em Sã o Gabriel da Cachoeira (AM). Foto de 2009.
Localizada na regiã o chamada de Cabeça do Cachorro, no alto rio Negro, Sã o Gabriel é um dos
maiores municípios do país, com á rea maior que a de Pernambuco. Para chegar lá , leva-se
algumas horas de aviã o partindo de Manaus ou vá rios dias de barco, que é praticamente o
ú nico meio de transporte, pois há poucas estradas ou pistas de pouso nas comunidades. De
barco se vai a todas.
Outra importante atuaçã o missioná ria na regiã o foi a Missã o Novas Tribos do Brasil, que, a
partir da década de 1950, pregou o protestantismo entre diversos grupos e formou dezenas de
pastores indígenas.
Além da mudança nas relaçõ es dentro das comunidades, as missõ es religiosas contribuíram
para aumentar a dependência dos indígenas das “coisas do branco”. Com a chegada dos
pregadores, muitos grupos nô mades passaram a viver perto das missõ es, num processo de
sedentarizaçã o e de concentraçã o populacional que alterou profundamente o modo de vida
indígena.
A caça e a pesca ficaram escassas, e os indígenas passaram a ter de ir muito longe para
conseguir comida e material para fazer suas casas. Como os religiosos têm recursos, mandam
vir de fora comida, material de construçã o, ferramentas, roupas e demais objetos, aumentando
a dependência dos indígenas em relaçã o à s missõ es. A situaçã o piora quando os indígenas
ficam doentes, já que o contá gio se alastra mais rapidamente, com a proximidade de muitas
pessoas em torno das missõ es.
Pá gina 53
Nas décadas de 1970 e 1980, esse processo de mudança se ampliou com a chegada dos
militares para implementar o Plano de Integração Nacional e o Projeto Calha Norte. A
militarizaçã o trouxe também um grande nú mero de não indígenas, tanto militares como
trabalhadores do Nordeste para as construçõ es. Em 1983 foi descoberto ouro na regiã o, o que
atraiu mais migrantes.
Plano de Integração Nacional: projeto criado em 1970 com o objetivo anunciado de fomentar a integraçã o e o
desenvolvimento das regiõ es Norte e Nordeste. Promoveu um extenso plano de obras, como a rodovia Transamazô nica, e a
migraçã o de grandes contingentes de populaçã o para a Amazô nia.
Projeto Calha Norte: plano criado em 1985, prevendo a ocupaçã o militar de uma faixa de 160 quilô metros de largura e 6
500 quilô metros de extensã o ao norte dos rios Solimõ es e Amazonas, nas fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa, o
Suriname, a Guiana, a Venezuela e a Colô mbia.
Essa movimentaçã o foi responsá vel por uma explosã o demográ fica e econô mica em Sã o
Gabriel. Em 1980, a populaçã o urbana era de menos de 4 mil pessoas. Em 2010, já ultrapassava
19 mil. A predominâ ncia indígena também é explicada pelo êxodo de comunidades para o meio
urbano.
Em busca de soluções
Indígenas, religiosos cató licos e evangélicos, comerciantes, garimpeiros e militares, migrantes
brasileiros e latino-americanos convivem lado a lado. A cidade tem como línguas correntes,
além do português, o nheengatu, o tukano e o baniwa.
Mas essa proximidade nã o significa igualdade. A falta de respeito com o indígena e sua cultura
ainda está muito presente na cidade. Os valores reproduzidos pelo exército e pelos migrantes
de outras regiõ es desqualificam os costumes indígenas como atrasados e sem serventia.
Muitos religiosos continuam a impor uma crença que vê o modo de vida indígena como algo a
ser combatido.
Mas os indígenas se mobilizam para superar as condiçõ es adversas e têm conquistado cada vez
mais protagonismo político, inclusive conseguindo a demarcaçã o de vá rias terras indígenas.
A Federaçã o das Organizaçõ es Indígenas do Rio Negro (Foirn) reú ne organizaçõ es que
desenvolvem trabalhos de valorizaçã o cultural e defesa dos direitos das comunidades. Projetos
de valorizaçã o do artesanato tradicional, de criaçã o de peixes, de fortalecimento das línguas
indígenas e outros têm sido desenvolvidos para melhorar a vida nas inú meras comunidades
distribuídas pelos rios do município. Essa atuaçã o visa também garantir a qualidade de vida e a
permanência das pessoas nessas comunidades para que elas nã o sejam obrigadas a migrar
para as cidades.
Foi em Sã o Gabriel que, em 2008, pela primeira vez foram eleitos indígenas para os cargos de
prefeito e vice-prefeito. O município mais indígena do Brasil mostra que é possível conviver de
modo positivo com a diversidade cultural.
Para discutir
1. Com base nas informaçõ es contidas no texto, reflita sobre o processo pelo qual passaram
muitos grupos indígenas de Sã o Gabriel, que deixaram de levar uma vida autô noma na floresta,
passaram a ter um modo de vida dependente de ajuda exterior e do sistema monetá rio e hoje
estã o envolvidos em processos de valorizaçã o cultural e afirmaçã o de suas identidades
indígenas. Discuta com os colegas esses processos.
2. Escolha e comente dois aspectos citados no texto que mais chamaram sua atençã o para o
mundo indígena de Sã o Gabriel da Cachoeira.
Navegue
Blog do Rio Negro
O blog do Instituto Socioambiental (ISA) traz informaçõ es atualizadas e fotos da regiã o do rio Negro. Disponível em:
<http://linkte.me/blogrn>. Acesso em: 8 abr. 2016.
Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro
Site da Foirn, com informaçõ es e notícias sobre os indígenas da regiã o de Sã o Gabriel da Cachoeira. Disponível em:
<http://linkte.me/foirn>. Acesso em: 8 abr. 2016.
Pá gina 54
As fronteiras da Amazô nia constituem um dos pontos mais importantes na questã o geopolítica
local. A imensa extensã o de fronteira externa ocupada pela floresta fechada dificulta sua
fiscalizaçã o e sua defesa. Visualmente, é quase impossível determinar os limites territoriais
entre os países amazô nicos, o que exige investimentos em equipamentos como radares e
aviõ es.
Por isso, o governo brasileiro colocou em operaçã o, no início da década de 2000, o Sistema de
Vigilâ ncia da Amazô nia (Sivam) e o Sistema de Proteçã o da Amazô nia (Sipam). O primeiro
tem como objetivo controlar o espaço aéreo sobre a Amazô nia e ampliar a presença das Forças
Armadas na regiã o; o segundo promove o levantamento de informaçõ es que subsidiam as
açõ es de proteçã o da Amazô nia.
Com exceçã o de momentos pontuais na histó ria do Brasil, a exemplo do ciclo da borracha, a
Amazô nia passou a mobilizar políticas estatais efetivas apenas a partir da segunda metade do
século XX, sobretudo durante a vigência da ditadura militar.
Segundo os militares, era preciso integrar o territó rio para nã o deixá -lo vulnerá vel. Assim,
foram criadas a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazô nia (Sudam) e a
Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Essas açõ es resultaram em obras
pú blicas, como a rodovia Transamazônica e a infraestrutura para viabilizar a Zona Franca
de Manaus.
Zona Franca de Manaus: á rea situada no município de Manaus na qual vigoram condiçõ es fiscais diferenciadas, com o
objetivo de atrair indú strias e outras empresas e gerar emprego e renda para a populaçã o local.
Assista
Brincando nos campos do Senhor. Direçã o de Hector Babenco, EUA, 1991, 189 min.
Ambientado na Amazô nia, o filme mostra a tentativa de catequizaçã o dos povos indígenas Nianura por missioná rios
evangé licos estadunidenses. Apresenta os conflitos decorrentes das relaçõ es entre os nativos, o poder político local, a Igreja
e os missioná rios. O drama é baseado no livro homô nimo do escritor Peter Matthiessen.
A Amazônia contemporânea
A questã o amazô nica continua em pauta, pois suas riquezas, sua cultura e seus recursos
hídricos despertam a constante cobiça de pessoas, que agem por conta pró pria ou em nome de
corporaçõ es. A busca pelo lucro, seja pela exploraçã o de matérias-primas, seja pela ampliaçã o
das terras destinadas à agropecuá ria, é mantida à custa de desmatamentos e tensõ es sociais.
Como consequência do agravamento desses problemas, abrem-se pretextos para proposiçõ es
como a participaçã o da comunidade internacional no gerenciamento da floresta, que colocam
em xeque a integridade da soberania nacional.
A Amazô nia possui diversas terras indígenas, cujas á reas precisam ser protegidas para nã o
sofrerem açõ es predató rias. A reserva Raposa Serra do Sol (1,7 milhã o de hectares), em
Roraima, é um bom exemplo. Demarcada em 1998 e reconhecida oficialmente em 2005, só foi
homologada por decisã o do Supremo Tribunal Federal (STF) em 2009. Os mais de 18 mil
indígenas que ali vivem tiveram assegurados seus direitos diante dos fazendeiros plantadores
de arroz que haviam invadido seu territó rio.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: SANTOS, Breno Augusto dos. Recursos minerais da Amazô nia. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0103-
40142002000200009>. Acesso em: 19 fev. 2016.
Pá gina 55
Informe
Geopolítica da Amazônia
De início, cabe uma pequena explanaçã o sobre geopolítica: trata-se de um campo de
conhecimento que analisa relaçõ es entre poder e espaço geográ fico. Foi o fundamento do
povoamento da Amazô nia, desde o tempo colonial, uma vez que, por mais que quisesse a
Coroa, nã o tinha recursos econô micos e populaçã o para povoar e ocupar um territó rio de tal
extensã o. Portugal conseguiu manter a Amazô nia e expandi-la para além dos limites previstos
no tratado de Tordesilhas, graças a estratégias de controle do territó rio. Embora os
interesses econô micos prevalecessem, não foram bem-sucedidos, e a geopolítica foi mais
importante do que a economia no sentido de garantir a soberania sobre a Amazô nia, cuja
ocupaçã o se fez, como se sabe, em surtos ligados a demandas externas seguidos de grandes
períodos de estagnaçã o e de decadência.
Hoje, o imperativo é modificar esse padrã o de desenvolvimento que alcançou o auge nas
décadas de 1960 a 1980. É imperativo o uso nã o predató rio das fabulosas riquezas naturais
que a Amazô nia contém e também do saber das suas populaçõ es tradicionais que possuem um
secular conhecimento acumulado para lidar com o tró pico ú mido. Essa riqueza tem de ser mais
bem utilizada. Sustar esse padrã o de economia de fronteira é um imperativo internacional,
nacional e também regional. Já há na regiã o resistências à apropriaçã o indiscriminada de seus
recursos e atores que lutam pelos seus direitos. Esse é um fato novo porque, até entã o, as
forças exó genas ocupavam a regiã o livremente, embora com sérios conflitos. […]
Para que se possa mudar esse padrã o de desenvolvimento é necessá rio entender os diferentes
projetos geopolíticos e seus atores, que estã o na base dos conflitos, para tentar encontrar
modos de compatibilizar o crescimento econô mico com a conservaçã o dos recursos naturais e
a inclusã o social. Enfim, nã o se trata de mero ambientalismo, muito menos de mais um
momento destrutivo.
[…]
PARA DISCUTIR
1. Com base no texto, o que é possível depreender das dificuldades histó ricas de o Estado
brasileiro manter o controle sobre a Amazô nia?
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
2. Cite dois fatores relacionados à geopolítica e contextualize a importâ ncia de cada um.
6. Cite os países que abrigam á reas da floresta Amazô nica. No Brasil, que á reas sã o abrangidas
pela Amazô nia Legal?
9. Qual é o papel do capital internacional na exploraçã o dos recursos minerais na Amazô nia?
10. Cite as açõ es territoriais adotadas pelo Estado brasileiro associadas à regiã o Amazô nica.
11. Uma das questõ es mais debatidas ao longo da histó ria do Brasil é a desigualdade regional
existente no país. Analise a tabela a seguir e faça o que se pede.
Fontes de pesquisa: GOMES, Gustavo Maia. A economia regional do Brasil: o que mudou nos ú ltimos cinquenta anos? p. 3. Disponível
em: <http://www.econometrix.com.br/publicacoes_academicas/arquivos/1fe0f125badfc4dc108beb8123e316be93fdcda0.pdf>;
IBGE. Contas Regionais do Brasil 2010. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv62688.pdf>. Acessos em:
8 abr. 2016.
a) Separe as regiõ es brasileiras em dois blocos, agrupando no primeiro as regiõ es com baixo
percentual do PIB e, no segundo, as regiõ es com alto percentual do PIB.
b) Escolha uma regiã o de cada grupo e comente sua situaçã o econô mica.
12. A Iniciativa para a Integraçã o da Infraestrutura Regional Sul-Americana (Iirsa) foi criada
em 2000, na 1ª Reuniã o dos Presidentes da América do Sul, realizada em Brasília. Com o
objetivo de reforçar a uniã o entre os países sul-americanos a partir da melhoria das
infraestruturas de transporte, energia e comunicaçã o, o acordo estabeleceu eixos de integraçã o
e desenvolvimento entre os países do subcontinente. Observe o mapa e responda.
a) Elabore um texto que comente os usos da terra no territó rio brasileiro com base na
comparaçã o das informaçõ es apresentadas.
b) Qual processo em curso na Amazô nia Legal é evidenciado pelo mapa?
[…] A ideia inicial era vencer a floresta e povoar as porçõ es desconhecidas – e habitadas apenas por
índios – da Amazô nia brasileira. Sob o slogan nacionalista: “integrar para nã o entregar”, também é
desta época a abertura de estradas que cortaram a Amazô nia de norte ao sul […]. Cidades com
nomes curiosos, como Sinop (Sociedade Imobiliá ria Noroeste do Paraná ), Porto dos Gaú chos, Nova
Maringá e Porto Alegre do Norte, explicam as origens de seus fundadores.
Mas, justamente esse desenvolvimento proposto pelos militares, também é apontado como o início
da destruiçã o da floresta. Atraídos pela promessa de terras baratas e riquezas, milhares de colonos
chegavam com suas famílias vindos do Sul e alguns do Sudeste do país. E a floresta, até entã o
impenetrá vel, desaparecia rapidamente dando lugar a imensos campos de grã os (tendo a soja como
principal cultura) e pastagens. Até mesmo os projetos que visavam ao aproveitamento da madeira
de lei eram financiados pelo Governo Federal, sob a tutela da Superintendência de
Desenvolvimento da Amazô nia – Sudam. Com isso, guarantã s, mognos e castanheiras se
transformavam no cobiçado “ouro verde”, sem que se tivesse qualquer preocupaçã o com a
sustentabilidade da atividade ou impactos ambientais.
Os povos indígenas foram os que mais sentiram a chegada dos colonos e muitas tribos, como os
Panará , Kayabi e Tapaiuna, só nã o foram completamente dizimadas porque foram levadas pelos
sertanistas Villas Boas para o Parque Nacional do Xingu. Relatos dramá ticos de índios morrendo à
míngua e mendigando à s margens das recém-criadas estradas chamaram a atençã o da opiniã o
pú blica mundial para o que acontecia na Amazô nia. [...]
a) Qual era a preocupaçã o do governo militar em sua política para a Amazô nia?
b) Quais foram as populaçõ es mais atingidas por essa política? De que forma foram afetadas?
15. Alemanha, Brasil, Índia e Japã o formam o G-4, grupo de países que defendem reformas no
Conselho de Segurança da ONU que garantam a ampliaçã o no nú mero de assentos
permanentes e maior poder de deliberaçã o aos membros rotativos. A estrutura original do
ó rgã o prevê a existência de assentos rotativos distribuídos regionalmente com mandatos de
dois anos para cada país. Pesquise e responda.
Adilson Secco/ID/BR
Em análise
Construir e interpretar anamorfoses
Todos os mapas apresentam distorçõ es, que variam de acordo com o objetivo para o qual ele
foi feito. Um bom exemplo de distorçã o sã o as projeçõ es elaboradas pelos cartó grafos Gerard
Mercator (1512-1594) e Arno Peters (1916-2002). Nas projeçõ es de Mercator, as formas
foram privilegiadas, e a proporçã o das á reas foi distorcida, enquanto, nas projeçõ es de Peters,
as proporçõ es entre os territó rios foram resguardadas, ao passo que as formas dos territó rios
foram distorcidas. O resultado de qualquer projeçã o é uma transiçã o do esférico ao plano,
buscando a coincidência entre as duas imagens. A causa dessas distorçõ es reside no fato de a
Terra ser esférica e os mapas serem representaçõ es planas.
Allmaps/IDBR
Fonte de pesquisa: Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 32.
Ao retratar a populaçã o mundial, por exemplo, China e Índia ocupam á reas imensas na
anamorfose, ao passo que os países de pequena populaçã o ocupam pequenas á reas. Veja as
imagens abaixo. Na primeira, temos a proporçã o real dos territó rios e, na segunda, a
anamorfose.
João Miguel A. Moreira/ID/BR
Proposta de trabalho
1. Utilizando blocos geométricos, elabore três anamorfoses que retratem os dados da tabela.
2. Verifique qual o menor valor para cada um dos dados da tabela abaixo e determine um
tamanho que represente esse valor. A menor populaçã o em 2015 estava em Roraima, com
cerca de 505 mil habitantes. Use uma á rea de 1 mm2 para representar esse estado e calcule os
demais. O Rio de Janeiro, por exemplo, terá 33 mm2, pois sua populaçã o é de cerca de 16,5
milhõ es de habitantes.
3. Faça os cá lculos para todos os estados e represente-os nas anamorfoses. Agrupe os estados
de acordo com a regionalizaçã o oficial do IBGE.
4. Com base nas anamorfoses, avalie a situaçã o socioeconô mica de cada regiã o e faça uma
análise intrarregional, explicitando quais unidades da federaçã o se destacam em cada regiã o
brasileira.
Síntese da Unidade
Capítulo 1 Territórios e fronteiras
Estado-naçã o
Bettmann/Corbis/Fotoarena
Jawaharla Nehru (à esquerda) e Mahatma Gandhi (à direita), em Mumbai, Índia. Foto de 1946.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 43.
• Escreva no caderno pelo menos duas frases com cada palavra-chave ou expressã o abaixo,
sintetizando as informaçõ es do capítulo.
• Potência regional
• IDH
• Fatores geopolíticos
• Planejamento estatal
• Brasília
• Arquitetura
• Megadiversidade
• Localizaçã o
• Fronteira
• Geopolítica
Pá gina 61
Vestibular e Enem
Atenção: todas as questões foram reproduzidas das provas originais de que fazem parte. Responda a todas as questões no caderno.
1. (PUC-RJ)
2. (Ufal/PSS) “Os ú ltimos anos da década de [19]80 foram decisivos para determinar o final da
Guerra Fria.”
Apresente pelo menos 4 fatores que explicam esse fato.
Nã o necessito defender minhas visitas à Alemanha no outono passado, que alternativa existia?
Nada do que pudéssemos ter feito, nada do que a França pudesse ter feito, ou mesmo a Rú ssia, teria
salvado a Tchecoslová quia da destruiçã o. Mas eu também tinha outro propó sito ao ir até Munique.
Era o de prosseguir com a política por vezes chamada de “apaziguamento europeu”, e Hitler repetiu
o que já havia dito, ou seja, que os Sudetos, regiã o de populaçã o alemã na Tchecoslová quia, eram a
sua ú ltima ambiçã o territorial na Europa, e que nã o queria incluir na Alemanha outros povos que
nã o os alemã es.
5. (Unicamp-SP) A queda do muro de Berlim, ocorrida no dia 9 de novembro de 1989, pode ser
considerada como um marco que separa duas épocas: a época de vigência da Ordem da Guerra
Fria e a época da assim chamada Nova Ordem Mundial.
a) Explique o que foi a Ordem da Guerra Fria.
b) Como a chamada Nova Ordem Mundial se diferencia da Ordem da Guerra Fria?
Pá gina 62
Vestibular e Enem
6. (UFSCar-SP) A industrializaçã o norte-americana começou no nordeste do país e se espalhou
pela regiã o dos Grandes Lagos, com setores como o siderú rgico, o naval e o automobilístico.
Esse foi, durante muito tempo, o padrã o espacial predominante nos Estados Unidos. Contudo,
com a revoluçã o técnico-científica e informacional, novos padrõ es de distribuiçã o industrial
foram produzidos, gerando um processo de descentralizaçã o e de reorganizaçã o territorial da
atividade produtiva. Considerando o processo descrito, responda:
a) Quais tipos de indú strias caracterizam o novo padrã o industrial americano?
b) Onde se localizam essas indú strias e quais fatores justificam tal localizaçã o?
Como se observa, há uma situaçã o geral, no continente africano, de instabilidade democrá tica.
Sobre esse quadro, é correto afirmar que:
a) uma das causas dessa situaçã o é a ineficá cia do regime democrá tico para organizar a vida
em países pobres.
b) a democracia nã o se organiza no continente africano, mesmo com a substancial ajuda
financeira e apoio tecnoló gico dos ex-países colonizadores.
c) uma das causas dessa situaçã o é a herança colonial que legou à Á frica fronteiras políticas
que dividiram diferentes naçõ es e grupos étnicos africanos.
d) a resistência das sociedades africanas em se incorporar ao processo de globalizaçã o é a
grande responsá vel pela fragilidade democrá tica.
e) a descolonizaçã o tardia nã o é um fator da crise democrá tica, pois a longa permanência do
colonizador ampliou o tempo de contato com a democracia.
8. (Enem) Em dezembro de 1998, um dos assuntos mais veiculados nos jornais era o que
tratava da moeda ú nica europeia. Leia a notícia destacada abaixo.
O nascimento do Euro, a moeda ú nica a ser adotada por onze países europeus a partir de 1º de
janeiro, é possivelmente a mais importante realizaçã o deste continente nos ú ltimos dez anos que
assistiu à derrubada do Muro de Berlim, à reunificaçã o das Alemanhas, à libertaçã o dos países da
Cortina de Ferro e ao fim da Uniã o Soviética. Enquanto todos esses eventos têm a ver com a
desmontagem de estruturas do passado, o Euro é uma ousada aposta no futuro e uma prova da
vitalidade da sociedade Europeia. A “Euroland”, regiã o abrangida por Alemanha, Á ustria, Bélgica,
Espanha, Finlâ ndia, França, Holanda, Irlanda, Itá lia, Luxemburgo e Portugal, tem um PIB (Produto
Interno Bruto) equivalente a quase 80% do americano, 289 milhõ es de consumidores e responde
por cerca de 20% do comércio internacional. Com este cacife, o Euro vai disputar com o dó lar a
condiçã o de moeda hegemô nica.
A matéria refere-se à “desmontagem das estruturas do passado” que pode ser entendida como:
a) o fim da Guerra Fria, período de inquietaçã o mundial que dividiu o mundo em dois blocos
ideoló gicos opostos.
b) a inserçã o de alguns países do Leste Europeu em organismos supranacionais, com o intuito
de exercer o controle ideoló gico no mundo.
c) a crise do capitalismo, do liberalismo e da democracia levando à polarizaçã o ideoló gica da
antiga URSS.
d) a confrontaçã o dos modelos socialista e capitalista para deter o processo de unificaçã o das
duas Alemanhas.
e) a prosperidade das economias capitalista e socialista, com o consequente fim da Guerra Fria
entre EUA e URSS.
9. (Cesgranrio-RJ) A criaçã o de Brasília, na década de 60, representa uma açã o que teve fortes
conse - quên cias na organizaçã o do espaço brasileiro. Assinale a afirmativa que não
corresponde a este fato.
a) Colocou em pleno Planalto Central uma cidade, hoje com cerca de 1,5 milhã o de habitantes,
de alto poder de consumo, ampliando o mercado regional.
b) Permitiu melhor planejamento econô mico das diversas regiõ es brasileiras, feito de acordo
com as peculiaridades de cada á rea (Sudene, Sudam – por exemplo).
c) Gerou uma malha rodoviá ria, que dela parte e que permitiu a melhor integraçã o das
diversas regiõ es brasileiras e do conjunto do territó rio nacional.
Pá gina 63
Atenção: todas as questões foram reproduzidas das provas originais de que fazem parte. Responda a todas as questões no caderno.
d) Valorizou espaços como os do sul de Goiá s, Triâ ngulo Mineiro, leste de Mato Grosso, que
desenvolveram suas cidades e sua produçã o.
e) Facilitou, a longo prazo, a ocupaçã o agrícola das á reas dos cerrados, hoje um dos novos
espaços incorporados a uma agricultura mais moderna.
10. (Enem)
Os 45 anos que vã o do lançamento das bombas atô micas até o fim da Uniã o Soviética nã o foram um
período homogêneo ú nico na histó ria do mundo. […] dividem-se em duas metades, tendo como
divisor de á guas o início da década de 70. Apesar disso, a histó ria deste período foi reunida sob um
padrã o ú nico pela situaçã o internacional peculiar que o dominou até a queda da URSS.
HOBSBAWM, Eric J. Era dos extremos. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 1996.
O período citado no texto e conhecido por “Guerra Fria” pode ser definido como aquele
momento histó rico em que houve:
a) corrida armamentista entre as potências imperialistas europeias ocasionando a Primeira
Guerra Mundial.
b) domínio dos países socialistas do Sul do globo pelos países capitalistas do Norte.
c) choque ideoló gico entre a Alemanha Nazista/ Uniã o Soviética Stalinista, durante os anos 30.
d) disputa pela supremacia da economia mundial entre o Ocidente e as potências orientais,
como a China e o Japã o.
e) constante confronto das duas superpotências que emergiram da Segunda Guerra Mundial.
11. (Unifesp) Nas ú ltimas décadas, as Forças Armadas brasileiras alteraram a distribuiçã o do
efetivo militar no país. Isso decorre da:
a) crise do Mercosul e do retorno das tensõ es entre vizinhos da bacia do Prata, como a
Argentina e o Uruguai.
b) legalizaçã o dos partidos de esquerda na década de 1980, que eliminou as guerrilhas
revolucioná rias que agiam nos centros urbanos do país.
c) identificaçã o de pontos do narcotrá fico na faixa litorâ nea do país, para atender o intenso
fluxo de turistas estrangeiros.
d) maior tolerâ ncia ao capital internacional desde o início da ditadura militar, agravada pela
globalizaçã o da economia.
e) escolha da Amazô nia para instalar uma estrutura de vigilâ ncia e defesa frente à ameaça de
ocupaçã o externa.
12. (Ufal/PSS)
Uma expansã o violenta por parte dos Estados, ou de sistemas políticos aná logos, da á rea territorial
da sua influência ou poder direto, e formas de exploraçã o econô micas em prejuízo dos Estados ou
povos subjugados, geralmente conexas com tais fenô menos...
Fosse com militares ou civis, a Á frica esteve por vá rios anos entregue a ditadores. Em alguns países,
vigorava uma espécie de semidemocracia, com uma oposiçã o consentida e controlada, um regime
que era, em ú ltima aná lise, um governo autoritá rio. A ú nica saída para os insatisfeitos e também
para aqueles que tinham ambiçõ es de poder passou a ser a luta armada. Alguns países foram
castigados por ferozes guerras civis, que, em certos casos, foram alongadas por interesses
extracontinentais.
COSTA E SILVA, Alberto da. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008. p. 139.
Entre os exemplos do alongamento dos conflitos internos nos países africanos em funçã o de
“interesses extracontinentais”, a que se refere o texto, pode-se citar a participaçã o:
a) da Holanda e da Itá lia na guerra civil do Zaire, na década de 1960, motivada pelo controle
sobre a mineraçã o de cobre na regiã o.
b) dos Estados Unidos na implantaçã o do apartheid na Á frica do Sul, na década de 1970,
devido à s tensõ es decorrentes do movimento pelos direitos civis.
c) da França no apoio à luta de independência na Argélia e no Marrocos, na década de 1950,
motivada pelo interesse em controlar as reservas de gá s natural desses países.
d) da China na luta pela estabilizaçã o política no Sudã o e na Etió pia, na década de 1960,
motivada pelas necessidades do governo Mao Tse-Tung em obter fornecedores de petró leo.
e) da Uniã o Soviética e Cuba nas guerras civis de Angola e Moçambique, na década de 1970,
motivada pelas rivalidades e interesses geopolíticos característicos da Guerra Fria.
14. (UFF-RJ) A respeito dos Estados Unidos e de seu papel na nova ordem mundial, é correto
afirmar que o país:
a) instituiu uma nova relaçã o de dependência com os países periféricos através do
fornecimento de matérias-primas.
b) consolidou sua liderança econô mica através da criaçã o de um bloco comercial com a
Europa.
c) construiu um bloco com os países da Á sia Oriental para manter seu controle econô mico
sobre o Japã o.
Pá gina 64
Vestibular e Enem
Atenção: todas as questões foram reproduzidas das provas originais de que fazem parte. Responda a todas as questões no caderno.
15. (Unesp) Apó s a II Guerra Mundial, a Alemanha Ocidental recuperou-se em curto espaço de
tempo, transformando-se na mais importante potência econô mica da Europa.
I. A Zona Econô mica Exclusiva (ZEE) corresponde a 200 milhas marítimas, das quais 12 milhas
compreendem o mar territorial.
II. A Faixa de Fronteira é a faixa interna de 150 km de largura, paralela à linha divisó ria
terrestre do territó rio nacional, que engloba a á rea total ou parcial dos municípios brasileiros.
III. A legislaçã o brasileira atual considera territó rio nacional as á reas de propriedade de
brasileiros natos em países limítrofes ao Brasil.
17. (UFPE) Essa organizaçã o foi um acordo militar ocorrido em 1949, entre Estados Unidos,
Canadá , Islâ ndia, Portugal, França, Reino Unido, Holanda, Bélgica, Itália, Dinamarca, Noruega e
Luxemburgo, com a finalidade de defesa e auxílio mú tuo, em caso de ataque a um dos países-
membros. Sua primeira intervençã o armada aconteceu na Guerra da Bó snia. A denominaçã o
correta dessa organizaçã o é:
a) ONU.
b) Otan.
c) OEA.
d) Pacto Centro-europeu.
e) Pacto de Varsó via.
18. (UFPel-RS) Observe o quadro apresentado a seguir.
Fontes de pesquisa: World Development Indicators 2005 e 2006. World Bank; World Development Report 2007. World Bank.
Para crescer no processo de globalizaçã o, é necessá rio que o país “candidato” preencha certos
requisitos obrigató rios: sã o necessá rios recursos técnicos, econô micos, sociais, políticos e
culturais. Assim há países que ficam fora desse processo de crescimento. É correto afirmar que
sã o características do continente africano, no contexto histó rico da globalizaçã o, exceto:
a) uma longa desestruturaçã o social e econô mica, resultante da colonizaçã o europeia nos
séculos XV ao XIX, que marcou o continente com guerras civis e conflitos étnicos e religiosos.
b) a existência de fronteiras artificiais impostas pelos países colonizadores europeus
(Conferência de Berlim 1884-1885), que nã o levaram em conta os territó rios das tribos e das
etnias nativas.
c) um processo de descolonizaçã o na segunda metade do século XX que não alterou o papel da
Á frica na divisã o internacional do trabalho: seus países continuaram como fornecedores de
produtos primá rios.
d) uma das mais elevadas taxas de crescimento apresentada pela Á frica, entre as regiõ es que
compõ em o mapa do Banco Mundial, na primeira metade da década de 2000. Embora seja um
crescimento ainda desigual, é indicador de gradativa entrada do continente no mapa do
capitalismo organizado.
e) a entrada do continente no mapa do capitalismo globalizado, tirando-o da exclusã o, que se
deve em grande parte ao crescente interesse da China. Esse país, em troca de financiamentos e
acordos comerciais, nã o impõ e nenhuma contrapartida para a realizaçã o de seus
investimentos.
Pá gina 65
Geografia e Arte
Bombas e tintas
[…] o bombardeio de Guernica, ocorrido em 26 de abril de 1937, foi o prelú dio para outros
episó dios parecidos, promovidos pelos dois lados envolvidos na Segunda Grande Guerra.
Amplamente registrado pelos correspondentes internacionais que cobriam a guerra civil
espanhola, o episó dio foi eternizado no famoso quadro de Pablo Picasso.
[…]
Apesar de ter deixado o mundo estarrecido, o que imortalizou o ataque talvez nã o tenham sido
explosõ es e chamas, mas tinta e genialidade. O repú dio provocado pelas notícias fez Picasso
aceitar o convite republicanopara pintar uma obra que mostrasse o horror da guerra. Guernica
traz dor e agonia em formas dramá ticas e violentas e foi exibido na Exposiçã o Internacional em
Paris, ainda em 1937. Porém, o quadro demoraria quase 50 anos para chegar à Espanha,
somente apó s a queda da ditadura. Hoje, encontra-se no Museu Reina Sofia, em Madri.
No ó leo sobre tela Guernica (349,3 cm × 776 cm), de 1937, Picasso utilizou apenas o preto, o branco e alguns tons de
cinza, criando detalhes impressionantes. Há imagens de desespero e impotência, como a de uma mulher que segura
uma criança e olha para cima. Parece querer localizar de onde vêm as bombas. Na foto de cima, visitantes do museu
Reina Sofia em Madri, Espanha. Foto de 2013.
Atividades
1. Observe com atençã o a foto que retrata a obra Guernica, de Picasso. Depois, discuta com os
colegas o que você sente e pensa sobre essa obra. Que “personagens” você distingue nela? O
que eles podem significar? Expresse livremente sua opiniã o.
2. Quem foi Pablo Picasso? Quais foram as principais influências em sua arte? Em grupo,
pesquise e escreva sobre a vida de Pablo Picasso. Faça cartazes e apresente-os à turma.
3. Pesquise em jornais, revistas e na internet: Por que Guernica levou quase 50 anos para
chegar à Espanha?
Pá gina 66
Projeto
Infográfico: povos apátridas, refugiados e deslocados
internos
O que você vai fazer
1. Levantamento de dados
Consultem sites, jornais, documentá rios, livros, artigos científicos e relató rios de
organizaçõ es internacionais. Publicaçõ es e sites de ó rgã os internacionais, como a ONU,
sã o os mais indicados.
2. Escolha do tema
• Refú gio – circunstâ ncia daquele que se desloca para outro país, ao qual solicita
proteçã o ao fugir de guerras ou por temer perseguiçõ es que têm a etnia, a religiã o, a
nacionalidade ou motivos políticos como fator de discriminaçã o.
• Deslocamento interno – situaçã o das pessoas que exigem auxílio e proteçã o ao fugir
de conflitos ou desastres naturais dentro das fronteiras de seu país.
Leia
Atlas dos conflitos mundiais, de Dan Smith. Sã o Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.
Tendências globais 2009: refugiados, solicitantes de refúgio, repatriados, pessoas deslocadas, do Alto Comissariado das
Naçõ es Unidas para Refugiados (Acnur). Disponível em: <http://linkte.me/tgacnur>. Acesso em: 23 fev. 2016.
Doze milhões de apátridas vivem em limbo geral, do Acnur. Disponível em: <http://linkte.me/infacnur>. Acesso em: 23
fev. 2016.
Navegue
Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur)
O site traz documentos, relató rios e estudos estatísticos relativos, com dados e informaçõ es sobre refugiados e apá tridas no
Brasil e no mundo. Disponível em: <http://linkte.me/acnurpt>. Acesso em: 23 fev. 2016.
Pá gina 67
3. Elaboração do infográfico
Observe, neste exemplo, a variedade e a disposiçã o de elementos no infográ fico. Sobre o mapa, estã o dispostos
grá ficos de diferentes tipos e textos que auxiliam a compreensã o do tema pelo leitor.
Nã o se esqueçam de inserir:
Apó s a confecçã o dos infográ ficos, montem uma exposiçã o agrupando os cartazes de
acordo com a regiã o do mundo representada.
A nova ordem
UNIDADE 2
internacional
NESTA UNIDADE
5 Globalização
6 Diferentes dimensões da globalização
7 A formação dos blocos econômicos
8 As grandes potências globais
South America/Alamy/Fotoarena
CAPÍTULO 5 Globalização
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
A globalizaçã o e a evoluçã o da economia globalizada.
A concentraçã o do capital.
A ocidentalizaçã o do mundo.
A globalizaçã o financeira.
Imagine um carro de uma empresa dos Estados Unidos, projetado por um arquiteto italiano, montado no Brasil
com autopeças chinesas e comercializado em países do Mercosul. Ou, entã o, uma teleconferência entre um
presidente de empresa na França, um diretor canadense e executivos mexicanos. Na pauta, a estratégia de
corte de funcioná rios na filial brasileira. Esses sã o dois exemplos de situaçõ es relacionadas ao processo de
globalização ou mundialização.
O comércio entre as diversas regiõ es do mundo ocorre desde as Grandes Navegaçõ es, no fim do século XV.
Mas, naquele momento, muitas á reas ainda estavam fora do mercado capitalista global e as viagens entre
diferentes pontos do mundo eram longas.
O avanço da globalizaçã o deu-se apó s o fim da Guerra Fria. A conversã o de países ex-socialistas à economia de
mercado permitiu que passasse a existir, de fato, um sistema econô mico integrando a maior parte do globo
terrestre. Outro fator foi o avanço da informá tica e dos meios de transporte, que facilitou, como nunca na
histó ria, a circulação internacional de informaçõ es, produtos, capitais, serviços e pessoas.
Os processos envolvidos na globalizaçã o nã o seriam possíveis sem o avanço das tecnologias de informação. A
internet teve um papel fundamental, por permitir a comunicaçã o entre pessoas e empresas, facilitando a
circulaçã o internacional de capitais e a prestaçã o de serviços. Atualmente, cerca de 99% do fluxo internacional
de dados telefô nicos, de internet e televisã o circula pelo globo por meio de cabos submarinos de fibra ó ptica.
Fonte de pesquisa: TeleGeography. Submarine Cable Map. Disponível em: <http://www.submarinecablemap.com>. Acesso em: 24
fev. 2016.
Observe o mapa acima e responda às questõ es.
1. Quais á reas apresentam maior concentraçã o de rede de cabos submarinos de fibra ó ptica? O que isso
representa?
O capitalismo trilhou um longo percurso até atingir o que hoje chamamos de globalização, ou
seja, a crescente interdependência das economias de todos os países. Embora os fundamentos
desse sistema político-econô mico, como a propriedade privada dos meios de produçã o e a
busca de lucro, nã o tenham sido substancialmente alterados, o papel do Estado e as condiçõ es
geopolíticas e tecnoló gicas passaram por grandes mudanças.
A Conferência de Bretton Woods, realizada nos Estados Unidos em 1944, definiu as bases do
sistema econô mico-financeiro internacional: criou o Fundo Monetá rio Internacional (FMI), o
Banco Mundial ou Banco Internacional para a Reconstruçã o e o Desenvolvimento (Bird) e o
Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), a partir do qual seria constituída, em 1995, a
Organizaçã o Mundial do Comércio (OMC).
Todas essas organizaçõ es foram concebidas para manter a saú de financeira da economia
capitalista internacional e evitar crises graves como a que sucedeu à Quebra da Bolsa de Nova
York, em 1929. A missã o do FMI é conceder empréstimos a países-membros cujo
endividamento possa comprometer o equilíbrio econô mico. O Banco Mundial concede
empréstimos a programas sociais e de infraestrutura; a OMC regula o comércio internacional e
atua como á rbitro dos conflitos comerciais entre países e entre blocos regionais.
A criaçã o dessas instituiçõ es serviu também para traçar políticas econô micas que envolviam os
países capitalistas periféricos, criando um ambiente favorá vel ao grande capital e à atuaçã o de
empresas que passaram a operar em diversos países do mundo – asmultinacionais.
Fonte de pesquisa: FT Global 500 2014. Financial Times. Disponível em: <http://www.ft.com/intl/cms/s/0/988051be-fdee-11e3-
bd0e-00144feab7de.html#axzz41Ct67tW2>. Acesso em: 25 fev. 2016.
Pá gina 72
As empresas perceberam que, para entrar em mercados nã o atendidos por suas exportaçõ es, o
ideal seria estarem presentes em outros países. Isso se deu por meio do investimento
estrangeiro direto.
Um exemplo histó rico é o de uma indú stria automobilística alemã que, atendendo ao pedido do
presidente Juscelino Kubitschek, montou uma fá brica no Brasil, no fim dos anos 1950. Nessa
época, a economia brasileira era bastante protecionista, isto é, fechada à importaçã o de bens
de consumo.
Protecionismo: mecanismo de proteçã o econô mica que pode ser adotado pelos Estados a fim de evitar ou reduzir a
concorrê ncia com produtos estrangeiros. Pode basear-se em medidas como: a elevaçã o da tarifaçã o sobre produtos
estrangeiros, a concessã o de subsídios (ajuda governamental) à s empresas nacionais, o estabelecimento de cotas de
importaçã o e até mesmo a proibiçã o da importaçã o de determinado produto.
CONEXÃO
Bullying é uma palavra inglesa que significa “intimidaçã o”. Ele se desenvolve com base em relaçõ es
desiguais de poder em que uma pessoa sofre uma agressã o intencional (física, moral ou material).
Pode acontecer no ambiente escolar ou de trabalho e em outras relaçõ es interpessoais.
O aumento do nú mero de casos de violência desse tipo no Brasil levou à elaboraçã o da Lei n. 13
185, que instituiu o Programa de Combate à Intimidaçã o Sistemá tica (Bullying).
Mais do que leis, no entanto, o importante é que o grupo no qual ocorre uma situaçã o de bullying
assuma uma atitude de nã o violência, combatendo todas as formas de rejeiçã o, preconceito e
intimidaçã o.
A concentração do capital
O processo de fusã o de empresas tem sido uma tendência do capitalismo desde o século
passado. Em quase todos os campos nota-se a presença de grandes grupos econô micos capazes
de controlar os mercados. Algumas formas de organizaçã o das empresas sã o:
• Truste. Caracteriza-se pela fusã o de empresas, criando grupos que tendem a monopolizar
mercados e a regular o preço dos produtos.
• Cartel. Consiste na associaçã o de empresas que definem preços e repartem mercados (em
geral, por meio de acordos secretos entre elas).
Assista
Uma empresa decente. Direçã o de Thomas Balmè s, Finlâ ndia/ França, 2004, 79 min.
O documentá rio discute os limites é ticos da atuaçã o de empresas transnacionais no contexto da globalizaçã o.
Por outro lado, as grandes empresas nacionais atuam cada vez mais no exterior,
transformando-se também em multinacionais.
As principais multinacionais brasileiras operam negó cios principalmente no setor industrial e
têm destaque nas á reas de tecnologia de informaçã o, comunicaçã o, alimentos e bebidas,
siderurgia, metalurgia, construçã o, veículos, aeronaves, calçados, tecidos e no setor financeiro
(bancos e seguradoras).
Fonte de pesquisa: Fundaçã o Dom Cabral (FDC). Ranking FDC das Multinacionais Brasileiras 2015. Disponível em:
<https://www.fdc.org.br/blogespacodialogo/Documents/2015/ranking_fdc_multinacionais_brasileiras2015.pdf>. Acesso em: 26
fev. 2016.
A fonte considera multinacionais do Brasil as “empresas de capital e controle majoritariamente brasileiro que desenvolvam
atividades internacionais de manufatura, montagem e prestaçã o de serviços ou que possuam centros de pesquisa e desenvolvimento,
agências bancá rias, franquias, escritó rios comerciais, depó sitos e centrais de distribuiçã o no exterior”.
Pá gina 74
A ocidentalização do mundo
O termo “Ocidente” tem um significado que vai além da simples referência ao sentido oeste da
rosa dos ventos. O chamado mundo ocidental identifica-se com a civilizaçã o construída pelos
europeus desde a Grécia e Roma antigas e que, com as Grandes Navegaçõ es, influenciou
diversas regiõ es do mundo. Assim, é possível reconhecer aspectos da cultura ocidental no
Japã o, embora o país esteja localizado no Oriente, em razã o de seu alinhamento político e
econô mico com a Europa Ocidental e os Estados Unidos apó s a Segunda Guerra Mundial.
O local e o global
O confronto entre comunidades locais e as forças globalizantes nunca foi tã o intenso como
atualmente. Os Estados Unidos sã o os principais difusores da cultura ocidental. Porém, até
mesmo suas poderosas empresas precisam, à s vezes, adaptar-se aos imperativos das culturas
locais onde atuam. Grandes redes de fast-food (comida rá pida, servida em lanchonetes), ao se
instalarem na Índia, por exemplo, adaptam seu cardá pio, já que os indianos nã o comem carne
bovina, e a globalizaçã o nã o conseguiu mudar os fundamentos dessa cultura.
Como em alguns segmentos a globalizaçã o pode ser uma via de mã o dupla, o Ocidente nunca
teve tanta informaçã o e acesso à s mais diversas culturas de todos os continentes e regiõ es.
David Bokuchava/Shutterstock.com/ID/BR
Nessa vista de Mangalore, na Índia, é possível observar elementos da cultura ocidental, como a publicidade em
outdoors. Foto de 2015.
Leia
Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informacional, de Milton Santos. Sã o Paulo: Edusp, 2004.
Nesse livro, o geó grafo Milton Santos estabelece importantes crité rios para a aná lise das dinâ micas espaciais transformadas
pela globalizaçã o.
Pá gina 75
SAIBA MAIS
Os indianos e a globalização
“[...] Hoje temos ar-condicionado em todo lugar e é tudo bem mobiliado, e nã o somos os ú nicos
que demos certo.” [diz Shyama Bharti, uma indiana nascida numa aldeia perto de Délhi]. Toda
manhã e toda tarde Shyama vai até a pequena sala com um altar atrá s da cozinha para
agradecer a Ganesha, o deus-elefante. [...] Shyama diz que o país lhe deu muito e que agora é
sua vez de retribuir. Shyama tem um orgulho enorme de seus filhos. O mais velho também
escolheu uma carreira no serviço pú blico e foi aceito no prestigioso Serviço Administrativo
Indiano, que só admite 300 candidatos por ano. Quando a nomeaçã o foi anunciada no jornal,
Shyama e seu marido foram inundados – para deleite dela – com ofertas de noivas para o
rapaz. Mas e o amor? “Os indianos não apreciam os casamentos por amor”, diz. “Preferem
casamentos arranjados. É mais seguro.” O casamento dela também foi arranjado. As tradiçõ es
da Índia não estã o desaparecendo com seu sucesso econô mico. Na verdade, os jornais
registram uma nova tendência: famílias de classe média que se arruínam financeiramente para
pagar o dote de suas filhas. A família da noiva de seu filho pagou um dote? “Nã o aceitamos”, diz
Shyama. “Só as pessoas mesquinhas fazem isso.” Ela e o marido escolheram uma bela garota
para seu filho. [...]
ROHR, Mathieu von. Índia: a potência mundial do futuro faz 60 anos. Disponível em:
<https://noticias.uol.com.br/midiaglobal/derspiegel/2007/08/10/ult2682u535.jhtm>. Acesso em: 26 fev. 2016.
Sikh: grupo é tnico-religioso com intençõ es separatistas que habita a regiã o de Punjab, na Índia, e representa cerca de 8% da
populaçã o indiana.
A liçã o que se extrai desses casos é que aspectos culturais ainda têm forte influência no cená rio
global. Ou seja, o mundo é apenas parcialmente comandado pelo poder do dinheiro ou da força
econô mica.
Por outro lado, os atentados terroristas aos Estados Unidos têm fundo político e econô mico.
Também os interesses estadunidenses no Oriente Médio têm motivos que vã o além das
diferenças culturais e envolvem aspectos econô micos. Por isso, muitos teó ricos colocam em
dú vida a teoria de Huntington e afirmam que ela encobre os reais motivos dos conflitos.
Por essa outra visã o, os grandes conflitos atuais, de maneira geral, continuam a ser motivados
muito mais por fatores políticos e econô micos, que opõ em um Estado a outro, do que por
questõ es predominantemente culturais. A Ará bia Saudita e o Paquistã o, por exemplo, apesar
de fazerem parte do mundo islâ mico, sã o aliados dos Estados Unidos nos conflitos do Iraque e
do Afeganistã o. A pró pria Al-Qaeda nã o representa um determinado país, tampouco toda a
cultura islâ mica.
Assista
Babel. Direçã o de Alejandro Gonzá lez Iñ á rritu, França/EUA/Mé xico, 2006, 143 min.
Gravado em quatro países, o filme mostra como um fato aparentemente isolado afeta a vida de pessoas em pontos diferentes
do mundo.
Pá gina 76
A globalização financeira
Nã o é difícil perceber a rede de relaçõ es financeiras que abrange todo o planeta. A circulaçã o
de capitais, também chamada de ciranda financeira, acelerou com as tecnologias de
informaçã o, que possibilitaram as transferências virtuais de dinheiro.
Hoje, investidores dos países mais desenvolvidos podem transferir rapidamente parte de seus
recursos para países emergentes, onde as taxas de juros costumam ser vantajosas. Podem
também retirar o dinheiro desses países do dia para a noite, gerando instabilidades
econô micas.
Os Estados nacionais, embora ainda gestores do territó rio e das operaçõ es econô micas,
perderam força diante das transaçõ es financeiras internacionais, já que sã o as grandes
multinacionais que têm maior capacidade de investimento (em tecnologia, por exemplo).
Entretanto, apesar das enormes pressõ es exercidas pelo capital estrangeiro, sã o os governos
que definem as regras do jogo. Eles decidem, por exemplo, se haverá reduçã o de impostos para
investimentos externos, se as leis ambientais serã o flexíveis ou rígidas, se a remessa de lucros
para o exterior será taxada.
Sã o poucos os países com expressã o econô mica que se fecham à economia global. Quando o
fazem, perdem mercados para seus produtos, créditos e investimentos.
Fábio Motta/Estadã o Conteú do/AE
Casa de câ mbio apresenta a cotaçã o do real em comparaçã o a moedas estrangeiras no Rio de Janeiro (RJ). Foto de
2015.
SAIBA MAIS
O risco-país
A intensa movimentaçã o do dinheiro no mundo atual gera um clima de insegurança. Assim como se
pode ganhar muito dinheiro em pouco tempo, pode-se perdê-lo rapidamente.
Existem agências especializadas em avaliar o risco que um país oferece aos investidores
internacionais. O índice, conhecido como risco-país, é calculado levando em consideraçã o
principalmente os seguintes fatores: relaçã o entre o PIB e a dívida do país; histó rico financeiro –
sobretudo a verificaçã o de que o país pagou suas dívidas no passado ou decretou morató ria
(adiamento do pagamento da dívida); situaçã o política interna; conjuntura internacional (em
momentos de crise, por exemplo, os capitais tendem a migrar para a segurança de países mais
ricos).
Assista
Trama internacional. Direçã o de Tom Tykwer, EUA/Alemanha/ Inglaterra, 2009, 118 min.
No filme sã o investigadas as operaçõ es ilícitas de uma corporaçã o bancá ria internacional. Um agente da Interpol sai em
busca de um banqueiro suspeito de estar envolvido em lavagem de dinheiro, trá fico de drogas e armas e prá ticas de
terrorismo. Alguns críticos afirmam que o vilã o da histó ria é o capitalismo internacional.
Pá gina 77
Uma crise econô mica caracteriza-se por um profundo retrocesso da situaçã o econô mica de um
país ou de uma zona geográ fica. Para alguns economistas, quando o crescimento econô mico for
negativo durante dois trimestres consecutivos, o país está em situaçã o de recessã o, se
perdurar, pode tornar-se uma crise.
Em 1994, por exemplo, a crise econô mica no México contaminou a América Latina e teve
repercussã o global; em 1997, houve a desvalorizaçã o das moedas da Tailâ ndia e da Coreia do
Sul, em um episó dio conhecido como crise asiática; em 1998, foi a vez da Rú ssia, cujos
problemas financeiros afetaram as bolsas de valores em todo o mundo.
Na década de 2000, o crescimento econô mico global foi liderado pela China e pela Índia, com
médias expressivas de 10% e 7%, respectivamente. A economia brasileira também se
beneficiou, por meio da exportaçã o de commodities e de produtos industrializados. O preço do
petró leo ultrapassou o valor de 100 dó lares o barril e enriqueceu os países exportadores.
Nos ú ltimos anos, entretanto, o cená rio começou a mudar. O ano de 2008 ficará marcado como
aquele que deu início a uma grave crise financeira do capitalismo e recolocou no debate a
importâ ncia da intervençã o estatal na economia.
Os Estados Unidos foram os primeiros a entrar em recessã o em 2008, seguidos no ano seguinte
pela zona do euro. Essa crise tem sido considerada a mais grave depois da quebra da bolsa de
Nova York em 1929.
Bancos europeus e o FMI promovem empréstimos aos países mais endividados, mas exigem
dos governos uma série de medidas que atingem gravemente a populaçã o, como controle de
salá rios, cortes nas políticas sociais, diminuiçã o dos ganhos das aposentadorias, aumento de
impostos, entre outras.
Grécia, Portugal e Espanha foram atingidos de maneira particularmente intensa pela crise. Na
Espanha, a taxa de desemprego passou de 8,4%, em 2007, para 24,7%, em 2014.
Kyodo/AP Photo
O movimento Occupy Wall Street (Ocupe a Wall Street) tem por objetivo demonstrar a insatisfaçã o diante do crescimento da
desigualdade social e econô mica devido à crise. “Nó s somos 99%” significa que apenas 1% da populaçã o é beneficiada em
detrimento dos 99% restantes. Nova York, Estados Unidos. Foto de 2012.
Pá gina 78
Presença da África
O Islã na África
“Deus é grande!” Em á rabe, Allah hu akbar! É o que os muezins entoam nas mesquitas, do alto
dos minaretes – torres construídas mostrando a direçã o da cidade sagrada de Meca, para onde
os muçulmanos devem voltar-se durante a oraçã o. Cinco vezes ao dia, os fiéis sã o convocados
para esse modo de orar.
A presença da religiã o islâ mica na Á frica é marcante, especialmente nas regiõ es norte e central
do continente.
O termo Islã significa “submissã o a Deus”. Segundo os muçulmanos, no século VII d.C., Maomé,
um comerciante que vivia na cidade de Meca, na península Ará bica, recebeu a revelaçã o da
Palavra Divina. Para os muçulmanos, como sã o chamados aqueles que creem nessa revelaçã o,
Maomé passou a ser conhecido como o Mensageiro de Deus ou o Profeta de Alá . O conjunto das
revelaçõ es ditadas pelo pró prio profeta a seus seguidores, que as registraram por escrito,
constitui o livro sagrado dos muçulmanos, o Corão ou Alcorão.
Os povos á rabes, empolgados pela nova religiã o de que eram portadores, nã o tardaram a
empreender um vasto movimento militar de conquistas territoriais e conversõ es de
populaçõ es inteiras ao Islã . A Á frica Setentrional foi uma das primeiras regiõ es quase
inteiramente conquistadas e convertidas – do Egito, no leste, ao Marrocos, no oeste do
continente.
Em alguns países dessa regiã o, não só o islamismo tornou-se a religiã o majoritá ria, como seus
povos se arabizaram, ou seja, adotaram a língua á rabe e vá rios há bitos culturais dos
conquistadores. No Egito, a cidade do Cairo tornou-se um dos mais importantes centros de
reflexã o religiosa do mundo muçulmano, condiçã o que mantém até hoje.
A expansã o do Islã nas á reas da Á frica Negra pouco dependeu da força das armas. Na verdade,
o fenô meno teve como fio condutor a açã o dos mercadores muçulmanos e de missioná rios. A
irradiaçã o do islamismo começou no norte da Á frica ou se deu por meio de mercadores á rabes
que cruzavam o mar Vermelho ou o oceano Índico, instalando enclaves comerciais no litoral
oriental do continente.
Entre os séculos X e XVI, estabeleceu-se uma forte influência muçulmana entre as populaçõ es
de á reas que correspondem atualmente aos territó rios do Sudã o e Sudã o do Sul, Chade, Gana,
Níger, Mali e Mauritâ nia. Na Tanzâ nia, os mercadores á rabes fundaram o importante
entreposto comercial de Zanzibar e foram os principais responsá veis pelas conversõ es dos
povos que habitam a Somá lia e a Eritreia. No Mali, destaca-se a cidade de Tombuctu, fundada
por muçulmanos por volta do século XII, hoje considerada Patrimô nio da Humanidade pela
Unesco.
Fadel Senna/AFP
Dominação europeia
Com a intensificaçã o da presença dos europeus na Á frica a partir do século XV, choques entre
muçulmanos e cristã os nã o tardaram a acontecer. A questã o, contudo, nã o se restringia ao
embate das religiõ es. Ocorriam disputas pela posse de á reas estratégicas no litoral e à margem
dos grandes rios, pelo domínio de minas de ouro e pelo controle do comércio, especialmente o
trá fico de escravizados.
Assim, por meio do comércio, escorado na força das armas, e graças também ao esforço de
missioná rios, o cristianismo estendeu-se especialmente na Á frica Negra.
Durante os processos de independência dos países da Á frica do Norte, apó s a Segunda Guerra
Mundial, as comunidades islâ micas tiveram um papel importante nas lutas de libertaçã o
nacional. O mesmo ocorreu na Á frica Negra, nas regiõ es majoritariamente islâ micas ou com
importantes minorias muçulmanas.
Hoje, o islamismo é uma das muitas religiõ es presentes na Á frica. Assim como em outras partes
do mundo, ao instalar-se entre diferentes comunidades dotadas de variadas culturas, o Islã
assimilou aspectos dessas culturas. Contribui para isso o fato de nã o haver, no mundo
muçulmano, uma autoridade má xima ou instituiçã o centralizadora, como ocorre, por exemplo,
na Igreja cató lica.
Assista
Ceddo. Direçã o de Ousmane Sembene, Senegal, 1977, 120 min.
O filme retrata a resistê ncia da cultura local africana diante das incursõ es tanto do Islã quanto dos europeus.
Conflitos
Nem sempre, contudo, o debate religioso entre os muçulmanos ocorreu de modo harmonioso.
Especialmente na Á frica Negra, os defensores de uma concepçã o religiosa mais rigorosa e
ortodoxa criticam duramente as prá ticas que incluem no Islã aspectos das antigas tradiçõ es
locais pré-islâ micas.
Existem ainda conflitos graves entre comunidades muçulmanas e adeptos de outras religiõ es.
Esse problema pode ocorrer entre grupos populacionais de um mesmo país. Exemplo notó rio é
Darfur, uma vasta regiã o no oeste do Sudã o. Ali ocorre um violento conflito, que tem como um
dos componentes as diferenças culturais e religiosas entre a populaçã o.
Nã o importa o prisma pelo qual se olhe, o Islã é uma das realidades cristalinas do continente
africano, uma á rea do mundo que se caracteriza por uma rica multiplicidade cultural. As
comunidades muçulmanas não só se consolidaram ao longo do tempo, mas também promovem
ainda hoje uma dinâ mica bastante ativa de conversõ es. Assim sendo, conforme ocorre em
outras partes do mundo, também na Á frica o islamismo é um credo religioso em expansã o.
Para discutir
1. Muçulmanos ou cristã os, á rabes ou portugueses, na expansã o colonial, levaram seus há bitos,
seus valores e suas crenças religiosas, muitas vezes impondo-os, junto com o estabelecimento
de atividades comerciais e econô micas. Encontraram, por sua vez, há bitos, valores e crenças
partilhados pelas comunidades com as quais realizavam o comércio. É possível que tenham
permanecido imunes à s trocas culturais? Do contato com o diferente apenas um dos lados
resultou modificado? Redija um pequeno texto com sua opiniã o sobre essas questõ es,
buscando exemplos histó ricos que as justifiquem.
Navegue
O islamismo no mundo
O especial da BBC Brasil apresenta um amplo panorama sobre o Islã . Disponível em: <http://linkte.me/isla>. Acesso em: 29
fev. 2016.
Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos (Ibei)
O site reú ne informaçõ es, textos e notícias sobre a religiã o e a cultura islâ mica. Disponível em: <http://linkte.me/ibei>.
Acesso em: 29 fev. 2016.
Pá gina 80
Informe
A interdependência global
Hoje a globalizaçã o faz parte da estratégia de todas as sociedades pela sobrevivência e pelo
progresso. Enquanto manifestantes protestavam durante as reuniõ es de cú pula da
Organizaçã o Mundial do Comércio para tentar mudar as regras do jogo, os pequenos
produtores de açú car e algodã o que diziam representar estavam preocupados em tocar seus
negó cios, pois era o que tinham de fazer para sobreviver. Nem mesmo os atentados terroristas
de 11 de setembro de 2001 impediram a queda dos custos dos transportes, a liberalizaçã o do
comércio e a explosã o das tecnologias de comunicaçã o que impulsionam a globalizaçã o. A
globalizaçã o também gerou um mundo demograficamente misturado, o que significa que o
“inimigo” está ao mesmo tempo do lado de fora e do lado de dentro. Os três impérios se
misturam cada vez mais profundamente com as populaçõ es de suas periferias: os Estados
Unidos com a América Latina, a Europa com o mundo á rabe e a China com o Sudeste Asiá tico. A
expressã o “nó s somos o mundo” nunca foi tão certa.
KHANNA, Parg. O segundo mundo: impérios e influência na nova ordem global. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2008. p. 25-26.
Godong/UIG/Getty Images
Marcha de abertura do Fó rum Social Mundial em Tú nis, na Tunísia. O Fó rum, realizado anualmente, tem açã o
mundial e discute questõ es socioeconô micas, étnicas e ambientais. Foto de 2013. No cartaz, lê-se em francês a
mensagem: “globalizar a paz”.
PARA DISCUTIR
1. A globalizaçã o é um fenô meno que pode ser revertido no mundo atual? O que acontece com
países cujas economias estã o pouco integradas à economia internacional?
Mundo Hoje
O mundo muçulmano em uma era global: a proteção
dos direitos das mulheres
As mulheres muçulmanas, historicamente vistas como transmissoras de cultura e protetoras
de valores nacionais, transformaram-se em um novo tema de discussã o. O entusiasmo do
debate sobre o papel da mulher no Islã é, porém, visto por muitos como fonte de desordem
social e moral. Ao desafiarem as ideologias patriarcais e também as convencionais, as mulheres
muçulmanas transformaram-se em uma poderosa voz no sentido da mudança. É interessante
notar que certos elementos do feminismo islâ mico e do feminismo secular têm trabalhado
juntos de modo a forçar reformas educacionais e legais.
Se, por um lado, a “solidariedade sem fronteiras” possibilitou a promoçã o de direitos das
mulheres dentro e por via das culturas, por outro, ela também se depara com questõ es sociais
mais amplas e mais complexas. Embora essa solidariedade global sofra resistências em muitas
partes do mundo muçulmano, o empoderamento das mulheres é visto como o antídoto mais
eficaz contra o extremismo no mundo muçulmano. [...]
Empoderamento: palavra derivada do termo inglê s empowerment, que significa o movimento de conferir poder ou
autoridade a algué m. Refere-se també m à tomada de consciê ncia de um indivíduo sobre uma situaçã o a ser superada.
MONSHIPOURI, Mahmood. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v. 26, n. 1, jan./jun. 2004. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S0102-85292004000100005>. Acesso em: 29 fev. 2016.
Issouf Sanogo/AFP
Saindo dos estereó tipos de submissã o e de dedicaçã o exclusiva ao lar, em todo o mundo islâmico muitas mulheres
lutam pelo reconhecimento e pela ampliaçã o de seus direitos. Na foto, mulher vota em eleiçõ es presidenciais na
Repú blica Centro-Africana, 2016.
PARA ELABORAR
1. Em sua opiniã o, a relaçã o entre o local e o global na questã o dos direitos das mulheres
auxilia na conquista dos direitos? Justifique.
Pá gina 82
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
3. Indique os motivos que levaram à criaçã o de ó rgã os de regulaçã o econô mica internacional,
como o Banco Mundial, o FMI e a OMC. Explique a funçã o de cada um deles.
5. Cite dois tipos de organizaçã o entre empresas no sistema capitalista e explique suas
características.
Lendo gráficos
9. O grá fico a seguir apresenta o comércio de mercadorias em 2014. Observe-o com atençã o e
responda à s questõ es.
Adilson Secco/ID/BR
Fonte de pesquisa: International trade statistics 2015. Genebra: OMC, 2015. p. 24. Disponível em:
<https://www.wto.org/english/res_e/statis_e/its2015_e/its2015_e.pdf>. Acesso em: 29 fev. 2016.
a) Em quais regiõ es é mais intenso o fluxo intra-regional?
b) Quais sã o os maiores exportadores? E os maiores importadores?
c) Relacione os dados apresentados com o processo de globalizaçã o.
10. Analise o grá fico, resultante de uma pesquisa feita em vá rios países, e responda à s
questõ es abaixo.
Setup Bureau/ID/BR
Fonte de pesquisa: WorldPublicOpinion.org. Disponível em: <http://www.worldpublicopinion.org/>. Acesso em: 29 fev. 2016.
“[...] [Dois grandes bancos brasileiros anunciaram um acordo de unificaçã o] de modo a formar o
maior conglomerado financeiro privado do hemisfério Sul, cujo valor de mercado fará com que ele
fique situado entre os 20 maiores do mundo. Trata-se de uma instituiçã o financeira com a
capacidade de competir no cená rio internacional com os grandes bancos mundiais”, informaram as
duas empresas em comunicado ao mercado.[...]”
A notícia acima teve grande impacto sobre empresas e consumidores brasileiros em 2008, e o
fato descrito nos faz compreender melhor os rumos do sistema econô mico capitalista. Sobre o
assunto, responda: Que tendência do capitalismo pode-se depreender da notícia? Analise as
prová veis consequências dessa tendência para a economia e para o mundo do trabalho.
Pá gina 83
A telepresença dá a sensaçã o, para pessoas que podem estar a milhares de quilô metros de
distâ ncia, de que estã o frente a frente, na mesma sala. É um sistema que combina tecnologia da
informaçã o e cenografia: uma conexã o de internet de alta capacidade liga duas salas que têm
iluminaçã o, paredes, carpetes e mó veis iguais. As pessoas veem seus interlocutores em telas
grandes de alta definiçã o, em tamanho real. O sistema de som [...] faz com que o som venha da
direçã o correta, reforçando a impressã o de que todo mundo está no mesmo lugar. [...]
Cruz, Renato. Uma nova tecnologia para reuniã o à distâ ncia. O Estado de S. Paulo, Sã o Paulo, p. B12, 8 fev. 2009. Disponível em:
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,uma-nova-tecnologia-para-reuniao-a-distancia,320075>. Acesso em: 19 maio de
2016.
Relacione o texto e a foto a seguir, apontando as vantagens da reduçã o de custos que o sistema
de teleconferência ou de telepresença oferece à s empresas globalizadas.
Reuniã o do Conselho de Segurança da ONU feita por meio de teleconferê ncia. Nova York, Estados Unidos. Foto de
2016.
13. Analise a charge abaixo e escreva um texto sobre o tema nela abordado.
Ebert/Acervo do artista
Charge de Ebert, de 2012. Na charge lê-se, em inglês: “Eu quero uma partida justa, OK?”/Globalizaçã o/ Localismo.
BIZ é a abreviaçã o de business (negó cios).
Pá gina 84
Diferentes dimensões da
CAPÍTULO 6
globalização
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
O processo de globalizaçã o e o imperialismo.
A hegemonia dos Estados Unidos.
Aspectos controversos da globalizaçã o.
Movimentos antiglobalizaçã o.
A globalizaçã o pode ser considerada a partir de pelo menos dois pontos de vista: como um fenô meno recente
de aceleraçã o da economia capitalista, que encontrou um ambiente favorá vel apó s a desintegraçã o do bloco
socialista, na década de 1990, e foi propiciado pelo avanço dos transportes e das tecnologias de informação; ou
como uma nova roupagem do velho imperialismo, que sofreu avanços e retrocessos nos ú ltimos séculos —
enfoque que será examinado mais detidamente neste capítulo.
O primeiro avanço do sistema capitalista rumo à globalizaçã o ocorreu no período das Grandes Navegaçõ es.
Vastos territó rios da América, da Á frica e da Á sia passaram a integrar as relaçõ es econô micas empreendidas
pelas potências europeias. Com o advento da Revoluçã o Industrial, a partir do século XVIII, o desenvolvimento
dos transportes marítimo e ferroviá rio permitiu um alcance ainda maior à s potências econô micas da época.
A partir de meados do século XIX, o termo imperialismo passou a ser usado para identificar a expansã o das
grandes potências industriais em busca do controle político e do domínio econô mico sobre outros países. No
século XX, a palavra foi empregada como expressã o da fase monopolista do capitalismo, na qual uma
concentraçã o sem precedentes do capital industrial e financeiro criou grupos de grande controle sobre a
economia mundial.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: Le Monde Diplomatique. L’ Atlas histoire: histoire critique du XXe siècle. Paris: Le Monde Diplomatique, 2010. p.
10.
2. Descreva o processo de expansã o da hegemonia estadunidense com base nas informaçõ es apresentadas.
Os Estados Unidos exerciam grande influência sobre a América Central e o Caribe, fazendo uso
da chamada Doutrina Monroe (1823), que pregava “a América para os americanos”, e da
política do big stick. Inspirados nessa política, a partir do fim do século XIX, os Estados Unidos
empreenderam intervençõ es militares na regiã o do Caribe, expandindo o poder geopolítico do
país.
Big stick: política estadunidense lançada pelo presidente Theodore Roosevelt, em 1904, que justificava a intervençã o
armada em países da Amé rica quando fosse necessá rio “restabelecer a ordem” ou “manter a democracia”. O nome (em
portuguê s, “grande porrete”) refere-se a uma frase atribuída ao presidente: “Fale macio e use um porrete”.
Os críticos dos Estados Unidos enxergaram nessas açõ es uma nova versã o do antigo
imperialismo europeu. O capitalismo, sob essa perspectiva, conduziria à concentraçã o do
capital e do poder. O que nem os críticos nem os aliados contestaram é o fato de a supremacia
econô mica dos Estados Unidos ter tido como suporte a hegemonia militar.
A superpotência estadunidense envol veu-se em diversas guerras apó s 1945, tanto para deter
a expansã o de regimes socialistas quanto para impor seus interesses estratégicos e
econô micos. Entre as princi pais intervençõ es, destacam-se a Guerra da Coreia (1950-1953); a
Guerra do Vietnã (1961-1975); a primeira Guerra do Golfo, contra o Iraque (1991); a
intervençã o militar no Afeganistã o (2001); e a ocupaçã o militar do Iraque (2003-2011).
O imperialismo estadunidense assumiu também uma dimensã o cultural, com a exportaçã o de
filmes, mú sicas, livros, expressõ es de linguagem, roupas, calçados, entre outros itens, para o
mundo todo.
Stringer/Imaginechina/AFP
A influência cultural dos Estados Unidos no mundo é tão intensa, que é possível falar da existência de uma verdadeira
indú stria cultural. Na foto, pessoas se fantasiam, durante uma feira de quadrinhos em Hong Kong, em 2015, de
personagens criadas na cultura estadunidense.
Leia
Globalização, cultura e identidade, de vá rios autores. Curitiba: Ibpex, 2012.
O livro apresenta reflexõ es acerca dos conceitos de cultura e identidade no contexto da globalizaçã o.
A tríade
Ao longo da histó ria, os países mais poderosos desenvolveram diversas formas de exercício de
sua hegemonia. Entre elas é possível destacar o processo de colonizaçã o; o controle militar; a
hegemonia cultural; e o controle dos meios econô micos, pela imposiçã o de regras para o
comércio e as finanças.
O Japã o, por exemplo, difunde seus avanços tecnoló gicos para diversos países; a Uniã o
Europeia tem influência política e econô mica sobre o mundo. Os Estados Unidos, mesmo
vivenciando crises econô micas, continuam sendo a potência com maior preponderâ ncia global.
O dó lar estadunidense é a principal moeda de troca no mundo, o que reforça a importâ ncia do
Banco Central dos Estados Unidos – o Federal Reserve (FED).
CONEXÃO
As críticas ao livre-comércio
Os críticos do livre-comércio consideram que ele traria vantagens somente para os países mais
desenvolvidos. Aprofundaria a Divisã o Internacional do Trabalho (DIT), na qual a pobreza seria
mantida em algumas partes do globo, enquanto outras se beneficiariam da riqueza gerada nos
países pobres.
Noor Khamis/Reuters/Latinstock
Manifestaçã o contra a Organizaçã o Mundial do Comércio, por ocasiã o de uma reuniã o ministerial da organizaçã o em
Nairó bi, Quênia. Foto de 2015. Nas placas, a mensagem em inglês diz: “Nã o à OMC”.
1. Converse com os colegas sobre manifestaçõ es de protesto. Na regiã o onde você vive, tem
ocorrido algum tipo de protesto? Nesse caso, quais sã o as reivindicaçõ es? Caso contrá rio, por que
razã o elas nã o ocorrem?
SAIBA MAIS
G-7 e G-8
O G-7 é formado pelas naçõ es de maior influência sobre a economia mundial, com elevados PIB
(Produto Interno Bruto) e PIB per capita (PIB dividido pelo nú mero de habitantes): Estados
Unidos, Japã o, Alemanha, Reino Unido, França, Itá lia e Canadá .
O G-8 é o G-7 acrescido da Rú ssia, que passou a integrar o grupo em 1994, pelo reconhecimento de
sua importâ ncia militar e geopolítica. O país é o segundo maior exportador mundial de armamentos
e é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Em 2014, os países do G-7
suspenderam a Rú ssia do grupo, por nã o aprovarem sua intervençã o nos conflitos político-militares
em curso na Ucrâ nia.
Pá gina 87
Portanto, é possível dizer que houve um relativo enfraquecimento do poder dos Estados, mas
não há indícios de que eles vã o desaparecer ou de que sua soberania será substituída pelas
regras de um mercado global.
Liberalismo: doutrina filosó fica ou corrente política originada na Europa, no sé culo XVII, que defende a liberdade individual
e de pensamento e a mínima participaçã o do Estado na economia; caberia a este apenas o controle sobre á reas essenciais.
O atual processo de globalizaçã o intensificou, de forma jamais vista, a integraçã o econô mica.
Esta, porém, nã o pode ser considerada inédita na histó ria do capitalismo.
Hoje, sabe-se que, além dos países mais ricos, naçõ es como Índia e China também se
beneficiaram com a globalizaçã o, ampliando as exportaçõ es de bens e serviços. Até mesmo o
Brasil acumulou um grande estoque de divisas, sobretudo com a exportaçã o decommodities e
a projeçã o internacional de grandes empresas nacionais.
Divisa: reserva de moeda estrangeira obtida pelas entidades pú blicas ou privadas de uma naçã o em transaçõ es comerciais.
Porém, quando se olha para o mundo de modo geral, verifica-se que vastas re giõ es da Á frica,
da Á sia e da América Central nã o se beneficiaram como aqueles países. A economia dessas
regiõ es ainda é pouco desenvolvida, de base predominantemente primá ria, oscilando muito
em funçã o dos preços das matérias-primas e dos alimentos. Além disso, a rapidez das
inovaçõ es do mundo globalizado aumenta a dependência tecnoló gica e financeira das naçõ es
mais pobres. Veja o mapa abaixo.
João Miguel A. Moreira/ID/BR
Fontes de pesquisa: Ferreira, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. Sã o Paulo: Moderna, 2013. p. 53. Banco
Mundial. Disponível em: <http://data.worldbank.org/indicator/TX.VAL.FUEL.ZS.UN>;
<http://data.worldbank.org/indicator/TX.VAL.MMTL.ZS.UN>; <http://data.worldbank.org/indicator/TX.VAL.FOOD.ZS.UN>;
<http://data.worldbank.org/indicator/TX.VAL.MANF.ZS.UN>. Acessos em: 7 jul. 2017.
Pá gina 88
A China é um exemplo disso. Nesse país, a abertura econô mica criou um grupo de empresá rios
milioná rios, que convive com milhõ es de camponeses pobres e de pessoas que deixaram a
zona rural para viver nas cidades em péssimas condiçõ es.
Adilson Secco/ID/BR
Fonte de pesquisa: Gapminder. Disponível em: <http://www.gapminder.org/world>. Acesso em: 4 mar. 2016.
No entanto, a realidade tem mostrado que, sem a mediaçã o dos governos, as forças de mercado
(a livre-iniciativa econô mica de empresas e pessoas) podem gerar crises e ampliar as
distorçõ es sociais.
Há grandes exemplos histó ricos, como a crise de 1929, cujo fato mais conhecido foi a quebra da
Bolsa de Nova York – que gerou impactos por quase todo o mundo. Outro exemplo, este bem
recente, é a grande recessã o iniciada em 2008. Em ambos os casos, os governos foram levados
a intervir amplamente na economia para controlar os efeitos danosos da crise.
O capitalismo dos países europeus destacou-se pelos benefícios sociais que o Estado garantiu
aos trabalhadores. Trata-se do chamado welfare state (Estado de bem-estar social), que,
muito combatido pelo neoliberalismo, propicia aos trabalhadores garantias como seguro-
desemprego, assistência médica e jornada de trabalho reduzida.
Leia
A sociedade global, do soció logo Octavio Ianni. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 2005.
O livro analisa com clareza o avanço da globalizaçã o em vá rios setores econô micos e sociais, com vá rios exemplos, incluindo
brasileiros.
Quais as mudanças tecnológicas, econômicas e sociais da globalização?, de Ricardo Dreguer e Roberto Caner. Sã o Paulo:
Moderna, 2014.
Os autores analisam as transformaçõ es provocadas pela globalizaçã o sob uma perspectiva multidisciplinar.
Pá gina 89
Os movimentos antiglobalização
Desde a falência dos regimes socialistas que vigoraram até os anos 1990, os movimentos
anticapitalistas tomaram rumos diferenciados.
Desde entã o, o FSM tem realizado atividades anualmente. Além de Porto Alegre, já sediaram o
fó rum as cidades de Belém (PA), Mumbai (Índia), Nairó bi (Quênia), além de outras, de forma
descentralizada.
Nanotecnologia: tecnologia que atua sobre minú sculas partículas, até a escala atô mica, para criar estruturas e materiais
empregados em diversas á reas, como computaçã o, medicina e engenharia.
Os ativistas costumam realizar grandes manifestaçõ es de rua para obter visibilidade na mídia
internacional, chamando a atençã o da opiniã o pú blica para as causas que defendem.
Ricardo Giusti/PMPA
AÇÃO E CIDADANIA
Durante a Rio+20 – evento ocorrido em 2012, também na cidade do Rio de Janeiro e promovido
pela ONU –, a Cú pula discutiu questõ es ambientais, entre as quais o aquecimento global, suas
causas e algumas propostas viá veis para superá -lo, incluindo as medidas de pressã o aos
governantes e às autoridades internacionais que participavam daquela conferência.
Além da denú ncia dos problemas ambientais, sã o temas das reuniõ es da Cú pula as propostas para
tornar os impactos ambientais mínimos, para distribuir a riqueza e para defender os direitos
humanos. Um instrumento de participaçã o política da sociedade civil e do governo para encontrar
caminhos para o desenvolvimento sustentá vel é a Agenda 21. É um conjunto de açõ es e propostas
com a finalidade de promover o desenvolvimento socioeconô mico e proteçã o ambiental.
Para muitos críticos da globalizaçã o, a adoçã o de políticas econô micas neoliberais é entendida
como causa de diferentes efeitos negativos, como o aumento das desigualdades sociais, o
acirramento de conflitos políticos e a homogeneizaçã o cultural.
Por meio das redes sociais e de eventos como o Fó rum Social Mundial, ativistas têm trocado
experiências, percebido o que há de particular e o que há de comum na forma como diferentes
grupos sã o explorados num contexto de globalizaçã o econô mica. Conheça a seguir algumas
açõ es que combinam essa visã o crítica global e soluçõ es locais.
Fontes de pesquisa: BIRCH, Simon. How activism forced Nike to change its ethical game. The Guardian, 6 jul. 2012. Disponível em:
<http://www.theguardian.com/environment/green-living-blog/2012/jul/06/activism-nike>; C ARRILLO, Raú l. Alternative currencies are bigger
than bitcoin. Yes! Magazine, 12 mar. 2015. Disponível em: <http://www.yesmagazine.org/commonomics/alternative-currencies-bigger-than-
bitcoin-bangla-pesa-brixton>; Projeto Sies. Atlas digital da economia solidária. Disponível em: <http://sies.ecosol.org.br/atlas>; Sangat. Vision
& History. Disponível em: <http://www.sangatnetwork.org/vision-history.html>. Acessos em: 24 maio 2016.
Pá gina 91
As ONGs
Organizaçõ es Nã o Governamentais sem fins lucrativos (ONGs) sã o instituiçõ es de natureza
não estatal, criadas para atuar em vá rios setores, como saú de, educaçã o, meio ambiente,
direitos humanos, proteçã o à mulher, à criança, aos homossexuais, aos refugiados, aos
dependentes químicos, entre outros. No Brasil, as primeiras organizaçõ es surgiram nas
décadas de 1960 e 1970, voltadas para a educaçã o popular. A maioria dessas organizaçõ es era
financiada pela Igreja cató lica e por agências internacionais que denunciavam as violaçõ es dos
direitos humanos e o empobrecimento da populaçã o.
A atuaçã o das ONGs tem gerado controvérsias. Os que as defendem afirmam que muitas
organizaçõ es em todo o mundo se dedicam a defender os direitos humanos e atuam no sentido
de chamar a atençã o da comunidade internacional quando esses direitos sã o violados. Outras
ainda estã o voltadas ao atendimento humanitá rio em regiõ es muito pobres ou em á reas de
conflito.
Entre as críticas, menciona-se a falta de transparência em vá rias ONGs, cujas açõ es não sã o
criteriosamente avaliadas pelos beneficiá rios e pela sociedade. No caso de ONGs ligadas ao
meio ambiente, os críticos afirmam que muitas dessas organizaçõ es apenas transferem
estudos realizados nos países desenvolvidos para os países pobres, ignorando os
conhecimentos, as prá ticas e os direitos das comunidades locais.
Afirma-se ainda que, nos países em desenvolvimento, essas ONGs promovem mudanças nas
prá ticas sociais e na relaçã o com a natureza, facilitando, dessa maneira, a expansã o do capital
transnacional nessas regiõ es. Praticariam, assim, uma espécie de colonialismo ambiental.
Sabah Arar/AFP
A organizaçã o Médicos Sem Fronteiras (MSF) surgiu na França, na década de 1970. Atualmente, desenvolve açõ es em
dezenas de países onde a atuaçã o do Estado nã o é suficiente para atender às populaçõ es carentes ou em situaçõ es de
guerra ou conflitos internos. Clínica em Bagdá , Iraque. Foto de 2015.
Assista
Encontro com Milton Santos: o mundo global visto do lado de cá. Direçã o de Silvio Tendler, Brasil, 2007, 89 min.
Nesse documentá rio, o famoso geó grafo Milton Santos expõ e muitas de suas ideias sobre a globalizaçã o
AÇÃO E CIDADANIA
O movimento LGBT
Entre esses movimentos, que legitimamente buscam visibilidade e apoio social para suas causas,
cita-se o movimento LGBT – lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. No Brasil, a luta pelo
direito das pessoas LGBT tem alcançado importantes avanços, como a união estável homoafetiva,
reconhecida em 2011 por decisã o do Supremo Tribunal Federal.
Entre as lutas do movimento LGBT, destaca-se a aprovaçã o da lei que torna crime a homofobia,
prevendo a puniçã o das manifestaçõ es de preconceito em razã o da orientaçã o sexual e identidade
de gênero.
1. Com um grupo de colegas, discuta a prá tica de homofobia na escola ou nos lugares onde você
vive. Procurem responder à seguinte questã o: Como cada um de nó s pode acabar com os
preconceitos contra as pessoas que têm orientaçã o sexual diferente da maioria?
A Parada do Orgulho LGBT de Sã o Paulo acontece todos os anos desde 1997, reivindicando a garantia dos direitos
civis das pessoas LGBT. Movimentos semelhantes realizam-se em vá rias partes do Brasil e do mundo. A primeira
parada foi em Nova York, EUA, em 1969. Foto em Sã o Paulo (SP), 2015.
Pá gina 93
Informe
Sobre o fim dos impérios
O relacionamento entre os impé rios e seus sú ditos é complexo porque as bases do poder dos
impérios duradouros também sã o complexas. O poder militar e a decisã o de empregar a
coerçã o e o terror podem permitir breves períodos de ocupaçã o estrangeira, mas nã o uma
dominaçã o duradoura, especialmente quando essa dominaçã o é exercida, como quase sempre
aconteceu, por um nú mero muito reduzido de estrangeiros, tanto em termos relativos quanto
absolutos, na generalidade dos casos. Lembremo-nos de que o nú mero de civis britâ nicos que
se ocupavam em governar os 400 milhõ es de indianos do império nunca foi superior a uns 10
mil.
Historicamente, os impérios podem ter sido formados pela força militar e consolidados pelo
terror – “choque e perplexidade”, na expressã o do Pentá gono dos Estados Unidos –, mas, para
perdurar, eles careciam de dois instrumentos principais: a cooperaçã o com os interesses locais
e a legitimidade do poder efetivo, em conjugaçã o com a exploraçã o da desuniã o dos
adversá rios e dos sú ditos [...]. A situaçã o atual no Iraque ilustra as dificuldades que até o mais
poderoso dos ocupantes enfrenta quando esses fatores não estã o presentes.
Mas, por essa mesma razã o, a era dos impérios nã o pode ser revivida, e menos ainda por uma
ú nica superpotência. Um dos maiores trunfos do imperialismo ocidental, formal ou informal,
era o de que, na sua primeira acepçã o, a “ocidentalizaçã o” era a ú nica forma pela qual as
economias atrasadas podiam modernizar-se e os paí ses fracos podiam fortalecer-se. Isso dava
aos impérios ocidentais e à s metró poles modernizantes dos impérios tradicionais a boa
vontade implícita das elites locais que se interessavam em superar o atraso. E isso acontecia
mesmo quando os modernizadores nativos voltavam-se contra os governantes estrangeiros,
como na Índia e no Egito.
Paradoxalmente, o hino nacional indiano foi escrito por um antigo funcioná rio civil nativo do
Raj britâ nico. Contudo, a globalizaçã o da economia industrial internacionalizou a
modernizaçã o. A Coreia do Sul tem pouco a aprender dos Estados Unidos, que importam seus
técnicos em computaçã o da Índia e exportam os trabalhos feitos por eles para o Sri Lanka,
enquanto o Brasil produz nã o só café, mas também jatos executivos.
Os asiá ticos podem acreditar ainda na utilidade de mandar seus filhos para estudar no
Ocidente, onde com frequência têm como professores acadêmicos asiá ticos emigrados, mas a
presença dos ocidentais nos seus países, para nã o falar do exercício da influência e do poder
político local, já nã o é necessá ria para a modernizaçã o das suas sociedades.
[...] Hoje, como se vê nos antigos territó rios franceses da Á frica, a presença das tropas
francesas, por si só , não pode garantir a manutençã o dos regimes locais, como aconteceu nas
décadas posteriores à descolonizaçã o formal. [...]
HOBSBAWM, Eric. Globalização, democracia e terrorismo. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 82-84.
PARA DISCUTIR
1. Ao longo deste capítulo, foi colocada a questã o do poder e do imperialismo. Pesquise e faça
uso dos exemplos histó ricos ou atuais apresentados no capítulo que possibilitem analisar e
justificar o significado da seguinte frase:
“O poder militar e a decisã o de empregar a coerçã o e o terror podem permitir breves períodos
de ocupaçã o estrangeira, mas nã o uma dominaçã o duradoura […]”
Leia
Globalização, democracia e terrorismo, de Eric Hobsbawm. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 2007.
O livro traz uma coletâ nea de palestras sobre temas importantes da política internacional.
Pá gina 94
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
2. Quando e de que forma a hegemonia mundial das potências imperialistas europeias foi
superada pela hegemonia dos Estados Unidos?
3. Pode-se afirmar que a grande ascensã o de países emergentes, como a China e a Índia,
rompeu a dominaçã o econô mica dos países desenvolvidos?
4. Explique as diferenças entre o Fó rum Econô mico Mundial de Davos e o Fó rum Social
Mundial.
5. O que sã o ONGs?
6. Aponte três fatores que contribuíram para a ascensã o dos Estados Unidos como
superpotência.
[...] Uma em cada sete pessoas do mundo carece de luz elétrica. De acordo com o Banco Mundial,
mais de 1 bilhã o de pessoas, a maioria na Á sia e Á frica, nã o contam com eletricidade confiá vel. A
preocupaçã o foi levantada pelo diretor executivo do Programa da ONU para o Meio Ambiente,
Achim Steiner, durante o Fó rum Econô mico Mundial, em Davos, Suíça, que aconteceu entre os dias
20 e 23 de janeiro [2016].
“Muitos de nó s vivemos em um mundo que desconhece a escuridã o real. Os moradores das cidades
do mundo – mais de 54% da populaçã o global, de acordo com o Departamento de Assuntos
Econô micos e Sociais da ONU – sã o menos propensos a verem a luz de uma estrela do que uma luz
de rua”, disse Steiner [...].
a) É possível identificar um perfil de uso da terra nas regiõ es “iluminadas” e nas regiõ es
“escuras”? Justifique sua resposta com exemplos.
b) Aponte possíveis problemas enfrentados pelas populaçõ es de regiõ es onde nã o há
fornecimento de energia elétrica.
8. Nos dois trechos a seguir, o soció logo Octavio Ianni (1926-2004) comenta diferentes
aspectos da globalizaçã o. Leia-os para responder à s questõ es.
[...] Nã o se trata de negar a vigência do Estado-naçã o, assim como do grupo social, classe social,
partido político, movimento social. Tanto o indivíduo como a coletividade, assim como a naçã o e a
nacionalidade continuam ativos, presentes e decisivos. Mas todos estã o inseridos no â mbito do
globalismo, adquirindo significados e possibilidades no â mbito das configuraçõ es e dos
movimentos da sociedade global. Nesse sentido é que a sociedade global é o novo palco da histó ria,
das realizaçõ es e lutas sociais, das articulaçõ es e contradiçõ es que movimentam uns e outros:
indivíduos e coletividades, naçõ es e nacionalidades. [...]
[...] Na base da emergente estrutura da ordem mundial, encontram-se forças sociais ... Novos
movimentos sociais, convergentes com relaçã o a questõ es específicas, tais como o ambientalismo, o
feminismo e o pacifismo, surgiram em diferentes escalas em distintas partes do mundo. [...] Estes
movimentos evocam identidades particulares, podendo ser étnicas, nacionais, religiosas ou de
gêneros. Manifestam-se no â mbito de estados nacionais, mas sã o transnacionais em essência. [...]”.
[...].
IANNI, Octavio. A era do globalismo. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 1999. p. 227-228.
9. Analise o mapa a seguir e compare os dados relativos aos anos de 1980 e 2013.
Considerando os efeitos do processo de globalizaçã o sobre as diferentes regiõ es e países,
comente as mudanças observadas.
Fonte de pesquisa: DOBBS, Richard; KOLLER, Tim; RAMASWAMY, Sree. Como sobreviver no futuro. Harvard Business Review Brasil, out.
2015. Disponível em: <http://hbrbr.com.br/comosobreviver-nofuturo/>. Acesso em: 4 mar. 2016.
10. O grá fico ao lado apresenta informaçõ es sobre o Fó rum Econô mico Mundial, realizado em
Davos no ano de 2014.
a) A parcela de representaçã o das diferentes regiõ es é equilibrada? Justifique.
b) Qual dos dados do grá fico exerce mais influência na proporçã o de representantes do
Fó rum?
Adilson Secco/ID/BR
Fonte de pesquisa: Who’s on the magic mountain? The Economist, 25 jan. 2014. Disponível em:
<http://www.economist.com/news/international/21595032-whos-magic-mountain>. Acesso em: 3 mar. 2016.
Pá gina 96
A formação dos
CAPÍTULO 7
blocos econômicos
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
A formaçã o de blocos econô micos regionais.
Os principais blocos do mundo atual.
O papel dos blocos no cená rio da globalizaçã o.
Adilson Secco/ID/BR
Fonte de pesquisa: FRANKEL, Jeffrey A. et al. Regional trading blocs in the world economic system. Washington DC: IIE, 1997. p. 10.
Disponível em: <http://www.piie.com/publications/chapters_preview/72/6iie2024.pdf>. Acesso em: 7 mar. 2016.
A partir das ú ltimas décadas do século XX, boa parte do mundo conheceu um forte crescimento do comércio,
sobretudo quando as barreiras comerciais foram reduzidas como resultado das políticas neoliberais adotadas
em muitos países.
A reduçã o do controle alfandegá rio e o aumento dos fluxos comerciais internacionais são aspectos importantes
no processo de globalizaçã o, assim como a mobilidade da produçã o e, em particular, dos capitais. Esses
aspectos da globalizaçã o sã o propícios à formaçã o de blocos econômicos. Nos blocos, as fronteiras nacionais
tendem a ser flexibilizadas, com o objetivo de estimular o intercâ mbio econô mico entre os países e ampliar sua
competitividade no mercado global.
No atual está gio da globalizaçã o, os blocos constituem um importante modo de interaçã o internacional. No
entanto, tal processo nã o ocorre de maneira sempre hamoniosa. Nos blocos e nas organizaçõ es também se
manifestam interesses econô micos e políticos conflitantes.
No diagrama acima, estã o representados os acordos de integraçã o econô mica entre países americanos.
Analise-o e responda.
2. Brasil, Estados Unidos, Cuba, México, Chile, Colô mbia e Argentina integram quais blocos?
3. Que bloco reú ne os países do Caribe? Avalie a importâ ncia da integraçã o econô mica para essa regiã o.
Pá gina 97
Há tipos de acordos econô micos regionais que representam diferentes formas de integraçã o
entre os países participantes. Sã o eles:
• Zona de livre-comércio. As barreiras tarifá rias e nã o tarifá rias de produtos originá rios dos
países-membros sã o reduzidas ou eliminadas.
• União monetária. Estabelecem-se a coordenaçã o das políticas econô micas dos países-
membros e a criaçã o de um ú nico banco para emitir a moeda comum.
O pró ximo está gio de integraçã o seria a uniã o política, isto é, a unificaçã o das políticas de
relaçõ es internacionais, defesa, segurança interna e externa. Atualmente, a Uniã o Europeia
apresenta o maior nível de integraçã o entre os blocos econô micos existentes, tendo
estabelecido a uniã o monetá ria entre parte de seus países-membros.
Contudo, em 2013, a aproximaçã o entre a Uniã o Europeia e a Ucrâ nia gerou graves conflitos
nesse país. Sob a influência russa, o entã o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, cancelou
um acordo de cooperaçã o econô mica entre a Ucrâ nia e o bloco europeu, o que gerou grande
insatisfaçã o popular. As manifestaçõ es civis, duramente reprimidas pelo governo, resultaram
na morte de mais de 70 pessoas e na deposiçã o do presidente. Em 2016, o acordo foi
implementado e a Rú ssia, em retaliaçã o, impô s embargos comerciais à Ucrâ nia.
O futuro ameaçado
Nenhum modelo de integraçã o regional pode resistir ileso a uma crise econô mica da
magnitude da que se iniciou em 2008. Os membros da Uniã o Europeia passam por enormes
problemas econô mico-financeiros e têm divergido quanto à s soluçõ es para minimizar os riscos
de desastre econô mico. Isso tem colocado em risco o futuro do bloco.
A atençã o dos mercados e da imprensa tem se concentrado sobre a zona do euro, com
destaque para a Irlanda, a Grécia, a Espanha e Portugal, os países com os problemas mais
graves. As dificuldades econô mico-financeiras dessas naçõ es acabam se irradiando para os
demais membros do bloco.
A crise da Uniã o Europeia tem colocado em destaque a Alemanha. O país manteve as melhores
condiçõ es econô mico-financeiras e se tornou hegemô nico ao liderar as principais medidas
para o saneamento dos problemas do bloco.
A interferência do FMI e do Banco Central Europeu nos bancos e nos governos mostra a
gravidade da crise, que colocou em risco a permanência de alguns membros no bloco, com
destaque para a Grécia.
The Asahi Shimbun/Getty Images
Manifestantes protestam contra as medidas de austeridade que o governo grego propô s diante das dívidas do país
com instituiçõ es internacionais. Atenas, Grécia. Foto de 2015.
SAIBA MAIS
De forma geral, o encerramento do ciclo de regimes militares na América do Sul coincidiu com
o avanço da globalizaçã o. Com suas economias despreparadas para a ampla abertura comercial
e a crescente competitividade empresarial, os governos da regiã o empreenderam uma série de
reformas neoliberais para se ajustar ao capitalismo global. Esse ajuste incluía a necessidade de
os países atuarem em conjunto para melhor posicionamento na economia internacional.
Foi nesse contexto que se criou o Mercosul, com a assinatura do Tratado de Assunçã o (1991),
reunindo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Esse fato recebeu críticas, já que o Congresso paraguaio nã o deu sua aprovaçã o; para alguns,
isso fere as normas do bloco, que preveem a concordâ ncia de todos os membros nas decisõ es.
Adilson Secco/ID/BR
Navegue
Mercosul
Este é o site brasileiro oficial do Mercosul, com diversas informaçõ es e dados sobre o bloco. Disponível em:
<http://linkte.me/mercosul>. Acesso em: 8 mar. 2016.
Pá gina 100
Duas iniciativas de integraçã o econô mica na América Latina foram prejudicadas por conflitos
de interesses e pela diversidade dos países envolvidos: a Associação Latino-Americana de
Livre-Comércio (Alalc), que durou de 1960 a 1980, formada por México, Argentina, Brasil,
Chile, Peru, Paraguai e Uruguai; e a Associação Latino-Americana de Integração (Aladi),
criada em 1980, reunindo os membros da Alalc, além de Bolívia, Colô mbia, Cuba, Equador,
Panamá e Venezuela.
O México destoa dos países desenvolvidos do Norte. O Nafta surgiu com o receio de que a
economia mexicana fosse prejudicada pela força econô mica dos canadenses e estadunidenses.
O aumento da exportaçã o de commodities e a transferência de empresas (as maquiladoras) dos
Estados Unidos para a fronteira norte do México nã o sã o suficientes para solucionar as
desigualdades existentes entres seus países-membros.
João Miguel A. Moreira/ID/BR
A Alca nunca passou da condiçã o de projeto. Ela sofreu profundas críticas, especialmente dos
movimentos sociais latino-americanos, que se opunham ao aumento do poder e da influência
dos Estados Unidos promovido pelo bloco.
SAIBA MAIS
A Unasul
Em 2008, foi assinado em Brasília o tratado que deu origem à Uniã o de Naçõ es Sul-Americanas
(Unasul). A organizaçã o é formada por todos os países independentes da América do Sul (exceto a
Guiana Francesa). O México e o Panamá sã o países observadores.
Leia
Unasul: sua implementação, de Rodrigo Rios Faria de Oliveira. Sã o Paulo: Baraú na, 2014.
Nessa obra, o autor aborda a possibilidade de criaçã o de um mercado interno sul-americano e discute os obstá culos para sua
implantaçã o.
Pá gina 101
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: Asean. Disponível em: <http://www.asean.org/asean/aseanmember-states>. Acesso em: 8 mar. 2016.
A Apec é um bloco bastante heterogêneo, pois inclui países desenvolvidos, como Japã o,
Austrá lia, Estados Unidos, Canadá ; Tigres Asiá ticos, como Coreia do Sul, Taiwan, Cingapura e
Hong Kong (devolvido à China em 1997, mas com autonomia até 2047); e países em
desenvolvimento, como China, Chile, Filipinas, Indonésia, Malá sia, México, Peru, Tailâ ndia e
Vietnã.
Allmaps/ID/BR
Leia
O segundo mundo: impérios e influência na nova ordem global, de Parag Khanna. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2008.
O livro aborda a substituiçã o de uma era de hegemonia dos Estados Unidos por um padrã o multipolar mundial.
Pá gina 102
Vale destacar a existência de uniõ es monetá rias entre países africanos que, ao estabelecerem
moedas comuns e um controle financeiro unificado, buscam fortalecer suas economias no
mercado internacional. Um exemplo é a União Econômica e Monetária do Oeste Africano
(Uemoa), que reú ne Benin, Burkina Faso, Costa do Marfim, Mali, Níger, Senegal, Togo e Guiné
Bissau.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: Southern African Development Community (SADC). Disponível em: <http://www.sadc.int/member-states/>.
Acesso em: 8 mar. 2016.
Novos blocos
Aliança do Pacífico
Criada em 2012, a Aliança do Pacífico é um bloco formado por Chile, Peru, Colô mbia e
México, que reú ne cerca de 37% do PIB da América Latina, movimenta cerca de 50% do
comércio exterior latino-americano e constitui um mercado de 222 milhõ es de consumidores.
Tendo Costa Rica e Panamá como candidatos ao ingresso, o bloco busca estabelecer a livre
circulaçã o de bens, serviços, capitais e pessoas, em um projeto semelhante ao do Mercosul.
O acordo de formaçã o do bloco prevê a integraçã o das economias dos países banhados pelo
oceano Pacífico, com a reduçã o inicial de 90% das tarifas de importaçã o de mercadorias entre
os membros.
A Aliança do Pacífico apresenta uma dupla funçã o: ao mesmo tempo que prevê a diversificaçã o
de suas relaçõ es comerciais para conter o avanço chinês na regiã o, também se beneficia com a
demanda asiá tica por commodities.
Além da ampliaçã o do comércio intra-regional, o bloco deverá dar forte atençã o à integraçã o
energética e à infraestrutura, para incrementar as trocas.
Parceria Transpacífico
A acelerada ascensã o econô mica da China, observada nas ú ltimas décadas, contribuiu para o
surgimento de um grande bloco econô mico, em uma iniciativa liderada pelos Estados Unidos e
pelo Japã o. A Parceria Transpacífico (també m conhecida por TPP, na sigla em inglês) foi
instituída a partir de 2015 e procura garantir a competitividade comercial de seus países-
membros: Austrá lia, Brunei, Canadá , Chile, Cingapura, Estados Unidos, Japã o, Malá sia, México,
Nova Zelâ ndia, Peru e Vietnã . O acordo prevê o estabelecimento de uma zona de livre-comércio
e a criaçã o de normas comuns nas á reas financeira, ambiental, sanitá ria, trabalhista e de
propriedade intelectual.
A criaçã o do bloco gera preocupaçõ es a outros países, como o Brasil, que temem a reduçã o de
suas exportaçõ es dirigidas aos signatá rios do novo acordo.
Leia
Integração regional: uma introdução, de Paulo Roberto de Almeida. Sã o Paulo: Saraiva, 2013.
Nesse livro, o autor descreve o processo de formaçã o dos blocos regionais e analisa sua importâ ncia no cená rio político e
econô mico global.
Pá gina 103
Mundo Hoje
Mercosul: avanços, retrocessos e novos desafios
[...]
O Tratado de Assunçã o visava [quando foi fundado], entre outros pontos, inserir de forma mais
competitiva a economia desses quatros países [Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai] no
mercado internacional, aumentar a produtividade e tornar a regiã o mais atraente para
investidores privados. [...]
A estruturaçã o de um bloco como o Mercosul pode ser vista como uma forma de defesa dos
países [...] principalmente em relaçã o à maior potência mundial, que tinha interesse em
negociar com as naçõ es sul-americanas. Os Estados Unidos, contudo, primavam por negociar
acordos de livre-comércio de uma forma bilateral, o que na realidade dava ampla vantagem
para os americanos em suas negociaçõ es, quando feitas de maneira individual. Para enfrentar
esse tipo de negociaçã o, a opçã o do governo brasileiro pautou-se pela criaçã o de um bloco
regional, o Mercosul, que seria um importante meio de afirmaçã o e de barganha [...].
[...] o crescimento e declínio do bloco foi resultado dos fenô menos políticos e econô micos que
eram produzidos nacionalmente e exportados para a estrutura do bloco. Para a sua construçã o,
muito importante foi a efetivaçã o do Plano Real na economia brasileira, em 1994. A
estabilidade brasileira nesse período, bem como o fortalecimento do bloco, pode ser
notabilizada pelas iniciativas de outros países sul-americanos em fazer negó cios, e o interesse
apresentado pela Uniã o Europeia em participar de algumas negociaçõ es.[...]
Todavia, sua histó ria também foi caracterizada por retrocessos. Esse irregular processo de
integraçã o pode ser apontado devido à s assimetrias econô micas dos países, que provocaram
grandes divergências de interesses entre os integrantes. Outro ponto que retardou essa
integraçã o foram os efeitos de crises domésticas ocorridas principalmente no seio dos dois
principais vetores, Brasil e Argentina. A crise do real em 1999 foi um verdadeiro teste que
ameaçou romper com a estrutura econô mica do bloco e a pró pria integraçã o deste. No ano
seguinte, o Mercosul foi novamente ameaçado com a grande crise econô mica que ocorreu na
Argentina, provocando incertezas sobre como iria ser o caminho futuro da integraçã o.
[...]
Pode-se afirmar que [,] ao longo desses 20 anos, embora mediante problemas que ocorreram,
as bases para a integraçã o foram se formando. A relaçã o comercial é vista com um saldo
positivo, na medida em que se percebem consolidaçõ es nas amarras do bloco. Com as
estruturas econô micas avançando, qual o desafio do Mercosul para os pró ximos 20 anos? [...]
O pró ximo desafio será a integraçã o da cidadania do Mercosul. Questã o de teor mais difícil de
ser aplicada, haja vista que para haver uma cidadania é necessá rio que haja uma instituiçã o
com poderes institucionais mais abrangentes, supranacionais. Diferente da Uniã o Europeia, as
medidas aplicadas pelo bloco sulista, até o momento, se processaram pelo aval de interesses
dos governos nacionais. Por isso, o Mercosul foi limitado aos interesses das soberanias
nacionais.
Ter como objetivo focar a figura do cidadã o do Mercosul, com registro unificado de veículos,
identidades, etc., passa por um processo em que os interesses nacionais devem ser
complementados a um interesse de cunho maior, supranacional. Esse deve ser o grande
desafio dos articuladores do bloco. Nesse sentido, a formaçã o de um Parlamento (2005), com
países tendo suas bancadas, ressalta a possibilidade de um ó rgã o que seja elemento catalisador
[...] um Parlamento que defenda os interesses da integraçã o, em que o elemento supranacional
terá um grande respaldo.
PARA ELABORAR
1. Em mais de duas décadas desde sua criaçã o, quais foram os principais problemas
enfrentados pelo Mercosul?
2. Discuta com os colegas a seguinte questã o: Em sua opiniã o, será possível criar uma
cidadania do Mercosul? Depois, escrevam um texto coletivo com as conclusõ es a que chegaram.
Pá gina 104
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
1. Em que contexto histó rico os europeus se decidiram pela criaçã o da Comunidade Econô mica
Europeia, que futuramente originaria a Uniã o Europeia?
2. O ano de 2004 teve um significado especial para a ampliaçã o da Uniã o Europeia. Explique
por quê.
6. Sobre a crise econô mica que atingiu profundamente a Uniã o Europeia, responda:
a) Qual é a razã o das grandes mobilizaçõ es populares que ocorreram em muitos países do
bloco?
b) Quais países passaram por maiores dificuldades?
7. Aponte a regiã o abrangida pelos blocos abaixo e indique seus principais objetivos.
a) Asean
b) Apec
c) SADC
d) Parceria Transpacífico
8. O mapa abaixo representa o G-20 e o G-7, grupos que reú nem paí ses de grande poder
econô mico. Estabeleça uma comparaçã o entre Mercosul, Nafta, Apec e Uniã o Europeia,
avaliando o peso de cada um desses blocos na economia internacional.
Allmaps/ID/BR
Adilson Secco/ID/BR
Fonte de pesquisa: Banco Mundial. Global Economic Prospects, p. 221, jan. 2016. Disponível em:
<http://www.worldbank.org/content/dam/Worldbank/GEP/GEP2016a/Global-Economic-Prospects-January-2016-Implications-
Trans-Pacific-Partnership-Agreement.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2016.
a) Qual dos blocos apresentados atingiu a menor média tarifá ria no comércio intrabloco?
b) Quais sã o as consequências da reduçã o tarifá ria para os países que integram blocos
econô micos?
Pá gina 105
10. Leia o trecho a seguir e elabore uma breve avaliaçã o acerca da posiçã o socioeconô mica do
México no Nafta. Realize uma pesquisa sobre a atual condiçã o do bloco para complementar sua
resposta.
[...] De fato, [o] comércio bilateral entre mexicanos e americanos cresce, em média, mais de 10% ao
ano. [...] O tratado [Nafta] também possibilitou aumentar muito o investimento direto estrangeiro
(IDE). [...]
Mas os nú meros brutos nã o revelam a realidade vivida pela populaçã o: o “sucesso” do Nafta nã o
criou os empregos esperados. Apenas 80 mil dos 730 mil mexicanos que entram no mercado de
trabalho anualmente conseguem vagas. Além disso, os novos postos sã o abertos principalmente nas
maquiladoras, fá bricas que se restringem a montar componentes importados dos Estados Unidos e
reexportá -los de volta. [...]
Tal sistema fragilizou as finanças do México, obrigando-o a cortar os gastos sociais e demandar
mais receita do petró leo, para equilibrar o orçamento. [...]
Decorrência disso, a desigualdade nã o para de crescer nos países que integram o Nafta,
especialmente no México. Em comparaçã o com o período anterior (1984-1994), 90% das famílias
mexicanas viram sua renda cair ou estagnar. Para sobreviver, metade da populaçã o ativa extrai
uma receita complementar de um emprego informal, e um terço depende também do auxílio
financeiro dos parentes emigrados, as famosas remesas.[...]
VIGNA, Anne. Triste balanço do “livre” comércio. Disponível em: <http://diplo.org.br/2008-04,a2328>. Acesso em: 22 maio 2016.
[...] Crescem as manifestaçõ es populares em grupos de senhores e senhoras com mais de 65 anos
que, por conta pró pria, planejam suas açõ es deixando o governo espanhol surpreso diante dos
indignados “yayos” (vovô s em espanhol). Afinal esta geraçã o de avó s, quando jovem, lutou pela
queda da ditadura franquista, batalhou pela construçã o de um sistema de saú de e educaçã o
abrangente e de qualidade e por açõ es sociais que trouxeram benefício à populaçã o.
Mas, no momento em que a Uniã o Europeia atravessa grave crise econô mica e que a Espanha, em
particular, se ressente com as medidas de ajuste fiscal, exigidas pelo bloco econô mico europeu, os
vovô s espanhó is voltam à luta pela preservaçã o das conquistas sociais pelas quais tanto lutaram na
juventude [...].
12. Analise a charge do cartunista francês Frep e, no caderno, sintetize o assunto tratado.
Frep/Crayon de nuit
13. Com base em seus conhecimentos e na leitura do texto e do esquema a seguir, faça o que se
pede.
Adilson Secco/ID/BR
SEABRA, Fernando et al. A grande cabotagem no Mercosul: a importância da navegaçã o costeira para a integraçã o do bloco. In:
Encontro Nacional da Abri, 5., 2015, Belo Horizonte. Anais eletrô nicos. Belo Horizonte: UFSC, 2015. Disponível em:
<http://www.encontronacional2015.abri.org.br/>. Acesso em: 22 maio 2016.
As grandes potências
CAPÍTULO 8
globais
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
As grandes potê ncias e as relaçõ es de força no mundo contemporâ neo.
Novas potê ncias e países emergentes.
Desenvolvimento econô mico e poderio militar.
Hegemonias e conflitos regionais.
Muitos fatores contribuem para que um país exerça influência sobre outros: o desempenho econô mico, o
poderio militar, o desenvolvimento tecnoló gico, o contingente populacional, a dimensã o territorial e a
disponibilidade de recursos naturais sã o alguns dos principais aspectos que reforçam a hegemonia de uma
nação.
Os Estados Unidos detêm o maior Produto Interno Bruto (PIB) do planeta, aproximadamente sete vezes maior
que o da economia brasileira. Considerado uma superpotência global, o país tem as Forças Armadas mais
poderosas do mundo, o maior nú mero de empresas multinacionais e exerce influência direta sobre
importantes ó rgã os internacionais como a Organizaçã o das Naçõ es Unidas (ONU), o Fundo Monetá rio
Internacional (FMI) e o Banco Mundial.
Nas ú ltimas décadas, outros países vêm ganhando destaque por meio de seu desempenho econô mico.
Simultaneamente, a constituição de novos arranjos político-econô micos, com a constituiçã o de acordos
internacionais, tem garantido a proeminência de alguns blocos regionais, como é o caso da Uniã o Europeia.
Entre os países em desenvolvimento, destacam-se aqueles com economias emergentes, como Brasil, Rú ssia,
Índia, China, que apresentaram elevadas taxas de crescimento do PIB nos ú ltimos anos. Além do desempenho
econô mico recente, tais países despontam no cená rio global devido a fatores como a dimensão territorial e
populacional que, por sua vez, também representa um vultoso mercado interno.
Fonte de pesquisa: Banco Mundial. Disponível em: <http://databank.worldbank.org/data/download/GDP.pdf>. Acesso em: 14 mar.
2016.
Grá ficos: Adilson Secco/ID/BR
Fonte de pesquisa: Banco Mundial. Disponível em: <http://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.MKTP.KD.ZG>. Acesso em: 14 mar.
2016.
2. Entre os países com maior PIB, quais podem ser considerados países desenvolvidos ou países em
desenvolvimento?
Estados Unidos
Poucos países reú nem tantas características geográ ficas favorá veis para o desenvolvimento
econô mico como os Estados Unidos. O país é o quarto do mundo em extensã o terri torial (9,3
milhõ es de km²), tem saída para dois oceanos, possui extensas planícies favorá veis à
agricultura e é detentor de grandes reservas de recursos minerais. Constitui, ainda, o mais rico
mercado consumidor do planeta (com mais de 300 milhõ es de habitantes), o que o torna um
grande importador de commodities e bens industrializados.
Os Estados Unidos têm muitas vantagens em relaçã o à s demais potências: estã o na vanguarda
da inovaçã o científica desde a metade do século XX; ocupam um papel de liderança na
Organizaçã o do Tratado do Atlâ ntico Norte (Otan), criada em 1949; seu imenso territó rio tem
fronteiras com apenas dois países, os aliados México e Canadá . Além disso, os Estados Unidos
situam-se fora do eixo de tensõ es da Eurá sia, onde se travaram os maiores conflitos mundiais.
O gasto militar anual dos Estados Unidos equivale a cerca de 38% do total mundial. Em 2014,
esse gasto foi de aproximadamente 610 bilhõ es de dó lares, o que corresponde a 3,5% do PIB
total do país.
Alguns países da regiã o têm particular importâ ncia, como Israel, aliado político e militar dos
Estados Unidos; Iraque, invadido por tropas estadunidenses de 2003 a 2011, sob forte
oposiçã o da comunidade internacional; Irã, principal inimigo dos Estados Unidos na regiã o
desde a Revoluçã o Islâ mica, em 1979; Afeganistão, país invadido por tropas estadunidenses
em 2001 que ainda abriga grupos extremistas como o Talibã .
Fonte de pesquisa: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. São Paulo: Moderna, 2013. p. 73.
Assista
Guerra ao terror. Direçã o de Kathryn Bigelow, EUA, 2009, 131 min.
O filme aborda a histó ria de um grupo de soldados estadunidenses cuja missã o é desativar bombas no Iraque.
Pá gina 108
China
O “socialismo de mercado”
Até a década de 1970, a China era um país praticamente fechado para o mundo. Mao Tsé-tung,
o líder da Revoluçã o Chinesa de 1949, estabeleceu um regime político e econô mico de
inspiraçã o socialista comandado quase integralmente pelo Estado, seguindo, nos primeiros
anos, o modelo soviético. O projeto de desenvolvimento industrial, o chamado Grande Salto
para a Frente (1958-1960), mostrou-se um fracasso.
Em 1978, dois anos apó s a morte de Mao Tsé-tung, o Partido Comunista Chinês surpreendeu o
mundo com o anú ncio de reformas econô micas de mercado.
A nova potência
A China tem se destacado como uma potência econô mica e geopolítica, em condiçõ es muito
especiais. Trata-se de um país em desenvolvimento, com grandes disparidades regionais e
elevado nú mero de pessoas na pobreza, sobretudo nas á reas rurais.
No período recente, o país tem ampliado sua atuaçã o no comércio internacional por meio de
empresas multinacionais nas á reas automobilística, de eletroeletrô nicos, informá tica e
telecomunicaçõ es.
Os parceiros comerciais
O intenso ritmo da produçã o industrial faz que a economia chinesa tenha uma grande
demanda por matérias-primas. Essa situa çã o levou a diplomacia chinesa a se mover em
muitas direçõ es, estabelecendo relaçõ es com Brasil, Venezuela, Angola, países do golfo Pérsico
e do golfo da Guiné, entre outros.
Nos anos 1980, a China começou a investir no continente africano, intensificando suas relaçõ es
comerciais a partir da década de 2000. No Sudeste Asiá tico, a fabricaçã o e a exportaçã o de
produtos manufaturados mobilizam as relaçõ es comerciais entre China e outros países da
regiã o.
Título público: documento emitido pelos governos que certifica o empré stimo de um valor a ser pago com juros ao
comprador.
Fonte de pesquisa: SIMIELLI, Maria Elena Ramos. Geoatlas. 34. ed. Sã o Paulo: Á tica, 2013. p. 98.
Pá gina 109
As questões geopolíticas
No fim dos anos 1970, quando teve início o impulso de desenvolvimento, a China já enfrentava
alguns conflitos geopolíticos: movimentos separatistas no Tibete, possessõ es europeias no
territó rio chinês e o inconformismo pela independência de Taiwan.
Na regiã o autô noma de Xinjiang, a oeste do país, a populaçã o muçulmana, formada pela etnia
uigure (maioria na regiã o), sofre discriminaçã o por parte da etnia han, predominante no
restante do país. Sã o frequentes os episó dios de repreensã o e violência étnica na regiã o,
apoiados pelo governo.
O conflito do Tibete
O Tibete, na fronteira da China com a Índia e o Nepal, foi um país independente de 1912 a
1950. Pouco depois da revoluçã o comunista, em 1949, o governo chinês o transformou em
uma regiã o autô noma da China.
Em 1959, o Dalai Lama – líder religioso e político dos tibetanos – exilou-se na Índia. Desde
entã o, é crescente a reivindicaçã o pela retomada da independência do país. Com o sucesso
econô mico da China nas ú ltimas décadas, Beijing tentou, por meio de investimentos na regiã o,
atenuar o sentimento nacionalista no Tibete, mas nã o obteve sucesso.
A ilha de Hong Kong foi cedida aos britâ nicos em 1848, de acordo com o Tratado de Nanquim.
Porto de importâ ncia estratégica, a possessã o recebeu vultosos investimentos financeiros e
tornou-se um Tigre Asiático. Em 1997, Hong Kong foi devolvida à China, sob a condiçã o de
manter autonomia (exceto em questõ es de segurança e política externa) por cinquenta anos.
Macau, controlado por Portugal desde o século XVI, foi reintegrado à China em 1999, em bases
semelhantes a Hong Kong.
Allmaps/ID/BR
Taiwan, ou Formosa, pertencente à China até 1949, foi onde se reuniram dissidentes
nacionalistas chineses apó s a revoluçã o liderada por Mao Tsé-tung.
Com a proteçã o militar dos Estados Unidos, em plena Guerra Fria, a ilha desenvolveu-se
economicamente como país independente (é um Tigre Asiá tico). A China nã o aceita a
soberania de Taiwan, considerada uma “província rebelde”.
Uma lei estadunidense obriga os Estados Unidos a defender Taiwan em caso de um ataque
chinês. Apesar das ameaças recíprocas, o continente e a ilha mantêm relaçõ es comerciais e
financeiras.
Os problemas ambientais
A China é o segundo maior consumidor de energia do planeta. Na matriz energética chinesa, o
carvã o mineral tem um peso muito grande, o que provoca forte poluiçã o atmosférica. Desde os
anos 2000, a China é a maior emissora mundial de CO2.
Também constituem problemas ambientais a poluiçã o das á guas dos principais rios, devido ao
lançamento de rejeitos industriais sem tratamento, e a contaminaçã o das á guas subterrâ neas
por fertilizantes químicos.
Em 2015, a poluiçã o atmosférica atingiu níveis alarmantes em Beijing e o governo chinês suspendeu o funcionamento
de fábricas, escolas e o trâ nsito de veículos. Na foto, pessoas em visita ao Centro Olímpico da cidade, em dezembro de
2015.
Leia
O século XXI pertence à China? Um debate sobre a grande potência asiática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012.
Nesta obra, diversos autores analisam a ascensã o da China como força global e abordam problemas enfrentados pelo país,
desde a demanda por recursos energé ticos até a degradaçã o ambiental.
Pá gina 110
Japão
Quanto à s relaçõ es internacionais, o país passou por grandes transformaçõ es apó s a abertura,
em 1853, de seus portos ao comércio exterior, sob forte pressã o dos Estados Unidos. A partir
de 1910 até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Japã o desenvolveu uma política
expansionista e militarmente agressiva, e as conquistas territoriais (na China, na Indochina, na
Malá sia e na Indonésia) resolveram temporariamente as carências de espaço, alimentos e
recursos naturais (veja o mapa abaixo).
Com a guerra, o Japã o foi vítima de um ataque com bombas atô micas (lançadas pelos Estados
Unidos), em agosto de 1945. Na cidade de Hiroshima morreram cerca de 140 mil pessoas e na
de Nagasaki, aproximadamente 70 mil. As explosõ es forçaram a rendiçã o imediata do país. As
Forças Armadas foram reduzidas, em troca da garantia da proteçã o militar dos Estados Unidos.
Em 1946, o governo de ocupaçã o militar impô s ao Japã o uma Constituiçã o democrá tica e um
regime parlamentarista. Entre 1947 e 1950, o Japã o recebeu dos Estados Unidos uma ajuda de
2 bilhõ es de dó lares, impulsionando assim a sua economia. Esse crescimento maciço foi
chamado de “milagre japonês”.
Assista
Cartas de Iwo Jima. Direçã o de Clint Eastwood, EUA, 2006, 140 min.
O filme mostra a histó ria real da famosa batalha entre os Estados Unidos e o Japã o na ilha de Iwo Jima, pela perspectiva dos
japoneses. Iwo Jima foi considerada decisiva na Segunda Guerra Mundial, pois era estraté gica para ambos os lados.
Pouquíssimos soldados japoneses sobreviveram à batalha, e a reconstituiçã o histó rica dos acontecimentos foi possível por
meio de relatos feitos em cartas.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. Sã o Paulo: Á tica, 2007. p. 31.
Saiba Mais
Na época dos bombardeios, em agosto de 1945, Yamaguchi estava em Hiroshima para uma
viagem de negó cios [...]. Ele teve queimaduras graves e passou a noite lá. Quando voltou para
sua cidade, Nagazaki, foi atingido pela segunda bomba, três dias depois. [...]
[...]
Na década de 1960, a economia japonesa cresceu em ritmo superior ao dos países europeus e
dos Estados Unidos. Até entã o, os produtos japoneses eram considerados de qualidade
inferior, porém com preços imbatíveis (algo como o que ocorre com a China atual).
Nos anos 1970, o Japã o tornou-se o segundo país mais industrializado do mundo, perdendo,
como potência econô mica, apenas para os Estados Unidos.
Durante a década de 1990, o Japã o entrou em uma fase de estagnaçã o econô mica, ligada a
fatores como: os altos custos de produçã o do país; o envelhecimento da populaçã o, com
impactos sobre a populaçã o ativa; a concorrência da China e dos Tigres Asiá ticos; o quadro de
intervencionismo estatal; e a defasagem do sistema bancá rio, que já nã o respondia à s
necessidades da concorrência mundial.
GEOGRAFIA E FÍSICA
O governo japonês tem buscado reduzir o peso da energia nuclear na matriz energética do país, já
que o arquipélago, localizado nos limites de quatro placas tectô nicas – Euro-Asiá tica, das Filipinas,
do Pacífico e Norte-Americana –, está permanentemente sujeito a novos abalos sísmicos e a
possíveis acidentes em outras usinas nucleares.
1. Em grupos, pesquisem eventos que resultaram na contaminaçã o ambiental por radiaçã o nuclear.
2. Listem os efeitos nocivos da contaminaçã o por radiaçã o para a populaçã o e para o meio
ambiente.
Rie Ishii/AFP
Em dezembro de 2012, dezenove meses apó s a catástrofe de Fukushima, milhares de pessoas se reuniram em Tó quio
(foto) para pedir o fim das atividades nucleares do Japã o.
Pá gina 112
A União Europeia
A integraçã o dos países europeus em uma uniã o monetá ria criou uma considerá vel força
econô mica, capaz de enfrentar a concorrência dos Estados Unidos, do Japã o e dos países
emergentes.
Entretanto, o poder econô mico da Uniã o Europeia (UE) nã o se traduz diretamente em poder
militar. A Europa Ocidental, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, se manteve na ó rbita
político-militar dos Estados Unidos. Em outras palavras, ela sempre contou com a proteçã o dos
Estados Unidos no â mbito da Otan, pacto militar dos países ocidentais.
Dois países europeus têm uma influência política internacional mais destacada, por serem
membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, com poder de vetar intervençõ es
militares internacionais a serem realizadas por essa organizaçã o: Reino Unido e França. Eles
sã o também os ú nicos países da UE que dispõ em de armas nucleares.
Fonte de pesquisa: Banco Mundial. Disponível em: <http://databank.worldbank.org/data/download/GDP.pdf>. Acesso em: 16 mar.
2016.
A Uniã o Europeia ainda nã o chegou a um consenso sobre a formaçã o de uma força militar
supranacional, capaz de intervir em questõ es de segurança internacional. Nessa á rea, os
europeus geralmente atuam em conjunto com os Estados Unidos ou com a ONU, com destaque
para a atuaçã o em missõ es de paz e humanitá rias realizadas na Á frica.
Em alguns casos extremos, como os conflitos da Bó snia-Herzegovina (1992-1995) e do Kosovo
(1999), os europeus mostraram-se politicamente afinados. Forças militares da UE substituíram
as forças de manutençã o de paz da Otan na regiã o a partir de 2004.
Mas nem sempre há consenso: na intervençã o militar no Iraque, em 2003, o Reino Unido uniu-
se à s tropas estadunidenses, enquanto a França se opô s enfaticamente à guerra.
Adilson Secco/ID/BR
Fontes de pesquisa: ROSS, Eleanor. The nine countries that have nuclear weapons. The Independent, 6. jan. 2016. Disponível em:
<http://www.independent.co.uk/news/world/politics/the-nine-countries-that-have-nuclear-weapons-a6798756.html>;
International campaign to abolish nuclear weapons (Ican). Disponível em: <http://www.icanw.org/the-facts/nuclear-arsenals/>.
Acessos em: 16 abr. 2016.
Pá gina 113
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: Otan. Disponível em: <http://www.nato.int/cps/en/natolive/nato_countries.htm>. Acesso em: 28 mar. 2016.
A expansã o da Otan para o Leste Europeu tem acirrado as tensõ es entre essa organizaçã o e a
Rú ssia.
A inclusã o de países como Albâ nia e Croá cia e a pretensã o de incluir países da antiga Uniã o
Soviética, como Geó rgia e Ucrâ nia, podem comprometer os acordos entre Estados Unidos e
Rú ssia para a reduçã o de arsenais nucleares. Os russos querem evitar a qualquer custo a
reduçã o de sua á rea de influência e, nesse sentido, sã o rivais da Uniã o Europeia.
O modelo de capitalismo com redes de proteçã o social (welfare state) levou os países europeus
ao topo da classificaçã o do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), criado pela ONU. Os
trabalhadores da UE contam com jornadas de trabalho menores, seguro-desemprego e
benefícios geralmente superiores aos dos trabalhadores do restante do mundo.
Porém, o avanço da concorrência econô mica no mundo globalizado gerou sérios problemas
para a economia da UE: os custos de produçã o tornaram-se muito elevados, e o
envelhecimento da populaçã o reduziu a oferta de mã o de obra para as empresas.
Acrescenta-se a esses problemas a forte crise econô mico-financeira que se abateu sobre os
países-membros da UE a partir de 2008. Essa crise provocou estagnaçã o e retrocesso em
muitas economias, abalando a coesã o interna do bloco.
Mais do que isso, a Uniã o Europeia terá de decidir se acolhe com dignidade os milhõ es de
imigrantes que ali vivem e formam uma força de trabalho capaz de impulsionar a economia
numa época de forte concorrência internacional.
Navegue
Centro de Informação Europeia Jacques Delors
O portal traz informaçõ es sobre as políticas da UE em diversas á reas, como migraçõ es, controle financeiro e educaçã o.
Disponível em: <http://linkte.me/ciejd>. Acesso em: 16 mar. 2016.
Pá gina 114
As potências regionais
Apesar das distorçõ es sociais e econô micas reforçadas pela globalizaçã o, um exame da década
de 2000 mostra que aumentou o peso relativo dos países emergentes na dinâ mica das
potências mundiais.
O grande crescimento econô mico observado nas ú ltimas décadas expandiu as exportaçõ es de
matérias-primas e alimentos, favorecendo diversos países. Além disso, os baixos custos de
produçã o desses paí ses (especialmente o custo da mã o de obra) estimularam a transferência
de indú strias dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento. Vá rios países da
América Latina, do sul e sudeste da Á sia e a Á frica do Sul expandiram seus setores industriais.
Essa alteraçã o no quadro global impõ e a necessidade de relaçõ es internacionais pautadas pelo
multilateralismo. Cada vez mais as grandes potências necessitam consultar os países
emergentes e estabelecer regras econô micas e acordos comerciais com eles.
Nesse cená rio surgiu o G-20, grupo que reú ne os sete países mais ricos (que formam o G-7) e as
principais economias industrializadas emergentes. O G-20 representa cerca de 90% do PIB
mundial, 80% do comércio e dois terços da populaçã o do planeta.
Índia
A regiã o conhecida como subcontinente indiano – atuais Paquistã o, Índia, Bangladesh, Sri
Lanka, Nepal e Butã o – tornou-se independente da Inglaterra em 1947.
A Índia, que tem hoje mais de 1 bilhã o de habitantes, sofreu muitos conflitos políticos, étnicos e
religiosos. Nos anos 1990, começou a ajustar sua economia ao processo de globalizaçã o. O
resultado foi quase imediato: tal como a China, o país tornou-se um grande produtor de
manufaturados.
Além de seus imensos recursos humanos, a Índia conta com um sistema educacional
qualificado e com á reas de excelência tecnoló gica que contrastam com a pobreza vigente.
A média indiana de crescimento econô mico na década de 2000 foi de 7% ao ano (7,3% em
2014). As projeçõ es indicam que, nesse ritmo, a Índia será a quarta economia do mundo em
2050.
O país possui bombas atô micas, mas nã o assinou o Tratado de Nã o Proliferaçã o de Armas
Nucleares (TNP), que legaliza a posse de armas nucleares só para os países que as tinham até
1968: Estados Unidos, Rú ssia, França, China e Reino Unido. Veja o mapa abaixo.
João Miguel A. Moreira/ID/BR
Fonte de pesquisa: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. Sã o Paulo: Moderna, 2013. p. 59.
Leia
O mundo pós-americano, de Fareed Zakaria. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 2008.
O livro analisa a hegemonia estadunidense no mundo contemporâ neo, em diversos planos. Para o autor, os Estados Unidos
ainda mantê m sua posiçã o de superpotê ncia militar e política. Poré m, nas dimensõ es da economia, das finanças e da cultura,
está em curso uma distribuiçã o de poder.
Pá gina 115
Rússia
Grande ator geopolítico da Guerra Fria, quando era a repú blica líder da Uniã o Sovié tica,
atualmente a Rú ssia tem uma influência relativamente menor no mundo.
Os russos ainda detêm, no entanto, um significativo arsenal de bombas atô micas herdadas do
período soviético.
À instalaçã o de um escudo antimísseis na Europa Central (Polô nia e Repú blica Tcheca), por
parte da Otan a partir de 2012, os russos reagiram com a colocaçã o de mísseis em
Kaliningrado, enclave territorial do país entre a Lituâ nia e a Polô nia, países da Uniã o Europeia.
Embora os Estados Unidos argumentem que o escudo tem por objetivo se proteger de inimigos
como o Irã , as autoridades de Moscou consideram que o projeto visa intimidar a Rú ssia.
O arsenal nuclear norte-coreano, por sua vez, é um resquício da Guerra Fria, que dividiu o
territó rio coreano em dois países: a Coreia do Norte, socialista, e a Coreia do Sul, capitalista.
O grupo Brics
A sigla Brics refere-se aos cinco países emergentes de grande expressã o populacional e
territorial, que, por apresentarem grande crescimento econô mico e recursos produtivos,
passaram a participar com maior intensidade na dinâ mica global: Brasil, Rú ssia, Índia,China e
Á frica do Sul (South Africa).
Esse grupo já demonstrou que tem força econô mica capaz de impor seus interesses no cená rio
global. Brasil, Rú ssia, Índia, China e Á frica do Sul dispõ em de considerá veis recursos
econô micos, humanos e naturais e têm obtido maior protagonismo político diante de
organismos internacionais, como o FMI e o Banco Mundial.
Assista
Salada russa em Paris. Direçã o de Youri Mamine, França/Rú ssia, 1994, 97 min.
Filme divertido sobre a difícil passagem do comunismo para o capitalismo na Rú ssia do início dos anos 1990. Conta a
histó ria de um professor de mú sica que descobre, no quarto que aluga, uma passagem que liga sua cidade a Paris. Com seus
amigos faz viagens clandestinas à capital francesa.
Informe
O crescimento dos emergentes
Houve três mudanças de poder tectônicas nos ú ltimos quinhentos anos, alteraçõ es
fundamentais na distribuiçã o de poder que reformularam a vida internacional – sua política,
sua economia e sua cultura.
A segunda mudança, que aconteceu nos ú ltimos anos do século XIX, foi a ascensã o dos Estados
Unidos. Logo depois de se industrializar, os Estados Unidos se tornaram a naçã o mais poderosa
desde a Roma imperial, e a ú nica mais forte do que qualquer combinaçã o prová vel de outras
naçõ es. Durante boa parte do ú ltimo século, os Estados Unidos dominaram a economia, a
política, a ciência e a cultura mundiais. Nos ú ltimos vinte anos, esse domínio foi sem rival, um
fenô meno inédito na histó ria moderna.
Estamos agora passando pela terceira grande mudança da era moderna. Ela poderia ser
chamada de “a ascensã o do resto”. Ao longo das ú ltimas décadas, países de todo o mundo vêm
experimentando taxas de crescimento econô mico que eram outrora impensá veis.
Embora tenham passado por elevaçõ es e quedas, a tendência geral tem sido indiscutivelmente
para cima. Esse crescimento tem sido mais visível na Á sia, mas nã o está mais restrito a ela.
Por isso, chamar essa mudança de “ascensã o da Á sia” nã o a descreve corretamente. Em 2006 e
2007, 124 países cresceram a uma taxa de 4% ou mais. Esse nú mero inclui mais de trinta
países da Á frica, dois terços do continente. Antoine van Agtmael, o administrador de fundos
que cunhou o ter mo “mercados emergentes”, identificou as 25 empresas que serã o
provavelmente as pró ximas grandes multinacionais. Sua lista contém quatro companhias do
Brasil, México, Coreia do Sul e Taiwan; três da Índia; duas da China e uma de Argentina, Chile,
Malá sia e Á frica do Sul. [...]
Pode parecer estranho centrar-se na prosperidade crescente quando ainda existem centenas
de milhõ es de pessoas vivendo na mais profunda miséria. Mas, na verdade, a proporçã o de
pessoas que vivem com um dó lar ou menos por dia despencou de 40% em 1981 para 18% em
2004 [...].
Só o crescimento da China tirou mais de 400 milhõ es de pessoas da pobreza. A miséria está
diminuindo em países que abrigam 80% da populaçã o mundial. Os cinquenta países em que
vivem as pessoas mais pobres do mundo sã o casos gravíssimos que precisam de atençã o
urgente. Nos outros 142 – que incluem China, Índia, Brasil, Rú ssia, Indonésia, Turquia, Quênia
e Á frica do Sul –, os pobres estã o sendo lentamente absorvidos por economias produtivas e
crescentes.
Pela primeira vez na histó ria, estamos testemunhando um genuíno crescimento global. Isso
está criando um sistema internacional em que países de todos os cantos do mundo não sã o
mais objetos ou observadores, mas atores por seus pró prios méritos. É o nascimento de uma
ordem realmente global. [...]
ZAKARIA, Fareed. Mundo pós-americano. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 11-15.
PARA DISCUTIR
1. Discuta com um colega respostas possíveis à questã o formulada por Fareed Zakaria ao final
do texto. Faça anotaçõ es durante a discussã o e, em seguida, escreva um texto expondo suas
conclusõ es. Para isso, pense nas possíveis mudanças culturais e geopolíticas que a “ascensã o
do resto do mundo” pode gerar.
Pá gina 117
Mundo Hoje
Brics: conquistas e fracassos no grupo dos emergentes
Rú ssia e Brasil devem ter recessã o este ano [2015]. A China está desaquecendo e a economia
sul-africana deve crescer cerca de 2%. Dos cinco Brics, o ú nico que ainda empolga investidores
é a Índia, com um crescimento esperado de quase 8% para 2015.
Até o criador do termo Bric, [...] Jim O’Neill, disse recentemente que se sentiria tentado a
reduzi-lo para “IC” – iniciais de Índia e China – se os outros países nã o retomarem sua
trajetó ria de crescimento até o fim da década. [...]
Mas apesar dessas diferenças, analistas consultados [...] apontam quatro avanços que teriam
marcado esses sete primeiros anos dos Brics, juntamente com os problemas econô micos de
alguns de seus integrantes [...].
Avanços
1) Banco dos Brics
Do ponto de vista financeiro, o banco é interessante porque pode receber uma classificaçã o de
risco melhor que as economias do grupo, captando recursos no mercado a um custo mais
baixo. Mas analistas também veem sua criaçã o como parte de uma açã o política que teria como
objetivo criar alternativas à hegemonia americana e europeia no sistema financeiro
internacional. [...]
Além da abertura do banco, os líderes também já acertaram a criaçã o de uma espécie de fundo
para socorrer membros dos Brics que tenham graves desequilíbrios em suas balanças de
pagamentos ou estejam à beira de um calote.
Segundo [Oliver] Stuenkel [especialista em Brics da Fundaçã o Getú lio Vargas], os líderes dos
Brics também perceberam ao longo desses sete anos que podem conseguir “benefícios
mú tuos” com uma maior coordenaçã o e a abertura de mais canais de diá logos. “A Rú ssia, por
exemplo, procurou o apoio do grupo quando tentava evitar o isolamento internacional em
meio à crise na Ucrâ nia”, diz ele. [...]
Além do banco e do ACR, integrantes do bloco também têm feito avanços na cooperaçã o em
outras á reas, como educaçã o, políticas de inovaçã o, turismo e desenvolvimento de
infraestrutura [...]. Em fevereiro [de 2015], os cinco ministros de educaçã o se encontraram
para discutir a criaçã o de uma rede universitá ria dos Brics, a cooperaçã o na á rea de educaçã o
técnica e profissional e a elaboraçã o de metodologias de avaliaçã o do ensino.
Na á rea de comércio, um dos projetos sobre a mesa é o uso de moedas locais para as operaçõ es
de exportaçã o e importaçã o entre países dos Brics.[...]
“Os encontros dos Brics também criaram oportunidades para a reuniã o de empresá rios e
acadêmicos, e até ONGs se mobilizaram, de modo que a sociedade civil acabou incluída nessa
agenda de cooperaçã o”, diz [Paulo] Wrobel [pesquisador do Brics Policy Center].
Fracasso
1. Crescimento econômico
Wrobel […] lembra que o PIB da China já é maior que o de todas as outras economias dos Brics
juntas.
COSTAS, Ruth. Brics: quatro conquistas e um fracasso do grupo dos emergentes. BBC Brasil, 7 jul. 2015. Disponível em:
<http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/07/150706_avancos_brics_ru>. Acesso em: 16 mar. 2016.
PARA ELABORAR
1. Em grupos, pesquisem iniciativas do Brics que poderiam abalar a hegemonia econô mica das
demais potências econô micas mundiais. Reú nam o resultado das pesquisas em cartazes,
apresentando-os à sala.
Pá gina 118
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
1. Mencione três fatores que reforçam a hegemonia política e militar dos Estados Unidos em
comparaçã o com outras potências.
2. Que açõ es empreendidas pelo governo dos Estados Unidos comprometeram a estabilidade
financeira do país na década de 2000?
3. Escreva um texto sobre o Japã o contemplando seu desenvolvimento industrial a partir dos
anos 1960 até a década de 2000.
5. A China é o país que mais cresce no mundo. Que fatores podem ser enumerados como
propulsores desse crescimento?
6. Quais questõ es podemos listar como problemas a serem enfrentados pela China, apesar de
seu enorme crescimento econô mico?
8. O que significa a sigla Brics? Explique a importâ ncia desse grupo no mundo atual.
a) De acordo com o perfil socioeconô mico e com o processo de desenvolvimento dos países
apresentados na tabela, organize-os em três grupos, justificando suas escolhas.\
b) No caderno, avalie o que tais dados revelam sobre a regionalizaçã o do comércio global.
11. Analise o mapa e comente a importâ ncia da China no mercado regional asiá tico.
ZAKARIA, Fareed. Mundo pós-americano. Sã o Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 11-12.
François Pauletto/Citizenside/AFP
Simpatizantes pela causa tibetana erguem a bandeira do Tibet em Paris, França, 2015.
Em análise
Interpretando o comércio internacional por meio de gráficos
No exercício da pá gina seguinte, utilizaremos os três tipos de grá ficos explicados a seguir.
• Gráfico de linha
É formado por um eixo vertical, que expressa quantidades, e um eixo horizontal, que mostra a
variaçã o do tempo. A linha a ser construída representará as mudanças ou variaçõ es de
determinado fenô meno ou assunto ao longo do tempo. Veja, por exemplo, no grá fico
reproduzido ao lado, como o arsenal nuclear variou desde o final da Segunda Guerra Mundial
(1939-1945) até a década de 2010.
Setup Bureau/ID/BR
• Gráfico de barras
Semelhante ao grá fico de colunas, esse grá fico é construído a partir de barras horizontais, cuja
extensã o representa 100%. As barras podem ser divididas para expressar determinadas
subdivisõ es de um fenô meno de interesse geográ fico. No grá fico ao lado, tem-se a receita das
exportaçõ es do Brasil, dividida por tipo de produto, de 2002 a 2012.
Setup Bureau/ID/BR
• Gráfico circular
Adilson Secco/ID/BR
Proposta de trabalho
Para construir os grá ficos, propomos o tema comércio internacional. Utilize os dados das
tabelas abaixo.
1. Grá fico de linha: Exportação por continentes ou regiões do mundo. Utilize os dados de
exportaçã o por regiõ es do mundo em porcentagem (%).
Fonte de pesquisa: OMC. International Trade Statistics 2014, p. 24. Disponível em:
<https://www.wto.org/english/res_e/statis_e/its2014_e/its2014_e.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2016.
a) Trace dois eixos: um vertical de 0 a 100, que indicará as porcentagens, e um horizontal, com
cinco marcaçõ es, referentes aos anos indicados na tabela. Utilize uma escala em que as
alteraçõ es no grá fico fiquem visíveis. Para cada regiã o, no ponto em que um percentual do eixo
vertical encontra um ano do horizontal, faça uma marcaçã o.
b) Depois de marcar todos os pontos, trace uma linha ligando-os. Como no exemplo da pá gina
anterior, diferencie as linhas usando cores. Faça a legenda indicando a cor de cada regiã o.
Fonte de pesquisa: OMC. International Trade Statistics 2015, p. 55-58. Disponível em:
<https://www.wto.org/english/res_e/statis_e/its2015_e/its2015_e.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2016.
A construçã o inicial será similar à do grá fico de linha, mas as porcentagens estarã o no eixo
horizontal.
Fonte de pesquisa: OMC. International Trade Statistics 2015, p. 71. Disponível em:
<https://www.wto.org/english/res_e/statis_e/its2015_e/its2015_e.pdf>. Acesso em: 17 mar. 2016.
b) Una os pontos, construindo a circunferência. Identifique por cores cada um dos segmentos
que representam o percentual de participaçã o dos produtos exportados; faça a legenda (veja o
exemplo na pá gina anterior).
4. Faça uma análise comparativa dos três grá ficos e escreva um texto com as suas conclusõ es.
Pá gina 122
Síntese da Unidade
Capítulo 5 Globalização
• Com base no esquema abaixo, escreva frases que sintetizem o conteú do do capítulo.
• Com base nas fotos abaixo, escreva um texto sintetizando os principais assuntos desenvolvidos
ao longo do capítulo.
Stringer/AFP
Protesto contrá rio à Organizaçã o Mundial do Comércio, em Nairó bi, Quênia. Foto de 2015.
Jacky Naegelen/Reuters/LatinstocK
“Açã o climática já , para o bem de todos”. Manifestaçã o por medidas de controle das mudanças climáticas, em Le
Bourget, França. Foto de 2015.
Capítulo 7 A formação dos blocos econômicos
• Copie no caderno a tabela a seguir e, com base no que foi estudado no capítulo, preencha-a com
exemplos de blocos regionais que estejam atualmente nos está gios nela indicados.
• Poder militar
• Protecionismo comercial
• Potências regionais
Pá gina 123
Vestibular e Enem
Atenção: todas as questões foram reproduzidas das provas originais de que fazem parte. Responda a todas as questões no caderno.
1. (Enem) Na imagem, é ressaltado, em tom mais escuro, um grupo de países que na atualidade
possuem características político-econô micas comuns, no sentido de:
I. As bombas atô micas que atingiram Hiroshima e Nagasaki foram lançadas pelos Estados
Unidos, ú nico país que possuía esse tipo de armamento ao fim da Segunda Guerra Mundial.
II. As radiaçõ es liberadas numa explosã o atô mica podem produzir mutaçõ es no material
genético humano, que causam doenças como o câ ncer ou sã o transmitidas para a geraçã o
seguinte, caso tenham ocorrido nas células germinativas.
III. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, vá rias naçõ es desenvolveram armas atô micas e,
atualmente, entre as que possuem esse tipo de armamento, têm-se China, Estados Unidos,
França, Índia, Israel, Paquistã o, Reino Unido e Rú ssia.
3. (UFV-MG)
Vistos durante a Revoluçã o Cultural (1966-76) como o símbolo do colonialismo britâ nico e
desperdício da escassa terra agricultá vel da China, os campos de golfe se espalharam rapidamente
apó s 1984, data da abertura do primeiro clube depois da revoluçã o de 1949.
A China tem hoje 176 campos de golfe [...]. A rá pida proliferaçã o dos campos levou o governo a
suspender a construçã o de novos clubes, com o objetivo de preservar terra para a agricultura e
poupar á gua. Os clubes atuais ocupam 37 000 hectares e há dezenas de outros em construçã o. [...]
Até pouco tempo, os chineses eram minoria nos campos locais, mas a relaçã o hoje se inverteu. A
Associaçã o de Jogadores de Golf da China estima em 24 mil o nú mero de chineses entre os
praticantes, 58% do total de jogadores no país.
TREVISAN, Clá udia. China teme “latinizaçã o” da sociedade. Folha de S.Paulo, 9 maio 2004. Mundo, p. 21.
Vestibular e Enem
4. (Enem) Segundo Samuel Huntington (autor do livro O choque das civilizações e a
recomposição da ordem mundial), o mundo está dividido em nove “civilizaçõ es”, conforme o
mapa abaixo.
Na opiniã o do autor, o ideal seria que cada civilizaçã o principal tivesse pelo menos um assento
no Conselho de Segurança das Naçõ es Unidas. Sabendo-se que apenas EUA, China, Rú ssia,
França e Inglaterra sã o membros permanentes do Conselho de Segurança, e analisando o mapa
acima pode-se concluir que:
a) atualmente apenas três civilizaçõ es possuem membros permanentes no Conselho de
Segurança.
b) o poder no Conselho de Segurança está concentrado em torno de apenas dois terços das
civilizaçõ es citadas pelo autor.
c) o poder no Conselho de Segurança está desequilibrado, porque seus membros pertencem
apenas à civilizaçã o Ocidental.
d) existe uma concentraçã o de poder, já que apenas um continente está representado no
Conselho de Segurança.
e) o poder está diluído entre as civilizaçõ es, de forma que apenas a Á frica não possui
representante no Conselho de Segurança.
O processo de globalizaçã o, em sua fase atual, revela uma vontade de fundar o domínio do mundo
na associaçã o entre grandes organizaçõ es e uma tecnologia cegamente utilizada. Mas a realidade
dos territó rios e as contingências do meio associado asseguram a impossibilidade da desejada
homogeneizaçã o.
Na afirmativa do geó grafo Milton Santos sobre a globalizaçã o, fica evidente que:
I. a globalizaçã o só se tornou possível porque todos os territó rios se tornaram homogêneos.
II. os Estados Naçõ es sã o os elementos mais importantes do processo de globalizaçã o, por
imporem as regulamentaçõ es que acham necessá rias para entrada das grandes corporaçõ es
nos seus territó rios.
III. os aspectos econô micos, culturais e até de ordem natural das diversas regiõ es do planeta
impedem a completa homogeneizaçã o do espaço mundial sob o comando da globalizaçã o.
IV. o atual processo de globalizaçã o tem como marca o emprego das mesmas técnicas para
qualquer territó rio, independente das características que os mesmos possuam.
Atenção: todas as questões foram reproduzidas das provas originais de que fazem parte. Responda a todas as questões no caderno.
I. O mapa evidencia uma regiã o fronteiriça entre dois países pertencentes ao NAFTA.
II. As setas indicam os principais eixos de entrada de imigrantes mexicanos para os Estados
Unidos da América do Norte.
III. No México, nas á reas pró ximas à fronteira com os Estados Unidos da América do Norte,
estã o concentradas as indú strias “maquiladoras”, responsá veis por significativa parcela de
exportaçõ es mexicanas.
IV. Os estados norte-americanos assinalados pelos nú meros 1 e 2, receptores de imigrantes
ilegais mexicanos, sã o o Texas e a Califó rnia, respectivamente.
Pela aná lise do mapa e das afirmativas, conclui-se que somente estã o corretas:
a) I, II e III.
b) I e III.
c) I e IV.
d) II, III e IV.
e) II e IV.
9. (Fuvest-SP)
Há oitenta anos, a Rú ssia era forte por causa do dinamismo revolucioná rio do comunismo,
incluindo o poder de atraçã o da sua ideologia. Há quarenta anos, a Rú ssia Soviética era forte por
causa do poderio do Exército Vermelho. Hoje, a Rú ssia de Putin é forte por causa do gá s e do
petró leo.
10. (PUC-RJ) A Índia, um país de fortes tradiçõ es e de cultura milenar, tornou-se, nas ú ltimas
décadas, um polo de tecnologia de informaçã o. Este avanço tecnoló gico vem repercutindo na
economia e na sociedade indianas.
Assinale:
a) se somente a afirmativa IV está correta.
b) se somente as afirmativas I e II estã o corretas.
c) se somente as afirmativas II e III estã o corretas.
d) se somente as afirmativas I e IV estã o corretas.
e) se as afirmativas I, II, III e IV estã o corretas.
Pá gina 126
Geografia e Matemática
Desigualdades sociais nos Brics
Os Brics, grupo formado por Brasil, Rú ssia, Índia, China e recentemente Á frica do Sul, vêm se
destacando no cená rio internacional devido ao crescimento econô mico acelerado das duas
ú ltimas décadas, principalmente na China, Índia e Brasil. [...] Por isso, o grupo se transformou
em tema de muitos estudos e matérias jornalísticas ao redor do mundo, tendo quase sempre
como ponto de análise o seu desenvolvimento econô mico. [...]
Já na Índia, [...] a situaçã o é mais crítica. Os dados referentes ao país sã o de 2005 e apontam
que 41,6% da populaçã o está abaixo da linha da pobreza. Isso equivale a 461,76 milhõ es de
pessoas, nú mero superior à soma de todos os habitantes do Brasil, Rú ssia e Á frica do Sul do
mesmo período, que totalizava cerca de 327 milhõ es de pessoas. No Brasil, terceiro país mais
populoso dos Brics, esse índice caiu de 15,5% em 1990 para 3,2% em 2009. Em outras
palavras, a queda foi de cerca de 24,625 milhõ es para 6,127 milhõ es de brasileiros. A Á frica do
Sul é o ú nico país onde ocorreu uma ascensã o no nível de pobreza entre 1995 e 2000,
passando de 21,4% da populaçã o (8,776 milhõ es de pessoas), para 26,2% (11,665 milhõ es).
Em 2006, o índice caiu para 17,4%, o que equivale a 8,246 milhõ es. Nota-se, portanto, que, em
um período de onze anos, a reduçã o da pobreza na Á frica do Sul foi irrisó ria.
Educação
[...] A taxa de alfabetizaçã o de maiores de 15 anos vem crescendo ao longo das décadas, porém
não abrange 100% da populaçã o em nenhum dos cinco países [...]. A Rú ssia é o que apresenta
melhor desempenho, com 99,6% dos cidadã os aptos a ler e a escrever. Já na Índia, quase 40%
da populaçã o adulta é analfabeta. No que diz respeito à média de anos de escolaridade
recebida por pessoas com idade acima de 25 anos, usando a duraçã o nacional oficial de cada
nível, os índices ascenderam consideravelmente, porém ainda estã o aquém dos países
desenvolvidos. [...]
Para se ter uma ideia, a média de anos de escolaridade nas atuais potências globais é de 12,4
anos nos Estados Unidos, 11,6 no Japã o, 12,2 na Alemanha e 10,6 na França.
Fontes de pesquisa: Pnud. Relatório de Desenvolvimento Humano 2011; Relatório de Desenvolvimento Humano 2015. Nova York:
ONU, 2011- 2015; Unesco. Disponível em: <http://data.uis.unesco.org/index.aspx?queryid=166&lang=en#>. Acessos em: 29 mar.
2016.
Pá gina 127
[...] A idade de morte de uma criança reflete a disponibilidade tanto de comida quanto de
cuidados com a saú de [...]. Além disso, a incidência de mortalidade infantil é muito mais alta em
populaçõ es pobres. Sendo assim, a queda nesse índice pode indicar, também, uma melhora nas
condiçõ es econô micas dos indivíduos.
Já a expectativa de vida aumenta, por exemplo, quando o sistema pú blico de saú de dos países
oferece serviços de qualidade e quando o índice de violência apresenta queda. [...] Á frica do Sul
[...] chama a atençã o por apresentar piora nos dois índices. A expectativa de vida no país caiu
cerca de nove anos entre 1990 e 2011, e o nú mero de mortes entre as crianças de até cinco
anos é atualmente o mesmo que o de duas décadas atrá s, apresentando grande elevaçã o no
ano 2000.
Mulheres e desigualdades
O Índice de Desigualdade de Gênero vem caindo nos Brics, mas as mudanças sã o lentas devido
à forte interseçã o das desigualdades. A falta de oportunidade das mulheres é intensificada pela
pobreza, diferenças de cor e castas, regiõ es geográ ficas, patriarcalismo etc. Este índice é
mensurado pela ONU a partir de três dimensõ es: capacitaçã o, saú de reprodutiva e mercado de
trabalho. Quanto mais pró ximo de 0, maior o equilíbrio entre homens e mulheres [...].
SILVÉRIO, Maria. Brics: desigualdades sociais nos países emergentes. Cies-IUL. Observató rio das Desigualdades. Lisboa, 2010.
Disponível em: <http://observatorio-das-desigualdades.cies.iscte.pt/index.jsp?page=projects&id=123>. Acesso em: 29 mar. 2016.
Desigualdades vitais
Expectativa de vida (em anos) Mortalidade infantil*
País 1990 2000 2014 1990 2000 2013
Brasil 66,3 70,1 74,5 56 34 14
Rú ssia 68,0 65,0 70,1 27 24 10
Índia 58,3 61,6 68,0 118 93 53
China 69,4 71,2 75,8 46 36 13
Á frica do Sul 61,5 54,8 57,4 62 77 44
Fontes de pesquisa: Pnud. Relatório de Desenvolvimento Humano 2011; Relatório de Desenvolvimento Humano 2015. Nova York: ONU,
2011-2015.
Desigualdades de gênero
Índice de desigualdade de Taxa feminina com Taxa de participação
gênero educação secundária feminina no mercado de
completa* trabalho
País 1995 2005 2014 1990 200 2010 1990 200 2009
0 0
Brasil 0,523 1,085 1,054 0,524 0,734
0,471 0,457 1,086 0,667
Rú ssia 0,429 0,358 0,276 0,851 0,908 0,948 0,791
0,793 0,830
Índia 0,692 0,563 0,394 0,471 0,404 0,404
0,646 0,528 0,401
China 0,267 0,191 0,683 0,860
0,224 0,713 0,778 0,848 0,845
Á frica do 0,518 0,407 0,943 0,928 0,976 0,576 0,727
Sul 0,520 0,740
*Proporçã o de mulheres para cada homem. Fonte de pesquisa: Pnud. Relatório de Desenvolvimento Humano 2011; Relatório
de Desenvolvimento Humano 2015. Nova York: ONU, 2011-2015.
ATIVIDADES
1. Reú na todos os indicadores relativos ao Brasil apresentados nas tabelas acima. Depois,
escreva um texto comentando a evoluçã o desses índices. Sabe-se, por exemplo, que a
expectativa de vida do brasileiro ao nascer era de apenas 43,3 anos em 1950 (disponível em:
<http://linkte.me/tdembr>; acesso em: 16 mar. 2016). Apresente suas conclusõ es em sala de
aula e ouça as opiniõ es dos colegas sobre o assunto.
2. “A taxa de alfabetizaçã o de maiores de 15 anos vem crescendo ao longo das décadas, porém
não abrange 100% da populaçã o em nenhum dos cinco países [...]. A Rú ssia é o que apresenta
melhor desempenho, com 99,6% dos cidadã os aptos a ler e a escrever”. Na realidade, sã o
poucos os países com populaçã o 100% alfabetizada. Verifique quais sã o as taxas de
alfabetizaçã o nos Estados Unidos, no Canadá , no Japã o e em países da Uniã o Europeia, como a
França e a Alemanha. Construa uma tabela com os resultados e discuta-os em classe.
3. Na Á frica do Sul, “A expectativa de vida [...] caiu cerca de nove anos entre 1990 e 2011, e o
nú mero de mortes entre as crianças de até cinco anos é atualmente o mesmo que o de duas
décadas atrá s, apresentando grande elevaçã o no ano 2000”. Indique algumas razõ es para que a
Á frica do Sul apresente tal situaçã o em seus indicadores sociais.
Pá gina 128
O espaço político:
UNIDADE 3
focos de tensão
NESTA UNIDADE
9 Europa
10 África
11 América Latina
12 Ásia
1. No século XX, parte da América Latina apresentou conflitos políticos. O que você
sabe sobre isso?
Manifestação em favor da paz e da liberdade de imprensa, em Paris, França, realizada após o ataque à
redação de um jornal satírico francês por extremistas islâmicos. No cartaz em francês, lê-se “Nós somos
fraternidade, união e paz”. Foto de 2015.
Pá gina 130
CAPÍTULO 9 Europa
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
O novo papel internacional da Alemanha.
A disputa por hegemonia no Leste Europeu.
Imigraçã o ilegal, refugiados e minorias é tnicas.
Terrorismo na Europa.
Aris Messinis/AFP
Em julho de 2015, por meio de um referendo, a maioria da populaçã o grega se mostrou contrá ria à s medidas de
ajuste fiscal propostas pelo Fundo Monetá rio Internacional (FMI) e pelo Banco Central Europeu (BCE) para o
refinanciamento das dívidas da Grécia. Tais medidas tinham como objetivo equilibrar a economia grega e conter a
crise econô mica do país. Na foto, manifestaçã o contrá ria ao ajuste fiscal, em Atenas, Grécia, 2015.
Na década de 2010, a Europa esteve submetida a sucessivas crises políticas e econô micas, muitas das quais
resultantes de sua diversidade cultural e econô mica, mas também da dificuldade de responder rapidamente a
essas crises.
O endividamento da Grécia, provocado por sucessivos empréstimos externos, agravou-se a partir de 2008,
gerando uma forte crise econô mico-financeira que abalou as estruturas da Uniã o Europeia, tendo afetado
países como Espanha, Portugal, Itá lia e Irlanda. Apenas em 2015, apó s acordos de refinanciamento das dívidas
gregas, a crise foi circunstancialmente controlada.
No entanto, para os gregos, os custos sociais e econô micos dos acordos são altos, pois incluem o aumento de
impostos, a reduçã o de investimentos em setores sociais e cortes de benefícios, como aposentadorias, sendo
denominados “medidas de austeridade fiscal”.
A soluçã o encontrada pelo bloco europeu para evitar novas crises foi a adoçã o de uma série de legislaçõ es
visando controlar o setor bancá rio e, principalmente, as dívidas internas dos países da zona do euro.
2. As naçõ es europeias apresentam grandes desigualdades econô micas entre si? Justifique.
Pá gina 131
Do ponto de vista econô mico, a Alemanha está entre os países mais importantes da Europa.
Suas grandes empresas multinacionais, seu papel destacado no comércio mundial e seu
desenvolvimento tecnoló gico transformaram o país na primeira potência europeia e na quarta
potência mundial (apó s Estados Unidos, China e Japã o). Apesar da pouca expressividade na
política internacional nas quatro décadas que sucederam a Segunda Guerra Mundial, a
Alemanha reunificada passou gradativamente a reas sumir um papel geopolítico de destaque.
Neste início de século XXI, a Alemanha tem participado mais frequentemente da Otan
(Organizaçã o do Tratado do Atlântico Norte) e, no contexto da Uniã o Europeia, ocupou uma
posiçã o de protagonismo.
Durante a crise financeira grega, que colocou em risco o equilíbrio do euro entre 2008 e 2015,
foi de Berlim que partiram as principais diretrizes de contençã o da crise, embora Bruxelas, na
Bélgica, seja considerada a capital da Uniã o Europeia, por abrigar seus principais ó rgã os
administrativos. Veja a foto abaixo.
Os principais críticos deste papel de vanguarda desempenhado pela Alemanha afirmam que o
país, além de representar cerca de 30% da produçã o econô mica do bloco, também pretende
determinar regras para conter crises, muitas das quais com severas consequências aos setores
sociais dos países europeus.
Tobias Schwarz/AFP
Angela Merkel, chanceler alemã , e Alexis Tsipras, primeiro-ministro grego, apó s conferência em Berlim, Alemanha,
onde discutiu-se um programa de reformas econô micas para a Grécia. Foto de 2015.
SAIBA MAIS
Os turcos na Alemanha
A Alemanha é um dos países europeus com maior proporçã o de imigrantes residentes em seu
territó rio, aproximadamente 9 milhõ es de estrangeiros, em 2015. Desse total, quase a metade é de
turcos. Berlim é considerada a maior cidade turca fora da Turquia. Essa forte presença tem uma
razã o histó rica que remonta ao fim do século XIX, quando Alemanha e Turquia mantiveram um
relacionamento bem pró ximo.
Apesar disso, grupos simpá ticos ao nazismo e contra a permanência dos estrangeiros na Alemanha,
como os skinheads (“carecas”), costumam perpetrar atos de violência contra os turcos, como
incendiar pontos comerciais dos imigrantes e, até mesmo, cometer assassinatos. De modo geral, os
habitantes de origem turca costumam ser menos bem-sucedidos profissionalmente: há muitos
desempregados, o nú mero de mulheres que nã o trabalham fora de casa é elevado e muitos
dependem da previdência social.
Na cidade de Berlim vivem cerca de 140 mil eleitores turcos. Na foto, família participa da eleiçã o presidencial da
Turquia em Berlim, Alemanha. Foto de 2014.
Leia
Cabeça de turco, de Gü nter Walraff. Sã o Paulo: Globo, 2006.
O livro narra a histó ria de um alemã o que se passa por turco para investigar o tratamento dado aos imigrantes nas
indú strias da Alemanha.
Pá gina 132
A partir dos anos 2000, teve início o processo de recuperaçã o da Rú ssia como potência com
projeçã o regional e mundial. Entre as estratégias utilizadas para essa recuperaçã o, estavam o
reaparelhamento das Forças Armadas e a reaproximaçã o com a China – uma mobilizaçã o de
forças políticas para fazer frente à hegemonia da Otan e dos Estados Unidos no continente
europeu.
Em 2009, uma intervençã o política e militar na Geó rgia e, em 2014, na Ucrâ nia, confirmaram a
intençã o da Rú ssia de manter sob sua ó rbita os países que no período da Guerra Fria estavam
sob sua tutela.
O conflito na Ucrânia
Em novembro de 2013, o cancelamento de um acordo econô mico com a Uniã o Europeia pelo
entã o presidente ucraniano Viktor Yanukovich, aliado do governo russo, deu origem a grandes
manifestaçõ es populares em Kiev, capital da Ucrâ nia.
Naquela ocasiã o, uma parcela da populaçã o favorá vel à aproximaçã o com a Uniã o Europeia
teve frustradas suas esperanças de um futuro ingresso ao bloco europeu.
O conflito entre civis e as forças de repressã o do governo resultou na morte de cerca de 100
pessoas, a maioria civis, e culminou na deposiçã o de Yanukovich.
A interferência militar e paramilitar russa no sul e leste do país promoveu um conflito interno
de grandes proporçõ es. Em março de 2014, um referendo aprovou a anexaçã o da península da
Crimeia ao territó rio russo, decisã o que não foi reconhecida pelo governo da Ucrâ nia e pelas
potências ocidentais.
O avanço russo sobre a Ucrâ nia pode ser explicado geopoliticamente. Além de servir como rota
de escoamento de petró leo e gá s provenientes da Rú ssia rumo aos países europeus, a Ucrâ nia e
outras antigas repú blicas soviéticas, como Geó rgia e Armênia, têm se aproximado da Otan e da
á rea de influência econô mica da Uniã o Europeia, abalando as pretensõ es de retomada da
hegemonia russa sobre o Leste Europeu.
Nesse contexto, a movimentaçã o russa foi interpretada pelos europeus e outros países
ocidentais como violaçã o do direito internacional e chegou a ser denunciada no Conselho de
Segurança da ONU. Como retaliaçã o pelo avanço russo em territó rio ucraniano, a Uniã o
Europeia e os Estados Unidos decidiram promover sançõ es econô micas e políticas à Rú ssia,
inclusive com sua exclusã o do G-8 (grupo dos oito países mais industrializados e
desenvolvidos economicamente do mundo).
João Miguel A. Moreira/ID/BR
Fonte de pesquisa: Le Monde Diplomatique. Disponível em: <http://mondediplo.com/maps/ukrainepivot>. Acesso em: 25 abr. 2016.
Pá gina 133
Grande parte das políticas de restriçã o à imigraçã o efetuada pelos países europeus responde
aos desejos de parte de sua populaçã o, que encara os imigrantes como uma ameaça à sua
identidade cultural, à oferta de empregos e à infraestrutura social.
Tem-se observado, nesta ú ltima década, que as políticas de imigraçã o nã o sã o neutras e que
boa parte dos recursos destinados à s regiõ es em desenvolvimento, sobretudo aos países mais
pobres da Á frica Subsaariana, tem como objetivo frear a imigraçã o para a Europa.
Africanos provenientes de antigas colô nias europeias, bem como latino-americanos e asiá ticos
do sul e do sudeste, compõ em um numeroso grupo de imigrantes ilegais que buscam fixar
residência em territó rio europeu. Os fluxos migrató rios sã o contínuos e tendem a permanecer
intensos, enquanto houver profundas diferenças socioeconô micas entre os países.
A crise migratória
Desde o início da segunda década do século XXI, instalou-se no mundo, e particularmente na
Europa, uma “crise de imigraçã o” que gerou um forte debate sobre como lidar com o elevado
nú mero de imigrantes e refugiados que chegam ao continente diariamente. Segundo
estimativas da Organizaçã o Internacional de Migraçã o, somente em 2015, mais de 1 milhã o de
pessoas chegaram à Europa em busca de refú gio ou de melhores condiçõ es de vida e trabalho.
Segundo dados da ONU, a maior parte dos imigrantes é composta de homens com idade entre
20 e 65 anos, que nã o trazem a família pelos perigos da viagem até a Europa.
Outro problema recente enfrentado pelo bloco está relacionado ao grande fluxo de refugiados
originá rios de regiõ es de conflito, como a Síria e o Afeganistã o. Anteriormente, a maior parte
dos refugiados provinha de á reas vizinhas, no Leste Europeu. Fugindo de guerras e
perseguiçõ es, muitos dos refugiados acreditam que, desembarcando em terras europeias,
encontrarã o melhores condiçõ es de vida e poderã o escolher onde vã o ficar.
As principais portas de entrada dos imigrantes e refugiados sã o Itá lia, Grécia, Croá cia e
Hungria, países mediterrâ neos ou que se encontram nos limites do Espaço Schengen. A
Alemanha, no entanto, é o destino mais procurado pelos solicitantes de asilo.
Em consequência direta dessas medidas, o direito de asilo e o simples direito humanitá rio de
ajuda à s pessoas vulnerá veis foram reduzidos, e e alguns países europeus, como a Bulgá ria e a
Hungria, aparecem aos olhos do mundo negando seus valores humanitá rios.
Assista
Mediterrânea. Direçã o de Jonas Carpignano, Itá lia/França/Estados Unidos/Alemanha/Catar, 2015, 107 min.
O filme conta a histó ria de dois imigrantes africanos que saem de seus países em busca de melhores condiçõ es de vida na
Europa.
Assim, o desemprego, a pobreza, o fracasso escolar, bem como a exclusã o política e financeira,
atingem em cheio as minorias étnicas, que acabam constituindo grupos socialmente
marginalizados e de menor poder aquisitivo na sociedade europeia.
Para esses imigrantes, integrar-se socialmente tem se tornado uma questã o fundamental para
sua permanência na Europa. Essa atitude, em muitos casos, permite aos imigrantes uma
convivência menos traumá tica com seus pares e com a sociedade local, já que o
multiculturalismo é proclamado como um valor em muitos países europeus.
A partir da década de 2000, apó s os ataques terroristas ao World Trade Center, em Nova York,
um grupo de imigrantes em especial tem sido tratado de forma discriminató ria. Trata-se dos
á rabes muçulmanos, que, embora numerosos, constituem uma minoria étnica de difícil
integraçã o à s sociedades locais.
A nã o aceitaçã o das culturas minoritá rias leva muitas vezes à formulaçã o de leis que
expressam claramente a intransigência da sociedade nacional. Em 2004, por exemplo, o
parlamento francês decretou a proibiçã o do uso do véu islâ mico nas escolas francesas. O véu
(hijab) é parte integrante da cultura muçulmana, assim como o niqab e a burca, vestimentas
femininas que cobrem todo o corpo e o rosto. O uso do véu, do niqab e da burca também foi
banido ou sofreu restriçõ es locais em outros países europeus, como Itá lia, Bélgica e Suíça.
Mike Kemp/In Pictures/Getty Images
Passeata favorá vel à recepçã o de refugiados em Londres, Reino Unido. Leem-se nas placas: “Refugiados, bem-vindos.
Abram as fronteiras. Lutem contra o racismo e a islamofobia”. Foto de 2016.
Pá gina 135
Costuma-se afirmar que terrorismo é um conjunto de atos de violência cometidos por uma
organizaçã o para criar um clima de insegurança e exercer uma chantagem sobre um governo
ou determinado grupo ou comunidade.
Neste início de século, já ocorreram na Europa diversos atos terroristas. Considerando o ano
de 2013, foram contabilizados cerca de 150 ataques terroristas, a grande maioria executados
por grupos separatistas ou grupos políticos de extrema direita. Desse total, uma pequena
parcela teve motivaçã o étnica ou religiosa.
Estudos realizados sobre os atos terroristas e os extremistas violentos mostram que a internet
e, em particular, as mídias sociais sã o ferramentas importantes para o planejamento, o
recrutamento, a instruçã o e a execuçã o dos ataques.
O afluxo de refugiados para o continente e o terrorismo estã o diretamente ligados a uma série
de crises geopolíticas em regiõ es vizinhas à Europa: a Primavera Á rabe, iniciada em 2011, que
resultou em guerras civis na Líbia e na Síria; as intervençõ es militares no Iraque e no
Afeganistã o; os conflitos no Chifre da Á frica e o aumento do terrorismo islâ mico no Oriente
Médio e no Sahel sã o alguns exemplos.
Homenagens às vítimas dos ataques terroristas que vitimaram 130 pessoas em Paris, França. Foto de 19 de
novembro de 2015.
AÇÃO E CIDADANIA
Esse atentado em Paris contribuiu para o aumento da islamofobia (ó dio aos muçulmanos) e da
xenofobia na Europa, vitimando principalmente os milhares de refugiados no continente europeu e
em outros países que também receberam pessoas que fugiram de guerras e perseguiçõ es.
1. Como você analisa o aumento da islamofobia e da xenofobia na Europa? Pesquise notícias sobre o
tema e discuta essa questã o com os colegas.
Pá gina 136
Mundo Hoje
As raízes do conflito na Ucrânia
A [...] crise na Ucrâ nia teve início oficial em fevereiro de 2014, quando manifestantes
invadiram a Praça Maidan na capital Kiev. Eles protestavam contra a decisã o do entã o
presidente Viktor Yanukovich de nã o assinar um acordo com a Uniã o Europeia (UE) no final de
2013. Como resultado, Yanukovich deixou a presidência e fugiu de Kiev um ano antes do
término de seu mandato. Com o vá cuo de poder criado pela situaçã o, a Rú ssia passou a
interferir mais ativamente no país. O posicionamento russo (incluindo a anexaçã o da regiã o da
Crimeia) desencadeou um dos mais sérios conflitos [...] no Leste Europeu. [...] a guerra levanta
questõ es sobre as reais causas das tensõ es, as implicaçõ es na dinâ mica de poder da regiã o e
possíveis caminhos a serem trilhados pela Ucrâ nia em um futuro pró ximo.
Em novembro de 2013, a Ucrâ nia encontrava-se à beira de uma forte crise econô mica e o
presidente Yanukovich enfrentava um dilema: firmar um acordo com a UE ou aceitar um
empréstimo de cerca de US$ 15 bilhõ es da Rú ssia. A aproximaçã o com a Rú ssia sinalizaria uma
movimentaçã o para formar a chamada Uniã o Eurá sia, integrada por Rú ssia, Cazaquistã o e
Bielorrú ssia. O acordo com a UE, por sua vez, extrapolava o â mbito comercial, partindo do
pressuposto de que a Ucrâ nia aderiria também a princípios e valores políticos do bloco
europeu [...]. O entã o presidente, cujas alianças políticas eram pró -Rú ssia, nã o aderiu ao acordo
com a UE, acirrando divisõ es preexistentes dentro do país.
Para entender melhor o porquê da recusa de Yanukovich, é preciso olhar para a histó ria do
país, desde sua separaçã o da Uniã o Soviética (URSS) em 1991. Pode-se afirmar que a opiniã o
pú blica na Ucrâ nia é extremamente dividida em relaçã o a alianças políticas e econô micas.
Fatores que influenciam essas divisõ es sã o as diferentes etnias, idiomas, religiõ es, identidades
histó ricas e aspectos culturais.
O oeste do país juntou-se ao que hoje é a Ucrâ nia em 1940, apó s dois séculos sob domínio do
Império Austro-Hú ngaro e, por um período, da Polô nia. Nesta regiã o, o idioma predominante é
o ucraniano, a religiã o é cató lica grega e, devido a forte influência do ocidente, a populaçã o é
majoritariamente pró -integraçã o com a Uniã o Europeia. Por outro lado, as regiõ es leste e sul
integraram o país imediatamente apó s a guerra civil russa, em 1920. Nestas regiõ es o principal
idioma é o russo e as inclinaçõ es políticas da populaçã o estã o aliadas à s da Rú ssia.
A Ucrâ nia passou a existir de fato como Estado apó s 1991, quando a populaçã o votou em um
plebiscito que tornou o país independente do bloco soviético. [...]. Apó s a independência, houve
uma série de crises políticas e econô micas, cujos principais motivos foram as divisõ es internas,
como afirma Eugene B. Rumer, diretor do Programa de Rú ssia e Eurá sia do Carnegie
Endowment for International Peace.
Rumer argumenta que a antiga elite oligá rquica dominante na política desde a época da URSS
não foi removida com a independência, tendo sido apenas substituída majoritariamente por
uma nova geraçã o que, apesar de ter assumido a bandeira de nacionalista, ainda defendia os
interesses soviéticos. Segundo o autor, os líderes do Rukh – um dos mais importantes
movimentos nacionalistas do país – não buscaram criar um partido de oposiçã o ao do entã o
presidente Kravchuk. Como resultado, as antigas elites permaneceram no poder e reformas
necessá rias nã o ocorreram, levando à forte estagnaçã o da economia do país. A instabilidade
econô mica e a consequente crise agravaram ainda mais as disputas entre as regiõ es.
Observando a histó ria e a formaçã o do país, é possível afirmar que a disputa entre as regiõ es
faz parte de um questionamento muito maior sobre o que é de fato a Ucrâ nia. Rumer
argumenta que, sem uma histó ria mais densa de soberania, identidade nacional e noçã o de
Estado, ambas as regiõ es leste e oeste possuem legitimidade para tentar definir a agenda
doméstica e externa do país. [...]
As raízes do conflito na Ucrânia. Carta Capital. Politike, 1º abr. 2015. Disponível em: <http://politike.cartacapital.com.br/as-raizes-
do-conflito-na-ucrania>. Acesso em: 25 abr. 2016.
Vasily Fedosenko/REUTERS/Latinstock
Praça da Independência (Maidan), em Kiev, Ucrâ nia, durante os conflitos entre a populaçã o e a polícia sob o comando
de Yanukovich. Foto de 20 de fevereiro de 2014.
PARA ELABORAR
1. Com base nas informaçõ es apresentadas no texto, crie uma lista indicando as principais
questõ es que opõ em diferentes setores da populaçã o ucraniana.
Pá gina 137
Informe
Crise dos refugiados testa a União Europeia
Existem hoje, em todo o mundo, 19,5 milhõ es de refugiados, que escaparam de guerras civis,
genocídios, colapso de Estados ou perseguiçõ es a segmentos políticos ou minorias religiosas.
Nã o devem ser confundidos com os 40 milhõ es de migrantes por razõ es econô micas [...].
Sã o dados do Alto Comissariado das Naçõ es Unidas para Refugiados (Acnur). Segundo a
agência, com a atual crise, de janeiro a agosto deste ano [2015], bem mais de 300 mil pessoas
cruzaram algum pedaço do Mediterrâ neo – 200 mil na direçã o da Grécia, 110 mil na da Itá lia. E
o mais dramá tico: 2,5 mil deixaram seus países de origem à s pressas, mas nã o chegaram ao
destino. Morreram com o naufrá gio das embarcaçõ es precá rias que os transportavam. [...]
A Alemanha, com a economia mais dinâ mica da Uniã o Europeia, revê para cima suas previsõ es
de acolhimento. Contava receber neste ano 400 mil imigrantes e refugiados. Já subiu o nú mero
para 750 mil. [...]
Podemos nos perguntar qual a reaçã o mais típica dos europeus “invadidos” por essa massa de
infelizes. Há , de um lado, grupos de cidadezinhas da Á ustria e da Alemanha que cercaram e
aplaudem trens e ô nibus para oferecer aos recém-chegados flores, alimentos, agasalhos e
brinquedos. Mas há, de outro lado, a Hungria, que ameaçou de fechamento da fronteira com a
Sérvia, levantando um muro de 175 quilô metros, ou a Bulgá ria, que deslocou o exército para
tentar impedir a entrada de refugiados vindos da Grécia. E há sobretudo os partidos de
extrema direita, assanhados na França, Grã -Bretanha, Á ustria e Holanda, refletindo o temor de
que os refugiados muçulmanos ameacem culturalmente suas nacionalidades basicamente
brancas e cristã s.
Por mais paradoxal que pareça, em termos demográ ficos, o fluxo de refugiados é bem menos
um problema e bem mais uma soluçã o. A Europa experimenta um declínio acentuado de suas
taxas de natalidade. As mulheres têm menos de dois filhos, e, com isso, nã o há reposiçã o de
populaçã o. Os imigrantes – e, entre eles, os refugiados – garantem que na pró xima geraçã o as
economias nã o entrem em recuo e percam espaço global para a Á sia ou a Á frica, onde as
populaçõ es continuam a crescer.
No entanto, quanto aos atuais refugiados, a questã o que se coloca de imediato é também outra:
qual é a responsabilidade da Europa nessa maré humana que bate à s suas portas?
A maneira mais tosca de responder consiste em dizer que os refugiados partem de antigos
territó rios coloniais para escapar de problemas semeados no passado pelas antigas
metró poles. A crise seria, assim, mais um subproduto tardio do colonialismo ocidental.
Mas na outra ponta geográ fica desse drama humanitá rio existem os conflitos espalhados pelo
mundo muçulmano.
NATALI, Joã o Batista. Crise dos refugiados testa a Uniã o Europeia. Mundo: Geografia e Política Internacional, ano 23, n. 6, p. 6-7, out.
2015.
Denis Charlet/AFP
Campo de refugiados em Dunquerque, França. Foto de 2016. Os abrigos foram construídos por uma ONG, em
associaçã o com a prefeitura local, sem apoio do governo federal francês.
PARA DISCUTIR
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
2. Quais potências disputam a hegemonia sobre os países do Leste Europeu? Justifique sua
resposta com exemplos.
4. Quais países europeus se destacam como receptores de fluxos migrató rios? Explique sua
resposta considerando os aspectos territoriais dos países mencionados.
Adilson Secco/ID/BR
a) Aponte as diferenças entre os grupos que desembarcaram por via marítima na Grécia e na
Itá lia no primeiro semestre de 2015.
b) Considerando as informaçõ es do grá fico e o que você estudou neste capítulo, onde deve ter
ocorrido maior desembarque de pessoas em busca de refú gio nos países europeus?
c) No caderno, comente a situaçã o de imigrantes e de refugiados em relaçã o aos países de
destino. Quais sã o as dificuldades enfrentadas por esses grupos?
8. Escreva, no caderno, uma breve aná lise sobre as informaçõ es apresentadas no grá fico a
seguir. Identifique os períodos com maiores afluxos de refugiados para os países da Uniã o
Europeia e, se preciso, retome os conteú dos estudados em capítulos anteriores para justificar
sua resposta.
Adilson Secco/ID/BR
Fonte de pesquisa: Les décodeurs, Le Monde.fr, 4 set. 2015. Disponível em: <http://www.lemonde.fr/les-
decodeurs/article/2015/09/04/comprendre-la-crise-des-migrants-en-europe-en-cartes-graphiques-
etvideos_4745981_4355770.html>. Acesso em: 26 abr. 2016.
Fonte de pesquisa: BBC, 4 mar. 2016. Disponível em: <http://www.bbc.com/news/world-europe-34131911>. Acesso em: 26 abr.
2016.
Pá gina 139
a) Quais países da Uniã o Europeia se destacaram como destinatá rios dos pedidos de asilo em
2015?
b) Discuta com os colegas os motivos que levam os solicitantes a buscar refú gio nos países
mencionados na resposta do item anterior.
c) Faça uma pesquisa em jornais, revistas e sites e comente as medidas tomadas pelos países
europeus em relaçã o à chamada “crise migrató ria”.
Entre os países mais desiguais do continente estã o os bálticos, os latinos – a Espanha ocupa o
segundo lugar e, entre os 28 países, também apresenta a segunda maior taxa de aumento da
desigualdade – e os do Leste Europeu, juntamente com os anglo-saxõ es Reino Unido e Irlanda. Os
menos desiguais estã o na Europa Central que, em alguns casos, como Alemanha e Holanda,
aproveitaram a crise para reduzir a distâ ncia entre ricos e pobres.
PEREZ, Claudi. A desigualdade corró i o projeto europeu. El País, 6 jan. 2014. Disponível em:
<http://brasil.elpais.com/brasil/2014/01/05/economia/1388953809_021102.html>. Acesso em: 14 fev. 2016.
Países bálticos: Lituâ nia, Letô nia e Estô nia; países banhados pelo mar Bá ltico e localizados no nordeste do continente
europeu.
a) Explique o que seria o “projeto europeu” mencionado no texto. Em seguida, diga se você
concorda com o título da reportagem.
b) Analise a localizaçã o dos países mais desiguais do bloco. Essa distribuiçã o espacial é
histó rica ou tem sido produzida recentemente, no contexto da crise econô mica desencadeada
em 2008? Explique.
11. Leia o texto e observe a imagem. Em seguida, escreva um texto apontando os principais
problemas que envolvem as imigraçõ es ilegais na Europa, tanto do ponto de vista dos
imigrantes quanto dos países que os recebem.
Eram por volta das 23h quando, na escuridã o do mar, começaram a tomar forma diante dos olhos
de André Jonsen centenas de famílias suplicando que lhes tirassem daquele barco sem combustível
e à deriva no meio do temporal.
– Muitos estavam em jaulas de animais. Havia gente desidratada. Outros tremiam de frio.
O navio Ezadeen, interceptado em janeiro em alto-mar com quase 500 pessoas a bordo, foi o
terceiro barco fantasma que o marinheiro islandês viu desde dezembro.
A técnica de abordagem ele conhece muito bem, mas enfrentar cara a cara o desespero extremo é
uma novidade.
CARBAJOSA, Ana. Barcos fantasmas com imigrantes: um problema à deriva no Mediterrâ neo. O Globo, 16 fev. 2015. Disponível em:
<http://oglobo.globo.com/mundo/barcos-fantasmas-com-imigrantes-um-problemaderiva-no-mediterraneo-15343348>. Acesso
em: 13 fev. 2016.
Resgate de imigrantes no mar Mediterrâ neo. Para chegar à Europa, muitos imigrantes se submetem a viagens
arriscadas, em que enfrentam desidrataçã o e o risco de naufrá gio. Foto de 2016.
12. Analise a charge a seguir. Depois, no caderno, descreva o conteú do da imagem e resuma o
tema abordado.
CAPÍTULO 10 África
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
A Á frica no mundo globalizado.
Conflitos é tnicos no continente.
O papel da China no continente africano.
Darko Vrcan/Shutterstock.com/ID/BR
Para a Á frica, o século XXI começou com mudanças positivas na economia e na política. O crescimento
econô mico de muitos países da Á frica Subsaariana – porção do continente situada ao sul do Saara – tem se
mantido acima dos 5% ao ano desde o início dos anos 2000, e as eleiçõ es se multiplicaram, embora a
democracia ainda seja um objetivo longínquo para muitos países africanos que se encontram sob regimes
ditatoriais.
Diversos projetos do Banco Mundial têm sido propostos para minimizar problemas que afetam a populaçã o e a
economia dos países africanos. Entre esses projetos, estã o a recuperação de terras degradadas no Senegal,
programas de melhoria na merenda escolar na Costa do Marfim e o apoio à produção agrícola de Moçambique,
entre 2014 e 2015.
As variaçõ es no preço do petró leo também têm consequências sobre as economias africanas. O alto preço do
produto observado até 2014 também promoveu o crescimento econô mico na Á frica. Os países exportadores de
petró leo abrangem cerca de 30% da população do continente. Um processo de crescimento semelhante
ocorreu com os países exportadores de minérios, como cobre e ouro.
Esse crescimento ainda nã o foi suficiente para promover a ascensão social da população. Isso ocorre em parte
porque as riquezas minerais estimulam, além do crescimento econô mico, a corrupçã o, as desigualdades sociais
e os conflitos. Tal contradiçã o manifesta-se no crescimento urbano de cidades como Dacar (Senegal), Lagos
(Nigéria) ou Nairó bi (Quênia), nas quais a valorizaçã o imobiliá ria vem acompanhada de um crescente processo
de favelizaçã o.
2. Discuta com mais um colega como a ajuda de ó rgã os internacionais pode afetar o crescimento
socioeconô mico dos países africanos.
Pá gina 141
A África e a globalização
Há sobre o continente pressõ es neoliberais, que exigem mudanças nas políticas econô micas.
Em 2005, o G-8 condicionou o perdã o das dívidas externas de 18 países à privatizaçã o de
empresas estatais.
O crescimento econô mico, em um contexto de alta das commodities, nã o foi capaz de reduzir as
desigualdades sociais e dificultou o acesso a alimentos.
As fortes elevaçõ es nos preços do petró leo e dos alimentos fomentaram crises no setor
alimentar. Entre 2005 e 2007, a tonelada de trigo passou de 150 para 370 dó lares, e o preço do
arroz dobrou em 2008.
Os produtos alimentícios têm enorme peso nas importaçõ es de muitos países africanos, o que
gerou grandes déficits em suas balanças comerciais (ou seja, o valor das importaçõ es superou
o das exportaçõ es). Em países como Etió pia, Zimbá bue, Quênia e Senegal, houve aumentos
expressivos no preço dos alimentos, o que agravou o problema da fome.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. Sã o Paulo: Moderna, 2013. p. 82.
Na foto, área de produçã o de gás liquefeito de uma subsidiá ria multinacional do ramo petrolífero em ilha de Bonny,
Nigéria, 2013.
SAIBA MAIS
A Petrobras está presente em quatro países africanos: Angola (desde 1979), Nigéria (desde 1998),
Tanzâ nia (desde 2004) e Líbia (desde 2005).
Sua empresa subsidiá ria, a Petrobras Biocombustível, também estuda investimentos na á rea dos
biocombustíveis na Á frica, principalmente para a produçã o de etanol.
Grandes empresas brasileiras de mineraçã o estã o presentes em países como Á frica do Sul, Guiné,
Angola e Moçambique.
Outro setor que marca presença é o da construçã o civil, desenvolvendo obras de infraestrutura em
vá rios países.
Desde 2006, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuá ria (Embrapa) mantém escritó rio em Gana
para desenvolver cooperaçã o científica e tecnoló gica no setor agrícola na Á frica Subsaariana.
Navegue
Nova África
O site apresenta uma sé rie de vídeos que retratam aspectos culturais, econô micos e políticos dos países africanos na
atualidade. Disponível em: <http://linkte.me/nafrica>. Acesso em: 29 abr. 2016.
Pá gina 142
O espaço africano foi estruturado para atender à s necessidades externas desde o período de
colonizaçã o. Entre os séculos XVI e XIX, o continente foi ocupado por europeus, que
permaneceram principalmente na faixa do litoral atlâ ntico.
Grande parte das dificuldades de desenvolvimento da Á frica tem origem geopolítica. Muitos
países apresentam graves tensões étnicas decorrentes da convivência forçada de diferentes
culturas e de rivalidades histó ricas. A origem dessas tensõ es foi a delimitaçã o defronteiras
artificiais pelos colonizadores europeus. Algumas delas fragmentaram grupos que
constituíam uma unidade étnica; outras reuniram no mesmo territó rio grupos étnicos
inimigos.
O papel devastador da corrupçã o pode ser exemplificado com o caso da Libéria, país que viveu
uma intensa guerra civil entre 1989 e 2003. A exportaçã o de diamantes serviu para o
enriquecimento ilícito de integrantes do governo e para o financiamento dos conflitos. Por esse
motivo, em 2001, a atividade sofreu um embargo imposto pelo Conselho de Segurança da
ONU.
Outro recurso natural que é alvo de disputas é a água, que apresenta distribuiçã o
extremamente desigual no continente. Enquanto a Repú blica Democrá tica do Congo dispõ e de
25% dos recursos hídricos africanos, a Mauritâ nia dispõ e de apenas 0,001%.
No norte africano, as á guas do Nilo, entre o Sudã o e os outros países da bacia, têm sido
permanente motivo de tensã o. Desde a independência, em 1956, os sudaneses reclamam a
renegociaçã o de um tratado de 1929, que garantia ao Egito, à época protetorado inglês, maior
disponibilidade da á gua do Nilo. Em 1959, outro acordo diminuiu as tensõ es entre o Sudã o e o
Egito, mas ignorou os demais países da bacia do Nilo. Assim, criou novos pontos de atrito com
outros países da regiã o, como a Etió pia, que têm projetos de uso das á guas do Nilo.
Entre outros motivos de conflito no continente, podem ser lembradas ainda a globalização e a
liberalização das trocas comerciais. Em certos países, esses processos reduzem as
exportaçõ es e, em consequência, a capacidade de manter o aparelho de Estado (funcionalismo,
Forças Armadas, etc.), gerando sérias questõ es internas.
Leia
África e Brasil africano, de Marina de Mello e Souza. Sã o Paulo: Á tica, 2013.
Livro que aborda, entre outros assuntos, a histó ria do continente africano, seus aspectos geográ ficos, como se dividiam as
sociedades africanas (das mais simples à s mais complexas), a escravidã o no Brasil e o negro na atual sociedade brasileira.
Pá gina 143
Ruanda e Burundi
Em 1994, ocorreu em Ruanda um dos mais graves genocídios da histó ria recente da Á frica.
Dois grupos étnicos, os hutus e os tútsis, entraram em confronto. Apó s a independência de
Ruanda, em 1962, os tú tsis foram vítimas de atrocidades cometidas pelos hutus que
assumiram o poder.
Os conflitos internos duraram cerca de vinte anos e vitimaram entre 800 mil e 1 milhã o de
pessoas, sobretudo da etnia tú tsi. Durante os conflitos, um grande contingente de tú tsis e hutus
migrou para países vizinhos, como Uganda e Zaire (atual Repú blica Democrá tica do Congo).
O conflito nesse país já deixou mais de 5 milhõ es de mortos e continuou provocando mortes
apó s 2003, quando foi dado como finalizado. A instabilidade está associada ao genocídio
ocorrido em Ruanda, em 1994, quando muitos grupos armados hutus, responsá veis pelo
genocídio, exilaram-se na Repú blica Democrá tica do Congo, onde formaram grandes campos
de refugiados e promoveram ataques à s comunidades locais em busca de terras e de alimentos.
No entanto, além das questõ es étnicas e políticas, o fator econô mico é relevante, pois a parte
oriental do país abriga uma grande concentraçã o de minérios, e o controle dos recursos
naturais no país também é alvo de disputas.
Darfur
O conflito de Darfur, no Sudã o, que teve início em 2003, já fez mais de 300 mil vítimas e 2,7
milhõ es de refugiados e deslocados internos. O conflito opõ e grupos rebeldes à s forças do
governo do Sudã o e à s milícias Janjaweed. Essas milícias sã o grupos de paramilitares
formados por nô mades recrutados, armados, treinados e apoiados pelo governo do Sudã o. Sua
açã o tem se caracterizado pela extrema violência, sobretudo contra as mulheres.
Nesse conflito, estã o em jogo vá rios interesses, entre os quais os problemas fundiá rios – que
opõ em criadores de gado de origem á rabe e agricultores de outras etnias – e a partilha das
concessõ es de exploraçã o de petró leo no sul do país e na regiã o de Darfur. Veja o mapa abaixo.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: Le Monde Diplomatique. L’ Atlas 2010. Paris: Armand Colin, 2009. p. 160.
Em 2008, tropas de paz da Uniã o Africana (UA) e da ONU se instalaram na regiã o de Darfur,
onde milhõ es de refugiados vivem em condiçõ es sub-humanas.
Assista
Diamante de sangue. Direçã o de Edward Zwick, Estados Unidos, 2006, 143 min.
Ambientado em Serra Leoa, durante o período da guerra civil (1991-2002), o filme relata a procura por um valioso
diamante, acompanhando os conflitos em curso.
Mulheres africanas – a rede invisível. Direçã o de Carlos Nascimbeni, Brasil, 2012, 80 min.
O documentá rio retrata a condiçã o de cinco mulheres em diferentes países da Á frica, por meio de entrevistas.
Pá gina 144
Sudão do Sul
O Sudã o do Sul é o mais novo país africano. Em 2011, realizou-se um referendo para a
populaçã o da porçã o sul decidir entre sua permanência no Sudã o ou a formaçã o de um novo
país. Com expressivos 98% favorá veis à independência, o Sudã o do Sul transformou-se em
nova naçã o, sendo logo aceito como membro da ONU e da Uniã o Africana.
Apesar das grandes reservas de petró leo, o Sudã o do Sul enfrenta sérios problemas
socioeconô micos: elevada mortalidade infantil, analfabetismo e pouquíssima infraestrutura
médico-sanitá ria.
África do Sul
Embora tenham se passado quase três décadas do fim do apartheid, ainda se observam na
Á frica do Sul enormes diferenças socioeconô micas entre brancos e negros. Cerca de 31% dos
53 milhõ es de habitantes vivem com menos de 2 dó lares por dia e, em 2014, o país tinha uma
taxa de desemprego da ordem de 25%, atingindo principalmente a populaçã o negra.
A Á frica do Sul, graças ao crescimento econô mico da ú ltima década, é considerada um país em
desenvolvimento e o de maior expressã o no continente africano.
Nigéria
A Nigéria, país mais populoso da Á frica, foi colonizada por ingleses e se tornou independente
em 1960. Desde entã o, passa por instabilidades políticas.
O país tem sua economia fortemente baseada na exploraçã o de petró leo. Em 2013, ultrapassou
a economia da Á frica do Sul, até entã o, detentora do maior PIB do continente. Seu territó rio é
habitado por cerca de 500 grupos étnicos. As religiõ es cristã s predominam na porçã o sul, e os
muçulmanos estã o concentrados no norte. Nessa regiã o formou-se, em 2002, o grupo Boko
Haram.
Jihadista: pessoa ou grupo de religiã o muçulmana que defende a luta violenta como forma de instauraçã o de leis islâ micas
tradicionais.
O Boko Haram professa um islamismo rigoroso inspirado nos talibã s afegã os e se associa à s
teses jihadistas da Al-Qaeda e do Isis. Em 2014, o grupo sequestrou mais de 200 meninas e
jovens de uma escola como parte de uma campanha contra a educaçã o cristã ocidental. O
sequestro mobilizou a opiniã o pú blica internacional contra a organizaçã o, que apoia
abertamente o terrorismo contra civis e usa meios violentos e coercitivos para atingir seus
objetivos político-religiosos. No início de 2015, o Boko Haram associou-se ao Isis.
Assista
Invictus. Direçã o de Clint Eastwood, Estados Unidos, 2009, 135 min.
O presidente Nelson Mandela vê a possibilidade de reduzir as diferenças é tnicas do apartheid por meio do esporte: na Copa
do Mundo de rú gbi, incentiva a seleçã o nacional a ser campeã .
Na Á frica Subsaariana, encontra-se o maior nú mero de pessoas contaminadas com o vírus HIV no
mundo. A Á frica do Sul, com 12% da populaçã o infectada, é um dos países que, a exemplo do Brasil,
se valem da quebra de patentes para produzir medicamentos a baixo custo para o controle da
doença. Tem-se observado a reduçã o do nú mero de mortes em decorrência da aids na Á frica.
Segundo a ONU, em 2005 ocorreram 2,2 milhõ es de ó bitos e, em 2013, o nú mero diminuiu para 1,1
milhã o de mortes.
1. Em grupos, façam uma pesquisa sobre os efeitos da quebra de patentes de remédios e discutam
as consequências desse fato para o avanço do tratamento da aids em diferentes países.
Pá gina 145
A Primavera Árabe
Recebeu esse nome o conjunto de movimentos populares que se iniciaram no norte da Á frica
em dezembro de 2010. A expressã o faz referência à Primavera de Praga, movimento de
reformas democrá ticas ocorrido em 1968 na entã o Tchecoslová quia.
Os movimentos chegaram à Líbia, onde Muammar Kadhafi se manteve no poder por quatro
décadas. Ocorreu uma violenta guerra civil entre as forças aliadas ao ditador e os rebeldes,
apoiados por forças internacionais. Os conflitos cessaram apó s oito meses, com a morte de
Kadhafi.
Em comum, esses movimentos tiveram como causas sociais: a falta de liberdades individuais e
pú blicas, o desemprego, a corrupçã o, a pobreza, e o desejo de substituir os governos
despó ticos por democracias.
As manifestaçõ es da Primavera Á rabe fizeram uso das novas tecnologias, como o celular e a
internet, utilizando-se das redes sociais para sensibilizar e convocar a populaçã o a participar,
além de informar a comunidade internacional dos acontecimentos e da repressã o que os
manifestantes sofriam.
O Saara Ocidental
A regiã o foi colonizada pelos espanhó is desde 1884. Em 1975, a Espanha desocupou a regiã o,
deixando para trá s um país sem infraestrutura, com muitas carências e taxa de analfabetismo
de 90%.
Mohammed Abed/AFP
No Egito e na Líbia, longos regimes ditatoriais foram sucedidos por grupos militares que frustraram as esperanças
das manifestaçõ es da Primavera Á rabe por avanços democrá ticos nesses países. Na foto, protesto na Praça Tahir,
Cairo, Egito, em 2011.
Pá gina 146
Na época da Guerra Fria, sobretudo nas décadas de 1960 e 1970, a China apoiou vá rios
movimentos de libertaçã o e vendeu armamento para países recém-independentes da Á frica.
Essa maneira de atuar coloca a China em uma posiçã o estratégica, pois ela se consolida como
um dos países com maior acesso à s riquezas africanas. Como efeito desse processo, as trocas
comerciais entre as duas partes passaram de 9 bilhõ es de dó lares em 2001 para 172 bilhõ es
em 2013, segundo dados do Banco Mundial.
O setor da construçã o civil chinês é um dos mais atuantes na Á frica. Os chineses têm investido
na construçã o de rodovias e ferrovias que ligam as á reas de extraçã o mineral aos portos.
Além da construçã o civil, alguns setores em especial têm sido priorizados pelos chineses. Um
deles é o de geraçã o de energia, principalmente hidreletricidade, em razã o da existência de
rios favorá veis à construçã o de usinas hidrelétricas em países africanos. Os chineses também
investiram na construçã o de usinas termelétricas no Sudã o e no Sudã o do Sul, aproveitando
o petró leo extraído nesses países.
É importante observar que, como o interesse chinês está bastante ligado ao incremento dos
setores produtivos, os financiamentos voltados à captaçã o e ao tratamento de á gua potá vel ou
a outras infraestruturas sociais, quando existem, sã o muito reduzidos.
Allmaps/ID/BR
Fontes de pesquisa: REKACEWICZ, Philippe. Pour une nouvelle géopolitique africaine. Le Monde Diplomatique. Disponível em:
<http://www.monde-diplomatique.fr/cartes/frontieresafrique>. Acesso em: 6 maio 2015; BONIFACE, Pascal. L’année stratégique 2009.
Paris: Dallos, 2008.
Pá gina 147
Também há críticas em relaçã o aos empréstimos bancá rios chineses, que contrariam a
tendência traçada pelos bancos internacionais de perdoar dívidas de países africanos mediante
reformas em suas políticas sociais. Para os críticos, os empréstimos chineses favorecem os
governos corruptos e a ampliaçã o das dívidas externas dos países mais carentes.
Jenny Vaughan/AFP
Muitos empresá rios africanos também fazem críticas à presença chinesa, com sua agressiva
política de exportaçã o de produtos baratos, que inundam os mercados africanos e acabam por
desestruturar as indú strias de bens de consumo locais, fato que resulta em maiordesemprego.
Leia
A força de Bedirya, de Gé rard Dhotel. Sã o Paulo: SM, 2007.
A narrativa ficcional é centrada na vida de uma menina, Bedirya, que mora em uma aldeia na Eritreia, país africano quase
destruído pela guerra contra a Etió pia e pela seca devastadora, e onde existe muita violê ncia contra as mulheres.
Assista
Batalha de Argel. Direçã o de Gillo Pontecorvo, Argé lia/ Itá lia, 1965, 117 min.
Um dos mais contundentes filmes sobre as lutas de independê ncia na Á frica, o documentá rio aborda a luta pela
independê ncia da Argé lia.
SAIBA MAIS
A União Africana
Em 1963, foi criada a Organizaçã o da Unidade Africana (OUA), que tinha como princípios eliminar
os ú ltimos traços do colonialismo e reforçar a unidade entre os 32 países africanos que faziam parte
da organizaçã o. Em 2002, a OUA foi substituída pela Uniã o Africana (UA), que atualmente congrega
53 países. Somente o Marrocos nã o faz parte da UA.
Entre os objetivos da Uniã o Africana, estã o a defesa da soberania dos países-membros, a aceleraçã o
das políticas de integraçã o socioeconô micas, a cooperaçã o internacional e a promoçã o da paz, da
segurança e da estabilidade no continente.
Pan Siwei/NurPhoto/AFP
Mundo Hoje
Em Ruanda, mulheres são maioria no Parlamento
[...] [Ruanda] ostenta o título de possuir o Parlamento mais feminino do planeta: 63,8% da
câ mara baixa de Ruanda é composta por mulheres. Já no Senado, elas ocupam quase 40% das
vagas.
No segundo lugar da lista, está a Bolívia, com 53% dos assentos. Logo atrá s, vêm Andorra, com
50%, e Cuba, com 49%.
Desconsiderando açõ es afirmativas, o primeiro lugar ficaria com a Suécia, que tem 44% dos
assentos ocupados por mulheres.
No mundo todo, de acordo com a ONU Mulheres, há 37 países onde as mulheres ocupam
menos de 10% dos assentos parlamentares. [...] Segundo dados de setembro deste ano [2015],
o Brasil ocupa o nú mero 118 na lista, com 9,9% de participaçã o feminina na Câ mara e 16% no
Senado. De acordo com a ONU Mulheres, uma maior representaçã o feminina no Estado faz,
sim, muita diferença.
O Banco Mundial afirma que, em termos globais, as mulheres ocupam cerca de 20% dos
assentos parlamentares.
Além disso, o genocídio também mudou o papel das mulheres na sociedade de Ruanda: dois
anos depois das mortes, cerca de 70% da populaçã o adulta do país era composta por mulheres.
Nesse contexto, elas assumiram papéis de liderança, tanto em termos econô micos quanto
sociais.
[...] Até o genocídio, que vitimou 800 mil pessoas (um décimo da populaçã o), em 1994, as
mulheres nunca haviam ocupado mais de 18% dos assentos no Parlamento.
Apó s as mortes, milhares delas ficaram viú vas e tiveram que criar seus filhos sozinhas, sem
nenhuma presença masculina. Muitos desses homens, criados pelas mã es viú vas, violentadas
ou soropositivas (infectadas em estupros), ocupam hoje importantes cargos políticos e lutam
por uma sociedade mais inclusiva. [...]
[...] a expectativa de vida no país aumentou dez anos na ú ltima década e um programa de
educaçã o compulsó ria fez que meninos e meninas tivessem a mesma presença nas escolas
primá rias e secundá rias do país. [...]
BAZZO, Gabriela. Como o parlamento em Ruanda se tornou o mais feminino do mundo. Huffpost Brasil, 11 nov. 2015. Disponível em:
<http://www.brasilpost.com.br/2015/11/11/mulheres-parlamentares-mu_n_8340686.html>. Acesso em: 2 maio 2016.
PARA ELABORAR
Informe
A educação tradicional na África
[...]
O fato de nã o possuir uma escrita não priva a Á frica de ter um passado e um conhecimento. [...]
O conhecimento africano é imenso, variado. Concerne a todos os aspectos da vida. [...] Podemos
falar, portanto, de uma “ciência da vida”: a vida sendo concebida como uma unidade onde tudo
está interligado, interdependente e interagindo.
Na Á frica, tudo é “Histó ria”. A grande Histó ria da vida comporta seçõ es que serã o, por
exemplo: a histó ria das terras e das á guas (a geografia), a histó ria dos vegetais (a botâ nica e a
farmacopeia), a histó ria dos “filhos do seio da terra” (a mineralogia), a histó ria dos astros
(astronomia, astrologia), etc. [...]
Mas a maior de todas as “histó rias”, a mais desenvolvida, a mais significativa, é a histó ria do ser
humano [...]
A histó ria do ser humano compreende, de um lado, os grandes mitos da criaçã o do homem e de
sua apariçã o sobre a terra, com o significado do lugar que ele ocupa no seio do universo, o
papel que ali ele deve desempenhar [...] e sua relaçã o com as forças de vida que o rodeiam e
que o habitam. Compreende, por outro lado, a histó ria dos grandes ancestrais. [...]
[Foi] a época na qual se impedia as crianças de falar sua língua materna, com o propó sito de
afastá -las das influências tradicionais. Isso chegou a tal ponto que, na escola, a criança que
fosse surpreendida falando sua língua materna recebia pendurado no pescoço um quadro
chamado “símbolo”, no qual estava desenhada uma cabeça de burro, e ficava privada do
almoço [...]
Enquanto o colonialismo, com efeito, suscitava reservas e penetrava pouco no campo, estas
mesmas ideias europeias, veiculadas por partidos políticos modernos, mobilizaram massas até
o mais recô ndito vilarejo, de tal maneira que a transmissã o quase nã o encontra mais terreno
onde possa ser exercida.
Numa época em que diversos países do mundo, por intermédio da Unesco, consagram recursos
financeiros e esforços materiais para salvar os grandes monumentos histó ricos ameaçados,
não seria ainda mais urgente salvar o prodigioso capital de conhecimentos e de cultura
humana acumulado, ao longo de milênios, nesses frá geis monumentos que sã o os homens, e do
qual os ú ltimos depositá rios estã o desaparecendo? [...]
BÂ, Amadou Hampâ té. A educação tradicional na África. Disponível em: <http://www.casadasafricas.org.br/wp/wp-
content/uploads/2011/08/A-educacao-tradicional-na-Africa.pdf>. Acesso em: 10 maio 2016.
Gideon Mendel/Corbis/Fotoarena
Crianças ao redor da fogueira prestam atençã o à histó ria que uma mulher lhes conta. Mahwanke, Zimbá bue. Foto de
1994.
PARA DISCUTIR
1. Com base no texto, avalie a importâ ncia da transmissã o oral como fonte de conhecimento e
aprendizagem para os povos africanos.
2. Explique em que medida o colonialismo europeu interferiu na histó ria e na cultura das
populaçõ es africanas.
3. Com base em seus conhecimentos, responda à pergunta formulada no ú ltimo pará grafo do
texto e depois discuta-a com os colegas.
Pá gina 150
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
2. Por que os recursos oriundos das exportaçõ es nem sempre se refletem na melhoria de vida
das populaçõ es africanas?
[...] Com mais de 19 milhõ es de pessoas a viver sob a ameaça de fome e malnutriçã o na regiã o do
Sahel de Á frica Ocidental, o relató rio do Banco insta aos líderes africanos que melhorem o comércio
de forma a que os alimentos possam circular livremente entre países e das á reas férteis para
aquelas em que as comunidades sofrem com a escassez alimentar. O Banco Mundial estima que a
procura de alimentos em Á frica duplique até 2020 à medida que as populaçõ es vã o cada vez mais
deixando as regiõ es rurais em prol das cidades do continente. [...]
a) Pesquise em livros, revistas e na internet onde fica a regiã o do Sahel e qual é a sua
característica climá tica.
b) Considerando as informaçõ es do capítulo, quais sã o os fatores que podem comprometer as
relaçõ es comerciais entre países vizinhos no continente africano?
Dave G. Houser/Corbis/Fotoarena
Entrada de banheiro masculino na Á frica do Sul, com aviso indicando uso exclusivo para brancos. Foto de 1989.
Em que período da histó ria da Á frica do Sul foi tirada essa fotografia? Justifique sua resposta.
13. Analise o grá fico e descreva as informaçõ es apresentadas com base em seus
conhecimentos. Comente as características do atual processo de desenvolvimento dos países
africanos.
Adilson Secco/ID/BR
Fonte de pesquisa: Cereais, Peixe, Dinheiro: financiar as revoluçõ es verde e azul de Á frica. Relatório do Progresso em África de 2014,
Genebra, Africa Progress Panel, p. 29, 2014.
Pá gina 151
14. Observe os grá ficos a seguir e elabore um texto comparando os dados apresentados,
relacionando-os ao conteú do estudado neste capítulo.
Adilson Secco/ID/BR
Adilson Secco/ID/BR
Fonte de pesquisa: ROMEI, Valentina. China and Africa: trade relationship evolves. Financial Times, 3 dez. 2015. Disponível em:
<http://www.ft.com/intl/csm/s/0/c53e7f68-9844-11e5-9228-87e603d47bdc>. Acesso em: 2 maio 2016.
Fonte de pesquisa: SciencesPo. Origines et destinations des migrantes africains: situation en 2010. Disponível em:
<http://cartographie.sciences-po.fr/fr/origines-etdestinationsdes-migrants-africainssituation-en-2010>. Acesso em: 8 maio 2016.
O nacionalismo faz parte do cená rio político latino-americano desde o período que precedeu a independê ncia dos
diferentes países da regiã o. Na foto, o tema é abordado em um grafite (dimensõ es nã o disponíveis) do artista italiano
Blu, em Buenos Aires, Argentina. Foto de 2012.
Em cada parte do mundo e em cada país ocorrem situaçõ es particulares que explicam o aparecimento do
nacionalismo. Na histó ria da América Latina pó s-colonial sã o encontrados tanto o nacionalismo vinculado a
princípios democrá ticos como o orquestrado para a legitimaçã o de governos autoritá rios.
Uma das formas de nacionalismo descritas na América Latina está associada ao populismo, fenô meno político
que possibilita a ascensã o de um líder carismático visto como defensor dos interesses das camadas menos
favorecidas. Sã o exemplos de nacionalismo populista o peronismo na Argentina e o varguismo no Brasil.
Ambos ocorreram entre as décadas de 1940 e 1950 e representaram momentos histó ricos importantes, pois
os líderes Juan Peró n (Argentina) e Getú lio Vargas (Brasil) tinham um forte apelo popular em regiõ es que
estavam em processo acentuado de urbanização e industrializaçã o.
O nacionalismo orquestrado para a legitimaçã o de governos autoritá rios pode ser ilustrado pelo cunho
patrió tico que caracterizava os discursos dos governos ditatoriais militares nas décadas de 1960 a 1980 na
Argentina, no Brasil, no Chile e no Uruguai. Esse nacionalismo, em plena época da Guerra Fria, prestava-se a
garantir a “segurança nacional” contra a “ameaça comunista”, mas aceitava a hegemonia dos Estados Unidos e
sua liderança no continente. Além do pretexto anticomunista, o nacionalismo na Argentina e no Brasil
impulsionava a busca pela liderança no cená rio geopolítico sul-americano.
2. Em sua opiniã o, como o nacionalismo interfere na política de um país e nas atitudes de seus cidadã os?
Pá gina 153
Argentina
Com o segundo maior IDH da América Latina (0,836, em 2014), a Argentina conheceu, durante
décadas, um grande crescimento econô mico, que se refletiu na melhoria das condiçõ es de vida
da populaçã o. No entanto, a partir da década de 1970, os governos militares e depois os
governos neoliberais, que promoveram privatizaçõ es e políticas cambiais equivocadas,
levaram a economia argentina ao colapso, em 2001.
A partir de 2003, o governo de Néstor Kirchner implementou reformas políticas e econô micas
que permitiram um novo período de crescimento. Em 2007, sua esposa, Cristina Kirchner,
venceu as eleiçõ es e assumiu posiçõ es mais nacionalistas, como a adoçã o de medidas
protecionistas, reduzindo a importaçã o de produtos industrializados. Porém, a crise
internacional de 2008, aliada a fatores como desemprego, inflaçã o, e a falta de investimentos
estrangeiros, deram continuidade à instabilidade econô mica argentina. Em 2015, Mauricio
Macri, opositor de Kirchner, foi eleito presidente, sob a expectativa de transformaçõ es políticas
e econô micas para o país.
Bolívia
A Bolívia está entre os países com piores indicadores sociais da América do Sul. No aspecto
político, a partir da década de 1960, o país viveu um período de forte instabilidade, com a
sucessã o de golpes de Estado promovidos por militares. Mesmo com o retorno da democracia,
na década de 1980, a política continuou instá vel por causa da insatisfaçã o popular diante da
pobreza e da desigualdade social.
Em 2005, pela primeira vez na histó ria boliviana, foi eleito um presidente de origem indígena,
Juan Evo Morales, apoiado por um partido político de linha socialista e nacionalista. Uma das
principais medidas que marcaram sua forma de governar foi o aumento do controle sobre a
exploraçã o de petró leo e gá s natural, que se encontravam em mã os de empresas estrangeiras,
entre as quais a brasileira Petrobras. Política semelhante, com base na estatização dos
recursos energéticos, também tem sido adotada no Equador, no Paraguai e na Venezuela.
Estatização: aquisiçã o pelo Estado de uma empresa privada que passa a ser uma empresa pú blica. També m pode ser uma
política de Estado voltada para o aumento da participaçã o do setor pú blico na economia. É o mesmo que nacionalizaçã o.
Venezuela
A Venezuela detém a maior reserva de petró leo da América Latina e, a partir de 1998, com a
eleiçã o de Hugo Chá vez à presidência, o nacionalismo se acentuou no cená rio político do país.
Chá vez implementou um extenso plano de mudanças, que incluiu a estatizaçã o dos setores de
telecomunicaçõ es e bancá rio, a distribuiçã o de terras, o controle estatal de frigoríficos e a
regulamentaçã o dos serviços médicos privados.
Com os ganhos do petró leo, nacionalizado desde 1976, Chá vez levou adiante um grande
programa de combate à pobreza, que incluiu a erradicaçã o do analfabetismo, o fornecimento
de alimentos subsidiados à populaçã o mais carente, a construçã o de moradias e a melhoria dos
serviços de saú de para as camadas populares. A proposta política de Chá vez baseia-se no que
chamou de Revolução Bolivariana. A adoçã o de dispositivos constitucionais lhe permitiram
sucessivas reeleiçõ es. Hugo Chá vez morreu em março de 2013, tendo sido sucedido por seu
partidá rio Nicolá s Maduro.
Afpaizar Raldes/AFP
Evo Morales, durante seu terceiro mandato consecutivo como presidente da Bolívia. Foto de 2016.
Assista
O abraço partido. Direçã o de Daniel Burman, Argentina, 2004, 99 min.
O filme relata a histó ria do jovem Ariel, descendente de poloneses, que pensa em conseguir a cidadania europeia e partir da
Argentina em busca de emprego.
No. Direçã o de Pablo Larrain, Chile, 2012, 118 min.
Um publicitá rio é convidado a criar uma campanha para um referendo sobre a permanê ncia do general Augusto Pinochet no
governo do Chile.
Pá gina 154
O México é o segundo país mais populoso da América Latina, com 119 milhõ es de habitantes
em 2015. Junto com o Chile, está entre os ú nicos países latino-americanos membros da
Organizaçã o para a Cooperaçã o e Desenvolvimento Econô mico (OCDE), que reú ne os países
mais desenvolvidos economicamente do mundo.
Colô nia espanhola entre os séculos XVI e XIX, o México teve grande parte de sua populaçã o
indígena dizimada por doenças e conflitos. Sua independência ocorreu em 1821. No decorrer
do século XIX, perdeu extensos territó rios para os Estados Unidos e sofreu grande
instabilidade política. De 1876 a 1911, foi governado de forma ditatorial por Porfirio Díaz,
latifundiá rio deposto durante a Revolução Mexicana, que contou com a participaçã o de
líderes ligados ao campo, como Emiliano Zapata e Pancho Villa. Em 1929, foi fundado o Partido
Revolucioná rio Nacional (PRN), depois transformado no Partido Revolucioná rio Institucional
(PRI), que dominou o cená rio político até o ano de 2000. Durante 71 anos, o PRI controlou o
Estado por meio de um sistema em grande parte baseado na corrupçã o.
Apó s a segunda metade do século XX, o México viveu inú meras crises econô micas, que se
estenderam ao campo político, sobretudo em razã o das profundas desigualdades
socioeconô micas. Ao final da década de 1980, ocorreram maciças privatizaçõ es em vá rios
setores antes controlados por empresas estatais mexicanas. Nos anos 1990, os efeitos do
neoliberalismo foram observados na desvalorizaçã o da moeda e nos crescentes déficits
comerciais. A crise do país teve efeitos no mundo todo.
Com a adesã o ao Nafta, a dependência econô mica do México em relaçã o aos Estados Unidos se
acentuou. As exportaçõ es para esse país chegaram a representar 90% do comércio exterior
mexicano, situa çã o que só começou a mudar no início do século XXI, quando o México passou a
contar com novos parceiros comerciais.
Ainda como reflexo da integraçã o ao grupo do Nafta, existem no México, sobretudo nas
proximidades da fronteira com os Estados Unidos, cerca de 3 mil indú strias maquiladoras, que
importam componentes estadunidenses, montam os produtos e os exportam para os Estados
Unidos.
Fonte de pesquisa: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. Sã o Paulo: Moderna, 2013. p. 72.
Leia
As veias abertas da América Latina, de Eduardo Galeano. Porto Alegre: L&PM, 2010.
Um livro de leitura instigante sobre a histó ria da Amé rica Latina.
Cultura e comunicação na América Latina, de Emir Sader e Dennis de Oliveira (Org.). Sã o Paulo: Instituto Abya Yala, 2012.
A obra reú ne perspectivas de diversos autores sobre as transformaçõ es recentes na Amé rica Latina, como a inserçã o no
capitalismo global e a integraçã o dos mercados.
Pá gina 155
Os conflitos de Chiapas
Os estados de Chiapas, Oaxaca e Guerrero sã o considerados as regiõ es mais carentes do país.
Habitados principalmente por camponeses descendentes de indígenas, esses estados
promoveram um grande movimento popular armado na década de 1990.
Em 1996, o governo mexicano propô s alguns acordos garantindo direitos e autonomia aos
indígenas, os quais foram ratificados no ano de 2001.
O narcotráfico
Apesar da abertura comercial que fez crescer a economia mexicana, esse crescimento nã o foi
homogêneo. Nas duas ú ltimas décadas, enquanto na fronteira com os Estados Unidos e no
centro norte do país houve considerá vel aumento do PIB e das condiçõ es socioeconô micas, na
porçã o meridional foram mantidos os mesmos níveis de subdesenvolvimento.
À s condiçõ es de pobreza, somam-se em muitas ocasiõ es o narcotrá fico e seu domínio sobre as
autoridades locais. Dessa associaçã o surge uma violência generalizada que afeta
principalmente a populaçã o, refém dos grandes grupos narcotraficantes.
Em 2014, apesar de o México apresentar o segundo PIB da América Latina, cerca de 20 milhõ es
de pessoas estavam no limite da linha de pobreza, e aproximadamente 30% da populaçã o
economicamente ativa sobrevivia do trabalho informal. A economia mexicana é muito
dependente do dinheiro enviado pelos milhõ es de emigrantes (legais ou ilegais) que cruzam a
fronteira com os Estados Unidos em busca de trabalho.
No aspecto político, o México viveu um impasse em 2006. Realizadas as eleiçõ es presidenciais,
o candidato governista, Felipe Calderó n, ganhou com menos de 1% de vantagem sobre seu
principal opositor, sob denú ncias de fraude. A vitó ria de Calderó n só foi confirmada algumas
semanas apó s a eleiçã o, com a recontagem de votos.
Durante os seis anos de seu governo, Calderó n propô s modernizar a Pemex (Petró leos
Mexicanos), entregando a empresa estatal à iniciativa privada. Inú meras manifestaçõ es
populares rejeitaram a proposta.
Outro evento conturbado ocorrido no mandato de Calderó n foi a atuaçã o das Forças Armadas
contra o narcotrá fico e o crime organizado. Essa medida deixou pelo menos 60 mil mortos e 10
mil desaparecidos. Diante dos fracassos do governo de Calderó n, o tradicional partido PRI
obteve a vitó ria nas eleiçõ es para presidente em 2012 e voltou a governar o país.
A partir de 2014, o governo mexicano lançou uma série de reformas que tiveram reflexos na
reduçã o das taxas de violência, embora os níveis de insatisfaçã o popular permanecessem
elevados.
Sob o aspecto econô mico, a situaçã o do México pode ser considerada favorá vel: dívida pú blica
e inflaçã o controladas e a presença de um sistema bancá rio só lido.
A descoberta de novas reservas de petró leo geram novas perspectivas para o país, mas as
políticas governamentais que decretaram o fim do monopó lio do Estado sobre o setor
energético gerou protestos entre a populaçã o.
Pedro Pardo/AFP
Substâ ncias extraídas do bulbo da papoula servem como matéria-prima na produçã o de drogas, como heroína, ó pio e
morfina. Na foto, soldado do Exército durante destruiçã o de uma plantaçã o de papoulas em Zirá ndaro, México, em
2016.
Pá gina 156
Os países que detêm certa liderança regional, como o Brasil, a Venezuela e a Argentina,
desenvolveram propostas de integraçã o política e econô mica entre os países latino-
americanos. É o caso do Mercosul, da Comunidade Andina de Nações (CAN), da Aliança
Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), da Uniã o de Naçõ es Sul-Americanas
(Unasul) e, mais recentemente, da Aliança do Pacífico.
As crises no Mercosul
Apó s duas décadas de atuaçã o, o Mercosul já apresentou períodos de grandes avanços políticos
e econô micos. No entanto, desde meados da década de 2000, uma série de crises envolvendo
questõ es econô micas, ambientais e diplomá ticas tem abalado o bloco.
Outra questã o energética tem sido causa de um impasse envolvendo o Brasil e o Paraguai. A
divergência teve início apó s a eleiçã o, em 2008, do presidente paraguaio Fernando Lugo.
Durante seu governo, foi fechado um acordo com o Brasil para elevar o preço da energia
paraguaia excedente de Itaipu, o qual foi praticamente triplicado. Um acordo assinado em
1973 determinava que o Paraguai deveria vender ao Brasil toda a energia que nã o consumisse.
A usina de Itaipu fornece cerca de 15% da energia consumida no Brasil e 75% da energia
consumida no Paraguai. O Paraguai também reivindica mudanças em seu acordo com a
Argentina em relaçã o à hidrelétrica de Yaciretá , na fronteira entre os dois países, que foi
concluída apenas em 2011, apó s inú meros escâ ndalos de corrupçã o e constantes paralisaçõ es.
Quanto à s questõ es econô micas, as relaçõ es entre Brasil e Argentina, mesmo com o Mercosul,
sempre foram permeadas de pequenos conflitos devido a medidas protecionistas. Diante da
crise econô mica mundial iniciada em 2008, a Argentina dificultou a entrada de produtos
importados no país, muitos deles brasileiros.
Assista
A fronteira. Direçã o de Roberto Carminati, Brasil, 2003, 107 min.
O filme, rodado no Brasil, no Mé xico e nos Estados Unidos, aborda o drama de brasileiros que tentam atravessar a fronteira
Mé xico-Estados Unidos.
GEOGRAFIA E LITERATURA
Pablo Neruda (1904-1973), poeta chileno ganhador do Prêmio Nobel em 1971, foi uma das maiores
expressõ es latino-americanas no campo da literatura. Estes versos exprimem seu sentimento em
relaçã o à s desigualdades no continente.
1. Leia o poema e selecione três versos que abordam aspectos das desigualdades existentes entre
diferentes grupos sociais.
2. Os versos revelam uma indignaçã o do poeta com problemas sociais enfrentados pelo Chile.
Discuta com mais um colega se esse poema expressa alguma semelhança com a realidade social e
política no Brasil atual.
Pá gina 157
Istmo: estreita faixa de terra, cercada de á gua, que une duas porçõ es continentais.
Alguns países da porçã o continental passaram por instabilidades políticas nas ú ltimas décadas.
Na segunda metade do século XX, Nicará gua, Guatemala e El Salvador apresentaram histó rias
políticas semelhantes: períodos de ditadura, surgimento de grupos de guerrilheiros de
esquerda e paramilitares de direita, guerras civis, desestruturaçã o econô mica e intervençõ es
comandadas pelos Estados Unidos. No final da década de 1990, eleiçõ es livres retomaram a
normalidade nesses países.
Haiti
Ex-colô nia francesa, o Haiti foi a primeira naçã o a tornar-se independente no continente
americano, em 1804. Atualmente, é o país com o mais baixo IDH da América Latina: 0,483, em
2014.
Na década de 1990, um golpe de Estado derrubou o presidente eleito e levou à intervençã o dos
Estados Unidos e da ONU. Em 2004, apó s breve governo de Jean-Bertrand Aristide, o Conselho
de Segurança da ONU decidiu a intervençã o de uma força multinacional com soldados dos
Estados Unidos, do Canadá e da China. Logo depois, essas tropas foram substituídas pela
Missã o de Estabilizaçã o das Naçõ es Unidas no Haiti (Minustah, na sigla em francês), sob a
liderança de militares brasileiros.
Ao final de 2015, a situaçã o socioeconô mica e política no Haiti ainda era de grande
instabilidade. Milhares de haitianos têm emigrado para outros países latino-americanos, como
o Brasil.
A partir dos anos de 1960, os Estados Unidos estabeleceram uma política de acolhida de
imigrantes cubanos que fugiam do regime socialista implantado na ilha por Fidel Castro. Miami
era o principal ponto de convergência dos cubanos, que ali instalaram uma forte comunidade
que se articulou para combater o governo castrista.
Em 2014, tiveram início as negociaçõ es para a reaproximaçã o entre os dois países e, em 2015,
foram reabertas as respectivas embaixadas.
Navegue
Memorial da América Latina
Site oficial do conjunto arquitetô nico situado na cidade de Sã o Paulo, que reú ne grande acervo de livros e estatísticas sobre a
Amé rica Latina. Disponível em: <http://linkte.me/memoal>. Acesso em: 28 maio 2016.
STR/AFP
Apesar da reaproximaçã o diplomática, até 2015 o embargo econô mico-financeiro imposto a Cuba pelos Estados
Unidos nã o havia sido suspenso. Na foto, o entã o presidente estadunidense, Barack Obama, em visita a Havana, Cuba.
Foto de 2016.
Pá gina 158
As tensões na Colômbia
Em toda a América Latina, a Colô mbia é o país com o mais elevado nível de violência. Segundo
cá lculos da ONU, existiam, em 2015, cerca de 5,7 milhõ es de deslocados internos no país,
pessoas que abandonaram suas terras, casas e pertences em razã o dos ataques de grupos
armados. Também se contabilizam cerca de 8 mil homicídios por ano, a maior parte deles por
causa de questõ es políticas.
A partir do século XIX, a histó ria política colombiana é marcada por instabilidades e conflitos
gerados pela alternâ ncia de grupos antagô nicos no poder.
Na segunda metade do século XX, organizaram-se no país numerosos grupos rebeldes, que
passaram a atuar de forma decisiva no destino político e econô mico da Colô mbia.
Em 1964, foram criadas as Forças Armadas Revolucioná rias da Colô mbia (Farc), de
posicionamento marxista, o maior e mais antigo grupo guerrilheiro da América. Ainda na
década de 1960, surgiram outros grupos revolucioná rios, de esquerda e de direita, porém sem
a mesma abrangência das Farc. Há vá rias décadas, instalou-se na Colô mbia um clima de guerra
civil, com confrontos entre grupos revolucioná rios e contrarrevolucioná rios, ataques
criminosos a vilas e povoados, saques e invasõ es de propriedade, etc.
Quando foram criadas, as Farc tinham como principal objetivo promover a reforma agrá ria na
Colô mbia. Com o passar do tempo, as pretensõ es da organizaçã o foram sendo ampliadas e,
atualmente, ela luta pelo poder político.
Embora essa informaçã o seja contestada por seus defensores, as Farc, que hoje somam quase
30 mil homens, têm seu sustento relacionado ao narcotráfico, uma das principais atividades
colombianas, uma vez que o país é responsá vel por cerca de 75% de toda a cocaína produzida
no mundo.
Para combater as Farc, os Estados Unidos criaram o Plano Colômbia, uma intervençã o militar
em terras colombianas. Esse plano é bastante criticado pelos que defendem a soberania latino-
americana, pois os Estados Unidos financiam armas, helicó pteros e treinamento militar do
exército colombiano. Além disso, os estadunidenses instalaram-se na selva amazô nica
colombiana, em uma á rea de grande riqueza natural.
Em 2015, representantes do governo colombiano e líderes das Farc reuniram-se em Cuba para
negociar um pacto para a paz no país.
Em março de 2008, o governo colombiano resolveu aumentar a pressã o sobre as Farc e, apó s
vá rias denú ncias sobre a presença de parte do grupo no Equador, as tropas colombianas
invadiram o territó rio equatoriano, destruíram uma base das Farc e mataram um de seus
principais líderes.
Essa invasã o de territó rio provocou uma crise diplomá tica entre a Colô mbia e o Equador, este
ú ltimo apoiado pelo entã o presidente venezuelano, Hugo Chá vez, que enviou tropas para a
fronteira entre seu país e a Colô mbia. Com a participaçã o da diplomacia brasileira, a tensã o
entre os governos da Colô mbia e do Equador diminuiu.
Apó s meia década de problemas envolvendo a regiã o de fronteira entre Colô mbia e Venezuela,
em 2015, a tensã o entre os dois países mobilizou a diplomacia sul-americana. Na presença dos
dirigentes do Equador e do Uruguai, os presidentes equatoriano e colombiano negociaram um
acordo de paz.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: Le Monde Diplomatique. L’ Atlas. Paris: Armand Colin, 2006. p. 187.
Navegue
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal)
Site com informaçõ es sociais e econô micas sobre os países da Amé rica Latina.
Disponível em: <http://linkte.me/cepal>. Acesso em: 6 maio 2016.
Pá gina 159
Informe
América Latina e a colonialidade do poder
Os processos de integraçã o regional em curso hoje na América Latina têm sido marcados por
uma ló gica territorial que tem concebido grandes á reas do espaço geográ fico latino-americano
como “vazios demográ ficos” ou “terras disponíveis”. Entretanto, existe a concepçã o oculta de
que muitas dessas á reas nã o apenas sã o ocupadas por uma grande diversidade de populaçõ es,
como também sã o ricas em biodiversidade.
PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter; QUENTAL, Pedro de Araú jo. América Latina e a colonialidade do poder. In: HAESBAERT, Rogério (Org.).
Globalização e fragmentação do mundo contemporâneo. 2. ed. Niteró i: UFF, 2013. p. 167; 179-180.
PARA DISCUTIR
2. A atual integraçã o regional tem se voltado para a Á sia e, em especial, para a China. Discuta
com os colegas e citem exemplos que justifiquem essa afirmaçã o.
Pá gina 160
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
2. O que é populismo?
Fonte de pesquisa: Reconhecimento e acesso aos direitos indígenas aumentam, mas profunda desigualdade ainda persiste.
Amazônia, 2 out. 2014. Disponível em: <http://amazonia.org.br/2014/10/reconhecimento-e-acesso-aos-direitos-ind
%C3%ADgenas-aumentammas-profunda-desigualdade-persiste/>. Acesso em: 6 maio 2016.
a) Identifique os países com maior proporçã o de populaçã o indígena em relaçã o ao total do
país.
b) Trace um panorama das populaçõ es indígenas na América Latina a partir das informaçõ es
apresentadas no mapa.
c) Realize uma pesquisa e comente os principais problemas enfrentados pelas populaçõ es
indígenas latino-americanas em pelo menos 3 países.
10. Observe o mapa abaixo, que apresenta dados sobre o desenvolvimento humano entre as
mulheres no México, e escreva um texto analisando as desigualdades regionais no país.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: Pnud. Indicadores de desarrollo humano y género en México. Disponível em:
<http://www.mx.undp.org/content/dam/mexico/docs/ReduccionDePobreza/OIDH/infograf%C3%ADa_IDHg
%C3%A9nero_Vfinal.pdf>. Acesso em: 6 maio 2016.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: Banco Mundial. Disponível em: <http://data.worldbank.org/indicator/SI.POV.GINI>. Acesso em: 6 maio 2016.
12. Analise a tabela a seguir e faça uma aná lise sobre os Índices de Desenvolvimento Humano
nos países apresentados. É possível estabelecer uma relaçã o entre os conflitos recentes
ocorridos na América Latina e a posiçã o dos países no ranking do IDH?
Regiã o mais desigual do mundo, a América Latina continua sendo a mais violenta. Se a insegurança
reflete a brutalidade dos índices sociais de países devastados pelo neoliberalismo, ela também
sublinha o fracasso de governos progressistas, muitas vezes envolvidos em corrupçã o.
Apesar de a América Latina e o Caribe serem considerados oficialmente regiõ es em estado de paz,
eles apresentam taxas de homicídio compará veis às de zonas de guerra. [...] Com 10% da populaçã o
mundial, a regiã o concentra 30% dos homicídios e apresenta uma taxa de 25 mortos por ano para
100 mil habitantes, o que significa mais de quatro vezes a taxa média mundial (6,2).
As atividades criminais nã o estã o espalhadas de maneira uniforme pelo territó rio geográ fico. A
América Central e o Caribe sã o particularmente afetados. O aumento das infraçõ es ligadas ao trá fico
de drogas e à s quadrilhas, que facilitam a impunidade e a circulaçã o de armas, nutre a espiral
infernal da criminalidade. Honduras, estatisticamente o país mais violento do mundo, possui uma
taxa de 90,4 homicídios por 100 mil habitantes, seguido por Venezuela (53,7), Belize (44,7) e El
Salvador (41,2).
Além dos mortos, a insegurança engloba extorsã o, sequestros, roubo, trá fico e violência contra a
mulher. As estatísticas oficiais, estabelecidas com base em informaçõ es incompletas, nã o fazem jus
à amplitude da situaçã o. Muitos crimes nã o sã o denunciados por medo de represá lia ou por
desconfiança em relaçã o às instituiçõ es que deveriam zelar pelo respeito à s leis. Por exemplo,
segundo o Envipe 2014 [Pesquisa Nacional de Vitimizaçã o e Percepçã o sobre Segurança Pú blica], o
ú ltimo estudo sobre atos de violência realizado pelo Instituto Nacional Mexicano de Estatística
(Inegi), cerca de 94% dos crimes cometidos em 2013 nã o foram denunciados à s autoridades. E
apenas metade dos casos relatados foi objeto de investigaçã o preliminar. [...]
SANTISO, Carlos; ALVARADO, Nathalie. Reduzir a pobreza nã o é suficiente. Insegurança endêmica na América Latina. Le Monde
Diplomatique Brasil, 8 jun. 2015. Disponível em: <https://www.diplomatique.org.br/print.php?tipo=ar&id=1895>. Acesso em: 30
maio 2016.
a) Algum dos tipos de violência mencionados no texto ocorre no lugar onde você vive?
b) É possível relacionar desigualdade socioeconô mica e violência?
c) Compare o Brasil com os demais países latino-americanos e aponte possíveis soluçõ es para
o problema da violência e da criminalidade no país e na regiã o.
14. Em 1982, a Argentina entrou em guerra com a Inglaterra pela posse das ilhas Malvinas
(Falklands). Observe a foto abaixo, faça uma pesquisa e escreva um texto sobre os resultados
do conflito e comente a relaçã o diplomá tica atual entre os dois países.
Daniel Garcia/AFP
Soldados argentinos carregam suprimentos nas Ilhas Malvinas, 1982. Durante a guerra, morreram 649 soldados
argentinos.
Pá gina 162
CAPÍTULO 12 Ásia
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
Os conflitos no Oriente Mé dio.
A questã o palestina.
A Índia.
Sudeste Asiá tico e os novos Tigres Asiá ticos.
Este capítulo tem como tema países do Oriente Médio, da Á sia Meridional e do Sudeste Asiá tico (ver mapa
abaixo) no contexto internacional. Veremos que alguns conflitos internos tomam proporçõ es ainda maiores
em razã o dos interesses econô micos de outros países sobre a regiã o. No século XX e também neste século, o
Oriente Médio foi palco de inú meros conflitos envolvendo diversos países da regiã o, assim como de
intervençõ es internacionais.
O fato de 47,7% das reservas mundiais de petró leo se concentrarem no Oriente Médio confere à regiã o um
papel de destaque na geopolítica mundial. Diversos países da regiã o pertencem à Organizaçã o dos Países
Exportadores de Petró leo (Opep), que regula o preço do produto. Além disso, o crescimento do
fundamentalismo islâ mico é um ponto de atençã o à comunidade internacional em razão da violaçã o dos
direitos humanos e ao crescente nú mero de refugiados.
Na Á sia Meridional, ocorrem disputas geopolíticas na fronteira entre Paquistã o e Índia pela regiã o da
Caxemira. E no Sudeste Asiá tico, há o descompasso entre o alto desempenho industrial e o fraco
desenvolvimento social nos Tigres Asiá ticos. Esse quadro nos mostra o mosaico de conflitos e contextos sociais
em parte do continente.
Fonte de pesquisa: Atlas geográfico escolar. 4. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. p. 47.
c) impactados por intensos e frequentes fenô menos, como monçõ es, prolongadas secas ou tsunamis;
O Oriente Médio
O Oriente Médio é formado por 15 países e a pequena porçã o asiá tica do Egito. A expansã o do
islamismo fez com que a religiã o se tornasse o elemento mais importante na definiçã o de
valores e normas sociais. Predominou também na legislaçã o dos Estados e na definiçã o das
relaçõ es, amistosas ou hostis, entre países ou entre grupos de um mesmo país. A partir do
século XV, os turco-otomanos ocuparam a regiã o, mas, ao final do século XIX, seu poderio foi
minado pelos europeus. Os franceses dominaram a Síria e o Líbano; os ingleses ocuparam o
Iraque, a Jordâ nia e o Iêmen. Ingleses e russos dividiram a influência no Irã e no Afeganistã o. A
retirada total dos otomanos ocorreu ao final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), e a
principal base de seu império deu origem à Turquia.
Turquia
Com uma populaçã o de cerca de 80 milhõ es de habitantes (2015), a Turquia é o principal país
emergente do Oriente Médio. Nesta ú ltima década, as reformas liberais promovidas pelo
Estado turco proporcionaram um forte crescimento econô mico.
Geopoliticamente, a Turquia tem estabelecido relaçõ es não conflituosas com todos os seus
vizinhos, exceto a Síria. Recebe elevado nú mero de refugiados de vá rias nacionalidades,
especialmente sírios, que percorrem seu territó rio para chegar aos países europeus.
Embora tenham sido aliadas no passado, Turquia e Síria romperam relaçõ es em 2012, devido
ao ataque sírio na fronteira turca e à s acusaçõ es de Bachar al-Assad, presidente da Síria, de que
Turquia, Estados Unidos e Ará bia Saudita apoiava os rebeldes sírios.
Muçulmanos rezam em mesquita, em Istambul, Turquia. A religiã o islâmica predomina na maioria dos países do
Oriente Médio. Foto de 2015.
Um dos pontos de maior tensã o do Estado turco é o conflito, que já dura décadas, com os
curdos, a minoria étnica que reivindica mais autonomia. Os curdos somam mais de 30 milhõ es
de pessoas e ocupam um territó rio que engloba á reas da Turquia, da Síria, do Iraque e do Irã .
Esse grupo étnico formou organizaçõ es políticas como o Partido dos Trabalhadores do
Curdistã o (PKK), para se opor ao governo turco.
A Turquia e o Isis
A Turquia mantém relaçõ es ambíguas com o Isis, pois seu territó rio tem servido como ponto
de passagem para estrangeiros que se juntam aos jihadistas na Síria, assim como de armas e
fundos para fortalecer os grupos antigoverno.
O país tem sido criticado pelos aliados ocidentais, inclusive Estados Unidos, por ter facilitado a
ascensã o do Isis, que ameaça a á rea ocupada pelos curdos.
Leia
Oriente Médio: uma região de conflitos e tensões, de Nelson Bacic e Beatriz Canepa. Sã o Paulo: Moderna, 2012.
O livro retrata os aspectos histó ricos e populacionais dos países que compõ em o Oriente Mé dio e o contexto geopolítico
dessa regiã o na atualidade.
Pá gina 164
Síria
Logo apó s a Primeira Guerra Mundial, configuraram-se novas fronteiras geográ ficas no Oriente
Médio, sob os mandatos britâ nico e francês, legitimadas pela Liga das Naçõ es (antiga ONU).
Houve o rompimento das fronteiras dos países que formavam a Grande Síria durante o
Império Otomano: Líbano, Síria, Jordâ nia, Palestina. Síria e Líbano ficaram sob o domínio
francês. Em 1946, depois de vá rios conflitos armados, a Síria finalmente conquistou sua
independência.
O país tem mais de 20 milhõ es de habitantes, a maioria deles á rabes que seguem o islamismo
(em torno de 85%), e está sob o governo de um sistema político ditatorial. Desde 2011, sua
populaçã o reivindica a instauraçã o de um sistema mais democrá tico. O conflito na Síria foi
deflagrado a partir da Primavera Árabe, período de revoltas e contestaçõ es populares que
culminaram com a derrubada de ditaduras em países como Tunísia, Egito e Líbia. Até 2016,
milhares de sírios se tornaram refugiados, devido aos conflitos violentos que se instauraram
no país entre os opositores e as forças do governo de Bashar al-Assad, que está no comando
do país desde 2000, quando sucedeu ao pai, o ditador Hafez al-Assad (cujo governo durou
trinta anos).
No cená rio geopolítico, o país ganha outra dimensã o pelos interesses antagô nicos das
potências ocidentais. A Rú ssia, por um lado, é o maior fornecedor de armas do governo de
Assad, mas os Estados Unidos e os países europeus têm a expectativa de que o governo de
Assad seja derrubado.
Outras questõ es de política interna e litigiosas com países fronteiriços na Síria, em evidência
desde o século passado, sã o:
• a disputa com Israel pelo controle da regiã o fronteiriça de Golã . Essa regiã o, pró xima à
nascente do rio Jordã o e ocupada desde 1967 por Israel, é considerada estratégica para açõ es
militares, por ser uma á rea montanhosa;
• as tensõ es com as minorias étnicas, como drusos, alauitas e curdos. Estes ú ltimos lutam pela
autonomia de seus territó rios, localizados ao norte do país.
NurPhoto/Getty Images
A populaçã o afegã sofre com uma economia muito frá gil e falta de infraestrutura. O país é devastado por consecutivas
guerras e intervençõ es militares estrangeiras. Cabul, Afeganistã o. Foto de 2014.
O Afeganistão
O Afeganistã o é o país mais pobre da regiã o. Seus habitantes estã o divididos em tribos, que,
apesar de terem em comum a religiã o islâ mica, sã o inimigas entre si. Do grupo da etnia
majoritá ria, os pashtuns, surgiu o grupo radical Talibã.
No século XIX, o Afeganistã o foi dominado pelos ingleses, que lá se mantiveram até a
independência do país, em 1919. Na segunda metade do século XX, sob influência da URSS,
formou-se no país o primeiro partido comunista.
Conflitos no partido e com grupos religiosos e étnicos impeliram a URSS a invadir o país em
1979, em apoio aos comunistas. Os russos permaneceram no Afeganistã o até 1989.
A instabilidade política favoreceu, em 1996, a tomada de poder pelos talibã s, que impuseram
um regime islâ mico fundamentalista. O grupo também apoiou o terrorista Osama bin Laden
(morto em 2011) em sua “guerra santa” contra o mundo ocidental, particularmente contra os
Estados Unidos. Os talibã s foram destituídos do poder em 2001, com a intervençã o militar dos
Estados Unidos e do Reino Unido, mas isso não significou a volta da paz. Os conflitos
continuaram ocorrendo, levando à permanência das tropas estadunidenses, da Otan e da ONU
em territó rio afegã o. Em 2014, as tropas da Otan se retiraram. Coincidentemente, houve
aumento da violência com o novo fortalecimento do Talibã , que mantém a tática de cometer
atentados contra a populaçã o civil.
Guerra santa: esforço coletivo de levar o islamismo aos nã o adeptos, muitas vezes associada à jihad islâmica, que faz uso de
açõ es armadas.
Assista
A caminho de Kandahar. Direçã o de Mohsen Makhmalbaf, Irã /França, 2001, 85 min.
O filme relata a viagem de uma jornalista afegã que mora no Canadá e, ao retornar ao Afeganistã o, se depara com o país
controlado pelos talibã s.
Violação de domicílio. Direçã o de Saverio Costanzo, Itá lia, 2004, 90 min.
O filme mostra a ocupaçã o por soldados israelenses da casa de uma família de palestinos na Faixa de Gaza.
Pá gina 165
Conflitos árabe-israelenses
Os conflitos entre á rabes e judeus iniciaram-se no século XIX quando, em 1882, foi fundada a
primeira colô nia judaica na Palestina, associada aos movimentos sionistas, que defendiam o
retorno dos judeus ao que afirmavam ser o seu territó rio histó rico. No entanto, a Palestina era
ocupada por uma maioria de origem á rabe, os palestinos.
Movimento sionista: criado no fim do sé culo XIX por Theodore Hertzl, defendia o direito de territó rio povoado por judeus
do mundo todo.
Em 1918, apó s a Primeira Guerra Mundial, esse territó rio ficou sob o controle do governo
britâ nico, que se opunha à formaçã o de um Estado judeu na regiã o. No fim da Segunda Guerra
Mundial, em 1945, a questã o da formaçã o do Estado judeu foi transferida para a ONU, que, em
1947, aprovou um plano de partilha do que até entã o era o territó rio palestino em dois
Estados: um á rabe e um judeu (Israel).
Apó s a aprovaçã o da partilha, em 1948, Israel proclamou sua fundaçã o, e os Estados á rabes
reagiram. Começava a Guerra de Independência, o primeiro confronto á rabe-israelense, que
envolveu, além dos palestinos, uma coalizã o de países á rabes formada por Egito, Jordâ nia,
Líbano, Síria e Iraque. Os israelenses saíram vitoriosos desse confronto e ocuparam parte do
territó rio palestino. Assim, teve início uma sucessã o de conflitos. Como a Jordâ nia anexou a
Cisjordânia, e o Egito, a Faixa de Gaza, os á rabes palestinos perderam o controle sobre seu
territó rio e só o recuperaram parcialmente com os acordos de paz estabelecidos a partir da
década de 1990.
Em 1967, houve novo conflito, denominado Guerra dos Seis Dias. Nesse confronto, o Exército
de Israel derrotou um conjunto de forças militares do Egito, da Jordâ nia e da Síria. Israel
ampliou seu territó rio anexando Jerusalém, transformada em sua capital oficial, além de
ocupar a península do Sinai (do Egito), as colinas de Golã (da Síria) e a Cisjordâ nia (da
Jordâ nia).
Em 6 de outubro de 1973, feriado judaico do Yom Kippur (Dia do Perdã o), Israel foi atacado de
surpresa pelo Egito e pela Síria, que pretendiam reconquistar os territó rios perdidos em 1967.
Era o início da Guerra do Yom Kippur. O conflito terminou 19 dias depois, com nova vitó ria
de Israel. Os países á rabes, em represá lia, elevaram o preço do petró leo, dando origem à
primeira crise do petróleo. Seis anos apó s o conflito, em 1979, foi assinado um tratado entre
Israel e Egito (Acordo de Camp David), pelo qual a península do Sinai foi devolvida ao Egito
em 1982. No mesmo ano, Israel invadiu o Líbano para cessar os ataques dos palestinos que
estavam no país e integravam a Organizaçã o de Libertaçã o da Palestina (OLP). Israel
permaneceu nesse país até 1985.
Mapas: Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: LACOSTE, Yves. Géopolitique: la longue histoire d’aujourd’hui. Paris: Larousse, 2006. p. 293.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: YAZBEK, Mustafa. Palestinos em busca da pátria. Sã o Paulo: Á tica, 1995. p. 29.
Assista
Inshallah. Direçã o de Anaïs Barbeau-Lavalette, França/ Canadá , 2014, 191 min.
Uma mé dica canadense vive em Jerusalé m e faz atendimentos em um campo de refugiados palestinos em Ramallah.
Diariamente, tem de atravessar a fronteira entre Israel e Palestina, e o convívio nas duas realidades a deixa dividida entre os
dois lados do conflito.
Pá gina 166
Em 1987, surgiu o Hamas, organizaçã o que faz oposiçã o à OLP desde sua criaçã o e tem sido
responsá vel por atentados suicidas em Israel.
O governo de Israel e representantes da OLP assinaram, em 1993, um acordo provisó rio pelo
qual os palestinos passariam a ter autonomia administrativa sobre as regiõ es da Cisjordânia e
da Faixa de Gaza, por meio da criaçã o da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Em troca,
os palestinos reconheceriam o Estado de Israel. A assinatura desse acordo, no entanto,
provocou a reaçã o de grupos radicais de ambos os lados.
A sede da administraçã o da ANP passou a ser a cidade de Ramallah, e a capital, o setor oriental
de Jerusalém. Essa cidade, oficializada por Israel como sua “capital eterna e indivisível”, é
reivindicada pelos palestinos, o que gera discó rdia entre Israel e a ANP.
Em 2005, Israel promoveu uma açã o que indicava ser o início da soluçã o de parte significativa
dos conflitos: a retirada de colonos judeus da Faixa de Gaza, em uma á rea onde vivem mais de
1,4 milhã o de palestinos. Também houve a retirada de colonos da Cisjordâ nia, outra regiã o
com grande povoamento palestino.
A impossibilidade de negociaçã o e da garantia dos territó rios da Faixa de Gaza e da Cisjordâ nia
levou a ANP a recorrer à ONU. Em 2011, o Estado da Palestina se tornou membro pleno da
Organizaçã o das Naçõ es Unidas para a Educaçã o, a Ciência e a Cultura (Unesco) e, em 2012,
tornou-se Estado observador nã o membro da ONU, apesar da oposiçã o dos Estados Unidos, de
Israel e de mais alguns poucos países.
Fonte de pesquisa: BACIC, Nelson; CANEPA, Beatriz. Oriente Médio: uma região de conflitos e tensõ es. São Paulo: Moderna, 2012. p. 78.
Em 2014, foguetes foram lançados pelo Hamas contra Israel, e o país respondeu com ataques
aéreos. Em consequência, as fronteiras de Gaza foram fechadas e apenas organizaçõ es
internacionais tinham acesso à á rea. A situaçã o socioeconô mica da populaçã o na regiã o é
muito incerta, e sã o necessá rios um rá pido planejamento urbano das á reas destruídas em
2014 e uma reestruturaçã o econô mica.
CONEXÃO
Sob a justificativa de proteger os assentamentos judaicos na Cisjordâ nia, ao longo dos ú ltimos anos,
o governo israelense deu andamento à construçã o de um muro, mesmo sob a condenaçã o da Corte
Internacional de Justiça da ONU. O muro limita o movimento e a vida dos palestinos, que passam
por um rigoroso controle ao atravessar os portõ es que dã o acesso à s á reas israelenses, e contribui
para a fragmentaçã o da Cisjordâ nia.
1. Discuta com um colega se esse muro contribui ou nã o para a coexistência dos dois Estados.
Justifique e anote suas conclusõ es no caderno.
Pá gina 167
Com 3,2 milhõ es de km² e uma populaçã o de 1 205 bilhã o de habitantes (2014), a Índia é um
mosaico de povos e de línguas. É a maior democracia do mundo (em funçã o do elevado nú mero
de eleitores) e possui hoje uma das economias mais dinâ micas.
Radiokafka/Shutterstock.com/ID/BR
A cidade de Calcutá , com cerca de 4,5 milhõ es de habitantes, é um dos principais centros econô micos da Índia e
concentra escritó rios de diversas empresas multinacionais e de tecnologia. Foto de 2013.
A questão da Caxemira
Em 1947, quando ocorreu a divisã o entre os territó rios destinados ao controle da Índia e do
Paquistã o, a regiã o da Caxemira, apesar de majoritariamente muçulmana, era governada por
um hindu e foi anexada ao territó rio da Índia.
Em 1949, com um acordo entre os dois países, aproximadamente 40% de sua á rea passou para
o domínio do Paquistã o. Os conflitos entre Índia e Paquistã o tornaram-se frequentes e a
ameaça de ataques nucleares entre os dois países é extremamente preocupante. No entanto,
desde 2003, os dois países têm mantido conversaçõ es para promover a paz na regiã o.
Pá gina 168
Historicamente, o Sudeste Asiá tico sofreu uma série de ocupaçõ es estrangeiras: franceses na
península da Indochina (atualmente, Tailâ ndia, Camboja, Vietnã e Laos), portugueses e
holandeses na Indonésia, espanhó is nas Filipinas e ingleses na Malá sia. Durante a Segunda
Guerra Mundial, os japoneses ocuparam a regiã o e, apó s 1945, ocorreu a descolonizaçã o.
Alguns países da regiã o tornaram-se socialistas e aliados da antiga URSS: foi o caso de Laos,
Camboja e Vietnã . Na década de 1990, a desintegraçã o do socialismo promoveu uma abertura
econô mica nesses países, que se integraram à Associaçã o de Naçõ es do Sudeste Asiá tico
(Asean) e à Cooperaçã o Econô mica Á sia-Pacífico (Apec). Em 2015, Brunei, Vietnã , Malá sia e
Cingapura integraram também o Acordo Transpacífico, com outros países do Pacífico.
Os “Novos Tigres”
Malá sia, Tailâ ndia, Indonésia e, mais recentemente, Vietnã sã o apontados como os novos
Tigres Asiá ticos, pois têm se destacado pelo rá pido crescimento industrial desde a década de
1990. Esses países adotaram um modelo de industrializaçã o voltado para as exportaçõ es,
semelhante ao que já vinha sendo desenvolvido pelos Tigres Asiá ticos tradicionais, atraindo
elevados investimentos de empresas multinacionais, sobretudo japonesas e estadunidenses.
Essas grandes empresas beneficiaram-se dos baixos salá rios e da fragilidade ou da ausência de
leis trabalhistas que controlassem o nú mero de horas de trabalho ou oferecessem garantias
previdenciárias aos trabalhadores.
Entre os novos Tigres, a Malá sia é o país que tem apresentado o maior equilíbrio entre o
crescimento econô mico e a melhoria das condiçõ es de vida da populaçã o.
A Indonésia é o país que apresenta a maior populaçã o muçulmana do mundo. Seu expressivo
crescimento econô mico permitiu que a renda per capita fosse multiplicada por quatro, entre
1998 e 2007. No entanto, 45% da populaçã o vive com menos de 2 dó lares por dia e 60% da
Populaçã o Economicamente Ativa atua na informalidade.
Além de ter sido o país mais atingido pelo tsunami (onda gigantesca) de 2004, que provocou
elevado nú mero de mortes e destruiçã o de infraestrutura, a Indonésia apresenta enorme
endividamento externo, fatores que prejudicam o desempenho econô mico do país.
No campo político, apó s um período de trinta anos de ditadura de Suharto, o país mergulhou
em crescente instabilidade, e o governo foi alvo de sucessivas denú ncias de corrupçã o. A partir
dos anos 2000, a Indonésia sofreu atentados terroristas atribuídos à organizaçã o muçulmana
extremista Jemaah Islamiyah, apoiada financeiramente pela Al-Qaeda (dirigida por Osama
bin Laden até 2011).
Dario Pignatelli/Bloomberg/Getty Images
Trabalhadores na linha de produçã o de semicondutores em fá brica de eletroeletrô nicos em Ayutthaya, Tailâ ndia,
2014.
Pá gina 169
Informe
O terror
A globalizaçã o da “guerra contra o terror”, desde setembro de 2001, e a retomada das
intervençõ es armadas estrangeiras por parte de uma grande potência que condenou
formalmente em 2002 as regras e as convençõ es até entã o aceitas para os conflitos
internacionais pioraram a situaçã o. O perigo real das novas redes terroristas internacionais
para os regimes dos países está veis do mundo desenvolvido, assim como da Á sia, continua a
ser desprezível. As dezenas ou centenas de vítimas de bombas nos sistemas de transporte
pú blico em Londres e em Madri não sã o capazes de interromper a capacidade operacional de
uma cidade grande além de algumas horas. Por mais horripilante que tenha sido a carnificina
de 11 de setembro de 2001 em Nova York, o poder internacional dos Estados Unidos e suas
estruturas internas nã o foram afetados em nada. Se ocorreram efeitos negativos posteriores,
eles nã o se devem à açã o dos terroristas, e sim à do governo americano. A Índia, a maior
democracia do mundo, é um bom exemplo da capacidade de resistência de um país está vel.
Apesar de ter perdido dois chefes de governo nos ú ltimos vinte anos pela açã o de assassinos, o
país convive com uma situaçã o de guerra de baixa intensidade na Caxemira, com uma ampla
gama de movimentos guerrilheiros nas províncias do Nordeste e com uma insurreiçã o
marxista-leninista (naxalita) em certas á reas tribais – e ninguém sequer sonharia em dizer que
ela não é um país está vel e em perfeita ordem operacional.
Isso ressalta a fraqueza relativa e absoluta dos movimentos terroristas da fase atual. Eles sã o
sintomas, e nã o agentes histó ricos significativos. E isso nã o deixa de ser vá lido nem em razã o
de que, graças à s mudanças nos armamentos e nas táticas, pequenos grupos e até indivíduos
agora podem causar muito mais dano per capita do que antes, nem em funçã o de objetivos
utó picos sustentados por alguns grupos terroristas ou a eles atribuídos. Operando em países
está veis, com regimes está veis e sem o apoio de setores relevantes da populaçã o, eles sã o um
problema policial, e nã o militar. Mesmo quando o terrorismo de pequenos grupos faz parte de
um movimento geral de dissidência, como sã o os rebentos da Al Qaeda na resistência
iraquiana, eles nã o sã o a parte mais importante nem a parte militarmente mais efetiva do
movimento, e sim adendos marginais. Quanto à s operaçõ es conduzidas fora do ambiente de
uma populaçã o simpatizante, como os homens-bomba palestinos em Israel ou um punhado de
jovens muçulmanos faná ticos em Londres, pouco valor elas têm além da propaganda. Nada
disso significa que nã o sejam necessá rias importantes medidas policiais internacionais para
combater o terrorismo de pequenos grupos, especialmente do tipo transnacional, quanto mais
não seja pelo perigo que existe de que no futuro esses grupos logrem adquirir um artefato
nuclear e a capacidade de usá -lo. Seu potencial político, que é sobretudo destrutivo, é
claramente muito maior em países instá veis ou em decomposiçã o, em particular no mundo
muçulmano no oeste da Índia, mas nã o deve ser confundido com o potencial político de uma
mobilizaçã o religiosa maciça. [...]
HOBSBAWM, Eric. Globalização, democracia e terrorismo. Trad. José Viegas. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. p. 134-136.
PARA DISCUTIR
1. No primeiro pará grafo do texto, Eric Hobsbawm afirma que, apesar das perdas humanas,
um ataque terrorista tem pequeno perigo real em um país está vel. Você concorda com essa
afirmaçã o? Justifique sua resposta.
2. Explique a seguinte afirmaçã o do autor: “Quanto à s operaçõ es [...] [de] um punhado de
jovens muçulmanos faná ticos em Londres, pouco valor elas têm além da propaganda”.
Pá gina 170
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
4. Quais foram as á reas ocupadas por Israel apó s a Guerra dos Seis Dias, em 1967?
5. Quando foi criada a OLP e que objetivos conduziram a sua atuaçã o ao longo do tempo?
Beawiharta/Reuters/Latinstock
A Ará bia Saudita era o ú ltimo país a negar à s mulheres o direito do voto.
Algumas mulheres afirmaram que o registro de eleitoras foi complicado em razã o dos obstá culos
burocrá ticos, da falta de informaçã o e porque as mulheres sã o proibidas de dirigir, o que dificulta a
locomoçã o.
Em um contexto onde menos de um eleitor em cada dez é mulher, poucas mulheres sauditas
esperam ser eleitas. [...]
Além da participaçã o política, que evidências o texto acima traz a respeito da desigualdade
entre homens e mulheres?
Angeli/Acervo do artista
Musa Al-Shaer/AFP
Muro entre Cisjordâ nia e Israel, em trecho na cidade de Belém. Foto de 2015.
Qual o significado, para a populaçã o palestina, do muro construído por Israel na Cisjordâ nia?
Pá gina 171
Lendo mapas
Fonte de pesquisa: Le Monde Diplomatique. Disponível em: <http://mondediplo.com/IMG/arton8079.png>. Acesso em: 24 mar.
2016.
Fontes de pesquisa: Le Monde Diplomatique. L’ Atlas. Paris: Armand Colin, 2006. p. 197; AMIOT, Hervé. Eau et conflits dans le basin du
Jourdain. Les clés du Moyen-Orient, 12 dez. 2013. Disponível em: <http://www.lesclesdumoyenorient.com/Eau-et-conflits-dans-le-
bassin-du-Jourdain.html>. Acesso em: 28 mar. 2016.
Em análise
Construir e interpretar mapas de síntese
Utilizando um mapa-base, isto é, um mapa da regiã o que estamos analisando, o passo seguinte
é dispor os grupos de dados de acordo com a legenda. Temos como resultado um mapa
temá tico sobre determinado assunto.
Sabemos que o espaço geográ fico é complexo e que, para analisá -lo, sã o necessá rias muitas
combinaçõ es de fatos que ocorrem de forma simultâ nea. Diante disso, podemos elaborar um
mapa de síntese, isto é, um mapa que reú na duas ou mais informaçõ es que se integram,
permitindo apreender novos aspectos da realidade. Vejamos um exemplo.
Analisemos inicialmente a tabela com os dados sobre a taxa de alfabetização. A menor taxa é
de 68,5% e a maior, de 91%. Podem-se dividir os dados em três classes: menos de 75%, de
75% a 85% e mais de 85%. Cada uma dessas classes será representada por uma hachura
diferente. Cada país do mapa é preenchido com a hachura correspondente à classe a que
pertence.
A segunda tabela também apresenta dados díspares, mas com informaçõ es sobre a taxa de
mortalidade infantil: de 11,48‰ a 23,60‰. Como na primeira tabela, serã o criadas três
classes para representar a taxa de mortalidade infantil: menos de 15‰, de 15‰ a 23‰ e
mais de 23‰. Serã o usadas três cores diferentes, uma para cada classe representando a
mortalidade infantil. Assim, as duas informaçõ es serã o apresentadas no mesmo mapa.
Assim, a Líbia destaca-se por apresentar taxa de mortalidade infantil de 11,48‰ e a mais alta
taxa de alfabetizaçã o da regiã o mapeada (91%). Em oposiçã o, o Marrocos apresenta a menor
taxa de alfabetizaçã o (68,5%) e elevada taxa de mortalidade infantil (23,60‰).
Fonte de pesquisa: CIA. The World Fact Book. Disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-
factbook/fields/2103.html>. Acesso em: 18 abr. 2016.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: CIA. The World Fact Book. Disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-
factbook/fields/2103.html>. Acesso em: 18 abr. 2016.
Pá gina 173
Proposta de trabalho
É possível estabelecer inú meras combinaçõ es de fenô menos demográ ficos com o objetivo de
analisar as condiçõ es socioeconô micas da populaçã o de determinado espaço geográ fico.
Mapear essa combinaçã o permite nã o só apreender características de um espaço, como
também compará -lo a outros espaços.
4. Cruze as informaçõ es, destacando os dois países com maior média de escolaridade e maior
RNB. Faça o mesmo com os dois países que estã o em situaçã o oposta. Destacados os países,
construa a legenda, escolhendo dois lá pis de cores diferentes.
Allmps/ID/BR
Fonte de pesquisa: Atlas geográfico escolar. 4. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. p. 39.
Pá gina 174
Síntese da Unidade
Capítulo 9 Europa
• Escreva duas ou três frases com cada palavra-chave ou expressão abaixo, sintetizando as informaçõ es do
capítulo.
• Alemanha e os imigrantes
• Imigraçã o ilegal
• Conflitos étnicos
Capítulo 10 África
• Com base no esquema abaixo, escreva frases que sintetizem o conteú do do capítulo.
Capítulo 12 Ásia
• A partir das fotografias abaixo, escreva um pequeno texto sintetizando os assuntos principais desenvolvidos
no capítulo.
Mehmet Ozturk/Anadolu Agency/Getty Images
Radiokafka/Shutterstock.com/ID/BR
Vestibular e Enem
Atenção: todas as questões foram reproduzidas das provas originais de que fazem parte. Responda a todas as questões no caderno.
1. (UFG-GO) Os recentes protestos de uma parte da populaçã o na Ucrâ nia contra o governo, a
partir de novembro de 2013, têm gerado tensõ es internacionais e atraído os interesses da
Uniã o Europeia, da Rú ssia e dos Estados Unidos. A atual situaçã o política na Ucrâ nia decorreu:
a) do conflito entre os governos da Ucrâ nia e da Rú ssia, a partir da ameaça do gabinete
presidencial russo em suspender o fornecimento de gá s.
b) da desistência do governo da Ucrâ nia em se associar à Uniã o Europeia (UE), o que provocou
a queda do primeiro-ministro ucraniano.
c) da mudança do comando administrativo da Rú ssia, o que impossibilitou novos
investimentos na Ucrâ nia.
d) do conflito russo da Chechênia, o que desencadeou crises econô micas nos países do
Cá ucaso.
e) do desentendimento entre os governos da Ucrâ nia e dos EUA, a partir da ameaça sobre
medidas protecionistas contra os produtos ucranianos.
2. (UFC-CE) A partir das ú ltimas décadas do século XIX, uma nova onda colonialista levou à
partilha quase total da Á frica e da Á sia entre países industrializados. Sobre esta fase
imperialista, é correto afirmar que foi motivada fundamentalmente:
a) pelo interesse de importar bens manufaturados da Índia, China e Á frica islâ mica e foi
estimulada pelos países industriais emergentes: Bélgica, Alemanha e Japã o.
b) pela política religiosa e missioná ria de difundir o cristianismo no mundo e foi liderada pelos
países cató licos europeus, como a França e a Bélgica.
c) pela exigência do conhecimento científico positivista de ocupar os territó rios a serem
estudados e foi impulsionada pela Grã -Bretanha.
d) pela necessidade de adquirir facilmente matéria-prima a baixo custo e foi facilitada pela
política imperialista dos Estados Unidos.
e) pelo interesse de continuar a expandir o capitalismo num período de crise e teve à sua
frente a França e a Grã -Bretanha.
Vestibular e Enem
6. (Uerj)
Fonte de pesquisa: MORAES, Paulo Roberto. Geografia geral e do Brasil. Sã o Paulo: Harbra, 2003.
O narcotrá fico se expandiu por todo o mundo, promovendo diversos fluxos de circulaçã o de
drogas. Considerando a representaçã o feita no mapa, a geografia mundial da produçã o,
distribuiçã o e do consumo das drogas permite estabelecer a seguinte associaçã o entre agentes
e setor econô mico predominante nos países em que se encontram:
7. (Enem)
Em 1947, a Organizaçã o das Naçõ es Unidas (ONU) aprovou um plano de partilha da Palestina que
previa a criaçã o de dois Estados: um judeu e outro palestino. A recusa á rabe em aceitar a decisã o
conduziu ao primeiro conflito entre Israel e países á rabes.
A segunda guerra (Suez, 1956) decorreu da decisã o egípcia de nacionalizar o canal, ato que atingia
interesses anglo-franceses e israelenses. Vitorioso, Israel passou a controlar a Península do Sinai. O
terceiro conflito á rabe-israelense (1967) ficou conhecido como Guerra dos Seis Dias, tal a rapidez
da vitó ria de Israel.
Em 6 de outubro de 1973, quando os judeus comemoravam o Yom Kippur (Dia do Perdã o), forças
egípcias e sírias atacaram de surpresa Israel, que revidou de forma arrasadora. A intervençã o
americano-soviética impô s o cessar-fogo, concluído em 22 de outubro.
A partir do texto acima, assinale a opçã o correta.
a) A primeira guerra á rabe-israelense foi determinada pela açã o bélica de tradicionais
potências europeias no Oriente Médio.
b) Na segunda metade dos anos 1960, quando explodiu a terceira guerra á rabe-israelense,
Israel obteve rá pida vitó ria.
c) A guerra do Yom Kippur ocorreu no momento em que, a partir de decisã o da ONU, foi
oficialmente instalado o Estado de Israel.
d) A açã o dos governos de Washington e de Moscou foi decisiva para o cessar-fogo que pô s fim
ao primeiro conflito á rabe-israelense.
e) Apesar das sucessivas vitó rias militares, Israel mantém suas dimensõ es territoriais tal como
estabelecido pela Resoluçã o de 1947 aprovada pela ONU.
8. (Enem)
Os chineses nã o atrelam nenhuma condiçã o para efetuar investimentos nos países africanos. Outro
ponto interessante é a venda e compra de grandes somas de á reas, posteriormente cercadas. Por se
tratar de países instá veis e com governos ainda nã o consolidados, teme-se que algumas naçõ es da
Á frica tornem-se literalmente protetorados.
BRANCOLI, F. China e os novos investimentos na Á frica: neocolonialismo ou mudanças na arquitetura global? Disponível em:
<http://opiniaoenoticia.com.br>. Acesso em: 29 abr. 2010 (adaptado).
A presença econô mica da China em vastas á reas do globo é uma realidade do século XXI. A
partir do texto, como é possível caracterizar a relaçã o econô mica da China com o continente
africano?
Pá gina 177
Atenção: todas as questões foram reproduzidas das provas originais de que fazem parte. Responda a todas as questões no caderno.
a) Pela presença de ó rgã os econô micos internacionais como o Fundo Monetá rio Internacional
(FMI) e o Banco Mundial, que restringem os investimentos chineses, uma vez que estes nã o se
preocupam com a preservaçã o do meio ambiente.
b) Pela açã o de ONGs (Organizaçõ es Nã o Governamentais) que limitam os investimentos
estatais chineses, uma vez que estes se mostram desinteressados em relaçã o aos problemas
sociais africanos.
c) Pela aliança com os capitais e investimentos diretos realizados pelos países ocidentais,
promovendo o crescimento econô mico de algumas regiõ es desse continente.
d) Pela presença cada vez maior de investimentos diretos, o que pode representar uma ameaça
à soberania dos países africanos ou manipulaçã o das açõ es destes governos em favor dos
grandes projetos.
e) Pela presença de um nú mero cada vez maior de diplomatas, o que pode levar à formaçã o de
um Mercado Comum Sino-Africano, ameaçando os interesses ocidentais.
9. (Uerj) A ideia do “choque de civilizaçõ es” difundida na década passada pelo cientista
político Samuel Huntington, ainda que polêmica, tem o mérito de incentivar a reflexã o acerca
de uma ordem de poder mundial que não mais expressa apenas as diferenças econô micas
entre os países.
Adaptado de ALMEIDA, Lú cia Marina Alves; RIGOLIN, Tércio Barbosa. Fronteiras da globalização. Sã o Paulo: Á tica, 2004.
10. (Enem) Na América do Sul, as Forças Armadas Revolucioná rias da Colô mbia (Farc) lutam,
há décadas, para impor um regime de inspiraçã o marxista no país. Hoje, sã o acusadas de
envolvimento com o narcotrá fico, o qual supostamente financia suas açõ es, que incluem
ataques diversos, assassinatos e sequestros. Na Á sia, a Al Qaeda, criada por Osama bin Laden,
defende o fundamentalismo islâ mico e vê nos Estados Unidos da América (EUA) e em Israel
inimigos poderosos, os quais deve combater sem trégua. A mais conhecida de suas açõ es
terroristas ocorreu em 2001, quando foram atingidos o Pentá gono e as torres do World Trade
Center.
11. (Fuvest-SP) O mundo tem vivido inú meros conflitos regionais de repercussã o global que,
por um lado, envolvem intervençõ es de tropas de diferentes países e, por outro lado, resultam
em discussõ es na Organizaçã o das Naçõ es Unidas.
Vestibular e Enem
Atenção: todas as questões foram reproduzidas das provas originais de que fazem parte. Responda a todas as questões no caderno.
12. (Enem)
Um gigante da indú stria da internet, em gesto simbó lico, mudou o tratamento que conferia à sua
pá gina palestina. O site de buscas alterou sua pá gina quando acessada da Cisjordâ nia. Em vez de
“territó rios palestinos”, a empresa escreve agora “Palestina” logo abaixo do logotipo.
BERCITO, D. Google muda tratamento de territó rios palestinos. Folha de S.Paulo, 4 maio 2013 (adaptado).
O gesto simbó lico sinalizado pela mudança no status dos territó rios palestinos significa o:
a) surgimento de um país binacional.
b) fortalecimento de movimentos antissemitas.
c) esvaziamento de assentamentos judaicos.
d) reconhecimento de uma autoridade jurídica.
e) estabelecimento de fronteiras nacionais.
13. (Unesp) A crise se iniciou em julho de 1956 [...] temerosos do nacionalismo pan-á rabe
defendido por Nasser, França e Grã -Bretanha decidiram fazer uma intervençã o militar punitiva na
regiã o, contando para tanto com a ajuda de Israel. Assim, em outubro de 1956, Israel invadiu o
Sinai, península pertencente ao Egito, e em novembro tropas britânicas e francesas ocuparam a
regiã o [...]. Contudo, a manobra, que possuía clara motivaçã o colonialista, repercutiu muito mal
junto à opiniã o pú blica mundial, particularmente junto aos EUA.
MELLO E SILVA, Alexandra de. Disponível em: <http://www.cpdoc.fgv.br>. Acesso em: 18 maio 2006.
14. (PUC-RS) Instrução: Responder à questã o […] considerando as relaçõ es entre as á reas
apresentadas e os fatos correspondentes.
Áreas Fatos
I Regiã o da Caxemira Fronteira entre Tensã o entre hinduístas e
a Índia e o Paquistã o muçulmanos descontentes com a
atual divisã o da Caxemira
II Regiã o da Catalunha (Espanha) Os protestantes desejam o poder
político e ameaçam os cató licos
III Turquia – Fronteira com a Síria Os turcos nã o aceitam a
independê ncia do Estado Palestino
IV Ruanda – país africano Ocorrem conflitos étnicos pelo
poder político
15. (FGV-SP) Sobretudo a partir da década de [19]60, o continente africano tem passado por
um processo de descolonizaçã o, isto é, de independência política formal que:
a) tem permitido à s jovens naçõ es superar o atraso econô mico motivado pela exploraçã o das
antigas metró poles.
b) desacompanhada da respectiva independência econô mica e financeira nã o conseguiu
alterar de forma efetiva as precá rias condiçõ es de vida da populaçã o.
c) reestruturou economicamente as novas naçõ es, uma vez que elas deixaram de produzir para
os mercados externos e voltaram-se para as necessidades da populaçã o local.
d) alterou sensivelmente o papel das antigas colô nias na divisã o internacional de trabalho,
uma vez que estas passaram a ter autonomia econô mica.
e) possibilitou a superaçã o das relaçõ es de subordinaçã o econô mica das antigas colô nias
através do desenvolvimento de atividades industriais modernas.
Pá gina 179
Geografia e Sociologia
As mulheres não são homens
[…] Sob formas que variam consoante o tempo e o lugar, as mulheres têm sido consideradas
como seres cuja humanidade é problemá tica (mais perigosa ou menos capaz) quando
comparada com a dos homens. À dominaçã o sexual que este preconceito gera chamamos
patriarcado e ao senso comum que o alimenta e reproduz, cultura patriarcal.
A persistência histó rica desta cultura é tã o forte que mesmo nas regiõ es do mundo em que ela
foi oficialmente superada pela consagraçã o constitucional da igualdade sexual, as prá ticas
quotidianas das instituiçõ es e das relaçõ es sociais continuam a reproduzir o preconceito e a
desigualdade. Ser feminista hoje significa reconhecer que tal discriminaçã o existe e é injusta e
desejar activamente que ela seja eliminada. Nas actuais condiçõ es histó ricas, falar de natureza
humana como se ela fosse sexualmente indiferente, seja no plano filosó fico seja no plano
político, é pactuar com o patriarcado.
A cultura patriarcal vem de longe e atravessa tanto a cultura ocidental como as culturas
africanas, indígenas e islâ micas. Para Aristó teles, a mulher é um homem mutilado e para Sã o
Tomá s de Aquino [...] o nascimento de uma mulher é sinal da debilidade do procriador. Esta
cultura, ancorada por vezes em textos sagrados (Bíblia e Corã o), tem estado sempre ao serviço
da economia política dominante que, nos tempos modernos, tem sido o capitalismo e o
colonialismo. [...]
Mas a cultura patriarcal tem, em certos contextos, uma outra dimensã o particularmente
perversa: a de criar a ideia na opiniã o pú blica de que as mulheres sã o oprimidas e, como tal,
vítimas indefesas e silenciosas.
Este estereó tipo torna possível ignorar ou desvalorizar as lutas de resistência e a capacidade
de inovaçã o política das mulheres. É assim que se ignora o papel fundamental das mulheres na
revoluçã o do Egipto ou na luta contra a pilhagem da terra na Índia; a acçã o política das
mulheres que lideram os municípios em tantas pequenas cidades africanas e a sua luta contra
o machismo dos líderes partidá rios que bloqueiam o acesso das mulheres ao poder político
nacional; a luta incessante e cheia de riscos pela puniçã o dos criminosos levada a cabo pelas
mã es das jovens assassinadas em Cidade Juarez; as conquistas das mulheres indígenas e
islâ micas na luta pela igualdade e pelo respeito da diferença, transformando por dentro as
culturas a que pertencem […]
SANTOS, Boaventura de Sousa. As mulheres nã o sã o homens. [Mantida a grafia original.] Carta Maior, 9 mar. 2011. Disponível em:
<http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4984>. Acesso em: 18 abr. 2016.
Khalil Senosi/AP Photo/Glow Images
Mulheres de vá rios países africanos participam da Marcha Mundial das Mulheres em protesto contra todas as formas
de violência e discriminaçã o por gênero, como a mutilaçã o ou o casamento precoce. Nairó bi, Quênia. Foto de 2015.
PARA ELABORAR
1. No ano de 2014, foi incluído no Art. 121 do Decreto-Lei n. 2 848, de 7 de dezembro de 1940
(Có digo Penal), o seguinte texto:
Projeto
Dossiê “Disputas territoriais no século XXI”
O que você vai fazer
1. Levantamento de dados
Sua classe será organizada em seis grupos. Cada grupo vai escolher um dos
continentes a seguir para realizar uma pesquisa sobre disputas territoriais:
Grupo 1: Américas
Grupo 2: Europa
Grupo 3: Á sia
Grupo 4: Oceania
Grupo 5: Á frica
• Causas – Contextualize a partir de fatos histó ricos os principais motivos para o litígio
na regiã o.
2. Elaboração do dossiê
3. Apresentação do seminário
JeremyRichards/Shutterstock.com/ID/BR
Desde o século XIX, a disputa entre Argentina e Reino Unido pelas estratégicas ilhas Malvinas (arquipélago localizado
no extremo sul da América do Sul) é um exemplo de á rea litigiosa sobre a qual a Argentina reivindica soberania. Em
poder dos britâ nicos, é um territó rio ultramarino, e sucessivos governos argentinos tentam uma soluçã o diplomá tica.
Foto da capital Stanley, das Falkland Islands, 2015.
4. Discussões
Depois da apresentaçã o do seminá rio, reú nam-se com os outros grupos e discutam as
semelhanças e as diferenças entre os conflitos apresentados. Busquem refletir sobre as
características econô micas, sociais, políticas e ambientais relacionadas à s disputas
territoriais.
Navegue
Environmental justice atlas
Atlas on-line (em inglê s) com mais de 1 500 conflitos relacionados a questõ es ambientais, mapeados em todos os
continentes. Disponível em: <http://linkte.me/ejatlas>. Acesso em: 19 abr. 2016.
Mundo tem 189 regiões de disputa territorial
O artigo da revista Exame relaciona alguns dos principais conflitos territoriais que se estendem há muitos anos. Disponível
em: <http://linkte.me/disputas>. Acesso em: 22 abr. 2016.
The World Factbook
Com enfoque em relaçõ es internacionais, o site da CIA (em inglê s) divulga informaçõ es sobre sociedade, economia e cultura
dos países do mundo e é atualizado anualmente.
Também traz uma lista dos principais conflitos internacionais contemporâ neos. Disponível em:
<http://linkte.me/factbook>. Acesso em: 9 abr. 2016.
Leia
Atlas da situação mundial, de Dan Smith. Sã o Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.
O livro aborda os conflitos geopolíticos do sé culo XXI, da Á frica aos países do Oriente Mé dio, Europa e Amé ricas.
Pá gina 182
Os desafios
UNIDADE 4
geopolíticos do século
XXI
NESTA UNIDADE
13 Geopolítica dos recursos naturais
14 Geopolítica do petróleo
15 Geopolítica dos alimentos
16 Geopolítica da produção
Plantação de milho em Maryland, Estados Unidos. Foto de 2015. Nos Estados Unidos, cerca de metade do
milho cultivado é destinada à alimentação animal. O cereal também é aproveitado para alimentação humana
e para produção de adoçantes, amido e combustível.
Pá gina 184
Geopolítica dos
CAPÍTULO 13
recursos naturais
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
O uso da á gua.
Á guas compartilhadas e águas fronteiriças – conflitos.
Geopolítica dos recursos minerais e energé ticos.
Fontes alternativas de energia.
O interesse de diferentes naçõ es pelos mesmos recursos faz da gestã o de recursos naturais uma questã o
geopolítica. Simultaneamente, o fato de muitos recursos serem finitos, quando se considera o ritmo de
exploraçã o econô mica, gera a necessidade de pensá -los como fatores estratégicos para o desenvolvimento
econô mico de um país.
A acelerada urbanizaçã o e novos há bitos de consumo, sobretudo a partir da segunda metade do século XX,
levaram a um aumento vertiginoso do consumo mundial de á gua e de recursos minerais como o petró leo. Além
de a á gua doce ser escassa e distribuir-se de forma irregular, a apropriaçã o indevida e o uso irracional desse
recurso podem deflagrar disputas.
A perspectiva de esgotamento das fontes de energia tradicionais, tais como carvã o e petró leo, assim como o
monopó lio de exploraçã o desses recursos e os graves impactos ambientais dela decorrentes têm impulsionado
a busca por outras fontes de energia. Da mesma forma, novas disputas geopolíticas podem ser motivadas pelo
domínio de recursos energéticos e posicionar algumas naçõ es em vantagem em relaçã o a outras.
De modo gradual, grande parte dos países está aderindo a políticas de incentivo ao uso de fontes energéticas
renová veis. Destas fontes, as mais utilizadas sã o as obtidas a partir da biomassa, da á gua (hidreletricidade) e
das energias solar e geotérmica.
Fonte de pequisa: GIWA. Mekong River – GIWA Regional assessment 55. Disponível em:
<www.unep.org/dewa/giwa/reports/r55/giwa_regional_assessment_55.pdf>. Acesso em: 29 maio 2015.
Thoai/Shutterstock.com/ID/BR
A cidade de Soc Trang, no Vietnã , está situada na foz do rio Mekong. Na foto, é possível observar o mercado flutuante
realizado nessa cidade, no delta do Mekong, em 2016.
2. A foto mostra um local na foz do rio Mekong no Vietnã . Considerando que os países banhados por essa bacia
têm problemas de saneamento bá sico, como as populaçõ es que fazem uso da á gua desse rio podem ser
impactadas pela poluição hídrica?
Pá gina 185
Há no mundo 286 bacias compartilhadas por 151 países, sendo 64 na Á frica e 68 na Europa.
Observe a tabela a seguir. As á guas de rios, mares e lagos que dividem países sã o, por
convençã o internacional, consideradas compartilhadas – sã o as chamadas águas
transfronteiriças. Existem também aquíferos subterrâneos que, por vezes, abrangem vá rios
países, como é o caso do Aquífero Guarani, que se estende por quatro países: Brasil, Argentina,
Paraguai e Uruguai.
Em bacias hidrográ ficas que abrangem diferentes países, o uso das á guas de um rio pode levar
a conflitos internacionais. Um programa de irrigaçã o ou a construçã o de barragens que
ocorrem em um país a montante pode alterar a vazã o do rio e impedir a prá tica da irrigaçã o
em outro país a jusante.
Na América do Norte, o uso das á guas dos rios Colorado e Grande por indú strias e na
agricultura dos Estados Unidos diminuiu enormemente a quantidade de á gua recebida pelo
México. Esse fato é motivo permanente de tensõ es entre esses países. É importante que os
países que se enquadram nessas situaçõ es estabeleçam acordos diplomá ticos para a gestã o e a
proteçã o compartilhada do recurso, evitando assim o uso da á gua como instrumento de poder
de uma naçã o sobre outra.
Muitos países nã o dispõ em de mananciais dentro de suas fronteiras e, por isso, dependem do
abastecimento de países vizinhos. A fim de evitar essa dependência e visando à segurança
hídrica de sua populaçã o, os países afetados desenvolvem açõ es para prevenir a escassez e
abastecer a populaçã o, a indú stria e a agricultura. Entre as obras mais comuns estã o as usinas
de dessalinizaçã o, os projetos de transposiçã o de rios e mares e o uso de á gua subterrâ nea.
Fonte de pesquisa: UNEP-DHI and UNEP (2016). Transboundary river basins: status and trends. United Nations Environment
Programme (UNEP), Nairobi. Disponível em: <http://twap-rivers.org/assets/GEF_TWAPRB_FullTechnicalReport.pdf>. Acesso em:
27 mar. 2016.
Pá gina 186
A Convençã o pela Proteçã o do rio Danú bio é um exemplo de acordo internacional para a
navegaçã o e proteçã o do rio.
De Agostini/Getty Images
CONEXÃO
O governo turco prevê a construçã o de 22 barragens para irrigar uma á rea superior a 1,7 milhã o de
hectares de terra, que faz parte do Projeto da Grande Anató lia, até o fim de 2020. Se efetivado,
poderá reduzir o volume de á gua do rio Eufrates em até um terço, afetando regiõ es muito
populosas da Síria e do Iraque, que teriam menos á gua para seu abastecimento.
1. Analise o mapa e discuta com um colega se as á reas ocupadas pelo Isis em 2015 sã o importantes
do ponto de vista hídrico.
2. Em sua opiniã o, a á rea onde há maioria da populaçã o curda é estratégica em relaçã o aos recursos
hídricos?
3. Como o controle do acesso à á gua pode afetar a saú de da populaçã o que vive à jusante do rio
Eufrates?
Leia
O atlas da água, de Robin Clarke e Jannet King. Sã o Paulo: Publifolha, 2006.
O livro traz muitas informaçõ es, mapas e estatísticas sobre a escassez de á gua, secas, inundaçõ es e conflitos internacionais
por causa desse recurso natural, além de outros temas. Os autores també m comentam os modos como a á gua vem sendo
utilizada em vá rios países, além de oferecerem pá ginas exclusivas sobre o panorama brasileiro.
Pá gina 187
A energia é indispensá vel à s sociedades, seja para uso industrial, seja para uso doméstico. O
conhecimento e o domínio das técnicas de transformaçã o dos recursos naturais em fontes de
energia têm sido fatores de estímulo para o desenvolvimento de muitos países.
A soberania de um país se dá nã o somente pelo controle de suas fronteiras, mas também pelo
domínio de suas reservas naturais em benefício da populaçã o nacional. Em um país com
abundâ ncia em determinado recurso natural, é fundamental controlar o uso desse recurso, de
modo a minimizar os impactos ambientais decorrentes de sua extraçã o e evitar sua escassez.
Os recursos minerais apresentam importâ ncia estratégica para as sociedades. Uma das
principais indú strias do século XXI, a indú stria armamentista, depende diretamente desse tipo
de recursos. Em tempos de guerra, a disponibilidade de minérios pode ser decisiva para uma
campanha. A corrida nuclear implementada no período da Guerra Fria (1945-1991) dependia
da disponibilidade de minerais radioativos (urâ nio, por exemplo), matéria-prima para
construçã o de armas nucleares.
Mesmo que a tecnologia nuclear seja utilizada para fins pacíficos, como em equipamentos
médicos e na produçã o de eletricidade por usinas nucleares, sua posse é motivo de preo-
cupaçã o para a comunidade internacional, pois há riscos de que tal tecnologia venha a ser
usada com objetivos militares.
Guillaume Souvant/AFP
Central nuclear de Civaux, França. Foto de 2016. Atualmente, a França é o país mais dependente de fontes nucleares
de energia. Em 2016, cerca de 75% da produçã o de eletricidade francesa tinha origem nuclear.
GEOGRAFIA E HISTÓRIA
A Bolívia é um país rico em gá s natural, petró leo e outros recursos minerais. Entretanto, no período
colonial, essa riqueza foi motivo de sofrimento para seu povo. Primeiramente, houve o saque das
minas de prata do Potosí pelos colonizadores espanhó is.
Séculos depois, a Bolívia chegou a produzir mais da metade de todo o estanho consumido no
mundo. A extraçã o desse metal era feita em minas insalubres, e a atividade causava um nú mero
muito elevado de mortes. Quase todo o minério extraído era processado na Inglaterra.
Assim como a Bolívia, vá rios outros países passaram por expe riências semelhantes. Atualmente, o
gá s natural é a maior fonte de divisas da Bolívia. Grande parte desse gá s é exportada para países
vizinhos, como o Brasil e a Argentina.
1. Durante a década de 2010, sob pressã o dos movimentos populares, que reivindicavam a
apropriaçã o e distribuiçã o da renda gerada a partir das exportaçõ es dos recursos minerais, o
governo boliviano nacionalizou uma empresa canadense de petró leo e gá s natural. Na sua opiniã o,
quais sã o as consequências positivas e negativas dessa política?
Reproduçã o de xilogravura publicada no livro História do descobrimento e conquista das províncias do Peru, de
Augustin de Zarate (Londres, 1581), retratando a vila de Potosí, na atual Bolívia. A vila foi a maior produtora de prata
do mundo no século XVII.
Pá gina 188
O fim do período colonial impô s à s grandes potências novas formas de relacionamento com os
países recém-independentes, visando à extraçã o de seus recursos naturais.
Com a Revoluçã o Industrial, o carvã o vegetal cedeu lugar ao carvã o mineral, que era utilizado
nos altos-fornos das siderú rgicas e formava a liga para o aço, que era amplamente empregado
na produçã o de má quinas, meios de transporte e mercadorias. Durante essa fase inicial do
capitalismo, a indú stria concentrava-se em um pequeno nú mero de países e utilizava matérias-
primas oriundas dos mais diversos lugares do mundo.
Ainda assim, a disputa pela posse de jazidas minerais levou a conflitos, como a Guerra Franco-
Prussiana (1870-1871), em que estavam em jogo as minas de ferro da regiã o de Lorena, na
fronteira entre a França e a Alemanha.
O petróleo e a eletricidade
No século XX, com a Segunda Revoluçã o Industrial, o petróleo e a eletricidade tornaram-se
bens preciosos.
O petró leo mudou a ordem geopolítica global – possuir esse recurso passou a ser uma
vantagem estratégica muito importante nessa nova fase do capitalismo financeiro, com a fusã o
entre indú strias e sistemas bancá rios. Associado a esse fato, a indú stria de automó veis cresceu
enormemente e gerou uma ampla reorganizaçã o do espaço em todo o mundo.
A eletricidade, por sua vez, foi sendo implementada em larga escala para usos industrial e
doméstico, causando também forte impacto na organizaçã o do espaço geo grá fico mundial. A
eletricidade era gerada por fontes térmicas (usinas termelétricas à base de carvã o mineral ou
vegetal e usinas nucleares) ou por força hidrá ulica (usinas hidrelétricas). O emprego da
eletricidade como força motriz libertou as indú strias da localizaçã o tradicional, nas
proximidades das bacias carboníferas, e ampliou de maneira significativa as opçõ es para sua
localizaçã o. Assim, a produção energética passou a ser extremamente importante para os
países.
Nas ú ltimas décadas, o debate em torno da questã o ambiental envolvendo os malefícios do uso
de combustíveis fó sseis (carvã o, petró leo e gá s natural) na produçã o de eletricidade revelou a
importâ ncia da geraçã o de energia a partir de fontes renová veis. Entretanto, como se pode ver
no grá fico a seguir, a energia de fontes convencionais ainda predomina no mundo.
Adilson Secco/ID/BR
Fonte de Pesquisa: Renewable Energy Policy Network for the 21st century (REN21). Renewables 2015 Global Status Report, p. 31.
Disponível em: <http://www.ren21.net/status-of-renewables/global-status-report/>. Acesso em: 30 mar. 2016.
Pá gina 189
Países situados em á reas com atividade tectônica intensa, como Islâ ndia, Nova Zelâ ndia,
Japã o, México, Filipinas e Estados Unidos, podem utilizar o potencial geotérmico como fonte de
energia. Os países localizados na zona intertropical recebem grande insolaçã o o ano todo, o
que é uma enorme vantagem em relaçã o aos países das zonas temperadas e pró ximos das
zonas polares. O Sol, além de fornecer luz e calor, propicia o surgimento de densas florestas de
enorme biodiversidade. O aproveitamento da energia solar e da biomassa pode ser muito
importante para o desenvolvimento das naçõ es da zona intertropical.
A extensã o territorial também é uma vantagem estratégica no cená rio energético global. Brasil,
Índia, Austrá lia, Repú blica Democrá tica do Congo e Angola podem tornar-se importantes
produtores de energia solar. O uso da biomassa já é uma realidade em vá rios países, como
Brasil, China e Estados Unidos.
VCG/Getty Images
Painéis solares, posicionados em uma lagoa de pesca, para produçã o de energia elétrica em Lianyungang, China. Foto
de 2016.
AÇÃO E CIDADANIA
É na zona rural do município de Quixeré, a 218 quilô metros da capital cearense, Fortaleza, que
funciona a fá brica de polpa de frutas da Comunidade de Barreiras. Lá , toda a energia utilizada
na confecçã o do produto é renová vel.
[...] Francisco Ednaldo [agricultor] conseguiu o maquiná rio por meio do Fundo Estadual de
Desenvolvi mento da Agricultura Familiar (Fedaf). Mas, a partir de agora, agricultores
familiares e assentados da reforma agrá ria têm mais uma opçã o para adquirir equipamentos
de geraçã o de energia solar e eó lica, por um preço abaixo do praticado no mercado. O
programa [...] do Ministério do Desenvolvimento Agrá rio (MDA) incluiu essas opçõ es em seu
catá logo de má quinas disponíveis para financiamento. [...] A utilizaçã o de energia renová vel no
campo pode ajudar a aumentar a produtividade e também levar mais condiçõ es
ambientalmente corretas. Esse tipo de energia tem ampla variedade de aplicaçõ es no meio
rural, como as placas fotovoltaicas – agora disponíveis no catálogo do programa [...].
NAVARRO, Tá sia. Energia renovável é opçã o para agricultores familiares. Ministério do Desenvolvimento Agrá rio, 19 fev. 2016.
Disponível em: <http://www.mda.gov.br/sitemda/noticias/energia-renov%C3%A1vel-%C3%A9-op%C3%A7%C3%A3o-para-
agricultores-familiares>. Acesso em: 29 mar. 2016.
1. A agricultura familiar garante mais de 70% dos produtos alimentares dos brasileiros. Em sua
opiniã o, quais sã o as vantagens, nesse setor, dos investimentos em energia renová vel?
2. Pesquise se no município onde você vive há iniciativas de geraçã o de energia a partir de fontes
renová veis. Compartilhe as informaçõ es com os colegas.
Pá gina 190
Entre as alternativas de energia renová vel, a que suscita mais debates e tem o maior papel
estratégico como substituta dos combustíveis fó sseis é a biomassa.
A biomassa pode ser utilizada como fonte de energia. Ela pode ser de origem florestal, agrícola,
animal e também ser gerada dos resíduos urbanos, como o lixo. Para utilizá -la como fonte de
energia, o processo de transformaçã o química da matéria deve resultar em hidratos de
carbono, que sã o importantes reservas de energia. A formaçã o das plantas se dá por meio da
fixaçã o de CO2 do ar e da á gua, com absorçã o da energia proveniente do sol e a formaçã o de
hidratos de carbono.
O etanol é a energia que passou da forma só lida (açú car) para a forma líquida, que sã o os
á lcoois, e é utilizado em substituiçã o à gasolina.
O Brasil e a biomassa
O á lcool e o biodiesel sã o produtos altamente estratégicos como alternativas ao petró leo,
podendo redirecionar o eixo geo político mundial. Nesse sentido, o Brasil desponta como a
grande potência mundial no uso de energia renová vel, já que possui o maior potencial de
exploraçã o de biomassa do planeta.
Além disso, o Brasil detém imensas florestas, fartura de á gua, energia solar abundante. Esse
conjunto de fatores coloca o país em condiçã o privilegiada em relaçã o a outros países.
É sempre importante observar que a geraçã o de energia limpa está relacionada não só à s
condiçõ es naturais dos países, mas também ao domínio tecnoló gico que permite seu
aproveitamento.
Em busca do aumento da eficá cia das fontes energéticas mais limpas e da reduçã o de custos, o
Brasil entrou em um novo ciclo na produçã o de etanol. O país é pioneiro na produçã o de
motores bicombustíveis e exporta tecnologia e equipamentos para países da Á sia e da Á frica,
tornando-se parceiro comercial estratégico deles. Veja, nos grá ficos ao lado, os países que
dominam a produçã o desse biocombustível e as estimativas de produçã o para 2024.
SAIBA MAIS
O programa Proálcool
Em 1975, em decorrência da primeira crise do petró leo, foi criado no Brasil o Programa Nacional
do Álcool (Proálcool), que tinha como objetivo substituir em larga escala os combustíveis
derivados do petró leo. Menos de dez anos depois, os elevados custos de produçã o na época e o
corte dos subsídios do governo levaram à falta do produto nas bombas. A produçã o de carros a
á lcool despencou, mas as pesquisas no setor continuaram. A popularizaçã o dos automó veis com
motores bicombustíveis deu novo impulso à produçã o e ao consumo de etanol no país.
Leia
A ordem ambiental internacional, de Wagner Costa Ribeiro. Sã o Paulo: Contexto, 2010.
O livro trata de modo didá tico de questõ es relativas ao ambiente e do papel geopolítico das açõ es ambientais em nível global.
Pá gina 191
Biocombustíveis e a Amazônia
As vantagens lucrativas da produçã o dos biocombustíveis, cuja demanda é cada vez mais
crescente, sã o atraentes aos produtores, que tendem a expandir as fronteiras agrícolas
brasileiras nas regiõ es Centro-Oeste e Norte. Trata-se de um processo polêmico, no qual a
expansã o de á reas agrícolas, com plantaçõ es de cana-de-açú car e soja, avança sobre terras da
Amazô nia e provoca a devastaçã o da floresta e de sua biodiversidade.
No entanto, há projetos de utilizaçã o de plantas nativas ou adaptá veis à regiã o, que podem ser
alternativas sustentá veis de produçã o de biodiesel. O dendê, por exemplo, é considerado uma
“prima-irmã ” das palmeiras amazô nicas, sendo possível seu plantio como forma de
recuperaçã o de á reas degradadas na regiã o.
O babaçu também é uma alternativa, pois é uma planta nativa da qual é possível extrair
biodiesel (da amêndoa) e etanol (do amido presente na polpa). Pode-se ainda fazer carvã o
vegetal de alto rendimento da casca do coco, já que esta concentra grande quantidade de
carbono.
Outra questã o relacionada à Amazô nia sã o as pesquisas sobre sua fauna e flora realizadas por
grupos estrangeiros sem a autorizaçã o do Estado. Por meio dessa prá tica, chamada de
biopirataria, esses grupos apropriam-se das potencialidades das riquezas naturais da regiã o.
Navegue
Portal brasileiro de energias renováveis
O portal conté m informaçõ es sobre vá rios tipos de energia renová vel, como biomassa, geoté rmica, hídrica e biogá s.
Disponível em: <http://linkte.me/pber>. Acesso em: 29 mar. 2016.
Pá gina 192
Informe
Os senhores da água
[...]
Desde tempos primó rdios, a á gua sempre foi um dos reguladores sociais mais importantes. As
estruturas das sociedades camponesas e das comunidades aldeã s, onde as condiçõ es de vida
estã o intimamente ligadas ao solo, eram organizadas ao redor da á gua. E, na grande maioria
dos casos, mesmo quando era considerada um bem comum, a á gua tornava-se uma fonte de
poder, tanto material quanto imaterial. Eram raros os casos em que todos os membros de uma
comunidade estivessem em um mesmo nível com relaçã o à á gua; o acesso a ela quase sempre
envolveu desigualdade.
[...]
Relaçõ es entre comunas sã o também, na grande maioria dos casos, marcadas por graus
variados de conflito. A palavra “rival” (ou “rivalidade”) vem do latim rivus (corrente ou
riacho); um rival, portanto, é alguém que, da margem oposta, usa a mesma fonte de á gua – daí
a ideia de perigo ou de ataque. Em suma, os senhores da á gua sempre existiram. [...]
O senhor da á gua obtém seu poder através da propriedade e do controle da á gua, ou através
dos mecanismos de acesso, apropriaçã o e uso em vigor, já que esses lhe permitem beneficiar-
se ao má ximo dos bens e serviços que a á gua gera ou faz ser possível gerar. O senhor da á gua é,
assim, capaz de ampliar sua capacidade de açã o (em termos de conhecimento, informaçã o,
tecnologia, finanças, relaçõ es sociais e poder cultural) e de perpetuar seu controle.
A legitimidade de seu poder depende, na maioria das vezes, de sua capacidade de prover
acesso (por mais desigual que esse seja) à s provisõ es de á gua para a comunidade sobre a qual
ele exerce sua autoridade, por meio de sistemas de captaçã o, bombeamento, canalizaçã o,
conservaçã o e manutençã o.
[...]
O tipo de conflito mais frequente nos dias de hoje envolve a competiçã o sobre os usos da á gua
que – como observamos brevemente antes – se tornam mutuamente exclusivos em uma
estrutura caracterizada pela falta de solidariedade e pela escassez crescente. [...]
Finalmente, os senhores da á gua obtêm seu poder através do aspecto simbó lico, sagrado,
místico da á gua. Em nossas pró prias sociedades de alta tecnologia, por exemplo, as barragens
desempenharam esse papel simbó lico ou místico; elas expressam o poder do homem de
controlar a á gua e de “alimentar” piscinas e reservató rios com ela.
Nos anos [19]50 e [19]60, principalmente no deserto californiano, a piscina particular juntou-
se ao carro como um símbolo de liberdade em um mundo “hollywoodiano” representativo da
América triunfante, que achava que merecia essa liberdade porque tinha demonstrado ser
mais poderosa tecnoló gica e economicamente que os demais. Hoje, uma forte e simbó lica carga
de poder e de progresso tecnoló gico também é atribuída à á gua mineral engarrafada, já que
essa é considerada á gua de alta qualidade, supostamente boa para a saú de e, por isso,
verdadeiramente uma fonte de vida.
PETRELLA, Riccardo. O manifesto da água: argumentos para um contrato mundial. Petró polis: Vozes, 2002. p. 59-63.
Indú stria de água mineral em Dom Expedito Lopes (PI). Foto de 2014.
PARA DISCUTIR
1. O texto faz uma crítica a respeito da apropriaçã o dos recursos hídricos como forma de
exercício do poder. As questõ es geopolíticas atuais envolvem nã o somente a disputa pela á gua
entre os Estados nacionais, mas também a mercantilizaçã o desse recurso. Como as empresas
podem acirrar os conflitos pela á gua?
2. Explique os interesses implícitos quando a á gua assume um “aspecto simbó lico, sagrado,
místico” nas diversas sociedades humanas.
Pá gina 193
Mundo Hoje
Geopolítica e ecologia dos mares fechados
Os mares fechados sã o superfícies líquidas que nã o possuem ligaçõ es com um outro mar ou
oceano. Por tradiçã o ou por sua dimensã o, nã o sã o identificados como lagos. Situados no
interior dos continentes, sã o “regulados” por rios que neles desá guam e, em alguns casos, por
á guas de degelo que descem das vertentes circundantes. Os mares Morto, Cá spio e de Aral sã o
exemplos típicos de mares fechados.
Situado entre Israel, a Cisjordâ nia e a Jordâ nia, o mar Morto é famoso por estar localizado na
maior depressã o continental do mundo e por seu alto índice de salinidade. No ú ltimo século,
perdeu cerca de 300 km2 de superfície e seu nível continua baixando, devido ao uso da á gua
dos rios que nele desá guam (especialmente o Jordã o) e à elevada evaporaçã o [ver mapa do
mar Morto].
Para evitar que o mar desapareça, as partes interessadas – Autoridade Palestina, Israel e
Jordâ nia – assinaram um acordo para “salvar” o mar. A ideia é desviar á gua do mar Vermelho
para o mar Morto por um canal de 80 quilô metros. [...]
Já o mar Cá spio localiza-se na Á sia Central e é dividido em três partes. Na parte norte, assenta-
se sobre uma depressã o absoluta com altitude média de 28 metros negativos. As porçõ es
central e sul apresentam profundidades bem maiores. Por conta do menor volume e
profundidade, e por estar junto a á reas continentais baixas, a porçã o norte é a mais vulnerá vel
à s variaçõ es de nível. É lá que desá gua o rio Volga, o mais importante afluente. Tudo o que
acontece ao longo dessa bacia, onde estã o as maiores concentraçõ es urbano-industriais da
Rú ssia, repercute sobre o mar [ver mapa da regiã o]. [...]
Ao longo do século XX, a soberania sobre o Cá spio foi compartilhada entre a Uniã o Soviética e o
Irã . Com a desintegraçã o da Uniã o Soviética, em 1991, o mar passou a banhar, além do litoral
do Irã , terras da Rú ssia, do Casaquistã o, do Turcomenistã o e do Azerbaijã o. A descoberta de
petró leo e gá s na á rea do Cá spio tornou mais complexo o quadro geopolítico. [...] Hoje, há
interesses conflitantes entre os cinco países no que se refere à definiçã o jurídica a ser aplicada,
especialmente em relaçã o à exploraçã o dos recursos da rica plataforma continental. [...]
Contudo, as tensõ es que cercam o Cá spio pouco significam se comparadas à crise que ameaça a
pró pria existência do mar de Aral. Situado no coraçã o da Á sia Central, o Aral se estende sobre
as terras á ridas das antigas repú blicas soviéticas do Casaquistã o e do Uzbequistã o. [...] Ele [mar
de Aral] foi vítima do planejamento ecologicamente irresponsá vel conduzido por Moscou [ver
mapa do desastre ambiental no Mar de Aral].
[...]
OLIC, Nelson Bacic. Geopolítica e ecologia dos mares fechados. Jornal Mundo Geografia e Política Internacional, ano 13, n. 5, p. 12, set.
2005. Disponível em: <http://www.clubemundo.com.br/pages/revistapangea/show_news.asp?n=312&ed=4>. Acesso em: 21 abr.
2016.
Allmaps/ID/BR
Allmaps/ID/BR
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: Geopolítica e ecologia dos mares fechados. Jornal Mundo Geografia e Política Internacional, ano 13, p. 12, set.
2005. Disponível em: <http://www.clubemundo.com.br/pages/pdf/2005/mundo0505.pdf>. Acesso em: 26 maio 2016.
PARA ELABORAR
1. Com base no texto, responda: Qual é a importâ ncia dos mares fechados para os países que
possuem fronteiras nessas á reas?
2. Converse com os colegas sobre soluçõ es pacíficas de gestã o compartilhada para cada um
dos casos apresentados no texto.
Pá gina 194
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
1. O volume de á gua do planeta foi sempre o mesmo. No entanto, o acesso à á gua vem sendo
um dos grandes problemas da humanidade nas ú ltimas décadas. Explique por que isso ocorre.
2. Cite três características da á gua que fazem dela uma fonte de tensõ es e conflitos
geopolíticos.
5. Por que é possível considerar a posse e o consumo dos recursos minerais uma questã o
geopolítica?
8. Que importâ ncia estratégica podem ter, atualmente, os recursos vegetais para um país?
Interpretando textos
Entre abril e maio de 2015, o Nepal foi atingido por dois fortes terremotos – de 7,8 e 7,3 graus na
escala Richter, respectivamente – que devastaram o país, deixando mais de 8 mil mortos e
obrigando o governo nepalês a recorrer à s autoridades internacionais por ajuda para lidar com a
crise humanitá ria que se instalou no país. [...]
Historicamente, a Índia é o maior parceiro comercial do Nepal, sendo responsá vel por 66% do
comércio externo total do país, além de ser, também, a segunda maior fonte de investimento
estrangeiro nepalesa. [...]
Para a China deve-se considerar que o alcance estratégico de influência na regiã o do Nepal também
contribui para as ambiçõ es chinesas relativas ao estabelecimento de uma nova Rota da Seda
[projeto comercial para ligar a China à Europa], visto que parte do Himalaia encontra-se no Nepal,
assim como a nascente de importantes rios que garantem o abastecimento de á gua tanto da China
como da Índia. Portanto, pode-se notar que a ajuda humanitá ria apó s o terremoto está atrelada a
uma rede de interesses velados, que condicionam a açã o da China e da Índia no sistema regional
asiá tico.
FRANÇOZO, Helena Ribas; LIMA, Sofia Moreira. Terremoto no Nepal: a competiçã o entre China e Índia por influência regional. Conjuntura
Internacional, 13 jul. 2015. Disponível em: <https://pucminasconjuntura.wordpress.com/2015/07/13/terremoto-no-nepal-a-
competicao-entre-chinae-india-por-influencia-regional/>. Acesso em: 31 mar. 2016.
Que motivo de ordem geopolítica levou China e Índia a enviar ajuda ao Nepal?
Trecho 1
Washington acusa Moscou de adotar uma política “imperialista” contra a Chechênia. William Safire,
um dos principais porta-vozes dessa linha de acusaçã o, diz que a guerra traduziu “a velha vontade
imperialista russa de dominar as fontes e as linhas de abastecimento de petró leo e gá s iranianos e
da bacia do mar Cá spio, e, com isso, garantir uma influência forte sobre a vida econô mica de seus
adversá rios.” [...]
Trecho 2
[...] em 1992, o senador americano Robert Dole declarou que as “preocupaçõ es” dos Estados Unidos
quanto à s reservas de petró leo e gá s mundial haviam se ampliado da regiã o do Golfo [Pérsico]
“rumo ao Norte, incluindo o Cá ucaso, o Cazaquistã o e a Sibéria”. E cinco anos depois, o senador Sam
Brownback fez aprovar uma nova resoluçã o, conhecida como “Estratégia da Rota da Seda”, segundo
a qual os Estados Unidos deveriam ampliar sua presença na bacia do Cá spio. [...]
Chechênia, aliá s, Eurá sia. Jornal Mundo Geografia e Política Internacional, ano 8, n. 1, p. 4, mar. 2000. Disponível em:
<http://www.clubemundo.com.br/pages/pdf/2000/mundo0100.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2016.
12. O texto abaixo é um dos artigos da Declaraçã o Universal dos Direitos da Á gua, da ONU.
[Art. 5º]– A á gua nã o é somente uma herança dos nossos predecessores; ela é, sobretudo, um
empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteçã o constitui uma necessidade vital, assim como uma
obrigaçã o moral do homem para com as geraçõ es presentes e futuras.
Declaraçã o Universal dos Direitos da Á gua. Portal Amazô nia. Disponível em:
<http://www.portalamazonia.com.br/secao/amazoniadeaz/interna.php?id=840>. Acesso em: 20 abr. 2016.
Discuta com os colegas as afirmaçõ es desse artigo da Declaraçã o e escreva um texto sobre o
que foi discutido.
Pá gina 195
Fonte de pesquisa: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. São Paulo: Moderna, 2013. p. 27.
a) Que tipo de “penú ria ambiental” pode acontecer nas á reas indicadas do mapa?
b) O conflito indicado no rio Amazonas ocorre a jusante ou a montante em relaçã o ao territó rio
brasileiro?
Adilson Secco/ID/BR
15. Em 2010, uma lama tó xica com resíduos industriais percorreu o rio Danú bio, a partir da
Hungria, comprometendo a qualidade da á gua de cidades à s suas margens e afetando a
qualidade dos solos, tornando-os inviá veis ao cultivo.
a) Quais outras consequências humanas e ambientais ocorreram no ecossistema dessa bacia
hidrográ fica?
b) Como os países deveriam agir para a recuperaçã o do rio?
c) Uma situaçã o como essa pode gerar conflitos internacionais? Justifique sua resposta.
Pá gina 196
Geopolítica do
CAPÍTULO 14
petróleo
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
A indú stria petrolífera nos sé culos XIX e XX.
A formaçã o da Opep.
Crises mundiais do petró leo: causas e consequê ncias.
As açõ es militares ligadas ao petró leo.
Adilson Secco/ID/BR
Fonte de pesquisa: Organization of the Petroleum Exporting Countries (Opec). Disponível em:
<http://www.opec.org/opec_web/en/data_graphs/330.htm>. Acesso em: 3 abr. 2016.
Atualmente, quase 80% da energia utilizada no mundo é originá ria de combustíveis fó sseis. Os três principais
combustíveis fó sseis sã o o petróleo, o carvão e o gás natural. Eles constituem as fontes de energia mais
usadas tanto nos países com industrializaçã o avançada como naqueles de industrializaçã o tardia.
O petró leo, apó s a Segunda Guerra Mundial, tornou-se a fonte de energia dominante, predomínio que se
aprofundou a partir da década de 1960. Devido a sua facilidade de transporte e uso, ele substituiu o carvã o,
tornando-se um insumo-chave do desenvolvimento no século XX.
O desenvolvimento do motor à explosã o, no início do século XX, deu um grande impulso ao consumo de
petró leo. Ele passou a assegurar a propulsã o dos grandes navios transatlâ nticos e dos trens. Mais tarde, com a
popularizaçã o do automó vel e os novos produtos que surgiram a partir de seus derivados, o mercado de
hidrocarbonetos conheceu uma grande expansão.
A produçã o de petró leo aumentou e expandiu-se pelo mundo, mas permaneceu controlada por um pequeno
grupo de empresas. Durante a maior parte do século XX, elas controlaram o sistema internacional do petró leo,
dominando a tecnologia de exploração e refino, a regulaçã o da produçã o e a distribuiçã o do produto.
Expandiram seu domínio por toda parte, extraindo ó leo cru (bruto, sem refino), produzindo combustíveis,
montando refinarias, oleodutos, bancos e financeiras internacionais.
2. Com base no grá fico, o que é possível afirmar sobre as reservas de petró leo no mundo?
3. A disputa pelo petró leo revela a grande dependência da sociedade em relaçã o ao consumo de bens
produzidos a partir de seus derivados. De que forma podemos reduzir essa dependência? Converse com os
colegas.
Navegue
Agência Nacional do Petróleo
O site apresenta dados sobre a produçã o de petró leo no Brasil. Disponível em: <http://linkte.me/anp>. Acesso em: 2 abr.
2016.
Pá gina 197
O primeiro poço de petró leo a ser explorado comercialmente foi aberto em 1859, na
Pensilvâ nia (EUA). O petró leo era utilizado principalmente como combustível para iluminaçã o.
A indú stria petrolífera só deixaria de ser estadunidense para se tornar uma indú stria global
com a descoberta de á reas de produçã o no Oriente Médio e com o aumento do consumo em
outras á reas geográ ficas.
Nos primó rdios da exploraçã o petrolífera, a competiçã o era predató ria: quando se anunciava
uma nova descoberta, havia uma corrida para comprar as terras vizinhas ao poço, com o
objetivo de explorá -las exaustivamente. O aumento da produçã o reduzia os preços, até que o
esgotamento dos poços provocasse nova alta. As dificuldades de estocagem faziam com que
toda a produçã o fosse imediatamente ofertada ao mercado.
Em 1870, John Rockefeller criou a empresa petrolífera Standard Oil, nos Estados Unidos. Ele
introduziu a atuaçã o verticalizadada da indú stria, ou seja, passou a organizar sua atuaçã o
estratégica por toda a cadeia produtiva, desde o refino até a distribuiçã o e o transporte. Assim,
Rockefeller conseguiu diminuir os riscos da atividade e a flutuaçã o dos preços do produto,
garantindo alta lucratividade. Nos anos seguintes, a Standard expandiu sua atuaçã o para
Europa, Á sia, Á frica do Sul e Austrá lia: em 1890, 70% de suas atividades estavam fora dos EUA.
As Sete Irmã s perceberam que o controle do suprimento de petró leo era importante para não
ocorrer superproduçã o e guerra de preços. Por isso, começaram a atuar de maneira integrada,
com o objetivo de eliminar a concorrência e controlar o mercado mundial. Como a oferta de
petró leo estava descentralizada em um nú mero crescente de países, essas companhias
passaram a adotar concessõ es, sobretudo no Oriente Médio. No regime de concessã o, uma das
Sete Irmã s “arrendava” a reserva e pagava uma pequena parte para o país onde se situava.
Assim, controlavam as reservas e os canais de distribuiçã o, coordenando suas açõ es para
evitar a concorrência. Os contratos de concessã o introduziram a estratégia do controle
geográ fico. Eles eram assinados por cem anos ou mais, cobrindo grandes á reas territoriais e
determinando preços baixos para os países produtores e exportadores de petró leo fora do
cartel.
Os governos dos países que sediavam essas empresas proporcionaram um ambiente político e
militar favorá vel para essas açõ es e apoiaram ativamente as companhias petrolíferas.
Atualmente, há uma maior diversificaçã o regional das maiores petrolíferas do mundo. As Sete
Irmã s concentravam-se praticamente nos Estados Unidos. Agora, a lista inclui muitos outros países.
Veja a tabela a seguir.
Corbis/Fotoarena
Campo de extraçã o de petró leo Burk-Waggoner, no Texas, Estados Unidos. Foto de 1919.
AÇÃO E CIDADANIA
No início do século XX, a popularizaçã o do automó vel provocou uma verdadeira revoluçã o nos
costumes e na organizaçã o do espaço: a urbanizaçã o acelerou-se; a cadeia de peças e serviços
automotivos multiplicou-se; milhõ es de quilô metros de vias asfaltadas foram construídas. Mas hoje
estamos diante dos limites dessa evoluçã o: é previsto o esgotamento dos combustíveis fó sseis, seu
uso é altamente poluidor, e a sociedade do automó vel sofre cada vez mais críticas por seu cará ter
excludente, pela poluiçã o e pelos congestionamentos.
1. Com um colega, reflitam sobre alternativas para diminuir a preponderâ ncia do automó vel na vida
cotidiana. Anotem suas ideias e compartilhem com a turma.
Pá gina 198
O domínio das Sete Irmã s recuou por força de intervençã o política. Por exemplo, no início dos
anos 1950, o governo iraniano quebrou um acordo com uma empresa do Reino Unido e
nacionalizou as açõ es da companhia no Irã . Outros países produtores tomaram medidas
idênticas, colocando fim ao domínio absoluto do cartel.
Em 1960, alguns dos maiores exportadores mundiais de petró leo – Irã , Iraque, Kuwait, Ará bia
Saudita e Venezuela – reuniram-se para criar a Organização dos Países Exportadores de
Petróleo (Opep), com o objetivo de coordenar a política petrolífera dos países-membros,
aumentando a renda obtida com o petró leo.
Em 1962, a Organizaçã o das Naçõ es Unidas (ONU) reconheceu o direito de todo Estado
soberano poder dispor livremente de suas riquezas e recursos naturais, levando em
consideraçã o suas estratégias de desenvolvimento. Essa resoluçã o fortaleceu países
produtores de petró leo, sobretudo os da Opep.
A Opep teve o importante papel político de enfraquecer o cartel das Sete Irmã s. Sua formaçã o
significou uma restriçã o das estratégias de controle total das reservas pelas grandes empresas.
Com o primeiro choque do petró leo (forte aumento dos preços), em 1973, o papel de regulaçã o
do mercado das Sete Irmã s foi transferido para a Opep, que também opera como um cartel
internacional. Em 2015, essa organizaçã o era formada por 13 países: Ará bia Saudita, Argélia,
Angola, Catar, Emirados Á rabes Unidos, Equador, Irã , Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Indonésia
e Venezuela.
Hasan Tosun/Anadolu Agency/Getty Images
SAIBA MAIS
Em 1956, o Egito nacionalizou o canal de Suez, que era até entã o administrado por uma empresa
anglo-francesa.
O canal constitui um ponto estratégico para o transporte do petró leo para a Europa e os Estados
Unidos. A interrupçã o do transporte levou ao aumento da cotaçã o internacional do produto.
A Ará bia Saudita respondeu com um embargo a todos os embarques de petró leo para Estados
Unidos, Países Baixos (Holanda) e Portugal. Amsterdã , nos Países Baixos, constituía um
importante ponto estratégico, pois era o principal redistribuidor europeu de combustível. Em
Portugal, por sua vez, localiza-se a base aérea das Lajes, o principal ponto de abastecimento
estadunidense para o fornecimento de armas a Israel.
Com o objetivo de pressionar os Estados Unidos e a Europa (que apoiaram Israel nos
conflitos), os á rabes uniram-se, reduzindo a produçã o do petró leo, elevando os preços do
barril em mais de 400% em 3 meses (de US$ 2,90 para US$ 11,65) e dando origem à maior
crise do petró leo, que afetou toda a economia mundial.
Diante dessa situaçã o, a Europa e o Japã o foram obrigados a racionar energia, enquanto os
Estados Unidos travaram o consumo e investiram em suas reservas. Os países emergentes,
como o Brasil, foram muito afetados, pois o encarecimento dessa fonte de energia gerou um
desequilíbrio em suas frá geis economias.
Desde entã o, os países produtores de petró leo tornaram-se controladores do mercado, pois as
companhias petrolíferas perderam espaço diante das naçõ es produtoras. O Oriente Médio,
onde se localizam as maiores reservas mundiais, passou a ser visto como á rea prioritá ria das
estratégias geopolíticas mundiais.
Uma das principais consequências dos choques do petró leo foi o surgimento de novas á reas
produtoras, nã o pertencentes ao cartel, como China e Rú ssia. Além disso, a crise suscitou
projetos de substituição energética – dos combustíveis fó sseis por fontes alternativas – e de
conservaçã o de energia.
No entanto, com o passar do tempo, os limites impostos pela Opep foram sendo desrespeitados
por alguns países, o que enfraqueceu a organizaçã o. Veja no grá fico alguns fatos que
influenciaram a variaçã o do preço do petró leo.
Adilson Secco/ID/BR
Fonte de pesquisa: BP Statistical Review of World Energy 2015. BP Global. Disponível em:
<http://www.bp.com/en/global/corporate/energy-economics/statisticalreview-of-world-energy/oilreview-by-energy-type/oil-
prices.html>. Acesso em: 4 abr. 2016.
Assista
Syriana – a indústria do petróleo. Direçã o de Stephen Gaghan, EUA, 2005, 128 min.
O filme mostra a açã o de um veterano agente da Agência Central de Inteligência (CIA) que percebe estar sendo usado para
interesses particulares ligados à indú stria petrolífera.
Pá gina 200
Vimos que os choques do petró leo foram ocasionados principalmente pela açã o dos cartéis e
pelo uso político de seu poder de produçã o. Um novo choque do petró leo, ocorrido a partir de
1999, resultou do aumento do consumo mundial, inclusive por causa do desenvolvimento dos
países emergentes, como o intenso crescimento chinês.
Podemos destacar dois conflitos armados relacionados à posse do petró leo e ao controle
geopolítico: a primeira Guerra do Golfo (1990) e a invasão do Iraque nos anos 2000.
A Guerra do Golfo
Com o fim da Guerra Irã -Iraque (1980-1989), o Iraque estava endividado e precisava realizar
uma recuperaçã o econô mica. Assim, para aumentar seu poder regional e obter uma saída
maior para o golfo Pérsico, o presidente do Iraque, Saddam Hussein, anexou o Kuwait, em
agosto de 1990.
Os países á rabes e os Estados Unidos exigiram sançõ es da ONU, entre elas o embargo
comercial e a autorizaçã o para o envio de tropas. No início de 1991, forças militares lideradas
pelos estadunidenses invadiram o Kuwait, numa operaçã o conhecida comoTempestade no
Deserto, pondo fim à ocupaçã o iraquiana.
O cessar-fogo ficou condicionado ao aban dono, pelo Iraque, de suas armas de destruiçã o em
massa e das instalaçõ es capazes de produzi-las.
A invasão do Iraque
Apó s os atentados de 11 de setembro de 2001, o entã o presidente dos Estados Unidos George
W. Bush mostrou-se determinado a invadir militarmente o Iraque. As justificativas eram o
apoio de Saddam Hussein ao terrorismo internacional, a defesa da democracia e a existência de
armas de destruiçã o em massa no territó rio iraquiano. Tais armas nunca foram encontradas.
A guerra durou cerca de seis semanas e nã o teve o apoio da ONU. Vá rios países se
posicionaram contra a guerra, como França, China e Rú ssia. Em abril daquele ano, forças da
coalizã o lideradas pelos Estados Unidos tomaram a capital iraquiana, Bagdá , destituindo
Saddam Hussein. Preso em 2004, foi executado pelo governo iraquiano em 2006.
Segundo os dados da Organizaçã o Nã o Governamental, Iraq Body Count (IBC), o nú mero de
iraquianos mortos apó s a invasã o superou os 230 mil civis. As acusaçõ es de tortura e
desrespeito aos direitos humanos e a morte de jovens soldados fizeram com que a ocupaçã o
ganhasse pouco apoio popular.
Mesmo depois do fim da guerra com o Iraque, os Estados Unidos mantiveram uma forte
presença militar no Oriente Médio. Grande parte das reservas de petró leo do globo concentra-
se ali, o que torna vital o domínio da regiã o para os interesses estadunidenses.
Luke Frazza/AFP
Manifestantes protestam em Washington, capital dos Estados Unidos, contra a intervençã o militar estadunidense no
Iraque. Foto de 2003. Na faixa em primeiro plano, lê-se, em inglês: End the occupation of Iraq (“Fim da ocupaçã o do
Iraque”).
Leia
Guerra e globalização: antes e depois de 11 de setembro de 2001, de Michel Chossudovsky. Sã o Paulo: Expressã o
Popular, 2004.
Nesse livro, o autor aborda os principais conflitos mundiais apó s o ataque à s torres do World Trade Center, em Nova York.
Pá gina 201
Os conflitos pela disputa das riquezas geradas pelo petró leo têm sido um dos grandes
problemas da Á frica. Além dos conflitos internos entre rebeldes e governos de regiõ es
petrolíferas, o interesse de grandes potências econô micas tem aumentado a presença política e
militar dessas naçõ es no continente africano. Em vá rias guerras civis, como no Sudã o, no Sudã o
do Sul, em Angola e na Nigéria, o petró leo é o principal alvo da disputa.
A renda do petró leo permite comprar armas e fortalece certos grupos. Muitas ditaduras estã o
associadas ao poder das grandes empresas mundiais do petró leo. Sã o as chamadas
petroditaduras.
A presença militar dos Estados Unidos é marcante no golfo da Guiné e no estreito de Bab-el-
Mandeb, pró ximo ao Chifre da Á frica, por onde é transportado o petró leo. A Uniã o Europeia
também tem buscado estreitar o relacionamento com suas ex-colô nias africanas na busca de
fornecimento de petró leo.
O caso mais marcante nos ú ltimos anos foi a intensa participaçã o do Reino Unido, da França e
dos Estados Unidos no golpe de estado na Líbia (2011-2012), um dos principais produtores
mundiais de petró leo.
Já a açã o da China tem se dado principalmente pelo apoio diplomá tico e por investimentos em
infraestrutura.
Jenny Vaughan/AFP
Trabalhadores chineses e etíopes em construçã o de ferrovia de capital chinês em Dire Dawa, Etió pia. A nova ferrovia
deve ligar Adis Abeba, capital da Etió pia, ao porto no Djibuti, no mar Vermelho. Foto de 2013.
A descoberta de petró leo na camada pré-sal no Brasil também tem sido alvo de polêmicas em
razã o do impacto ambiental da sua exploraçã o e da disputa entre os estados e a Uniã o em
relaçã o aos royalties do petró leo.
Assista
Fahrenheit 11 de setembro. Direçã o de Michael Moore, EUA, 2004, 116 min.
O documentá rio trata dos acontecimentos ligados ao ataque à s torres do World Trade Center nos EUA, das relaçõ es entre a
família Bush e Bin Laden e da invasã o do Iraque.
Terra prometida. Direçã o de Gus Van Sant, EUA, 2013, 126 min.
Nesse filme, um homem que trabalha para uma empresa de extraçã o de petró leo e gá s tenta convencer os moradores de uma
pequena cidade a permitir a instalaçã o da empresa.
Pá gina 202
Mundo Hoje
Nova guerra fria começa a despontar no Ártico
A cooperaçã o e a rivalidade coexistem em proporçõ es variá veis no Círculo Polar Á rtico, a
regiã o que pode se tornar a maior fonte de petró leo e gá s do planeta e na qual a Rú ssia tem o
grosso de suas reservas de hidrocarbonetos (explorá veis e potenciais), além de 20 000
quilô metros de fronteira marítima.
[...] Desde 2008, as empresas Rosneft e Gazprom, controladas pelo Estado russo, têm o
monopó lio da exploraçã o de hidrocarbonetos no Á rtico e sã o parceiros compulsó rios para
todos os projetos na regiã o. Em 9 de agosto de 2014, Igor Sechin, chefe da petroleira russa
Rosneft, e Glenn Waller, diretor da norte-americana Exxon- Mobil na Rú ssia, mostravam-se
otimistas em relaçã o aos planos conjuntos criados em 2011. Naquele dia, no mar de Kara,
Sechin e Waller inauguraram a perfuraçã o submarina de petró leo mais ao Norte feita pela
Rú ssia. [...] Tratava-se do “acontecimento mais importante do ano para a indú stria de petró leo
e gá s”, nas palavras de Sechin, e o poço recém-perfurado foi batizado como Pobeda (vitó ria),
por ser uma “vitó ria conjunta” da Rú ssia e de um grupo de “amigos e parceiros” internacionais.
De Pobeda jorrou o primeiro fluxo de petró leo, mas no final de setembro, devido à s sançõ es
norte-americanas, a ExxonMobil teve que selar o poço e abandonar seus projetos na Rú ssia. [...]
[...] Os políticos e analistas russos se dividem entre os que acreditam que seja preciso forçar a
exploraçã o do Á rtico para quando o preço do petró leo subir e os que recomendam que se
concentre na Sibéria Ocidental, onde já existe infraestrutura de exploraçã o e transporte.
[...]
[…] “A regiã o tem grande importâ ncia estratégica para os Estados possuidores de frota de
submarinos nucleares. Das posiçõ es submarinas no Nordeste do mar de Barents é possível
alcançar a maioria dos alvos mais importantes do mundo, porque por ali passa a trajetó ria
mais curta para os mísseis balísticos em qualquer hemisfério da Terra”, destaca uma
monografia do Instituto Russo de Pesquisas Estratégicas.
A Rú ssia criou um novo comando militar para melhorar a coordenaçã o e o alcance no Á rtico e
planeja a alocaçã o de 6 000 soldados em duas brigadas de infantaria motorizada. Moscou está
restabelecendo a rede de bases que a URSS tinha no Á rtico, a regiã o geográ fica mais pró xima
aos EUA, mas também constró i novas bases, uma delas no arquipélago de Novosibirsk (ao
Norte da Sibéria Oriental) e outra na ilha de Wrangler, uma reserva natural protegida pela
Unesco.
A geopolítica da região
[...] Reservas energéticas: O US Geological Survey [Serviço Geoló gico dos Estados Unidos]
calcula que o Á rtico abrigue um quarto das reservas de petró leo e gá s do mundo ainda nã o
descobertas.
[...] Regulamentação: A Organizaçã o das Naçõ es Unidas (ONU) criou um marco normativo em
1982 e estabeleceu que os países lindeiros [fronteiriços] têm direitos econô micos sobre 200
milhas ná uticas (370 quilô metros) a partir de sua costa. [...]
BONET, Pilar. Nova guerra fria começa a despontar no Á rtico. El País, 4 abr. 2015. Disponível em:
<http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/02/internacional/1427998445_036342.html>. Acesso em: 27 maio 2016.
Plataforma de petró leo russa Prirazlomnaya no mar de Barents, Rú ssia. Foto de 2014.
PARA ELABORAR
2. A nova corrida pela exploraçã o dos combustíveis fó sseis toma fô lego no Á rtico. Quais seriam
as vantagens em relaçã o a outras á reas de reservas de petró leo, como no Oriente Médio, onde
já existe uma infraestrutura de exploraçã o?
Informe
Cartas da zona de guerra
Crítico ferrenho do governo de George W. Bush, Michael Moore, documentarista e escritor
estadunidense, publicou cartas pessoais de soldados que lhe foram enviadas durante a Guerra
do Iraque. A seguir, trechos de uma das cartas.
[...]
Quando a guerra foi declarada, os Estados Unidos pareceram desumanizar o povo iraquiano,
tornando todos inimigos. [...] O tempo que passei no Iraque me ensinou um pouco sobre o povo
iraquiano e a condiçã o desse país dilacerado pela guerra e assolado pela fome.
O índice de analfabetismo nesse país é extraordiná rio; a maioria dos civis completa um nível
de educaçã o equivalente à nossa quinta série. Há algumas famílias, para as quais fiz um
trabalho de assistência humanitá ria, que viviam sob os telhados de duas casas, e sã o elas que
mais sofrem em tempos de guerra, principalmente quando os motivos sã o totalmente
desnecessá rios.
Havia alguns agricultores que nem mesmo sabiam que houve uma Tempestade do Deserto ou
uma Operaçã o Liberdade do Iraque. Foi entã o que me dei conta de que essa guerra foi iniciada
pelos poucos que lucrariam com ela, e nã o pelo seu povo; nó s, como as Forças de Coalizã o, nã o
libertamos esse povo; nó s o mergulhamos ainda mais na pobreza. Nã o prevejo nenhuma ajuda
econô mica chegar em breve para esse povo, por causa do modo como Bush sempre desviou
sua renda com o petró leo para garantir que houvesse petró leo suficiente para os nossos
veículos utilitá rios-esportivos.
[...]
Estamos aqui tentando manter a paz quando só nos ensinaram como destruir. De que modo
200 mil soldados esperam assumir o controle desse país? Por que nã o temos um plano efetivo
para reconstruir a infraestrutura do Iraque? [...] Minha mulher e eu estamos pensando
seriamente em nos mudar para o Canadá na condiçã o de refugiados políticos.
Isto foi um pouco mais do que eu pretendia originalmente, mas espero ter transmitido a
mensagem. Quero agradecer a você por criar um site interativo onde soldados podem se
expressar livremente. Você certamente merece alguns “pontos positivos” de minha parte.
MOORE, Michael. Cartas da zona de guerra: algum dia voltarã o a confiar na América? Sã o Paulo: Francis, 2004. p. 29-31.
Soldado estadunidense faz guarda em escola pú blica de Al Iskandiriyah, Iraque. Foto de 2011.
PARA DISCUTIR
1. Considerando o texto, discuta com mais um colega sobre esta questã o: É possível falar em
um “custo humanitá rio do petró leo”? A seguir, escreva um texto no caderno expondo as
conclusõ es a que vocês chegaram.
Pá gina 204
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
1. Cite argumentos que justifiquem a importâ ncia estratégica do petró leo como fonte de
energia para o mundo atual.
3. Apresente dados que comprovem que a Standard Oil detinha o monopó lio da cadeia
produtiva do petró leo no fim do século XIX.
4. Por que é possível dizer que As Sete Irmã s do petró leo agiam como um cartel? Quais eram
os mecanismos utilizados por essas empresas nesse sentido?
5. Qual foi a importâ ncia da Opep no enfraquecimento das Sete Irmã s? Quais sã o seus métodos
de açã o?
7. Quais foram as principais consequências das crises do petró leo para o mundo atual?
8. Quais foram as justificativas para as açõ es militares ocorridas no Oriente Médio a partir da
década de 1980?
Lendo mapas
Fonte de pesquisa: BP Statistical Review of World Energy. BP Global, jun. 2015. Disponível em:
<http://www.bp.com/content/dam/bp/pdf/energyeconomics/statisticalreview-2015/bp-statistical-review-of-world-energy-2015-
full-report.pdf>. Acesso em: 15 fev. 2016.
JAY DIRECTO/AFP
Ciclistas promovem manifestaçã o em solidariedade aos movimentos por justiça climá tica em Manila, Filipinas. Foto
de 2015.
GIRARDI, Giovana; NETO, Andei. Acordo de Paris obriga “transiçã o energética”. O Estado de S. Paulo, 14 dez. 2015. Disponível em:
<http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,acordo-de-paris-obrigatransicao-energetica,10000004759>. Acesso em: 5
abr. 2016.
Pá gina 205
a) Pesquise quais foram as medidas e estratégias estabelecidas pelo acordo de Paris para
combater as mudanças climá ticas.
b) Elabore um texto ressaltando os principais desafios e avanços relacionados à substituiçã o
do uso do petró leo como principal fonte de energia.
Se, em outubro de 1973, a Organizaçã o dos Países Exportadores de Petró leo (Opep) foi a
responsá vel pelo primeiro choque do petró leo, com brusca elevaçã o de preços e controle da oferta,
hoje, o cartel, que vem perdendo força, chega a ser comparado a um tigre sem alguns dentes.
Importantes descobertas em Estados Unidos, Canadá , Brasil e na costa Oeste da Á frica, dizem
especialistas, estã o promovendo uma verdadeira mudança na geopolítica mundial do petró leo, com
expectativas de aumento da produçã o em países fora da regiã o do Oriente Médio. As Américas vã o
ganhar força no novo mapa: nos Estados Unidos, com o shale gas (gá s nã o convencional) e o tight
oil (petró leo explorado de forma nã o convencional); no Canadá , com a produçã o de petró leo nas
areias betuminosas; e, no Brasil, com o pré-sal. […]
ORDOÑEZ, Ramona; ROSA, Bruno. Futura ‘nova Opep’ no Atlâ ntico Sul muda geopolítica do petró leo. O Globo, 7 out. 2013. Disponível em:
<http://oglobo.globo.com/economia/futura-nova-opep-no-atlantico-sulmuda-geopolitica-do-petroleo-10273212>. Acesso em: 6
abr. 2016.
a) É razoá vel supor que, do ponto de vista estratégico, o papel do Brasil venha a se modificar
no contexto mundial? Justifique sua resposta.
b) O Oriente Médio, tradicional regiã o produtora de petró leo, perde vertiginosamente sua
força, diante dessas novas exploraçõ es. Levante os aspectos negativos e positivos para a
economia tanto no Oriente Médio como nas novas á reas.
13. O trecho a seguir integra uma obra infantojuvenil que revela um importante debate na
sociedade brasileira na época em que foi publicado pela primeira vez (1937): a possibilidade
ou a impossibilidade de haver petró leo no Brasil. Leia-o atentamente e, depois, responda à s
questõ es propostas.
[...]
– E nó s, no Brasil, quantos poços abrimos?
– Que desse petró leo, nenhum. Até hoje foram abertos no territó rio brasileiro apenas sessenta e
poucos poços, na maioria rasos demais para atingir alguma camada petrolífera.
– Que vergonha! E a Argentina?
– A Argentina já abriu mais de quatro mil, quase todos produtivos.
– E os outros países da América?
– Todos estã o cheios de poços de petró leo, donde tiram milhõ es e milhõ es de barris. A Venezuela
conseguiu tornar-se o terceiro produtor do mundo, com mais de duzentos e oitenta milhõ es de
barris por ano. O Peru extrai milhõ es de barris. A Colô mbia extrai outros milhõ es. O Equador extrai
outros milhõ es. A Bolívia, idem. Todos os vizinhos do Brasil sã o grandes produtores de petró leo,
exceto o Uruguai e o Paraguai. [...]
– Entã o por que nã o se perfura no Brasil?
– Porque as companhias estrangeiras que nos vendem petró leo nã o têm interesse nisso. E como nã o
têm interesse nisso foram convencendo o brasileiro de que aqui, neste enorme territó rio, nã o havia
petró leo. E os brasileiros bobamente se deixaram convencer...
– Que araras! – exclamou Emília. – Mas nã o estã o vendo petró leo sair em todos os países vizinhos
do nosso?
– Estã o, sim, mas que quer você? Quando um povo embirra em nã o arregalar os olhos nã o há quem
o faça ver. As tais companhias pregaram as pá lpebras dos brasileiros com alfinetes. Ninguém vê
nada, nada, nada...
a) Que argumento o texto traz para afirmar que certamente há petró leo no Brasil? Esse
argumento tem coerência, do ponto de vista científico?
b) E como o texto explica a obstinaçã o, na época, em negar a existência de petró leo no Brasil?
Essa negativa tinha motivaçõ es científicas ou políticas?
14. Analise a charge a seguir. Crie uma legenda para ela e escreva um texto sobre o tema
explorado.
Geopolítica dos
CAPÍTULO 15
alimentos
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
Domínio da produçã o agrícola e segurança alimentar.
As empresas multinacionais e a produçã o agrícola.
Biocombustíveis e produçã o de alimentos.
Nos dias atuais, mesmo existindo uma capacidade de produzir alimentos além do necessá rio para toda a
populaçã o do globo, essa produção nã o se dá de forma homogênea, e o acesso à alimentaçã o nã o é igualitá rio
no mundo. Existem á reas onde a produção alimentícia gera excedentes, ao passo que há outras em que a fome
e a subnutriçã o sã o problemas graves e alarmantes.
Muitas vezes, a adoção de novas tecnologias na agricultura provoca o abandono das prá ticas tradicionais nos
países menos desenvolvidos, levando-os à dependência tecnoló gica em relaçã o aos países industrializados,
onde é produzida grande parte dos insumos.
Mesmo assim, nos ú ltimos sessenta anos, houve um aumento significativo na produtividade agrícola em
muitos países em desenvolvimento, o que gerou algumas melhorias para a populaçã o. Contudo, essa
modernizaçã o serviu principalmente à exportaçã o de alimentos e matérias-primas a baixos preços para os
países mais desenvolvidos. Associado a isso, observam-se uma enorme ampliaçã o do cultivo de espécies
utilizadas na produção de combustíveis (como o milho, a cana-de-açú car e a palma) e o uso de sementes
geneticamente modificadas, cujo cultivo é controlado por grandes empresas agroindustriais.
Fonte de pesquisa: FERREIRA, Graça Maria Lemos. Atlas geográfico: espaço mundial. Sã o Paulo: Moderna, 2013. p. 39.
3. Você concorda com a afirmaçã o “Países com déficit na balança comercial sã o aqueles que nã o têm recursos
para acabar com a subnutriçã o em seu territó rio”?
Pá gina 207
Suprir as necessidades alimentares da populaçã o com base em suas pró prias potencialidades
técnicas e naturais confere aos países a possibilidade de preservar com mais facilidade os
aspectos culturais relacionados à alimentaçã o. Se um país consegue, a partir da sua capacidade
produtiva e com recursos pró prios, abastecer a populaçã o sem depender totalmente dos
mercados internacionais, está a caminho de atingir a soberania alimentar. Essa soberania é
alcançada quando o sistema de produçã o também é sustentá vel, com uso cada vez menor de
agrotó xicos, substituiçã o de modelos de produçã o de monocultura, e quando o país decide a
sua própria política agrícola, ou seja, o que deve cultivar, como e quando comercializar,
como atender os mercados interno e externo, etc.
Em contraposiçã o ao mercado global, que absorve grande parte da produçã o dos países, os
sistemas produtivos locais – como a agricultura familiar no Brasil – sã o uma das principais
garantias de soberania alimentar, pois abastecem os mercados internos.
Ezequiel Becerra/AFP
A agroecologia apresenta-se hoje como alternativa de produzir alimentos de forma menos danosa ao ambiente, e
muitos movimentos sociais entendem essa prática como uma forma mais democrá tica e responsá vel do uso da terra.
Cultivo orgâ nico de couve-flor em Moravia, Costa Rica. Foto de 2014.
Assista
Nação fast food: uma rede de corrupção. Direçã o de Richard Linklater, Reino Unido/EUA, 2006, 116 min.
O filme critica a indú stria alimentícia estadunidense. Um funcioná rio de uma dessas empresas busca entender o processo
produtivo da mercadoria que vende e fica perplexo com as descobertas.
AÇÃO E CIDADANIA
O aumento do consumo de produtos industrializados, assim como de congelados, com baixo valor
nutritivo e grande quantidade de açú car, gorduras e alto teor caló rico, tem sido um dos principais
responsá veis pelo crescimento do nú mero de pessoas obesas no mundo, sobretudo entre crianças e
adolescentes. Esses novos padrõ es de consumo contribuem para a “insegurança alimentar”, na
medida em que se constata um significativo aumento de vá rias doenças associadas à ingestã o
desequilibrada de nutrientes, como doenças cardíacas, hipertensã o e diabetes.
A Organizaçã o Mundial da Saú de tem proposto restriçõ es à s propagandas desses tipos de alimento
dirigidas à s crianças, por considerar que estas sã o mais suscetíveis aos apelos comerciais.
1. Reú na-se com os colegas para pesquisar o teor nutritivo dos alimentos que vocês costumam
consumir. Façam um cartaz mostrando as características principais desses alimentos e assinalem os
há bitos alimentares e comportamentais que podem evitar a obesidade.
Antara Foto/Reuters/Latinstock
Hansen/UMD/Google/USGS/NASA
Fonte de pesquisa: Divisã o de Estatísticas da FAO (Faostat). Disponível em: <http://faostat.fao.org>. Acesso em: 4 maio 2016.
Fonte de pesquisa: Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 58.
Fontes de pesquisa: Unep. Oil palm plantations: threats and opportunities for tropical ecosystems. Disponível em:
<http://www.unep.org/pdf/Dec_11_Palm_Plantations.pdf>. Acesso em: 24 maio 2016; KOH, Lian Pin; WILCOVE, David S. Is oil palm
agriculture really destroying tropical biodiversity? Conservation letters, v. 1, n. 2, p. 60-64, 2008; ALBANO, Gleydson Pinheiro.
Globalizaçã o da agricultura na Oceania: ó leo de palma, a ú ltima fronteira. Geotemas, v. 2, n. 1, p. 37-59, 2012.
Pá gina 209
A produçã o de alimentos no mundo ocorre de forma bem dispersa. Alguns países com grande
capacidade de produçã o acabaram se tornando grandes exportadores mundiais de alimentos,
como a China e a Índia. Mesmo com alta demanda interna, passaram a se destacar como
exportadores de alimentos, entre outros fatores, em funçã o dos avanços tecnoló gicos. O
desenvolvimento da biotecnologia contribui fortemente para isso. Nesse setor, destacam-se os
Estados Unidos, grande exportador mundial de alimentos: das 15 principais empresas
mundiais, 13 sã o sediadas no país.
Isso foi resultado, principalmente, da forte ampliaçã o do consumo de alimentos nos países
asiá ticos, como China e Índia, que provocou um intenso movimento especulativo e elevou o
preço dos alimentos no mundo todo.
Isso faz com que o mercado internacional se torne palco de articulaçã o da geopolítica
alimentar mundial, determinando os destinos da produçã o, a logística dos fluxos comerciais, os
preços e até mesmo os aspectos técnicos dos sistemas agrícolas.
Uma prá tica recorrente nos países mais desenvolvidos, que têm produtores competindo no
comércio interno ou externo, é a adoçã o de medidas protecionistas que restringem a
importaçã o como barreiras tarifárias ou sanitárias. Apesar de essas medidas protecionistas
protegerem seus produtores, essas barreiras afetam as relaçõ es comerciais entre os países.
Barreira sanitária: restriçã o à entrada de alguns produtos visando à proteçã o da saú de humana e de animais. Um exemplo
é a restriçã o à importaçã o de carne bovina de locais afetados pela febre aftosa.
Leia
O desencanto da terra: produção de alimentos, ambiente e sociedade, de Glaucio J. Marafon e outros. Rio de Janeiro:
Garamond, 2011.
O livro aborda os problemas e os conflitos socioambientais causados pela moderna produçã o agropecuá ria.
Navegue
Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional
O site conté m diversos artigos e informaçõ es sobre o assunto.
Disponível em: <http://linkte.me/fbssan>. Acesso em: 27 maio 2016.
SAIBA MAIS
A relaçã o desigual entre os países no comércio internacional de alimentos pode ser explicada pela
teoria da deterioração dos termos de troca. Ao se estabelecer o comércio entre países cujas bases
de troca sejam, de um lado, industrial (maior valor agregado), e de outro agrícola, os países
essencialmente agrícolas tendem a ficar cada vez mais dependentes dos países importadores de
produtos primá rios, o que dificulta o crescimento econô mico. Esse processo ocorre principalmente
porque as inovaçõ es técnicas tornam os produtos primá rios cada vez mais baratos, enquanto os
produtos industrializados encarecem, por se tornarem mais sofisticados.
Pá gina 211
Transgênicos e biotecnologia
A partir dos avanços da biotecnologia, na década de 1990 uma “segunda” revoluçã o surge com
plantas transgênicas (OGM). Podem tornar uma planta resistente a pragas e aumentar sua
capacidade de adaptaçã o climá tica. Mas a incerteza sobre a segurança de seu consumo e sobre
como as toxinas e outras substâ ncias afetam a cadeia alimentar e a saú de humana sã o os
principais argumentos contrá rios ao seu uso na agricultura.
Além disso, as poucas empresas de biotecnologia cobram royalties pelo uso de suas sementes
modificadas, e todos aqueles que as compram ficam impedidos de produzir suas pró prias
sementes para o plantio seguinte. O controle exercido por essas multinacionais pode fragilizar
a soberania alimentar de um país, ao estabelecer esse tipo de dependência.
As empresas de biotecnologia alegam que eles seriam uma alternativa aos problemas de
sustentabilidade na agricultura, pois podem proporcionar alta produtividade em menores
á reas e melhorar o potencial bioló gico do solo. O combate à fome no mundo é outro argumento
favorá vel, em virtude da melhoria expressiva da produtividade agrícola. A fome nã o é, em
essência, um problema decorrente da deficiência na produçã o alimentar, mas, sim, da escassez
de renda para obter alimentos, já que a produçã o atual é suficiente para alimentar a populaçã o
mundial.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. Sã o Paulo: Á tica, 2013. p. 31.
Assista
O veneno está na mesa. Direçã o de Silvio Tendler, Brasil, 2011, 50 min.
O documentá rio mostra que a populaçã o brasileira se alimenta mal e perigosamente, pois o Brasil é o país que mais utiliza
agrotó xicos no mundo.
Pá gina 212
Presença Indígena
A casa de Maní
Conta uma conhecida histó ria tupi que um dia nasceu uma linda indiazinha na aldeia. Era uma
criança diferente, muito branquinha, como um raiozinho da lua. Chamaram-na de Maní. Era
silenciosa e quieta. Parecia guardar um segredo. Um dia, para a tristeza de todos, sem ficar
doente, Maní morreu. Os pais a enterraram dentro da pró pria oca e regaram a sua cova todos
os dias com á gua e lá grimas de saudade. Algumas luas depois, no lugar onde jazia Maní nasceu
uma plantinha muito viçosa. Ao desenterrar suas raízes, os índios viram que sua casca era cor
de terra, mas por dentro eram branquinhas, da cor de Maní. Era a casa de Maní, a maní’oka. E
fizeram da planta seu alimento. Assim surgiu a mandioca.
Principal alimento cultivado pela maior parte dos povos indígenas do Brasil, a mandioca – mais
especificamente a farinha de mandioca – é a maior evidência da importâ ncia dos costumes
alimentares indígenas para a cultura brasileira. Alimento indígena por excelência, ela forma a
base alimentar de boa parte de nossa populaçã o.
Domesticada pelos ameríndios que viviam na Amazô nia há quatro ou cinco mil anos, a
mandioca e sua farinha acompanharam, como nenhum outro alimento, a formaçã o do povo
brasileiro.
Adotada pelos portugueses, a “farinha de guerra” foi a base alimentar das expediçõ es que
desbravaram o territó rio, passando a integrar a dieta alimentar dos colonizadores, de norte a
sul do Brasil. Hoje, sua presença é tã o generalizada e comum na mesa dos brasileiros que
quase passa despercebida.
Mas a influência indígena na culiná ria brasileira não se restringe à mandioca. Além dela, os
índios contribuíram com o palmito, a batata-doce, o milho, o feijã o, a pimenta, o amendoim, o
guaraná , o mate, a castanha-do-pará , o mel nativo e inú meras frutas, como a goiaba, a
jabuticaba, o abacaxi, o caju e o maracujá . Foi dos indígenas que vieram também muitas
técnicas de preparo de peixe e de carne e também os diferentes mingaus e pirõ es. Vêm dos
índios utensílios como panelas de cerâ mica, inú meras formas de colheres e instrumentos
trançados em palha, como peneiras, abanadores e o tipiti, longo tubo de palha onde é escorrida
a mandioca ralada para retirar seu líquido tó xico.
Esses exemplos sã o apenas uma pequenina amostra de uma incontá vel lista. Podemos afirmar
que é difícil entrar numa cozinha de nosso país e nã o encontrar algum elemento que tenha
origem no mundo indígena.
Pratos indígenas
Mais do que simples conjunto de ingredientes e técnicas ligadas ao nosso universo culiná rio, a
alimentaçã o é uma dimensã o de nossa cultura, que revela muito da histó ria e do modo de ser
dos brasileiros. Compreendendo como o saber culiná rio dos indígenas inspirou e marcou
nossos costumes, entendemos melhor a nossa histó ria e o nosso presente.
A histó ria da colonizaçã o do Brasil está ligada desde o início ao sistema alimentar indígena.
Durante os séculos XVI e XVII, para conseguir estabelecer seu domínio territorial, o invasor
português miscigenou-se com as mulheres indígenas. Aproveitando-se dos costumes
poligâ micos dos Tupi, os homens portugueses casavam-se com vá rias mulheres indígenas,
ganhando assim autoridade e poder de controle sobre os índios. Era o “cunhadismo”.
Como na época colonial havia poucas mulheres europeias nestas terras, e eram muito escassos
os elementos tradicionais da culiná ria europeia trazidos para cá , a cozinha e o cozinhar eram
atividades quase exclusivas das mulheres indígenas, que utilizavam praticamente só
ingredientes nativos.
Mesmo em casas abastadas nã o havia mesa, nem bufete, nem aparadores. A comida era entã o
servida sobre esteiras indígenas colocadas no chã o, a cuia de farinha ao centro, cada comensal
com seu prato de barro, comendo com as mã os, aos bocados.
SILVA, Paula Pinto e. Farinha, feijão e carne-seca: um tripé culiná rio no Brasil colonial. Sã o Paulo: Senac, 2005. p. 32.
Apesar da grande presença dos costumes indígenas em nossa cultura alimentar, pouco
ouvimos falar dessa forte influência. Quando muito, é citado um ou outro ingrediente como
herança, como se o modo de vida indígena nã o estivesse mais entre nó s e se fizesse presente
apenas por meio de um ou outro traço. É como se a presença indígena em nossa identidade
fosse só um colorido a mais, algo superficial e nã o uma de suas raízes profundas.
Mas essa “ignorâ ncia” não é por acaso. A noçã o de superioridade da cultura “branca” esteve
presente desde o início da colonizaçã o, diminuindo ou apagando em nossa memó ria a
importâ ncia dos saberes indígenas. O colonizador dependia da força de trabalho e dos
conhecimentos tradicionais primeiramente dos povos indígenas e a seguir dos africanos
escravizados trazidos para cá . Apesar disso, a mentalidade de domínio dos valores ocidentais
sempre se impô s, deixando “invisíveis” a presença dessas outras duas matrizes étnicas.
Pá gina 213
A vida moderna encobre ainda mais nossas raízes. No campo da alimentaçã o, essa dinâ mica se
realiza, por exemplo, por meio dos alimentos industrializados e das plantaçõ es monocultoras
mecanizadas. Como resultado desse longo processo histó rico, atualmente, é mesmo difícil
reconhecer em nosso cotidiano a permanência dos costumes que aprendemos com os
indígenas.
Também estã o retomando pratos e há bitos de sua culiná ria tradicional, como o consumo de
frutas do Cerrado e o uso de plantas medicinais, que estavam sendo esquecidas. Assim,
esperam retomar os antigos padrõ es de saú de, quando nã o havia desnutriçã o nas crianças nem
obesidade nos adultos.
Enquanto no universo cultural do não indígena a cultura do fast food parece alastrar-se (até
mesmo para algumas aldeias indígenas), muitas organizaçõ es indígenas buscam projetos como
os dos Xavante. Mediante plantios diversificados e a retomada de prá ticas rituais e culiná rias
que estavam postas de lado, eles tentam resistir à oferta de alimentos industrializados e
pobres de nutrientes e de histó ria.
Esse mesmo conflito acontece em muitas cozinhas das cidades brasileiras, todas um pouco
indígenas, mesmo que nã o saibam. Lá pelos cantos da cozinha, no tempero apimentado, na
colher de pau e na farinha de todo dia, resiste, silenciosa, a presença de Maní.
Renato Soares/Pulsar Imagens
Família indígena da etnia Aparai-wayana prepara a farinha de mandioca na aldeia Bona, em Laranjal do Jari (AP).
Foto de 2015.
Navegue
Nossa Tribo
Site da ONG Nossa Tribo, que realiza projetos relacionados à alimentaçã o com os Xavante, do Mato Grosso, e os Pankararu,
de Sã o Paulo. Disponível em: <http://linkte.me/ntri>.
Slow Food Brasil
Nesse site, insira na busca a palavra “indígena”, para acessar uma relaçã o de vá rios artigos relacionados à culiná ria indígena.
Disponível em: <http://linkte.me/sfbr>.
Acessos em: 27 maio 2016.
Leia
Antologia da alimentação no Brasil e História da alimentação no Brasil, de Luís da Câ mara Cascudo. Sã o Paulo: Global,
2008.
Profundo estudioso da cultura popular brasileira, o autor, nesse livro, explica a base da dieta brasileira, a partir das
influê ncias das culiná rias portuguesa, indígena e africana.
Feijão, farinha e carne-seca: um tripé culinário no Brasil colonial, de Paula Pinto e Silva. Sã o Paulo: Senac, 2005.
No livro sã o destacados elementos de outras culturas que foram incorporadas à gastronomia brasileira, como alimentos da
base das dietas indígena e africana.
Para discutir
1. De acordo com o texto, apesar de muito presente em nosso cotidiano, a culiná ria indígena é
“invisível” aos olhos da maioria. Com base nas informaçõ es do texto, discuta em grupo esta
questã o: Por que a culiná ria indígena nos passa tã o despercebida?
Pá gina 214
Suprir as necessidades alimentares das populaçõ es tem sido um desafio desde o princípio da
humanidade. Porém, o que torna peculiar a ocorrência da fome nos tempos atuais é o fato de
ela coexistir com recursos tecnoló gicos que fazem da abundâ ncia de alimentos uma realidade.
A fome é um problema social grave, que pode até levar pessoas à morte por inaniçã o ou por
agravamento de doenças e ainda causar ou acirrar conflitos e guerras. A concentraçã o de
riquezas impede a superaçã o da carência alimentar que acomete principalmente países da
Á frica Subsaariana, da América Latina e de algumas regiõ es da Á sia.
A escassez de alimentos passa a ser uma das principais causas do deslocamento de imigrantes
e refugiados.
Os conflitos motivados pelo domínio de fontes de alimento ou a posse dessas fontes como
arma para enfraquecer os inimigos nas disputas territoriais sempre estiveram presentes ao
longo da histó ria.
O controle sobre a produçã o de alimentos essenciais para o consumo humano já foi utilizado
como estratégia geopolítica por naçõ es, por meio de bloqueios econô micos e embargos de
alimentos. A destruiçã o de plantaçõ es (por fatores climá ticos), a infraestrutura insuficiente de
transporte e a restriçã o do comércio internacional sã o grandes causadores da fome no mundo.
O milho é utilizado para vá rias funçõ es e, ao se priorizar seu uso em larga escala para a
produçã o de biocombustível, seu preço no mercado internacional aumenta, o que prejudica
quem o consome como alimento. Desse modo, é preciso que os países agroexportadores se
integrem com maior soberania ao comércio mundial, buscando combinar o plantio de
alimentos em grande quantidade com o estímulo a prá ticas racionais de produçã o de
biocombustíveis.
Ernesto Reghran/Pulsar Imagens
Extensas áreas de cultivo de cana-de-açú car. Praticado sob o modelo de monocultura, destina-se à produçã o de
etanol no Brasil. Florestó polis (PR). Foto de 2015.
Leia
Geografia da fome, de Josué de Castro. Rio de Janeiro: Civilizaçã o Brasileira, 2005.
Um dos principais livros do geó grafo que se transformou no maior especialista mundial em fome. Nesse livro, ele trata do
problema da fome no continente americano.
Pá gina 215
Mundo Hoje
Segurança alimentar urbana
[...]
As frutas e hortaliças sã o as fontes naturais que têm maior abundâ ncia de micronutrientes,
mas nos países em desenvolvimento o consumo diá rio de fruta e hortaliças é apenas de 20% a
50% do recomendado pela FAO e a Organizaçã o Mundial da Saú de (OMS). As refeiçõ es urbanas
baratas, ricas em gorduras e açú cares, também sã o responsá veis pelo aumento da obesidade e
sobrepeso. Na Índia, as doenças crô nicas relacionadas à alimentaçã o, como a diabetes, sã o um
problema de saú de cada vez maior, sobretudo nas zonas urbanas.
[...]
A horticultura intensiva nas periferias urbanas faz sentido. Mas, à medida que as cidades
crescem, perdem-se valiosas terras agrícolas para a construçã o de casas, indú stria e
infraestrutura (a expansã o de Accra [capital de Gana, na Á frica] absorve cerca de 2 600
hectares de terras agrícolas a cada ano). Resultado: a produçã o de alimentos frescos está sendo
empurrada para as á reas rurais. O custo do transporte, empacotamento e refrigeraçã o, o mau
estado das estradas rurais e as vultosas perdas em trâ nsito aumentam a escassez e o custo de
frutas e hortaliças nos mercados urbanos.
Por isso, a China integra a produçã o de alimentos ao desenvolvimento urbano desde os anos
1960. Hoje, mais de metade das hortaliças consumidas em Pequim vem das pró prias hortas da
cidade e custa menos que os produtos transportados de á reas mais distantes. A horticultura
em Hanó i e seus arredores produz mais de 150 000 toneladas de frutas e hortaliças por ano.
Em Cuba, que promove a HUP [horticultura urbana e periurbana] intensiva desde o início dos
anos 1990, o setor responde por 60% da produçã o hortícola– e o consumo per capita de frutas
e hortaliças dos cubanos excede o mínimo recomendado pela FAO/OMS.
À medida que a urbanizaçã o se acelera na Á frica Subsaariana, muitos países estã o procurando
desenvolver sua pró pria horticultura comercial para assegurar a segurança alimentar urbana.
Muitas vezes o primeiro passo consiste em legalizar e proteger pequenas hortas que surgiram
sem planejamento ou licença.
Na Repú blica Democrá tica do Congo, por exemplo, a FAO prestou assessoria sobre medidas
para regularizar títulos de 1 600 ha de hortas cuidadas por cerca de 20 000 produtores em
cinco cidades. O projeto introduziu variedades melhoradas de hortaliças e instalou ou
melhorou 40 estruturas de irrigaçã o, que estenderam a disponibilidade de á gua, e a produçã o,
durante todo o ano.
Para assegurar a qualidade e segurança dos produtos, 450 associaçõ es de produtores
receberam capacitaçã o em boas prá ticas agrícolas, inclusive o uso de fertilizantes orgânicos e
biopesticidas. Hortas comerciais na capital, Kinshasa, agora produzem cerca de 75 000 a 85
000 toneladas de hortaliças por ano, ou 65% do abastecimento da cidade. [...]
FAO. Criar cidades mais verdes. Disponível em: <http://www.fao.org/docrep/015/i1610p/i1610p00.pdf>. Acesso em: 27 maio 2016.
Fiston Mahamba/NurPhoto/AFP
Estudantes aprendem técnicas de agricultura urbana em Butembo, Repú blica Democrá tica do Congo. Foto de 2015.
PARA DISCUTIR
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
4. O que é a teoria da deterioraçã o dos termos de troca? Como isso atinge os países pobres?
5. Por que podemos falar em um uso geopolítico dos alimentos no mundo? Dê exemplos.
Interpretando textos
Basta ir a um supermercado russo para saber com quais países o presidente Vladimir Putin se dá
bem, uma vez que ele costuma punir seus inimigos com embargos alimentares que transformaram
o carrinho de compras na Rú ssia em uma complexa babel geopolítica.
“O Senhor Tomate mudou de nacionalidade. Mais uma vez”, publicou a imprensa russa depois de o
Kremlin proibir a importaçã o de verduras e frutas turcas como sançã o à derrubada de um caça-
bombardeiro russo na fronteira síria. [...]
Uma visita à seçã o de hortifrú ti de uma mercearia ou de um supermercado é mais do que suficiente
para analisar detalhadamente a conjuntura geopolítica internacional.
O embargo contra a Uniã o Europeia já tinha mudado radicalmente o panorama das prateleiras de
produtos frescos de Moscou, mas a suspensã o das importaçõ es turcas complicou ainda mais a
escolha e encareceu significativamente o custo das compras.
[...]
Situaçã o geopolítica russa se reflete nas prateleiras dos supermercados. G1, 15 dez. 2015. Disponível em:
<http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/12/situacao-geopolitica-russa-se-reflete-nas-prateleirasdos-supermercados.html>.
Acesso em: 8 abr. 2016.
a) Segundo o texto, a quais países a Rú ssia impô s embargo comercial?
b) De acordo com o texto, quais sã o os efeitos dessa decisã o geopolítica sobre o regime
alimentar da populaçã o russa?
“Quem controla o petró leo controla as naçõ es; quem controla os alimentos controla as pessoas.”
10. Associe o texto a seguir à s questõ es geopolíticas dos alimentos e responda à s questõ es.
[...] Agora, um importante artigo publicado pelo The Economist informa que uma Segunda
Revoluçã o Verde está em andamento diante da queda da produtividade, principalmente do arroz,
que ocorre em países asiá ticos por diversos motivos. Novas variedades foram e estã o sendo
desenvolvidas pelo IRRI – International Rice Research Institute nas Filipinas com diferentes
finalidades. Algumas delas sã o resistentes às inundaçõ es, outras à s secas, à s salinidades ou aos
calores extremos, problemas enfrentados pelos pequenos e pobres produtores asiá ticos cuja renda
procuram elevar. Além de melhorar seus nutrientes. [...]
YOKOTA, Paulo. A segunda revoluçã o verde e o combate à fome. Carta Capital, 19 maio 2014. Disponível em:
<http://www.cartacapital.com.br/economia/a-segunda-revolucao-verde-e-o-combate-a-fome-9205.html>. Acesso em: 8 abr. 2016.
11. Observe o grá fico a seguir e responda: Quais medidas poderiam ser adotadas pelos
governos e por suas respectivas populaçõ es para combater os problemas da fome, da
desnutriçã o e da subnutriçã o em seus países?
Adilson Secco/ID/BR
Adilson Secco/ID/BR
Geopolítica da
CAPÍTULO 16
produção
O QUE VOCÊ VAI ESTUDAR
A indú stria de armamentos.
O poder nuclear.
A produçã o da ciê ncia e da tecnologia.
ID1974/Shutterstock.com/ID/BR
Exposiçã o de equipamentos e materiais bélicos no Fó rum Internacional de Tecnologia Militar, em Kubinka, Rú ssia.
Foto de 2015.
Um dos fatores mais representativos na comparaçã o do poder dos Estados nacionais é a sua capacidade bélica.
Possuir armas potentes ou a capacidade de produzi-las rapidamente pode ser decisivo em uma situaçã o de
guerra.
Na sociedade contemporâ nea, podemos destacar as inovaçõ es bélicas ocorridas durante a Primeira Guerra
Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), como a metralhadora, os fuzis, as granadas, o
lança-chamas, o gá s mostarda (uma das primeiras armas químicas), o tanque de guerra e o uso de aviõ es como
veículo de combate. Atualmente, as armas de destruiçã o em massa, como as nucleares, químicas e bioló gicas,
ameaçam Estados com á reas em litígio, como a fronteira entre a Índia e o Paquistã o, por exemplo.
Diversos confrontos armados geopolíticos aquecem a “economia de guerra”, ao impulsionar a indú stria e o
comércio de armamentos em países que têm interesses estratégicos nas á reas em conflitos.
O aperfeiçoamento militar necessariamente envolve a produçã o tecnoló gica, como se faz em Israel, Estados
Unidos e Rú ssia, reconhecidas potências bélicas da atualidade. Em algumas naçõ es, os gastos com a defesa
(compra de armamentos e manutençã o das Forças Armadas) chegam a ser superiores aos gastos com saú de ou
educaçã o.
2. Quais seriam as consequências para a geopolítica mundial se houvesse o desmantelamento das indú strias
bélicas de alguns países, como os Estados Unidos e a Rú ssia? Discuta com os colegas.
3. Pesquise algum país no mundo onde nã o haja exército. Descubra quais são os índices de violência e como a
soberania do territó rio é garantida.
Pá gina 219
A indústria de armamentos
Durante a Segunda Guerra Mundial, vá rias empresas civis estadunidenses passaram a produzir
equipamentos militares no que ficou conhecido como esforço de guerra. Com o fim do conflito,
a indú stria de armamentos dos Estados Unidos tornou-se uma das mais poderosas do mundo,
e vá rias empresas que participaram do esforço de guerra passaram a atuar no setor bélico
como fornecedoras do governo e de grandes exportadoras estadunidenses.
A ideologia belicista e o discurso da defesa faziam com que os gastos militares fossem cada vez
maiores, proporcionando enormes lucros para as indú strias de armamentos e dinamizando a
economia dos Estados Unidos.
As guerras internas, os conflitos com países vizinhos e mesmo o interesse das grandes
empresas de armamentos levam países muito pobres a manter altos gastos com armas. Muitos
deles nem sequer resolveram problemas centrais, como a fome, mas usam grande parte de
seus recursos em despesas militares.
A indú stria bélica se beneficia também do comércio ilegal. O trá fico de armas tem sido um dos
ramos do crime organizado mais lucrativos do globo, assemelhando-se ao do trá fico de drogas.
Fornecer armamentos para países em guerra civil, para traficantes de drogas e para milícias
ilegais em países com forte conturbaçã o social é uma grande fonte de lucros para os traficantes
e, consequentemente, para as empresas fabricantes.
Em alguns casos, os pró prios Estados nacionais apoiam o trá fico de armas. É o que tem
ocorrido no Oriente Médio, onde grupos de insurgentes sunitas, pertencentes ao Isis, recebem
apoio da Ará bia Saudita e de países do golfo Pérsico, como o Catar. Enquanto a Rú ssia fornece
armas para o exército sírio a favor de Bashar al-Assad, os Estados Unidos, por sua vez,
municiam militarmente Israel e grupos contrá rios ao governo sírio.
Fonte de pesquisa: Stockholm International Peace Research Institute (Sipri). Disponível em:
<http://www.sipri.org/research/armaments/milex/milex_database>. Acesso em: 13 abr. 2016.
Assista
O senhor das armas. Direçã o de Andrew Niccol, EUA, 2005, 122 min.
O filme narra a histó ria de um imigrante ucraniano que vai, ainda criança, com os pais, para os Estados Unidos e torna-se um
poderoso traficante internacional de armas. Retrata o trá fico de armas nos EUA, na antiga URSS e na Á frica.
SAIBA MAIS
Com o desenvolvimento da tecnologia bélica, algumas armas passaram a ter o poder de destruir, em
uma só utilizaçã o, um grande nú mero de pessoas. Essas armas ficaram conhecidas como armas de
destruição em massa (ADM) e seu uso é condenado internacionalmente. Além das armas
nucleares, sã o consideradas ADMs as armas químicas e as bioló gicas.
As armas bioló gicas consistem em utilizar microrganismos que causam doenças como forma de
desestabilizar o inimigo. Sã o exemplos o antrax e as bombas com vírus de varíola e vírus ebola.
As armas químicas utilizam produtos tó xicos que provocam morte das populaçõ es ou grande
destruiçã o ambiental. Os mais conhecidos já utilizados foram o napalm e o agente laranja, usados
em larga escala pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã .
Aviõ es militares dos Estados Unidos lançam produtos químicos (o agente laranja) em territó rio vietnamita durante a
Guerra do Vietnã . Foto de 1966.
Pá gina 220
A energia nuclear pode ser utilizada para fins pacíficos ou para fins militares. O princípio
bá sico de sua utilizaçã o é a fissão nuclear, ou seja, a quebra do nú cleo atô mico de um mineral
radiativo, como o urâ nio, causando uma reaçã o em cadeia que libera enorme quantidade de
energia.
Apó s a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a Uniã o Soviética passaram a exercer
poder sobre as demais naçõ es. Seus arsenais bélicos tornaram-se muito superiores aos de
qualquer outro país. A ex-URSS desenvolveu sua bomba atô mica em 1949, sendo seguida por
Inglaterra (1950), França (1960), China (1964) e Israel (década de 1960).
O equilíbrio do terror entre Estados Unidos e Uniã o Soviética passaria também a acontecer
de maneira regionalizada em países periféricos, como ocorreu com o Paquistã o e a Índia.
Adilson Secco/ID/BR
Em 1970, foi assinado o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), cujos
objetivos eram impedir maior disseminaçã o de armas nucleares e parar a corrida
armamentista entre Estados Unidos e ex-URSS. Assim, seria interrompido o equilíbrio do
terror e incentivada a cooperaçã o internacional para a utilizaçã o civil da energia nuclear. Pelo
TNP, seriam eliminados todos os estoques, assim como os arsenais nacionais de armas
nucleares. Veja o mapa abaixo.
A cada cinco anos há uma revisã o do Tratado. Em 2016, o Tratado foi ratificado por 189 países,
incluindo as cinco maiores potências nucleares: Estados Unidos, Rú ssia, Reino Unido, França e
China. Nos termos do tratado, as potências comprometem-se a não transferir armas nucleares
para ninguém nem ajudar nenhum país a adquiri-las. No entanto, o TNP é considerado injusto
e conveniente apenas para as grandes potências, pois garante a elas o monopó lio do
conhecimento nuclear.
Índia, Paquistã o, Israel e Coreia do Norte recusaram-se a assinar o acordo. Israel sempre negou
possuir arsenal nuclear.
Allmaps/ID/BR
Fontes de pesquisa: BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. Sã o Paulo: Estaçã o Liberdade, 2009. p. 52; Arms Control
Association. Disponível em: <https://www.armscontrol.org/factsheets/Nuclearweaponswhohaswhat>. Acesso em: 11 abr. 2016.
Em 2006, 2009, 2013 e 2016, a Coreia do Norte promoveu testes nucleares, ampliando as
tensõ es na regiã o. O país sofre sançõ es internacionais decretadas pelo Conselho de Segurança
da ONU. A Coreia do Norte é vizinha de dois países que participam do clube atômico (China e
Rú ssia) e também está muito pró xima do Japã o. Além disso, tem intensa rivalidade com a
Coreia do Sul, com a qual formou um ú nico país até a Guerra da Coreia (1950-1953).
O Irã desenvolveu um programa nuclear efetivamente para fins pacíficos, mas algumas
potências suspeitavam de que o país possuísse arsenal nuclear para fins militares. Isso serviu
de justificativa para que Uniã o Europeia e os Estados Unidos impusessem vá rias sançõ es
econô micas ao país, desde 1979.
Em 2015, o Irã assinou um acordo de programa nuclear com os G5+1, grupo formado por cinco
membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (China, Estados Unidos, França,
Reino Unido, Rú ssia) e mais um, a Alemanha. O acordo prevê o controle de enriquecimento de
urâ nio e plutô nio, novas inspeçõ es pela Agência Internacional de Energia Atô mica e o embargo
de armamentos ofensivos. Em contrapartida, algumas sançõ es econô micas ao país serã o
amenizadas. Só a partir de 2016, depois do acordo, o Irã espera atrair investimentos
estrangeiros e alavancar o desenvolvimento econô mico do país, segundo o entã o presidente
Hassan Rohani, sucessor moderado de Mahmoud Ahmadinejad, que apoiava o programa
nuclear do país.
Pá gina 222
A sociedade capitalista moderna atingiu um alto grau de produtividade por aplicar a ciência e a
tecnologia na esfera produtiva. Como grande parte das inovaçõ es se concentra nos países
industrializados, estes obtêm vantagens econô micas e geopolíticas em relaçã o aos demais. O
processo de dominaçã o entre as naçõ es também se dá na esfera tecnoló gica.
A inovaçã o tecnoló gica normalmente está ligada aos laborató rios de grandes empresas, à s
universidades, aos institutos de pesquisa e à s pequenas empresas empreendedoras. Vá rios
países incentivam a inovaçã o e a produçã o tecnoló gica como formas de atingir o crescimento
econô mico e melhorar o nível de vida da populaçã o. Veja a tabela abaixo e leia o boxe Saiba
mais.
As vantagens da tecnologia nem sempre estã o acessíveis a toda a populaçã o, e a ideia de que
ela pode resolver todos os problemas é equivocada. Muitas vezes, o uso da tecnologia mantém
a desigualdade entre os povos ou entre as pessoas e as regiõ es de um país.
Pesquisadora faz testes em componentes utilizados em drones (ou veículo aéreo nã o tripulado – Vant), em
laborató rio de pesquisa de Waterloo, Canadá . Foto de 2016.
SAIBA MAIS
Silicon Wadi
Depois do Vale do Silício, nos Estados Unidos, a segunda regiã o no mundo que mais concentra
empresas de tecnologia e startups (modelo empresarial sob condiçã o de risco e incerteza de
sucesso) fica em Israel, no chamado Silicon Wadi. As cidades de Tel-Aviv e Haifa sã o grandes
incubadoras de projetos para a internet, cibersegurança e telefonia. O alto investimento pú blico em
pesquisa e desenvolvimento e elevado índice educacional do país abriram oportunidades
inovadoras e novos empregos.
Pá gina 223
Todos os anos, novos produtos sã o lançados com o objetivo de ajudar a resolver problemas
relacionados à saú de das pessoas. Mas nem sempre os interesses das empresas farmacêuticas
sã o compatíveis com as necessidades da saú de da populaçã o, sobretudo nos países menos
desenvolvidos.
Outro fator importante é que os preços dos medicamentos acabam sendo excessivamente
elevados. As mais recentes descobertas da ciência possibilitam a elaboraçã o de novos
remédios, mas eles costumam custar muito mais caro do que os que já estã o no mercado há
algum tempo.
Além disso, há , em muitos casos, a formaçã o de cartéis. No início dos anos 2000, apó s uma
onda de fusõ es e aquisiçõ es, as dez maiores empresas farmacêuticas passaram a dominar 50%
do mercado mundial de medicamentos, diminuindo a concorrência e facilitando esquemas de
preços combinados.
Alguns poucos países, como o Brasil, em nome do interesse de toda a sociedade, aprovaram
leis que quebram as patentes e autorizam a produçã o de medicamentos genéricos para vá rias
enfermidades. É importante esclarecer que houve um debate internacional, no â mbito da ONU,
que culminou com o reconhecimento do direito à saú de como um direito humano, o que
possibilita a quebra oficial de uma patente em caso de emergência social que envolva a
saú de.
Outras naçõ es, como a Índia, nã o reconhecem a lei de patentes e fabricam medicamentos de
acordo com o interesse social. Por causa disso, os medicamentos na Índia sã o cerca de 10 vezes
mais baratos que no vizinho Paquistã o. Do mesmo modo, na França, onde os preços sã o
controlados pelo Estado, os medicamentos sã o muito mais baratos que na Alemanha, onde o
preço é determinado pela indú stria farmacêutica.
No entanto, muitos países nã o têm força política para enfrentar as empresas detentoras das
patentes de remédios e nã o aprovam leis que quebrem as patentes de interesse humanitá rio.
Além disso, nã o possuem capacidade econô mica para produzir os pró prios medicamentos.
Em alguns casos, graves epidemias tomam conta da populaçã o, e a frá gil gestã o de governos,
associada a corrupçõ es e a baixo investimentos em saú de, impede uma maior açã o dos
Estados. A disseminaçã o da aids em vá rios países da Á frica Subsaariana é o exemplo mais
claro. Lá , os preços elevados dos remédios e a precariedade no atendimento médico e
hospitalar sã o algumas das principais causas que impedem a existência de programas
eficientes de saú de pú blica para tratar a aids. Se as empresas fabricantes se negam a vender os
medicamentos a preços acessíveis à populaçã o, raras vezes o Estado consegue interferir.
CONEXÃO
A ciência para auxiliar a humanidade pode ser controlada por empresas privadas?
Poucas indú strias farmacêuticas do minam a produçã o mundial de remédios. Quinze grandes
empresas, das quais 13 sã o estadunidenses, controlam as pesquisas em biotecnologia agrícola.
Assim como ocorre nessas duas á reas, em muitos setores de ponta, a aplicaçã o do conhecimento
oriundo de pesquisas em ciência e tecnologia está concentrada em poucas empresas. Isso leva a um
intenso debate sobre os benefícios e os malefícios de tal concentraçã o para a humanidade.
Um dos principais argumentos contrá rios é que o patenteamento genético, por exemplo, pode levar
a uma drá stica reduçã o da biodiversidade mundial, uma vez que muitas espécies de seres vivos
passarã o a ser produzidas segundo regras de mercado.
1. Discuta essa questã o com os colegas e escreva um breve texto com sua opiniã o sobre o assunto.
Assista
O jardineiro fiel. Direçã o de Fernando Meirelles, EUA, 2005, 129 min.
Quando uma ativista é morta no Quê nia, desdobra-se toda a trama sobre a açã o de uma indú stria farmacê utica e seus
interesses na Á frica.
Pá gina 224
Informe
Patentes: para que servem? A quem servem?
Governos oferecem proteção às patentes porque, reza a lenda, elas estimulam a inovação. Mas
parece não ser bem assim
[...] Um dos argumentos que os defensores das patentes gostam de usar é o de que elas
contribuem para o bem pú blico. Nã o era esse o seu objetivo original. [...] quando [no século 19]
os soberanos instituíram as patentes, a intençã o era, antes de mais nada, criar um instrumento
de arrecadaçã o para os cofres reais; no início do século 17, o rei James I coletava 200 mil libras
por ano com a concessã o de patentes. Com o passar do tempo, porém, elas começaram a ser
vistas como algo que beneficiava não só o monarca, mas também o conjunto da sociedade – um
mecanismo para “promover o progresso da ciência e das artes ú teis” [...]. A ló gica do
argumento é bastante simples: em troca da iniciativa de registrar e publicar uma ideia, que
precisa ser nova e ú til e nã o pode ter nada de ó bvia, concede- se o direito a um monopó lio
temporá rio – de cerca de 20 anos, atualmente – em sua utilizaçã o. Assim, as patentes
incentivam as inovaçõ es, uma vez que proporcionam ganhos materiais quando estas ú ltimas
“caem no gosto do povo”. O sistema também estimula outras pessoas a inovar: a publicaçã o de
boas ideias aumenta o ritmo do avanço tecnoló gico, já que as inovaçõ es se impulsionam umas
à s outras.
Quando de fato se observam mudanças no ritmo de inovaçã o, elas parecem ter pouco a ver
com a presença ou nã o de um regime de patentes. Boldrin e Levine [economistas] dizem que,
na histó ria de setores que vã o da indú stria química à automobilística e ao segmento de
informá tica, as ondas de inovaçã o tiveram início com surtos de inventividade, em que se
observava a atuaçã o de grande nú mero de participantes. As patentes só passaram a ser
solicitadas anos depois, quando o ritmo de inovaçã o já era menor e as empresas que haviam
dominado o mercado tentavam, por um lado, impedir o ingresso de novos atores no segmento
e, por outro, proteger-se de açõ es judiciais movidas por concorrentes. As patentes foram o
resultado de inovaçõ es bem-sucedidas; sua causa foi a competiçã o. [...]
Mesmo que muitos setores no fundo não precisem de patentes – e alguns deles talvez
estivessem melhor sem elas – ainda é bastante enraizada a crença de que, em alguns
segmentos, elas sã o vitais. O exemplo a que sempre recorrem os defensores das patentes é o do
setor farmacêutico. Os medicamentos têm de passar por testes excepcionalmente dispendiosos
e demorados para que fique comprovada sua segurança e eficá cia. E, se nã o fosse pela proteçã o
garantida pela patente do medicamento, a empresa que se dá ao trabalho de demonstrar que
determinada molécula faz seu serviço com efeitos colaterais mínimos ou administrá veis nã o
teria como evitar que suas concorrentes se aproveitassem de seus esforços para produzir
có pias muito mais baratas da mesma molécula. [...]
[...] Até 1967, as empresas farmacêuticas alemã s podiam patentear apenas o método de
fabricaçã o de seus medicamentos, nã o a fó rmula em si. Qualquer pessoa que descobrisse outra
maneira de fabricá -los, estava autorizada a vender có pias deles. [...]
[...] Joseph Stiglitz, economista da Universidade de Columbia, e outros estudiosos sugerem
oferecer prêmios polpudos para incentivar o desenvolvimento de drogas inovadoras por
equipes de cientistas autô nomos.
Quando um medicamento promissor fosse descoberto, a etapa final, e mais dispendiosa, dos
testes clínicos, que é o momento em que se avalia a eficá cia de uma droga que já teve sua
segurança comprovada, poderia ser financiada com recursos pú blicos – provenientes de outra
parcela do enorme potencial de economia gerado pela utilizaçã o de medicamentos mais
baratos – e realizada por laborató rios independentes. [...]
De qualquer forma, determinar até que ponto as patentes e outras formas de proteçã o à
propriedade intelectual realmente cumprem o seu papel, e até mesmo se merecem existir, é
uma tarefa para ontem. A eliminaçã o pura e simples dos sistemas de patentes envolve
questõ es relacionadas à ética dos direitos de propriedade. [...]
Danish Siddiqui/Reuters/Latinstock
PARA DISCUTIR
1. Reú na-se com dois colegas para discutir se o sistema de patentes beneficia as populaçõ es e
incentiva o compartilhamento do conhecimento, ou suas vantagens restringem-se à s grandes
corporaçõ es e fortalecem os monopó lios. Depois, apresentem as conclusõ es a que chegaram os
demais grupos.
Pá gina 225
Mundo Hoje
Kim Jong-un justifica teste nuclear norte-coreano
O dirigente norte-coreano Kim Jong-un justificou neste domingo (10) [jan. 2016] o primeiro
teste de bomba de hidrogênio de seu país, anunciado como uma necessidade para evitar uma
guerra nuclear com os Estados Unidos.
Esta foi a primeira declaraçã o do líder do regime norte-coreano desde que Pyongyang
anunciou, na quarta-feira (6), um teste bem-sucedido com a bomba H.
O anú ncio do quarto teste nuclear norte-coreano provocou muitas condenaçõ es internacionais,
mas quase todos os especialistas duvidam que a arma utilizada tenha sido uma bomba de
hidrogênio, como Pyongyang deseja que o mundo acredite. A tensã o com a Coreia do Sul
aumentou nos ú ltimos dias.
O teste nuclear era “uma medida de autodefesa para defender a paz de maneira eficaz na
península coreana e a segurança nacional ante os riscos de guerra nuclear provocados pelos
imperialistas liderados pelos Estados Unidos”, declarou Kim Jong-un, segundo a agência oficial
KCNA.
“Se trata do direito legítimo de um Estado soberano, de uma açã o justa que ninguém pode
criticar”, completou.
[...]
Pyongyang acusa regularmente de belicismo os Estados Unidos e sua aliada Coreia do Sul.
As declaraçõ es foram divulgadas apó s um comentá rio oficial publicado na sexta-feira [8] pela
KCNA, segundo o qual os destinos de Saddam Hussein no Iraque e de Muamar Khadafi na Líbia
mostram o que acontece quando um país renuncia a suas ambiçõ es nucleares.
Apó s o teste nuclear, muitas consultas diplomá ticas foram realizadas, depois de uma reuniã o
urgente do Conselho de Segurança da ONU, que prometeu endurecer o leque de sançõ es já
aplicadas contra a Coreia do Norte por seus testes anteriores (2006, 2009 e 2013).
Uma bomba H operacional, muito mais potente que a bomba atô mica comum, seria um enorme
passo adiante para Pyongyang, que está proibido pela ONU de desenvolver um programa
nuclear ou balístico.
Mas quase todos os especialistas consideraram muito reduzida para uma bomba H a energia
gerada pela explosã o, estimada inicialmente entre 6 e 9 quilotons.
KCNA/Reuters/Latinstock
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 68. G1, jan. 2016. Disponível em:
<http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/01/kim-jong-un-justifica-teste-nuclear-norte-coreano.html>. Acesso em: 14 abr. 2016.
PARA ELABORAR
1. Por que o teste nuclear representaria manter a soberania para a Coreia do Norte?
2. Levante hipó teses para explicar por que Kim Jong-un considera os Estados Unidos
“imperialistas”. Pesquise em livros e na internet quais sã o as diferenças ideoló gicas entre os
dois sistemas de governo e qual é a relaçã o disso com o texto acima.
Pá gina 226
Atividades
Não escreva no livro.
Revendo conceitos
4. Por que a produçã o da ciência e da tecnologia pode ser considerada importante do ponto de
vista geopolítico?
7. Leia o texto a seguir que trata da lei de patentes e indú stria farmacêutica. Em seguida,
responda à s questõ es.
País premiado por programas pú blicos de saú de como o de atendimento universal aos doentes de
Aids, o Brasil é o maior comprador do mundo de medicamentos. [...]
As empresas internacionais correram para registrar aqui suas patentes e o País passou a concedê-
las, sem dar tempo à indú stria nacional para se adaptar. Assim, nã o havia um parque industrial que
pudesse atender à s necessidades do Ministério da Saú de. [...]
ALVES, Vâ nia. Rigor da Lei de Patentes compromete indú stria nacional; Brasil busca saídas. Câ mara dos Deputados. Rádio Câmara,
dez. 2013. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/reportagem-especial/459062-rigor-da-lei-
de-patentescompromete-industria-nacional-brasil-busca-saidas.html>. Acesso em: 12 abr. 2016.
[...]
Desta vez, o avanço do grupo fundamentalista ultrarradical Estado Islâ mico (EI) sobre cidades
iraquianas fez o presidente dos Estados Unidos retroceder em sua estratégia de passividade. Na
semana passada [jun. 2015], Obama decidiu enviar 450 soldados americanos para treinar e orientar
o Exército iraquiano e milícias tribais. Os Estados Unidos também devem aumentar o nú mero de
bases americanas no Iraque. O objetivo é forçar o EI a recuar.
Pode parecer uma ajuda modesta, mas a virada estratégica é relevante. Desde o começo de seu
governo, o plano de Obama era se arrancar das areias movediças iraquianas em que os americanos
se enfiaram no governo de
George W. Bush, em 2003. Cerca de 465 mil pessoas morreram em oito anos de conflito, incluindo
cerca de 5 mil soldados americanos. Parecia fá cil justificar a saída das tropas dos Estados Unidos do
Iraque. A retirada terminou em 2011. A estratégia de Obama era deixar os iraquianos resolver os
problemas em seu territó rio. [...]
TURRER, Rodrigo. Os EUA partem para o ataque contra o Estado Islâ mico. Revista Época, 12 jun. 2015. Disponível em:
<http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/06/os-eua-partem-para-o-ataquecontra-o-estado-islamico.html>. Acesso em: 5 abr.
2016.
De acordo com o texto e com seus conhecimentos, quais foram os principais argumentos do
governo estadunidense para realizar as intervençõ es militares de 2003 e 2015 no Iraque?
Setup Bureau/ID/BR
NELSON, Richard R. As fontes do crescimento econômico. Campinas: Ed. Unicamp, 2006. p. 310.
Pá gina 227
Lendo mapas
Fonte de pesquisa: Le Monde Diplomatique. Disponível em: <http://mondediplo.com/maps/>. Acesso: 12 abr. 2016.
11. As armas convencionais (nã o atô micas) ainda representam uma força estratégica de
grande importâ ncia. Responda:
a) Quais sã o as á reas de maior concentraçã o na compra de armas convencionais?
b) Quais sã o as semelhanças entre essas á reas?
c) Rú ssia e Estados Unidos exportam para os mesmos países?
d) Os dois mapas representam o acesso a novos mercados em diferentes países. Esse fato pode
representar disputas ideoló gicas? Explique.
O presidente dos EUA, Barack Obama, falou [...] com o seu colega turco, Recep Tayyip Erdogan
[presidente da Turquia], sobre a guerra na Síria e os esforços para combater os terroristas [...]. Os
dois líderes discutiram as oportunidades de aprofundar a cooperaçã o na luta contra todos os
grupos terroristas, inclusive o PKK [Partido dos Trabalhadores do Curdistã o]. [...]
O Partido dos Trabalhadores do Curdistã o (PKK) é um movimento separatista que luta pela
independência da etnia curda no sudeste da Turquia. [...]
Irãnews. Irã e Turquia intensificarã o luta contra terrorismo... e curdos? 19 maio 2016. Disponível em:
<http://www.iranews.com.br/eua-e-turquiaintensificarao-luta-contra-terrorismo-e-curdos/>. Acesso em: 29 maio 2016.
A partir da notícia e dos mapas, é possível estabelecer relaçõ es entre o contexto geopolítico da
Turquia e a indú stria bélica dos Estados Unidos? Justifique.
Pá gina 228
Em análise
Construindo mapa geopolítico: O mundo visto por…
Sabemos que os mapas podem representar as estratégias traçadas pelos Estados, sejam elas
políticas, econô micas, sejam de dominaçã o territorial. É o caso dos mapas geopolíticos, que
relacionam questõ es geográ ficas com o poder do Estado.
O mundo visto por... é uma forma de representaçã o cartográ fica na qual se dá centralidade a
um país indicando-se suas relaçõ es geopolíticas com o restante do mundo, em á reas nas quais
se destaca. Esse tipo de representaçã o cartográ fica é muito utilizado em mapas econô micos e
geopolíticos, pois permite agregar ao mapa diferentes tipos de informaçã o.
Os mapas a seguir mostram as estratégias geopolíticas e econô micas de dois países – Estados
Unidos e China – em relaçã o ao mundo.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. Sã o Paulo: Estaçã o Liberdade, 2009. p. 68.
Nesse mapa, as relaçõ es entre os Estados Unidos e os demais países sã o destacadas do ponto
de vista geoestratégico. Sã o utilizados aqui os mais variados recursos da cartografia:
informaçõ es zonais, para indicar á reas econô micas estratégicas e privilegiadas, e informaçõ es
lineares, para indicar parcerias econô micas. Há também informaçõ es pontuais para indicar
membros da Otan e países aliados.
Trata-se de um mapa de síntese, e sua leitura deve ser feita com bastante atençã o, para que se
possam perceber todos os detalhes. Uma informaçã o importante que nã o está presente no
mapa é o nome de todos os países. Por isso, para que sua leitura ocorra com eficiência, é
necessá rio recorrer a um mapa-mú ndi.
Observe na pró xima pá gina o mapa que mostra a China como centro. Compare-o com o mapa
dos Estados Unidos. Perceba que, como as relaçõ es geopolíticas e estratégicas sã o diferentes, o
conjunto de informaçõ es e a representaçã o também sã o diferentes. Assim, O mundo visto
por... mostra para cada país um panorama geoestratégico específico.
Pá gina 229
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. Sã o Paulo: Estaçã o Liberdade, 2009. p. 96.
Proposta de trabalho
O mapa-mú ndi abaixo tem como centro o continente americano. Utilize esse mapa para
construir O mundo visto pelo Brasil. Copie o mapa em uma folha de papel vegetal.
Allmaps/ID/BR
Fonte de pesquisa: Atlas geográfico escolar. 6. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 68.
1. Considere as relaçõ es geopolíticas do Brasil com os outros países com base no que foi
trabalhado na unidade: recursos minerais, produçã o de alimentos, petró leo, tecnologia,
armamentos, etc.
2. Pesquise também as relaçõ es estabelecidas pelo Brasil com as outras regiõ es do globo. Siga o
modelo apresentado nos casos dos Estados Unidos e China.
4. Produza no caderno um pequeno texto com suas opiniõ es sobre a situaçã o geopolítica
brasileira.
Pá gina 230
Síntese da Unidade
Capítulo 13 Geopolítica dos recursos naturais
• Escreva duas ou três frases com cada palavra-chave ou expressã o abaixo, sintetizando as
informaçõ es do capítulo.
• Segurança hídrica
• Á guas transfronteiriças
• Recursos minerais
• Biomassa
Corbis/Fotoarena
Ali al Saadi/AFP
Al Iskandiriyah, Iraque. Foto de 2011.
• Com base no esquema abaixo, escreva frases que sintetizem o conteú do do capítulo.
Pá gina 231
Vestibular e Enem
Atenção: todas as questões foram reproduzidas das provas originais de que fazem parte. Responda a todas as questões no caderno.
1. (Enem)
2. (Enem)
A energia geotérmica tem sua origem no nú cleo derretido da Terra, onde as temperaturas atingem
4 000 °C. Essa energia é primeiramente produzida pela decomposiçã o de materiais radiativos
dentro do planeta. Em fontes geotérmicas, a á gua, aprisionada em um reservató rio subterrâ neo, é
aquecida pelas rochas ao redor e fica submetida a altas pressõ es, podendo atingir temperaturas de
até 370 °C sem entrar em ebuliçã o. Ao ser liberada na superfície, à pressã o ambiente, ela se
vaporiza e se resfria, formando fontes ou gêiseres. O vapor de poços geotérmicos é separado da
á gua e é utilizado no funcionamento de turbinas para gerar eletricidade. A á gua quente pode ser
utilizada para aquecimento direto ou em usinas de dessalinizaçã o.
HINRICHS, Roger A.; KLEINBACH, Merlin. Energia e meio ambiente. Ed. ABDR. (Adaptado.)
3. (Enem)
O potencial brasileiro para gerar energia a partir da biomassa nã o se limita a uma ampliaçã o do
Pró -á lcool.
O país pode substituir o ó leo diesel de petró leo por grande variedade de ó leos vegetais e explorar a
alta produtividade das florestas tropicais plantadas. Além da produçã o de celulose, a utilizaçã o da
biomassa permite a geraçã o de energia elétrica por meio de termelétricas a lenha, carvã o vegetal ou
gá s de madeira, com elevado rendimento e baixo custo.
Cerca de 30% do territó rio brasileiro é constituído por terras impró prias para a agricultura, mas
aptas à exploraçã o florestal. A utilizaçã o de metade dessa á rea, ou seja, de 120 milhõ es de hectares,
para a formaçã o de florestas energéticas, permitiria produçã o sustentada do equivalente a cerca de
5 bilhõ es de barris de petró leo por ano, mais que o dobro do que produz a Ará bia Saudita
atualmente.
VIDAL, José Walter Bautista. Desafios internacionais para o século XXI. Seminá rio da Comissã o de Relaçõ es Exteriores e de Defesa
Nacional da Câ mara dos Deputados, ago. 2002. (Adaptado.)
Vestibular e Enem
4. (UEL-PR) A política estadunidense de estímulo à produçã o de etanol está vinculada:
a) nã o apenas à procura de combustíveis alternativos, dos quais o etanol é um exemplo, mas
também a transformaçõ es no processo produtivo, beneficiando, assim, a proteçã o de reservas
florestais de países em desenvolvimento.
b) à busca de transformaçõ es culturais e políticas, de modo a promover uma verdadeira
“revoluçã o verde”, com mudanças permanentes de padrõ es e há bitos de produçã o,
distribuiçã o, circulaçã o e consumo de alimentos industrializados.
c) à ló gica de mercado, segundo a qual o cultivo de produtos agrícolas é direcionado para a
fabricaçã o de biocombustíveis, mais lucrativos, o que gera escassez e elevaçã o dos preços dos
alimentos.
d) à procura de combustíveis alternativos, como o etanol, a fim de potencializar o uso da terra,
gerando emprego, renda e conjuntamente a expansã o da produçã o de alimentos para um
mercado em constante processo de ampliaçã o.
e) à mudança de uma cultura consumista para uma cultura preservacionista, objetivando a
manutençã o dos padrõ es atuais de desenvolvimento econô mico e social e a preservaçã o dos
recursos naturais do planeta.
5. (Enem)
Três países – Etió pia, Sudã o e Egito – usam grande quantidade da á gua que corre pelo Rio Nilo, na
Á frica. Para atender à s necessidades de populaçõ es que crescem com rapidez, a Etió pia e o Sudã o
planejam desviar mais á gua do Nilo do que já desviam. Diante de dificuldades naturais que
caracterizam o ciclo hidroló gico nessa regiã o, como baixa pluviosidade e altas taxas de evaporaçã o,
esses desvios feitos rio acima poderiam reduzir a quantidade de recursos hídricos disponíveis para
o Egito, o ú ltimo país ao longo da extensã o do rio, que nã o pode sobreviver sem esses recursos
naturais.
6. (Enem) O fim da Guerra Fria e da bipolaridade, entre as décadas de 1980 e 1990, gerou
expectativas de que seria instaurada uma ordem internacional marcada pela reduçã o de
conflitos e pela multipolaridade.
Atenção: todas as questões foram reproduzidas das provas originais de que fazem parte. Responda a todas as questões no caderno.
8. (PUC-SP) A Bolívia já nacionalizou seus recursos fó sseis (hidrocarbonetos) por três vezes:
em 1937, quando a “Standard Oil” americana detinha a totalidade dos poços no país; em 1969,
foi a vez da “Gulf Oil”, e a atual nacionalizaçã o envolve vá rias empresas como a “Petrobras” do
Brasil e a “Repsol” da Espanha, por exemplo.
9. (Enem)
Com a perspectiva do desaparecimento das geleiras no Polo Norte, grandes reservas de petró leo e
minérios, hoje inacessíveis, poderã o ser exploradas. E já atiçam a cobiça das potências.
KOPP, D. Guerra Fria sobre o Á rtico. Le Monde diplomatique Brasil, n. 2, set. 2007. (Adaptado.)
No cená rio de que trata o texto, a exploraçã o de jazidas de petró leo, bem como de minérios –
diamante, ouro, prata, cobre, chumbo, zinco – torna-se atraente nã o só em funçã o de seu
formidá vel potencial, mas também por:
a) situar-se em uma zona geopolítica mais está vel que o Oriente Médio.
b) possibilitar o povoamento de uma regiã o pouco habitada, além de promover seu
desenvolvimento econô mico.
c) garantir, aos países em desenvolvimento, acesso a matérias-primas e energia, necessá rias ao
crescimento econô mico.
d) contribuir para a reduçã o da poluiçã o em á reas ambientalmente já degradadas devido ao
grande volume da produçã o industrial, como ocorreu na Europa.
e) promover a participaçã o dos combustíveis fó sseis na matriz energética mundial, dominada,
majoritariamente, pelas fontes renová veis, de maior custo.
10. (Enem) As pressõ es ambientais pela reduçã o na emissã o de gá s estufa, somadas ao anseio
pela diminuiçã o da dependência do petró leo, fizeram os olhos do mundo se voltarem para os
combustíveis renová veis, principalmente para o etanol. Líderes na produçã o e no consumo de
etanol, Brasil e Estados Unidos da América (EUA) produziram, juntos, cerca de 35 bilhõ es de
litros do produto em 2006. Os EUA utilizam o milho como matéria-prima para a produçã o
desse á lcool, ao passo que o Brasil utiliza a cana-de-açú car. O quadro abaixo apresenta alguns
índices relativos ao processo de obtençã o de á lcool nesses dois países.
cana milho
produção de etanol 8 mil litros/ha 3 mil litros/ha
gasto de energia fóssil para 1 600 kcal 6 600 kcal
produzir 1 litro de álcool
balanço energético positivo: gasta-se 1 caloria de negativo: gasta-se 1 caloria de
combustível fó ssil para a produçã o combustível fó ssil para a produçã o
de 3,24 calorias de etanol de 0,77 caloria de etanol
custo de produção por litro US$ 0,28 US$ 0,45
preço de venda/ litro US$ 0,42 US$ 0,92
Se comparado com o uso do milho como matéria-prima na obtençã o do etanol, o uso da cana-
de-açú car é:
a) mais eficiente, pois a produtividade do canavial é maior que a do milharal, superando-a em
mais do dobro de litros de á lcool produzido por hectare.
b) mais eficiente, pois gasta-se menos energia fó ssil para se produzir 1 litro de álcool a partir
do milho do que para produzi-lo a partir da cana.
c) igualmente eficiente, pois, nas duas situaçõ es, as diferenças entre o preço de venda do litro
do á lcool e o custo de sua produçã o se equiparam.
d) menos eficiente, pois o balanço energético para se produzir o etanol a partir da cana é
menor que o balanço energético para produzi-lo a partir do milho.
e) menos eficiente, pois o custo de produçã o do litro de á lcool a partir da cana é menor que o
custo de produçã o a partir do milho.
Pá gina 234
Vestibular e Enem
11. (Fuvest-SP) Observe o mapa da distribuiçã o dos drones (veículos aéreos nã o tripulados)
norte-americanos na Á frica e no Oriente Médio.
12. (Enem)
Lucro na adversidade
Os fazendeiros da regiã o sudoeste de Bangladesh, um dos países mais pobres da Á sia, estã o
tentando adaptar-se à s mudanças acarretadas pelo aquecimento global. Antes acostumados a
produzir arroz e vegetais, responsá veis por boa parte da produçã o nacional, eles estã o migrando
para o cultivo do camarã o. Com a subida do nível do mar, a á gua salgada penetrou nos rios e
mangues da regiã o, o que inviabilizou a agricultura, mas, de outro lado, possibilitou a criaçã o de
crustá ceos, uma atividade até mais lucrativa.
O lado positivo da situaçã o termina por aí. A maior parte da populaçã o local foi prejudicada, já que
os fazendeiros nã o precisam contratar mais mã o de obra, o que aumentou o desemprego. A flora e a
fauna do mangue vêm sendo afetadas pela nova composiçã o da á gua. Os lençó is freá ticos da regiã o
foram atingidos pela á gua salgada.
13. (Enem)
Uma estratégia socioespacial que pode contribuir para alterar a ló gica de uso da á gua
apresentada no texto é a:
a) ampliaçã o dos sistemas de reutilizaçã o hídrica.
b) expansã o da irrigaçã o por aspersã o das lavouras.
c) intensificaçã o do controle do desmatamento de florestas.
d) adoçã o de técnicas tradicionais de produçã o.
e) criaçã o de incentivos fiscais para o cultivo de produtos orgâ nicos.
14. (UFSCar-SP) Existem controvérsias a respeito da nova ordem mundial. Para uns, ela seria
uni ou monopolar; para outros, ela seria multipolar. Considere o exposto e assinale a
alternativa que é indiscutivelmente correta.
a) O poderio militar norte-americano, sem competidores, é um argumento a favor de definiçã o
da nova ordem como multipolar.
b) A unificaçã o europeia, a recuperaçã o econô mica do Japã o e a enorme expansã o da China sã o
fatores que pesam a favor do argumento da monopolaridade da nova ordem mundial.
c) O avanço da globalizaçã o fortalece a ideia de um mundo unipolar.
d) O sucesso da primeira guerra do Golfo, de 1991, sugeriu momentaneamente que os Estados
Unidos poderiam desempenhar o papel de superpotência solitá ria e com uma estratégia
unilateral.
Pá gina 235
Atenção: todas as questões foram reproduzidas das provas originais de que fazem parte. Responda a todas as questões no caderno.
e) O fato de alguns países – Japã o, Índia, Brasil e Á frica do Sul – pleitearem uma vaga
permanente no Conselho de Segurança da ONU é mais um indicador da monopolaridade no
sistema internacional.
15. (UFPel-RS) Um dos maiores reservató rios subterrâ neos de á gua doce do mundo ocupa
uma á rea de oitocentos e quarenta mil quilô metros quadrados, nos subsolos do Brasil, Uruguai,
Paraguai e Argentina. Os quatro países começaram recentemente um processo de mapeamento
desse depó sito denominado Aquífero Guarani – em homenagem aos povos indígenas que
viveram nessa regiã o –, visando elaborar um projeto de proteçã o ambiental e manejo
sustentá vel. Com base nas informaçõ es anteriores e em seus conhecimentos, analise as
afirmativas sobre o Aquífero Guarani.
I. A reposiçã o do reservató rio dá -se de forma natural pelas á guas da chuva, por isso pode ser
totalmente explorado, sem a preocupaçã o de que o recurso se esgote.
II. A pureza de suas á guas é ameaçada pelo uso de adubos e defensivos agrícolas, que se
infiltram principalmente no solo do Brasil.
III. Cerca de 70% de sua extensã o está localizada no Brasil, abrangendo quase a á rea total do
país, o que propicia o melhor uso de suas á guas pelos brasileiros.
IV. Durante milênios, á guas da superfície foram se infiltrando na rocha, graças à
permeabilidade do arenito, até inundar grande extensã o da camada impermeá vel e formar,
assim, um imenso reservató rio.
Sob rígidas sançõ es da ONU por conta de seu programa nuclear, o governo do país anunciou que
atingiu 3 000 centrífugas para enriquecimento de urâ nio. O país afirma que seu programa visa
produzir energia, mas EUA e Uniã o Europeia temem que o país busque a bomba atô mica. Relató rio
emitido pela AIEA, a Agência Nuclear da ONU, menciona que o país tem 2 000 centrífugas e outras
650 em fase de teste.
Mergulhado numa grave crise econô mica o país aceitou desativar todo o seu programa nuclear até
o fim deste ano, informou o principal negociador nuclear dos EUA e secretá rio assistente de Estado,
Christopher Hill, apó s negociaçõ es em Genebra. Em troca o país receberá compensaçã o política e
econô mica.
A sequência correta é:
a) F – V – F.
b) F – V – V.
c) F – F – F.
d) V – V – F.
e) V – F – V
Pá gina 236
Geografia e Física
Energia fotovoltaica
Nos ú ltimos anos a energia fotovoltaica tem sido vista internacionalmente como uma
tecnologia bastante promissora. Experiências internacionais apresentam importantes
contribuiçõ es para aná lise sobre expansã o do mercado, ganhos na escala de produçã o e
reduçã o de custos para os investidores. [...]
Do ponto de vista estratégico, o Brasil possui uma série de características naturais favorá veis,
tais como altos níveis de insolaçã o e grandes reservas de quartzo de qualidade, que podem
gerar importante vantagem competitiva para a produçã o de silício com alto grau de pureza,
células e mó dulos solares, produtos estes de alto valor agregado. Tais fatores potencializam a
atraçã o de investidores e o desenvolvimento de um mercado interno, permitindo que se
vislumbre um papel importante na matriz elétrica para este tipo de tecnologia.
[…]
[…]
1
* Denomina-se junção P-N à estrutura fundamental dos componentes eletrônicos comumente
denominados semicondutores, principalmente diodos e transistores. É formada pela junção metalúrgica
de dois cristais, geralmente silício (Si) e, atualmente menos comum, germânio (Ge), de natureza P e N,
segundo sua composição a nível atômico.
[…]
Anne-Christine Poujoulat/AFP
Ministra da ecologia da França segura painéis solares em Marselha, França. O país pretende instalar, nos pró ximos
anos, miniusinas fotovoltaicas ao longo de suas rodovias que deverá produzir eletricidade, entre outras finalidades,
para iluminaçã o pú blica. Foto de 2016.
Arquivo/REVOLUSOLAR
Instalaçã o de painéis solares na comunidade da Babilô nia, Rio de Janeiro (RJ). Foto de 2016.
Pá gina 237
[…]
Concentrador fotovoltaico
Essa tecnologia consiste em usar espelhos parabó licos para concentrar os raios solares em
uma á rea menor e, dessa forma, aumentar a eficiência da absorçã o de irradiaçã o, utilizando
menor quantidade de células fotovoltaicas.
Para operaçã o em paralelo com a rede elétrica, a corrente contínua produzida pelos mó dulos
deve ser convertida em corrente alternada. Além do reconhecimento de defeitos internos à
instalaçã o e proteçõ es de sobretensã o e sobrecorrente, os inversores (por vezes denominados
“síncronos” ou “de linha”) executam funçõ es de controle específicas, como o “auto wakeup”
(início da operaçã o quando a geraçã o solar supera as perdas internas da instalaçã o), o ajuste
contínuo do ponto de má xima potência em funçã o da temperatura e irradiaçã o e a adequaçã o
do comportamento dinâ mico da geraçã o em resposta a necessidades específicas da rede
elétrica. […]
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Nota técnica EPE: aná lise da inserçã o da geraçã o solar
na matriz elétrica brasileira. Rio de Janeiro: EPE, maio 2012. p. 1; 3-4; 6-7. Disponível em:
<http://www.epe.gov.br/geracao/Documents/Estudos_23/NT_EnergiaSolar_2012.pdf>. Acesso em: 14 abr. 2016.
Adilson Secco/ID/BR
Atividades
3. O texto acima envolve vá rios conteú dos de Física. Quais deles você consegue identificar?
4. A energia fotovoltaica é uma tecnologia economicamente viá vel para o Brasil? Por quê?
Pá gina 238
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Geografia 3º ano
Manual do Professor
Pá gina 242
Apresentação
O principal objetivo deste manual é oferecer subsídios e sugestõ es para o trabalho cotidiano do
professor de Geografia.
Na primeira parte sã o discutidos alguns elementos teó ricos e metodoló gicos importantes para
o ensino de Geografia, ao mesmo tempo que se provocam reflexõ es, de ordem pedagó gica, com
o intuito de enriquecer o trabalho docente. Apresentam-se, também, estudos com sugestõ es de
açõ es acerca da interdisciplinaridade e do processo de avaliaçã o, além de uma descriçã o
comentada da estrutura e do conteú do dos livros da coleçã o.
A segunda parte do manual apresenta comentá rios e sugestõ es pedagó gicas detalhadas,
capítulo a capítulo, e atividades complementares e respostas a todas as atividades do Livro do
Aluno.
Este manual reú ne, também, leituras complementares e indicaçõ es de sites, livros e filmes,
para apoiar a açã o docente.
Equipe editorial
Pá gina 243
Sumário
PARTE 1 - Aspectos gerais da coleção 244
O percurso da Geografia ao longo do tempo 244
A proposta pedagó gica da coleçã o 245
A interdisciplinaridade 246
A linguagem 248
Estrutura da coleçã o 249
Visã o geral dos conteú dos da coleçã o 251
A avaliaçã o como processo 251
Sugestõ es de estratégias e metodologias para o ensino de Geografia 253
Referências bibliográficas 256
Sites para consulta 257
As Ciências Humanas em geral, entre as quais a Geografia, a Histó ria e a Filosofia, muitas vezes
formularam conceitos globais e abrangentes, explicando a realidade, sem estabelecer limites
muito rígidos entre o seu objeto e os objetos de outras ciências. Isso deixou como legado um
vasto campo para tratamentos interdisciplinares.
A Geografia, como ciência que busca compreender, de maneira integrada, as relaçõ es entre a
natureza e a sociedade, oferece uma visã o ampla do mundo. Os conhecimentos geográ ficos
foram construídos sob diferentes perspectivas, relacionadas ao contexto em que elas se
originaram. Nã o importa por qual das linhas teó ricas já percorridas ao longo de sua trajetó ria,
a Geografia busca observar e compreender o mundo sem abdicar de uma característica
fundamental do “olhar” geográ fico, que é a aná lise das mú ltiplas determinaçõ es da realidade.
No Brasil, esse olhar geográ fico sobre a Terra e em relaçã o ao cosmos se apresentava, já em
meados do século XIX, aos estudantes do Imperial Colégio de Pedro II, atual Colégio Pedro II,
no Rio de Janeiro.
A construçã o do Brasil era vista como recente, e seus domínios eram considerados vastos e
desconhecidos por grande parte da ciência. Por isso, a Geografia enveredou pelos trabalhos de
campo e se ocupou, prioritariamente, em levantar informaçõ es e registrar a existência dos
lugares e das regiõ es. Teve, como prioridade, a coleta de informaçõ es ú teis ao Estado,
entendido como o grande administrador do territó rio. Esses levantamentos eram pouco
complementados por aná lises e reflexõ es.
Sob forte influência francesa, a Geografia brasileira avançou na chamada síntese regional, que
buscava identificar as regiõ es como singularidades na paisagem – Vidal de la Blache, geó grafo
francês, afirmava ser esse o “objetivo ú ltimo da tarefa do geó grafo”.
[...] as monografias regionais acabaram construindo uma geografia que destacava o cará ter ú nico de cada
estudo regional, sem preocupaçã o com o estabelecimento de leis e princípios gerais no conhecimento da
realidade. [...]
LENCIONI, Sandra. Regiã o e geografia. A noçã o de regiã o no pensamento geográ fico. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (Org.).
Novos caminhos da geografia. 3. ed. Sã o Paulo: Contexto, 2001. p. 189 (Coleçã o Caminhos da Geografia).
No compasso da Guerra Fria, entre os anos 1950 e 1960, o planejamento regional ganhou
destaque na perspectiva do novo Estado capitalista planejador. Nesse contexto, a Geografia
passou a ser utilizada como conhecimento necessá rio para intervir diretamente no mundo por
meio do planejamento do espaço geográ fico, abandonando a atitude “passiva”, de
contemplaçã o e catalogaçã o de paisagens e de gêneros de vida.
Nos anos 1970, a abordagem crítica, influenciada por reinterpretaçõ es da obra de Karl Marx e
do marxismo em geral, tornou-se mais presente na Geografia, produzindo reflexõ es sobre a
natureza profunda e conflituosa dos problemas sociais. Milton Santos, um dos mais
importantes geó grafos brasileiros, foi um dos representantes dessa corrente de pensamento.
Em sua vasta obra, buscou aprofundar os estudos da formaçã o socioespacial brasileira,
contribuindo de forma marcante para o avanço da Geografia e do conhecimento de nossa
realidade.
A Geografia incorporou a ideia do conflito como elemento central da sociedade capitalista. Sua
atençã o passou a ser voltada a questõ es mais gerais e estruturais da sociedade e da economia,
como o imperialismo, o desenvolvimento desigual, o colonialismo e a sociedade-mundo.
[...] Os geó grafos críticos, em suas diferenciadas orientaçõ es, assumem a perspectiva popular, a da
transformaçã o da ordem social. Buscam uma Geografia mais generosa e um espaço mais justo, que seja
organizado em funçã o dos interesses dos homens.
MORAES, Antonio Carlos Robert de. Geografia: pequena histó ria crítica. 21. ed. Sã o Paulo: Annablume, 2007. p. 132.
O debate crítico sobre os problemas sociais foi por ela valorizado, sendo propostos caminhos
para um ensino devotado à cidadania, que reconhece o indivíduo como agente pensante e
transformador da realidade. Para o aluno, compreender o mundo é uma forma de entender a si
mesmo, sendo necessá rio a essa compreensã o abranger mú ltiplas escalas, do global ao local,
num enfoque dinâ mico.
Pá gina 245
Por isso, esta coleçã o apresenta grande parte das diferentes abordagens da Geografia atual,
explicadas de maneira pedagó gica e complementadas por diversas seçõ es e boxes, com o
intuito de aprimorar a formaçã o geral dos alunos, a aná lise crítica da realidade e seu contato
com a diversidade.
Os PCNEM afirmam ser necessá rio, no estudo da Geografia, superar a simples justaposiçã o de
informaçõ es sobre aspectos físicos e estudos de atividades humanas. É importante construir
uma Geografia que vá além da descriçã o das paisagens e que nã o se restrinja aos fundamentos
econô micos e políticos da realidade social, mas que alcance explicaçõ es que abranjam de modo
mais completo o espaço geográ fico. Esse propó sito está presente no pensamento geográ fico
contemporâ neo. Para Milton Santos, o espaço geográ fico
é o conjunto indissociá vel de sistemas de objetos (redes técnicas, prédios, ruas) e de sistemas de açõ es
(organizaçã o do trabalho, produçã o, circulação, consumo de mercadorias, relaçõ es familiares cotidianas), que
procura revelar as prá ticas sociais dos diferentes grupos que nele produzem, lutam, sonham, vivem e fazem a
vida caminhar.
Para atingir o objetivo de estudar o espaço geográ fico em sua complexidade, numa perspectiva
local, regional e global, esta coleçã o busca incorporar as mú ltiplas possibilidades oferecidas
pelos estudos geográ ficos atuais. També m atribui importâ ncia ao estudo da natureza e ao
estudo da sociedade, observadas em suas mú ltiplas relaçõ es. A linguagem cartográ fica e outros
recursos grá ficos, importantes instrumentos para a análise e a compreensã o do espaço
geográ fico, aparecem em toda a coleçã o, sempre no contexto dos temas abordados.
Além disso, o sistema educacional brasileiro passou por recentes transformaçõ es. Uma delas
foi a inclusã o do Ensino Médio na educaçã o bá sica. Com isso, o Ensino Médio deixou de ter o
papel de intermediá rio para o ingresso no ensino superior ou no ensino profissionalizante e se
tornou parte constitutiva de uma formaçã o geral.
Entende-se que, ao concluir a educaçã o bá sica, os alunos devem ter sido preparados para
compreender a importâ ncia de aprender continuamente, dentro e fora da escola, seja como
forma de prosseguir os estudos, seja como exigência para a inserçã o no mundo do trabalho. A
formaçã o geral, neste segmento escolar, deve contemplar o exercício da cidadania e o
desenvolvimento da autonomia, do criticismo e da criatividade. O trabalho em torno de uma
formaçã o geral, nesta coleçã o, busca aprimorar a capacidade de pesquisar, buscar informaçõ es,
selecioná -las e analisá -las de maneira crítica em prová veis aplicaçõ es na realidade geográ fica.
Ao contrá rio da compreensã o parcial e fragmentada dos fenô menos, busca-se criar
competências que permitam a compreensã o de fatos, fenô menos, informaçõ es, capazes de
subsidiar o exercício da cidadania em atividades políticas e sociais.
Na busca de explicaçõ es plurais para entender o espaço em toda a sua complexidade, promove-
se a interaçã o da Geografia com outras á reas de conhecimento, com a Arte e com a cultura, sob
o foco da Sociologia, da Histó ria, da Economia, da Literatura, das Artes plá sticas, etc. Assim, ao
estimular prá ticas interdisciplinares, é possível favorecer uma didá tica mais produtiva e uma
aprendizagem mais significativa.
Os conteú dos desta coleçã o tratam as questõ es que abordam, em diferentes escalas, do
mundial ao nacional e regional, estabelecendo conexõ es entre elas, num movimento de aná lise
que transita do simples ao complexo e do complexo ao simples. Essa abordagem também se
evidencia nos capítulos que tratam de temas nacionais, inserindo-os nos contextos local e
global. Ademais, a proposta pedagó gica da coleçã o estimula a prá tica de uma Geografia cidadã ,
na qual o aluno nã o apenas percebe o mundo em movimento, mas se percebe nesse
movimento, como agente e sujeito dos processos em curso.
Pá gina 246
Pilares da coleção
Por fim, a linha condutora dos estudos procura desenvolver no aluno as competências e
habilidades elencadas pelos PCNEM, entendidas como essenciais à formaçã o do sujeito do
mundo atual:
Representação e comunicação
•Ler, analisar e interpretar os có digos específicos da Geografia (mapas, grá ficos, tabelas, etc.), considerando-os
como elementos de representaçã o de fatos e fenô menos espaciais e/ou espacializados.
•Reconhecer e aplicar o uso das escalas cartográ fica e geográ fica, como formas de organizar e conhecer a
localizaçã o, distribuiçã o e frequência dos fenô menos naturais e humanos.
Investigação e compreensão
•Selecionar e elaborar esquemas de investigaçã o que desenvolvam a observaçã o dos processos de formação e
transformaçã o dos territó rios, tendo em vista as relaçõ es de trabalho, a incorporaçã o de técnicas e tecnologias
e o estabelecimento de redes sociais.
Contextualização sociocultural
•Reconhecer na aparência das formas visíveis e concretas do espaço geográ fico atual a sua essência, ou seja, os
processos histó ricos, construídos em diferentes tempos, e os processos contemporâ neos, conjunto de prá ticas
dos diferentes agentes, que resultam em profundas mudanças na organizaçã o e no conteú do do espaço.
BRASIL. Ministé rio da Educaçã o. Secretaria de Educaçã o Mé dia e Tecnoló gica. Parâmetros curriculares nacionais (Ensino
Médio). Brasília: MEC/Semtec, 1999. v. 4. p. 31-35.
A interdisciplinaridade
Nas discussõ es atuais sobre a reformulaçã o do Ensino Médio, um papel central é atribuído à
interdisciplinaridade. Propõ e-se uma reorganizaçã o do ensino com enfoque no tratamento
interdisciplinar de temas como eixo estruturador dos currículos, em vez da organizaçã o do
conhecimento em cada disciplina. Rompem-se as fronteiras entre as disciplinas tradicionais do
currículo mediante o ensino e a aprendizagem focados em temas da realidade concreta, nos
quais os limites disciplinares, que organizaram e ainda organizam em boa medida a pesquisa
científica, não se mantêm estanques.
Nos PCN+ Ensino Médio, a nova compreensã o desse nível de ensino é descrita em termos de
uma organizaçã o do aprendizado que “nã o seria conduzida de forma solitá ria pelo professor
de cada disciplina, pois as escolhas pedagó gicas feitas numa disciplina nã o seriam
independentes do tratamento dado à s demais, uma vez que é uma açã o de cunho
interdisciplinar que articula o trabalho das disciplinas, no sentido de promover competências”
(p. 13).
Pá gina 247
Em parecer emitido pelo Conselho Nacional de Educaçã o em 2009, sobre a nova organizaçã o
curricular do Ensino Médio, reafirma-se que “a nova organizaçã o curricular pressupõ e uma
perspectiva de articulaçã o interdisciplinar”, propondo “estimular novas formas de organizaçã o
das disciplinas, articuladas com atividades integradoras, a partir das inter-relaçõ es existentes
entre os eixos constituintes do Ensino Médio, ou seja, o trabalho, a ciência, a tecnologia e a
cultura” (p. 4).
Além disso, citando as Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio, o parecer traz
recomendaçõ es sobre a conduçã o do trabalho pedagó gico, que deveria “ir além da descriçã o e
constituir nos alunos a capacidade de analisar, explicar, prever e intervir”, ressaltando que
estes objetivos serã o mais facilmente alcançá veis “se as disciplinas, integradas em á reas de
conhecimento, puderem contribuir, cada uma com sua especificidade, para o estudo comum de
problemas concretos, ou para o desenvolvimento de projetos de investigaçã o e/ou de açã o” (p.
15).
O desafio é construir uma prá tica pedagó gica articulada em torno de objetivos construídos em
conjunto por grupos de professores de diferentes disciplinas, que passam a ser estruturadores
do trabalho pedagó gico ao mobilizar os conteú dos de suas disciplinas que contribuam para a
abordagem do tema escolhido.
[...] no interior das disciplinas, os temas sã o, sempre, transversais, na medida em que se tornam ferramentas
para oferecer aos alunos os fundamentos ló gicos que dã o identidade a um campo do saber científico. Nos
projetos interdisciplinares, as disciplinas são transversais, na medida em que o objetivo é realçar o tema
estudado e o desejo é que os alunos se apropriem dos diversos olhares possíveis que podem nos ajudar no
desvendamento do mundo.
SANTOS, Douglas. Saber escolar, inter e transdisciplinaridade: o saber escolar como saber disciplinar/interdisciplinar. Á reas
do conhecimento no ensino fundamental. Salto para o Futuro, boletim 18, p. 52, out. 2007. Disponível em:
<http://cdnbi.tvescola.org.br/resources/VMSResources/contents/document/publicationsSeries/1426103172843.pdf>.
Acesso em: 30 abr. 2016.
Quais os materiais, equipamentos e ações que podem nos ajudar a responder à questão?
• Selecionar e planejar como obter materiais e equipamentos que podem fornecer informaçõ es
e aprendizagens sobre o assunto; identificar e planejar atividades capazes de fornecer
respostas e resultados para as questõ es em estudo; selecionar e criar metodologias para
desenvolvimento das diferentes etapas e atividades do projeto; prever tempo e condiçõ es para
o desenvolvimento do trabalho.
A linguagem
A coleçã o procura utilizar linguagem adequada aos jovens do Ensino Médio, sem incorrer em
expressõ es vulgares ou excessivamente coloquiais. O professor encontrará um texto agradá vel,
objetivo e conciso, organizado em períodos e pará grafos curtos, que facilitam a leitura.
Mesmo quando recorremos a textos complementares, como no boxe Saiba mais e nas seçõ es
Informe e Mundo Hoje, procuramos sempre selecionar material de fá cil compreensã o, em
linguagem mais acessível.
Em algumas passagens da coleçã o, o leitor encontrará trechos de poesias ou cançõ es, entre
outros gêneros textuais. Esses trechos tornam a experiência de leitura mais rica, pelas
características poética, estética, cultural presentes em textos desse estilo. É importante que o
aluno se familiarize com a diversidade de textos. Assim, terá melhor proveito e eficiência em
suas pesquisas e levantamentos em fontes secundá rias. Ao mesmo tempo, ampliará o
vocabulá rio e aprimorará sua capacidade de expressã o escrita. A variedade de gêneros textuais
é fundamental para a riqueza do aprendizado.
As imagens fazem parte da linguagem de um livro didá tico – em especial de Geografia. Nossa
coleçã o procura recorrer a ilustraçõ es, fotografias, mapas, tabelas, grá ficos, imagens de
satélite, entre outras imagens, sempre buscando explorar aquelas que contribuam para o
processo educacional, quando possível, apontando o seu uso pedagó gico. Sua funçã o é
“dialogar” com o texto didá tico ou complementá -lo.
Pá gina 249
Dessa forma, o projeto grá fico foi preparado para oferecer um material de manuseio agradá vel,
de fá cil assimilaçã o e de intenso potencial para a aprendizagem.
Além dos mapas bá sicos, a coleçã o apresenta um variado e atualizado material cartográ fico
proveniente de fontes nacionais e internacionais especializadas. Esses mapas abordam
questõ es específicas, como meio ambiente, economia, cultura, política, e podem ser usados
como meios de introduzir, aprofundar e finalizar discussõ es e estudos dos temas
contemplados.
Estrutura da coleção
Cada livro foi organizado em unidades, divididas em capítulos. A abertura de unidade
apresenta ora uma contextualizaçã o, ora uma problematizaçã o, ora um recorte de algum tema
que será estudado, em articulaçã o com uma imagem (foto, obra de arte, ilustraçã o, etc.) para
introduzir a temá tica da unidade e levantar conhecimentos prévios dos alunos. Para promover
a reflexã o, sã o propostas Questõ es para refletir. A abertura de capítulo traz texto
introdutó rio, associado a imagens (fotos, mapas, grá ficos, obras de arte), sobre o conteú do do
capítulo. Nela, sã o propostas questõ es de aná lise que articulam o texto e as imagens.
Ao longo dos capítulos, assuntos mais complexos, que exigem tratamento diferenciado, com
articulaçã o de diferentes linguagens, foram abordados por meio de infográ ficos em pá ginas
duplas, integrando textos, grá ficos, mapas, fotos, entre outras linguagens.
Em todos os volumes, o texto didá tico é complementado por vá rios boxes e por seçõ es, com
características diferenciadas.
Boxes
A seguir, a descriçã o dos boxes vinculados aos pilares:
• Geografia e... Objetiva trabalhar, ao longo do capítulo, a interdisciplinaridade, ou seja, usar o
conhecimento de vá rias disciplinas, compartilhar informaçõ es de diferentes saberes, propondo
atividades. Isso pode ser feito com a Histó ria, a Arquitetura, a Literatura, a Antropologia, a Arte
ou com outras á reas do conhecimento. Ocorre ao longo dos capítulos.
• Conexão. Tem como finalidade principal relacionar o tema abordado com a realidade do
aluno, tratando de assuntos que fazem parte do seu dia a dia. Sempre que possível, articulando
mú ltiplas escalas, do local ao global. Propõ e atividades em grupo ou individuais a fim de
problematizar essa realidade.
• Ação e cidadania. Articula o conteú do apresentado no capítulo a aspectos da realidade
social, aos direitos e deveres dos cidadã os, à s questõ es dos valores, propondo
questionamentos e atividades. Estimula o aluno a refletir sobre açõ es individuais e coletivas
voltadas à melhoria da comunidade, do bairro, da cidade, do mundo. Portanto, incentiva a
participaçã o ativa na vida em sociedade ao propor tarefas que estimulam competências e
habilidades vinculadas ao processo de formaçã o de cidadã os.
Também ocorrem na coleçã o boxes de cará ter mais abrangente. Esses vêm explicitados a
seguir:
• Saiba mais. Traz informaçõ es complementares ao conteú do tratado no texto didá tico dos
capítulos, auxiliando na sua compreensã o e aprofundando aspectos considerados importantes
ou que possam despertar a curiosidade do aluno.
• Leia, Assista e Navegue. A coleçã o indica livros, filmes e sites, em que se encontram
informaçõ es e abordagens complementares ao conteú do que está sendo trabalhado. Essas
indicaçõ es aparecem em quadros com pequenos comentá rios, pró ximos do texto didá tico. Com
isso, a coleçã o procura oferecer ao aluno e ao professor opçõ es para a ampliaçã o e o
aprofundamento dos temas tratados.
• Glossário. Traz explicaçã o de termos, pró ximo à sua ocorrência no texto didá tico,
relacionados à disciplina, favorecendo a aquisiçã o de vocabulá rio específico da temá tica
abordada.
Seções
A seguir, a descriçã o das seções vinculadas aos pilares:
• Geografia e... Trata de temas interdisciplinares e se distingue do boxe de mesmo título por
desenvolver conteú dos relacionados diretamente à s outras disciplinas do Ensino Médio. Ao
final de cada seçã o, existem exercícios que instigam o aluno a relacionar os temas tratados com
os conteú dos de cada ramo do conhecimento. A seçã o pode ser utilizada em conjunto com
outros professores para que o aproveitamento dos seus conteú dos seja mais amplo. Entra ao
final das unidades.
• Informe. Reproduz textos científicos e de especialistas relacionados aos conteú dos do
capítulo. O objetivo é oferecer ao aluno a oportunidade de ler textos produzidos por
pesquisadores de diversas á reas do conhecimento. A seçã o encerra-se com questõ es para
discussã o ou debate sobre o tema abordado. Geralmente ocorre ao final dos capítulos.
• Mundo Hoje. Traz um trecho de texto extraído de jornais, revistas ou sites, sempre de fontes
de reconhecida credibilidade. O objetivo é ampliar o repertó rio de cultura e diversidade do
aluno, colocando-o em contato com ideias e discussõ es presentes na mídia impressa e na
internet. A seçã o encerra-se com uma atividade dinâ mica, que pode ser realizada em grupo ou
individualmente (pesquisas, entrevistas, debates, seminá rios, etc.). Geralmente ocorre ao final
dos capítulos.
Pá gina 250
• Projeto. Essa atividade tem como proposta a elaboraçã o de um produto – cartaz, jornal,
debate, exposiçã o, etc. – com possibilidade de ser apresentado à comunidade (escola, família,
bairro). Promove-se a iniciativa do aluno, que poderá compartilhar com a comunidade os
conhecimentos que adquiriu e as reflexõ es que desenvolveu no decorrer do estudo de
Geografia a partir da resoluçã o de uma situaçã o-problema. Os projetos enfocam temas
relacionados a problemas coletivos, sejam eles ambientais, econô micos, sociais. Sã o
apresentados dois projetos por volume, desenvolvidos em pá ginas duplas.
Além das seçõ es vinculadas ao desenvolvimento dos pilares da coleçã o, apresentam-se outras
seçõ es. Sã o elas: Presença da África e Presença Indígena; Em análise; e Síntese da Unidade.
Em relaçã o à populaçã o de origem africana, uma das formas de alcançar esses objetivos é
possibilitar aos alunos saberem cada vez mais sobre a Á frica, incluindo aspectos atuais nem
sempre divulgados nos meios de comunicaçã o. E, também, discutir e avaliar informaçõ es sobre
a histó ria e os aspectos culturais da populaçã o afro-brasileira. Além disso, para combater as
manifestaçõ es e representaçõ es racistas – que, embora negadas, estã o presentes na cultura
brasileira –, é necessá rio promover uma representaçã o positiva do negro. Para isso, os textos
indicados para leitura nã o trazem apenas o papel de mulheres e homens negros como mã o de
obra escrava ou as condiçõ es de pobreza em que vive boa parte da populaçã o negra, na Á frica e
no Brasil, ou seu destaque apenas em manifestaçõ es culturais ou artísticas como expressõ es
idealizadas. Acredita-se na importâ ncia de se valorizar o povo em suas lutas, suas conquistas e
sua inserçã o em grandes situaçõ es e no cotidiano do país.
Sobre os indígenas, a proposta geral que norteia os textos é a desmistificaçã o da imagem que
o senso comum tem do indígena e que não corresponde à realidade. O bom indígena, o
indígena estereotipado, confinado em matas e lugares longínquos sã o exemplos dos mitos
construídos em torno de grupos de pessoas que habitavam a terra brasileira e que continuam
vivendo suas histó rias, entre outros grupos sociais, caracterizados como incapazes até
legalmente falando. O objetivo é que o conjunto de textos aborde diferentes aspectos da
realidade indígena atual. Com isso, o leitor poderá perceber a diferença entre a real situaçã o
das populaçõ es indígenas e a ideia que povoa nosso imaginá rio, veiculada por diversos
segmentos da mídia e à s vezes presentes até em muitos livros didá ticos.
O conjunto de textos certamente ajudará o aluno a refletir sobre o contato com culturas
diferentes. Ademais, poderá levá -lo a pensar no que tem a aprender com essas culturas e no
que deve saber para respeitá -las, para entender e valorizar suas prá ticas e seus valores.
• Em análise. Contém atividades com as quais se pretende fornecer ao aluno alguns recursos
importantes para a construçã o do conhecimento geográ fico. Entre elas, citamos: desenhar
grá ficos e tabelas, construir perfis topográ ficos, interpretar mapas temá ticos, construir
pirâ mides etá rias. Atividades dessa natureza visam incentivar também uma atitude proativa e
crítica dos alunos, fornecendo-lhes instrumentos para que entendam e interpretem por si
mesmos as informaçõ es, e não apenas recebam passivamente o que leem ou assistem. Ocorre
ao final de cada unidade.
Atividades
Todo capítulo termina com uma seçã o de Atividades, composta de três subseçõ es. Sã o elas:
• Interpretando textos e imagens. O aluno é estimulado à reflexã o sobre o que foi estudado
no capítulo, em geral a partir de uma charge, de um poema, da letra de uma cançã o, de
fragmentos de textos, etc. Essas reflexõ es podem levar à produçã o de textos opinativos, a
debates e à pesquisa coletiva ou individual, entre outras atividades.
Além da seçã o Atividades, a coleçã o oferece ao aluno, ao final de cada unidade, um conjunto de
testes de vestibulares do país e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), relacionados
aos assuntos mais importantes estudados.
Pá gina 251
No final de cada volume, estã o dispostas as Referências bibliográficas, que elencam as obras
utilizadas na elaboraçã o dos volumes e indicadas para o aprofundamento dos estudos na á rea.
Há também a apresentaçã o das Siglas dos exames e das universidades, identificando as
instituiçõ es correspondentes aos testes da seçã o Vestibular e Enem.
Elencamos a seguir os conteú dos abordados em cada livro da coleçã o para propiciar uma visã o
geral do que será tratado e em qual momento. Posteriormente, mostraremos a organizaçã o de
cada livro em unidades e capítulos.
Livro 1
As unidades que compõ em o primeiro volume da obra mobilizam conteú dos relacionados a
processos físicos e sociais, proporcionando aos alunos uma inserçã o aprofundada nos
fundamentos do conhecimento geográ fico, o que favorece a compreensã o crítica das relaçõ es
entre sociedade e natureza. Os estudos geográ ficos contam, ainda, com a abordagem da
Cartografia, suas novas tecnologias e aplicaçõ es.
Livro 2
• Unidade 1. Sociedade e paisagens naturais. Aborda a dinâ mica climá tica; as formaçõ es
vegetais e os domínios morfoclimá ticos; os recursos naturais e as fontes de energia.
Livro 3
A Geografia política conduz o desenvolvimento dos conteú dos do terceiro volume. As guerras e
os conflitos entre naçõ es sã o analisados sob o ponto de vista de suas implicaçõ es territoriais e
também econô micas – essas facetas da globalizaçã o estã o em destaque no volume. Há , ainda,
espaço para outras dimensõ es políticas, como as questõ es ambientais e as estratégias de
controle dos recursos naturais essenciais à manutençã o do sistema econô mico dominante no
mundo atual.
• Unidade 1. A produção do espaço político. Traz a questã o dos territó rios, das fronteiras e a
influência da geopolítica e da guerra no espaço.
• Unidade 2. A nova ordem internacional. Trata da globalizaçã o em suas diferentes dimensõ es,
a formaçã o dos blocos econô micos e as grandes potências mundiais.
• Unidade 4. Os desafios geopolíticos do século XXI. Questõ es geopolíticas acerca dos recursos
naturais, do petró leo, dos alimentos e da produçã o.
O termo avaliar tem sido constantemente associado a expressõ es como: fazer prova, fazer exame, atribuir nota,
repetir ou passar de ano. Essa associaçã o, tã o frequente em nossas escolas, é resultante de uma concepçã o
pedagó gica arcaica, mas tradicionalmente dominante. Nela, a educaçã o é concebida como mera transmissã o e
memorizaçã o de informaçõ es prontas e o aluno é visto como um ser passivo e receptivo. Em consequência, a
avaliaçã o se restringe a medir a quantidade de informaçõ es retidas. Nessa abordagem, em que educar se
confunde com informar, a avaliaçã o assume um cará ter seletivo e competitivo.
HAYDT, Regina Cé lia C. Curso de didática geral. 8. ed. Sã o Paulo: Á tica, 2006. p. 286 (Sé rie Educaçã o em Açã o).
Pá gina 252
Ao elaborar uma boa proposta de avaliaçã o, nã o é necessá rio, no entanto, abolir as provas;
pode-se atribuir a elas novos significados, integrando-as ao pró prio processo de
aprendizagem. Há , ainda, quem argumente que o aluno do Ensino Médio deva se habituar a tais
momentos, pois passará por eles diversas vezes em sua vida. Em lugar de considerar a
avaliaçã o formal pontual como constrangimento e puniçã o, a prova pode oferecer ao aluno
possibilidades de construçã o do conhecimento, com base nas situaçõ es de aprendizagem que
vivenciou em aula e, assim, tornar-se um precioso recurso de avaliaçã o.
Em termos gerais, a avaliaçã o é um processo de coleta e aná lise de dados, tendo em vista
verificar se os objetivos propostos foram atingidos. No â mbito escolar, a avaliaçã o se realiza
em vá rios níveis: do processo ensino-aprendizagem, do currículo do funcionamento da escola
como um todo.
A avaliaçã o da aprendizagem do aluno está diretamente ligada à avaliaçã o do pró prio trabalho docente. Ao
avaliar o que o aluno conseguiu aprender, o professor está avaliando o que ele pró prio conseguiu ensinar.
Assim, a avaliaçã o dos avanços e dificuldades dos alunos na aprendizagem fornece ao professor indicaçõ es de
como deve encaminhar e reorientar a sua prá tica pedagó gica, visando aperfeiçoá -la. É por isso que se diz que a
avaliaçã o contribui para a melhoria da qualidade da aprendizagem e do ensino.
HAYDT, Regina Cé lia C. Curso de didática geral. 8. ed. Sã o Paulo: Á tica, 2006. p. 288 (Sé rie Educaçã o em Açã o).
Quando o professor reconhece a importâ ncia da avaliaçã o como um processo contínuo e como
algo que lhe permite rever seus pró prios instrumentos e suas estratégias, seu trabalho é
enriquecido. Haverá possibilidades concretas de adequar melhor os objetivos e ritmos à s
características da turma e de obter maior participaçã o do alunado. Dessa forma, a avaliaçã o se
tornará um instrumento permanente, nã o mais pontual e isolado. Nesse processo permanente
de avaliaçã o, a prova em moldes operató rios, criativos, críticos pode representar uma das
possibilidades de verificaçã o de aprendizagem.
Nessas circunstâ ncias, a prova nã o precisa ser descartada e seu papel pode ser revisto, pois,
além de conhecimentos, o processo educacional compreende a aquisiçã o de diversas outras
habilidades e competências. Por isso, é interessante que o professor observe e analise o
desempenho do aluno, considerando outros aspectos que nã o aqueles que a prova pode aferir,
como a capacidade de reagir diante de desafios, de se articular em grupo, de se comunicar.
Enfim, existem aquisiçõ es comportamentais valiosas na formaçã o do cidadã o que apenas o uso
de provas como instrumento de avaliaçã o nã o permite acompanhar.
A pró pria assimilaçã o de conteú dos abrange três dimensõ es distintas: a conceitual, a
procedimental e a atitudinal.
Nesse sentido, o professor deve estar consciente de que, a cada momento do processo de
aprendizado, o aluno não faz contato apenas com um conjunto de informaçõ es sobre
determinado fenô meno geográ fico. Ele também assimila procedimentos pró prios da disciplina,
o que implica desenvolver a observaçã o dos fenô menos estudados (por meio de textos, mapas,
fotografias, tabelas, grá ficos), a descriçã o (identificaçã o de sua natureza e características
gerais), a análise (interpretaçã o, contextualizaçã o e explicaçã o do fenô meno) e, finalmente, a
representaçã o, por meio da elaboraçã o de mapas, croquis, imagens, etc. Ao dominar de forma
gradual tais procedimentos, o aluno vai deixando de observar e compreender os temas
econô micos, políticos, sociais e ambientais de acordo com o senso comum, para começar a
percebê-los pela “lente” peculiar da Geografia.
A Geografia pode contribuir para a formaçã o de uma sociedade mais tolerante, pois trabalha
com temas relacionados à formaçã o social, evitando, colocando em discussã o ou mitigando a
reproduçã o de estereó tipos e preconceitos.
Alguns autores acreditam que o ensino de Geografia seja fundamental para que as novas geraçõ es possam
acompanhar e compreender as transformaçõ es do mundo, dando à disciplina geográ fica um status que antes
nã o possuía. [...]
Nã o podemos mais negar a realidade ao aluno. A Geografia, necessariamente, deve proporcionar a construçã o
de conceitos que possibilitem ao aluno compreender o seu presente e pensar o futuro com responsabilidade,
ou ainda, preocupar-se com o futuro através do inconformismo com o presente. [...]
STRAFORINI, Rafael. Ensinar geografia: o desafio da totalidade-mundo nas sé ries. 2. ed. Sã o Paulo: Annablume, 2008. p. 51
(Selo Universidade).
Isso significa, entre muitas outras implicaçõ es, reconhecer o direito dos alunos de opinar sobre
o currículo e a avaliaçã o. Dessa forma, cientes dos princípios e das metas que nortearã o o
processo, poderã o se comprometer com a busca dos resultados previstos; eles estarã o, ainda,
experimentando uma atuaçã o política em uma microescala, o que lhes possibilita compreender
tais processos nas escalas geográ ficas abordadas em sala.
A avaliaçã o permanente e participativa permite um relacionamento mais confiante entre
professor e aluno, reduzindo tensõ es prejudiciais ao processo pedagó gico, e torna possível
identificar dificuldades de alunos, estimulando o professor a adotar medidas para ajudá -los a
vencer os obstá culos. A avaliaçã o permanente também ajuda o professor a descobrir se o
educando, mesmo com bom desempenho geral, enfrenta alguma dificuldade específica. Esse
acompanhamento personalizado, embora encontre limites na estrutura de nosso sistema de
ensino, é um ideal a ser perseguido.
REGO, Nelson. Geografia educadora, isso serve para... In: Rego, Nelson et al. (Org.). Geografia: prá ticas pedagó gicas para o
ensino mé dio. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 10.
Percebe-se que os alunos tendem a apresentar maior interesse por atividades em que os
conteú dos estudados possibilitam correlaçõ es com o que conhecem e cujos resultados possam
ser divulgados e levados ao conhecimento de um pú blico mais amplo. É o caso da organizaçã o
de exposiçõ es, seminá rios abertos a outros segmentos da escola e da sociedade, da publicaçã o
de livretos e da produçã o de vídeos.
Pá gina 254
O trabalho de campo
A atividade de campo é instrumento histó rico de aná lise na Geografia. Vê-la como uma simples observaçã o de
um fenô meno ou como coleta de dados sobre objetos específicos, seguindo roteiros pré-concebidos, remete a
refletir sobre essa metodologia como açã o pedagó gica.
Pá gina 255
Superando esse modelo, encaminhamos uma estratégia de construção e de participação do aluno no seu
processo de aprendizagem. Dessa forma, vincular o trabalho desenvolvido na escola e estendê-lo ao exercício
da descoberta, da “desconstrução” e da criaçã o do saber estã o sempre presentes.
MATHEUS, Elizabeth Helena Coimbra. O que há por trá s de uma panela? Uma atividade de campo como trajetó ria a um olhar
geográ fico. In: REGO, Nelson et al. (Org.). Geografia: prá ticas pedagó gicas para o ensino mé dio. Porto Alegre: Artmed, 2007.
p. 135.
Quanto à s etapas de planejamento da saída a campo, é aconselhá vel relacionar os temas vistos
em sala de aula com locais em pauta nos meios de comunicaçã o, a fim de provocar a
curiosidade do aluno, e desenvolver discussõ es a respeito desses espaços. O percurso pode ser
organizado de modo a permitir a observaçã o de diferentes paisagens e diferentes fenô menos
sociais, políticos, econô micos ou culturais.
É importante o professor visitar antes os pontos escolhidos e reunir informaçõ es sobre eles.
Dessa forma, terá elementos para organizar um roteiro de atividades que permita aos alunos
complementar a observaçã o por meio de fotos e registros verbais, assim como orientar-se no
espaço e usar mapas.
Diversas questõ es podem ser apresentadas aos alunos: O que chama a atençã o no ponto
visitado? Quais sã o as sensaçõ es que o lugar desperta? Quais os pressupostos que trazemos e
como eles se encaixam ao experimentado in loco? O que há de belo, inusitado ou típico? Essas
impressõ es podem ser traduzidas por meio de descriçõ es verbais ou de textos. Também é
possível gravar os sons do ambiente, fotografar, desenhar croquis, etc. Reunir essas produçõ es
em um portfó lio apresenta vantagens de arquivamento de registros e de trocas de
aprendizagens entre os alunos.
O contato com pessoas que vivem no lugar, ou com especialistas que tenham esse lugar como
objeto de estudo costuma ser uma experiência gratificante. Essas pessoas podem falar a
respeito do processo de ocupaçã o do local, dos eventuais conflitos em curso e das posiçõ es
assumidas pelos que participam dessas disputas. As informaçõ es coletadas enriquecem o que
foi aprendido em sala de aula, com o professor ou com os livros.
Professor, de acordo com o Parecer CNE/CEB 15/2000, “o uso didá tico de imagens comerciais identificadas pode ser
pertinente desde que faça parte de um contexto pedagó gico mais amplo, conducente à apropriaçã o crítica das
mú ltiplas formas de linguagens presentes em nossa sociedade, submetido à s determinaçõ es gerais da legislaçã o
nacional e às específicas da educaçã o brasileira, com comparecimento mó dico e variado”. Para saber mais, consulte o
Parecer inteiro, especialmente a parte “II – Voto do relator”.
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VESENTINI, José Willian. O ensino de Geografia no século XXI. Campinas: Papirus, 2004.
A internet pode ser um ó timo instrumento de pesquisa, porém, o professor deverá tomar
alguns cuidados ao acessá -la. Uma das precauçõ es é recorrer a sites que explicitem a fonte e a
autoria das informaçõ es veiculadas. Procurar sempre os sites idô neos de instituiçõ es de
ensino, como os de universidades e colégios, além de sites de entidades governamentais e não
governamentais confiá veis. Nas pesquisas em sites jornalísticos, o professor deverá ficar
atento à s abordagens das notícias veiculadas. Os sites listados a seguir foram acessados em 30
abr. 2016.
Entidades nacionais
Ambiente Brasil
<http://linkte.me/ambr>
Greenpeace Brasil
<http://linkte.me/greenp>
Mulheres Negras
<http://linkte.me/mn>
Entidades internacionais
Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos (Attac)
<http://linkte.me/attac>
Banco Mundial
<http://linkte.me/wb>
Outros
BBC Brasil
< http://linkte.me/bbcp>
El País
<http://linkte.me/elpais>
Globo.com
<http://linkte.me/g1>
MiniWeb Educação
<http://linkte.me/mini>
Jornais
Acre
A Tribuna <http://linkte.me/jtri>
O Rio Branco <http://linkte.me/oriob>
Alagoas
Gazeta de Alagoas <http://linkte.me/agaz>
Amazonas
A Crítica <http://linkte.me/acri>
Amazonas em Tempo <http://linkte.me/emt>
Bahia
A Tarde <http://linkte.me/atar>
Correio da Bahia<http://linkte.me/corrb>
Brasília
Correio Braziliense <http://linkte.me/correb>
Diário Oficial <http://linkte.me/cbra>
Jornal de Brasília <http://linkte.me/jbra>
Ceará
Diário do Nordeste <http://linkte.me/dnord>
O Povo <http://linkte.me/opovo>
Espírito Santo
A Gazeta<http://linkte.me/gazo>
A Tribuna <http://linkte.me/trib>
Goiás
Diário da Manhã <http://linkte.me/dm>
O Popular <http://linkte.me/opop>
Maranhão
O Estado Maranhão <http://linkte.me/oest>
Mato Grosso
A Gazeta <http://linkte.me/gaz>
Folha do Estado <http://linkte.me/fdoo>
Minas Gerais
Estado de Minas <http://linkte.me/em>
Tribuna de Minas <http://linkte.me/tribm>
Pará
Diário On Line <http://linkte.me/dol>
O Liberal <http://linkte.me/olib>
Paraíba
Correio da Paraíba <http://linkte.me/corpr>
Jornal da Paraíba<http://linkte.me/jpr>
Paraná
Gazeta do Paraná <http://linkte.me/gazpr>
Folha de Londrina <http://linkte.me/flond>
O Estado do Paraná <http://linkte.me/prol>
Pernambuco
Diário de Pernambuco <http://linkte.me/diape>
Folha de Pernambuco <http://linkte.me/fope>
Piauí
Diario do Povo do Piauí <http://linkte.me/diapi>
Meio Norte <http://linkte.me/meno>
O Dia <http://linkte.me/pdia>
Rio de Janeiro
Correio do Brasil <http://linkte.me/corrbr>
Jornal do Brasil <http://linkte.me/jbr>
Jornal do Comércio <http://linkte.me/jcrs>
O Globo<http://linkte.me/ogl>
Rondônia
Diário da Amazônia <http://linkte.me/diaama>
Santa Catarina
Diário Catarinense <http://linkte.me/diac>
Folha do Norte <http://linkte.me/h5s36>
São Paulo
Diário de S. Paulo <http://linkte.me/diasp>
Folha de S.Paulo <http://linkte.me/fsp>
O Estado de S. Paulo <http://linkte.me/estsp>
Sergipe
Correio de Sergipe <http://linkte.me/corse>
Tocantins
Correio do Tocantins <http://linkte.me/cton>
Jornal do Tocantins<http://linkte.me/jto>
Pá gina 259
Pelo seu cará ter simbó lico, sugere-se que a imagem da abertura da unidade seja discutida com toda a
classe. É interessante que o professor apresente a situaçã o da Ucrâ nia a partir da foto e da legenda.
Aponte a presença da bandeira nacional ucraniana como afirmaçã o do descontentamento com a
anexaçã o da regiã o da Crimeia pela Rú ssia. O professor deve atentar para o que os alunos expuserem a
respeito do tema, com o objetivo de apreender seus conhecimentos prévios. Conduza a discussã o
questionando se os alunos sabem a localizaçã o da Ucrâ nia. Se possível, utilize um mapa-mú ndi para
contextualizar a foto. Levante, ainda, questõ es que remetam aos países que fazem fronteira com a
Ucrâ nia, perguntando sobre o que conhecem a respeito da histó ria desses países. A partir disso, o
conteú do dos capítulos que compõ em a unidade deverá ser trabalhado de acordo com as necessidades
da turma.
O primeiro capítulo da unidade fornece subsídios para conceituar Estado e analisar suas açõ es na
organizaçã o do espaço geográ fico. As discussõ es dos temas abordados no capítulo requerem uma atitude
interdisciplinar, pois serã o necessá rios fundamentos histó ricos e também elementos de Sociologia para
apreender os conceitos de naçã o, territó rio e de Estado.
Para iniciar o debate, vale discutir a complexidade do conceito de fronteira. A experiência de fronteira é
bastante variada. Para muitos brasileiros, a fronteira política (territorial) é algo distante de seu
cotidiano. No entanto, a experiência de acesso e interdiçã o a diferentes lugares é trivial para os alunos
(os banheiros, por exemplo, costumam ser separados por sexo ou categoria) e pode servir como analogia
para construir a compreensã o do significado e funcionamento das fronteiras. Destacamos, contudo, que é
importante nã o ampliar tanto o conceito de fronteira política a ponto de banalizá -lo. O professor pode
ainda ressaltar a importâ ncia da dualidade separaçã o-contato presente nesse conceito, estendendo-se
desde a linha limitante para as regiõ es adjacentes, que ora se beneficiam, ora sã o prejudicadas pela
proximidade com outro Estado.
Sugestões didáticas
É fundamental que sejam oferecidos subsídios para que os alunos possam construir os conceitos de
Estado e de territó rio. Como sugestã o, reproduzimos a seguir um pequeno texto sobre o conceito de
territó rio, extraído dos Parâ metros Curriculares Nacionais.
Na concepção ratzeliana de Geografia, esse conceito define-se pela apropriaçã o do espaço, ou seja, o territó rio,
para as sociedades humanas, representa uma parcela do espaço identificada pela posse. É dominado por uma
comunidade ou por um Estado. Na geopolítica, o territó rio é o espaço nacional ou a á rea controlada por um
Estado-nacional: é um conceito político que serve como ponto de partida para explicar muitos fenô menos
geográ ficos relacionados à organizaçã o da sociedade e suas interaçõ es com as paisagens. O territó rio é uma
categoria fundamental quando se estuda a sua conceitualizaçã o ligada à formaçã o econô mica e social de uma
nação. Nesse sentido, é o trabalho que qualifica o territó rio como produto do trabalho social.
Ministé rio da Educaçã o e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais. Histó ria e Geografia. Brasília: Secretaria Fundamental
de Educaçã o, 1997. v. 5. p. 75.
É importante que o professor destaque a questã o da soberania na defesa e preservaçã o do territó rio.
Ao trabalhar com o conceito de naçã o, além de discutir o exemplo do povo basco apresentado no
capítulo, outros exemplos podem ser explorados, como o dos curdos (no Oriente Médio e na Turquia) e o
dos ciganos que vivem em vá rias partes do mundo (inclusive no Brasil).
O professor pode aproximar a discussã o dos alunos, analisando a formaçã o da sociedade brasileira e dar
um enfoque especial à s diferentes naçõ es indígenas (com línguas, costumes e modos de vida diferentes).
Os direitos civis específicos dos negros e o acesso a territó rios diferenciados – os quilombos – podem ser
invocados, levando à construçã o de uma interpretaçã o do Brasil como Estado multicultural. O tema
transversal pluralidade cultural permeia a aná lise.
A partir das definiçõ es de fronteira, territó rio nacional e naçã o, pode-se abordar o papel desempenhado
pelo Estado no processo de produçã o do espaço geográ fico, em uma perspectiva histó rica. Destacamos
que este capítulo ressalta uma mudança no papel do Estado como consequência da intensa
financeirizaçã o do mundo. Para tratar do papel do Estado na produçã o do espaço, é possível recorrer à
situaçã o que se estabeleceu com a crise econô mica de 2008/2009: o professor pode ressaltar que,
mesmo com toda a força do mercado e das instituiçõ es financeiras, a resposta dos governantes à
recessã o foi que a resoluçã o da crise passava pela intervençã o estatal. Nos Estados Unidos, congressistas
estadunidenses opuseram-se a essa intervençã o, em nome do genuíno individualismo social, político e
econô mico, mas a maioria das instâ ncias políticas acabou cedendo.
Trabalhar a temá tica do planejamento é fundamental para alargar e aprofundar a compreensã o sobre o
papel do Estado na produçã o do espaço. Pode-se ressaltar o planejamento estratégico como prá tica de
gestã o do Estado em á reas como educaçã o, economia e recursos naturais. O estudo do espaço político
nã o deve se limitar à escala do Estado, pois sua importâ ncia na produçã o do espaço moderno é uma
forma de envolver o aluno nessas questõ es.
A questã o urbana traz boas possibilidades de discussã o no â mbito do planejamento, especialmente por
sua importâ ncia na compreensã o do mundo contemporâ neo e por estar presente na vida dos alunos,
tanto daqueles que vivem nas grandes cidades como dos que entram em contato com essa realidade
através das mídias. A projeçã o da populaçã o mundial para o ano de 2050 é de 9 bilhõ es de pessoas, a
maior parte das quais estará nas cidades. Essa concentraçã o da populaçã o mundial nos centros urbanos
vem acompanhada de vá rios problemas, como a desigualdade no acesso a bens e serviços, a dificuldade
de criaçã o de infraestrutura urbana de moradia, transporte, etc. Uma questã o bastante atual é o fato de
que as grandes cidades estã o expostas à s vá rias manifestaçõ es das mudanças climá ticas, como aumento
do nú mero de dias quentes, ondas de calor, tempestades severas, alagamentos de grandes proporçõ es e
secas que afetam o abastecimento de á gua, entre outras.
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Observamos dificuldades, tanto dos governantes brasileiros quanto da sociedade, para compreender que
é preciso discutir o clima agora, nã o daqui a 20 anos. Daí advêm os entraves na articulaçã o de políticas
pú blicas sobre esse tema com políticas setoriais, como as de transporte e saú de. Uma ilustraçã o dessa
falta de articulaçã o foi a reduçã o do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre determinados
produtos, concedida pelo governo brasileiro no ano de 2009 até meados de 2010, em funçã o da crise
financeira mundial. Ela permitiu um aumento sensível da frota de veículos, que se tornou
ambientalmente insustentá vel, sobretudo nos grandes centros urbanos. Já existe uma previsã o de
colapso do trâ nsito nas principais metró poles brasileiras em um período de dez anos: Sã o Paulo, por
exemplo, possuirá uma média de mobilidade de 10 km/h, a mesma do século XVII. As consequên cias
dessa proporçã o de veículos na cidade sã o a formaçã o e a intensificaçã o das ilhas de calor, a liberaçã o de
gases de efeito estufa e o aumento dos problemas de saú de, tanto os ligados à poluiçã o como também ao
stress.
O boxe Geografia e arquitetura “Arquitetura e planejamento urbano” (p. 14) apresenta o caso de Brasília,
construída de modo planejado para abrigar um nú mero pequeno de habitantes e que teve crescimento
vertiginoso, o que desfigurou parte do planejamento inicial. O professor pode aproveitar o momento
para incentivar o debate com os alunos sobre o trâ nsito na cidade em que vivem, orientando-os a
observar a quantidade de veículos nas ruas, o nú mero de passageiros por automó vel, etc., e comentando
a necessidade do planejamento para (re)organizar o espaço urbano.
O boxe Ação e cidadania “Os Jogos Paraolímpicos de 2016” (p. 14) permite uma discussã o interessante
sobre a questã o da acessibilidade nos eventos de cará ter mundial, como a Olimpíada/Paraolimpíada e a
Copa do Mundo de Futebol.
É interessante analisar com os alunos a estreita relaçã o entre o Estado e o capital (nacional e
internacional), discutindo o exemplo estadunidense e, em seguida, os exemplos brasileiros de espaços
organizados para abrigar indú strias (como os distritos industriais).
O professor pode contextualizar historicamente as ideias de Ratzel sobre a importâ ncia do solo (o que
hoje entendemos por territó rio), trazendo informaçõ es sobre a constituiçã o de um Estado alemã o
unificado e que ambicionava expandir-se. Também pode simplesmente recuperar o pressuposto do texto
(e de todo estudo geográ fico), enfatizando, como dizia a inglesa Doreen Massey (Space, place and gender.
Cambridge: Polity, 1994), que “o espaço tem importâ ncia” (space matters). Pode ainda colocar essa
afirmativa em questã o, em tempos de sociedade em rede.
• Mundo Hoje – Baarle: fronteiras distribuídas entre dois países (p. 19)
Nesse artigo, o autor procura descrever a complexa demarcaçã o da fronteira entre Bélgica e Holanda, a
qual atravessa uma cidade dividida pelas linhas imaginá rias dos respectivos Estados, tendo diferentes
leis, regras e formas de exercício de poder soberano do Estado. O texto possibilita para realizar uma
reflexã o a respeito da instituiçã o das fronteiras entre Estados, do conceito de naçã o e Estado-naçã o.
Ao aprofundar essa discussã o, podem citar exemplos de como a instituiçã o do Estado, para atender a
interesses específicos, foi responsá vel pela separaçã o de povos que compartilham traços culturais
semelhantes, mas também pela uniã o, em um mesmo territó rio, de populaçõ es com características muito
diferentes entre si. A partilha da Á frica pelas potências europeias, as mú ltiplas guerras étnicas no Leste
Europeu e mesmo a divisã o da América pelo tratado de Tordesilhas sã o exemplos significativos que
podem ilustrar o debate.
Atividade complementar
Descrição da atividade
Em setembro de 2007, desencadeou-se a maior crise econô mica mundial apó s a quebra da Bolsa de Nova York
em 1929, em razão da inadimplência dos títulos de hipotecas de cidadã os estadunidenses. Como estes nã o
conseguiram honrar o financiamento de suas casas, os imó veis foram vendidos pelas instituiçõ es que
concederam os créditos hipotecá rios para credores de todo o planeta.
No final de 2008, os efeitos da crise econô mica passaram a ser sentidos: pela falta de crédito nas instituiçõ es
financeiras internacionais, o Brasil observou demissõ es recordes nos meses de novembro e dezembro, queda
da atividade econô mica, entre outros, provocando uma retraçã o da economia e projeçõ es catastró ficas para o
ano seguinte. Com o objetivo de reverter essa situaçã o, o governo brasileiro adotou medidas de cunho fiscal.
Proponha uma pesquisa a respeito dessas medidas e seus impactos sobre a economia e o territó rio
brasileiro. Em dia previamente marcado, as duplas apresentarã o o resultado das pesquisas em um
painel.
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Leituras complementares
• Leitura 1
O trecho apresentado a seguir faz parte de uma entrevista realizada em 2006 com o neozelandês Alex
Matheson, especialista em administraçã o pú blica. Matheson acredita que a chave para melhorar o
desempenho dos governos é a formaçã o de equipes de trabalho comprometidas com as instituiçõ es e,
sobretudo, com as missõ es primordiais do Estado: prestar serviços de qualidade à populaçã o e induzir o
crescimento econô mico do país.
Matheson. Isso depende do está gio de construção do Estado. Em um país pequeno e desenvolvido, com uma
sociedade coesa – como é a Nova Zelâ ndia, onde vivo –, os governos passados já providenciaram a
infraestrutura bá sica, tanto física como social. A infraestrutura de transportes e de comunicaçõ es está
estabelecida e é bem distribuída. Há acesso universal ao ensino e aos serviços de saú de, e a rede de proteção
social cobre a populaçã o carente.
Nesse tipo de sociedade, o governo tende a dedicar-se menos ao provimento direto de bens pú blicos físicos.
Em vez disso, procura estabelecer parcerias com o setor privado para desenvolver rodovias, portos,
aeroportos, energia e abastecimento de á gua. E nã o faz isso porque esses bens seriam menos pú blicos, mas
porque, com a existência de um setor privado avançado e bem regulado, a terceirizaçã o pode ser uma opçã o
mais eficiente. Em relaçã o aos serviços pú blicos na á rea social, nesse está gio de construçã o do Estado sã o
focadas as pessoas que precisariam estar dentro da rede de proteçã o social e que por algum motivo nã o estã o.
E cada vez mais os serviços universais, em especial de saú de e de educaçã o de nível superior, deixam de ser
ofertados pelo Estado.
Isso quer dizer, entã o, que o papel do Estado se reduz à medida que a economia se desenvolve? Muito pelo
contrá rio.
A globalizaçã o beneficiou a maioria dos países ao possibilitar a geração de riqueza em níveis sem precedentes
na histó ria. Contudo, os mercados, por sua natureza, favorecem os mais fortes, e o crescimento econô mico
tende a aumentar o abismo entre os ricos e os pobres. Ao longo do tempo, esse abismo desgasta os valores
compartilhados pelo conjunto da naçã o. Por isso, um corolá rio do sucesso dos mercados é a necessidade de o
governo esforçar-se para evitar que determinados setores da sociedade sejam marginalizados.
De toda forma, a explosã o global da tecnologia e do comércio trouxe um novo desafio para os governos, tanto
coletiva como individualmente. A qualidade dos alimentos e a proteçã o ao meio ambiente, por exemplo, estã o
cada vez mais sujeitos à regulaçã o; as preocupaçõ es com segurança tornaram os governos mais invasivos, e
muitos já procuram regular as relaçõ es pessoais e sociais – o que até recentemente dizia respeito apenas à
esfera privada.
Nos países da OCDE [Organizaçã o para a Cooperação e o Desenvolvimento Econô mico] o elevado crescimento
econô mico dos ú ltimos cinquenta anos foi acompanhado de um crescimento igual ou ainda maior do setor
pú blico. O sucesso dos mercados e dos governos é interdependente – e o equilíbrio entre eles nã o é ditado por
doutrinas, mas pela cultura e pelo histó rico das relaçõ es entre o governo e os indivíduos de uma sociedade. Em
sociedades em que há um alto grau de confiança no governo, como é o caso da Escandiná via, o setor pú blico
tem um tamanho muito maior e a gestã o pú blica é mais eficiente do que em países como os Estados Unidos, em
que a confiança no governo tende a ser menor.
No caso de São Paulo, nã o há uma resposta simples sobre o papel do Estado, porque convivem lado a lado
comunidades altamente avançadas e comunidades que nã o têm acesso a serviços pú blicos bá sicos. Encontrar o
equilíbrio entre as necessidades dessas comunidades é um desafio de ordem administrativa e política. No
entanto, é preciso considerar que as sociedades só prosperam se houver um sentimento nuclear de
pertencimento e de respeito às instituiçõ es pú blicas, por parte dos cidadã os
Antes de os governos adotarem agendas mais sofisticadas, devem lidar com a desigualdade mais brutal,
estimular o senso de comunidade e assegurar que as instituiçõ es pú blicas sejam justas e confiá veis.
• Leitura 2
O texto apresentado a seguir aborda a questã o das fronteiras por um â ngulo de conflito: os muros, as
barreiras físicas que sã o interpostas entre dois territó rios. Nesse caso, trata-se do muro construído entre
Botsuana e Zimbá bue, na Á frica.
O muro africano
Também no continente africano, como em outras partes do mundo, há um muro que divide duas naçõ es. Ele
separa Botsuana de Zimbá bue para evitar tensõ es recíprocas. Quinhentos quilô metros de redes metá licas e
fios elétricos, que rebrilham sob o sol das savanas africanas; uma longa serpente prateada que separa
povoados, ultrapassa rios e fraciona caminhos trilhados, durante milênios, por caçadores e rebanhos. É uma
barreira, frá gil apenas na aparência, nos selvagens domínios dos animais das savanas.
Percorre-na uma corrente elétrica de alta voltagem, que representa uma constante e letal ameaça à pobre
gazela que cisma em passar por ela, como também aos tantos imigrantes ilegais – quinhentos por dia – que
anseiam por um futuro melhor. Estamos na fronteira entre Botsuana e Zimbá bue, no sul da Á frica. De um lado,
uma pequena nação com menos de dois milhõ es de habitantes, com uma das maiores rendas da Á frica (das
minas de Botsuana sã o extraídos 30% de todos os diamantes do planeta); do outro, um país pobre, disperso,
onde – garantem as estatísticas – um quarto, dos quase treze milhõ es de habitantes, está de malas prontas para
abandonar a casa e partir imediatamente.
Cem mil zimbabuenses, quase todos homens, já emigraram. O governo de Gaborone (capital de Botsuana)
expulsa mensalmente 2 500 imigrantes ilegais. Suas prisõ es se entopem de imigrantes detentos, acusados dos
mais diversos delitos. Os seus cidadã os estã o alimentando novos sentimentos de xenofobia, em vista da
crescente onda imigrató ria, porque os makwerekwere (estrangeiros) sã o acusados de raptar suas crianças,
corromper as mulheres e grilar suas terras.
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Os imigrantes que permanecem no país têm que se contentar com os trabalhos mais humildes e ocupar o
degrau mais baixo da escala social.
A construçã o da barreira de segurança, que separa a maior parte das fronteiras de Botsuana com o Zimbá bue,
é uma ideia bem antiga. Surgiu na década de 1950 e prosseguiu até a segunda metade dos anos 60, quando o
país obteve sua independência da Grã -Bretanha. Buscando uma alternativa à extraçã o e ao comércio de
diamantes, desde entã o o governo de Gaborone incentivava a criaçã o de gado e levantava as primeiras linhas
de cerca. Assim, evitava invasõ es e protegia os rebanhos dos predadores. Recentemente, porém, intensificou-
se a construçã o da cerca eletrificada, que já perfaz 500 quilô metros de extensã o.
E a construção continua
O governo zimbabuense de Robert G. Mugabe, nem um pouco preocupado com direitos humanos, vem
acusando os vizinhos, sem meios-termos, de terem feito “a versã o africana do muro de segurança de Israel” e
“tantos pequenos vestígios como os de Gaza”:
[...] vilas dividindo comunidades tradicionais, ou cortadas no meio ou, ainda, privadas de á gua. O muro
fomenta o surgimento de sanguinolentas guerrilhas: de um lado, os habitantes das vilas tentam remover
aquela “separaçã o anti-natural”; de outro, a polícia e o exército de Botsuana empenham-se em fazer respeitar a
estrutura e a demarcaçã o da fronteira. Para ativistas dos direitos humanos, o muro representa uma separaçã o
inaceitá vel e uma anacrô nica reediçã o do apartheid; ecologistas argumentam que ele é uma bizarra e danosa
invençã o, sob todos os aspectos.
Enquanto isso, em diversos países africanos, procura-se delimitar parques transnacionais. Por exemplo, no
delta do rio Okawango, uma das mais ricas á reas de fauna, uma cerca impede o livre movimento e a
reproduçã o dos animais, com notá veis consequências para o ambiente e a sobrevivência de espécies selvagens.
À s acusaçõ es feitas pelo lado oposto, o governo de Gaborone responde que não quer prejudicar direitos
humanos e nem limitar a circulaçã o dos trabalhadores. “Temos muitos postos de fronteira que permitem a
passagem para quem pede um visto de permanência para trabalhar”, explica o porta-voz do ministro das
relaçõ es exteriores, Clifford Maribe, que continua: “a barreira serve apenas para salvaguardar os rebanhos e
para evitar contatos com rezes nã o controladas”.
De fato, há um ano, uma zoonose obrigou os criadores a sacrificar quase quatro mil cabeças de gado. Há ,
porém, que se admitir que o verdadeiro (e inconfessado) motivo da barreira de segurança tem apenas um
nome: aids. A pandemia assusta as autoridades de Botsuana, porque cerca de metade dos imigrantes que
chegam do Zimbá bue sã o soropositivos. Eles são uma ameaça para a sociedade local, pois a assistência médica
a um nú mero cada vez maior de imigrantes doentes constitui, para o país, um progressivo e cada vez mais
grave problema econô mico. As autoridades têm plena consciência de que a prevençã o e o tratamento da
doença, que atinge milhõ es de vítimas em todo o continente, inutilizará , se nada for feito em breve tempo, os
lucros com o comércio de diamantes e com a zootecnia.
LIVROS
SANTOS, Milton. Território, territórios: ensaios sobre o ordenamento territorial. Sã o Paulo: Lamparina,
2007. O livro aborda três temas relacionados ao assunto territó rio: territó rio, espaço e ordem (trata
sobre espaço, desterritorializaçã o, representaçã o e poder); ordenamento territorial urbano (trata de
assuntos como urbanizaçã o, cidadania); ordenamento territorial ambiental (gestã o de espaços,
desenvolvimento sustentá vel).
FILMES
O banheiro do papa. Direçã o: César Charlone e Enrique Ferná ndez. Brasil/França/Uruguai, 2007 (97
min).
Relato agridoce sobre a vida na fronteira Brasil-Uruguai, tematizando os expedientes a que recorrem os
habitantes empobrecidos da regiã o, ao se mobilizarem em torno da visita do papa, em 1988, à quela
periferia.
SITES
Retis
O site do Retis, grupo de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), oferece uma
profusã o de mapas sobre as fronteiras brasileiras, além de textos e estatísticas sobre o sistema
financeiro internacional. Disponível em: <http://linkte.me/retis>.
1. Como conflitos motivados pelo nacionalismo, podemos citar aqueles que se desenvolvem na regiã o da
Caxemira, entre a Índia e o Paquistã o; conflitos relacionados ao grupo separatista basco ETA e aos
grupos que lutam pela independência da Catalunha, na Espanha; os conflitos que ocorrem há anos na
Irlanda do Norte e a tensã o entre Ucrâ nia e Rú ssia que irrompeu em 2013. É possível citar, ainda, os
conflitos entre israelenses e palestinos, que envolvem a disputa por territó rios na Cisjordâ nia, em
Jerusalém e na Faixa de Gaza, e a luta pelo reconhecimento internacional e constituiçã o territorial do
Estado palestino.
2. Espera-se que os alunos citem o debate em espaços de interlocuçã o internacional como forma de
resoluçã o das questõ es conflituosas. As conferências internacionais sobre o clima promovidas pela ONU,
por exemplo, que reú nem representantes de diversos países. O intuito da atividade é incentivar os
alunos a reconhecer a crescente importâ ncia de organizaçõ es internacionais, como as agências
vinculadas à ONU (OIT, Unesco, OMS), e de instituiçõ es que atuam no â mbito econô mico, como a OMC e o
Banco Mundial, para o debate e a resoluçã o de problemas internacionais, sejam eles políticos,
econô micos, ambientais, ou de outras naturezas.
1. A fronteira Brasil-Argentina no trecho mostrado na foto é natural, sendo definida pelo rio Uruguai,
que separa as cidades de Uruguaiana (RS) e Paso de Los Libres na Argentina.
2. As regiõ es Norte, Centro-Oeste e Sul compreendem as fronteiras internacionais do Brasil com outros
países da América do Sul.
1. Para a pesquisa, os alunos poderã o formar grupos que se dediquem ao estudo de cada uma das
cidades planejadas brasileiras. Teresina, Salvador, Aracaju, Goiâ nia, Belo Horizonte, Londrina e Palmas,
sã o alguns dos exemplos que podem ser trabalhados. Apó s a apresentaçã o das pesquisas em sala de aula,
uma discussã o entre os grupos pode tematizar a influência do planejamento urbano e da urbanizaçã o
acelerada sobre o desenvolvimento das diferentes cidades.
1 e 2. Espera-se com essa atividade que os alunos percebam que os eventos de grande porte, como as
Olimpíadas, as Paraolimpíadas e a Copa do Mundo, podem beneficiar, se forem bem planejados, os
cidadã os e as cidades envolvidas com esses acontecimentos. As obras de acessibilidade feitas para
receber os atletas das Paraolimpíadas e também o pú blico desses três grandes eventos podem ser um
importante e duradouro legado para os lugares-sede.
1. Sim, Ratzel considera importante a definiçã o de um territó rio com limites precisos, o que pode ser
observado no primeiro pará grafo do texto, que deixa clara a necessidade de um territó rio delimitado por
fronteiras.
2. A permanência de grupos remanescentes do antigo Império Romano, mesmo apó s sua dissoluçã o,
revela que, embora o Império tenha ruído, o povo romano permaneceu. Em outras palavras, a morte de
um Estado nã o significa a morte de sua cultura e de sua histó ria.
3. Para Ratzel, o territó rio determina o limite da sobrevivência de um povo: se sua á rea de sobrevivência
se reduz, reduzem-se também suas possibilidades.
1 e 2. Espera-se com esta atividade que os alunos reflitam sobre o significado de fronteira como algo que
delimita espaços diferentes, ainda que a diferença seja meramente política. A delimitaçã o de espaços,
como os cô modos de uma casa, os bairros de uma cidade, os municípios de um estado ou um conjunto de
países, só existe porque em determinado momento uma pessoa ou um grupo de pessoas decidiram
assim. Por isso, as fronteiras sã o sempre políticas. Pode-se sugerir que os alunos incluam figuras, ao
apresentar os exemplos.
1. Os Estados sã o entidades soberanas que possuem estrutura e organizaçã o política pró prias, um
territó rio e um povo. Nos dias atuais, a maior parte dos Estados é composta por instituiçõ es como os três
poderes (Executivo, Legislativo e Judiciá rio) e as Forças Armadas, entre outros ó rgã os.
2. Naçã o é a denominaçã o dada aos grupos que partilham uma mesma origem, língua, religiã o ou cultura.
É importante ressaltar que a naçã o se submete à s regras e leis do país em que está localizada.
3. O territó rio é um espaço delimitado por relaçõ es de poder. Os territó rios nacionais sã o delimitados
pelas fronteiras com outros países. A fronteira pode ser definida como o limite entre os países; a rigor,
ela é a linha que os demarca, mas, dependendo da dinâ mica dos países envolvidos, a fronteira pode ser
configurada por uma regiã o, uma faixa.
4. As empresas, sejam elas nacionais, sejam transnacionais, têm grande importâ ncia política atualmente.
Os Estados sã o impelidos a fornecer as melhores condiçõ es para que o capital privado venha a se
desenvolver.
5. No planejamento estratégico, o Estado desenvolve açõ es integrando todas as á reas, como educaçã o,
saú de, transporte, segurança pú blica, infraestrutura, até a planificaçã o da economia nacional.
6. Os bancos centrais sã o os gestores das estruturas econô micas dos países. Todas as regras da atividade
econô mica de um país envolvem essas instituiçõ es. Como as bolsas funcionam interligando as economias
nacionais, os investidores consideram de suma importâ ncia monitorar as açõ es dos bancos centrais.
7. Ele é muito importante, pois o sucesso de muitos setores depende do sucesso econô mico de um país.
8. A presença de um determinado recurso natural pode levar os Estados nacionais a implantar polos
industriais ligados ao recurso natural existente, direcionando o desenvolvimento. Diferentes regiõ es com
potenciais naturais diferentes podem receber estratégias diferenciadas de ocupaçã o. Além da exploraçã o
dos recursos naturais, a proximidade com rios e lagos para escoamento ou produçã o de energia elétrica
pode ser outro fator. Há ainda outros, como proximidade com fronteiras ou centros universitá rios.
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9. A vitalidade econô mica de um país depende, em parte, do capital que ele mantém à sua disposiçã o
para usar em situaçõ es de necessidade.
10. Os movimentos de migraçã o nacional e internacional estã o historicamente associados à procura por
melhores condiçõ es de vida. Por isso, um país que passa por um momento de maior desenvolvimento
econô mico apó s um período de crise vê ocorrer migraçã o de retorno, assim como países com maior
desenvolvimento econô mico recebem milhares de migrantes legais e ilegais de países pobres ou que
enfrentam crises econô micas.
11. a) Esta atividade enfatiza a delimitaçã o do territó rio que extrapola os continentes e ocupa o mar. A
delimitaçã o de fronteiras em conselhos internacionais contribui para o reconhecimento da soberania dos
países sobre seu territó rio diante da comunidade internacional, dando suporte jurídico e diplomá tico
para o traçado da linha de fronteira. Representa, ainda, um grande avanço diplomá tico evitando
desentendimentos entre as naçõ es.
b) Com a expansã o do territó rio marítimo, o Brasil ampliaria seu direito de exploraçã o dos recursos
naturais do solo e do subsolo. Nesse contexto, seria possível aumentar a exploraçã o petrolífera e garantir
a exclusividade do país sobre reservas da camada pré-sal, conforme mostra o mapa. Professor: até o
início de 2016, a proposta brasileira para expansã o do territó rio marítimo estava em desenvolvimento.
Mais informaçõ es sobre o estudo da plataforma continental brasileira podem ser encontradas em
matérias e aná lises especializadas disponíveis nos canais de comunicaçã o dos poderes pú blicos, como:
12. a) A charge deixa clara a tensã o da fronteira externa (no caso dos Estados Unidos) à entrada de
produtos de outros países. Na figura, o sentido da fronteira externa está relacionado ao comércio e à
circulaçã o de mercadorias.
b) Cada Estado define o modo como vai defender seu territó rio: isso é uma das marcas da soberania. Sob
o aspecto comercial, os Estados podem adotar formas diferentes de defesa (nã o do territó rio, mas de
suas atividades econô micas), entre as quais citam-se: taxaçã o dos produtos importados, subsídios à
produçã o nacional ou proibiçã o de importaçõ es de mercadorias.
c) A charge mostra uma aparente contradiçã o ao apresentar um indivíduo com um cartaz anti-imigraçã o,
mas que utiliza produtos fabricados em diferentes partes do mundo. O desemprego estrutural em
economias avançadas e a aceleraçã o da circulaçã o de mercadorias e de informaçõ es sã o características
muito marcantes do processo de globalizaçã o da economia.
13. Em sua resposta, os alunos devem considerar que o aparecimento do nacionalismo pode ter diversas
razõ es, como a diversidade étnica, linguística, cultural e religiosa. Ele tende a surgir ou é reforçado em
momentos de crises econô micas e políticas e pode servir como elemento de uniã o de um povo.
14. a) A fotografia registra a fronteira artificial determinada por um muro entre Estados Unidos e
México.
b) Na fronteira entre Estados Unidos e México, temos claramente a desigualdade econô mica como
disparadora da construçã o do muro, que pretende barrar o fluxo de mexicanos que buscam o sonho
americano. Como o muro estabelece o limite entre um país mais rico e desenvolvido e outro mais pobre e
em desenvolvimento, constantemente mexicanos tentam cruzar a fronteira em busca de melhores
condiçõ es de vida e trabalho, nã o apenas mexicanos, mas imigrantes de diversos países latino-
americanos.
15. A charge permite destacar a elevada fluidez dos fluxos financeiros no contexto da globalizaçã o. Com
a desregulamentaçã o financeira, os grandes investidores, como a personagem representada na charge,
podem atuar globalmente e mobilizar investimentos rapidamente para diferentes países.
Este capítulo procura oferecer uma visã o abrangente do processo de reordenaçã o do espaço mundial no
período das duas grandes guerras. Ampliar os conhecimentos sobre esse período permite compreender a
reconfiguraçã o espacial e as relaçõ es de poder entre os Estados europeus estabelecidas no início do
século XX. As profundas relaçõ es entre a Geografia e a Histó ria tornam as discussõ es deste capítulo
interdisciplinares.
Sugestões didáticas
O professor pode discutir o contexto histó rico da Europa ao final do século XIX, ressaltando a unificaçã o
da Alemanha e da Itá lia e o crescimento do ideá rio eurocentrista, que impulsionava o imperialismo
europeu no continente africano e no asiá tico. É importante lembrar que apó s a partilha da Á frica
ocorreram movimentos de resistência. Muitas manifestaçõ es foram reprimidas com violência pelos
colonizadores. Também foi explorada a rivalidade entre os pró prios grupos africanos, para facilitar sua
dominaçã o. A colonizaçã o, na medida em que representava a ocidentalizaçã o do mundo africano,
suprimia as estruturas tradicionais locais, deixando um vazio cultural de difícil reversã o. Um
instrumento para trabalhar o tema é o mapa “A partilha da Á frica (1885)” (p. 23); ele permite destacar o
traçado das fronteiras, que reflete a divisã o arbitrá ria dos países africanos.
A interpretaçã o do mapa “Europa – Divisã o política apó s a Primeira Guerra Mundial (1921)” (p. 24)
propiciará aos alunos compreender as mudanças de fronteiras promovidas pela derrota da Tríplice
Aliança, liderada pela Alemanha ao final da guerra.
Pá gina 266
Os pontos importantes a serem resgatados aqui dizem respeito à s ideias socialistas sobre a propriedade
da terra e dos meios de produçã o. Posse comunitá ria da terra, cooperativas de produçã o, bem como
outras formas de propriedade coletiva, foram testadas e obtiveram resultados variá veis também nos
kibutzim e moshavim no início da construçã o de Israel, nas comunidades hippies dos anos 1960 e 1970
ou nas comunidades ecoló gicas disseminadas pelo mundo ocidental de hoje.
O tó pico permite discutir inicialmente a conjuntura mundial e a ascensã o do nazismo e do fascismo como
vá lvulas de escape à derrocada econô mica da Alemanha e da Itá lia, respectivamente. A aná lise dessas
ideologias torna possível, entre outros, discutir questõ es como intolerâ ncia étnica e totalitarismo.
Também é fundamental a discussã o sobre a crise de 1929 e suas repercussõ es sobre o mundo. É
importante frisar o cará ter cíclico das crises no sistema capitalista. É interessante que a discussã o sobre
a crise de 1929 seja trazida para o momento atual e que se discutam as causas e os efeitos da crise
econô mico-financeira iniciada em 2008, que atingiu boa parte do mundo e abalou especialmente a
Europa. Ao tratar da crise de 1929, é importante abordar o que se passava no Brasil, como a crise afetou
a vida econô mica do país (reduçã o drá stica nas exportaçõ es de café, por exemplo). A revoluçã o de 1930
com a ascensã o de Getú lio Vargas e o fim da política hegemô nica do “café com leite”, as políticas e os
movimentos em curso no país, como a Semana de Arte Moderna (1922), o integralismo e o Estado Novo
(1937) também fazem parte do contexto do período entre guerras. Toda essa aná lise pode ser trabalhada
de forma interdisciplinar entre Geografia, Histó ria e Sociologia.
Pode-se primeiramente questionar a denominaçã o Segunda Guerra Mundial: Qual sua relaçã o com a
Primeira Guerra Mundial? Por que ela foi entendida com uma guerra mundial? Na sequência, comente a
frase atribuída ao físico Albert Einstein: “Nã o sei como será a terceira guerra mundial, mas sei como será
a quarta: com pedras e paus”, e peça aos alunos que a interpretem. Partindo do fato de que os alunos nã o
viveram a Guerra Fria, é importante enfatizar o significado dos acordos do pó s-guerra para a política, a
cultura e a economia mundiais.
O fim da guerra marca a criaçã o de vá rios organismos supranacionais que têm objetivos relacionados à
reduçã o dos conflitos (políticos e econô micos) no mundo.
Primeiro convém citar que o título faz referência ao livro Guerra e paz, do escritor russo Leon Tolstó i
(1828-1910), cuja estó ria se passa no início do século XIX. Os fragmentos do texto apresentados
permitem discutir a expansã o/sofisticaçã o da indú stria de armamentos e o papel dos Estados como
incentivadores dessa indú stria ou como clientes no período anterior à Primeira Guerra. Incentive a
realizaçã o das atividades sugeridas e traga a discussã o sobre a indú stria de armamentos para os dias
atuais. É interessante discutir também sobre a crise da (in)segurança nas cidades brasileiras e a
banalizaçã o da violência e das armas.
Nesse Informe, o autor do texto procura contextualizar historicamente a conferência de Bretton Woods e
as consequências desse evento para o desenvolvimento do capitalismo internacional pó s-segunda guerra
mundial. É possível explorar um dos principais mecanismos que garantiram a soberania da economia
norte-americana, a conversã o do dó lar padrã o-ouro. Ressalte a força desse domínio, que anos depois
permitiu a quebra unilateral desse pacto, tornando o dó lar a moeda mais forte do mundo, bem como a
moeda conversível de todas as transaçõ es internacionais.
Ressalte que desse encontro surgiram as duas principais instituiçõ es multilaterais que deveriam exercer
papel fundamental no financiamento de países que enfrentam dificuldades financeiras, crises
econô micas e/ou catá strofes humanitá rias. Pondere, contudo, analisando o papel preponderantemente
relacionado aos interesses das maiores economias mundiais, utilizando, se necessá rio, o exemplo do
Brasil, que para retirar recursos do FMI teve de realizar amplas reformas em seu sistema econô mico
para garantir a canalizaçã o de recursos pú blicos para essa instituiçã o.
A exploraçã o do Congo foi de tal magnitude e violência que pode servir de síntese a todo o processo de
partilha e exploraçã o da Á frica. O professor pode chamar a atençã o dos alunos para a conexã o entre a
mudança tecnoló gica trazida por trens e remédios e o aumento da capacidade de explorar as terras
africanas, acompanhada da ideologia de oferecer progresso aos povos nativos. As atividades propostas
permitem abordar de forma ativa essas questõ es.
É possível extrapolar essa dinâ mica para o caso de outras frentes de expansã o, como a conquista da
Amazô nia e a Marcha para o Oeste do Brasil, a conquista do Oeste norte-americano, entre outras. (É
importante lembrar que cada uma dessas frentes tem estratégias específicas e discurso pró prio.)
Atividade complementar
Assistir a filmes, contextualizá -los e extrair deles informaçõ es histó ricas, econô micas, culturais e sociais
é um exercício interessante. O objetivo da atividade é analisar o contexto da Segunda Guerra Mundial a
partir do filme A lista de Schindler (Estados Unidos, 1993, 195 min.), de Steven Spielberg. O filme conta a
histó ria de um industrial checo, bem relacionado com a SS (polícia nazista), que utilizou mã o de obra de
judeus na época em que esse grupo era submetido a extermínio pelos nazistas (holocausto). Com essa
atitude, ele salvou da morte em campos de concentraçã o mais de mil judeus.
Trata-se de uma atividade que pode ser realizada em conjunto com os professores de Histó ria e
Sociologia.
Leitura complementar
O texto apresentado a seguir discute as guerras, sob o ponto de vista dos Estados-naçã o, ao longo da
histó ria das sociedades.
No espelho da guerra
O preâ mbulo da Carta da ONU, adotada em 26 de junho de 1945, começa assim: “Nó s, os povos das Naçõ es
Unidas, determinados a libertar as geraçõ es futuras do flagelo da guerra [...]”. Essas célebres palavras ecoavam
a justificativa de Franklin D. Roosevelt, o idealizador da ONU, para a entrada dos Estados Unidos na grande
Guerra Mundial: “Mais do que o fim da guerra, nó s queremos um fim para o início de todas as guerras [...].”
[...] Banir a guerra! Embora não seja, é claro, uma ideia exclusivamente americana, nenhuma naçã o adotou-a
com a persistência e a continuidade dos Estados Unidos. Desde Thomas Jefferson (“Eu abomino a guerra e a
vejo como o pior flagelo da humanidade”), o terceiro presidente e o primeiro a enviar tropas ao exterior, para
combater os corsá rios da costa berbere, os “terroristas” do seu tempo, um apó s o outro os presidentes
americanos comprometeram-se solenemente com a reforma do mundo, para “acabar com todas as guerras”.
[...]
Na tradiçã o europeia, a guerra nã o é um desvio patoló gico, e sim uma etapa do fluxo incessante das relaçõ es
internacionais. Essa visã o, realista e cínica, forjada na geografia das rivalidades diná sticas e das disputas por
territó rios, nã o exclui o horror diante do sofrimento. Mas ela opera na moldura filosó fica construída por
Maquiavel, que separa a moral política da moral comum. Guerra é histó ria. Guerra é cultura.
A prova direta disso encontra-se na extensa e variada literatura histó rica e teó rica sobre a guerra, cujo ponto
de partida retrocede séculos antes da era cristã , até o mais antigo tratado militar de que se tem registro. A arte
da guerra, atribuído a Sun Tzu e escrito possivelmente entre 320 e 400 a.C., aborda o surgimento da guerra
verdadeira na China. A guerra na China antiga produzia-se no interior de um envelope ritual, que moderava
sua violência e fazia com que se extinguisse no final de uma ú nica batalha pouco sangrenta. Mas, desde cerca
de 500 a.C., com o aparecimento de unidades políticas maiores, os Estados formaram exércitos permanentes e
introduziram a conscriçã o de camponeses. Uma casta de militares profissionais, a disciplina dos soldados e a
seleçã o de tropas de elite assinalaram o início de um novo tempo.
A teoria da guerra nasceu praticamente com a guerra verdadeira. No seu verso inicial, Sun Tzu constata: “A
arte da guerra é de importâ ncia vital para o Estado. É a província da vida ou da morte; o caminho à segurança
ou à ruína. Portanto é um objeto de investigaçã o que nã o pode, sob nenhuma circunstâ ncia, ser negligenciado.”
Eis o reconhecimento da guerra como componente intrínseco da política, ou seja, como fenô meno “normal” na
vida das sociedades e dos Estados e, portanto, suscetível à aná lise racional. [...]
Sun Tzu prescrevia que o emprego ó timo da força militar dependia de que se pudesse alcançar a vitó ria num
lapso de tempo breve, com economia de recursos e vidas e sem infligir ao inimigo mais perdas humanas do que
o estritamente necessá rio. Essa é, em essência, a doutrina militar introduzida, uns 2 300 anos mais tarde, por
Colin Powell nos Estados Unidos e empregada com sucesso na Guerra do Golfo de 1991. Uma doutrina que
ficou soterrada sob o peso da razã o ideoló gica dos democratas, durante a escalada militar no Vietnã , nos anos
60, e dos neoconservadores republicanos, no momento em que foi tomada a decisã o de invadir e ocupar o
Iraque, em 2003.
Carl von Clausewitz (1780-1831) soldou seu nome à teoria da guerra de um modo tã o indissolú vel que
aparecem quase como sinô nimos. [...]
A “arte da guerra” de Clausewitz é o fruto do renascimento da “guerra verdadeira” na Europa. Seu sistema
enxerga a guerra como um fenô meno total, político e militar, amparado na mobilizaçã o de todos os recursos
nacionais. O choque direto, a batalha campal e a aniquilação física do inimigo sã o os paradigmas da guerra
contemporâ nea. Isso nã o significa, porém, que a guerra possa reduzir-se a uma sú bita explosão de violência
ofensiva. Justamente por envolver vastos recursos econô micos, humanos e militares, a guerra é um jogo
constituído por sucessõ es de batalhas, em tempos e teatros diferentes. Sua estratégia requer a utilizaçã o da
ofensiva, da defensiva e da contraofensiva. A balança dos chefes militares pesa probabilidades e calcula o ritmo
e a intensidade do dispêndio de recursos. A eventual aniquilaçã o do inimigo é o ato final de um
empreendimento complexo, inscrito na esfera da política. [...]
Mas as grandes guerras do século XX, conduzidas por colossais má quinas de matar, provocaram ruína,
destruiçã o e sofrimento indizíveis. No plano da técnica e da arte militar, essas catá strofes humanas certamente
inscrevem-se no quadro teó rico clausewitziano. Contudo elas geraram indagaçõ es e angú stias extremadas, que
explodiram os alicerces filosó ficos da teoria da guerra. No fim, deslocaram o debate para uma esfera mais
abrangente que a da política. Sobre os interminá veis tapetes de cadá veres tecidos pelas confrontaçõ es
militares do ú ltimo século, a guerra surge como um fenô meno inscrito na esfera da cultura.
MAGNOLI, Demé trio. No espelho da guerra. In: Magnoli, Demé trio (Org.). História das guerras. Sã o Paulo: Contexto, 2006. p.
9-16.
Pá gina 268
LIVROS
FILMES
A fita branca. Direçã o: Michael Haneke. Alemanha/França/ Itá lia, 2009 (144 min).
O filme enfoca uma comunidade rural na Alemanha, em 1913, à s vésperas da Primeira Guerra Mundial.
Estranhos e violentos incidentes começam a acontecer e tomam aos poucos o cará ter de um ritual
punitivo. Críticos de cinema afirmam que o filme procura explicar as origens das raízes culturais da
geraçã o que abraçou o nazismo, vinte anos depois dos fatos narrados no filme.
Operação Valquíria. Direçã o: Bryan Singer. Estados Unidos, 2008 (121 min).
Gravemente ferido em combate, o coronel Claus von Stauffenberg volta da Á frica para a Alemanha. Ali ele
ajuda a montar uma conspiraçã o para derrubar a ditadura em seu país. Quando os conspiradores se
decidem por assassinar Adolph Hitler, Stauffenberg participa da criaçã o da Operaçã o Valquíria, na qual
terá um papel fundamental.
Stalingrado: batalha final. Direçã o: Joseph Vilsmaier. Alemanha, 1993 (134 min).
O filme conta a histó ria da Batalha de Stalingrado, entre agosto de 1942 e fevereiro de 1943, que
culminou com a primeira grande derrota da Alemanha nazista perante a Uniã o Soviética.
SITE
2. A fotografia dá pistas da relaçã o de dominaçã o do Reino Unido em relaçã o ao Egito, que se estendeu
de 1882 a 1956. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido utilizou o Egito como base para as
operaçõ es do bloco dos Aliados na regiã o do Mediterrâ neo e no sul da Europa. Entre as razõ es que
explicam o interesse britâ nico pelo país, estã o o controle do Canal de Suez e o destaque egípcio na
produçã o de algodã o, aproveitado como matéria-prima para a indú stria têxtil britâ nica.
1. A relaçã o entre Estado e indú stria bélica ainda existe e é muito forte atualmente. Os Estados Unidos,
por exemplo, apoiam a produçã o bélica das indú strias que possuem matriz naquele país.
2. O momento demarcado no texto ficou conhecido como um período de paz armada, quando as
potências europeias se preparavam para eventualmente guerrear.
1. O FMI foi, de fato, uma das principais instituiçõ es que irrigaram a Europa com recursos financeiros
apó s o fim da Segunda Guerra Mundial, cumprindo um papel fundamental na reconstruçã o fiscal e
monetá ria dos países europeus. No entanto, sua atuaçã o fora da Europa, sobretudo as políticas de crédito
para países em desenvolvimento da Á frica, América Latina e À sia, é alvo de grande crítica em funçã o das
contrapartidas exigidas, como reformas fiscais, reestruturaçã o da legislaçã o financeira, abertura
comercial, etc. Espera-se, com essa atividade, que os alunos consigam identificar a existência de um
alinhamento ideoló gico subjacente ao exercício dos empréstimos realizados pelo FMI, orientado com
base na manifestaçã o da diretoria em exercício. Oriente os alunos a procurar exemplos de atuaçã o do
banco, podendo, inclusive, utilizar o caso do Brasil em dois momentos diferentes: na década de 1990,
socorrido pelo FMI, quando foi forçado a realizar amplas reformas monetá rias e fiscais como condiçã o
para o recebimento dos empréstimos; e na década de 2000 quando o Brasil quitou a dívida com a
instituiçã o, livrando, assim, o país das exigências do banco (em 2005), além de ter se tornado credor do
fundo, com os empréstimos realizados em 2009 para ajuda aos países afetados pela crise financeira
internacional.
1. É importante que os alunos avaliem os textos com base nos conhecimentos que têm sobre o
imperialismo europeu na Á frica. É possível destacar que as estratégias de dominaçã o eram mascaradas
pelo argumento civilizató rio.
Pá gina 269
Na realidade, os territó rios e povos africanos estiveram sob um processo explorató rio de seus recursos
naturais e de sua força de trabalho, como confirmam os textos a e b.
2. A atividade pode ser realizada em grupo. Discuta com os alunos a histó ria que será apresentada. Eles
poderã o escrever um breve texto com as primeiras ideias de roteiro. Sugerimos ao professor que fique
atento à divisã o de tarefas. Um aluno poderá ficar responsá vel pelos desenhos; outro, por colorir; e um
terceiro, pela inserçã o dos diá logos. Se julgar conveniente, os quadrinhos podem ser substituídos por
resumo em forma de tó picos ou por outro gênero textual.
1. O nacionalismo está relacionado à criaçã o de identidades histó ricas e culturais entre povos que
habitam uma mesma regiã o. O surgimento do nacionalismo se associou primeiramente aos processos de
consolidaçã o dos Estados nacionais.
2. A Conferência de Berlim reuniu vá rios países da Europa, os Estados Unidos, o Império Austro-
Hú ngaro e o Império Turco e realizou a partilha dos territó rios africanos entre as naçõ es europeias.
3. As principais consequências da Primeira Guerra foram as mudanças no mapa europeu, com a perda de
territó rio por parte da Alemanha, a fragmentaçã o dos impérios Russo e Austro-Hú ngaro em novos
países, o fortalecimento dos Estados Unidos como potência e a Revoluçã o Russa de 1917, que levou à
derrubada do governo czarista. Podem ser citadas, ainda, as crises econô micas e a ascensã o de regimes
nacionalistas na Itá lia e na Alemanha.
4. A Tríplice Entente foi formada em 1907 entre França, Inglaterra e Rú ssia. A França e a Inglaterra
visavam manter sua hegemonia como países industrializados; a Rú ssia se associou a eles pois disputava
com a Alemanha a influência sobre o Leste Europeu. Já a Tríplice Aliança foi formada em 1882 entre
Alemanha, Itá lia e Império Austro-Hú ngaro. A Itá lia e a Alemanha pretendiam conquistar novos
mercados que estavam sob o domínio francês e inglês; o Império Austro-Hú ngaro acreditava que a
Alemanha o protegeria em caso de alguma ameaça da Rú ssia.
5. Na Alemanha, a crise econô mica ocorrida na década de 1920 foi marcada pela elevada inflaçã o (perda
de valor da moeda) e por altas taxas de desemprego. A Primeira Guerra resultou em um mercado em
constante expansã o para os Estados Unidos, pois, mesmo com o seu término, as necessidades de
importaçõ es dos países europeus proporcionaram o crescimento da economia estadunidense. A partir da
reconstruçã o da Europa e do seu reestabelecimento econô mico, os produtos estadunidenses perderam
mercado, o que levou os Estados Unidos a uma crise de superproduçã o. Por conta disso, em 1929
aconteceu a quebra da bolsa de valores de Nova York. Vá rios países do mundo adotaram medidas
protecionistas que agravaram ainda mais a crise, tornando-a mundial.
6. As principais causas da Segunda Guerra Mundial foram a crise do período entre guerras, a ascensã o do
nazifascismo e a política expansionista alemã que resultou na anexaçã o e ocupaçã o de regiõ es e países
vizinhos sem o consentimento da comunidade internacional.
7. A atuaçã o militar do bloco dos Aliados, com destaque para o ingresso dos Estados Unidos e da URSS
no conflito a partir de 1941, resultou na reconquista dos territó rios ocupados pelo exército alemã o,
gradualmente enfraquecido. A rendiçã o do Japã o foi obtida apó s o bombardeio nuclear realizado pelos
Estados Unidos nas cidades de Hiroshima e Nagasaki.
9. De acordo com o mapa, a crise provocada pela quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, atingiu a
maioria dos países americanos e a Indonésia, entre 1929 e 1930, tendo afetado, posteriormente, Europa,
Austrá lia e Á sia. Os efeitos da crise sofridos pela Europa se alastraram, nos anos seguintes, para Índia,
Japã o e Á frica, que se encontrava sob o domínio imperialista europeu.
10. a) A França visava estender seus domínios na direçã o leste, estabelecendo, por meio de suas
colô nias, uma ligaçã o entre os oceanos Atlâ ntico e Índico. A Inglaterra tinha como objetivo unir os
territó rios sob seu poder com a implantaçã o de uma ferrovia e uma linha de telégrafos que ligasse o
continente do Cairo, no Egito, à Cidade do Cabo, na atual Á frica do Sul.
b) Os alunos poderã o citar: o estabelecimento do Estado do Congo sob domínio belga; a permissã o dada
pela Bélgica à s naçõ es europeias para navegaçã o e comércio internacional no rio Congo; a exploraçã o de
recursos minerais como cobre, ouro e diamantes no Congo (atual Repú blica Democrá tica do Congo) por
belgas e franceses; e a linha férrea paralela ao curso do rio Nilo implantada pelo Império Britâ nico.
c) A figura de Cecil J. Rhodes retrata as intençõ es imperialistas da Inglaterra sobre o territó rio africano.
Cabe destacar que as á reas sob domínio britâ nico formavam um corredor no sentido norte-sul do
continente – considerando-se que a Á frica Oriental Alemã (atual Tanzâ nia) passou ao poderio britâ nico
apó s o Tratado de Versalhes. Comente com os alunos que os territó rios de Rodésia do Norte e Rodésia do
Sul (que hoje correspondem, respectivamente, a Zâ mbia e Zimbá bue) foram assim nomeados em
homenagem a Cecil J. Rhodes.
11. A capa da revista demarca a força da potência estadunidense. Ao entrar no conflito, os Estados
Unidos desempenharam papel determinante na destruiçã o das forças nazistas.
12. As fotografias mostram dois momentos distintos da Segunda Guerra Mundial. No primeiro, apó s a
anexaçã o da Tchecoslová quia, o avanço da política expansionista da Alemanha tornou o conflito com a
Uniã o Soviética iminente. A fim de evitá -lo, Uniã o Soviética e Alemanha estabeleceram um acordo de nã o
agressã o, que permitiu à Alemanha atuar em uma frente ú nica de batalha. O segundo momento retrata a
Uniã o Soviética como parte do bloco dos Aliados, apó s a quebra do acordo de nã o agressã o por parte do
exército alemã o. Os Aliados sairiam vitoriosos do conflito contra Alemanha, Itá lia e Japã o.
Pá gina 270
Este capítulo aborda a organizaçã o do espaço mundial no período pó s-Segunda Guerra Mundial, com o
estabelecimento da bipolaridade entre Estados Unidos e Uniã o Soviética, e seu desdobramento na
geraçã o de conflitos, no processo de descolonizaçã o na Á frica e no Sudeste Asiá tico, na formaçã o de
movimentos políticos e blocos como o dos países nã o alinhados, na crise e desintegraçã o da Uniã o
Soviética e na origem da atual configuraçã o das fronteiras na Europa.
Sugestões didáticas
É importante conceituar a bipolaridade, uma das bases de sustentaçã o da Guerra Fria, e identificar os
aliados das duas grandes potências a partir da interpretaçã o do mapa “O mundo bipolar (1945-1989)”
(p. 35). Ao discutir a ascensã o dos Estados Unidos e da Uniã o Soviética, é interessante distinguir a
posiçã o de ambos ao final da guerra e a vantagem econô mica e material dos Estados Unidos diante da
Uniã o Soviética.
Outro aspecto a ser considerado refere-se à formaçã o dos organismos de defesa dos blocos – Otan e
Pacto de Varsó via. É interessante ressaltar o papel geopolítico de ambos e, trazendo a discussã o para a
atualidade, analisar o fim do Pacto de Varsó via e a presença expandida da Otan na Europa hoje.
Ao tratar dos conflitos da Guerra Fria, é interessante enfatizar o desenvolvimento tecnoló gico daí
advindo. A partir da década de 1950, cunharam-se os termos “era do conhecimento” ou “sociedade da
informaçã o”. Com a corrida espacial e a tensã o bipolar nos anos 1960, a informá tica, o computador e os
avanços nas telecomunicaçõ es e no transporte desenvolveram-se e expandiram-se para o mundo todo.
Podem-se citar exemplos de processos violentos de independência, como o que ocorreu em Ruanda.
Usando o acidente como pretexto, extremistas hutus tentaram aniquilar a populaçã o tú tsi e os hutus
moderados. Cerca de 2 milhõ es de pessoas fugiram para países vizinhos. Além disso, mais de um milhã o
e meio de pessoas foram obrigadas a abandonar suas casas e ir viver em outros locais dentro do pró prio
territó rio de Ruanda.
Esses nú meros tornam-se mais eloquentes quando se pensa que a populaçã o ruandesa era de cerca de 7
milhõ es de habitantes.
É interessante que sejam localizados no mapa “Mundo – Os países nã o alinhados (2012) ” (p. 37) o grupo
de países que durante um período da Guerra Fria se manteve pretensamente neutro em relaçã o à
bipolaridade predominante naquele momento. Convém destacar que o bloco perdeu importâ ncia à
medida que a Guerra Fria se extinguiu.
O tó pico explica a divisã o da Alemanha, apó s a Segunda Guerra Mundial, em Repú blica Federal da
Alemanha (Alemanha Ocidental), que ficou sob tutela dos Estados Unidos, e Repú blica Democrá tica
Alemã (Alemanha Oriental), sob tutela da Uniã o Soviética. Seria interessante analisar com os alunos o
mapa “Alemanha dividida (1945-1990)”, mostrando que a capital Berlim, embora localizada no territó rio
da Alemanha Oriental, também foi dividida em Berlim Ocidental e Berlim Oriental.
Para analisar o processo de decadência da Uniã o Soviética, o professor pode retomar os conceitos de
Estado e de planejamento estratégico a fim de explicar a ascensã o da potência e os conceitos de
burocracia e produtividade. É necessá rio destacar, também, os esforços realizados para evitar o colapso
total, por meio da glasnost e da perestroica.
Como dica para fixar as expressõ es glasnost (transparência política) e perestroika (abertura econô mica,
literalmente: “reconstruçã o”), mostre aos alunos o significado da raiz glas = vidro, semelhante ao glass
em inglês.
Para esta discussã o, o professor pode ressaltar que as transformaçõ es do Leste Europeu que se deram a
partir da década de 1990 trouxeram alguns problemas para a regiã o.
Pá gina 271
A aná lise do mapa “Diversidade religiosa na antiga Iugoslá via” (p. 40) permitirá aos alunos associar as
etnias e os diferentes grupos religiosos. Sugere-se que a isso o professor acrescente elementos para que
os alunos possam compreender as diferenças sociais e econô micas entre os países da Europa Oriental.
O uso da tecnologia e a terceirizaçã o da guerra sã o características marcantes das guerras no século XXI.
Além disso, as motivaçõ es das guerras mudaram. As intervençõ es militares unilaterais, estadunidenses e
europeias, se tornaram comuns e, diferentemente das grandes guerras, as justificativas geopolíticas
deram lugar à s guerras por recursos naturais, à s guerras ao trá fico e ao terror.
O texto da seçã o apresenta elementos importantes para a compreensã o das guerras no século XXI. Um
dos pontos centrais é o uso de empresas militares privadas e dos chamados “novos mercená rios”.
Segundo o texto, a ló gica da guerra atual é feita por empresas privadas, e o cargo de “manager” tornou-se
muito importante. Por isso, muitas vezes nã o se sabe claramente quem sã o os verdadeiros atores,
mandantes e estrategistas das guerras.
Atividades complementares
A linguagem e a produçã o fotográ fica podem ser muito enriquecedoras para o trabalho pedagó gico,
subsidiando diversas discussõ es em sala de aula. Aqui, sugerimos uma atividade a partir da obra do
brasileiro Sebastiã o Salgado, considerado um dos grandes mestres da fotografia documental
contemporâ nea, que ao longo dos anos tem colaborado com diversas organizaçõ es humanitá rias.
Descrição da atividade
O professor pode sugerir aos alunos uma pesquisa na internet ou em livros de autoria de Sebastiã o
Salgado que contenham fotos relacionadas aos conflitos na Á frica.
No dia 9 de novembro de 2014, completaram-se 20 anos sem o Muro de Berlim, que dividia a Alemanha
Oriental e a Alemanha Ocidental. Mas outros muros continuam erguidos em vá rias partes do mundo.
Descrição da atividade
Sugerimos aqui uma atividade de pesquisa sobre esses muros. O professor pode solicitar aos alunos que
localizem três deles em um mapa, identificando os territó rios que separam e buscando compreender as
razõ es para a sua construçã o.
Leitura complementar
No texto abaixo, o Tratado Antá rtico é analisado a partir da perspectiva da Guerra Fria: como as
superpotências conseguiram entrar no grupo de naçõ es que discute o futuro do continente,
marginalizando a Argentina e o Chile – os principais países que ainda reivindicam a soberania sobre ele.
Sã o apresentados alguns princípios utilizados para sustentar a reivindicaçã o territorial de vá rios países
sobre o continente antá rtico.
O Tratado Antártico
Os onas, povo indígena que vivia no extremo sul da América do Sul e na Terra do Fogo*2, costumavam fazer
incursõ es na Antá rtida [...]. Como eles viviam em uma á rea pertencente aos territó rios do Chile e Argentina,
esses países reivindicaram o controle territorial da Antá rtida, utilizando como argumento o princípio da
precedência de ocupaçã o. Mas esse argumento, certamente o mais empregado nas disputas territoriais, de
nada valeu para o Chile ou para a Argentina, que aceitaram a pressã o das forças hegemô nicas na época da
Guerra Fria.
Em 1948, o Chile já cedia às pressõ es dos Estados Unidos e apresentava a Declaraçã o Escudero, na qual
propunha uma pausa de cinco anos nas discussõ es acerca da soberania sobre a Antá rtida. [...] Com base no
Princípio da Proximidade Geográ fica, reivindicavam soberania sobre a Antá rtida aqueles Estados-naçõ es que
se localizavam pró ximo ao continente antá rtico. Esse princípio excluía as duas superpotências emergentes do
segundo pó s-guerra de sua presença na Antá rtida, e nã o logrou êxito.
2
* As notas da edição original foram suprimidas.
Pá gina 272
[...] A primeira reuniã o internacional que teve como pauta a Antá rtida foi a Conferência de Paris, realizada em
1955. Naquela ocasiã o, Á frica do Sul, Argentina, Austrá lia, Bélgica, Chile, Estados Unidos, França, Inglaterra,
Japã o, Noruega, Nova Zelâ ndia e Uniã o Soviética reuniram-se para discutir a edificação de uma base científica
na Antá rtida. [...]
Como resultado da reuniã o de Paris, decidiu-se pela construçã o da base Amundsen-Scott pelos Estados Unidos.
À outra potência da época, a Uniã o Soviética, coube a construçã o da base Vostok no Polo da Inacessibilidade.
Assim, quase sem pedir licença, as superpotências instalaram-se no continente branco. A Guerra Fria chegava à
Antá rtida.
Como ocorria em outras situaçõ es, a disputa entre os Estados Unidos e a Uniã o Soviética pela soberania [sobre
a] Antá rtida foi dissimulada. Nesse caso, ela ganhou uma roupagem científica. Pouco tempo depois da reuniã o
de Paris, o interesse por novas descobertas sobre a ú ltima regiã o sem fronteiras da Terra foi utilizado como
argumento para novos empreendimentos no continente.
Com o objetivo de observar as explosõ es solares que ocorreram na segunda metade da década de 1950, os
estudiosos do assunto optaram por instalar pontos de observaçã o em alguns lugares da Terra, entre eles a
Antá rtida, que foi apontada como o melhor local para a observaçã o do fenô meno. Para registrar seu intento, os
cientistas nomearam os trabalhos como o Ano Geofísico Internacional (AGI). [...]
Por ocasião do AGI, o governo dos Estados Unidos propô s – em abril de 1958 – um tratado para regularizar as
açõ es antró picas no continente branco. Como justificativa, apresentou a necessidade de realizar mais
pesquisas para entender melhor a dinâ mica natural naquela porção do mundo.
As negociaçõ es promovidas pelos Estados Unidos resultaram no Tratado Antá rtico, que foi firmado em 1º de
dezembro de 1959. Apó s ser ratificado pela Á frica do Sul, Argentina, Austrá lia, Bélgica, Chile, Estados Unidos,
França, Inglaterra, Japã o, Noruega, Nova Zelâ ndia e Uniã o Soviética, denominados membros consultivos,
passou a ser aplicado, em 23 de junho de 1961. [...]
Com o Tratado Antá rtico, estabeleceu-se o intercâ mbio científico entre as bases instaladas na Antá rtida.
Deixada de lado a polêmica da definição de fronteiras nacionais no continente gelado, a ocupaçã o foi
direcionada para a produçã o de conhecimento, instalando-se a infraestrutura necessá ria para tal intento. A
troca de informaçõ es científicas procurava garantir uma “diplomacia Antá rtica”, ao mesmo tempo que nã o se
discutiam questõ es de ordem territorial ou de aproveitamento dos “recursos” a serem identificados e
estudados cooperativamente.
A Antá rtida representa um dos casos que justificam a discussã o da questã o da soberania envolvendo a
temá tica ambiental durante a Guerra Fria. Ao abrir mã o, mesmo que temporariamente, da reivindicaçã o da
soberania territorial sobre a Antá rtida, o Chile iniciava uma ação que agradava sobremaneira os Estados
Unidos.
[...]
RIBEIRO, Wagner Costa. A ordem ambiental internacional. Sã o Paulo: Contexto, 2001. p. 55-57.
LIVRO
SITE
Canal History
O site do canal History traz vá rias informaçõ es e notícias sobre as duas grandes guerras. Disponível em:
<http://linkte.me/canalhist>. Acesso em: 22 maio 2016.
1. A corrida espacial foi expressã o da disputa ideoló gica entre Estados Unidos e Uniã o Soviética. Vencer
a corrida significava ser superior ao oponente. Além dessa característica, pode-se destacar a importâ ncia
da rivalidade pela “conquista” do espaço para o desenvolvimento de pesquisas e avanços em ciência e
tecnologia. Evidentemente, daí desdobraram-se inovaçã o e progresso econô mico.
2. No cartaz, “o caminho da Terra à s estrelas” se refere à exploraçã o do espaço empreendida pela Uniã o
Soviética durante a Guerra Fria.
1. Atualmente, o uso de artigos tecnoló gicos em guerras é muito superior. Os conflitos bélicos envolvem
mais tecnologia e abrangem a participaçã o de empresas privadas, que estabelecem contratos militares
com governos e instituiçõ es governamentais. Além disso, o nú mero de soldados regulares é menor e
cresce o nú mero de soldados privados.
1. Guerra Fria foi o nome dado à constante tensã o entre as duas superpotências, os Estados Unidos e a
Uniã o Soviética, no período compreendido entre 1945 e 1991. Nessa época, o mundo estava dividido em
dois blocos: o bloco capitalista, liderado pelos estadunidenses, e o bloco comunista (ou socialista),
comandado pela Uniã o Soviética.
2. “Equilíbrio do terror” era a expressã o que designava o equilíbrio de forças alcançado pelo poderio
militar nuclear que as duas grandes potências – Estados Unidos e Uniã o Soviética – possuíam, durante a
Guerra Fria.
Pá gina 273
3. O processo de descolonizaçã o, muito expressivo na Á frica e na Á sia apó s a Segunda Guerra Mundial,
foi liderado por diversos movimentos internos de libertaçã o nacional. Em muitos casos a independência
foi obtida somente apó s longos e violentos conflitos entre colô nias e metró poles.
4. A busca por uma postura independente constitui a principal razã o de origem do movimento dos
países nã o alinhados no cená rio político da Guerra Fria. Trata-se de um movimento político-ideoló gico
de nã o alinhamento a nenhum dos blocos e sistemas vigentes à época de sua fundaçã o: o capitalista e o
socialista. Em outras palavras, os países nã o alinhados, oficialmente, nã o aceitavam participar das
estratégias militares e nã o se subordinavam politicamente à s duas grandes potências: Estados Unidos e
Uniã o Soviética.
6. O fim da Uniã o Soviética demarcou o fim do socialismo, abrindo as portas para uma nova ordem
mundial, em que o capitalismo predomina como sistema econô mico. A partir do fim da Guerra Fria, os
Estados Unidos ganharam maior proeminência no cená rio político global e, conforme indicam alguns
estudiosos, passaram a dividir protagonismo com outros países e blocos regionais, como Uniã o Europeia,
Japã o e China.
7. O período de transiçã o econô mica foi marcado pelo agravamento de crises econô micas e sociais nos
países da extinta Uniã o Soviética. Apesar das diversidades internas, é possível destacar o aumento do
desemprego, a reduçã o de benefícios sociais na educaçã o e na saú de e o aumento da pobreza, que só foi
atenuada a partir da década de 2000.
8. No final do século XX e início do século XXI, as guerras civis, religiosas e étnicas tornaram-se mais
comuns. Como resultado, aumentaram os nú meros de vítimas civis e de refugiados. Na configuraçã o
geopolítica dos conflitos, a oposiçã o entre Estados foi, em geral, substituída pelo combate ao terrorismo
e ao trá fico. As açõ es humanitá rias ou operaçõ es de manutençã o da paz passaram a figurar como
justificativas para intervençõ es de alianças militares internacionais em outros países – como aquelas
conduzidas pela Otan. Outro novo fator foi a realizaçã o de “guerras preventivas”, realizadas de maneira
unilateral pelos Estados Unidos, que se fundamentaram sob o argumento de evitar maiores conflitos,
enquanto, especula-se, tenham servido como pretexto para a ocupaçã o de países ricos em recursos
naturais estratégicos.
9. Com o final da Guerra Fria houve certo incremento das operaçõ es de manutençã o da paz realizadas
pela ONU em decorrência da intensificaçã o de conflitos de cará ter religioso, étnico e político. Parte
desses conflitos estavam sob controle no â mbito das á reas de influência das superpotências da Guerra
Fria.
10. A Cortina de Ferro demarcava a separaçã o entre os países pertencentes aos sistemas capitalista e
socialista. Ela existiu até o início dos anos 1990, quando se dissolveu com a queda do Muro de Berlim e a
desintegraçã o da Uniã o Soviética.
11. O grá fico apresenta os testes nucleares realizados entre 1946 e 1998. É possível notar que, durante o
período da Guerra Fria, os testes foram mais numerosos, sendo as duas superpotências da Guerra Fria
aquelas que desenvolveram o maior nú mero de testes. O grá fico evidencia a corrida armamentista,
durante a qual EUA e URSS gradativamente adquiriram a tecnologia nuclear para a fabricaçã o de
artefatos militares.
Interpretando textos e imagens (p. 45)
12. A charge remete à principal característica do período pó s-Segunda Guerra: a ameaça à paz em um
mundo dividido entre Estados Unidos, potência hegemô nica do mundo capitalista, e URSS, potência
hegemô nica do mundo socialista.
13. Espera-se que o aluno reflita no sentido de relacionar o esforço de construir armas e tecnologias
mais avançadas para vencer o inimigo com o avanço tecnoló gico em geral. Cabe destacar que a letra da
cançã o nã o leva a uma interpretaçã o otimista desse avanço tecnoló gico, como evoluçã o das
possibilidades humanas. Pelo contrá rio, vemos uma forte crítica à manipulaçã o ideoló gica realizada para
justificar as guerras e conseguir a adesã o da populaçã o a elas.
Este capítulo trata do Brasil como potência regional, em funçã o de suas características territoriais,
apesar da grande fragilidade social manifestada pelos contrastes regionais e de ocupaçã o do espaço
urbano. As teses geopolíticas que pautaram as estratégias de integraçã o nacional, como a política para a
Amazô nia e a construçã o de Brasília, sã o apresentadas como exemplos da açã o do Estado no controle de
fronteiras e no processo de interiorizaçã o e controle territorial.
Para desenvolver o capítulo, é importante que o professor discuta com os alunos a posiçã o de liderança
do Brasil na América Latina.
Há muitos anos o Brasil vem pleiteando sua integraçã o como membro permanente do Conselho de
Segurança da ONU, que é responsá vel pela manutençã o da paz e da segurança internacional. No entanto,
embora tenha recebido numerosas manifestaçõ es de apoio de vá rios países, até 2015 nã o tinha
alcançado esse objetivo.
Ao longo do texto sã o enumeradas algumas vantagens importantes que situam o Brasil como liderança
sul-americana. Também há um contraponto indicando a vulnerabilidade do país quanto à s fronteiras e à
exploraçã o indiscriminada de recursos naturais.
Aqui a discussã o geopolítica é feita por meio da aná lise socioeconô mica. Tal abordagem permite discutir
a articulaçã o do territó rio por redes de comunicaçã o e transportes inter-regionais. Essas redes, que
envolvem a circulaçã o de pessoas, mercadorias e capitais, consolidam a hegemonia de uma regiã o, que
controla esse fluxo.
Pá gina 274
O texto analisa a grande desigualdade regional brasileira, no contexto da qual o papel hegemô nico cabe à
Regiã o Sudeste.
É importante que a discussã o do tema enfatize a presença do Estado brasileiro nas vá rias regiõ es ao
longo do século XX. Deve-se destacar que boa parte das açõ es foram realizadas no sentido de instalar ou
expandir as atividades produtivas, favorecendo o capital (nacional ou internacional), como a criaçã o de
infraestruturas necessá rias para a implantaçã o de indú strias ou distritos industriais. É importante
ressaltar e referenciar historicamente os períodos de governo de Getú lio Vargas (1930-1945/1951-
1954), Juscelino Kubistchek (1956-1961) e dos governos ditatoriais militares (1964-1985).
O boxe Conexão (p. 49) é um instrumento para tratar da geopolítica brasileira utilizando o tema da
energia. Em novembro de 2009, com o desligamento da Usina de Itaipu, um “apagã o” atingiu pelo menos
oito estados brasileiros.
Em 2001 e 2002 já tinham ocorrido no Brasil vá rios problemas com o abastecimento de energia elétrica.
Houve alguns blecautes, um dos quais atingiu dez estados e o Distrito Federal (janeiro de 2002).
Tais problemas foram atribuídos ao baixo nível de á gua atingido pelas represas das hidrelétricas, em
razã o da estiagem, bem como à grande demanda por eletricidade, maior do que a disponibilidade para
consumo. Nesse período, o governo efetuou racionamento de energia elétrica e empreendeu uma grande
campanha para reduzir o consumo.
Entre as açõ es do Plano de Aceleraçã o do Crescimento (PAC), lançado em 2007, encontra-se uma maior
integraçã o da Amazô nia ao espaço econô mico brasileiro, transformando uma “reserva de recursos” em
fonte de riqueza. Diferentemente da política dos governos militares, trata-se de mobilizar a regiã o dentro
da integraçã o continental.
Para explicar a construçã o de Brasília, é interessante que o professor apresente o contexto histó rico-
econô mico do Brasil na década de 1950: aceleraçã o do processo de industrializaçã o via entrada de
capitais internacionais, crescente urbanizaçã o no Sudeste, ampliaçã o das diferenças regionais, política do
Estado assentada no desenvolvimentismo. Diante desse contexto, a mudança da capital, além da
motivaçã o geo política, estava ligada ao ideal de Brasil potência, capaz de construir uma cidade em
menos de cinco anos.
No Brasil, sã o consideradas cidades planejadas: Salvador (BA), fundada em 1549; Teresina (PI), em
1851; Aracaju (SE), em 1858; Belo Horizonte (MG), em 1898; Goiâ nia (GO), em 1937; Brasília (DF), em
1960; e Palmas (TO), em 1990.
Os pesquisadores lembram que os incêndios florestais também colaboram para esse processo. Uma
transformaçã o da Amazô nia em savana traria, além da perda de biodiversidade, prová veis mudanças no
clima de outras regiõ es, especialmente no sul do Brasil e no norte da Argentina. Ocorreria uma grande
reduçã o na distribuiçã o de chuvas que a Amazô nia proporciona para vá rias regiõ es da América do Sul,
com má s consequências para o agronegó cio e para o potencial hidrelétrico da regiã o.
Ainda tendo como foco a Amazô nia, é interessante destacar as á reas extratoras de ferro e manganês,
entre outros recursos minerais, como o gá s natural explorado em Coari (AM).
• Presença Indígena – São Gabriel da Cachoeira: uma cidade diferente (p. 52-53)
A presença indígena, predominante nesse município, traz demandas por lugares que deem condiçõ es
para a manutençã o de prá ticas alimentares, familiares, religiosas, etc. A presença indígena nã o se
territorializa apenas na floresta, portanto. A leitura do texto possibilita uma interessante discussã o sobre
a pluralidade cultural existente no Brasil.
O professor pode iniciar o item destacando o papel geopolítico dessa regiã o brasileira e identificando os
principais atributos que tornam a regiã o Amazô nica estratégica para o Brasil e os países vizinhos. Entre
eles está Carajá s.
Comente com os alunos que, durante anos, a estratégia de defesa para as fronteiras amazô nicas se
baseava em transladar as famílias de militares, fundar vilas e povoar permanentemente a faixa de
fronteira. Hoje, opta-se por instalar mais equipamentos e levar menos gente, o que, nas dimensõ es
amazô nicas, representa um posto a cada 200 a 300 km de fronteira. Boa oportunidade para rever com os
alunos os conceitos de fronteira viva e morta (povoada ou nã o), utilizados por geopolíticos brasileiros.
Em grande parte da Amazô nia brasileira o Estado é representado quase exclusivamente pelas Forças
Armadas. Podemos nos perguntar como se traduz localmente a tríade naçã o/ territó rio/poder político.
Importante enfatizar a ideia presente no texto de que uma regiã o é mais que a terra: ela inclui os
recursos naturais e culturais, num interessante resgate do conceito tradicional. Pode-se ampliar a ideia
de recursos naturais, a fim de incluir a consideraçã o da cultura necessá ria ao manejo de tais recursos.
Pá gina 275
Atividades complementares
O objetivo da atividade é fazer com que os alunos possam aplicar corretamente conceitos construídos ao
longo do capítulo.
Descrição da atividade
Ainda no contexto das possibilidades de o Brasil se estabelecer como potência regional, a despeito de
suas desigualdades internas, é possível sugerir aos alunos uma pesquisa sobre a distribuiçã o dos lucros
do pré-sal e as divergências entre os estados produtores e o governo federal.
Leitura complementar
O texto trata das mudanças da Amazô nia no final do século XX, tanto econô micas quanto políticas e
sociais.
O ponto de partida para se fazer essa aná lise é o reconhecimento de profundas mudanças estruturais que
ocorreram na Amazô nia nas ú ltimas décadas do século XX. Todos sabem como o projeto de integraçã o nacional
acarretou perversidades em termos ambientais e sociais. Mas, com sangue, suor e lá grimas, deve-se
reconhecer o que restou de positivo nesse processo, porque são elementos com os quais a regiã o conta hoje
para seu desenvolvimento. E nã o se pode esquecê-los.
No final do século XX, houve, portanto, impactos negativos, mas também mudanças estruturais e novas
realidades geradas na fronteira, a qual tomo como espaço nã o plenamente estruturado e por isso mesmo capaz
de gerar realidades novas. Dentre as mudanças, destaca-se a da conectividade regional, um dos elementos
mais importantes na Amazô nia. Não se trata apenas das estradas, elementos que contribuíram para
depredaçã o dos recursos e da sociedade, mas sim, sobretudo, das telecomunicaçõ es, porque a rede de
telecomunicaçõ es na Amazô nia permitiu articulaçõ es locais/nacionais, bem como locais/globais. Outra
mudança importante é a da economia, que passou da exclusividade do extrativismo para a industrializaçã o,
com a exploraçã o mineral e com a Zona Franca de Manaus, que foi um posto avançado geopolítico colocado
pelo Estado na fronteira norte, em pleno ambiente extrativista tradicional. Há problemas na Zona Franca, mas
hoje ela é grande produtora nã o só de bens de consumo durá veis, como da indú stria de duas rodas, de
telefonia e mesmo de biotecnologia.
Uma grande modificaçã o estrutural ocorreu no povoamento regional que se localizou ao longo das rodovias e
nã o mais ao longo da rede fluvial, como no passado, e no crescimento demográ fico, sobretudo urbano.
Processou-se na regiã o uma penosa mobilidade espacial, com forte migraçã o e contínua expropriaçã o da terra
e, assim, ligada a um processo de urbanizaçã o. Em vista disso, a Amazô nia teve a maior taxa de crescimento
urbano no país nas ú ltimas décadas. No censo de 2000, 70% da população na regiã o Norte estavam localizados
em nú cleos urbanos, embora carentes dos serviços básicos [...]. Muitos discordam dessa tese, porque nã o
consideram tais nucleamentos como urbanos. Mas esse é o modelo de urbanizaçã o no Brasil e, ademais, a
urbanização nã o se mede só pelo crescimento e surgimento de novas cidades, mas também pela veiculaçã o dos
valores da urbanizaçã o para a sociedade. Por essa razã o, desde a década de 1980, chamo a Amazô nia de uma
“floresta urbanizada”.
Por outro lado, organizou-se a sociedade como nunca antes verificado. Os grandes conflitos de terras e de
territó rios das décadas de 1960 a 1980 constituíram um aprendizado político e, na década de 1990,
transformaram-se em projetos alternativos, com base na organizaçã o da sociedade civil. É extremamente
importante lembrar que hoje essa sociedade tem voz ativa na Amazô nia e no Brasil, inclusive muitos grupos
indígenas. Essa organizaçã o da sociedade política trouxe, por sua vez, mudanças no apossamento do territó rio,
com a multiplicaçã o de unidades de conservaçã o federais e estaduais, assim como também com a demarcação
de terras indígenas.
Que projetos e que atores produzem hoje a dinâ mica regional e os novos significados da Amazô nia? Essas
transformaçõ es nã o são vistas de forma homogênea pelos diferentes atores, porque dependem de interesses
diversos e geram açõ es diferentes na regiã o. Existem muitos conflitos dentro dessas percepçõ es, mas há
algumas dominantes.
O uso do método geográ fico para aná lise dos projetos geopolíticos e seus atores por diferentes escalas
geográ ficas é ú til para colaborar nessa aná lise.
LIVRO
FILME
SITE
ONU
Site da Organizaçã o das Naçõ es Unidas (ONU) no Brasil, com notícias internacionais e brasileiras sobre
ecologia, missõ es de paz, política internacional e direitos humanos. Disponível em:
<http://linkte.me/onu>. Acesso em: 13 maio 2016.
1. Além do G-20, os alunos poderã o citar como organizaçõ es internacionais das quais o Brasil faz parte: a
ONU (Organizaçã o das Naçõ es Unidas), o grupo do Brics (Brasil, Rú ssia, China e Á frica do Sul), o
Mercosul (Mercado Comum do Sul) e a Organizaçã o dos Estados Americanos (OEA).
2. Espera-se que os alunos comentem que a participaçã o do Brasil em organizaçõ es econô micas reforça
a posiçã o do país como potência regional no continente americano.
1. O objetivo é que os alunos saibam de onde vem a energia elétrica que abastece sua cidade e tenham
noçã o dos equipamentos que compõ em o sistema. Espera-se que façam uma relaçã o com o sistema
integrado. Na maioria das casas do Brasil, a energia vem de Itaipu, mas, dependendo do estado, pode vir
de outras usinas. Também é interessante investigar o tipo de usina que produz a energia (hidrelétrica,
termelétrica, nuclear, etc.).
1. Espera-se que o aluno entenda a forma como a ló gica da catequizaçã o concorreu para a dependência
do indígena da sociedade envolvente. Os religiosos buscavam eliminar as manifestaçõ es culturais desses
povos: proibiam os índios de falarem sua língua, de morarem em suas casas coletivas e de manterem
suas formas de religiosidade. Os grupos indígenas com há bitos nô mades e rurais passaram a viver na
cidade de maneira sedentá ria, o que levou a uma dependência de produtos e de dinheiro. É interessante
ressaltar que atualmente em Sã o Gabriel se desenvolve um importante processo de valorizaçã o das
culturas indígenas e de desenvolvimento das comunidades, embora persistam grandes problemas. Para
refletir sobre como o contato pode se realizar de forma respeitosa hoje em dia, é necessá rio sempre ter
como horizonte a necessidade de ouvir os indígenas quanto à s suas perspectivas para o futuro e à sua
autodeterminaçã o como povos diferenciados.
2. Espera-se que o aluno reflita sobre a diferença existente entre o imaginá rio constituído sobre o
mundo indígena e a realidade. Ao escolher os aspectos a serem citados, o aluno terá de avaliar quais das
ideias que tinha anteriormente foram desmentidas pelo texto. Assim, ele terá oportunidade de reavaliar
sua pró pria visã o do que é ser indígena.
2. Provavelmente haverá opiniõ es conflitantes na classe sobre a questã o. O professor pode aproveitar o
momento e coordenar um debate. Oriente os alunos a escrever um texto coletivo apó s as discussõ es.
1. O poderio militar, o cená rio diplomá tico, a atuaçã o estratégica do Estado e o desenvolvimento
econô mico fornecem elementos que permitem interpretar se determinado país cumpre os requisitos
para assumir a funçã o de potência, em escala regional ou mundial.
2. Um fator relacionado à geopolítica, teoricamente, é a extensã o do territó rio de um país, que pode
definir a variedade de recursos naturais, refletir no potencial produtivo e restringir menos o crescimento
demográ fico, favorecendo assim a composiçã o de exércitos mais numerosos e fortalecidos. Outro fator é
seu poderio econô mico, que está relacionado a sua importâ ncia no mercado global. Os posicionamentos
assumidos pelos governantes e grupos empresariais das naçõ es que mais se destacam encontram maior
respaldo nas esferas do poder mundial. Podemos mencionar ainda o poderio militar, que nã o se
manifesta apenas na atuaçã o dos países em conflitos armados, mas também em sua capacidade de
negociaçã o em discussõ es políticas internacionais.
3. A grande extensã o de nossas fronteiras, sobretudo as fronteiras secas, deixa o territó rio brasileiro
vulnerá vel a açõ es ilícitas, como o trá fico de drogas e o contrabando de mercadorias. O controle sobre os
crimes ambientais nas regiõ es privilegiadas por riquezas naturais, sobretudo na regiã o Amazô nica,
também apresenta sérias fragilidades. A retirada ilegal de matéria-prima e recursos de nossas florestas, a
biopirataria, é uma das consequências dessa realidade.
4. Tanto o Plano de Integraçã o Nacional (PIN) como os Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs)
foram iniciativas ligadas ao planejamento territorial, implantadas pelo Estado brasileiro. O PIN
congregava investimentos na abertura de rodovias, enquanto os PNDs e os polos de desenvolvimento,
como o Poloamazô nia, o Polocentro e o Polonoroeste, incentivavam a exploraçã o mineral e projetos
agropecuá rios direcionados à exportaçã o.
Pá gina 277
5. Brasília começou a ser construída em 1956 e foi inaugurada em 1960. A localizaçã o da capital no
centro do territó rio nacional daria maior coesã o ao país, pois possibilitaria a integraçã o com regiõ es
distantes e aproximaria o governo federal das á reas mais isoladas das regiõ es Centro-Oeste e Norte. A
nova capital também desestimularia as grandes manifestaçõ es populares, que eram comuns no Rio de
Janeiro.
6. A floresta Amazô nica se estende por á reas do Brasil, Peru, Bolívia, Equador, Colô mbia, Venezuela,
Guiana, Guiana Francesa (departamento ultramarino francês) e Suriname. A porçã o do territó rio
brasileiro denominada Amazô nia Legal abrange, além dos sete estados da Regiã o Norte, o Mato Grosso e
uma parte do Maranhã o a oeste do meridiano 44°O.
8. A Amazô nia é foco de muitos conflitos e disputas. No meio da floresta, há disputa pelo controle da
á gua, pela posse das terras e riquezas minerais; há questõ es sensíveis como as queimadas e a derrubada
ilegal de á rvores, além de problemas relacionados ao trá fico de drogas e de seres humanos e da
exploraçã o sexual de mulheres e crianças. Tudo isso indica a fragilidade das fronteiras amazô nicas na
atualidade. A imensa extensã o de fronteira externa ocupada pela floresta fechada dificulta sua
fiscalizaçã o e defesa. Visualmente é quase impossível determinar os limites territoriais entre os países
amazô nicos, o que exige investimentos em equipamentos como radares e aviõ es. Nesse sentido, o
governo brasileiro colocou em operaçã o, no início da década de 2000, o Sistema de Vigilâ ncia da
Amazô nia (Sivam), concebido ainda nos anos de 1990, e o Sistema de Proteçã o da Amazô nia (Sipam).
9. A participaçã o do capital externo na exploraçã o da Amazô nia passou a ser mais importante no final da
década de 1960 e início da década de 1970, quando os processos de independência de países africanos,
dos quais muitas multinacionais retiravam minérios para abastecer as indú strias do Primeiro Mundo,
trouxeram dificuldades (aumento do preço das matérias-primas) para essas empresas. Isso motivou a
pesquisa mineral rumo à Amazô nia, um dos mais desconhecidos subsolos do mundo.
10. Entre as açõ es pontuais estã o aquelas adotadas na época do ciclo da borracha, visando melhorar o
escoamento da produçã o. As políticas associadas a um projeto mais amplo foram implementadas,
sobretudo no período militar, quando se entendia que era preciso integrar o territó rio para nã o o
entregar aos inimigos. Assim, foram criadas a Superintendência para o Desenvolvimento da Amazô nia
(Sudam) e a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa). Essas açõ es resultaram em obras
pú blicas, como as rodovias Transamazô nica e Belém-Brasília, e infraestrutura para viabilizar a Zona
Franca de Manaus.
11. a) PIB alto: Sul e Sudeste; PIB baixo: Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
b) Podemos destacar que a Regiã o Sudeste tem o maior grau de urbanizaçã o e industrializaçã o do país,
enquanto a Regiã o Norte tem nos recursos naturais sua base econô mica, nã o obstante a existência da
Zona Franca de Manaus.
14. a) Era a integraçã o da regiã o, com o povoamento e a presença marcante do Estado e da economia
nacional. Estava presente o argumento de que as riquezas da regiã o deveriam ser protegidas contra os
interesses estrangeiros.
b) Segundo o texto, as populaçõ es mais atingidas foram os indígenas. Suas terras foram invadidas para
dar lugar a grandes lavouras e a novas cidades; os indígenas foram alvo de grande violência e muitos
povos foram quase dizimados.
15. a) Atividade de pesquisa. Sugere-se que o professor oriente os alunos na busca de informaçõ es em
fontes confiá veis, como o site do Centro Regional de Informaçã o das Naçõ es Unidas (UNRIC), disponível
em: <http://linkte.me/unric>, acesso em: 13 maio 2016.
b) Brasil e Japã o estã o entre os países que mais participaram como membros nã o permanentes do
Conselho de Segurança. Entre 1946, quando foi fundado o ó rgã o, e 2015, o Brasil foi eleito membro por
dez vezes.
c) No contexto regional de América Latina e Caribe, o México, a Argentina e a Colô mbia se apresentam
como principais rivais do Brasil na busca por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Pá gina 278
Esta atividade terá duraçã o de mais de uma aula. É importante reservar um tempo para a compreensã o
da proposta, um tempo para a produçã o das anamorfoses e um terceiro momento de aná lise e
socializaçã o dos resultados.
Professor: na tabela da Proposta de trabalho apresentamos o IDH dos estados e do DF de 2010 pois eram
os dados mais recentes disponíveis até 2015.
As frases dos alunos deverã o demonstrar compreensã o do conteú do apresentado. É importante que eles
nã o se preocupem apenas em “completar” as frases, mas em criar sentenças que resumam as principais
ideias do capítulo. Uma dica é fazer uma correçã o coletiva agregando as melhores respostas e
produzindo sentenças mais elaboradas.
Esta atividade tem o objetivo de levar os alunos a exercitar seu poder de síntese. A fotografia mostra dois
importantes líderes indianos, Gandhi e Nehru, e representa o momento em que a Índia se tornou
independente do Reino Unido. O mapa representa o continente europeu, porçã o do mundo que polarizou
muitas questõ es na época.
A produçã o de síntese revela compreensã o do conteú do. É importante que o professor oriente a
atividade de modo que os alunos tenham autonomia para escrever frases pró prias e significativas.
Algumas delas podem até ser retiradas do texto. Espera-se com isso que os alunos façam uma releitura
centrada nos pontos mais importantes do capítulo.
1. a) Dos impactos políticos possíveis, na esfera federal, com a fragmentaçã o territorial das unidades
político-administrativas da macrorregiã o Norte do país, podem ser destacados:
• O aumento numérico da representaçã o política da Regiã o Norte nas casas legislativas federais, ou seja,
na Câ mara de Deputados e no Senado Federal. Isso se explica devido à s atuais regras do sistema eleitoral
brasileiro, que define um mínimo de 8 e um má ximo de 70 deputados federais para cada unidade
político-administrativa do país (dependendo da proporçã o de eleitores em cada estado), além de 3
senadores que cada unidade pode eleger para representá -la no jogo federativo do poder central.
• O desequilíbrio/reequilíbrio, no Congresso Nacional, entre as alianças atuais travadas pelas forças
políticas regionais que compõ em, atualmente, o jogo de interesses partidá rios e/ou dos atores políticos
na esfera central da federaçã o. Isso se explica porque novos acordos entre as representaçõ es regionais
podem mudar o equilíbrio atual de forças políticas expressas territorialmente, criando, por exemplo, um
aumento da solidariedade regional e/ou inter-regional para o (re)direcionamento de mais recursos
pú blicos federais para o Norte e/ ou para outras macrorregiõ es do país.
• A ampliaçã o dos projetos de lei, das emendas e das agendas políticas de decisã o, a partir das demandas,
dos desejos e interesses dos grupos regionais nortistas. Isso se explica pelo pró prio aumento das
representaçõ es da regiã o no Congresso Nacional, o que deverá ampliar os encaminhamentos sobre
questõ es e interesses nortistas, a partir dos discursos e das discussõ es políticas encabeçados por
lideranças do Norte brasileiro, que podem proporcionar leis e outros projetos para a macrorregiã o.
b) Dos impactos sobre os recursos pú blicos dos estados do Pará e do Amazonas, com a definiçã o das
novas unidades político-administrativas na regiã o, podem ser destacadas:
• A reduçã o da participaçã o dessas unidades da federaçã o no repasse de impostos estaduais. Nesse
sentido, justifica-se tal preocupaçã o pelos pressupostos da Constituiçã o Federal de 1988. Nela, cabe à s
unidades da federaçã o a gestã o sobre os recursos arrecadados espacialmente, como o ICMS e o IPVA, por
exemplo, que serã o repartidos entre os municípios.
Pá gina 279
• A participaçã o do Norte na distribuiçã o dos recursos federais poderá ser ampliada. Essa ampliaçã o
poderá ocorrer pelo princípio da solidariedade regional que pode ser desenvolvido entre as
representaçõ es políticas das unidades federativas do Norte, na Câ mara dos Deputados e no Senado. Ou
seja, mais representaçõ es federais (deputados e senadores), mais votos a favor de projetos voltados para
a macrorregiã o.
• A reorganizaçã o das burocracias dos estados do Pará e do Amazonas devido à reduçã o da dimensã o
territorial das unidades federadas. Essa reduçã o redefinirá a nova má quina pú blica em cada um dos
estados (inclusive dos novos estados), já que as burocracias das antigas unidades verã o sua açã o
territorial reduzida (base territorial menor, com menos municípios) afetando a captaçã o de recursos via
impostos e taxas pelos governos estaduais.
3. Alternativa a.
4. Brasília foi construída em 1960, e o deslocamento da sede do poder nacional para o centro do país
propiciaria mais proteçã o à soberania nacional, como também maior coesã o territorial no país,
integrando regiõ es distantes e aproximando o governo federal das zonas mais isoladas, situadas nas
regiõ es Centro-Oeste e Norte. Além disso, o deslocamento da capital expressa uma estratégia de
neutralizaçã o das manifestaçõ es das massas, muito comuns na cidade do Rio de Janeiro naquela época.
5. a) O período da Guerra Fria é compreendido, normalmente, entre os anos de 1945 e 1991. Nesse
período, opuseram-se dois blocos antagô nicos: um bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e
outro socialista, liderado pela Uniã o Soviética.
b) Na Nova Ordem Mundial a bipolaridade entre os Estados Unidos e a Uniã o Soviética foi quebrada.
Duas grandes teses foram criadas para explicar essa nova ordem. Na tese do mundo unipolar, os Estados
Unidos detêm a hegemonia mundial, e na do mundo multipolar diversos países do mundo passaram a
compartilhar a posiçã o de liderança.
6. a) O novo padrã o industrial americano caracteriza-se por uma indú stria relacionada à alta tecnologia,
a exemplo de empresas de informá tica, softwares e aeroespaciais, além de ramos ligados ao
entretenimento, como jogos, mú sica e cinema.
b) Concentram-se em tecnopolos. O principal e mais conhecido deles é o Vale do Silício. Também se
concentram pró ximo a grandes universidades.
7. Alternativa c.
8. Alternativa a.
9. Alternativa b.
10. Alternativa e.
11. Alternativa e.
12. Alternativa c.
13. Alternativa e.
14. Alternativa d.
15. Alternativa c.
16. Alternativa c.
17. Alternativa b.
18. Alternativa e.
1. Resposta pessoal. A obra do pintor andaluz admite interpretaçõ es variadas, mas o professor pode
ajudar os alunos, chamando sua atençã o para as figuras humanas distorcidas, com as quais Picasso
pretendeu transmitir o terror, o desespero e a perplexidade da populaçã o, submetida a bombardeio
impiedoso. O ataque da aviaçã o fascista levou o caos e a destruiçã o à pequena cidade basca – efeitos que
podem ser percebidos na aparente confusã o de imagens vistas no mural. Em 1945, entrevistado pelo
estadunidense Jerome Seckler, em Paris, Picasso admitiu que o touro representa a brutalidade e que o
cavalo representa o povo.
2. Professor: oriente os alunos em suas pesquisas e também nas sistematizaçõ es dos conteú dos
pesquisados. Veja quais sã o os aspectos da vida do pintor que despertam a curiosidade dos alunos. Tais
aspectos podem ser relevantes também para a contextualizaçã o histó rica de suas obras. Por conta de sua
longevidade (o pintor nasceu em 1881 e faleceu em 1973), o pintor pô de retratar temá ticas relativas a
vá rios momentos histó ricos, como é o caso de Guernica.
3. A obra, pintada em 1937, foi transferida para os Estados Unidos em 1939, ficando a maior parte do
tempo em exposiçã o no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York até setembro de 1981, quando
finalmente foi enviada à Espanha, oito anos apó s a morte de Picasso. O MoMA levou quase meio século
para realizar o desejo expresso de Picasso, porque o pintor só admitia que o mural fosse entregue a seu
país apó s o fim da ditadura de Francisco Franco. Por isso, os espanhó is chamaram Guernica de “o ú ltimo
exilado”.
O objetivo do projeto é utilizar os conhecimentos de Geografia, Histó ria, Sociologia e Filosofia para
identificar e analisar criticamente as causas e consequências da apatridia, de deslocamentos forçados
por guerras e conflitos e de genocídios.
Ajude os alunos a buscar dados e informaçõ es sobre os apá tridas e os refugiados em anos específicos.
Recomendamos a utilizaçã o das fontes indicadas, que disponibilizam dados para os anos de 2009 e 2013.
No caso dos genocídios, é recomendá vel realizar pesquisas abrangendo o processo de formaçã o histó rica
de cada continente, a fim de incluir o extermínio de seus povos originá rios.
Oriente os alunos durante a elaboraçã o do infográ fico. Explique que os infográ ficos prescindem da
contemplaçã o rígida das convençõ es cartográ ficas, em razã o da liberdade artística e criativa de que
necessitam.
Pá gina 280
Para ampliar as possibilidades de trabalho, uma sugestã o é solicitar que cada grupo exponha oralmente
o conteú do apresentado no texto final com a aná lise crítica dos infográ ficos, de forma a compartilhar as
observaçõ es e críticas realizadas pelos grupos.
O professor poderá avaliar a pertinência das informaçõ es e dados levantados, a qualidade dos produtos
finais apresentados pelos alunos, a organizaçã o da classe e dos grupos.
Avaliação
A seguir, sugerimos algumas questõ es ou atividades que podem ser aplicadas ou adaptadas, para fins de
avaliaçã o dos conteú dos desenvolvidos nesta unidade.
1. A queda do Muro de Berlim provocou uma sequência de mudanças na Europa, com a modificaçã o das
fronteiras e a formaçã o de novos países. Alguns processos deram-se de forma pacífica, outros de maneira
violenta e sangrenta. Exemplifique cada um desses processos.
Os alunos podem mencionar a divisão da Tchecoslováquia em República Tcheca e Eslováquia, que se deu
pacificamente, em um processo conhecido como Revolução de Veludo. A República Tcheca teve como
presidente um poeta, Vaclav Havel, entre 1989 e 1992, reeleito em 1998, que se manteve no cargo até 2002.
Já na Iugoslávia, mais de 140 mil pessoas foram mortas em conflitos étnicos na Sérvia, na Croácia, na
Bósnia-Herzegovina e no Kosovo.
2. Os Estados Unidos sã o considerados, na atualidade, uma potência hegemô nica mundial, pois exercem
funçõ es de liderança e governo sobre naçõ es soberanas. Essa hegemonia manifesta-se em aspectos
econô micos, militares e culturais. Apresente algumas manifestaçõ es da hegemonia dos Estados Unidos
no campo cultural.
Entre as manifestações da hegemonia dos Estados Unidos no campo cultural, podem ser citados: a difusão
pelo mundo de seu modo de vida (american way of life); a difusão de seus produtos industriais e serviços; a
propagação de sua cultura de massa; o domínio que o país exerce sobre a indústria de entretenimento —
caso dos mercados cinematográfico e fonográfico; e, destacadamente, a transformação do inglês em língua
franca (universal).
3. Atualmente, cinco países do entorno do oceano Á rtico – Rú ssia, Dinamarca (a quem pertence a
Groenlâ ndia), Canadá , Estados Unidos e Noruega – disputam a regiã o desse oceano. É sabido também
que a comunidade científica projeta, dentro dos pró ximos 50 anos, o derretimento e a nã o formaçã o do
gelo do oceano. Assim, espera-se que os países banhados pelo Á rtico tenham maior interesse nessa á rea
do globo.
a) Indique duas razõ es que justifiquem esse interesse.
Os países banhados pelo Ártico têm ampliado seu interesse por esse oceano sobretudo pela possibilidade do
acesso a recursos naturais (especialmente energéticos), do controle de novas rotas marítimas, da pesquisa
científica e de exercícios militares.
b) Elabore um mapa representando a regiã o á rtica, indique os países banhados pelo Á rtico e relacione as
mudanças ambientais com os interesses desses países.
5. Quais sã o os mais importantes problemas ambientais da Amazô nia? Cite as tecnologias geográ ficas
utilizadas para monitorar a regiã o.
Entre os problemas ambientais da região Amazônica, podemos destacar o desmatamento (em especial para
a retirada de madeira para comercialização) e as queimadas, que visam à abertura de áreas para o avanço
da agricultura. O monitoramento da Amazônia é feito em especial por sensoriamento remoto, realizado por
radares e satélites.
Pá gina 281
A imagem escolhida para abrir a unidade remete à dinâ mica de um grande terminal portuá rio. É
importante analisá -la chamando atençã o para o papel do transporte marítimo no comércio mundial. A
logística do comércio global tem nos portos uma de suas expressõ es mais concretas. A presença dos
contêineres de diversas partes do mundo serve como exemplo das relaçõ es comerciais estabelecidas.
Discutir a imagem com os alunos procurando identificar aquilo que conhecem a respeito de trocas
econô micas internacionais e da globalizaçã o será interessante para introduzir a temá tica tratada pela
unidade.
Capítulo 5 Globalização
Com este capítulo o estudo das questõ es relacionadas à globalizaçã o faz-se necessá rio para o melhor
entendimento do mundo contemporâ neo. Compreender os mecanismos que caracterizam a globalizaçã o
torna-se fundamental para que o aluno se situe no espaço mundial, perceba relaçõ es de poder e
estabeleça uma visã o crítica perante tais questõ es.
Sugerimos que o estudo do tema seja iniciado com uma discussã o sobre globalizaçã o partindo das
experiências cotidianas dos alunos. Isso é essencial para a compreensã o das dinâ micas deste processo
em diversas escalas.
A globalizaçã o engendra mudanças profundas nas relaçõ es sociedade-natureza, uma vez que se trata de
uma nova etapa de expansã o do capitalismo, amparada em bases técnicas.
Sugestões didáticas
Sugerimos que o professor contextualize historicamente a etapa atual da globalizaçã o, sintetizando com
os alunos a histó ria do capitalismo. Ao longo da histó ria, o capitalismo passou por distintas fases, de
acordo com os modelos econô micos e as condiçõ es políticas e sociais vigentes. A divisã o mais utilizada é
a seguinte:
Apó s situar a globalizaçã o historicamente, convém discutir os vá rios atores que participam deste
período da histó ria. Destaque os Estados nacionais hegemô nicos, associando-os ao seu poder econô mico.
Para isso, é interessante observar o mapa “Mundo – Localizaçã o da sede das 500 maiores empresas
multinacionais (2014)” (p. 71). Chame atençã o para o destaque que a Europa, os Estados Unidos e o
Leste da Á sia têm enquanto principais sedes de empresas multinacionais. Ressalte, além disso, a
relevâ ncia atual de organismos internacionais.
Para ilustrar o poder das empresas multinacionais, o professor pode apontar a localizaçã o da
administraçã o e dos principais acionistas das maiores empresas multinacionais. Pode também comparar
o volume de capital dessas multinacionais com o PIB de diferentes países.
Sobre o boxe Conexão (p. 72), sugere-se mençã o e discussã o da Lei n. 13 185, de 6 de novembro de 2015.
Esse instrumento legal visa combater a intimidaçã o sistemá tica, denominada bullying, que se define
como “todo ato de violência física ou psicoló gica, intencional e repetitivo que ocorre sem motivaçã o
evidente, praticado por indivíduo ou grupo, contra uma ou mais pessoas, com o objetivo de intimidá -la
ou agredi-la, causando dor e angú stia à vítima, em uma relaçã o de desequilíbrio de poder entre as partes
envolvidas”. Quando a intimidaçã o é feita utilizando-se a rede mundial de computadores, está -se diante
de cyberbullying.
Açõ es como ataques físicos; insultos pessoais; comentá rios sistemá ticos e apelidos pejorativos; ameaças
por quaisquer meios; grafites depreciativos; expressõ es preconceituosas sã o exemplos de prá ticas de
intimidaçã o que pode ser verbal, moral, sexual, social, psicoló gica, física, material, virtual. A promoçã o da
empatia, cidadania, respeito ao pró ximo e tolerâ ncia deve permear a discussã o sobre esse tema; por isso,
sugere-se que se promova um debate sobre o significado de cada um desses termos.
É importante exemplificar as formas de organizaçã o das empresas, isto é, indicar exemplos de truste,
cartel, oligopó lio, monopó lio, holding e conglomerados.
Explique que muitos países adotam açõ es que têm por objetivo limitar a fusã o de empresas ou intervir
nas formas de organizaçã o, procurando garantir a concorrência e os preços nã o abusivos aos
consumidores. O Brasil, por exemplo, possui legislaçã o antitruste e um ó rgã o denominado Conselho
Administrativo de Defesa Econô mica (Cade), com intençã o de intervir na economia evitando as prá ticas
já mencionadas.
A defesa da livre concorrência por meio de intervençã o econô mica estatal e legislaçã o, porém, recebe
críticas de pensadores que defendem os preceitos liberais. Segundo o ponto de vista desses autores, a
intervençã o estatal prejudica o desenvolvimento de empresas mais inovadoras e eficientes, valorizando
as que possuem menor desempenho econô mico e tecnoló gico.
O professor também pode indicar que existem empresas nacionais atuantes no exterior em vá rios ramos:
de petró leo, químico, de mineraçã o, têxtil, de má quinas e equipamentos, indú stria aeroná utica,
siderurgia e metalurgia, de cosméticos, de agroindú stria e alimentos, papel e celulose.
Pá gina 283
Mostre aos alunos como os Estados Unidos se apresentam como principais difusores da cultura
ocidental, utilizando, por exemplo, a indú stria cinematográ fica e os sistemas de TV a cabo, na difusã o da
cultura ocidental e estadunidense e seus respectivos padrõ es de consumo.
Nesse sentido, é importante destacar os efeitos locais dos ciclos de expansã o e crise do capitalismo,
tendo como exemplo a crise financeira iniciada em 2008.
Professor: seria interessante discutir o texto com o auxílio de um mapa, para espacializar a penetraçã o
do Islã na Á frica e no eixo Mediterrâ neo-golfo Pérsico. Um aspecto importante a ser ressaltado é a
influência mú tua que o contato cultural acarreta. Todas as culturas em contato com os povos africanos
sofreram sua influência.
A discussã o do tema tem um cará ter interdisciplinar, pois a Histó ria estará presente na recuperaçã o do
processo de conversã o dos povos africanos ao islamismo.
No caso dos Estados Unidos e da América Latina, podem ser comentadas as disputas comerciais entre
Brasil e Estados Unidos na questã o do algodã o. Essa situaçã o começou em 2003, quando o Brasil acusou
o governo estadunidense de subsidiar a produçã o de algodã o do país, ou seja, de oferecer ajuda
financeira aos produtores.
Com isso, os fazendeiros se tornariam mais competitivos no mercado internacional, porque conseguem
produzir mais com menores gastos.
O argumento brasileiro foi que isso provocava distorçõ es nos preços do produto no mercado
internacional. Embora isso pudesse trazer algum benefício aos consumidores, os subsídios criavam uma
vantagem injusta dos produtores estadunidenses sobre os de países onde os produtores nã o contavam
com esse recurso.
• Mundo Hoje – O mundo muçulmano em uma era global: a proteção dos direitos das
mulheres (p. 81)
O objetivo do texto é propiciar um momento de reflexã o sobre como uma minoria – no caso as mulheres
muçulmanas – busca firmar sua posiçã o e garantir direitos, compartilhando reivindicaçõ es e lutas com as
mulheres de outras religiõ es e de outras á reas do globo.
Algumas informaçõ es interessantes sobre o tema podem ser encontradas no texto Feministas islâmicas
no século XXI, de Stephanie Abdallah Latte, disponível em: <http://linkte.me/islam>. Acesso em: 22 maio
2016.
Atividade complementar
Multinacionais
Sugerimos que esta atividade seja aplicada como complemento para trabalhar os tó picos “Os grandes
grupos econô micos globais” (p. 72) ou “A ocidentalizaçã o do mundo” (p. 74).
Descrição da atividade
O professor pode solicitar aos alunos que tragam embalagens de produtos de seu consumo cotidiano e
façam uma pesquisa prévia sobre a origem da marca ou do fabricante. Em seguida, sugerimos que sejam
distribuídos mapas-mú ndi “mudos”, destacando-se neles a sede da empresa fabricante do produto.
Sobre o mapa, os alunos poderã o desenhar linhas entre esses paí ses e o Brasil ou a cidade em que se
encontram, criando recursos visuais que auxiliem na construçã o das noçõ es de globalizaçã o de consumo,
marcas e produto, e de rede. Também podem ser utilizadas imagens das mesmas logomarcas presentes
em diversos países, para auxiliar na compreensã o do tema.
Leitura complementar
O excerto apresentado a seguir apresenta reflexõ es acerca do processo de globalizaçã o e defende que ele
nã o ocorre de forma homogênea, mas seleciona agentes e espaços necessá rios à reproduçã o dos valores
ditos “globalizantes”. Assim, traz uma postura crítica em relaçã o ao discurso de que a globalizaçã o
homogeneíza o mundo.
[...] Na Globalizaçã o, o exercício dessa fluidez parece estar dependente das disponibilidades materiais e
técnicas existentes e das possibilidades de açã o entre os Sujeitos e entre os Lugares. Essa fluidez encaminha
para a solicitaçã o do novo, do diferente, da insatisfaçã o. Insatisfaçã o pelo excesso ou pela escassez. Por essa
fluidez ser diferente, somente alguns Sujeitos, Lugares e instituiçõ es sã o velozes, mas nã o é a maioria que
utiliza todas as virtualidades técnicas.
Há muitos que circulam, vivem de outra maneira, mas na Globalização, “graças à impostura ideoló gica, o fato
da minoria acaba sendo representativo da totalidade, graças exatamente à força do imaginá rio” (Santos,
Milton. Por uma outra globalização: do pensamento ú nico à consciência universal. 9. ed. Rio de Janeiro:
Record, 2002. p. 122). Assim, os portadores da velocidade tecnológica, empregando a Comunicação, procuram
persuadir os Lugares, que consideram necessá rios para a expansã o de suas necessidades, a acompanhá -los.
Com isso, as atuais compartimentaçõ es territoriais, as partes, ganham um novo ingrediente na sua
complexidade: a fluidez e velocidade do acú mulo tecnoló gico. Por serem diferentes no espaço, a fluidez e a
velocidade do acú mulo tecnoló gico tendem a fragmentar o que, teoricamente, a Globalizaçã o uniria. Aliá s, os
processos que a Globalizaçã o se propõ e parecem estar na busca da unificaçã o e nã o na existência da uniã o, o
que acarretaria novas “regiõ es”.
CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos (Org.). Ensino da Geografia: caminhos e encantos. Porto Alegre: PUC-RS, 2007. p. 63.
Pá gina 284
LIVRO
SENE, Eustá quio de. Globalização e espaço geográfico. Sã o Paulo: Contexto, 2003.
O livro traz uma abordagem geográ fica da globalizaçã o sob diferentes pontos de vista, auxiliando o
professor a entender criticamente o fenô meno e colaborando para o trabalho com diferentes visõ es da
globalizaçã o em sala de aula.
FILME
Babel. Direçã o: Alejandro Gonzá lez Iñ á rritu. Estados Unidos/México, 2006 (142 min).
Fragmentos do cotidiano de desconhecidos espalhados pelo mundo se entrecruzam, remetendo à s
conexõ es hoje estabelecidas entre distantes partes do globo.
SITE
1. Resposta pessoal. Espera-se que os alunos tenham a percepçã o de que os países nã o se inserem da
mesma forma na globalizaçã o. Há países com menor dinamismo econô mico e tecnoló gico, que têm
dificuldades em participar de transformaçõ es promovidas pela globalizaçã o; enquanto outros países
atingem grande grau de atuaçã o global, por meio de suas empresas e instituiçõ es.
1. Por meio da aná lise do mapa é possível perceber que os cabos submarinos conectam diferentes
pontos do mundo, sendo mais numerosos no hemisfério Norte. Considerando os principais pontos de
convergência da rede de cabos submarinos, observa-se maior densidade de cabos em á reas como o oeste
e o nordeste dos EUA, a América Central, a Europa e Norte da Á frica, o Sudeste Asiá tico e a costa
brasileira. Isso demonstra, principalmente, a capacidade econô mica de investimentos em infraestrutura
de comunicaçã o dos países no mundo.
2. Segundo o mapa, em 2016, o Brasil conectava-se com o mundo por meio de cabos submarinos com
terminais em: Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e Fortaleza (CE). Tais cabos têm conexõ es
diretas com os Estados Unidos, Europa, Á frica e outros países da América do Sul.
1. Nessa atividade é esperado que o aluno reflita sobre o tema cultura. Ao longo do tempo, o contato
entre povos diferentes resultou em influências culturais diversas em todos os grupos envolvidos. Um dos
aspectos mais importantes dessas trocas foi a religiã o. Em seu texto os alunos devem considerar
exemplos de diversos lugares do mundo, como a América, com a colonizaçã o europeia e a imposiçã o de
outras religiõ es, ou mesmo o sincretismo resultante da convivência entre vá rias religiõ es em um mesmo
territó rio, como ocorreu no Brasil.
1. Segundo o autor, a globalizaçã o nã o é um processo que pode ser revertido – como é possível verificar,
por exemplo, pelo trecho “nem mesmo os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 impediram a
queda dos custos dos transportes, a liberalizaçã o do comércio e a explosã o das tecnologias de
comunicaçã o que impulsionam a globalizaçã o. A globalizaçã o também gerou um mundo
demograficamente misturado [...]” e profundamente interdependente. A expressã o “teia global” – diz ele
– nunca foi tã o verdadeira. Na segunda parte da questã o, os alunos devem considerar que os países cujas
economias estã o pouco integradas correm o risco de ficar isolados política e economicamente.
2. Embora os conflitos nacionais ainda persistam no mundo atual, a possibilidade de uma guerra entre as
grandes potências é remota. A interdependência econô mica e tecnoló gica é tã o acentuada que acaba por
afastar conflitos em grande escala geográ fica, como os que ocorreram na primeira metade do século XX.
No entanto, os conflitos localizados, como as lutas interétnicas, têm sido comuns.
1. Resposta pessoal. Temas como identidade, direitos humanos, liberdade, respeito à s diferenças devem
permear a discussã o dos alunos. É interessante que a discussã o, inicialmente centrada na questã o das
mulheres, possa ser transportada para outras situaçõ es, como a luta contra a homofobia e pelos direitos
das pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais).
1. A globalizaçã o corresponde à crescente interdependência econô mica entre os países propiciada pelo
desenvolvimento técnico dos transportes e das comunicaçõ es. Nesse processo, nã o somente a economia,
mas também valores culturais sã o intercambiados em nível mundial.
2. Podem ser citados como fatores que contribuíram para o avanço da globalizaçã o: o avanço nas
tecnologias de informaçã o e comunicaçã o; o fim da Guerra Fria; a criaçã o de organismos internacionais
como o Banco Mundial e a Organizaçã o Mundial do Comércio (OMC).
Pá gina 285
3. A criaçã o de ó rgã os de regulaçã o econô mica internacional teve como objetivo evitar grandes crises
econô micas que pudessem comprometer o sistema capitalista internacional.
5. Os alunos poderã o citar: truste (fusã o de empresas que resultam em monopó lio e controle de
mercado); cartel (associaçã o, geralmente secreta, entre empresas para a determinaçã o de preços e
divisã o dos mercados); oligopó lio (controle do mercado por um nú mero reduzido de empresas);
monopó lio (controle do mercado por uma ú nica empresa, privada ou estatal); holding (grupo
empresarial que controla diversas empresas).
8. Espera-se que os alunos mencionem como característica do sistema capitalista a existência de ciclos
de expansã o e queda no ritmo de crescimento econô mico. No período de avanço da globalizaçã o, a partir
da década de 1990, vá rias crises ocorreram, inicialmente em um país ou regiã o específicos, mas
geralmente apresentaram desdobramentos globais. Nessas oscilaçõ es do sistema encontram-se também
períodos de menor e maior intervençã o do Estado na economia de mercado.
9. a) De acordo com o grá fico, Europa, Á sia e América do Norte se destacam como principais regiõ es de
comércio intrarregional.
b) É possível constatar que Europa, Á sia e América do Norte sã o as regiõ es que mais se destacam, tanto
no valor das exportaçõ es quanto das importaçõ es.
c) O grá fico demonstra a maior integraçã o mundial da produçã o e do consumo – um dos fundamentos da
globalizaçã o.
10. a) A China é uma grande beneficiá ria do processo de globalizaçã o, uma vez que expandiu a
industrializaçã o e tem obtido elevado crescimento econô mico.
b) Resposta pessoal. Apenas cuide para que os argumentos sejam coerentes. O importante nesta questã o
é que o aluno desenvolva a argumentaçã o.
11. A tendência que pode ser depreendida da notícia é a formaçã o de conglomerados para aumentar a
competitividade de empresas no mercado internacional. Possíveis consequências dessa tendência no
â mbito econô mico sã o a diminuiçã o do nú mero de empresas concorrentes e um prová vel monopó lio de
mercado, ao menos em certas regiõ es do mundo. Quanto a questõ es trabalhistas, é possível que ocorra a
demissã o de significativo nú mero de trabalhadores, em decorrência da integraçã o de empresas.
12. A partir das informaçõ es do texto e da observaçã o da fotografia, é possível afirmar que o emprego
das modernas tecnologias de telecomunicaçõ es, como as teleconferências, diminui significativamente os
custos com determinadas operaçõ es, até há pouco tempo impossíveis sem a presença física. Por exemplo,
uma empresa que possui sede na Suíça e deseja realizar uma reuniã o com seu diretor para assuntos da
América Latina, situado em Sã o Paulo, pode fazê-lo sem a necessidade de deslocamento de funcioná rios,
por teleconferência.
13. A charge trabalha com humor a desigualde de competiçã o entre as forças globalizantes e as
comunidades locais. É interessante notar o papel do á rbitro, que pode ser relacionado aos organismos
que visam controlar o sistema econô mico-financeiro internacional (como a OMC, o Banco Mundial e o
FMI).
O capítulo apresenta uma visã o crítica do processo de globalizaçã o, suscitando a reflexã o sobre as perdas
e os ganhos que tal processo trouxe a diferentes países, grupos e instituiçõ es.
No debate sobre globalizaçã o e imperialismo, cabe destacar que este ú ltimo refere-se a uma ló gica
compreendida pela metró pole e pelas colô nias ou países subordinados. O atual processo de globalizaçã o
contém aspectos de imperialismo, mas é mais abrangente, já que diversos atores, como empresas
multinacionais, grupos terroristas, ó rgã os supranacionais, instituiçõ es representantes da sociedade civil,
ultrapassam as fronteiras. A Divisã o Internacional do Trabalho torna-se mais complexa, vinculando
fortemente diversos tipos de relaçõ es e forças produtivas em todo o planeta e em distintas escalas
geográ ficas.
Sugestões didáticas
Convém diferenciar G-7, G-8 e G-20, indicando os membros de cada grupo. O G-7 é o grupo dos países
mais industrializados e desenvolvidos economicamente – Estados Unidos, Japã o, Alemanha, Reino Unido,
França, Itá lia e Canadá . Com a Rú ssia, eles formam o G-8. O Grupo dos 20 (ou G-20) é formado pelos
ministros de finanças e chefes dos bancos centrais dos 19 países com as maiores economias, mais a
Uniã o Europeia. Foi criado em 1999, apó s vá rias crises financeiras que abalaram a economia mundial.
Seu objetivo é facilitar as negociaçõ es internacionais, considerando a importâ ncia econô mica cada vez
maior de alguns países, que respondem por 85% do produto nacional bruto mundial e ainda por cerca de
80% do comércio internacional, além de abrigarem por volta de dois terços da populaçã o do mundo.
Nesse momento, podem ser exploradas as grandes discussõ es e os impasses no decorrer do Fó rum
Econô mico de Davos e a importâ ncia da participaçã o de alguns países, como o Brasil.
Pá gina 286
O Fó rum Econô mico Mundial (FEM), uma organizaçã o com sede em Genebra, é mais conhecido por suas
reuniõ es anuais em Davos, Suíça. Lá , líderes empresariais e políticos, intelectuais e jornalistas discutem
as questõ es mais urgentes enfrentadas no mundo, incluindo saú de e meio ambiente.
Para tratar do tó pico, é interessante o professor estimular a reflexã o dos alunos sobre a importâ ncia do
Estado para a manutençã o do sistema econô mico capitalista. Diante do discurso do neoliberalismo (visto
no capítulo anterior), pode-se abordar o socorro prestado pelos governos dos países desenvolvidos à s
multinacionais mais afetadas pela crise econô mica iniciada em 2008. Os Estados liberaram vultosos
investimentos para ajudar empresas em crise. A partir disso, o professor pode propor uma reflexã o: O
Estado está realmente enfraquecendo?; e, em caso de resposta afirmativa, em que aspectos isso se dá?
Esse e os demais aspectos tratados no tó pico – entre eles, a integraçã o econô mica global, as diferenças de
participaçã o dos países nos benefícios da globalizaçã o, o aumento da pobreza e da desigualdade –,
podem ser discutidos em classe por meio da leitura dialogada do texto. É interessante levar para a classe
exemplos concretos de cada aspecto e pedir aos alunos que também deem exemplos.
O boxe Ação e cidadania (p. 89) tem por objetivo problematizar as questõ es ambientais a partir da
Agenda 21 (Local e Global) e discutir o impacto da degradaçã o do meio ambiente sobre as populaçõ es
mais pobres, que sã o as mais prejudicadas. As atividades propostas trazem a questã o para o Brasil,
estimulando a reflexã o sobre os problemas socioambientais do país.
Explique que economia de mercado é o sistema econô mico apoiado pelos que defendem o liberalismo e o
neoliberalismo, no qual empresas, bancos, prestadoras de serviços, etc. podem atuar sem interferência
do governo.
O professor pode discutir a Carta de Princípios do Fó rum Social Mundial (FSM), organizado pelo Comitê
de entidades brasileiras que idealizou e organizou o primeiro Fó rum Social Mundial, realizado em Porto
Alegre em janeiro de 2001. Pode abordar ainda as principais conquistas e desafios do Fó rum Social
Mundial desde a sua criaçã o. A Carta de Princípios pode ser consultada em: <http://linkte.me/memfsm>;
acesso em: 16 maio 2016.
É interessante ainda discutir o papel das ONGs, tanto no debate das questõ es políticas quanto nas
negociaçõ es entre países. Essas organizaçõ es podem realizar açõ es junto à opiniã o pú blica e também
junto aos negociadores, procurando favorecer regulamentaçõ es em favor de maior justiça e igualdade e
em defesa do meio ambiente e das causas sociais. O professor pode indicar a pesquisa sobre a atuaçã o de
algumas ONGs atuantes no Brasil, como: WWF Brasil (Fundo Mundial para a Natureza), Projeto Tamar,
Greenpeace, Fundaçã o SOS Mata Atlâ ntica, SOS Amazô nia, Oxfam.
O boxe Ação e cidadania (p. 92) cria oportunidade para iniciar a discussã o sobre um tema
importantíssimo: o direito à diversidade, incluindo a diversidade de orientaçã o sexual. O combate à
homofobia é um assunto cada vez mais presente nos meios de comunicaçã o e na vida diá ria, já que é
necessá rio garantir os direitos das pessoas LGBT em todos os espaços de vivência, em especial na escola,
local por excelência de aprendizado e educaçã o.
Para orientar a abordagem dos assuntos referentes à s pessoas LGBT, sugerimos o site: Homofobia, do
Portal do Professor (MEC). Há vá rias sugestõ es de aulas nã o apenas sobre o tema da homofobia, mas
sobre outros aspectos da questã o da homossexualidade e dos direitos das pessoas LGBT. Destacamos a
aula “Homofobia na escola: um início de reflexã o”, onde você pode encontrar, além da pró pria aula,
muitas sugestõ es de materiais disponíveis na internet. Disponível em: <http://linkte.me/homofobia>.
Acesso em: 16 maio 2016.
• Infográfico – Causas globais, ações locais (p. 90-91)
Esse recurso didá tico permitirá identificar alguns dos movimentos antiglobalizaçã o, discutindo o fato de
que eles sã o expressã o da pró pria globalizaçã o na medida em que utilizam-se das condiçõ es materiais
disponíveis, apropriando-se de aspectos da evoluçã o técnico-científica, das tecnologias de informaçã o e
comunicaçã o, etc.
Pode-se promover o debate do conteú do da globalizaçã o nos três aspectos discutidos pelo geó grafo
Milton Santos, no livro Por uma outra globalização. Para o autor, este processo é, simultaneamente,
fá bula, perversidade e possibilidade.
A globalizaçã o enquanto fá bula refere-se ao imaginá rio e à produçã o de imagens que colocam todos a
serviço do capital, promovendo a sujeiçã o da vida social ao dinheiro e à economia.
A globalizaçã o como perversidade denota que a grande parte das pessoas perde qualidade de vida e
sofre com o aumento da desigualdade.
Por sua vez, a globalizaçã o é um processo que contém em si a possibilidade das características
anteriores, pois pode promover a consciência da humanidade, ensejando açõ es locais que se colocam
como resistência à s fá bulas e perversidades que lhes sã o intrínsecas.
O infográ fico oferece alguns exemplos, demonstrando açõ es contrá rias ao consumismo, ao desperdício, à
desigualdade e em favor da solidariedade (econô mica, inclusive).
Os alunos podem dar exemplos de experiências que conhecem nas quais conseguem identificar
resistência aos malefícios da globalizaçã o. Trata-se de uma oportunidade para debater temas como o
consumo e seu papel sobre as dinâ micas sociais e econô micas e os efeitos de iniciativas individuais e
coletivas sobre a sociedade e sobre o espaço.
Uma maneira de explorar o texto seria estabelecer uma comparaçã o entre as guerras do Vietnã e do
Afeganistã o. O Vietnã , bem antes da invasã o estadunidense (década de 1960), já tinha passado por um
longo período de guerra contra a ocupaçã o de seu territó rio. Lutou contra a ocupaçã o japonesa (durante
a Segunda Guerra Mundial) e logo a seguir empreendeu uma vitoriosa luta de independência contra a
França.
Nas décadas de 1960 e 1970, os vietnamitas venceram a guerra contra os Estados Unidos. No
Afeganistã o, os rebeldes enfrentaram e venceram as forças soviéticas nas décadas de 1980 e 1990.
Assim, tanto o Vietnã quanto o Afeganistã o venceram grandes potências. Uma diferença clara entre os
dois países é o fato de o Afeganistã o nã o ter um governo central forte, mas ser governado por chefes
regionais.
Pá gina 287
Além disso, o Talibã baseia-se na religiã o, e os rebeldes vietcongues eram guerrilheiros com forte
motivaçã o política: unificar o Vietnã sob regime socialista.
Atividade complementar
Descrição da atividade
Sugerimos que o professor solicite a seus alunos a realizaçã o de uma pesquisa em livros, revistas e sites
a respeito da influência e importâ ncia dos grupos G-7, G-8 e G-20 no cená rio mundial. A pesquisa pode
ser orientada a partir das seguintes questõ es:
• Qual é a influência da crise econô mica mundial que se iniciou em 2008 sobre os grupos em questã o?
• Qual dos três grupos foi mais afetado negativamente com a crise econô mica e qual foi o que mais
cresceu em importâ ncia? Por quê?
• Como a emergência de novas potências regionais afeta a dinâ mica político-econô mica internacional?
Essa proposta tem como objetivo propiciar a reflexã o dos alunos acerca da complexidade econô mica
global e do aumento da interdependência financeira que compõ e o processo de globalizaçã o. A partir de
2008, em um contexto de crise econô mica com efeitos globais, o G-20 ganhou importâ ncia como fó rum
de discussõ es para questõ es financeiras entre diferentes países, que anteriormente estavam mais
restritas ao â mbito do G-7.
Leituras complementares
• Leitura 1
O trecho a seguir, extraído da obra do geó grafo Milton Santos, ilustra sua ideia de que a humanidade
pode caminhar para uma outra globalizaçã o, a partir da participaçã o popular em grande escala. Em
outras palavras, o chamado período popular seria aquele em que a maior parte da populaçã o seria a
verdadeira protagonista da globalizaçã o.
Para a maior parte da humanidade, o processo de globalizaçã o acaba tendo, direta ou indiretamente, influência
sobre todos os aspectos da existência: a vida econô mica, a vida cultural, as relaçõ es interpessoais e a pró pria
subjetividade. Ele nã o se verifica de modo homogêneo, tanto em extensã o quanto em profundidade, e o
pró prio fato de que seja criador de escassez é um dos motivos da impossibilidade da homogeneização. Os
indivíduos nã o sã o igualmente atingidos por esse fenô meno, cuja difusão encontra obstá culos na diversidade
das pessoas e na diversidade dos lugares. Na realidade, a globalizaçã o agrava a heterogeneidade, dando-lhe
mesmo um cará ter ainda mais estrutural.
Uma das consequências de tal evoluçã o é a nova significaçã o da cultura popular, tornada capaz de rivalizar
com a cultura de massas. Outra é a produçã o das condiçõ es necessá rias à reemergência das pró prias massas,
apontando para o surgimento de um novo período histó rico, a que chamamos de período demográ fico ou
popular.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 142-143.
• Leitura 2
O texto a seguir, escrito pelo soció logo e demó grafo George Martine, aborda as perdas e os ganhos do
processo de globalizaçã o quando sã o consideradas as assimetrias entre seus diferentes atores.
A atual fase da globalização e suas assimetrias: impactos sobre a pobreza
Trabalho recente da Comisió n Econó mica para América Latina – Cepal [...] abre uma discussã o fundamental a
respeito dos atuais rumos da globalizaçã o e de suas implicaçõ es para o desenvolvimento dos países nã o
industrializados. A importâ ncia principal desse trabalho reside no fato de que, pela primeira vez (salvo
engano), uma agência internacional de desenvolvimento reconheceu, clara e explicitamente, algumas
limitaçõ es do modelo liberal e do processo de globalizaçã o.
No trabalho referido, a Cepal3 afirma com todas as letras que os países ricos começam o jogo econô mico
mundial nessa etapa da globalizaçã o em condiçõ es de claras vantagens:
a economia mundial é um “campo de jogo” essencialmente desnivelado, cujas características distintivas são a
concentração do capital e a predominância no comércio de bens e serviços. Essas assimetrias características da
ordem global constituem a base das profundas desigualdades internacionais em termos de distribuição de renda.
Tais vantagens só tendem a aumentar com o tempo, pois os mecanismos de mercado geralmente reproduzem,
e inclusive ampliam, as desigualdades existentes nos planos nacional e internacional. Assim, a conjugaçã o de
uma ampliaçã o moderada das desigualdades internacionais e do notó rio incremento das desigualdades
internas dos países é “uma das características mais distintivas da terceira (e atual) fase de globalizaçã o”.
Numerosos estudos recentes, realizados pelo Banco Mundial, destacam os efeitos negativos dessa
desigualdade no crescimento econô mico.
Nesse contexto, comenta a Cepal, os esforços nacionais de desenvolvimento e de reduçã o da pobreza somente
podem dar frutos se eles estiverem
complementados por regras de jogo equitativas e estáveis, e por uma cooperação internacional destinada a pôr
fim às assimetrias básicas que caracterizam a ordem mundial.
[...]
O princípio de que o comércio entre países deveria ser guiado pelos preços de mercado é
sistematicamente atropelado pelos países desenvolvidos quando estes: subsidiam a produçã o –
notadamente na agricultura; impõ em restriçõ es, quotas e tarifas à s importaçõ es; e praticam o dumping
de seus produtos. [...]
Cria-se a ilusã o de que os vá rios países soberanos sã o parceiros igualitá rios na busca do desenvolvimento e do
bem-estar, mas a realidade é bem diferente. Os mais fortes, particularmente os Estados Unidos da América e,
em grau menor, a Uniã o Europeia, arrumam as coisas à sua maneira, promulgam seus pró prios valores como
sendo universais, consultam seus aliados quando isso lhes interessa, usam a força para defender seus
interesses (como recentemente em Kosovo, no Afeganistã o e no Iraque), adotam posturas de política
internacional claramente incoerentes com a paz mundial (como no Oriente Médio), e justificam tudo isso em
termos de “princípios éticos elevados”.
3
1 As notas da edição original foram suprimidas.
Pá gina 288
Segundo Milanovic, isso nã o deveria nos surpreender porque o imperialismo faz parte integral da globalizaçã o.
A globalização não é um processo no qual a maioria dos países participa em pé de igualdade, realizando
igualmente atividades de intercâmbio e produção. A globalização somente emerge quando um hegemônico
garante estradas e mares seguros para que muitos possam exercer atividades de comércio e investimento. Mais
adiante, Milanovic pergunta:
Até onde o hegemonia atual vai entrar na senda do imperialismo? Já podemos observar uns sinais claros: o quase
total desprezo pelas Nações Unidas, ou melhor, o fato da ONU ter se transformado em um instrumento da política
norte-americana e, quando é inconveniente, é simplesmente ignorada; a falta de respeito aos tratados e
documentos; a disposição dos EUA para atuar de forma unilateral ou de arrastar seus aliados reticentes, numa
ostentação de unidade.
Uma terceira inconsistência diz respeito à validade da pró pria promessa do desenvolvimento via abertura de
fronteiras. A Cepal
rechaça o uso normativo do conceito (de globalização) que ressalta a ideia de uma única via possível – a
liberalização plena dos mercados mundiais e a integração a eles como o destino inevitável e desejável de toda a
humanidade.
Numa aná lise estatística da experiência dos países em desenvolvimento no campo do crescimento econô mico
desde 1975, Rodrik descobriu que os dois fatores mais importantes no ritmo de crescimento econô mico de um
país têm sido: o nível de investimento interno e a capacidade do governo de manter a economia doméstica
está vel no meio das turbulências da economia global. Manter a inflaçã o sob controle e assegurar uma taxa de
câ mbio em patamares realistas eram também fatores importantes. Entretanto, o grau de abertura ao comércio
e às finanças internacionais nã o era, de per se, significativo. Esse tipo de constataçã o reforça as desconfianças
que se projetam sobre as intençõ es dos países desenvolvidos quando se empenham tanto na abertura das
fronteiras dos países em desenvolvimento.
A quarta incoerência – e um dos maiores obstá culos ao crescimento econô mico de muitas naçõ es – diz
respeito ao peso da impagá vel e eterna dívida externa dos países em desenvolvimento. Depois do fracasso das
morató rias, ficou até deselegante falar nesse tema; no Brasil, a dimensã o e a pujança da economia nacional
atual permitem deixar de lado esse problema no momento. Entretanto, muitos outros países continuam
sufocados com o pagamento obrigató rio de uma parcela significativa do seu produto nacional. Uma das
alegaçõ es principais para nã o perdoar essas dívidas impagá veis é a de que isso estimularia a
irresponsabilidade entre os governantes dos países em desenvolvimento. De fato, na América Latina, estima-se
que o aumento na dívida externa entre 1976-1984 foi equivalente à emigraçã o de capitais privados da regiã o
para as capitais financeiras.
Sem embargo, o fato de que os empréstimos teriam sido feitos de maneira irresponsá vel ou corrupta nã o pode
ser atribuído exclusivamente aos dirigentes dos países mais pobres. É conveniente esquecer que tais
dirigentes eram, muitas vezes, meros títeres colocados e apoiados no poder pelos países hegemô nicos.
Também o mundo se esquece de que os líderes dos países em desenvolvimento eram estimulados a contrair
tais empréstimos em conivência com os interesses políticos e econô micos dos donos do dinheiro. As agências
frequentemente emprestavam dinheiro por razõ es que pouco tinham a ver com o “apoio ao desenvolvimento”.
Na época da Guerra Fria, procuravam assegurar alianças geopolíticas. Em todas as épocas, a perspectiva de
vender armas, equipamentos, tecnologia ou mercadorias motiva a oferta de empréstimos a governos que
pouco se importam com a dimensão da dívida contraída. Nessas transaçõ es, nem o credor e nem o tomador de
empréstimos se preocupa com a responsabilidade eventual dos pagamentos, ou seja, a corrupção vem de
ambos os lados.
Finalmente, os discursos altivos daqueles que nã o querem perdoar a dívida nã o se recordam de que as regras
do jogo financeiro são ditadas pelos credores. Nessas, os juros mínimos acordados no momento do
empréstimo podem, de repente, inflacionar-se por motivo dos desmandos financeiros dos pró prios países
desenvolvidos. Enquanto isso, os preços dos principais produtos de exportaçã o dos países devedores caem
assustadoramente – também por manipulaçã o dos países credores.
Uma quinta assimetria, nesse caso sugerida pela Cepal, refere-se à altíssima concentraçã o do progresso técnico
nos países desenvolvidos. Neles se concentram, nã o somente a pesquisa, mas também as ramas produtivas
vinculadas aos câ mbios tecnoló gicos, os quais se caracterizam por um grande dinamismo na estrutura
produtiva e no comércio mundial. A transferência do progresso técnico aos países em desenvolvimento é lenta,
irregular e cara, cada vez mais acastelada pelas normas de proteção à propriedade intelectual.
Uma sexta assimetria, novamente descrita pela Cepal, refere-se à maior vulnerabilidade macroeconô mica dos
países em desenvolvimento aos choques externos. A maior integraçã o financeira característica do atual
processo de globalizaçã o multiplica essa vulnerabilidade. Por exemplo, a crise asiá tica de 1998 começou na
Tailâ ndia e expandiu-se rapidamente para o restante das economias do Sudeste da Á sia. As moedas
internacionais pertencem aos países desenvolvidos e fluem para os outros de forma cíclica, em funçã o da
percepçã o do cará ter arriscado de investimentos nestes. Isso tem efeito significativo na alternâ ncia dos ciclos
de crise e de bonança nos países em desenvolvimento.
MARTINE, George. A globalizaçã o inacabada: migraçõ es internacionais e pobreza no sé culo 21. São Paulo em Perspectiva, v.
19, n. 13. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-88392005000300001>. Acesso em: 16 maio 2016.
SITES
ATTAC
Site em língua portuguesa da ATTAC, organizaçã o nã o governamental presente em vá rios continentes
cujo objetivo principal é a crítica à globalizaçã o e o combate à s políticas neoliberais. Disponível em:
<http://linkte.me/attacpt>.
Pá gina 289
Le Monde Diplomatique
Site brasileiro da publicaçã o lançada na França em 1954 e que atualmente é impressa em 25 idiomas.
Seus artigos se caracterizam pelo jornalismo crítico, sobretudo quanto aos temas sobre a globalizaçã o.
Disponível em: <http://linkte.me/lemonde>.
LIVRO
HAESBAERT, Rogério; PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A nova des-ordem mundial. Sã o Paulo: Ed. da
Unesp, 2006.
O livro trata de diferentes aspectos da ordem mundial contemporâ nea, sob a ó ptica de vá rios ramos da
Geografia, e traz um histó rico do processo de globalizaçã o. Com uma leitura crítica, os diferentes
aspectos sã o abordados de forma a promover uma reflexã o e propor novos caminhos para a
globalizaçã o.
FILMES
O banqueiro dos humildes. Direçã o: Amirul Arham. França/ Índia, 2000 (52 min).
O documentá rio mostra a iniciativa de um economista indiano que concede empréstimos a pessoas
pobres, com prioridade à s mulheres, possibilitando o acesso ao capital à queles que normalmente teriam
crédito negado em grandes instituiçõ es financeiras.
The Corporation. Direçã o: Jennifer Abbott e Mark Achbar. Canadá , 2003 (145 min).
O filme traz um histó rico sobre as grandes corporaçõ es econô micas desde o século XIX até os dias de
hoje e um contraponto a sua atuaçã o a partir de movimentos antiglobalizaçã o. Interessante para a
reflexã o em sala de aula a respeito da atuaçã o de empresas globais e da resistência a elas.
1. O domínio europeu entre os séculos XVII e XX estendeu-se por quase todo o planeta. Incluiu: Á frica,
América, Oceania e Á sia. Destaca-se, porém, como á rea fora do domínio europeu o norte da Á sia,
territó rio atualmente pertencente à Rú ssia.
2. A expansã o da hegemonia dos Estados Unidos tem origem na costa leste, seguindo a direçã o oeste no
territó rio que hoje corresponde ao pró prio país. A expansã o seguiu em direçã o à s ilhas do Pacífico e ao
Leste asiá tico; incluiu também o oeste da Á frica (Libéria) e a América do Sul (por meio de expediçõ es e
intervençõ es militares no século XIX).
3. No mapa, os Estados Unidos ocupam posiçã o central, e da costa leste do país partem os eixos de
expansã o do império estadunidense. Tal regiã o foi á rea de extensã o colonial da Grã -Bretanha no auge do
poder hegemô nico britâ nico e constituiu-se como centro da expansã o do Império americano
(estadunidense) nos séculos XVII e XVIII. Ressalta-se ainda hoje a importâ ncia político-econô mica desta
á rea do país, na qual localiza-se, por exemplo, uma das cidades globais mais relevantes (Nova Iorque) e
Washington, D.C., capital estadunidense.
1. Resposta pessoal. Discuta com os alunos as possíveis questõ es que podem motivar protestos no lugar
em que vivem. Essa é uma oportunidade para abordar o direito à manifestaçã o como conquista
democrá tica, garantida pela Constituiçã o federal. É preciso destacar, porém, que o direito de manifestar
nã o pode infringir outros direitos previstos na Constituiçã o. Além disso, vale ressaltar a proibiçã o do
anonimato em atos de protesto, visto que isto pode ser associado a atos de vandalismo e violência.
1. Estimule os alunos a discutir as questõ es do meio ambiente nã o apenas de maneira teó rica, mas
abordando problemas existentes em seus locais de vivência, o que reforça a relevâ ncia da Agenda 21
Local. Explique que, além desta, há também a Agenda 21 Global, composta de planos que envolvem o
comprometimento governamental e de outros setores da sociedade. Entre os objetivos das Agendas,
estã o listadas: prá ticas sustentá veis em cidades, combate à pobreza, promoçã o das condiçõ es de saú de
humana, meios de integrar o planejamento e gerenciamento dos recursos terrestres, manejo de resíduos
tó xicos, entre tantos outros. Para aprofundar-se sobre o tema, recomendamos a consulta ao site do
Ministério do Meio Ambiente sobre a Agenda 21: <http://linkte.me/agenda21>. Acesso em: 21 maio
2016.
1. Nas discussõ es, fique atento para que eventuais manifestaçõ es de preconceito nã o sejam aceitas. É
necessá rio sempre discutir e encaminhar a reflexã o da turma no sentido do respeito e da solidariedade
para com as diversas expressõ es da sexualidade (reveja também as sugestõ es didá ticas para o texto das
pá ginas 89-92).
1. Espera-se que o aluno seja capaz de demonstrar uma perspectiva histó rica do poder mundial,
estabelecendo as características que esse poder assumiu em períodos como o imperialismo do século
XIX, a ascensã o dos Estados Unidos no século XX, a bipolaridade mundial da Guerra Fria, a hegemonia
estadunidense contestada nas ú ltimas décadas e a possível reestruturaçã o do poder em bases
multilaterais nos dias de hoje.
1. Entre os significados mais correntes do termo “imperialismo”, podemos citar aquele relacionado à
dominaçã o que os mais poderosos Estados nacionais impuseram aos territó rios colonizados, num
processo que se iniciou com as Grandes Navegaçõ es e se consolidou apó s a Revoluçã o Industrial, em
especial no século XIX. Contudo, mais recentemente, o termo vem sendo utilizado para denominar a
imposiçã o de modelos econô micos e a supremacia dos países mais ricos sobre os mais pobres.
2. As potências imperialistas europeias tiveram sua hegemonia enfraquecida a partir das duas grandes
guerras mundiais. Com a Europa destruída pelas guerras, os Estados Unidos estabeleceram-se à frente
da economia capitalista em escala mundial.
Pá gina 290
3. Nã o é possível afirmar que a grande ascensã o de países emergentes como a China e a Índia tenha
rompido a dominaçã o dos países desenvolvidos, pois as regras da economia mundial, principalmente
aquelas estabelecidas por organismos como o Fundo Monetá rio Internacional (FMI), o Banco Mundial e a
Organizaçã o Mundial do Comércio (OMC), ainda sã o favorá veis à tríade formada por Estados Unidos,
Uniã o Europeia e Japã o.
4. O Fó rum Econô mico Mundial de Davos reú ne grandes líderes de empresas multinacionais e países
ricos, preocupando-se com o bom andamento da economia capitalista. Já o Fó rum Social Mundial
caracteriza-se por agrupar movimentos sociais que lutam pelos mais diversos direitos (como maior
igualdade social, preservaçã o do meio ambiente, direito das minorias, diversidade cultural, etc.) e, em
ú ltima aná lise, por uma outra globalizaçã o (sem graus de dominaçã o entre as naçõ es), pela busca de
soluçõ es alternativas para os problemas do planeta.
5. As ONGs sã o Organizaçõ es Nã o Governamentais que atuam nos setores de saú de, educaçã o, meio
ambiente, direitos humanos, entre outros. Muitas delas dedicam-se ao atendimento de necessidades que
os Estados nã o suprem suficientemente, ou à quelas relacionadas com catá strofes ou conflitos.
6. Alguns dos fatores que podemos citar para a ascensã o dos Estados Unidos como potência sã o: o
imperialismo nas formas de dominaçã o ou influência econô mica, política e cultural, principalmente na
América Latina e no Caribe; a perda de hegemonia por parte da Europa na Segunda Guerra Mundial; a
intervençã o e a participaçã o em diversos conflitos militares, que contribuiu para o desenvolvimento de
uma forte indú stria bélica no país e para sua supremacia militar.
8. a) Para o autor, tanto o Estado nacional quanto outros grupos e instituiçõ es (classes sociais, partidos,
movimentos sociais) continuam existindo e atuando, mas a globalizaçã o lhes dá novos significados e
possibilidades. O aluno poderá citar alguns exemplos vistos até aqui, como os movimentos de defesa dos
direitos das mulheres e o movimento LGBT, que ganharam cará ter internacional; os movimentos
populares contra a crise econô mica; o Fó rum Social Mundial; os movimentos de defesa do meio
ambiente.
b) O avanço do processo de globalizaçã o contribuiu para a difusã o pelo mundo de movimentos sociais
específicos para determinados temas ou grupos, por exemplo, defesa do meio ambiente, direitos das
mulheres ou das pessoas LGBT, entre outros. As redes de informaçã o permitem a divulgaçã o das ideias e
das estratégias dos movimentos, tornando-os mundiais.
9. O mapa apresenta certa desconcentraçã o das fontes de receitas corporativas (lucratividade das
empresas), ou seja, os países da Europa Ocidental, bem como Estados Unidos e Canadá , Japã o e Coreia
passaram a representar uma menor parcela no mercado mundial em 2013, em comparaçã o a 1980,
enquanto outros países emergentes, especialmente a China, mas também outros países da Á sia, Leste da
Europa e da América Latina aumentaram sua presença no comércio global. Esse processo marca certa
redistribuiçã o da produçã o e do consumo em nível mundial, fato que caracteriza a globalizaçã o.
A formaçã o dos blocos econô micos realiza-se em um contexto de globalizaçã o, em que a regionalizaçã o
econô mica tem o objetivo de garantir a competitividade dos países em escala mundial. Para iniciar o
conteú do deste capítulo convém conceitualizar os blocos econô micos. Tratam-se de organismos
intergovernamentais que visam facilitar as trocas econô micas entre os países integrantes.
Geralmente, os blocos econô micos enfocam a circulaçã o de mercadorias e capitais; alguns incluem a
circulaçã o de pessoas. Acordos sobre taxaçã o à s importaçõ es e exportaçõ es sã o alguns dos exemplos que
se pode citar sobre as negociaçõ es no â mbito dos blocos econô micos; vale ressaltar, porém, que os
acordos dependem do nível de integraçã o dos blocos.
O diagrama que consta na abertura de capítulo (p. 96) apresenta a composiçã o dos blocos econô micos do
continente americano em 2015.
Pá gina 291
Sua leitura em sala poderá auxiliar a compreensã o do fenô meno de estabelecimento de acordos
internacionais e serve como exercício de interpretaçã o grá fica para os alunos. Se julgar conveniente,
sugira a elaboraçã o de um diagrama atualizado ou que aborde outras regiõ es do espaço mundial.
Sugestões didáticas
Os blocos econô micos podem ser classificados de acordo com o objetivo de sua integraçã o. O Nafta é um
caso de acordo de livre-comércio, enquanto o Mercosul constitui um mercado comum e a Uniã o Europeia
caracteriza uma uniã o monetá ria. Sugere-se que o professor ofereça outros exemplos para discutir o
assunto.
As questõ es relativas à migraçã o podem complementar o tó pico, sobretudo de pessoas provenientes dos
países africanos, latino-americanos e á rabes, bem como os contextos de xenofobia resultantes dessas
migraçõ es. Ao mesmo tempo que a Uniã o Europeia (UE) enfraquece suas fronteiras internas entre
Estados nacionais, reforça suas fronteiras externas, ou seja, aquelas entre a UE e os países externos ao
bloco.
O boxe Saiba mais (p. 98) pode ser utilizado para enfatizar a expansã o da UE em direçã o aos países do
Leste Europeu, que ocupavam uma posiçã o antagô nica ao bloco ocidental no período da Guerra Fria.
Essa expansã o se deu por motivos políticos e econô micos: em primeiro lugar, para conter a expansã o da
á rea de influência da Rú ssia; em segundo, pelo fato de os países do Leste Europeu atraírem indú strias em
razã o da presença, nessa regiã o, de mã o de obra barata e direitos trabalhistas menos restritivos.
Para tratar o tema deste tó pico, podem ser discutidas questõ es relacionadas ao Mercosul, como a
possibilidade de livre circulaçã o de pessoas entre países do bloco. O bloco possui ainda alguns
problemas, como a falência de indú strias nacionais na Argentina em decorrência da entrada de
eletrodomésticos brasileiros, fato que reforça as barreiras impostas pelo país aos produtos brasileiros.
O mapa “Blocos dos países americanos (2015)” (p. 100) colabora na identificaçã o da abrangência
territorial de cada bloco econô mico no continente americano. Discuta as desigualdades econô micas e
sociais que caracterizam a América associando a isso as dificuldades e desafios enfrentados pelos blocos
econô micos.
Para o estudo da Comunidade de Estados Independentes (CEI), sugere-se o destaque que seu surgimento
se relaciona intimamente à dissoluçã o da URSS. Na discussã o sobre a Asean e a Apec, é importante que se
estimule a leitura e interpretaçã o dos mapas “A regiã o da Asean (2015)” e “Países que compõ em a Apec
(2015)” (p. 101). Neste ú ltimo, chame a atençã o para o oceano Pacífico como rota de comércio de
produtos dos países integrantes do bloco. Com a ampliaçã o da participaçã o dos países asiá ticos na
economia internacional, a tendência é que o Pacífico ganhe maior importâ ncia para as rotas marítimas
comerciais.
Sobre a criaçã o da Parceria Transpacífico, é importante salientar que envolve países que, em conjunto,
sã o responsá veis por 40% da produçã o mundial. Além desta relevâ ncia econô mica, o bloco se constitui
em uma estratégia geopolítica, que tem por objetivo atenuar a relevâ ncia da China na regiã o.
Para complementar o texto oferecido nessa seçã o, recomendamos que forneça mais informaçõ es que
constam no texto a seguir.
Atividade complementar
Sugerimos uma atividade na qual os alunos vã o tomar posiçã o sobre a participaçã o do Brasil e as
relaçõ es políticas entre os países-membros do Mercosul. O objetivo da atividade proposta é estimular o
desenvolvimento de procedimentos relacionados à argumentaçã o, clareza de exposiçã o e respeito à
opiniã o do outro, relacionando-os aos conteú dos estudados no capítulo.
Pá gina 292
Descrição da atividade
Recomendamos que a turma seja dividida em três grandes grupos: um defendendo a participaçã o do
Brasil no bloco, o outro colocando-se contra a participaçã o, e um terceiro, como grupo de observadores,
cuja funçã o será anotar os argumentos dos dois grupos e analisá -los. Para os três grupos há um trabalho
inicial de pesquisa sobre o Mercosul e o papel do Brasil (relaçõ es comerciais e diplomá ticas em relaçã o
aos outros membros).
Apó s as pesquisas, em dia previamente marcado, a sala deverá ser arrumada com os dois grupos (pró e
contra) sentados um de frente para o outro. Os observadores formarã o um círculo externo para observar
o debate. As regras devem ser explicitadas antes do início da atividade: sorteio do grupo que inicia (1),
que terá 5 minutos para exposiçã o, e réplica de 5 minutos do outro grupo (2). Nova rodada, agora com
exposiçã o do grupo 2 e réplica do grupo 1. A critério do professor, poderá ocorrer nova rodada.
Cabe lembrar que o aluno nã o precisa necessariamente defender sua posiçã o pessoal – o exercício pode
mesmo ser mais desafiador se os alunos forem orientados a pesquisar e defender a posiçã o contrá ria à
deles mesmos.
É importante que ao final da aula cada aluno seja orientado a escrever uma reflexã o pessoal sobre o
assunto, em vista do que foi pesquisado e discutido. Esse pequeno texto pode ser uma tarefa para casa.
Leitura complementar
A formaçã o de blocos econô micos é uma das tendências contemporâ neas do capitalismo, dada a
necessidade de os países fazerem frente à economia globalizada. No texto a seguir, os geó grafos Rogério
Haesbaert e Carlos Walter Porto-Gonçalves abordam a formaçã o de blocos econô micos em diferentes
regiõ es do globo e o frustrado processo de criaçã o da Alca. Embora esse projeto tenha ficado inconcluso,
sua aná lise ajuda a entender que, além das razõ es econô micas, importantes interesses políticos
permeiam a formaçã o e ampliaçã o dos blocos.
A ideia da formação de grandes blocos econô micos começa apó s as Grandes Guerras Mundiais, justamente em
uma tentativa de retirar poder de Estados, especialmente de maior vocaçã o beligerante, e garantir a paz e o
crescimento em um período de grave crise econô mica. A iniciativa de maior sucesso até hoje foi também a
primeira a se consolidar: a da Uniã o Europeia, que começou como mera entidade econô mica setorial – a Ceca
(Comunidade Europeia do Carvã o e do Aço) –, e se expandiu por toda a economia como “Comunidade
Econô mica Europeia”, até atingir a atual conformaçã o que incorpora ainda uma forte dimensã o político-
institucional. No caso europeu, tratava-se também de fazer frente ao crescimento do poderio norte-americano
e soviético (depois japonês) no cená rio internacional, dentro das disputas intercapitalistas por hegemonia.
É interessante verificar, como mais uma prova do cará ter ambivalente e contraditó rio da reproduçã o
capitalista, que, ao mesmo tempo em que se fortalecia o neoliberalismo econô mico, estruturavam-se grandes
blocos econô micos ou mercados comuns continentais. Assim, surgem nos anos 1980-90 o Nafta (North
American Free Trade Agreement), Acordo Americano de Livre Comércio, reunindo Estados Unidos, Canadá e
México; o Mercosul, entre Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai; e a Asean (Associação das Naçõ es do Sudeste
Asiá tico), cuja natureza político-militar inicial se amplia na esfera econô mica. Vá rias outras associaçõ es
menores sã o criadas ou reestruturadas ao longo do globo, como o Pacto Andino e o Mercado Comum Centro-
Americano, na América Latina, a SADC (Comunidade de Desenvolvimento da Á frica Austral), o Magreb e a
associaçã o dos países da Á frica Ocidental, no caso da Á frica, etc.
A mobilizaçã o atual pela ampliaçã o de alguns desses blocos mostra que a competiçã o intercapitalista continua
acirrada, cada potência (econô mica e político-militar) mundial ou regional tenta manter seu “controle” (pelo
menos em termos comerciais) de seus parceiros privilegiados. É nessa tá tica que se inclui a polêmica
construçã o da Alca (Á rea de Livre Comércio das Américas), sob os auspícios dos Estados Unidos e apoio claro
de Canadá e México, que, como parceiros do Nafta, praticamente já acertaram suas contas no jogo de perdas e
ganhos na conformação de um mercado comum. Trata-se sobretudo de garantir o controle sobre mercados
privilegiados e tidos como parceiros “naturais” na geopolítica mundial.
É muito interessante observar que, mesmo sendo blocos claramente voltados para o estímulo das atividades
econô micas e a acumulaçã o de capital, há sempre, também, fortes interesses políticos em jogo. O fato de Cuba
ficar de fora do projeto da Alca é um exemplo claro de como interesses políticos e econô micos se mesclam e
interferem um no outro, mesmo em iniciativas tidas como eminentemente econô micas. Por trá s da Alca
encontra-se embutida, embora nã o de forma explícita, a intençã o geopolítica norte-americana de manter um
controle mais seguro sobre o seu “quintal” latino-americano, que, integrado economicamente, tenderia a
resistir menos em termos de desdobrar projetos políticos pró prios, pela perda de autonomia das políticas
econô micas nacionais. Por outro lado, a retó rica neoliberal dos “mercados livres” e/ou da ampliaçã o de
mercados (sempre a favor de economias já privilegiadas) acompanha como pano de fundo a ampliaçã o dos
grandes blocos econô micos.
É evidente que, mudando ou nã o a escala da gestã o (com a inserçã o de novos níveis supranacionais como os
dos “blocos” e os das ONGs – organizaçõ es nã o governamentais), o Estado ainda mantém funçõ es muito
importantes. Mesmo no â mbito econô mico, onde perde poder para as grandes corporaçõ es nos níveis local e
global, o aparato estatal continua com uma funçã o relevante na medida em que procura exercer controle
(bastante variá vel segundo o país) sobre a moeda, os juros e as taxas de câ mbio, a jurisdição da propriedade da
terra (além de possuir vastas á reas sob sua gestã o direta, sobretudo á reas militares), a manutençã o de
subsídios em setores estratégicos (ou com lobbies muito fortes) e o controle, direto ou indireto, de recursos
energéticos [...].
HAESBAERT, Rogé rio; PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A nova des-ordem mundial. Sã o Paulo: Unesp, 2006. p. 57-59.
Pá gina 293
LIVRO
SITES
Indicamos a seguir os sites oficiais de alguns blocos econô micos, onde é possível acessar indicadores
socioeconô micos, textos, documentos e mapas dos respectivos grupos internacionais.
APEC
Site da Cooperaçã o Econô mica da Á sia e do Pacífico (Apec). Em inglês. Disponível em:
<http://linkte.me/APEC>.
ASEAN
Site da Associaçã o de Naçõ es do Sudeste Asiá tico ( Asean). Em inglês. Disponível em:
<http://linkte.me/ASEAN>.
NAFTA
O site do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) permite navegaçã o em espanhol.
Disponível em: <http://linkte.me/NAFTA>.
SADC
Site da Comunidade de Desenvolvimento da Á frica Austral (SADC). Em inglês. Disponível em:
<http://linkte.me/SADC>.
Uniã o Europeia
Site em português da Uniã o Europeia (UE). Disponível em: <http://linkte.me/UE>.
1. Em 2015, o Caricom era o bloco com maior nú mero de países, sendo composto de 15 membros
localizados na América Central.
2. Brasil: Mercosul; Estados Unidos: Nafta; Cuba: Alba-TCP; México: Aliança do Pacífico e Nafta; Chile:
Aliança do Pacífico; Colô mbia: Aliança do Pacífico e CAN; Argentina: Mercosul. O objetivo da atividade é
exercitar a leitura do diagrama. Sugerimos que a composiçã o dos blocos seja confirmada na ocasiã o do
estudo, uma vez que está permanentemente sujeita à integraçã o de novos membros e desacordos
políticos.
3. O Caricom reú ne os países da regiã o do Caribe, marcados pela pequena expressividade econô mica,
pelo reduzido tamanho de seus respectivos territó rios, pela restrita disponibilidade de recursos naturais
e pela baixa escala produtiva. A inserçã o deste grupo de países na Divisã o Internacional do Trabalho é
marcada pela exportaçã o de produtos primá rios. A constituiçã o do bloco incrementa a capacidade de
negociaçã o da regiã o no comércio internacional e contribui para o comércio entre seus membros.
2. Resposta pessoal. A questã o tem como objetivo incentivar o aluno a refletir sobre o que é ser cidadã o
no Brasil (direitos, deveres, obstá culos a superar) e ampliar esse conceito para o bloco.
1. Apó s as duas guerras mundiais, a crise de 1929 e a passagem por regimes totalitá rios (fascismo na
Itá lia, nazismo na Alemanha, e stalinismo na antiga Uniã o Soviética), a Europa estava devastada. Assim,
os países europeus decidiram reconstruir suas economias com base na cooperaçã o, criando a
Comunidade Econô mica Europeia (CEE), que viria a se tornar a Uniã o Europeia (UE). Vale lembrar que
seu antecedente foi a Comunidade Europeia do Carvã o e do Aço (Ceca), constituída por Bélgica, Países
Baixos, Luxemburgo, Alemanha Ocidental, França e Itá lia.
2. O ano de 2004 teve especial significado para a ampliaçã o da Uniã o Europeia em decorrência da sua
expansã o para os países do Leste Europeu, antes satélites da antiga Uniã o Soviética. Essa expansã o teve
como finalidades principais ampliar a á rea de influência do bloco e expandir os mercados consumidores
das grandes empresas da Europa Ocidental, além de dispor de mã o de obra de menor custo.
3. A Uniã o Europeia encontra-se em um está gio mais avançado de integraçã o econô mica do que o
Mercado Comum do Sul (Mercosul). Enquanto a primeira está em uma fase de uniã o monetá ria – com a
coordenaçã o das políticas econô micas dos países-membros, além da criaçã o de um banco para emitir
uma moeda comum (o euro) –, o Mercosul está na fase de uniã o aduaneira, com a adoçã o progressiva de
tarifa externa comum, além da eliminaçã o das barreiras alfandegá rias de seus produtos e a livre
circulaçã o de pessoas, mercadorias e serviços dentro do bloco.
4. A Aliança do Pacífico, formada por Chile, Peru, Colô mbia e México, constitui uma á rea de livre
circulaçã o de bens, serviços, capitais e pessoas, objetivando enfrentar a concorrência da China. Para
ampliar as relaçõ es entre os países-membros, reforçará a integraçã o energética e de transportes entre
esses países.
5. O principal motivo foi a oposiçã o ao projeto especialmente por parte dos movimentos sociais latino-
americanos, que eram contra a ampliaçã o do poder dos Estados Unidos sobre a América Latina.
6. a) As mobilizaçõ es populares eram protestos contra as medidas tomadas pelos governos para
enfrentar a crise econô mica. Essas medidas atingiam setores como saú de, educaçã o e previdência social.
b) Entre os que passaram maiores dificuldades destacam-se Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda.
7. a) A Associaçã o de Naçõ es do Sudeste Asiá tico (Asean) abrange o Sudeste Asiá tico e tem como
objetivo principal o desenvolvimento e a estabilidade econô mica da regiã o.
Pá gina 294
8. No Mercado Comum do Sul (Mercosul), somente Brasil e Argentina integram o G-20 (grupo de países
com as maiores economias desenvolvidas e emergentes do globo), o que contrasta com o Acordo de Livre
Comércio da América do Norte (Nafta), que tem todos os seus membros como integrantes do G-20 (e
conta ainda com dois países desenvolvidos que também compõ em a Cooperaçã o Econô mica da Á sia e do
Pacífico, Apec: Estados Unidos e Canadá ).
Quanto à Apec, o bloco aparece em vantagem, pois conta com diversos de seus membros no G-20: China e
Índia, os dois mais populosos e as economias que têm apresentado as maiores taxas de crescimento;
países desenvolvidos, como Austrá lia e Japã o; emergentes, como a Rú ssia, etc. Por meio do mapa é
possível perceber, ainda, o grande peso político-econô mico da Uniã o Europeia, que participa, como
bloco, do G-20 e alguns de seus membros compõ em o G-7 (Reino Unido, França, Itá lia e Alemanha).
9. a) Entre os blocos apresentados a Uniã o Europeia foi o que atingiu a menor média tarifá ria no
comércio intrabloco, com destaque para o período a partir de 2010.
b) A reduçã o tarifá ria estimula a atuaçã o das empresas no exterior e tem como objetivo ampliar a
competitividade dos países-membros no comércio internacional.
10. A sigla Nafta corresponde ao nome em inglês do Acordo de Livre Comércio da América do Norte.
Nesse bloco, o México ocupa uma posiçã o de exportador de commodities e receptor de empresas
maquiladoras, que se limitam a montar componentes produzidos nos Estados Unidos, ou em outros
países, e exportar os produtos montados aos Estados Unidos. O Nafta agravou as desigualdades sociais e
fragilizou as finanças do México, obrigando-o a cortar gastos sociais e a demandar mais receitas do
petró leo.
11. a) O texto trata de manifestaçõ es de protesto contra medidas de ajuste fiscal realizadas na Espanha
por pessoas idosas.
b) Os motivos sã o as medidas impostas pela Uniã o Europeia para ajustar a economia da Espanha, país
profundamente atingido pela crise econô mica iniciada em 2008. Essas medidas cortam benefícios
sociais, por exemplo, diminuindo o valor das aposentadorias.
12. A charge destaca a crise econô mica na Uniã o Europeia. O pequeno barco que representa o Banco
Central Europeu tenta salvar dois dos países com maiores problemas: a Grécia, que está afundando, e a
Espanha, também em perigo.
13. a) De forma geral, os países do Mercosul apresentam problemas com suas infraestruturas de
transportes, que nã o conseguem atender rapidamente à demanda dos setores exportadores e
importadores. Os países do bloco têm buscado maior integraçã o entre seus sistemas de transporte por
meio do estabelecimento de hidrovias (como a Paraguai-Paraná ) e da cooperaçã o portuá ria, o que
beneficia principalmente os países sem acesso ao mar (caso do Paraguai).
b) O texto e o diagrama destacam a importâ ncia da mobilidade e dos custos de transporte para o
comércio internacional e para a constituiçã o dos blocos econô micos. Considerando que cerca de 90% do
comércio internacional é realizado por via marítima, é possível compreender as iniciativas de integraçã o
econô mica entre países banhados pelo Pacífico, que, além de possuírem grande poder econô mico,
buscam fazer frente à concorrência chinesa.
A aná lise das grandes potências globais demonstra que o mundo já nã o está bipolarizado, mas caminha
para uma multipolaridade, sem que os Estados Unidos estejam na posiçã o de ú nica grande potência. Para
o capítulo como um todo, recomendamos o trabalho em conjunto com a disciplina de Histó ria, o que
pode fornecer importantes subsídios para a compreensã o do processo histó rico e temporal da ascensã o
das grandes potências no cená rio mundial. A partir da leitura dos grá ficos sobre o Produto Interno Bruto
(p. 106), incentive os alunos a verificar qual é a relaçã o entre o PIB e ostatus de potência mundial e
também quais sã o as maiores potências no â mbito da Uniã o Europeia. É importante que eles sejam
orientados a fazer a relaçã o entre poder econô mico e político. Os países mais ricos possuem as maiores
empresas, que geram os maiores lucros e portanto tornam suas respectivas economias nacionais mais
ricas. Ainda vale lembrar que os países mais ricos têm os maiores gastos militares do mundo, e assim
grandes arsenais bélicos – com exceçã o da Rú ssia, que herdou seus arsenais da Uniã o Soviética, uma das
grandes potências durante a Guerra Fria.
Sugestões didáticas
Para trabalhar este tó pico, o professor pode iniciar fazendo referência à influência da cultura
estadunidense no cotidiano dos alunos – em sua roupa, nas mú sicas que ouvem, nos esportes que
conhecem, entre outros. Vale lembrar ainda a influência política que os Estados Unidos da América
exercem sobre a América Latina – tanto que as ditaduras militares na América Latina foram dela
decorrentes. Hoje a regiã o ainda é, em parte, uma á rea de influência direta dos Estados Unidos.
Pá gina 295
A hegemonia dos Estados Unidos vem sendo abalada desde a crise mundial (2008), que se iniciou
exatamente no sistema financeiro estadunidense. Em meados da década de 2010, o país passou a
apresentar sinais de recuperaçã o econô mica.
Para o melhor entendimento da magnitude do crescimento econô mico da China, calcado na produçã o em
massa de produtos industrializados, vale tratar da chegada ao Brasil de muitos produtos chineses, que
têm até provocado a falência de indú strias nacionais, principalmente as de menor porte.
O mapa “China – Economia e geopolítica (2012)” (p. 108) favorece discussã o com os alunos sobre onde
estã o concentradas as Zonas Econô micas Especiais (ZEEs) chinesas e o porquê dessa distribuiçã o
espacial. Sabemos que a concentraçã o nas á reas litorâ neas é favorecida pela proximidade dos portos, já
que a produçã o industrial dessas á reas é destinada essencialmente à exportaçã o.
Para complementar, a modernizaçã o chinesa acentuou a diversidade geográ fica do país, pois aprofundou
as contradiçõ es campo pobre/cidade rica. Por isso as cidades chinesas das ZEEs têm atraído
contingentes de trabalhadores do campo em busca de melhores condiçõ es de vida.
O texto da pá gina 109 aborda vá rias questõ es geopolíticas que envolvem a China, entre as quais se
podem destacar o conflito do Tibete e os graves problemas ambientais relacionados ao crescimento
econô mico chinês.
Um tema interessante para aproximar da realidade dos alunos o estudo sobre o Japã o é o caso dos
decasséguis – brasileiros descendentes de japoneses que emigraram em grande nú mero para o Japã o,
especialmente a partir da década de 1980.
No início de 2009, quando a crise começou a se fazer sentir com mais força, estimava-se que mais de 300
mil brasileiros trabalhavam no Japã o. Vivendo geralmente em pequenos apartamentos ou em
alojamentos fornecidos pelas empresas, esses trabalhadores realizam longas jornadas de trabalho,
visando aumentar sua remuneraçã o. A crise mundial resultou inicialmente no corte de horas extras e,
posteriormente, em demissõ es em massa e retorno ao Brasil.
O professor pode fazer uma relaçã o entre o modelo de Estado na Europa e nos Estados Unidos, citando
como exemplos os sistemas de saú de e educaçã o pú blicas. O Estado do bem-estar social europeu
garantiu saú de e educaçã o pú blicas de boa qualidade, enquanto nos Estados Unidos a excelência está nos
ó rgã os privados. Apesar disso, vale salientar que o neoliberalismo atuou e ainda atua de forma marcante
na Europa, por isso essas políticas estã o mudando em países como Inglaterra e Espanha.
Sugere-se que o professor fique atento aos resultados das políticas e decisõ es recentes no â mbito da
Uniã o Europeia. Busque, por exemplo, informaçõ es sobre o resultado da realizaçã o do plebiscito no
Reino Unido a partir do qual se decidirá a permanência do país na Uniã o Europeia.
O grá fico “Maiores arsenais nucleares (2015)” (p. 112) pode ser discutido enfatizando-se a importâ ncia
de alguns países europeus serem dependentes da energia nuclear (principalmente França e Inglaterra),
dada a carência de quedas de á gua naquela regiã o.
• As potências regionais (p. 114-115)
Pode-se complementar o estudo sobre o grupo formado por Brasil, Rú ssia, Índia, China e Á frica do Sul
(Brics) acrescentando o papel de potência que o Brasil tem junto ao Mercosul.
O texto reconstitui a ascensã o da hegemonia ocidental e capitalista ao longo dos ú ltimos séculos e abre
uma perspectiva para analisar o aparecimento de novas potências econô micas, como Brasil, China, Índia,
Coreia do Sul, entre outras, no século XXI. Integrados ao sistema econô mico internacional, esses países
produziram um ambiente de crescimento capaz de tirar milhõ es de pessoas da miséria, expandiram o
mercado de trabalho e de consumo, industrializaram-se e criaram um ambiente institucional eficiente.
É importante salientar os aspectos mencionados no texto, relativizando, no entanto, que a maioria desses
países “emergentes” continua bastante dependente dos países ricos, especialmente em termos de
tecnologia, patentes e recursos para investir em á reas estratégicas, como educaçã o de ponta e inovaçã o.
Ressalte que embora a distribuiçã o de poder pareça mais pulverizada, ainda há muitas amarras políticas
e diplomá ticas que impedem que esses países disponham de plena autonomia e independência.
• Mundo Hoje – Brics: conquistas e fracassos no grupo dos emergentes (p. 117)
Nesse artigo, o autor busca contextualizar os principais resultados dos acordos realizados entre os países
do Brics, acrô nimo em inglês para o bloco que reú ne Brasil, Rú ssia, Índia, China e Á frica do Sul. Espera-se
que durante a leitura os alunos possam compreender a importâ ncia das aproximaçõ es geopolíticas entre
países em desenvolvimento, considerando sobretudo a relativa independência das políticas ortodoxas
das instituiçõ es tradicionais, como FMI, Banco Mundial, OMC, etc., cujos interesses consistem na
manutençã o de uma certa dependência econô mica desses países como forma de exercer influência em
suas políticas internas.
Atividade complementar
Descrição da atividade
Sugerimos que a classe, dividida em grupos, faça uma pesquisa para levantar histó rias da vida dos
decasséguis no Japã o e descobrir os motivos de sua volta para o Brasil. Dependendo de onde a escola
estiver localizada, a pesquisa pode considerar, além do município, também o estado ou mesmo a regiã o
do país. Os alunos podem entrevistar decasséguis, seus parentes ou, caso nã o os conheçam, buscar
informaçõ es em jornais de grande circulaçã o ou na internet. Uma sugestã o é o Portal Japã o, disponível
em: <http://www.japao.org.br>; acesso em: 3 jun. 2016.
Pá gina 296
Leitura complementar
O autor trata de alguns aspectos da economia chinesa que podem ter grande influência sobre a economia
global.
[...] Deve-se [...] cogitar se a crescente relevâ ncia da China na economia global, que coincide com a crise de um
sistema de poder interestados – tal como foi configurado no acordo de Bretton Woods e que comportara
apenas um grupo restrito de naçõ es hegemô nicas – poderia, em alguma medida, abrir espaço para uma
transformaçã o da ordem política internacional. Para além de sua presença econô mica, e até em contradiçã o
com ela, a China poderia desempenhar, ao menos em tese, um papel construtivo e no limite contraimperialista.
[...] Nascendo e se desenvolvendo sob a força gravitacional exercida pelo centro da economia capitalista, a
modernizaçã o nas economias periféricas tem precedência sobre a difusã o das técnicas. As relaçõ es de
dependência externa e a rigidez das estruturas sociais internas fazem que as constriçõ es de ordem econô mica
adquiram um valor redobrado.
[...] Parte importante dos dilemas impostos pela ascensã o chinesa tende a ser agravada pela ausência de
definição acerca das prioridades dos países latino-americanos em termos de política industrial, inovaçã o
tecnoló gica e integraçã o regional. Também falta uma visã o coerente e fundamentada sobre o que se pode
esperar da China em sua relaçã o com a América Latina.
Para tanto, faz-se necessá rio quebrar alguns mitos muito difundidos na América Latina sobre o “modelo”
chinês. Existe a concepçã o de que a competitividade chinesa se deve, em ú ltima instâ ncia, ao baixo custo da
mão de obra. Trata-se de uma aná lise enviesada. A competitividade chinesa está relacionada a um conjunto de
fatores: escala de produçã o, mercado interno potencial, taxa de investimento elevada, planejamento do Estado
e crédito abundante e barato, além de incentivos fiscais e câ mbio desvalorizado – que contribuem para atrair
empresas transnacionais e incentivam as exportaçõ es. Obviamente que a mã o de obra de baixo custo eleva a
rentabilidade das empresas, mas nã o assegura o sentido da trajetó ria de desenvolvimento e de
aperfeiçoamento tecnoló gico.
Realizar uma aná lise sobre a competitividade chinesa partindo de uma perspectiva está tica de custos significa
assumir, de maneira equivocada, que o mercado global encontra-se perfeitamente integrado e que os estados
nacionais nã o dispõ em de ferramentas estratégicas, como taxas de juros e câ mbio, políticas industrial e
tecnoló gica, programas de reconversã o produtiva em â mbito nacional e açõ es de complementaridade
produtiva em âmbito regional. A experiência chinesa resulta – nunca é demais insistir – da elaboraçã o de uma
estratégia pró pria de desenvolvimento, partindo de suas limitaçõ es e potencialidades, sem copiar modelos
exó genos, mas também sem pejo de incorporar perspectivas inovadoras. A busca por uma inserçã o externa
mais qualificada era o meio para incorporar progresso técnico, ao mesmo tempo em que se expandia a base de
acumulação e, portanto, o ritmo na geraçã o de empregos.
BARBOSA, Alexandre de Freitas. China e América Latina na nova divisão internacional do trabalho. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/livros/livros/livro_achinaglobal.pdf>. Acesso em: 16 maio 2016.
LIVROS
ARRIGHI, Giovanni. Adam Smith em Pequim: origens e fundamentos do século XXI. Sã o Paulo: Boitempo,
2008.
A obra apresenta uma reflexã o sobre as causas e consequências do recente crescimento econô mico da
China, abordando também a tentativa do governo dos Estados Unidos de conter a expansã o chinesa.
FIORI, José Luiz; Medeiros, Carlos; Serrano, Franklin. O mito do colapso do poder americano. Rio de
Janeiro: Record, 2008.
Livro que reú ne três artigos dos autores, discutindo o futuro do poder estadunidense a partir da
ascensã o de Rú ssia e China.
FILMES
O último imperador. Direçã o: Bernardo Bertolucci. Reino Unido/Itá lia/França/China, 1987. (165 min).
Filme que conta a saga de Pu Yi, herdeiro do trono chinês deposto, apó s a tomada do poder pelos
comunistas.
Pearl Harbor. Direçã o: Michael Bay. Estados Unidos, 2001. (183 min).
O filme conta a histó ria de dois amigos que se envolvem de maneira distinta nos eventos que
provocaram a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, pouco antes do bombardeio de
Pearl Harbor. A ú ltima frase do filme, proferida por um comandante japonês, dá a ideia do possível
desfecho do conflito.
3. A China foi o país que apresentou o maior crescimento do PIB em 2010, com uma variaçã o de 10,6%.
1. Respostas pessoais. Oriente os alunos a pesquisar as informaçõ es em fontes confiá veis, como jornais,
revistas especializadas e sites governamentais ou de institutos de pesquisa. Em seu site oficial, a
Eletrobrá s aborda o acidente nuclear de Fukushima comparando-o à s condiçõ es de uso da energia
nuclear no Brasil (disponível em: <http://linkte.me/eletronuclear>. Acesso em: 1 jun. 2016). Aproveite
para conversar com os alunos sobre o programa nuclear brasileiro, se julgar oportuno, e comentar sobre
as características técnicas que possibilitaram a geraçã o de energia nuclear e permitiram seu
desenvolvimento no país (mais informaçõ es sobre o tema podem ser encontradas na Biblioteca Digital
do Desenvolvimento, do governo federal, disponível em: <http://linkte.me/bdd>. Acesso em: 1 jun.
2016).
Pá gina 297
Possivelmente, as pesquisas dos alunos tratarã o de acidentes como o de Chernobyl, na Ucrâ nia, em 1986
(considerado o maior desastre nuclear da histó ria, estima-se que 100 mil pessoas morreram vítimas da
radiaçã o. O acidente liberou uma nuvem radioativa com cerca de 70 toneladas de urâ nio pela Europa), e
o ocorrido em Goiâ nia, em 1987, conhecido como Césio-137, quando um aparelho de radioterapia foi
desmontado por dois homens e o cloreto de césio encontrado no interior de uma cá psula foi apresentado
aos familiares. Ao todo, onze pessoas faleceram e mais de 600 foram contaminadas.
1. As discussõ es com os alunos podem chamar atençã o para a partilha do poder geopolítico mundial que
as naçõ es ricas deverã o fazer com as naçõ es pobres. O desenvolvimento econô mico das naçõ es pobres
poderá , se bem gerido, significar melhoria da qualidade de vida das populaçõ es. Porém, convém salientar
contrapontos, debatendo as possíveis mudanças nas tradiçõ es, com o aprofundamento do capitalismo e
difusã o de um modo de vida calcado no consumo. Além disso, deve-se alertar que as desigualdades
sociais entre ricos e pobres têm se aprofundado nos ú ltimos anos, e o desenvolvimento econô mico nã o
vem solucionando esse problema.
1. A atividade oferece oportunidade para que os alunos compreendam que os países do Brics sã o
diferentes em elementos como: o PIB, o total de populaçã o (elevada na China e na Índia), as taxas de
crescimento econô mico (mais elevadas na China e na Índia) e os investimentos na educaçã o (menores no
Brasil), entre outros. A importâ ncia da economia chinesa e seu dinamismo representam os pontos
fundamentais do grupo Brics. A China é o elemento principal do Brics. Segundo previsã o de um grande
banco de investimento, os países do grupo deverã o ultrapassar a economia de vá rias das atuais
potências econô micas, principalmente as europeias, o que certamente trará consequências significativas
para a economia política internacional.
Espera-se que os alunos façam uma pesquisa de maior profundidade a respeito das políticas do Brics,
articulando as razõ es que poderiam resultar em menos influência dos países ricos. Por exemplo, para a
China seria uma maneira de expandir ainda mais sua força geopolítica para além das questõ es
meramente econô micas (de maior produtor industrial, maior comprador de matéria-prima, para maior
negociador, etc.); para o Brasil, é uma possibilidade de reforçar sua hegemonia política e econô mica na
América do Sul e, talvez, em toda a América Latina, e assim por diante. Professor: faça as explicaçõ es que
julgar necessá rias a respeito destes temas e oriente os alunos nas pesquisas e elaboraçã o dos cartazes.
Organize os grupos de modo que todos os países que compõ em o Brics sejam contemplados.
1. Podem-se citar como fatores que dã o superioridade política e militar aos Estados Unidos: a vanguarda
do primeiro na inovaçã o científica desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e sua liderança na
Organizaçã o do Tratado do Atlâ ntico Norte (Otan); a mais fá cil e efetiva proteçã o de seu territó rio, pois
faz fronteira com poucos países, e somente com países aliados (México e Canadá ); o fato de os Estados
Unidos apresentarem os maiores gastos militares do mundo.
2. Algumas das açõ es foram o endividamento excessivo do país, a desvalorizaçã o do dó lar diante das
moedas de outras potências econô micas e a falta de controle das instituiçõ es financeiras.
5. O crescimento econô mico da China deve-se a sua abertura ao capital estrangeiro pelas reformas de
mercado adotadas no país na década de 1970. Essas reformas possibilitaram a instalaçã o de indú strias
estrangeiras voltadas à exportaçã o, contando com mã o de obra barata, abundante e disciplinada, além da
energia subsidiada pelo Estado em á reas estrategicamente delimitadas por ele. Essas reformas nã o
eliminaram o cará ter ditatorial e centralizador do regime político, que é denominado “socialismo de
mercado”.
7. O Reino Unido e a França sã o os países mais poderosos da Uniã o Europeia, no plano político-militar:
considerados potências econô micas, fazem parte do Conselho de Segurança da Organizaçã o das Naçõ es
Unidas e sã o os ú nicos que possuem armas nucleares na Europa.
8. A sigla Brics refere-se a um grupo econô mico de países emergentes industrializados: Brasil, Rú ssia,
Índia, China e Á frica do Sul. Esses países vêm conseguindo impor seus interesses no cená rio mundial de
forma crescente, em decorrência de seu desenvolvimento econô mico.
9. a) Alguns países se destacam na produçã o de manufaturados conforme nos mostra o mapa: China,
países da Europa central, Estados Unidos, México, Índia, países do Sudeste Asiá tico. Em relaçã o à
Botsuana, cerca de 45% do PIB do país está associado à indú stria, atrelada principalmente à extraçã o de
diamantes.
b) A proporçã o de produtos manufaturados exportada por cada país do grupo Brics: Brasil – de 20% a
39%; China – de 80% a 98%; Índia – de 60% a 79%; Á frica do Sul – de 40% a 59%; Rú ssia – menos de
20%. Nota-se a disparidade dos países que mais exportam (como a China) com outros, cujos produtos
manufaturados ocupam menos a balança de exportaçõ es como a Rú ssia.
Pá gina 298
Pode-se levantar algumas hipó teses tais como a desaceleraçã o da economia mundial e também produtos
manufaturados no Brasil ou na Rú ssia que nã o conseguem preços tã o competitivos como aqueles que sã o
produzidos na China.
10. a) Dentre as possibilidades de organizaçã o dos dados da tabela, pode-se destacar os países
desenvolvidos cuja liderança na importaçã o supera a liderança na exportaçã o (Estados Unidos, Japã o,
França, Reino Unido e Itá lia); o grupo de países em desenvolvimento cuja liderança nas importaçõ es
supera a liderança nas exportaçõ es (Hong Kong); e o grupo de países em que a líderança em exportaçõ es
é maior do que a liderança em importaçõ es (China, Alemanha, Países Baixos, Coreia do Sul, Rú ssia).
Neste caso, vale destacar que essas características certamente relacionam-se à composiçã o da balança
comercial destes países. Explique que desenvolvimento econô mico nã o necessariamente refere-se a uma
balança comercial positiva, como é o caso dos Estados Unidos. Vale ressaltar também a importâ ncia das
exportaçõ es para países em desenvolvimento, como a China, a Coreia do Sul e a Rú ssia. Comente, ainda, o
caso do Brasil, que apresenta equilíbrio na participaçã o de importaçõ es e exportaçõ es no comércio
global. Explique a relevâ ncia do mercado interno para o país e as possibilidades de ampliaçã o de sua
participaçã o nas trocas de mercadorias no mercado internacional.
b) Os países desenvolvidos localizados no Hemisfério Norte sã o os principais líderes do comércio global.
Neste, porém, destacam-se países em desenvolvimento do Hemisfério Sul, como a China, Hong Kong,
Coreia do Sul e Rú ssia.
11. A China é o principal comprador do mercado regional asiá tico. É para esse país que escoa mais da
57% da produçã o de Hong Kong, 26% da Coreia do Sul, de 10% a 19% das exportaçõ es da Tailâ ndia,
Malá sia, Vietnã , Cingapura, Indonésia, Filipinas e Japã o. Além disso, o país importa percentual
significativo das exportaçõ es indianas (4,2%) e paquistanesas (9,1%). Isso demonstra relativa
dependência econô mica desses países em relaçã o à demanda chinesa.
12. a) Segundo o autor mencionado, o poder dos Estados Unidos e da Uniã o Europeia está sendo
difundido para atores que nã o sã o estatais, visto que adquiriram poder e hierarquia em relaçã o aos
Estados nacionais – e podem assim mudar de local e buscar as melhores vantagens para se instalar.
b) Os mencionados atores nã o estatais sã o as corporaçõ es e os capitais. Eles podem enfraquecer o poder
de grandes potências como Estados Unidos e Uniã o Europeia, em razã o de sua maior autonomia para
rejeitar ou “punir” localidades. Caso essas corporaçõ es e capitais se retirem de seus países de origem em
direçã o a localidades mais vantajosas, poderã o enfraquecer as economias de tais países.
O foco nesta seçã o é o desenvolvimento e a prá tica da habilidade de ler e interpretar grá ficos. No caso
específico, o conteú do é econô mico e fornece dados que permitem ao aluno ter um panorama do
comércio internacional. O primeiro grá fico (p. 120), sobre as ogivas nucleares, foge um pouco desse
princípio, embora mostre de maneira indireta que os principais detentores de tecnologia nuclear
também sã o grandes exportadores de tecnologia para fins bélicos ou pacíficos. O importante é que os
alunos percebam que todo grá fico tem ao menos duas variá veis e que apresentam dados objetivos.
1 a 3. Incentive os alunos a ler cuidadosamente as instruçõ es e acompanhe a elaboraçã o dos grá ficos.
Ajude-os a entender as informaçõ es para que possam fazer inferências, estabelecer hipó teses e chegar a
conclusõ es.
4. O primeiro grá fico mostra o grande crescimento das exportaçõ es asiá ticas, roubando parcelas
expressivas do comércio mundial das demais regiõ es do mundo. A Europa ainda detém a liderança, mas
perdeu mais de 10% desde 1973. A América do Norte também encolheu. Porém, quando se observa
estritamente o comércio mais lucrativo (produtos industrializados), nota-se que norte-americanos,
europeus e japoneses (na tabela, dentro da Á sia) ainda têm posiçõ es vantajosas no mercado mundial. Os
países mais pobres da América Latina, Á frica, Oriente Médio e Á sia ainda concentram suas exportaçõ es
em produtos mais baratos: commodities e manufaturas de baixo valor agregado. O grá fico circular
confirma essa aná lise, mostrando que, enquanto as manufaturas representam 66,2% do valor das
exportaçõ es mundiais, a soma de minérios, combustíveis e produtos agrícolas totaliza apenas 30,0%.
• Capítulo 5. Globalização
A formaçã o de blocos econô micos e o avanço do comércio internacional e dos investimentos em ciência e
tecnologia aparecem como consequência desse processo.
O capítulo oferece um conjunto bastante amplo de críticas à globalizaçã o. Todas elas derivam do fato de
que a globalizaçã o é desigual e excludente para a maioria dos países do globo e, em grande parte deles,
causa concentraçã o de renda dentro dos pró prios países. É importante que os textos dos alunos tratem
desse assunto.
Nesta atividade é importante que os alunos nã o se preocupem apenas em “completar” frases, mas em
criar sentenças que resumam as principais ideias dos capítulos. Uma dica é fazer uma correçã o coletiva
produzindo sentenças mais elaboradas.
1. Alternativa c
2. Alternativa e
3. Alternativa b
4. Alternativa a
5. Alternativa e
6. Alternativa e
7. Alternativa b
8. Alternativa a
9. Alternativa d
10. Alternativa e
1. Resposta pessoal. Espera-se que os alunos percebam que, no Brasil, crescimento econô mico,
melhorias no sistema de saú de e distribuiçã o de renda sã o algumas das razõ es para a evoluçã o desses
índices. Por exemplo, “de acordo com a Fundaçã o Getú lio Vargas (FGV), na primeira década do século
XXI, os 10% mais ricos tiveram um crescimento na renda real de 10,03% contra 67,9% na renda dos
50% mais pobres, o que significa um crescimento 577% maior do que o alcançado pela parcela no topo
da pirâ mide social”.
2. Resposta pessoal. É importante verificar que, diante das grandes potências (que apresentam
elevadíssimas taxas de alfabetizaçã o), o grupo dos Brics vem apresentando um desenvolvimento
considerá vel na educaçã o, conforme mostra a tabela da pá gina 126.
3. Resposta pessoal. A situaçã o da Á frica do Sul é bastante precá ria em termos de desenvolvimento
humano e social. Auxilie os alunos para que possam encontrar diversas referências em sites, jornais e
revistas atuais. A desigualdade na distribuiçã o da renda no país é muito grande e há problemas
endêmicos em diversos segmentos da vida social. Parte dos problemas da Á frica do Sul sã o herança do
regime do apartheid (segregaçã o racial oficial). A segregaçã o racial, que existiu desde o período colonial
no país, foi transformada em política oficial do Estado sul-africano, determinada pela legislaçã o, a partir
de 1948 e só deixou de existir como tal em 1994.
Avaliação
Além das atividades sugeridas no Livro do Aluno e neste manual, pró prias para serem utilizadas também
como instrumento de avaliaçã o, apontamos a seguir algumas atividades que podem ser realizadas com
esse fim.
Sugerimos que esta atividade seja desenvolvida por grupos de quatro pessoas.
Cada um deles deverá escolher uma empresa multinacional – fabricante de carros, produtos de
informá tica, celulares; refinaria de petró leo, beneficiadora de alimentos, etc. –, de preferência uma cujos
produtos sejam utilizados pelos alunos.
Em seguida, eles devem proceder a uma pesquisa no site da empresa, revistas e livros, descobrindo onde
se localizam sua matriz e suas filiais, marcando-as em um mapa-mú ndi. Caso escolham uma empresa que
atue em mais de um ramo da economia, é importante especificar quais sã o.
Depois de feito o mapa, cada grupo deverá escrever uma reflexã o sobre o poder geopolítico das grandes
corporaçõ es, procurando explicar como isso interfere, positiva ou negativamente, nos países em que se
inserem.
Sugerimos solicitar que cada grupo escolha um país do Mercosul, membro ou associado. Em seguida, o
grupo deve pesquisar seus principais produtos comercializados dentro do bloco e as principais
vantagens que o país obtém por fazer parte desse bloco.
É importante citar pelo menos dois exemplos de produtos comumente utilizados que sejam importados
do país escolhido. No caso do Brasil, a situaçã o se inverte, e o grupo deve apresentar exemplos de
produtos exportados para os países do bloco.
Para finalizar o trabalho, as conclusõ es e os resultados obtidos podem ser apresentados em sala de aula,
com o apoio de material a ser produzido pelos alunos, como cartazes.
A imagem de abertura desta unidade dá destaque a um cartaz carregado em uma manifestaçã o. Nele
pode-se ler “Somos fraternidade, unidade e paz”. Pode-se iniciar a discussã o promovendo uma conversa
a respeito do significado de cada uma dessas palavras. Deve-se atentar para o sentido que os alunos
veem nesses termos e buscar orientá -los para a compreensã o de que eles remetem à ideia de coesã o
social, necessá ria à estabilidade política nos e dos Estados nacionais. Vale, ainda, fazer com que os alunos
levantem hipó teses sobre as consequências em torno da falência da coesã o social. Incentive a discussã o a
fim de sensibilizar os alunos para o conhecimento de focos de tensã o no mundo e para possíveis soluçõ es
desses conflitos.
Capítulo 9 Europa
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, observa-se na Europa o esforço de construçã o de um bloco
econô mico e político que diluísse as desigualdades e conflitos no continente. O objetivo deste capítulo é
analisar as transformaçõ es recentes no espaço político europeu, enfocando as instabilidades que surgem
como desafios ao continente.
Nesse contexto, a mençã o à Uniã o Europeia será recorrente, dada a relevâ ncia alcançada pelo bloco
sobre a vida social, econô mica e política europeia.
Sugestões didáticas
Desde os anos 1990, os esforços de construçã o da Uniã o Europeia somaram-se aos desafios colocados
pela reunificaçã o alemã . Esse ú ltimo processo colocou um ponto final ao antagonismo entre os blocos
capitalista e socialista, mas reabriu a “questã o alemã ”, isto é, os receios de que o poder alemã o superasse
a hegemonia britâ nica e francesa, ameaçando a paz e a estabilidade na Europa.
No cená rio internacional torna-se cada vez mais evidente que a recente ascensã o alemã pauta-se,
sobretudo, em seu poder econô mico. Nã o se pode desconsiderar, porém, que o poder econô mico tem
influência direta nas relaçõ es de poder entre os Estados e que a Alemanha, embora nã o tenha destaque
militar, atua de modo fundamental em questõ es geopolíticas e diplomá ticas. Sugere-se que o professor
enfatize esses aspectos nos debates promovidos por este tó pico.
O tó pico pode ser desenvolvido a partir da orientaçã o de leitura e interpretaçã o do mapa “Europa – Crise
migrató ria (2015)” (p. 133). Os alunos devem identificar as principais rotas terrestres e marítimas dos
imigrantes e refugiados que buscam a Europa como país de destino. Convém estabelecer um debate em
torno da criminalizaçã o da imigraçã o, processo que tende a culminar em intolerâ ncias e xenofobia. O
professor pode direcionar a discussã o de modo que os alunos percebam que a imigraçã o nem sempre
está associada à pobreza e a problemas, os imigrantes e refugiados podem colaborar para a superaçã o de
crises econô micas e demográ ficas, caso participem de processos decisó rios e sejam integrados à
sociedade de destino.
Sugerimos que, na introduçã o do tema, chame-se atençã o ao fato de que o terrorismo na Europa nã o é
um fenô meno novo. Dos anos 1970 ao fim dos anos 1990, por exemplo, os ataques terroristas foram
numerosos nesse continente e eram promovidos sobretudo por grupos que tinham motivaçõ es políticas
e restringiam as suas açõ es a países específicos, como o Exército Republicano Irlandês (IRA) ou o grupo
nacionalista basco (ETA). Tais características diferenciam-se muito daquelas predominantes nos atos
terroristas ocorridos recentemente. Os agentes do terror nã o estã o associados a um fator geográ fico
específico, mas difundem-se por vá rios países em distintas partes do globo. Além disso, a principal
motivaçã o dos ataques terroristas promovidos nos períodos atuais têm argumentos de cunho religioso.
Cabe ressaltar que o Isis (sigla em inglês para Islamic State of Iraq and Syria – Estado Islâ mico no Iraque
e na Síria) e a Al-Qaeda sã o as principais organizaçõ es terroristas contemporâ neas e suas açõ es
demonstram a preocupaçã o em promover o medo com ataques brutais a civis e a símbolos da cultura
ocidental. Discuta com os alunos o conteú do do boxe Ação e cidadania (p. 135) para exemplificar açõ es
desses grupos.
O artigo tem por finalidade contextualizar a recente crise política da Ucrâ nia, iniciada em novembro de
2013, que constituiu-se como um dos mais graves conflitos internos da ú ltima década. O texto, além de
garantir aos alunos a informaçã o, permite uma nova reflexã o sobre os conteú dos e interesses que
definem as fronteiras dos Estados modernos. Distintos sentimentos de pertencimento, fincados em
valores e traços culturais divergentes, além de uma grave crise econô mica, podem ser as variá veis
fundamentais para crises internas, guerras separatistas e até mesmo a prá tica de genocídios.
É importante salientar, utilizando o texto, os interesses que movem as açõ es dos envolvidos no conflito
ucraniano, por um lado a Rú ssia e, por outro, a Uniã o Europeia. Há grandes disputas econô micas
envolvidas, e que devem ser destacadas, como a produçã o e transporte de gá s para abastecimento
energético, ocupaçã o de terras agricultá veis (especialmente as da Crimeia, que já eram cobiçadas pela
Alemanha nazista), ampliaçã o de territó rio e expansã o da influência geopolítica, o que determina uma
gama de valores a serem adotados e disseminados entre a populaçã o.
Pá gina 302
A proposta do texto é apresentar uma reflexã o sobre a crise dos refugiados que buscam abrigo em países
da Uniã o Europeia. No texto, o autor pondera sobre as razõ es que influenciam a tomada de decisã o dos
refugiados, lembrando a participaçã o dos países europeus no processo de colonizaçã o dos países da
Á frica e do Oriente Médio. É importante reforçar esse ponto para salientar a força que os processos
histó ricos exercem no presente.
Além disso, o texto coloca a oportunidade de discutir a recente ascensã o dos partidos de direita na
Europa e as grandes mobilizaçõ es contra a presença dos imigrantes. Por outro lado, em razã o do
problema demográ fico que alguns países europeus atravessam, como o estreitamento da base da
pirâ mide etá ria, a chegada de imigrantes jovens pode ser fundamental para o futuro dessas economias.
Atividades complementares
Para ampliar a compreensã o dos alunos sobre as dinâ micas populacionais no continente europeu,
sugerimos uma atividade de pesquisa que aborde a implementaçã o do Espaço de Schengen, iniciada em
1985.
Recomendamos a divisã o dos alunos em grupos. O objetivo da pesquisa será analisar as informaçõ es
acerca do controle fronteiriço comum aos países signatá rios. Os alunos deverã o notar que o
estabelecimento da livre circulaçã o de pessoas exige a unificaçã o de legislaçõ es alfandegá rias e
diplomá ticas. Oriente os alunos a pesquisar no site oficial da Uniã o Europeia, onde há documentos
interessantes sobre o tema. A esse propó sito, sugerimos a consulta ao documento “Europa sem fonteiras:
o Espaço de Schengen” (disponível em: <http://linkte.me/scheng>; acesso em: 2 jun. 2016).
Retomando a noçã o de fronteira já trabalhada, os alunos podem ser orientados a pesquisar as diferentes
fronteiras (migrató ria, monetá ria, comunitá ria, etc.) da Europa. É importante que o levantamento de
dados seja sucedido por uma aná lise do material reunido, buscando-se justificar os diferentes traçados
fronteiriços, o que ajudará a retomar os conteú dos estudados em outros capítulos.
Leitura complementar
O texto a seguir trata da imigraçã o para o continente europeu, acompanhada de crescente política de
autorreclusã o, com a construçã o de muros ao redor da Europa para tentar barrar a entrada de pessoas (e
culturas) “estranhas” ao continente.
Ainda que sinceros, os esforços dos governos europeus para deter e controlar estritamente a onda de
“imigraçã o econô mica” nã o têm, e provavelmente nã o podem ter, cem por cento de êxito. A miséria prolongada
leva milhõ es ao desespero e, na era do crime globalizado, é difícil imaginar que faltem organizaçõ es criminosas
á vidas por lucrar alguns bilhõ es a partir desse desespero. Daí os milhõ es de migrantes vagando pelas rotas um
dia percorridas pelas “populaçõ es excedentes” descarregadas pelas estufas da modernidade europeia – só que
na direçã o contrá ria e (pelo menos até agora) sem o auxílio dos exércitos de conquistadores, comerciantes e
missioná rios. As dimensõ es plenas dessa consequência e as suas diversas repercussõ es ainda estã o por ser
destrinchadas, absorvidas, observadas e avaliadas.
Por enquanto, a Europa e seus filhotes/postos avançados (como os Estados Unidos ou a Austrá lia) parecem
buscar a resposta de problemas estranhos em políticas igualmente estranhas, dificilmente praticadas na
histó ria europeia. Políticas voltadas para dentro, e nã o para fora, centrípetas e nã o centrífugas, implosivas em
vez de explosivas – tais como entrincheirar-se, fechar-se, construir cercas equipadas com uma rede de
má quinas de raios X e câ meras de TV de circuito fechado, colocar mais agentes dentro das cabines de
imigraçã o e mais guardas de fronteira fora delas, tornar mais restritivas as leis de imigraçã o e naturalizaçã o,
manter os refugiados em campos isolados e estritamente guardados e impedir a chegada de outros antes que
eles tenham a chance de reivindicar o status de refugiado ou pessoa em busca de asilo – em suma, lacrar os
seus domínios contra as multidõ es que lhes batem à s portas enquanto fazem muito pouco, se é que alguma
coisa, para aliviar essa pressã o eliminando as suas causas.
BAUMAN, Zygmunt. Europa: uma aventura inacabada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. p. 24-25.
LIVRO
BAUMAN, Zygmunt. Europa: uma aventura inacabada. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
O autor realiza uma leitura contemporâ nea da Europa, partindo de sua formaçã o até as principais
problemá ticas atuais, como a multiplicidade de identidades e os conflitos disso decorrentes.
FILME
1. Resposta pessoal. A fase mais conflituosa da América Latina ocorreu a partir das décadas de
1960/1970, quando se instalaram na regiã o inú meras ditaduras.
2. Resposta pessoal. Discuta com os alunos a forma como os países africanos se inserem no processo de
globalizaçã o. Muitos países ainda participam do comércio mundial apenas como fornecedores de
matérias-primas. Outro ponto a ser destacado é a forma como o avanço tecnoló gico atinge os países
africanos.
Pá gina 303
Muitas tecnologias de informaçã o que já possuem grande capilaridade no globo (como redes de cabos de
fibra ó tica que estabelecem as conexõ es de internet) ainda encontram na Á frica grandes espaços
carentes de serviços.
3. Discuta com os alunos os conflitos em curso atualmente. A atividade propicia o contato dos alunos
com notícias atuais e estimula a consulta a jornais e revistas.
1. A discussã o pode ser norteada para promover uma reflexã o sobre as contradiçõ es que a Europa vive
no seu processo de integraçã o. Os alunos também podem ser questionados sobre as dificuldades de criar
um grande bloco econô mico, levando em conta as diversidades existentes em seu interior, as quais
acarretam resistências e conflitos.
2. As naçõ es europeias sã o economicamente muito diferentes entre si. Países como Alemanha e França
sã o altamente industrializados, apresentam elevadas rendas per capita e maiores valores do Produto
Interno Bruto; enquanto países como Grécia e Portugal sã o menos industrializados, oferecem salá rios
mais baixos e apresentam elevadas taxas de desemprego no contexto da Uniã o Europeia.
1. Espera-se que os alunos consigam identificar os aspectos objetivos que opõ em a populaçã o ucraniana,
dando destaque para:
• o histó rico de anexaçõ es resultantes em diferentes concepçõ es culturais e políticas, como o oeste do
país ligado à Europa Ocidental e o leste vinculado à URSS e posteriormente à Rú ssia;
• a religiã o cató lica grega predominante no oeste e cató lica ortodoxa russa predominante no leste;
• o idioma ucraniano utilizado no oeste e o russo no leste do país;
• diferentes posiçõ es sobre acordos com a Uniã o Europeia e empréstimo da Rú ssia, o que significaria
maior influência russa sobre a Ucrâ nia.
1. Sim, o texto alega que a Europa possui um grande problema demográ fico que poderia ser minimizado
com a presença de imigrantes jovens capazes de preencher a demanda do mercado de trabalho e
enfrentar países com grande oferta de mã o de obra jovem. Além disso, o autor pondera que a Europa
seria responsá vel historicamente pelos dramas e conflitos nos países que foram colonizados e que, por
essa razã o, nã o pode recusar a ajudar os refugiados dada essa condiçã o.
2. Respostas pessoais. Nessa questã o, é importante orientar os alunos para uma discussã o ampla a
respeito da crise de refugiados, privilegiando o uso de temas e conceitos já trabalhados, como os de
globalizaçã o, migraçã o, naçã o, Estados nacionais, etc., lembrando também do papel das instituiçõ es
nesse processo, como a ONU, além da diplomacia internacional.
2. A Rú ssia, os Estados Unidos e a Uniã o Europeia disputam a hegemonia sobre a regiã o do Leste
Europeu. Isso é demonstrado pela anexaçã o da Crimeia ao territó rio russo em 2014, que provocou
sançõ es impostas pela Uniã o Europeia e pelos Estados Unidos à Rú ssia.
3. A Ucrâ nia é um país com grande diversidade étnica que inclui ucranianos, poloneses, bú lgaros,
tá rtaros, russos, hú ngaros, romenos. A isso se soma a presença de recursos naturais como ferro,
manganês e urâ nio. Além de servir como rota de escoamento de petró leo e gá s proveniente da Rú ssia
rumo a países europeus, a Ucrâ nia tem se aproximado da Otan e da á rea de influência econô mica da
Uniã o Europeia, abalando as pretensõ es de retomada da hegemonia russa sobre o Leste Europeu. O país
teve uma regiã o anexada à Rú ssia, entretanto, nã o houve reconhecimento da açã o pela ONU. Trata-se,
portanto, de uma situaçã o com potencialidade para ainda gerar mais conflitos.
4. As principais portas de entrada dos imigrantes e refugiados sã o Itá lia, Grécia, Croá cia e Hungria,
países mediterrâ neos ou que encontram-se nos limites do Espaço Schengen.
5. Um dos principais problemas refere-se à integraçã o na sociedade local, pois os imigrantes se veem
diante de um dilema: integrarem-se e assim renunciarem à sua identidade ou permanecerem com seus
costumes e manterem-se marginalizados.
6. Terrorismo é um conjunto de atos de violência cometidos por uma organizaçã o para criar um clima de
insegurança e exercer uma chantagem sobre um governo ou determinado grupo ou comunidade. O
ataque ao jornal francês Charlie Hebdo em janeiro de 2015, a série de ataques ocorridos em Paris em
novembro de 2015 e os ataques na Bélgica em março de 2016 sã o exemplos que podem ser citados.
7. a) A maior parte dos imigrantes que chegam à Itá lia é originá ria de países menos desenvolvidos, da
Á frica e do Oriente Médio, e possivelmente fogem da pobreza, em busca de melhores condiçõ es de vida e
trabalho nos países europeus. Já os grupos de sírios, afegã os e iraquianos provavelmente se dirigiram à
Europa fugindo de conflitos e guerras civis.
b) Considerando os conflitos em curso no mundo em 2015, é possível identificar a Grécia como rota de
destino de pessoas em busca de refú gio.
c) Os alunos podem destacar dificuldades vinculadas à integraçã o no país receptor e ao enfrentamento
de situaçõ es de xenofobia.
Pá gina 304
8. Segundo o grá fico, os conflitos no interior da Europa (fragmentaçã o da Iugoslá via e independência de
Kosovo) e, recentemente, os conflitos externos no Oriente Médio e Á frica figuram como as principais
causas do aumento dos fluxos de refugiados para a Europa.
9. a) Os principais destinatá rios de pedidos de asilo em 2015 foram: Alemanha, Hungria, Suécia, Á ustria,
Itá lia e França.
b) Em geral, as solicitaçõ es de asilo sã o destinadas aos países com maior desenvolvimento econô mico ou
nos principais países de desembarque. Tal fato se deve à expectativa de que nesses países conseguirã o
condiçõ es de vida melhores e maior apoio à subsistência.
c) Professor: oriente os alunos na pesquisa dando indicaçõ es de sites confiá veis para obtençã o de
informaçõ es. Discuta com os alunos os resultados encontrados.
10. a) O projeto europeu mencionado refere-se à integraçã o dos países que compõ em a UE, com vistas a
ampliar o comércio e ao mesmo tempo diminuir as desigualdades socioeconô micas, respeitando-se a
diversidade sociocultural. Espera-se que os alunos percebam que a tendência para o aumento das
desigualdades no interior do bloco, conforme destaca a reportagem, compromete seus objetivos
primordiais, inclusive por criar tensõ es e conflitos entre seus países-membros.
b) A desigualdade socioespacial possui cará ter histó rico, embora tenha sido intensificada no contexto da
crise econô mica iniciada em 2008.
11. A imigraçã o para a Europa, especialmente de contingentes oriundos de países com baixo IDH, como
aqueles do Oriente Médio e da Á frica, atualmente tem sido encarada como um grande problema por
parte dos países europeus. Estes consideram esse perfil de imigrantes indesejá vel, pois eles trariam
problemas de ordem social e econô mica, como a elevaçã o das taxas de desemprego, a degradaçã o
cultural e moral da sociedade, dentre outros aspectos negativos. Assim, a xenofobia que caracteriza boa
parte da populaçã o de origem europeia provoca tensõ es e conflitos envolvendo os imigrantes, que
enfrentam políticas bastante restritivas à sua entrada e permanência no continente, bem como
limitaçõ es à cidadania e acesso a bens e serviços. Isso ocorre na contramã o do projeto europeu de
“diluiçã o” das fronteiras internas. Observa-se um aumento do clima de medo e vigilâ ncia nos países
europeus, o que somado a dificuldades econô micas dá ingredientes para aumento da intolerâ ncia e
xenofobia.
12. A imagem mostra o papel estratégico da Ucrâ nia na disputa entre a Uniã o Europeia, Estados Unidos e
a Rú ssia. Observa-se que o urso, representando a Rú ssia, aparece com maior agressividade, o que pode
ser associado à intervençã o russa na Ucrâ nia e à ocupaçã o da Crimeia, açõ es contrá rias ao Conselho de
Segurança da ONU. A intençã o russa em ocupar a Ucrâ nia pode ser explicada por dois principais motivos:
servir como rota de escoamento de petró leo e gá s provenientes da Rú ssia rumo a países europeus, e
influenciar economicamente países como a Ucrâ nia e outras antigas repú blicas soviéticas, como Geó rgia
e Armênia, que têm se aproximado da Otan e da Uniã o Europeia, o que ameaçou fragilizar a hegemonia
russa sobre o Leste Europeu.
Capítulo 10 África
Grande parte da Á frica tem permanecido, durante décadas, à margem dos processos de desenvolvimento
industrial que ocorreram no mundo a partir da segunda metade do século XX. Tensõ es, guerras civis,
migraçõ es maciças por motivos políticos ou econô micos e a exploraçã o de recursos por grupos
internacionais têm marcado o continente africano, mas as mudanças começam a ocorrer com grande
intensidade. O objetivo do capítulo é discutir a organizaçã o de espaços africanos, considerando,
inclusive, a intensa relaçã o entre a nossa histó ria e a daquele continente.
Sugestões didáticas
• A África e a globalização (p. 141)
Para tratar o tó pico, é interessante o professor destacar o esforço realizado por alguns países do
continente para reduzir os problemas socioeconô micos e políticos existentes. Ao analisar as políticas de
auxílio empreendidas por organismos como o Banco Mundial, pode-se ressaltar que alguns projetos
propostos estã o atrelados ao comprometimento dos governos em assumir políticas neoliberais de
privatizaçã o. Ao discutir o crescimento rá pido das cidades africanas, o professor pode trazer a discussã o
para a realidade brasileira e identificar as semelhanças dos reflexos da pobreza no espaço urbano entre
grandes cidades de países africanos e grandes cidades brasileiras, já que o processo de favelizaçã o possui
características semelhantes nas cidades dos países em desenvolvimento.
O mapa “Á frica – Situaçã o alimentar (2011)” (p. 141) possibilita uma boa discussã o sobre as condiçõ es
de vida de parte dos africanos, sobretudo aqueles que vivem na porçã o subsaariana.
Sã o dois os pontos-chaves que devem ser trabalhados com os alunos sobre os conflitos no continente
africano. Primeiro, pode-se explorar a multiplicidade de conflitos tribais e sua relaçã o com a divisã o do
continente feita pelos colonizadores, que colocaram etnias rivais dentro de um mesmo territó rio. O
principal critério para a delimitaçã o e a demarcaçã o das fronteiras foi a divisã o de recursos naturais,
conforme os interesses de cada potência. O argumento pode ser reforçado pelo mapa “Á frica – Conflitos e
guerras civis (2012)”, da pá gina 142, que além dos conflitos mostra a divisã o política africana, a qual
apresenta as linhas retas que configuram os limites políticos e administrativos entre cada país,
principalmente na Á frica Subsaariana. Em muitos casos, o ó dio entre as etnias foi fomentado pelo
colonizador, de forma a facilitar o processo de colonizaçã o e impedir revoltas e resistências unificadas.
Em outros, a descolonizaçã o deixou no poder uma etnia, que passou a tratar as outras com prá ticas
semelhantes à s dos antigos dominadores. A leitura do mapa oferece uma visã o da instabilidade do
continente.
Para que os objetivos deste tó pico de discussã o sejam atingidos, o professor pode questionar os alunos
acerca das representaçõ es que eles têm sobre o continente, lembrando que nã o existe apenas um grupo
dito “negro” na Á frica. Sã o muitas etnias negras, além daquelas do Magreb (ao norte). À guisa de
complementaçã o, o professor pode trazer um mapa das etnias originá rias, que retrate a pré-colonizaçã o
do continente.
Pá gina 305
Uma referência para essa produçã o cartográ fica é o trabalho de Rafael Sanzio Araú jo dos Anjos, na
“Coleçã o Á frica-Brasil: cartografia para o ensino-aprendizagem” (Salvador: Mapas e Consultoria, 2007).
Outro ponto a ser discutido é a disputa por recursos naturais, principalmente minerais preciosos,
petró leo e á gua, que pode acentuar as relaçõ es de colonialismo.
Para os casos específicos de conflitos (p. 143-145), sugere-se ao professor a divisã o da turma em grupos,
em que cada um apresentaria um conflito específico.
O tó pico em questã o permite ao professor retomar com os alunos o conceito ratzeliano de “espaço vital”,
pois o papel da China na Á frica envolve interesses econô micos, principalmente no que se refere ao
fornecimento de petró leo. O apoio militar a alguns países expressa uma situaçã o bastante sintomá tica da
expansã o do espaço vital chinês. No entanto, o conceito deve ser utilizado de maneira crítica, e nã o
legitimadora.
O aprofundamento das relaçõ es sino-africanas pode ser também exemplificado pelos excedentes
demográ ficos enviados pela China, sobretudo masculinos, em direçã o à Á frica, o que tem levado à
miscigenaçã o. Um exemplo relevante deste caso é Angola, que registrou expressiva quantidade de
casamentos entre homens chineses e mulheres angolanas nos ú ltimos anos.
Nesse artigo, a autora procura destacar o grau de participaçã o feminina na política, destacando Ruanda
como o país com a maior representaçã o parlamentar feminina. Conduza a leitura do texto e a discussã o
no sentido de refletir sobre as razõ es que afastam as mulheres da política, especialmente no Brasil, onde
a participaçã o parlamentar das mulheres é extremamente pequena. Destaque os aspectos que levaram as
mulheres à condiçã o atual em Ruanda e lembre que nem mesmo nos países considerados mais
igualitá rios, como a Suécia, a participaçã o feminina consegue ser equivalente à dos homens.
Procure destacar os aspectos e os sistemas de valores que durante muito tempo confinaram a mulher no
nú cleo familiar, nã o somente no Brasil. Oriente a discussã o para a importâ ncia das mulheres na
formulaçã o das leis e políticas pú blicas, ponderando os aspectos da realidade e do cotidiano das
mulheres, da autonomizaçã o das regras sobre o corpo, sobre os comportamentos, o machismo, etc.
O texto chama a atençã o para as formas tradicionais de educaçã o e concepçã o de natureza, conhecimento
e mundo das comunidades étnicas na Á frica. A discussã o das perguntas deve propiciar uma reflexã o
sobre a imposiçã o do modo de pensar europeu nas comunidades tradicionais, que habitavam tanto a
Á frica como as Américas.
Vale lembrar ainda que, tanto na América Latina como na Á frica, as culturas tradicionais ainda sã o
inferiorizadas em face da cultura dominante. Por isso, diz-se que a América Latina e a Á frica se
libertaram do colonialismo, mas nã o de sua histó ria colonial.
Atividades complementares
Fonte de pesquisa: ONU. Sustainable urban development in Africa. Nairó bi: UN-Habitat, 2015. p. 2. Disponível em:
<http://unhabitat.org/sustainableurban-development-in-africa>. Acesso em: 2 maio 2016.
Professor: o crescimento urbano impõ e grandes desafios à s políticas pú blicas, que nã o podem deixar de
contemplar a questã o da habitaçã o digna e salubre, envolvendo superaçã o de condiçõ es precá rias de
saneamento bá sico. Os alunos podem citar também a infraestrutura de circulaçã o e transporte, uma vez
que grandes cidades, densas do ponto de vista populacional, deveriam privilegiar investimentos em
transportes coletivos de qualidade e com baixo impacto ambiental. Vale ressaltar, contudo, que o
principal desafio do crescimento urbano é minimizar a desigualdade social, tendo em vista que a miséria
e a pobreza tendem a concentrar-se nas grandes cidades, produzindo violência e favelizaçã o, por
exemplo.
O continente africano tem sido fonte de matérias-primas agrícolas e minerais, principalmente a partir do
século XIX, quando ocorreu a partilha da Á frica entre as potências europeias. Quem explora, como
explora e quem obtém as maiores vantagens sã o questõ es que vêm à tona quando se analisa um mapa
dos recursos naturais africanos.
Pá gina 306
A atividade proposta tem o objetivo de pesquisar a localizaçã o dos recursos naturais no continente e as
condiçõ es de exploraçã o.
Descrição da atividade
Cada grupo receberá uma regiã o africana: norte da Á frica, regiã o do Golfo de Guiné, Chifre da Á frica, sul
da Á frica, etc.
Em dia marcado, cada grupo apresentará o resultado da pesquisa em um painel de discussõ es.
Leitura complementar
[...] Á frica também tem outras dependências e outros enganos. Por exemplo, é visitada anualmente por mais de
30 milhõ es de ricos ocidentais. Dir-se-ia que isso é bom para a economia africana. O turismo, dizem ao povo,
abrirá as portas ao desenvolvimento...
Mas o dinheiro que o turismo deixa em Á frica nem sequer chega para pagar as taxas e os juros da dívida
externa. Nem fica em Á frica, para ser reinvestido no desenvolvimento econô mico e social. Os hotéis, as
agências de viagens, a banca, o grande comércio, os serviços estã o em Á frica, mas não sã o africanos. Os lucros
sã o reexportados para os países de origem dos turistas. E no má gico enquadramento da Natureza, a miséria
africana continua a crescer.
Á frica é um gigante algemado. Na verdade, de pouco serve ao povo africano a riqueza de recursos naturais que
o Continente encerra: os minérios e os metais, as madeiras raras, os diamantes, a caça, a pesca, o petró leo, os
gados, o oiro e a prata, os fosfatos, a floresta – tudo a Á frica possui em quantidades maciças. No entanto, o povo
é pobre. Angola, por exemplo, exportou em 2006 mais de 30 000 milhõ es de dó lares de produtos petrolíferos,
mas os rendimentos de 70% dos angolanos permanecem inferiores a dois dó lares por dia. O problema central
dos africanos continua, pois, a ser de natureza política.
Grandes massas de dinheiro geram a corrupção. E o capitalismo africano comprou e pagou a pronto as elites
dirigentes e os aparelhos do Estado. A corrupçã o é ilimitada e tudo se compra e se vende. As guerras, o preço
das armas e o trá fico de pessoas e de favores continuam a ser as principais grilhetas usadas pelo grande
capital.
MESSIAS, Jorge. Escalada da pobreza e impé rio da mentira. Disponível em: <http://odiario.info/articulo.php?
p=393&more=1&c=1>. Acesso em: 17 maio 2016.
LIVRO
HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à histó ria. Sã o Paulo: Selo Negro, 2005.
Um trabalho abrangente sobre o continente africano. Cada país é analisado sob aspectos histó ricos e
econô micos recentes.
FILME
SITES
1. Ao observar a imagem, os alunos poderã o associar a extensa visã o aérea da cidade aos processos de
urbanizaçã o e crescimento econô mico. De fato, Nairó bi, uma das maiores do continente, que junto a
outras cidades, como Lagos, Kinshasa e Cairo, apresentam os maiores crescimentos econô micos e em
poucos anos serã o as maiores cidades do mundo em termos de populaçã o. Cabe ressaltar que esse
crescimento pode nã o corresponder a melhorias em á reas rurais ou na qualidade de vida nas cidades.
Mesmo com a abertura ao capital estrangeiro e entrada de muitas multinacionais, os países africanos
encontram dificuldade em alavancar seus parques industriais e a desigualdade social ainda persevera.
Professor: se julgar necessá rio apresente o mapa das maiores cidades africanas que consta nas
“Atividades complementares” (p. 305).
2. Um aspecto que o professor poderá levantar com os alunos é o desvio de recursos de ó rgã os
internacionais ou ONGs. Há relatos de fornecimento de alimentos em alguns países africanos onde houve
o comércio ilegal para outros países. Portanto, questione os alunos sobre açõ es assistencialistas, pois
nesse caso ao receber o alimento o país pode ter dificuldades em desenvolver sua agricultura. No
entanto, a transferência financeira pode ajudar no crescimento econô mico e desenvolvimento em vá rios
setores, tanto na agropecuá ria como na indú stria, beneficiando a populaçã o. Açõ es que auxiliem no
desenvolvimento de técnicas, exploraçã o mais sustentá vel dos recursos, soluçõ es na á rea da saú de,
fortalecem a autonomia e melhora a qualidade de vida das populaçõ es locais.
Pá gina 307
1. O objetivo da atividade é refletir sobre a aids como um problema de saú de pú blica. O tema é
transversal e oferece oportunidade para o diá logo entre a Geografia, a Biologia e a Sociologia, por
exemplo. O professor deve discutir o tema com os alunos procurando identificar se há carências de
informaçã o sobre a doença e se há preconceitos relativos à s pessoas que possuem o vírus HIV. Ofereça as
informaçõ es necessá rias. Estimule a busca de dados e a ampliaçã o do conhecimento sobre o tema. A
atividade enfoca as políticas pú blicas relativas à medicaçã o para o tratamento da aids. Oriente as
pesquisas em fontes confiá veis, pode-se indicar, por exemplo, o site do Programa Conjunto das Naçõ es
Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS).
1. Oriente os alunos na escolha dos países cujo acesso à informaçã o seja possível, e, consequentemente,
indique como a pesquisa pode ser feita (por meio do acesso aos sites dos legislativos ou mesmo da ONU).
Na sequência, organize a discussã o com uma breve apresentaçã o e problematizaçã o dos grupos sobre a
participaçã o feminina nos respectivos países.
1. Para muitos grupos africanos, a transmissã o oral é a ú nica possibilidade de manter viva a histó ria do
grupo, assim como os conhecimentos que foram acumulados ao longo das geraçõ es.
2. Ao receber a língua e a cultura do colonizador europeu, a cultura africana foi sufocada: geraçõ es
inteiras perderam suas referências culturais, o que representou grande prejuízo para o povo africano.
3. Na discussã o dos alunos, deverã o constar elementos como identidade cultural, multiculturalismo e
preservaçã o de tradiçõ es.
2. Os recursos oriundos das exportaçõ es africanas nem sempre se refletem em melhoria das condiçõ es
de vida da populaçã o do continente, em especial por duas razõ es: a existência, em vá rios países, de
governos corruptos que drenam essas riquezas para fins pró prios; a remessa de lucros para fora do
continente por meio das empresas multinacionais.
3. Entre as causas da fome na Á frica Subsaariana, podemos citar: a fraca produçã o agrícola; os cultivos
para exportaçã o; os baixos salá rios e a falta de empregos; e, recentemente, a alta dos preços das
commodities no mercado mundial, que encareceu os alimentos.
4. A maior parte dos processos de independência dos países africanos ocorreu a partir do final da
Segunda Guerra Mundial (1945), em especial na década de 1960.
5. Entre as causas do conflito em Darfur, citam-se questõ es ligadas à posse e à ocupaçã o das terras e
motivos econô micos relacionados à exploraçã o do petró leo.
6. O apartheid foi um regime segregacionista racial vigente na Á frica do Sul entre 1948 e 1991.
7. Os países que desencadearam a Primavera Á rabe estã o localizados no norte da Á frica: Tunísia, Egito,
Líbia e, em menor escala, Argélia e Marrocos.
8. As principais á reas de atuaçã o dos investimentos chineses na Á frica sã o a exploraçã o de petró leo, a
produçã o de energia, a construçã o de estradas e a venda de material de telecomunicaçõ es.
9. As principais críticas relacionadas à atuaçã o dos chineses sã o a exploraçã o do trabalho na Á frica, por
pagarem baixos salá rios, impedirem a sindicalizaçã o e ampliarem a jornada de trabalho.
10. a) O Sahel está localizado ao sul do deserto do Saara, é uma regiã o semiá rida.
b) Entre os fatores que podem dificultar as relaçõ es comerciais entre países vizinhos na Á frica podemos
citar os conflitos, as guerras civis, as rivalidades entre os povos e a pobreza dos países.
11. A charge faz referência à Primavera Á rabe no Egito, em 2011. A primeira imagem representa a
esperança de ampliaçã o de liberdades individuais e pú blicas e a queda do presidente que estava há três
décadas no poder. Entretanto, a sequência dos acontecimentos foi frustrante para uma parcela
significativa do povo egípcio, uma vez que os militares ocuparam o poder apó s a renú ncia do presidente
Hosni Maburak. Eleiçõ es maquiadas colocaram no poder o militar Abdel Fattah Al-Sissi, cujo governo
parece ser uma nova ditadura no Egito.
12. A fotografia apresentada foi tirada durante o período do apartheid – regime que perdurou de 1948 a
1991 na Á frica do Sul, institucionalizando a segregaçã o racial e a diferença de direitos entre negros e
brancos. Ela mostra um lugar de uso coletivo reservado apenas aos brancos e interditado aos negros.
13. O grá fico mostra que os setores de serviços e agricultura sã o os que mais contribuíram para o
crescimento do PIB dos países selecionados no período de 1995-2010. Apesar disso, salienta-se que
Etió pia e Ruanda têm na agricultura a maior fonte do PIB, enquanto Tanzâ nia e Uganda o setor mais
relevante é o de serviços. Vale notar também que o setor de produçã o tem alguma expressã o em
Moçambique.
14. Resposta pessoal. Na leitura dos grá ficos os alunos devem perceber a reproduçã o da clá ssica Divisã o
Internacional do Trabalho, na qual os países menos desenvolvidos atuam como exportadores de
matérias-primas. Enquanto a Á frica vende à China minérios, madeira, pedras preciosas, metais, a China
exporta equipamentos de transporte, materiais elétricos, maquiná rios, têxteis, dentre outros
manufaturados para a Á frica. Isso, no entanto, nã o correspondeu, como se esperaria, a uma balança
comercial desfavorá vel à Á frica e favorá vel à China. As importaçõ es chinesas da Á frica superaram as
exportaçõ es chinesas para a Á frica na maior parte da década de 2000. É importante que ao discutir esses
dados os alunos remetam a conteú dos aprendidos no decorrer deste capítulo.
15. a) A formaçã o de grupos expressivos de refugiados na Á frica pode ser atribuída sobretudo aos
conflitos étnicos e à s guerras civis.
Pá gina 308
No conjunto da unidade, ressaltamos que é importante dar atençã o especial à América Latina, já que, a
partir de seu estudo, é possível desenvolver também uma melhor compreensã o das questõ es relativas à
realidade socioespacial brasileira. Dessa forma, emergem problemá ticas, que ocorrem tanto em outras
partes do continente como no Brasil, as quais podem ser veladas: a luta de movimentos indígenas por
sua territorialidade, o nacionalismo, o aprofundamento das desigualdades sociais.
Sugestões didáticas
Se julgar necessá rio, associe o estudo do nacionalismo ao caso brasileiro, aprofundando os exemplos da
era Vargas e da ditadura militar. Mas é importante destacar que cada um desses processos teve
finalidades distintas: enquanto a era Vargas legitimou as bases da economia nacional industrializada, a
ditadura militar abriu a economia nacional aos capitais estrangeiros.
O tó pico também permite tratar da ascensã o, entre as décadas de 1990 e 2000, de líderes de base
popular na América Latina. Isso pode ser visto por dois â ngulos: o primeiro remete à insatisfaçã o
popular diante dos governos de cunho neoliberal; o segundo diz respeito à aliança desses governantes
neoliberais com setores e oligarquias tradicionais. O perfil carismá tico, o diá logo dos novos governantes
com vá rios setores da sociedade, um maior intervencionismo de Estado em face do neoliberalismo e os
discursos de cunho nacionalista dessas lideranças fazem com que muitos considerem esse fenô meno a
emergência de um neopopulismo na América Latina. Alguns exemplos de governos que foram populares
na América Latina: Luiz Iná cio Lula da Silva, no Brasil, o de José Mujica, no Uruguai, o de Rafael Correa,
no Equador, e o de Hugo Chá vez, na Venezuela.
Podem ser buscadas com os alunos reflexõ es questionadoras sobre as causas das problemá ticas
econô micas e sociais que o México enfrenta. Nesta discussã o, vale observar e interpretar o mapa “México
– Recursos minerais, populaçõ es indígenas e movimentos contestató rios” (p. 154). Pode-se discutir, por
exemplo, a existência de movimentos armados indígenas na regiã o de Chiapas, que está relacionada com
a imposiçã o da cultura dominante mexicana, que nã o permite aos grupos indígenas vivenciarem suas
territorialidades (língua, normas, leis, costumes...). Tais movimentos expressam a necessidade desses
grupos de experimentarem seus modos de vida, que se chocam com os interesses do Estado.
O estudo sobre a economia e a sociedade mexicanas também permite ao professor fazer um paralelo com
as problemá ticas socioespaciais brasileiras: as elevadas desigualdades sociais, a criminalidade e as
questõ es indígenas (embora nã o se manifestem de forma tã o intensa a ponto de existirem grupos
guerrilheiros).
O professor pode levar os alunos à reflexã o sobre a importâ ncia dos recursos energéticos para o
estabelecimento das relaçõ es entre os países da América Latina e dos outros blocos. As principais
tensõ es dentro do Mercosul estã o relacionadas ao comércio no setor energético. Como exemplo, vale
lembrar que um dos primeiros passos da Uniã o Europeia (UE) foi a criaçã o da Comunidade Europeia do
Carvã o e do Aço (Ceca), em 1951.
No estudo desse tema, seria interessante identificar a forte influência dos Estados Unidos sobre alguns
países, a ponto de criar situaçõ es de conflitos e confrontos armados entre os grupos aliados aos
interesses estadunidenses e aqueles que sã o contrá rios a eles.
Conclua esse item expondo a situaçã o da Colô mbia, um dos principais centros de produçã o e distribuiçã o
de drogas do mundo. É importante que o professor analise com os alunos o mapa “Colô mbia: forças
conflitantes” (p. 158) para que eles identifiquem os níveis de tensã o no país.
O texto traz duas discussõ es importantes para os alunos. A primeira, questiona a visã o econô mica do
espaço geográ fico, que projeta à s mais diversas e remotas á reas um olhar desenvolvimentista, que visa
transpor todas as barreiras impostas pela natureza ou aproveitar toda a matéria-prima disponível para o
crescimento da economia. Isso desdobra-se, por exemplo, no extrativismo predató rio, em impactos
ambientais das grandes obras, alteraçã o de biomas e modos de vida vinculados aos ciclos naturais,
dentre outros fatores. Procure reforçar que essa visã o é uma herança colonial.
A segunda discussã o trata da integraçã o física dos Estados da América Latina para a circulaçã o da
produçã o econô mica, de matéria-prima e o estratégico acesso aos portos nos dois oceanos: Atlâ ntico e
Pacífico. A saída para o Pacífico pode potencializar o comércio com o continente asiá tico, enquanto o
Atlâ ntico reforçaria a centralidade já estabelecida com a Europa e Estados Unidos. Discuta com os alunos
como os acordos multilaterais podem ajudar a estruturar a economia do Brasil, na medida em que
facilita o escoamento da produçã o.
Atividades complementares
O objetivo da atividade é construir um retrospecto histó rico-geográ fico da América Latina; trata-se
portanto de uma atividade interdisciplinar.
Pá gina 309
Descrição da atividade Sugerimos que esta atividade seja realizada com a turma dividida em sete
grupos. Cada grupo pesquisará uma das fases histó ricas da América Latina e as repercussõ es dessa fase
na organizaçã o do espaço geográ fico. Temas propostos:
• Civilizaçõ es pré-colombianas;
• Colonizaçã o;
• Independência e formaçã o dos países;
• Processos de industrializaçã o;
• Ditaduras militares;
• Neoliberalismo e globalizaçã o;
• “Neopopulismo” e governos de esquerda.
Os resultados da pesquisa podem ser apresentados oralmente em um painel de discussõ es. Seria
interessante motivar os alunos a produzir materiais audiovisuais, que poderã o depois ficar expostos na
escola.
Grupos indígenas da Amazô nia que ainda pouco se integraram à sociedade brasileira ou populaçõ es
indígenas organizadas que promovem rebeliõ es como em Chiapas (México). Eis a variedade de grupos
indígenas que vivem na América Latina. A proposta de atividade interdisciplinar é desenvolver uma
pesquisa para identificar grupos indígenas latino-americanos.
Descrição da atividade
• É interessante que a atividade envolva professores de Histó ria e de Sociologia e englobe temas
transversais como pluralidade cultural, meio ambiente, trabalho e consumo e ética.
• Os alunos, em pequenos grupos, farã o uma pesquisa sobre povos indígenas em regiõ es e países latino-
americanos: países da América Central, México, Peru, Bolívia, Equador, Brasil, etc.
• A pesquisa consistirá em descrever características culturais preservadas, analisar as formas histó ricas
de integraçã o com os colonizadores europeus e descrever as condiçõ es de vida atuais.
• Em dia marcado, as pesquisas de cada grupo serã o socializadas com os demais grupos.
Leitura complementar
No texto que apresentamos a seguir, o geó grafo Carlos Walter Porto-Gonçalves discute a experiência dos
movimentos sociais na América Latina como contraponto à ló gica dos Estados-nacionais. Trata-se de
grupos sociais historicamente constituídos, que desenvolvem lutas nã o somente para alcançar melhores
condiçõ es de vida, como pela afirmaçã o de suas territorialidades.
A clivagem entre as duas Américas se afirma para além das elites eurocêntricas, tanto ao Norte como ao Sul da
América. Há os indígenas, os camponeses, os afrodescendentes, o indigenato [...], os brancos pobres que têm
em Toussaint de L’Overture, em José Martí, em Tupac Amaru, em Zumbi dos Palmares, em Sepé Tiaraju
(guarani), em Tupac Katari (Bolívia), em Emiliano Zapata e em tantas e tantos outros e outras que assinalam a
dupla emancipaçã o que se coloca no horizonte desses povos ainda hoje.
Desde 1492 que, aqui, nesse espaço que viria se chamar América Latina e Caribe, convivem diferentes
temporalidades por meio de relaçõ es fundadas na opressão, no preconceito e na exploraçã o. O hibridismo é
pouco para caracterizar o que aqui se passou e se passa. O segundo momento de nossa formaçã o social, que
nos legou os Estados Territoriais independentes, preservou a colonialidade do primeiro. O gamonalismo, o
coronelismo, o caudilhismo, o patrimonialismo, o clientelismo, o fisiologismo e, já com a urbanização, o
populismo, conformaram relaçõ es em que a lógica do favor4 predominou, ao contrá rio de uma lógica de
direitos, sobretudo com relação aos direitos coletivos e sociais que, na Europa e EUA, foram arrancados à
burguesia pelo proletariado por meio das lutas de classes.
A exacerbação dos nacionalismos coloniais nos anos 50 e 60 na Á sia, na Á frica nos daria, na América, Domingo
Peró n, Getú lio Vargas, Jacobo Arbenz, a Revoluçã o Boliviana de [19]52 e, em Cuba, em 1959, uma nova
“revolução impossível”. A partir daí o espectro do haitianismo de novo passa a nos rondar, agora sob o nome
de comunismo. Sã o enormes as contradiçõ es vividas nos Estados coloniais latino-americanos e caribenhos,
posto que os princípios liberais se mantêm somente para fora das suas fronteiras – o exclusivo colonial sendo
substituído pela moeda exclusiva, o dó lar do livre (?) comércio – e, dentro, a propriedade privada, sobretudo
da terra, permanecendo concentrada. A emancipaçã o a meias, como se diz em bom português, fará com que
entre nó s a Reforma Agrá ria seja uma questã o que potencialize e amalgame o conjunto de injustiças que nos
conformam. Desde Toussaint de L’Overture, de José Martí, de Zapata, de Mariá tegui, de Sandino, de Farabundo
Marti e da Revolução Boliviana de 1952, a questã o da terra e dos territó rios dos povos originá rios e outros se
coloca no centro do debate político e social. O liberalismo que pensa a liberdade individual a partir da
propriedade privada nã o atravessou o Atlâ ntico, pelo menos ao sul do Rio Grande. Os anos [19]60, e já sob os
efeitos da Revoluçã o Cubana, farã o oscilar, ora para a direita, ora para a esquerda, o pêndulo de nosso quadro
político movido, no fundo, por essas lutas sociais indicadas acima. Daí surgirã o diferentes movimentos
guerrilheiros, desde Che Guevara à s Farcs, passando por governos nacionalistas com fortes coloraçõ es de
esquerda (nacionalizaçã o dos recursos naturais, reforma agrá ria), culminando com o verdadeiro teste da
democracia liberal entre nó s em 1971 no Chile de Salvador Allende. As ditaduras militares de direita, em
grande parte apoiadas pelos EUA, que já vinham se ensaiando contra o novo haitianismo cubano pelo menos
desde 1964, no Brasil, iniciarã o, em 1973, a primeira experiência neoliberal de que se tem notícia sob o
massacre da experiência democrá tica e socialista do Chile por Augusto Pinochet. É sintomá tico que a primeira
experiência neoliberal se faça contra uma experiência socialista e democrá tica. [...]
Aníbal Quijano caracterizou as independências dos países da América dizendo que entre nó s o fim do
colonialismo nã o significou o fim da colonialidade.
4
1 As notas da edição original foram suprimidas.
Pá gina 310
E Quijano [...] nos remete a Mariá tegui [...] que, nos anos 20 do século passado, já nos chamara a atençã o para o
significado da luta indígena para os movimentos emancipató rios na América. Mas, além desses intelectuais e
daqueles protagonistas das lutas em prol da dupla emancipação, é preciso que remetamos à sua expressão
atual no zapatismo, no MST, no indigenato, nos afrodescendentes, nos indígenas, nos piqueteiros, nos rappers
que reescrevem, hoje, a histó ria da moderno-colonialidade e da racialidade a partir de um lugar subalterno. É
aqui que novas territorialidades com valores emancipató rios podem ser encontradas.
Porto-Gonçalves, Carlos Walter. A reinvençã o dos territó rios: a experiê ncia latino-americana e caribenha. In: Ciceñ a, Ana
Ester (Org.). Los desafíos de las emancipaciones en un contexto militarizado. Buenos Aires: Clacso, 2006. p. 151-197.
LIVRO
Lemos, Amá lia Geraiges de; Arroyo, Mô nica M.; Silveira, Maria Laura (Org.). América Latina: cidade,
campo e turismo. Sã o Paulo: Clacso, 2006.
Coletâ nea de textos recomendada para quem busca aprofundar as discussõ es a respeito da formaçã o
socioespacial da América Latina a partir de reflexõ es teó ricas e estudos de caso.
FILME
SITE
1. Resposta pessoal. Os alunos devem expor suas interpretaçõ es com a turma para promover o debate. O
grafite mostra uma multidã o vendada e calada pela bandeira argentina. A imagem pode ser interpretada
como uma representaçã o do poder do nacionalismo em cegar ou calar um povo. É preciso, porém, tomar
o cuidado de nã o valorar o nacionalismo negativamente ou positivamente, buscando de modo crítico
considerar o contexto histó rico e o local na aná lise.
1. Sugestã o de versos:
Caso surjam dú vidas sobre o significado de “tugú rio” (habitaçã o muito simples ou rú stica), peça que
busquem o significado. Solicite aos alunos que, em grupos, pesquisem outros poemas ou letras de mú sica
com a mesma temá tica e solicitar que expliquem as escolhas e estabeleçam relaçõ es com o capítulo.
2. O poema foi publicado em um contexto específico, em outro país, no entanto a letra fornece elementos
que correspondem à realidade brasileira. Problematize com os alunos quais condiçõ es de vida
melhoraram desde entã o: nível de escolaridade, longevidade, taxa de mortalidade, índice de desemprego.
O professor também pode sugerir à turma que faça uma entrevista com pessoas que viveram no contexto
das décadas de 1970 e 1980 para comparar as condiçõ es socioeconô micas com o momento atual.
1. Sim, isso ocorreu no passado e ainda ocorre no presente. Atualmente, os grandes projetos de
construçã o de hidrelétricas, como as de Belo Monte, no Pará , sã o responsá veis pela remoçã o de milhares
de famílias de suas respectivas á reas nativas. Comente sobre o MAB, Movimento dos Atingidos por
Barragens, para citar um exemplo prá tico.
2. Espera-se que os alunos estejam atentos à ampliaçã o das relaçõ es comerciais entre o Brasil e a China
nos ú ltimos anos. Como exemplos, podem ser citados o grande volume de exportaçã o brasileira de
minério e soja para a China, que hoje é a maior compradora do mundo dessas matérias-primas, bem
como as importaçõ es brasileiras de produtos manufaturados de bens de consumo, como aparelhos
eletrô nicos. A Parceria Transpacífico, da qual participam Peru e Chile, também exemplifica a
aproximaçã o com a Á sia.
1. A eleiçã o do presidente de origem indígena, Juan Evo Morales na Bolívia em 2005 ou a eleiçã o de Hugo
Chá vez em 1998 à presidência da Venezuela sã o dois exemplos do nacionalismo no cená rio da América
Latina.
Pá gina 311
Chá vez implementou um extenso plano de mudanças, que incluiu a estatizaçã o dos setores de
telecomunicaçõ es e bancá rio, a distribuiçã o de terras, o controle estatal de frigoríficos e a
regulamentaçã o dos serviços médicos privados. Evo, por sua vez, apoiado por um partido político de
linha socialista e nacionalista teve como marcar de sua forma de governar o aumento do controle sobre a
exploraçã o de petró leo e gá s natural.
2. Populismo é um fenô meno que possibilita a ascensã o de um líder carismá tico, visto como defensor
das camadas populares. Sã o exemplos de populismo o peronismo, na Argentina, e o varguismo, no Brasil.
Ambos ocorreram entre as décadas de 1940 e 1950, e os líderes Juan Peró n (Argentina) e Getú lio Vargas
(Brasil) contavam com o apoio popular em regiõ es que passavam por acentuado processo de
urbanizaçã o e industrializaçã o.
3. O nacionalismo na Bolívia foi marcado pela eleiçã o, em 2005, do presidente Juan Evo Morales Ayma,
representante da populaçã o indígena. Isso ocorreu em funçã o da insatisfaçã o popular diante da pobreza
e da desigualdade social que assola o país. Vale lembrar que 70% da populaçã o boliviana sã o indígenas,
mas o poder político e econô mico sempre esteve nas mã os de uma minoria branca descendente de
europeus. A principal política nacionalista do governo de Evo Morales é o aumento do controle sobre a
exploraçã o de petró leo e de gá s natural, que sempre estiveram em mã os de empresas estrangeiras.
4. Com a implantaçã o de políticas neoliberais no México, foram privatizados vá rios setores antes
controlados por empresas estatais mexicanas. Nos anos 1990, os efeitos do neoliberalismo repercutiram
no aprofundamento das desigualdades sociais, na desvalorizaçã o da moeda e nos crescentes déficits
comerciais.
6. A partir da segunda metade do século XX, as relaçõ es entre Cuba e Estados Unidos foram marcadas
pela ruptura diplomá tica e pelo embargo econô mico estadunidense à ilha. Nos anos de 1960, os Estados
Unidos estabeleceram uma política de acolhida de imigrantes cubanos que fugiam do regime socialista.
Miami era o principal ponto de entrada dos cubanos que ali instalaram uma forte comunidade. Em 2014,
tiveram início as negociaçõ es para a reaproximaçã o entre os dois países e, em 2015, foram reabertas as
respectivas embaixadas.
7. A presença das forças de paz da Organizaçã o das Naçõ es Unidas (ONU) no Haiti, coordenadas pelo
Brasil, pode ser vista sob dois â ngulos: por um lado, para a diplomacia brasileira, revelaria a liderança do
Brasil na América Latina; por outro, existe uma forte crítica dos movimentos sociais brasileiros e
haitianos de que as forças de paz da ONU têm exercido um papel repressivo e atuado com o intuito de
estabelecer a paz para atender aos interesses de grupos internacionais que se instalaram no Haiti em
busca de mã o de obra barata.
8. Os conflitos recentes na Colô mbia relacionam-se, sobretudo, à presença das Forças Armadas
Revolucioná rias da Colô mbia (Farc). Vale ressaltar também o financiamento de armas, helicó pteros e
treinamento para os colombianos e a intervençã o militar promovida pelos Estados Unidos via Plano
Colô mbia como objeto de tensã o no territó rio do país e nas relaçõ es com os países vizinhos.
10. O aluno poderá inicialmente descrever o mapa destacando que na porçã o norte do México as
condiçõ es de vida das mulheres sã o boas a muito boas, apresentando elevado nível de IDH. Na á rea
central do país, as condiçõ es passam a ser regulares e atingem o muito ruim na porçã o Sul do país. Nessa
regiã o se localizam Chiapas, Oaxaca e Guerrero, á reas de forte concentraçã o de indígenas. Convém
ressaltar que as desigualdades observadas territorialmente quando se considera o IDH das mulheres
reproduzem o padrã o territorial das desigualdades sociais do povo mexicano.
11. a) Os países com maior concentraçã o de renda sã o Honduras, Colô mbia e Haiti, seguidos de Panamá
e Brasil.
b) Uma melhor distribuiçã o de renda resulta em melhores condiçõ es de vida para a populaçã o como um
todo e menores níveis de pobreza no país.
12. Sugerimos explorar a tabela com os alunos. Com exceçã o de Cuba, os Índices de Desenvolvimento
Humano mais elevados da América Latina encontram-se nos países da América do Sul, ao passo que os
mais baixos se encontram na América Central.
Os países com os mais baixos índices – os da América Central – passaram por uma série de instabilidades
políticas nas ú ltimas décadas, evidenciando a falta de solidez de seus regimes democrá ticos. Quase todos
enfrentaram ditaduras militares de direita, surgimento de grupos guerrilheiros de esquerda e
desestruturaçã o econô mica (que repercute nos dados de IDH) e intervençõ es estadunidenses.
Pá gina 312
14. A guerra das Malvinas está relacionada ao sentimento nacionalista argentino, que foi mobilizado
pelo governo militar do país (na época, já bastante contestado). A guerra ocorreu em funçã o da invasã o
das ilhas pelas tropas argentinas, em 1982, e o país saiu derrotado. O professor deve orientar os alunos
na pesquisa, promovendo uma atividade interdisciplinar, dialogando com Histó ria. Contudo, incentive os
alunos a buscarem também informaçõ es sobre a situaçã o atual da relaçã o entre Argentina e Reino Unido.
Capítulo 12 Ásia
É muito comum nas referências ao continente asiá tico constarem inú meros adjetivos de tamanho e
quantidade: o mais populoso e o mais extenso, entre outros. Uma nova qualificaçã o pode ser
acrescentada a essa lista: a Á sia é um dos continentes com maior nú mero de tensõ es e conflitos. As
questõ es geopolíticas estã o presentes nesse continente com toda a intensidade, e seus reflexos se
irradiam por todo o planeta. O capítulo tem como objetivo estudar algumas dessas questõ es.
Sugestões didáticas
É importante contextualizar o Oriente Médio com o auxílio do mapa da pá gina 162, destacando a
proximidade da regiã o com a Europa e a Á frica. Daí a relaçã o entre essas regiõ es ao longo da histó ria
ocidental. Também é fundamental rever sobre a distribuiçã o mundial de reservas de petró leo para
destacar a importâ ncia econô mica do Oriente Médio.
Explique que, mesmo com o evento da Primavera Á rabe, houve a ascensã o de grupos políticos de
extrema direita, em países como Israel e Turquia, embora tenham ocorrido algumas reformas políticas,
como na Ará bia Saudita, onde as mulheres passaram a ter direito de votar e de se candidatar a cargos
pú blicos em 2015. No entanto, a guerra civil na Síria, iniciada na Primavera Á rabe, se acirrou, passando a
envolver, de um lado, grupos que apoiam o governo ditatorial de Bashar al-Assad e, de outro, milícias
rebeldes ao governo, apoiadas pela Al Qaeda e pelos Estados Unidos. Em 2013, o surgimento do grupo
extremista Isis, que combate o governo e os rebeldes e tenta fundar um califado na regiã o, agravou a
situaçã o do país.
Esta é uma ó tima oportunidade para questionar os alunos sobre a correspondência entre territó rio e
naçã o, que se naturalizou com a difusã o do nacionalismo na metade do século XIX. Data daí a ascensã o do
sionismo, o nacionalismo judaico, que levou à criaçã o do Estado de Israel, dando status nacional à etnia-
religiã o judaica. Cabe lembrar que há , em Israel, partidos minoritá rios que defendem a criaçã o de um
estado multiétnico, reunindo israelenses e palestinos.
A aná lise dos mapas desse item é muito importante para que os alunos percebam a dimensã o espacial
dos conflitos através do tempo. É interessante fazer um trabalho de comparaçã o entre os mapas,
analisando ganhos e perdas territoriais de israelenses e palestinos. Mesmo nos dias de hoje, com
diversos acordos estabelecidos, o domínio territorial é quase totalmente exercido por Israel, com
exceçã o de Gaza e de á reas da Cisjordâ nia, que sã o governadas pela Autoridade Nacional Palestina. O
Estado da Palestina foi admitido como membro pleno da Unesco (2011) e como Estado observador da
ONU (2012). O Brasil reconhece o Estado da Palestina desde 2010.
É importante discutir a independência da Índia. O professor pode ressaltar a importâ ncia do boicote aos
produtos ingleses e o nã o pagamento de impostos, que fizeram parte do processo de independência do
país por meios pacíficos. Nesse processo, a religiã o foi um fator determinante para a definiçã o das
territorialidades, levando à formaçã o de três naçõ es: Índia, Paquistã o e Bangladesh.
O professor pode ressaltar a importâ ncia da geografia da regiã o da Caxemira, que se situa entre regiõ es
com características políticas, econô micas e culturais distintas: territó rio paquistanês, indiano, e chinês. O
professor pode lembrar ainda que uma parte do norte da Caxemira foi anexada pela Índia, o que gerou
um conflito em 1962.
Para entender melhor a questã o dos Novos Tigres, pode-se recorrer ao levantamento ou à mençã o dos
produtos industrializados provenientes da regiã o que chegam a baixos preços ao Brasil: calçados,
produtos eletrô nicos, têxteis, etc. Vale lembrar que tanto os novos como os antigos Tigres Asiá ticos
caracterizam-se pela industrializaçã o orientada à exportaçã o (IOE).
O terrorismo pode ser discutido com os alunos de vá rias maneiras. A primeira polêmica a ser levantada
parte da afirmaçã o de que “o terrorista é um soldado sem pá tria”, chamando atençã o para o fato de que
violência semelhante à do terror é perpetrada legitimamente por exércitos nacionais.
A segunda indagaçã o aponta para as vítimas do ataque ao World Trade Center em 11 de setembro de
2001: além dos mortos no local, centenas de milhares de migrantes tornaram-se “suspeitos” e tiveram
seus movimentos cerceados pelo controle antiterror, também conhecido como Guerra Global contra o
Terrorismo.
Por fim, é importante mostrar aos alunos que essas questõ es nã o estã o distantes, que nã o ocorrem
apenas em outros continentes ou países: há reiteradas acusaçõ es a habitantes da Tríplice Fronteira em
Foz do Iguaçu de envolvimento com o terrorismo internacional, aliado ao narcotrá fico e ao contrabando.
Pá gina 313
Atividades complementares
Leitura complementar
A expressão Oriente Médio é evasiva, uma vez que não existe consenso sobre seu limite regional: há variaçõ es
quanto às regionalizaçõ es elaboradas. A denominação designa uma imprecisa zona de contato entre os três
continentes do velho mundo: Á sia, Á frica e um pequeno trecho da Europa. No entanto, apesar das conflitantes
designaçõ es envolvendo Á frica e Europa, há uma certa unanimidade quanto ao reconhecimento do sudoeste
asiá tico, especialmente a península Á rá bica, e que se estende em direçã o norte até a Síria, como á rea core da
regiã o. Em todas as delimitaçõ es regionais referentes ao lugar, esse trecho asiá tico surge como pertencente ao
conjunto regional Oriente Médio. O termo está difundido como um conceito pronto e acabado, sendo que o
senso comum remete as pessoas a um lugar que fica nas imediaçõ es asiá tica ou africana. De fato, o Oriente
Médio fica na confluência desses dois continentes, mas onde precisamente?
A denominaçã o Oriente Médio ganha projeção a partir do período pó s-segunda guerra. Pode-se dizer que a
designaçã o é uma herança colonial, haja vista que esta alcunha fora estabelecida pelo colonizador europeu.
Senã o, vejamos: a rigor, países a leste do sudoeste asiá tico podem designar esta regiã o como oriente? Para a
América, ele é uma distâ ncia média? Parece estranho, aos japoneses, que esta regiã o seja chamada de oriente,
ou, ainda, de médio.
Hoje difundida como Oriente Médio, esta regiã o já foi conhecida por outras denominaçõ es. Até o começo do
século era mais usual a expressã o Oriente Pró ximo, designaçã o dada pelo europeu para referir-se à porçã o
oriental do domínio do Império Otomano. Assim como Oriente Pró ximo, Á sia Menor é outra expressã o em
desuso. Foi intensamente utilizada até fins do século passado; o termo fora criado para identificar a porçã o
peninsular otomana pó s Dardanelos e Bó sforo. A imprecisã o geográ fica do Oriente Médio é percebida nas
palavras a seguir:
Os especialistas nunca chegaram a um acordo quanto às fronteiras do Oriente Médio. O Departamento de Estado,
que tem uma Divisão para tratar dos assuntos da região, tem mudado a geografia do Oriente Médio em várias
ocasiões. 15
[...]
Em trabalho que analisa a inserção do Oriente Médio no contexto internacional, o historiador francês
Alexandre Roche inicia seu texto visando enquadrar regionalmente o Oriente Médio: “o que se entende,
atualmente, por Oriente Médio?”2.6 E ao propor uma definiçã o do termo, toma como “matéria-prima
fundamental” para sua regionalizaçã o o petró leo e suas respectivas á reas de concentraçã o e escoamento.
Assim, o autor divide seu Oriente Médio em três eixos:
5
1 BERLE, 1958, p. 137.
6
2 ROCHE, 1992, p. 173.
a) o Golfo Pérsico, centro petrolífero mundial;
Este vasto Oriente Médio proposto por Roche tem justificativa na importâ ncia que o petró leo assumiu no
século XX:
De onde vem, então, o alargamento do Oriente Médio senão da enorme quantidade de petróleo exportado? (...) a
centuplicação do petróleo exportado, as perspectivas inconcebíveis, há poucos anos atrás, das reservas de
petróleo, fazem com que uma região de importância tenha se tornado vital para o mundo dito ocidental e para o
comércio internacional.8
[...]
Utilizando-se de argumentaçã o geopolítica, o autor afirma que este Oriente Médio é resguardado ao norte por
uma faixa territorial – Turquia, Irã , Afeganistã o –, e nos demais pontos cardeais por extensõ es marítimas.
Quem detiver o controle desta á rea – territorial e marítima – dominará o Oriente Médio. Contudo, sabemos da
dificuldade que é propor uma regiã o, proposição quase nunca unâ nime. Mais uma vez surge a velha polêmica
sobre se o processo de regionalizaçã o deve seguir um rígido procedimento técnico, a partir de fatores comuns
a uma determinada fraçã o do territó rio, ou se o pesquisador tem o direito de propor uma regionalizaçã o que
esteja à mercê daquilo que lhe é conveniente, como fez Roche.
[...]
Isaac Akcelrud explica que a expressão Oriente Médio foi criada sob a inspiração militar do ano de 1902, para
identificar a zona que se estendia da Ará bia à Índia, sendo o centro da regiã o o Golfo Pérsico. Este período
coincide com o advento do petró leo na orla da economia mundial. A projeçã o da imprensa internacional e a
viabilizaçã o cada vez mais acentuada da comunicaçã o difundiram a nova expressã o, que passou a ser aceita
inclusive pelos pró prios habitantes daquela regiã o. Era a aceitaçã o do eurocentrismo, adotada numa nítida
composiçã o de submissã o.59
A idéia implícita nas formulaçõ es de Akcelrud enaltece a conotaçã o colonialista da expressã o Oriente Médio.
Esta observaçã o já fora notada em outros autores, que também apontam para o eurocentrismo da designaçã o.
Em outra passagem da obra do autor, é demonstrada a inconformidade com a aceitaçã o do desígnio em relação
aos povos locais: “nova designaçã o, afinal aceita e usada até mesmo pelos habitantes da regiã o. Trata-se da
adoçã o de uma geografia eurocêntrica como sinal de sujeiçã o e domesticaçã o política”. [...]
7
3 Ibid, p. 173.
8
4 ROCHE, 1995, p. 174.
9
5 AKCELRUD, 1985.
Pá gina 314
Geó grafos ingleses e norte-americanos apresentavam propostas de regionalizaçã o, ora semelhantes, ora
divergentes, para a regiã o. Por sua vez, o debate, eminentemente acadêmico, foi rompido por uma realidade
concreta: a Segunda Guerra Mundial, que impô s uma demarcação militar estendendo-se desde o Irã até a
Tripolitâ nia, atual Líbia. Findada a Segunda Guerra, a regiã o imposta por meios militares foi gradativamente
sendo reconhecida como Oriente Médio.
[...] Este breve relato sobre a construçã o da noçã o de Oriente Médio, e de como alguns autores se referem a
esse conjunto regional, comprovam a informação inicial sobre a ausência de consenso no tocante aos limites
dessa regiã o. Contudo, é possivel identificar alguns elementos que possam dar um cará ter de unicidade
regional ao Oriente Médio, apesar de nenhum ter o poder de definir isoladamente a regiã o. Assim, Oriente
Médio é uma designaçã o híbrida dos seguintes elementos:
— a á rea de abrangência do islã , religiã o majoritá ria no sudoeste asiá tico e norte-nordeste da Á frica, é um
importante elemento de identificaçã o do Oriente Médio. [...]
— o petró leo. O fato de esse combustível ter se tornado o mais importante do século XX e, somado a isso, ser o
golfo Pérsico detentor de aproximadamente 65% das reservas mundiais, fizeram da regiã o uma das mais
cobiçadas do mundo e, consequentemente, disputada. O petró leo surge, entã o, como fator geopolítico e
elemento de regionalizaçã o, mas não o principal, tampouco o ú nico.
[...]
Para a Á sia, Á frica e Europa, o Oriente Médio é rota fundamental; num passado remoto, era rota terrestre entre
os povos dos três continentes; num passado recente, os mares que os circundam tornaram-se vitais e,
consequentemente, disputadíssimos; e, a partir do século XX, com o desenvolvimento da aviaçã o, manteve a
função de entreposto, uma vez que a luminosidade do quadro natural predominantemente estépico e desértico
favorece-lhe as comunicaçõ es aéreas. [...]
O Oriente Médio é estigmatizado pela estiagem, mas há exceçõ es. Surge como “ilha” de umidade a baixa
Mesopotâ mia, privilegiada pela presença do Tigre e Eufrates, permanentemente perenes e cujo volume de
á gua aumenta consideravelmente quando do degelo das neves das montanhas na cabeceira dos rios; esse fluxo
hídrico provoca o surgimento de extensos pâ ntanos, derivando daí a alcunha ao homem mesopotâ mico de
á rabe do pâ ntano. Igualmente menos á rida é a orla mediterrâ nea, onde a típica variaçã o verã o seco, inverno
ú mido prevalece, enquanto no Líbano a estreita faixa entre o litoral e os montes Líbano e Anti-Líbano é
beneficiada por intensas chuvas orográ ficas. Para o interior dessa faixa mediterrâ nea, a aridez é predominante
em praticamente todo o Oriente Médio, surgindo desolados desertos cuja adversidade junto à s estepes é
eventualmente interrompida pela presença de oá sis que minimizam a aspereza climá tica, alguns de á reas
insignificantes, outros podendo atingir 25 000 Km, como Riad. A rede de drenagem é pobre e com presença de
inú meros rios temporá rios, os wadis. Em razã o dessa carência de á gua, motiva-se uma geoestratégia hídrica,
tã o intensamente elaborada nos gabinetes militares, vide Colinas de Golã , ou o litígio na cabeceira do Tigre-
Eufrates, entre Iraque e Turquia
SILVA, Edilson Adã o. Oriente Médio: a gênese das fronteiras. Sã o Paulo: Zouk, 2003. p. 47-62.
LIVROS
ARAGÃ O, Maria José. Israel × Palestina: origens, histó ria e atualidade do conflito. Rio de Janeiro: Revan,
2006.
A obra discute os mecanismos histó ricos por trá s do conflito entre palestinos e israelenses, cujo centro
real e simbó lico é a cidade de Jerusalém.
SAID, Edward. Orientalismo: o Oriente como invençã o do Ocidente. Sã o Paulo: Companhia de bolso, 2007.
O livro desmistifica o discurso acerca do Oriente, mostrando como ele foi importante para a definiçã o da
identidade ocidental na legitimaçã o de seus interesses colonialistas, da autoridade do Ocidente sobre o
Oriente.
FILMES
A fonte das mulheres. Direçã o: Radu Mihaileanu. França, 2011 (135 min).
Em um povoado situado entre o norte da Á frica e o Oriente Médio, que sofre com a falta de
infraestrutura, como o saneamento bá sico, as mulheres lutam para trazer melhorias à sua populaçã o,
mas para isso, devem enfrentar um sistema patriarcal e tradicional. Um filme que traz importantes
discussõ es sobre política, religiã o e sexualidade.
a) Turquia e Egito sã o países do Oriente Médio que possuem territó rios em dois continentes. No caso
turco, na Europa e na Á sia; no egípcio, Á frica e Á sia.
Pá gina 315
1. O professor pode conduzir o debate com a turma com o intuito de aproveitar as opiniõ es dos alunos,
que podem ser divergentes. Mas, segundo o texto, um ataque terrorista tem pequeno perigo real em um
país está vel, por nã o afetar a estabilidade política e suas estruturas internas, apenas prejudicando
temporariamente o funcionamento da cidade atingida.
2. A resposta pode ser encontrada no pró prio texto, no ponto em que o autor afirma que essas operaçõ es
possuem pouco valor além da propaganda, quando sã o conduzidas em um ambiente que nã o conta com
uma populaçã o simpatizante, pois sã o incapazes de trazer instabilidade política. Ou seja, quando esses
grupos operam em países está veis, com regimes está veis e sem o apoio da populaçã o, eles sã o um
problema policial, nã o militar.
1. Mesmo com questõ es diplomá ticas sobre o uso da á gua de rios transfronteiriços com a Síria, a Turquia
recebe milhares de refugiados daquele país. Á reas do territó rio da Turquia encontram-se disputadas
pela etnia curda e pelo Isis que, com propó sitos e estratégias de conquistas diferentes, pretendem
estabelecer territó rios autô nomos e independentes do governo turco.
2. Até 2016, a guerra civil da Síria, desde a Primavera Á rabe, causou o deslocamento de mais de um terço
da populaçã o síria. As principais questõ es geopolíticas que tornam mais frá geis ou tensas as relaçõ es
diplomá ticas com outros países, especialmente os fronteiriços sã o: uso das á guas do rio Eufrates, cuja
nascente fica na Turquia; a disputa com Israel pelo controle da regiã o fronteiriça de Golã , tensõ es com as
minorias étnicas, como drusos, alauitas e curdos.
3. O Estado de Israel foi instalado em uma á rea ocupada por palestinos, com maioria da populaçã o de
origem á rabe, em 1948, quando a Organizaçã o das Naçõ es Unidas aprovou um plano de partilha entre
israelenses e palestinos. Durante a Guerra de Independência, evento que provocou o deslocamento de
palestinos que tornaram-se refugiados na Jordâ nia, Líbano e Síria.
4. As á reas ocupadas por Israel apó s a Guerra dos Seis Dias, na qual saíram derrotadas forças militares
do Egito, da Jordâ nia e da Síria, foram: Jerusalém, transformada em sua capital oficial; península do Sinai
(do Egito); colinas de Golã (da Síria); e Cisjordâ nia (da Jordâ nia).
5. A Organizaçã o para a Libertaçã o da Palestina (OLP) foi criada em 1964 e dirigida por Yasser Arafat
entre 1969 e 2004. Seu objetivo inicial era o fim do Estado de Israel, cuja criaçã o é entendida pelo povo
palestino como uma invasã o de seu territó rio. Atualmente, a OLP reconhece o Estado de Israel e luta para
que o Estado palestino seja consolidado e reconhecido.
6. Atualmente, as á reas ocupadas predominantemente por palestinos compreendem a Faixa de Gaza e a
Cisjordâ nia, sob governo da Autoridade Nacional Palestina.
7. Mahatma Ghandi foi a principal liderança do movimento de independência da Índia, entã o colô nia da
Inglaterra. Pacifista, ele pregava a desobediência civil (boicote aos produtos ingleses e nã o pagamento de
impostos) como forma de combater os vínculos coloniais, finalmente desfeitos em 1947.
8. As multinacionais foram atraídas para os novos Tigres Asiá ticos em funçã o dos benefícios que esses
países apresentavam para sua instalaçã o: baixos salá rios, fragilidade ou ausência de leis trabalhistas que
regulassem o nú mero de horas de trabalho ou oferecessem garantias previdenciá rias aos trabalhadores.
9. a) Malá sia, Tailâ ndia e Vietnã sã o países que, como a Indonésia, sã o apontados como novos Tigres
Asiá ticos, devido ao rá pido crescimento industrial ocorrido desde 1990. O modelo de industrializaçã o
que adotaram envolvem investimentos de empresas multinacionais que buscam baixos salá rios e
ausência de leis trabalhistas e de garantias previdenciá rias.
b) Considerando que a precariedade do trabalho é uma das características no processo de crescimento
econô mico dos novos Tigres Asiá ticos, e portanto, nem sempre esse processo significa melhoria das
condiçõ es de vida da populaçã o. O país com maior equilíbrio entre crescimento econô mico e melhoria de
condiçõ es de vida é a Malá sia. Para os demais países, especialmente a Indonésia, fatores como
instabilidade política, endividamento externo e catá strofes naturais colaboram ainda mais para as
difíceis condiçõ es materiais enfrentadas pela populaçã o.
10. Os poderes limitados das mulheres, em termos de circulaçã o e de direito ao voto, sã o algumas
evidências da desigualdade de gênero mencionadas no texto.
11. O texto interpretando a charge pode ser criado a partir da visã o do Oriente Médio como palco de
grandes guerras e de variados conflitos, como as lutas entre etnias por territó rios ou ainda por recursos
naturais, como o petró leo.
12. Os muros inserem-se no contexto das disputas territoriais entre judeus e muçulmanos pela regiã o da
palestina, apó s a criaçã o do Estado de Israel. Os muros começaram a ser construídos no início deste
século, e têm sido utilizados por parte de Israel para promover o controle territorial, sobretudo visando
restringir a circulaçã o e a mobilidade da populaçã o palestina, sob a justificativa de conter ataques
terroristas contra a populaçã o israelense.
Pá gina 316
14. a) Nessa regiã o localiza-se a nascente do Rio Jordã o. Complemente explicando que por ter uma
altitude mais elevada, passa a ser um lugar militarmente estratégico para a defesa de Israel.
b) Rio Jordã o, lago Tiberíades, aquíferos subterrâ neos. Explique que há usinas de dessalinizaçã o no
litoral israelense, portanto as á guas salobras do mar Mediterrâ neo também podem ser utilizadas.
c) O tema remete à s relaçõ es de poder envolvidas na posse e distribuiçã o de itens bá sicos para a
reproduçã o humana, como a á gua. Dois pontos merecem destaque: a importâ ncia da á gua no século XXI,
pensando sobretudo nas formas de sua distribuiçã o; a possibilidade de formas autoritá rias de poder, seja
local ou nacional, quando se tem o monopó lio de um bem que deveria ser de uso comum a todos. A
atividade abre oportunidade para refletir, inclusive, sobre a legitimidade da posse privada ou a detençã o
de monopó lio de qualquer tecnologia ou recurso capaz de prover o bem coletivo. Por meio dessa aná lise,
é possível fazer uma discussã o sobre as relaçõ es que se estabelecem entre as naçõ es, considerando a
vulnerabilidade e dependência de algum recurso ou tecnologia para o desenvolvimento. Espera-se que o
texto dos alunos discuta a importâ ncia geopolítica da á gua para as relaçõ es entre israelenses e
palestinos. As regiõ es sob controle israelense sã o em maior nú mero e mais bem abastecidas de á gua, o
que denota a importâ ncia desse recurso para a partilha dos territó rios.
7. a) Verifica-se que países com maiores níveis de escolaridade tem RNB maior. No entanto essa relaçã o
deve ser ponderada, quando, em Belize, o índice de escolaridade é maior do que o da Costa Rica, no
entanto esse país apresenta um RNB muito mais elevado. O professor poderá questionar ou solicitar uma
pesquisa dos alunos, a respeito das fontes de produçã o de riqueza.
b) Levando-se em conta o índice de escolaridade e RNB, o país com melhores condiçõ es é o Panamá . Se
verificarmos os dados isoladamente, Cuba é o país com maior taxa de escolaridade e Panamá com maior
rendimento. Os dois países com as condiçõ es mais baixas sã o o Haiti e Honduras.
c) É esperado que os alunos citem em sua resposta índices como IDH, taxa de saneamento bá sico, anos
de escolaridade e taxas de analfabetismo, índices de desemprego, renda per capita, PIB, etc.
• Capítulo 9. Europa
A fome aguda e a subnutriçã o crô nica sã o problemas encontrados sobretudo na Á frica Subsaariana.
Nestas ú ltimas décadas, os interesses chineses voltaram-se para a Á frica, que representa uma fonte
importante de recursos naturais para abastecer o mercado chinês.
Relações entre México e Estados Unidos São basicamente de interdependência: o México depende dos
investimentos do capital estadunidense, e os EUA dependem da
mã o de obra mexicana barata.
Focos de tensão no México Fronteira com os Estados Unidos; conflitos de Chiapas.
Focos de tensão na Colômbia Farcs; narcotráfico; plano Colô mbia; tensõ es com o Equador.
Outros focos de tensão na América Latina Crises do Mercosul; Haiti; Cuba.
Em seu texto, o aluno poderá dizer que Mumbai é uma das megacidades indianas. Seu crescimento
demográ fico é vertiginoso e motivado, entre outros fatores, pelo êxodo rural. Em Mumbai, há dois
processos simultâ neos: o crescimento industrial e a favelizaçã o.
Pá gina 317
1. Alternativa b
2. Alternativa e
3. Alternativa e
4. Alternativa b
5. Alternativa d
6. Alternativa c
7. Alternativa b
8. Alternativa d
9. Alternativa a
10. Alternativa c
11. Alternativa d
12. Alternativa d
13. Alternativa e
14. Alternativa b
15. Alternativa b
1. Resposta pessoal. É importante promover esse debate na sala de aula. Na discussã o, o professor deve
informar aos alunos que a palavra feminicídio, ou femicídio, ainda nã o aparece nos dicioná rios da língua
portuguesa mais utilizados no Brasil. No entanto, há quem afirme que esse termo é conhecido há muito.
A palavra é usada para referir-se ao assassinato de uma pessoa, por ela ser mulher. Vá rios mecanismos
atualmente permitem o registro da violência contra mulher, que persiste no país. Os alunos devem
perceber que com base nessa realidade, endureceram as penas aos violentadores.
2. As estatísticas de países desenvolvidos também surpreendem. Nesse caso, sã o notá veis os dados
relativos à Suécia que, segundo as evidências, é o país campeã o europeu de estupros. O mapa da
violência que se propõ e deverá incluir estatísticas estadunidenses, canadenses e europeias. Embora os
ecos da brutalidade contra as mulheres nos alcancem vindos de todas as partes do mundo, é difícil obter
dados confiá veis sobre o que se passa na Á frica e na Á sia.
O professor deve orientar os alunos a pesquisar a importâ ncia econô mica e estratégica do controle e
exploraçã o dos recursos naturais relevantes em á reas de disputa, como por exemplo, seu uso na
produçã o de mercadorias. Convém chamar atençã o para o fato de que os conflitos territoriais podem
envolver regiõ es continentais, marítimas e insulares. Para isso, será importante observar os conflitos em
um mapa-mú ndi. O professor pode consultar e discutir com os alunos o site Global Conflict Tracker
<http://linkte.me/gctrckr> (acesso em: 22 maio 2016).
O acompanhamento dos professores das disciplinas supracitadas será importante para auxiliar os alunos
no decorrer das pesquisas, das aná lises e da formaçã o de conhecimento crítico, segundo as necessidades
de cada grupo. Para ampliar as possibilidades de trabalho, uma sugestã o é solicitar que cada grupo
produza um folder ou jornal a ser divulgado na escola com o conteú do abordado no projeto. Esse
material poderá ser disponibilizado para retirada ou consulta na biblioteca da escola. O professor poderá
avaliar os alunos por meio da pertinência das informaçõ es e dados levantados, da qualidade dos
produtos finais apresentados pelos alunos, da organizaçã o da classe e dos grupos.
Avaliação
Além das atividades já sugeridas neste manual e de outras constantes do Livro do Aluno, que podem ser
realizadas com o objetivo de avaliaçã o, sugerimos mais algumas, a seguir, que podem ser aplicadas ou
adaptadas conforme o critério do professor.
2. Por que boa parte da Europa oferece resistência à imigraçã o? Considere os seguintes aspectos: cultura
nacional, emprego, Estado de bem-estar social e xenofobia.
Professor: No texto produzido pelo aluno, é importante verificar se esses conceitos foram aplicados
corretamente.
3. Por que a formaçã o da Uniã o Europeia foi importante para o fortalecimento do continente?
Porque, no momento de formação do Mercado Comum Europeu, os países fundadores estavam em fase de
reconstrução pós-guerra. O crescimento posterior do bloco com a adesão de novos membros possibilitou à
Europa tornar-se um dos polos da economia mundial, o que não seria possível se os países estivessem
isolados.
Se as condiçõ es locais permitirem, o professor pode realizar um trabalho de campo com seus alunos em
uma terra indígena. Sugerimos alguns aspectos a serem estudados em relaçã o ao grupo visitado:
Nesta unidade, sã o abordados os desafios geopolíticos do século XXI. Alimentos, energia, minérios e á gua
sã o elementos fundamentais para a sobrevivência da humanidade e, também, para seu desenvolvimento.
A fotografia de abertura mostra uma plantaçã o de monocultura do milho nos Estados Unidos. Maior
produtor mundial desse alimento, grande parte das á reas usadas para o seu plantio destinam-se à
produçã o de biodiesel. Relacione a imagem com a produçã o agrícola brasileira, se há semelhanças e
diferenças. Questione sobre o controverso uso dos métodos de transgenia, que sob um aspecto aumenta
a produtividade de matérias-primas usadas na produçã o de energias renová veis, mas que envolve o
monopó lio de empresas do setor.
É interessante discutir o peso dos elementos citados acima no contexto geopolítico tanto dos alimentos
como da produçã o.
Os recursos naturais, em especial o petró leo e a á gua, têm produzido focos de tensã o e disputa entre
Estados e regiõ es, revelando nã o somente a importâ ncia de possuí-los, como também de saber utilizá -
los. A necessidade da geraçã o de energia e modos de consumo mais sustentá veis conduz a uma corrida
pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia, tornando-as uma vantagem econô mica e geopolítica.
Sugestões didáticas
Com esse tema, o professor terá uma boa oportunidade de discutir com os alunos os impactos das
atividades humanas sobre as reservas hídricas. É importante apresentar argumentos que possam ajudar
os alunos a compreender melhor a problemá tica da á gua e a busca de soluçõ es. Vale destacar que
atualmente ter á gua em abundâ ncia é fundamental para uma naçã o crescer economicamente (caso do
Brasil), porém é necessá rio consumi-la de maneira sustentá vel. Para isso, tem de haver uma boa gestã o
dos recursos hídricos por parte nã o somente dos ó rgã os pú blicos (conservando os ecossistemas
aquá ticos do país, por exemplo), mas de todos. Relacione com os alunos prá ticas que podem reduzir o
consumo da á gua e avaliar como é a gestã o pú blica desse recurso no município.
Depois que os alunos estudaram as características dos minerais e a localizaçã o em diferentes países do
mundo, nos anos anteriores, nesse momento, espera-se que eles compreendam os interesses estratégicos
sobre esses recursos. Atualmente, a escassez de minérios em um país impulsiona uma corrida a novas
á reas de exploraçã o, sejam territó rios ultramarinos, seja em países fronteiriços. O domínio de técnicas
aplicadas à transformaçã o dos minerais passa a ser tã o relevante quanto possuir o direito de exploraçã o
em á reas de extraçã o. Países como a Austrá lia, que possui grandes reservas de urâ nio, passam a
interessar a países produtores de energia nuclear.
Para trabalhar o tema do boxe Geografia e História “Recursos naturais na Bolívia” (p. 187), o professor
pode sugerir a leitura ou utilizar alguns trechos do livro As veias abertas da América Latina, de Eduardo
Galeano. Nessa obra, o autor mostra como as grandes riquezas encontradas pelos europeus no
continente americano foram a base de sua exploraçã o e de sua consequente pobreza. A seguir, um trecho
do livro:
[...] A América era, nesta época, uma boca de mina centrada, sobretudo, em Potosí. Alguns escritores
bolivianos, inflamados de excessivo entusiasmo, afirmam que em três séculos a Espanha recebeu tanto metal
de Potosí que dava para fazer uma ponte de prata desde o cume da montanha até a porta do palá cio real do
outro lado do oceano. A imagem é, sem dú vida, obra da fantasia, mas de qualquer maneira se refere a uma
realidade que, de fato, parece inventada: o fluxo da prata alcançou dimensõ es gigantescas. A vultosa
exportaçã o clandestina de prata americana, que se evadia por contrabando rumo à s Filipinas, à China e à
pró pria Espanha, nã o figura nos cá lculos de Earl J. Hamilton que, a partir dos dados obtidos na Casa de
Contrataçã o de Sevilha, oferece, de todos os modos, em sua conhecida obra sobre o tema, cifras assombrosas.
Entre 1503 e 1660, chegaram ao porto de San Lú car de Barrameda 185 mil quilos de ouro e 16 milhõ es de
quilos de prata. A prata transportada para a Espanha em pouco mais de um século e meio excedia três vezes o
total das reservas europeias. E é preciso levar em conta que estas cifras oficiais sã o sempre minimizadas [...].
Galeano, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991. p. 34.
É importante que os alunos compreendam que as chamadas fontes alternativas de energia sã o opçõ es à s
fontes tradicionais. O uso dessas fontes tem reduzido impacto ambiental. Vale destacar, porém, que
muitas vezes a utilizaçã o dessas fontes é condicionada pelos elevados custos, o que prejudica sua
ampliaçã o.
É importante o professor lembrar aos alunos que, enquanto no Brasil o etanol é produzido a partir da
cultura da cana-de-açú car, nos Estados Unidos um volume semelhante de etanol é gerado a partir do
milho, num procedimento reconhecidamente menos eficiente em termos energéticos e econô micos. A
produçã o estadunidense depende de grande volume de subsídios governamentais. Além disso, ela é mais
perversa para a segurança alimentar no mundo, pois pressiona a oferta mundial de safras comestíveis,
elevando os preços tanto dos alimentos industrializados como dos alimentos bá sicos.
Os temas da biomassa e da pirataria na Amazô nia podem ser aprofundados com a discussã o da
contradiçã o amazô nica: a presença de enorme potencial de recursos naturais, florestais, minerais,
energéticos e biotecnoló gicos nã o garante por si só um desenvolvimento sustentá vel. Vale discutir com
os alunos a necessidade de se criarem condiçõ es de infraestrutura científica, tecnoló gica e, sobretudo, de
recursos humanos qualificados para preservar o bem-estar futuro.
Nesse texto, o autor procura demonstrar as relaçõ es de poder envolvidas na posse e distribuiçã o de itens
bá sicos para a reproduçã o humana, como a á gua.
Pá gina 320
Dois pontos merecem destaque: a importâ ncia da á gua no século XXI, pensando sobretudo nas formas de
sua distribuiçã o; a possibilidade de formas autoritá rias de poder, seja local, seja nacional, quando se tem
o monopó lio de um bem que deveria ser de uso comum a todos.
O texto abre a oportunidade para refletir, inclusive, sobre a legitimidade da posse privada ou a detençã o
de monopó lio de qualquer tecnologia ou recurso capaz de prover o bem coletivo. Por meio dessa aná lise,
é possível fazer uma discussã o sobre as relaçõ es que se estabelecem entre as naçõ es, considerando a
vulnerabilidade e dependência de algum recurso ou tecnologia para o desenvolvimento.
Sugerimos que o professor aprofunde a discussã o sobre o desastre ambiental no mar de Aral, que muitos
consideram ter sido o maior provocado pela açã o humana. Esse mar foi intensamente explorado no
século XX, no â mbito dos programas de desenvolvimento da entã o Uniã o Soviética. O Aral, localizado
entre o Uzbequistã o e o Casaquistã o, era o quarto maior lago do planeta. No entanto, sua á gua foi usada
em grandes projetos de irrigaçã o, e os rios que corriam para ele foram desviados. Além disso, o Aral
recebeu quantidades enormes de poluentes. Atualmente, o lago está reduzido a 30% de sua extensã o
original. O governo do Casaquistã o recebeu um grande empréstimo internacional para levar adiante sua
recuperaçã o, visando garantir á gua para algumas das regiõ es mais secas que existem.
Atividades complementares
Descrição da atividade
Sugerimos aqui uma atividade a ser realizada a partir da tabela “Bacias hidrográ ficas unem países”,
apresentada na pá gina 185 do Livro do Aluno. A turma pode ser dividida de acordo com o nú mero de
bacias apresentadas na tabela. Cada grupo pode pesquisar uma bacia, elaborando mapas dos países dela
dependentes. O professor pode ressaltar a importâ ncia das bacias hidrográ ficas para os países,
relacionando-as com as características climá ticas e econô micas e com as possíveis disputas pelo recurso
na regiã o.
Descrição da atividade
Para discutir a retomada do programa nuclear brasileiro, sugerimos a realizaçã o de um debate em classe.
A turma pode ser dividida em dois grupos, que defenderã o posiçõ es opostas: um desenvolverá
argumentos contrá rios, e outro, argumentos favorá veis à ampliaçã o da produçã o de energia elétrica em
centrais nucleares no Brasil. É importante que o professor oriente a pesquisa do tema e a preparaçã o dos
alunos para o debate, incentivando a exposiçã o de opiniõ es fundamentadas em dados e argumentos
coerentes.
Leitura complementar
O texto a seguir trata das atuais mudanças climá ticas, afirmando que elas sã o o maior desafio ambiental e
de desenvolvimento do século XXI. Uma série de eventos climá ticos muito intensos ocorridos nas ú ltimas
décadas indicam que o clima do planeta está passando por uma transformaçã o bastante significativa.
Um colpaso do sistema climá tico de nosso planeta só poderá ser evitado caso as emissõ es globais de gases de
efeito estufa diminuam drasticamente na pró xima década [2010], [...] até o ano de 2020.
A grande responsabilidade assim como o dever de pagar a maior parte desta conta é dos países desenvolvidos.
[...]
No entanto, as reduçõ es de emissõ es por parte dos países desenvolvidos nã o serã o suficientes para evitar a
crise do clima da Terra. É fundamental, também, que os países em desenvolvimento, entre eles o Brasil,
viabilizem seu crescimento econô mico, a geraçã o de riquezas e a reduçã o da pobreza seguindo um caminho
diferente daquele trilhado pelos países desenvolvidos.
É preciso que seu desenvolvimento seja mais eficiente e muito menos dependente de carbono do que [...]
ocorreu com os países desenvolvidos. Isso pode contribuir para um desvio significativo da curva de
crescimento de emissõ es de gases de efeito estufa, o que é crítico para o esforço global contra as mudanças
climá ticas.
[...]
Além de metas de reduçã o de emissõ es mais profundas, é preciso, portanto, que as naçõ es mais ricas se
comprometam também com ajuda financeira e com transferência de tecnologia para os países em
desenvolvimento.
[...] mais de 300 mil pessoas morrem a cada ano e mais de 300 milhõ es sã o severamente afetadas por eventos
climá ticos extremos, como secas, tempestades e enchentes. A maioria das vítimas encontra-se em países
menos desenvolvidos. Somente com acesso a recursos e tecnologia será possível permitir a essas naçõ es
enfrentar o problema das mudanças climá ticas de forma eficaz, evitando-se perdas humanas, ambientais e
econô micas ainda maiores do que aquelas [que] já ocorrem hoje.
RITTL, Carlos. Mudanças climá ticas e transferê ncia de tecnologia. Disponível em:
<http://www.wwf.org.br/informacoes/opiniao/?21640/ARTIGO-Mudanas-Climticas-e-Transferncia--de-Tecnologia>.
Acesso em: 25 maio 2016.
Pá gina 321
LIVROS
TUCCI, Carlos E. M. Clima e recursos hídricos no Brasil. Porto Alegre: ABRH, 2000.
A obra trata da abordagem interdisciplinar do clima, recursos hídricos e sustentabilidade.
YOSHIDA, Consuelo; Yatsuda, Moromizato. Recursos hídricos: aspectos éticos, jurídicos, econô micos e
socioambiental. Campinas: Alínea, 2008.
O livro apresenta uma abordagem multidisciplinar da questã o da sobrecarga dos ecossistemas por causa
da sua exploraçã o produtiva.
SITE
Expediçõ es
O site apresenta o trabalho de documentaçã o realizado pela jornalista Paula Saldanha e pelo bió logo
Roberto Werneck há cerca de três décadas. O projeto inclui uma série de programas de televisã o e livros.
O programa Águas I traz um panorama da situaçã o da á gua no Brasil e no mundo, investigando-se
também os crimes ambientais que podem prejudicar rios e aquíferos do país. O segundo programa,
Águas II, trata de técnicas para evitar o desperdício e a escassez de á gua nas regiõ es secas do Brasil, além
de apresentar soluçõ es para preservar os rios brasileiros. Disponível em: <http://linkte.me/exptv>.
Acesso em: 22 maio 2016.
1. A geopolítica é o saber engajado, prá tico, comprometido com as estratégias de poder de um Estado. Já
a Geografia política é a parte da ciência geográ fica que estuda a distribuiçã o dos Estados, suas formas de
organizaçã o do territó rio, estabelecimento de fronteiras, etc.
2. Em sua resposta, o aluno deve levar em consideraçã o as questõ es geopolíticas que envolvem os
alimentos, ou seja, por que para um país é fundamental ter políticas voltadas para o abastecimento
interno. Devem considerar em suas respostas como ocorre a distribuiçã o de terras e qual é o modo de
produçã o (monocultura, policultura, que tipo de tecnologia é empregada). Problematize como deveria
ser a proporçã o destinada para a produçã o de matérias-primas e para o consumo alimentar. Pode ser
interessante sugerir pesquisas sobre as empresas que monopolizam a tecnologia associada a
determinada produçã o, por exemplo, a expansã o de á reas de cultivos de transgênicos de soja. Explique
que a posse de recursos naturais por um Estado pode gerar tensõ es e conflitos porque confere vantagens
estratégicas sobre outros Estados, seja do ponto de vista político, seja do econô mico. Amplie a resposta
destacando outro aspecto a ser considerado que é o impacto da transformaçã o industrial nos alimentos
que podem perder suas principais qualidades nutricionais, como vitaminas e minerais tã o importantes
na alimentaçã o humana.
1. Sã o seis os países banhados pelo rio Mekong: China, Mianma, Tailâ ndia, Laos, Camboja, Vietnã .
2. Além de meio de transporte, o rio também é local de trocas, dentre inú meros outros usos que a
populaçã o faz dele. Considerando a falta de saneamento bá sico e a presença de mercados de alimentos
(como na fotografia), por exemplo, a poluiçã o das á guas do rio é um problema grave que pode impactar
as populaçõ es a jusante, provocando a mortandade de peixes e outros animais, dentre inú meras outras
agressõ es ambientais que os alunos podem citar.
• Conexão (p. 186)
1. Os alunos devem observar no mapa que a ocupaçã o do Isis, em 2015, ocorria na á rea conhecida como
“Mesopotâ mia”, isto é, “entre rios”, localizada entre os rios Tigre e Eufrates. Além disso, a presença de
barragens e fronteiras entre a Síria e o Iraque deixam ainda mais explícito o cará ter geopolítico
estratégico vinculado aos recursos hídricos dessa ocupaçã o.
2. Os alunos devem opinar considerando as condiçõ es de escassez de á gua na regiã o e a presença do rio
Tigre, que passa em parte da á rea ocupada pelos curdos.
3. O controle do acesso à á gua pode levar a restriçõ es de disponibilidade desse recurso bá sico. Isso
levaria a problemas que podem afetar a saú de da populaçã o situada a jusante do rio Eufrates, uma vez
que pode gerar doenças respirató rias ou sanitá rias, dentre outras. Além disso os problemas de
disponibilidade e de qualidade da á gua impactaria da irrigaçã o de á reas agricultá veis.
1. Os alunos devem ser orientados a pesquisar informaçõ es sobre o assunto. O professor deve explicar
que a nacionalizaçã o se relaciona com a questã o da soberania do país sobre os recursos naturais
disponíveis em seu territó rio. Vale ressaltar que a presença de empresas estrangeiras exploradoras de
petró leo na Bolívia nã o significava transferência de propriedade das jazidas. A essas empresas o Estado
boliviano concedia o direito de uso, que envolve prospecçã o e exploraçã o do petró leo e do gá s natural.
Ao nacionalizar, porém, a Bolívia privou as empresas estrangeiras de atuarem nesse setor da maneira
como vinham atuando. Houve, portanto, quebra dos contratos de concessã o assinados anteriormente.
Tal fato tem como consequência negativa a insegurança jurídica que gera. Por outro lado, como algo
positivo, há a possibilidade de que os lucros e rendimentos provenientes das novas regras de exploraçã o
das jazidas permaneçam no país, colaborando para o crescimento econô mico.
1. Esses investimentos têm a vantagem de ampliar o acesso de agricultores à energia, pois há á reas
rurais no Brasil que ainda nã o sã o contempladas por redes de distribuiçã o de energia. As consequências
do maior acesso à energia é o aumento da produtividade e da renda. Além disso, a energia renová vel
permite que a agricultura familiar se realize com métodos apoiados no desenvolvimento sustentá vel.
Pá gina 322
2. Professor: oriente os alunos nas pesquisas indicando fontes confiá veis. Promova uma discussã o sobre
o tema de acordo com as informaçõ es que os alunos conseguirem reunir.
1. A busca das empresas pela monopolizaçã o dos bens naturais pode acirrar os conflitos já existentes
sobre sua posse e causar graves crises de abastecimento, na medida em que o compartilhamento dos
recursos pode significar aumento de concorrência e levar ao esgotamento de mananciais pela pressã o
exercida em razã o das intensas exploraçõ es. A luta por terras e fontes minerais pode, ainda, agravar a
situaçã o porque a terra e a á gua passam a ser monopó lios de grandes corporaçõ es.
2. Entre alguns exemplos de interesses, os alunos poderã o mencionar o poder ao detentor das fontes de
recursos; domínio na tecnologia necessá ria para sua captaçã o, a infraestrutura para sua distribuiçã o e a
força política de negociaçã o de recursos tã o fundamentais à vida quanto a á gua.
1. Os mares fechados sã o muito importantes para os países que possuem fronteira nessas á reas, pois
eles podem ser utilizados para diversos fins: navegaçã o; dependendo da composiçã o da á gua, para a
pesca; e, dependendo do caso, para a extraçã o de recursos como gá s natural e petró leo.
1. Embora o volume de á gua do planeta tenha sido sempre o mesmo, o aumento do consumo,
principalmente na agricultura, e das intervençõ es humanas que comprometem a qualidade da á gua sã o
algumas das causas do atual problema de dificuldade de acesso a esse recurso.
2. A á gua é escassa em vá rias regiõ es do globo. Esse fato tem ocasionado conflitos pela posse de
territó rios que garantam abastecimento de á gua em lugares onde ocorre escassez. Além disso, a á gua
atravessa países diferentes, com as nascentes em um territó rio e a foz em outro, ou a fronteira entre
países é separada por importantes rios. Como consequência, qualquer obra envolvendo recursos
hídricos em um país pode afetar a vazã o da á gua em outro territó rio. Também a poluiçã o causada em um
país em uma margem de um rio transfronteiriço afeta diretamente o país vizinho.
3. Segurança hídrica é o controle de recursos hídricos que garantam ao país o abastecimento de á gua
para o consumo e uso de sua populaçã o, com autonomia e independência em relaçã o a outros Estados.
4. Á gua transfronteiriça é a á gua dos rios, lagos e mares que constituem fronteiras entre países.
5. É possível considerar a posse e o consumo dos recursos minerais como questõ es geopolíticas, porque
esses recursos nã o sã o renová veis, mas finitos; além disso, a posse de recursos minerais garante acesso a
matérias-primas importantes no processo de industrializaçã o e desenvolvimento econô mico de um país.
6. As fontes de energia sã o importantes para os Estados porque garantem a energia necessá ria para
mover a estrutura produtiva, prover iluminaçã o e possibilitar o desenvolvimento social e econô mico. Os
meios de transporte também necessitam de fontes de energia. Ter acesso a elas em quantidade suficiente
é uma questã o estratégica fundamental para um Estado.
7. Os principais motivos foram a possibilidade de esgotamento das fontes de energia tradicionais, como
o carvã o mineral, vegetal e o petró leo, e os efeitos nocivos para o meio ambiente da queima de
combustíveis fó sseis. O aquecimento global é uma preocupaçã o séria, que estimula o desenvolvimento de
novas fontes de energia.
8. A abundâ ncia de florestas é importante para a produçã o de energia limpa a partir da biomassa, que
pode ser obtida por extrativismo e manejos sustentá veis. Políticas de incentivo ao uso racional das
florestas têm permitido o aproveitamento da biomassa e a preservaçã o ambiental ao mesmo tempo.
9. Segurança energética é a capacidade de produzir a energia necessá ria para o consumo de um país,
com autonomia e independência.
A China e a Índia têm interesses nos recursos hídricos do Nepal, além dos interesses relativos ao
comércio exterior.
11. a) Essa regiã o apresenta países pouco conhecidos; grande parte deles eram repú blicas que
formavam a antiga Uniã o Soviética. É interessante observar a localizaçã o desses países em relaçã o a
outros.
b) A Rú ssia está interessada em ampliar o controle sobre recursos energéticos, como o petró leo e o gá s
natural, e reafirmar seu poder bélico na regiã o do Cá ucaso, onde se localiza a Chechênia. Os Estados
Unidos também têm interesse no controle dessas fontes de energia, mas sua estratégia se concentra em
evitar o domínio geopolítico dos russos na Á sia Central.
c) Um dos exemplos é a Bolívia, que entrou em conflito com o Brasil e com outros países ao nacionalizar
o gá s natural.
12. Espera-se que os alunos reflitam sobre o direito de uso da á gua. O texto da ONU deixa clara a
preocupaçã o de evitar o uso da á gua como estratégia geopolítica de controle de um Estado sobre outro e
também a responsabilidade de todas as pessoas e dos governos de evitar contaminar e poluir os recursos
hídricos, preservando-os para as geraçõ es futuras.
13. a) Se o professor julgar conveniente, explique que “penú ria” é um termo usado para caracterizar
situaçã o de escassez ou falta. Entre as “penú rias ambientais” podem ser mencionados o problema da
desertificaçã o e a degradaçã o de solos (menor possibilidade para o desenvolvimento de vegetaçã o); em
razã o de características climá ticas, como baixa pluviosidade, há problemas relacionados ao
abastecimento de á gua; contaminaçã o dos solos e da á gua decorrentes da exploraçã o do petró leo e
também pela contaminaçã o de mananciais pelo uso de insumos na agricultura ou contaminaçã o de rios
pela falta de saneamento bá sico. Esses sã o alguns exemplos de penú rias que podem interferir na oferta
de recursos.
Pá gina 323
b) O conflito identificado no mapa ocorre a montante do rio Amazonas. Solicite que os alunos levantem
hipó teses sobre o conflito que pode ocorrer a montante do rio, tais como a degradaçã o da floresta, a
pressã o das atividades econô micas, como mineraçã o ou construçã o de barragens. Comente que esses
problemas podem promover conflitos em terras indígenas. Dependendo do tipo de conflito, suas
consequências e impactos ambientais poderiam ser incontorná veis para o Brasil: reduçã o do volume de
á guas da bacia hidrográ fica desse rio, assoreamento de trechos de diversos rios e reduçã o da
biodiversidade, entre outros problemas que interferem na qualidade de vida das populaçõ es.
15. a) O rompimento de um reservató rio de uma fá brica de alumínio alastrou toneladas de lama
vermelha tó xica ao longo do curso do rio Danú bio, que banha quase vinte países. Arsênico e mercú rio
foram identificados nas á guas dos rios dessa bacia hidrográ fica, tornando-os subaproveitados ao
consumo humano e à irrigaçã o. A lama em contato com a á gua do rio matou peixes e algas, provocando
um dos maiores desastres ambientais da Europa. Encontrados nessa á gua, o alto teor de ó xidos de ferro e
o ph alcalino podem causar queimaduras na pele e afetar o sistema respirató rio, entre outros problemas
de saú de.
b) Os países devem agir em conjunto na recuperaçã o do rio, com medidas de eliminaçã o da lama tó xica e
também na indenizaçã o de populaçõ es atingidas.
c) Sugerimos que essa questã o seja discutida em grupos. Relacione o impacto no rio Danú bio com o
acidente ocorrido em Minas Gerais em 2015. Um quadro de conflito armado em razã o desse acidente
poderia ocorrer, pois os países teriam de buscar outras á reas alternativas para captaçã o de á gua para o
uso agrícola, doméstico e industrial. No entanto, nesse caso específico, a Uniã o Europeia interveio para
oferecer ajuda na recuperaçã o ambiental e auxílio jurídico.
O professor pode aprofundar mais o assunto com a reportagem a respeito do acidente em: Portal Opera
Mundi, disponível em: <http://linkte.me/lamatoxica>. Acesso em: 25 maio 2016.
A questã o do petró leo nã o poderia faltar em nossa discussã o sobre as grandes questõ es geopolíticas.
Esse recurso ainda é responsá vel por crises e ocupaçõ es militares, com o objetivo de assegurar sua
produçã o e distribuiçã o, como forma de manter ativa a atual matriz energética.
Sugestões didáticas
Para a discussã o do boxe Ação e cidadania (p. 197), aos professores que nã o moram nas grandes cidades
sufocadas por congestionamentos, é interessante explorar com os alunos o impacto do automó vel na
organizaçã o das cidades médias e pequenas: a possibilidade de morar em nú cleos urbanos e trabalhar no
campo, os deslocamentos possíveis que constroem a rede urbana na escala regional. Enfatizar aspectos
positivos, possibilidades, com destaque para sua espacializaçã o.
Para os professores em atividade nas metró poles, é interessante ressaltar a influência do transporte
rodoviá rio na organizaçã o do espaço urbano: amplas superfícies, como shoppings e hipermercados,
cercados de estacionamentos muito amplos, localizados nas proximidades das grandes vias de rodagem,
fazem parte da paisagem urbana. A simples comparaçã o entre a largura de uma via construída nos
ú ltimos trinta ou quarenta anos com aquela das ruas mais tradicionais mostra a ascensã o dos
automó veis e a restriçã o que surge aos percursos antigos.
Comente com os alunos sobre as campanhas, no Brasil, pela nacionalizaçã o do petró leo. Lembre a eles do
famoso slogan “O petró leo é nosso!”, dos anos 1950.
Ao trabalhar o boxe Saiba mais “Nacionalizaçã o do canal de Suez” (p. 198), é importante observar que o
canal possui importâ ncia geopolítica e estratégica para o Egito, pois liga o golfo de Suez (parte do mar
Vermelho) ao mar Mediterrâ neo.
Comente com os alunos que a Guerra do Golfo foi o primeiro grande conflito depois da queda do Muro de
Berlim, ou seja, do fim da Guerra Fria. A açã o estadunidense levou a crer que os Estados Unidos se
constituiriam na “polícia do mundo”, ou na potência hegemô nica incontestá vel, principalmente por seu
poder bélico. Tal conflito inaugurou também, graças a inovaçõ es tecnoló gicas, a chamada “guerra em
tempo real”, já que as imagens dos mísseis traçantes e das explosõ es que aconteciam no Iraque eram
transmitidas “ao vivo” por uma rede de televisã o, criando torcidas e dando a aparência de um
videogame.
O tema do gá s da Bolívia e de seu consumo no Brasil (p. 201) pode ser aprofundado pelo professor a
partir das seguintes perguntas:
Pá gina 324
• Mundo Hoje – Nova guerra fria começa a despontar no Ártico (p. 202)
O texto apresenta uma discussã o importante a respeito da recente rivalidade entre Estados Unidos e
Rú ssia, apó s o fim da URSS.
E essa disputa envolve aspectos que interessam a todo o planeta, pois ameaça a ocupaçã o explorató ria
do Á rtico na busca de recursos energéticos como o petró leo. Além disso, está em jogo também a
expansã o dos domínios territoriais, que alimenta a rivalidade diplomá tica entre essas duas potências,
pois a marca de posiçõ es em á reas adjacentes e lindeiras pode significar situaçõ es de vantagens em
possíveis conflitos.
Mas além da questã o geopolítica, há um outro fator que pode ser explorado no texto: quando os
interesses de companhias privadas extrapolam o interesse pró prio dos seus respectivos Estados
nacionais, na medida em que procuram se associar com corporaçõ es estrangeiras para ampliar sua base
operacional e poder financeiro.
O nacionalismo faz sentido? É possível classificar uma pessoa somente segundo a nacionalidade? Essa
pessoa deveria morrer ou matar por fidelidade a uma bandeira? Tais perguntas vêm sendo feitas a cada
guerra. É bom morrer pela pá tria, conforme afirmava o poeta romano Horá cio? Os alunos podem ser
questionados sobre a adesã o ou nã o ao verso “ou ficar a Pá tria livre ou morrer pelo Brasil”, do Hino da
Independência.
Descrição da atividade
Sugerimos que o professor divida a turma em quatro grupos. Cada um deverá se dedicar a um tema:
Leitura complementar
O texto apresentado aborda a evoluçã o do uso de combustíveis fó sseis e as vantagens que teria o uso do
gá s natural para reduzir as emissõ es de CO2.
Embora esteja agora em andamento, a transiçã o do petró leo para o gá s levou algum tempo para chegar. [...]
Devido ao seu maior conteú do de hidrogênio, o gá s queima de modo mais quente e limpo do que o petró leo
[...]. A tecnologia para transportá -lo de modo seguro e barato, porém, não existia.
Umas das maiores desvantagens do gá s é a sua baixa densidade, o que o torna volumoso e propenso a
vazamentos. É preciso um volume de gá s do tamanho de uma casa para produzir a mesma energia de um barril
de petró leo [...]. Tubulaçõ es eram a soluçã o ó bvia [para o transporte], mas um gasoduto [...] custa um milhã o
de dó lares para cada 1,6 quilô metro instalado, o que significa que, até recentemente, investir um dó lar em
petró leo produzia o dobro do lucro do mesmo dó lar investido em gá s.
Avanços tecnoló gicos no manuseio do gá s, a alta dos preços do petró leo, a ameaça da escassez e a demanda por
um combustível mais limpo para substituir o carvã o combinaram-se para mudar a economia do gá s, e hoje em
dia ele é um grande negó cio.
O avanço tecnoló gico mais importante envolve a refrigeraçã o do gá s, de modo que ele se transforme num
líquido super-resfriado, o que permite o transporte a um custo razoá vel, em navios especialmente construídos,
por longas distâ ncias. Com o desenvolvimento de um comércio internacional por via marítima e as grandes
corporaçõ es dispostas a investir bilhõ es nos gasodutos necessá rios, o gá s parece ser o combustível preferido
para o século XXI.
Embora seja um combustível mais caro que o carvã o, o gá s tem muitas vantagens que o tornam ideal para a
produçã o de eletricidade. Usinas de energia movida a gá s custam a metade do que é gasto para construir os
modelos a carvã o, e sã o de muitos tamanhos. [...] Uma série de pequenos geradores [...] pode ser espalhada
pela á rea, reduzindo os custos de transmissã o. [...]
[Apesar disso,] se todas as usinas elétricas a carvã o da Terra fossem substituídas por usinas a gá s, a emissão
global de carbono seria reduzida em apenas 30%.
LIVRO
FILME
O petróleo tem que ser nosso – a última fronteira (Brasil, 2009). Direçã o: Peter Cordenonsi. Brasil, 2009
(58 min).
O documentá rio tenta apontar o caminho que o Brasil vai tomar diante das imensas reservas petrolíferas
do pré-sal.
Pá gina 325
Traz depoimentos de diferentes matizes, abordando o tema sob as perspectivas histó rica, geopolítica,
ambiental, econô mica e social.
1. É possível que os alunos comentem sobre a Opep ser responsá vel por grande parte do petró leo
produzido no mundo. Oriente-os a observar o grá fico e comente que a organizaçã o responde pela maior
parte dessa produçã o e, com isso, suas decisõ es impactam sensivelmente na economia mundial.
2. O grá fico comprova uma distribuiçã o desigual das reservas mundiais de petró leo, concentrando-se na
maioria dos países do Oriente Médio.
3. A dependência do petró leo e de seus derivados pode ser reduzida com a mudança de há bitos de
consumo e de comportamento. Os alunos podem dar exemplos como substituir a gasolina por á lcool ou
biocombustível em automó veis, evitar o uso de produtos com embalagens de plá stico e promover a
reciclagem, comer alimentos que nã o utilizem insumos à base de petró leo, como verduras orgâ nicas.
1. Podem ser discutidas vá rias alternativas para reduzir a preponderâ ncia do petró leo. Para trajetos
curtos, é possível caminhar a pé ou ir de bicicleta. Para longos percursos, há transporte pú blico, como
ô nibus movidos a á lcool, o trem e o metrô . Uma questã o importante que pode surgir dessa discussã o é o
papel do poder pú blico no planejamento e na gestã o do setor de transportes. Sem dú vida, uma política de
transportes ecologicamente sustentá vel inclui investimentos em transportes pú blicos de qualidade.
1. Os principais elementos sã o a presença de petró leo e outros recursos energéticos no Á rtico, regulaçã o
do preço do petró leo no mercado internacional, a presença da Rú ssia em á reas anteriormente nã o
ocupadas e que a coloca em posiçã o estratégica para a instalaçã o de bases militares e trá fego de
submarinos.
2. Estima-se que a regiã o do Á rtico possua cerca de ¼ das reservas de petró leo ainda nã o descobertas; a
exploraçã o na regiã o vai requerer o desenvolvimento de tecnologias inovadoras, e o país que controlar
essa tecnologia terá vantagens comparativas em relaçã o aos demais.
3. Riscos de vazamento de petró leo e outras substâ ncias no mar do Á rtico, que podem contaminar o
ecossistema local colocando em risco espécies endêmicas, incapazes de sobreviver em á reas menos frias.
1. O texto apresentado expressa uma posiçã o pessoal do autor com base em experiências de guerra,
demonstrando claramente que há um custo humanitá rio do petró leo. O texto aponta o petró leo como
causa da guerra. Espera-se que, a partir dessa problematizaçã o, o aluno expresse sua opiniã o a respeito
do tema e reú na argumentos para concordar com as ideias presentes nele, ou entã o refutá -las.
2. O petró leo transformou-se em um produto global por causa do aumento de seu consumo em outras
á reas do globo, além dos Estados Unidos, principalmente na Europa, Rú ssia e Á sia. Igualmente
importante foi a descoberta de grandes á reas de produçã o no Oriente Médio.
3. A empresa Rockefeller Standart Oil tinha o monopó lio da cadeia produtiva do petró leo no final do
século XIX, ou seja, nos anos 1880-1890, pois nessa época controlava 90% do transporte ferroviá rio e de
oleodutos, 90% da capacidade de refino e 90% da rede de distribuiçã o e venda de produtos.
4. As Sete Irmã s dominavam a tecnologia da exploraçã o e refino de petró leo, extraindo ó leo cru,
produzindo combustíveis, montando refinarias, oleodutos, bancos e financeiras internacionais. Elas
começaram a atuar de forma integrada, com o objetivo de eliminar a concorrência e controlar o mercado
mundial de petró leo. Atuando como um cartel, elas controlavam ao mesmo tempo as reservas e os canais
de distribuiçã o. Os contratos de concessã o eram assinados para cem anos ou mais e cobriam grandes
á reas territoriais, remunerando irrisoriamente os países hospedeiros. Além disso, os governos dos
países desenvolvidos proporcionaram um ambiente político e militar favorá vel e apoiaram ativamente as
companhias petrolíferas.
5. Os países-membros da Organizaçã o dos Países Exportadores de Petró leo (Opep) tinham o objetivo de
aumentar a renda obtida com esse produto. Assim, usaram a prerrogativa aprovada pela Organizaçã o
das Naçõ es Unidas de dispor livremente de suas riquezas e recursos naturais, levando em consideraçã o
suas estratégias de desenvolvimento. Isso teve papel importante no enfraquecimento do cartel das Sete
Irmã s, pois restringiu suas estratégias de obtençã o do controle total das reservas. A Opep passou a
regular a quantidade de petró leo extraído, transferindo para si mesma a regulaçã o do mercado de
petró leo que era exercida pelas Sete Irmã s.
6. Os choques do petró leo foram períodos em que ocorreu considerá vel aumento de preços, decorrente
da reduçã o da produçã o pelos países da Opep.
7. Uma das principais consequências das crises do petró leo foi o surgimento de novas á reas produtoras
nã o pertencentes ao cartel entã o estabelecido. Ocorreu também a ampliaçã o de projetos de substituiçã o
de combustíveis fó sseis por outras fontes de energia. Foram ainda feitos pesados investimentos em
tecnologias menos dependentes do petró leo e seus derivados.
8. As intervençõ es militares no Oriente Médio tiveram diferentes justificativas ao longo da histó ria.
Disputas territoriais, terrorismo e posse de armas de destruiçã o em massa foram algumas delas. O
exemplo das Guerras do Golfo elucida tais argumentos. A primeira Guerra do Golfo ocorreu porque o
Iraque, endividado e com grande necessidade de recuperaçã o econô mica apó s a guerra contra o Irã nos
anos 1980, convenceu a Opep a diminuir a produçã o de petró leo.
Pá gina 326
Mas o Kuwait nã o seguiu as cotas da Opep. Assim, com o intuito de aumentar seu poder regional e ter
uma saída maior e mais aparelhada para o golfo Pérsico, o governo de Saddam Hussein iniciou a guerra,
anexando o Kuwait ao territó rio iraquiano em agosto de 1990. Na Segunda Guerra do Golfo, os Estados
Unidos haviam sofrido o maior atentado terrorista de todos os tempos. Como forma de retaliaçã o,
acusaram o Iraque de possuir armas de destruiçã o em massa e, mesmo nã o tendo aprovaçã o do Conselho
de Segurança da ONU, atacaram unilateralmente o país, com o principal objetivo de capturar Saddam
Hussein. Em ambos os conflitos o objetivo central era o controle das reservas de petró leo do Iraque.
9. A Á frica começou a participar mais estrategicamente do mercado mundial do petró leo a partir da
década de 2000, quando regiõ es fora das tradicionais á reas produtoras de petró leo passaram a ser mais
procuradas pelos principais países consumidores. Diante de avanços tecnoló gicos voltados à exploraçã o
do petró leo, somados com políticas de atraçã o de capitais estrangeiros, muitos investimentos no setor
petrolífero foram realizados nesse continente, gerando crescimento econô mico e infraestrutura. Apesar
disso, paralela e contraditoriamente, o crescimento econô mico nã o tem sido capaz de promover
desenvolvimento social e nã o tem sido associado à democratizaçã o dos países. Verifica-se em países
africanos exportadores de petró leo a presença de regimes autoritá rios e concentraçã o de renda.
10. a) As principais regiõ es produtoras de petró leo sã o concentradas no Oriente Médio, mas destacam-
se também outras, como a Á sia Central, a América do Norte, a Á frica Ocidental e a porçã o setentrional da
América do Sul.
b) Grande parte do fluxo comercial do petró leo se dá a partir do Oriente Médio para o Japã o, Estados
Unidos e Europa. Os Estados Unidos também sã o abastecidos por seu pró prio petró leo e pelo da América
do Sul e da Á frica. É importante que os alunos associem esses fluxos comerciais a questõ es maiores, que
envolvem desde rivalidades comerciais e militares até a política de alianças comerciais estratégicas.
11. a) O Acordo de Paris é mais um dos documentos elaborados nas Conferências de Clima com o
propó sito de os países se comprometerem a reduzir as emissõ es de gases do efeito estufa.
b) Os alunos devem embasar suas respostas considerando que as medidas estabelecidas pelo acordo
tendem a impactar negativamente setores econô micos direta e indiretamente relacionados à indú stria
petrolífera, restringindo as oportunidades de trabalho e emprego nessas á reas. Entretanto, abrem-se
novas possibilidades econô micas em setores que buscam alternativas ao petró leo e se baseiam no
desenvolvimento sustentá vel. Soma-se a isso o possível aumento de demanda pela produçã o de
conhecimento e tecnologia que subsidiem esses setores.
12. a) É razoá vel supor essa mudança, já que o aumento das reservas de petró leo no Brasil certamente
leva o país a um novo papel estratégico, principalmente se ele passar para a posiçã o de exportador de
petró leo.
b) O quadro geopolítico se altera a cada descoberta de um novo campo de petró leo. A ampliaçã o do uso
do gá s natural pelas indú strias do mundo todo também contribuiu para alterar o jogo de poder
envolvendo esse recurso. Essas transformaçõ es podem significar perda de poder político e econô mico
para o Oriente Médio e diminuiçã o das tensõ es e conflitos motivados pelo petró leo.
Por outro lado, nas novas á reas de produçã o, esse recurso pode estimular crescimento econô mico e
desenvolvimento social. Isso irá depender, porém, de interesses e condiçõ es políticas para enfrentar
desigualdades socioeconô micas. Evidentemente, nas á reas recém-produtoras, conflitos e tensõ es podem
emergir com justificativa relacionada ao petró leo.
13. a) O argumento, que nã o tem validade científica, é de que há petró leo em todos os países vizinhos da
América do Sul.
b) Segundo o texto, havia interesses de companhias estrangeiras de que nã o existisse procura por
petró leo no país. Mantendo a situaçã o como estava, o Brasil continuaria importando o produto. Essa era
certamente uma decisã o política e nada tinha a ver com critérios científicos. Embora Monteiro Lobato
nunca tivesse imaginado em 1937 que havia petró leo na plataforma continental, ele mostrou ser um
visioná rio ao fazer abertamente campanha para que o Brasil investisse recursos na pesquisa para a
descoberta de jazidas de petró leo.
14. Há inú meras possibilidades de legenda. É importante que ela esteja associada a questõ es como a
presença do petró leo em países em desenvolvimento e o interesse dos países desenvolvidos, muitas
vezes instigando e promovendo conflitos. O fundamental é que o aluno faça a relaçã o entre imagem e
texto de maneira coerente, valendo-se de informaçõ es corretas e argumentos bem fundamentados, de
acordo com o que foi estudado no capítulo.
Sugestões didáticas
Seria interessante trabalhar com os alunos as contradiçõ es sobre a questã o da alimentaçã o mundial que
sã o reveladas nessas pá ginas: desenvolvimento de novas técnicas, aumento da produtividade,
desmantelamento das prá ticas tradicionais, dependência tecnoló gica, distribuiçã o desigual. Ao mesmo
tempo que as novas técnicas aumentam a produtividade de alimentos, geram dependência tecnoló gica
para os países pobres e nã o resolvem o problema da fome.
Pá gina 327
O cará ter geopolítico de poder se mantém também na questã o da indú stria de alimentos. Apesar de a
sociedade já ter possibilidade de acabar com a fome no mundo, o aspecto capitalista da produçã o e a
busca do lucro impedem que a distribuiçã o seja equitativa. Para auxiliar essas discussõ es, vale a
observaçã o orientada do infográ fico que aborda o cultivo de palma no mundo (p. 208-209).
O boxe Ação e cidadania “Obesidade, o outro lado da questã o” (p. 207) permite, além da abordagem
sugerida na atividade, uma proposta: os alunos podem se reunir e pesquisar o risco e as consequências
de consumir alimentos industrializados, destacando a situaçã o no Brasil.
A observaçã o e aná lise do infográ fico sobre a expansã o do cultivo para o produçã o do ó leo de palma
(também conhecido como azeite de dendê) deve evidenciar uma das contradiçõ es do período atual: o
crescimento econô mico em descompasso com o aumento da desigualdade e da degradaçã o ambiental.
Sugerimos ao professor que inicialmente oriente uma discussã o sobre as origens dessa contradiçã o, que
se relaciona com o processo de expansã o do capitalismo a partir do século XVI e do processo de
colonizaçã o, que culminou na formaçã o de países caracterizados pela inserçã o desvantajosa na Divisã o
Internacional do Trabalho. Os maiores produtores desse ó leo sã o países que se apoiam na exportaçã o de
matérias-primas, fato que impacta na organizaçã o interna do seu territó rio e na condiçã o de vida de sua
populaçã o.
Convém fazer o paralelo das características da produçã o do ó leo de palma no mundo com o caso da cana-
de-açú car no Brasil, por exemplo. É possível propor aos alunos que construam um infográ fico desse
cultivo com informaçõ es pesquisadas a respeito.
Problematize a elevada produçã o desse ó leo muito usado na indú stria alimentícia e também na produçã o
de biodiesel. Questione os alunos e solicite uma pesquisa sobre se a agricultura familiar é inserida nesse
processo. Se julgar oportuno, solicite aos alunos que façam uma pesquisa sobre a expansã o da produçã o
do ó leo de palma.
Você pode organizar a sala em dois grupos. Um deles levantará os argumentos favorá veis à expansã o dos
dendezeiros (há benefícios ambientais – já que poderia substituir os combustíveis fó sseis – e sociais
envolvidos na produçã o do ó leo de palma? Tal cultivo estaria associado à soberania energética? O outro
grupo deverá pesquisar a respeito do aspectos negativos, tais como: Há trabalho infantil? Há degradaçã o
dos solos? Há poluiçã o atmosférica em decorrência do desmatamento?
Outra questã o que pode ser trabalhada neste tó pico refere-se à “Revoluçã o Verde” (anos 1960-1970),
que foi sustentada pelo discurso da superaçã o da pobreza no mundo por meio da aplicaçã o de tecnologia
na produçã o de alimentos. O aumento da produtividade foi de grandes proporçõ es, mas a fome no
mundo persiste. O professor pode promover essa discussã o enfatizando o mercado em torno de
sementes da palma e da produçã o de ó leo derivado desse recurso vegetal.
Para aprofundar o que foi proposto neste tó pico, vale propor que os alunos pesquisem, na internet, sites
de bolsas de valores com informaçõ es sobre commodities agrícolas. Convém discutir as informaçõ es
encontradas, refletindo, por exemplo, sobre os produtos e os preços. Certamente os alunos encontrarã o
produtos como café, cacau, suco de laranja, batata, dentre inú meros outros que estã o presentes em seu
cotidiano.
Os alunos podem pesquisar também sobre as negociaçõ es em escala mundial para a reduçã o das
barreiras comerciais, como as da Rodada de Doha, e o papel do Brasil nessas negociaçõ es.
• O papel das empresas globais (p. 211)
O professor pode solicitar aos alunos que elaborem uma lista, a partir de pesquisa, de alimentos que
podem conter transgênicos, verificando o que é consumido em suas casas. Recomendamos ensinar aos
alunos que o símbolo da transgenia é um T dentro de um triâ ngulo. Alerte-os para que distinguam
gordura trans de transgênico, uma vez que há certa confusã o entre ambos.
O texto destaca a influência indígena na alimentaçã o brasileira, apesar de isso normalmente passar
despercebido. Além da desvalorizaçã o da cultura indígena abordada pelo texto, pode-se pensar também
em uma questã o de gênero: a opressã o do homem sobre a mulher.
Ao discutir a contradiçã o de um mundo em que fome e abundâ ncia de alimentos convivem, é importante
evidenciar as relaçõ es desse fato com a enorme desigualdade que existe entre os países e as
consequências disso para a segurança alimentar.
O artigo apresenta uma discussã o muito contemporâ nea, envolvendo qualidade de alimentaçã o, uso do
solo das grandes cidades e geraçã o de emprego. Espera-se que, com essa discussã o, os temas possam ser
trabalhados de maneira integrada, articulando a possibilidade de boa alimentaçã o rica em nutrientes e
preços acessíveis com uma nova forma de pensar a ocupaçã o do espaço urbano.
Procure conversar com os alunos sobre a importâ ncia das á reas verdes, em como as associaçõ es
comunitá rias podem ajudar na manutençã o de praças e mesmo organizar hortas. Introduza, para
ampliar a discussã o, conceitos da legislaçã o urbana, como plano diretor e leis de zoneamento, que
limitam a especulaçã o fundiá ria e determinam o uso do solo em um período de tempo.
Atividades complementares
Descrição da atividade
O professor poderá solicitar ao aluno que localize as á reas de expansã o da produçã o de soja e das
pastagens, elaborando um mapa.
Pá gina 328
Depois, que analise o avanço do desmatamento e quais sã o os novos usos e ocupaçõ es da regiã o que
compreende a floresta Amazô nica. Levante dados a respeito da produçã o gerada nesse século que
destina-se à exportaçã o. Peça aos alunos que avaliem os impactos dos avanços da produçã o agrícola em
Terras Indígenas e Unidades de Conservaçã o.
Propomos aqui uma atividade para ampliar o entendimento dos circuitos de produçã o e consumo
agrícola no mundo, por meio da comparaçã o entre os casos europeu, estadunidense e africano.
Descrição da atividade
Caberá ao professor apresentar aos alunos dados sobre produçã o, importaçã o e exportaçã o de produtos
primá rios dos Estados Unidos e de alguns países europeus e africanos, bem como as justificativas para
essas características produtivas e comerciais.
É importante explorar o alto padrã o de tecnologia e consumo dos países desenvolvidos, além dos
subsídios agrícolas por parte de seus governos, que favorecem tanto a compra como a venda de produtos
agrícolas. O objetivo da atividade é rever conceitos e desconstruir o senso comum que relaciona o baixo
desenvolvimento simplesmente à produçã o e à exportaçã o de produtos primá rios.
Leitura complementar
O texto abaixo aborda caminhos viá veis para a erradicaçã o da fome no mundo.
Alargamento da proteção social é o caminho mais rápido para acabar com a fome
[...] os programas de proteçã o social, tais como as transferências monetá rias, a alimentaçã o escolar e as obras
pú blicas, sã o uma forma econó mica de proporcionar à s pessoas vulnerá veis oportunidades de saírem da
pobreza extrema e da fome e de melhorarem a saú de, educaçã o e as perspetivas futuras das suas crianças.
Atualmente, estes programas beneficiam de diversas formas 2 100 milhõ es de pessoas nos países em
desenvolvimento, mantendo 150 milhõ es de pessoas fora da pobreza extrema.
O alargamento destes programas às á reas rurais, ligando-os a políticas de crescimento agrícola inclusivo
poderia reduzir rapidamente o nú mero de pessoas pobres [...].
“É urgente agirmos para apoiar as pessoas mais vulnerá veis de modo a libertarmos o mundo da fome”, afirmou
o Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva.
“Os programas de proteção social permitem que as famílias tenham acesso a mais alimentos, muitas vezes por
aumentarem a sua produçã o, tornando as suas dietas mais diversificadas e saudá veis. Estes programas podem
ter impacto positivo na malnutriçã o infantil, reduzir o trabalho infantil e aumentar a frequência escolar, os
quais aumentam a produtividade”, salientou [...].
Apenas um terço das pessoas pobres do mundo se beneficiam de alguma forma de proteçã o social. As taxas de
cobertura sã o ainda mais baixas no Sul da Á sia e Á frica subsaariana, regiõ es com a maior incidência de pobreza
extrema, segundo o relató rio da FAO.
Sem assistência, muitas das pessoas pobres e vulnerá veis nunca terã o oportunidade de sair da armadilha da
pobreza, onde a fome, a doença e a falta de educaçã o perpetuarã o a pobreza para geraçõ es futuras, de acordo
com o relató rio.
A maioria dos países, mesmo os mais pobres, pode assegurar algum tipo de programa de proteçã o social. A
FAO estima que, a nível mundial, bastariam cerca de 67 000 milhõ es de dó lares por ano em suplementos ao
rendimento, a maioria proveniente dos programas de proteçã o social, que, juntamente com outros
investimentos a favor dos mais pobres centrados na agricultura, para permitir a erradicaçã o da fome até 2030.
Isto representa menos de 0,10 por cento do PIB mundial [...]
Atualmente, muitas famílias extremamente pobres são forçadas a vender os seus escassos bens, a colocar os
filhos a trabalhar, explorar as suas pequenas propriedades de forma insustentá vel ou a contentarem-se com
empregos mal pagos.
No entanto, os programas de transferências sociais oferecem aos pobres uma oportunidade de melhorar o seu
pró prio potencial produtivo. Têm também um efeito positivo nas economias locais, aumentando as
oportunidades de negó cio e os salá rios rurais e permitindo que os mais pobres possam adquirir ou investir em
ativos.
Na Zâ mbia, por exemplo, um programa piloto de subvençõ es incentivou as famílias beneficiá rias a aumentar
consideravelmente as suas exploraçõ es pecuá rias, a terra cultivada, os factores de produçã o e a compra de
ferramentas, incluindo enxadas, foices e machados, originando um aumento de 50 por cento do valor total de
produtos agrícolas produzidos localmente.
Os beneficiá rios também gastaram mais em alimentaçã o, vestuá rio, saú de e higiene, um valor 25 por cento
superior em relaçã o à transferência inicial. A comunidade também se beneficiou através do aumento da
procura por bens e serviços produzidos localmente. Cada dó lar transferido gera 79 cêntimos adicionais aos
rendimentos, muitas vezes, para grupos que nã o sã o beneficiá rios diretos, mas que providenciam esses bens e
serviços.
Pelo menos 145 países promovem atualmente uma ou mais formas de assistência social, incluindo as
transferências monetá rias nã o condicionadas, ou seja, subvençõ es a fundo perdido para os beneficiá rios,
transferências monetá rias condicionadas, geralmente ligadas à frequência escolar ou cuidados de saú de e,
programas de obras pú blicas que garantem emprego. Outras formas incluem transferência em espécie,
incluindo a distribuiçã o de alimentos e programas de alimentaçã o escolar [...]
O relató rio salienta que a ideia de que a proteçã o social incentiva as pessoas a nã o trabalhar é um mito. Em vez
disso, os beneficiá rios geralmente respondem de forma positiva à proteçã o social, incluindo a melhoria da
nutriçã o e educaçã o dos seus filhos, uma maior aposta na sua produçã o do que em trabalhos mal remunerados
e, também, a participaçã o mais ativa nas redes existentes, como as “sociedades funerá rias”, uma forma comum
de gestã o de riscos em muitas comunidades tradicionais [...].
Ainda assim, o relató rio sublinha que a proteçã o social por si só nã o pode de forma sustentá vel erradicar a
fome e a pobreza rural.
Pá gina 329
Portanto, sublinha a importâ ncia de combinar e coordenar os investimentos pú blicos na proteçã o social com
investimentos pú blicos e privados em sectores produtivos da agricultura e desenvolvimento rural. Estas açõ es
vã o garantir o crescimento econó mico inclusivo como uma forma sustentá vel para romper o ciclo da pobreza.
FAO. Notícias. Alargamento da proteçã o social é o caminho mais rá pido para acabar com a fome. Disponível
em:<http://www.fao.org/news/story/pt/item/337153/icode/>. (Mantida a grafia original.) Acesso em: 23 maio 2016.
LIVRO
CONWAY, Gordon. Produção de alimentos no século XXI: biotecnologia e meio ambiente. Sã o Paulo:
Estaçã o Liberdade, 2003.
O livro resgata o processo histó rico que leva a humanidade a contornar o problema da produçã o de
alimentos e argumenta em favor da necessidade de uma revoluçã o em prol tanto da produtividade como
da conservaçã o ambiental.
FILMES
Muito além do peso. Direçã o: Estela Renner. Brasil, 2012 (83 min).
O documentá rio discute a ocorrência da obesidade infantil e os há bitos alimentares de crianças em
diversos países.
Nós alimentamos o mundo. Direçã o: Erwin Wagenhofer. Á ustria, 2005 (95 min).
O documentá rio mostra incô modas verdades sobre a produçã o e distribuiçã o de comida, do plantio ao
consumo – como o desperdício de alimentos e a preferência por cultivos como o da soja, para alimentar
gado, em detrimento dos cultivos para abastecimento humano –, passando por diversos países do
mundo. Assim, o problema da fome aparece como algo que envolve e atinge o mundo inteiro.
SITE
3. O professor deve estimular que os alunos exponham suas hipó teses, aproveitando a oportunidade
para identificar o que sabem a respeito do tema que será abordado no capítulo. Nessa questã o, espera-se
que os alunos ponderem a resposta. O intuito é que observem as disparidades no mapa, tomando como
exemplo os Estados Unidos, que precisam importar produtos alimentícios, mas têm uma economia
robusta a ponto de propiciar um contexto onde a populaçã o nã o seja subnutrida. Os alunos devem notar
que a produçã o de alimentos nã o é equilibrada no mundo, o que pode gerar um problema geopolítico em
relaçã o à distribuiçã o e ao consumo. Enquanto a maioria dos países africanos e parte dos asiá ticos
dependem economicamente da exportaçã o de produtos agropecuá rios, com base na monocultura,
precisam importar variados tipos de alimentos. O professor pode questionar os alunos se existe relaçã o
com o modo de produçã o agrícola (monocultura) e sobre a questã o da falta de alimentos. Peça aos alunos
que apontem características comuns aos países que sã o maiores exportadores de alimentos. O baixo
desenvolvimento, a desigualdade social e a histó rica inserçã o como exportadores de matérias-primas na
divisã o internacional do trabalho sã o características comuns a essas regiõ es.
1. O retorno dessa atividade deve levar a uma síntese das características dos alimentos consumidos
pelos alunos. Procure trabalhar com os dados totais da classe, sem chamar a atençã o para apenas um
aluno. Em termos gerais, a alimentaçã o é saudá vel? É gordurosa? Causa obesidade? Que alimentos sã o
nutritivos e quais nã o sã o? É uma boa oportunidade de discutir açõ es para melhorar a qualidade da
alimentaçã o dos alunos.
1. Espera-se que os alunos apreendam em sua leitura uma problematizaçã o desta questã o: a
invisibilidade em que é mantido o modo de vida indígena em nossa sociedade. A tensã o entre
dominadores e dominados, que se iniciou em 1500 e que é muito presente até hoje, se anuncia nesse
texto. Como aprofundamento, o professor pode sugerir uma discussã o de como essa tensã o se expressa
atualmente, usando como exemplo o cotidiano dos pró prios alunos.
1. a) O texto apresenta uma discussã o sobre a possibilidade de obtençã o de alimentos saudá veis fora da
grande produçã o em escala dos grandes complexos agroindustriais e dos grandes latifú ndios.
Pá gina 330
As hortas urbanas comunitá rias podem ser uma alternativa a esse modelo que, além de custar caro ao
meio ambiente, agrega também custos de produçã o, circulaçã o e distribuiçã o, o que muitas vezes
inviabiliza o consumo de alimentos saudá veis e orgâ nicos para as camadas sociais mais pobres.
b) Os benefícios sã o a ampliaçã o da á rea verde dos municípios, a reduçã o dos preços e a
desmonetarizaçã o de parte da alimentaçã o, a reduçã o do papel dos grandes latifú ndios e produçã o em
massa, além do balanceamento da alimentaçã o urbana, que para a populaçã o mais pobre é rica em
carboidrato, açú cares e gordura.
2. Ambos os conceitos estã o ligados à ideia de capacidade de um país produzir de maneira autô noma
alimentos suficientes para manter a menor dependência do exterior e o bem-estar da populaçã o.
3. Transgênicos sã o seres vivos que tiveram sua estrutura genética alterada, adicionando-se
características que nã o apresentavam naturalmente. As maiores críticas à produçã o desses organismos
referem-se à falta de estudos sobre a segurança de seu consumo ou ao risco de causarem danos à
biodiversidade. Também há críticas ao fato de a tecnologia de produçã o de transgênicos ser dominada
por poucas empresas, o que pode levar a produçã o agrícola de vá rios países a ficar dependente delas,
tendo depois que pagar royalties para o uso de suas sementes.
4. Segundo a teoria da deterioraçã o dos termos de troca, quando se estabelece uma relaçã o comercial
em que um país oferece sempre produtos agrícolas e outro oferece sempre produtos industrializados,
estes tendem a encarecer e aqueles a baratear, deteriorando os termos da troca. Assim, a vantagem fica
com os países industrializados, que compram matérias-primas ou produtos primá rios mais baratos e
vendem produtos manufaturados mais caros.
6. A fome pode ser considerada uma questã o política por causar problemas de grandes proporçõ es. Em
guerras ou conflitos, uma das formas de atingir os inimigos é privá -los de alimentos, o que ocasiona seu
enfraquecimento e grande conturbaçã o social. As naçõ es poderosas utilizam bloqueios econô micos e
embargos de alimentos como forma de atingir outros países durante conflitos.
7. Os críticos dos biocombustíveis afirmam que o aumento das á reas plantadas para esse fim vai
diminuir as de produçã o de alimentos. Afirmam também que o impacto da agricultura para a geraçã o de
energia será danoso à sociedade, aumentando o preço dos alimentos e, consequentemente, a fome no
mundo. Os principais argumentos a favor sã o os de que os biocombustíveis sã o produzidos com energia
renová vel, sã o menos poluentes e, se forem bem usados, poderã o beneficiar pequenos produtores rurais,
contribuindo para a melhor distribuiçã o de renda.
9. Em sua resposta, o aluno deve considerar que os alimentos sã o essenciais para a sobrevivência
humana. Por isso, o controle da produçã o é elemento geopolítico. Do mesmo modo, os alunos devem
fazer o paralelo de que o petró leo é essencial como meio de transporte e fonte de energia, base da
estrutura produtiva das naçõ es.
10. a) A manipulaçã o genética para produçã o de sementes transgênicas é um dos aspectos dessa
“segunda” Revoluçã o Verde.
b) O texto sugere que as novas sementes poderiam resolver os problemas socioeconô micos, já que as
novas variedades se adaptam à s condiçõ es naturais adversas enfrentadas pelos produtores e possuem
mais nutrientes do que as variedades naturais.
c) Os transgênicos podem ser mais resistentes à s intempéries ambientais, por outro lado, sua introduçã o
restringe a variabilidade genética das sementes, deixando a produçã o mais vulnerá vel em caso de
pragas, por exemplo, exigindo cada vez mais a aplicaçã o da ciência e da tecnologia na produçã o. Tal fato
sujeita o pequeno produtor à s grandes empresas produtoras das sementes transgênicas, aumentando a
dependência e precariedade de sua condiçã o.
11. O investimento em proteçã o social é uma das formas mais importantes para a superaçã o da fome,
subnutriçã o e desnutriçã o. À essa medida devem associar-se políticas de educaçã o e de emprego. Espera-
se que as respostas dos alunos contemplem essas ideias.
A ciência e a tecnologia tornaram-se verdadeiros insumos produtivos nos nossos dias. Este capítulo
propõ e contextualizar essa característica partindo das questõ es estratégicas que envolvem a indú stria de
armamentos e as relaçõ es de poder relacionadas à tecnologia nuclear. A abertura do capítulo permite
introduzir a discussã o a partir da produçã o de armas. O professor deve estimular os alunos a expor
aquilo que conhecem sobre o assunto, assim poderá planejar suas aulas de maneira adequada à s
necessidades da turma.
Sugestões didáticas
Esse tó pico envolve uma leitura aprofundada dos conflitos geopolíticos em escala mundial. A tabela
fornece dados interessantes para verificar o valor estimado de quanto é dispensado à indú stria bélica.
Muitos desses armamentos destinam-se à soberania das fronteiras dos países; no entanto, grande parte
alimenta exércitos e guerrilhas em vá rias zonas litigiosas. Levante hipó teses com eles a respeito da
finalidade dos gastos militares de cada país da tabela.
O boxe Saiba mais “Armas de destruiçã o em massa” (p. 219) expõ e um problema ocorrido durante a
Guerra do Vietnã com o uso do Agente Laranja. A contaminaçã o dos solos e das populaçõ es impactou
geraçõ es nascidas vinte anos depois, que apresentam sérios problemas físicos e neuroló gicos.
O tema central da pá gina permite abordar o trá fico de armas no Brasil. Calcula-se que, para cada arma
apreendida, outras 30 entram ilegalmente no país, normalmente pelas vias aérea e marítima; a via
terrestre é usada para despistar a polícia. As armas chegam principalmente pelo Paraguai; outros países
que exportam armas ilegais para o Brasil sã o os Estados Unidos, a Argentina, a Bolívia, as Filipinas e o
Uruguai.
Outro tema importante que pode ser abordado neste tó pico diz respeito ao debate reiniciado no Brasil
em 2015, sobre o Estatuto do Desarmamento. Tramita novo projeto de lei que abranda as exigências
para o porte de armas no Brasil. A esse respeito, o professor pode consultar texto sugerido na seçã o
Leitura Complementar.
Recomendamos que navegue pelo Mapa da Violência, publicado pelo Governo Federal. Esse documento
oferece um mapeamento nacional e internacional das mortes causadas por armas de fogo (Mapa da
violência: mortes matadas por armas de fogo (2015). Disponível em: <http://linkte.me/atlasviolencia>.
Acesso em: 31 maio 2016.)
O professor pode diferenciar os processos de fissã o e fusã o nuclear e falar sobre os estudos a respeito
deste ú ltimo como fonte de energia. Também pode sugerir aos alunos que pesquisem sobre os acidentes
nas usinas nucleares de Three Mile Island (nos Estados Unidos, em 1979) e Chernobyl (na Uniã o
Soviética, em 1986), além da contaminaçã o radiativa de césio-137, no Brasil, na cidade de Goiâ nia, em
1987.
O tema principal favorece uma abordagem interdisciplinar, pois está ligado à tecnologia e à educaçã o. A
utilizaçã o de recursos tecnoló gicos, como a internet, contribui para a prá tica de novas aprendizagens,
além de ajudar o aluno a desenvolver sua habilidade de aná lise e pesquisa.
Atentar para o boxe Saiba Mais, sobre o Silicon Wadi (p. 222), é uma oportunidade para debater e
associar o elevado nível tecnoló gico com o desenvolvimento militar. Essa associaçã o permitiu que Israel
se tornasse uma potência bélica.
O professor deve estimular os alunos a refletir sobre o papel das indú strias farmacêuticas no mundo a
partir de casos concretos. Sugerimos ao professor orientar uma pesquisa sobre as açõ es de empresas
farmacêuticas com relaçã o ao nú mero de bebês nascidos com microcefalia, em razã o do zika vírus, ou à
epidemia de dengue no Brasil no fim de 2015, começo de 2016. Questione quais foram as orientaçõ es do
poder pú blico e das empresas. Explique que o alto custo dos repelentes específicos para evitar picadas de
aedes aegypti já é um demonstrativo da força de tais multinacionais do setor farmacêutico.
Para trabalhar o boxe Conexão “A ciência para auxiliar a humanidade pode ser controlada por empresas
privadas?” (p. 223), os alunos podem pesquisar quais sã o as maiores indú strias farmacê uticas e
distribuí-las em um mapa, reconhecendo o poder dos países desenvolvidos nesse setor.
Esse tema é fundamental para analisar a direçã o das economias do século XXI. Procure trabalhar com os
alunos a ideia de que as patentes sã o fundamentais na atual transiçã o dos paradigmas tecnoló gicos
tradicionais, calcadas na indú stria de transformaçã o, para economias baseadas em comercializaçã o de
serviços, inovaçõ es e novas tecnologias.
Esse processo mobiliza universidades, institutos de pesquisa, laborató rios e empresas privadas num
grande mercado de patentes, invertendo a ló gica que deu início a todo o processo de investigaçã o
científica ou inovaçã o. Faça uma reflexã o, por fim, a respeito das questõ es éticas envolvendo a produçã o
e a geraçã o de recursos sobre patentes, considerando que muitas vezes os benefícios da abertura e
universalizaçã o de conhecimento pode significar uma questã o de vida ou morte para milhares ou
milhõ es de pessoas, destacando, para isso, a indú stria farmacêutica, citada no texto.
• Mundo Hoje – Kim Jong-un justifica teste nuclear norte-coreano (p. 225)
O texto narra a trajetó ria de testes nucleares realizados pela Coreia do Norte nos ú ltimos anos. A
discussã o a respeito da posse de armas nucleares é polêmica e pode gerar contrové rsias entre os alunos,
pois países como Estados Unidos, Reino Unido e França possuem grandes arsenais e nã o sã o contestados
pela maior parte dos meios de comunicaçã o e instituiçõ es que procuram regular o desenvolvimento
desse tipo de arma.
Procure conduzir a leitura do texto, ponderando todos os aspectos negativos que o desenvolvimento de
armas com esse grau de destruiçã o pode trazer para a diplomacia internacional. Por outro lado, mostre
também que o domínio sobre esse tipo de tecnologia pode significar autonomia e independência em
outros campos estratégicos como produçã o de energia e desenvolvimento industrial.
Pá gina 332
Atividades complementares
A biodiversidade é um elemento de muita importâ ncia econô mica. Por sua enorme biodiversidade, o
Brasil é um dos 17 países classificados como “megadiversos”.
Descrição da atividade
Sugerimos um trabalho em que os alunos organizem dados, imagens e argumentos explicando qual é a
importâ ncia econô mica da biodiversidade. Por exemplo, poderã o estabelecer relaçõ es entre a
biodiversidade, a indú stria farmacêutica e a lei de patentes. Eles também podem ser orientados a tentar
explicar a importâ ncia geopolítica da regiã o Amazô nica, a partir dessa perspectiva. A apresentaçã o do
trabalho pode ser feita em forma de seminá rios e elaboraçã o de cartazes, que podem posteriormente ser
expostos para toda a escola.
A Assembleia Geral da ONU reú ne todos os Estados-membros da Organizaçã o (192 países) para discutir
os assuntos que afetam a vida da populaçã o mundial. Assim, a pauta de debate inclui temas como paz e
segurança, desarmamento, direitos humanos, etc. A partir disso criam-se recomendaçõ es e resoluçõ es
votadas e aprovadas. O tema da segurança e da indú stria de armas no mundo oferece a possibilidade de
compreender o funcionamento institucional da organizaçã o, que é um espaço de diá logo entre diversos
países que possuem distintos interesses.
Descrição da atividade
A ideia principal é desenvolver uma atividade que seja interdisciplinar. O professor pode se reunir com
professores de outras á reas que possam contribuir com a miniassembleia. O objetivo principal da
atividade é despertar a consciência do papel das instituiçõ es multilaterais e dos debates amplos
realizados nessas instituiçõ es. Devem-se discutir questõ es polêmicas, como até que ponto o direito
individual se sobrepõ e ao direito coletivo; debater as possibilidades de estipular determinadas políticas
que beneficiem a populaçã o de forma geral, mas que podem prejudicar um povo ou país em particular,
etc. Ao elaborar o documento final, deverã o ser contempladas todas as posiçõ es debatidas, porém
chegando-se a um consenso em relaçã o à s posiçõ es divergentes.
Leituras complementares
Os textos abordam algumas questõ es polêmicas sobre a atuaçã o das indú strias farmacêuticas e sobre a
questã o do porte de armas no Brasil.
Leitura 1
[...] A fim de permitir um maior entendimento da indú stria em estudo [farmacêutica], tanto no Brasil quanto no
mundo, cumpre-nos salientar algumas especificidades do setor, responsá veis pela imposiçã o de inú meros
desafios e contendas. Afinal, a fabricaçã o e a comercializaçã o de um medicamento só ocorrem apó s anos de
pesquisas, testes e vultosos investimentos.
Nesse sentido, percebe-se que o setor em aná lise possui algumas imperfeiçõ es, ou “falhas de mercado”, que
podem favorecer o surgimento de monopó lios e oligopó lios, prejudicando a livre concorrência. As principais
imperfeiçõ es são: i) baixa elasticidade, ou inelasticidade, da demanda em relaçã o ao preço, devido à ausência
de bens substitutos; ii) existência de informaçõ es assimétricas; e iii) elevadas barreiras à entrada de novos
concorrentes (por meio de patentes e devido aos altos custos iniciais), que culminam em baixa
competitividade.
[...] Assim, ainda que o valor do produto seja alto, os usuá rios do medicamento nã o podem deixar de comprá -
lo, em função da sua essencialidade para o tratamento de determinadas enfermidades. Logo, quem
comercializa tais bens tem facilidade de aumentar seus preços de forma desproporcional, pois,
independentemente da faixa de renda do consumidor, o preço de alguns medicamentos tem papel secundá rio
na decisã o sobre o consumo. [...]
Como o consumidor nã o tem condiçõ es de avaliar, por si só , a qualidade do bem a ser adquirido, essa decisã o é,
na maioria dos casos, repassada a um agente intermediá rio (em geral, o médico). Tem-se, entã o, um problema
de risco moral (ou problema agente-principal): enquanto o paciente tem incentivos para avaliar tanto os
benefícios (efeitos terapêuticos) quanto o custo dos medicamentos, o médico tende a conferir peso excessivo
aos benefícios, relegando os custos a um segundo plano, o que pode resultar em decisõ es sub-ó timas (consumo
reduzido de medicamentos genéricos e/ou similares de custos inferiores) e, consequentemente, na perda de
bem-estar social. Esse problema é bem comum no caso dos medicamentos éticos, que sã o aqueles que exigem
prescriçã o médica para a comercialização, pois, em tais situaçõ es, há clara separação das decisõ es de
produçã o, prescriçã o, consumo e financiamento. Em tal hipó tese, quem escolhe o medicamento é o médico,
mas quem o compra e o consome é o paciente.
Assim, a assimetria de informaçã o pode levar o paciente a comprar um medicamento de qualidade duvidosa
ou mais caro desnecessariamente.
[...]
Logo, novamente, ocorre uma ineficiência de mercado, uma vez que os agentes envolvidos possuem interesses
díspares. Afinal, o médico tem o objetivo de maximizar a saú de do paciente e de atender a interesses de certos
produtores, desconsiderando o preço dos produtos prescritos. Por sua vez, o consumidor, além de maximizar
sua saú de, tem de se preocupar com suas restriçõ es orçamentá rias, e tudo isso possuindo informaçõ es
limitadas acerca da eficá cia de determinado medicamento, o que também dificulta, ou impede, a substituiçã o
do produto. Por fim, devemos destacar as inú meras barreiras à entrada de novos competidores no setor,
principalmente devido aos altos investimentos exigidos em pesquisa, desenvolvimento e marketing; aos
vultosos custos iniciais intrínsecos à produçã o dos fá rmacos; à existência de proteçã o patentá ria por períodos
considerá veis; à existência de ó rgã os de fiscalizaçã o e regulaçã o, com cada vez mais rígidas exigências
sanitá rias, de qualidade das instalaçõ es e de confiabilidade dos produtos; à alta concentraçã o do mercado em
poucos grandes players, mediante processos de reestruturaçã o empresarial por fusõ es e aquisiçõ es; e à
lealdade dos médicos e dos consumidores a determinados laborató rios ou marcas.
Pá gina 333
Todos os fatores supracitados acabam por promover uma tendência à monopolizaçã o ou oligopolizaçã o do
setor, que se caracteriza pelo fato de uma ou poucas empresas dominarem parte significativa do mercado
relevante. Facilita-se, assim, o desenvolvimento de um ambiente propício à prá tica de preços abusivos. [...]
Senado Federal. Aná lise da indú stria farmacê utica - perspectivas e desafios. Out. 2015. Disponível em:
<https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/textos-para-discussao/td183>. Acesso
em: 26 maio 2016.
Leitura 2
Em outubro deste ano [2016] uma comissã o especial da Câ mara dos Deputados aprovou um relató rio que na
prá tica acaba com o Estatuto do Desarmamento, que entre outras coisas proibia o porte de armas para pessoas
que nã o agentes da lei. O relator da matéria [...] defendeu o texto, afirmando que a mudança – que ainda
precisa ser aprovada no plená rio da Câ mara e no Senado – vai evitar que a populaçã o seja “refém de
delinquentes”. No entanto, nã o existe nenhum estudo científico ou especialista da á rea que estabeleça a relaçã o
entre aumento no nú mero de armas e queda do nú mero de assaltos. “Até policiais treinados morrem
reagindo”, afirmou Bruno Langeani, coordenador de do Instituto Sou da Paz.
Na verdade, a literatura acadêmica produzida no país aponta no sentido contrá rio: menos armas, menos
mortes. O Mapa da Violência, estudo mais completo sobre mortes por arma de fogo no país, produzido pela
Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), apontou que o Estatuto do Desarmamento foi
responsá vel por salvar 160 000 vidas desde que foi sancionado [...] em 2003. O diretor de Estudos e Políticas
do Estado do Instituto de Pesquisa Econô mica Avançada (Ipea), Daniel Cerqueira, disse perante a comissão
especial da Câ mara que o Estatuto “foi uma das leis mais importantes nas ú ltimas décadas no Brasil”. “Há uma
relaçã o de causalidade entre a redução do nú mero de armas com a queda dos homicídios. Onde se tem uma
maior difusã o de armas de fogo, a taxa de homicídios aumenta em 1% ou 2%”, afirmou perante uma plateia de
deputados desinteressados em seus argumentos científicos. Já o relató rio da ONU Global Study on Homicide,
afirma que “o grande nú mero de homicídios nas Américas mostra que, dependendo do contexto, o acesso
facilitado às armas pode ter um efeito significativo no nú mero de mortes”.
Além do Ipea, da Flacso e da ONU, a produçã o acadêmica que aponta para uma relação entre aumento na
quantidade de armas em circulaçã o com um incremento na violência conta com teses de mestrado e doutorado
da Universidade de Sã o Paulo, Faculdade Getú lio Vargas e Pontifícia Universidade Cató lica do Rio de Janeiro.
Mas nã o sã o apenas acadêmicos que consideram o fim do estatuto ruim para a sociedade - policiais e
secretá rios de Segurança Pú blica também engrossam o coro. José Mariano Beltrame, titular da pasta no Rio de
Janeiro, e o coronel da PM Robson Rodrigues, chefe do Estado Maior Geral da PM do Rio, assinaram, ao lado do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso [...] e de mais de 70 pesquisadores de dezenas de universidades,
carta aberta ao presidente da Câ mara [...], pedindo a manutençã o da legislaçã o atual. Em entrevista, Beltrame
chegou a dizer que é preciso “desarmar as pessoas e nã o armá -las”, e afirmou que “se os parlamentares
querem efetivamente ajudar, que canalizem esta energia, este esforço no sentido de ampliar as condiçõ es para
que a segurança pú blica no país possa é melhorar”.
Nada disso sensibilizou a comissã o, que votou pela flexibilizaçã o do estatuto. Em suas fileiras, o colegiado
conta com 11 parlamentares que já receberam doaçõ es de empresas de armas [...].
O professor da Universidade de Harvard David Hemenway realizou entrevistas com 150 pesquisadores que
trabalham com a questã o da violência e do controle de armas nos Estados Unidos. Assim como no caso
brasileiro, houve praticamente um consenso com relaçã o ao perigo de se ter uma arma. Dos acadêmicos
entrevistados, 64% concordam que uma pistola ou revó lver em casa torna o local mais perigoso (apenas 5%
pensam que o lar fica mais seguro). 72% dos entrevistados também acreditam que ter armas no domicílio
aumenta o risco de uma mulher residente ser vítima de homicídio. “Há consenso de que as armas nã o sã o
usadas para autodefesa com muito mais frequência do que sã o usadas para crimes (73% contra 8%), e que a
mudança para leis mais permissivas de porte de arma nã o reduziu as taxas de crime (62% ante 9%)”, escreve
Hemenway, que conclui dizendo que “há consenso de que leis rígidas de controle de armas de fogo reduzem os
homicídios (71% vs. 12%)”.[...]
ALESSI, Gil. Estatudo do desarmamento: “bancada da bala” desafia consenso sobre o risco de liberar porte de arma.
Disponível em: <http://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/25/politica/1451073160_565712.html>. Acesso em: 24 maio
2016.
LIVRO
ANGELL, Má rcia. A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos. Rio de Janeiro: Record, 2007.
Nesse livro, a autora expõ e a indú stria farmacêutica e defende uma mudança essencial, com maior
controle sobre esse setor milioná rio.
FILMES
A entrevista. Direçã o: Seth Rogen, Evan Goldberg. EUA, 2014 (110 min).
No filme, o ditador Kim Jong-un, da Coreia do Norte, é entrevistado por dois americanos, que percebem
que estã o envolvidos num jogo de interesses quando a Cia lhes atribui a missã o de assassinar o
governante. Mas tudo muda quando eles passam a ter mais conhecimentos sobre o lado coreano.
SITES
3. Haiti, Mô naco, Vaticano sã o alguns dos países no mundo onde nã o existe exército. Forças armadas
estrangeiras garantem a soberania no país e controlam os níveis de violência. Por sua vez, a defesa de
Mô naco é garantida pela França, enquanto a defesa do Vaticano é garantida pela Itá lia. O professor deve
orientar as pesquisas de países sem exército e seus respectivos índices de violência e prá tica de defesa.
Convém discutir as informaçõ es obtidas.
1. Espera-se que os alunos discutam o conhecimento como um bem da humanidade. A questã o polêmica
apresentada aqui admite diversos pontos de vista, que devem estar ancorados em argumentos. Os gastos
crescentes das empresas privadas em ciência e tecnologia podem ser vistos como um benefício. Em
contrapartida, a falta de acesso aos produtos desenvolvidos por essas empresas limita sua funçã o social.
1. De acordo com o texto, a legislaçã o atual sobre a posse de patentes tem atendido mais aos interesses
dos monopó lios do que garantido os direitos de propriedade dos pesquisadores envolvidos nas
pesquisas. Os alunos deverã o trazer esse tipo de aná lise, fundamentada nos exemplos pesquisados.
2. O líder norte-coreano considera os Estados Unidos um país imperialista, pois, como amplamente
divulgado, influencia diretamente a política de outros países com sançõ es, intervençõ es e até mesmo
invasõ es territoriais. Espera-se, na segunda parte, que os alunos procurem informaçõ es sobre ambas as
formas de organizar a sociedade, o papel do Estado em ambos os casos, evitando a obtençã o de respostas
diretas e sem problematizaçõ es, e identifiquem por que regimes como o norte-coreano sã o criticados
pelos norte-americanos e vice-versa.
1. Os armamentos sofreram grande evoluçã o ao longo do tempo, muito impulsionada pelas guerras
mundiais e pela Guerra Fria. As armas foram ficando cada vez mais precisas, potentes e rá pidas. Os
meios de transporte também se tornaram mais rá pidos, com maior poder bélico, e muito mais
resistentes.
2. Desde a Segunda Guerra Mundial a energia nuclear utilizada para fins militares representa uma
importante arma política. O domínio militar da energia nuclear aumenta muito o poder bélico do país e
sua capacidade de persuasã o, evitando agressõ es militares por parte de outros Estados.
3. O tratado de nã o proliferaçã o nuclear tinha como objetivos impedir disseminaçã o de armas nucleares
e parar a corrida armamentista entre Estados Unidos e URSS, a fim de impedir a continuidade do
equilíbrio do terror e incentivar a cooperaçã o internacional para o uso civil da energia nuclear.
4. A produçã o de ciência e tecnologia e o acesso ao saber e à inovaçã o podem ser considerados uma
etapa para a autonomia e a autodeterminaçã o de um povo. A produçã o de conhecimento gera autonomia
e independência em relaçã o a outras naçõ es.
5. Hoje a tecnologia é produzida principalmente nos países desenvolvidos, além de alguns centros em
países emergentes. Internamente, os grandes centros de produçã o de tecnologia sã o as universidades, os
centros de pesquisa estatais e as grandes empresas privadas. O conhecimento produzido e os avanços
tecnoló gicos podem ser utilizados de maneira a beneficiar a sociedade ou nã o, dependendo de quem os
emprega.
6. Patente é um título de propriedade, juridicamente regulamentado pela Lei de Patentes, que protege a
propriedade sobre novas invençõ es e descobertas. A sociedade deve, portanto, pagar pelo uso de uma
inovaçã o à s instituiçõ es responsá veis pelo seu desenvolvimento, o que garante a propriedade intelectual
dessas inovaçõ es. Propriedade intelectual é a propriedade sobre elementos imateriais, como invençõ es,
marcas ou obras artísticas.
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8. Os alunos precisarã o retomar o conteú do do capítulo para contextualizar a ocupaçã o dos Estados
Unidos no Iraque em 2003. À época, os principais argumentos eram que havia uma relaçã o entre o país e
a Al-Qaeda e que o governante iraquiano dispunha de armas de destruiçã o em massa. Em 2015, a
intençã o dos Estados Unidos era evitar que o grupo Isis conquistasse mais territó rios iraquianos.
Destaque aos alunos que a reportagem mostra a intençã o de Obama em retirar as tropas enviadas em
2003 (com inú meras mortes), mas encontrou outra justificativa para retomar a ocupaçã o. Associe esses
fatos com a manutençã o da indú stria bélica no mundo.
10. Resposta pessoal. O professor deve incentivar que os alunos exponham suas opiniõ es, baseando-se
em argumentos que considerem o que foi trabalhado no capítulo. Vale ressaltar que depois do fim da
Guerra Fria, o mundo tornou-se mais violento, registrando mais guerras. Além disso, alguns países
continuam investindo em tecnologia nuclear para fins militares.
11. a) Como grandes compradores de armamentos há os países do Norte da Á frica e do Oriente Médio e
países do Sul e Sudeste Asiá tico.
b) O mapa, por meio da aná lise das compras de armamentos, permite perceber uma regionalizaçã o dos
conflitos. Por exemplo, o Oriente Médio é uma grande á rea de conflitos, que tem por base a ocupaçã o dos
territó rios palestinos por Israel e os fortes interesses do petró leo, além da guerra civil na Síria, conflitos
na Turquia e Iraque. Na Europa, os conflitos separatistas ou grupos que cometem atentados terroristas
sã o potenciais compradores também.Professor: essa é uma ó tima oportunidade para listarem os
principais conflitos no mundo.
c) Nã o, Rú ssia e Estados Unidos exportam para suas respectivas e histó ricas á reas de influência ou para
á reas em que buscam fortalecer e disputar influência.
d) Sim, o fato representa disputas ideoló gicas. Embora terminada a Guerra Fria, Rú ssia e Estados Unidos
sã o atores políticos poderosos, envolvem-se em tensõ es e conflitos fora de seu territó rio, motivados pela
busca de influência econô mica, militar, política, além de interesses em recursos naturais. Professor:
propomos uma discussã o sobre como os mercados ilegais de armas sã o abastecidos, nã o só em zonas de
conflitos geopolíticos, mas em á reas onde o índice de violência é extremamente alto, como em algumas
cidades da América do Sul.
12. O mapa de exportaçõ es de armas dos Estados Unidos mostra a Turquia como um dos principais
importadores. A partir da notícia, o aluno terá subsídios para inferir a respeito dos principais motivos
que estreitaram esse comércio bilateral: a luta contra o terrorismo. O governo turco gradualmente
pressiona e oprime as reivindicaçõ es da minoria curda, que luta pela autonomia de um territó rio.
Problematize com os alunos sobre quais seriam os critérios do governo estadunidense em julgar o PKK
como um grupo terrorista e se isso teria alguma relaçã o com a indú stria bélica. Nesse contexto, seria
interessante solicitar que pesquisem se a Rú ssia financia ou abastece grupos contrá rios ao governo
turco.
Professor: espera-se com esta atividade que os alunos façam um mapa de síntese incluindo pontos
estratégicos, parceiros comerciais, rivalidades regionais, entre outros. Alguns pontos de interesse
estratégico que certamente devem ser incluídos sã o a usina hidrelétrica de Itaipu e as usinas nucleares
de Angra dos Reis. A regiã o de fronteira, principalmente na Amazô nia e em Foz do Iguaçu, abrange á reas
importantes. Os principais parceiros comerciais, sobretudo a Argentina e demais países do Mercado
Comum do Sul (Mercosul) e os Estados Unidos, podem ser levados em consideraçã o. Enfim, o gasoduto
Brasil-Bolívia, as relaçõ es comerciais com a China e países africanos, tudo isso pode ser representado no
mapa. É necessá rio planejar cuidadosamente a legenda e a forma de representaçã o.
É importante tirar có pia do modelo impresso, sem fazer qualquer anotaçã o no livro, para que ele possa
ser utilizado por outros alunos em anos posteriores.
A produçã o de sínteses possibilita avaliar o nível de compreensã o dos conteú dos trabalhados no
capítulo. A socializaçã o das sínteses é um bom exercício de retomada de conceitos importantes.
A produçã o de frases-sínteses do capítulo permite aos alunos avaliar seus pró prios conhecimentos e
listar possíveis dú vidas sobre o conteú do do capítulo. A socializaçã o das frases possibilita uma breve
retomada dos tó picos mais importantes que foram estudados.
1. Alternativa a
2. Alternativa d
3. Alternativa c
4. Alternativa c
5. Alternativa b
6. Alternativa a
7. Alternativa b
8. Alternativa b
9. Alternativa a
10. Alternativa a
11. Alternativa d
12. Alternativa c
13. Alternativa a
14. Alternativa d
15. Alternativa a
16. Alternativa b
17. Alternativa b
3. Entre os conteú dos de Física encontrados no texto, estã o eletricidade, eletrô nica e ó ptica.
4. Do ponto de vista estratégico, o Brasil possui uma série de características naturais favorá veis, como
altos níveis de insolaçã o e grandes reservas de quartzo de qualidade, que podem gerar importante
vantagem competitiva para a produçã o de silício com alto grau de pureza, células e mó dulos solares,
produtos esses de alto valor agregado. O professor pode utilizar o Atlas Solarimétrico do Brasil
(disponível em: <http://linkte.me/atlassol>; acesso em: 24 maio 2016) para aprofundar essa questã o.
Essa publicaçã o, fruto da necessidade de conhecer dados sobre a insolaçã o que incide em territó rio
brasileiro ao longo do ano, apoia açõ es no â mbito da tecnologia solar.
Avaliação
A unidade abre espaço para a discussã o de diversos temas importantes e atuais, os quais podem ser
explorados sob diversas formas, por exemplo, com a utilizaçã o de mapas, em que os alunos podem
identificar fluxos migrató rios motivados por conflitos armados e disputas por recursos naturais e
alimentos.
A ú ltima vez em que o Brasil esteve envolvido numa guerra com os países vizinhos foi na Guerra do
Paraguai (1864-1870). Desde entã o, o país tem mantido relaçõ es amistosas na América Latina, sem se
envolver em questõ es fronteiriças importantes.
Esse fato é uma das razõ es pelas quais esta parte do continente pode ser vista como uma regiã o bastante
está vel e desmilitarizada; no mundo, é a regiã o com a menor porcentagem de recursos destinada à s
atividades militares.
No entanto, desde 2005, o governo de Hugo Chá vez, da Venezuela, fez grandes gastos com armamentos, o
que despertou em algumas pessoas o temor de uma corrida armamentista na América do Sul.
A partir desse cená rio, os alunos podem ser instados a explorar os seguintes subtemas:
• Os conflitos armados em que o Brasil esteve envolvido, nã o somente em escala regional, mas também
mundial.
• As missõ es de paz das quais o Brasil já participou e participa nos dias atuais.
• Os novos focos de tensã o na América do Sul.