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FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO

FACULDADE DE DIREITO

Direito Processual Penal. Necessidade e Importância.


Autonomia. Finalidade
Flavio Meirelles Medeiros
 

 
Necessidade e Importância 

O Direito Penal é tão útil sem o Direito Processual quanto “os pés sem as pernas”.
Daremos aqui, visto a relevância do assunto, um capítulo próprio para a necessidade do
processo.
O processualista civil Humberto Theodoro Júnior aponta como uma das características da
jurisdição ser ela atividade secundária. Secundária – diz o escritor – porque, através
dela, o Estado realiza coativamente uma atividade que deveria ter sido, primariamente,
exercitada de maneira pacífica e espontânea, pelos próprios sujeitos da relação jurídica
submetida à decisão.

A secundariedade é característica da jurisdição cível. Nunca da jurisdição penal.


Na área criminal vige o princípio nulla poena sine judicio, o qual significa que a pena
não pode ser aplicada sem processo anterior. Não basta para a aplicação e execução de
pena uma mera atividade administrativa ou policial. Não se admite nenhuma espécie de
transação entre o agente e o Estado. Mesmo que o acusado manifeste expressamente sua
culpa e seu desejo de submissão à pena, não poderá o Estado, sem o processo, executar
o direito de punir.
O princípio nulla poena sine judicio, inserto na maioria dos ordenamentos jurídicos dos
povos civilizados, encontra, em nossa sistemática, proteção no artigo 345 do Código
Penal, que tipifica e sanciona o crime de “fazer justiça com as próprias mãos”: “Fazer
justiça pelas próprias mãos,  para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a
lei o permite”. Os romanos já puniam este delito, do que se conclui que a proteção do
princípio não é recente.
Mas existiram e existem exceções ao princípio. Os exemplos históricos de inflição de
pena sem processo nos são trazidos por Eugenio Florian: o procedimento chamado
palatino, pelo qual o juiz, em caso de flagrante delito, podia impor uma pena sem
procedimento; pactos sobre a pena entre o juiz e o acusado que ocorriam em Nápoles.
Dois exemplos atuais no exterior de exceção ao princípio, Cintra, Grinover e Dinamarco
nos lembram do caso de submissão à pena (plea of guilty) do direito inglês; transação
(bargaining) no direito americano entre a acusação e a defesa para que seja imposta
pena de delito de menor gravidade que o imputado ao réu.
No Brasil, a Lei 9.099/1995, a qual dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais,
regulamenta a aceitação de proposta de aplicação imediata de pena não privativa de
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liberdade nas infrações penais de menor potencial ofensivo. Trata-se de hipótese


excepcional de aplicação de pena sem processo.

Não podendo a pena ser aplicada, em princípio, sem processo, sendo o processo o meio
pelo qual se aplica o direito penal para absolver os inocentes e condenar os culpados,
sendo no processo que o acusado terá de pleitear sua liberdade, a importância do direito
processual penal está em que a efetiva e correta aplicação de suas normas representa
uma garantia individual do cidadão. É a garantia de que ninguém será punido sem a
prévia formação da culpa em juízo. É a proteção contra o abuso. É o Estado de Direito
“desconfiando de si mesmo”. Dando relevância a essa noção do processo como garantia
individual estão as palavras de Ferri: “enquanto que o Código Penal é o ordenamento
dos criminosos, aos quais se aplica uma vez comprovada sua participação no delito, o
Código de Processo Penal é o código dos homens honrados, que podem, por erro ou
maldade de alguém, ser suspeitos de um delito”

Autonomia

A emancipação do direito processual do direito substancial é fato relativamente recente.

Hugo Alsina leciona que os romanos, frente a um caso concreto, não questionavam se
tinham o direito, mas sim se tinham a ação. Direito de ação e direito substancial eram
conceitos que não se distinguiam na doutrina romana.
Não faz muito tempo, alguns juristas, entre os quais estão Carmignani e Carrara, na
Itália, e Feuerbach e Grolman, na Alemanha, comentavam o Direito Processual Penal
dentro do estudo do Direito Penal.

O primeiro código de processo penal só surgiu no início do século passado.


Atualmente, no Brasil, o direito processual penal dispõe de um Código próprio e é
individualizado expressamente pela Constituição Federal que, no artigo 22, inciso I,
letra b, resguarda a exclusiva competência da União para legislar sobre a matéria.

Entretanto, cumpre ressaltar, não são exatamente estes aspectos normativos que
fundamentam a autonomia da disciplina. A razão da autonomia não está em que o
direito processual penal tem um tratamento individualizado na lei maior ou em que
possui um texto legal que agrupa suas normas. Estas circunstâncias representam apenas
sintomas de uma autonomia que lhes é anterior.
A razão da autonomia do Direito Processual Penal reside em que esta ciência contém
método e objeto próprios. O método é o técnico-jurídico e o objeto é o processo penal.
O método técnico-jurídico como leciona Maggiore, é constituído de três momentos: a
exegese, a dogmática e a crítica. No primeiro momento, o jurista interpreta a disposição
legal para dela extrair os princípios que contém. A dogmática compreende a organização
dos princípios extraídos com a exegese em institutos e a coordenação sistemática destes
mesmos institutos. Em uma última fase, a crítica, inquire-se o valor de certos princípios
no ordenamento jurídico em consideração às novas exigências do meio social, objeto das
normas.
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Direito processual penal e direito processual civil não se confundem. Os princípios que
informam um e outro quando não são distintos, se apresentam neles com forma e
intensidade diversas. Analise-se a importância das distintas consequências da
indisponibilidade do processo penal e da disponibilidade do processo civil e se verificará
o quanto se distanciam as duas ciências.
Se a autonomia do direito processual penal frente ao direito processual civil é
facilmente percebida, mais o é ainda sua autonomia diante do direito penal. Entre o
direito processual penal e o processual civil existem pontos de contato, mesmo porque
são ramos de uma mesma ciência que é a ciência processual. Alguns conceitos básicos de
direito processual civil são aplicáveis ao direito processual penal, tanto é que, não raro,
o estudioso do processo penal recorre à doutrina processual civil e vice-versa. Há
verdadeira exportação de conceitos, doutrinas e teorias, o que em nada prejudica o
elemento lógico da ciência importadora, pelo contrário, o fenômeno auxilia o progresso
científico das ciências jurídicas.

Já entre o direito processual penal e o direito que lhe é substancial, estas transações
não ocorrem. Dois processualistas, um civil e outro penal, terão certamente, numa
conversa técnica, muito mais assunto em um diálogo do que o estudioso do processo
penal e o penalista. O direito penal torna possível a vida social, protegendo os bens
jurídicos fundamentais. Delimilita o direito de punir do Estado e, por consequência,
resguarda o de liberdade do cidadão. O campo de atuação do direito processual penal é
diverso. Regula relações processuais que vinculam os sujeitos do processo. Não se
preocupa com a estrutura do crime mas com temos outros, como o da competência, o da
ação, o das nulidades, o dos recursos, etc...

Finalidade

Qual a finalidade direta do direito processual penal? Para que servem imediatamente as
normas de processo? A resposta não pode ser outra: as normas de processo têm por
objetivo regulamentar o processo mesmo. O processo penal é um conjunto de atos cuja
forma, tempo, lugar e sucessão são regulados pelo direito processual. Este sistema
jurídico normativo regula tanto o processo neste seu aspecto exterior, como também,
por reflexo, em seu aspecto interior, que se constitui por um complexo de direitos e
obrigações contido em relações e em situações jurídicas.

Para que serve esta regulamentação do processo? Estamos, a perguntar qual a finalidade
indireta do direito processual penal. Regulamenta-se o processo para que com ele possa
ser aplicada a lei penal. A aplicação da lei penal é, portanto, a finalidade indireta do
direito processual penal.

Aplicar a lei penal não significa, apenas, punir o culpado, significa também absolver o
inocente e garantir sua liberdade. Para que se aplique a lei penal, punindo culpados e
liberando inocentes, é indispensável procurar a verdade real. Perseguir a verdade real
quanto ao fato, quanto à personalidade do agente, quanto aos seus antecedentes,
através do processo, é indispensável para que se aplique a lei penal. A persecução da

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verdade real é a forma pela qual o direito processual penal atinge seu fim indireto
(aplicação da lei penal).

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