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Agradecimentos
iii
Agradecimentos
Aos meus amigos, Fernanda Santos e Virgílio Silva, pelo encorajamento, pela
ajuda e pela disponibilidade manifestada.
iv
ÍNDICE GERAL
ÍNDICE DE QUADROS ................................................................................................ vii
LISTA DE SIGLAS ...................................................................................................... viii
RESUMO ........................................................................................................................ ix
ABSTRACT ..................................................................................................................... x
INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 11
Capítulo I – ARTE...................................................................................................... 20
1. Arte e Educação.................................................................................................. 20
2. Arte, Educação e Cultura.................................................................................... 21
3. Os Caminhos das Expressões Artísticas............................................................. 24
4. Algumas finalidades desejáveis em arte e educação .......................................... 25
5. Programa baseado em objectivos - Modelo por objectivos................................ 27
5.1. Dificuldades da utilização em arte do modelo tyleriano ............................. 29
6. Programa baseado no Processo .......................................................................... 30
7. A disciplina de Educação Visual e Tecnológica ................................................ 32
Capítulo II – CURRÍCULO E AVALIAÇÃO ........................................................... 34
1. Currículo............................................................................................................. 34
1.1. Conceito de Currículo.................................................................................. 34
1.2. Concepção de currículo na Reforma do Sistema Educativo........................ 36
1.3. Gestão flexível do currículo ........................................................................ 37
1.4. Resultados da flexibilização curricular........................................................ 40
1.5. O Programa da disciplina de Educação Visual e Tecnológica no Currículo
do 2º Ciclo do Ensino Básico ............................................................................. 43
1.6. Fontes Curriculares da disciplina de Educação Visual e Tecnológica ........ 49
1.7. Competência e profissionalismo docente .................................................... 52
2.1. Conceito de Avaliação................................................................................. 56
2.2. Princípios da Avaliação ............................................................................... 58
2.3. Critérios de Avaliação ................................................................................. 60
2.3.1. Avaliação Sistémica ............................................................................. 63
2.3.2. Avaliação por Competência.................................................................. 64
2.3.3. Paradigmas da Avaliação...................................................................... 66
2.4. Funções da Avaliação.................................................................................. 69
2.5. Modalidades, Instrumentos e Credibilidade da Avaliação ......................... 72
2.6. A Avaliação dos alunos na disciplina de Educação Visual e Tecnológica . 76
Capítulo III – METODOLOGIA................................................................................ 80
1. Características do estudo .................................................................................... 80
1.1. Problema...................................................................................................... 80
1.2. Objectivos.................................................................................................... 81
2. Plano da investigação ......................................................................................... 82
2.1. Algumas considerações .............................................................................. 82
2.2. Metodologia de Investigação....................................................................... 82
2.2.1. Princípios e tipos de Inquérito.............................................................. 85
2.2.2. Definição do Universo da Amostra ..................................................... 86
2.2.3. Pré-teste ............................................................................................... 87
2.2.4. Perguntar............................................................................................... 88
2.2.5. Como apresentar ................................................................................... 90
2.2.6. Passos e cuidados a ter em conta .......................................................... 90
2.2.7. Distribuição, recolha, codificação e tratamento dos dados .................. 91
3. Elaboração do Questionário, aplicado nas escolas estudadas............................. 92
3.1. Tipos de abordagens .................................................................................... 96
v
3.2. População estudada...................................................................................... 97
3.3. A selecção das escolas................................................................................. 97
3.3.1. Localização geográfica ......................................................................... 98
3.3.2. Caracterização dos respondentes .......................................................... 98
3.4. Técnicas de recolha de dados ...................................................................... 98
3.5. Pré-teste ....................................................................................................... 99
3.5.1. Características pessoais e profissionais (variáveis independentes) ...... 99
3.5.2. Alterações a realizarem no inquérito por questionário....................... 100
3.6. As categorias de análise............................................................................. 101
3.7. A análise documental................................................................................ 103
3.8. Análise de dados........................................................................................ 103
3.9. Dimensão ética da investigação................................................................. 104
Capítulo IV - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS............... 105
1. Caracterização das escolas................................................................................ 105
Escola A............................................................................................................ 105
Escola B............................................................................................................ 106
Escola C............................................................................................................ 107
Escola D............................................................................................................ 107
Escola E ............................................................................................................ 108
Escola F ............................................................................................................ 108
Escola G............................................................................................................ 109
Escola H............................................................................................................ 110
Escola I ............................................................................................................ 110
Escola J ............................................................................................................. 111
Escola L ............................................................................................................ 111
Escola M ........................................................................................................... 112
Escola N............................................................................................................ 113
2. A Arte num contexto de Reorganização Curricular do Ensino Básico ........... 114
2.1. Perfil dos docentes inquiridos ................................................................... 114
2.2. A Arte em geral e a EVT em particular e as Novas Áreas Curriculares Não
Disciplinares ..................................................................................................... 115
2.2.1 – O caso da Formação Cívica .............................................................. 116
2.2.2 – O caso do Estudo Acompanhado...................................................... 119
2.2.3 – O caso da Área de Projecto............................................................... 120
3 – As concepções e as práticas dos professores sobre a avaliação em EVT....... 120
3.1 – Representações genéricas sobre a problemática da avaliação ................. 121
3.2 – O dispositivo de avaliação em EVT ........................................................ 123
3.2.1 – Concepções sobre a avaliação em EVT............................................ 123
2.2.2 – Práticas de avaliação em EVT .......................................................... 125
3.3 – EVT, avaliação, poder e prestígio social ................................................. 129
CONCLUSÃO.............................................................................................................. 134
BIBLIOGRAFIA GERAL: .......................................................................................... 144
LEGISLAÇÃO CONSULTADA ................................................................................. 157
ANEXO 1 - Inquérito por questionário .............................................................. 159
vi
ÍNDICE DE QUADROS
Acompanhado
vii
LISTA DE SIGLAS
DL − Decreto- Lei
viii
RESUMO
ix
ABSTRACT
The present research Art, Curriculum and Evaluation is concerned with the
evaluation of the second cycle in the Visual Education and Technology subject.
The theory approach develops the questions around Art, Curriculum and
Evaluation, focusing the problematic and the specific concepts of art, education and
culture, flexible management, principles, criteria, instruments and modalities of
Evaluation, specially in the Visual Education and Technology subject.
As a methodology, this study used, almost exclusively, the inquiry through a
written questionnaire, the technique of analysis associated and the paradigm of the
pattern of thought of the teacher.
This study focused on the teachers’ universe of the Basic Education, 2nd and 3rd
cycles Municipal district of Braga, who were in charge during the year of 2004/05
In the results show us three main ideas: the logic of chapel, the implicit subject
hierarchy and the “ director de turma” slave teacher.
x
INTRODUÇÃO
A temática escolhida para este trabalho, Arte, Currículo e Avaliação – A
Avaliação dos alunos do 2º Ciclo do Ensino Básico na Disciplina de Educação Visual e
Tecnológica, está intimamente relacionada com a actividade profissional que
desenvolvemos e com o facto de a avaliação das aprendizagens dos alunos ser um
aspecto fundamental para a melhoria da qualidade do ensino/aprendizagem, tanto dos
alunos como dos professores.
Para atingirmos o nosso objectivo, organizamos o presente trabalho em quatro
capítulos, para além da introdução.
Assim, iniciamos o primeiro capítulo com o enquadramento teórico da
investigação.
Deste modo, reflectimos sobre a pertinência da Arte como um meio de educação
e de cultura, da componente Artística e Tecnológica no currículo do 2º Ciclo do Ensino
Básico como reforço à ideia de educação e cultura e como toda e qualquer forma de
educação fica incompleta sem ela.
Várias correntes que fundamentam os programas de índole artística e
tecnológica propõem (entre outros) a análise e o estudo dos elementos visuais do nosso
envolvimento, dando-lhes força como um meio de comunicação e como um processo de
resolução de problemas. Desta análise resulta uma consciência mais profunda por parte
do indivíduo e o modo como pode utilizar o seu conhecimento de modo a transformá-lo
em linguagem visual e expressiva. Deste modo, pretende-se que os indivíduos não
sejam meros participantes (como interpretes ou criadores) mas intervenientes na
qualidade de vida.
Apesar de o currículo continuar a prestigiar as disciplinas cujo fulcro da
educação está na linguística e nos conhecimentos abstractos e cognitivos, diz Pacheco
citando Fernandes ( 2005) que o conflito entre o cognitivo e o expressivo, entre ciências
e arte é algo que tende a perpetuar-se, determinando o que tem sido designado por
violência simbólica.
As investigações mais recentes realizadas na área da educação e da psicologia
reforçam a importância do papel da arte no desenvolvimento humano, apontando para
uma integração, cada vez mais aprofundada, no âmbito das teorias da arte, estética e da
educação. São estas concepções educacionais e artísticas que vão introduzir novas
linhas de orientação e mudanças a nível teórico e prático, nas disciplinas ligadas às
artes, nomeadamente na disciplina de Educação Visual e Tecnológica.
11
No segundo capítulo, damos continuidade ao enquadramento teórico da
investigação e, numa primeira parte, perspectivamos uma abordagem histórica sobre:
conceito de currículo; concepção do currículo na Reforma do Sistema educativo;
flexibilização curricular e os seus resultados; o programa, as fontes curriculares da
disciplina de EVT; competência e profissionalismo docente. Numa segunda parte,
debruçamo-nos sobre: conceitos, princípios e critérios da avaliação; a avaliação
sistémica, por competência e os seus paradigmas; funções, instrumentos e modalidades
de avaliação; a avaliação dos alunos na disciplina de EVT.
O conceito de currículo é usado com diferentes sentidos, consoante a visão e
aplicabilidade do mesmo, assim como os objectivos que o orientam, implícita ou
explicitamente, terão consequências na forma como se processará a socialização dos
alunos, a sua formação e a sua integração na sociedade. Deste modo, as funções da
escola como instituição realizam-se, fundamentalmente, através do currículo.
O currículo poderá ser entendido no seu sentido mais restrito – conjunto de
actividades lectivas, ou no seu sentido mais lato – actividades lectivas e não lectivas
programadas pela escola, de carácter obrigatório, facultativo ou livre. Na segunda
opção, o currículo é visto numa perspectiva mais ampla, mais socializadora, como um
projecto integral e completo.
A Reforma do Sistema Educativo foi um marco preponderante ao nível do
desenvolvimento e gestão do currículo. Promoveu análises reflexivas e debates
alargados em todas as escolas, cujos resultados foram determinantes para a
implementação de projectos de gestão flexível nas escolas suportados pelo Despacho
4848/97 e pelo Dec. Lei 115-A/98, possibilitando a cada escola dentro dos limites do
currículo nacional, poder gerir e organizar o currículo, ou seja flexibilizá-lo no sentido
de o adequar às reais necessidades dos seus alunos e respectivo contexto escolar.
A “Organização Curricular” consciencializou os professores para os conceitos de
currículo já existentes e para o conceito de currículo adoptado pelo actual sistema
educativo e para o desenvolvimento e a gestão curricular.
Deste modo, podemos constatar que a análise do currículo assume uma
importância fundamental para o conhecimento da escola e, consequentemente, o seu
reconhecimento como instituição cultural de socialização.
No entender de Sacristán (1995, p. 19), “el valor de la escuela se manifiesta
fundamentalmente por lo que hace al desarrollar un determinado currículo,
independientemente de cualquier retórica y declaración grandilocuente de finalidades”.
12
O currículo da escolaridade básica, actualmente em vigor, é o reflexo de uma
multiplicidade de finalidades pretendidas pelo ensino obrigatório. Podendo por vezes
ser encarado como selecção particular da cultura, cujos conteúdos intelectuais deverão
ser aprendidos no âmbito das diferentes disciplinas, nomeadamente, nas disciplinas das
artes e tecnologias.
Contudo, no nosso entender, o currículo, sobretudo dos níveis básicos, deverá
ser o reflexo do esquema formativo, cultural e socializador da escola como instituição.
Relativamente a Educação Visual e Tecnológica (EVT), esta surge no plano
curricular do 2º ciclo do ensino básico como uma disciplina de natureza interdisciplinar
que vem substituir as anteriores disciplinas de Educação Visual e Trabalhos Manuais.
Os programadores referem que EVT é uma disciplina completamente nova, uma
vez que sob o ponto de vista conceptual não se resume ao somatório das duas
disciplinas anteriores, no plano de estudos curriculares do ensino preparatório. A
disciplina de EVT é apresentada na Proposta de Reorganização dos Planos Curriculares
(1990 ) como uma nova disciplina que “terá que estar voltada para a integração do
trabalho manual com o trabalho intelectual, para a integração das componentes
cientifica e técnica, com a sensibilidade estética, através do processo de
desenvolvimento integral”. Deve também promover a articulação dos aspectos
históricos, físicos, sociais, económicos de cada situação estudada, com a compreensão, a
criação e intervenção nos domínios da tecnologia e da estética, num processo de
integração em que a justificação e explicação de cada operação e de cada fenómeno são
motores de criatividade.
É através da Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei 46/86) que se faz o
enquadramento da disciplina de EVT, nos artigos 7º e 8º no ponto respeitante aos
objectivos gerais do ensino básico: “(…) assegurar uma formação geral comum a todos
os portugueses que lhes garanta a descoberta e desenvolvimento (…) espírito crítico,
criatividade, sentido moral e sensibilidade estética(…)”.
Com base nos vários documentos elaborados pela reforma do sistema educativo,
definiram-se objectivos e finalidades para a disciplina de EVT, no sentido de
desenvolver: a percepção; a sensibilidade estética; a capacidade de comunicação; a
criatividade; o sentido crítico; as aptidões técnicas e manuais; o entendimento do mundo
tecnológico; a capacidade de resolver problemas, a capacidade de intervenção; o sentido
social.
13
Foi também referida a pertinência de, conjuntamente com outras disciplinas e
áreas disciplinares, a disciplina de EVT deve contribuir para a promoção, no plano de
formação pessoal, para a integração da sensibilidade do pensamento e da acção numa
mesma atitude criadora e crítica; no plano de formação social, para a estruturação dos
valores, dos interesses, dos comportamentos individuais, em função de uma atitude de
abertura crítica, compreensiva e interveniente, de uma sociedade democrática quer na
construção do seu futuro quer na preservação das expressões do seu passado, e das dos
outros povos, como manifestações do poder criativo da humanidade.
No entanto, apesar do carácter integrador da disciplina de EVT, a existência de
áreas pluridisciplinares, criadas pelo Dec.Lei. 286/89, e mantidas pelo Dec.Lei. 6/2001,
no 2º ciclo do ensino básico continua a perdurar, uma matriz curricular constituída
essencialmente por disciplinas que mobilizam os saberes e metodologias próprios das
áreas cientificas.
As fontes curriculares da disciplina de EVT aparecem no final dos anos 60,
altura em que pela primeira vez surge a necessidade de fundir os currículos do 1º Ciclo
dos Liceus com o Ciclo Preparatório das Escolas Técnicas, resultando desta junção o
“Ciclo Preparatório de Ensino Secundário”. A disciplina de Educação Visual e
Tecnológica resulta da implementação dos Novos Programas Curriculares e Programas
da Reforma dos anos de 1980/1990, mantendo-se (a sua estrutura curricular) até ao
presente sem alterações significativas
A disciplina de EVT pertence, do ponto de vista conceptual, a uma área
educativa (área das artes e tecnologias) de natureza interdisciplinar, onde a unificação e
integração dos conhecimentos e experiências se concretiza através dos processos de
ensino aprendizagem – nas actividades e projectos a realizar em situação educativa.
O programa é entendido como um programa aberto, no sentido de possibilitar a
diferenciação pedagógica, isto é, a gestão do programa com aplicações diferenciadas,
nomeadamente nos diferentes contextos (locais e regionais), percursos e ritmos de
aprendizagem e sequencialização de abordagens e experiências.
Apresenta um conjunto de características formais, decorrentes da situação da
disciplina no actual desenvolvimento do sistema educativo e, sobretudo, da clarificação
de elementos necessários para a sua gestão na escola e na aula, num quadro de
diferenciação pedagógica.
Partindo destes pressupostos, torna-se evidente que a disciplina de EVT para
alcançar os objectivos e finalidades a que se propõe, tem de ser exercida com
14
competência e profissionalismo, uma vez que só os professores têm especialização e
competência para tomarem decisões no campo da educação.
A profissionalidade docente pode ser entendida como uma ocupação ou como
uma arte. A qualidade e fiabilidade do ensino estão dependentes da competência
profissional dos professores e da sua qualidade para atingir os objectivos.
Dada a complexidade de situações profissionais, o professor deve saber gerir
essa complexidade, inovando ou inventando, reconstruindo o ensino, uma vez que a arte
do professor se traduz no seu desempenho.
Como profissional, o professor tem de saber gerir em função do contexto,
sabendo como actuar em diferentes situações. A nível profissional, não deve ser visto
como um mero transmissor de conhecimentos, mas como um profissional capaz de
tomar decisões e opções certas e exequíveis no processo ensino-aprendizagem., ou seja,
um professor que constrói a sua profissionalidade através da reflexão.
Começa-se, assim, a assumir o trabalho do professor como uma aprendizagem
permanente, encarando a sua formação como uma necessidade “sentida”, uma formação
centrada nas práticas e na escola. É importante que o professor actualize a sua formação
de forma sistemática e contínua, quer para o desempenho da função docente, quer para o
desenvolvimento, implementação e prática do currículo como um projecto abrangente e
inovador. Segundo Sacristán (1991, p.67), “A imagem da profissionalidade ideal é
configurada por um conjunto de aspectos relacionados com os valores, os currículos, as
práticas metodológicas ou a avaliação”.
Relativamente à Avaliação, temos consciência desde que existe o acto de ensinar
que existe avaliação, uma vez que é possível formular um juízo valorativo referente a
essa actividade.
A avaliação inclui aspectos de dimensão histórica, institucional e social.
Através da avaliação, como um processo de determinar até que ponto os
objectivos educacionais são efectivamente alcançados, encontra-se a delimitação do que
se entende por ensinar.
No entanto, existem dificuldades relacionadas com a avaliação e com ao acto de
avaliar. Estas dificuldades residem na ausência de consensos sobre a própria essência do
ensino, acrescidas de um problema ético, pelo facto de se avaliar uma pessoa e
consequentemente se avaliar a sua personalidade. A avaliação pressupõe uma
concepção em relação ao outro e uma filosofia avaliador/avaliado.
Como refere Afonso (1998, pp.34;35),
15
“A relação professor-aluno, enquanto relação avaliador –avaliado, é vivida como
uma relação de poder (…) tem consequências importantes na vida escolar e pós-
escolar dos alunos e impõe unilateralmente uma grelha de interpretação da
realidade que faz com que a relação avaliador e avaliado seja vivida como uma
relação de dominação”.
“Numa avaliação sumativa, o aluno mantém uma relação com o saber, buscando
em si a nota e tudo o que a ela socialmente representa. Pelo contrário, numa
avaliação formativa busca-se uma relação funcional com o saber, interessando quer
a utilização do que se aprende, quer a perdurabilidade e a adaptação a novas
situações (…) A avaliação formativa é uma avaliação diferenciada tanto nos ritmos
de aprendizagem de cada aluno como nos seus diferentes domínios, fazendo com
que os objectivos não sejam unicamente comportamentais, mas também de
expressão ou baseados na experiência ou ainda no processo”.
16
disciplina. É uma avaliação contínua, “feita com base no desenrolar dos trabalhos e não
em provas criadas exclusivamente para esse efeito” (Programa EVT,1991, p.207) .
São também objecto de avaliação os seguintes parâmetros: as técnicas utilizadas
no desenvolvimento do trabalho; os conceitos aplicados no desenvolvimento do
trabalho; o processo criativo (análise, sensibilidade, clareza, relevância, eficácia,
diversidade, pensamento e acção, fundamentação); a percepção (qualidades formais,
expressivas e físicas); os valores e as atitudes (superação de obstáculos, respeito pelas
diferenças, cuidado, segurança e higiene no trabalho, organização, contributo para o
trabalho de grupo, intervenção, autonomia e reflexão); expressão (a relação entre a
intenção do sujeito que exprime o produto de expressão).
Deste modo, para o 5º ano de escolaridade, a avaliação em EVT assenta
essencialmente na expressão, representação e alargamento da experiência –
relacionamento entre causa e efeitos.
Para o 6º ano de escolaridade, a avaliação privilegia o conhecimento dos
materiais, o aperfeiçoamento das técnicas e respectivas fundamentações científicas e
metodológicas.
Quanto ao levantamento de dados para avaliação, este é feito através: de
produtos técnicos e de expressão (bidimensionais e tridimensionais); de todos os
materiais arquivados ao longo do processo (enunciados, dados, esboços, projectos…);
da observação directa das operações técnicas; de fichas de auto avaliação.
Relativamente à classificação, o programa de EVT neste ponto é bem claro,
salientando que a mesma assentará, igualmente, no conjunto dos elementos já referidos,
valorizando de igual modo tanto o processo como o produto final.
No terceiro capítulo, apresentamos a metodologia seguida na investigação, a sua
fundamentação e justificação. Indicamos a problemática, os objectivos, a população, as
razões da escolha, a sua localização geográfica e os dados de caracterização dos
respondentes.
No quarto capítulo, debruçamo-nos sobre a apresentação e análise dos
resultados, retirando algumas conclusões a partir da investigação realizada.
Ao longo da Introdução procuramos explicitar o enquadramento do tema, o
objecto e objectivos, as razões da escolha do tema, algumas dificuldades sentidas e
ainda a estrutura do trabalho.
A nossa preocupação por esta temática deriva, por um lado do facto de
exercermos a docência em EVT, por outro lado, da formação recebida na componente
17
curricular do Mestrado em Desenvolvimento Curricular que despertou o nosso interesse
pelo presente estudo e, também, da necessidade sentida de adquirir informação que nos
permita conhecer a forma como os docentes perspectivam a avaliação e nomeadamente
o acto de avaliar. Viabilizando uma atitude crítica e reflexiva sobre a temática da
avaliação, uma vez quem sem alunos não existe avaliação das aprendizagens, até que
ponto o professor a entende como um factor decisivo da aprendizagem e da mudança.
Ao professor cabe hoje o papel de investir no sentido de analisar o contexto onde
trabalha, conhecer melhor os seus alunos e ajustar as suas práticas às solicitações de um
mundo em constante mutação. Será, deste modo, mais fácil identificar constrangimentos
que dificultam a acção do professor, tornando-o mais consciente, mais crítico e mais
reflexivo.
A promoção de alunos autónomos e reflexivos implica a reflexibilidade e
autonomia do professor, nomeadamente no que diz respeito à avaliação.
Deste modo torna-se pertinente centrar a nossa investigação na problemática da
avaliação das aprendizagens dos alunos.
Ao escolhermos como tema a arte, currículo e avaliação, a avaliação das
aprendizagens dos alunos do 2º ciclo do ensino básico na disciplina de EVT como
objecto de estudo, temos consciência que, por um lado existem vantagens no que diz
respeito à clarificação do modelo avaliativo adoptado no nosso país e, por outro lado,
deparamo-nos com desvantagens inerentes às limitações de uma temática que está a ser
alvo de recentes alterações, reformulações e algumas mudanças.
Sendo aconselhável a utilização de dados múltiplos para a análise da
complexidade deste processo, vemo-nos, contudo, condicionados por questões de
carácter pessoal e profissional e também pelo facto de o trabalho ter sido realizado sem
dispensa de serviço docente.
18
Conscientes das limitações existentes e da complexidade do tema, procuramos
contornar estes aspectos focalizando o estudo em professores do 2º e 3º ciclos do Ensino
Básico do Conselho de Braga, e optamos por levantar questões detectáveis através da
utilização de um instrumento de recolha de dados – o questionário – que permite manter
a qualidade e diminuir o tempo despendido na recolha de dados.
Nas escolas onde foi aplicado o questionário, também consultámos e analisámos
o Regulamento Interno (Projecto Educativo e o Projecto Curricular), para conseguirmos
detectar quais os critérios de avaliação utilizados nas escolas estudadas.
A compreensão desta realidade impõe ao sujeito o tratamento de informação
obtida, num posicionamento correcto de investigador.
Estou consciente que este trabalho pode contribuir para acrescentar algum
conhecimento a outras investigações já produzidas neste domínio ou num domínio afim,
podendo também ser útil no desempenho da nossa prática profissional docente e, por
outro lado, contribuir para que esta temática seja abordada, reflectida e debatida por
outras pessoas.
19
Capítulo I – ARTE
1. Arte e Educação
Também é referido que o potencial educativo da arte não deve ser limitado,
unicamente, ao sistema de educação formal e, uma das suas características mais
importante, talvez seja até o que se pode aprender com e através dela. Para Best (1996)
a possibilidade de aprendizagem/educação a partir da arte é clara, ainda que de forma
implícita:
“… ao facto de a arte ter sido sempre tratada como um conceito metafísico, quando
afinal, e fundamentalmente, é um fenómeno orgânico mensurável. Tal como a
respiração, tem elementos rítmicos, tal como a fala, tem elementos expressivos”.
20
A Arte está presente em toda a história da humanidade, desde as origens até à
actualidade, para Oliveira (1996, p.3) “não existe nenhuma sociedade que não possua a
sua própria arte”. Esta corresponde a uma necessidade fundamental do homem, pois só
ele produz arte, e apenas ele é capaz de a sentir e apreciar.
A arte não está separada da vida comunitária, pelo contrário, faz parte integrante
dela. Para Porfírio (2004, p.19), “A Arte, como forma de apreender o Mundo permite
desenvolver o pensamento crítico e criativo e a sensibilidade estética, explorar e
transmitir novos valores, entender as diferenças culturais e constituir-se como a
expressão de cada cultura”.
A arte tem uma influência social e educacional relevante, daí, a importância
fundamental da mesma para o desenvolvimento humano. Todos os professores das
expressões artísticas deverão entender a responsabilidade inevitável da sua tarefa como
portadores dos seus conhecimentos.
21
Os actuais programas das disciplinas da área das artes e tecnologias (Educação
Visual e Tecnológica, Educação Visual e Educação Tecnológica), destinados os alunos
do 2º e 3º ciclos do ensino básico, assentam em princípios que se fundamentam no
grafismo e que está também patente nos programas destas disciplinas e de igual modo
em algumas disciplinas do campo artístico do ensino secundário.
O que se pretende actualmente é que todo e qualquer indivíduo seja participante
não apenas como interprete e criador de mensagens, mas sobretudo, como interveniente
na qualidade de vida.
Apesar das contradições, a Arte, como Educação e Cultura, assume-se como
uma componente integrante da Lei de Bases do Sistema Educativo. Nos três ciclos da
educação básica, os alunos têm a oportunidade de contactar, de forma sistemática, com
a Educação Artística como uma área curricular e a abordagem às Artes Visuais faz-se
através da disciplina de Expressão Plástica (Educação Visual e Tecnológica, Educação
Visual e Educação Tecnológica). Esta área desempenha um papel fundamental na
consecução dos objectivos da Lei de Bases.
A relevância das Artes no sistema educativo centra-se no desenvolvimento das
diversas dimensões do sujeito através da fruição-contemplação, produção-criação e
reflexão-interpretação.
A aprendizagem dos códigos visuais e a fruição do património artístico e cultural
constituem-se como vertentes para o entendimento de valores culturais.
No dizer de Porfírio (2004), o entendimento da diversidade cultural ajuda à
comparação e clarificação das circunstâncias históricas, dos modos de expressão visual,
convenções e ideologias, valores e atitudes que promovem novas formas de olhar, ver e
pensar.
A educação em Artes Visuais deverá ser entendida como um processo contínuo
a realizar ao longo da vida, tal como refere Porfírio (2004, p. 19):
Assim, o que actualmente se pretende como já foi atrás dito, é que todo e
qualquer indivíduo seja participante, não só como intérprete e criador de mensagens
22
e/ou obras de arte, mas também como interveniente na qualidade de vida. Daí a
importância fundamental da elaboração, implementação e leccionação dos programas de
índole Artística e Tecnológica nos vários níveis de ensino de todas as escolas.
A educação e a arte/expressão plástica estão directamente relacionadas com o
desenvolvimento dos sentidos como meio de “receber” o nosso mundo e ao processo
que utilizamos para simbolizar, exteriorizar, compreender, organizar, exprimir,
comunicar e resolver os seus problemas.
Princípios presentes nos programas de ensino:
a) Impulsos, Sentimentos e Ideias todos eles dizem respeito às relações entre a
nossa realidade interior e a nossa experiência sensorial do mundo. A arte está baseada
na crença de que a experiência sensorial é a melhor maneira de saber, pensar e sentir. É
também o melhor meio para receber, organizar, compreender e transmitir os nossos
próprios impulsos, sentimentos e ideias.
Lowenfeld (1964, p. 258) define dois tipos de percepção da experiência:
23
c) Percepção das Formas Visuais é a maneira como os meios, materiais e
técnicas são organizados de forma a conduzir a ideia-impulso-sentimento. A linha, a
forma, a cor, o espaço, a textura são elementos que contêm a experiência do mundo
visual e táctil. Por vezes, é útil definir, isolar e manipular estes elementos para descobrir
o seu potencial dinâmico. É, no entanto, através da tomada consciência destes elementos
que verificamos as potencialidades dos materiais e das formas para exprimir ideias.
24
alunos, de maneira a que as reorganizações ou mudanças que, eventualmente, venham a
ser realizadas se efectuem de forma eficaz e adequada.
– Ser capaz de compreender que todos os objectos feitos pelo homem são
resultado da sua manipulação e organização do meio físico que o envolve;
25
– Ter consciência das qualidades e dos efeitos das ideias e decisões dos outros;
Os resultados apresentados não devem ser considerados como uma lista rígida;
são apenas resultados de exemplos considerados desejáveis (sugeridos e discutidos por
professores, estando presentes em grande parte dos manuais da disciplina de Educação
Visual e Tecnológica e Educação Visual). Parte-se do princípio de que, na sua maioria,
os profissionais eventualmente identificarão outros resultados desejáveis, podendo então
formulá-los de maneira diferente e identificá-los através de métodos alternativos.
Para o estudo do currículo, Tyler (1974) sugeriu uma estrutura válida para a
época. Aplicada às disciplinas das artes e tecnologias, tem a vantagem de ser facilmente
26
compreendida pelos professores das outras disciplinas. Isto pode constituir uma ajuda
fundamental para uma maior compreensão da educação artística dentro do currículo.
“El modo más útil de establecer objetivos consiste en expresarlos en términos que
identifiquen no sólo la clase de comportamiento a desarrollar en el estudiante, sino
también el contenido o área de la vida en la que debe operar dicho comportamiento
[…] Así pues, el objetivo consistente en “escribir informes claros y bien
organizados sobre proyectos de estudios sociales” incluye una indicación acerca de
la clase de comportamiento («escribir informes claros y bien organizados») y
señala también las áreas de la vida que deben referirse los informes”.
27
(1979) avançou no sentido de ajudar os professores de arte no “design” de um programa
dentro de um modelo que define três objectivos:
Objectivos expressivos
Objectivos de “design”
28
A questão dos conteúdos constitui o segundo pilar do modelo tyleriano. O
conteúdo é geralmente definido como um conjunto de conhecimentos, informações,
descrições e acontecimentos, processos e técnicas ou problemas associados a aspectos
particulares do conhecimento humano, juntamente com os meios e materiais utilizados
para os solucionar.
A questão do método é outro referente do modelo tyleriano. Aqui, o método é
defendido como a gestão e organização das experiências de ensino/aprendizagem para
que se tornem eficientes. Inclui todas as formas de interacção entre aluno, o professor e
ainda os recursos. Pode tratar-se da transmissão directa de conhecimentos ou dos
processos a ela associados.
A transmissão de conhecimentos pode ser associada com qualquer dos aspectos
das expressões artísticas, isto é com o aspecto social, cultural e técnico.
29
“es una teoría ambiciosa y amplia en el sentido de que proporciona un medio para
organizar y relacionar una extensa serie de variables, problemas y actividades.
Tentativas de síntesis teórica tan ambiciosas son necesarias e importantes para el
avance de la compresión. Pero, en las ciencias normativas, es tal nuestra falta de
conocimiento sólido sobre el funcionamiento de las instituciones que nos interesan,
que las teorías y los modelos ambiciosos son inherentemente precarios. Van mucho
más allá de los datos establecidos. Persiguen ávidamente la coherencia y sacrifican
una fundamentación firme. En resumen: son altamente especulativas”.
30
“ a escola tem sido vista como um loosely coupled systems (sistemas debilmente
articulados), isto é, como uma organização em que muitos dos seus elementos são
desligados, se encontram relativamente independentes, em termos de intenções de
acções , processos e tecnologias adoptados e resultados obtidos, administradores e
professores, professores e professores, professores e alunos etc”.
31
diferenciadas dos contextos particulares da acção pedagógica, nomeadamente
contextos locais e regionais, percursos e ritmos de aprendizagem e
sequencialização de abordagens e experiências”.
32
tecnológica. Desenvolve no indivíduo as capacidades de compreensão,
participação, escolha e decisão (em relação às tecnologias do quotidiano,
competências do utilizador profissional e social, interacção entre tecnologia e
mundo do trabalho, alfabetização tecnológica, escolha de projectos e tomada de
decisões), permitindo-lhe agir socialmente, como cidadão participativo e crítico.
33
Este conceito é também usado com diferentes sentidos consoante a visão e
aplicabilidade do mesmo nos vários países. Assim, nos países cujo poder político é mais
centralizado como Itália, Luxemburgo, França e Portugal entre outros, o currículo é o
programa. Nos países menos centralizados como Inglaterra, Holanda e Bélgica, existem
vários currículos, elaborados por estâncias regionais ou pelas próprias escolas,
verificando-se uma grande preocupação por parte dos investigadores curriculares na
aplicabilidade e testagem dos diferentes modelos criados.
Para uma melhor compreensão desta problemática, pode referir-se que:
34
tudo é tecnicamente planificado à luz de uma visão taylorista e mecanicista. Estão nesta
orientação Tyler (1949), Phenix (1962), Taba (1967), D’Hainaut (1980), entre outros.
Ao analisarmos o conceito de currículo numa perspectiva actual, o currículo é
encarado num sentido mais lato, como:
Esta visão de currículo é partilhada por diversos estudiosos, entre eles destacam-
se Schawb (1969), Stennhouse (1984), Zabalza (1987), Gimeno (1988) e Kemmis
(1988).
O currículo existe em função de um determinado sistema educativo e, por isso,
apresenta uma dimensão prática, materializando-se num projecto educativo, como um
projecto dinâmico e interactivo. Neste sentido, Pacheco refere que:
35
entende-se o currículo num sentido mais amplo, onde, o acto educativo não se realiza
somente nas actividades curriculares formais. Subjacente ao currículo formal, encontra-
se o currículo informal/oculto que estipula os objectivos gerais, os objectivos
específicos e os critérios definidos no currículo formal para as diferentes áreas ou
disciplinas. Fixa ainda os conteúdos, as metodologias e as estratégias a utilizar, assim
como, os processos de avaliação dos níveis de aprendizagens realizadas pelos alunos.
Como “plano de actuação ou de acção”, o currículo precisa de responder a
questões preponderantes relacionadas com: o que é preciso ensinar, como ensinar,
quando ensinar e com que meios. Na mesma linha de pensamento, o currículo define
também o quadro geral de desenvolvimento de projectos educativos.
É nesta linha de entendimento, que a Comissão de Reforma do Sistema
Educativo refere:
Também a Lei de Bases do Sistema Educativo, no artigo 48, refere com clareza
que os diferentes níveis de ensino, devem compreender, para além das actividades
curriculares, actividades de complemento curricular, que têm por finalidade “o
enriquecimento cultural e cívico, a educação física e desportiva, a educação artística e a
inserção dos educandos na comunidade”.
Deste modo, o currículo é visto numa perspectiva mais ampla, mais
socializadora, um projecto integral completo. Assim, o currículo não é apenas “…um
plano totalmente previsto, ele é simultaneamente projecto e prática, na medida em que,
à Escola, compete concretizar na prática um determinado projecto” (Vilar, 1994, p.14).
Não é suficiente mudar o conceito de currículo nacional único, fechado, por um
conceito de currículo aberto e flexível, se na prática da sala de aula cada professor ficar
entregue a si mesmo. A este respeito refere Hargreaves (1996) que a inovação
educacional deve começar por existir ao nível das atitudes dos professores.
Ao adequar o currículo às diversidades dos alunos, à unificação das diferentes
aprendizagens escolares e à realidade dos seus contextos, esta actuação, no seu conjunto
deve contribuir para a formação integral e realização pessoal dos alunos, bem como para
36
a construção de um conhecimento colaborativo, partilhado e verdadeiramente
significativo.
“… que se gerir, isto é, decidir o que ensinar o porquê, como, e quando, com que
prioridades, com que meios, com que organização, com que resultados…” (Roldão,
citada pelo ME/DEB,1999, p.25).
37
actores sociais interessados no processo educativo. Os procedimentos – através da
análise reflexiva e debate alargado sobre as aprendizagens curriculares a promover
articuladamente, para todo o ensino básico, por ciclo e por área, tendo como base: os
programas em vigor; as escolas e os docentes no terreno; as associações científicas e
profissionais/especialistas das áreas; os investigadores no campo curricular e
educacional; as instituições e centros de formação de professores.
Para o desenvolvimento do Projecto foram preparados e enviados às escolas, um
conjunto de documentos-proposta: os doc. 1, 2 e 3A em Novembro de1996; os doc. 3B
e 3C, em Dezembro de1996 (estes documentos ficaram disponíveis na Internet em
Dezembro de 1996); o documento 4 foi enviado em Abril de 1997. Este último, era um
documento de apoio a actividades de reflexão e formação que as escolas entendessem
desenvolver. Assim, a articulação sequencial e lógica dos quatro documentos permitiu:
Documento 1, Gestão Curricular e Linhas Orientadoras – Reflectir sobre a
situação curricular em Portugal e em outros sistemas educativos, e sintetizar as
orientações teóricas e políticas predominantes na altura. Proporcionou também o debate
sobre o quadro referencial da reflexão curricular proposta aos professores nas suas duas
vertentes: a flexibilização do currículo nas escolas face ao contexto; a necessidade de
garantir sempre um núcleo de aprendizagens curriculares comuns a todos os alunos.
38
Documento 4, Documento de Apoio a Trabalho de Reflexão e Formação –
Organizar os docentes de forma a planearem projectos e procedimentos de gestão
curricular diferenciada e adequada aos seus contextos e problemas específicos.
O conjunto dos quatro documentos-proposta concebidos essencialmente para as
escolas e para os professores, intervenientes centrais do processo curricular, serviram de
suporte para a “Reflexão Participada sobre os Currículos”.
A análise de todos os contributos recolhidos nas várias instâncias de debate
relativos à definição de um núcleo de aprendizagens comum, a nível nacional, assim
como o lançamento de um sistema de gestão autónomo e diferenciado, conduziu à
produção de um relatório global do processo desenvolvido, divulgado em todas as
escolas juntos dos professores, e restantes actores envolvidos neste projecto.
Os resultados deste processo de reflexão foram determinantes para os decisores
políticos, conduzindo-os à definição de:
39
- Um conjunto de programas extensos e prescritos, organizados por disciplinas e
por anos de escolaridade;
40
- A definição de Áreas Curriculares não Disciplinares – como a “Área de
Projecto”, o “Estudo Acompanhado” e a “Formação Cívica”, estando
contempladas nos horários dos professores e dos alunos;
41
- Os professores que de executores passam para construtores e gestores do
currículo são incentivados a uma maior intervenção, mobilizando as
experiências, as metodologias e/ou outros recursos e instrumentos utilizados na
prática pedagógica para um ensino-aprendizagem diferenciado, bem-sucedido e
inovador;
42
1.5. O Programa da disciplina de Educação Visual e Tecnológica no
Currículo do 2º Ciclo do Ensino Básico
“… assegurar uma formação geral comum a todos os portugueses que lhes garanta
a descoberta e desenvolvimento dos seus interesses e aptidões, capacidade de
raciocínio, memória, espírito crítico, criatividade, sentido moral e sensibilidade
estética” (1990, p.5).
43
A disciplina desenvolve-se segundo uma pedagogia centrada nos conteúdos do
programa, no relacionamento com o meio e com os outros, na relação existente entre
acção formativa e material informativo e na diversidade entre aluno/alunos e
turma/turmas.
As unidades de trabalho têm como objecto de estudo o meio, centrando-se em
situações problema bem definidas e que façam parte do quotidiano dos alunos de forma
a suscitar o seu interesse, conduzindo-os à descoberta de soluções exequíveis e criativas
para os problemas detectados.
A Prospecção do Meio presta-se especialmente ao desenvolvimento de unidades
de trabalho centradas em assuntos e problemas bem definidos, e cujo poder motivador
lhes advém dos interesses e experiência dos alunos. Por isso, para garantir um leque de
experiências suficientemente aberto e enriquecedor do reportório vivencial dos alunos,
ao longo do ano devem ser desenvolvidas pelas três grandes Áreas de intervenção: o
ambiente, a comunidade e o equipamento:
44
- No Plano de Formação Social – a estruturação dos valores dos interesses, dos
comportamentos individuais, em função de uma atitude de abertura crítica,
compreensiva e interveniente, e de uma sociedade democrática quer na
construção do seu futuro quer na preservação das expressões do seu passado, e
das dos outros povos, como manifestações do poder criativo da humanidade.
Com base nos vários documentos elaborados pela Reforma do Sistema
Educativo, definiram-se para a disciplina de EVT, objectivos e finalidades (os primeiros
organizados em função dos segundos), no sentido de desenvolver:
45
segurança, higiene, eficácia e economia; Usar utensílios, ferramentas e
equipamentos tendo em conta os fins para os quais foram fabricados e a que se
destinam;
46
Os conteúdos programáticos da disciplina e/ou áreas de exploração, são
compreendidos como possíveis propostas de trabalho. Segundo o parecer da Reforma
Educativa (1991) os conteúdos, “embora sem função normativa, esclarecem o professor
sobre a articulação das várias componentes curriculares e lhes facilitam a tarefa de
planificação”, destacando-se entre os conteúdos básicos e áreas de
exploração/actividades:
47
A avaliação dos alunos em EVT é contínua e tem como referência as finalidades
e objectivos gerais do ensino básico e específicos da disciplina. Esta é entendida como
processo a desenvolver continuadamente ao longo de cada unidade de trabalho,
proporcionando rectificações, aprofundamentos, ou mesmo o abandono de uma via que
se reconheça inadequada. Os dados para a avaliação resultaram essencialmente de:
48
1.6. Fontes Curriculares da disciplina de Educação Visual e Tecnológica
49
A definição do objecto educativo desta disciplina exige:
- Clarificação do esquema conceptual da disciplina, isto é, a fundamentação das
intenções/opções educativas, clarificação das finalidade nucleares e qual o seu
papel e lugar no currículo do ensino básico. Ou seja:
50
“A clarificação das dimensões estruturantes do currículo não são contraditória com
a sua plena integração quer na gestão do programa quer no desenvolvimento das
unidades do ensino-aprendizagem.” (Barroso, 1999, p.45)
51
“… só os professores têm a necessária especialização para tomar decisões
pedagógicas face à complexidade dos processos de ensino e aprendizagem (…) a
educação é percepcionada como um bem público e espera-se que os professores
enquanto profissionais, desenvolvam processos pedagógicos que conduzam a uma
melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem” (Afonso, 1998, pp. 68,69).
52
professor não deve ser visto como um mero transmissor de conhecimentos, mas sim
como um profissional capaz de tomar decisões e opções válidas e exequíveis no
processo de ensino-aprendizagem.
Assim, no que respeita à noção de competência que se relaciona intrinsecamente
com os conceitos de ensino-aprendizagem e de professor. Não se partilha a noção de
competência tendo como base uma modalidade comportamental, pelo contrário, esta
está intimamente ligada a uma concepção cognitiva do processo ensino-aprendizagem e
a um professor que constrói a sua profissionalidade através da reflexão.
Relativamente à competência profissional do professor no respeitante aos
saberes, existem diversas tipologias que diferenciam o campo de actuação do professor.
Pacheco (1995) citando Shulman (1987), Wilson, Shulmen & Richert (1987) e
Sockett (1987) distingue como conteúdo do conhecimento do professor:
Qualquer que seja a tipologia sobre os saberes segundo Raymond (1993), citado
por Charlier (1996), inclui sempre a diferenciação de dois tipos de saberes: os saberes
dos professores; e os saberes para o ensino. Os primeiros são essencialmente
construídos a partir da prática ou de experiências adquiridas em contexto escolar, os
53
segundos são elaborados por outras estâncias, noutros contextos, de forma a poderem
vir a ser utilizados pelos professores num contexto particular.
Começa-se assim, a assumir o trabalho do professor como uma aprendizagem
permanente, encarando a sua formação como uma necessidade “sentida”, uma formação
centrada nas suas práticas e na escola. Para Leite (2000), a educação de hoje implica a
existência de interacções muito fortes entre a escola e a sociedade, e também processos
de diferenciação pedagógica estruturados de acordo com a diversidade dos alunos,
segundo uma concepção de professor responsável, criativo e inovador em educação.
O professor exerce a sua actividade na escola, lugar onde, numa lógica de
formação contínua, a aprendizagem se faz através da organização e pela organização
durante toda a vida. É neste espaço de intervenção por excelência, onde o professor
conquista a sua autonomia. Assim, a escola não pode ser entendida como “… um mero
locus de reprodução”, mas “é também um locus de produção onde os actores afirmam
os seus projectos e as suas capacidades estratégicas” (Lima, 1996, p.43).
Assim, é importante que o professor actualize a sua formação de forma
sistemática e contínua, quer para o desempenho da função docente, quer para o
desenvolvimento, implementação e prática do currículo como um projecto abrangente e
inovador.
É a qualidade dos professores que determina a qualidade de ensino, uma vez
que é bastante difícil para aqueles que estão fora das escolas melhorar a qualidade das
mesmas. Compete por isso, aos professores, implementarem e dinamizarem as
mudanças, transformando-se em donos de ideias e autores dos meios pelos quais essas
ideias se traduzem em práticas nas aulas, de modo a proporcionar aos alunos uma
experiência educativa verdadeiramente significativa.
54
2. Avaliação
55
A dimensão de comunicação adapta-se ao contexto de decisão que sendo este de
controlo produz julgamentos de conformidade e como tal prepara decisões de
reordenação, que sendo de avaliação produz julgamentos de apreciação e sustenta
decisões de direcção, que sendo de condução provoca julgamentos de navegação e
permitem reajustamentos.
A avaliação inclui aspectos de dimensão histórica, institucional e social. A
competência do docente torna-se relevante para que este seja informado sobre os seus
pontos fortes e sobre os aspectos a ultrapassar.
Prévia ou concomitante à avaliação encontra-se a delimitação do que se entende
por ensinar. A este respeito Pacheco refere:
56
“… pode argumentar-se que as práticas de avaliação constituem um dos mais
claros indicadores da relação entre a escola e a sociedade, pois elas fornecem a
comunicação entre as duas” (1979, p.11).
57
2.2. Princípios da Avaliação
58
10- O professor estimula o relacionamento com os colegas, pais e agencias da
comunidade mais vasta, para apoiarem a aprendizagem dos alunos e o bem-
estar.
Por sua vez, Peterson (1995, pp.3,10) apresenta também algumas orientações,
das quais enumeramos as mais pertinentes, (apresentadas: de um lado – a afirmação da
orientação; do outro lado – a itálico- a prática corrente existente nos Estados Unidos).
59
conta as características do que é importante avaliar. Uma avaliação justa e correcta não
é necessariamente aquela que utiliza as mesmas evidencias pois a justiça, só pode ser
alcançada pela oportunidade dada a cada um, no sentido de atingir a qualidade.
60
A aferição da validade dos critérios deve ser realizada tendo como medida três
padrões: (um) o da deficiência – exclusão de critérios relevantes; (dois) o da
contaminação – inclusão de critérios irrelevantes; (três) o da distorção – importância
desajustada de um critério relevante.
Para Iwanichi & Rindone (1995), na experiência resultante da utilização de
critérios, tem-se desenvolvido a tendência para a utilização de sistemas de critérios de
avaliação distintos.
Num sistema de avaliação é frequente serem fixados objectivos, em vez de
padrões de desempenho, assim como meios para os alcançar. Consideradas as
competências um dado adquirido, a avaliação é utilizada como estratégia ao
desenvolvimento de recursos humanos, dependendo a sua qualidade e credibilidade, da
qualidade própria dos objectos fixados.
Sendo o acto educativo complexo é fundamental pluralizar os centros e os
protagonistas envolvidos, de forma a garantirem a objectividade e imparcialidade na
avaliação. A auto-avaliação ocupa também um lugar de relevo quando pretendemos
promover e dignificar o profissionalismo docente.
Segundo Afonso, Blanco, e Pacheco (1998), são vários os agentes que intervêm
e contribuem para a avaliação realizada pelo professor, e a sua principal característica
prende-se com o facto de decorrer no local onde se pratica a actividade.
A selecção de critérios de desempenho deve estar de acordo com a actividade e o
conhecimento dos professores, sendo no entanto possível enquadrar os critérios em
quatro domínios:
61
Os critérios de avaliação devem ser consistentes com os propósitos avaliativos,
devem ser claros, assim como, devem resultar de uma concepção de ensino e
aprendizagem explícitas que fundamente as opções técnicas e profissionais.
Os critérios a utilizar pelos professores na avaliação dos alunos, enunciados no
despacho Normativo nº 30/2001 (nos pontos, 13,14 e 15), são reforçados pelo Despacho
Normativo nº 1/2005, nos pontos 15, 16 e 17:
62
A avaliação, enquanto parte integrante do processo de ensino e de aprendizagem,
permite verificar o cumprimento do currículo, diagnosticar insuficiências e dificuldades
ao nível das aprendizagens e (re) orientar o processo educativo
63
programas baseados na actuação ou competência e em que a avaliação deveria constituir
parte integrante da tarefa de elaboração de um currículo e não apenas um apêndice.
64
As Competências – Os saberes, as representações, as teorias pessoais e os
esquemas de acção direccionadas para resolver os problemas em situação de
trabalho.
No que diz respeito aos saberes, há várias tipologias que diferenciam o campo de
acção do professor.
Para Schon (1987), de um modo restrito, distingue três tipos de saberes:
65
As Competências Exigidas pela Sociedade – Que são de vária ordem e que
interrelacionam o professor com o ambiente. Assim estabelecerá relações com
os pais no sentido de os manter informados, com os colegas sobre questões
sociais e profissionais, com os centros universitários e outros, para o
desenvolvimento da inovação e formação contínua;
66
Neste âmbito Hargreaves (1997) estabelece as relações a três níveis: da
harmonia, da discordância, e da pseudodiscordância.
67
encontra. Além disso, abrangeria uma perspectiva organizacional na qual o
professor se situa (Formosinho, 1987).
68
No momento de implementar-mos a avaliação do desempenho docente,
precisamos de nos consciencializar que não existe uma actuação paradigmática do bom
professor, dependendo a sua eficácia de muitos factores. Para Rodrigues (1988), não se
afigura defensável a utilização de critérios de avaliação para todos os profissionais nem
parece dispor-se, actualmente, de bases sólidas que permitam aconselhar a utilização de
dados de observação do comportamento docente na avaliação dos professores e da
formação dos professores, uma vez que dos estudos sobre eficácia (quer no ensino, quer
do comportamento do professor), não parecem resultar critérios sólidos utilizáveis na
avaliação. Devido a tal impossibilidade, o trabalho do professor é normalmente avaliado
pela sua “profissionalidade” e não pela “simples” competência técnica.
A prática de avaliação, no seu aspecto mais visível está relacionada com o seu
papel de sancionamento dos procedimentos dos alunos, determinando a sua progressão
e consequente certificação e titulação. Esta função pode ser entendida em quatro
dimensões:
69
- Dimensão Didáctica - contribui para a criação de um ambiente de
aprendizagem através do diagnóstico (natureza formativa ou sumativa da
avaliação), da melhoria e da verificação dos resultados dos alunos.
70
A função de controlo da avaliação é desempenhada de forma encoberta ou
implícita, através do exercício indirecto da autoridade e controlo exercido pelo
professor. Esta prática é normalmente utilizada em ambientes de ensino mais
autoritários, podendo ser usada por professores cuja relação com os alunos não é a mais
receptiva ou por professores mais inseguros.
A avaliação segundo Pacheco (1994) citando Legrand (1984) pode ser utilizada
“como um instrumento privilegiado de manter a ordem e de estabelecer um clima
favorável de trabalho”.
A função crítica da avaliação consiste na interpretação, na proposta de
melhorias, na análise crítica do sistema educativo e do processo do desenvolvimento do
currículo. A avaliação não deve entendida como uma prática que se utiliza apenas para
comparar o valor dos programas, mas também para melhorá-los.
Ao longo dos tempos, tem sido diverso o significado atribuído à avaliação. De
associação a uma ideia de medida, entendida como um acto técnico dirigido por peritos,
progressivamente este entendimento tem vindo a deslocar-se para o da avaliação como
um acto de comunicação, que acontece num determinado contexto social e é por ele
determinado (Leal,1992). É também afirmado que o avaliador não é um instrumento de
medida, mas o actor de uma comunicação social (Hadgi,1997).
As funções da avaliação tem vido a ampliar-se e, são sobretudo dirigidas à
função social, através da hierarquização, selecção e certificação do aluno, no entanto, a
função pedagógica da avaliação é encarada como um elemento fundamental no processo
de ensino e de aprendizagem.
Nesta perspectiva a avaliação é entendida como um acto regulador das
aprendizagens “A avaliação é um elemento integrante e regulador da prática educativa”
(Despacho Normativo nº30/2001, ponto2.).
A regulação da aprendizagem entendida pelo acto intencional que, actuando
sobre os mecanismos da aprendizagem, contribua directamente para a progressão e/ou
redireccionamento dessa aprendizagem. Assim, o acto de regulação tem
necessariamente que passar por um papel activo do aluno, pois nenhuma intervenção
interna age se não for percebida, interpretada e assimilada pelo próprio.
71
2.5. Modalidades, Instrumentos e Credibilidade da Avaliação
72
A avaliação sumativa acontece no final de cada período, de cada ano lectivo e de
cada ciclo.
Ao dados fornecidos pela avaliação diagnostica não devem ser vistos como um
“rotulo” do aluno, mas sim como um conjunto de indicações que caracterizam o nível a
partir do qual professor e aluno partem para o progresso no ensino-aprendizagem. O
recurso a uma avaliação diagnostica, partilhada entre professores e alunos, contribui
para a identificação dos “ancoradouros” de novas aprendizagens e os pontos de partida
para níveis de desenvolvimento de competências.
73
- Periodicidade da avaliação;
“das finalidades e objectos pretendidos, do que vai ser objecto de avaliação, da área
disciplinar e nível de escolaridade a que se aplicam, do tipo de actividade em que o
desempenho se manifesta, do contexto dos próprios avaliadores”.
A atribuição de uma classificação ou de uma nota expressa os resultados da
aprendizagem. No dizer de Pacheco (1996), os professores devem utilizar um conjunto
de critérios de objectividade para a classificação que atribuem aos alunos, destacando-se
entre eles:
74
- A clareza, devendo ser explícitos tanto o significado dos símbolos como os
termos utilizados, de forma a poderem ser compreendidos pelos alunos e pelos
encarregados de educação;
75
Destacamos dois aspectos relevantes, que dizem respeito à disciplina de EVT: a
carga horária semanal e a definição das competências essenciais. Quanto à carga
horária, são atribuídos dois tempos de noventa (90) minutos, ou, um tempo de noventa
(90) minutos e um outro de quarenta e cinco (45) minutos (isto depende do critério
adoptado por cada escola na gestão da carga horária da disciplina de EVT e Educação
Musical). Relativamente à definição das competências essenciais, o documento
“Currículo Nacional do Ensino Básico – Competências Essenciais”, apresenta o
conjunto de competências consideradas essenciais e estruturantes no âmbito do
currículo nacional para cada um dos ciclos do ensino básico – competências gerais a
desenvolver ao longo do ensino básico e as competências específicas da dada área
disciplinar (o perfil de competências de saída deste nível de ensino e as experiências
educativas que devem ser proporcionadas a todos os alunos).
Para a disciplina de educação Visual e Tecnológica, uma vez que a sua
leccionação se mantém por determinação do Decreto-Lei 6/2001, a cargo de dois
professores (preferencialmente com formação académica diferente – um de Educação
Visual do 5º Grupo e outro de Trabalhos Manuais do 07 ou do 08 Grupo), as
competências específicas foram definidas segundo uma estrutura vertical; a Educação
Artística – Educação Visual e a Educação Tecnológica. Compete aos Professores que
leccionam a disciplina de EVT, fazer a integração destas duas áreas, definindo neste
cruzamento, as competências específicas e as experiências educativas mais
significativas para o ensino/aprendizagem na disciplina de EVT.
Relativamente ao Programa de Educação Visual e Tecnológica (1990) aplicado
em regime de experiência pedagógica ao o 2º Ciclo do Ensino Básico, 5º e 6º ano de
escolaridade, no que diz respeito à avaliação das aprendizagens dos alunos, é
referenciado o seguinte:
76
em Educação Visual e tecnológica é contínua, feita com base no desenrolar dos
trabalhos e não em provas criadas exclusivamente para esse efeito” (1991, p.207).
A avaliação em EVT tem como referência as Finalidades, os Objectivos e as
Competências/Aprendizagens da disciplina e define-se segundo Parâmetros
apresentados por ordem crescente da dificuldade de aplicação:
- Técnicas:
Domínio da técnica;
- Conceitos:
- Processo:
77
- Percepção:
Qualidades expressivas;
Qualidades físicas.
- Valores e Atitudes:
- Expressão:
78
É ainda supracitado no programa, que o levantamento de dados para a avaliação
dos alunos deve ser feito através de:
- Fichas de auto-avaliação.
79
Capítulo III – METODOLOGIA
1. Características do estudo
1.1. Problema
80
imaginação, a percepção, a memória, as capacidades de análise, de síntese e de
expressão. Estas capacidades, sendo invariantes dos processos criativos, são necessárias
em qualquer domínio do conhecimento da vida humana.
Parece-nos, no entanto, que apesar do potencial educativo da disciplina de EVT,
esta não está a ser devidamente reconhecida e potenciada na escola comparativamente
com as chamadas “disciplinas sérias” como a matemática, as ciências ou as línguas.
Nesta linha de pensamento, Educação Visual e Tecnológica, poderá ocupar no currículo
um lugar nitidamente “marginal”…
Constituindo a avaliação das aprendizagens dos alunos às diferentes disciplinas
parte integrante e indissociável do currículo, partimos do pressuposto que as práticas
avaliativas são do conhecimento dos seus intervenientes, sobretudo daqueles cujo
julgamento profissional e poder decisórios estão inerentes às práticas avaliativas. Neste
contexto, impõe-se perguntar:
1.2. Objectivos
81
- Identificar possíveis contradições ou desfasamentos.
2. Plano da investigação
82
“Muitos investigadores têm-se interrogado se a comparação entre pesquisa
qualitativa e quantitativa é realmente construtiva, argumentando que a melhor
investigação social se serve usualmente de elementos de ambas. Não obstante, de
todas as distinções metodológicas elaboradas, o contraste qualitativo/quantitativo
tem-se revelado o mais persistente e é, na verdade, o que reflecte de forma mais
precisa a divisão habitual da prática da investigação.”
“Todos sabemos que há questões que são melhor elucidadas através dos métodos
quantitativos, por permitirem amostras mais amplas e representativas, mas por
outro lado a investigação quantitativa preocupa-se com facetas de realidades
múltiplas e não uma realidade única que interessam ao investigador qualitativo”
(Bogdan e Biklen, 1982, p. 76).
Todavia, ainda há quem defenda, como Denzi (1970, p.25), que o uso de
diferentes métodos pode, também, oferecer possibilidade de triangulação:
“I conclude that no single method will ever meet the requirements of interaction
theory...Because each method reveals different aspects of empirical reality,
multiple methods of observation must be employed. This is termed triangulation. I
now offer as a final methodological rule the principle that multiple methods should
be used in every investigation, since no method is ever free of rival causal factors
(and thus leads to completely sound causal propositions), can ever completely
satisfy the demands of interaction theory […] “.
83
No entanto, e porque convivemos com pessoas que por vezes vão mudando ou
até mesmo evoluindo, teremos de observar, ouvir e questionar muitas vezes.
Podemos assim dizer que dependem das técnicas utilizadas, os resultados a
obter.
Desta forma, dos três grandes grupos de técnicas de utilização na investigação, a
que De Bruyne et al.,(1975, p. 200-208) designam por ‘modos’ de recolha de dados, o
inquérito, que pode tomar a forma de entrevista ou de questionário, foi o modo do meu
trabalho (inquérito por questionário).
O Inquérito é uma técnica de perguntar que teve a sua génese em múltiplas
instâncias interessadas em obter respostas imprescindíveis à prossecução de
determinadas finalidades, geralmente no controlo, e com possibilidade de se sentirem na
legitimidade de perguntar.
Inicialmente começou por ser utilizado pelo Estado como instrumento da
administração, sob a forma de Censos da População e com objectivos de controlo
político. No século passado, aparecem os Inquéritos Sociais, promovidos pelas correntes
filantrópicas e socialistas dos países mais industrializados da Europa que com o frio
objectivo dos números, pretendiam retratar a pobreza em que viviam algumas camadas
da população e apelar para as suas exigências de reformas sociais e económicas.
No início deste século, surgem nos Estados Unidos da América os Inquéritos de
Atitude e Opinião a nível de estudos psicossociais sobre opções de voto e prospecção de
mercados, mediante estratégias de organizações políticas, empresas e jornais,
interessados em perceber os mecanismos de formação de opinião, com vista a uma
possível manipulação.
No entanto, é na década de trinta, com um crescente aumento de problemas
sociais e económicos, essencialmente o desemprego, obrigaram os sociólogos a
virarem-se para a economia, a macro- sociologia e as análises estatísticas.
No campo científico a adesão aos critérios de produtividade quantitativa,
condenava inevitavelmente a morosidade característica dos métodos qualitativos.
Assim, é nos Estados Unidos da América que ocorre pioneiramente a prática
sociológica e o interesse do Inquérito.
Foi, contudo, após a 2ª Guerra Mundial que houve uma intensificação destas
aplicações, pois pela sua natureza quantitativa e capacidade de recolha de dados, ganha
importância num quadro onde a ciência e a sociedade em geral são dominadas pela
lógica – formal e burocrático-racional. A este respeito diz Virgínia Ferreira (1987) o
84
Inquérito “é de facto a técnica de construção de dados que mais se compatibiliza com a
racionalidade instrumental e técnica que tem predominado nas ciências e na sociedade
em geral.”
Iremos, portanto, focar neste trabalho as questões que se relacionam com o
Inquérito, enquanto técnica, procurando sistematizar aspectos como a sua construção,
aplicação e limitações.
85
antecipadamente. Porém, na prática, não há consenso sobre os limites de cada um
destes termos”.
A amostra é o estudo dos métodos para seleccionar uma parte da população com
a finalidade de permitir inferir acerca do seu conjunto. No caso do censo todo o
universo é visado. Uma amostra deve ser, na medida do possível, representativa da
população total ou universo.
A vantagem do processo amostral é a economia, a rapidez e a possibilidade de se
poder concretizar a investigação a partir de um determinado número de população.
A definição da amostra deverá ser feita em estreita relação com os objectivos
teóricos.
Sendo a amostra um subconjunto da população total, é, portanto, uma réplica
dessa mesma população, representativa de um determinado Universo, garantindo a
aleatoriedade no processo da sua constituição, resistindo ao processo de enviesamento
de amostragem.
86
No entanto, temos de distinguir a amostra estatística da amostra teoricamente
representativa, já que a primeira permite uma distribuição dos indivíduos por categorias
e a segunda cria novas categorias que são teoricamente pertinentes.
O processo de amostragem é uma tarefa muito complexa e da qual depende a
validade que permite a posterior generalização de resultados. Não podemos deixar ao
acaso esta questão se pretendemos uma amostra o mais representativa possível. Se numa
escola ou outra organização educativa deixamos ao critério dos inquiridos a
possibilidade de responder ou não, temos uma forte “ probabilidade de as pessoas que
não devolvem os questionário diferirem das que o fazem “ (Bell,1997, p. ).
2.2.3. Pré-teste
2.2.4. Perguntar
Perguntar o quê?
87
“A construção do questionário a formulação das questões constituem, portanto,
uma fase crucial do desenvolvimento de um inquérito. [...] Qualquer erro, qualquer
inépcia, qualquer ambiguidade, repercutir-se-á na totalidade das operações
ulteriores, até às conclusões finais” ( Ghiglione & Matalon, 1992, p.119).
88
Para a construção das variáveis de um questionário é necessário transformar as
noções vagas em conceitos, especificar as suas dimensões, escolher os indicadores
observáveis e elaborar os índices (Almeida e Pinto, 1995, pp.141,158).
Perguntar a quem?
Perguntar como?
89
Por isso, devemos ter em conta as seguintes linhas orientadoras:
- A ordem das perguntas deve obedecer ao critério do mais simples para o mais
complexo.
- objectivos do questionário
- instruções de preenchimento
- sequência lógica
90
- O número de questões não deve exceder as trinta, para não levar os inquiridos à
fadiga.
Distribuição e Recolha:
Tratamento de dados:
Sabendo que o Inquérito por Questionário tem uma construção precisa e formal
e uma aplicação prática, dependendo dos objectivos da nossa investigação e do modelo
de análise e das características do nosso campo de trabalho, iniciámos o trabalho
aplicando um Pré-teste a uma população semelhante à qual o questionário se destinava,
no sentido de detectar os problemas apresentados pelo instrumento de recolha de
informação e, deste modo, rectificar as questões “não pertinentes”, assegurando assim
91
que o Questionário vai fornecer os dados para que foi construído ou seja, validar o
Questionário.
É evidente que, para que os nossos objectivos fossem atingidos, tivemos em
consideração os objectivos e interesse do(s) inquirido(s), ao aceitar responder ao
questionário, desde: falta de tempo; desinteresse; esquecimento (entre outros), ou o
interesse em o poder e querer participar com a sua opinião.
Conscientes, por isso, das dificuldades inerentes a este tipo de abordagem,
tivemos o cuidado, sempre que nos foi possível de entregar e recolher pessoalmente o
Questionário aos inquiridos, solicitamos a colegas/amigos de outras escolas o mesmo
procedimento e, nos casos em que este procedimento não foi possível, pedimos ao
Conselho Executivo para distribuírem o Inquérito pelo maior número possível de
professores, solicitamos também que estes lembrassem a importância da devolução dos
mesmos, devendo os Inquéritos ser colocados numa caixa que deixamos
propositadamente na sala dos professores para este efeito.
Foi nossa preocupação (como referimos anteriormente) em respeitar os índices
de validade, fidelidade e exequibilidade, tanto ao nível da formulação das questões
como, posteriormente, na sua selecção e colocação no questionário.
A formulação de perguntas não deve esquecer a quem se dirigem essas mesmas
perguntas, neste caso ao pessoal docente. Deste modo foram realizadas de acordo com a
situação e com os objectivos concretos.
A amostra estatística foi de trezentos e onze (311) docentes, o que é
representativa no universo em que se realizou a investigação.
Como investigadores, sabemos, que uma das questões que se coloca sempre é
“qual a dimensão que deve ter a amostra?”. A este propósito Bryman e Cramer (1992,
p.131) esclarecem:
“Na verdade, não existe uma resposta única e definitiva para este problema; apenas
podemos seguir algumas linhas de orientação.
Em primeiro lugar, o investigador trabalha quase sempre com limitações de tempo
e de meios disponíveis o que implica que a decisão sobre o tamanho da amostra
tenha que ter em conta esses factores. (...) Em segundo lugar, quanto maior for a
amostra maior será a precisão”.
92
redacção das questões, e tendo em conta que também nesta matéria a redacção do
questionário está dependente do know-how e da experiência do próprio investigador, é
preciso estar atento a certas regras na sua preparação.
Sabendo que quanto mais estruturada estiver a questão, mais fácil será analisá-la,
tivemos os sete tipos de questões, propostas por Youngman, citado por Bell (1987),
presentes, conscientes de que o tipo de questão dependerá do tipo de informação que se
precisa.
Alguns cuidados foram tomados na elaboração das perguntas, tais como: não
fazer perguntas para as quais os inquiridos não tenham informação, não colocar
questões duplas, capciosas, que pressupõem algo, hipotéticas, ofensivas e de abordagem
de assuntos delicados.
Em relação à linguagem , ela foi clara e objectiva, simples, neutra e temporal.
Foram tomadas todas as precauções na redacção das questões, de modo a haver
clareza e precisão na linguagem .
Segundo Ghiglione e Matalon, “O tipo de análise previsto orienta a escolha do
método de inquérito e guia a concepção do questionário”.
A escala usada neste inquérito foi a de Likert (1932), de cinco níveis, mas que
poderia ter sido também de sete.
Esta escala permitiu uma quantificação de atitudes ou comportamentos e a cada
resposta foi atribuída uma pontuação correspondente.
Escolhemos o método de Likert e não outro porque segundo especialistas nesta
matéria, este é de longe a mais largamente utilizada de todas as técnicas de construção
de escalas de atitude. Assim referem Ghiglione e Matalon : “Este método não exige
grandes cálculos e as suas hipóteses são suficientemente fracas para que seja compatível
com dados muitos diversos.”
O questionário foi cuidadosamente apresentado, pois houve rigor na sua
preparação: foi dactilografado, com instruções claras, com espaços entre as perguntas,
com espaço no lado direito da folha para codificação posterior das respostas, examinado
criticamente e colocando-nos no lugar do receptor.
Assim todos os princípios se respeitaram:
- Propósito do estudo;
- Objectivos do questionário;
- Instruções de preenchimento;
93
- Exemplo na utilização da escala;
- Sequência lógica;
- Identificação.
Foi tido em conta que a introdução deve ser clara, explícita e curta. Deve incluir
indicações em relação a vários aspectos como a identificação dos autores e dos
objectivos, as vantagens em responder e a segurança do seu anonimato e ainda o modo
de devolução (pessoalmente ou através de caixa colocada na sala dos professores).
Como já foi referenciado anteriormente, este inquérito foi aplicado a todo o
pessoal docente do concelho de Braga, tendo respondido trezentos e onze (311)
professores e, o que é representativo.
A análise dos resultados dos inquéritos fez-se por computador, o que permitiu
um tratamento mais rápido, e se risco de erro, obtendo-se listagens com a sequência das
respostas de cada docente inquirido em relação às questões e fazer cálculos diversos.
No planeamento, preparação, aplicação, análise e apresentação dos resultados
procedeu-se a uma forte vigilância metodológica, evitando-se erros que provocam
enviesamento e afectam a validade dos resultados. As questões da clareza dos
objectivos e hipóteses, a definição de uma amostra ineficaz quanto à representatividade,
a formulação deficiente das questões ou a sua não adequação à informação pretendida, a
não aplicação de um pré-teste ou a não correcção das questões, um aspecto gráfico
pouco atractivo, a não fidelidade ao plano de amostragem, a não consideração dos
questionários não devolvidos, um análise superficial dos resultados, a não indicação da
metodologia na representação dos resultados, e alguns dos problemas mais usuais no
que se refere ao inquérito por questionário.
Como todo o plano de apuramento do questionário foi elaborado em função de
objectivos precisos, concepção e redacção cuidadas, os resultados obtidos através das
técnicas utilizadas na análise dos dados recolhidos, não suscitaram grandes problemas
de interpretação. Na verdade, “é insuficiente pensar a metodologia como apenas
preocupada com procedimentos técnicos e com os processos de recolha de dados. As
metodologias estão relacionadas com as narrativas mais amplas (...)” (Ozga, 2000,
p.201) e dai que seja sempre pertinente uma análise crítica sobre a realidade.
94
O método complementar do Inquérito para análise dos dados, que neste caso foi
feita através da quantificação das respostas pré-codificadas, usando o programa
informático SPSS.
Sabendo que as respostas a um questionário não encerram a realidade, mas a
descrição e a avaliação de um certa realidade, tivemos em conta as informações não
obtidas, a linguagem utilizada pelo questionário e inquiridos e o controlo dos sistemas
de categorização na base das quais se fecham as perguntas.
Para que este inquérito fosse credível teve-se em conta as seguintes condições:
95
Sabemos que, se por um lado, há questões que são mais elucidativas através dos
métodos quantitativos, por permitirem amostras mais amplas e representativas, por
outro lado, temos uma realidade única que interessa ao investigador qualitativo (Bogdan
e Biklen, 1992). Ainda para estes, a investigação qualitativa caracteriza-se pelo seu
carácter descritivo, procurando a compreensão e não a avaliação, sendo o investigador
participante na situação social que está a ser estudada. Enquanto a investigação
quantitativa busca as generalizações, a investigação qualitativa interessa-se por
particularizar.
No entanto, há quem defenda, como Denzin (1970, p.25), que o uso de
diferentes métodos pode, também, oferecer possibilidade de triangulação:
“I conclude that no single method will ever meet the requirements of interaction
theory...Because each method reveals different aspects of empirical reality,
multiple methods of observation must be employed. This is termed triangulation. I
now offer as a final methodological rule the principle that multiple methods should
be used in every investigation, since no method is ever free of rival causal factors
(and thus leads to completely sound causal propositions), can ever completely
satisfy the demands of interaction theory”.
96
Neste capítulo são justificadas as opções metodológicas do trabalho a
desenvolver. Além disso, são também explicitados os procedimentos concretos de
recolha de dados para responder às questões envolvidas no estudo, tendo presente que
da investigação em educação fazem parte, quer a metodologia quantitativa, quer a
qualitativa, apesar das vantagens apresentadas pelas duas metodologias, entendemos
que a primeira seria mais pertinente para este estudo.
A selecção das escolas não foi feita de forma aleatória. O terreno de estudo
deveria permitir tratar os dados obtidos pela utilização de diversos dispositivos
metodológicos. Houve assim necessidade de procurar um terreno de estudo de
localização diversa, dentro e fora de um grande centro, frequentado por uma grande
diversidade de alunos de diferentes culturas, com recursos económicos baixos, médios e
médios /altos, e com motivações muito diversificadas.
O estudo realizado nestas escolas seguiu-se a um primeiro contacto de carácter
informal com os Conselhos Executivos, que aceitaram colaborar, considerando que as
escolas também aprendem quando se abrem à investigação educacional.
Deste modo, o estudo começa pela consulta de alguns documentos internos das
escolas, tais como o Projecto Educativo e o Projecto Curricular, procurando de uma
forma mais aprofundada conhecer a filosofia de cada escola estudada, nomeadamente
no que se refere aos critérios de avaliação utilizados, para as aprendizagens dos alunos.
97
3.4. Técnicas de recolha de dados
3.5. Pré-teste
98
Quanto à situação profissional, 47,4% (18) dos inquiridos são professores do
quadro de nomeação definitiva da escola onde leccionam; 26,3% (10) são professores
do quadro de nomeação definitiva de outra escola; 21,1% (8) são professores
profissionalizados e 2,6 % (1) são professores não profissionalizados.
Em termos de tempo de serviço, 10,5% (4) dos professores possuem menos de 5
anos de tempo de serviço; 39,5% (15) dos professores possuem de 5 a 10 anos de tempo
de serviço; 15,8% (6) dos professores possuem de 11 a 15 anos de tempo de serviço;
18,4% (7) dos professores possuem de 16 a 20 anos de tempo de serviço; 5,3% (2) dos
professores possuem de 21 a 25 anos de tempo de serviço e 10,5% (4) possuem mais de
25 anos de tempo de serviço.
No que diz respeito ao grupo de docência a que pertencem os professores que
responderam ao questionário, 2,6% (1) pertencem ao 1º Grupo (Português e Estudos
Sociais); 10,5% (4) pertencem ao 3º Grupo (Português, Inglês e Alemão); 13,2 % (5)
pertencem ao 4º Grupo (Matemática e Ciências da Natureza); 13,2% (5) pertencem ao
5º Grupo (Educação Visual); 2,6% (1) pertencem ao Grupo de Educação Musical; 2,6%
(1) pertencem ao Grupo de Trabalhos Manuais Masculinos; 2,6% (1) pertencem ao
Grupo de Trabalhos Manuais Femininos; 7,9% (3) pertencem ao Grupo de Educação
Física; 2,6% (1) pertencem ao Grupo de Educação Moral e Religião Católica; 2,6% (1)
pertencem ao Grupo 4ºA (Físico-Química); 5,3% (2) pertencem ao Grupo 8ºA
(Português, Latim e Grego); 7,9% (3) pertencem ao Grupo 8ºB (Francês e Português);
2,6% (1) pertencem ao 9º Grupo (Inglês e Alemão); 7,9% (3) pertencem ao Grupo 11ºA
(Geografia); 5,3% (2) pertencem ao Grupo 11ºB (Biologia e Geologia) e 2,6% (1)
pertencem ao Grupo 12ºF (Horto-Floricultura e Criação de Animais).
Relativamente ao nível de ensino que leccionam, 57,9% (22) dos professores
leccionam no 2º Ciclo do Ensino Básico; 34,2% (13) dos professores leccionam no 3º
Ciclo do Ensino Básico e 7,9% (3) dos professores leccionam, simultaneamente, no 2º e
3º Ciclos do Ensino Básico.
Quanto às disciplinas que leccionam os professores que responderam ao
questionário, 1 (2,6%) dos professores lecciona Português; 2 (5,3%) dos professores
leccionam Inglês; 3 (7,9%) dos professores leccionam Geografia; 1 (2,6%) dos
professores lecciona Matemática; 2 (5,3%) dos professores leccionam Ciências da
Natureza; 1 (2,6%) dos professores lecciona Educação Tecnológica; 7 (18,4%) dos
professores leccionam Educação Visual e Tecnológica; 1 (2,6%) dos professores
lecciona Educação Musical; 3 (7,9%) dos professores leccionam Educação Física; 1
99
(2,6%) dos professores lecciona Educação Moral e Religião Católica; 3 (7,9%) dos
professores leccionam Português e Francês; 3 (7,9%) dos professores leccionam
Português e Inglês; 4 (10,5%) dos professores leccionam Matemática e Ciências da
Natureza; 1 (2,6%) dos professores lecciona Físico-Química e 1 (2,6%) dos professores
lecciona História e Geografia.
Quanto às áreas curriculares não disciplinares que os professores têm a seu
cargo, 15,8% (6) dos professores não têm nenhuma área curricular não disciplinar a seu
cargo; 2,6% (1) dos professores tem a seu cargo a Área de Projecto; 18,4% (7) têm a seu
cargo o Estudo Acompanhado; 2,6% (1) tem a seu cargo Formação Cívica; 55,3% (21)
dos professores têm a seu cargo várias áreas curriculares não disciplinares e 5,3% (2)
dos professores têm a seu cargo outras áreas curriculares não disciplinares.
Para tornar possível a análise dos dados obtidos pelo questionário (questões
construídas na Escala de Likert), criaram-se as seguintes categorias: representações
genéricas sobre a problemática da avaliação; concepções sobre a avaliação em EVT;
práticas de avaliação em EVT; EVT, avaliação, poder e prestígio social. Nos quadros
que se seguem são explicitadas as categorias e as questões da Escala de Likert
relacionadas com cada uma delas.
Indicadores
3 - O método de avaliação utilizado numa disciplina não interfere na importância social
da mesma
5 - A avaliação deve apenas privilegiar a aquisição de conhecimentos e o
desenvolvimento de capacidades
100
9 - Uma avaliação que se quer objectiva privilegia a utilização de testes escritos em todas
as disciplinas
Indicadores
101
Quadro 3 – Práticas de avaliação em EVT
Indicadores
1 - A avaliação na disciplina de EVT baseia-se na utilização de práticas inovadoras, no
processo de avaliação dos alunos
2 - As práticas de avaliação na disciplina de EVT são altamente selectivas
Indicadores
102
3.7. A análise documental
103
3.9. Dimensão ética da investigação
Ao realizar este trabalho, não podíamos deixar de ter em conta a dimensão ética
do próprio acto investigativo.
Deste modo, foi uma grande preocupação da nossa parte manter uma boa
comunicação com todo o pessoal das escolas estudadas.
Assim, questões básicas como a protecção dos participantes e a boa conduta dos
investigadores, estiveram sempre presentes.
104
Capítulo IV - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Escola A
Esta escola está inserida num contexto urbano, rodeada por prédios de grande
volumetria e algumas vivendas, numa zona habitacional com alguns serviços de
comércio e restauração. O meio social da zona abrange principalmente estratos sociais
médio e médio/alto, com habilitações superiores ao 9º. ano de escolaridade.
É uma escola de construção desadequada ao tipo de clima, apresentando salas
húmidas e frias no Inverno e muito quentes no Verão.
A escola dispõe de uma Biblioteca, Centro Escolar de Informática, Pavilhão
Gimnodesportivo e um Arboreto Didáctico, local de lazer e estudo e alguns Clubes.
105
Esta escola revela poucos espaços para recreio e pisos irregulares nos existentes.
Debate-se também com falta de salas de aula e com problemas de envelhecimento do
edifício.
Esta escola tem um corpo docente bastante estável, maioritariamente feminino,
com uma média de serviço entre os vinte e os trinta e quatro anos.
O aproveitamento escolar dos alunos desta escola é considerado globalmente
razoável e em vários até casos bom e muito bom, verificando um reduzido número de
retenções nos últimos anos.
Escola B
Esta Escola situa-se numa zona urbana da cidade, abrangendo uma área de
influência com forte densidade populacional. Em consequência, a população escolar é
proveniente de estratos socio-económicos culturais diferenciados, integrando uma
população heterogénea.
O corpo docente é estável e aberto à mudança, estando empenhado na
construção de uma escola inovadora.
É uma escola de arquitectura desadequada às suas necessidades, provocando
algumas dificuldades de organização interna, assim como a falta de um pavilhão
gimnodesportivo e a sobrelotação dos alunos.
A escola dispõe de uma Biblioteca, Ludoteca, Centro de Aprendizagem, Clube
do Teatro e outros Clubes.
Apesar de existirem factores potenciadores do sucesso educativo nesta escola,
existe também um grande número de alunos com dificuldades de aprendizagem,
nomeadamente alunos com necessidades educativas especiais, com adaptações
curriculares, com currículo próprio e alternativo.
O aproveitamento escolar destes alunos na sua globalidade é razoável
verificando-se, no entanto, que existem turmas com aproveitamento razoável e bom,
com poucas ou nenhuma retenção, e outras onde o insucesso escolar é uma realidade.
106
Escola C
Esta escola fica numa zona urbana, onde existem prédios altos e algumas
vivendas. É uma escola pública, com uma disciplina de oferta própria, com planos
curriculares estruturados em regime de ensino integrado.
Nesta escola é ministrado o ensino vocacional de musica.
O seu corpo docente é bastante estável o que favorece o relacionamento e
conhecimento professor/aluno(s).
A escola dispõe de Biblioteca, Sala de Estudo e também fazem parte do
currículo esta escola actividades de carácter facultativo, tais como o Desporto Escolar
(natação, basquetebol, atletismo), Artes Plásticas, Coro (Encarregados de Educação).
Esta escola mantém-se aberta aos alunos fora do seu horário lectivo para estudo
e desenvolvimento de outras actividades afins.
Com um reduzido número de alunos, comparativamente com as restantes escolas
estudadas e com turmas pouco numerosas.
As expectativas em relação à escola e ao prosseguimento de estudos por parte
dos alunos é elevado, o insucesso escolar é praticamente inexistente, resumindo-se a
alguns casos pontuais.
Escola D
Esta Escola está situada numa zona suburbana da cidade, servindo também uma
parte urbana da mesma. Está inserida numa área habitacional com algumas vivendas e
prédios altos, de construção recente.
Trata-se de uma escola com duas décadas de existência, com instalações
desadequadas às condições climatéricas, dificultando o desenvolvimento das actividades
escolares.
A área escolar está totalmente limitada por gradeamentos e muros.
A escola dispõe de Biblioteca, Mediateca, Ludoteca, Sala de Informática, AT.L
Desporto Escolar e vários Clubes (Clube da Música e Clube da Fotografia).
O pessoal docente é essencialmente feminino, maioritariamente
profissionalizado.
Existe pessoal de apoio, dois docentes para os alunos com necessidades
educativas especiais e uma psicóloga.
107
Promover o sucesso escolar, sensibilizar e implicar a comunidade para uma
maior valorização da escola é um dos seus grandes objectivos, no entanto, verificam-se
oscilações no aproveitamento escolar destes alunos.
As turmas do 2º Ciclo (5º e 6º anos) são as que revelam um maior êxito escolar,
em contrapartida no3º Ciclo (7º, 8º e 9º anos) é onde o inêxito é mais evidente,
sobretudo nos oitavos e nonos anos de escolaridade.
Escola E
Esta escola situa-se numa zona suburbana, de urbanização muito recente, onde
as infraestruturas são ainda diminutas, existindo no entanto alguns estabelecimentos de
pequena dimensão afectos ao comércio local.
Sendo uma construção muito recente, esta escola apresenta boas condições
físicas e geográficas.
A escola dispõe de uma Biblioteca, Sala de Estudo, Pavilhão Gimnodesportivo,
Desporto Escolar, Clube da Pintura e outros Clubes, assim como outras actividades
pontuais.
A escola é composta por um corpo docente que se mostra bastante dinâmico e
aberto à inovação, a maioria dos professores são profissionalizados e pertencem ao
quadro da escola.
O aproveitamento escolar destes alunos na sua globalidade não sofre grandes
oscilações, podendo ser considerado razoável. A maioria dos alunos consegue transitar
de ano, verificando-se menor sucesso e por vezes abandono escolar nos dois últimos
anos terminais do terceiro ciclo (8º e 9º anos).
Escola F
Esta escola situa-se numa zona periférica da cidade, inserida numa área
habitacional com vivendas e alguns prédios de construção recente.
Pode ser considerada uma escola semi-urbana, pois também recebe alunos de
freguesias urbanas. A acessibilidade para a escola é boa e está bem servida pela rede de
transportes urbanos e escolares.
É uma escola oficial de construção recente, sendo constituída por um único
bloco de dois pisos e um átrio interior bastante espaçoso, onde nos deparamos com
informações sobre actividades realizadas ou a realizar, assim como trabalhos realizados
no âmbito das várias actividades.
108
Dispõe de um Pavilhão Gimnodesportivo que viabiliza a realização das aulas
práticas de Educação Física, Sala de Estudo dos alunos, Sala de Informática e
Laboratório de Fotografia.
A maioria dos alunos desta escola é essencialmente proveniente de estratos
sócio-económicos populares, revelando baixas expectativas em relação à escola assim
como ao prosseguimento de estudos, no entanto, começa a destacar-se um crescente
número de alunos provenientes de estratos sócio-económicos e sócio-cultural médio e
médio alto, cujas expectativas e aproveitamento escolar é bem diferentes da dos seus
colegas. Esta dualidade parece favorecer os alunos com menores expectativas levando-
os, em alguns casos, a melhorar o seu aproveitamento escolar.
Com um corpo docente estável, que lhes permite um conhecimento mais
profundo da realidade escolar e do seu meio envolvente, a sua acção desenvolve-se
privilegiando uma relação pedagógica autónoma, potenciando uma dinâmica de
inovação, dando respostas aos problemas dos alunos e desenvolvendo um ensino de
qualidade.
O aproveitamento escolar destes alunos na sua globalidade é razoável e em
alguns casos pode ser considerado de bom ou muito bom. Como já referimos, talvez
devido à existência de alunos com diferentes motivações, o aproveitamento escolar tem
vindo a melhorar.
Escola G
Esta Escola situa-se numa zona suburbana rodeada de prédios altos à mistura
com casas de construção antiga e recente.
É uma escola oficial de construção recente e com boas condições de trabalho.
Dispõe de uma Biblioteca, Ludoteca, Sala de Informática, Sala do Aluno, Clube
da Pintura e outros Clubes.
A população desta escola é essencialmente proveniente de estratos sócio-
económicos populares, revelando poucas expectativas em relação à escola e respectivo
aproveitamento escolar, assim como ao prosseguimento de estudos.
Com um corpo docente pouco estável, desenvolve-se privilegiando uma relação
pedagógica autónoma, potenciando uma dinâmica de inovação, dando respostas aos
problemas pessoais e educacionais dos alunos.
109
Tendo consciência de que os aspectos económicos, sociais e culturais da
comunidade deixam aflorar a problemática que afecta a acção educativa desta escola, e
que também se reflecte no aproveitamento escolar destes alunos.
Constata-se que existem alunos com bastantes dificuldades de aprendizagem,
falta de métodos de estudo, baixa motivação em relação à escola e algum abandono
escolar.
O aproveitamento da globalidade dos alunos é razoável, destacando-se no
entanto um elevado número de alunos com insucesso escolar repetido.
Escola H
Esta Escola situa-se numa zona suburbana, no entanto é considerada uma escola
semi-urbana, devido à sua população estar dividida entre rural e urbana, dando origem a
uma elevada heterogeneidade nos alunos que frequentam a escola.
Esta escola situa-se numa área com forte dinamismo espacial, onde constatamos
o aparecimento de estabelecimentos comerciais e uma ampla zona residencial. Neste
local existe uma intensa actividade associativa de âmbito cultural, recreativa e
desportiva.
A escola é de construção recente, no entanto os espaços são pouco amplos e os
corredores estreitos, dificultando a circulação e o convívio entre a população escolar.
Apesar destes constrangimentos, dispõe de uma Biblioteca, uma Ludoteca,
Desporto Escolar e vários Clubes (Clube da Fotografia).
O aproveitamento escolar da globalidade destes alunos é razoável e em alguns
casos bom e muito bom.
O insucesso escolar é pouco significativo nesta escola.
Escola I
Esta Escola fica situada numa zona suburbana com características rurais,
apresenta uma urbanização em crescimento acelerado o que proporcionará, a curto
prazo, alterações demográficas e aumento de população em idade escolar.
Esta escola, apesar de ter sofrido algumas reformas recentemente,
nomeadamente no que se refere à construção de um pavilhão Gimnodesportivo e o
arranjo de alguns espaços exteriores, ainda revela algumas carências a nível do espaço
110
exterior (o recreio), encontrando-se a descoberto, impede de abrigar os alunos em tempo
de chuva.
A escola dispõe de uma Biblioteca, Laboratório de Informática, um Centro de
Recursos Multimedia, Desporto Escolar e alguns Clubes.
Relativamente ao corpo docente, aproximadamente metade dos professores
pertencem ao quadro da escola, os restantes são destacados ou contratados.
O aproveitamento escolar destes alunos, na sua globalidade é razoável. O
insucesso é maior nos dois últimos anos do terceiro ciclo (sobretudo no 9º ano). No
entanto, as expectativas dos mesmos em relação à escola ou ao prosseguimento de
estudos não se verificam.
Escola J
Esta Escola situa-se numa zona suburbana, composta por freguesias rurais e
agrárias, com excepção de uma freguesia.
Trata-se de uma escola oficial de construção recente, com boas condições físicas
de trabalho. Dispõe de uma Biblioteca, Centro de Informática, Mediateca, Ludoteca,
Desporto Escolar, Atelier Artístico e vários Clubes.
A população desta escola é essencialmente proveniente de estratos sócio-
económicos populares, revelando poucas expectativas em relação à escola, cumprindo,
na sua maioria, unicamente a escolaridade obrigatória, tal como os seus progenitores.
O corpo docente desta escola é relativamente estável (a maioria pertence ao
quadro), preocupando-se com o êxito escolar dos alunos.
O aproveitamento escolar dos alunos desta escola é razoável. Tal como em
outras escolas estudadas, o abandono e o insucesso escolar é maior nos anos terminais
do terceiro ciclo.
Escola L
Esta escola situa-se numa zona essencialmente rural, com fracas condições de
acessibilidade.
A sua população predominante é dos estratos sócio-económicos popular e
desfavorecido, com alguns casos de carências básicas. A maioria dos pais trabalha por
conta de outrem, fora da sua área de residência, ou em actividades comerciais,
industriais e agrícolas locais de reduzida dimensão.
111
O nível de escolaridade dos pais é na sua maioria o quarto ano de escolaridade
básica.
Esta escola dispõe de uma Biblioteca, Videoteca (com rede interna de televisão),
Infoteca, Sala de Informática, Ludoteca, Desporto Escolar, Sala de Estudo e alguns
Clubes (Clube da Imagem).
O corpo docente desta escola caracteriza-se pela sua grande mobilidade.
Apesar de todos estes constrangimentos, esta escola apresenta um projecto
educacional aberto, flexível, organizado para a qualidade. É seu objectivo principal
“praticar um currículo participado, tendo em vista o desenvolvimento integral e
equilibrado dos alunos na sua diversidade, procurando articular e orientar as actividades
educativas de forma a que a escola seja um espaço de formação e de sucesso para todos”
(Projecto Educativo).
O aproveitamento escolar dos alunos desta escola, na sua globalidade é razoável,
destacando-se um ou outro caso com bom aproveitamento. Não se verificam grandes
expectativas relativamente à escola ou ao prosseguimento de estudos.
Escola M
112
Escola N
Situada numa zona rural esta é a escola mais recente do conselho de Braga, quer
em construção, quer no projecto arquitectónico da mesma e serve os alunos das várias
freguesias circundantes.
A escola é ampla e com óptimas instalações, rodeada de um enorme espaço
verde onde se avistam campos de cultivo é, no entanto, devido à sua situação geográfica
ainda mal servida pela rede de transportes públicos e os acessos à mesma são bastante
precários e sinuosos.
A no entanto, interesse em cumprir a escolaridade básica obrigatória e de
seguida arranjar um emprego.
O aproveitamento escolar dos alunos desta escola (tendo em consideração a sua
existência recente) é razoável, não se constatando níveis significativos de insucesso
escolar. população escolar, na sua grande maioria, é oriunda do estrato sócio-económico
popular e por vezes desfavorecido. A maioria dos pais trabalha por conta de outrem,
uma minoria trabalha por conta própria em actividades ligadas à agricultura, ao
pequeno comercio e a serviços locais.
O corpo docente desta escola é ainda bastante instável pois só uma minoria dos
professores pertence ao quadro da escola, os restantes docentes foram lá colocados por
destacamento ou contrato anual.
Apesar da escola ter uma arquitectura inovadora e com óptimas instalações
como: Anfiteatro (para reuniões e conferências), Biblioteca, Sala Multimédia, Sala de
Estudo, Sala de Convívio dos Alunos e já alguns Clubes, a motivação dos alunos em
relação à mesma não é significativa.
A grande maioria dos alunos não revela expectativas relativamente ao
prosseguimento de estudos, manifestando no entanto algum interesse em cumprir os
nove anos de escolaridade básica e de seguida arranjar um emprego.
O aproveitamento escolar dos alunos desta escola (tendo em conta a existência
recente da mesma) é razoável, não se constatando níveis significativos de insucesso
escolar.
113
2. A Arte num contexto de Reorganização Curricular do Ensino Básico
O inquérito por questionário foi preenchido por 311 docentes em exercício nas
escolas do concelho de Braga, dos quais se pode traçar de forma resumida o seguinte
perfil sócio-profissional:
- 49% têm idade igual ou inferior a 40 anos e 36% têm entre 41 e 50 anos de
idade;
- 27% têm até 10 anos de serviço, 53% têm entre 11 e 25 anos de serviço e 21%
mais de 25 anos;
1
Poderíamos ter optado por questionar os inquiridos sobre o seu departamento de pertença, mas tal opção
não nos ajudaria muito pois, cada escola, apresenta configurações estruturais diferenciadas em termos de
departamentos curriculares.
114
“Exactas” e da Natureza; Artes e Tecnologias; Educação Musical e Educação Física.
Com este agrupamento, a nossa amostra é constituída como o quadro 5 demonstra:
Nesta secção, vamos analisar o contributo dos docentes das disciplinas artísticas
e tecnológicas no desenvolvimento das Novas Áreas Curriculares Não Disciplinares
criadas no contexto da Reorganização Curricular do Ensino Básico (Decreto-Lei nº
6/2001) e em particular da disciplina de EVT.
Dos 311 inquiridos, 234 (77%) declararam ter a seu cargo uma ou mais Novas
Áreas Curriculares (NAC’s). Da mesma amostra, 70 docentes (23%) não são
responsáveis por alguma dessas áreas e 7 não responderam à questão.
O quadro 6 apresenta-nos o número de docentes com responsabilidade na
Formação Cívica, no Estudo Acompanhado e na Área de Projecto, considerando apenas
uma das áreas e também a responsabilidade simultânea por mais de uma delas:
115
Quadro 6 – Número de professores responsáveis pelas NAC’s
116
Quadro 7 – Número de professores responsáveis pela Formação Cívica
2
As diferenças nos totais relativamente ao quadro 5 relacionam-se com os missing cases que, neste caso,
existem nas duas variáveis que foram objecto de cruzamento (1.6 - grupo de docência e 1.9 - Formação
Cívica).
3
A este propósito, confira-se a quantidade de documentos escritos que, não apenas os alunos, mas
também os professores têm que produzir – actas (de conselho de turma, de departamento curricular, de
grupo disciplinar, de conselho de directores de turma, de conselho pedagógico, etc), relatórios, projectos
(educativo, curricular de escola e turma, regulamentos (interno, de turma), regimentos (de funcionamento
do grupo, departamento curricular, de conselho de directores de turma, etc.). Quanto mais cargos o
professor tem mais documentos tem que produzir. Há tarefas que são obrigatórias pela simples condição
117
docentes de EVT favorecem a prevalência de uma mentalidade muito prática e,
como tal, contrária a essa escola escritocêntrica, que desvaloriza outros saberes
que não têm por base a escrita. Esta escola baseada na escrita está bem patente
na tese de doutoramento de Fernando Ilídio Ferreira quando afirma que
da leccionação de uma disciplina, outras nem por isso, como é o caso das inerentes ao desempenho da
direcção de turma.
118
2.2.2 – O caso do Estudo Acompanhado
4
As diferenças nos totais relativamente ao quadro 5 relacionam-se com os missing cases que, neste caso,
existem nas duas variáveis que foram objecto de cruzamento (1.6 - grupo de docência e 1.9 – Estudo
Acompanhado).
119
2.2.3 – O caso da Área de Projecto
5
As diferenças nos totais relativamente ao quadro 5 relacionam-se com os missing cases que, neste caso,
existem nas duas variáveis que foram objecto de cruzamento (1.6 - grupo de docência e 1.9 – Área de
Projecto).
120
apresentação e análise dos dados resultantes das 33 questões na Escala de Likert
previstas no inquérito por questionário. Numa primeira fase, o tópico de discussão serão
as representações de natureza genérica sobre a problemática da avaliação. Numa
segunda fase, o nosso móbil será a análise das concepções e das práticas referentes ao
dispositivo de avaliação utilizado em EVT. Finalmente, iremos centrar a discussão nas
questões do poder e do prestígio social da disciplina de EVT, utilizando para essa
análise a entrada da problemática da avaliação.
6
Trata-se da questão nº 3 concebida na Escala de Likert e que nos surge no quadro 10 na primeira linha.
121
Quadro 10 – Algumas representações sobre a problemática da avaliação
N/ concordo
n/ discordo
totalmente
totalmente
Concordo
Concordo
respostas
Discordo
Discordo
Média7
Moda
Não
Indicadores
Uma análise mais fina dos dados8 revela que não existem diferenças
significativas, quando se consideram as médias das respostas às questões assinaladas no
quadro, dicotomizando essas respostas em dois grupos de professores: grupo 1,
“professores de Artes e Tecnologias”, e grupo 2, “restantes professores” ou grupo 1,
“professores de EVT”, e grupo 2, “restantes professores”. A única excepção prende-se
com a diferença encontrada relativamente à última questão – “Avaliar capacidades
expressivas é tão importante como avaliar o raciocínio matemático e/ou o domínio da
escrita e das línguas” – em que se verifica que os “professores de Artes e Tecnologias”
apresentam uma média mais alta (1,24) relativamente aos “restantes professores” (0,92),
com um nível de significância algo relevante (p<0,01) e os “professores de EVT”
também apresentam uma média mais alta (1,32) relativamente aos “restantes
professores” (0,95), com um nível de significância ainda mais relevante (p<0,001).
Se aprofundarmos ainda mais a análise relativamente à mesma questão, denota-
se que são os professores dos grupos de docência relacionados com as “Ciências
‘Exactas’ e da Natureza” que apresentam média de resposta mais baixa (0,79), seguidos
dos professores de “Línguas e Ciências Humanas e Sociais” (0,95), dos professores de
“Educação Musical e Educação Física” (1,11) e, como já foi registado, dos de “Artes e
Tecnologias” com média de 1,24.
7
Médias (e naturalmente modas) calculadas a partir da seguinte codificação: “Discordo totalmente”=-2;
“Discordo”=-1; “Não concordo nem discordo”=0; “Concordo”=1 e “Concordo totalmente”=2.
8
Através de um teste T.
122
Este último dado é importante pois demonstra que os professores dos grupos de
docência socialmente mais valorizados têm uma opinião mais favorável relativamente
às competências associadas às suas disciplinas e, como tal, não dissimulam uma certa
visão academicista do ensino. Corresponde este resultado, embora não de forma directa
e explícita, aos pressupostos de um “back to basis”.
123
Quadro 11 – Concepções dos docentes sobre a avaliação em EVT
N/ concordo
n/ discordo
totalmente
totalmente
Concordo
Concordo
respostas
Discordo
Discordo
Média9
Moda
Não
Indicadores
9
Médias (e naturalmente modas) calculadas a partir da seguinte codificação: “Discordo totalmente”=-2;
“Discordo”=-1; “Não concordo nem discordo”=0; “Concordo”=1 e “Concordo totalmente”=2.
124
Nesta fase, uma análise mais aprofundada dos dados10 revela que existem
algumas diferenças significativas, quando se consideram as médias das respostas às
questões assinaladas no quadro, dicotomizando essas respostas em dois grupos de
professores: grupo 1, “professores de Artes e Tecnologias”, e grupo 2, “restantes
professores” ou grupo 1, “professores de EVT”, e grupo 2, “restantes professores”.
Assim, podemos encontrar diferenças relativamente à questão – “O interesse, a
participação e a cooperação no grupo são importantes factores a considerar na avaliação
dos alunos na disciplina de EVT” – em que se verifica que os “professores de Artes e
Tecnologias” apresentam uma média mais alta (1,38) relativamente aos “restantes
professores” (1,09), com um nível de significância algo relevante (p<0,01) e os
“professores de EVT” também apresentam uma média mais alta (1,48) relativamente
aos “restantes professores” (1,07), com um nível de significância ainda mais relevante
(p<0,001).
O mesmo se verifica relativamente à proposição – “A avaliação na disciplina de
EVT tem como finalidade comparar o desempenho dos alunos da turma” – em que se
verifica que os “professores de Artes e Tecnologias” rejeitam de uma forma mais
acentuada a afirmação (média de –0,86) relativamente aos “restantes professores”
(média de –0,60), e os “professores de EVT” apresentam uma rejeição ainda mais
acentuada (média de -0,93) relativamente aos “restantes professores” (média de –0,59),
embora nos dois casos com um nível de significância não muito relevante (p<0,05).
Se aprofundarmos ainda mais a análise relativamente às duas questões, denota-se
que são os professores dos grupos de docência relacionados com as “Línguas e Ciências
Humanas e Sociais” que apresentam média de resposta mais baixa (1, 04) ou de menor
rejeição (-0,56) relativamente às duas proposições enunciadas, seguidos dos professores
de “Ciências ‘Exactas’ e da Natureza”.
10
Através de um teste T.
125
nem discordo”. Contudo, para quem conhece o modo ainda individualista de trabalho
realizado nas escolas em geral e nos conselhos de turma em particular, pode considerar
como sendo um resultado esperado aprioristicamente, uma vez que a amostra contempla
docentes das mais diversas áreas e, como tal, muitos deles desconhecem as práticas
concretas de avaliação em EVT. Este poderá ser mais um indicador de que a
reorganização do ensino básico ainda não transformou as práticas de trabalho dos
professores, em que o trabalho colaborativo ainda parece ser uma miragem na realidade
actual da escola portuguesa.
Centrando a nossa análise no eixo objectividade/subjectividade na avaliação
(questões 12, 15 e 31), os dados indiciam uma forte ambiguidade e divergência nas
respostas. Embora considerando a avaliação em EVT algo objectiva, comparativamente
às disciplinas ditas exactas (questão 12), as outras duas médias situam-se na vizinhança
da média nula, equivalente à resposta neutra “não concordo nem discordo”. Curiosa é a
constatação de que não existem diferenças estatisticamente significativas quando se
dicotomizam as respostas, quer em “professores de Artes e Tecnologias” e “restantes
professores”, quer em “professores de EVT” e “restantes professores”. Este resultado
significa que os professores de uma forma geral e os professores de EVT em particular
reconhecem o carácter algo subjectivo do processo de avaliação de EVT. No entanto, as
percentagens de respostas “nem concordo nem discordo” é sempre superior para o caso
dos “restantes professores”, sendo, na questão 15 quase dupla (57 % contra os 32% dos
professores de EVT).
126
Quadro 12 – Práticas de avaliação em EVT
N/ concordo
n/ discordo
totalmente
totalmente
Concordo
Concordo
respostas
Discordo
Discordo
Média11
Moda
Não
Indicadores
127
superação” (média de 0,43). No entanto, a divergência nas respostas já é muito
acentuada quando se confrontam os inquiridos com a afirmação “A avaliação formativa
é a principal modalidade utilizada pelos professores da disciplina de EVT” (média de
0,05). Uma análise mais profunda destes dados revela que existem diferenças
estatisticamente significativas em algumas respostas quando se comparam os resultados
dos professores de EVT ou de Artes e Tecnologias com os restantes professores.
Assim, para a questão “A avaliação em EVT baseia-se na detecção de
dificuldades de aprendizagem do aluno e no desenvolvimento de estratégias para a sua
superação” a média dos professores de “Artes e Tecnologias” é de 0,86 e a dos restantes
professores é apenas de 0,24 (p<0,001). Para a mesma questão, a média dos professores
de EVT é de 0,95 e a dos restantes professores é apenas de 0,28 (p<0,001). Estes
resultados significam que são amplamente os professores de EVT que mais consideram
que a avaliação em EVT é baseada na detecção de dificuldades dos alunos e no
desenvolvimento de estratégias para a sua superação. Aqui, os “restantes professores
também apresentam uma percentagem elevada de respostas “nem concordo nem
discordo” (39% contra 3% dos professores de EVT).
Para a questão “A avaliação na disciplina de EVT respeita os ritmos de
aprendizagem diferenciados dos alunos” a média dos professores de “Artes e
Tecnologias” é de 1,13 e a dos restantes professores é apenas de 0,45 (p<0,001). Para a
mesma questão, a média dos professores de EVT é de 1,27 e a dos restantes professores
é apenas de 0,46 (p<0,001). Estes resultados significam igualmente que são amplamente
os professores de EVT que mais consideram que a avaliação em EVT respeita os ritmos
de aprendizagem diferenciados dos alunos. Também aqui os “restantes professores”
também apresentam uma percentagem elevada de respostas “nem concordo nem
discordo” (43% contra 0% dos professores de EVT).
Uma análise semelhante demonstra que são os professores de EVT que mais
rejeitam o carácter selectivo da sua avaliação.
Prosseguindo a análise do quadro 12, verifica-se que os inquiridos consideram
que “Os professores da disciplina de EVT na avaliação dão ênfase aos produtos
(trabalhos/exercícios) realizados pelos alunos” (média de 0,67). Relativamente a esta
proposição (questão 23), os professores de EVT não são tão concordantes com essa
afirmação (média de 0,45) como os “restantes professores” (média de 0,73), revelando
assim não dar apenas ênfase aos produtos realizados pelos alunos mas considerando
também o processo de obtenção desses produtos.
128
Os resultados demonstram uma rejeição da afirmação de que “A avaliação na
disciplina de EVT baseia-se na participação dos alunos em actividades de solidariedade
social”. Naturalmente que a avaliação em EVT não se limita a esse tipo de actividades,
uma vez que os campos de actuação da disciplina extravasa essa dimensão, incidindo na
Comunidade, no Equipamento e no Ambiente. Estes três campos que orientam as
actividades possíveis em EVT são, como tal, muito abrangentes, ultrapassando a
vertente da solidariedade, embora não a rejeitando.
Por último, atente-se nas respostas à proposição “A avaliação na disciplina de
EVT baseia-se na participação dos alunos em trabalhos/projectos interculturais”. O
nível de concordância não é muito relevante (média de 0,26). De facto, e pela mesma
razão apontada na análise anterior, a abrangência do programa não permite uma
focalização única, neste caso, nas questões da interculturalidade. Refira-se também que
a problemática intercultural não tem na região de Braga a mesma pertinência que em
outras regiões, nomeadamente as zonas suburbanas das áreas metropolitanas de Lisboa e
Porto. Apesar da existência nas escolas de Braga de alguns alunos de etnia cigana ou
oriundos dos países de leste, são situações marginais, não generalizáveis a todas as
turmas das diferentes escolas onde o questionário foi aplicado. Esta poderá ser mais
uma razão pela qual os projectos interculturais não serão concebidos de forma
sistemática nestas escolas e, como tal, objecto de concretização em EVT.
Registe-se, mais uma vez, que no conjunto das proposições enunciadas neste
quadro, a percentagem de “não respostas” é sempre muito maior no caso dos “restantes
professores” relativamente aos docentes de EVT.
129
Registe-se aqui que, obviamente, a avaliação constitui uma das fontes de poder
mais relevantes do professor. De facto, Almerindo J. Afonso (1991) apresenta-nos uma
síntese de tipologias do poder na sala de aula. Trata-se do poder normativo, do poder
coercitivo, do poder de especialista, do poder legítimo, do poder de recompensa, do
poder de referente, do poder pessoal e do poder autoritativo que são categorias
conceptuáveis para a relação pedagógica (na perspectiva do poder do professor). Mas
igualmente o poder do grupo, o poder de mobilizar conjuntos de interacção, o poder
referente e o poder normativo, o poder de “perito”, poder de incerteza ou poder de
executor são formas de poder exercidas pelos alunos. O mesmo autor, que considera
noutro lugar (1998, p.32) a avaliação como uma “actividade política”, sinaliza algumas
funções12 da avaliação escolar a partir de alguns autores. De entre essas funções pode-se
salientar a questão do poder (Afonso, 1998, p. 34; Hadji, 1994, pp. 78-79; Figari, 1996,
p.35; Barbier, 1990, p. 115) e da disciplinação.
Cruzando estas teorizações da avaliação como fonte de poder e os resultados
acima enunciados, parece decorrer que os professores Artes e Tecnologias e de EVT
experienciam um exercício de poder inferior aos restantes professores, quando se pensa
no poder que decorre da avaliação. Assim sendo, a justificação para tal facto poderá
estar no reduzido prestígio social que é normalmente atribuído a disciplinas de natureza
mais prática. Os pais, mesmo que involuntariamente, passam a mensagem de forma
mais ou menos subtil para os seus educandos de que é necessário ter bom
aproveitamento nas disciplinas mais académicas. Daqui resulta uma menor “pressão”
dos encarregados de educação para a importância de um bom desempenho em EVT e do
“nível cinco” correspondente. Neste caso, o poder de recompensa do professor que se
traduz na avaliação dos alunos não será tão importante como no caso de disciplinas
socialmente mais valorizadas. Esta constatação sobre as atitudes dos pais no que se
refere à avaliação, não resulta dos resultados dos questionários, mas pela nossa
observação da realidade e do contacto com os pais e encarregados de educação, na
qualidade de directora de turma. Mas, na tentativa de confirmar esta tese da
diferenciação de poder do professor e de prestígio social de uma disciplina, como
resultado da avaliação, continuemos a nossa análise aos restantes dados.
12
Das quais se podem destacar: a averiguação da competência; a competição; a selecção diferencial dos
indivíduos; o condicionar os fluxos de entrada e saída; o controlo sobre professores; a definição das
mensagens aos pais; o contributo para a gestão da aula; o fornecimento ao professor sobre a sua imagem
profissional; a melhoria dos processos; a certificação; a responsabilização; o exercício da autoridade e o
controlo social e legitimação política.
130
A discussão sobre a relação entre o dispositivo de avaliação utilizado e o
prestígio social da disciplina de EVT fica dissecada na análise das questões “O poder do
professor é tanto maior quanto mais selectiva for a avaliação” (média de -0,85) e “O
poder dos professores da disciplina de EVT na escola, depende do dispositivo de
avaliação utilizado” (média de -0,64). Nos dois casos a rejeição é significativa o que
demonstra uma certa defesa da independência entre dispositivo de avaliação e poder.
Ainda no caso da questão 27, “O poder dos professores da disciplina de EVT na escola,
depende do dispositivo de avaliação utilizado”, verifica-se que são os professores de
Artes e Tecnologias em geral e os de EVT em particular que mais rejeitam esta
afirmação (p<0,05). Verifica-se ainda que o peso das respostas “nem concordo nem
discordo” é maior nos “restantes professores” (38%) do que nos professores de EVT
(21%).
Os inquiridos dão respostas muito divergentes quando se questiona se “Os
resultados da avaliação na disciplina de EVT são fundamentais para uma trajectória
escolar de sucesso dos alunos” (média de -0,05), o que parece reforçar a ideia anterior
no que se refere ao estatuto socialmente desvalorizado da disciplina. Esta perspectiva
será partilhada, não apenas pelos pais, mas também pelos professores. Nesta questão 30,
os professores de EVT são bem mais optimistas que os restantes professores
relativamente ao papel formativo da sua disciplina, uma vez que a média de respostas é
um pouco superior (0,22) do que a dos restantes docentes (-0,14), tendo este resultado
uma certa relevância estatística (p<0,01). No entanto, esperar-se-ia uma concordância
mais acentuada dos professores de EVT com esta proposição. Assinale-se aqui o nível
de respostas “nem concordo nem discordo”, que se traduzem numa percentagem
superior a um terço de respostas, quer dos docentes de EVT, quer dos restantes
docentes.
131
Quadro 13 – EVT, avaliação, poder e prestígio social
N/ concordo
n/ discordo
totalmente
totalmente
Concordo
Concordo
respostas
Discordo
Discordo
Média13
Moda
Não
Indicadores
13
Médias (e naturalmente modas) calculadas a partir da seguinte codificação: “Discordo totalmente”=-2;
“Discordo”=-1; “Não concordo nem discordo”=0; “Concordo”=1 e “Concordo totalmente”=2.
132
A rejeição da afirmação “O êxito escolar dos alunos é fortemente influenciado
pelos resultados obtidos na disciplina de EVT” (média de -0,70) continua a confirmar a
tese que temos vindo a defender. Esta rejeição, embora menor, é também registada pelos
professores de EVT (média de -0,49).
Contudo, os inquiridos divergem quando se pergunta se “O êxito escolar dos
alunos depende fundamentalmente dos resultados obtidos nas disciplinas mais
valorizadas socialmente (Matemática, Línguas, …)”. Com efeito, a média é de -0,08 não
existindo diferenças estatisticamente significativas entre as respostas dos professores. O
mesmo se verifica na proposição “Os resultados da avaliação na disciplina de EVT são
fundamentais para um futuro de sucesso dos alunos ao nível pessoal e profissional”
(média de 0,18). Com efeito, a concordância é pouco significativa, revelando bastante
divergência nas respostas e não se registando diferenças assinaláveis entre as respostas
dos dois grupos de professores que temos vindo a dicotomizar.
Todavia, os inquiridos rejeitam, pelo menos no discurso, uma visão academicista
do currículo valorizando outras capacidades para além das que são atribuídas
geralmente a disciplinas mais académicas. Assim, não consideram em absoluto que “As
capacidades nos domínios da escrita, das línguas e da matemática são mais importantes
do que as relacionadas com o domínio da expressão plástica e das tecnologias” (média
de -0,67). Embora a rejeição dos professores de EVT e de “Artes e Tecnologias” seja
maior (respectivamente médias de -0,87 e de -0,86) comparativamente com os restantes
professores, essas diferenças não têm grande significado estatístico.
133
CONCLUSÃO
134
departamentos curriculares, formando as seguintes categorias: Línguas e Ciências
Humanas e Sociais; Ciências “Exactas” e da Natureza; Artes e Tecnologias; Educação
Musical e Educação Física.
Dos 82 professores da categoria “Artes e Tecnologias”, 49 pertencem ao
5º grupo (Educação Visual) do 2º ciclo, 15 aos grupos de Trabalhos Manuais
Masculinos e Femininos do 2º ciclo, 6 ao grupo de Artes Visuais do ensino secundário e
12 aos diferentes subgrupos do 12º grupo (Educação Tecnológica) do ensino
secundário.
Verificámos que 30 inquiridos (cerca de 10%) não responderam à questão
relacionada com o seu grupo de docência, o que poderá indiciar algum desconhecimento
do grupo de pertença, o que será muito grave a confirmar-se esta suspeita.
Analisámos o contributo dos docentes das disciplinas artísticas e tecnológicas no
desenvolvimento das Novas Áreas Curriculares Não Disciplinares criadas no contexto
da Reorganização Curricular do Ensino Básico (Decreto-Lei nº 6/2001) e em particular
os que leccionam a disciplina de EVT.
Assim, dos 311 inquiridos, 234 (77%) declararam ter a seu cargo uma ou mais
Novas Áreas Curriculares (NAC’s). Da mesma amostra, 70 docentes (23%) não são
responsáveis por alguma dessas áreas e 10 têm uma grande sobrecarga de trabalho, pois
são responsáveis pelas três áreas. Mas também 93 dos 304 professores que responderam
à questão (31%) são responsáveis por duas das três NAC’s.
Destes dados também se pode concluir que, se partirmos do princípio que a
Formação Cívica está a cargo do Director de Turma, 85 dos 106 professores que
“leccionam” Formação Cívica têm pelo menos mais uma outra NAC à sua
responsabilidade. Esta realidade leva-nos a reflectir sobre a grande dificuldade que o
cargo de Director de Turma se reveste, uma vez que lecciona pelo menos uma disciplina
relacionada com o seu grupo de docência de pertença, tem a responsabilidade da
Formação Cívica e em muitos casos de outra NAC e coordena todo o trabalho inerente à
direcção de turma, incluindo-se aqui a concepção, gestão e avaliação do Projecto
Curricular de Turma. Pode afirmar-se que este professor Director de Turma que resulta
da Reorganização do Ensino Básico é um autêntico escravoprofessor.
Verificámos que são os grupos categorizados como “Artes e Tecnologias” que
apresentam um valor inferior (25%) na responsabilidade da “leccionação” da Formação
Cívica e do correspondente desempenho do cargo de direcção de turma. Se nos
limitarmos a análise aos professores que leccionam a Educação Visual e Tecnológica
135
(EVT), apenas 11 (19,3% dos professores de EVT) têm a cargo a Formação Cívica. Este
dado significa que os professores do 3º ciclo de Artes e Tecnologias têm uma maior
responsabilidade na Formação Cívica do que os do 2º ciclo, fruto eventualmente, da
menor base de recrutamento de directores de turma no 3º ciclo. De facto, os dados
demonstram que os professores do 2º ciclo têm em média mais tempo de serviço e mais
idade, os respectivos quadros estão mais estabilizados e, como tal, a base de
recrutamento de directores de turma é mais elevada.
Pode-se então concluir que os professores de Artes e Tecnologias são em menor
percentagem directores de turma que os docentes dos outros grupos, muito à custa do
reduzido número de professores de EVT que são directores de turma. A explicação para
este facto pode ser encontrada em diversos factores, apresentados em alguns estudos
académicos mas também a partir das nossas entrevistas informais com alguns docentes:
136
tarefa por razões mais ou menos burocráticas e formais de arranjo de horário da turma,
do próprio professor ou dos restantes professores do conselho de turma.
No caso da Área de Projecto, denota-se que são os grupos categorizados como
“Artes e Tecnologias” que apresentam um valor superior na responsabilidade da
“leccionação” dessa área. Se nos limitarmos a análise aos professores que leccionam
EVT, verifica-se que 44 (77,2%) têm a cargo a Área de Projecto.
Podemos inferir que os professores de EVT, até pela própria natureza da Área de
Projecto, estão especialmente vocacionados para a “leccionação” nesta área. De facto, a
formação académica dos professores de EVT e as metodologias específicas da
disciplina, ao se focalizarem nas Metodologias de Projecto e no Método de Resolução
de Problemas, estão em sintonia com as estratégias propostas para a Área de Projecto.
Este estudo incidiu principalmente nas questões da avaliação em termos gerais e
nas da avaliação em EVT em particular.
Relativamente à problemática da avaliação de uma forma genérica, os
resultados demonstram a rejeição de uma avaliação que privilegia apenas a aquisição de
conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades, em detrimento das atitudes como
factor de avaliação. Verifica-se também a rejeição de avaliação como sinónimo de
simples classificação e a associação entre objectividade na avaliação e utilização de
testes escritos em todas as disciplinas.
Os inquiridos consideram ainda que a avaliar capacidades expressivas, como a
invenção e a criatividade, é tão importante como avaliar o raciocínio matemático e/ou o
domínio da escrita e das línguas.
Embora considerem igualmente que o método de avaliação utilizado numa
disciplina não interfere na importância social da mesma, essa consideração é ténue.
Depreende-se daqui que os professores deixam transparecer uma certa ideia de que as
disciplinas que utilizam um método de avaliação que recorre a instrumentos de
avaliação pretensamente objectivos, vulgo testes escritos, têm possibilidades de atingir
um maior prestígio social. Não admira, então, a introdução de testes escritos em quase
todas as disciplinas, incluindo as mais práticas. A este propósito refira-se a utilização
generalizada de testes escritos, por exemplo, em Educação Física.
Relativamente à afirmação “Avaliar capacidades expressivas é tão importante
como avaliar o raciocínio matemático e/ou o domínio da escrita e das línguas”, verifica-
se que os “professores de Artes e Tecnologias” ou os “professores de EVT” apresentam
uma maior concordância com aquela proposição. Denota-se também que são os
137
professores dos grupos de docência relacionados com as “Ciências ‘Exactas’ e da
Natureza” que apresentam uma menor concordância com a afirmação referida, seguidos
dos professores de “Línguas e Ciências Humanas e Sociais” e, finalmente, dos
professores de “Educação Musical e Educação Física”.
Este último dado é importante pois demonstra que os professores dos grupos de
docência socialmente mais valorizados têm uma opinião mais favorável relativamente
às competências associadas às suas disciplinas e, como tal, não dissimulam uma certa
visão academicista do ensino. Corresponde este resultado, embora não de forma directa
e explícita, aos pressupostos de um “back to basis”.
No que se refere às concepções dos professores sobre o dispositivo de
avaliação utilizado em EVT, apesar de se verificar uma certa ambiguidade nas
respostas, mesmo assim os resultados indiciam alguma rejeição da utilização de testes
escritos na disciplina de EVT como instrumento ao serviço de uma avaliação sumativa.
Pelo contrário, é pelos docentes inquiridos valorizada uma avaliação mais informalizada
com recurso à observação directa do desempenho dos alunos na concretização das
tarefas propostas. No entanto, é também reiterada uma avaliação que utilize
instrumentos e técnicas diversificadas de recolha de dados, onde certamente se inclui a
própria utilização do tradicional teste escrito. Contudo, é de referir que os resultados em
alguns itens apresentam uma frequência de respostas “nem concordo nem discordo”
demasiado elevada. Comparando estas respostas com o grupo disciplinar de pertença do
inquirido, verifica-se que os professores de “outras disciplinas” dão um maior número
de respostas “nem concordo nem discordo” relativamente aos professores de EVT.
É igualmente rejeitada uma avaliação segundo um registo normativo, com
recurso à comparação do desempenho dos alunos no seio da turma. Pressupõe-se, como
tal, a apologia de uma avaliação criterial.
Refira-se que se regista uma valorização dos inquiridos por uma formação
integral, dando atenção não apenas aos domínios cognitivo e psicomotor, mas também
ao nível do desenvolvimento afectivo. Neste sentido, é também valorizada a avaliação
das atitudes dos alunos, nomeadamente o “interesse, a participação e a cooperação no
grupo”, e não apenas a perfomance e a competência evidenciada na realização das
tarefas, ou os conhecimentos e capacidades.
Relativamente à afirmação “O interesse, a participação e a cooperação no grupo
são importantes factores a considerar na avaliação dos alunos na disciplina de EVT”,
verifica-se que os “professores de Artes e Tecnologias” ou os “professores de EVT”
138
apresentam maior concordância que os “restantes professores”. O mesmo se verifica
relativamente à proposição “A avaliação na disciplina de EVT tem como finalidade
comparar o desempenho dos alunos da turma”, em que se verifica que os “professores
de Artes e Tecnologias” ou os “professores de EVT” rejeitam de uma forma mais
acentuada a afirmação que os “restantes professores”. Denota-se também que são os
professores dos grupos de docência relacionados com as “Línguas e Ciências Humanas
e Sociais” que apresentam respectivamente menor concordância e menor rejeição
relativamente às duas proposições enunciadas, seguidos dos professores de “Ciências
‘Exactas’ e da Natureza”.
Reflectindo sobre as práticas concretas de avaliação em EVT, dado o número
elevado de “não-resposta” em algumas das questões e, principalmente, de respostas
“nem concordo nem discordo”, conclui-se, desde logo, pela manutenção do modo ainda
individualista de trabalho realizado nas escolas em geral e nos conselhos de turma em
particular, pois a nossa amostra contempla docentes das mais diversas áreas e, como tal,
muitos deles desconhecem as práticas concretas de avaliação em EVT. Este poderá ser
mais um indicador de que a reorganização do ensino básico ainda não transformou as
práticas de trabalho dos professores, em que o trabalho colaborativo ainda parece não
passar da retórica na realidade actual da escola portuguesa.
Centrando a nossa análise no eixo objectividade/subjectividade na avaliação, os
dados indiciam uma forte ambiguidade e divergência nas respostas. Embora
considerando a avaliação em EVT algo objectiva, comparativamente às disciplinas ditas
exactas, há resultados que se situam na vizinhança da média nula, equivalente à resposta
neutra “não concordo nem discordo”. Os resultados também demonstram que os
professores de uma forma geral e os professores de EVT em particular reconhecem o
carácter algo subjectivo do processo de avaliação de EVT.
Focalizando os resultados na prevalência ou não do carácter formativo da
avaliação em EVT, constata-se que existe esse carácter formativo da avaliação em EVT,
com rejeição de uma dimensão selectiva na avaliação. Assim, é considerado pelos
respondentes que “A avaliação na disciplina de EVT respeita os ritmos de aprendizagem
diferenciados dos alunos” e que “A avaliação em EVT baseia-se na detecção de
dificuldades de aprendizagem do aluno e no desenvolvimento de estratégias para a sua
superação”. No entanto, a divergência nas respostas já é muito acentuada quando se
confrontam os inquiridos com a afirmação “A avaliação formativa é a principal
modalidade utilizada pelos professores da disciplina de EVT”. Uma análise mais
139
profunda destes dados revela que existem diferenças estatisticamente significativas em
algumas respostas quando se comparam os resultados dos professores de EVT ou de
Artes e Tecnologias com os restantes professores, sendo amplamente os professores de
EVT que mais consideram que a avaliação em EVT é baseada na detecção de
dificuldades dos alunos e no desenvolvimento de estratégias para a sua superação.
Também se verifica que são amplamente os professores de EVT que mais
consideram que a avaliação na sua disciplina respeita os ritmos de aprendizagem
diferenciados dos alunos. Uma análise semelhante demonstra que são os professores de
EVT que mais rejeitam o carácter selectivo da sua avaliação.
Verifica-se ainda que os inquiridos consideram que “Os professores da
disciplina de EVT na avaliação dão ênfase aos produtos (trabalhos/exercícios)
realizados pelos alunos”, embora os professores de EVT não sejam tão concordantes
com essa afirmação como os “restantes professores”, revelando assim não dar apenas
ênfase aos produtos realizados pelos alunos mas considerando também o processo de
obtenção desses produtos.
Os resultados demonstram uma rejeição da afirmação de que “A avaliação na
disciplina de EVT baseia-se na participação dos alunos em actividades de solidariedade
social”. Naturalmente que a avaliação em EVT não se limita a esse tipo de actividades,
uma vez que os campos de actuação da disciplina extravasa essa dimensão, incidindo na
Comunidade, no Equipamento e no Ambiente. Estes três campos que orientam as
actividades possíveis em EVT são, como tal, muito abrangentes, ultrapassando a
vertente da solidariedade, embora não a rejeitando.
Por último, atente-se nas respostas à proposição “A avaliação na disciplina de
EVT baseia-se na participação dos alunos em trabalhos/projectos interculturais”. O
nível de concordância não é muito relevante. De facto, e pela mesma razão apontada na
análise anterior, a abrangência do programa não permite uma focalização única, neste
caso, nas questões da interculturalidade.
Uma problematização sobre as questões da avaliação em EVT e da sua relação
com as questões do poder e do prestígio social associado, conduz-nos a constatar que os
professores rejeitam a ideia de que a avaliação constitui uma relevante fonte de poder
dos professores, sendo os professores de “Artes e Tecnologias” em geral e de EVT em
particular quem mais a rejeita.
Registe-se aqui que, obviamente, a avaliação constitui uma das fontes de poder
mais relevantes do professor (Afonso, 1991). Apesar dos resultados demonstrarem uma
140
certa defesa pelos docentes da independência entre dispositivo de avaliação e poder,
parece decorrer desses mesmo resultados que os professores Artes e Tecnologias e de
EVT experienciam um exercício de poder inferior aos restantes professores, quando se
pensa no poder que decorre da avaliação. Assim sendo, a justificação para tal facto
poderá estar no reduzido prestígio social que é normalmente atribuído a disciplinas de
natureza mais prática. Os pais, mesmo que involuntariamente, passam a mensagem de
forma mais ou menos subtil para os seus educandos de que é necessário ter bom
aproveitamento nas disciplinas mais académicas. Daqui resulta uma menor “pressão”
dos encarregados de educação para a importância de um bom desempenho em EVT.
Neste caso, o poder de recompensa do professor que se traduz na avaliação dos alunos
não será tão importante como no caso de disciplinas socialmente mais valorizadas. Esta
constatação sobre as atitudes dos pais no que se refere à avaliação, não resulta dos
resultados dos questionários, mas pela nossa observação da realidade e do contacto com
os pais e encarregados de educação, na qualidade de directora de turma.
Os inquiridos dão respostas muito divergentes quando se questiona se “Os
resultados da avaliação na disciplina de EVT são fundamentais para uma trajectória
escolar de sucesso dos alunos”, o que parece reforçar a ideia anterior no que se refere ao
estatuto socialmente desvalorizado da disciplina. Esta perspectiva será partilhada, não
apenas pelos pais, mas também pelos professores. De facto, os professores de EVT são
bem mais optimistas que os restantes professores relativamente ao papel formativo da
sua disciplina. No entanto, esperar-se-ia uma concordância mais acentuada dos
professores de EVT com esta proposição.
Relativamente à ideia de que “Os resultados da avaliação na disciplina de EVT
têm um peso importante na passagem de ano dos alunos” a concordância é reduzida.
Também a rejeição da afirmação “O êxito escolar dos alunos é fortemente influenciado
pelos resultados obtidos na disciplina de EVT” continua a confirmar a tese que temos
vindo a defender. Esta rejeição, embora menor que a dos “restantes professores”, é
também registada pelos professores de EVT.
Os inquiridos da nossa amostra rejeitam, pelo menos no discurso, uma visão
academicista do currículo valorizando outras capacidades para além das que são
atribuídas geralmente a disciplinas mais académicas.
Em jeito de síntese final e tendo em linha de conta a(s) pergunta(s) de partida e
os objectivos desta investigação, enfatizamos o relativo desconhecimento dos
professores do 2º e 3º ciclos das várias práticas (modalidades/funções) de avaliação das
141
aprendizagens dos alunos na disciplina de Educação Visual e Tecnológica. Esta
realidade reitera a existência de uma certa lógica de capela no modo de funcionamento
da escola básica 2/3 actual. O que o professor conhece limita-se ao seu departamento
curricular de pertença e principalmente ao grupo disciplinar de pertença. O que
extravasa as paredes dessa capelinha não é relevante.
Também se pode concluir por uma certa manutenção de estatuto diferenciado
das diferentes disciplinas, como tal, pela existência de uma hierarquização disciplinar
implícita. As ambiguidades verificadas nas respostas a certas questões e o facto dos
docentes de EVT experienciarem um exercício de poder inferior aos restantes
professores, quando se pensa no poder que decorre da avaliação, apoiam esta afirmação.
Reforçam igualmente esta afirmação o reduzido número de professores que são
directores de turma. De facto, um professor que não é normalmente director de turma
não será um verdadeiro professor no sentido total da palavra. Mas igualmente a
verificação do carácter algo subjectivo da avaliação, por exemplo em EVT, e as
ambiguidades nas respostas sobre a afirmação de que “Os resultados da avaliação na
disciplina de EVT são fundamentais para uma trajectória escolar de sucesso dos alunos“
parecem contribuir para a diferenciação de estatuto das disciplinas.
Concluímos também pela exigência acrescida que a reorganização curricular
trouxe ao director de turma, mediante o aumento das exigências específicas do cargo e a
responsabilidade da “leccionação” da Formação Cívica e, em muitos casos, de mais uma
área curricular não disciplinar. Naturalmente que, numa escola em que um conjunto de
professores têm tarefas acrescidas e exigentes, outros há em que a sua dedicação à
escola e à profissão é do tipo fluído ou de part-time. Pode afirmar-se que os primeiros
são quase escravos dos segundos, uma vez que abarcam as tarefas mais exigentes,
tomam as decisões mais difíceis e com maior visibilidade (por exemplo, maior
responsabilidade no esboço e concretização do Projecto Curricular de Turma) e estão
entrincheirados entre duas lógicas distintas – a dos professores (corporativa) e a dos
pais/encarregados de educação.
Defendemos e/ou confirmamos assim nesta dissertação três teses ou ideias-
chave: a lógica de capela, a hierarquização disciplinar implícita e o director de turma
como escravoprofessor.
Como limitações deste estudo, e que poderá ser comum a outras investigações
que utilizem quase exclusivamente a técnica do inquérito por questionário, são as
dificuldades em aceder em profundidade às racionalidades dos actores sobre as suas
142
concepções e práticas concretas. Na verdade, esta investigação poderia ser
complementada com a aplicação de entrevistas a alguns actores das escolas, por
exemplo, os coordenadores de departamento curricular, que podendo ser considerados
como “informantes privilegiados”, nos ajudariam a enriquecer esta pesquisa.
Concluindo de uma forma muito clássica, a presente investigação não esgota
todas as possibilidades de pesquisa em função desta problemática. Outras serão
possíveis aplicando, eventualmente, o mesmo modelo noutro contexto, ou aprofundando
a análise através do recurso à triangulação de informação obtida por outras técnicas de
recolha e análise de dados.
143
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156
LEGISLAÇÃO CONSULTADA
157
ANEXO
158
ANEXO 1 - Inquérito por questionário
Caro(a) colega:
Este inquérito tem como objectivo recolher dados para um estudo sobre a
Avaliação dos alunos em geral e na disciplina de Educação Visual e Tecnológica em
particular, de modo a investigar as respectivas representações dos professores no âmbito
de uma dissertação de Mestrado em Educação - Desenvolvimento Curricular, na
Universidade do Minho.
A investigação que pretendemos desenvolver envolve os professores do 2º e 3º
ciclos do ensino básico do concelho de Braga.
Solicitamos que responda ao questionário em anexo, o que desde já
agradecemos. Os dados recolhidos serão objecto de tratamento estatístico,
salvaguardando-se a sua confidencialidade.
No caso de estar interessado(a) em conhecer os resultados desta investigação,
teremos todo o prazer em facultar-lhes, logo que conhecidos.
Preencha, sempre que possível, com um X.
1.1 Sexo
Masculino Feminino
1.2 Idade
159
1.5 Tempo de Serviço
Menos de 5 De 5 a 10 De 11 a 15 De 16 a 20 De 21 a 25 Mais de 25
anos anos anos anos anos anos
Indique a sua opinião acerca das afirmações que se seguem (marque apenas um X em
cada linha).
160
7. A avaliação na disciplina de EVT baseia-se na
detecção de dificuldades de aprendizagem do aluno e
no desenvolvimento de estratégias para a sua
superação.
8. A avaliação na disciplina de EVT respeita os ritmos
de aprendizagem diferenciados dos alunos.
9. Uma avaliação que se quer objectiva privilegia
a utilização de testes escritos em todas as disciplinas.
Discordo Discordo Não concordo Concordo Concordo
totalmente nem discordo totalmente
10. A avaliação formativa é a principal modalidade
utilizada pelos professores da disciplina de EVT.
11. Os resultados da avaliação na disciplina de EVT
são fundamentais para o sucesso escolar dos alunos.
12. A avaliação na disciplina de EVT é menos
objectiva do que nas disciplinas das ciências ditas
exactas.
13. Avaliar é essencialmente classificar.
14. O poder do professor é tanto maior quanto mais
selectiva for a avaliação.
15. Os critérios de avaliação na disciplina de EVT
revelam uma forte componente objectiva.
16. O interesse, a participação e a cooperação no grupo
são importantes factores a considerar na avaliação dos
alunos na disciplina de EVT.
17. Os resultados da avaliação na disciplina de EVT
têm um peso importante na passagem de ano dos alunos.
18. Os instrumentos tradicionais de avaliação (testes
sumativos) também devem ser utilizados na
disciplina de EVT.
19. Os resultados da avaliação na disciplina de EVT são
fundamentais para um futuro de sucesso dos alunos ao
nível pessoal e profissional.
20. O êxito escolar dos alunos depende
fundamentalmente dos resultados obtidos nas disciplinas
mais valorizadas socialmente (Matemática, Língua
Portuguesa, Línguas Estrangeiras…).
21. As atitudes dos alunos são irrelevantes para a sua
avaliação.
22. A avaliação na disciplina de EVT baseia-se na
participação dos alunos em actividades de solidariedade
social.
23. Os professores da disciplina de EVT na avaliação
dão ênfase aos produtos (trabalhos/exercícios)
realizados pelos alunos.
24. As capacidades nos domínios da escrita, das línguas
e da matemática são mais importantes do que as
relacionadas com o domínio da expressão plástica e das
tecnologias.
25. Avaliar capacidades expressivas como a invenção e
a criatividade é tão importante como avaliar o
raciocínio matemático e/ou o domínio da escrita e das
línguas.
26. A avaliação na disciplina de EVT tem como
finalidade comparar o desempenho dos alunos da
161
turma.
27. O poder dos professores da disciplina de EVT na
escola, depende do dispositivo de avaliação utilizado.
28. O êxito escolar dos alunos é fortemente
influenciado pelos resultados obtidos na disciplina de
EVT.
29. A avaliação informal, pela observação directa
do aluno, é o melhor método de avaliação na
disciplina de EVT.
Discordo Discordo Não concordo Concordo Concordo
totalmente nem discordo totalmente
30. Os resultados da avaliação na disciplina de EVT são
fundamentais para uma trajectória escolar de sucesso dos
alunos.
31. A subjectividade é uma das características
inerente ao processo de avaliação dos alunos na
disciplina de EVT.
32. O dispositivo de avaliação na disciplina de EVT
deveria diversificar-se quanto a instrumentos e técnicas
de avaliação.
33. A avaliação na disciplina de EVT baseia-se na
participação dos alunos em trabalhos/projectos
interculturais.
162