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CFTPPC CURSO DE FORMAÇÃO EM TEORIA PSICANALÍTICA E


PSICANÁLISE CLÍNICA
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FREUD E O DESENVOLVIMENTO DA SEXUALIDADE:


AS ETAPAS DA LIBIDO

REJANE RODRIGUES DE CAMPOS12

2014

O DESENVOLVIMENTO DA SEXUALIDADE EM FREUD

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Psicanalista. Didata, Supervisora. Pedagoga. Psicologia da Educação. Psicologia e Saúde Mental,
Especialista em Transtornos do Desenvolvimento da Infância e da Adolescência – Uma abordagem
interdisciplinar; Especialista em Educação.
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Direito Intelectual - Lei n.º 9.610/98
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AS ETAPAS DA LIBIDO

1. A TEORIA, UMA INTRODUÇÃO

“É um erro acreditar que a ciência consiste apenas em proposições


definitivamente provadas, e é injusto exigir que assim seja. Tal exigência é feita
somente por aqueles que anelam mais do que tudo pela Autoridade substituir seu
catecismo religioso por outro, ainda que de caráter científico”.
Conferências de Introdução à Psicanálise, III.

O fato de uma teoria científica emergir a partir de uma série de acontecimentos


observados empiricamente implica num conjunto de conceitos que não são retirados da
simples observação, mas de construções teóricas, ou se preferirmos, ficções teóricas, que
permitem uma inteligibilidade distinta daquela descrição empírica. Esses conceitos não
descrevem o real, eles produzem o real, permitindo uma descrição segundo um tipo de
articulação que não pode ser retirada desse próprio real enquanto “dado”.
Freud ao se referir aos fenômenos observáveis relativos à vida sexual, se apoiou em
dados passíveis de comprovação empírica. Para o autor a sexualidade não é a libido. Mas, ao
dizer “libido”, ele associa esse mesmo conjunto de fatos empíricos a uma suposta energia
psíquica: a energia das pulsões sexuais. A libido para Freud, não corresponde a um conceito a
partir de “uma referência empírica objetiva, mas sim constitui uma especulação teórica, de
valor apenas heurístico”, segundo Fulgencio (2002), ou seja, “útil para explicar determinados
fatos psíquicos”.
Ao pressupor a existência de forças psíquicas (pulsões) em conflito, Freud considera
como sendo aquilo que se deve responsabilizar como a causa psíquica originária dos
fenômenos psíquicos. E acrescenta que existe uma dimensão quantitativa das pulsões ao
afirmar que “Nós representamos [a pulsão] como um certo montante de energia que
impulsiona numa direção determinada” (FREUD, apud FULGENCIO, 2002). Ao introduzir a
teoria da “pulsão de morte” (1920) a “libido” começou a aparecer como a energia própria de
“Eros”, ou seja, a pulsão de vida. Em 1921, Freud ao reafirmar sua concepção, em termos
genéricos, referente à libido, refere-se a “todas as pulsões responsáveis por tudo o que
compreendemos sob o nome de amor”. Assim, há que se considerar uma dependência entre a
“teoria das pulsões” e a “teoria das energias psíquicas”, considerando a afirmação de Freud
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que a "Libido é um termo vindo da doutrina das pulsões”, e observa que a dinâmica da
sexualidade corresponde ao aspecto quantitativo que se agrega ao ponto de vista dinâmico —
ainda que a libido seja uma energia impossível de ser mensurada —, associando às pulsões.
Freud foi o primeiro a clarificar a importância que tem para a nossa vida e
desenvolvimento psíquico, a relação com outras pessoas. As primeiras relações, que a
princípio e na maioria das vezes se restringem à mãe, se estendem aos demais: o pai, os
irmãos, os avós e os tios, para mais tarde surgir a relação com outras pessoas.
Nos estágios iniciais da vida, a criança tem uma atitude egocêntrica, no
desenvolvimento de suas relações de objeto (pessoas e coisas). As relações inadequadas e
insatisfatórias com estes podem impedir o desenvolvimento das funções do ego, e assim
provavelmente, estará preparando terreno para graves dificuldades psicológicas na vida
adulta. Freud (1923) atribui um papel fundamental à representação do corpo no psiquismo,
numa estrutura entre soma e psique, ao afirmar que o “ego, antes de tudo, é corporal”. Ao
propor a concepção de “zonas erógenas” ele afirma que as partes do corpo possuem uma
“carga afetiva” com uma significação relacional e particular diferente em função do
desenvolvimento do ser humano.
Em uma das fases do desenvolvimento da libido, a criança inicia relações objetais que
se convertem em relações as mais intensas e decisivas de sua vida. A partir de então, os
desejos e as pulsões mais ativas e impetuosas que a criança experimenta são impulsos
fálicos. A “relação de objeto” designa um modo de relação do bebê com seu mundo, resultado
originário de uma determinada organização da personalidade e apreensão fantasística dos
objetos (LAPLANCHE & PONTALLIS, 1998). Essas relações de objetos se agrupam sob o
Complexo de Édipo, e são da maior importância para o desenvolvimento mental normal,
quanto patológico.
Segundo Freud, a criança precisa ter suas “necessidades básicas de satisfação”
atendidas pela mãe ou pessoa que cuida da mesma. Para que esta tenha um
desenvolvimento adequado é preciso ter um “olhar” focado, a fim de promover, reforçar e
auxiliar a criança para que tenha uma percepção adequada de si mesma, inicialmente
através do olhar da mãe, compreendendo suas possibilidades e limitações reais e ao
mesmo tempo, auxiliá-la a se expressar corporalmente com maior liberdade, conquistando
e aperfeiçoando novas competências motoras para que possa ir desenvolvendo seu
psiquismo. O autor situa o “desejo” de receber um bebê como o desejo da maternidade
como condição da feminilidade e do homem como o detentor do poder fálico. Assim,
inversamente a maternidade implica uma retomada da própria mulher em relação à sua
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filiação e à sua feminilidade e ao homem em relação à sua filiação e masculinidade e


virilidade.
A temática edipiana é reconhecidamente universal e desempenha papel fundamental
na estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano, conflito gerado de forma
diferenciada em ambos os sexos, o qual é resolvido sob a pressão da realidade. A criança, em
seu desenvolvimento sente um conjunto organizado de desejos amorosos e hostis em relação
ao casal parental. O Complexo de Édipo, para Freud, tem seu apogeu em torno de três a cinco
anos, durante a fase fálica, quando o seu declínio marca a passagem para o período de
latência. As sequelas desse conflito permanecem em estado inconsciente no id.
O desenvolvimento da criança tem em seu primeiro período uma floração precoce da
sexualidade infantil para posteriormente ser substituído pelo período da latência, durante o
qual os impulsos eróticos se colocam a serviço do desenvolvimento cultural. Posteriormente,
surge a maturação do desenvolvimento da sexualidade, um período de transformação,
portanto de crises, especialmente no que se refere à construção de um sentimento de
identidade. Na puberdade com a maturação fisiológica do aparelho sexual acompanhado por
inquietações emocionais, ansiedade e atitudes hostis em relação às pulsões. Nesse período, a
maturação caminha para atingir a primazia genital, e as escolhas objetais permitirão uma
vivência plena na medida em que cada um conseguiu enfrentar, em boas condições, a sua
sexualidade até chegar à maturidade.
A originalidade de Freud não foi a descoberta da sexualidade sob a neurose, através
da clínica com seus pacientes, mas ter descoberto o inconsciente. Ele mostrou que o
psiquismo não é redutível ao consciente e que certos “conteúdos” só se tornam acessíveis à
consciência depois de superadas certas resistências. Afirma o autor que, a vida psíquica é
“cheia de pensamentos eficientes, embora inconscientes”, e era destes que “emanavam os
sintomas”. Os conteúdos do inconsciente foram denominados de “representantes da pulsão”,
considerando que efetivamente a pulsão, na fronteira entre o somático e o psíquico, está
aquém da oposição entre o consciente e o inconsciente.
A sexualidade está, em sua origem, na intersecção do somático e do psíquico. Ela
continua tendencialmente relegada ao comportamento sexual, seja no adulto, seja em suas
formas de comportamento infantil. O sexo não pode ser entendido e tratado pelo senso
comum, ou em seu sentido estrito, como algo situado na esfera da genitalidade. O próprio
comportamento sexual para se realizar necessita organização psíquica, sem esta, não surge o
prazer. A libido fora conceituada como energia do instinto de vida, abrangendo os instintos
sexuais e os de autopreservação. Não há como tratar a sexualidade pelo senso comum.
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Freud, a partir da definição da estrutura do sonho, conclui sobre a estrutura que


preside a construção do conjunto do psiquismo, estrutura essa que se organiza a partir de uma
síntese de conflitos que são regidos pela sexualidade. Na infância, a criança manifesta
fantasias que correspondem a desejos intensos, os quais se transformam em fantasias
sexuais com força suficiente para se transformarem em frustrações geradoras de
consequências posteriores. Freud concebeu que a origem da ansiedade remonta ao medo de
“perda do objeto” e medo da “perda do amor desse objeto”. As fantasias sexuais infantis
adquirem força como um objeto sexual de desejo ardente na fase fálica, pois é nesta fase que
as estruturas psíquicas se organizam face aos intensos conflitos pelos quais passa a criança.
A criança percebe, ao preço da angústia, a diferença entre os sexos até então vivida na ilusão
da onipotência.
O componente sexual do instinto de vida chega ao seu desenvolvimento máximo,
na puberdade, onde os desejos são definitivamente sexuais, com força própria da natureza
de uma necessidade instintual. E é nesta que o conflito psíquico chega, com toda a sua
extensão, onde as fantasias sexuais adquirem a força de um desejo autêntico.

2. A SEXUALIDADE DE QUE FREUD FALA

Ao defender a tese da existência de uma sexualidade infantil possuidora de


regulamentos e características próprios, Freud desmistifica a crença de que as crianças
eram desprovidas de sexualidade, viviam de maneira inocente, distanciadas de qualquer
ideia, sentimento ou afeto que implicasse num cunho sexual. O mundo infantil passava pelo
interdito de qualquer tipo de fantasia ou prazer sexual.
A sexualidade não designa apenas as atividades e o prazer que decorrem e
dependem do funcionamento do aparelho genital, mas também decorrente de toda uma
serie de excitações e de atividades presentes desde a remota infância do bebê, que
proporcionam uma satisfação de alguma necessidade fisiológica fundamental, desde o ato
da alimentação, da excreção, etc., portanto o sexual não se reduz ao genital.
A descoberta do inconsciente e da relevância da sexualidade na constituição do
psiquismo compõe e formam as bases das elaborações psicanalíticas. Num cenário de
incredulidade, Freud publica “Três Ensaios sobre a teoria da Sexualidade” (1905),
revolucionando a compreensão dos fenômenos sexuais e produzindo mudanças radicais
na concepção da sexualidade humana. Freud parte da biologia e situa o “Ser Humano”
entre os animais, designando um “desvio biologizante”. Introduziu e trabalhou um dos
conceitos fundamentais em Psicanálise – a pulsão, entendido como uma carga energética,
pressão ou força que faz o organismo tender para um objetivo. O ser humano é um animal,
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afirma ele, um animal particular, complicado, mas animal. O homem fala, possui uma
linguagem articulada, mas não deixa de ser um animal.
O ser humano nasce, sofre e morre. Nada é vivido em sua psique que não tenha
enraizado no corpo. Como todo o animal, o ser humano é “empurrado” por forças
impessoais, as quais Freud chama de Instinto. No referido artigo, “Os Três Ensaios sobre
a Teoria da Sexualidade” o autor introduz o conceito de pulsão para diferenciar a
sexualidade humana – pulsional – da sexualidade dos animais – instintual. A pulsão
admite variações em relação ao objeto, como também ao objetivo sexual, ao contrário da
fixidez do instinto. Neste mesmo escrito ele expõe as variações das formas da
sexualidade infantil e apresenta a matriz da teoria da libido, bem como estuda a
puberdade, numa passagem da sexualidade infantil à sexualidade adulta.
A concepção inovadora de Freud sobre a sexualidade, tal como a experiência
analítica o conduziu a elaborar, emergiu progressivamente da noção comum e dominante
de sua época – segundo a qual a sexualidade seria um comportamento regido pelo
instinto destinado à união dos órgãos genitais de dois parceiros de sexo oposto com fins
de reprodução da espécie – para uma ideia mais extensa e abrangente, de sexualidade
regida pela pulsão, considerando que esta não é reduzida à genitalidade, pois as zonas
genitais não são as únicas zonas erógenas, bem como a reprodução da espécie não é a
única finalidade do exercício da sexualidade, segundo Millot (1986), considerando as
variáveis, os objetivos e objetos da pulsão.
A formação da personalidade decorre do desenvolvimento da sexualidade desde o
nascimento. A função sexual surge ao nascer, talvez antes já na vida fetal e a função
procriadora, quando da maturação dos órgãos sexuais. Portanto a necessidade sexual
não se afirma apenas pela união sexual entre dois sexos. O conceito de sexualidade é
muito mais amplo do que comumente é admitido, considerando seus componentes
psicológicos e fisiológicos ao que se poderia dizer o desenvolvimento da psico-
sexualidade.
Para Freud há uma diferença entre as teorias sexuais da infância e as fantasias
constitutivas do inconsciente propriamente dito, do complexo de Édipo e da Castração.
Não é possível entender tanto uma quanto a outra teoria, sem a integração das mesmas
com a paulatina e progressiva formação do aparelho psíquico relativamente às fases
prévias. Em Freud, o enlace das representações no aparelho psíquico surge de
complexidades progressivas, assim, uma maneira pela qual a memória e o pensamento
se estruturam não significa que a forma anterior seja abolida.
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Em Psicanálise o termo “objeto”, quer encontre-se sozinho, quer em numerosas


expressões, tais como “amor de”, “escolha de”, “relação de”, e outras tantas, tem sua
origem na concepção freudiana de “pulsão”. Na obra de Freud, termo “pulsão” foi usado
para traduzir o seu equivalente alemão “trieb”, cujo significado enfatiza mais a impulsão,
ou o ato de impelir de forma irreprimível, do que uma finalidade definida com objetivo e
objetos fixos. O conceito de pulsão, nesse aspecto, mostra-se como uma maneira de
contrapor a noção de instinto ao se tratar da sexualidade humana, visto que carrega em
seu significado a designação e um comportamento hereditariamente fixado, característico
de uma espécie (objetos e objetivos fixos e pré-determinados, correspondendo a uma
finalidade) variando pouco de um indivíduo para outro (LAPAPLANCHE & PONTALIS,
2001). Para Freud, ela nunca se dá por si mesma, nem a nível consciente tão pouco a
nível inconsciente. O objeto como tal não surge no mundo sensível. Deve ser sempre
entendida, a palavra, como um determinante explícito ou implícito. A pulsão só é
conhecida através de seus representantes: a ideia (Vorstellung) e o afeto (Affekt), sendo
além do mais, meio física e meio psíquica.
O verbete “trieb”, termo usado por Freud, do alemão, depreende diversos
aspectos: a ideia da pulsão como algo poderoso e energético; o seu caráter infindável e
absoluto; a questão da representação como sendo algo perceptível à consciência; e ainda,
termo empregado como algo que abarca um arco que parte do absoluto e grandioso,
passa pela espécie e chega ao indivíduo específico. Assim pode ser entendido como “um
princípio geral do ser vivo” cuja força que se coloca biologicamente conduz à ação, com
manifestações somáticas de estímulos e sensações para o sujeito, fazendo-se representar
ao nível interno e íntimo, como se fora sua vontade ou um imperativo pessoal. Todavia,
mesmo a pulsão sendo imperativo o sujeito pode “enfrentar”, "dominar", “refrear” as
reivindicações dos “Triebs”. Contudo, “Trieb”, possui significado distinto de “Instinkt”,
existindo ambos os termos em língua alemã, e empregados por Freud, mas no uso do
primeiro, deixa bem claro que ele pretende muito mais acentuar a diferença entre ambos e
qualificá-los. O “Instinkt”, traduzido “instinto”, designa um objeto específico e inerente ao
conceito e este contém a ideia de que representa um modelo herdado e imutável, e
naquele transforma-se, evidentemente em finalidade e objeto sob as influências que
derivam do ambiente. Para Freud, instinto é “um conceito entre o mental e o físico”, sendo
exatamente a variação quanto a objetivo e objeto que se vai constituir num dos pontos
centrais da teoria pulsional.
Freud, ao analisar a noção de pulsão, distingue objeto e meta: o “objeto sexual”
aponta para a pessoa que exerce a atração sexual; a “meta” indica a ação a que a pulsão
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impele, em relação ao objeto sexual. O objeto é o elemento mais variável da pulsão,


colocando-se em função da sua aptidão de permitir a satisfação, constitui o instrumento de
satisfação de um instinto. O objeto pulsional, muitas vezes bastante marcado por
características singulares, é determinado principalmente pela história infantil de cada um.
O objeto que vais permitir a satisfação sexual não é dado com o instinto. O instinto incita
buscar o objeto e o bebê o encontra em sua mãe ou pessoa que dá os cuidados
necessários para satisfazer a necessidade do mesmo. No seio da mãe o lactante vive uma
experiência em que são satisfeitos ao mesmo tempo o instinto alimentar, pulsão de
autopreservação, e o instinto sexual, pulsão de vida.
A libido está inteiramente orientada para a satisfação, para a dissolução da tensão.
Para tanto, segue os caminhos mais curtos segundo as modalidades apropriadas a cada
zona erógena. A concepção freudiana do objeto pulsional, em “Três Ensaios Sobre a
Teoria da Sexualidade” a partir da análise das pulsões sexuais, mostra que estas
funcionam apoiando-se nas pulsões de auto conservação, o que significa que as últimas
indicam o caminho do objeto. Portanto, originalmente, o objeto não está ligado à pulsão é
a pulsão que se desloca de um objeto para outro, durante o seu destino, não devendo ser
confundido como objeto de uma necessidade.
Em geral, Freud utiliza o substantivo “Anlechnung” e o verbo “Shic anlehnen” em
conexão com o processo de escolha objetal. Os termos isoladamente, ou aparecendo em
forma composta têm acepção aproximada, significando: “tipo de escolha objetal apoiado
em”. Frequentemente o autor descreve a “escolha de objeto” como um processo de tentar
encontrar a rota que conduz a um objeto. A “relação de objeto” em psicanálise é entendida
como o modo de relação do sujeito com o seu mundo, resultante da complexidade e
totalidade de uma determinada organização da personalidade, de uma apreensão mais ou
menos fantasística dos objetos e de certos tipos privilegiados de defesas.
Todas as proposições referentes ao relacionamento com o ambiente, objetos de
amor e ódio, relações com a sociedade, etc., baseiam-se na hipótese de adaptação, ou
seja, relacionadas com a coordenação entre impulso e desejo. A não satisfação pulsional
gera conflitos entre o “princípio do prazer” (satisfação imediata) e o “princípio da realidade”
(postergar a satisfação).
O bebê depende fisicamente da pessoa – função da mãe (ou cuidadora) cujos
cuidados o mantém vivo, antes que se estabeleça este “primeiro objeto”. Os primeiros
estados de representação objetal, devem originar-se da fome, aparecendo nos primórdios
mais distintos, ou seja, antes das funções ulteriores do ego: a apreensão, pela criança, de
que algo há de ser feito pelo exterior de modo a aliviar os estímulos que conduz ao
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primeiro desejo de objetos. Pela ocorrência de estímulos táteis externos e estímulos


sensoriais internos, o corpo do sujeito se transforma em alguma coisa distinta do resto do
mundo, donde é possibilitado o discernimento entre “self” e não “self”. A soma de
representações mentais do corpo e dos órgãos deste, ou seja, a imagem corporal constitui
a ideia do “eu” e tem importância básica na formação ulterior do ego.
O primeiro “objeto” de amor e de ódio de todo o indivíduo é a mãe, ou a pessoa
que desempenha as funções maternas. Esse objeto é, ao mesmo tempo, desejado e
odiado com toda a intensidade e vigor, pois caracterizam as necessidades iniciais do
bebê, considerando que no princípio não existe imagens de objetos e a ideia de “mãe”, por
certo não está presente. O processo de formação de imagens de objetos se realiza de
forma muito gradativa, porém, o bebê ama a mãe no momento em que ela satisfaz suas
necessidades de alimento, e lhe oferece o prazer sensual que experimenta quando sua
boca é estimulada pelo sugar do seio. Essa gratificação é parte essencial da sexualidade
da criança, e na realidade, sua expressão inicial. No entanto, quando seus desejos não
são gratificados, ou quando sente desconforto físico, ou mesmo dor, sentimentos
agressivos e ódio são despertados, e o bebê se vê dominado por impulsos de destruir a
pessoa, esse objeto de todos os seus desejos, que na sua mente está ligado a tudo o que
ele experimenta.
Entre os objetos mais importantes da infância da criança ao longo dos seus
primeiros meses de desenvolvimento estão: o “seio materno”, a voz, o olhar materno, as
partes do próprio corpo do bebê, seus dedos, artelhos e a boca, estes todos
extremamente importantes como fonte de gratificação. Os representantes psíquicos
dessas partes do corpo da criança são altamente catexizados pela libido. A este estado
de libido autodirigida Freud (1914) denominou de narcisismo, segundo a lenda grega do
jovem Narciso que se enamorou de “si mesmo”. Nessa época, Freud faz do narcisismo
uma forma de investimento pulsional necessário à vida subjetiva, ou seja, um dado
estrutural do sujeito.
Freud denominou “narcisismo” o que essencialmente remete ao “amor de si
mesmo”, tendo como primeiro modo de satisfação da libido o auto-erotisno, ou seja, o
prazer de órgão de si mesmo. As pulsões de forma independente, cada qual por si
procuram satisfação no próprio corpo, pois nesse momento do bebê, ainda não existe uma
unidade comparável ao “eu”, como também não há uma real diferenciação do mundo. O
autor se inclina a utilizar o termo como um conceito energético para explicar o destino das
energias libidinais, bem como vários fenômenos, como o “auto amor sem limites das
crianças” e a escolha objetal homossexual, para mais tarde postular o narcisismo como
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um estado evolutivo situado entre o autoerotismo e o amor objetal. No narcisismo o sujeito


toma seu próprio corpo como sendo ao mesmo tempo fonte e objeto da libido sexual.
Assim fica caracterizado o narcisismo primário como sendo - uma etapa evolutiva que se
superpõe ao autoerotismo, tendo como protótipo a vida intrauterina.
No desenvolvimento do bebê, ao narcisismo primário, segue-se o narcisismo
secundário, num primeiro momento onde o investimento da libido é nos objetos, para num
segundo momento, esse investimento retorna para o seu ego. Quando o bebê já é capaz
de diferençar seu próprio corpo do mundo externo, ele identifica suas necessidades, bem
como que ou o que a satisfaz. Com o passar do tempo a criança vai percebendo que ela
não é o único desejo da mãe e que não é tudo para ela, e assim “sua majestade o bebê”
começa a ser destronado. Essa é a ferida infligida no narcisismo primário da criança, e
assim, a partir daí o objetivo desta é fazer-se amar pelo outro, segundo Nasio (1988), é
agradá-lo para conquistar o seu amor. O narcisismo secundário alude a uma espécie de
refluxo da energia pulsional a qual depois de ter investido e ocupado os objetos externos,
sofre um desinvestimento libidinal, retornando ao seu lugar original, o próprio ego.
Os termos “cathexis” ou “catexia” foram empregados por Freud para conceituar a
energia mental capaz de aumento, diminuição, deslocamento e descarga que pode se
espalhar sobre os traços mnêmicos das ideias, comparando com a energia elétrica que se
espalha pela superfície do corpo, metáfora que utiliza para dizer de uma concepção
quantitativa, não de uma força real, mas de uma representação para a intensidade relativa
das atividades mentais inconscientes. Portanto, a “cathexis” como investimento de energia
psíquica significa interesse, atenção ou investimento emocional, enquanto que “cathexis”
como investimento libidinal (catexia libidinal) específica tem por interesses eróticos uma
pessoa ou a artigos específicos para os quais dirigi a libido.
Mais tarde a criança tem a percepção real da “pessoa” e aprende a diferençar
essas impressões; aí é provável que a primeira diferenciação seja entre impressões “em
que confia” e impressões “estranhas”. Ela espera das fontes em que confiam as provisões
narcísicas, sendo que as partes “amadas” são da mãe, “partes em que confia” e assim
pouco a pouco, a mãe é reconhecida como um todo, e sente como “perigoso” o que é
“estranho”. Essa “união oral com a mãe” vem a ser do mesmo passo, objetivo das
necessidades eróticas indiferenciadas, como também objetivo das necessidades
narcísicas, maneira esta pela qual a mãe atinge possibilidade singular de exercer
influência. Antes que supere a atitude egoísta para com os objetos, com todos os traços
de ambivalência que se lhe associa, é frequente a criança estar apaixonada por si mesma
capaz de distinguir os objetos e amá-los enquanto lhes dê satisfação. Se não a derem, a
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criança “identifica-se” como objeto e ama-se a si mesma, em vez do objeto. Isto,


certamente ainda não é amor. Só se pode falar em amor quando a consideração do
objeto é tal que a satisfação própria não consegue sem que haja satisfação do objeto,
também.
A atitude da criança para com os objetos de que se torna cônscia, é por vezes
exclusivamente egocêntrica. A mãe a princípio desperta interesse do bebê, quando este
tem fome, ou dela necessita, para somente mais tarde, na primeira e última infância,
torna-se psicologicamente importante de maneira contínua e não mais ocasional. A
satisfação de desejos, pela mãe é um meio de aliviar o bebê de seus estados dolorosos
de fome, ódio, tensão e medo.

3. A ENERGIA PSÍQUICA

As atividades do aparelho psíquico, bem como todos os eventos mentais,


decorrem de uma energia psíquica quantificável hipoteticamente, segundo postula Freud.
Ele descreveu a energia psíquica como “algo (...) que se espalha sobre os traços
mnêmicos das ideias, um tanto como uma carga elétrica se espalha sobre a superfície de
um corpo” (1894 p 60). A esta carga de “energia psíquica” de uma representação mental,
ou de uma ideia, o autor denominou de “investimento”, querendo dizer que esta ideia ou
representação está “psico-energeticamente investida”, exprimindo assim o “quantum de
energia” é essa representação é envolta. O grau de investimento de uma ideia está preso
a esta, sendo isto que vai determinar o modo de pensamento, se do processo primário ou
do processo secundário. No ‘“processo primário”, o pensamento está investido de uma
energia móvel e que circula livremente em busca de uma descarga imediata, ou seja, não
neutralizada. O pensamento do “processo secundário” é caracterizado por uma energia
ligada e neutralizada, o que impede a descarga imediata.
A energia pulsional móvel é livre, é a própria energia do processo primário. Ela é
descarregada de forma rápida e direta de uma representação para outra, de um objeto
para outro. O processo secundário é caracterizado pela energia ligada que se forma
posteriormente a uma maneira livre, sendo o seu movimento para a descarga controlado e
retardado pelo ego. Isso caracteriza um nível mais estruturado do aparelho psíquico.
Ao descrever sua teoria sobre o funcionamento do aparelho psíquico, Freud postulou
alguns princípios básicos que regulam a maneira pela qual funciona a mente. Utilizou o
termo princípio do “prazer” para referir-se à ideia básica de que o objetivo de toda a
atividade psíquica é a busca de “prazer” para evitar o “desprazer”. A ideia repousa na
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concepção de que o aumento nos níveis de energia, ou seja, a tensão pulsional, é


desagradável, enquanto que a eliminação da mesma é agradável. Este princípio, por outro
lado, atua como regulador da necessidade de recriar, através da ação ou da fantasia,
qualquer ação que tenha proporcionado satisfação através da eliminação da “tensão
pulsional”. No funcionamento mental esse princípio atua também como regulador da
ansiedade sinalizadora ao ego, ante a percepção de um perigo interno ou externo, ativando
as várias funções da mente necessárias para lidar com esse perigo, e que gera
“desprazer”.
Ao definir “pulsão”, Freud afirma que é um conceito de algo que é o limite, ou
fronteira entre o somático e o psíquico, o que quer dizer que é algo em que o
representante psíquico dos estímulos que se originam no interior do organismo chega à
mente. Para o autor, em qualquer situação a meta da pulsão é a satisfação, que só pode
ser conseguida através da eliminação do estado de estimulação na fonte. A partir desse
conceito Freud propõe também que toda a pulsão implica a existência de quatro fatores
inerentes: uma fonte, uma força, uma finalidade e um objeto. Discriminando a
conceituação temos: - “Fonte” (Quelle) – provém da das excitações corporais ditadas pela
necessidade de sobrevivência; - “Força” (Drang) – aspecto quantitativo da energia
pulsional, representando o aspecto econômico do psiquismo, ou seja, o “quantum” de
excitação que tende à descarga; - “Finalidade” (Ziel) – descarga da excitação para
conseguir o retorno a um estado de equilíbrio psíquico (homeostase); - “Objeto” (Objeck) –
bastante variável e mutável com capacidade de satisfazer e apaziguar o estado de tensão
interna oriunda das excitações do corpo, ou no mínimo, sirva de descarga.
Outras características que acompanham as pulsões foram estabelecidas, nos
trabalhos de Freud: o deslocamento da pulsão de uma zona corporal para outra; o
intercâmbio entre as pulsões; a compulsão à repetição; e as transformações das pulsões.
Cada finalidade pulsional corresponde a um determinado objeto, como por exemplo, a
fome, cuja finalidade é sua satisfação, a busca do objeto constitui o alimento (objeto
variável de acordo com a escolha do que comer). Quando o objeto de investimento
pulsional é o próprio sujeito, já se fala em narcisismo. De inicio Freud postulou a
existência de duas pulsões – pulsões do ego (de autopreservação); e as pulsões sexuais
(de preservação da espécie), ás quais denominou de libido (desejo), todas as pulsões
responsáveis por aquilo que se entende por amor. A partir de 1920, quando publica “Além
do princípio do prazer” propõe uma nova dualidade: - pulsões de vida (Eros), abrangendo
as pulsões de auto conservação e pulsões sexuais e a libido passam a ser tratada como
“energia”; - pulsões de morte (Tânatos), abrangendo pulsões autodestrutivas, podendo
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voltar-se para o mundo externo e se transformar em pulsão destrutiva. Esta conceituação


foi conservada definitivamente na sua obra.
O bebê em seu desenvolvimento primitivo é considerado possuidor de um ego
insipiente e impotente em relação a seus próprios instintos e pulsões, bem como em
relação ao mundo externo, inicialmente a mãe. Nesse momento, a forma como este se
separa psicologicamente do mundo exterior, por engloba-lo todo ou em partes respectivas
dentro de si, faz com que se sinta onipotente (e de forma ilimitada) enquanto não existe a
concepção de objeto, para passar a ser limitada pela experiência de excitação que não
pode ser controlada e que conduz a movimentos incoordenados. A criança experimenta
uma serie de movimentos como uma “onipotência”, cuja separação do ego com o mundo
externo vai acontecendo num processo gradativo.
O bebê, no colo da mãe ao ser amamentado vive uma experiência onde são
satisfeitos a um só tempo o instinto de alimentar e o instinto sexual, na primeira mamada,
experiência inicial, que posteriormente passa a ser pulsional pelo prazer da satisfação
pela oralidade (boca) e o prazer da sução. Essa satisfação experimentada pela criança é
para Freud o protótipo da experiência amorosa ulterior. O lactente nutrido é segurado pela
mãe contra o seio, é acariciado, beijado, acalentado; toda essa ternura desempenha um
papel importante ao lado do despertar da sensualidade por todos os cuidados corporais,
desde a mamada no seio (ou mamadeira) até a excitação das partes genitais durante a
higienização.
Freud no texto “Segunda contribuição para a psicologia da vida amorosa” (1912)
aponta ao que ele chama de “rebaixamento da vida amorosa”, para a distinção entre duas
correntes na sexualidade: a corrente “terna” – desenvolvida pelos pais, pessoas que dão
cuidados, do convívio da familia, e que é transferida para professores na escola, ternura
esta que não esta isenta de erotismo e que se desvia de seus objetos sexuais na infância
pessoas; a corrente “sensual” – desenvolvida pela criança e se volta para outros objetos,
com aspirações sexuais a partir das fantasias edípicas direcionadas ao objeto de seu
desejo (um dos genitores), envolvendo a ternura e uma confluência de afetos.
A corrente terna é isenta de objetivo sexual, pois o erotismo se desvia deste na
infância. Assim, o sentimento de ternura proviria das aspirações sexuais incestuosas,
constituindo uma pulsão inibida quanto ao alvo, produto da ação do recalque , afirma Freud
(1921). Quando chega a puberdade, a corrente sensual não desconhece mais os objetivos
sexuais, chocando-se com a barreira do incesto – os pais, primeiros objetos de amora da
criança são proibidos como objetos de relações sexuais – a corrente sensual volta-se para
outros que os infantis, e ternura e a sensualidade são então reunidos. A sensualidade só
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pode se manifestar a pessoas rebaixadas, ou como aquela da infância. Toda criança


precisa de uma porção importante de ternura materna em especial. Quando não a recebe,
busca satisfações eróticas excessivas: masturbação publica intensa e frequente;
autoerotismos diversos; condutas eróticas em relação à mãe (roçar-se na mãe e forma
quase de êxtase, ou nos cabelos); desenvolver condutas fetichistas. Na fase adulta se
reflete nas condutas sexuais: um homem é todo poderoso com prostitutas e impotente com
a esposa a quem estima como estimou apropria mãe; a frigidez da mulher pode ter essa
mesma ocorrência; ou seja as formas de dissociação entre a ternura e a sensualidade.
Freud falou do apego associando-o à ternura, ao mesmo tempo em que insistiu na
ambivalência de todo o apego, em que: Eros sempre se mistura Tânatos; à ternura se
mistura a hostilidade; ao amor se mistura o ódio; pois o equilíbrio entre os dois movimentos
é sempre frágil, sempre está para ser conquistado. A teoria freudiana do amor inclui o
ingrediente da ternura, responsável pela persistência do sentimento amoroso, além da
simples atração sensual. Em “Psicologia do grupo e análise do ego”, Freud (1921)
considera que o estar apaixonado é resultado da confluência do amor sensual e da ternura,
e que graças à contribuição da corrente terna é possível medir o grau de apaixonamento.
A libido não esta dirigida apenas para o objeto exterior, mas também para o eu,
afirma Freud (1912), a própria pessoa, ou ao ego. Em seu artigo “O narcisismo: uma
introdução” (1914), ele par te para uma reflexão a libido do eu, um investimento libidinal de
si mesmo desde a origem da vida – o amor de si mesmo -, e de um investimento libidinal
voltado para o outro – o amor do outro. O narcisismo primário normal não está presente
simplesmente porque o bebê nasceu; há uma força que o incita a quere viver, a buscar o
seio materno (leite, mamadeira) a afastar a dor, mas essa força pode ser contrariada ou
aniquilada se o infans não receber cuidados apropriados. O bebê só pode se investir
libidinalmente se experimentar bem-estar, e esse bem-estar deve ser proporcionado pela
maternagem, os que cuidam dele, os pais em primeiro lugar. Se a criança não for amada
ela não pode amar a si mesma, viver o sentimento da própria continuidade, da sua unidade
e ter estima de si mesma.
Ao descrever sua teoria sobre o funcionamento do aparelho psíquico, Freud
postulou alguns princípios básicos que regulam a maneira pela qual funciona a mente.
Utilizou o termo princípio do “prazer” para referir-se à ideia básica de que o objetivo de
toda a atividade psíquica é a busca de “prazer” para evitar o “desprazer”. Essa ideia
repousa na concepção de que o aumento nos níveis de energia, ou seja, a tensão
pulsional, é desagradável, enquanto que a eliminação da mesma é agradável. Este
princípio, por outro lado, atua como regulador da necessidade de recriar, através da ação
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ou da fantasia, qualquer ação que tenha proporcionado satisfação através da eliminação


da “tensão pulsional”. No funcionamento mental esse princípio atua também como
regulador da “ansiedade” sinalizadora ao ego, ante a percepção de um perigo interno ou
externo, ativando as várias funções da mente necessárias para lidar com esse perigo, e
que gera “desprazer”.
O princípio do “prazer/desprazer” deve ser encarado num contexto evolutivo. O
comportamento dos bebês e crianças pequenas é regulado principalmente pelo princípio
do prazer. À medida que vai crescendo, a criança vai aprendendo que os seus desejos às
vezes se chocam com a realidade e que a própria experiência é um aprendizado, e assim
irá desenvolvendo e ampliando o princípio da realidade. Esse aprendizado se faz através
de preceitos e advertências dos pais e pessoas cuidadoras, e de experimentos que se
chocam com a realidade (se a criança queima a mão no forno do fogão, aprende que é
quente) do mundo externo, u aprendizado pela repetição. Portanto, no princípio do prazer
todo o comportamento humano visa à experiência mais imediata de prazer e à evitação do
desprazer mediante a satisfação desinibida das necessidades e dos desejos.
O bebê à medida que vai se desenvolvendo passa a perceber que o prazer
imediato nem sempre acontece, causando a frustração de uma necessidade ou de um
desejo que não é satisfeito. A partir dessa experiência de um prazer imediato e constante
que não é alcançado, vai surgindo o entendimento crescente das condições de causa e
efeito da vida real da criança em oposição à realização fantasiada de seus desejos,
provocando modificações, fazendo com que a ela passe a postergar a gratificação
imediata em favor de uma gratificação de longo prazo e de autopreservação. Dessa forma
irá se instalando o que Freud denominou de “princípio da realidade”, cujos modos de agir
irão ganhando hegemonia à medida que o funcionamento mental vai amadurecendo.
Porém, a força motivacional do prazer não é substituída, mas protegida ou ressalvada,
ainda que em forma prioritária ou enfraquecida. Podemos afirmar que é um
comportamento sintônico à realidade, pois as ações correspondem a uma compreensão
de causa e efeito no mundo externo da realidade.
A energia psíquica possui duas funções: a motivacional e a instrumental, buscando
sempre uma descarga. Quando acumulada essa energia gera uma força direcional que
impele a uma descarga, dirigindo o comportamento. Constitui no modelo central da teoria
psicanalítica da motivação baseada nas pressões pulsionais instintivas, ou seja, o modelo
da “descarga” e “redução” da tensão. A energia psíquica exerce ainda funções
instrumentais, onde pequena quantidade de energia é desviada para outro fim, como levar
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à consciência uma ideia inconsciente, ou criar uma “angústia sinal” (preventiva ante o
perigo, promove o recalque) para advertir o sistema consciente de algo não está bem.

4. A ORGANIZAÇÃO DA LIBIDO EM SEU DESENVOLVIMENTO

A ideia da sexualidade, presente na obra de Freud desde 1890, consolidou-se com


a noção de pulsão contida em seu artigo “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”
(1905). A sexualidade configurou-se como porta de entrada para a compreensão da vida
psíquica através dos conceitos de disposição perverso-polimorfa, zona erógena, pulsão
parcial e libido. Ele postulou a noção de defesa ao iniciar de seu percurso, através da qual
a o ego se protege de representações ligadas à vida sexual do sujeito, noção precursora da
teoria do recalcamento. Freud concebeu o inconsciente como resultado do recalque das
cenas de sedução no psiquismo, teoria que logo ficou de lado com a sequência de novas
descobertas: o papel da sexualidade infantil e da fantasia na vida psíquica. Assim chega a
uma nova perspectiva, a criança não é desprovida de “atividade sexual”, por ser capaz de
construir no plano inconsciente, inúmeras fantasias sexuais, apesar de sua imaturidade
biológica.
Ao conceituar a libido Freud pode reorientar sua teoria do dualismo pulsional,
referindo-se ao autoerotismo e introduzindo o “eu” como uma instância de investimento
libidinal e não mais apenas os objetos da pulsão. O debate sobre a libido reporta Freud
ao conceito de narcisismo como alternativa para a libido não sexual. A noção de
sexualidade, na teoria freudiana, escapa à noção restrita de genitalidade. A constituição
do ego passa a ser profundamente inserida em uma problemática sexual, pois para que
este se constitua é necessário o investimento libidinal nessa instância, e assim, se
anteriormente a pulsão sexual ameaçava constantemente a estabilidade do ego, a partir
dessa concepção ela é a própria matéria-prima para a sua constituição.
Nas primeiras etapas da vida, a dependência do bebê é absoluta para com o
primeiro objeto – a mãe, de modo que as falhas da maternagem podem ocasionar
distúrbios diversos na estruturação do psiquismo. O aparelho psíquico se constitui e se
desenvolve a partir das primeiras experiências de “satisfação” – o prazer, ou experiências
de “frustração” – o desprazer, na relação com o objeto, sendo este o objeto de
identificação e não propriamente objeto sexual. Se as experiências de “afeto” forem
“boas”, enriquecerão a estrutura psíquica em fase embrionária. Ao contrário, se estas
experiências forem “más”, o princípio do prazer fará com que o bebê “fuja” dessas
lembranças, retirando as catexis a fim de não percebê-las, e dessa forma empobrecerá o
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seu psiquismo. Freud (1900) considera essa retirada de catexia (catexis) como o protótipo
da “repressão”.
O fenômeno repressivo se origina na infância, ainda na imaturidade do aparelho
psíquico, responsável pela “amnésia infantil” normal na criança. Freud afirmou que antes
do aparelho mental se constituir como um estado de organização capaz de efetuar a
“repressão primeva”, os impulsos instintivos são desviados de forma a voltar para o
próprio self, pela inversão. Certas impressões iniciais e a força dos desejos são
reprimidas, caracterizando um “atraso passivo” sujeito à “fixação”. Essas forças continuam
a exercer efeito indireto e profundo na vida mental, mas seus representantes ideacionais
são inacessíveis à consciência por falta de representação. A posterior realização destes
impulsos e desejos é desprazerosa devido à ação dos processos primário e secundário
em razão dos padrões e das proibições associadas ao princípio de realidade. A repressão
primeva, ou original, é condição necessária para a formação da defesa da “repressão”,
também chamada de “repressão secundária”, a qual ocorre ao final da infância (aos 5/6
anos) e segue pela vida adulta. Essas repressões primevas atraem ideias posteriores
ficando sujeitas às forças repressivas da infância, as quais são resultantes da desarmonia
na atividade mental adulta e produzidas pelo conflito existente entre pulsões e padrões ou
proibições, ocorrendo então a repressão. Essas reações defensivas contra impulsos
instintivos evocam a ansiedade gerada por uma serie de ameaças ao ego.
Em seu desenvolvimento, a criança aos poucos irá se dando conta de sua
pequenez, do seu desamparo, de sua solidão, e o humor exultante presente inicialmente o
dará lugar às reações de angústia ou a uma disposição depressiva. Nessa fase, porém,
surgem diferenças baseadas na identidade do gênero. A criança experimenta sentimentos
de amor e ódio, de raiva e prazer para com o mesmo objeto, e essa ambivalência precoce
que acontece é mais marcante dos dois aos cinco anos, persistindo normalmente em
proporção bem menor por toda a vida.
As primeiras relações de objeto da criança se caracterizam pela identificação com
o objeto (mãe, pai) e, quanto mais primitiva a fase de desenvolvimento do ego, mais
pronunciada essa tendência. Pode-se compreender, portanto, que as relações de objeto
nos primeiros tempos de vida, desempenham um papel de suma importância no
desenvolvimento do ego, visto que este é um precipitado dessas relações. As relações
inadequadas ou insatisfatórias com os objetos (ambiente externo – pais e outros) dos
primeiros anos de vida podem impedir o desenvolvimento apropriado das funções do ego,
havendo possibilidade de estar, assim, preparando terreno para graves dificuldades
psicológicas, quer na última infância, quer na vida adulta.
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A libido em sua forma de movimento e desenvolvimento está submetida a um


processo evolutivo intimamente relacionado com o instinto sexual. Essa vinculação sexual
é entendida como a relação existente entre um sujeito que dirige uma carga de afeto e um
ser ou um elemento que a recebe, sujeito este que pode ser: do mundo externo, do seu
meio ambiente, ou o próprio ego do sujeito. A libido é a representação ou o objeto interno,
constitui a imago interna do objeto real, a qual é investida de energia psíquica, portanto, a
libido não se projeta sobre o objeto externo, ela se estende sobre ele.
Nos primeiros estágios evolutivos da libido, na época fetal, a que se aplicar esse
investimento, segundo Nunberg (1937), há falta de objeto, e admite que antes do
nascimento, deve existir uma unidade entre o ego e a libido. Assim é aceito que o ser
humano ao nascer, chegar com toda a libido fortemente fixada no próprio ego, em seus
órgãos e por isso mesmo, num narcisismo primário, e tende a se transformar em libido
que recobre os objetos, a qual é denominada de libido objetal, portanto a meta da libido
narcísica é a satisfação auto erótica dos instintos parciais. A predominância de um ou
outro grupo de instintos parciais imprime um selo característico na vida sexual da criança
em cada estagio do desenvolvimento da libido. Freud admite a evolução da sexualidade
através das fases denominadas: oral, anal e fálica. As fases oral e a fase anal se
desenvolvem num espaço de tempo anterior ao Complexo de Édipo, denominado de
período pré-edípico, enquanto que a fase fálica, constitui o período edípico, considerando
que é nela que a criança vivencia o Complexo de Édipo e o Complexo de Castração.
No bebê recém-nascido existe um estado psíquico indiferenciado, do qual o ego
evolui gradualmente. Freud atribuiu um papel fundamental da representação do corpo no
psiquismo, desde a condição de criancinha e aponta que “o ego antes de tudo é corporal”.
O autor afirma ainda que o desenvolvimento emocional primitivo esta diretamente ligado
às funções corporais. A evolução da libido ocorre em etapas evolutivas na formação da
personalidade da criança as quais não são estanques, como também, a progressão não
ocorre de forma linear. Estas se transformam, superpõem, interagem permanentemente, e
de alguma forma permanecem pela vida toda.
Ao afirmar sobre a existência da “sexualidade infantil” com a publicação do artigo
“Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, Freud causa polêmica na época das “belas
histéricas” por retirar as crianças da condição de ingenuidade sexual. Concebe a ideia de
que a pulsão sexual esta presente desde sempre no corpo infantil e se mantem por meio
de atividades auto eróticas e perverso- polimorfa nas diversas zonas erógenas, através do
corpo do infante. Freud estabelece que no autoerotismo o investimento libidinal não seja
dirigido a outras pessoas, ou objetos exteriores, a gratificação erógena, ou a satisfação
19

que o bebê encontra esta no próprio corpo, pois constitui uma atividade dos diversos
componentes parciais no nível de cada zona erógena tomada isoladamente, em que as
pulsões satisfazem cada uma por conta própria. A disposição perverso-polimorfa infantil
constitui uma fase evolutiva normal e consiste no fato de que partes do corpo do bebê
(lactante) vão adquirindo um lugar privilegiado como fonte de prazer sexual, primeiro a
boca com a sucção, depois o ânus com as funções excretoras, nua etapa que precede ao
controle esfincteriano e de todo o sistema muscular que acompanha a locomoção motora.
Ao desenvolver seus estudos e pesquisas sobre a sexualidade nas crianças, Freud
toma por modelo o menino, propondo uma perfeita simetria no desenvolvimento sexual
infantil do menino e da menina, assim concebe a sexualidade da criança como uma
atividade auto erótica idêntica em ambos os sexos com caráter inteiramente masculino, o
que significa que não haveria nenhuma diferença sexual na infância. Supõe a ideia de
monismo sexual para todos os indivíduos, ou seja, as crianças pequenas só
reconheceriam um único órgão genital, o masculino. No psiquismo infantil não haveria
uma diferenciação entre os sexos. No entanto, ao relatar sobre a sexualidade das
meninas na infância, apresenta disposições femininas cujas preferências se dão pela
forma passiva e pelo desenvolvimento de inibições da sexualidade como vergonha, nojo e
compaixão que ocorreriam mais cedo e com menor resistência nas meninas do que nos
meninos (FREUD, 1905, p.206).

4. 1. Fase oral

Baseando-se em dados inatos (substratos, componentes) potenciais determinados


por genes presentes desde o nascimento, Freud supõe a existência de pulsões instintivas,
dando ênfase aos aspectos biológicos na natureza humana. Ao propor a dualidade
pulsional distingue a libido de Eros (pulsão de vida) e a libido de Tânatos (pulsão de morte).
A libido, ou Eros, se manifesta em todos os processos fisiológicos e psicológicos, como nos
aspectos positivos dos relacionamentos humanos, enquanto a libido, ou Tânatos,
observados em ações agressivas e destrutivas.
A argumentação funcional-adaptativo produzida por Freud, com base nas teorias
de Darwin (explicação sobre a adaptação das espécies ao seu meio – exemplo os
pássaros e seus bicos), levou-o a investigar e debater sobre a natureza da oralidade
infantil, os prazeres da sucção, hipotetizando que os bebês estão equipados inatamente
para se sentirem motivados pelo prazer de sugar, porque sugar é diretamente vantajoso
para sua sobrevivência:
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A meta sexual da pulsão infantil consiste em produzir a satisfação mediante a estimulação


apropriada da zona erógena que, de um modo ou de outro, foi escolhida. Para que se crie uma
necessidade de repeti-la, esta satisfação tem que ter sido vivenciada antes; e é lícito pensar que
a natureza terá tomado medidas seguras para que esta vivência não tenha sido deixada ao
acaso (FREUD, 1993h, p.167).

O termo oralidade abrange todos os interesses, mecanismos e inclinações


psíquicas, bem como suas manifestações que se originam das funções iniciais da libido e
da agressividade da cavidade bucal. As necessidades, percepções e modos de expressão
do bebê desde o inicio da vida, acham-se centradas na boca, nos lábios, na língua, na
faringe e no trato digestivo superior. São eles que transmitem as sensações de sede e
fome, as estimulações tácteis prazerosas evocadas pelo mamilo do seio da mãe (ou
substitutos deste), bem como as sensações de engolir.
Estas manifestações e sensações descritas ocorrem numa etapa que Freud
denominou de “fase oral”, assim nomeada pela observação de um predomínio da obtenção
de prazer através da zona da boca e mucosas. Estas decorrem das necessidades,
percepções e modos de expressão do bebê que ficam centradas na boca, nos lábios, na
laringe, na faringe e no trato digestivo superior. O termo “oral” procede do latim “os” que
significa boca, a qual constitui a zona erógena por excelência, cuja finalidade da libido oral
é a gratificação pulsional e a incorporação que está a serviço da identificação. Portanto a
boca não é apenas o órgão importante dessa fase evolutiva, mas se constitui no modelo de
incorporação e expulsão, ou seja, é o “protótipo” que intermedeia o mundo interno e o
mundo externo do bebê. Dessa forma, as zonas corporais que cumprem essa mesma
função da oralidade são consideradas constituintes dessa fase: o sistema respiratório
digestivo, os órgãos da fonação e da linguagem, o trato gastrointestinal, as sensações
sinestésicas relativas ao equilíbrio corporal, as enteroceptivas (provindas dos órgãos
internos), e as proprioceptivas (provindas das camadas profundas da pele).
Na oralidade todos os órgãos sensoriais da olfação, audição, visão e paladar,
ocupam função relevante. Entretanto, a pele possui um desempenho e função importante
devido às sensações profundas que pode provocar, bem como, o propiciar sensações de
tato e aproximação “pele a pele” com a mãe no atendimento às necessidades de
satisfação do bebê. Esta fase alude aos dezoito primeiro meses de vida da criança, onde
é mantida a primazia da oralidade na organização da psique. O papel da zona oral diminui
com o surgimento das outras etapas da libido, porém seus efeitos sobre o
desenvolvimento da personalidade permanecem de forma profunda no decurso de toda a
vida.
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O ato de chupar o polegar evidente no recém-nascido (até mesmo na vida


intrauterina) é um reflexo inato, mas diz respeito a um tipo de estimulação ligado à função
de nutrição, porém independente. O chupar o dedo mostra que o prazer obtido do seio (ou
mamadeira) não se baseia na gratificação da fome, mas também na estimulação da
mucosa oral erógena, por isso mesmo, o infante não deixa de chupar o dedo apesar
desse ato não produzir o leite. Assim muitos fenômenos na fase adulta retém o erotismo
oral: o beijo, beber, fumar, praticas perversas, e outros tantos hábitos alimentares.
Desde o nascimento do bebê, a atividade da boca e dos lábios aparece como o
órgão que solicita do psiquismo exigências libidinais, pelo fato de o lactente encontrar seu
prazer na alimentação, irá se tornar a zona buco-labial, ou seja, uma zona erógena. Este
prazer de sugar caracteriza a fase da oralidade que pode ser designada como digestiva,
tornando-se então o lugar de uma atividade auto erótica específica, que constitui o
primeiro modo de prazer sexual e de importância capital para a determinação da futura
vida sexual. O objetivo do erotismo oral é a estimulação auto erótica prazerosa da zona
erógena, primeiramente. Os biscoitos em forma de animais que as crianças tanto gostam
são remanescentes significativos de fantasias canibais primitivas. O surgimento da gula
intensa manifesta ou reprimida está relacionado com o erotismo oral.
As necessidades libidinais e agressivas do bebê causam estados de excitação e
de tensão psíquica que, associados à zona oral, foram conceituados como pulsões orais.
Estas pulsões constituem e se movem entre dois componentes separados que se voltam
para a satisfação das necessidades libidinais de um lado e formam a base psicológica do
erotismo oral, e de outro, atendendo a satisfação das necessidades agressivas. O
indivíduo tem necessidade de apaziguar a tensão oral, buscando satisfação ou
gratificação da oralidade, o que lhe trará a aquietação. O exemplo típico de tal sossego e
gratificação é o estado de tranquilidade do bebê após ser amamentado.
Nos estágios iniciais dessa fase o “sugar prazeroso” constitui a necessidade
libidinal proeminente, cujo aleitamento se torna a base da oralidade digestiva. Com o
aparecimento dos primeiro dentinhos, surgem as necessidades agressivas, constituindo a
base da agressão oral (oralidade sádica agressiva), chamada também de sadismo oral,
aonde os impulsos sádicos pouco a pouco irão se generalizar, dando origem à fase
sádico-anal. Este instinto agressivo é expresso no mastigar, no morder e no cuspir,
podendo desempenhar papel importante em condições de depressão, adições e
perversão.
Forças psíquicas podem bloquear as pulsões orais, constituindo-se em defesas
que interferem em seu surgimento. Decorre um estado de conflito oral que pode ser
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manifesto por sintomas como: vômitos, espasmos mandibulares, ranger de dentes,


desgosta com a comida, sensibilidade alimentar anormal, inibições da fala. As
experiências de indulgência excessiva ou privação severa relacionada com a oralidade
poderão se manifestar através de traços de caráter, transtornos alimentares e
anormalidades da via oral.
Ao longo de sua obra Freud postulou os fundamentos da fase oral: especial
valorização do corpo, quando anuncia que “o ego, antes de tudo é corporal”; a
identificação primária com a mãe; a concepção da bissexualidade como qualidade
primordial da herança biológica; a vigência do princípio do prazer/desprazer; o predomínio
do processo primário do pensamento; a primitiva representação-coisa; as incipientes
formas de linguagem e comunicação dentre outros conceitos.

4. 2. Fase anal

Esta fase compreende um período evolutivo que se situa entre os dois e três anos,
cujo termo se refere especificamente “àquilo que é relativo ou pertencente ao ânus”. As
manifestações da fase anal abrangem aquelas que ocorrem em zonas corporais, tais
como, as provenientes da musculatura e da ação motora. No desenvolvimento da criança,
de acordo com Zimerman (2001), esse período acontece coincidentemente com: a
aquisição da linguagem, da capacidade de engatinhar e andar; o despertar da curiosidade
que conduz a exploração do mundo exterior; o aprender progressivo do controle do
esfíncter e da motricidade; os ensaios de separação e individuação do fusionamento com
a mãe; a comunicação verbal; as brincadeiras e os jogos, bem como o uso de brinquedos;
a aquisição da condição de dizer não, entre outros.
A ação muscular é que auxilia na satisfação das primeiras necessidades
instintivas desde o nascimento. Com o crescimento do bebê, os músculos das
extremidades e do torso gradualmente vão se desenvolvendo e a sucção não será o único
método de obtenção do alimento. O sistema muscular vai se ampliando e passa a servir a
outros instintos que não apenas os da oralidade. A criança não apenas tenta tocar os
objetos, ou levá-los à boca, mas passa a agarrar, segurar e destruir, desenvolvendo uma
atitude agressiva em relação ao mundo exterior.
O prazer anal se encontra presente desde o inicio da vida, cujo interesse maior é
alcançado à época do desmame. No entanto é por volta dos dois anos de idade que a
zona erógena anal parece tornar o executivo principal de toda a excitação a qual, onde
quer que se origine, tende a se descarregar pela defecação. A criança desenvolve a
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capacidade de controlar o esfíncter com o amadurecimento físico, deslocando sua


atenção da “zona oral” para a “zona anal”, onde o reto é a sede das mais importantes
sensações agradáveis e de prazer, e suas adjacências têm a supremacia sobre essas
sensações e gratificação libidinal. O erotismo anal tem como objetivo elementar o gozo de
sensações de prazer na excreção.
Nessa fase, a satisfação é buscada não só pelas funções excretoras, como
também, através das agressões, mesclando-se “impulsos libidinais” (Eros) e “impulsos
destrutivos e agressivos” (Tânatos), os quais permanecerão existindo durante toda a vida.
Essa organização libidinal está ligada às funções de “expulsão” e de “retenção” e se
constituem em torno da simbolização das matérias fecais, objeto que se separa do corpo,
da mesma forma que o seio. O predomínio das pulsões sádica e erótico-anal caracteriza
a oposição “atividade-passividade”, sendo a “atividade” a manifestação da pulsão de
dominação ligada à musculatura, e a “passividade”, a do erotismo anal, ligada à mucosa
anal erógena. Nesta fase, a organização das pulsões permite uma relação com um objeto
exterior.
As relações de objetos dessas fases iniciais, oral e anal, da vida da criança
designadas como relações de objeto “pré-fálico”, denominam-se conforme a zona erógena
que, no momento, esteja desempenhando o papel mais importante na vida libidinal da
criança. São os impulsos e talvez, principalmente, os impulsos sexuais que procuram os
objetos em primeiro lugar, pois é exclusivamente através dos objetos que se pode atingir
uma descarga ou uma gratificação. A importância das relações de objetos é
principalmente determinada pela existência das exigências instintivas e a relação entre
impulsos e objeto é de importância fundamental durante toda a vida.
Para Freud, a libido sofre a marca deste ou daquele objeto, estando na origem,
orientada para a satisfação, ou para a dissolução da tensão, pelos caminhos mais curtos,
apropriados à atividade de cada zona erógena. O objeto pulsional, muitas vezes
determinado por características singulares, é marcado pela história infantil de cada um. O
prazer anal está presente desde o início da vida, porém é a partir do segundo ano de vida
da criança que esta zona erógena, a anal, parece se tornar a principal zona de toda a
excitação, independente de onde se origine, a descarga ocorre pela defecação.
O erotismo anal tem por objetivo primário o gozo de sensações prazerosas na
excreção. A estimulação da mucosa retal aumenta com a retenção da massa fecal, cujas
tendências à retenção anal exemplificam a combinação de prazer erógeno e segurança
contra a ansiedade. Quando a criança originalmente desenvolve um medo em relação à
excreção prazerosa desenvolverá o prazer da retenção da das fezes, descobrindo o
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prazer da tensão de retenção. A possibilidade de realizar estimulação mais intensa da


mucosa é responsável pelo prazer tensional, o qual é maior no erotismo anal do que em
qualquer outra forma de erotismo. A criança tende a prolongar o pré-prazer e estender o
prazer final na excreção, principalmente quando descobre que possui o domínio sobre
suas fezes. Existem razões fisiológicas para a conexão de erotismo anal de um lado, e
ambivalência e bissexualidade de outro. O erotismo anal faz com que a criança trate um
objeto – as “fezes” – de maneira contraditória: expele matéria para fora do corpo, e a
retém como se fosse um objeto amado; aí esta a raiz fisiológica da “ambivalência anal”.
Questões fisiológicas subsistem para a ligação entre erotismo anal de um lado e a
ambivalência e bissexualidade de outro. No erotismo anal a criança trata o objeto “fezes”
de maneira contraditória: expele a matéria fecal para fora do corpo, por vezes, e outras a
retém como se fosse um objeto amado, estando aí a raiz fisiológica da “ambivalência
anal”. As fezes se constituem o objeto do primeiro ato sádico-anal, considerando que a
expulsão é percebida pela criança como uma espécie de ato sádico. Posteriormente as
pessoas poderão ser tratadas da mesma forma que esse objeto da expulsão o foi; de
outra forma, no exercício da higiene a criança encontra uma oportunidade real para
exprimir oposição contra os adultos.
É nessa fase que se inicia a caracterização de atributos masculinos e femininos
através do desenvolvimento da bissexualidade, tanto biológica como psicológica e que toda
pessoa possui. O reto é um “órgão excretório oco” e que pode expelir ativamente alguma
coisa, como as fezes, e que pode ser estimulado por um corpo estranho que o penetre. As
tendências masculinas se originam desde o primeiro momento da expulsão, enquanto que
as tendências femininas resultam da segunda faculdade, a penetração, sendo esta a raiz
fisiológica da conexão existente entre erotismo anal e bissexualidade.
Os primeiros desejos anais são auto eróticos, podendo tanto a retenção prazerosa
como a expulsão prazerosa (mais tarde) serem obtidas sem objeto algum. Este prazer
pode ser experimentado no momento em que sentimentos de onipotência primária operam,
havendo uma sobre valoração narcísica mágica do poder que o indivíduo tem sobre a sua
evacuação. Isso pode ser percebido em resíduos neuróticos e supersticiosos do indivíduo.
O prazer é obtido pela estimulação da mucosa retal, mas as fezes, instrumento de
obtenção deste prazer, também se tornam objeto libidinal, representando, primeiramente
uma coisa que é do corpo da criança e que se transforma em um objeto externo, modelo de
algo que se pode perder. O impulso à “coprofagia”, de origem erógena, representa a
tentativa de estimular a boca com a mesma substancia prazerosa que estimula o reto,
constituindo na tentativa de restabelecer o equilíbrio narcísico ameaçado, aquilo que foi
25

eliminado tem que ser introjetado. Dessa maneira, as fezes se tornam o objeto
ambivalentemente amado: são amadas e retidas, ou reintrojetadas e tomadas para seu
brinquedo; e são odiadas e expulsas.
Nessa fase, não só a gratificação libidinal surge através do erotismo, mas também,
a pulsão agressiva que caracteriza o sadismo anal, estágio que se refere às manifestações
de ambas as pulsões em conexão com as funções anais de expulsão e retenção, e
também as dirigidas no sentido do bolo fecal. Portanto as polaridades e oposições entre
erotismo e sadismo, expulsão e retenção e função anal e produto anal formam padrões
refletidos em conflitos em torno da ambivalência, da atividade e da passividade, da
masculinidade e da feminilidade, do domínio, da separação e da individuação. O
amadurecimento intrapsíquico, o desenvolvimento de relacionamento objetal futuros ao
longo da vida, poderão refletir as instabilidades destes conflitos.
A descoberta da diferença entre as crianças quanto à micção, faz com que
desenvolva o erotismo uretral, ou seja, o prazer da micção. Esse autoerotismo tal como o
erotismo anal, pode voltar-se para outros objetos, embora apresente um prazer secundário.
O aparelho uretral se transforma em num executivo de fantasias sexualmente excitantes
relacionadas com o ato de urinar em objetos, ou de ser urinado por objetos. É frequente as
crianças molharem ativamente as calças, ou a cama por prazer auto erótico (para
satisfação, voluntario), o que posteriormente pode levar a desenvolver a enurese como
sintoma neurótico involuntário, cuja natureza é o equivalente inconsciente da masturbação.
O prazer de urinar, tanto do menino como da menina, tem caráter duplo: pode ter
significação fálica e até mesmo sádica, pois a micção equivale à penetração ativa, com
fantasia de lesar ou destruir; ou se sente “deixar escorrer”, como entrega passiva e
desistência de controle. O objetivo do fluxo passivo pode condensar outros objetivos
passivos nos menino, como o de ser acariciado no pênis, ou na raiz deste, ou no períneo
(próstata), para mais tarde ser substituída pela genitalidade normal. O erotismo uretral
masculino se associa a fantasias sádicas e pode ocorrer na fase adulta, ejaculação
precoce severa.
No desenvolvimento da criança, o período da fase anal coincide com: a
capacidade de engatinhar e de andar e com a aquisição da linguagem; a capacidade de
explorar o mundo exterior pelo despertar da curiosidade; a capacidade e o progressivo
aprendizado para controlar o esfíncter e a motricidade; o desenvolvimento da capacidade
de realizar os primeiros ensaios de separação e individuação; o desenvolvimento da
capacidade de comunicação verbal; a capacidade de uso dos brinquedos, participar de
brincadeiras e jogos; a aquisição da capacidade de dizer não.
26

Sintetizando o que Freud propõe em seus ensinamentos, podem ser destacados


alguns aspectos principais da fase anal, assim caracterizados: predominância de pulsões
sádicas e eróticas referidas ao ânus, uretra motricidade, etc.; oposição entre atividade,
gerando a dominação, e passividade resultante da prevalência da zona anal como fonte
erógena receptiva; a equivalência simbólica na criança entre “fezes, filho, pênis, presente e
dinheiro”; a evacuação como recurso anal-expulsiva, forma da criança agredir ou
presentear, ou forma anal-retentiva, que expressa um estado de autoerotismo ou
obstinação (material para a formação da neurose obsessiva). Traços obsessivos normais,
aspectos referentes à ordem, economia, disciplina, avareza e tirania, decorrem do
desenvolvimento dessa fase e pontos de fixação.

4. 3. Fase fálica

A genitalidade é entendida como a qualidade de fenômenos e conceitos psíquicos


associados como os órgãos genitais e que para Freud ocupa um espaço considerável com a
adjetivação de fase fálica. O termo alude a uma fase evolutiva da sexualidade situada entre
três e seis anos, no qual tanto o menino quanto a menina as pulsões se organizam em torno
do falo, ou mais precisamente em Freud do pênis, intimamente conectada com as fantasias
ligadas estruturalmente à angústia de castração. A teoria da libido postula uma progressão
biológica de ascendência das zonas erógenas (oral, anal, uretral e fálica), com uma
organização associada ao ego referida como estágios.
Os órgãos de sensibilidade erógena, os genitais são consideravelmente efetivos desde
o nascimento: é possível ver a masturbação genital nos bebês. A erogeneidade genital é tão
primária quanto o são os elementos eróticos-anais e eróticos-uretrais: não é um deslocamento
destes elementos que a cria. Os órgãos genitais e os órgãos urinários coincidem em alto grau,
e os primeiros desejos genitais por certo se entrelaçam intimamente com os eróticos-uretrais.
Na obra de Freud, a palavra “falo” pouco aparece, entretanto ele propõe a adjetivação
de “fase fálica” a qual ocupa um espaço notável e importante nesse período de
desenvolvimento da sexualidade. Esta é a fase em que as pulsões se organizam em torno do
pênis (falo) as quais estão intimamente conectadas com as fantasias inerentes às fantasias de
castração. O pênis foi considerado pelo autor como “o órgão sexual autoerótico primordial”,
cuja concepção tornou-se o eixo central da teoria e técnica psicanalítica, cuja fundamentação
encontra-se no historial clínico do “pequeno Hans” (1909).
O estagio genital ou a fase fálica é a etapa final desenvolvimento libidinal instintivo. As
fases anteriores e os seus conflitos são integrados e subordinados sob uma orientação genital,
27

que representa a consecução do que é chamado de primazia ou primado genital, ou


maturidade psicossexual. As fixações e regressões em níveis anteriores interferem com o
tingimento do primado genital e com o funcionamento da fase genital (MORE &FINE, 1992,
pag.84). Os deslocamentos de catexis pré-genitais para impulsos genitais que ocorrem nessa
fase aumentam a erogeneidade genital. A excitação sexual onde quer que se origine,
concentram-se cada vez mais nos genitais e a descarga ocorre de forma genital. A libido é
uma apenas, não existindo especificamente uma libido oral, uma libido anal, ou uma libido
genital, mas sim uma libido que se desloca de uma zona erógena para outra. No caso em que
se desenvolveram certas fixações, operam forças que resistem a deslocamentos dessa ordem.
Há tendências e diferenças comuns na organização genital infantil, e no que se refere
a semelhanças dizem respeito à concentração genital e às relações de objeto. Na fase fálica, a
criança se assemelha ao adulto, considerando o ponto de vista sexual, como a masturbação e
alguns atos que se assemelham ao contato sexual. O menino nesta fase apresenta um
orgulho viril, limitado pelas ideias de que não é inteiramente crescido e que tem o pênis menor
do que o do pai, o que caracteriza um golpe narcísico severo.
É nessa etapa que se iniciam as “relações de objeto” mais intensas e decisivas de toda
a vida da criança. Nessa idade, sua vida psíquica passa do nível anal para o nível fálico,
embora seus desejos orais e anais, que dominaram sua vida instintiva, ainda perdurem por
muito tempo na própria fase fálica. Isto significa que seus desejos e impulsos mais intensos,
em relação aos objetos, serão fálicos. Sua vida instintiva passa a desempenhar um papel
mais subordinado do que predominante, nesta fase, considerando que as funções do Ego
passam a se desenvolver progressivamente, enquanto que o Id começa a perder a sua
primazia.
As relações de objeto da criança nessa fase adquirem um alto grau de continuidade e
estabilidade, características essas que estão relacionadas a um Ego mais desenvolvido,
experiente e integrado. Essas diferenças são evidenciadas no aspecto de funcionamento do
Ego e nas características das relações de objeto da criança. As catexias que visam a um
objeto persistem apesar da ausência temporária e da necessidade desse objeto.
A natureza do autoconhecimento pela criança e da percepção dos objetos são de tal
ordem nesse período, que tornam possível a existência de sentimentos de ciúme, medo e
raiva por um rival, que contém características essenciais desses sentimentos na vida ulterior.
É a fase da sexualidade infantil, onde as pulsões se organizam em função do falo, em ambos
os sexos. É nessa fase que as relações de objeto mais importantes, na vida de todo o sujeito
se agrupam sob o Complexo de Édipo. No período correspondente à faixa etária entre dois
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anos e seis anos mais ou menos, fase edipiana, as relações de objeto são de maior
importância para o desenvolvimento mental do indivíduo.
Atividades auto eróticas das crianças pequenas não se limitam à masturbação genital,
pois, todas as zonas erógenas podem ser estimuladas, e os genitais dos bebês apenas se
constituem a “parte prima inter pares” e, a “masturbação” é a expressão principal da
genitalidade infantil. A erogenidade é primária e os genitais são efetivos desde o nascimento.
A importância da masturbação, na infância, pode-se remontar a dados obtidos dos
sonhos e do pensamento inconsciente, servindo de meio pelo qual a criança aprende, aos
poucos, o controle ativo da experiência da excitação sexual. A masturbação é algo a que
dificilmente qualquer indivíduo escapa.
Freud, na verdade, ao tratar de “fantasias”, utilizou o termo alemão, “Phantasie” que
designa “fantasma”, ou “fantasia”, ou “imaginação”, determinada “formação imaginária” e não
um mundo de fantasias, evocando a oposição entre imaginação e realidade. Portanto, a
“fantasia” pode ser entendida como puramente ilusória e que não resistiria a uma apreensão
correta do real. Essa orientação é justificada em alguns escritos de Freud, onde opõe, ao
mundo interior que tende para a satisfação do desejo, pela ilusão, um mundo exterior que
impõe ao sujeito, progressivamente, por intermédio do sistema receptivo, o princípio da
realidade.
Em seus estudos e escritos (1895-1900), Freud descreve, ainda, a fantasia a partir do
modelo dos sonhos diurnos, analisando-as como formações de compromisso, e mostra que a
sua estrutura é comparável à do sonho. No artigo “Fantasias Histéricas e sua Relação com a
Bissexualidade” (1908), Freud considera as fantasias “inconscientes” como precursoras dos
sintomas histéricos e as descreve como estando em estreita conexão com os sonhos diurnos.
Às vezes parece designar assim como um “devaneio subliminar”, pré-consciente, a que o
sujeito se entrega e do qual irá ou não tomar consciência.

5. A SITUAÇÃO EDÍPICA E AS FANTASIAS

Freud em sua autoanálise chegou à descoberta do que posteriormente viria a


denominar de “Complexo de Édipo”. Ele escreve ao amigo Fliess, na carta de número 71 em
15.10. 1897, a revelação sobre ter descoberto em si mesmo impulsos carinhosos quanto à
mãe e hostis em relação ao pai, estes complicados pelo afeto que lhes dedicava. Então a
lenda do Rei Édipo é invocada como modelo mitológico deste conflito. A emoção sentida
pelos espectadores diante do drama de Sófocles, afirmava Freud, provém do reconhecimento
inconsciente de que, o que se desenrola no palco, já foi vivido por cada um na sua própria
29

experiência. Nesse mesma missiva Freud atribui universalidade a esta constelação de


sentimentos, caracterizando-os como da “natureza humana”.
Ainda em correspondência com o amigo, quanto à objeção sobre a questão neurótica e
da “fantasia de sedução”, diz ser impossível acusar o pai de perversão em todos os casos, o
pai não é necessariamente culpado pela neurose dos filhos. Freud é levado de a se perguntar
sobre o lugar do pai. Afinal de contas, o que é um pai? E assim ele escreve que só lhe
"restaria a solução de que a fantasia sexual se prende invariavelmente ao tema dos pais"
(FREUD, 1986, p. 266). O que o autor quer dizer com "tema dos pais?" A resposta surge em
nova carta (15/10/1897) onde formula a hipótese de que todos nós fomos "um dia, um Édipo
em potencial, na fantasia" e por isto mesmo, nos fascina e horroriza de tal modo a encenação
de Édipo Rei, com seu herói incestuoso e parricida.
O texto dessa carta se reproduz de forma ampliada, após os dados obtidos em 1909,
com a análise do “Pequeno Hans”, e em 1911, com o artigo sobre “As Teorias Sexuais
Infantis”. O tema do “Édipo”, embora aparecendo desde os inícios da Psicanálise, só recebe
elaboração definitiva na fase final da obra de Freud. E, é em torno desse eixo de referência, o
“Complexo de Édipo”, que ele clarificou a importância que tem para a nossa vida e
desenvolvimento psíquico e a relação com outras pessoas.
Os elementos do Complexo de Édipo vão sendo apresentados de forma esparsa na
evolução das teorias freudianas. Os textos mais explícitos sobre este complexo não são
expostos como o objeto principal. O termo “Complexo” designa um conjunto de sentimentos,
representações, e relações objetais internalizadas, predominantemente inconscientes, que
formam uma constelação estruturada, com uma determinada configuração afetiva. Freud fala
em “Complexo de Édipo”, em sua obra somente em 1910, situando o início deste complexo na
criança, por volta dos três anos de idade.
Com o surgimento dos conceitos de “narcisismo” e “identificação”, o Édipo passa para
um plano de maior destaque, pois a escolha narcisista se reflete sobre o ego. No artigo “Uma
Criança é Espancada” e no ensaio de 1920, sobre a “Psicogênese de um Caso de
Homossexualidade Feminina”, nota-se o elo intermediário na evolução do conceito desse
complexo. A esta época, Freud pensava que o resultado normal do Édipo seria desaparecer
sem deixar resíduos. O “Complexo de Édipo” é classificado desde as “Teorias Sexuais
Infantis” de 1908 até o “Ensaio” de 1919, como o “complexo nuclear das neuroses”: assim
escreve o autor: “A sexualidade infantil vencida pela repressão é a força principal que impele à
formação dos sintomas; e o elemento principal do seu conteúdo – o Complexo de Édipo – é o
complexo nuclear das neuroses.”
30

A análise do narcisismo pode ser chamada de conceito-limite entre a sexualidade


e o Ego, pois conduz à “escolha de objeto”. A escolha do objeto sexual nem sempre
coincide com o objeto que satisfaz as necessidades vitais elementares, sobre as quais se
apoia inicialmente a pulsão sexual, elas seguem as modalidades narcisistas ou anaclíticas
(apoiadas em, ou que se apoiam, ou dando apoio a). Na descoberta de escolha narcisista
de objeto, Freud, considera a razão mais forte para aceitar a hipótese do narcisismo

“Não devemos dividir os seres humanos em dois grupos mutuamente exclusivos,


segundo sua escolha de objeto seja anaclítica ou narcísica; assumimos que ambos os tipos de
escolha de objeto estão abertos para cada indivíduo, e que ele pode demonstrar sua
preferência por um ou por outro.” (FREUD, 1908).

De modo geral a criança, quando na fase fálica, se assemelha ao adulto, de um


ponto de vista sexual, mais do que se costuma perceber. Seu interesse pelos genitais e pela
masturbação alcança significação dominante chegando a aparecer uma espécie de orgasmo
genital. O menino se vê ajudado por sua inclinação motora, mantém sua crença na sua força
corporal e o prazer no seu corpo. A masturbação que antes se mostrara como uma atividade
prazerosa e tranquila, ganha novas características, pois os meninos como que agarram o seu
pênis para renovar a sua autoconfiança.
A masturbação não representa totalidade da vida sexual da criança. No menino
quando em pleno complexo de Édipo, a masturbação é apenas uma descarga genital de
excitação sexual devido às fantasias ativas e passivas pertencentes a esse complexo. No
decurso de sua vida subsequente, a masturbação deverá a sua importância a essa relação.
Nas meninas, as mesmas fantasias de desejo, devido à tenacidade dos vínculos com o genitor
culminam no desejo de ter um filho dele, constitui a força motivadora da masturbação infantil
feminina.
A fantasia não é apenas o efeito desse desejo arcaico, também é a matriz dos desejos
atuais. Esses fantasmas arcaicos inconscientes do sujeito procuram uma realização pelo
menos parcial em sua vida concreta. Transformam, dessa forma, as percepções e as
recordações as quais originam sonhos, induzem as atividades masturbatórias, exprimem-se
nos devaneios diurnos, procuram se atualizarem de forma disfarçada por meio das escolhas
profissionais, relacionamentos, escolhas sexuais e afetivas do sujeito.
Freud em seus estudos explica que, quando a libido é desviada dos objetos na
realidade, ela vai para a vida de fantasia do paciente, fortalecendo as imagens dos primeiros
objetos sexuais e estabelecendo uma fixação neles. Como esses primeiros objetos constituem
objetos incestuosos, o processo tem lugar no inconsciente, longe da consciência. A
sensualidade permanece vinculada a objetos incestuosos no inconsciente. As fantasias que
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acompanham a masturbação são aceitas na consciência, mas nenhum progresso é feito em


termos de dotação da libido.
Na tenra infância com todos os conflitos que esta desencadeia se instala a luta entre
amor e ódio, mantendo-se ativa ao longo da vida. É o estágio edipiano, em que a criança
desenvolve um grande interesse pelo genitor do sexo oposto e, em consequência, uma
rivalidade em relação ao genitor do mesmo sexo, com desejo de se deslocar. Na fase fálica o
jogo fantasístico imanente à sexualidade infantil na relação da criança com seus genitores, a
nível estrutural, é regido pelo complexo de Édipo. Esses intensos sentimentos de ciúme e
rivalidade em relação ao genitor revelados na criança se estendem para com os irmãos e
irmãs.
No caso da menina ainda pequena, a preocupação com o mamilo, cujo desejo do seio
da mãe passa a diminuir, transforma-se num interesse em sua maior parte inconsciente pelo
genital do pai. Passa então, a ser o objeto de seus desejos e fantasias libidinais. Evolução
semelhante ocorre com os meninos, que desde cedo experimentam desejos genitais para com
a mãe. No decurso de suas explorações táteis, a criança descobre as regiões especialmente
excitáveis que lhes são oferecidas pelos seus órgãos genitais. E é assim que a criança faz o
seu caminho do prazer da sucção para o prazer da masturbação. Há adultos que fazem
brincadeiras em relação ao pênis, reforçando o temor de punição. Outros fazem ameaças à
criança, quando percebem ou a surpreendem se masturbando, com promessas de “cortar ou
tirar fora o pênis”. Esse “falar sério” ou “brincar”, sempre se constitui em ameaças que a
criança interpreta como uma possibilidade, uma promessa de castigo, a castração, medo esse
reforçado pelos seus desejos nesse período edipiano. De acordo com as falsas interpretações
animísticas esses temores e sentimentos de culpa estão relacionados com as fantasias que
acompanham o ato de se masturbar.
O menino desta idade desfruta um orgulho viril de possuir um pênis, porém limitado,
por ser este menor do que o do seu pai. A criança sente o fato como um golpe narcísico,
tendo a impressão de ser inferior ao pai, na rivalidade edipiana. É nesta fase que o menino se
identifica com seu pênis numa valoração narcísica do órgão, embora ainda não tome posse
dele, como determinação sexual. Impulsos fálicos ativos coexistem com desejos de ter o
pênis acariciado, no entanto, o medo de alguma coisa acontecer a este órgão sensível é
traduzido na angústia de castração. Quando percebe pessoas reais homens e mulheres, não
os diferencia em função de ser portador de um pênis, ou ser castrado. Ao aceitar a condição
de “pessoa sem pênis”, no caso das meninas e mulheres, se afigura a ideia assustadora de
que estas um dia o tiveram, mas este lhes foi cortado. O menino presume, enquanto não
32

ensinarem o contrário, que todas as pessoas sejam construídas iguais a ele, o que lhe causa
medo, é uma criação decorrente da presunção incorreta dos fatos.
Nas meninas, a masturbação tem como ponto central o clitóris. É a parte do aparelho
genital que se apresenta mais rica em sensações e que atrai a descarga de toda a excitação
sexual, porém, não é a única sexualidade genital feminina, havendo também, uma sexualidade
vaginal. A menina, como o menino, até que lhe ensinem ao contrário, pensa e sente que todas
as pessoas são constituídas como ela. Quando percebe que não é assim, sente a situação
como desvantagem severa, ao se convencer de que “não possui um pênis” se sente
fracassada, acarretando “sentimentos” de vergonha, inferioridade, inveja do pênis
(mortificação e ciúmes), e raiva da mãe por não tê-lo.
O sentimento de que “a posse do pênis”, aos olhos da menina, traz vantagens
erógenas diretas, no que diz respeito à masturbação e à micção, faz com que perceba o
menino, possuidor de um pênis, mais independente e menos sujeito a frustrações. Os
sentimentos sexuais da menina nessa fase estão concentrados no clitóris, e isto faz com que o
“sinta inferior”, comparado ao pênis do menino. A falsa interpretação animística do mundo é
tão efetiva quanto o é a expectativa da realidade. A menina pensa: “fui punida”, enquanto que
o menino pensa: “posso ser punido”. Esse fato é responsável pela diferença considerável que
se vê no respectivo desenvolvimento ulterior. A angústia e o temor de ser castrado conduz o
menino para a entrada no Édipo, enquanto que a menina por se sentir castrada e viver essa
angústia sobre a falta e entra no complexo de Édipo.
O período fálico para o sexo feminino tem sua significação no fato de que possuem
duas zonas erógenas principais: o clitóris e a vagina. Na infância, o clitóris ocupa o primeiro
plano, e na fase adulta é a vagina que fica nesta posição, ocorrendo essa transferência de
modo definido na puberdade ou posteriormente na adultez. Esta ação ou transferência é
preparada ou induzida por uma impulsão no sentido da passividade. É experimentada pela
menina, quando esta ao variar de sua função materna preponderante, se volta para o pai.
Tanto o menino quanto a menina, abandonam a masturbação genital, ou diminuem bastante
após o período edipiano, para reaparecer na puberdade.
As crianças que se convertem em “voyeurs”, fazem-no frequentemente depois que a
atenção delas foi dirigida para seus genitais através da masturbação, desenvolvendo um
acentuado interesse pelos órgãos genitais de seus companheiros de jogos ou folguedos. Pode
ocorrer de que algumas crianças sigam ininterruptamente a masturbação infantil até a
maturidade, ou mesmo por um tempo indefinido. A masturbação exige um exame de
numerosos ângulos, e, é um dos temas que não podem ser resolvidos facilmente, sendo que
algumas pessoas não deixam nunca de se masturbarem. Os sintomas neuróticos dificilmente
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aparecem enquanto as crianças a praticam. Estes são propensos a aparecer somente depois
de um período de abstinência, quando passam a substituir a satisfação masturbatória. Estas
pessoas dificilmente se sentirão felizes, em suas escolhas objetais, quando adultas.
Todo o indivíduo conheceu e passou por uma fase em que sentimentos de amor pela mãe e
de ciúme do pai são muito fortes, porém, comuns a todas as crianças. Esse conjunto de
investimentos amorosos e hostis que a criança faz sobre os pais, é um processo que deve
conduzir ao desaparecimento dos mesmos e sua substituição por identificações com seus
genitores.
O Complexo de Édipo se constitui no clímax da sexualidade infantil. O
desenvolvimento erógeno que parte do erotismo oral, através do erotismo anal, para a
genitalidade e, bem assim, o desenvolvimento de relações objetais que partem da
incorporação, através da incorporação parcial e da ambivalência para o amor e o ódio,
culminam nos desejos edípicos, habitualmente expressos na masturbação com sentimento de
culpa. A gênese do complexo de Édipo é deduzida segundo o modelo masculino. Freud
descobriu que nas mentes inconscientes de seus pacientes se manifestavam metodicamente,
fantasias de incesto contra o genitor do sexo oposto aliadas a ciúmes e à raiva homicida
contra o genitor do mesmo sexo. A existência de tais desejos na infância e os conflitos aos
quais dão origem a estes se constitui numa experiência comum à humanidade.
Em culturas diferentes daquela em que estamos inseridos (civilização) obviamente os
conflitos circundantes mudam, havendo também diferença em relação à vida mental e aos
impulsos parricidas. Portanto o complexo de Édipo é universal. Consiste numa atitude dupla
em relação aos dois genitores: de um lado, o desejo de eliminar o pai odiado de forma
ciumenta, de lhe tomar o lugar em uma relação sexual com a mãe; de outro, o desejo de
eliminar a mãe, também odiada, com ciúmes, e de lhe tomar o lugar junto ao pai.

“O menino percebe que o pai perturba seu acesso à mãe. A identificação com o pai
assume então um matiz de hostilidade, e se torna idêntica ao desejo de substituí-lo também
no que se refere à mãe. Na verdade a identificação é ambivalente desde o princípio: pode
transformar-se tanto numa expressão de carinho quanto no desejo de que alguém
desapareça.”

No início do período edipiano, o menino ou a menina, habitualmente mantém com a


mãe sua relação de objeto mais forte, pois esta se desenvolve a partir do “amentar-se" na
mãe, momento em que já estão se desenvolvendo percepções sensórias, as quais se
expressam nas agradáveis sensações orais relacionadas ao processo de sugar. Não tarda
muito para entrar em cena sensações genitais, diminuindo esse desejo pelo seio materno, o
qual permanece ativo na mente inconsciente e em parte na mente consciente, de modo a
34

incluir gratificação dos desejos genitais que despertam na criança. Ao mesmo tempo,
desenvolve-se o desejo de possuir com exclusividade seu amor e admiração, o que,
provavelmente, se relaciona ao desejo de ser grande e “ser papai”, e “fazer o que papai faz”
com mamãe. Aquilo que “papai faz” a criança nessa idade não poderá compreender.
Entretanto por suas reações físicas independentes das oportunidades que tenha tido de
observar seus pais, deve relacionar seus desejos com as sensações excitantes em seus
genitais e, no menino com a sensação e fenômeno da ereção.

6. A ANGÚSTIA DE CASTRAÇÃO E AS FRUSTRAÇÕES

De acordo com as descobertas de Freud, a criança pode criar fantasias diferentes e


variadas a respeito das atividades sexuais de seus pais. Essas conjecturas da criança em
geral se relacionam tanto às experiências agradáveis dela com os adultos com as quais se
familiariza no começo da fase edipiana, como com suas próprias atividades auto eróticas.
Sob o predomínio dos desejos orais, o pênis é fortemente equiparado ao seio da mãe. A
inveja do pênis e a castração desempenham papel essencial no desenvolvimento da menina,
e essa inveja feminina do pênis, pode ter sua origem remontada à inveja do seio da mãe,
encontrando-se sua raiz na mais primitiva relação com esta, e nos sentimentos destrutivos
aliados a ela. Freud demonstrou quão vital é a atitude da menina para com a mãe em relações
subsequentes com os homens. A relação invejosa com a mãe se expressa numa rivalidade
edipiana excessiva. Essa rivalidade não se deve ao amor do pai somente, mas muito mais à
inveja da mãe pela posse do pai e do seu pênis.
Os sentimentos envolvidos têm força e intensidade, nessa fase, sendo que para muitos
é o caso mais ardoroso de sua vida, uma tempestade de paixões de amor e ódio, de desejo e
ciúme, de fúria e medo, dentro da criança. Um dos desejos edipianos mais importantes é o de
dar bebês à mãe, como o fez o pai. A criança se sente ansiosa, manifestando interesse em
saber como se fazem os bebês, quando são feitos, de como eles saem da barriga da mãe,
constituindo-se, portanto não somente em desejo de tê-los.
A par dos desejos sexuais pela mãe e de ser o único objeto de seu amor, existem os
desejos de aniquilar quaisquer rivais, em geral o pai e os irmãos. A rivalidade entre irmãos, na
sua origem, tem como uma de suas causas, o desejo de posse exclusiva de um dos genitores.
Esses desejos despertam na criança graves conflitos de dupla natureza, temendo de um lado
a retaliação pela onipotência do genitor, de outro a perda do amor em consequência de seus
desejos ciumentos, chocando-se impulsos agressivos, sentimentos de amor, admiração e
dependência em relação também ao genitor.
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Freud chama a atenção, em “A Organização Genital da Libido” (1923), sobre a maneira


regular a partir da qual ocorre nos anos de infância, uma escolha de objeto semelhante àquela
que caracteriza a fase evolutiva da puberdade, onde o conjunto de tendências sexuais se
dirige a uma pessoa específica, com a qual buscam alcançar seus objetivos. Entretanto, a
síntese das pulsões parciais e sua subordinação aos órgãos genitais não se estabelecem na
infância, sendo a construção desse predomínio, portanto a última fase da organização genital.
O desenvolvimento de relações de objetos no sexo masculino ocorre de forma mais
simplificada, pelo fato de o menino, nos estados desenvolvimentais ulteriores, permanecer
ligado ao seu objeto primeiro, a mãe. Essa escolha objetal primitiva é desenvolvida com base
nos cuidados que a criança recebe, e assim, segue a mesma direção que aquela originada da
atração do sexo oposto. As relações que de início são independentes, pois o primeiro
investimento libidinal é com a mãe, tendo uma relação primária com o pai confluem para a
realização do complexo de Édipo. Examinando as primeiras formas mentais assumidas pela
vida sexual da criança, percebe-se então que a situação do Complexo de Édipo no menino é o
primeiro estádio possível de ser identificado com certeza, considerando que ele retém o
mesmo objeto que previamente catexizou com sua libido, desde a amamentação e primeiros
cuidados.
O menino pequeno que desde cedo experimenta desejos genitais para com a mãe e
sentimentos de ódio para com o pai, encara o pai como um rival perturbador e gostaria de se
ver livre dele e tomar-lhe o lugar, consequência direta do estado real das coisas.
Desenvolvem-se nele também, desejos genitais e fantasias com relação ao pai, ou mesmo
irmãos, onde podem ser encontradas as raízes da homossexualidade masculina, na vida
ulterior. Porém, no curso normal dos acontecimentos tais desejos homossexuais passam para
a retaguarda, sendo desviados e sublimados, e a atração pelo sexo oposto predomina.
Situações desse tipo, também geram inúmeros conflitos, pois o menino ama o pai e gostaria
de poupar-lhe o perigo de seus impulsos agressivos. A atitude edipiana pertence à fase fálica
e a sua destruição é ocasionada pelo temor de castração, ou seja, pelo interesse narcísico nos
órgãos genitais.
O menino sofre frustrações da mãe, e pode odiá-la; ama o pai e outros objetos. Porém
o amor pela mãe continua a ser a pulsão dominante durante a fase sexual infantil. As pulsões
contraditórias de ódio e amor coexistem temporariamente, enquanto processo primário, sem
que daí resulte conflitos. Porém, à medida que o ego se fortifica aos poucos o processo
secundário vai se instalando e vai se tornando impossível a ambivalência pulsional e os
conflitos surgem. O menino começa a perceber que: o amor pela mãe, o amor identificante
pelo pai e o ódio pelo pai conflitam entre si. “Amo minha mãe e odeio meu pai porque ele a
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toma para si” exprime a maneira pela qual os impulsos do menino se condensam tipicamente,
nas condições da criação da família.
A mãe é o objeto de desejo e apaixonamento do menino, o que mãe faz com que tenha
sensações voluptuosas provenientes de seu órgão sexual. Busca excitação manual, e deseja
possuí-la fisicamente, da maneira como suas observações de ordem sexual e sua intuição lhe
permite adivinhar. Sua virilidade cedo despertada o enche de orgulho e o incita a querer
substituir seu pai junto à mãe, o qual até aquele momento tinha sido um modelo devido à sua
autoridade e força física. É o complexo de Édipo positivo, cujo ponto culminante coincide com
o estádio fálico de desenvolvimento libidinal. Quando no menino, o amor pelo pai é que
prevalece, e a mãe é odiada como elemento que transtorna o amor pelo pai, fala-se em
complexo de Édipo negativo. Certos traços dessa forma de complexo edipiano se acham
normalmente presentes junto ao positivo, o que às vezes aumenta consideravelmente pela
influência de fatores constitucionais e da experiência.
Nas meninas o desenvolvimento objetal acontece de forma diferenciada, pois elas
passam por mais uma etapa de desenvolvimento do que os meninos, ou seja, a transferência
do primeiro objeto de amor que é a mãe para o sexo oposto, o pai. Essa transição se realiza
relativamente tarde, entre três a seis anos. As decepções que vêm da mãe, experiências
importantes e precipitantes que facilitam ou constituem a mudança de objeto fazem com que a
menina se afaste dela. Os meninos não se afastam da mãe, apesar de passarem por essas
mesmas decepções. O desmame, o treino higiênico, o nascimento de irmãos são os que
trazem as repercussões mais sérias. Nessa evolução do processo de desenvolvimento a
menina deseja o pai mais intensamente do que a mãe, e alimenta fantasias conscientes e
inconscientes de tomar o lugar da mãe, conquistando o pai para se tornar sua mulher. Mostra-
se também extremamente ciumenta dos filhos que a mãe possui, deseja que o pai lhe dê filhos
somente seus. Tais sentimentos, desejos e fantasias provocam rivalidade, agressividade e
ódio contra a mãe, e são somados aos ressentimentos que nutria contra ela devido às
primitivas frustrações com o seio.
Para o sexo feminino, a significação do período fálico se associa ao fato dos genitais
femininos possuírem duas zonas erógenas genitais: o clitóris e a vagina. Durante o período
genital infantil, o clitóris ocupa o primeiro plano, no período adulto é a vagina que fica em
primeiro plano na sexualidade genital. A transferência do clitóris como zona principal para a
vagina é uma etapa que ocorre de modo definido, na puberdade ou após esta, embora seja
preparada e introduzida por uma impulsão no sentido da passividade, impulsão que a menina
experimenta quando sua fixação materna varia e se volta para o pai.
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Contudo, as meninas tipicamente reagem à descoberta do pênis, com inveja primária,


acarretando profundos sentimentos de vergonha, inferioridade, ciúme e raiva contra mãe.
Algumas que, tendo tendências para a auto recriminação, reagem ainda a esta inveja primária
com fortes sentimentos de culpa, como se elas próprias tivessem lesado o próprio corpo. O
clitóris é percebido como um pênis pequeno, de onde o desejo de que ele venha a crescer. No
entanto, todas responsabilizam a mãe por lhes ter privado ou tirado alguma coisa. Essa
decepção, especificamente feminina é que constitui o principal motivo do afastamento da mãe.
A fase edipiana se instala com o desejo de ter um filho com o pai, segundo a equivalência
“pênis = criança = presente” equação simbólica proposta por Freud.

“Temos a impressão que o Complexo de Édipo é em seguida lentamente abandonado,


porque este desejo não chega a cumprir-se nunca. Os dois desejos, o de possuir um pênis e o
de ter um filho, perduram, intensamente carregados, no inconsciente, ajudando a preparar a
criatura feminina para seu ulterior papel sexual. Mas, em geral, temos que confessar que
nosso conhecimento evolutivo na menina é bastante insatisfatório e incompleto.”

A feminilidade ulterior é preparada por elementos receptivos-anais e receptivos- orais


regimentados. O objetivo é conseguir do pai as “provisões” que são negadas pela mãe. Na
fantasia da menina, a ideia “pênis” substitui a ideia “criança”; e o clitóris, como zona principal
pode tornar a ser regressivamente substituído por experiências anais e sobre tudo orais, isto é,
exigências receptivas. É a revivência de desejos receptivos que tem consequências diversas,
preparando normalmente para a sexualidade vaginal ulterior, na qual se vêm muitas vezes,
características de origem oral ou anal das catexias e da receptividade feminina normal.
O relacionamento da menina com sua mãe, frequentemente se mostra mais
ambivalente do que com a maioria dos pais. Não obstante fantasias sexuais e desejos
referentes à mãe permanecem ativos na mente da menina, e assim ao lado do amor dos pais
coexistem sentimentos de rivalidade para com ambos, e essa mescla de sentimentos é levada
adiante em seus relacionamentos com os irmãos e irmãs. Estes sentimentos para com as
irmãs como acontece com o menino, também formam a base de relacionamentos
homossexuais diretos na vida ulterior, podendo ser os mesmos desviados e sublimados, a
atração pelo sexo oposto predomina. Alguns remanescentes da fixação materna pré-edipiana
sempre são encontrados nas mulheres, e ainda, os objetos masculinos de amor de muitas
mulheres têm mais características da mãe do que do pai. Na menina, a percepção de se ver
castrada envolve a noção de uma possível reunião, de sorte que é possível imaginar a
recuperação do pênis por intermédio do pai e posteriormente do marido. Castração, angústia e
Édipo passam assim a formar uma totalidade e ainda, se os complexos funcionam no id, a
reação do ego a eles aparece como angústia.
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Os objetivos de fixação materna pré-edipianos, embora sejam pré-genitais, certamente


haverá impulsos genitais que se dirigem para a mãe. É a decepção genital que conduz à
renúncia final. Em condições normais de nosso ambiente cultural, uma vez realizado o apego
ao pai, a menina desenvolve o Complexo de Édipo análogo ao do menino. O amor pelo pai se
associa ao ódio, carregado de ciúme da mãe.
A observação de cenas sexuais entre os pais, ou mesmo entre adultos pela criança, se
constitui na “cena primária” e cria alto grau de excitação sexual cuja impressão é de que a
sexualidade é perigosa. Essa impressão é consequência de uma quantidade de excitação que
excede à capacidade de descarga da criança. Ela a experimenta como traumática e dolorosa
sendo capaz de sadicamente interpretar de forma errônea essa percepção. O medo de
castração pode ter origem à vista dos genitais adultos. A observação de animais, de adultos
nus, até mesmo cenas que nada têm de sexual, a criança poderá experimentar subjetivamente
como sexuais na medida em que as transfere para os pais, de acordo com a “cena primária”
(observação do coito), variando conforme os pormenores da cena percebida.
Quando se fala em desejos genitais o que se deve considerar primeiro, são os fatores
genitais. A genitalidade pode ser excitada prematuramente em algumas crianças, pela
sedução. Essa intensidade das excitações está sendo estimulada por fatores externos, às
vezes excede o poder de controle da criança, criando estados traumáticos, ligando entre si os
reinos da “genitalidade” e da ameaça. Tem importância para o complexo de Édipo, tudo aquilo
que a criança aprende ou pensa a respeito da vida sexual dos pais, e tanto mais quando a
experiência é súbita. É frequente haver combinações de experiências verdadeiras e
interpretações errôneas.
Toda a criança fantasia a relação de seus pais, sente desejo de observá-los durante o
contato sexual. Não experimentando tal desejo, as sugestões da realidade a auxiliarão a
fantasiar. A essa ideia ou atitude infantil, Freud denominou de “fantasia primária”. Os fatos
traumáticos na vida da criança, entre os quais lhe importa mais fortemente, é o nascimento de
irmãos. Pode experimentá-lo como transtorno súbito das gratificações edipianas e que
circunstancialmente terão de ser partilhados com outra criança, despertam percepções e
curiosidade em relação à gravidez e ao nascimento, como também aumentam a ansiedade
sexual.
O complexo de Édipo ideal reflete uma situação triangular. Na realidade ele aparece
com nitidez na relação dos filhos únicos, onde três pessoas estão presentes. Estes, no
entanto tem um complexo mais intenso e a probabilidade de não se ajustar de modo adequado
é bem maior. Quando em quadro de famílias mais numerosas, os irmãos e as irmãs
representam pessoas supérfluas, do ponto de vista edipiano. Constituem objetos de ciúme, e
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em determinadas condições individuais, aumentam o ódio inconsciente pelo genitor do mesmo


sexo. Pode ocorrer de os irmãos mais velhos servirem de objeto de transferência de amor,
formando-se os “duplos complexos de Édipo”; aquilo que experimenta com o pai (ou mãe) é
também experimentado com o irmão (ou irmã) mais velho uma segunda vez, podendo trazer
alívio, ou então criar novos conflitos. O primogênito tem a oportunidade máxima de se
identificar como genitor e de exercer a autoridade com os irmãos mais novos.
Em se tratando ainda de diferença de idade, os irmãos mais novos podem ser sentidos
como competidores e serem considerados como filhos dos mais velhos, de modo a estimular o
complexo de Édipo. O filho caçula corre o risco de ser mimado e o filho do meio, de não
receber suficiente afeição. Ideias invejosas podem ser criadas, assim como “mamãe ou papai
vai amar o bebê em vez de mim”, sendo a impressão “mamãe deu a papai o bebê em vez de
dá-lo a mim”. Com a realização substitutiva diminuem os desejos edípicos, as fantasias são
reprimidas, mas versões disfarçadas das mesmas subsistem na consciência, como os
devaneios familiares da infância, continuam a exercer influência importante em quase todos os
aspectos da vida adulta.
O amor edipiano frustrado pela falta de um dos pais seja por morte, por separação, por
divórcio do casal, por não os ter conhecido (crianças institucionais), dependendo da idade da
criança, afeta o seu desenvolvimento. A própria criança percebe que esse pai já existiu e que
outras crianças vivem com seus pais. Sente-se culpada, pois essa falta cria intensos
sentimentos de culpa, considerando que o desejo edipiano admite a eliminação de um dos
pais. Podem ocorrer consequências de importância especial: aumento do apego ao pai que
resta determinado pela afeição que este pai tem pela criança, geralmente de índole
ambivalente; produz-se conexão inconsciente entre as ideias de sexualidade e morte (ou
perda); a pessoa que perdeu alguém regressa à fase oral, se prematuramente, implica em
efeitos permanentes na estrutura do complexo de Édipo. Os conflitos entre os pais, onde a
criança é o tema das discussões parentais, cria-se mais facilmente uma intensificação do
complexo de Édipo total, além da fixação narcísica. A criança por certo contará que todos hão
de sentir por ela o mesmo interesse dos pais, expectativa fatalmente frustrada.
No menino, o “Complexo de Castração”, o leva a abandonar o seu investimento na
mãe para salvar o seu pênis, enquanto que a menina entra no Édipo para obter junto ao pai o
órgão que lhe falta, órgão do qual o bebê será um dos substitutos fálicos. A importância do
complexo de Castração só pode ser adequadamente compreendida, se considerar o seu
aparecimento em plena prevalência do falo.
Portanto o “Complexo de Édipo” empregado por Freud significa a combinação de amor
genital pelo genitor do sexo oposto e desejos ciumentos de morte contra o genitor do mesmo
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sexo. Combinação esta altamente integrada de atitudes emocionais que constitui o clímax do
longo desenvolvimento da sexualidade infantil. A intensidade do medo de castração torna-se
tão intolerável, que a criança é obrigada a render-se ante um rival tão poderoso e a desistir
dos seus desejos em relação ao genitor do sexo oposto, pelo que reprime os seus sentimentos
sexuais. O desenvolvimento das relações de objeto na menina e no menino acontece de forma
diferenciada, ao que Freud expressa da seguinte forma: o Complexo de Édipo no “menino” é
resolvido pelo “complexo de castração”, renunciando a ele por causa da “angústia de
castração”, ou seja, o menino pelo temor de poder ser castrado vive a angústia de castração.
Na “menina” o complexo de Édipo é produzido pelo “complexo de castração”, ou seja, por se
sentir mutilada, defeituosa, detentora de um clitóris (não pênis) vive a angústia de ser
castrada, onde a decepção que resulta da “falta do pênis” leva a que o amor da mesma se
volte para o pai.
Desde as suas primeiras articulações Freud se referiu à sua descoberta, o Complexo
de Édipo, como estando para além da história e vivências individuais, afirmando a sua
universalidade. O autor atribui a eficácia do mito à sua instância interditora – proibição do
incesto – como aquela que limita o acesso à satisfação naturalmente procurada. Em “Totem e
Tabu” ele não apenas vincula de forma radical o desejo à Lei, como também o caráter
estruturante do desejo – movimento do humano de ansiar e repetir a primeira experiência da
satisfação.

7. A FORMAÇÃO DO SUPEREGO

Durante o período edipiano a vida mental é para cada criança, única e especial,
profundamente influenciada tanto pelas experiências dos dois primeiros anos de vida, que
precederam esse período quanto pelos acontecimentos da própria fase edipiana. Diminuindo
a dependência biológica em relação ao pai e à mãe, começa a aumentar a dependência
mental e intelectual, como também espiritual na vinculação com os mesmos. Um dos pré-
requisitos indispensáveis para adaptação social é a formação de um código de normas éticas,
um estatuto denominado ‘consciência’, ou ‘voz da consciência’, foi publicado por Freud em “O
id e o Ego” (1923). Esse é o superego, resultante da incorporação no ego das injunções
proibitivas dos pais, a internalização das compulsões externas. O superego é uma instância
especial, chega a se desenvolver pela captação de estímulos visuais e auditivos, o que pode
ser dito metaforicamente que “vê” e “ouve” interiormente, adquirindo uma invencível autoridade
sobre o ego.
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Em suas etapas iniciais o superego pertence ao ego, porém gradualmente vai se


diferenciando, sem que o indivíduo normal o perceba como um elemento definido, tal como
ocorre nas neuroses, por exemplo, cuja estruturação do mesmo decorre do complexo de
Édipo. O superego toma o lugar da função paterna e se institui na função de juiz – uma
instância superior que não só obriga o indivíduo a abandonar os impulsos de natureza sensual
e agressivos, mas também observa, censura, guia e ameaça o ego, da maneira como os pais
faziam antes.
O medo de perder a afeição dos pais e o medo de castigo difere de outras ansiedades
que motivam defesas. Outros perigos exigem a cessação incondicional da atividade
ameaçadora, porém esta atividade ameaçadora pode persistir em segredo, ou a criança fingir
que se sente má, quando sabe que se sente boa. Com o desenvolvimento e maturação da
criança, as proibições estabelecidas pelos pais passam a vigorar mesmo que na ausência
destes, instituindo-se na mente, um guarda permanente, o qual assinala a aproximação
possível de situações ou comportamentos capazes de resultar na perda da afeição materna. O
guarda preenche a função essencial do ego de prever as reações prováveis do mundo externo
ante o comportamento do individuo. Uma porção do ego se transformou em “mãe interna” a
qual ameaça uma retirada possível do amor, através da introjeção.
A introjeção das proibições parentais dentro do ego provoca alterações que são
precursoras do superego, denominada “moral de esfíncteres”. Esta expressão acentua a
importância que tem a aprendizagem de hábitos higiênicos no desenvolvimento desta “pré-
consciência”. Se solicitada a evacuar os intestinos, somente em certas ocasiões a criança
experimenta o conflito entre “deve” ou “gostaria”. O que determina o desfecho são a
intensidade dos impulsos reprimidos e os sentimentos para com o adulto que solicita a
repressão.
Originalmente a criança desejou fazer as coisas que os pais fazem: quer identificar-se
com as atividades deles e não com suas proibições. As crianças querem identificar-se com os
pais e com seus padrões ideais parentais. Ao aceitar as proibições como parte da adaptação a
esses padrões ideais desejam ganhar a recompensa de se sentir semelhante aos pais, o que
facilita as proibições. As “proibições parentais internalizadas”, precursoras do superego são
muito fortes na medida em que ameaçam a criança com castigo terrível, ou são fracas na
proporção em que é fácil desobedece-las ou contorna-las sempre que não haja ninguém
vendo.
As formas especiais e particulares do complexo de Édipo são tão múltiplas e
individuais quanto às experiências infantis. As relações de objeto da fase edipiana passam a
ser regressivamente substituídas por identificações. As cathexis de objeto vão sendo
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abandonada e substituída por identificações, e assim a autoridade dos pais será introjetada,
promovendo o desenvolvimento do Ego. As identificações subsistem aos impulsos sexuais e
hostis para com os pais, e uma relação objetal terna com objetivos inibidos subsiste
juntamente com estas identificações. Os objetos introduzidos no Ego são magníficos, tornando
grande a distância entre eles e o sentimento infantil. Freud descreve esta fase sexual
governada pelo complexo de Édipo, como sendo a formação de um precipitado do Ego,
modificação esta que mantém sua posição especial, contrastando com os outros constitutivos
do Ego sob a forma de “Superego”.
O Ego “toma emprestado” dos seus vigorosos pais a força que lhes permite eliminar o
complexo de Édipo. “Os pais introjetados” alteram a parte do ego, não podendo fusionar-se de
imediato com o resto do mesmo, porém formam o núcleo do superego que assume a
severidade do pai e perpetua a proibição deste contra o incesto, defendendo assim o ego do
retorno da catexia libidinal. Dessa forma é que a resolução desse complexo acarreta o
decisivo e notório passo “dentro do ego”, o que é de capital importante para o ulterior
desenvolvimento do ego, e por sua organização diferencia-se do seu precursor, o “superego”.
O ego passa a distinguir valores pela autoridade do mundo exterior e não mais aqueles
produzidos por uma faculdade discriminadora, fazendo a distinção em termos de balanço
prazer-desprazer.

“Só se produz uma mutação decisiva quando a autoridade é internalizada, ao se


estabelecer um superego. Com isso os fenômenos da consciência moral são elevados a
um outro nível, e a rigor só agora temos o direito de falar de consciência moral e de
sentimentos de culpa. Nesta fase deixam de ter sentido o medo de ser descoberto e a
diferença entre querer fazer o mal, pois nada pode ser ocultado do superego, nem sequer
os pensamentos.” (FREUD, ES, v XXI, 1927)

Esta internalização da autoridade equivale à identificação com a instância parental,


com proibições e interdições dela provenientes. Com isso é dada a possibilidade do
sentimento de culpa, pois enquanto a proibição se origina no exterior o sujeito pode se sentir
vítima inocente do arbítrio que decorre. O sentimento de culpa se refere às culpas edípicas
inconscientes, como também, constitui um sentimento inerente ao ser humano. Porém,
quando ela é ditada por um imperativo categórico que nasce da consciência moral, a escusa
da negligência ou da ignorância não mais pode ser invocada. Decorre daí o caráter onisciente
do superego ao qual se acrescenta a intemporalidade dos processos inconscientes: o ego
para o qual ele se volta com sua sanha justiceira será sempre o ego do Complexo de Édipo.
De acordo com o caráter “total” do complexo de Édipo todos os indivíduos mostram
traços dos pais, de um e de outro, no seu superego. Ao renunciar aos sentimentos agressivos
de ódio, rancor e fúria em relação ao genitor de sexo oposto, a criança se identifica com as
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partes de cada genitor, tornando-as parte de si mesma. Na formulação de Freud, a impressão


é de que a força relativa das disposições sexuais masculinas e femininas é o que determina se
a situação edipiana resultará em identificação com o pai ou com a mãe. Esta é uma maneira
pelas quais a bissexualidade influencia as vicissitudes ulteriores do complexo de Édipo.
Estabelecido o Superego, tem-se como resultado o fim dos impulsos do complexo de
Édipo iniciando assim, o período de latência. À vista disto Freud nos diz que: o “superego” é o
herdeiro do “Complexo de Édipo”. Essa resolução, genericamente, ocorre de forma
diferenciada em cada sexo, refletindo-se na personalidade ulterior. O menino renuncia aos
seus desejos sensuais e hostis edipianos por causa do "medo de castração”, cuja intensidade,
durante a fase fálica, se deve à hipercathexia do pênis. No dizer de Freud: “o complexo é
despedaçado pelo choque da castração ameaçada”.
A menina sente medo da perda de amor, por causa da decepção, vergonha e medo da
lesão física, tendo um valor dinâmico menor do que o medo de castração. Assim sendo, na
menina, o Complexo de Édipo tem sua resolução mais gradativa e menos completa. Aí,
segundo Freud, estaria a base psicológica das diferenças caracterológicas entre os sexos.
O superego perpetua o temor à castração no menino, e este é o cerne do processo
que conduz do Édipo ao Superego, a ela se reduzindo em última análise as vagas “influências
do mundo exterior” – pois a castração é o castigo do incesto, realizado ou desejado. Para a
menina, a castração não é uma ameaça, mas um fato consumado. O trânsito do Édipo ao
Superego, portanto, acontece à medida que o Édipo sucumbe e o Superego surge.
A agressividade do sujeito então fica concentrada e absorvida nesta parte ou função a
que chamaria de “Superego”. São os princípios e os padrões, dentro de cada um, que
inconscientemente ditam uma parcela do comportamento e frequentemente manejam o “ego”
com extrema severidade, e o castigo que o superego inflige é o “remorso” ou o “peso na
consciência”. Assim, na medida em que, cada sujeito, vai tomando conhecimento dessa parte
e de sua influência sobre o ego, vai se formando o que chamamos de consciência, o que não
é senão o ponto culminante na nossa mente consciente, da nossa aceitação inconsciente, e
da necessidade de aceitar essa tarefa.
O superego é a mais recente das aquisições filogenéticas do aparelho psíquico, cujas
imagens parentais introjetadas dão origem ao núcleo do mesmo. Na sua constituição não só o
núcleo severo que corresponde em geral, ao pai ou a substitutos (professores, tios, padrinhos,
etc.), mas também outro núcleo materno mais tolerante. Dai a repressão exigida dos impulsos
e das tendências ser aceita não só por temor, mas também por amor, pois em compensação
recebe uma compensação narcisista ao sentir-se bom, querido, e quando adulto for visto como
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uma “pessoa decente”. Seus elementos essenciais provem da incorporação de exigências


impessoais e gerais do ambiente social.
Numa dimensão mais abrangente, o Complexo de Édipo, como submetimento a uma
Lei, está para além da relação da criança com os pais e vice versa, apontando para a
interdição como condição básica para que se possa referir aos agrupamentos humanos. A
atitude dominante deverá ser a de um filho, tornado forte e corajoso, independente e confiante,
com aptidão para lidar com toda a sorte de situações, sempre acobertado pela afeição e pelo
amor. Isto acobertado, ele estará sendo qualificado para viver a sua sexualidade de forma
feliz, em qualquer cultura ambiental. Ao contrário, se o seu mundo, a partir dessa idade,
estiver cercado de proibições, ameaças, punições, cólera e cenas violentas, a intimidação
mesmo que indireta, nele gerará uma invencível sensação de medo e ansiedade. A ansiedade
em seu estágio inconsciente, tal qual se apresenta no neurótico, pode provocar, além de
outros sintomas e distúrbios de comportamento, sérias perturbações da vida sexual A
ansiedade pode originar-se na infância, ou na idade adulta. Em ambos os casos ela é o centro
motriz das neuroses.

8. A ENTRADA NO PERÍODO DE LATÊNCIA

No período que se segue ao Complexo de Édipo as manifestações sexuais não


desaparecem completamente e as aquisições da sexualidade infantil mergulhariam
normalmente no recalcamento. A profusão de fenômenos da sexualidade infantil nesta fase é
relativamente pouca, diminuindo em número e intensidade destas manifestações. No período
entre o ser “criança” e o ser “pré-adolescente” há um estado de equilíbrio entre a sexualidade
e o Ego, que se caracteriza por um aumento de energia do Ego e uma diminuição da energia
do Id, em relação com o período dos anos anteriores. Esse florescimento inicial da
sexualidade infantil por natureza é que constitui a pré-condição da repressão e das neuroses.
Ao escrever a Fliess, na carta 46, datada em 30 de maio de 1896, Freud coloca ao
amigo a noção de que a sexualidade não se desenvolve de forma continua e linear, mas por
períodos ligados à repressão, o que mais tarde se definirá conceitualmente em relação à
etiologia das neuroses. O termo latência e sua caracterização aprecem em 1905, com a
publicação de “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, onde Freud afirma que neste
período de latência há “uma diferença essencial”, os períodos de transição são concebidos
como etapas de maturação sexual, enquanto que a latência será considerada um tempo de
ausência relativa, ou de repressão da sexualidade. Esses dois períodos, na latência, são
considerados dois tempos de passagem ou de transição, pois a prática sexual da criança não
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se desenvolve da mesma maneira que suas outras funções, mas após um breve período de
florescimento, entre dois e cinco anos. A produção de excitação sexual não é suspensa,
perdurando e apresentando acréscimos de energia, na maior parte empregada para outros
fins, distintos dos sexuais.
A expressão “período de latência” foi utilizada por Freud (1905), para caracterizar
um tempo decorrido em que a rigor não há uma nova organização da personalidade como
ocorre nas fases oral, anal, fálica. A expressão tomada emprestada de Fliess aplica-se ao
período que vai dos seis aos doze anos de idade, espaço de tempo que permeia entre o
declínio da sexualidade infantil até a entrada na puberdade. As crianças nessa idade de
entrada na latência, em geral, são bem comportadas, dóceis e educadas. Os derivados
pulsionais continuam, apesar da diminuição das atividades e de investimentos de natureza
sexual, que são substituídos pela preponderância da ternura sobre os desejos sexuais, o
surgimento de um conjunto de sentimentos tais como o pudor, a vergonha, a repugnância,
e aspirações morais.
O período de latência surge a partir do declínio do complexo de Édipo e é
governada pelo principio de “prazer-e-dor” que perde a supremacia na medida em que
cresce a confiança da criança na mãe como aquela que conforta as aflições físicas e
emocionais de seu filho. Essa explicação fica mais elucidativa e faz perceber o que ocorre
quando Freud afirma que o “Complexo de Édipo deve desaparecer porque chegou para ele
o momento de se dissolver, tal como caem os dentes de leite quando aparece a segunda
dentição”. Assim a caída da manifestação dos impulsos sexuais (mais intensos) na
latência, como os “dentes de leite” que são substituídos pelos permanentes nessa fase,
dando lugar à pré-puberdade e anos posteriores.
É nesse período que se configuram as atitudes do Ego destinadas a colocar um
freio à tormenta da puberdade. A energia oriunda da excitação sexual segundo Freud é
armazenada e empregada para intuitos não sexuais, os impulsos parciais eróticos se
colocam diretamente a serviço do desenvolvimento cultural o que contribui para o
desenvolvimento de defesas contra os impulsos sexuais, de sentimentos sociais e das
atividades sublimatórias. Aos cinco ou seis anos de idade os sentimentos de pudor, de
desgosto, de piedade, de vergonha, de moralidade e de nojo aparecem ao mesmo tempo
em que a consciência moral. Isso tudo se desenvolve sob a pressão dos impulsos do Ego.
Com a instalação do Superego ocorre um fenômeno psíquico muito singular ao qual
Freud denominou de “amnésia infantil”. Este fenômeno ocorre entre seis e oito anos e
encobre os primeiros anos da infância, ficando preservadas na memória, algumas
lembranças incompreensíveis e fragmentadas. Tudo isso ocorre por força do recalcamento,
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e quando adulto nada é sabido, e este “não sabido” segundo Freud guardam no
inconsciente o que ficou esquecido em relação a outras atividades anímicas e impressões
que deixaram profundas marcas que determinam o desenvolvimento posterior. Não um
declínio real das impressões infantis, mas uma amnésia semelhante à observada nos
neuróticos em relação a vivencias posteriores, cuja essência consiste no impedimento da
consciência devido ao recalque original. Pode ser dito que a amnésia infantil esta a serviço
do recalcamento, pois o sujeito já possui um acervo de traços mnêmicos que não estão
disponíveis à consciência, porém através de representações e ligações associativas que se
apoderam daquilo sobre o que atuam as forças repulsoras do recalque, segundo Freud
(1905, carta 84). A amnésia infantil ao que parece converte a “infância” de cada ser
humano numa espécie de “época pré-histórica”, ocultando do individuo os primórdios de
sua própria vida sexual, e a culpa que pode carregar sobre os desejos e fantasias do
período pé-edipiano e edipiano.
As manifestações sexuais nunca desaparecem completamente, nesse período,
embora haja crianças que não renunciam à masturbação durante os anos da latência, porém o
sexo ocupa lugar menos destacado do que a fase anterior e o período posterior. A cessação
ou decréscimo das atividades masturbatórias e dos interesses instintivos em geral, se deve à
influência do Superego que inicia suas manifestações e censura com a resolução do complexo
de Édipo. A situação de equilíbrio desse período muda na puberdade devido a novo aumento
das emergias instintivas que traz consigo o correr dos anos e que exige, por parte do ego, uma
mudança de atitude no manejo de seus mecanismos de defesas contra os instintos.
Esse período de latência se caracteriza pela repressão da sexualidade infantil,
surgindo uma “amnésia” relativa às experiências anteriores, formando um reforço das
aquisições afetivas e mentais do ego. A combinação entre ambas favorece o surgimento da
sublimação das pulsões, ordinariamente manifestada na escolarização e em atividades
esportivas, como também, na constituição de aspirações morais, estéticas e sociais,
período em que consolida a formação do caráter.
O período de latência inicia por volta de cinco e seis anos e acaba entre dez e onze
anos em ambos os sexos, com o aparecimento da puberdade. Em condições culturais
favoráveis, costuma ser o período do primeiro amor, caracterizado por uma inibição quase
total dos componentes sexuais, pois a capacidade de unir a ternura ao erotismo só
amadurece mais tarde. O trabalho de latência se da em dois planos: intrassubjetivo e
intersubjetivo, ampliando o aparelho psíquico em seus aspectos tópico, dinâmico e
econômico (metapsicológicos).
47

9. O PERÍODO DA PUBERDADE

O desenvolvimento da sexualidade foi considerado pela psicanálise como tendo


dois períodos importantes: a primeira infância e a puberdade. Na puberdade reaparece a
escolha de objeto edípica. Nessa fase, o adolescente se acha diante de uma tarefa
penosa, deve rejeitar suas fantasias incestuosas e concluir sua libertação da autoridade
parental. Ao iniciar a puberdade se acrescentam modificações qualitativas na intensidade
dos instintos, o que faz com que a sexualidade pré-genital converta-se na genitalidade
característica do adulto.
O complexo de Édipo é o processo que deve levar à posição sexual e à atitude
social adulta. Este, quando não superado, continuará exercendo, a partir do inconsciente,
uma ação importante e duradoura. E assim, com seus derivados, irá constituir o complexo
central de cada neurose.
O relativo equilíbrio do período de latência dura até a puberdade, ocorrendo então
uma intensificação biológica dos impulsos sexuais. O ego mais desenvolvido, reage de
modo diverso do que reagia antes de acordo com sua experiência anterior. Ao atingir a
primazia genital, com a maturação genital, o ego aceita a sexualidade como componente
importante da personalidade e aprende a se ajustar a ela.
Na realidade, as experiências vividas no período da sexualidade infantil e do
complexo de Édipo não são diferentes, reaparecem as atitudes e os conflitos destas fases
anteriores, embora mais complicados, devido às condições novas produzidas por
alterações físicas. Certas atitudes hostis aos instintos terão estabilizado devido ao
equilíbrio relativamente agradável do período de latência, aumentando porém a ansiedade
e a instabilidade. Nesse período as exigências não mudaram muito, porém o ego mudou,
tendo desenvolvido padrões definidos de reações e exigências internas e externas.
Na puberdade parece reiniciar o desenvolvimento sexual precisamente do ponto
em que fora abandonado à época do complexo de Édipo. A intensificação dos desejos
edipianos é constante que ocorra antes que se resolvam os vínculos incestuosos. Os
temores e culpas ligados ao complexo de Édipo são responsáveis pela hostilidade do ego e
temeridade aos instintos. Portanto as ansiedades sexuais são intensificadas nesse período
e os conflitos entre impulsos e ansiedades são sentidos conscientemente pelos
adolescentes, em particular aqueles que giram em torno da masturbação. Somente
quando a repressão da masturbação na infância, foi muito intensa, é que ela não recomeça
na puberdade.
48

A restauração do equilíbrio psíquico se dá num período mais longo, necessitando


de mais tempo para que na puberdade seja aceita a sexualidade como parte da vida.
Certamente existe um condicionamento cultural e social diverso e que ainda é esfera não
desvendada. Promovem reuniões para atividades instintivas em comum, numa base
narcísica, ou alternar histórias sobre a sexualidade. Outros tentam ocultar sua própria
masturbação e seus desejos, se isolam, não participam de grupos, ou reuniões, sentindo-
se banidos e solitários.

10. A CHEGADA DA ADOLESCÊNCIA

A chegada adolescência, considerando as questões históricas, não existia para o


homem primitivo. Esse homem era lançado diretamente da infância para a vida adulta de
auto-gestão sem um período preparatório. Para aqueles mais desavisados, a adolescência
se configura como um momento em que, naturalmente, o indivíduo se torna alguém muito
chato, difícil de lidar e que está sempre criando confusão e vivendo crises. Assim para
estes, ser criança “é viver um mundo de sonhos e fantasias, é o melhor momento da vida, é
ser feliz” e portanto, a infância é o “melhor temo da vida”, enquanto que a compreensão da
adolescência é permeada pela ideia de “aborrescência, rebeldia e atrevimento”,
configurando como um momento em que o indivíduo se torna “alguém muito chato, difícil
de lidar e que está sempre criando confusão e vivendo crises”.
“O que vem a ser a adolescência?” Com a evolução da espécie, no aspecto
fisiológico e principalmente no cultural, foi inaugurado um período de tempo que recebeu a
denominação de adolescência, e que posteriormente foi prolongado por mais uma década.
O exercício da maturidade mais especializado requer um tempo maior de preparação. A
expectativa de vida média do ser humano duplicou nos últimos séculos, repercutindo sobre
as exigências de preparo para a vida adulta que também se ampliaram junto com as
demais faixas etárias.
O termo adolescência tem uma dupla origem: uma procede dos étimos latinos “ad”
que quer dizer “para frente”, mais “olesco” que quer dizer “crescer, arder, inflamar-se”; a
outra alude a “adolescentia”, derivada de “adolescent”, raiz de “adolecens”, particípio de
“adolescere” (adol + esc + ent). No dicionário da língua portuguesa, Aurélio, tem-se que a
adolescência é “o período da vida humana que sucede à infância, começa com a
puberdade, e se caracteriza por uma série de mudanças corporais e psicológicas (estende-
se aproximadamente dos 12 aos 20 anos).” Com o tempo as necessidades se modificam,
49

mudando também a cultura, imprimindo assim diferentes expectativas de papéis para todas
as fases da vida, e naturalmente inclui a adolescência.
Adolescência, período da vida humana entre a puberdade e a adultíce. É
comumente associada à puberdade e se refere ao conjunto de transformações fisiológicas
ligadas à maturação sexual, que traduzem a passagem progressiva da infância à
adolescência. A questão do adolescer constitui um período de mudanças físicas, cognitivas
e sociais que, juntas, ajudam a traçar o perfil desta população – o adolescente. Atualmente,
fala-se da adolescência como uma fase do desenvolvimento humano que faz uma ponte
entre a infância e a idade adulta. Nessa perspectiva de ligação, a adolescência é
compreendida como um período atravessado por crises, que encaminham o jovem na
construção de sua subjetividade. Porém, a adolescência não pode ser compreendida
somente como uma fase de transição. Na verdade, ela é bem mais do que isso.
Na atualidade a falta de rituais que demarquem claramente a passagem de uma
para outra etapa da vida torna os desafios ainda maiores tanto para os jovens como para
suas famílias. Observa-se um prolongado e infinito período de preparação, como que um
inchaço do período de adolescência, tendo como consequência a ampliação de suas
necessidades, particularidades e dificuldades. Assim, os rituais de passagem nessa fase
que antes poderiam estar representados apenas pelo vestibular, hoje se prolongam até o
doutorado ou o pós-doutorado, sendo na época atual, relativamente fácil dizer quando
inicia a adolescência, mas difícil será dizer quando dará lugar à vida adulta. Em diferentes
povos e culturas essa fase da adolescência pode coincidir com a saída do lar parental de
origem para constituir nova família, enquanto que para outros pode significar um período
diferente, mas de total dependência e convivência.
Trata-se de um período de transformações, um período de crise, em especial no
que se refere à construção de um sentimento de identidade. A adolescência de modo geral
abrange três níveis de maturação e desenvolvimento: a puberdade, também tratada de pré-
adolescência, abrangendo o período de doze a quatorze anos; adolescência propriamente
dita, que vai dos quinze aos dezoito anos; e adolescência tardia que vai dos dezoito aos
vinte e um anos, quando não aos trinta ou quarenta. A adolescência, em cada uma de suas
etapas apresenta características próprias e específicas que exigem abordagem
psicanalítica com aspectos específicos para cada uma.
Do ponto de vista psicológico, a adolescência é um período de vida durante o qual
se exige uma reorganização psíquica a fim de que possam ser acomodadas as mudanças
de amadurecimento que acompanham e seguem a puberdade. Denota um processo de
adaptação à puberdade e ao amadurecimento sexual. O termo puberdade,
50

etimologicamente deriva de “púbis”, aludindo a “pêlos pubianos” que começam a aparecer


na menina e no menino. A puberdade refere-se a um conjunto de transformações
psicofisiológicas ligadas à maturação fisiológica do aparelho sexual, acompanhada
simultaneamente de inquietações emocionais. Esses estados de púbere traduzem a
passagem progressiva da infância à adolescência. Os fenômenos mentais todos
característicos da puberdade são considerados como tentativas de restabelecimento do
equilíbrio transtornado.
A maturação normal caminha para atingir a primazia genital, a aceitação da
sexualidade pelo ego, como componente importante da personalidade, e aprendizado para
um ajustamento e adaptação às condições novas produzidas pelas alterações físicas. Na
realidade as adaptações dessa fase não são tão novas assim, se assemelham às
experiências que ocorreram no período da sexualidade infantil e do complexo de Édipo. O
desenvolvimento sexual na puberdade parece reiniciar onde fora abandonado, no período
de latência, quando da resolução dos conflitos edípicos. Os desejos edipianos são
fortalecidos antes que os vínculos incestuosos tenham sido resolvidos. Os temores e
culpas ligadas ao período edípico são os responsáveis pela hostilidade do Ego em relação
aos instintos e ao mesmo tempo ao temor dos mesmos. O complexo de Édipo é
robustecido pela impossibilidade da experiência da sexualidade, mesmo que com objetos
não incestuosos, intensificando também as ansiedades sexuais. A puberdade equivale ao
período de tempo e trabalho para restaurar o equilíbrio psíquico e para a aceitação da
sexualidade como parte da vida, culturalmente condicionado.
Ao iniciar a adolescência, o ego é enfraquecido temporariamente devido a
condições tanto endógenas como exógenas, devido às pulsões instintivas. A par destas
mudanças, fantasias são elaboradas em conexão com a masturbação direta, causando
conflitos e ansiedades, em parte relacionadas com a possibilidade real de relação
heterossexual e gravidez. Destacam-se atitudes contraditórias, aparecendo lado a lado ou
em sequência, impulsos heterossexuais genitais, todos os tipos de comportamento sexual
infantil e atitudes de ascetismo extremo, tentando reprimir a sexualidade e tudo quanto for
prazeroso. Os impulsos genitais aumentados e as ansiedades intensificadas conflitam entre
si e são sentidos conscientemente em particular pelo adolescente, sob a forma de conflitos
que giram em torno das atividades masturbatórias. Quando a repressão da masturbação na
infância for muito intensa é que ela não recomeça na puberdade, porém temores e
sentimentos de culpa ligados ás fantasias deslocam-se para a atividade masturbatória.
As exigências genitais do adolescente têm base fisiológica, sendo que a primazia
genital ainda não estabelecida por completo vai acarretar o aumento da sexualidade total.
51

Porém o que causa o retorno dos impulsos infantis é o medo sentido em relação às novas
formas desses impulsos, daí o retorno às formas antigas. O ascetismo dessa fase assinala
o medo da sexualidade, muitas vezes surge o desprezo pelo corpo e as sensações
corporais numa tentativa de assegurar através de sofrimentos físicos o triunfo do espírito
sobre os instintos e as paixões, o que constitui uma defesa contra a expressão dos próprios
instintos e atividades sexuais. A par destas manifestações da sexualidade, surge uma série
de contradições no comportamento característico da puberdade: egoísmo e altruísmo,
sociabilidade e retraimento, vivacidade e tristeza, generosidade e mesquinhez, seriedade
excessiva e gaiatice tola, amores intensos e abandonos repentinos dos mesmos,
materialismo e idealismo, submissão e rebeldia, ternura e rudeza, numa ambivalência e
polaridade no sentir e se comportar, típico da fase. A análise mostra que essas
contradições provêm de conflitos entre os impulsos recentemente reforçados e as
ansiedades ou tendências defensivas. Há limitações para que o Ego se familiarize com
toda essa experiência emocional inesperada, cujo efeito desse tempo é assustador até que
aprenda a controlar esse fenômeno muito novo. O mesmo acontece com a manifestação
das primeiras poluções noturnas nos meninos, da “menarca” e da “pelarca” nas meninas.
Na adolescência o indivíduo regride a formas anteriores de se relacionar com
objetos, ressurgindo necessidades de dependência, temores e conflitos prevalecentes das
fases anteriores ou inicias do desenvolvimento. A identidade de gênero é retrabalhada e
consolidada. A individuação passa por um segundo processo, comparável à fase pré-
edípica de separação-individuação, necessário para que possa o adolescente encontrar
objetos substitutos aos objetos primários. Com esse processo ele revisa as
representações dos pais, afim de que possa se tornar capazes de efetuar representações
seletivas. O enfraquecimento dos laços infantis dá origem a sentimentos de solidão e
isolamento que podem dificultar esse processo.
As novas identificações desacomodam o adolescente e exigem uma modificação
havendo então a necessidade de alterar alguns de seus ideais e conjunto de valores
morais. O superego é desorganizado e reorganizado, resultando num poder do ego sobre o
superego, e assim conseguir certa gratificação pulsional que dê sustentação a um equilíbrio
psíquico.
Muitos são os mecanismos de defesas do ego nesse período da adolescência e
que se deslocam para fontes extrafamiliares não incestuosas de gratificação,
representações para o ideal do ego e padrões de superego. Os afetos que podem ser
invertidos devido a desejos que se transformam em revolta, tais como o respeito e a
admiração que são transformados em desprezo, desdém e zombaria. A hostilidade se volta
52

contra o self retirando deste o investimento objetal, o que pode resultar em fantasias de
grandiosidade e preocupações hipocondríacas. Segundo Anna Freud (1936), as defesas
adolescentes específicas incluem o ascetismo e a intelectualização, ao que Blos (1954),
refere-se a uma adolescência prolongada e processos contínuos presentes, e um
uniformismo.
O mundo dos adultos é desejado e temido pelo adolescente. Entrar nesse mundo
significa a perda definitiva da condição de criança, constituindo-se num momento crucial na
vida, etapa decisiva de um processo de desprendimento que iniciou com o nascimento. As
modificações corporais incontroláveis e os imperativos do mundo externo exigem do
adolescente novas pautas de convivência, e são vividos no começo como uma invasão.
Muitas das conquistas infantis são retidas como defesa e coexiste o prazer e a ânsia de
alcançar um novo status, conduzindo a um refúgio em seu mundo interno para poder se
relacionar com seu passado e a partir daí enfrentar o futuro. As mudanças que levam à
perda da identidade de criança tendo como consequência a busca de uma nova identidade,
que vai construindo num plano consciente e inconsciente.
A restauração do equilíbrio psíquico se dá num período mais longo, necessitando de
mais tempo para que na puberdade seja aceita a sexualidade como parte da vida. Certamente
existe um condicionamento cultural e social diverso e que ainda é esfera não desvendada.
Promovem reuniões para atividades instintivas em comum, numa base narcísica, ou alternar
histórias sobre a sexualidade. Outros tentam ocultar sua própria masturbação e seus desejos,
se isolam, não participam de grupos, ou reuniões, sentindo-se banidos e solitários. Os
adolescentes mais expansivos, fixados no primeiro tipo de reação vêm desenvolver
“personalidades impulsivas” e aqueles fixados no próprio isolamento são representados pelos
eritófobos.
A personalidade adolescente reage a seus temores e sentimentos de culpa, ficando
mais do lado de seus impulsos, ou mais do lado da ansiedade e dos pais, tentando lutar contra
suas tentações e rebeldia. No sentido transicional, encontra-se alguma forma de alteração
nas funções egóicas do adolescente. Na adolescência é comum a manifestação de
preferências pelas reuniões homossexuais, uma forma de evitar a presença excitante do outro
sexo, desviando assim a solidão na tentativa de encontrar a tranquilização que buscam.
Essas experiências homossexuais ocasionais da adolescência desde que não resultem em
fixação clara, não devem ser consideradas patológicas. Nessa idade a preferência por objetos
homossexuais talvez se deva à timidez ao outro sexo, como também é atribuída às
necessidades objetais, que nessa fase são devidas à orientação narcísica.
53

As amizades que surgem são fundadas na esperança de evitar relações objetais


sexuais e assumem um caráter sexual mais ou menos evidente. As regressões
comportamentais, bem como as contradições em relação aos objetos são provocadas pela
ansiedade, e a rudeza que muitos adolescentes exibem em suas relações, pode significar o
desejo de intimidar a fim de superar a própria ansiedade.
Muitas vezes o púbere se converte num ser anti-social e tende a uma regressão
narcísica, aquela em que ele mesmo é o objeto de seus desejos libidinais. Esta falta de
conexão com os objetos exteriores explica o “idealismo” próprio desse período, isto porque o
ego rechaça os instintos relacionados com os objetivos infantis, ou seja, os do complexo de
Édipo. Por outro lado, não contradiz as afirmações feitas o fato de frequentemente,
adolescentes viverem intensas paixões, porém sem a finalidade de posse do objeto amado,
mas a de identificação com esse objeto. São amores que duram pouco tempo e as pessoas
queridas são logo substituídas por outras, frente às quais reagem imitando-as e querendo ser
como elas.
O ego tem outro modo de reação na adolescência frente ao instinto - a
intelectualização. Esta se caracteriza por um aumento de necessidades intelectuais, onde as
aventuras, as máquinas e os inventos algo que mais atraem o adolescente, dirigindo-se o
interesse para o abstrato, e então começa a ocupar-se de especulações do tipo filosófico.
Os conflitos na puberdade constituem uma repetição daqueles do período sexual infantil,
porém as experiências da puberdade são capazes de resolver, ou fazê-los mudar de direção
dando forma final e definitiva a constelações mais antigas e oscilantes. O que na infância
constituía uma fantasia amorosa ou desejos inatingíveis, na adolescência se caracteriza por
uma possibilidade no real. A puberdade é superada quando a sexualidade incorpora-se à
personalidade e é alcançada a capacidade do orgasmo pleno.
Os transtornos enraizados em repressões anteriores que ocorrem nesta esfera servem
de base às neuroses. Muitos prolongam o desfrutar da adolescência, temendo a idade adulta
e as suas exigências instintivas perturbando-se, imaginando fantasias de grandeza e
independência futuras sem ousar testar o valor real destas fantasias. Outros são neuróticos
que não conseguiram enfrentar em boas condições a sua sexualidade, daí continuar os
padrões comportamentais dos adolescentes, sentindo a vida como estado provisório,
enquanto a “realidade plena” fica a espera de um futuro incerto.
Na adolescência, pode ser observado ainda, principalmente entre as meninas, um
comportamento vaidoso e sensual, e, por vezes sedutor. Trata-se de um comportamento
estereotipado, sem consciência, excetuando por imitação dos jovens mais adiantados nesse
período. Constitui se numa defesa tipo “falso self” que grosseiramente tenta encobrir os
54

conflitos internos com as incômodas mudanças do corpo e as demandas pulsionais


intensificadas, bem como frente à difícil tarefa de aquisição de novos modelos identificatórios.
O pensamento abstrato progride nessa fase, sendo acompanhado com frequência
de preocupações em formular opiniões, concepções e ideais referentes a problemas éticos,
políticos e sociais e que perseguem com veemência, fervor e até mesmo paixão. É um
momento em que a criatividade intelectual e artística se desenvolve, ampliando os
horizontes intelectuais, produzindo mudanças psicológicas que auxiliam o indivíduo a
inventar um senso exclusivo de identidade pessoal.
As mudanças corporais do adolescente constituem uma problemática nessa fase
com a definição do seu papel na procriação, seguindo-se as mudanças psicológicas. Eles
são obrigados a renunciar a sua condição de criança, abdicar de sua índole infantil,
desprezando ser tratado como criança. Devem aceitar que a perda do vínculo do “pai de
infância com o filho criança”, da identidade do adulto frente à identidade do menino (a)
defrontam-no com a luta similar às lutas criadas pelas diferenças, pois muitos pais
costumam usar a dependência econômica como poder sobre o filho, o que cria
ressentimento e um abismo entre as duas gerações.
O período de duração da puberdade se dá devido ao gasto de tempo e trabalho
para restauração do equilíbrio psíquico e para a aceitação da sexualidade como parte da
vida, e que sem dúvida é condicionado culturalmente. Psicologicamente o indivíduo
ingressa na vida adulta quando basicamente apresentar um comportamento em que sejam
observadas as características em relação à capacidade de:
• Separação psicológica dos laços que unem à família de origem, sem atribuir aos pais
a culpa das falhas e dos erros que lhe ocorreram no passado e afluem no presente.
Isso surge quando é capaz de desvincular a pessoa do pai e da mãe da função
parental, passando estes a compor os pares sociais com base em perspectiva
horizontal de relacionamento;
• Cooperação desenvolvida com possibilidade de assumir papel social dentro de uma
coletividade, capacitado a escolher não apenas objetos narcísicos dentro de um
processo primário;
• Relacionamento afetivo e sexual com o qual sustentar a buscar do prazer na relação
genital com uma pessoa que possa construir uma história saindo da fase de
experimentação (ficar);
• Trabalhar e alcançar afirmação profissional, obtendo o próprio sustento, bem como de
viver em sociedade com a possibilidade de ganhos reais.
55

Esse posicionamento maduro diante da vida depende não só das capacidades e


desenvolvimento da própria pessoa e suas potencialidades, mas também do contexto
familiar e social em que se encontra. As questões de ordem familiar afetarão o
desenvolvimento em qualquer classe indistintamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ROM: Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, [s. d.]
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________. Inibição, sintoma e ansiedade. Vol. XX, 1926. In: ___________ – CD-ROM: Obras Psicológicas
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_________. Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância. Vol. XI, 1910. In: ___________ – CD-
ROM: Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, [s. d.]
__________. A psicologia de grupo e a análise do ego. Vol. XVIII, 1921. In: ___________ – CD-ROM:
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_________. O ego e o id. Vol. XIX, 1923. In: ___________ – CD-ROM: Obras Psicológicas completas de
Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, [s. d.]
_________. O mal-estar na civilização. Vol. XXI, 1931. In: ___________ – CD-ROM: Obras Psicológicas
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_________. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Vol. VII, 1905. In: ___________ – CD-ROM:
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FULGENCIO, Leopoldo. A teoria da libido em Freud como uma hipótese especulativa Ágora, Rio de
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HANNS, Luiz. Dicionário Comentado do alemão de Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
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URRIBARRI, Rodolfo. Estruturação Psíquica e Subjetivação da Criança em Idade Escolar. O trabalho da
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ZIMERMAN, David E. Vocabulário Contemporâneo de psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas, 2001.
ZIMERMAN, David E. Fundamentos Psicanalíticos. Teoria, Técnica e Clínica; Uma abordagem didática.
Porto Alegre: Artemed, 1999.
56

ORIENTAÇÃOES PARA A REALIZAÇÃO DO TRABALHO A DISTÂNCIA – AVALIAÇÃO

Realizar a leitura da Apostila do Módulo, enriquecida por outros textos


sugeridos na bibliografia.

RESPONDER ÀS QUESTÕES QUE SEGUEM;

1. As atividades do aparelho psíquico, bem como todos os eventos mentais, decorrem de


uma energia psíquica descrita por Freud como “algo (...) que se espalha sobre os
traços mnêmicos das ideias, um tanto como uma carga elétrica se espalha sobre a
superfície de um corpo” (1894 p 60). A denominação dada pelo autor a esta “carga”
de uma “representação mental”, ou de uma ideia com energia psíquica chama-se
“investimento libidinal”.

Descreva sobre a libido, considerando as proposições de Freud ao afirmar que esta


se espalha sobre a superfície do corpo.

2. As primeiras relações de objeto da criança pequena, ainda bebê, se caracterizam pela


identificação com o objeto (inicialmente a mãe) e, quanto mais primitiva a fase de
desenvolvimento do ego, mais pronunciada essa tendência. Pode-se compreender,
portanto, que as relações de objeto nos primeiros tempos de vida, desempenham um
papel de suma importância no desenvolvimento do Ego visto que este é um
precipitado dessas relações. O desenvolvimento da sexualidade infantil ocorre por
períodos importantes durante a primeira infância, um deles anterior à passagem pelo
Complexo de Édipo e Complexo de Castração.

Identificar o período pré-edipiano e as fases do desenvolvimento da libido que


correspondem a esse período.

3. O menino ou a menina no período edipiano mantém com a mãe sua relação de objeto
mais forte, pois esta é o primeiro objeto de afeição e desejo da criança. Mais tarde, após
as sensações desenvolvidas pela sucção, entram em cena sensações genitais, diminuindo
esse desejo pelo seio materno, ao mesmo tempo em que se desenvolve o desejo de
possuir com exclusividade seu amor e admiração do genitor do sexo oposto. Suas
reações físicas estão relacionadas aos seus desejos, cujas sensações excitantes em seus
genitais estão acompanhadas de fantasias da fase edipiana.
57

Descrever as diferenças que ocorrem no desenvolvimento da sexualidade no menino e


na menina, no período edipiano que envolve a fase fálica.

4. Nessa evolução do processo de desenvolvimento da sexualidade tanto o menino como a


menina vivenciam fantasias amorosas conscientes e inconscientes de tomar o lugar do
genitor do sexo oposto. Tais sentimentos, desejos e fantasias provocam rivalidade,
agressividade e ódio contra os mesmos, ocorrendo então o período da vivência dos
Complexos de Édipo e Complexo de Castração, combinação integrada de atitudes
emocionais que constitui o clímax do longo desenvolvimento da sexualidade infantil.

Descrever o complexo de Édipo e o complexo de Castração e suas consequências no


desenvolvimento a sexualidade.

5. Durante o período edipiano a vida mental é para cada criança, única e especial,
influenciada tanto pelas experiências dos dois primeiros anos de vida como pelos
acontecimentos da própria fase edipiana. A dependência mental e intelectual começa a
aumentar, bem como, a espiritual , diminuindo a dependência biológica em relação aos
pais. Os objetos introduzidos no Ego são magníficos, tornando grande a distância entre
eles e o sentimento infantil, fase esta descrita por Freud como governada pelo complexo
de Édipo. Admite a formação de um precipitado do Ego, modificação esta que mantém sua
posição especial, contrastando com os outros constitutivos do Ego sob a forma de
“Superego”.

Fale sobre a instalação do Superego no desenvolvimento da libido na entrada da


latência.

@&@&@&@&@&@&@&@&@&@&@&@&@&@&@&@&@&@
58

PROJEÇÕES – EXPOSIÇÃO SOBRE ETAPAS DA LIBIDO

___________________________________
ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA DO VALE ___________________________________
DO PARAIBA - APVP
___________________________________
CURSO DE FORMAÇÃO DE PSICANALISTA CLÍNICO ___________________________________
E TEORIA PSICANALÍTICA
___________________________________
___________________________________
FREUD E O DESENVOLVIMENTO DA SEXUALIDADE:
AS ETAPAS DA LIBIDO ___________________________________

PROFA: REJANE RODRIGUES DE CAMPOS

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
LIBIDO => energia psíquica própria da pulsão ___________________________________
Carga elétrica => energia – catexis ___________________________________
Traços mnêmicos => representações mentais
Grau de investimento => ideações ___________________________________
processos: primário = energia móvel, prazer
secundário = neutraliza descarga ___________________________________
Atividade psíquica => prazer/desprazer ___________________________________
sinaliza a angústia ante o perigo
Princípios: constância => prazer
inércia => nirvana

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
Instinto => comportamento típico da espécie
forças motivacionais endógenas ___________________________________
representante físico dos estímulos
___________________________________
Pulsão => conceito limite somato-psíquico
excitação em busca de descarga
___________________________________
* fonte, força, finalidade e objeto
deslocamento de zonas corporais
___________________________________
* ligada a representação ou grupo de ... ___________________________________
“quantum” econômico e dinâmico

“cathexis” => soma de excitação – ics, descarga


valor de afetos - representações
59

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
Narcisismo => amor de si mesmo = lenda narciso
=> destino da energia libidinal: autoerotismo ___________________________________
amor objetal
primário => libido investida no próprio ego ___________________________________
secundário => libido de objetos retorna ao ego
___________________________________
Libido narcísica => provisões para a vida do bebê
investimento no ideal do ego
decorre a autoestima
___________________________________
Narcisismo normal =>
integridade estrutural do self ___________________________________
constância do objeto e do self; harmonia superego
equilíbrio entre pulsões libidinais e agressivas
capacidade egossintônica de expressão dos instintos
gratificação recebida dos objetos externos

A libido - E as etapas do desenvolvimento ___________________________________


___________________________________
Desenvolvimento da libido => sexualidade
A Criança => Vive >> prazer e desprazer ___________________________________
repressão > fuga da situação desprazer
experiência de satisfação < busca de prazer ___________________________________
identidade de repressão >> memória
organização do ego >> auto erotismo ___________________________________
FASE ORAL >> (0 a 6 meses) => digestiva ___________________________________
descarga primitiva – arco reflexo > redução da tensão
mudança endógena e exógena ___________________________________
1as. Experiências de satisfação
marcas mnêmicas – formação do Psiquismo
gênese
desejo >>> fantasia
objeto de satisfação

A libido - E as etapas do desenvolvimento


___________________________________
___________________________________
Formação do ego => impressão mnêmica
aprendizagem (ação especifica) ___________________________________
mecanismo de defesa - recalcamento
estados de desejo ___________________________________
ego corporal – organiza sistema mental
Juízo de realidade: Conhecer => características de objeto ___________________________________
atividade corporal
memória / motricidade ___________________________________
modelo mãe – filho
Pensamento >>> cognitivo – catexis corporais
___________________________________
reprodutivo – catexis psíquicas
recordar, desejar, ansiar, esperar
60

A libido - E as etapas do desenvolvimento


___________________________________
___________________________________
Processo Primário: descarrega a excitação ___________________________________
identidade de percepção
catexis do desejo - alucinações ___________________________________
desprazer – mobilização d defesas
___________________________________
Processo Secundário: induz à ação especifica
apoio na experiência motora ___________________________________
ato de pensar – liga ideias
atenua o processo primário ___________________________________
pensamento associado
lembranças verbais tornam-se cs
percepção psíquica - afetos

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
FASE ORAL >> (6 a 18 meses +) => canibalística (agressiva)
atividades masturbatórias
___________________________________
estimulação erógena => boca
deslocamento =>> zona erógena
___________________________________
agentes externos / provocam tensão
substituição da vivência de satisfação
___________________________________
prevalência do alimentar- se e alimentar
___________________________________
Libido => Narcísica - retirada para o ego
Objetal - busca de objetos ___________________________________

Auto – erotismo: objeto sexual – o seio


1ª perda => seio =>...medo de estranhos
separação ativa da mãe – perda pessoa amada

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________

aquisições organizadas => andar e a linguagem ___________________________________


bipedestação, o andar
___________________________________
dentição => agressividade e destruição (morder)
reencontro com mãe >> ansiedade de separação ___________________________________

Andar possibilita >> contato com objetos e pessoas ___________________________________


estimulação da criança
___________________________________
instalação do Processo Secundário
inicio do pensamento abstrato
61

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
Identificação com a mãe >> gera intensas ansiedades
depressivas, paranoides e confusionais ___________________________________

significação => perda, vingança, rivalidade ___________________________________


ficar a mercê do inimigo
provocar confusão sujeito/objeto ___________________________________

segurança => mãe e criança são distintas ___________________________________


angústia >>> não ser atacada
proteção >>> pai e mãe ___________________________________
atividade muscular dá prazer >> transição

linguagem => prazerosa e lúdica


emite e repete palavras
utilização expressiva

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
FASE ANAL => (18 meses a 3 anos + ) ___________________________________
zona erótica => mucosa anal
prazer anal => reto, ânus, uretra
surgimento => ação muscular – prazer ___________________________________
maturidade >> controle do esfíncter
___________________________________
finalidade passiva na expulsão
ativa na retenção ___________________________________
objeto da analidade – os pais reais
___________________________________
passividade => fezes / papel ativo
autoerótica / atuação ics
expulsão /castração
fezes => presente para a mãe

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
masturbação anal => estimulação na higiene ___________________________________
indução ao sono (embalos)
castigos => agressividade ___________________________________
controle do esfíncter => 1ª proibição
___________________________________
Atividade => anal retentiva >>controle das fezes ___________________________________
produção de prazer
moldagem e consistência ___________________________________
instinto de dominação => controle onipotente
obstinação e desafio
sentimentos => raiva – vingança – crueldade
62

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
Fantasia => expelir ou perder o objeto, via anal
fezes como armas perigosas ___________________________________
base da situação melancólica
andar => marca o tocar ___________________________________
o conhecer
o entender ___________________________________
permite a exploração do meio ambiente
___________________________________
Formação Reativa => decorrência = traços de caráter
ordem e gentilezas ___________________________________
avareza (apego/acumulo), raiva
parcimônia (parco, economia) e derivados
vingança, asco, nojo, compaixão
moralismo, autoritarismo, etc.

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
Mecanismos de defesas ___________________________________
Repressão => interesse deslocado (R$) ___________________________________
onipotência para o raciocínio
polaridade desejo-dor ___________________________________
instalação da ambivalência
___________________________________
Sublimação => dos impulsos
inicia a vida intelectual ___________________________________
agressividade X criatividade
desejo de aprender

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
Atividade muscular => impulso locomotor ___________________________________
desenvolvimento da musculatura
excitação sexual / satisfação ___________________________________
raízes do instinto sádico
início do pensamento abstrato
erotismo anal ___________________________________
mecanismo de repressão
___________________________________
Processos afetivos
emoções intensas ___________________________________
pulsões sexuais fortes
excitações lúdicas > balanço sacolejo
dormem menos > dificuldades
necessidade de olhar >> ser olhado
63

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
Libido => narcisismo ___________________________________
Primário => instinto de vida
provem do id ___________________________________
ego como objeto
segundo modelo de si
___________________________________
Secundário => ego se liga
imagem e lembrança ___________________________________
objetos libidinosos
colocação de limites => parte dos pais ___________________________________
criança diferencia o objeto narcisista do real

narcisismo => vínculo dependência extrema


relação simbiótica com a mãe
percepção da criança como pessoa

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
FASE FÁLICA => ___________________________________
organização subordinada ao genital ___________________________________
coordenação dos instintos >> prazer genital
masturbação - o sexual precoce
___________________________________
Sentimentos:
___________________________________
Amorosos com o genitor do sexo oposto
Hostis com o genitor do mesmo sexo ___________________________________
O menino => ameaça de castração
ausência de pênis na mulher
repressão – masturbação
compulsão à exibição.

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________

Ego-corpo => fator expressivo ___________________________________


⇓ ênfase dos adultos sobre:
sexualidade e comportamento ___________________________________
proibição do manuseio/referência do genital
___________________________________
supremacia do pênis => visibilidade
⇓ ⇓ ___________________________________
menino menina
⇓ ⇓
___________________________________
iminência de castração silencia
se angústia vive angústia
sentimento de castração

angústia/ódio
64

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
Curiosidade infantil => hostilidade e rivalidade ___________________________________
desejo sobre os bebês => interesse sexual
desconfianças ante mentiras ___________________________________
diferença sexual anatômica
escoptofilia e voyeurismo ___________________________________
fantasia da cena primaria > desejo d se casar
___________________________________
Ansiedade de castração => trauma do nascimento
perda do seio => perda das fezes ___________________________________
ansiedade deriva da ameaça castração
excitações – masturbação
equivalente - cegueira

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
Complexo de Édipo ___________________________________
>> catexis objetal do tipo anaclítico
deslocamento/genitor sexo oposto
identificação/genitor mesmo sexo ___________________________________
Menino ___________________________________
Positivo => ativo >> desejos sexuais pela mãe
ambivalência com o pai ___________________________________
deseja ocupar o lugar do pai

Negativo => passivo >> quer o lugar da mãe


___________________________________
deseja ser amado pelo pai
hostilidade com a mãe

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
Duplo => positivo e negativo ___________________________________
interesse narcisista p pênis
abandona tendências edípicas ___________________________________
identificações com os pais
tendências libidinais sublimadas ___________________________________
inibição e formação em impulsos
___________________________________
Menina >>> libido => desejo (pênis-bebê)
obter criança - pênis ___________________________________
objeto de amor = pai
objeto de ciúmes = mãe
frustração: abandona relação com o pai
substituição pela identificação
temor – identificação com a mãe
65

A libido - E as etapas do desenvolvimento ___________________________________


___________________________________
Ego => => => agência com funções:
Perceptiva > interna e externa
___________________________________
necessidades, desejos e pulsões
mundo exterior ___________________________________
Sintético / integradora => comparar e harmonizar ___________________________________
interno e externo
Executiva =>=> controlar o comportamento voluntário ___________________________________
Adaptativa =>=> Ego – Id - Superego ___________________________________
Mundo Exterior

pessoas & objetos

interações
formas de defesa

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento

___________________________________
proibições – recomendações
___________________________________
=> catexização da percepção das genitálias
=> deslocando feio genital => belo corporal:
___________________________________
mulher => cuidados narcisista => corpo/face
compensações da castração ___________________________________
inveja do pênis => libidinização da castração
feminino => condição física mais importante
___________________________________
homem => condição fálica mais importante
poder >>> deslocamento ___________________________________
ambos quanto ao mundo exterior >>>>
preponderância do perigo
diminuição das complexidades
ampliação dos processos de investigação

___________________________________
___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
LATÊNCIA (6 a 12 anos) => período que surge com ___________________________________
o declínio do complexo de Édipo
governado pelo principio de “prazer-e-dor” ___________________________________
cresce a confiança da criança na mãe
conforto nas aflições físicas e emocionais ___________________________________
manifestações sexuais não desaparecem ___________________________________
diminuem e mergulham no recalcamento

Ego => aumento de energia


Id => diminuição de energia
Superego => gênese no Ego => herdeiro Édipo
66

A libido - E as etapas do desenvolvimento ___________________________________


___________________________________
A sexualidade infantil por natureza
constitui a pré-condição da repressão e das neuroses ___________________________________
energia sexual => outros fins distintos do sexual
queda dos impulsos sexuais ___________________________________
como perdas dos dentes de leite
___________________________________
criança => bem comportadas, dócil e educada
derivados pulsionais continuam ___________________________________
diminui: atividade e investimento - natureza sexual
predomínio da ternura sobre ___________________________________
os desejos sexuais
surgem sentimentos => pudor e vergonha
repugnância
aspirações morais
.

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
Instalação do Superego => amnésia infantil
encobre 1ºs. anos da infância ___________________________________
recalcamento => preserva na memória
lembranças incompreensíveis e fragmentadas ___________________________________
permanece o “não sabido” = Ics
amnésia infantil esta a serviço do recalcamento ___________________________________

Puberdade e Adolescência ___________________________________


reaparece a escolha de objeto edípica
fantasias incestuosas devem ser rejeitadas ___________________________________
ocorre modificações qualitativas dos instintos
sexualidade pré-genital se converte
na genitalidade característica do adulto

___________________________________
A libido - E as etapas do desenvolvimento
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________
___________________________________

Rejane Rodrigues de Campos => rejane@ilhafeia.com.br

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