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Índice
CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES ................................................................................................ 3
Princípios que regem Cumprimento .......................................................................................... 4
Capacidade e Legitimidade para Cumprir .................................................................................. 5
Lugar e Tempo do Cumprimento............................................................................................... 6
Imputação e Prova do Cumprimento ........................................................................................ 7
INCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES ............................................................................................ 9
1. Mora .................................................................................................................................... 11
Mora do Devedor ................................................................................................................ 11
Mora do Credor ................................................................................................................... 12
2. Incumprimento Definitivo .................................................................................................... 15
A. Não Cumprimento nas Obrigações de Prestações Recíprocas ........................................ 16
B. Responsabilidade Civil Contratual ................................................................................... 24
3. Cumprimento Defeituoso .................................................................................................... 29
Fixação Contratual dos Interesses do Credor .............................................................................. 31
Realização Coativa da Prestação.................................................................................................. 34
Outras Causas de Extinção dos Negócios Jurídicos ...................................................................... 36
Causas Gerais........................................................................................................................... 36
Dação em Cumprimento.......................................................................................................... 39
Dação pro Solvendo ................................................................................................................. 40
Alteração das Circunstâncias ................................................................................................... 41
Consignação em Depósito ....................................................................................................... 44
Compensação .......................................................................................................................... 45
Novação ................................................................................................................................... 46
Remissão.................................................................................................................................. 47
Confusão.................................................................................................................................. 48
TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES ................................................................................................ 49
Cessão de Créditos – art. 577º e ss.......................................................................................... 49
Sub-Rogação – art. 589º e ss. .................................................................................................. 52
Assunção de Dívida – art. 595º e ss. ........................................................................................ 55
Cessão da Posição Contratual – art. 424º e ss. ........................................................................ 57
GARANTIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES ........................................................................................... 61
Art. 601º e ss. .......................................................................................................................... 61
Declaração de Nulidade – art. 605º ......................................................................................... 62
Sub-rogação do Credor ao Devedor – art. 606º ...................................................................... 62
Impugnação Pauliana – art. 610º e ss. ..................................................................................... 63
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Com o cumprimento da Obrigação verifica-se a transposição para o plano ontológico dos factos
(ser) do conteúdo deontológico da vinculação (dever ser).
Corresponde à situação normal da extinção da obrigação, através da concretização da
conduta a que o credor tinha direito.
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Isto em Portugal. No caso da França, por exemplo, o cumprimento da obrigação é equiparável ao cumprir
a lei entre as partes (que é como o contrato é entendido)
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2. Boa fé
Vetor ético-jurídico fundamental para toda a vida da obrigação.2
Imperativo pelo art. 762º/2
3. Pontualidade
O contrato tem de ser cumprido ponto por ponto, conforme o estipulado.4
Aplicável a todas as obrigações e não só aos contratos. Correspondência integral em todos
os aspetos. Resulta a proibição de qualquer alteração à prestação devida.
Art. 406º/1
o O devedor não se exonera da obrigação se entregar um bem diferente (ainda
que de maior valor) – art. 837º confirma (corolário do art. 406º/1)
Exceção: regime extraordinário de proteção de pessoas e a habitação
(Lei 58/2012) – pode entregar a casa ao banco
4. Integralidade
Prestação deve ser realizada integralmente (de uma só vez) e não por partes, exceto se for
diferentemente convencionado.
O comando de realizar a prestação para o devedor é unitário e o credor ter interesse em
efetuar a receção da prestação apenas uma vez.
O credor pode recusar o recebimento de apenas uma parte da prestação, sem incorrer em
mora.
Art. 763º
o Corolário do princípio pacta sunt servanda e do princípio da pontualidade
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ML: não basta a realização em termos formais e exige-se respeito pelos ditames da boa fé. Há também
deveres acessórios de conduta de forma a que o devedor não possa realizar a prestação em termos tais
que, respeitando formalmente a vinculação assumida, a sua atuação se mostre inadequada à satisfação
do interesse do credor ou lhe possa causar danos.
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O credor e devedor têm que agir de boa fé e o credor não pode exigir em tribunal a realização desses
deveres acessórios de conduta mas pode exigir indemnização pelos danos causados. Credor não pode
obstar a que o devedor cumpra. Ex: art. 1209º/1
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Há roteiro contratual que tem de ser seguido – mas todos os contratos têm margem de liberdade (algo
que não está estipulado) e essa margem tem de ser preenchida de acordo com a boa fé
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5. Favor debitoris
Protege-se a parte mais onerada na relação obrigacional.
Proteção do devedor, optando-se pelo que for menos oneroso para ele.
o Lei é exigente no cumprimento das obrigações, procurando, no entanto,
favorecer o devedor (que muitas vezes é um consumidor e aí protege-se a parte mais fraca).
nº2 Credor
o Credor tem de ser capaz – pois é um ato com efeitos jurídicos que libera o devedor – tem
consequências importantes.
Se for incapaz, o ato é inválido e devedor terá que prestar outra vez.
Ressalva-se se chegar ao representante legal e o devedor pode opor-se à anulabilidade
Legitimidade
Num caso em que a prestação for efetuada por terceiro tem que se verificar se o autor da prestação
e o seu recetor têm legitimidade para efetuar ou receber a prestação. Sem legitimidade não se
extingue a obrigação.
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3º ao ter interesse direto na prestação (como os fiadores) adquire o direito a poder cumprir se o credor
não ficar prejudicado
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Solução do art. 776º é justificado pela certeza que se deve imprimir ao regime da relação
obrigacional.
E se for impossível a prestação no lugar ditado pelas regras supletivas?
ML: integração do negócio jurídico (art. 239º)
MC: fixa-se pelo tribunal - analogia do art. 777º/2
2 momentos
Pagabilidade - momento em que o devedor pode cumprir a obrigação, forçando o credor
a receber a prestação, sob pena do credor entrar em mora
Exigibilidade/vencimento - credor pode exigir do devedor a realização da prestação, sob
pena do devedor entrar em mora
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ML: Todas as outras pessoas são consideradas terceiros, pelo que a obrigação não se extingue e o
devedor deve ser condenado a realizá-la de novo. Mas o autor pode exigir a restituição por
enriquecimento sem causa por prestação.
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Obrigações Puras – não têm prazo e assim que surgem podem ser exigidas
Cumprimento pode ser exigido ou realizado a todo o tempo.
o Credor tem direito a exigir a todo o tempo e o devedor pode a todo o tempo
exonerar-se
Mora no art. 805º/1
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Já ocorre a pagabilidade da dívida, ainda que não se tenha verificado a exigibilidade.
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Conceito
Como a prestação se extingue se ela não for imputável ao devedor (art. 790º/1), o não
cumprimento exige, não apenas a não realização da prestação, como também exige que não
ocorra qualquer outra causa de extinção.
Menezes Leitão: Incumprimento – não realização da prestação devida por causa
imputável ao devedor, sem que se verifique qualquer causa de extinção da obrigação.
o Definição de não cumprimento abrange não apenas as situações em que o
devedor culposamente falta ao cumprimento da obrigação (art. 798º e ss.), mas
também as situações em que ele impossibilita culposamente a prestação (art.
801º e ss.).
2. EFEITOS
A. Mora – situação em que a prestação, sendo ainda possível, não foi realizada no prazo
estabelecido.9
a. Art. 804º e ss.
b. Pode ser do credor (art. 813º e ss)
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Por diversos motivos. Não goza da faculdade de invocar onerosidade da prestação ou situação precária
em que se encontra para não realizar a prestação.
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Ainda é possível a sua prestação através de um cumprimento retardado; se esse atraso for imputável ao devedor, o
credor pode exigir indemnização.
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Incumprimento Definitivo
1. Devedor tem a obrigação de indemnizar, exceto se se puder imputar ao credor ou a
nenhum.
o Mesmo funcionamento que a Mora.
Cumprimento Defeituoso
2. Dever de indemnizar
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Acontecendo uma situação de Mora, o credor tem que esperar que se torne numa situação de
Incumprimento Definitivo para poder resolver o contrato. oDá-se uma 2ª oportunidade ao devedor – que
será sempre responsável e terá de indemnizar o credor.
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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
1. Mora
Quando há um atraso culposo na realização da prestação debitória, mas, o contrato ainda
subsiste.
Mora do Devedor
Art. 804º/2 – prestação, ainda possível, não é realizada no tempo devido, por facto imputável
ao devedor.
3. Por exigir a possibilidade de realizar a prestação em data futura, não se admite a
ocorrência de mora para certo tipo de obrigações e considera-se como incumprimento
definitivo (art. 808º)
No art. 805º/2 – casos de mora ex re – mora depende de fatores objetivos, sendo irrelevante a
interpelação
a) Obrigações a Prazo – o decurso do prazo acarreta por si só o vencimento da obrigação
a. DL 32/2003 – em relação à remuneração de transações comerciais, transpondo
diretiva da UE – art. 4º determina juros de mora após ultrapassar-se 30 dias da
data em que o devedor tiver recebido a fatura ou documento equivalente
DL revogado desde o DL 62/2013
b) Conta-se a mora desde a data da prática do ato ilícito pois quem praticou um ilícito
deve imediatamente proceder à reparação das suas consequências
c) Galvão Telles: não é bem mora ex re pois exige-se uma interpelação, ainda que se
ficcione a sua ocorrência12
a. Se devedor declara ao credor que não tenciona cumprir a obrigação (e isso é
evidente objetivamente), torna a interpelação inútil, pelo que a partir dessa
declaração o devedor fica logo constituído em mora.
Menezes Cordeiro: credor pode logo considerar o contrato definitivamente
incumprido.
Recusa Antecipada do Cumprimento – não está regulada no CC. A Doutrina e
Jurisprudência têm entendido que, quando é certo e seguro que a prestação
não vai ser realizada, pode equiparar-se tal a um incumprimento definitivo,
desencadeando essas consequências.
No art. 805º/3 – tem de se conhecer o exato montante que é devido ao credor – exige que o
quantitativo da obrigação já esteja determinado.
Exceção de: falta de liquidez imputável ao devedor (constitui-se mora na mesma para
não beneficiar de uma situação pela qual ele é responsável); situação de
responsabilidade por facto ilícito ou pelo risco em que, apesar da liquidez, incorre-se em
mora a partir da citação da ação de responsabilidade.
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Ato jurídico não negocial – comunicação pelo credor ao devedor de lhe exigir o cumprimento da
obrigação. Pode ser expressa ou tácita (art. 217º).
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ML: norma desnecessária pois já lá se chegava por força do art. 295º que aplicaria o art. 224º/2
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Mora do Credor
Art. 813º - Pressupostos de:
1º. Recusa ou não realização pelo credor da colaboração necessária ao
cumprimento – momentos em que o cumprimento da obrigação pressupõe a
colaboração do credor, que não é dada – a não realização da prestação pelo devedor é
imputada ao credor, constituindo-o em mora.
2º. Ausência de motivo justificado para essa recusa ou omissão – há situações em
que existe motivo justificado para recusar a prestação:
quando a prestação não coincide plenamente com a obrigação a que o devedor
se vinculou (caso de prestação defeituosa);
nos casos de prestação parcial (art. 763º/1);
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Efeitos da mora do credor são independentes de culpa (ao contrário do que acontecia com o
devedor) – lei não impõe dever de colaboração no, bastando-se a verificação dessa
circunstância.
ML: aplica-se o regime da mora do credor a todos os casos em que o credor omita a prática
de atos necessários ao cumprimento, independentemente do motivo por que o faz. O devedor,
ao se obrigar a prestar, não assume o risco de a sua prestação não se realizar por ausência de
colaboração do credor, mesmo que não derivada de culpa deste.
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ML: por analogia do art. 808º (e 411º) deve admitir-se que o devedor possa requerer
ao tribunal a fixação dum prazo para o credor colaborar no cumprimento, sob
pena da obrigação ser extinta.
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2. Incumprimento Definitivo
Antunes Varela: “Mora é terreno pantanoso para o credor” – ou se purga ou se passa para o
“terreno seco” do incumprimento definitivo.
Menezes Cordeiro: incumprimento definitivo é igual a desistência de manter vivo para o Direito
o dever originário de prestar.
Menezes Leitão: verifica-se incumprimento definitivo da obrigação quando o devedor não a
realiza no tempo devido por facto que lhe é imputável, mas já não lhe é permitida a sua
realização, em virtude de o credor ter perdido o interesse na prestação ou ter fixado, após a
mora, um prazo suplementar de cumprimento que o devedor desrespeitou (art. 808º)
13
Não basta o credor, por capricho, dizer “já não quero”
14
Portanto deve ser por carta registada com aviso de receção: para o interpelado saber que o está a ser
(havendo provas de tal) – MC: um dos requisitos é a efetiva receção, pelo devedor, dessa
comunicação
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Devedor pode contestar a interpelação admonitória se o prazo do credor não for razoável.
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Indemnização e resolução são coisas distintas, o credor poderá escolher ou ter os dois.
Para a invocação da Exceção do Não Cumprimento ser conforme à boa fé exige-se uma tripla
relação entre o não cumprimento de um contraente e a recusa a cumprir:
1. Relação de Sucessão – quem invoca a exceção não foi o primeiro a cair em
incumprimento; recusa a cumprir é posterior ao incumprimento da outra parte
2. Relação de Causalidade – invocação da exceção visa exclusivamente compelir a outra
parte à realização da sua prestação
3. Relação de Proporcionalidade – invocação da exceção tem que ser proporcional ao
incumprimento que a legitima16
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Não é admissível quando o incumprimento for de escassa importância.
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Art. 429º - mesmo que se tenha acordado que um prestaria primeiro que outro, se
posteriormente ao contrato se verificarem as situações do art. 780º relativamente a este outro,
o primeiro pode não prestar.
Num contrato com prestações recíprocas, o credor, além da indemnização, pode resolver o
contrato – desvinculando-se da contraprestação ou podendo exigir a sua restituição por inteiro
(caso já a tenha cumprido) – art. 432º e ss.18
Posição doutrinária tradicional – Galvão Telles, Antunes Varela, Almeida Costa e
Menezes Leitão – opção entre 2 alternativas:
o exigir uma indemnização por incumprimento por interesse contratual positivo,
mantendo a própria obrigação;
o obter a resolução do contrato cuja eficácia retroativa permite liberar-se da sua
obrigação, restituindo a prestação já realizada e acrescida de uma indemnização
por interesse contratual negativo.
o Resolve-se o contrato ficando na posição em que estaria se não tivesse havido
contrato – interesse contratual negativo que abrange as despesas que teve por
o contrato não se realizar
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ML: pois parece que a aceitação da prestação constituirá presunção da inexistência de defeitos.
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Art. 436º - não é preciso ir a Tribunal, basta a comunicação
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significa que não possa haver outra por lucros cessantes mediante prova do
credor (art. 564º/1)
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Argumento baseado no compensatio lucri cum damno e que destrói o argumento de que haveria um
enriquecimento sem causa pois seria indemnizado pelo lucro que teria sem ter despesas com o ganhar
esse lucro.
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Vários argumentos podem ser dados, no nosso ordenamento jurídico, a favor de qualquer
teoria.
ML: teoria da diferença e teoria atenuada da diferença – credor, quando não realizou
a sua prestação, pode optar pela sua não realização, descontando-a na indemnização
por incumprimento, ou pela sua realização (nos casos em que tenha interesse em fazer)
reclamando nesse caso a totalidade da indemnização.
MC: verifica-se a extinção da obrigação, uma vez que a obrigação de indemnização que se
constitui por força da impossibilidade é uma nova obrigação, com objeto e regime distinto
Devedor fica obrigado a indemnizar o credor pelos danos correspondentes à frustração das
utilidades proporcionadas com a prestação, verificando-se os pressupostos da Responsabilidade
Obrigacional.
Commodum da Representação
Art. 803º/1 – O credor pode exigir a prestação da coisa ou do direito que o devedor obteve
contra terceiro em substituição do objeto da prestação. Ex: agricultor por sua culpa não
conseguiu a colheita, mas tem direito ao seguro das colheitas. Credor pode agir para ter direito
a este seguro como substituição dos frutos que o agricultor culposamente não prestou
Credor tem de manter a contraprestação – pois não se extingue obrigação se o credor
exercer o commodum da representação
Indemnização será reduzida na medida correspondente ao valor do commodum (art.
803º/2)
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Em bom rigor não há incumprimento definitivo e há é uma conduta do devedor que impossibilita a
prestação.
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Caso de Responsabilidade Obrigacional. Diferença é o nexo de imputação: que aqui se coloca em relação
à conduta de não realização de prestação, mas na seguinte se coloca em relação à conduta de
impossibilitar a prestação.
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Originária – consequências são as do regime do art. 401º - nulidade do negócio jurídico em que
a obrigação não chega a constituir-se (art. 401º/1 e 280º/1)
Superveniente – surgem sob diferentes modalidades:
Objetiva: opõe-se a qualquer pessoa e afeta a generalidade das pessoas
Subjetiva: só afeta a pessoa do devedor
Temporária
Definitiva
Frustração do fim da prestação – prestação é possível para o devedor mas perde todo o
interesse para o credor. Há uma impossibilidade do ponto de vista do fim a que se dirige. Ex:
faço contrato com médico para me operar, mas curo-me
Situação em que ainda é possível realizar a conduta a que o devedor se vinculou, mas já
não é possível, através desta, a satisfação do interesse do credor, uma vez que a
prestação ou se tornou inidónea para esse fim ou o interesse do credor já se encontra
satisfeito por outra via. Conduta é possível mas não tem utilidade para o credor.
ML: não são casos de impossibilidade de prestação, uma vez que a ação abstrata de
prestar se mantém como possível. No entanto, o facto do credor não vir a retirar
qualquer benefício da ação do devedor torna disfuncional a realização da prestação, que
deve corresponder necessariamente a um interesse do credor (art. 398º/2). Justifica-se
a equiparação dessas situações à impossibilidade, para efeitos de exoneração do
devedor.
22
Não se equiparara ao incumprimento pois não é uma situação que resulta do devedor não realizar
culposamente a prestação
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Estas categorias aplicam-se a todas as impossibilidades: Imputáveis e Não Imputáveis
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Art. 790º/2 - prestação possível na nata de conclusão do negócio jurídico não afeta a
validade do negócio se se tornar impossível na data de vencimento.
Extrai-se deste artigo que a norma faz recair sobre o credor o risco da impossibilidade.24
Subjetiva – art. 791º - tem a ver com a infungibilidade das prestações; não diz respeito à própria
prestação e sim se aquele devedor a pode realizar.
Temporária – art. 792º - é convertida em definitiva quando o credor perde o interesse na
prestação. Quando cessar a impossibilidade tem de cumprir.
24
David Festas: na realidade há 2 riscos – a prestação, sobre a qual recai o direito, e a própria coisa, sobre
a qual recai a prestação.
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Também podemos ter em conta o art. 795º/2 e incluir na “causa imputável ao credor”, o da frustração
dos fins.
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Art. 796º/2 – ex: pessoa vende quadro mas estabelece que entrega daqui a um mês para o
expor. Nessa exposição ele é queimado. Devedor suporta o risco. – Tendo o termo constituído
a seu favor, não é mero depositário e utiliza a coisa em proveito próprio, sendo justo que
suporte o risco.
Risco só se transfere com o vencimento do termo (alienante deixa de beneficiar do prazo
para utilização da coisa) ou com a entrega da coisa.
Admite-se que o alienante se possa constituir em mora pelo art. 807º (o que leva a uma
inversão do risco)
Art. 796º/3 – resolutiva significa que adquirente se encontra a tirar proveito dela justificando-
se suportar o risco; suspensiva significa que a propriedade ainda não se transferiu, sendo apenas
eventual, pelo que não se justifica que seja o adquirente a suportar o risco.
Art. 797º - apenas aplicável às obrigações genéricas (art. 541º) pois as de coisa determinada
têm a transferência de risco com a celebração do contrato (antes do envio)
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E pelo art. 408º/1, a regra geral é de que os contratos são quod effectum
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Pelo art. 564º/1 – os lucros cessantes acrescem ao dano emergente – ambos são objeto deste
dever de indemnizar e, por força do art. 798º, o art. 564º obriga a repor a pessoa que sofreu o
dano (credor) na posição em que estaria sem esse dano (ou seja, há indemnização pelas despesas
que teve e pelas vantagens que teria tido29).
II. Ilicitude
Inexecução da obrigação – como a obrigação é complexa e não há só dever de prestar, o facto
ilícito não é só o incumprimento da obrigação, mas, também dos deveres acessórios de conduta
(que resultam do art. 762º)
Não se trata de deveres jurídicos gerais como na extracontratual (que vinculam a
generalidade das pessoas umas perante as outras).
o Neste caso, é violação dos deveres de prestação (principais ou acessórios) de
pessoas previamente vinculadas por um vínculo obrigacional/contratual.30
27
Conceito mais abrangente que contratual
28
Nova obrigação que se constitui tendo como fonte a responsabilidade civil obrigacional
29
Releva o interesse contratual positivo (as vantagens que poderia ter obtido) e o interesse contratual
negativo (as despesas que incorreu tendo em conta o dano)
30
Dário: é por isso que a Responsabilidade Civil é dual – essa dualidade deve-se à valoração diferente do
facto ilícito e face ao que se perspetiva – apesar dos pressupostos serem os mesmos, estes são
perspetivados consoante as situações (da vida, que necessariamente) são diferentes
≠ Menezes Leitão: responsabilidade civil é una
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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Ónus da Prova
Cabe ao credor.
É diferente se a obrigação for de meios (médico obrigado a diligência) ou de resultados
– ónus probatório é diferente consoante a natureza da obrigação em causa.
III. Culpa
Atuação do devedor deve ser culposa, ou seja, há censurabilidade no facto de não ter adotado
o comportamento devido para cumprir a obrigação
2 modalidades:
Dolo – ato voluntário dirigido à provocação dum dano
o Direto: visa intencionalmente o não cumprimento. Ex: motorista de táxi recusa-
se a transportar o cliente que o chamou
o Necessário: não visa diretamente o incumprimento mas sabe que será uma
consequência necessária da sua conduta. Ex: motorista de táxi que aceita dois
clientes com rotas opostas, só pode transportar um
o Eventual: devedor atua conformando-se com a possibilidade de verificação do
incumprimento. Ex: motorista de táxi parte mais tarde, sabendo que poderá não
chegar a tempo de apanhar o cliente
Negligência – não se queria provocar dano, mas não se acautela o seu não
acontecimento, num padrão do homem médio – agente omitiu a diligência a que estava
legalmente obrigado
o Consciente: sempre que o devedor represente a possibilidade de ocorrência do
incumprimento, mas atua sem se conformar com a sua verificação. Ex:
motorista parte mais tarde mas acredita que chegará a tempo
o Inconsciente: quando nem representa a possibilidade da sua conduta gerar
incumprimento. Ex: motorista parte mais tarde mas não pensa que poderá
chegar fora do tempo
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Lei dá uma causa legítima para não cumprir a obrigação, excluindo a ilicitude que resultaria do não
cumprimento
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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Casos de limitação da culpa ao dolo: caso de mora do credor (art. 814º e 815º), responsabilidade
do doador (art. 956º e 957º), comodante (art. 1134º), mutuante a título gratuito (art. 1151º).
IV. Dano
Exigência que o incumprimento do devedor tenha provocado dano ao credor.
Na extracontratual (art. 483º) não se contempla danos patrimoniais puros e, por via de regra, é
lesão de bens de outrem em que não conta a pura diminuição patrimonial.
Na contratual, abrange-se mais danos – os in natura do art. 483º e outros que não implica uma
lesão física ou espiritual, podendo ser meramente pecuniários.
A contratual é mais vasta pois alguém, no âmbito da sua autonomia privada,
responsabilizou-se perante outrem.
Regime unitário da indemnização (art. 562º e ss.), compreendendo-se danos emergentes como
lucros cessantes (art. 564º/1).
Abrange o interesse contratual positivo – todas as utilidades que se frustraram em
função da não realização da prestação, sendo o credor colocado na posição que estaria
se a obrigação tivesse sido voluntariamente cumprida.
o ML: como o regime da indemnização é uno para ambas as responsabilidades civis não
se justifica tratar diferentemente o lesante apenas porque violou uma obrigação e não
um dever geral de respeito, portanto pode aplicar-se parcimoniosamente o art. 494º
V. Nexo de Causalidade
Art. 563º aplicável a ambas as Responsabilidades.
Teoria da causalidade adequada - para que exista nexo de causalidade não basta que
o facto tenha sido em concreto causa do dano e é também necessário que, em abstrato,
seja também adequado a produzi-lo segundo o curso normal das coisas. Subjacente ao
art. 563º em que não está em causa apenas a imprescindibilidade da condição mas
também se exige que essa condição, de acordo com juízo de probabilidade, seja idónea
a produzir um dano.
o Verificada condição sine qua non, faz-se juízos de prognose póstuma se o agente
via como provável que tal condição acontecesse – reconhece-se que o agente
podia ter conhecimentos especiais.
Dário: maior exigência na responsabilidade obrigacional porque o credor pode advertir o credor
das consequências do incumprimento.
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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Ex: prof. Direito manda encadernar livro. Encadernador destrói-o. Não avisa o encadernador que
era livro do sec. XVI, único e imprescindível para a tese de doutoramento. Não terá que
indemnizar todos os danos que teve por não concluir a tese, mas, se tivesse advertido o credor,
então esse poderia indemnizar o professor.
O devedor não se pode justificar com o auxiliar porque não foi com ele que o credor contratou.
O devedor suporta o risco pelas ações dos seus auxiliares e responde objetivamente ao credor
mesmo que não tenha culpa – azar, não contratasse esses auxiliares.
Relação Coimbra 26/6/13
Pressupostos de aplicação do art. 500º e do art. 800º são bastante diferentes, embora haja
responsabilização independente de culpa:
não se exige relação de comissão (basta mera representação legal ou mera utilização do
terceiro para realização da prestação debitória)
exige-se que haja a violação do vínculo obrigacional
Art. 500º tem requisitos mais exigentes – fala-se de acontecimentos à margem da realização de
uma obrigação.
É mais fácil imputar ao devedor pelo art. 800º - falamos de pessoas que se socorrem de outrem
para potenciar as suas atividades comerciais. Traz benefícios económicos este socorrer-se de 3º,
por isso deve responder mais amplamente.
32
Assim, risco da atuação de representantes cabe ao próprio devedor.
33
MC: discorda, pois art. 799º/1 tem presunção de faute que presume ilicitude, culpa e nexo de
causalidade entre facto e dano.
27
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3. Cumprimento Defeituoso
Art. 799º/1 – violação positiva do contrato – a obrigação é cumprida, mas mal
Referência passageira no art. 799º/1 a propósito do ónus da prova que incumbe ao devedor.
Devedor realiza uma prestação que não corresponde integralmente à obrigação a que se
vinculou, não permitindo assim a satisfação adequada do interesse do credor.34
Não há liberação do devedor – que fica constituído em mora (art. 804º) e tem de reparar o defeito
ou substituir a prestação defeituosa, uma vez que o credor ainda tem interesse na prestação; ou
que se verifica incumprimento definitivo (art. 808º) com a perda de interesse do credor.
Não tem regime específico nas regras gerais e temos de apurar como se regula o cumprimento
defeituoso nas regras dos contratos em especial.
Compra e venda: art. 913º e ss.
Obra: art. 1218º e ss.
Coisa locada: art. 1236º e ss.
Acórdão STJ 6/5/03 – Para um juízo de cumprimento, temos de colocar lado a lado o que foi
prestado e o que devia ser prestado.
Acórdão STJ 22/9/05 – Tendo-se verificado já um cumprimento defeituoso que só não será de
haver como incumprimento definitivo, para efeitos de cessação do vínculo, na medida em que
ao devedor é dada a oportunidade e imposta a obrigação de corrigir os defeitos da prestação
mal feita, não seria precisa uma recusa séria e definitiva do mesmo devedor quanto a esta
34
Pode também ser pequenas falhas mas que no seu conjunto levam a uma perda de confiaça
29
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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Deve ser objeto de interpretação restritiva no sentido de apenas considerar nulas aquelas por
dolo e culpa grave?
Sim – Pinto Monteiro e Mota Pinto – admite-se a exclusão da responsabilidade por culpa
leve. Argumento de que no art. 18º/c da lei das CCG isso é permitido e se, até nas CCG
em que as partes não têm liberdade de estipulação e só de celebração, então nos outros
contratos em que há liberdade de estipulação e celebração deveriam de se admitir
o STJ 19/3/02: A cláusula limitativa da responsabilidade destina-se a restringir ou
a limitar - seja quanto aos pressupostos da responsabilidade seja quanto ao
montante da indemnização - antecipadamente, de modo vário, a
responsabilidade em que, sem ela, incorreria o devedor. Não constitui renúncia
ao direito de indemnização nem ofensa à ordem pública a cláusula de
irresponsabilidade por simples culpa leva do devedor ou dos seus auxiliares, pelo
que é válida.
31
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Vantagens: nos Negócios Jurídicos com valores muitos elevados, se possivelmente tiver de
indemnizar, o valor será tão alto que pode ser uma desincentivo à realização do negócio
Desvantagens: pode estabelecer valores lesivos para uma das partes.
Maior parte da doutrina admite esta cláusula ao abrigo da autonomia privada (art. 405º) e do
art. 602º (em que a lei admite hipótese específica)
Isto não contraria o art. 809º, que se refere a renúncia antecipada (“eu não respondo!”;
aqui é “eu não respondo além de x valor”)
Sujeita aos limites do valor não ser irrisório – violaria indiretamente o art. 809º pelo
que a consequência deveria ser a mesma.
Admitida, frequente e importante no comércio jurídico – regulado nos art. 810º, 811º e 812º
Requisitos de:
Fixação de montante determinado – montante pecuniário que não pode ser irrisório,
senão violaria o art. 809º
Pressupõe uma prestação principal – que tem de ser judicialmente exigível, se não
estar-se-ia a contratar uma obrigação natural – art. 810º/2
Finalidade: função indemnizatória que previne litígios futuros -> função compulsória que
incentiva ao cumprimento (pois já se sabe antecipadamente quanto vai pagar se não cumprir)
Se se for a tribunal já não se vai discutir os danos que o não cumprimento da obrigação
causou, porque as partes já o fixaram – elementos de prova do litígio vão resumir-se
aos demais pressupostos da responsabilidade obrigacional
32
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Como se distinguem?
Por interpretação da declaração negocial – relevante pelo regime que lhe está associado.
Art. 811º/1/1ª parte – credor não pode exigir que se cumpra a obrigação e devedor pague a
cláusula penal na cláusula penal indemnizatória;
Art. 811º/1/2ª parte – credor pode exigir que devedor pague a cláusula penal, se for
estabelecida uma cláusula penal moratória, e que se cumpra a prestação – está apenas
relacionado com o incumprimento pontual e não o incumprimento definitivo.
Art. 811º/2 – significa que se houver danos reais acima do valor da cláusula penal, não se pode
pedir indemnização pelos danos reais e terá que se pedir cláusula penal.
Só se pode pedir o valor dos danos reais quando as partes fixaram cláusula penal mas
admitem que o credor possa pedir o excedente – neste caso a cláusula penal funciona
como limite mínimo da indemnização – relevância quanto ao ónus da prova: terá de ser
o credor a demonstrar que os danos reais foram superiores aos da cláusula penal
(enquanto na cláusula penal tem-se por estabelecido que são esses os danos e não tem
de fazer prova dos mesmos)
Art. 812º - permite redução equitativa de cláusulas penais que sejam manifestamente
excessivas ou quando a obrigação tiver sido parcialmente cumprida.
Redução não é oficiosa e tem de ser pedida pelo devedor que seja interpelado para
cumprir uma cláusula penal.
Resulta, a contrario, que não se permite um aumento equitativo da cláusula penal. Só
se permite a redução – cujo limite a lei não diz, mas alguma doutrina aponta que nunca
pode ser inferior ao valor dos danos reais.
35
Conduzem a regimes jurídicos distintos
33
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Ação de Cumprimento – ação judicial que corre nos Tribunais cíveis em que se pretende obter
a declaração que a obrigação não foi cumprida pelo devedor e declarar-se que o devedor deve
cumprir. Art. 4º/3 CPC
Tribunal condena o devedor a cumprir
Ação Executiva – sentença de condenação do devedor, cujo património vai ser executado para
satisfazer o credor, nos termos do art. 45º CPC.
Sentença condenatória é um título executivo que funciona como permissão ao credor
para executar património do devedor (art. 46º CPC)36.
Execução Específica – credor exige, por via judicial, que lhe seja entregue a prestação acordada
para satisfazer o seu crédito, obtendo o mesmo resultado que teria se o devedor tivesse cumprido
voluntariamente a obrigação.
Pressuposto é a mora, pois mantém na esfera do credor o direito à prestação original
36
Existem outros: títulos de crédito (letras e etc.), documentos particulares exarados e etc.
37
Forma mais comum em que o credor exige a prestação de uma quantia em dinheiro
34
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Prestação de facto Negativo – art. 829º - credor pode requerer a demolição da obra.
Ex: condómino constrói varanda, não o podendo fazer. Condomínio pode determinar
em juízo essa demolição a expensas do credor.
o Faculdade cessa se os prejuízos causados pela demolição para o devedor forem
consideravelmente superiores ao prejuízo sofrido pelo credor, havendo só
indemnização (art. 829º/2)
Obrigação consistia em declaração negocial / contrato promessa – art. 830º - permite
ao credor requerer em Tribunal a emissão de uma sentença que produza efeitos de
contrato que o devedor se obrigara a celebrar (surge por ação declarativa constitutiva –
art. 4º/1/c CPC)
Nº2 – valor acresce à indemnização; pena privada pecuniária que é imposta ao devedor
Nº3 – beneficiários da sanção compulsória são o credor e o Estado em partes iguais
Nº4 – quando estão em causa obrigações pecuniárias não é preciso sentença judicial a definir a
sanção pecuniária compulsória pois a lei já define o montante.
38
Existe para não se tirar vantagens do retardamento do cumprimento.
35
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Causas Gerais
Afetam a relação obrigacional complexa – extinguem a obrigação por supressão da fonte –
mata-se a obrigação matando a fonte
Caducidade
Cessação dos efeitos do negócio jurídico em virtude da ocorrência de facto jurídico stricto
sensu.
O mais comum é o decurso do tempo – extinção do contrato em virtude do decurso de
certo período de tempo.
Pode ser outro facto que as partes tenham estipulado39 ou que decorra da lei.
Prazos da caducidade são contínuos e não se suspendem nem interropem (art. 328º)
Regime da caducidade:
é automática – não é necessária a declaração da caducidade de uma das partes à outra
e não é necessário por uma ação em Tribunal, basta que tenha ocorrido facto que
determine a caducidade;
opera para futuro – afeta os efeitos da obrigação a partir do momento em que ocorre
o facto que determina a caducidade; não tem eficácia retroativa
Resolução
Art. 432º e ss.
Extinção dos efeitos do negócio jurídico por declaração unilateral de uma das partes, baseada
num fundamento ocorrido posteriormente à celebração do contrato.
Extinção do contrato por iniciativa de uma das partes, não sujeita ao acordo da outra –
direito potestativo tipicamente motivado (pela lei ou contrato)
o Pode ser operada por ato de uma ou de ambas as partes.
Exercício vinculado – só pode existir com base num fundamento legal ou convencional
(art. 432º/1)
39
Partes podem estipular casos especiais de caducidade, modificação do regime legal ou renuncia da caducidade,
contanto que não se trate de matéria subtraída à disponibilidade das partes ou de fraude às regras legais de
prescrição.
36
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Exclui direito de resolução no caso em que não haja possibilidade de restituir o que se houver
recebido (art. 432º/2) – para evitar um enriquecimento sem causa – Casos de eu entrego X e tu Y. Se
não tenho X para entregar não te vou estar a exigir Y
Se uma parte já prestou tem direito a ser restituída.
Revogação
Extinção do negócio jurídico por virtude de uma manifestação da autonomia privada no
sentido oposto àquela que o constitui.
Declaração de uma das partes que visa cessar os efeitos do negócio jurídico sem
necessidade de justa causa que a legitime.
No caso de um contrato tem que ser bilateral e assentar no mútuo consenso dos contraentes
em relação à extinção do contrato que tinham celebrado.
Se não houver acordo entre as partes só é possível quando a lei o permite. Ex:
procuração; contrato a favor de terceiro (art. 448º/1); promessa pública (art. 461º);
contrato doação (art. 969º/1); testamento (art. 2179º e ss.).
No caso de negócio jurídico unilateral a revogação pode ser unilateral, bastando uma segunda
declaração negocial do autor, contrária à primeira.
Negócio jurídico em que avulta o interesse de uma das partes e não há expetativa
jurídica da contraparte a ser tutelada.
Exercício livre, ficando os seus efeitos na disponibilidade das partes, que podem estipular (ou
não) a sua retroatividade.
Revogação retroativa não é possível quando se aja criado uma situação em benefício de
terceiro ou quando o ato esteja sujeito a registo e este não se tenha realizado.
o Só opera para futuro
37
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Denúncia
Ato praticado por uma das partes do contrato que se dirige a impedir a renovação desse
mesmo contrato.
Resulta de uma decisão das partes, mas não necessita de nenhum fundamento, sendo
um exercício livre – mas sujeito ao art. 334º
Aplica-se aos contratos de execução continuada ou duradora em que as partes não
estipulam um prazo fixo de vigência (tem duração indeterminada)40.
o Como a vigência do contrato ilimitada no tempo seria contrária à liberdade
económica das pessoas, que não se compadece com a criação de vínculos
perpétuos ou de duração indefinida, admite-se neste caso a denúncia a todo o
tempo.
Não tem efeitos retroativos e limita-se a extinguir o contrato para futuro sem permitir
a restituição das prestações entretanto realizadas com base nele.
Não tem regulação geral na lei – no caso da locação está no art. 1099º
Denúncia restringe-se aos contratos sem duração determinada; se tiver duração previamente fixada
chama-se “Oposição à Renovação”.
Oposição à Renovação
Figura mista que conjuga a caducidade e a denúncia (ML e MC).
Pois é necessário decorrer um certo lapso de tempo (previsto no contrato) para que
possa ocorrer a sua extinção, mas, tal está dependente de declaração negocial contrária
à sua renovação.
Ex: oposição à renovação dos contratos de locação (art. 1054º e 1055º).
As partes convencionam que o contrato vigora por períodos limitados de tempo e preveem a
sua renovação tácita, se não houver declaração em contrário.
A oposição à renovação consiste nessa declaração e caracteriza-se por ser um exercício
livre, não retroativo, mas que só pode ser exercida num certo lapso de tempo antes de
ocorrer a renovação do contrato.
o Ex: contrato de arrendamento que diz que se renova se ninguém se opuser –
esta oposição antes era considerada denúncia, agora não
40
Fundamenta-se no princípio da proibição das obrigações perpétuas – serve para libertar dum vínculo
ad eternum
38
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Dação em Cumprimento
Realização de prestação diferente da que era, em princípio, devida pelo devedor.
Pressupostos – art. 837º:
Realização de prestação diferente da que era devida – prestação que devedor realiza
não coincide com aquela a que está vinculado, não podendo, à partida, produzir a sua
exoneração ao abrigo do art. 762º/1. Extingue-se a obrigação, então, quando o devedor
realiza um aliud em relação ao que está vinculado.
o Diz apenas respeito às prestações de coisa com natureza diferente ou pode
abranger outro tipo de prestação diferente da devida? Não há limitação no
artigo, portanto não se exclui a sua aplicação à extinção de outro tipo de
obrigações genéricas ou obrigações de prestação de facto. Também podem ser
prestações de coisa especifica, como de coisa fungível, de prestação de um
facere.
o Só se verifica com a efetiva realização da prestação.
Acordo do credor relativo à exoneração do devedor com essa prestação – aliud pro
alio invito creditore solvi non potest.
o Se for solidária, a dação pode ser realizada apenas por um dos devedores (art.
523º) ou a apenas um dos credores (art. 532º) – para ocorrer a extinção da
obrigação nas relações externas bastará o consentimento das partes na dação
em cumprimento.
39
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
corresponderia a novação (mas a dação não visa substituir a obrigação antiga por uma
nova, conforme se impõe na novação, é antes uma forma diferente de extinguir a
obrigação antiga, que se mantém até à efetiva realização da dação);
corresponderia a contrato modificativo da relação obrigacional (mas a dação tem por
base a receção de uma prestação diferente da devida e não propriamente uma
modificação da prestação devida);
corresponderia a um contrato de cumprimento (acordo entre devedor e credor para
que a prestação entregue valha como cumprimento para exonerar a obrigação mas isto
só é admissível se se considerar a natureza contratual do cumprimento)
MC: qualifica-se apenas como uma forma convencional de extinção das obrigações
através da realização de uma prestação diversa da devida.
ML: o que justifica o regime do art. 838º é a definição da dação em cumprimento como
um contrato oneroso, pelo qual se extingue uma obrigação através da realização
perante o credor de uma prestação diferente da devida como contrapartida da sua
renúncia a receber a prestação primitiva.
Dário: é uma figura de extinção das obrigações com base no acordo das partes.
Pode ser qualificada como um mandato conferido pelo devedor ao credor para proceder à
liquidação da prestação realizada e se pagar com o dinheiro obtido por essa via – mandato não
pode ser revogado pelo devedor, salvo ocorrendo justa causa (art. 1170º/2)
41
Pode ser interessante para o devedor se não tiver liquidez – pode evitar que devedor seja
acionado para o cumprimento.
40
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Modificação dum estado de coisas que existia ao tempo que as partes celebraram e
que foi importante para as partes celebrarem esse negócio jurídico.
42
Contratos obrigam as partes se as circunstâncias se mantiverem as mesmas
43
Devido à hiperinflação que sofreu e etc.
41
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Art. 252º/2 tem uma solução subjetivista – situação em que o que está em causa é a
falsa representação da realidade que as partes tinham no momento da celebração do
negócio.
o Coloca apenas um problema de erro, com a consequência da anulação do
contrato, e não a possibilidade da sua resolução ou modificação segundo juízos
de equidade.
Art. 437º tem uma solução objetivista – situação das circunstâncias efetivamente
existentes no momento da celebração do contrato e que depois se alteram, resultante
de factos que as partes não podiam prever
Ex1: A arrenda casa de B para ver passar o desfile – mudança do percurso já estava
decidida mas A e B não sabiam (erro); mudança do percurso foi posterior ao negócio
(alteração).
Ex2:A contrata com B para ser levado de Lisboa a Almada – aviso sobre encerramento
da ponte já tinha sido emitido (erro); ponte encerrou devido a um suicida depois das
partes contratarem (alteração)
44
A crise económica conta como alteração de circunstâncias?
Dário = STJ: em princípio não. Seria preciso que a crise tivesse um grande impacto determinado
sobre esse contrato
45
DOF: não se aplica esta figura quando há uma afetação negativa de ambas as partes. Ex: guerras e etc.
42
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Efeitos/Consequências
Resolução do Contrato – art. 432º e ss. – em que não é imperativo o recurso a juízo pois
tal apresentar-se-ia como desconforme com o nosso sistema de resolução do contrato
para onde o art. 439º remete e cujas regras se aplicam.
o Não se pode decretar imediatamente a resolução sem averiguar primeiro se a
outra parte não lhe impõe antes a modificação do contrato segundo juízos de
equidade (art. 437º/2)
Modificação do Contrato segundo juízos de equidade – as partes podem acertar
extrajudicialmente o seu conteúdo47 ou recorrer ao Tribunal.
Fundamento
Autonomia Privada – só se respeita a vontade das partes se tudo se mantiver como
estava quando foi acordado. Se tal se modificar, o mais coerente com a vontade das
partes é alterar-se.
Justiça equitativa – visa uma reposição do equilíbrio contratual, tomando em atenção
qual a vontade das partes no contrato e qual a eficácia concreta que a alteração teve na
esfera da parte lesada.
o Ordem jurídica valoriza a equivalência de prestações e atende à justiça material
e não só à formal
46
Mas exige-se situação de mora efetiva, pelo que a impossibilidade temporária de cumprimento (art.
792º) não exclui o recurso à alteração das circunstâncias.
47
Embora não se exige a negociação entre as partes como existe com as cláusulas de hardship típicas da
common law
43
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Consignação em Depósito
Possibilidade reconhecida ao devedor, nas prestações de coisa devida, sempre que a não possa
realizar com segurança por qualquer motivo relacionado com a pessoa do credor ou quando este
esteja em mora (art. 841º/1), o devedor pode exonerar-se pelo depósito judicial da prestação.
Art. 841º/2 – faculdade do devedor (não é obrigatória)
Pelo art. 1024º e ss. do CPC o depósito é necessariamente judicial.
Evita-se que o devedor seja considerado como estando em incumprimento.
Pressupostos:
Obrigação tem por objeto prestação de coisa, podendo ser quantia pecuniária ou outra
coisa de qualquer natureza;
Não ser possível realizar a prestação por um motivo relativo ao credor.
Surge processo judicial entre consignante e credor, instituindo-se uma nova relação
substantiva, uma vez que o depósito da coisa devida implica o surgimento de obrigações a cargo
do consignatário.
48
Eficácia extintiva da consignação retroage até ao momento do depósito
44
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Compensação
Situação em que duas pessoas são reciprocamente credoras e devedoras uma da outra – duas
pessoas estão reciprocamente obrigadas a entregar coisas fungíveis da mesma natureza.
Respetivas obrigações são extintas, total ou parcialmente, pela dispensa de ambas de realizar
as suas prestações ou pela dedução a uma das prestações da prestação devida pela outra parte.
Vantagem de produzir extinção das obrigações dispensando a realização efetiva da
prestação devida (facilita os pagamentos) e de permitir ao declarante extinguir a sua
obrigação mesmo que não tenha qualquer possibilidade de receber o seu próprio
crédito, por insolvência do seu devedor (garantia de créditos).
Art. 848º: basta a declaração, ainda que extrajudicial, de uma das partes à outra.
Compensação Convencional
Compensação não resulta de decisão unilateral de uma das partes e sim por acordo celebrado entre elas
– Contrato de Compensação – partes podem convencionar outras formas de compensação não havendo
reciprocidade de créditos.
Natureza deste contrato é controvertida na doutrina. ML: tipo contratual autónomo (não dupla
remissão de créditos e não dupla e recíproca dação em cumprimento) através do qual se vem
suprir reciprocamente o cumprimento de duas obrigações.
49
Não obstante a que o declarante utilize a compensação para extinguir dívidas naturais suas com créditos
civis que tenha sobre o declaratário, uma vez que em relação a elas se verifica a possibilidade de
cumprimento, ao qual a lei atribui causa jurídica quando espontaneamente realizado (art. 403º). Ex: eu
tenho dívida de obrigação natural e posso extinguir com obrigação civil de x; eu tenho obrigação civil e
não a posso extinguir com obrigação natural de x (seria uma forma de realização coativa de uma obrigação
natural)
45
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Novação
Extinção de uma obrigação em virtude da constituição de uma nova obrigação que vai substituir
a primeira.
A razão determinante da extinção da obrigação é a constituição de um novo vínculo,
que embora se identifique economicamente com a obrigação extinta, tem uma fonte
jurídica diferente.
Objetiva – as mesmas partes da obrigação (art. 857º), mas havendo mudança no objeto da
obrigação (em vez de mil euros dou fruta) ou alteração na sua fonte (em vez de devolver mil
euros, conservo a quantia a título de mútuo)
Subjetiva – uma das partes é substituída (art. 858º), tanto o credor como o devedor
Tem de haver sempre a intenção das partes de extinguir a obrigação anterior, criando uma
nova em sua substituição – sem este elemento não há verdadeiramente uma novação (e sim
uma modificação ou transmissão da obrigação primitiva).
Figura semelhante à dação em cumprimento, mas não é apenas substituição de uma
prestação por outra; há nova prestação – muda a data do cumprimento, pois
extinguindo-se a primeira, é a partir da nova obrigação que se contam as novas datas.
Pressupostos:
1. Declaração expressa da intenção de constituir nova obrigação em lugar da antiga – só
há novação se as partes exteriorizarem o animus novandi (art. 859º), não se admitindo
presunções de novação nem poder essa declaração resultar tacitamente de factos
concludentes.
2. Existência e validade da obrigação primitiva – novação e ineficaz se a obrigação que vai
ser substituída não exista ou esteja extinta ao tempo que a segunda foi constituída, ou
quando seja declarada nula ou anulada (art. 860º/1).
Não é negócio abstrato e tem como pressuposto a existência prévia de uma
obrigação.
3. Constituição válida de nova obrigação – art. 860º/2
50
Ex: não pode invocar exceção do não cumprimento
46
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Remissão
Vulgar “Perdão da Dívida”
Consiste no acordo entre o credor e o devedor pelo qual aquele prescinde de receber deste a
prestação devida.
Pressupostos:
1. Existência de prévia obrigação – consiste num negócio extintivo de obrigações, pelo
que a sua celebração depende da existência da obrigação que visou extinguir.
2. Contrato entre credor e devedor pelo qual aquele abdica de receber a prestação
devida por este – reveste-se necessariamente de caráter contratual, não apenas a
declaração do credor abdicando de receber a prestação, mas também a aceitação dessa
abdicação por parte do devedor51
Efeitos:
Entre as partes – extingue a obrigação, ficando o devedor liberado e o credor perde
definitivamente o seu direito de crédito.
o No caso de pluralidade de partes temos de distinguir se foi concedida a todas
ou só a algumas delas.
Todos: extingue a dívida para todos os sujeitos (remissão in rem);
Apenas em benefício de alguns: só produz efeitos para estes mantendo-
se para os restantes (remissão in personam).
Remissão in personam tem efeitos distintos consoante o
regime específico de pluralidade das partes na relação
obrigacional aplicável.
Obrigações conjuntas – extingue-se frações da
obrigação em relação às partes em que ocorreu
remissão, não sendo afetada a obrigação quanto aos
demais sujeitos;
Obrigações solidárias – obrigação de um extingue-se e
mantém-se a dos restantes (art. 864º)
o Obrigações plurais indivisíveis – art. 865º - pode remitir com um, continuando a
exigir dos outros, tendo de os compensar
Remissão aproveita a terceiros – art. 866º
Quem renuncia a uma garantia normalmente não pretende abdicar do crédito (art. 867º)
51
Forma de contrato (art 863º) – subjacente a ideia de que ninguém deve ser beneficiado contra a sua
vontade.
47
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Confusão
Consiste na extinção simultânea do crédito e da dívida em consequência da reunião, na mesma
pessoa, das qualidades de credor e devedor (art. 868º).
Obrigação é vínculo intersubjetivo que pressupõe a alteridade dos sujeitos que estão na
posição de credor e devedor – desaparecendo essa alteridade tanto o crédito como a
dívida se extinguem; créditos anulam-se.
o Não é confusão, em sentido técnico, quando se verifica na mesma pessoa as qualidades
de proprietário e titular de direito real menor: confusão imprópria em que se reúnem na
mesma pessoa as qualidades de devedor e garante da obrigação.
Pressupostos:
1. Reunião na mesma pessoa das qualidades de credor e devedor – ocorre em virtude da
aquisição por uma das partes da posição que a outra ocupava no crédito ou no débito.
Ex: herda de quem tinha uma dívida; fusão de pessoas coletivas; endosso dos títulos de
crédito.
2. Não pertença do crédito e da dívida a patrimónios separados – art. 872º. Ex: nos casos
da heranças, ele continua a responder pela sua obrigação até à liquidação e partilha,
altura em que se extingue a separação de patrimónios
3. Inexistência de prejuízo para os direitos de terceiro – art. 871º/1
Extinção da obrigação por confusão extingue também todos os acessórios do crédito (sinal,
cláusula penal, obrigações de juros) e todas as garantias que asseguravam o seu cumprimento
(quer sejam prestadas pelo devedor, quer por terceiro).
48
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
As obrigações podem ser transmitidas mortis causa e inter vivos (garantia constitucional no
art. 62º CRP)
Situação importante numa economia de mercado, para que o credor possa realizar capital e que
este circule.
Regime da cessão de créditos não constitui um tipo negocial autónomo, mas sim uma disciplina
de efeitos jurídicos, que podem ser desencadeados por qualquer negócio transmissivo (art.
578º/1)
É causal – tem uma causa subjacente (de um negócio jurídico) e é em função dele que
se define o regime (art. 578º/1)
Art. 577º - não se exige o consentimento do devedor nem tem que prestar qualquer colaboração
para que ocorra.
O crédito é situação jurídica suscetível de transmissão negocial, sem que o devedor
tenha de outorgar ou de alguma forma colaborar no negócio transmissivo.
49
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Requisitos:
1. Negócio jurídico que estabelece a transmissão do crédito – pode ser qualquer
negócio jurídico, sendo que a cessão de créditos se apresenta como um efeito desse
mesmo negócio, no qual se integra.
Requisitos e efeitos da cessão definem-se em função do negócio que lhe serve
de base (art. 578º), nos termos do qual e estabelece ainda a garantia quanto à
existência e exigibilidade do crédito (art. 587º) – é através do regime do
negócio-base que se determinará qual a forma e o regime jurídico aplicável à
cessão de créditos52.
i. É quanto ao regime do negócio-base que se resolve a admissibilidade
da cessão de créditos futuros53 – é possível a cessão onerosa de créditos
futuros de negócio jurídico já celebrado ou ainda não celebrado (pelo
art. 880º respeitando o requisito do art. 280º/1); impossível a cessão
gratuita de créditos futuros (art. 942º/1).
ii. Crédito cedido tem que vir a ser efetivamente constituído – senão a
cessão não produz efeitos
iii. Forma – depende do tipo contratual adotado
Exceção no art. 578º/2.
Normalmente é contrato pelo que para a sua formação é necessário a
declaração negocial do cedente como do cessionário.
i. Pode ser negócio unilateral nos casos em que é admitido (art. 457º),
contratos a favor de terceiro (art. 443º/2), casos sem a declaração do
cessionário (art. 444º/1).
Negócio que serve de base à cessão de créditos é sempre causal – cessão de
créditos não é forma abstrata de transmissão do crédito – conclusão vem do
art. 578º e do art. 585º (que permite ao devedor opor ao cessionário todas as
exceções que possuía contra o cedente).
Se negócio transmissivo vier a ser declarado nulo ou anulado, determina que
haverá anulação da transmissão do crédito.
52
Compra e venda: consensualidade (art. 219º e 875º a contrario); Doação: por escrito (art. 947º/2);
Factoring: por escrito e com faturas e suporte documental (art. 7º DL 171/95)
53
Discussão sobre em que esfera jurídica surge a posição que resulta da cessão de créditos futuros. ML:
teoria da transmissão – crédito passa primeiro pelo património do cedente, pois o cessionário só virá a
adquirir o direito, se o cedente, sem a cessão, o tivesse igualmente adquirido, ficando assim o crédito
sujeito ao mesmo regime que aquele que teria na esfera do cedente. (vs. teoria da imediação)
50
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Efeitos
Em relação às partes:
A. Transmissão do crédito do cedente para o cessionário – cessão opera por efeito do
contrato (determinando logo este a transmissão do crédito para o cessionário).
Não é logo oponível a terceiros e só produz os seus efeitos mediante notificação
do devedor (art. 583º).
Devedor decide qual a cessão que prevalece em caso de dupla alienação do
mesmo crédito (art. 584º).
Diferenciação temporal em que a eficácia da cessão em relação às partes opera
no momento da celebração do contrato, mas em relação ao devedor ou a
terceiro só ocorre em momento posterior quando tem conhecimento dela.
Se for só transmitida parte do crédito, ambos os créditos terão o mesmo grau e
nenhum deles terá preferência no pagamento.
B. Transmissão das garantias e acessórios do crédito – art. 582º55 (são transmitidas a fiança,
consignação de rendimentos, penhor, hipoteca, privilégios creditórios e etc. Direito de retenção
não é transmitido pois maioria da doutrina entende que se trata de garantia ligada intimamente
à pessoa do cedente)
C. Transmissão das exceções – art. 585º - devedor não pode ser colocado em posição pior
do que a que estava antes da cessão, pelo que é lógico que conserve todas as exceções
que possuía contra o cedente e as possa invocar perante o cessionário.56
D. Garantia prestada pelo cedente – art. 587º - garantia diz respeito à exigibilidade do
crédito, sendo garantia por vícios do direito, que varia consoante o negócio que serve
de base à cessão;
Cedente garante existência de crédito (art. 587º/1)
54
O pactum non cedendo não coloca o crédito fora do comércio jurídico e apenas gera uma obrigação
para o credor de não o transmitir a outrem, cuja oponibilidade ao adquirente depende do facto de este
conhecer essa convenção no momento da cessão.
55
Dário: consequência do princípio do que é acessório segue o principal
56
Dário: cessionário assume um risco que se resolve via culpa in contrahendo
51
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Em relação a terceiros:
Cessão produz efeitos independentemente de qualquer notificação, pelo que, a partir
da sua verificação, os credores do cessionário podem executar o crédito ou exercer a
ação sub-rogatória.
o Caso em que a cessão em relação a terceiro depende da notificação ao devedor
– art. 584º (fator que determina qual dos diversos cessionários irá efetivamente
adquirir o crédito – resolve-se a questão da prevalência das cessões de créditos
não com base na prioridade do negócio celebrado, mas na notificação que
venha a ser realizada ao devedor ou na aceitação por ele emitida57)
Sub-rogação Convencional
Pelo Credor (art. 589º)
2 requisitos:
1. Cumprimento da obrigação por terceiro
2. Declaração expressa anterior do credor a consentir a sub-rogação – declaração
expressa mas sem exigência de forma especial
Sem algum destes requisitos não se verifica a sub-rogação pelo credor, a
declaração do credor só por si não é eficaz para determinar a transmissão do
crédito.
57
ML: interpretação restritiva do artigo, considerando que a aceitação pelo devedor de uma das cessões
só releva para a escolha do cessionário, nos casos em que o devedor desconhece a existência de várias
cessões.
52
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
1. Caso em que terceiro é garante da obrigação: sendo fiador ou tendo penhor ou hipoteca para
garantia do cumprimento, a lei determina a sub-rogação como efeito direto do cumprimento,
independentemente de outros requisitos.
2. Tem interesse direito na satisfação de um crédito: tutela-se o interesse de terceiro em
realizar a prestação em lugar do devedor, para evitar prejuízos. Ex: A arrenda a B; A subarrenda
a C. Se A não paga, B despeja, mas, será C a sofrer o despejo. Logo, C tem interesse que A pague
a renda a B, para não ser despejado. C pode pagar a B e fica credor de A.
Ao interesse direto do terceiro tem que corresponder um interesse próprio com
conteúdo económico prático.
Art. 594º não faz remissão para o art. 585º - Transmissão das Exceções
Enquanto a cessão de créditos tem por base um negócio celebrado entre cedente e
cessionário, a que o devedor é estranho, não podendo ficar prejudicado por tal. No caso
da sub-rogação, ela pode ser desencadeada pelo próprio devedor, logo, seria contrário
à boa fé a possibilidade de ele opor exceções ao sub-rogado.
53
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Cessão de Créditos
Ambas situações de transmissão de créditos.
Finalidade de realizar património
o Sub-rogação tem a finalidade de compensar alguém que pagou no lugar do
devedor originário.
Não é preciso a satisfação do crédito58
o Pressupõe a satisfação do crédito.
Há custos para o credor originário
o A medida em que a sub-rogação se realiza é na medida do que o credor foi
satisfeito.
Há garantia de existência e exigibilidade do crédito (art. 587º/1)
o Não é necessário essas garantias
Resulta de ato negocial
o Resulta de ato não negocial, o cumprimento, podendo dar-se por efeito da lei
Doutrina avançou com as seguintes hipóteses: será uma novação do crédito? uma forma de
indemnizar terceiros? é transmissão?
Dário:
o crédito transferiu-se com todas as garantias e acessórios (art 594º) pelo que não é
uma situação nova, sendo a mesma situação jurídica com um outro titular;
58
ML: Sub-rogação é insuscetível de se verificar em relação a prestações futuras, ao contrário da cessão
de créditos.
54
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
terceiro não sofreu um dano pois pagou porque quis, logo não pode ser encarado como
indemnização;
não se verifica uma extinção da obrigação que subsiste e tem de ser cumprida a outrem.
É uma transmissão
Menezes Leitão: adere à tese clássica que qualifica a sub-rogação como uma transmissão legal
do crédito baseada num ato jurídico não negocial que é o cumprimento. Não há extinção do
crédito pois há uma circunstância que determina a transmissão do crédito – podendo essa
circunstância ser a declaração prévia de sub-rogação pelo credor ou devedor, ou facto de o
próprio terceiro ter interesse direito na satisfação do crédito.
Art. 595º/1/a – Assunção Interna – transmissão da dívida resulta do efeito conjugado de dois
negócios jurídicos:
Contrato de transmissão entre antigo devedor e novo devedor;
Negócio unilateral do credor a ratificar esse mesmo contrato – de forma expressa ou
tácita declarada a qualquer das partes.
o Se não existir ratificação o contrato entre o novo e antigo devedor não é eficaz
em relação ao credor pelo que não pode valer como assunção de dívida.
o A partir da ratificação a assunção de dívidas torna-se definitiva, deixando as
partes de a poder distratar (art. 596º/1).
o Tem eficácia retroativa – considera-se a dívida transmitida no momento da
celebração do contrato, uma vez que será essa, normalmente, quer a vontade
do credor quer a vontade das partes outorgantes do contrato de transmissão.
Na assunção liberatória a retroatividade atribuída à ratificação tem que
ser plena.
Art. 595º/2
Assunção Cumulativa – antigo devedor não é liberado da sua obrigação, mantendo-se
solidariamente obrigado perante o credor.
Assunção Liberatória – antigo devedor vê a sua obrigação extinta, ficando o novo devedor
exclusivamente obrigado.
55
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Se antigo devedor invocar contra o credor um meio de defesa pessoal, esse meio de defesa
aproveitará ao novo devedor, extinguindo a sua obrigação.
Prescrita a obrigação do antigo devedor ele não terá direito de regresso sobre o novo.
Assunção Liberatória – novo credor torna-se o exclusivo devedor, ficando o antigo devedor
totalmente liberado da sua obrigação.
59
E não se confunde com a ratificação, podendo não resultar automaticamente desta.
60
Assunção interna seria negócio trilateral em que havia proteção do credor como declaratário comum
dos negócios jurídicos.
61
O que não acontece se for ao contrário.
56
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Transmissão das Garantias e Acessórios – art. 599º - novo devedor assume todo o vínculo
obrigacional como realidade complexa.
A transmissão das garantias do crédito para o novo devedor só pode ser feita por
consentimento do garante, uma vez que conceder a alguém uma garantia é algo feito
em razão da pessoa e da situação patrimonial do devedor, portanto, alterando-se a
pessoa do devedor, alteram-se os pressupostos que estiveram na base da conceção da
garantia e das condições em que ela é prestada.
o Credor deverá assegurar a existência desse consentimento do garante antes de
permitir a transmissão da dívida.
As garantias legais são conservadas, apesar de se ter alterado a pessoa do devedor, salvo
se o credor concordar em renunciar a elas.
Meios de Defesa – art. 598º - assunção de dívida é ato abstrato que protege o credor contra
quaisquer exceções derivadas da relação causal entre o antigo e novo devedor. Ex: se antigo
devedor prometeu ao novo devedor uma prestação como contrapartida da assunção de dívida,
o novo devedor não pode opor ao credor a resolução do contrato fundada no incumprimento
ou a exceção de não cumprimento.
Os meios de defesa existentes na relação credor-antigo devedor poderão ser opostos
pelo novo devedor, uma vez que ao transmitir-se a dívida, ele passa a responder
exatamente nos mesmos termos em que respondia o antigo devedor, desde que
anterior à assunção de dívida e não constituam meios de defesa pessoais do antigo
devedor.
ML: tese da oferta ou tese contratual – contrato de assunção tem de ser entendido como uma
mera proposta ao credor, não existindo se a mesma for recusada. Fonte da assunção de dívidas
seria contrato trilateral, formado através de uma oferta coletiva do primitivo devedor e do
assuntor e de uma aceitação dessa mesma oferta pelo credor.
57
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Figuras Afins
Subcontrato – sempre que alguém celebra determinado contrato com base na posição jurídica
que lhe advém de outro contrato do mesmo tipo, já previamente celebrado com outrem.
Depende da existência de um contrato anterior do mesmo tipo, em relação ao qual se
apresenta em situação de dependência.
o Um dos contraentes, com base na posição jurídica que lhe é atribuída por um
contrato já existente, contrata com terceiro um contrato com conteúdo
semelhante.
o Ex: sublocação (art. 1060º e ss., art. 1088º e ss.), subempreitada (art. 1213º) e
submandato (art. 1165º e 264º)
A primitiva relação contratual permanece inalterada, apenas se verificando a
constituição de um novo vínculo que se coloca em relação ao anterior numa situação de
dependência.
Adesão ao Contrato – terceiro vem a constituir-se como parte numa relação contratual já
existente entre duas pessoas, participando da posição jurídica já atribuídas a uma delas, sem
que esta a perca, por sua vez, a titularidade dessa mesma posição.
Torna-se co-titular dos créditos dum parceiro contratual.
Não ocorre qualquer transmissão e há apenas a agregação de outro sujeito a uma
posição contratual que é conservada.
Sub-rogação legal forçada – art. 1057º - transmissão da posição contratual não resulta de um
negócio jurídico entre cedente e cessionário, nem sequer exige o consentimento do outro
contraente.
É uma transmissão imposta por determinação legal, que é independente da estipulação
das partes, baseando-se num facto jurídico stricto sensu.
Operada ex lege e determinada por facto que a lei atribui.
Contrato trilateral para cuja perfeição se exige o concurso de três declarações negociais: negócio
jurídico de base, transmissão, consentimento do cedido.
58
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
62
Que pode ter requisito suplementar de eficácia – notificação ou reconhecimento da cessão (art. 424ç/2)
63
E o cedente pode pedir a anulação após a transmissão, desde que não o faça em abuso de direito.
59
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
ML e MC: cessão da posição contratual implica a transmissão do complexo unitário que constitui
a posição contratual, levando à aquisição por terceiro da posição jurídica do cedente e ao
consequente ingresso deste na parte contratual. Não pode ser decomposto pois é uma
disposição sobre a relação obrigacional complexa por parte do cedente e do contraente cedido
e um negócio obrigacional em relação ao cessionário.
Dário: não há um feixe de contratos pois a lei estabelece um regime único em que há uma
transmissão completa na totalidade.
60
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Art. 602º: por acordo das partes é possível limitar a responsabilidade a apenas alguns bens do
devedor.
Art. 603º: pode ser um terceiro a definir, mas apenas em dívidas anteriores à liberalidade.
Art. 604º: Par condicio creditorum – plena igualdade entre credores que, verificando-se a
insuficiência de património, ela repercute-se proporcionalmente em cada um dos créditos
através do correspondente rateio.
Na ausência de garantias especiais (art. 604º/2)65 todos os credores desfrutam nos
mesmos termos do património do devedor como sua garantia comum – se não chegar
64
Estabelecimento Individual de Responsabilidade Limitada – possibilidade de alguém afetar bens a certa
atividade económica e só esses bens afetados respondem por essa atividade
65
Causas legítimas de preferência onde se inclui a penhora (art. 821º e ss. CPC) que permite ao exequente, a
partir da sua declaração, adquirir prioridade em relação a outros credores que não disponham de garantia real sobre bens
penhorados. Deixa de constituir preferência no caso de ser declarada falência do devedor (art. 140º/3 CIRE)
61
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
para todo, este terá de ser rateado e cada credor recebe uma parte proporcional ao
montante do seu crédito.
Vem esclarecer que não se exige efetiva intenção fraudatória – sendo permitida até a invocação
da nulidade de negócios celebrados mesmo antes da constituição do crédito.
Art. 605º/2: declaração de nulidade tem efeito retroativo pelo aproveita a todos,
determinando-se a restituição de tudo o que tiver sido prestado ou desse valor (art. 289º)
62
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Regime
Art. 608º a contrario – pode ser exercida judicial e extrajudicialmente
Não podem ser opostos meios de defesa que terceiros tenham contra o credor que se
limita a exercer o direito em substituição do seu verdadeiro titular
o Só valem os meios de defesa contra o devedor.
Art. 609º: atuação de um beneficia todos os outros credores – determina-se o ingresso
dos bens obtidos no património do devedor, ficando aí sujeitos ao poder de execução
de todos os credores.
o Autor da sub-rogação não adquire qualquer vantagem especial por a ela ter
recorrido.
Meio de credor reagir contra atos do devedor que diminuam o seu património ou agravem o
passivo, de forma a comprometer a satisfação do crédito. Sejam eles:
Alienação de bens;
Transmissão de direitos do devedor;
Renúncia a direitos.
Situações que podem agravar a situação patrimonial do devedor, pelo que o credor pode
reagir contra essa situação se vir que a satisfação do seu crédito está em risco.
Meio dos credores impugnarem atos dos seus devedores se as suas ações puserem em
causa a satisfação do crédito.
Figuras afins
Declaração de nulidade – quanto aos bens que tenham sido alienados por atos nulos;
na impugnação pauliana não se tem somente como objeto atos inválidos e os bens que
tenham sido alienados indevidamente. Na declaração de nulidade os bens são
restituídos à esfera jurídica do devedor e lá estão sujeitos a todos os credores, mas na
66
Pelo que se devedor atuar positivamente para prejudicar credor já não é por esta via que se reage e sim
pela Impugnação Pauliana ou Arresto
63
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
impugnação não voltam ao património do devedor e o credor pode executar esses bens
onde eles se encontrarem.
Sub-rogação do credor ao devedor – omissão do devedor que não cobra os créditos a
terceiros, pois sabe que se o fizer depois o credor satisfaz o seu crédito com isso; na
impugnação pauliana reage-se contra atos e não contra omissões.
Valores da figura
Autonomia privada do devedor (ele deve poder dispor do seu património) vs. Satisfação dos
créditos ao credor (credor tem que ter uma garantia que o seu património vai ser satisfeito).
Impugnação é uma intromissão na liberdade do devedor, embora feita exclusivamente
na medida do necessário para satisfazer interesse do credor.
Requisitos
1. Ato do devedor lesa a garantia patrimonial – põe em causa o interesse do credor sendo
atos que se repercutem em termos negativos no património do devedor.
a. Diminuição do ativo do devedor
b. Aumento do passivo do devedor
Credor tem de demonstrar que da ação do devedor vai resultar que devedor já
não lhe poderá satisfazer o crédito – não tem de demonstrar a insolvência67 do
devedor e sim que aquele ato em concreto põe em questão a satisfação do
crédito.
Generalidade de atos de conteúdo patrimonial podem ser objeto de impugnação
pauliana, quer a título gratuito ou oneroso.
o Apenas se exclui os atos pessoais – mesmo que sejam extremamente
onerosos.
o A lei não pode por em causa o domínio da esfera pessoal
Atos nulos podem ser objeto de impugnação pauliana?
o Sim. Art. 615º/1 – Ex: simulação
o Meio muito mais eficaz que declaração de nulidade – não volta à esfera
do devedor.
Prestação de garantias também pode ser impugnada.
Do ato resulta a impossibilidade do credor obter a satisfação integral do crédito
ou agravamento dessa possibilidade – abrange não só os casos em que o
devedor está numa situação de insolvência como os casos em o ato agrave a
impossibilidade fáctica do credor obter a execução judicial do crédito (ex:
devedor aliena bens, fica com o dinheiro da venda que pode facilmente ocultar
ou dissipar)
2. Crédito tem de ser anterior a esse ato – figura visa acautelar a expetativa do credor
quanto aos bens do devedor que seriam a garantia da satisfação do crédito – credor
toma em consideração a situação patrimonial do devedor no momento da constituição
do crédito para efeitos de garantia. Admite-se que credores possam reagir contra atos
posteriores do devedor que afetem a garantia com que o credor contava. Não se estende
aos atos anteriores pois no momento em que o crédito se constituiu esses bens já não
estavam no património do devedor não sendo abrangidos pela garantia patrimonial.
67
ML: e estando o devedor não insolvente ele pode gerir o seu património e dar prioridade a alguns
credores.
64
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
68
Prejuízo = impossibilidade prática de satisfação do crédito (há má fé sempre que haja intenção ou
consciência dessa impossibilidade)
65
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Regime
Efeitos em relação ao credor – art. 616º
Não há anulação de um ato – não há anulação do ato praticado pelo devedor; o credor
apenas pode ir executar o seu crédito no património onde aqueles bens se encontram
o Acórdão Relação de Coimbra (20/11/2012) – Relator Jorge Arcanjo: Porque a
ação de impugnação pauliana é de natureza pessoal ou obrigacional, cuja
consequência não se traduz na anulação, mas a ineficácia do ato em relação ao
impugnante.
Critério para aferir do requisito da impossibilidade para o credor de
obter a satisfação plena do seu crédito, é o da “avaliação patrimonial
do devedor” depois do ato impugnado.
Não satisfaz a demonstração da suficiência de bens penhoráveis, a
alegação de que à venda impugnada correspondeu entrada em dinheiro
no património do devedor, por implicar uma “perda qualitativa” da
exequibilidade do património, dada a fungibilidade do dinheiro.
A suficiência de bens penhoráveis tem de reportar-se ao próprio
demandado, não relevando que outros devedores solidários disponham
de património bastante, pelo que a solvabilidade do avalista não
impede a impugnação do ato do devedor avalizado que obste à
satisfação integral do crédito.
Não há retorno dos bens ao património do devedor e o credor apenas vai executar os
bens num património dum terceiro.69
o Será satisfeito na medida do interesse. Ex: A deve 1500 a B; A transmite 1000 a
C mas ainda tem 1000; B vai buscar os 1000 de A e 500 que transmitiu a C.
o O ato permanece eficaz na parte que não contende com o crédito do
impugnante.
Cariz pessoal que visa apenas satisfazer o interesse daquele credor que impugna –
único que beneficia dela; credor impugnante não tem de suportar a concorrência de
outros credores.
69
Credor tem direito à restituição dos bens, na medida do seu interesse, podendo executá-los no
património do obrigado à restituição
Atribui-se ao credor uma pretensão direta contra terceiro, fundada na aquisição de bens por este
ao devedor e no prejuízo que essa aquisição significou para o credor em virtude da consequente
diminuição da sua garantia patrimonial.
66
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
70
Responsabilidade do devedor para com terceiro não pode ser invocada por este como exceção para
não satisfazer os direitos do credor (art. 617º/2). Após satisfação do direito do credor é que pode ser
exercido os direitos de terceiro contra o devedor.
67
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Credor requer judicialmente que se decrete arresto sobre os bens que sejam suficientes para
a garantia do seu crédito – art. 408º CPC
Art. 621º - requerente pode ser responsabilizado pelos danos causados: se arresto for julgado
injustificado ou caducar, o requerente é responsável pelos danos causados ao arrestado, quando
não tenha agido com a prudência normal
Preferência fica sem efeito se for decretada a falência do devedor (art. 140º/3 CIRE), por forma
a assegurar a igualdade entre os credores.
68
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Garantias Reais – Caráter qualitativo: credor adquire o direito de ser pago com preferência
sobre os outros em relação a bens determinados ou rendimentos desses bens – credores
preferenciais por oposição aos credores comuns/quirografários71.
Direito subjetivo de garantia é uma coisa.
Possibilitam ao credor o pagamento preferencial do seu crédito pelo produto da venda
de bens determinados ou rendimentos desses bens, ainda que eles venham a ser
transmitidos para terceiro (onera-se bens determinados independentemente da
titularidade dos bens – direito persegue a coisa). Ex: consignação de rendimentos,
penhor, hipoteca, privilégio e direito de retenção
71
O credor preferencial tem direito de se fazer pagar primeiro pelo que os restantes credores comuns
apenas se podem fazer pagar pelo remanescente desses bens, após pagamento aos credores
preferenciais.
69
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Efeitos – o credor adquire os poderes de administração do bem (art. 834º), devedor fiscaliza;
com exceção de execução do art. 833º
Extinção – pelas formas gerais dos contratos, por cumprimento (art. 835º - efeito liberatório
diferido72) ou desistência da cessão (art. 836º)
Natureza jurídica – ML: caso particular de mandato sem representação (tem essas
características) para alienar no interesse comum de ambas as partes (liquidação visa a extinção
dos créditos do devedor com o pagamento aos credores).
Garantias Pessoais
Fiança – art. 627º e ss.
Terceiro assegura a realização de uma obrigação do devedor, responsabilizando-se
pessoalmente com o seu património por esse cumprimento perante o credor.
Fiador será garante da obrigação com o seu património pessoal.
ML: constitui-se uma obrigação própria do fiador, pois ele tem o dever de prestar
perante o credor, ainda que a sua função seja apenas a de assegurar a realização do
pagamento pelo devedor.
72
Devedor não fica logo exonerado com a cessão de bens – isso só acontece quando os bens forem
vendidos e tendo em conta o valor da venda.
Isso é o que distingue a Cessão de Bens da Dação em Cumprimento (onde a dívida fica
imediatamente liquidada e aqui tem de se esperar pela venda)
70
Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Negócio que dá origem à fiança é bilateral – resulta sempre de um contrato entre o fiador e o
credor ou entre o fiador e o devedor (neste caso será contrato a favor de terceiro).
Pode também ser contrato plurilateral entre as 3 partes.
Forma – a declaração do fiador tem de ter a forma exigida para a obrigação principal (art.
628º/1)
Principais características
Acessoriedade – art. 627º/2 – obrigação do fiador está na dependência estrutural e
funcional da obrigação do devedor, sendo determinada por essa obrigação em termos
genéticos, funcionais e extintivos, como indicam art. 628º/1, 631º/1, 631º/2, 632º/173,
634º, 637º, 651º
Subsidiariedade – art. 638º – fiador pode invocar o benefício da excussão, impedindo
o credor de executar o património do devedor.
o Esta subsidiariedade opera mesmo existindo garantias reais (art. 639º).
o Não é característica essencial/imperativa pois o fiador pode renunciar a ela (art.
640º)
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Nestas situações do art. 632º/1, nos casos de anulabilidade, o facto constitutivo da obrigação tem de
ser efetivamente anulado para que a obrigação do fiador deixe de subsistir. Fiança mantém-se válida se a
obrigação for anulada por falta ou vício da vontade do devedor e o fiador conhecia da causa da
anulabilidade ao tempo em que a obrigação foi prestada – funciona também como garantia de que a
obrigação principal não será anulada
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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Art. 648º - fiador pode exigir a sua liberação ou a prestação de caução: situações em
que o fiador vê aumentarem os riscos de ser demandado em virtude da prestação de
fiança, ou se torna mais difícil o exercício de sub-rogação contra o devedor, ou a
vinculação do fiador torna-se excessiva, ou por vigorar em termos indefinidos e
prolongados.
o Liberação ocorre com o cumprimento da obrigação do devedor perante o
credor ou com qualquer outra forma alternativa de satisfação do direito deste.
Extinção da Fiança
Art. 651º - se se extingue a obrigação principal, a fiança fica sem objeto,
consequentemente extinguindo-se
Art. 652º
Art. 653º - quando a conduta do credor vem prejudicar o exercício dos direitos do fiador
Pode extinguir-se se surgir qualquer causa geral de extinção das obrigações,
independentemente da subsistência ou não da obrigação principal – muito comum a
caducidade.
Art. 654º - permite o fiador liberar-se da garantia enquanto a obrigação não se constituir
ou se a situação patrimonial do devedor se agravar, pondo em risco os seus direitos
contra este; ou no prazo de 5 anos.
Subfiança
Art. 630º - segunda fiança que é prestada para garantia da obrigação do fiador, estabelecendo-
se um segundo nível de garantia: da mesma forma que o fiador garante a obrigação do devedor
principal, o subfiador garante perante o credor a obrigação do fiador.
Aplica-se tudo em relação à fiança – pois na realidade é uma fiança como qualquer outra
– particularidade no art. 643º; 650º/4 (garantia é apenas de um fiador)
Retrofiança
Fiança destinada a garantir o eventual crédito que o fiador venha a adquirir sobre o devedor em
consequência da sub-rogação legal que se opera, caso venha a satisfazer essa obrigação (art.
644º e 592º)
Fiador, para prestar fiança, exige que lhe seja prestada garantia adicional relativamente
ao crédito em que ficará investido no caso de vir a ser chamado a cumprir a sua
obrigação – um terceiro vem prestar ao fiador uma fiança relativa à obrigação do
devedor resultante da sub-rogação.
o Retrofiador não assume qualquer obrigação perante o primitivo credor, mas
apenas perante o fiador, e apenas na hipótese de ele vir a ser sub-rogado no
crédito sobre o devedor.
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Garantia Autónoma
Ocorre quando determinada entidade (normalmente instituição bancária ou financeira –
garantia bancária autónoma) vem garantir pessoalmente a satisfação de uma obrigação
assumida por terceiro, independentemente da validade ou eficácia desta obrigação e dos
meios de defesa que a ela possam ser opostos.
Não se encontra prevista na lei e a sua admissibilidade resulta do princípio da autonomia
privada – art. 405º
o Está regulada por instrumentos internacionais.
Esta garantia não é acessória e sim autónoma, não dependendo a sua prestação de uma
obrigação principal.
Distingue-se da fiança pois não se molda sobre a obrigação principal, quer tanto quanto
ao seu objeto, quer quanto aos pressupostos da sua exigibilidade, instituindo obrigação
própria e autónoma, em tudo distinta da do devedor.
É um negócio causal não acessório que comporta em si mesmo uma função económico-social
de garantia.
Regime
Institui, à semelhança da fiança, uma relação triangular: de cobertura (garante-garantido74), de
atribuição (dador de ordem-garantido) e de execução (garante-dador de ordem75).
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Em que o garante se compromete a emitir uma garantia a favor da pessoa do garantido, exigindo a este
uma contrapartida = pagamento de uma comissão. Garantido também assegura que reembolsará o
garante caso ele tenha que efetivamente prestar.
75
Onde releva as figuras da garantia simples e da garantia à primeira solicitação
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Sebenta Obrigações II – 2016/2017 DNB
Não é verdadeiro mandato pois falta o elemento da atuação do mandatário por conta
do mandatante, uma vez que o encarregado concede o crédito em nome e por conta
própria.
o Também não é mera fiança para garantia de obrigação futura pois o
encarregante não responde apenas como fiador e ele próprio determina o
surgimento da obrigação principal
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