INTRODUÇÃO: atualmente a psicologia é convocada a ser protagonista na lida com
o suicídio e seus desdobramentos. É emergente a necessidade de enfretamento, a partir da aproximação da sociedade aos dados e informações sobre o assunto, de modo que se possa romper com abafamento desse tema tabu. Para tanto, utilizar-se de uma linguagem menos técnica possibilita o desenvolvimento de níveis de compreensão mais afetivos como estratégia de sensibilização e prevenção ao suicídio. O presente relato de experiência tem por base a experiência de ser facilitador de palestras de prevenção ao suicido no mês de setembro de 2019 e objetiva apresentar reflexões a partir das afetações geradas ao se utilizar da linguagem poética nas intervenções. MÉTODO: utilizou-se como recursos metodológicos a observação e os relatos da vivência do profissional, descritos em um diário de bordo. O diário, escrito em forma de narrativa, torna-se ferramenta de análise e pesquisa, por possibilitar registro de tudo que acontece no campo de prática como a oportunidade de registrar tudo que é vivido durante os encontros pelo facilitador. As vivências registradas referem-se a duas palestras realizadas a um público de cem pessoas ao total, colaboradores de uma rede de supermercados da cidade do Natal, com faixa etária de vinte a cinquenta anos, aproximadamente. RESULTADOS E DISCUSSÕES: pensar a partir do que se afeta é refazer o caminho de compreensão sobre o assunto, destacando a linguagem como lugar de constituição pessoal e de compreensibilidade. Estar palestrante com o interesse de provocar sensibilização e, por consequência, auxilio no autocuidado, lançando mão de uma linguagem poética é convocar um demorar-se sobre o tema de modo mais vivencial. O resgate da essência da linguagem através da experiência dialogal entre facilitador e participantes possibilitou o acesso à vivências que permitiram aos participantes ressignificar a compreensão de prevenir, a partir do mote do pensar. Um pensar que não busca controlar o assunto informado, que não é célere e investigador, que acaba por não se demorar sobre as questões propostas. Essa forma de pensar é característica do momento pós-moderno, que prioriza um como fazer para cada situação vivida, colocando o suicídio como objeto a ser evitado a partir de um modus operandi. Romper com essa realidade sedimentada num movimento mecânico, técnico e repetitivo é fundamental para resgatar ao homem sua condição originária de ser pensante. As intervenções promovidas nos encontros não partiam de uma estrutura rígida, mas de uma abertura que permitia a construção afetuosa, com base na relação desenvolvida entre facilitador e participantes. Possibilitar uma aproximação com o conteúdo sem estabelecer como deve ser auxilia no encontro com o pensamento que demora que descobre com paciência a sua forma de lidar com o assunto; favorece uma reflexão que se direciona as coisas mais próximas da experiência (afetação) vivida de cada um e nela se demorar. CONCLUSÃO: ampliar as possibilidades para pensar a prevenção ao suicídio, lançando de uma linguagem poética, permite o resgate à experiência pessoal de deixar-se afetar, como uma forma de construir sua forma de prevenir, de cuidar-se.