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DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
São Paulo,
30 de Novembro de 2015
A história da filosofia é marcada pela tentativa de cada filósofo tornar a filosofia
uma ciência de grau elevando em relação às outras. Desde Platão, quando disse o modo
para atingir o mundo das ideias, das essências, e assim determinar os objetos do mundo
das imagens, até a modernidade. Hegel, por sua vez, não é diferente. Dessa maneira, o
presente escrito tem como objetivo saber se o mesmo tornou de uma vez por todas a
filosofia à verdadeira ciência. E, se positivo, como isto se realizou. Percorreremos por
um breve panorama amparado pela Enciclopédia das ciências filosóficas, passando para
a Fenomenologia do espírito, a fim de fundamentar todo o raciocínio com introdução à
Ciência da lógica, voltando para a Enciclopédia, num percurso um tanto circular.
1
HEGEL, Fenomenologia do espírito, 2007, §5.
2
HEGEL, Enciclopédia das Ciências Filosóficas, §14.
3
Idem.
2
maneira, compreender o mundo tal como é), até a verdadeira compreensão do real,
enquanto unidade e totalidade.
3
consciência para uma nova figura também se muda o objeto para ela; simultaneamente,
o saber se modifica porque era saber geral de objeto, mas agora fora superado
(aufheben). A mediação desses dois momentos aparentemente extremos é, por
conseguinte, a igualdade-consigo-mesmo semovente; ou “a reflexão sobre si mesmo”, 7
o simples vir-a-ser. A reflexão realizada pela consciência com ela mesma resulta na
morte da situação atual sobre o verdadeiro do mundo para o surgimento do novo, no
caso, da nova consciência, engendrando, por conseguinte, um novo padrão de medida da
Coisa, a fim de apreender o mundo verdadeiramente 8. Ela sofre essa violência por ela
mesma sempre com a tentativa de adequar o seu verdadeiro saber com o saber da Coisa.
Por isso, no espírito (e não mais na imediatez do espírito), ele está em-si e para-si: o
sujeito já se reconhece perante o Outro, o mundo, e este está para o sujeito, porém,
mantendo essa relação entre os negativos, a fim de lidar com absoluto: a coisa em-si e
para-si. Aquela consciência – a primeira descrita por Hegel: a certeza sensível –, no qual
diz o verdadeiro, não sabe que a Coisa é, em verdade, para ela, ela está em-si. Ao se
reconhecer em razão do Outro, está em-si e para-si: esses dois momentos (de saber algo
e saber que sabe) são superados, a fim de atingir o essente, retornando à relação com o
objeto como somente certeza subjetiva, mas numa nova aparição do espírito.
4
verdadeiramente o objeto – o qual Hegel mostra na Fenomenologia do Espírito que a
primeira consciência é a certeza sensível –, a consciência, devido à reflexão que ela faz
consigo mesma, vai superando suas formas rumo ao saber absoluto, onde apreende
efetivamente o objeto e a realidade, pois há uma identidade do que é verdadeiro para a
consciência e a consciência de seu saber da verdade. Ora, a Fenomenologia, vista como
um todo, descreve o processo de transformação da certeza em verdade.12
12
Kojev. Introdução à leitura de Hegel, 2002, p. 42.
13
HEGEL, Fenomenologia do espírito, 2007,§18.
14
Ibid.,§86.
15
Hyppolite, J., Gênese e Estrutura, 1999, p. 40.
16
HEGEL, Fenomenologia do espírito, 2007,§86.
5
totalizante do saber absoluto17. De modo geral, é na consciência da própria consciência
da impossibilidade de apreender o objeto tal como ele realmente é que a consciência
supera essa situação, a fim de dizê-lo em si e para si.
6
resultados do interior próprio percurso da consciência, sem ninguém escolher princípios
– que são sempre infundados – para garantir a veracidade dela: ela mesma atribuiu seu
conceito e seu objeto.
Vimos o conteúdo desta ciência. Agora, quanto ao método, à lógica formal era
um mero procedimento analítico, um cálculo semelhante ao da aritmética, pois, como os
números, as coisas são tomadas numa espécie de destituídas de conceito e sua relação
com os objetos é exterior a eles, lidando em suas meras grandezas e agrupamentos.
Todo A é B; todo B é C; logo todo A é C. Esse método não é capaz de ser utilizado na
ciência pura, pois não apreende o real – permanece na pura abstração de grandezas e
formas para as coisas. O método capaz de compreender a lógica é o método dialético,
pois empenha de modo essencial: lida com o objeto enquanto objeto e não o abstrai,
quer dizer, considera e se demora com o negativo dele. Não é uma negatividade com
resultado no nada abstrato, onde, como considera o negativo como um positivo, há uma
dissolução do conteúdo; pelo contrário, é uma negação do seu conteúdo particular, é
uma negação determinada, resultando num conteúdo essencial daquilo a qual resulta21.
O resultado da negação determinada possui um conteúdo, cujo novo o conceito é mais
rico e mais elevado do que a relação precedente, pois contém a unidade do oposto e ao
primeiro. Assim, “nesse caminho tem de se formar em geral o sistema dos conceitos – e
se consumir em um percurso irresistível, puro, que não traz nada de fora para dentro”. 22
Esse é único método veraz e tem capacidade de se manter científico, bem como a
filosofia e a ciência da lógica – que são, em verdade, o mesmo dentro do todo –, pois
não há distinção do objeto e do conteúdo, porque o conteúdo em si e a dialética que ele
tem nele mesmo que o move para frente. “Aquilo pelo qual o conceito mesmo se conduz
adiante é o que anteriormente foi indicado como negativo, que ele tem em si mesmo; é
isso que constitui o verdadeiramente dialético”. 23 Tanto assim o é que, Hegel, quando se
propõe à investigação da natureza do puro ser, há o encontro do puro nada. Na
apreensão do puro Ser, surgiu necessariamente, na negação inerente a ele, o puro nada.
Ora, é somente pela reflexão que algo muda no modo como o conteúdo está de início,
na intuição e representação; de modo que só mediante uma mudança é que a verdadeira
natureza do objeto vem à consciência 24. Ou seja, o verdadeiro aparece no final do
processo, pois revelou a verdadeira natureza do objeto. A reflexão conduz ao universal
21
HEGEL, Ciência da lógica, 2011, p.34.
22
Ibid., p.34.
23
Ibid., p.35.
24
HEGEL, Enciclopédia das Ciências Filosóficas,§22.
7
das coisas. Somente o pensamento especulativo da realidade e, por isso, compreende-la
efetivamente, consegue dizer a verdadeira natureza do objeto.
8
objetos absolutos não precisa se justificar. Ora, se um juízo já é um conhecer filosófico,
por conseguinte, ele ocupa lugar na filosofia. Uma justificação exterior ou preliminar
seria, pois, afilosófica ou pressupostos infundados 27. A ciência da experiência da
consciência culminou no surgimento das outras ciências; isto é, Hegel não precisou
intervir-se no processo da ciência para estabelecer o princípio da verdade ou ainda seus
objetos – bem como Kant fez para designar o campo do conhecimento do objeto, a
saber, o campo do fenômeno; ao passo que há uma impossibilidade de conhecer o
campo suprassensível –, tampouco seus métodos; pelo contrário, o puro observar do
trabalho da consciência foi o suficiente para a consciência se relacionar em si e para si
com o objeto e fundar absolutamente as ciências, mas o processo do conhecimento da
ciência não para: sempre avança e retrocede a fim de responder o primeiro problema
encontrado: dizer o real tal como ele é em si e para si. Por isso Hegel diz: “um filosofar
sem sistema nada de científico pode ser”.28 Quer dizer, a verdadeira filosofia só pode ser
sistema, pois, sem pressupostos exteriores e contingentes, mantém o movimento de
onde ela parte até o final e retrocede no interior na própria necessidade do processo. Por
isso, também, o saber efetivo só o é como ciência ou como sistema 29: ela abarca, sem
pressupostos, o todo das ciências 30 e o expressa de forma absoluta, após o longo
“metodológico” movimento dialético da consciência, como vimos na primeira parte do
sistema (a Fenomenlogia).
BIBLIOGRAFIA
27
Ibid., §10.
28
Ibid., §14.
29
HEGEL, Fenomenologia do espírito, 2007,§24.
30
HEGEL, Enciclopédia das Ciências Filosóficas,§14.
9
HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito. Tradução: Paulo Meneses. Petrópolis: 4ª
Ed. Vozes, 2007.
____________. Ciência da Lógica. Tradução: Marco Aurélio Werle. São Paulo: Ed.
Barcarolla, 2011.
KOJÈVE, A. Introdução à Leitura de Hegel. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de
Janeiro: Ed. Contra-ponto, Eduerj, 2002.
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