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Introdução

Seria uma afirmação do óbvio se dissesse que Isaac Zita tenha lido a obra de Luís Bernardo
Honwana, pois, como revelam os artigos dos académicos Irene Mendes e Nataniel Ngomane,
deixam claro que, de facto, a obra de Honwana teve influência sobre a do Zita. Portanto,
colocando o detractor sistemático em standby, ou seja, não caminhando entre os contos “Dina” e
“A Raiva” na carrinha escolar francesa, isento este ensaio desta perspectiva, optando por uma
visão mais ampla da mensagem submergida nos dois contos.

1. Motivação

A mais notável divergência entre o conto “Dina” de Luís Bernardo Honwana e “A Raiva” de
Isaac Zita, é o principal pressuposto que serve nesta análise de fundação para o estabelecimento
desta ponte contrastante que procura colidir as duas situações, digamos kafkianas, em que ambos
se encontram, porém reagindo de formas distintas a favor de sua condição social.

2. Metodologia comparatista

A análise e interpretação foram desempenhadas com base o método comparatista soviético, na


justificativa de que os autores são indivíduos integrados no mesmo contexto social favorecendo-
se da criação literária para manifestar as suas inquietações em torno da situação política e social.

3. Objectivos

 Analisar e interpretar de acordo com os métodos estabelecidos pela escola escolhida;


 Relacionar e contrastar de acordo com a análise e a interpretação feita dos textos.

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4. Conceitos operatórios

Capataz – chefe de um troço de trabalhadores.

Capitalismo – ideologia sócio-política que foca-se apenas na exploração da força humana


para a produção económica.

Opressão - dominação sobre os cidadãos. Sensação de pressão física ou psicológica;

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5. Análise

Autor Texto Personagens Protagonista Evento Acção Tempo Espaço Diegese


Luís Bernardo Dina Madala Madala Activida O Meio-dia Machamba Hipodiegético
Pitarossi de envolvi
Honwana
Capataz laboral mento
N’Guiana no do
Muthakati campo capataz
Filimone com a
Tandane filha do
Djimo Madala;
Muthambi O
Maria ataque
ao
capataz.

Isaac Zita A Velho N’tchavane Activida A Quatro Plantação Homodiegético


reacção horas a
N’tchavane de
Raiva seguir o de cana-de-
do
Capataz laboral dina
N’tchava açúcar
no
ne face
campo
ao
tratament
o do
capataz
para com
o velho.

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5.1. Aspectos comuns

 O campo como espaço onde os enredos desenrolam-se;


 O trabalho forçado;
 A presença de um capataz abusivo controlando os trabalhadores.

5.2. Aspectos diferentes

 No “Dina” o enredo desenrola-se em uma machamba e “A Raiva” por outra em uma


plantação de cana;
 O narrador de “Dina” é hipodiegético e do “A Raiva” homodiegético;

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6. Interpretação

No texto “Dina” há um retrato do processo repressivo-submissivo daquilo que é o lado abusivo e


desumano do sistema capitalista, onde a mão-de-obra forçada à violência desnecessária por parte
do capataz, impõe uma pressão física e psicológica sobre os seus subjugados. Segundo Paulo
Freire, “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”, neste caso,
temos o capataz, que simboliza o opressor, que pela sua condição social demonstra ser produto
de uma educação rudimentar, que limitou as suas capacidades intelectuais. Uma evidência
textual está no facto deste ser o único que sabe ler entre os seus subjugados: - Vamos ao
chicafo!... – ordenou o Capataz, fechando o livro que tinha nas mãos. – Ainda está para
aparecer o gajo que há-de escrever um livro sem meter putas… - acrescentou, olhando para o
desenho da capa do livro.

No conto “A Raiva”, na perspectiva homodiegética do Velho, contempla-se um horizonte similar


ao de “Dina”, porém, o conto revela ao leitor, de forma sintetizada, o espírito de revolta contra o
sistema opressor, em particular por parte do personagem N’tchavane, que rebela-se contra o
sistema: “- Aonde está a coragem de que se gabavam os nossos avós? Aonde? Lutemos! Porque
temer a morte se vivemos como animais? Morramos, mas lutando… Lutando pela nossa
liberdade…. “Um homem que não morreria por algo não é digno de viver”, disse Martin Luther
King Jr., e N’tchavane morreu. Revoltando pela sua liberdade. Um acto protagonizado também
pelo seu então avô de nome N’tchavane, que como N’tchavane (neto), foi “morto numa
revolta”, afirma o narrador homodiegético. No “Dina” ocorre essa tentativa, porém fracassada:
“Madala… - A voz do jovem continha-se – Madala… Diz-nos o que é que devemos fazer!... Fala
nós não temos medo de morrer”…

George Plekhanov, teórico literário russo, afirma que “É um velha história mas eternamente
nova. Quando uma classe vive da exploração de outra classe situada em graus mais baixos da
escala econômica, e quando aquela logrou dominar por completo na sociedade, todo avanço que
faz representa uma incursão para baixo”. Essa incursão para baixo, pode ser tido como o

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ignorado estado de abatimento por parte de tanto os trabalhadores no “Dina” como “A Raiva”,
sendo a exploração um acto que mais destrói do que constrói. O opressor não se importa com a
condição psicológica do oprimido, interessando-lhe apenas o capital humano para a produção do
capital económico.

No “Dina” o sol representa simbolicamente o acto de oprimir, no primeiro período do segundo


parágrafo do texto: “O sol estava mesmo em cima do seu dorso nu…”. O quarto ponto da palavra
opressão no dicionário Priberam, define opressão como a sensação de pressão física ou
psicológica, ora, um oprimido submetido a um sistema está obrigado a aguentar: “…mas
convinha suportar um pouco mais.”

Em ambos contos os protagonistas questionam a sua condição existencial, expressando aquilo


que é a sua utopia. No conto “Dina” temos o Madala que manifesta esse desejo dizendo: “No
mar não há capim para arrancar…” esticou um dedo mindinho. – “No mar os peixes são como
os passarinhos do céu…” Ora, é no mar que, cientificamente falando, a vida começa e nele não
existe actividade laboral. E esse desejo era vivido pelo N’tchavane (avô), que segundo o
narrador: “[…] gostava de viver livre como um pássaro […]”. E ainda, compara os seus peixes
com os passarinhos do céu, uma vez que o pássaro é tido como símbolo de liberdade. Portanto no
“Dina” temos o sonho, a utopia e em “A Raiva” a tentativa de o realizar e o sacrifício que este
requer.

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6.1. Aspectos comuns

 A intimidade que o capataz tem sobre os subjugados, chegando a agredi-los psicológico


como fisicamente. Por exemplo no “Dina”: “Olá, Maria! O que é que vieste cá fazer?
Estás a engatar o Madala?... Ao Madala não deve ser porque está velho… […];

- Mas o que tens, rapariga? Não queres o dinheiro? Tens medo de o receber? – Calou-
se, aguardando a resposta de Maria. Mas continuou: - Tens medo que os rapazes saibam
que és uma puta?”; ou em “A Raiva”: “T’ás velho kokwana… - troçou o capataz,
alargando o seu sorriso. – Velho mesmo!... […]
- Que pensas ainda fazer, kokwana? Estás velho… - Insistia o capataz. Chegando ao
ponto de agredir o velho: “Irritado, o capataz lançou-me um pontapé que, subitamente,
atirou comigo de gatas para o meio do chão.
 Tanto no “Dina” como a “A Raiva”, há o questionamento da sua condição social ou
existencial.

6.2. Aspectos diferentes

 Enquanto no “Dina” há a conformidade por parte do Madala, no conto “A Raiva” temos o


estado de desconforto por parte do N’tchavane;
 No “Dina” temos o Pitarossi que morrera durante o trabalho e no “A Raiva” temos o
N’tchavane (avô) que morrera em uma revolta;
 O estado de submissão não implica que o opressor somente faça com que o oprimido faça
o que ele quer, mas também o que o opressor pretende fazer com o seu corpo. Portanto,
apesar de em ambos contos existir o trabalho forçado, no “Dina” temos a exploração
sexual e em “A Raiva” a agressão física;
 No conto “Dina” vê-se um retrocesso por parte dos oprimidos e em “A Raiva” a revolta;

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 O pretexto em “Dina” é a hora do almoço e a “A Raiva” o sentimento de revolta do
N’tchavane.
7. Conclusão

Tendo em conta que, segundo Victor Zhirmunsky, a literatura é um produto social, conclui-se
com este ensaio que, Luís Bernardo Honwana e Isaac Zita, uma vez integrados no mesmo
contexto social, transmitiram sua mensagem, por via da literatura, a todos os submetidos ao
sistema opressor, sendo a do Honwana a de alerta e a do Zita a reaccionária. No “Dina” há o
retrato das condições em que os nativos encontravam-se a exercer a sua actividade laboral, sob o
regime colonial. E um tempo depois, já criando-se mecanismos para revoltar-se contra esse
regime, sendo uma das ferramentas a literatura como arma de luta de libertação, eis Isaac Zita,
inserido nessa mesma sociedade, dando por si nessa época de iniciação a luta, sugere-se, dá o seu
manifesto de forma reaccionária ao regime colonial.

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8. Referências bibliográficas

HONWANA, Luís Bernardo. Dina. In: Nós Matamos o Cão-Tinhoso.

ZITA, Isaac. A Raiva. In: Os Molwenes

NGOMANE, Nataniel. O “Plágio” de Isaac Zita. In: Tempo – 03/12/89

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido.

PLEKHANOV, George. A Arte e a Vida Social.

CARVALHAL, Tânia. Literatura Comparada.

TROTSKY, Leon. Literatura e Revolução.

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