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Marco A. Arruda
Pós-graduando do Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo.
CORRESPONDÊNCIA : R. Casemiro de Abreu, 544 - Ribeirão Preto - São Paulo; CEP 14020-060 - Fones: (016) 636-1640 e 625-7601;
Fonefax: (016) 610-6865; E-mail: brheadache@netsite.com.br
ARRUDA MA. Abordagem clínica das cefaléias na infância. Medicina, Ribeirão Preto, 30: 449-457,
out./dez. 1997.
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MA Arruda
Cefaléia Aguda
tempo
Figura 1 - Padrão temporal das principais cefaléias observadas na infância.
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Abordagem clínica das cefaléias na infância
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A literatura comprova a boa sensibilidade e a liar no cromossoma 19, dando início a uma nova fase
especificidade dos critérios da SIC(2); no entanto, crí- da investigação dos fatores hereditários, envolvidos
ticas são feitas à duração dos ataques da migrânea na nessa doença.
infância, prevista por esses critérios, uma vez que vá- Outra ferramenta, a nos auxiliar no diagnóstico
rios estudos apontam para uma duração freqüente- constitui uma série de sinais e sintomas, freqüente-
mente mais breve que duas horas. mente apresentados por crianças com migrânea, no
Contrapondo-se aos critérios anteriormente pro- período intercrítico, ou seja, fora dos ataques de cefa-
postos, os da SIC não consideram a história familiar léia. Apesar das várias denominações empregadas na
de migrânea, um dado diagnóstico auxiliar. literatura, tais sinais e sintomas podem ser basicamente
A migrânea é um distúrbio geneticamente her- definidos como distúrbios associados à migrânea
dado(9,10,11,28,29). Nas diferentes séries publicadas, a na infância(35). Em estudo comparativo entre crian-
freqüência de história familiar positiva de migrânea ças com migrânea e sem cefaléia, esses distúrbios se
(familiares em primeiro grau), varia de 63 a 90% dos mostraram mais freqüentes, de forma estatisticamen-
pacientes(5,23,30/33). Diferentes tipos de herança já fo- te significante, nas crianças do primeiro grupo. São
ram postulados para a migrânea, entre eles: herança eles: cinetose, dores nos membros, dor abdominal re-
autossômica dominante (Allan, 1930); autossômica corrente, febre recorrente, sonambulismo, bruxismo,
recessiva, com penetrância incompleta (Goodel et al., sonilóquio e terror noturno(35).
1954); autossômica dominante, com alta penetrância Ao ser estudada a relação temporal, existente
no sexo feminino (Barolin, 1969) e poligênica e multi- entre as primeiras manifestações de tais distúrbios e
fatorial (Dalsgaard-Nielsen & Ulrich, 1973) (apud 29). os primeiros episódios de migrânea, através da deter-
Para Ziegler(29) no entanto, a existência de várias sín- minação do risco relativo, observou-se que alguns des-
dromes migranosas, faz crer que cada uma tenha sua ses distúrbios, caracteristicamente, manifestavam-se
respectiva influência genética. antes do início da cefaléia, podendo então serem tam-
De encontro a esta direção, destaca-se a re- bém considerados fatores de risco da migrânea na
cente descoberta de Joutel et al.(34) que identificaram infância. São eles: cinetose, dores nos membros, dor
o gene responsável pela migrânea hemiplégica fami- abdominal recorrente, febre recorrente, sonambulismo
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Abordagem clínica das cefaléias na infância
e sonilóquio(35). Portanto, dadas as dificuldades ine- potencial de efeitos colaterais graves. Os Triptans,
rentes ao diagnóstico da migrânea na infância, três atualmente em voga, ainda não contam com pesquisas
aspectos devem ser considerados na abordagem que assegurem sua eficácia e segurança no tratamen-
diagnóstica dessas crianças: as características dos to dos ataques da migrânea na infância.
ataques de cefaléia, a presença de uma história O tratamento profilático da migrânea na infân-
familiar de migrânea e de distúrbios associados cia é sobretudo medicamentoso, vários trabalhos mos-
à migrânea na infância. tram a ineficácia das dietas ou outras medidas não
Quanto à terapêutica da migrânea na infância medicamentosas no controle desta cefaléia. No en-
devemos analisar, sobretudo, as particularidades do tra- tanto, técnicas de relaxamento (biofeedback) e mo-
tamento dos ataques, as indicações da medicação dificação comportamental podem beneficiar aquelas
profilática e os potenciais efeitos colaterais das dro- crianças cujos aspectos emocionais da cefaléia se
gas utilizadas. sobrepõem aos aspectos eminentemente orgânicos.
De forma característica, os ataques de migrâ- A Figura 2 mostra, esquematicamente, as op-
nea na infância, geralmente, resolvem-se com o sono. ções medicamentosas no tratamento profilático da
Isso foi bem observado por Prensky(25) que conside- criança com migrânea. Esta conduta terapêutica é ado-
rou o efeito benéfico do sono sobre a cefaléia como tada no Ambulatório de Cefaléia na Infância do
um dos critérios diagnósticos da migrânea na criança. HCFMRP-USP e baseia-se na revisão da literatura e
Em ataques de menor intensidade e incapaci- na experiência clínica acumulada nos oito anos de fun-
dade, recomenda-se que a criança seja colocada em cionamento deste ambulatório.
um ambiente silencioso, escuro e bem ventilado, con- A posologia das drogas aqui mencionadas bem
dições estas que facilitam o sono, podendo, assim, re- como seus potenciais efeitos colaterais encontram-se
solver a dor. Se estas medidas iniciais não funciona- relacionadas na Tabela III.
rem ou se o ataque for
de maior intensidade e
incapacidade, está indi-
cado o uso de medica- DIAGNÓSTICO
mentos. Na ausência de
vômitos, optamos por
um analgésico comum < 2 ATAQUES / MÊS > 2 ATAQUES / MÊS
(Acetaminofeno) ou um
antinflamatório não hor- TRATAMENTO TRATAMENTO
monal (AINH) (Napro- DOS ATAQUES PROFILÁTICO
xen ou Diclofenaco Só-
dico). Se a criança apre-
senta náusea e/ou vômi-
to podemos utilizar a
EPILEPSIA OBESIDADE
Metoclopramida, via TDAH
retal, ou a Domperido-
ENO SIM
na, via oral, seguida após NÃO
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Abordagem clínica das cefaléias na infância
3.2. Cefaléia do tipo tensional episódica tratamento para migrânea. O exemplo ilustra a
importância da anamnese em cefaléia, sobretudo
“Os mecanismos exatos da cefaléia do tipo
na infância, e dimensiona o papel exato dos crité-
tensional não são conhecidos. A tensão muscular
rios diagnósticos das cefaléias na atividade clí-
involuntária, física ou mentalmente induzida, é im-
nica diária.
portante. Também importantes são mecanismos pu-
ramente psicogênicos”(27). Aqui temos uma situação
controversa, referente não apenas aos mecanismos 4. CEFALÉIA CRÔNICA PROGRESSIVA
fisiopatológicos, mas, também, a aspectos clínico-epi- Quando uma criança é levada ao neurologista
demiológicos. Para alguns autores, a cefaléia tipo ten- devido a uma cefaléia, muito freqüentemente os pais
sional episódica é a mais freqüente da infância (32, 36), suspeitam que ela tenha uma doença mais grave, um
para outros, no entanto, é menos freqüentemente ob- tumor cerebral, causa relativamente rara de cefaléia
servada que a migrânea(4, 6, 25). na infância(13). No entanto, se a cefaléia tem início
Zeigler & Hassanein(37) analisaram as caracte- recente (há menos de seis meses), com piora progres-
rísticas da cefaléia de um mil e duzentos pacientes, siva da intensidade e freqüência dos ataques, a hipó-
atendidos numa clínica especializada em cefaléia. Não tese deve ser considerada.
foram capazes de identificar uma combinação de sin-
tomas que definissem claramente a migrânea e a ce-
faléia tipo tensional como doenças distintas. Pacien-
Tabela IV - Critérios diagnósticos da cefaléia ten-
tes que apresentam ambas as cefaléias, usualmente,
sional episódica (SIC, IHS)
só distinguem os ataques de uma ou de outra, pela
intensidade da dor — maior na migrânea — e/ou pela A. Pelo menos dez episódios prévios de dor de
cabeça, preenchendo os critérios de B a D,
presença de sintomas associados — geralmente, au- listados a seguir. Número de dias com cefaléia
sentes na cefaléia tipo tensional episódica(38). A pos- < 180 / ano (< 15 / mês).
sibilidade de que os dois tipos de cefaléias represen- B. Cefaléia, durando de trinta minutos a sete dias.
tem graus diferentes de uma mesma doença justifica
C. A dor deve ter, pelo menos, duas das seguintes
parte da divergência de opiniões. A divergência se
características:
deve, fundamentalmente, às limitações diagnósticas,
1. caráter de pressão / aperto (não pulsátil);
encontradas na infância, ao considerarmos uma afec-
2. intensidade fraca ou moderada (pode limitar,
ção, onde as informações dadas pelo paciente sejam porém não impedir as atividades).
determinantes no diagnóstico diferencial. 3. localização bilateral.
Os critérios da SIC para a cefaléia tipo tensio- 4. não é agravada por subir escadas ou por
nal episódica estão resumidos na Tabela IV. atividades físicas similares.
Para ilustrar algumas limitações dos critérios
D. Ambos os itens seguintes:
diagnósticos, bem como certas dificuldades encon-
1. ausência de náuseas ou vômitos (anorexia
tradas no diagnóstico diferencial da cefaléia do tipo pode ocorrer).
tensional e da migrânea na infância, podemos ana- 2. fotofobia e fonofobia estão ausentes, ou uma
lisar o caso clínico apresentado a seguir: Uma crian- mas não a outra está presente.
ça com cefaléia crônica recorrente em aperto, bi- E. Há no mínimo um dos seguintes itens:
lateral e de moderada intensidade, com duração
1. história e exames físico e neurológico, não
dos ataques de duas horas e associada a anorexia sugestivos de um dos distúrbios listados
e fotofobia. Tal cefaléia seria diagnosticada como nos grupos 5-11 (*);
tensional episódica de acordo com os critérios da 2. história e/ou exame físico e/ou neurológico,
SIC. Se a criança, ao mesmo tempo, referisse que, sugestivos de tais distúrbios, mas que são
ao se exercitar, a cefaléia se tornava pulsátil, e afastados por investigação apropriada.
que a dor, apesar de bilateral, tinha um reforço 3. esses distúrbios estão presentes, mas as
crises de migrânea não ocorreram pela pri-
unilateral, o diagnóstico ainda seria de uma cefa- meira vez, em estreita relação temporal com
léia tipo tensional episódica, pelos critérios da IHS. eles.
No entanto, dificilmente um cefaliatra experiente (*) Vide Tabela II
deixaria de fazer o diagnóstico e de fazer o
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MA Arruda
ARRUDA MA. Clinical approach to headaches in children. Medicina, Ribeirão Preto, 30: 449-457,
oct./dec. 1997.
ABSTRACT: Headache is one of the most frequent symptons in children and it has specific
diagnostic problems. In this review, there problems are analyzed and main types of headache in
children are discussed - acute, chronic recurrent and chronic progressive. In the discussion of
chronic recurrent headaches, limitations of diagnostic criteria of the International Society of
Headache for child migraine are commented and a diagnostic and therapeutic guides for migraine
in children is proposted.
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Abordagem clínica das cefaléias na infância
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