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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

Pensamento de Hegel na Fenomenologia do Espírito, Ciência da Lógica e


Enciclopédia das Ciências Filosóficas

NOME: Paulo Henrique Pereira Mota


NºUSP: 9394751
TURNO: VESPERTINO
PROFº: Marco Werle
DISCIPLINA: Filosofia Geral

São Paulo,
30 de Novembro de 2015
A história da filosofia é marcada pela tentativa de cada filósofo tornar a filosofia
uma ciência de grau elevando em relação às outras. Desde Platão, quando disse o modo
para atingir o mundo das ideias, das essências, e assim determinar os objetos do mundo
das imagens, até a modernidade. Hegel, por sua vez, não é diferente. Dessa maneira, o
presente escrito tem como objetivo saber se o mesmo tornou de uma vez por todas a
filosofia à verdadeira ciência. E, se positivo, como isto se realizou. Percorreremos por
um breve panorama amparado pela Enciclopédia das ciências filosóficas, passando para
a Fenomenologia do espírito, a fim de fundamentar todo o raciocínio com introdução à
Ciência da lógica, voltando para a Enciclopédia, num percurso um tanto circular.

O projeto de Hegel é elevar a filosofia ao estatuto de ciência: “colaborar para


que a filosofia se aproxime da forma de ciência – da meta em que deixe de chamar-se
amor ao saber para ser saber efetivo – isto é o que me proponho”. 1 Não é uma mera
ciência como se formou em sua época – mais visivelmente na modernidade –, bem
como as ciências naturais, mas é tão somente a verdadeira ciência, onde o saber é
efetivo e, por conseqüência, apreende efetivamente a realidade. Essa maneira de
filosofia é a única em que a verdade existe absolutamente, não por essa filosofia gozar
de um privilégio exterior escolhido por Hegel, mas porque toda a sua estrutura se
instituiu como resultado necessário de múltiplas negações dentro do seu próprio
desenvolvimento regressado a si (ainda será explicitado melhor o significado disso).
Quer dizer, a filosofia se torna ciência – no sentido mais elevado do termo – quando é
sistema, pois, dessa maneira, o pensamento é em si concreto e, por isso, sua
universalidade é o Absoluto2; ou seja, a apreensão do pensamento à realidade não se
encontra numa unilateralidade da certeza subjetiva do sujeito de modo que essa mesma
realidade, em verdade, se manifesta de outra maneira, pois há uma identidade da certeza
subjetiva do mundo e a certeza objetiva do mesmo; portanto não havendo um saber que
apareça e afirme o real de forma mais elevada do que na aparição anterior do espírito.
“A ciência do Absoluto é essencialmente sistema, porque o verdadeiro como concreto
só é enquanto se desdobra em si e se recolhe e mantém na unidade, isto é, como
totalidade”.3 Assim, as determinações da ciência têm em si mesma toda verdade que e
porque ali se desenvolveu como experiência (e por isso é concreto, pois o próprio saber
forneceu seus padrões de medidas, não se teve de forma exterior do sistema, e, dessa

1
HEGEL, Fenomenologia do espírito, 2007, §5.
2
HEGEL, Enciclopédia das Ciências Filosóficas, §14.
3
Idem.

2
maneira, compreender o mundo tal como é), até a verdadeira compreensão do real,
enquanto unidade e totalidade.

Assim, a filosofia enquanto sistema tem seu conteúdo justificado no todo e


somente por essa via deve ser apresentada o todo. 4 Essa ciência justifica a verdade das
ciências particulares, justamente por ela ser o complexo das particulares, a saber, como
mostra na Enciclopédia das ciências filosóficas, a Lógica, a Filosofia da Natureza e a
Filosofia do Espírito. Contudo, a verdade do sistema, que também garante a essas três
ciências, e estas três àquela, formando o todo da filosofia, não as tem como um
pressuposto contingente, a fim do filósofo parecer mais um dogmático para a história da
filosofia; pelo contrário, a ciência da lógica, por exemplo, também foi um resultado do
processo necessário percorrido pela consciência – bem como Hegel expõe na
Fenomenologia do Espírito.

Veremos o motivo pela qual a consciência caminha necessariamente, a fim de


verificarmos a necessidade da lógica. O saber da consciência não estabelece uma meta
fixa, no qual esteja para além de si mesmo. Isto é, se a consciência diz apenas o “agora
é”, que é o caso da certeza sensível – por exemplo, agora é à tarde; isto é uma árvore
etc. – a fim de designar o objeto como verdadeiro, ela somente consegue ir além dessa
situação quando é expulso pela negação do Outro, formando uma nova figura da
consciência. Ora, como a consciência é para si mesma o seu conceito, porque, quando
ela tenta estabelecer a medida do verdadeiro (o aqui, o agora que são verdadeiros, por
exemplo), está dizendo, em verdade, para ela, em conformidade com sua própria medida
(o aqui e o agora são o verdadeiro), e, assim, “é para si mesma a negação de suas formas
limitadas”,5 pois nunca o saber está adequado tanto para ela como para o Outro, o
objeto. Então, quando ela vai além do limitado, do seu presente padrão de medida para
conhecer, este além é de si mesma: não deixa de ser consciência e ela mesma. Quando,
pois, o objeto aparece tal como a consciência o conhece, ela também quer como que
“chegar por detrás do objeto”, a fim de vê-lo como é em si, e não para ela. Em razão
disso que é dado à distinção do momento no qual o objeto, o em-si, é, em verdade, para
ela, e o outro momento: o saber de que o objeto é para ela. Ora, quando esses dois
momentos não se correspondem, “parece que a consciência deve então mudar o seu
saber para adequá-lo ao objeto”.6 Com efeito, esse momento de superação (aufheben) da
4
Ibid., §18.
5
Hyppolite, J., Gênese e Estrutura, 1999, p. 34.
6
HEGEL, Fenomenologia do espírito, 2007,§85.

3
consciência para uma nova figura também se muda o objeto para ela; simultaneamente,
o saber se modifica porque era saber geral de objeto, mas agora fora superado
(aufheben). A mediação desses dois momentos aparentemente extremos é, por
conseguinte, a igualdade-consigo-mesmo semovente; ou “a reflexão sobre si mesmo”, 7
o simples vir-a-ser. A reflexão realizada pela consciência com ela mesma resulta na
morte da situação atual sobre o verdadeiro do mundo para o surgimento do novo, no
caso, da nova consciência, engendrando, por conseguinte, um novo padrão de medida da
Coisa, a fim de apreender o mundo verdadeiramente 8. Ela sofre essa violência por ela
mesma sempre com a tentativa de adequar o seu verdadeiro saber com o saber da Coisa.
Por isso, no espírito (e não mais na imediatez do espírito), ele está em-si e para-si: o
sujeito já se reconhece perante o Outro, o mundo, e este está para o sujeito, porém,
mantendo essa relação entre os negativos, a fim de lidar com absoluto: a coisa em-si e
para-si. Aquela consciência – a primeira descrita por Hegel: a certeza sensível –, no qual
diz o verdadeiro, não sabe que a Coisa é, em verdade, para ela, ela está em-si. Ao se
reconhecer em razão do Outro, está em-si e para-si: esses dois momentos (de saber algo
e saber que sabe) são superados, a fim de atingir o essente, retornando à relação com o
objeto como somente certeza subjetiva, mas numa nova aparição do espírito.

A consciência é, portanto, movimento; um desassossego estorvante da inércia: se


ela fica carente-de-pensamento, o próprio pensamento pertuba a carência-de-
pensamento9, pois, quando ela percebe que o em-si está na verdade para ela – tendo uma
consciência-de-si, por conseguinte, de que há um Eu e há um Outro, mas o Outro é para
o Eu e o Eu para o Outro –, então a consciência supera (aufheben) esse momento, a fim
de resolver tal situação. O verdadeiro contém a reflexão da consciência consigo mesmo:
“é a reflexão que faz o verdadeiro um resultado, mas que ao mesmo tempo suprassume
essa oposição ao seu vir-a-ser”.10 O saber é, portanto, essa inquietude. De tal maneira
que, se, porventura, a consciência se submergir na sua vaidade, de achar tudo eficiente a
seu modo, bem como a verdade, ela “sofre igualmente violência por parte da razão, que
acha que não é bom, justamente por ser um modo”.11 Assim, desde o começo, quando o
saber da consciência estabelece o seu primeiro padrão de medida para dizer
7
Ibid.,§21.
8
Contudo, tudo isso, na realidade, é perceptível somente para nós (o filósofo). Essa mudança que a
consciência pensa acontecer é, para nós, o seu vir-a-ser. O que antes era Em-si não é mais em si: era só
para ela.
9
Ibid.,§80.
10
Ibid.,§21.
11
Ibid., §80.

4
verdadeiramente o objeto – o qual Hegel mostra na Fenomenologia do Espírito que a
primeira consciência é a certeza sensível –, a consciência, devido à reflexão que ela faz
consigo mesma, vai superando suas formas rumo ao saber absoluto, onde apreende
efetivamente o objeto e a realidade, pois há uma identidade do que é verdadeiro para a
consciência e a consciência de seu saber da verdade. Ora, a Fenomenologia, vista como
um todo, descreve o processo de transformação da certeza em verdade.12

Com isso, doravante, “o verdadeiro é o vir-a-ser de si mesmo, o círculo que


pressupõe seu fim como sua meta, que tem como princípio, e que só é efetivo mediante
sua atualização e seu fim”. 13 Esse movimento que a consciência realiza na mediação
consigo mesma é o movimento dialético. Esse movimento dialético, por sua vez, é a
experiência da consciência14. O que a consciência exercita em si mesma, tanto em seu
saber como em seu objeto, enquanto dele surge o novo objeto verdadeiro para a
consciência, se caracteriza por esse movimento dialético, no qual, por conseqüência,
caracteriza a experiência da consciência.

Esse é modo de caminhar da consciência rumo ao saber absoluto. Com efeito,


esse “método de desenvolvimento da consciência” não é um método, restando apenas o
arbítrio ou a contingência de utilizá-lo, mas esse é o próprio processo real necessário da
consciência: a partir da reflexão dela mesma, sobre o seu saber – por consequência
sobre o objeto, pois saber é sempre saber de um objeto 15 –, ela encontra a sua
negatividade da essência do antigo objeto, tornando sua visão do Em-si, agora, ser-para-
ela desse Em-si: que “esse novo objeto contém o aniquilamento [nadidade] do primeiro;
é a experiência sobre ele”.16

Assim, o desenvolvimento do espírito desde sua aparição imediata, a saber, a


consciência da certeza sensível, se constitui por esse processo dialético no interior da
própria consciência. Hegel mostra com precisão esse movimento no decorrer de toda a
Fenomenologia do espírito, desde o saber mais sensual e superficial de dizer o singular
dos objetos, passando pela Percepção, Entendimento, dentro do grande ciclo da
consciência, adentrando, em seguida, a Consciência-de-si até o saber mais concreto e

12
Kojev. Introdução à leitura de Hegel, 2002, p. 42.
13
HEGEL, Fenomenologia do espírito, 2007,§18.
14
Ibid.,§86.
15
Hyppolite, J., Gênese e Estrutura, 1999, p. 40.
16
HEGEL, Fenomenologia do espírito, 2007,§86.

5
totalizante do saber absoluto17. De modo geral, é na consciência da própria consciência
da impossibilidade de apreender o objeto tal como ele realmente é que a consciência
supera essa situação, a fim de dizê-lo em si e para si.

O resultado do movimento progressivo da consciência exposto na


Fenomenologia do espírito é o conceito da ciência.18 Este, por sua vez, não precisa se
legitimar por Hegel ou qualquer outro princípio, porque a consciência resolveu sua
relação e separação com o objeto no próprio caminho necessário: tornou idêntica a
verdade da certeza da consciência bem como a certeza da verdade. A partir disso nasce
a ciência pura: a ciência da lógica; ou seja, o saber absoluto é o pressuposto legitimado
desta ciência: “o conceito da ciência pura e a sua dedução são dessa maneira
pressupostos no presente tratado, tendo em vista que a Fenomenologia do espírito nada
mais é do que a dedução do mesmo”.19 O objeto dela não é dado, diferente das outras
ciências. O conteúdo da lógica é, por conseqüência, o pensamento puro, uma vez
libertado a oposição da consciência: é o ente em si e para si. Portanto, tem o pressuposto
no absoluto e o pensamento é objetivo. Ora, quando o pensamento em si e para si diz
sobre algo, está dizendo o real dela, que sua objetividade lhe é própria como
pensamento. É uma ciência da lógica no qual tem sua matéria no interior de sua própria
forma, e não de algo exterior – bem como a lógica formal aristotélica, onde a lógica era
apenas regras e leis de orientação do pensamento para o mundo sensível, a fim de
formular proposições e deduções a partir experiência dada. A verdadeira lógica “não se
ocupa com intuições nem com representações sensíveis abstratas, tal como a geometria,
mas com puras abstrações e exige a força e o treinamento para que consigamos nos
retrair no puro pensamento, a fim de apreendê-lo e nele se mover”. 20 Ao tratar do Ser,
por exemplo, ela não vai tratar do ser de algo, numa instância meramente formal, mas
tão somente do puro Ser. O Ser é forma e conteúdo ao mesmo tempo; de modo que a
apreensão deste será sempre efetiva e a verdade, absoluta (ou a matéria verídica). O
conhecimento absoluto torna a forma e o conteúdo numa só igualdade. Isso demonstra o
profícuo tratamento de Hegel com a ciência: nada dela é fornecida exteriormente,
porque tudo dela, desde seu nascimento, seus pressupostos, seu conteúdo etc. foram
17
Há um debate entre os comentadores para saber se essas figuras da consciência são figuras ocorridas
na história do pensamento, como se a certeza sensível ocupou uma época na história, ou se é o puro
raciocínio lógico formulado por Hegel. Em outros termos: se Hegel pensa no tempo lógico ou no tempo
histórico da consciência. Porém, não cabe aqui desenvolver isso.
18
HEGEL, Ciência da lógica, 2011, p.27.
19
Ibid., p.28.
20
HEGEL, Enciclopédia das Ciências Filosóficas,§19.

6
resultados do interior próprio percurso da consciência, sem ninguém escolher princípios
– que são sempre infundados – para garantir a veracidade dela: ela mesma atribuiu seu
conceito e seu objeto.

Vimos o conteúdo desta ciência. Agora, quanto ao método, à lógica formal era
um mero procedimento analítico, um cálculo semelhante ao da aritmética, pois, como os
números, as coisas são tomadas numa espécie de destituídas de conceito e sua relação
com os objetos é exterior a eles, lidando em suas meras grandezas e agrupamentos.
Todo A é B; todo B é C; logo todo A é C. Esse método não é capaz de ser utilizado na
ciência pura, pois não apreende o real – permanece na pura abstração de grandezas e
formas para as coisas. O método capaz de compreender a lógica é o método dialético,
pois empenha de modo essencial: lida com o objeto enquanto objeto e não o abstrai,
quer dizer, considera e se demora com o negativo dele. Não é uma negatividade com
resultado no nada abstrato, onde, como considera o negativo como um positivo, há uma
dissolução do conteúdo; pelo contrário, é uma negação do seu conteúdo particular, é
uma negação determinada, resultando num conteúdo essencial daquilo a qual resulta21.
O resultado da negação determinada possui um conteúdo, cujo novo o conceito é mais
rico e mais elevado do que a relação precedente, pois contém a unidade do oposto e ao
primeiro. Assim, “nesse caminho tem de se formar em geral o sistema dos conceitos – e
se consumir em um percurso irresistível, puro, que não traz nada de fora para dentro”. 22
Esse é único método veraz e tem capacidade de se manter científico, bem como a
filosofia e a ciência da lógica – que são, em verdade, o mesmo dentro do todo –, pois
não há distinção do objeto e do conteúdo, porque o conteúdo em si e a dialética que ele
tem nele mesmo que o move para frente. “Aquilo pelo qual o conceito mesmo se conduz
adiante é o que anteriormente foi indicado como negativo, que ele tem em si mesmo; é
isso que constitui o verdadeiramente dialético”. 23 Tanto assim o é que, Hegel, quando se
propõe à investigação da natureza do puro ser, há o encontro do puro nada. Na
apreensão do puro Ser, surgiu necessariamente, na negação inerente a ele, o puro nada.
Ora, é somente pela reflexão que algo muda no modo como o conteúdo está de início,
na intuição e representação; de modo que só mediante uma mudança é que a verdadeira
natureza do objeto vem à consciência 24. Ou seja, o verdadeiro aparece no final do
processo, pois revelou a verdadeira natureza do objeto. A reflexão conduz ao universal
21
HEGEL, Ciência da lógica, 2011, p.34.
22
Ibid., p.34.
23
Ibid., p.35.
24
HEGEL, Enciclopédia das Ciências Filosóficas,§22.

7
das coisas. Somente o pensamento especulativo da realidade e, por isso, compreende-la
efetivamente, consegue dizer a verdadeira natureza do objeto.

Assim, descobrimos a razão e a maneira pela qual a ciência da lógica se


constitui: pelo movimento progressivo da consciência, desde a sua relação imediata com
o objeto até o saber absoluto, exposto na Fenomenologia do espírito, que obteve como
resultado necessário o conceito da ciência pura. A ciência da lógica surge como fim e
começo ao mesmo tempo, pois é o fim da formação cultural da consciência e começo da
verdadeira ciência, com o pensamento objetivo e, dessa maneira, apreender
efetivamente o real tal como ele é em si e para si. Tanto seu objeto, a ideia pura, quanto
seu método, a dialética, surgiu como necessário no interior da própria ciência.

Com isso, podemos retornar a ocupar-nos do sistema, o qual se manifesta


verdadeiramente a filosofia enquanto estatuto de ciência e saber efetivo. A ciência
expõe seu desenvolvimento, na enciclopédia, que “restringe-se aos principais e aos
conceitos fundamentais das ciências particulares”.25 Embora a enciclopédia não cuide
destas como a própria ciência tem em si seu desdobrar-se circular mas também dentro
de outro círculo maior, bem como Hegel trata da lógica na Ciência da lógica, ela as
expõe de forma essencial, facilitando inclusive o entendimento do sistema. É certo que a
totalidade da filosofia forma verdadeiramente a ciência ou o complexo de várias
particulares26; contudo, isso não significa o dilaceramento da verdade da ciência
particular nela mesma em sua totalidade perante o sistema. Ao invés disso, uma ciência
particular inserida no todo da filosofia, do sistema, tem sua legitimação em si mesma,
tanto quanto no sistema. Vimos isso ocorrer com o surgimento da ciência da lógica e
suas determinações.

No entanto, como vimos, uma vez que o verdadeiro concreto só é enquanto se


desdobra em si, senão não seria sistema, a efetividade do saber somente o é enquanto
sistema. A filosofia com esse estatuto forma a verdadeira ciência que não tem
pressupostos. Ela, demonstrada em enciclopédia, exibe o todo das ciências particulares
(ciência da lógica, filosofia da natureza e filosofia do espírito) tem sua verdade
legitimidade igualmente como as particulares, pois surgiram e se mantém com seus
objetos e métodos segundo a sua necessidade – a ciência da lógica, como vimos,
demonstra isso. A filosofia, portanto, não é contingente. Sua capacidade de conhecer os
25
Ibid., §16.
26
Idem, §16.

8
objetos absolutos não precisa se justificar. Ora, se um juízo já é um conhecer filosófico,
por conseguinte, ele ocupa lugar na filosofia. Uma justificação exterior ou preliminar
seria, pois, afilosófica ou pressupostos infundados 27. A ciência da experiência da
consciência culminou no surgimento das outras ciências; isto é, Hegel não precisou
intervir-se no processo da ciência para estabelecer o princípio da verdade ou ainda seus
objetos – bem como Kant fez para designar o campo do conhecimento do objeto, a
saber, o campo do fenômeno; ao passo que há uma impossibilidade de conhecer o
campo suprassensível –, tampouco seus métodos; pelo contrário, o puro observar do
trabalho da consciência foi o suficiente para a consciência se relacionar em si e para si
com o objeto e fundar absolutamente as ciências, mas o processo do conhecimento da
ciência não para: sempre avança e retrocede a fim de responder o primeiro problema
encontrado: dizer o real tal como ele é em si e para si. Por isso Hegel diz: “um filosofar
sem sistema nada de científico pode ser”.28 Quer dizer, a verdadeira filosofia só pode ser
sistema, pois, sem pressupostos exteriores e contingentes, mantém o movimento de
onde ela parte até o final e retrocede no interior na própria necessidade do processo. Por
isso, também, o saber efetivo só o é como ciência ou como sistema 29: ela abarca, sem
pressupostos, o todo das ciências 30 e o expressa de forma absoluta, após o longo
“metodológico” movimento dialético da consciência, como vimos na primeira parte do
sistema (a Fenomenlogia).

Portanto, o núcleo da pretensão de Hegel tem como objetivo à elevação da


filosofia ao estatuto de ciência, que, dessa maneira, o saber efetivo se apresenta como
sistema e somente assim o espírito apreende efetivamente a realidade, se realiza pela
própria filosofia. Fichte achou que como num tiro de pistola atingimos o absoluto – não
se sabe, porém, a necessidade desse pressuposto e porque ele escolheu esse fundamento.
A diferença de Hegel para a história da filosofia é essa: não houve princípio escolhido
por ele, pois o próprio sujeito em sua formação cultural construiu o verdadeiro saber do
saber verdadeiro do mundo, tem condições, doravante, de fazer a verdadeira ciência, de
forma totalizante do pensamento, o modo mais concreto de determinar o real.

BIBLIOGRAFIA
27
Ibid., §10.
28
Ibid., §14.
29
HEGEL, Fenomenologia do espírito, 2007,§24.
30
HEGEL, Enciclopédia das Ciências Filosóficas,§14.

9
HEGEL, G.W.F. Fenomenologia do Espírito. Tradução: Paulo Meneses. Petrópolis: 4ª
Ed. Vozes, 2007.

____________. Ciência da Lógica. Tradução: Marco Aurélio Werle. São Paulo: Ed.
Barcarolla, 2011.

____________. Enciclopédia das Ciências Filosóficas. Tradução: Artur Morão. Lisboa:


Ed. Edições 70.

HYPPOLITE, J. Gênese e Estrutura da Fenomenologia do Espírito de Hegel.


Tradução: Silvio Rosa Filho. São Paulo: Ed. Discurso editorial, 1999.

KOJÈVE, A. Introdução à Leitura de Hegel. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de
Janeiro: Ed. Contra-ponto, Eduerj, 2002.

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