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ISSN 2448-1734

HUMANIDADES SERTANEJAS
Revista do Grupo de Pesquisa História, Sociedade e Etnociência. UESB-
CNPq

Volume 3 - Número 1 - 2018


ISSN 2448-1734

HUMANIDADES SERTANEJAS
Revista do Grupo de Pesquisa História, Sociedade e Etnociência. UESB-CNPq
Volume 3 - Número 1 - 2018
GRUPO DE PESQUISA HISTÓRIA, SOCIEDADE E ETNOCIÊNCIA-CNPQ.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA.
NUCLEAS/UERJ – Núcleo de Estudo das Américas.
Revista Humanidades Sertanejas.

V. 3, N 1, Junho 2018

Centro de Documentação e Informação do Campus de Jequié

Maria Luzia Braga Landim

Coordenadores Revista

Maria Luzia Braga Landim


Claudio Lúcio Fernandes Amaral
Tiago L. d´Avila
3

EXPEDIENTE

Editor responsável

Maria Luzia Braga Landim

Conselho editorial

Alexis T. Dantas – UERJ/BR

Claudio Lucio Fernandes Amaral UESB/BR

Dejan Mihailovic – TEC/MONTERREY/MX

Edna Maria dos Santos-UERJ/IFCH

Johannes Maerk-UNIVERSIDADE VIENA / IDEAZ

Maria Luzia Braga Landim - UESB/BR

Tiago Landim d´Avila UFBA/FIOCRUZ

Revisão
A revisão e a opinião emitida nos textos são de responsabilidade dos autores.
Nenhuma responsabilidade pode ser atribuída por quaisquer ações e/ou efeitos que resultam da utilização do material, embora
tenham sido envidados esforços para fornecer informações que sejam pesquisadas, o conselho editorial não assume quaisquer
responsabilidades pela precisão, uso / abuso das informações dos autores, e/ou de suas interpretações.
4

CATALOGAÇÃO NA FONTE

UESB/PERGAMUM

H918 Humanidades Sertanejas – Junho - 2018. Jequié – Bahia: UESB.


DCHL. CEDOIN. Junho-2018.
V.3, N.1.
79 p.

Anual.
Inclui bibliografia.
ISSN 2448-1734

1. América Latina- Periódicos. 2. Ciências Sociais – Periódicos.


3. Etnociência - Periódicos I. Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia. II. Centro de Documentação e Informação de Campus
de Jequié.
CDD 980

Endereço eletrônico: mlblandim@msn


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SUMÁRI0
Apresentação 6

FITOTERAPIA: SOLUÇÃO BARATA PARA PROBLEMA CARO. 8


Prof. Dr. Cláudio Lúcio Fernandes Amaral, UESB.

A RECONFIGURAÇÃO DA IDENTIDADE SERTANEJA, A MODERNIDADE


CONSERVADORA NA BAHIA. 13
Profa. Dra. Maria Luzia Braga Landim

CÂNCER INFANTO-JUVENIL: A ENFERMAGEM NA BUSCA DA


INDIVIDUALIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA. 26
Prof. Tiago Landim d´Avila, UFBA.

FATORES AGRAVANTES PARA AS EXPECTATIVAS DE VIDA DA JUVENTUDE:


A CRISE ECONÔMICA DO BRASIL. Prof. Edleide Santos Assis 35

DEPRESSÃO E ANSIEDADE: JUVENTUDE DO SÉCULO XXI. Ana Lígia Silva Vieira


dos Santos; Gabriella Souza Santos Félix; Gabrielli Santos; Aprille D‟Emídio; Julyana da
Silva Freire; Maria Vitória Araújo Santos. 45

A INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA ENTRE JOVENS ADULTAS NA GESTAÇÃO


INDESEJADA: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE JEQUIÉ. Caroline
Santos Alves; Thainá Paraiso Pereira. 55

O TRATAMENTO CINESIOFUNCIONAL DE UMA PACIENTE COM


DESNUTRIÇÃO E ANEMIA FALCIFORME (AF) – UM ESTUDO DE CASO. Gilberto
Alves Dias 62

O INTERDITO CULTURAL DE PROFISSIONAIS DO SEXO FEMININO NA


FISIOTERAPIA DESPORTIVA: O MERCADO DE TRABALHO EM JEQUIÉ. Ana
Karolline Souza Vasconcelos. 70
6

Apresentação

A Revista Humanidades Sertanejas, lançada em abril de 2014, pelo Grupo de Pesquisa


História, Sociedade e Etnociência, grupo certificado pela Universidade Estadual do Sudoeste
da Bahia, reúne estudos demarcados pelas linhas de pesquisa, e, tem como objetivo divulgar
os resultados obtidos pelos pesquisadores e acadêmicos de diversos cursos da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia entre outras instituições que colaboram.

Relacionadas às linhas de pesquisa, 1.Política e Cultura, 2.Educação Sociedade e


Linguagem, e 3.Etnociência, neste segundo número, os estudos elaborados pelo Grupo visam
a conhecer contextos históricos e sociais de lugares recônditos da Região Sudoeste da Bahia,
aprofundar o conhecimento sobre as relações do homem, suas diversidades geográficas,
climáticas e culturais, imprimindo uma análise qualitativa da História e da Sociedade.

O Grupo de Pesquisa História, Sociedade Etnociência trata de questões vinculadas aos


povos, sociedades e culturas na América Latina, especialmente no Nordeste brasileiro, e têm
aproximado diversos profissionais e acadêmicos das ciências humanísticas e
interdisciplinares.

Debate as relações intrínsecas entre o global, regional e local, as estruturas culturais e


socioeconômicas considerando o impacto das novas mídias e tecnologias de produção,
distribuição, e consumo de produtos e serviços como fundamentais para o desenvolvimento
do sertão da Bahia.

Dessa forma, o Grupo tem realizado encontros regulares que culminam com o estudo
de temas transversais valorizando os princípios básicos da construção do conhecimento nas
populações humanas, seus ambientes, necessidades e possibilidades que resultam em
correlações entre a diversidade biológica e cultural.

As pesquisas publicadas no primeiro número da Revista Humanidades Sertanejas


evidenciam a necessidade de aprofundamento nos temas transversais que dizem respeito à
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cultura, saúde e educação, e fatores que de certo modo podem impedir o desenvolvimento de
novas práticas políticas, econômicas e sociais.

Para tanto, apresentamos à comunidade, a segunda amostra pública do Grupo de


Pesquisa realizada no I semestre de 2018, no Campus de Jequié, evidenciou a realidade local,
e os dados coletados preliminarmente serviram de embasamento para a construção de quadros
diagnósticos atualizados.

Propor metas e ações que disseminem informações e interaja com a sociedade por
meio de palestras, seminários, e amostras, por certo, desenvolverá o sentimento coletivo e o
espírito de cooperação nos indivíduos associados, e estenderá vantagens particulares à
sociedade, pelo ensino, pesquisa e extensão.

Os textos apresentados pelos participantes do Grupo de Pesquisa CNPq, História,


Sociedade e Etnociência, possuem opiniões e referências de responsabilidade de seus autores.

Os coordenadores
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FITOTERAPIA: SOLUÇÃO BARATA PARA PROBLEMA CARO

Cláudio Lúcio Fernandes Amaral Cláudio Lúcio Fernandes Amaral, Pós-Doutor em


Genética e Melhoramento de Plantas, Professor Pleno do Departamento de Ciências
Biológicas da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e Líder do Grupo de Pesquisa em
Biotecnologia Agrícola, Genética Vegetal e Melhoramento de Plantas (PLANTGEN-
UESB/CNPq).

RESUMO

A exploração dos recursos genéticos de plantas medicinais no país encontra-se relacionada,


em grande parte, a atividades extrativistas baseadas em coleta extensiva de material silvestre,
com baixo aproveitamento e considerável desperdício. Um passo fundamental para se
estabelecer uma proposta racional de trabalho é definir localmente as espécies medicinais a
serem estudadas, em seus diferentes níveis de prioridades, dadas as necessidades das
populações mais carentes. Outro passo relevante é fortalecer o cultivo para manutenção,
distribuição e comercialização dos produtos fitoterápicos. Cabe destacar a importância da
medicina tradicional do ponto de vista sócio-econômico-ambiental, ao permitir formulações
mais simples dos remédios obtidos a partir de plantas, uma vez que estes, normalmente, não
apresentam efeitos colaterais, sendo amplamente acessíveis, com baixos custos de obtenção
e/ou sem ônus adicional de produção por parte das comunidades de baixa renda. Neste
sentido, a constituição de hortas comunitárias viabiliza a efetiva conservação e manejo
sustentável das plantas medicinais, ao passo que as farmácias-vivas difundem a utilização dos
produtos fitoterápicos nas classes menos privilegiadas, promovendo assim valorização da
cidadania pela inclusão social.

Palavras-chave: Plantas Medicinais, Hortas Comunitárias, Farmácias-Vivas, Utilização e


Conservação.

ABSTRACT
The exploration of genetic resources of medicinal plants in the country is related, largely, to
collecting activities based on extensive collection of wild material, with low use and
considerable waste. An important step that is necessary to settle down a rational proposal of
work it is to define the medicinal species locally they be studied her, in your different levels
of priorities, given the needs of the most lacking populations. Another important step is to
establish the cultivation for maintenance, distribution and comercialization of the
pharmaceutical products. It fits to detach the importance of the traditional medicine of the
social, economical, and environmental point of view, when allowing simpler formulations of
the medicines obtained starting from plants, once these, usually, don't present collateral
effects, being thoroughly accessible, with low costs of obtaining and/or without additional
obligation of production on the part of the communities of low income. In this sense, the
constitution of community vegetable gardens makes possible the effective conservation and
maintainable handling of the medicinal plants, while the drugstore-alive ones diffuse the use
of the pharmaceutical products in the less privileged classes, promoting like this valorization
of the citizenship for the social inclusion.
Key Words: Medicinal Plants, Vegetable Gardens Community, Drugstore-Alive, Use and
Conservation.
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INTRODUÇÃO

Os remédios naturais são, a nível mundial, amplamente utilizado pelas populações


carentes na cura e/ou tratamento de várias doenças, devido aos custos crescentes na
manutenção da saúde pessoal com a compra de medicamentos alopáticos, normalmente
importados (HOAREAU & DASILVA, 1999; OLIVEIRA et al., 1999). Os fitoterápicos
apresentam relevância social considerável, dada a sua alta disponibilidade, baixa toxicidade e
risco mínimo de efeitos colaterais e hipersensibilidade (HOAREAU & DASILVA, 1999;
RODRIGUES & CARVALHO, 2001).

No Brasil, a tendência ao natural pode ser observada no expressivo aumento do


número de lojas especializadas em produtos de origem vegetal, principalmente, no setor das
grandes cadeias de supermercados (YUNES et al., 2001). Diversas ervas com variadas
propriedades terapêuticas podem ser encontradas em feiras livres, ou por intermédio de
curandeiros, mateiros e/ou raizeiros (DI STASI, 1996). Deste modo, tanto o governo quanto a
iniciativa privada têm despertado para a potencialidade dos recursos biológicos como fonte de
produtos para as indústrias farmacêuticas (PIRES, 1984). Este tipo de trabalho conduzido por
pesquisadores objetiva de forma direta ou indireta:

1) Fazer levantamento etnofarmacológico das plantas medicinais mais utilizadas pelas


comunidades carentes nas áreas estudadas;

2) Criar hortas comunitárias com plantas pré-selecionadas, com base na Sabedoria Popular
(ONGs), Exigências da Organização Mundial de Saúde (OMS), Lista de Espécies Medicinais
da Central de Medicamentos do Ministério da Saúde (CEME/MS) e Prioridades do Sistema
Único de Saúde (SUS);

3) Disponibilizar material vegetal para farmácias-vivas;

4) Implantar coleções didático-pedagógicas e técnico-científicas;

5) Promover a integração universidade-comunidade e difusão de conhecimentos via palestras,


cursos, seminários, congressos etc.

6) Desenvolver livros, apostilas, boletins e folhetos explicativos.


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AS SOCIEDADES INDUSTRIZALIZADAS

Atualmente, tem-se observado uma crescente confiança das sociedades


industrializadas nos remédios naturais, baseados nos conhecimentos tradicionalmente
difundidos pela medicina popular, fato que aumenta a demanda destes insumos sem que se
observem, no entanto, iniciativas de cultivo daquelas espécies mais utilizadas (YUNES et al.,
2001).

Vários são os exemplos de espécies medicinais brasileiras, em que laboratórios


internacionais possuem domínio da tecnologia de produção, como é o caso do jaborandi
(Pilocarpus pinnatifolius Engl.), dos quais se extraem a pilocarpina, pela Merck
(RODRIGUES & CARVALHO, 2001). Este princípio ativo não pode ser sintetizado, por sua
síntese não ser economicamente viável, sendo assim, como acontece com diversos outros
fármacos, ele deve ser extraído diretamente das plantas (DI STASI, 1996; YUNES et al.,
2001).

A exploração de recursos genéticos de plantas medicinais no país encontra-se


relacionada, em grande parte, a atividades extrativistas baseadas em coleta extensiva de
material silvestre, com baixo aproveitamento e considerável desperdício (VILELA-
MORALES & VALOIS, 2000; RODRIGUES & CARVALHO, 2001).

Um passo fundamental para se estabelecer uma proposta racional de trabalho é definir


localmente as espécies medicinais a serem estudadas, em seus diferentes níveis de
prioridades, dadas as necessidades das populações mais carentes (PIRES, 1984). Outro passo
relevante é fortalecer o cultivo para manutenção, distribuição e comercialização dos produtos
fitoterápicos (DI STASI, 1996).

Muitas plantas até hoje são extraídas de matas. Esse extrativismo pode levar muitas
das espécies medicinais à extinção, isto é, no futuro diversas plantas que os nossos ancestrais
conheciam poderão não existir mais (SCHEFFER, 1999). Também, plantas obtidas via
extrativismo, em geral, apresenta grande variação na sua constituição química, dadas as
diferentes condições ambientais em que são coletados, sobremaneira, inviabilizariam o seu
processamento industrial (YUNES et al., 2001).

A proibição da importação de ervas e produtos derivados gerou enorme pressão sobre


os laboratórios farmacêuticos que manipulam estas substâncias (YUNES et al., 2001). Esta
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pressão, por sua vez, incentivou o surgimento de pequenos e médios empreendimentos


agrícolas de plantas medicinais (RODRIGUES & CARVALHO, 2001). Assim, o cultivo das
plantas medicinais é uma alternativa viável tanto para preservá-las quanto para utilizá-las,
garantindo fornecimento com qualidade e na quantidade desejada.

Cabe destacar a importância da medicina tradicional do ponto de vista sócio-


econômico-ambiental, ao permitir formulações mais simples dos remédios obtidos a partir de
plantas, uma vez que estes, normalmente, não apresentam efeitos colaterais, sendo
amplamente acessíveis, com baixos custos de obtenção e/ou sem ônus adicional de produção
por parte das comunidades de baixa renda (RODRIGUES & CARVALHO, 2001).

A constituição de hortas comunitárias viabiliza a efetiva conservação e manejo


sustentável das plantas medicinais, ao passo que as farmácias-vivas difundem a utilização dos
produtos fitoterápicos nas classes menos privilegiadas, promovendo assim valorização da
cidadania pela inclusão social (HOAREAU & DASILVA, 1999).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso racional de plantas medicinais permite a promoção da cidadania via inclusão


social pela:

1) Valorização dos conhecimentos tradicionais das comunidades assistidas, na busca


por saúde e bem estar social;

2) Ampliação do conhecimento etnofarmacológico de educadores, pesquisadores e


extensionistas sobre as plantas medicinais mais utilizadas nas áreas estudadas;

3) Promoção da melhoria da qualidade de vida das populações carentes por meio da


criação de farmácias-vivas, as quais são instrumentos efetivos de promoção da inclusão
social.

4) Diminuição do impacto ambiental advindo da atividade coletora e extrativista, pela


implantação das hortas comunitárias e farmácias-vivas, que se tornarão bancos de
germoplasma ativos;

5) Formação de cooperativas para comercialização dos produtos fitoterápicos, fomentada pela


ação integradora entre universidade e comunidade;
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6) Geração de renda complementar para pequenos produtores e suas famílias, com base na venda
de produtos e serviços das cooperativas, proporcionando desta forma o pleno exercício da
cidadania.

7) Divulgação dos resultados em reuniões científicas e publicação em periódicos especializados.

REFERÊNCIAS
DI STASI, L. C. Plantas Medicinais: arte e ciência - Um guia de estudo interdisciplinar. São
Paulo: UNESP, 1996, 230p.
HOAREAU, L. & DASILVA, E. Medicinal plants: a re-emerging health aid. Electronic
Journal of Biotechnology, Valparaíso, n. 2, v. 2, p. 57-70, ago. 1999. ISSN 0717-3458.
OLIVEIRA, J. E. Z., AMARAL, C. L. F., CASALI, V. W. D. Recursos Genéticos e
Perspectivas de Melhoramento de Plantas Medicinais. In: Recursos Genéticos e
Melhoramento de Plantas para o Nordeste Brasileiro. Petrolina, nov. 1999. ISBN 85-7405-
001-6.
PIRES, M. J. P. Aspectos Históricos dos Recursos Genéticos de Plantas Medicinais.
Rodriguésia, v. 36, n. 59, abr/jun, 1984.
RODRIGUES, V. E. G. & CARVALHO, D. A. Levantamento Etnobotânico de Plantas
Medicinais do Domínio Cerrado na Região do Alto Rio Grande - Minas Gerais. Ciências
Agro técnica, Lavras, v. 25, n. 1, jan/fev, 2001.
SCHEFFER, M. C.; MING, L. M.; ARAUJO, A. J. Conservação de Recursos Genéticos de
Plantas Medicinais. In: Recursos Genéticos e Melhoramento de Plantas para o Nordeste
Brasileiro. Petrolina, nov. 1999. ISBN 85-7405-001-6.
VILELA-MORALES, E. A., VALOIS, A. C. C. Recursos Genéticos Vegetais Autóctones e
seus Usos no Desenvolvimento Sustentável. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília,
v.17, n.2, p.11-42, maio/ago. 2000.
YUNES, R. A., PEDROSA, R. C., CECHINEL-FILHO, V. Fitoterápicos e Fitofármacos: a
necessidade do desenvolvimento da indústria de fitoterápicos e fitofármacos no Brasil.
Química Nova, v. 24, n. 1, p.147-152, 2001.
13

A RECONFIGURAÇÃO DA IDENTIDADE SERTANEJA, A MODERNIDADE


CONSERVADORA NA BAHIA.
MARIA LUZIA BRAGA LANDIM

RESUMO
RESUMO
A percepção dos direitos humanos – tal como entendidos aqueles direitos considerados
fundamentais e inerentes a qualquer ser humano – tem evoluído no tempo, ao longo da
história das diferentes sociedades. O fluxo imigratório europeu para a América Latina será
analisado como a conjuntura política de países estrangeiros envolvidos, a fim de que possam
ser avaliadas as desigualdades e diferenças existentes entre povos distintos levando-se em
consideração a proveniência regional dos colaboradores, as especificidades e necessidades
motivacionais para o ato de imigrar. Para tanto, obedecemos rigorosamente a Resolução do
Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, SISNEP N° 510/2016 que normatiza as
pesquisas com seres humanos nas áreas de ciências humanas e sociais, requer princípios
relativos ao campo pesquisado do conhecimento, procedimentos éticos, metodológicos e
sigilosos que exigem exatidão no diagnóstico dos fatos sociais. Estudar a natureza da
construção de novas identidades, práticas e representações simbólicas, através da inserção de
fragmentos de memória e suas ressignificações, perpassados pelas esperanças, ressentimentos
e aventuras, particularizados pela história cultural.

Palavras chave: História Cultural, Imigração Italiana-Bahia,

INTRODUÇÃO

A região Sudoeste da Bahia, caracterizada pela mistura de índios, negros e europeus


desde o final do século XIX é pouco conhecida pelos especialistas da imigração, ainda que
seja marcada por peculiaridades que a identificam como sertaneja proveniente de fenômenos
climáticos e espaciais. Não no sentido de extensão territorial, mas pela situação geográfica
rodeada de íngremes montanhas, solo pedregoso, árido para o cultivo, e calor escaldante que
chega a atingir até 40 graus centígrados no verão.
A falta de água ainda determina o histórico de sofrimento dos sertanejos e os distingue
de outras regiões do Brasil pela falta de acesso à saúde e educação naquele lugar recôndito, e
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mesmo assim a Região recebeu a imigração italiana que fugia das agruras da unificação do
país, da necessidade de trabalho e sobrevivência, porque naquele momento a Itália vivia um
momento difícil para seus compatrícios. (ARAÚJO, 2003)
O contingente de imigrantes intensificou-se mais nesse período, em consequência do
desenvolvimento das atividades econômicas no Nordeste e da crise que a Itália enfrentou na
Segunda metade do século XIX, quer de ordem econômica, com a concentração da
propriedade da terra, com sua unificação política.
Antes mesmo de 1861 a Itália passava por guerras em prol da Unificação Italiana que
resultaram ao final dos conflitos numa economia que se encontrava debilitada e vinculada a
problemas de altas taxas demográficas e desempregos, fatores que levaram o movimento de
atração pelo Brasil se proliferar. Havia propostas que ofereciam vantagens para os imigrantes
italianos impulsionadas pela propaganda brasileira que transformava o Brasil em um mundo
repleto de novas esperanças.
Havia no Brasil um momento de intensa busca e negociação pelo sentido de
nacionalidade, no qual o brasileiro se percebia por meio de estrangeiros aclimados, internos,
indígenas, escravos, negros que chegavam, estabelecendo uma identidade, à medida que
assimilavam suas culturas. A imigração começa a ser negociada diretamente entre
estrangeiros e brasileiros, abrindo espaços e diferenças entre imigrantes, empresários e
fazendeiros, e geraram representações de cunho escravocrata. (BONI, 1990. v. III).
As estratégias de fixação à terra de adoção priorizavam a ocupação do espaço físico
por ser o objeto de ordem prática que o transformaria simbolicamente no “lugar ideal” e
reproduziria por meio dos comportamentos, valores e normas as tradições antepassadas,
construindo assim, uma proposta de identidade nacional italiana em outras paragens.
Tinham como objetivo manter traços identitários originários dos antepassados,
perpassados pela memória e inculcados pelo imaginário coletivo alentava e dava a sensação
de criação de uma nova terra onde pudessem viver e criar sua prole, distantes dos males dos
conflitos entre limites e fronteiras.
O confronto de imaginários entre estrangeiros e brasileiros provocou rupturas que
abalaram a organização espacial e ampliou as discussões sobre alteridade. “O homem, cada
homem, não pertence nunca totalmente a si mesmo, a alteridade é inscrita na identidade do
homem, como no tempo que ele vive”. (RICOEUR, 1986).
A nação brasileira passava por um processo de transformação e as idéias abolicionistas
de intelectuais, partidos liberais e conservadores defendiam a libertação dos escravos. A
escassez da mão de obra nas zonas cafeeiras do Estado de São Paulo fez com que a tentativa
15

de importação de escravos da Região Nordeste fracassasse. O século XIX marcado pela uma
intensa expulsão demográfica na Europa tem um crescimento populacional acelerado e um
processo de industrialização que afetaram as possibilidades de emprego naquele continente.
No período inicial do século XIX, o Brasil oferecia vantagens, e as propagandas de
trabalho flamejavam o que de certa forma impulsionou a imigração, cujos estrangeiros se
inebriaram a tal forma que decidirem atravessar o Atlântico e tentar recomeçar a vida com
alguma tranquilidade. Mas a realidade se mostrou outra. (BONI, 1990. v. III)
Os sofrimentos e as dificuldades começaram antes da viagem. As dificuldades de
acesso aos subsídios e as passagens desestimularam os viajantes que se enredados com
propostas e dívidas. Os navios superlotados e cheios de epidemias já apresentavam um quadro
diferente do que estampavam as propagandas. Na chegada, as reais condições de trabalho e a
vida não condiziam com as benesses oferecidas. (TRENTO, 1989).
Até 1930 o Estado de São Paulo atento aos interesses do café, assumia a importação de
braços, criando um órgão de imigração para dirigir o fluxo, agências de propaganda e
recrutava imigrantes de vários países europeus ditando regras sobre a imigração. A literatura
existente, produzida pelos estrangeiros que visitavam o Brasil durante todo o Século XIX,
tinham duas marcas, o encantamento com a natureza e o choque com a escravidão.
Intelectuais brasileiros, entretanto, estavam preocupados com a construção de uma identidade
nacional.
A seleção de imigrantes obedeceu principalmente à demanda pelo
branqueamento. A possibilidade de miscigenação e a disponibilidade à
assimilação são variáveis fundamentais de quais imigrantes seriam
desejáveis. Além de vir preencher uma demanda de braços, teria o
papel de contribuir para o branqueamento da população ao submergir
na cultura brasileira por meio da assimilação. (OLIVEIRA, 2001.
p.10).

A intricada geografia político-cultural itálica, contudo, na qual predominava a crença


arraigada da população no verdadeiro sentido patriótico do lugar, onde nasciam, batizavam
seus filhos, falava o dialeto e de onde tirariam seu sustento, facilitava a manutenção da
continuidade hegemônica estrangeira, postura que levou o historiador napolitano Luigi Blanch
dizer que o patriotismo dos italianos lembrava o dos gregos antigos, parecendo a um
"patriotismo tribal".
Depois de desembarcaram em Salvador os estrangeiros procuraram conhecer outras
localidades do Estado da Bahia com a finalidade de usar suas habilidades comerciais
itinerantes. Como mascates, os italianos chegaram às paragens de Jequié, cidade sertaneja
16

distante 360 quilômetros da capital do estado houve uma revolução direcionada para o
comércio e um conglomerado de produtos alimentícios impulsionou o mercado e os sertanejos
que passaram a receber incentivos para o cuidado com a terra, com a finalidade movimentar a
cidade, e direcionava para as frentes de trabalho.
Em 1837 chegava à Bahia um grupo de sessenta e dois exilados políticos oriundos da
península italiana, presos nas agitações políticas que ocorriam no período que antecedeu à
unificação da Itália. Estes exilados se sensibilizaram e aderiram ao movimento revolucionário
que ocorria em Salvador, a Sabinada. Alguns foram presos, outros retornaram para a Itália ou
obrigados a voltarem, e outros foram transferidos para o Rio de Janeiro. Este envolvimento
político dos imigrantes fez com que nova leva de exilados, oriundos da região de Nápoles,
fosse cancelada.
No ano de 1900, viviam na região seis mil italianos, a maior parte ao Sul da Bahia, na
região do município de Jaguaquara, Itiruçu, Ipiaú, Poções e Maracás. É freqüente a
superficialidade das informações quando se fala da existência de uma colônia italiana por
volta de 1915, quando já havia cerca de 150 oriundos de Trecchina.
Com as contínuas notícias de trabalho semiescravo e condições indignas nas fazendas
de café do Brasil, fizeram a imigração de italianos para o Brasil diminuir e os imigrantes
preferiram os Estados Unidos e Argentina. Em 1902, a Itália ativa o “decreto Prinetti",
proibindo a imigração subsidiada para o Brasil.
Com a Independência, houve a ocupação de posições consideradas estratégicas para o
governo brasileiro, e o governo passou a desenvolver uma política de colonização, com mais
intensidade no sul do país, e a receber numerosos colonos de diversas nacionalidades
europeias.
Instalados no país, eles passaram a ter alguma mobilidade e a se distribuir
espontaneamente por várias províncias do Império. O desenvolvimento da vida urbana, com
ênfase no setor artístico e da moda, estimulou a imigração de italianos, sobretudo músicos e
cantores, que ora se fixaram no país ou o visitaram por longos períodos em companhias que se
exibiam nas principais cidades. No Brasil republicano, o Nordeste continua a receber
contingentes de imigração movidos pelas transformações econômicas, recepção do lado
brasileiro, repulsão da terra natal. Com a modernização da agroindústria canavieira, do
desenvolvimento da indústria têxtil, do crescimento da cultura do cacau e do lançamento, no
mercado externo, de produtos extrativos, como a cera de carnaúba e de licuri, óleo de oiticica
e de copaíba, a Bahia passou por estágios que alcançaram a exportação dos produtos. .
(ANDRADE, 2003)
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A imigração italiana no Brasil continuou em escala reduzida até a década de 1920. O


ditador Benito Mussolini e o governo nacionalista passaram a controlar a imigração italiana.
Após a Segunda Guerra Mundial e a declaração de guerra do Brasil contra os países do eixo, a
vinda de italianos para o Brasil entrou em decadência. Paralelamente, o país recebeu ajudas
financeiras através do Plano Marshall, que obrigou a permanência de trabalhadores para
reconstruir a Itália.
No Brasil, o excesso de mão-de-obra fez com que o então presidente Getúlio Vargas
decretasse em 1934, a Lei de Cotas de Imigração, que dificultou a entrada de estrangeiros no
País. Embora nessa época ainda entrassem cerca de 107.000 italianos no Brasil encerrando
assim o grande fenômeno imigratório no País.

O SERTÃO BAIANO TERRA E O ENCONTRO MULTICULTURAL

O município de Jequié originou-se da antiga fazenda Borda da Mata, e a cidade


fundada por um dos inconfidentes, José de Sá Bittencourt, da província de Minas Gerais. Com
o retorno de José de Sá Bittencourt, em companhia de esposa e filhos em 1813, para Caité, a
fazenda desmembrada entrou em decadência. Contudo, na foz do rio Jequiezinho, formou-se,
aos poucos, um pequeno povoado para onde acorreram os indígenas restantes no local, e
negros escravos importados para o cultivo da terra. .
A Carta Régia de 12 de julho de 1799 o autoriza a abrir uma estrada ligando Camamu
a Monte Alto. Teve o ensejo de percorrer a região onde está o município de Jequié, naquela
época coberto de matas inexploradas, algodoais e maniçoba, às margens do Rio das Contas.
A facilidade de comunicação com as localidades circunvizinhas contribuiu para que o
pequeno povoado passasse a ser freqüentado pelos viajantes e tropas como favorável ponto de
pouso, surgindo as rancharias e casas de comércio onde os mascates eram os italianos já
chegados a essas paragens.“as cidades comerciais, segundo as conjunturas e as suas próprias
estratégias, tecem a sua rede de relações, sem dúvida, mais variáveis, mas que, para além do
comércio, criam contatos sociais e culturais”. (RONCAYOLO, Vol. 8, 1986).
A abordagem sobre as cidades, tanto na sua estrutura como no seu desenvolvimento, é
apenas o reflexo de regras ou de tendências sociais gerais, definidas fora de qualquer
realidade espacial, porque a cidade é sem dúvida uma categoria da prática social.
Entender a cidade como um espaço vivido é pensá-la como um espaço cultural no
sentido amplo, um espaço de movimento, de diferença, de hibridação, de multiplicidade. A
possibilidade de se pensar os fenômenos do cotidiano urbano em sua instabilidade e
18

fragmentação sem perder de vista a importância da fragmentação, permite aos homens


identificar os diversos espaços que compõem a cidade. Estes arranjos integram o conjunto de
imagens circulantes sobre a cidade e, portanto, participam da construção das mediações e
memórias que nos permitem habitar, viver, posicionar, reconhecer e sermos reconhecidos.
Para melhor entender o fenômeno imigratório, deve-se considerar o processo de
formação histórica das sociedades envolvidas, reduzindo a escala de observação e procurando
captar dimensões do fenômeno histórico e seus ressignificados. Para isso, serão analisados os
princípios e concepções heterogêneas numa fusão de elementos culturais distintos, mas,
perceptíveis em dimensões simbólicas utilizados nas práticas culturais e representações da
vida cotidiana que consubstanciam as sociedades.
Quanto à questão religiosa, pelo fato de sacerdotes italianos ligados à Companhia de
Jesus e à Ordem dos Capuchinhos terem sido enviados ao Brasil com a finalidade de
evangelizar os indígenas, nesta região depois de desmembrada das freguesias de Rio das
Contas, Poções e Maracás a 19 de janeiro de 1889, foi criada a Paróquia de Santo Antonio de
Jequié, sendo o primeiro vigário o Cônego Jacinto Hilário Sanches. Neste cenário, ao Sul do
país, Andreoni e Benci, se tornaram famosos por seus trabalhos ligados à Igreja, e se
destacaram também por haver escrito livros sobre o Brasil, no século XVIII, dando uma visão
geral da nação e das instituições implantadas durante o domínio colonial. Os capuchinhos,
menos intelectualizados que os jesuítas, voltados para a ação missionária, foram grandes
desbravadores dos sertões e acompanharam o processo de conquista e ocupação dos territórios
indígenas, tentaram atenuar a violência que presente na diversidade cultural no período de
expansão colonial que se processava, instruindo-os nos trabalhos agrícolas. (ARAÚJO, 2003)
De todo o exame que precede a pesquisa imigratória é possível destacar duas
inferências fundamentais para a compreensão da situação dos imigrantes de Jequié. A situação
da Bahia, quanto às questões imigratórias não apresenta incremento imigratório significativo
em comparação a outros estados. Por seu turno, no Nordeste, onde havia terras pobres e
também glebas agricultáveis, o problema de fixação do homem precisava repousar no
desenvolvimento industrial, e no adequado parcelamento das propriedades agrícolas.
A América recebia homens, mulheres e crianças que abandonavam seus países de
origem para tentar uma vida melhor, usando a dinâmica da transformação como forma de auto
sustentação e desenvolvimento econômico. Enfrentavam toda sorte de adversidades e
infortúnios, ficavam sujeitos a tensões e alteridades.
A construção do espaço arquitetônico e social, a instalação do comércio, instituições
religiosas e sociais, a atuação como intermediadores em situações de conflitos sociais como o
19

banditismo e questões políticas, a criação de mecanismos diversos que preservaram a


identidade cultural, a mão-de-obra mais especializada principalmente no comércio e
agricultura, contribuíram para a integração dos imigrantes ao contexto da sociedade.
As questões hierárquicas apontam para fatos que direcionam para a centralização de
poder, como por exemplo, imigrantes sempre disciplinados, um local de recepção dos
patrícios que vinham para da Itália, a imposição da questão hierárquica com filhos e amigos
destinando-os aos empregos como forma de controle profissional. Em um dado momento, a
imigração começa a ser negociada diretamente entre estrangeiros e brasileiros, abrindo
espaços e diferenças entre imigrantes, empresários e fazendeiros que geraram inquietações,
ressentimentos e representações de cunho escravocrata. De certa forma, os jequieenses foram
obrigados a fazer concessões, para que os imigrantes se estabelecessem impondo suas
presenças, financiando recursos para os diversos setores da sociedade, e fazendo um controle
do comércio que circulava na região. (ARAÚJO, 2003).
A consolidação das informações sobre o incremento imigratório é de importância
fundamental para se conhecer a história cultural dos italianos, como eles se percebiam e
reconstruíam suas identidades na sociedade de adoção, se apropriando de hábitos e costumes
através da religião, casamento, festas populares, alimentação, almejando a construção Do
simbolismo “um lugar ideal” e um “novo mundo”.
No século XIX, havia um momento de intensa busca e negociação pelo sentido de
nacionalidade no Brasil, no qual o brasileiro se percebia por meio de estrangeiros aclimados,
internos, indígenas, escravos, negros e estrangeiros que chegavam, estabelecendo uma
identidade, à medida que assimilavam outras culturas.
O alargamento do domínio da história dos imigrantes no Brasil cria no quadro
temático sobre a imigração que tem priorizado o trabalho nas lavouras de São Paulo e no Sul
do país, a variável sobre o desenvolvimento industrial, movimentos anarco-sindicalistas, mas
não apresenta propostas de interpretação para vertentes da história social e cultural naquela
região, mas, não faz menção à articulação e formação de novas identidades e representações
dos sistemas simbólicos de poder desenvolvidos e os obstáculos que ocorreram. Proposições
para as infindáveis relações produzidas e impulsionadas pelas culturas, vistas sob ângulos que
conjugam cultura, política, família, cidade e sociedade, como processos simbólicos ou
ideológicos, geram crises e impõem soluções.
O desenrolar dos acontecimentos há muito tempo está determinado entre as formas de
conquistas, expedições, batalhas, e datas de ocupação dos territórios. Porém, as estratégias
20

que envolvem as conquistas das cidades estão atreladas à ideologia humana que domina os
comportamentos reinseridos no tecido social através das instituições.
Vários pensadores e teóricos realizaram intensas discussões, e refletiram sobre a noção
de cidade. Os debates sinalizam para diferentes direções e estão longe de formar um
consenso. Esses debates, efetuados nas mais diferentes áreas, fornecem subsídios importantes
para que a história possa refletir melhor sobre essa noção.
A necessidade de se entender a cidade como problemática social e realidade a ser
estudada como produto da ação humana efetuada nas relações sociais, cuja memória pode ser
uma área ainda pouco explorada. Essas reflexões abrem caminho para uma investigação que
envolve o tema em vertentes diversas, sem, contudo tratar o espaço como mero componente
neutro, ou a memória como instrumento de rememorações, mas, como produto de um
conteúdo social onde acontece a história e de forma que a memória possa ser utilizada como
registro.
Desta forma, analisar o fenômeno imigratório no Nordeste brasileiro requer
observação apurada sobre os fatos ocorridos e os movimentos culturais de acordo com as
fontes inéditas, que promovem na região sertaneja especificidade e uma variedade de
entrelaçamentos e deslocamentos culturais. A integração entre imigrantes e habitantes daquela
região fortaleceu os laços identitários dos nativos e promoveu a demarcação de limites de
poder e concessão. Mas a cultura tradicional modificada e expressa por normas, valores e
crenças foram modificadas pela construção de uma identidade em que a interação italiana e a
sertaneja permeadas de especificidades.
A identificação das novas posturas políticas e as marcas identitárias impregnadas no
espaço e tempo pela presença estrangeira, são objetivos que devem contribuir com a
historiografia regional. Especificar e aprofundar a dialética entre identidade e alteridade faz
reconhecer práticas e representações simbólicas que caracterizam a transformação. As
concepções permitem resgatar vestígios de espaços sociais e culturais ocupados por italianos e
jequieenses que revelam as representações e suscitam debates sobre a questão identitária,
aspectos densos de carga cultural e significados políticos para a história das mentalidades.
Portanto, as proposições impulsionadas pelas culturas sob ângulos que conjugam com
política, família, cultura e sociedade, como processos simbólicos e ideológicos se estendem
para o entendimento de fenômenos ainda desconhecidos. Os métodos associados às naturezas
da pesquisa, qualitativa e quantitativa, tem técnicas específicas para trabalhar esses
fênomenos com dados, extraídos de livros, períodicos, documentos, períodicos, enfim,
21

registros e documentos pertencem a uma historiografia que se torna de interesse relevante


para a história nacional.
A historiografia revisitada em seus anais avista na cidade de Jequié, zona de contato
da faixa litorânea, úmida e florestal, e o semi-árido sertão do interior da Bahia, espaço
descoberto pelo precursor da imigração italiana no final do século XIX. Giuseppe Rotondano
italiano da Província de Trecchina, vislumbrou na parada de tropas um ponto central para
estabelecer o que seria mais tarde comércio naquelas redondezas.
Os comerciantes iniciaram suas atividades como mascates vendendo produtos que
inicialmente eram permutados por outros produtos, antes da implantação da primeira
instituição bancária na região sudoeste. Implantando o processo de compra e venda com
moeda corrente, o Banco do Brasil somente em 01 de setembro de 1923, passou a subsidiar
financiamento para empórios, pequeno e médias empresas. O movimento comercial mantido
pelo cacau, feijão, café, algodão, fumo em folhas, pó de palha, mamona, madeira, peles das
mais variadas, ficava centralizado na Casa Grillo, pertencente a Vicente Grillo, considerada a
maior firma da região. As tropas eram carregadas por produtos variados que partiam
diariamente para os entrepostos litorâneos e para o Distrito de Baixão onde abrigava a estrada
de Ferro de Nazaré desde novembro de 1927, e distribuídos para todo o Estado.
O estudo da imigração italiana para o Nordeste tem sido um tanto quanto generalizado
quando se trata da fixação e da assimilação uma vez que a tentativa de periodizar uma época,
de imediato se estabelece quatro fases: a pré-colonial, a colonial, a imperial e a republicana,
sem, contudo procederem a um mapeamento da região que esmiuce as peculiaridades de cada
imigração no que se refere .à modificação das estruturas sociais, à diferenciação da sociedade
em camâdas ou estratos hierarquizados e superpostos, à integração ao mercado de trabalho,
quanto à origem e espécie que subsidiados ou espontâneos e sem deliberação prévia
expressam características da família, do grupo, das formas de associações, instituições, dos
conflitos e normas de costumes, enfim questões sociais, políticas, econômicas, e religiosas.
(ARAÚJO, 2003).
Naquele sertão, se estabeleceu uma colônia italiana e tal é a importância deste
fenômeno para a História Regional, que a busca por novas informações merece ser ampliada
para que possa preencher as lacunas existentes.
Num primeiro momento a imigração italiana teve um cunho desenvolvimentista, e os
europeus que desembarcaram por volta de 1880 no Brasil, tinham necessidades e objetivos
precípuos de ocupação apropriação e fixação. Inicialmente tentaram se estabelecer em
Portugal, pelo menos a maioria que chegou às paragens da região sudoeste da Bahia.
22

O crescimento urbano e o desenvolvimento da indústria metalúrgica, a


princípio de forma artesanal e em seguida industrial, muito
contribuíram para a fixação de italianos no Nordeste. Ao lado destas
atividades econômicas, o desenvolvimento de atividades artísticas, da
música, da escultura, da pintura e da arquitetura, constituiu uma forte
atração para os italianos. (TAVARES, 2001).
Após a Segunda Guerra Mundial, houve novas experiências, como a de implantação
de uma colônia de agricultores em Jaguaquara e Itiruçu, que provocou modificações nos usos
e costumes regionais; as verduras na alimentação dos jequieense, novas técnicas agrícolas
implantadas pelos imigrantes subsidiados pelo governo brasileiro para fazendas em Itiruçu, a
vinda de técnicos e empresários de alto nível dos principais centros urbanos com tecnologia
de ponta, continuam a convergir para o Nordeste. Os direitos assegurados pela constituição e
pela legislação agrária do país começaram a não ser cumpridos, provocando conflitos entre
italianos de um lado, autoridades e latifundiários de outro.
O trabalho feito com fontes primárias e arquivos particulares sugerem a forma como
as tendências políticas e socias no contexto do Nordeste brasileiro foram desenvolvidas. Para
aprofundar os modelos teóricos de proposição analítica que defende a ampliação das
cirularidades, a verificação dos fatos apresentados a partir das ações politicas desenvolvidas
na época, uma diferenças que podem ser distinguidas são as linguísticas, pois estabelecem os
contrastes culturais percebidos e são reconstruídos a partir da necessidade dos italianos se
sentirem includos na região.
Vale ressaltar que as próprias famílias na época da II Guerra, com medo de
perseguições, destruíram documentos, fotos, livros, etc., suportes documentais que poderiam
dissecados sobre vários aspectos. Os escassos documentos mostrados durante o percurso das
entrevistas com descendentes foram cedidos para duplicação ou até mesmo digitalização. O
temor de serem interpretadas como traidores da nação brasileira, naquele momento as famílias
receava pela segurança e destruíram inclusive documentos pessoais. Hoje, verificamos que
algumas famílias esperaram por décadas para refazerem o itinerário dos imigrantistas,
resgatando a história. (SAMPAIO,1996. Separata).
A narrativa histórica baseada em pesquisa de fontes primárias e secundárias se
apresentará cronologicamente ao longo do texto fazendo alusões a paráfrases, citações ou
referências, que possam validar e testemunhar os argumentos e conjecturas.
O Controle Social, a Representação simbólica, o Mecanismo de sustentação dos
grupos, a Convivência interétnica, a Instituição, a Cultura, os Símbolos e Emblemas também
serão analisados sob o aspecto das hierarquizações sociais naquele período..
23

Sem perdermos de vista a problemática das alterações produzidas com a introdução de


novas formas identitárias que se confrontaram naquela região sertaneja, analisará o período
Pós-II Guerra Mundial quando o Estado da Bahia inicia uma política de repressão aos
imigrantes alemães e italianos.
Naqueles anos, os italianos assentados desde o Município de Jequié até Maracás,
sentiram-se ameaçados com as constantes ações policiais para encontrar estrangeiros,
especialmente alemães, acusados de espionagem e enviá-los para campos de concentração no
interior de Maracás, município vizinho à Jequié. Abrangemos o período de 1940 a 1960,
quando o estabelecimento dos italianos no sertão baiano já está consolidado através das
atividades agrícolas e comerciais. Durante a Segunda guerra (1939 a 1945) o governo italiano
suspendeu a imigração subsidiada.
Pela vertente política e cultural, busca delimitar os objetivos da Itália durante o período e suas
intenções na criação de uma força que representasse os interesses fascistas no Brasil. Fazer
um balanço das relações entre os dois países no período entre as duas guerras cujo argumento
central gira em torno da política migratória italiana e da aproximação dos agentes e agências
fascistas no Brasil aos imigrantes de origem italiana e seus descendentes. (TRENTO, 1989).

Mas não foram somente associações de caráter restrito que os italianos organizaram,
manifestaram também preocupação com a educação e saúde, como forma de encontrar meios
eficazes de ajustar o grupo à sociedade de adoção. Manifestaram cuidados com o meio
ambiente, distribuíram terrenos em forma de doações que mais tarde seriam utilizados na
implantação de instituições sociais e políticas para que a situação dos estrangeiros fosse mais
confortável e seguisse o rumo dos objetivos almejados.
Assim relacionamos os órgãos que notificam dados sobre o número de imigrantes entrados e
variáveis a eles ligados em nível nacional.
1) De 1872 a 1889: relatórios do Ministério dos Negócios do Império.
2) Departamento Nacional de Imigração e Colonização (DNIC).
3) Conselho de Imigração e Colonização.
4) Divisão de Terras e Colonização.
5) Instituto Nacional de Imigração e Colonização (INIC).
6) Superintendência de Política Agrária(SUPRA).
7) Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário (INDA).
8) Departamento Nacional de Mão de Obra, Divisão Nacional de Imigração.
9) Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores.
24

CONCLUSÃO
O resgate dos fenômenos históricos já visitados por outros autores fornece um diálogo
com o passado, uma multiplicidade de perspectivas sobre a realidade histórica. As visões de
mundo cujas metamorfoses revelam a transitoriedade e o enraizamento dos conhecimentos
históricos que produzem mudanças no espaço e no tempo.
A relevância de explorarmos o tema a partir de vertentes políticas e da relação à
produção do lugar, têm significado com a reconstrução do passado que introduz à cidade uma
forma de centralização do poder exercida por esses estrangeiros. O debate escolhido através
da memória propiciará também a utilização da concepção política de dominação, e uma
No exame das Unidades da Federação, observou-se que os estados pertencentes à Região Sul
apresentaram as maiores proporções de brancos, tendo Santa Catarina liderado essa proporção
nas informações relativas ao Censo de 1940. Esse estado e o Rio Grande do Sul foram
núcleos de implantação da política migratória logo após a independência do País, sobretudo a
partir das décadas de 70 e 80 do Século XIX. O governo incentivava o povoamento pelos
colonos imigrantes de origem alemã, italiana e, em menor escala, de eslavos. Quanto ao
Estado do Paraná, os imigrantes eram principalmente poloneses, ucranianos e italianos. O sul
do País foi alvo de disputas de fronteiras com a metrópole espanhola e os países vizinhos,
porque o povoamento já era bastante escasso até o início do Século XIX. A colonização, que
se deu em ritmo acelerado, muito condicionou o comportamento da estrutura étnica da região.
O Estado de São Paulo, com a quarta colocação na proporção de brancos, em1940, refletiu um
segundo momento imigratório no Brasil, no final do Século XIX. Os senhores do café,
incentivados pelo governo, traziam para as fazendas de café, e substituição à mão-de-obra
escrava, imigrantes contratados5, em sua grande maioria italiana, mas, também vieram muitos
portugueses e espanhóis. A estrutura da população branca revelada pelo Censo 2000 manteve-
se praticamente inalterada, nas primeiras colocações com os estados da Região Sul, seguida
do Estado de São Paulo. (IBGE, Censo Demográfico 1940/2000).
Os conceitos sobre estruturas políticas, estratificações sociais, e lutas por fronteiras,
nos impulsionam a vislumbrar adequações que podem ser movidas para o contemporâneo.
Essas adequações são produzidas tendo em vista as condições que as civilizações ocorrem,
mas, no sentido de incorporar a Etnografia como “... uma descrição sistemática dos
significados culturais de um determinado espaço...” (Spradley In: Lüdke & André, 1979), que
permite pensar o espaço geográfico dentro de uma perspectiva histórica, antropológica e
cultural.
REFERÊNCIAS
25

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Relação com nome de todas as famílias imigrantes, descendentes até 1990 produzida por Alan
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26

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SEDA, Paulo. Citação verbal feita durante a aula da disciplina Memória, Cultura e Poder –
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TAVARES, Luis Henrique Dias. História da Bahia. São Paulo: EdUFBa, UNESP, 2001.
TRENTO, Angelo. Do outro lado do Atlântico: um século de imigração italiana no Brasil.
São Paulo: Nobel, Istituto Italiano di Cultura, 1989.
SAMPAIO, Consuelo N. A Bahia na II Guerra Mundial. Revista da Academia de Letras da
Bahia, Salvador, n. 40, Separata.
27

CÂNCER INFANTO-JUVENIL: A ENFERMAGEM NA BUSCA DA


INDIVIDUALIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA.

1 Carla Gessanda Evangelista Gonçalves, 2Mariana Matos Farias, 3Tiago Landim d´Avila

RESUMO

Caracterização do câncer e seus principais tipos, dados epidemiológicos, formas de tratamento


e papel do enfermeiro diante do câncer infanto-juvenil. Metodologia: Para realização desta
revisão bibliográfica foi utilizado o método integrativo, que busca associar a literatura com a
prática profissional. Referencial teórico: Traz o destaque para o tratamento do câncer, voltado
para o público infanto-juvenil; o processo da humanização na área de saúde fazendo ressalva
à importância das boas condições de trabalho e os principais fatores que interferem na
qualidade de vida. Considerações finais: Todo o contexto contribuiu para o entendimento de
que para desenvolver estratégias para o controle do câncer e o cuidado individualizado devem
existir aperfeiçoamento e qualificação profissional, agregando esforços para acolher os
familiares e a criança acometida, passando confiabilidade e esperança em meio a tanta aflição.

Palavras-chaves: Enfermagem; Câncer; Humanização; Infantil; Atuação do enfermeiro; Saúde


pública.

ABSTRACT

Introduction: Cancer characterization and its main types, epidemiological data, forms of
treatment and the nurse's role before the child cancer. Methodology: For realization of this
literature review an integrative method was used, which seeks to associate literature with
professional practice. Theoretical framework: It highlights the treatment of cancer, focused on
the children and youth; the humanization process in healthcare giving attention to the
importance of good working conditions and the main factors that affect quality of life. Final
thoughts: The whole context has contributed to the understanding that to develop strategies
for cancer control, individualized care and professional qualification should be improved,
adding efforts to welcome families and the affected child, showing reliability and hope in the
middle of such distress.

Keywords: Nursing; Cancer; humanization; child; Nurses' performance; Public health.

1,2.
Discentes de graduação do curso em enfermagem do Centro Universitário Jorge Amado em Salvador, Bahia, Brasil.
3
. Doutorando pela Faculdade de Medicina da Bahia Universidade Federal da Bahia.
28

INTRODUÇÃO
O câncer é considerado o conjunto de mais de cem doenças sendo elas universais,
imparciais e totalitárias. Tem como característica a multiplicação desordenada de células que
sofreram mutações, sejam estas genéticas ou adquiridas. Estas células podem se soltar do
lugar de origem, cair na circulação e invadir outros tecidos, caracterizando o processo de
metástase, fase mais avançada da enfermidade onde o comprometimento pode ser
generalizado.
Apesar dos pacientes diagnosticados com câncer sofrerem os efeitos tóxicos e danosos
dos tratamentos, a utilização de fármacos unida às terapias psicossomáticas está conseguindo
reduzir bastante o número de óbitos decorrentes da enfermidade. Por outro lado, com o passar
dos dias, a incidência de diagnósticos de pessoas com canceres diversos tem aumentado
exponencialmente. 1
Dentre os principais tipos de canceres responsáveis por óbitos, melanoma e canceres
associados a problemas dérmicos são os mais comuns na população. Além destes, entre
mulheres e homens existem canceres que atingem mais cada um dos sexos e os que são
comuns a ambos os sexos, sendo estes descritos na figura 1. Existe uma parcela dos canceres
que são associados a fatores genéticos e outros, por sua vez que são associados a fatores
externos, normalmente associados a uma infecção intermitente de um vírus ou fatores
associados à cicatrização e formação de tecidos fibrosos. Além desses, existem fatores
externos que também favorecem o aparecimento de canceres, como descritos na tabela 1. 2

M u lh e r e s H om ens
80
N ú m e r o d e in d iv íd u o s (x 1 0 0 0 )

70

60
30

20

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C
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Figura 1 – Perfil de incidência de canceres no Brasil em 2014. Na esquerda, os principais canceres que
acometeram mulheres e com maior incidência o de mama. Na direita, os principais canceres que acometeram
homens e com maior incidência o câncer de próstata. Canceres de colo retal e pulmão, que possuem ampla
distribuição em ambos os sexos.
29

Tabela 1 – Associação entre incidência de câncer e principais fatores de risco externos


para adultos no desenvolvimento e aparecimento de canceres diversos. 2
Mulheres Homens Total
Fumantes ativos (2011) 13% 21.6% 17.3%
Total de consumo de álcool per capta, em litros 4.2 13.6 8.7
(2010).
Inatividade física (2010) 29.4% 24.9% 27.2%
Obesidade (2014) 22.9% 17.2% 20.1%
Uso de combustível em casa (2012) - - 6.0%

A fisiopatologia é dada por alterações metabólicas, que são agravantes responsáveis


por retornos constantes aos hospitais ou mesmos reiterações frequentes, como no caso das
infecções e possíveis hemorragias. Além disso, trazem danos psicológicos como, por
exemplo, a perda parcial ou total dos cabelos que é o efeito colateral como o mais devastador
3
, por afetar diretamente a imagem dos portadores da doença, o mesmo é denominado:
alopecia. Esse efeito se torna mais agravante quando se trata do público infanto-juvenil,
dificultando o enfrentamento do problema por alterar sua autoimagem 4. Em elevado nível, e
suas modalidades de tratamento podem desencadear efeitos colaterais que irão afetar
diretamente o estado nutricional do indivíduo 3, como a inapetência leva os acometidos pela
doença a perderem gradativamente massa muscular e a fadiga que resultam em um nível de
fraqueza generalizada 5. Além disso, quando esta enfermidade é diagnosticada existe a
mudança no estado psíquico do indivíduo podendo atuar diretamente no tratamento como
ansiedade, medos, fobias e, em casos mais preocupantes, alucinações ou depressão 6.
Marcadores tumorais são moléculas presentes no tumor, detectadas no sangue ou em
outros líquidos biológicos, cujo aumento sérico está relacionado com a patogenia e o
desenvolvimento de células neoplásicas 7. Essas substâncias trabalham como indicadores da
presença de câncer, e podem ser produzidas tanto pelo tumor quanto pelo organismo 8. Esses
marcadores são úteis na conduta clínica dos pacientes com câncer, contribuindo nos processos
de diagnóstico, estadiamento, avaliação da evolução do tratamento, detecção de recidivas, e
prognósticos e até mesmo auxiliando em evoluções de novos tratamentos 8.
São caracterizados ou quantificados por estudos bioquímicos ou imunohistoquímicos
dos tecidos ou do sangue, e por testes genéticos para pesquisas de oncogênese, que são genes
supressores de tumores e alterações genéticas 9. Há vários marcadores tumorais e cada um
deles tem um valor de referência; pacientes que apresentem exames com essas taxas elevadas
precisam de uma investigação mais precisa.
30

METODOLOGIA
Para realização desta revisão bibliográfica foi utilizado o método integrativo, que
busca associar a literatura com a prática profissional. A busca foi realizada em banco de dados
de acesso livre que possuíam trabalhos científicos completos e artigos publicados nas bases de
dados do Medline, SciELO, Lilacs e PubMed.
Os descritores, em português, utilizados foram “câncer”, “neoplasias”, “infantil”,
“criança”, “atuação do enfermeiro” e “saúde pública”, em associação ou não. Como critérios
de inclusão foram selecionados os trabalhos publicados em revistas indexadas, no idioma
português e que estavam disponibilizados em sua versão integra e independente do ano de
publicação.
Considerações éticas

Este trabalho também está de acordo com a Resolução nº 466/12 do Conselho


Nacional de Saúde, pois não envolve diretamente pesquisa com seres vivos. Além disso, está
de acordo com os aspectos do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem contidos na
Resolução do COFEN nº 311/2007, Capítulo III, que dispõe sobre o ensino, pesquisa e
produção técnico-científica.

REFERENCIAL TEÓRICO
Tratamento
Os avanços em diagnóstico e tratamento do câncer infanto-juvenil tem aumentado nos
últimos anos, o que colabora com o prolongamento da vida e até a cura de 70% das crianças
que são diagnosticadas e tratadas com a terapêutica correta. Porém, mesmo com esses
avanços, o câncer é uma causa comum de mortalidade entre crianças e adolescentes de 1 a 19
10
anos . Diferente dos casos em adultos, o câncer infanto-juvenil representam causas
desconhecidas, o que dificulta a prevenção e diagnóstico precoce 11.
Existem alguns cânceres que possuem tratamento, porém, não há impedimento de
reincidência do mesmo tipo de câncer ou surgimento de um novo subtipo. Para a grande
maioria dos canceres, o tratamento mais eficaz é a remoção completa das células afetadas e de
suas adjacências seguido de uma quimioterapia e/ou uma radioterapia, tratamentos estes que
são extremamente danosos para a qualidade de vida do paciente. 12
A quimioterapia é um destaque entre os tratamentos pela alta incidência de cânceres
hematológicos no público infanto-juvenil. É feita através da aplicação de quimioterápicos,
objetivando destruir as células que avultam rapidamente. A radioterapia utiliza radiações que
31

destroem ou impedem o crescimento das células cancerígenas. Ambos os tratamentos e seus


fármacos são tóxicos para o indivíduo podendo causar apatia, inapetência, emagrecimento,
redução parcial ou total dos pelos, hematomas, sangramento nasal e bucal, náuseas, vômitos e
diarreia.
Crianças e adolescentes com câncer requerem cuidados especiais, desde o início da
terapia para a cura e isso envolve desde o controle da dor e de outros sintomas, até o apoio
junto à família, que com o diagnóstico de um câncer temem por relacionar a doença com a
morte 13. Assim, foi avaliado, de acordo com a literatura, a interferência do assistencialismo,
individual e coletivo, no prognóstico de pacientes infanto-juvenis com câncer.
O processo de humanização na área de saúde necessita de boas condições de trabalho,
além de empatia apenas, pois a relação entre paciente e profissional pode ser a melhor
possível, mas se houver falta de recursos, equipamentos, pessoal, entre outras precariedades,
impossibilita o profissional de prestar uma assistência devida e humanizada, o que,
14
consequentemente, gera insatisfação tanto para o paciente quanto para o profissional . É
importante que seja explicito a questão de que a humanização não pode ser apenas entendida
como “tratar bem” o paciente, mas também dar condições para que o cuidado prestado seja de
excelência, correlacionado ao tratamento com qualidade de vida, para que a melhora seja
progressiva e total.
A humanização na assistência do acometido pelo câncer engloba também uma
assistência à sua família, fazendo com que eles tenham oportunidade de expor o que pensam e
sentem no processo do tratamento sendo dada a importância que necessitam, principalmente,
por estarem fragilizados com o momento que vivem. Desta forma serão auxiliados em todas
as dificuldades que venham ter acerca de informações, fornecendo-lhes os possíveis
esclarecimentos e buscando junto a eles formas para amenizar o sofrimento durante o
tratamento, bem como incentivar ações de cuidado e auxílio nas decisões que se façam
necessárias durante o caminho para cura 15.
A equipe que presta cuidados para o público infanto-juvenil com câncer necessita
realiza-lo visando a individualização da assistência totalitária, pensando não apenas no
sucesso do tratamento e melhora patológica, mas também tudo que engloba a vida do paciente
em questão, como: religiosidade, valores e aspectos psicossociais, objetivando
primordialmente a qualidade de vida do mesmo, aceitando suas opiniões e vontades, tornando
o processo menos doloroso para o paciente e família 16.
É importante valorizar e reconhecer que a prática de enfermagem é uma prática
diferenciada dos demais profissionais de saúde por se tratar ir além do cuidado. Por isso, é
32

preciso construir uma prática que seja um diferencial e que de fato seja uma prática
humanizada. A humanização deve estar vinculada na fisiologia da enfermagem. Tudo o que
ocorre desde o ambiente físico até os materiais utilizados, não são de tanta prevalência como a
essência humana que é a que conduzirá as ações e pensamento de toda a equipe 17.

QUALIDADE DE VIDA
De acordo com alguns pesquisadores, qualidade de vida e estado de saúde está
18
diretamente ligado, inclusive, aparecem como sinônimos na literatura . A determinação e
condicionamento do processo saúde-doença na qualidade de vida se dão através de uma
complexidade por estar configurado ao processo que envolve fatores econômicos, sociais,
culturais, experiência pessoal e estilo de vida. A melhoria da qualidade de vida tem sido um
dos resultados esperados nas práticas da assistência e nas políticas públicas no campo de
promoção da saúde e prevenção de doenças 19.
Da mesma forma que o indivíduo diagnosticado adentra um processo duradouro de
insatisfação, desvalorização ou mesmo questionamento da existência, as pessoas próximas,
familiares e cônjuges padecem com o sofrimento do diagnosticado, fator este que interfere
diretamente na qualidade de vida da micro sociedade. A modificação das rotinas e vidas se
torna constante e a imprevisibilidade torna o aspecto psicossocial em uma dimensão onde os
sentimentos distintos e fases da enfermidade podem estar correlacionadas à evolução
patológica 18.
É necessário investigar a importância da saúde mental, funcionamento físico,
interligados diretamente, a percepção da qualidade de vida e do estado de saúde. Concluíram
através de estudos com indicadores e amostras de pacientes portadores de doenças crônicas
que a previsão de maior dimensão no escore de qualidade de vida foi à saúde mental
relacionado ao bem-estar psicológico, já o funcionamento físico afetou de modo menos
efetivo 20.

DISCUSSÃO
Entre 2014-2015 houve, aproximadamente, 11.840 novos casos de câncer infanto-
juvenil 21. Devido essa estatística, pode ser considerado como um problema de saúde pública
15
por custear valores altos no tratamento, diagnóstico e formas de detecção . Para que o
cuidado contemple todos os níveis de atenção à saúde, a Política Nacional de Atenção
Oncológica determina que ocorram ações desde ações de promoção e prevenção até o
tratamento ou cuidados paliativos, como também que a assistência seja prestada de acordo
33

com os níveis hierárquico e com acesso e atendimento integral. Ressalta também a


necessidade de que os profissionais sejam especializados com educação permanente dos
mesmos 22.
O debate acerca do controle do câncer no Brasil destaca a importância do equilíbrio da
prevenção e tratamento e a importância dos recursos humanos, que estão atrasados, no que diz
respeito ao conhecimento científico além de serem insuficientes tanto em qualidade quanto
em quantidade 23.
É imprescindível que haja treinamento constante para a equipe multidisciplinar que
cuida do paciente em tratamento oncológico. A equipe de enfermagem, principalmente, deve
estar pronta para cuidar e para isso necessita também estar preparada, recebendo cuidados
para que possam lidar de forma saudável com essa patologia que requer um preparo
psicológico adequado para que seja passado segurança e tranquilidade para o paciente acerca
do seu tratamento.
O enfermeiro possui um papel fundamental no cuidado a ser prestado, principalmente
na aceitação dos familiares da doença e como conviver com a mesma. Para obter um manejo
efetivo, a enfermagem precisa individualizar a assistência visualizando o indivíduo como um
todo, compreendendo assim, sua natureza e desafios a serem enfrentados. Desta forma, uma
assistência integrada é prestada através do acolhimento, objetivando diminuir a ansiedade que
é causada pelo medo da doença e a incerteza do futuro 24.
A família do público infanto-juvenil com câncer enfrenta problemas a todo o momento
com internações frequentes e prolongadas, agressões dos quimioterápicos e os efeitos que
tudo isso causa. Outras patologias podem causar sentimentos de negatividade, mas não tanto
quanto o câncer. O diagnóstico chocante, a preocupação com a cirurgia, a incerteza do
prognóstico, os efeitos colaterais do tratamento, a angústia da dor e do medo de encarar a
morte, causa ansiedade abundante 25. Daí então é preciso que o enfermeiro possua dinamismo
e domínio da patologia para que a criança e seus familiares confiem nos que estão prestando
cuidado e aumentem a esperança da evolução para a melhora. O atendimento deve se tornar
dinâmico, pois, além de favorecer um ambiente mais leve, fugindo um pouco do que se trata
do ambiente de limitações, revela uma nova forma de cuidado às crianças hospitalizadas.
Todo processo de tratamento do câncer traz obstáculos para o paciente e para sua
família, principalmente para a aceitação do diagnóstico. A quimioterapia, a exemplo, aumenta
a possibilidade dos pacientes continuarem a viver normalmente, mesmo com todas as
mudanças que acontecem tanto na aparência quanto no psicológico. O papel da enfermagem
34

nesse momento é de estabelecer um vínculo de confiança e afinidade para que o cuidado não
fique apenas no técnico, mas se estenda ao cuidado humano totalitário 26.
A correlação que fazemos ao olhar para uma criança é com a arte do viver, aquele ser
que está começando a abrilhantar seus passos em direção à auto realização. Sendo assim, as
questões éticas devem tomar uma proporção maior. Desenvolver estratégias para o controle
do câncer e o cuidado individualizado exige aperfeiçoamento e qualificação profissional,
agregando esforços para acolher os familiares e a criança acometida, passando confiabilidade
e esperança em meio a tanta aflição.

REFERÊNCIAS

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Current Landscape. J Clin Oncol, v. 33, n. 27, p. 3055-64, Sep 20 2015. ISSN 1527-7755
(Electronic) 0732-183X.
2 WHO. General situation for cancer epidemiology in Brazil. Cancer Country Profiles,
2014. Disponível em: < http://www.who.int/cancer/country-profiles/bra_en.pdf?ua=1 >.
Acesso em: 02 de abril.
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proposta de protocolo de enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 60, p. 331-335,
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cuidador. Pensando familias, v. 17, p. 111-129, 2013. ISSN 1679-494X.
7 CAPELOZZI, V. L. Entendendo o papel de marcadores biológicos no câncer de
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8 SILVEIRA, L. A. Câncer ginecológico: Diagnóstico e tratamento Florianópolis:
Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, 2005. 382
9 MATOS, L. L. D. et al. Tecnologia aplicada na detecção de marcadores tumorais.
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10 BRASIL, M. D. S. D. Câncer na criança e no adolescente no Brasil: Dados dos
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11 BRASIL, M. D. S. D. ABC do Câncer: abordagens básicas para o controle do câncer.
Rio de Janeiro: 2011. 128 ISBN 9788573181883.
12 MENOSSI, M. J.; DE LIMA, R. A. [Pain in children/adolescents with cancer: care
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13 COSTA, T. F. D.; CEOLIM, M. F. A enfermagem nos cuidados paliativos à criança e
adolescente com câncer: revisão integrativa da literatura. Revista Gaúcha de Enfermagem, v.
31, p. 776-784, 2010. ISSN 1983-1447.
14 COLLET, N.; ROZENDO, C. A. Humanização e trabalho na enfermagem. Revista
Brasileira de Enfermagem, v. 56, p. 189-192, 2003. ISSN 0034-7167.
35

15 BRASIL, M. D. S. D. Ações de enfermagem para o controle do câncer. Rio de


Janeiro: 2008. 624 ISBN 9788573181340.
16 SANCHES, M. V. P.; NASCIMENTO, L. C.; LIMA, R. A. G. D. Crianças e
adolescentes com câncer em cuidados paliativos: experiência de familiares. Revista Brasileira
de Enfermagem, v. 67, p. 28-35, 2014. ISSN 0034-7167.
17 VILA, V. D. S. C.; ROSSI, L. A. O significado cultural do cuidado humanizado em
unidade de terapia intensiva: "muito falado e pouco vivido". Revista Latino-Americana de
Enfermagem, v. 10, p. 137-144, 2002. ISSN 0104-1169.
18 LIMA, R. A. G. D.; ROCHA, S. M. M.; SCOCHI, C. G. S. Assistência à criança
hospitalizada: reflexões acerca da participação dos pais. Revista Latino-Americana de
Enfermagem, v. 7, p. 33-39, 1999. ISSN 0104-1169.
19 SEIDL, E. M. F.; ZANNON, C. M. L. D. C. Qualidade de vida e saúde: aspectos
conceituais e metodológicos. Cadernos de Saúde Pública, v. 20, p. 580-588, 2004. ISSN
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20 LOPES-JÚNIOR, L. C. et al. Theory of unpleasant symptoms: support for the
management of symptoms in children and adolescents with cancer. Revista Gaúcha de
Enfermagem, v. 36, p. 109-112, 2015. ISSN 1983-1447.
21 FACINA, T. Estimativa 2014 – Incidência de Câncer no Brasil. Revista Brasileira de
Cancerologia, v. 60, n. 1, p. 63-64, 2014. ISSN 9788573182378.
22 BRASIL, M. D. S. D. Política Nacional de Atenção Oncológica. Portaria Nº 2439.
Brasília: 3 p. 2005.
23 KLIGERMAN, J. Fundamentos para uma Política Nacional de Prevenção e Controle
do Câncer. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 48, n. 1, p. 3-7, 2002. ISSN 2176-9745.
24 SALTZ, E.; JUVER, J. Cuidados paliativos em oncologia. Rio de Janeiro: Editora
Senac Rio de Janeiro, 2008. 224 ISBN 9788577560349.
25 DEITOS, T. F. H.; GASPARY, J. F. P. Efeitos biopsicossociais e
psiconeuroimunológicos do câncer sobre pacientes e familiares. Rev. bras. cancerol, v. 43, n.
2, p. 117-26, 06 1997. ISSN 0034-7116.
26 FONTES, C. A. S.; ALVIM, N. A. T. Human relations in nursing care towards cancer
patients submitted to antineoplastic chemotherapy. Acta Paulista de Enfermagem, v. 21, p. 77-
83, 2008. ISSN 0103-2100.
36

FATORES AGRAVANTES PARA AS EXPECTATIVAS DE VIDA DA JUVENTUDE:


A CRISE ECONÔMICA DO BRASIL.

Edleide Santos Assis

RESUMO

Esta investigação trata sobre fatores que se tornaram verdadeiros entraves para a
juventude, isso se justifica porque, uma condição de vida digna é algo que o ser humano
almeja, mas, para isso acontecer de maneira plena, é necessário que os direitos fundamentais
para a vivência humana, sejam consistentes, pois, as leis que visam garantias de qualidade de
vida, na maioria das vezes, a teoria se sobrepõe à efetivação. Nesse sentido, se faz necessária
uma abordagem sobre as inquietações da juventude perante um cenário onde o turbilhão de
mudanças sociais e tecnológicas traz consequências insatisfatórias para a vida do jovem.
Diversos são os planejamentos feitos para a conquista de objetivos, mas, o contexto social em
que esse grupo se insere, traça barreiras, que acabam suprimindo esperanças no mercado de
trabalho, na sociabilidade, e, portanto, torna-se necessária a realização de análise apurada
sobre fatores agravantes que inviabilizam a atuação da juventude na sociedade
contemporânea.

Palavras-chave: Juventude, Expectativas de vida, Crise econômica.


37

INTRODUÇÃO

A juventude pode ser considerada um processo dinâmico, tanto em relação à fase de


vida do ser humano, como também nos meios onde esse se insere. Nesta análise a atenção é
voltada não apenas para faixa etária, mais também, para classe social, cultural e outros fatores
essenciais para a formação de identidade do jovem na sociedade.

Tendo em vista que juventude além de se caracterizar como um processo de transição


e formação de identidade social, as metodologias servirão de base para nortear esse
acompanhamento.

O problema verificado encontra-se na situação atual da questão e na indagação sobre


os fatores agravantes para as expectativas de vida do jovem em meio a um cenário de
instabilidade social.

A abordagem justifica-se pelo interesse em exteriorizar a realidade atual marcada por


dificuldades percebidas no processo de formação, socialização e transformação do ser
humano. Uma vez que, a juventude como processo dinâmico, vivencia necessidades e anseios
e quando as situações em agravo não são resolvidas de maneira adequada, gera consequências
negativas ao grupo, sendo necessário e importante pontuar os entraves que impossibilitam os
jovens de conquistarem objetivos em meio ao desequilíbrio social e econômico.

Os pressupostos levantados apontam para a importância de desenvolver metas e ações


a serem efetivadas, tendo como base as políticas públicas elaboradas pelos órgãos
responsáveis pelo acolhimento necessário a uma qualidade de vida que garanta oportunidades
igualitárias, e contemplem a juventude de forma geral, fomentando o espírito crítico por meio
da educação e oferecendo suporte para que o afeto e a compreensão familiar propiciem
segurança e experiência dos problemas sociais brasileiros.

A escolha da metodologia é importante para explicitar os instrumentos e


procedimentos que auxiliam o pesquisador, visando conciliar o pensamento e a prática
estruturada de dados referenciais bibliográficos, tendo em vista que, a abrangência do estudo,
é de acordo com a revisão de literatura, uma das características próprias das pesquisas nas
áreas humanísticas.
38

O tema é de importância social e educacional para organizar concepções que auxiliem


na compreensão da análise e direcione o pesquisador nas reflexões acerca da pesquisa.

O estudo descritivo é a abordagem de fatos cotidianos sem estarem isoladamente


configurados como aleatórios e sirvam de subsídios para registro, análise e interpretação de
fenômenos da atualidade. Portanto, a pesquisa descritiva reflete sobre o funcionamento de
ações reais que contribuem para o desenvolvimento cultural, político e educacional.

AS QUESTÕES JUVENIS DO SÉCULO XXI

Compreende-se que para se fizer uma análise sobre juventude diante da crise
econômica, deve-se primeiramente buscar informações, que sirvam de referência para essa
abordagem, nesse sentido é possível perceber que não é suficiente apenas saber que jovem é
um participante de grupo social, nem tampouco, definir crise econômica como um
determinado problema, pois, esses fatores trazem reflexões profundas sobre necessidades do
ser humano. Na concepção de Regina Novaes:

“A juventude é como um espelho retrovisor da sociedade”. Mais do que comparar


gerações é necessário comparar as sociedades que vivem os jovens de diferentes
gerações. Ou seja, em cada tempo e lugar, fatores históricos, estruturais e
conjunturais determinam as vulnerabilidades e as potencialidades das juventudes. Os
jovens do século XXI, que vivem em um mundo que conjuga um acelerado processo
de globalização e múltiplas desigualdades sociais, compartilham uma experiência
geracional historicamente inédita. '' (NOVAES: p.2)

Desse modo, a análise sobre juventude ressalta sobre características peculiares e


agrega o contexto em que ela está inserida, pois além de um segmento, o grupo representa
identidade social, isso pode ser justificado, porque, a faixa etária, a classe social, a cultura e
outros componentes, são fatores significativos para formar o ser humano, uma vez que,
transmitem percepções sobre realidades.

A faixa etária está constantemente vinculada na definição de juventude, pois, assim,


como criança, adolescente, adulto e idoso, são critérios que ajudam a definir participantes de
determinados grupos sociais, a idade é um fator de referência para se classificar o jovem,
nesse sentido Luís Antônio Groppo argumenta que:
39

Minha intenção é demonstrar que a categoria social juventude – assim como outras
categorias sociais baseadas nas faixas etárias – tem uma importância crucial para o
entendimento de diversas características das sociedades modernas, o funcionamento
delas e suas transformações.... (GROPPO, 2000, p.12)

O fator idade é essencial para perceber a juventude em um processo dinâmico, assim, a


fase considerada jovem é vista de forma transitória entre adolescência e a vida adulta, desse
modo, surge os questionamentos, desejos, angústias e as inseguranças, pois, tudo o que é novo
gera sensação de inquietação.

A Classe social é um componente que traduz a realidade do jovem e para essa


análise é essencial ressaltar sobre a juventude marcada por dificuldades, com menor poder
aquisitivo ou aquela que habita nas periferias vinda de famílias que vivem abaixo da linha de
pobreza,

A juventude é um segmento populacional e os jovens, como tais, se diferenciam


pela classe social a que pertencem. Assim, tanto suas necessidades, quanto as
respostas do Estado as suas demandas e as formas de intervenção juvenil nas
diversas esferas sociais podem ser relacionadas a esta
diferenciação.(CAVALCANTE, 2015, p. 2)

Percebe-se através da classe social que a realidade do público jovem é multifacetada


e as diferenças possibilitam compreender algumas necessidades desse público, sendo assim,
as barreiras arquitetônicas encontradas estão relacionadas às condições de vida, portanto, as
oportunidades que surgem não são suficientes para contemplar a juventude de forma geral.

A cultura é um diferencial na vida do jovem, pois, além de transmitir valores, crenças


e costumes é uma forma de expressão, desse modo, a realidade da juventude se apresenta de
forma evidente, cabe à sociedade interpretá-la como parte de um contexto que na maioria das
vezes é marcado por muitas dificuldades.

Sabemos que a cultura é um instrumento fundamental para a transformação social


dos jovens. Percebe-se que através da arte e do desenvolvimento profissional de
jovens empreendedores no campo da cultura, é possível não somente diminuir a
violência nas favelas e em outras áreas de vulnerabilidade social, como também
suprir carências no que tange aos direitos de todo cidadão. (QUIROGA, 2011)
40

A realidade da juventude está evidente, pois, os meios de comunicação enfatizam


muito sobre essa temática. Durante o cotidiano não é difícil presenciar, relatos de jovens
frustrados com a situação de vulnerabilidade social em que se encontra, consequentemente, a
Crise Econômica é um fator que potencializa dificuldades.

Crise econômica interferiu na vida do ser humano causando impactos inesperados e


deixa marcas profundas no contexto histórico social.

Nos períodos de crise econômica evidencia-se a vulnerabilidade das classes


trabalhadoras em relação à manutenção de direitos e possibilidades de luta, já que as
soluções encontradas pelas classes dominantes, pelo Estado e seu aparelho jurídico-
político, serão diferentes a cada recessão. A crise econômica do sistema capitalista
de 1929 (e a regulação necessária no período do pós-guerra), a crise de 1979 e a
mais recente de 2008 são momentos históricos significativos e em cada um desses
períodos a organização da classe trabalhadora e a reação do Estado apresentaram
peculiaridades, embora aspectos gerais semelhantes. (VIEIRA, 2017)

Para analisar as inquietações provocadas por meio do desequilíbrio social e econômico


é essencial compreender que não se trata de um fenômeno novo, mas de uma situação já
vivenciada em um determinado contexto, também gerando graves, transtornos, prejuízos e
decepções.

A juventude sofre intensamente os impactos da crise, pois, além de formar um público


que necessita ampliar o conhecimento através da educação, busca conquistar objetivos
financeiros por meio da atuação no mercado de trabalho e também visa desenvolver projetos
pessoais. De acordo com Paulo R. Haddad:

Historicamente, quando se observam crises econômicas e sociais de países da


América Latina, vemos que suas mazelas recaem mais pesadamente sobre os jovens.
Aqueles cujo ciclo de vida deveria contribuir mais para o desenvolvimento das
sociedades, não apenas com os ganhos de competência profissional que obtiveram
com uma educação avançada, mas também com a própria realização de seus projetos
de vida. É o que está ocorrendo atualmente com o Brasil, que atravessa um dos
períodos de maior decadência econômica, política e moral em sua história.
(HADDAD, 2017)
41

Não há dúvida que a instabilidade social gera de bloqueio de oportunidade para os


jovens, pois a falta de oportunidade, a falta de acolhimento e as dificuldades financeiras são
fatores agravantes para as expectativas de vida, (HADDAD, 2017), argumenta que:

Os analistas do mercado de trabalho apontam também que os trabalhadores mais


jovens sofrem particularmente os efeitos da crise de forma mais profunda por uma
dupla razão. São os primeiros a perder o emprego por causa do baixo custo de
demissão, de acordo com a legislação trabalhista prevalecente à época. E não
encontram maiores oportunidades nos mercados por falta de experiência
profissional. Os últimos dados estatísticos do Atlas da Violência apontam que, de
2005 a 2015, 318 mil jovens brasileiros foram assassinados, dos quais, em cada cem,
71 eram negros. Muitos na informalidade do trabalho, na pobreza das condições de
vida e no desalento das perspectivas do futuro.

A situação é muito complexa, pois não corta apenas os gastos financeiros, suprime
também o que o ser humano tem como motivação e objetivos, as suas aspirações.

Quando se trata sobre alguns jovens de famílias pobres e outros que vivem abaixo da
linha da pobreza, o problema se agrava muito mais, visto que, na maioria das vezes eles são
obrigados a ajudar na renda familiar, motivo que provoca tensão psicológica, desequilíbrio
emocional e baixa autoestima, pois, quando estudam, precisam abandonar a escola, quando
não encontram oportunidade no mercado de trabalho, e desejam adquirir bens materiais ou se
apresentarem melhor esteticamente, migra para mundo das drogas ou da criminalidade.

Fato ainda mais grave é que as crises econômicas atingem duplamente a população
jovem. Por um lado, afetam sua inserção no mercado de trabalho e,
consequentemente, comprometem a crença desses jovens no futuro. Por outro,
vulneráveis ao desemprego e sem perspectivas, tornam-se propensos a reagir com
violência à agressão social que julgam sofrer. Envoltos por uma nuvem carregada de
desesperança, passam a integrar um exército anônimo de criminosos de varejo, ora
exercendo o papel de algozes da sociedade, que paira inerte sob o misto de medo e
impotência, ora vítimas da própria guerra que fomentam. Em quaisquer dos casos,
todos perdemos como Nação. (O Estado de S. Paulo, 2016.)

Desse modo, as ações dos jovens são reflexos da falta de oportunidades somada às
várias dificuldades que eles se deparam, visto que, quando a luta por condição de vida melhor
não possibilita retorno satisfatório, pode resultar em frustração.
42

Outro fator agravante é a dependência tecnológica, apesar de a tecnologia ser é


essencial para a sociedade contemporânea, pois, é sinônimo de agilidade e eficiência. O
mundo virtual torna/se consequência danosa para alguns jovens que não conseguem
estabelecer limites no uso desse recurso.

A juventude deveria ser a mais capaz de compreender que as tecnologias atuais


criam todo um „universo cultural‟, assim como produzem definições de
personalidades. Ora, não há uma coisa como “o ser humano aqui e as tecnologias
lá”. As duas coisas estão juntas, como nunca antes. Assim que a Internet apareceu,
ela começou a redefinir as formas de pensar, memorizar, namorar, se expressar, de
educar… e até de cometer crimes. E se os jovens têm já algumas faces
profundamente “virtuais”, é porque ele aceita uma virtualização cada vez maior da
vida.. (GENARO, 2009)

A dependência tecnológica possivelmente é proveniente de alguma lacuna interna,


causada por decepção, frustração, insegurança, dentre outros fatores que quando não são
trabalhados de forma adequada, se transformam em bloqueio para o ser humano e
consequentemente o mundo virtual acaba sendo prioridade por não ter tantas dificuldades de
se estabelecer relações quanto no mundo real.

É necessário ressaltar que apesar das dificuldades que a juventude se depara, existem
políticas públicas direcionadas a esse público. De acordo com Murilo Ribeiro Silva:

Políticas Públicas de Juventude são ações do Governo como meio de solucionar


problemas inerentes à juventude. Promover saúde e educação de qualidade, gerar
empregos, fomentar a qualificação profissional, facilitar o acesso à cultura, esporte,
lazer e cidadania são tarefas que o Governo deve praticar para que seja eficiente a
promoção de Políticas Públicas de Juventude. (SILVA, 2016)

Desse modo, proporcionar o bem está social, além de ser essencial para a atuação do
jovem, é um direito que deve ser garantido para todo ser humano, mas, diante de uma situação
em que se adotam medidas para contenção de gastos públicos, o resultado será consequências
negativas para os grupos sociais menos favorecidos.

São as pressões sociais que fazem com que o Estado seja obrigado a criar medidas
pra responder e promover um bem estar social. Então, pôde-se pensar nas políticas
publicas nesse caso direcionadas a juventude, e uma forma do governo interagir com
toda a sociedade pra que juntos encontrem soluções eficazes para os problemas
43

cotidianos. O que não significa que seja a melhor estratégia, mesmo pensando em
políticas públicas e articulando junto à sociedade, nem sempre se podem prevenir
alguns fatores aquecedores. Na maioria das vezes contenções de verbas atrapalham a
articulação das ações políticas, nesse caso ações políticas para Juventude. (SILVA,
2016.)

As políticas públicas desenvolvidas não impossibilitam o surgimento de dificuldades


para os jovens, pois, são ações insuficientes para contemplar esse público de forma geral e nos
momentos de contenção de gastos públicos a situação torna/se muito mais complexa.

Tendo em vista que a abordagem feita está relacionada a situações práticas, é essencial
que as famílias, demonstrem além de afeto, apoio e compreensão, pois são alicerces essenciais
para ter equilíbrio psicológico em meio às dificuldades, visto que, o auxílio familiar pode
promover segurança e confiança em momentos de pressão social.

Carlos Alberto Menezes da Costa ressalta que: Família ajustada, sociedade ajustada,
família equilibrada, sociedade equilibrada, família responsável, sociedade responsável, afinal
de contas a família é a base nuclear da sociedade.

O estímulo para ultrapassar barreiras, deve partir do ambiente familiar, pois são por
meio da família que se compreende os primeiros conceitos para o convívio social, quando há
desajuste entre os membros que compõem a família, isso se reflete no comportamento e na
atuação desses.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se observar que a juventude é um grupo estruturado por características etárias,


sociais, culturais, dentre outras. Esses aspectos possibilitam a definição de um segmento
social, tendo em vista, as necessidades e anseios em meio a um cenário de instabilidades.

Juventude é sinônimo de dinamismo e está relacionada tanto a fase de vida do ser


humano, como também, na forma que esse se comporta diante dos entraves sociais, visto que
se trata de grupo social com características peculiares, cujo processo de formação revela
inquietação, insegurança e incerteza, fatores que quando não são trabalhados adequadamente
contribuem para consequências negativas refletidas no comportamento.
44

É perceptível que apesar de existir programas sociais para acolher o público jovem,
eles não são suficientes para contemplar o grupo na sua totalidade, pois, evasão escolar,
desemprego, criminalidade, dentre outros aspectos, são problemas sociais vivenciados por
parte da juventude, não como alternativas, porém, são fatores atraídos pela situação de
vulnerabilidade.

O apoio familiar é essencial na vida do ser humano, uma vez que a família é o
primeiro alicerce capaz de transmitir segurança e estabelecer limites, para que as exigências
sociais e os avanços tecnológicos, não proporcionem consequências indesejáveis, a exemplo
de graves problemas psicológicos.

São inúmeros os fatores que interferem nos planos da juventude e quando se trata de
crise econômica, o problema vai além, pois, a recessão atinge a todos, mas, o jovem está
propenso a sentir os efeitos, visto que, passa por um período de transição, vivencia conflitos
familiares, tenta adquirir as primeiras experiências, é incentivado tanto pela sociedade quanto
pela mídia que é necessário consumir, dentre outras situações. Sendo assim, é fundamental a
prática dos direitos sociais de forma integral e a intensificação de políticas públicas que
possibilitem condição de vida digna e acesso aos direitos básicos do cidadão, por meio do
bem estar social.

REFERÊNCIAS

CAVALCANTE, Itanamara Guedes. A participação social da juventude na sociedade


brasileira contemporânea. Anais da VII Jornada Internacional de Políticas Públicas: Para além
da crise global: experiências e antecipações concretas, São Luís 25 a 28 de agosto de 2015. –
São Luís: MA: Universidade Federal do Maranhão, Programa de Pós Graduação em Políticas
Públicas, 2015 Disponível em: http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2015/pdfs/eixo6/a-
paticipacao-social-da-juventude-na-sociedade-brasileira-contemporanea.pdf. Acesso em
06/06/2018.

COSTA, Carlos Alberto Menezes da. A importância da família para a sociedade. Disponível
em: https://www.canalr1.com/a-importancia-da-familia-para-a-sociedade/. Acesso em:
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GENARO, Ednei. Juventude e novas tecnologias. Disponível em:


https://maelstromlife.wordpress.com/2010/09/26/juventude-e-novas-tecnologias/. Acesso em:
17-07-2018.
45

GROPPO, Luís Antonio; Juventude: ensaios sobre sociologia e história das juventudes
modernas. Rio de Janeiro, Difel, 2000.

HADDAD, Paulo R. O desalento da juventude em países em crise econômica e social. O


tempo, 2017. Disponível em:

https://www.otempo.com.br/opinião/paulo-r-haddad/o-desalento-da-juventude-em-países-em-
crise-econômica-e-social-1.1523427 Acesso em:

11/ 07/2018.

O Estado de S.Paulo. Crise e criminalidade. Disponível em:


https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,crise-e-criminalidade,10000095353. Acesso em:
14/07/2018

SILVA, Murilo Ribeiro. Políticas públicas de juventude: medidas preventivas e medidas


punitivas. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIX, n. 150, jul. 2016. Disponível em:
http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.phpn_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=17491&revista_cader
no=12. Acesso em 10/07/2018.

NOVAES, Regina. Juventude e sociedade: jogos de espelhos sentimentos, percepções e


demandas por direitos e políticas públicas. Disponível em:
http://antropologia.com.br/arti/colab/a38-rnovaes.pdf. Acesso em 08-05-2018.

QUIROGA, Helder. Cultura e juventude. Carta Capital: 2011. Disponível em:


https://www.cartacapital.com.br/sociedade/cultura-e-juventude Acesso em 07/06/2018

VIEIRA, Andressa Brito. Crise do capital e lutas sociais no século XXI: ocupando as praças e
retomando as ruas. Anais da VIII Jornada Internacional de Políticas Públicas: 1917-2017: um
século de reforma e revolução, de 22 a 25 de agosto de 2017, São Luís, MA: Universidade
Federal do Maranhão, Programa de Pós Graduação em Políticas Públicas, 2017. Disponível
em:http://www.joinpp.ufma.br/jornadas/joinpp2017/pdfs/eixo3/crisedocapitalelutassociaisnos
eculoxxio cupandoaspracaseretomandoasruas.pdf. Acesso em 19/06/2018.
46

DEPRESSÃO E ANSIEDADE: JUVENTUDE DO SÉCULO XXI

Ana Lígia Silva Vieira dos Santos; Gabriella Souza Santos Félix; Gabrielli Santos; Aprille
D‟Emídio; Julyana da Silva Freire; Maria Vitória Araújo Santos.

RESUMO

Este estudo pretende repensar fatos e fenômenos contemporâneos que conduzem a


manifestação da depressão e ansiedade em jovens. O pressuposto inicial considerou que, no
limiar da atualidade, os casos de depressão, muitos deles desenvolvidos por causa da
ansiedade, têm aumentado gradativamente, especificamente nessa porção da sociedade. Para o
alcance dos objetivos previamente estabelecidos no estudo, foram realizadas vinte entrevistas
semiestruturadas com pessoas entre dezessete a vinte e sete anos que residem no sul da Bahia.
Os resultados da pesquisa revelaram que, além das questões características dessa fase, os
jovens têm sofrido muita pressão da sociedade, bem como de si mesmos deixando-os ansiosos
e sem muita perspectiva. Foi evidente também uma forte influência da tecnologia, uma vez
que a realidade virtual, por exemplo, mascara a vida real. Diante disso, inferimos que um dos
objetivos traçados pode contribuir para a diminuição dessas mazelas através da disseminação
de informações científicas que alertem sobre a problemática em questão, bem como
conscientize sobre a importância da família no processo de reconhecimento e tratamento
dessas patologias, quando tão logo percebidas. Assim, propor metas e ações que ajudem os
jovens a entender quais os efeitos devastadores da ansiedade e depressão pode ajudar no
diagnóstico precoce e no aumento das chances de sucesso no tratamento.

Palavras-chave: Depressão; ansiedade; juventude.

1. Acadêmicos do curso de Odontologia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia


(UESB).
47

INTRODUÇÃO

A depressão e a ansiedade têm causado vítimas cada vez mais jovens no século XXI,
despertando preocupação entre pesquisadores e estudiosos do mundo inteiro. Assim, este
estudo pretende repensar fatos e fenômenos contemporâneos que conduzem a manifestação
desses males em jovens que adentram a universidade.

A abordagem fundamenta-se pelo aumento do número de casos em discentes que


lidam ou convivem com os sintomas, afastando-se, na maioria das vezes, das atividades
acadêmicas. Assim sendo, torna-se necessário um diagnóstico que verifique quais os fatores
iniciais que influenciam estudantes dos cursos de graduação, jovens adultos entre 17 e 27
anos, a desenvolverem essas mazelas. Para tal, considerou-se que o aumento significativo do
acesso à informação, intrinsicamente relacionado ao excesso de tecnologia, têm provocado
incerteza quanto à capacidade de acompanhar as evoluções, tornando esses jovens
vulneráveis.

Outra hipótese analisada é a competitividade do mercado de trabalho em ritmo


frenético, que causa insegurança quanto ao futuro profissional. Um terceiro pressuposto
sugere ainda a falta de autodomínio físico e psíquico dos jovens quando a família está
desagregada, não se atentando as dificuldades de sociabilidade e desinteresse pelas atividades
cotidianas por ele manifestadas.

Dessa forma, com o intuito de acompanhar o percurso dos jovens discentes, inferimos
que um dos objetivos traçados pode contribuir para a diminuição dessas mazelas, através da
disseminação de informações científicas que alertem sobre a problemática em questão, bem
como conscientize sobre a importância da família no processo de reconhecimento e
tratamento dessas patologias, quando tão logo percebidas.

METODOLOGIA

A metodologia inicialmente utilizou a pesquisa bibliográfica para levantamento de


dados sobre a literatura atualizada sobre a relação entre depressão, ansiedade e juventude. Por
meio da biblioteca virtual Scientific Eletronic Library Online-Scielo, assuntos relevantes e
correlatos para a pesquisa foram priorizados no intuito de usar descritores como: história da
depressão, conceitos de depressão, tecnologia como um fator predisponente para a depressão
e ansiedade, tratamento para a depressão, família e depressão. Posteriormente, empregou-se a
técnica de entrevista semiestruturada, norteada por um roteiro contendo seis perguntas, que
48

obteve dados sócios demográficos para a caracterização dos indivíduos, bem como suas
manifestações sobre o tema abordado, conforme o Quadro 1.

QUADRO 1 – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Foram entrevistados vinte indivíduos de ambos os sexos, com faixa etária entre
dezessete e vinte e sete anos, residentes do sudoeste da Bahia. O número de participantes foi
escolhido de forma aleatória, sendo priorizados aqueles que já haviam concluído o ensino
médio ou estavam cursando a faculdade, devido uma maior proximidade com a problemática
em questão. O tempo de entrevista não foi pré-estabelecido, tendo uma média de quarenta e
cinco minutos por pessoa. Todas as entrevistas foram feitas somente após a apresentação da
temática com consentimento do participante, para tanto, obedecemos rigorosamente a
Resolução do Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, SISNEP N° 510/2016 que
normatiza as pesquisas com seres humanos nas áreas de ciências humanas e sociais, requer
princípios relativos ao campo pesquisado do conhecimento, procedimentos éticos,
metodológicos e sigilosos que exigem exatidão no diagnóstico dos fatos sociais.

Os dados coletados foram analisados levando-se em consideração a saturação das


informações e organizados nos seguintes subtemas: a tecnologia como fator predisponente
para o desencadeamento da depressão; a influência da família no desenvolvimento, percepção
e tratamento de transtornos depressivos; o jovem como reflexo de uma sociedade competitiva;
49

importância da intervenção terapêutica no auxílio da prevenção à depressão; associação entre


antidepressivos e psicoterapia no tratamento da depressão. Os dados referentes ao perfil dos
indivíduos foram tabulados.

Objetivando disseminar informações científicas para jovens e adultos com a finalidade


de alertá-los sobre a problemática em questão, conscientizando-os sobre o papel da família
para a prevenção e tratamento da depressão, e propor metas e ações como criar espaços de
discussões e diálogos que orientem sobre as causas, consequências e os efeitos da depressão, é
o intuito desse estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O levantamento de dados evidenciou o perfil de indivíduos conforme descritos na Tabela 1.

IDADE ESCOLARIDADE OCUPAÇÃO

V 17 19 20 21 22 23 24 26 27 EM ESI PG E O

Nº 1 1 3 7 3 1 2 1 1 8 11 1 19 1

% 5 5 15 35 15 5 10 5 5 40 55 5 95 5

TABELA 1 - CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA DE JOVENS POR IDADE, ESCOLARIDADE E


OCUPAÇÃO.V - Variáveis; % - Percentual das variáveis; N° - Número de indivíduos entrevistados para cada
variável; EM - Ensino médio; ESI - Ensino superior incompleto; PG - Pós-graduação; E – Estudante; O – Outros.

O estudo contou com a participação de estudantes, sendo que 40% deles já concluíram
o ensino médio, 55% estão cursando a graduação e 5% corresponde a outras atividades.
Quanto à faixa etária, houve uma variação entre 17 e 27 anos, sendo a predominância de
jovens com 21 anos, correspondendo a 35% do total.

A tecnologia como fator predisponente para o desencadeamento da depressão

A tecnologia revolucionou o meio social, visto que dissolveu as fronteiras da


comunicação e facilitou o acesso à informação. No entanto, ao passo que ela promove essa
dissolução, surgem outras barreiras resultantes do acesso facilitado ao meio tecnológico desde
a infância com efeito de overdose virtual na juventude. Isso caracteriza o uso de tecnologias
como um fator de forte influência para o isolamento social e surgimento de transtornos
depressivos entre os jovens no século XXI. (SILVA.2016).
50

Posto isso, é notório que, apesar dos benefícios de democratização da informação, a


tecnologia tem desenvolvido nos jovens a dependência tecnológica, principalmente quanto à
necessidade de estar constantemente conectado à internet, o que corrobora no sentimento de
ansiedade e, até mesmo, depressão na juventude (YOUNG; ABREU.2011). Além disso, o
meio tecnológico tem gerado alterações nas interações sociais, conflitos familiares e
isolamento social visto que os adolescentes e jovens estão trocando o convívio pessoal pelo
mundo virtual (LÉVY, 2009), fato que é refletido na superexposição nas redes sociais e
marcado pelo narcisismo (WOODWARD, 2012, p.21).

Quanto aos dados da pesquisa feita com a comunidade, constatou-se que 100% dos
entrevistados concordam que o excesso de tecnologia pode desencadear doenças. Além disso,
notou-se que as pessoas acreditam que o excesso de tecnologia pode estar relacionado não só
às doenças orgânicas como sedentarismo, mas também às doenças psicológicas como
distúrbios do sono, ansiedade e depressão.

A influência da família no desenvolvimento, percepção e tratamento de transtornos


depressivos.

A relação familiar baseia-se também numa relação de ajuda, no suprimento das


necessidades cotidianas, sejam elas financeiras afetivas ou de apoio. Auxiliando o filho na
adaptação ao cotidiano devido às alterações oriundas do transtorno mental. Os estudiosos da
Reforma Psiquiátrica atribuem à relação familiar um papel de destaque no processo de
socialização da pessoa com transtorno mental, pois é no relacionamento familiar que este
deve encontrar condições para desenvolver a capacidade de se relacionar socialmente, assim
como conviver com as mudanças do cotidiano, adaptando-se a elas com o apoio da família.
(ALMEIDA, 2002)

Quando um adolescente apresenta alguma perturbação, é provável que seus pais


também estejam apresentando dificuldades. O apanhado que eles fazem é, em geral, o
seguinte: os pais podem se sentir culpados e acusar-se mutuamente, ou podem ser hostis e
acusar o adolescente. Da mesma forma, o adolescente perturbado vê o seu passado através das
lentes escuras do seu distúrbio atual. Ao menos que disponhamos de outros dados, não
saberemos nunca saber como tudo começou. Os pais e o adolescente podem ter caído em uma
armadilha do destino: maus fatores hereditários, ambiente adverso, ou uma combinação de
ambos, que ninguém poderia vencer. (THOMAS, 1902)
51

A partir do levantamento de dados, foi corroborado o fato de a família ter papel


imprescindível na percepção e tratamento dos transtornos depressivos, tendo em vista que
100% dos entrevistados afirmaram que o conhecimento mais detalhado e menos subjetivo do
enfermo permite esse auxílio. Igualmente, as opiniões se tornaram diferentes quando foi
mencionado o fato da desagregação familiar estar relacionada com o desinteresse pela vida e
dificuldade de sociabilidade. Nessa análise, os entrevistados na sua maioria afirmaram que
conflitos nos lares refletiam no comportamento e possível desenvolvimento de depressão nos
adolescentes. Ademais, declararam que a idiossincrasia do jovem iria fazer com que existisse
uma relatividade da ingerência dos problemas em casa e a repercussão psicológica em suas
vidas.

O jovem como reflexo de uma sociedade competitiva

Na sociedade contemporânea, caracterizada pela aceleração, pela velocidade, pelo


consumo, pela satisfação imediata dos desejos, pela mudança das relações familiares e da
relação criança/adolescente/adulto, o processo de socialização é distinto daquele que ocorria
anteriormente. (SALLES, 2005). Nas condições do relacionamento social cotidiano, as
sociedades baseadas na produção e no consumo de massa estimulam uma atenção sem
precedentes nas imagens e impressões superficiais a ponto de que o Eu se torna quase
indistinguível de sua superfície (PALADINO, 2002).

Em uma época carregada de problemas, a vida cotidiana passa a ser um exercício de


sobrevivência. Vive-se um dia de cada vez. Raramente se olha para trás, por medo de
sucumbir a uma debilitante nostalgia; e quando se olha para frente, é para ver como se
garantir contra os desastres que todos aguardam. Em tais condições, a individualidade
transforma-se numa espécie de bem de luxo, fora de lugar em uma era de iminente
austeridade.

A individualidade supõe uma história pessoal, amigos, família, um sentido de situação


ocasional, o eu se contrai num núcleo defensivo, em guarda diante da adversidade. O
equilíbrio emocional exige um eu mínimo, não o eu soberano do passado. (…) a preocupação
com o indivíduo, tão característica de nossa época, assume a forma de uma preocupação com
a sobrevivência psíquica. Perdeu-se a confiança no futuro. (…) O risco de desintegração
individual estimula um sentido de individualidade que não é 'soberano' ou 'narcisista', mas
simplesmente sitiado (LASCH, 1986).
52

Encontrou-se na amostra geral unanimidade no que diz respeito à influência da


competitividade (característica da organização social em vigor) em casos de depressão e
ansiedade em jovens. Visto que, geralmente, as pessoas de 17 a 27 anos prestam vestibulares
ou terminam o ensino superior e entram na busca pelo primeiro emprego, o processo de
escolha do curso, adaptação à rotina nas universidades ou ao primeiro emprego, a pressão
social que sofrem e a possibilidade de insucesso e fracasso deixa esses indivíduos muito
ansiosos e suscetíveis à depressão.

Importância da intervenção terapêutica no auxílio da prevenção à depressão

Em primeiro plano, o papel do atendimento terapêutico é significativo para o


tratamento de doença depressiva, com variada complexidade etiologia e apresentação clínica.
Essa espécie de tratamento não busca apenas intervir na crise ou eventual urgência, mas
também visa o monitoramento da evolução clínica e o desempenho pragmático do paciente,
ou ainda contribuí no processo de reabilitação (ESTELLITA-LIS et. at., 2006).

Acredita-se que para um melhor prognóstico e um menor quadro de eventos auto


agressivos, alguns fatores são imprescindíveis: diagnóstico precoce, tratamento imediato,
suporte psicoterápico para familiares e pacientes, bem como intervenções do atendimento
terapêutico (PRESTON et. at., 2005). O atendimento clínico precoce e adequado atua como
fator protetor para transtornos mentais e o acompanhamento terapêutico está vinculado nesse
contexto de proteção auxiliando os profissionais envolvidos com o objetivo de prevenir um
possível comportamento suicida e a reabilitação psicossocial (ESTELLITA-LIS et. at., 2006).

Sob a perspectiva dos dados coletados nas entrevistas feitas com estudantes
universitários, jovens pré-vestibulandos e a comunidade sobre a questão do auxílio de
profissionais na prevenção à depressão, cerca de 90% dos entrevistados afirmam que a ajuda
de uma equipe multidisciplinar contribui para prevenção nos casos de depressão, sobretudo
sob uma intervenção precoce, resultando num tratamento mais adequado e eficaz para o
paciente.

Associação entre antidepressivos e psicoterapia no tratamento da depressão

O tratamento agudo de depressões moderadas e graves é efetivo com o uso de


antidepressivos, no entanto no caso de depressões leves, a utilização desses medicamentos
nada difere do placebo (FLECK et. at., 2003). Baseado numa evidência da literatura, os
53

antidepressivos são, de fato, eficazes, seja melhorando ou eliminando sintomas da depressão


aguda, moderada e grave (ANDERSON et. at., 2000).

Quando o paciente não responde ao tratamento com antidepressivos, outras estratégias


são utilizadas, como: aumento de dose; potencialização com lítio ou triiodotironina (T3);
associação de antidepressivos; troca de antidepressivos; ECT; e associação com psicoterapia
(FLECK et. at., 2003). Estudos comprovam que a medicação antidepressiva vinculada à
psicoterapia cognitiva ou interpessoal tem promovido melhores resultados em pacientes
resistentes que procuram serviços psiquiátricos (THASE, 1997; GUTHRIE et. at., 1999).

Na literatura, o modelo de planejamento predominante para o tratamento da depressão


consiste na fase aguda, de continuação e de manutenção (KUPFER, 1991). A fase aguda
corresponde aos dois e três primeiros meses e tem por objetivo diminuir os sintomas
depressivos. A fase de continuação inclui o quarto e o sexto mês em que a melhoria obtida é
mantida e se o paciente permanecer com a melhoria inicial, até o final dessa fase, é
considerado recuperado. A fase de manutenção tem por meta evitar que novos episódios
ocorram, sendo indicada para pacientes com maior vulnerabilidade à recorrência (FLECK et.
at., 2003).

De acordo com os levantamentos realizados sobre os possíveis tratamentos para


pacientes depressivos, cerca de 60% dos entrevistados corroboram que a ação de uma equipe
multidisciplinar, bem como a utilização de medicamentos associados a terapias contribuem
eficazmente para o tratamento desses pacientes. Por outro lado, aproximadamente 45% dos
entrevistados consideraram relevantes os papeis da família ou do governo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O interesse da pesquisa “Depressão e Ansiedade: Juventude no Século XXI” está


relacionado aos inúmeros casos de suicídios e transtornos cientes pelas componentes do
grupo, e a necessidade de reverter essa situação, ainda que a passos curtos. Por meio dos
expostos, é possível perceber que as pessoas consideram diferentes esferas de influência
negativa ou positiva para o desenvolvimento de comportamentos ansiosos e/ou depressivos.
Quanto ao primeiro fator, observa-se que o uso excessivo da tecnologia, bem como pré-
julgamentos da sociedade podem levar um indivíduo a transtornos de ansiedade e,
posteriormente, poderem resultar em um quadro de depressão.
54

Igualmente, caracterizam a família como uma das principais responsáveis pelo


diagnostico e/ou prevenção desse tipo de patologia, tendo em vista o seu conhecimento a
respeito da personalidade do enfermo. Diante disso, a disseminação de informações acerca da
problemática pode contribuir para a diminuição dos casos, bem como o diagnóstico precoce e
maiores chances de sucesso no tratamento.

REFERÊNCIAS

ANDERSON, Ian, et. at. Evidence-based guidelines for treating depressive disorders with
antidepressants: A revision of the 2000 British Association for Psychopharmacology
guidelines. 14 (1): 3-20, 2000.
ESTELLITA-LINS, Carlos; OLIVEIRA, Verônica Miranda de; COUTINHO, Maria Fernanda
Cruz. Acompanhamento terapêutico: intervenção sobre a depressão e o suicídio. Psyche (Sao
Paulo). Volume 10, n.18, pp. 151-166, 2006.
FLECK, Marcelo, et at. Diretrizes da Associação Médica Brasileira para o tratamento da
depressão. Rev Bras Psiquiatr. 25(2): 114-22, 2003.
GUTHRIE, Elspeth (et at). Cost-effectiveness of Brief Psychodynamic-Interpersonal Therapy
in High Utilizers of Psychiatric Services. Arch Gen Psychiatry. 56(6): 519-526, 1999.
KUPFER, D.J. Long-term treatment of depression. J Clin Psychiatry. 52 :28-34, 199.
LASCH, C. O mínimo eu. Ed. Brasiliense, SP, 1986, p. 9-10.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. (Trad. Carlos Irineu da Costa). São Paulo: Editora 34, 2009.
PALADINO, E. O Adolescente e o conflito de Gerações na sociedade Atual. In: Congresso
Nacional da APPOA. 2002, Porto Alegre. Anais do Congresso Nacional da APPOA, 2002. p.
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PRESTON, Emma, et. at. A systematic review of suicide rating Scales in Schizophrenia.
Crisis. XXVI (4): 170-180, 2005.
SALES, L. M. F. Infância e adolescência na sociedade contemporânea. 2005, Campinas.
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SILVA, Thayse de Oliveira. Os impactos sociais, cognitivos e afetivos sobre a geração de
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conclusão de curso –Bacharelado de Psicopedagogia do Centro de Educação da Universidade
Federal da Paraíba. João Pessoa, 2016.
THASE, Michael E. Psychotherapy of refractory depressions. Depression and Anxiety.
Volume 5 (4), 1997.
WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitua. In: Identidade
e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. SILVA, T. T. da (Org). 11 ed. Petrópolis:
Vozes, 2012.
YOUNG, K.S; ABREU, C.N. Dependência de internet: manual e guia de avaliação e
tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2011.
55

A INTERRUPÇÃO VOLUNTÁRIA ENTRE JOVENS ADULTAS NA GESTAÇÃO


INDESEJADA: UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE JEQUIÉ.

Caroline Santos Alves; Thainá Paraiso Pereira

RESUMO

O aborto é compreendido como a interrupção de qualquer ato. Na gravidez é tido como a


retirada do feto antes da 22ª à 28ª semana de gestação, podendo ser espontâneo ou induzido.
Composto por ideologias, onde a visão religiosa e moral tornam-se predominantes, uma vez
que a interrupção voluntária é considerada como ato ilegal e traz complicações para a saúde
da pública do Brasil, tendo em vista que a maioria das jovens utilizam métodos que fogem aos
procedimentos técnicos, são inadequados e têm causado índices elevados de mortalidade e
morbidade para a mulher.

Palavras-chave: aborto; ideologias; saúde.

Abstract:
Abortion is understood as the cessation of any act. In pregnancy it is taken as the withdrawal
of the fetus before the 22nd to the 28th week of gestation, and may be spontaneous or
induced. Composed of ideologies, where religious and moral vision becomes predominant, it
is considered an illegal act bringing complications to the public health of Brazil, since most of
the methods used are not safe, thus causing a high mortality and morbidity index for the
woman.

Keywords: abortion; ideologies; health.

*Acadêmica do Curso de Fisioterapia Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia


56

INTRODUÇÃO

O termo aborto é tido como a interrupção da gravidez antes de seu término normal, o
mesmo pode ser espontâneo, quando é de forma involuntária ou o induzido, que pode ocorrer
por intercessão cirúrgica e usos de medicamentos, tendo ou não expulsão do feto. O aborto
sempre foi empregado como método de controle da natalidade, onde mulheres nunca
deixaram de realizá-lo. (MILAGRES, 2011).
O aborto é um tema bastante discutido, onde se abordam pensamentos distintos
causando uma vasta repercussão entre grupos religiosos, movimentos feministas e ainda,
indivíduos que lutam pelo direito do próprio corpo (PINHO, 2009).
A prática do aborto voluntário no Brasil é tida como ilegal segundo os artigos 124, 125
e 126 do código penal brasileiro, podendo desencadear um grave problema de saúde pública.
Dessa forma, essa ação no país é correspondente a um crime, ao qual só poderá ser realizada
em casos em que a gestação apresenta risco de morte para a mulher em ocorrências de
estupro, ou ainda, com a decisão do Supremo Tribunal Federal, a antecipação terapêutica do
parto é autorizada nos casos de fetos anencefálicos. (Brasil, 1940; Brasil, 2013).
No entanto, mesmo com as regulamentações, estima-se a ocorrência de mais de um
milhão de abortos voluntários por ano no país, tornando-se preocupante o índice apresentado
e as condições onde a mulher foi submetida ao ato (Brasil, 2005). O risco imposto por essa
ilegalidade é visto mais comumente em mulheres pobres, pois as mesmas não têm acesso aos
recursos médicos por possuir baixo poder monetário.
A discussão sobre a legalização do aborto, ainda é ignorada por dois motivos: alto
índice de mortalidade materna e a forte influência religiosa, sobrepondo a Igreja Católica,
sobre as questões éticas e morais. Desta forma, a discussão se divide nesse âmbito, onde
aparentemente o direito da mulher decidir sobre seu próprio corpo não entra em questão
(PINHO, 2009).
Compreender esse assunto é de extrema importância, pois a partir disso há o
surgimento de possíveis soluções para o problema, onde demanda investimento em educação
e informação. Deve haver comprometimento constante do Estado, dos profissionais de saúde
e da sociedade, respeitando a democracia, a laicidade do Estado, a igualdade de gênero e a
dignidade da pessoa humana (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011).
Romio e colaboradores (2015) citam aspectos que caracterizam injustiças na questão
do aborto. A relação de gênero é um exemplo, onde se impõe uma responsabilidade apenas na
mulher como obrigação a assumir uma gestação indesejada, sendo punida aquela que a
57

interrompe, enquanto o progenitor masculino pouco é citado. Isto pelo fato de ainda existir
um pensamento antropológico dos papéis distintos e prestados ao homem e a mulher.
O presente estudo tem como objetivo proporcionar uma maior informatização sobre o
determinado tema, a fim de questionar o impacto que há na saúde pública do Brasil, bem
como abordar ideologias culturais, religiosas, morais e científicas sobre o assunto. Visa
também levantar possíveis intervenções, a fim de diminuir o índice da realização do aborto
induzido.

A OPÇÃO DA MULHER DIANTE DA GESTAÇÃO INDESEJADA

O aborto é uma manifestação desesperada das dificuldades da mulher para realizar


uma opção livre e consciente na procriação e uma forma traumática de controle de natalidade.
Mesmo numa consideração não religiosa, o aborto é um signo de uma rendição, numa
afirmação de liberdade (VIDAL, 2011).
De certa forma podemos dizer que trabalhar o binômio aborto e religião coloca de
imediato, questões conceituais e políticas. [...] O ideário católico sobre as mulheres continua a
diferir radicalmente daquele das feministas e entra em conflito com suas reivindicações,
invocando fundamentalmente seus direitos, relativos a todos os âmbitos de sua vida – privada
e pública. Enquanto o feminismo construiu um novo campo de legalidades, incluindo a
sexualidade e a reprodução entre os direitos humanos fundamentais das pessoas,
especialmente das mulheres, no campo católico, e em parte do campo protestante e
evangélico, as concepções tradicionais sobre sexo e sobre o agenciamento humano na
reprodução devem-se à inscrição dessas áreas da vida humana na „natureza‟, dada por Deus e
imutável (NUNES, 2009, p 208).
Em uma ampla visão, percebe-se que diversas são as opiniões que envolvem o tema.
Existem grandes divergências, tornando-se utopia um possível consentimento, visto que cada
indivíduo possui pontos de vistas discordantes. Há aqueles que defendem que a mulher tem
direito sobre o seu corpo, ou ainda que a concretização do aborto dependa de circunstâncias
como a gestante se encontra. Além daqueles que alegam ser contra o aborto em qualquer
situação, seja por uma ideologia religiosa, pessoal ou moral, constatando-se que há muito que
se discutir acerca do aborto.
A respeito da legalização do aborto no Brasil sabe-se que o mesmo só é permitido em
algumas situações já citadas. Especificamente sobre casos de violência contra a mulher,
Cavalcanti, Gomes e Minayo (2006) afirmam que a violência sexual contra as mulheres não
58

vem de um desejo sexual ou amoroso. Na verdade, é uma demonstração do poder que o


homem quer exercer sobre as mulheres, na subjugação de seu corpo ter se tornado objeto e de
sua autonomia como sujeito. Não é à toa que, historicamente, os estupros de mulheres têm
sido comuns em guerras como símbolo de conquista e da barbárie que circunda essa situação.
Como dito anteriormente, o Código Penal Brasileiro não pune a interrupção de uma
gestação decorrente do estupro. No entanto, até o final da década de 1980, esse permissivo
legal não havia sido utilizado nem regulamentado em qualquer nível governamental, no
sentido de incorporar a realização do aborto, nesses casos, como uma ação de saúde a ser
ofertada pelo Estado. (OLIVEIRA et al, 2009, p 159).
Essa omissão estaria relacionada a uma rejeição ao aborto, baseada em preceitos
morais e religiosos, tampando as vistas para a violência sexual e suas atribuições culturais,
que tendem a culpar a vítima ao invés do agressor, pela insinuação de que mulheres
„provocariam‟ os homens com sua beleza ou sensualidade, e que a sexualidade masculina
seria „incontrolável‟ (OLIVEIRA et al, 2009).
Atualmente, essa interpretação arcaica e injusta ainda predomina no Brasil, a qual
coloca a mulher como culpada de qualquer possível abuso oriundo da classe masculina. Dessa
forma as mulheres se sentem oprimidas e envergonhadas para denunciar a participação, direta
ou indiretamente, do progenitor. Assim, se torna papel individual e único da mulher se
responsabilizar pela sua gestação.
Outra injustiça vista no país está presente entre as mulheres com poderes econômicos
distintos. As mulheres que providas de recursos, têm a opção de abortarem com segurança,
podendo ser fora do país ou em clínicas clandestinas, enquanto aquelas que não têm condição
de financiar tal ato praticam abortos inseguros que podem até levá-las a morte (ROMIO, et al.
2015).
Romio (2015) afirma que, Conforme o Ministério da Saúde (Brasil, 2009), os resultados
das principais pesquisas sobre abortamento no Brasil evidenciam que a ilegalidade traz
implicações negativas para a saúde das mulheres, pouco reduz a prática e apenas mantém as
desigualdades sociais. Espera-se que a sociedade brasileira e o Poder Legislativo possam
refletir sobre a descriminalização do aborto no Brasil e entendam que a proibição não impede
que o mesmo seja realizado (SANTOS, et al. 2013).
A gestão municipal tem o dever de suprir as necessidades das mulheres que vão além da
gravidez e parto, prestando assistências através de ações relacionadas à saúde da mulher.
Porém, alguns municípios estão com dificuldade em promover ações que visem implantar e
programar estratégias, tais como o fornecimento de anticoncepcionais à comunidade ou
59

garantir o acompanhamento das mesmas, além de introduzir o enfoque educativo e


aconselhamento, permitindo uma escolha livre e informada (SANTOS, et al. 2013).
De acordo com Santos e colaboradores (2013), “O déficit de qualidade na assistência
prestada na atenção à saúde da mulher, especificamente relacionada à saúde sexual e
reprodutiva, somado ao discurso medicalizador e hospitalocêntrico, tornou o parto hospitalar e
cesariano, com vistas à esterilização, prática cultural corriqueira”. A carência de acesso a
atenção à saúde sexual e reprodutiva, relacionada à conscientização, ou até mesmo na oferta
efetiva de medicamento contraceptivo, tem como consequência o número cada vez mais
elevado de gravidez indesejada.
Sabe-se que para promover uma diminuição na gravidez indesejada e no aborto
voluntário, deve haver investimento, visando tanto na educação e informação, quanto nas
atitudes dos profissionais de saúde, comprometimento do estado, entre outros, não excluindo
alguns princípios básicos, como a democracia, igualdade de gênero e dignidade de pessoa
humana.

RESULTADOS E MÉTODOS

O presente estudo teve como intuito propor informações baseadas na atualidade, vindo a
promover dessa forma uma maior reflexão perante os contextos já apresentados, bem como
reunir diferentes visões acerca do tema aborto. Desse modo, foi realizado um questionário ao
qual constava de oito questões subjetivas e uma objetiva para um público de jovens adultos
divididos entre homens e mulheres com idade de 17 a 22 anos, e para tanto, obedecemos
rigorosamente a Resolução do Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde, SISNEP N°
510/2016 que normatiza as pesquisas com seres humanos nas áreas de ciências humanas e
sociais, requer princípios relativos ao campo pesquisado do conhecimento, procedimentos
éticos, metodológicos e sigilosos que exigem exatidão no diagnóstico dos fatos sociais.. As
mesmas possuíam estilos de vida e opiniões diferentes umas das outras. Percebe-se entre as
respostas coletadas opiniões equilibradas, para metade dos colaboradores o aborto deve ser
legalizado em todos os casos, e a outra parte equivalente respondeu que a legalização deveria
ocorrer apenas em situações adversas, quando a mulher deliberasse sobre seu corpo, mas, por
outra questão de legalidade elas estariam impedidas de tomar essa decisão.
Quanto ao impacto negativo gerado na saúde pública a maioria expressou a mesma
opinião, e explanaram sobre a necessidade de haver uma conscientização sobre o tema e
reivindicações ao governo de forma que o impedimento da realização do ato deveria estar
60

vinculado à equidade das mulheres. A disseminação da informação seria uma forma eficiente
de tratar do assunto suas sequelas e malefícios causados à saúde da mulher, reduzindo a
prática clandestina, além da necessidade de distribuição de métodos contraceptivos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como já dito, o aborto é um assunto que tem sido muito discutido, onde se abrange
diversas opiniões acerca do tema. Pode-se perceber que mesmo nos dias atuais, ainda não se
tem uma ideia definida de seu caráter. Uns afirmam estar correto à prática do ato, já que a
mulher é dona do seu corpo, enquanto outros julgam ser totalmente contra, baseando-se na
ética moral e religiosa.
A gravidez indesejada é o marco para a prática do aborto, podendo ser evitada através de
informação, utilização de métodos contraceptivos e consciência dos cônjuges. Porém, o que
pode se perceber é a carência dessa assistência prestada na atenção à saúde sexual e produtiva
da mulher, o que leva a um aumento dessa prática, onde mulheres com baixo nível de
escolaridade e baixa renda, entre outros motivos, procuram práticas clandestinas, resultando
em casos de morbidade grave e fatores associados, podendo levar a morte.
A criminalização do aborto fere os princípios femininos sobre o direito ao seu próprio
corpo, ao qual impede que a mulher tenha autonomia e escolha sobre o mesmo, decidindo se
quer ou não carregar um ser humano em seu ventre. Ao mesmo tempo em que se vê o aborto
de forma criminalizada, o ato não deve ser também descriminalizado, isto é, é fundamental
haver um consenso de quando a prática deve ser realizada, havendo um melhor apuramento
sobre as circunstâncias, pois a liberação do ato sem uma investigação pode permitir que a
mulher engravidasse e aborte quando desejar, tornando-se um grande caos.
É notório que uma concordância sobre o aborto requer mais discussão e disseminação de
informações. Sabe-se que uma ação multidisciplinar de profissionais da saúde pode implicar
numa redução na prática do aborto, já que essas mulheres teriam acesso a uma assistência
completa e possibilidade de utilizar recursos fornecidos pelos mesmos.
O presente estudo espera ter contemplado uma reflexão significativa acerca do tema
apresentado e sua consequência negativa em mulheres quando realizados em condições
inseguras. Espera-se que com este trabalho, promova discussões sobre sua legalidade, visto
que a proibição da prática não impede que seja realizada, sendo assim, a sociedade brasileira
61

deve entender tal fato e fornecer apoio para essas mulheres, visando uma redução no número
de mortalidade.

REFERÊNCIAS
AQUINO et al, Qualidade da atenção ao aborto no Sistema Único de Saúde do Nordeste
brasileiro: o que dizem as mulheres? Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n7/15.pdf>>. Acesso em 27 de março de 2017.
CHAVES, et al, Abortamento provocado e o uso de contraceptivos em adolescentes.
Disponível em: <http://files.bvs.br/upload/S/1679-1010/2010/v8n2/a002.pdf> Acesso em 28
de março de 2017.
MILAGRES, A legalização do aborto. Disponível em:
<http://www.unipac.br/site/bb/tcc/tcc-14010b3cddf4b48b31639d84b4da6bda.pdf>. Acesso
em 28 de março de 2017.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Atenção humanizada ao abortamento. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_humanizada_abortamento_norma_tecnic
a_2ed.pdf>. Acesso em 24 de março de 2017.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Atenção humanizada ao abortamento. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_humanizada.pdf>. Acesso em 28 de
março de 2017.
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 20 Anos de pesquisas sobre aborto no Brasil. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/livreto.pdf>. Acesso em 25 de março de 2017.
MORAIS, A legislação sobre o aborto e seu impacto na saúde da mulher. Disponível em:
<https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/131831/legisla%C3%A7%C3%A3o_a
borto_impacto.pdf?sequence=6>>. Acesso em 28 de março de 2017.
PINHO. Os debates sobre o aborto na mídia brasileira: dos enquadramentos midiáticos a
construção de uma democracia plural. Disponível em: <http://www.ces.uc.pt/e-
cadernos/media/ecadernos4/Azevedo%20Pinho. pdf> . Acesso em 10 de abril de 2017.
ROCHA, M. I. B. de, BARBOSA, R. M. Aborto no Brasil e países do Cone Sul - panorama da
situação e dos estudos acadêmicos. Disponível em: <
http://www.nepo.unicamp.br/publicacoes/livros/aborto/aborto.pdf>. Acesso em 16 de maio
de 2017.
ROMIO et al. Saúde mental das mulheres e aborto induzido no Brasil. Disponível em:
<http://revistas.pucsp.br/index.php/psicorevista/article/viewFile/24229/17439>. Acesso em 24
de março de 2017.
VIDAL, O aborto em seu aspecto social e sua possível descriminalização. Disponível em:
<http://www.unipac.br/site/bb/tcc/tcc-b206ce483b0c9e2ed0198b8bcf99dd37.pdf>. Acesso em
28 de março de 2017.
62

O TRATAMENTO CINESIOFUNCIONAL DE UMA PACIENTE COM


DESNUTRIÇÃO E ANEMIA FALCIFORME (AF) – UM ESTUDO DE CASO

Gilberto Alves Dias

1
Acadêmico de Fisioterapia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) / Campus de
Jequié. E-mail: gilbertoalvesdias2015@gmail.com

RESUMO

O diagnóstico cinesiológico funcional reflete a necessidade de uma Fisioterapia baseada em


evidências, na qual existe uma maior precisão diagnóstica e prognóstica, como também de
intervenção fisioterapêutica, propiciando um tratamento voltado a cada indivíduo e com a
máxima resolutividade (Klein, 2005). Nessa perspectiva, o fisioterapeuta deve compreender
as demais patologias do seu paciente como um todo, ou seja, entender como problemas
nutricionais e genéticos como a AF podem acometer o equilíbrio cinesiológico do mesmo.
Assim, esse estudo tem por objetivo descrever o tratamento fisioterapêutico de uma paciente
em uma fundação de idosos, com estado nutricional inferior, acometida e portadora de
Anemia Falciforme-AF. Para isso, foram feitas visitas à fundação, por acadêmicos do quarto
semestre do Curso de Fisioterapia de uma universidade do nordeste, no decorrer do semestre,
sob a orientação da professora da Disciplina de Cinesiopatologia. No percurso, notou-se que
a AF é um fator de comprometimento do tratamento fisioterapêutico e a desnutrição é
agravante para a atrofia muscular, responsável pelo desencadeamento de problemas
relacionados a questões motoras e respiratórias.

Palavras-chave: Tratamento Cinesiológico Funcional; Anemia Falciforme; Desnutrição;


Fisioterapia.
63

INTRODUÇÃO

O estado nutricional de pacientes influi em sua evolução clínica. A avaliação


nutricional é exigida como parte do cuidado integral do paciente, contudo muitas vezes é
descuidada. Não há um padrão para sua utilização nos centros hospitalares e setores
semelhantes. (Ravasco et al., 2002). Assim, a importância da nutrição, no paciente crítico,
fundamenta-se no conhecimento das consequências fisiológicas da desnutrição, como
possíveis alterações nas funções muscular, respiratória e cardíaca, no balanço da cascata de
coagulação, no balanço eletrolítico e hormonal, e na função renal.

Além disso, a nutrição afeta as respostas emocional e comportamental, a recuperação


funcional e o custo total do tratamento (Fontoura, 2006). Dessa forma, entende-se a
necessidade da análise do estado nutricional de cada paciente, para a que haja um melhor
planejamento do tratamento cinesiofuncional, esteja esse paciente em situação de desnutrição
ou obesidade.

A falta de uma alimentação rica em nutrientes gera uma cascata de problemas, dentre
eles a atrofia muscular. As disfunções metabólicas causadas pela falta de substâncias
presentes nos alimentos, leva à redução do tamanho das células e, por conseguinte, a redução
do tamanho dos músculos, órgãos, tendões e nervos, acarretando, logicamente, num baixo
peso corporal. Com a diminuição dos músculos o paciente tende a ficar acamado, e com isso
passa a perder grande parte dos seus movimentos.

Em casos graves, devido ao encurtamento tanto dos músculos como dos tendões, os
movimentos se tornam tão comprometidos, que se faz necessário no tratamento
fisioterapêutico o uso de manobras passivas, tendo em vista que o paciente necessita realizar
movimentos, pelos quais já não têm motricidade para realizá-los sozinho. Em alguns casos
ainda, a perca dos movimentos também pode estar ligada a atrofia dos nervos, tendo em vista
que com isso, os impulsos nervosos não chegam até os músculos, fazendo com que assim, o
paciente tenha tem uma perca dos movimentos por questões neurológicas. Todavia, é válido
ressaltar que o comprometimento dos movimentos pode estar ligado a todos esses fatores ao
mesmo tempo.
Além da desnutrição, outro fator que deve ser levado em conta, na decisão do tipo de
tratamento fisioterapêutico são as doenças genéticas, como por exemplo, a AF. A doença
64

falciforme diz respeito a grupo de hemoglobinopatias associadas à presença da hemoglobina


S. Sendo majoritária na população negra, e acometendo em sua maioria vulneráveis e
vulnerados, a forma homozigota da doença a anemia falciforme (Valêncio, 2016).
A AF autossômica recessiva é a doença hereditária monogênica mais comum do
Brasil, afetando, sobretudo a população afrodescendente, e está majoritariamente distribuída
nos estados do Norte e Nordeste (Simões, 2010; Frennet, 2007).

Essa distribuição populacional está associada à provável origem evolutiva da doença


no continente africano, onde a alta frequência da hemoglobina S é atribuída à vantagem
adaptativa do heterozigoto (Hb AS), na interação com o protozoário Plasmodium falciparum,
agente causador da malária (Rees, 2010). O grande fluxo migratório da população africana
para o Brasil, feito de maneira forçada no período da escravidão, tornou alta a frequência da
doença no território nacional (Valêncio, 2016).
Nessa perspectiva, a AF é mais uma barreira no tratamento fisioterapêutico. Devido à
problemática causada nas hemácias - glóbulos vermelhos do sangue, os quais têm em sua
composição uma proteína chamada hemoglobina, responsável pelo transporte de oxigênio dos
pulmões até os tecidos – a oxigenação do paciente se torna reduzida, fazendo com o que o
mesmo se canse rapidamente ao decorrer dos exercícios.
Assim, tendo em vista as questões aqui abordadas sobre a Desnutrição e a Anemia
Falciforme no contexto do tratamento cinesiofuncional, este artigo tem por objetivo contribuir
com a produção científica, por meio da descrição de um tratamento fisioterapêutico, o qual
visa à influência da Desnutrição e da Anemia Falciforme como impasses para o tratamento
dos problemas cinesiopatológicos de uma paciente.

METODOLOGIA
Foram feitas visitas a um abrigo de idosos, por alunos do quarto semestre do Curso de
Fisioterapia de uma universidade do nordeste, ao decorrer de um semestre. Apesar de o local
comportar pessoas de idade avançada, foi encontrada uma paciente com idade precoce,
portadora de Anemia Falciforme com um quadro de desnutrição avançado. Dessa forma,
acompanhou-se o desenvolvimento desta paciente em tratamento fisioterapêutico. Para tanto,
obedecemos rigorosamente a Resolução do Conselho Nacional de Saúde, Ministério da
Saúde, SISNEP N° 510/2016 que normatiza as pesquisas com seres humanos nas áreas de
ciências humanas e sociais, requer princípios relativos ao campo pesquisado do
65

conhecimento, procedimentos éticos, metodológicos e sigilosos que exigem exatidão no


diagnóstico dos fatos sociais.

RELATO DO CASO
Paciente, 43 anos, sexo feminino, residente em uma fundação de idosos, foi
encontrada em situação de vulnerabilidade pela Assistência Social do município. Segundo
dados do seu prontuário, a paciente estava em péssimas condições de higiene e desnutrida,
pesando. Ainda, seu prontuário relata que a mesma contém um filho – idade não declarada –
que ao ver sua mãe naquela situação, entrou para o mundo das drogas. Sobre o paradeiro do
seu filho, nada foi encontrado. Em conversas, durante os atendimentos, a paciente relatou ter
dois filhos, um de 12 anos e outro de 20 – fato divergente do que diz seu prontuário. Além
disso, foi diagnosticado em seus exames a AF.

DIAGNÓSTICO
Em nossa avaliação cinesiofuncioanal, diagnosticamos na paciente uma elevada atrofia
muscular, a qual comprometeu muitos movimentos da mesma. Assim, localizamos na perna
esquerda um elevado encurtamento de reto femoral, deixando-a semifletida e empedida de
fazer extensão. Ademais, diagnosticamos também uma crepitação na articulação
patelofemoral da mesma perna. Além disso, devido à atrofia e o tempo acamada, a paciente
apresenta o início de uma postura cifótica. Ainda, os extensores do pescoço encontravam-se
bastante comprometidos. Dessa forma, sempre que retirada do leito e colocada na cadeira de
rodas, a paciente ficava com o pescoço fletido. Em relação aos movimentos da mão, os dedos
tendem a ficar em adução, apresentando uma razoável dificuldade para realizarem abdução e
dificuldade nos movimentos de extensão e flexão. Ambas as mão apresentam desvio radial.
Ademais, a paciente apresentava um elevado quadro de encurtamento respiratório.

DISCUSSÃO
Durante o período de um mês e vinte seis dias acompanhamos a paciente, uma vez por
semana, em sessões que duravam por volta de 40 min. Entretanto, nesse período, devido
inconveniências, deixamos de atender a paciente durante uma semana. Dessa forma, um dos
atendimentos teve um espaço de 14 dias entre um e outro, e os demais um espaço de sete dias.
Na primeira sessão, encontramos a paciente em decúbito dorsal no leito. Assim,
fizemos nossa primeira avaliação e demos início ao tratamento. Tendo em vista que se tratava
de uma paciente com AF, desde o princípio buscamos nos atentar com o cansaço da mesma.
66

Dessa forma, buscamos avaliar também a pressão arterial da paciente antes e após os
exercícios. Nessa perspectiva, nos quesitos de tratamento, na primeira sessão, buscamos
trabalhar os movimentos de extensão/flexão do quadril e do joelho, de forma ativa, em ambas
as pernas. Foram feitas três sessões, de 10 repetições, com pausas de quase três minutos.
Além disso, foi trabalhada a extensão/flexão do cotovelo, em três séries de dez repetições,
também com pausas de quase três minutos entre uma e outra. Por fim, foi trabalhada a
extensão e flexão dos dedos, de forma lenta, até o ponto que a paciente aguentasse. Após os
exercícios, foi aferida a pressão arterial da paciente, notando-se que a pressão final manteve-
se no mesmo padrão que a inicial 100x70 mmHg. Todavia, ao final da sessão, a paciente se
demonstrou cansada.
Tendo em vista a necessidade de trabalhar um conjunto de regiões da paciente, e
percebendo que a mesma se cansava com facilidade, um novo plano teve que ser traçado.
Nesse viés, a situação passou a ser analisada da seguinte forma: de um lado, a necessidade de
melhorar a amplitude dos movimentos, comprometidos pela atrofia gerada pela desnutrição;
do outro, a dificuldade de trabalhar as diversas regiões problemáticas, devido o cansaço
gerado ao decorrer dos exercícios, por conta principalmente da falta de oxigenação no
organismo, causada pela AF.
Nas sessões seguintes, buscamos trabalhar a extensão/flexão do quadril e do joelho
utilizando dessa vez uma bola suíça, continuando o trabalho de três séries, porém com apenas
cinco repetições em cada uma, ou seja, reduzimos pela metade a quantidade de séries, e
preservamos o tempo de descanso de quase três minutos entre uma série e outra. Além disso,
para melhorar a respiração da paciente, entre uma série e outra, pedimos para que ela fizesse
uma inspiração profunda pelo nariz e expirasse pela boca. Entre uma série e outra de
extensão/flexão, realizávamos o processo de inspiração/expiração por três vezes. Ainda, para
potencializar o processo, exercíamos uma pressão abdominal para aumentar o nível de
expiração da paciente.
67

O processo de respiração resultou em uma melhora na postura da paciente, a qual


ainda ganhou uma maior expansibilidade pulmonar. Além dos exercícios para ganho de
amplitude nos movimentos das pernas, buscou-se também dar
continuidade aos exercícios de extensão e flexão do cotovelo,
porém, dessa vez, reduzindo o número de repetições e
aumentando a carga. Dessa forma, realizamos três séries, de
cinco repetições, utilizando halteres de 500g, com descanso de
quase três minutos entre uma série e outra. Nessa perspectiva,
entre uma série e outra, buscamos trabalhar também as séries de respiração.

Ademais, para aprimoramento do exercício de extensão/flexão dos dedos, utilizamos


bolas fisioterapêuticas pequenas do tipo lisa, e como critério de tempo pedimos que a paciente
fizesse os movimentos até o momento que aguentasse. No novo método de tratamento, foi
possível notar que a paciente conseguiu fazer todos os exercícios sem demonstrar cansaço e a
pressão arterial se manteve padrão, quando comparada no início e fim dos exercícios (100x70
mm Hg).
Com os avanços da paciente, buscamos retirá-la do decúbito dorsal e colocá-la sentada
em seu leito. Dessa forma, aproveitamos o ganho da mobilidade na articulação coxofemoral
ao decorrer do tratamento e a posição da perna semifletida para elaborar uma forma que a
paciente tivesse o maior poder de locomoção possível. Assim, pedimos que a mesma fizesse
uma flexão de quadril, junto com uma flexão de joelho em ambas as pernas. Em seguida, que
ele levasse a perna fletida para a lateral da cama. Por conseguinte, pedimos que ela erguesse o
seu tronco com o apoio dos braços e nossa ajuda. Dessa forma, conseguimos mantê-la sentada
no leito.
Após realizar a mobilização das patelas e colocar a paciente sentada, trabalhamos a
extensão de joelho em ambas as pernas, colocando uma meta com nossas mãos para a
paciente e pedindo que ela estendesse a perna até determinado local. Nesse sentido, foram
realizadas três séries de cinco repetições em cada perna, com revezamento entre uma perna e
outra, e aumento da meta inicial. Ademais, trabalhamos adução e abdução horizontal dos
ombros, acompanhada de extensão de cotovelo utilizando a bola suíça, em três séries de cinco
repetições, trabalhando a respiração entre as pausas. Por fim, foram feitos exercícios de
extensão/flexão dos dedos utilizando a bola fisioterapêutica pequena. Mais uma vez a pressão
da paciente se mostrou controlada do início ao fim.
68

Nas demais sessões, posicionamos a paciente na cadeira de rodas, possibilitando-a


fazer os exercícios fora de sua ala. Buscamos repetir os mesmos procedimentos, fazendo
incrementos nos exercícios de adução/abdução acompanhados de movimentos de
inspiração/expiração. Além disso, trabalhamos também a adução/abdução dos dedos. Ainda,
aplicamos exercícios de flexão lateral/extensão no pescoço da paciente, a fim de retirar o
mesmo da posição de flexão contínua. Até o fim das sessões, a pressão inicial e final da
paciente não mostrou nenhuma alteração significante.

CONCLUSÃO

A pouca oxigenação no sangue devido a AF é um impasse para o tratamento


cinesiofuncional devido o cansaço gerado nos pacientes ao longo dos exercícios. Dessa forma,
a quantidade de séries e repetições deve ser sempre analisadas. Além disso, a desnutrição atua
como fator crucial da atrofia muscular, prejudicando os movimentos e aumentando ainda mais
a fraqueza do paciente, gerando mais um fator de cansaço.
Na situação da paciente, como resultados positivos, tivemos a melhora da expansão
pulmonar, da postura, da mobilidade da articulação coxofemoral, do posicionamento do
pescoço e da mobilidade para a saída do leito. Todavia, poucos foram os avanços na extensão
da perna da paciente. Dessa forma, entende-se que é necessário um tratamento mais intenso,
ou seja, mais de uma vez por semana. Além disso, a paciente não mostrou ganho de massa
muscular. Assim, entende-se também que a mesma precisa de um acompanhamento
nutricional para uma alimentação específica e um tratamento fisioterapêutico mais duradouro.

REFERÊNCIAS

Fontoura, Carmen Sílvia Machado et al. Avaliação nutricional de paciente crítico. Revista
Brasileira de Terapia Intensiva, São Paulo, v. 18, n. 3, Jul./Set. 2006.
Frenette PS, Atweh GF. Sickle cell disease: old discoveries, new concepts, and future
promise. J Clin Invest. 2007;117(4):850-8.
Klein, Graziele Fátima. O diagnóstico cinesiológico funcional e o futuro da fisioterapia no
Brasil. Nova Fisio, Curitiba, 2005. Revista online.
Ravasco P, Camilo ME, Gouveia-Oliveira A, et al. A critical approach to nutritional
assessment in critically ill patients. Clin Nutr, 2002;21:73-77.
69

Rees DC, Williams TN, Gladwin MT. Sickle-cell disease. Lancet. 2010;376(9757):2018-31.
Simões BP, Pieroni F, Barros GMN, Machado CL, Cançado RD, Salvino MA et al. Consenso
brasileiro em transplante de células-tronco hematopoéticas: comitê de hemoglobinopatias.
Rev Bras Hematol Hemoter. 2010;32(Supl. 1):46-53.
Valêncio, Luis Felipe Siqueira; Domingos, Claudia Regina Bonini. O processo de
consetimento livre e esclarecido nas pesquisas em doença falciforme. Revista Bioética,
Brasília, v. 24, n. 3, p. 469-77, Set./Dez. 2016.
70

O INTERDITO CULTURAL DE PROFISSIONAIS DO SEXO FEMININO NA


FISIOTERAPIA DESPORTIVA: O MERCADO DE TRABALHO EM JEQUIÉ.

Ana Karolline Souza Vasconcelos.

RESUMO

Esta investigação trata sobre as perspectivas de atuação de mulheres na fisioterapia


desportiva, cujo mercado de trabalho tem sido dominado praticamente por profissionais do
sexo masculino no município de Jequié. O problema revelado pelas estatísticas aponta para a
quantidade de profissionais masculinos em clínicas e atendimentos locais, considerados como
consequência do imaginário coletivo respaldado pelo aspecto patriarcal que considerava a
mulher como sexo frágil e incapaz de atuar com igualdade em determinadas profissões. A
abordagem justifica-se pela necessidade de analisarmos as características da profissão, os
tipos de especialidades que tendem a utilizar a força física como atributo para procederem aos
tratamentos fisioterapêuticos. Os pressupostos indicam que as divergências sobre o tema têm
consequências desde o ingresso tardio de mulheres na atuação da fisioterapia desportiva no
mercado de trabalho, até o machismo cultural histórico, que considera a mulher como o sexo
sem aptidão para desenvolver trabalhos que exijam a força necessária. Considerando o fator
de segregação no mercado de trabalho, visivelmente observado, os mecanismos de superação
para transformar a força necessária em força impulsionada além de habilidades específicas
poderão ser discutidos e analisados como possibilidades a serem modificadas. Para atingirmos
as metas e ações propostas visamos entender os desafios encontrados por fisioterapeutas do
sexo feminino na área desportiva; Propor metas e ações de disseminação de informações para
as instituições ligadas a área com a finalidade de inculcar a sensação de pertença feminina na
fisioterapia desportiva, e construir novos paradigmas para as técnicas fisioterapêuticas que
desmistifiquem o uso da força necessária nas manobras que são tidas como masculinas,
incluindo a desportiva.

Palavras-chave: Fisioterapia desportiva, Interditos culturais-mulheres, Estatísticas


profissionais.
71

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa analisa a representação social da mulher fisioterapeuta diante da


concepção que determinadas profissões dispõem sobre a diferença entre os sexos, e propagam
uma suposta fragilidade feminina como justificativa para a força irrisória no momento de por
em prática manobras adequadas para o alívio e cura de males como profissionais da
fisioterapia.

A fisioterapia desportiva é uma especialidade que cuida de atletas que sofrem lesões
ou traumatismos, por causa das repetições exaustivas de movimentos, e é comum no que os
profissionais se especializem em determinadas modalidades como o atletismo, natação ou
ginástica artística. Possuem características próprias, pois esses acúmulos de movimentos
podem lesionar joelhos, quadris, sobrecarga nas costas, quadris e tornozelos, além de fraturas
distensões, câimbras e tendinites. O profissional trabalha para prevenir traumatismos,
ampliando o tempo de forma saudável para as pessoas que praticam determinado esporte.

A suposta restrição da mulher no espaço esportivo é caracterizada como objeto


cultural no momento de escolha pelo mercado de trabalho, e proveniente do processo de
colonialismo cultural que despreza as questões evolutivas e as significativas transformações
sociais que caracterizam o século XXI.

O estudo pretende mostrar como a questão da diferença sexual permeia as profissões


consideradas predominantemente para homens e aponta mecanismos de superação do
estereótipo no uso da força necessária em força impulsionada por habilidades específicas, cujo
efeito similar utilizados nos tratamentos convencionais praticados por profissional do sexo
masculino.

Tendo em vista que as circunstâncias operam com preconceitos e não com a realidade
sensível, essa realidade retarda o ingresso no mercado de trabalho das profissionais femininas
e não aceita a igualdade de direitos para o homem e para a mulher, quando as características a
serem observadas deveriam considerar a qualidade e o desenvolvimento satisfatório das
condutas.

Nesse contexto a diferença é um dos argumentos fundamentais em torno das


possibilidades de aprofundamento das características de atuação em profissões
72

contemporâneas, e as discussões direcionadas para resolver dilemas atuais revertidas de


tentativas de inclusão feminina.

Ultrapassando o âmbito do discurso normativo, a revisão de literatura, e


principalmente o conhecimento prévio sobre o tema obtido por meio de pesquisa
bibliográfica, e da aplicação de questionários que testam hipóteses, dialoga com as polêmicas
públicas que envolvem profissionais fisioterapeutas do sexo feminino.

O trabalho oportuniza um olhar diferenciado para os tratamentos, e propõe a


construção de novos paradigmas para o uso de métodos de força física diferenciada que
permita a interação complementar e alie a sensibilidade feminina ao campo da fisioterapia
desportiva, a fim de obter resultados que promovam a melhoria de qualidade de vida dos
pacientes e a igualdade de atuação dos sexos na profissão, e está baseado em pesquisa
bibliográfica, revisão de literatura atualizada, e aplicação de questionários pré-elaborados
aplicados a colaboradores que contribuíram significativamente com os resultados
preliminares.

Para tanto, obedecemos rigorosamente a Resolução do Conselho Nacional de Saúde,


Ministério da Saúde, SISNEP N° 510/2016 que normatiza as pesquisas com seres humanos
nas áreas de ciências humanas e sociais, requer princípios relativos ao campo pesquisado do
conhecimento, procedimentos éticos, metodológicos e sigilosos que exigem exatidão no
diagnóstico dos fatos sociais. Estudar a natureza da construção de novas identidades, práticas
e representações simbólicas, através da inserção de fragmentos de memória e suas
ressignificações, perpassados pelas esperanças, ressentimentos e aventuras, particularizados
pela história cultural.

A FRAGILIDADE FEMININA: O MITO CONSTRUÍDO

As representações sociais não são necessariamente conscientes. Podem até ser


elaboradas por ideólogos e filósofos de uma época, mas perpassam o conjunto da sociedade,
ou de determinado grupo social, como algo anterior e habitual, que se reproduz a partir das
estruturas e das próprias categorias de pensamento do coletivo ou dos grupos. (MINAYO
(1994: p109).
73

A discriminação é talvez seja o fator principal de segregação enfrentada pela mulher


no mundo do trabalho. Além de preconceitos relacionados ao gênero feminino, a cor negra,
acrescentam-se aspectos como origem, idade, orientação sexual, estado civil, gravidez, doença
e deficiência, que são concebidos sem fundamento, uma vez que a capacidade da profissional
pode ser revelada tão logo essas discriminações sejam combatidas.

Além disso, as mulheres são as vítimas mais recorrentes de assédios, morais,


psicológicos e sexuais, na maioria associados a ideias estereotipadas na sociedade e são
decorrentes da generalização apressada experiências pessoais ou frutos de intolerância e
xenofobia. Do preconceito derivam diversas práticas discriminatórias, decorrentes da
estigmatização do outro.

A DISCRIMINAÇÃO PROFISSIONAL COMO FATOR SEGREGACIONAL DA


MULHER

A igualdade de gêneros significa que homens e mulheres têm direitos e deveres,


embora, existem barreiras que apartam os sexos em situações do cotidiano, e disparam as
desigualdades, a exemplo da mulher ocupa as mesmas funções masculinas e os salários são
menores, cerca de 20%. Outro tipo de segregação a racial, objetiva isolar da sociedade
restringindo os espaços e ampliando as barreiras sociais que impedem a livre circulação
desses indivíduos.

A segregação racial ocorrido na África do Sul foi a Apartheid, que alijava os negros de
frequentarem ambiente onde as pessoas de pele branca frequentavam, mas o líder Nelson
Mandela lutou pela liberdade e foi vitorioso no seu intento, desobrigando as pessoas de cor
negra dos grilhões sociais carregados durante décadas.

Outra segregação ocorreu nos Estados Unidos, cujas leis perseguiam os


afrodescendentes inclusive dos direitos humanos até de sentarem nos fundos dos transportes
públicos e não podiam estar nos locais que os brancos frequentavam.

Coutinho, (2004) explica que a discriminação pode ser direta ou indireta: haverá
discriminação direta quando o tratamento desigual for explícito e fundado em critérios
proibidos pelo ordenamento jurídico, como sexo, cor, idade, origem e religião; será indireta a
74

discriminação quando o tratamento for formalmente igual, com práticas aparentemente


neutras, mas que resultam em excluir pessoas ou grupos sociais historicamente discriminados.

A construção do ser mulher no Brasil deveria converter o estereótipo atual da mulher


do lar, em mulher que desde a década de 1950, tem lutado bravamente para ocupar espaços,
numa construção social que adentra os espaços de trabalho, na indústria, no comércio, na
educação e outros, onde é possível perceber que, assim como a maternidade e o cuidado do
espaço doméstico, são locais místicos do ponto de vista social, as diferentes construções
sociais do sexo feminino têm demonstrado habilidades e aptidões que nada tem a diferenciar
da atuação do gênero masculino.

“É importante lembrar que, neste contexto, parte considerável da produção


desenvolve-se nos limites domésticos”, (IPEA, 2014, p.592) tendo em vista que a maior parte
das mulheres sempre trabalhou. Suas trajetórias no mundo do trabalho não se iniciaram no
pós-abolição, no pós-guerra ou nos anos 1970.

Os primeiros dados oficiais conhecidos apontam que, em 1872, elas representavam


45,5% da força de trabalho. Nesta época, de acordo com levantamento realizado por Brumer
(1988) e a partir do Censo Demográfico 1872, as mulheres estavam empregadas
predominantemente na agropecuária (35%), nos serviços domésticos em lar alheio (33%) ou
no serviço de costura por conta própria (20%). Após 1920, reduz-se drasticamente a
participação econômica ativa (IPEA) feminina.

Parafraseando Wilson, Pedro: (1997), que se refere aos direitos humanos como frutos
das lutas contínuas entre homens e mulheres presentes na história, cuja luta por liberdade,
igualdade e fraternidade entre as pessoas, grupos, etnias, culturas e sociedades enfrentaram e
continuam a enfrentar graves obstáculos políticos, sociais, econômicos e culturais. Sempre,
estaremos buscando satisfazer nossas necessidades e aspirações por uma vida digna, feliz e
realizadora que pressupõe: liberdade, vivência, trabalho, memória, solidariedade e
responsabilidades históricas e sociais.
75

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A construção do conceito de Direitos humanos diz respeito à reflexão sobre os


significados sociais atribuídos aos gêneros, nas profissões, pois se as pessoas têm
competências de assumirem os espaços universitários e se especializam nas profissões não
podem ser excluídas de exercer suas atividades por estereótipos criados por um passado
remoto.
As concepções e as dimensões a partir de formulações individuais, éticas, religiosas
políticas, jurídicas, econômicas, antropológicas, devem estar correlatas com as evoluções
sociais, culturais, humanas, e globais. Construir coletivamente articulações que definam as
dimensões e os modos de elaborar leituras globais e conceitos abrangentes deveria ser o
direcionamento contemporâneo. A relação entre a teoria e a compreensão da prática,
contribuirá significativamente para a construção de uma cultura dos Direitos Humanos, onde
homens e mulheres possam partilhar dos espaços de discussões e debates para a urbanidade
no mundo.

REFERÊNCIAS

COUTINHO, Maria Luiza Pinheiro. A saúde do trabalhador como fator de discriminação no


trabalho. Revista Justiça do Trabalho, nº 245, maio/2004. Disponível em:
http://www.amdjus.com.br/doutrina/trabalhista/104.htm

IPEA. Políticas sociais: acompanhamento e análise. Nº 22. IPEA: Brasília, 2014.

MINAYO, M.C.S. O conceito de Representações Sociais dentro da sociologia clássica. In:


Jovchelovitch, S. & Guaredchi, P. (org.) Textos em Representações sociais. Petrópolis:
Vozes, 1994.

WILSON, Pedro. Um breve olhar sobre a trajetória dos direitos humanos no Brasil no ano de
1996. Brasília: Câmara dos Deputados, 1987. p. 15-24.
76

GRUPO DE PESQUISA HISTÓRIA, SOCIEDADE E

ETNOCIÊNCIA – CNPq.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA

SALA CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO CAMPUS DE JEQUIÉ.

Anexo à Biblioteca Jorge Amado

Tel: 73 – 35289684
77

Artigos

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