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Doenças mitocondriais
Mitochondrial diseases
RESUMO
Nossa compreensão do papel do DNA mitocondrial (DNAmt) em certas doenças evoluiu rapidamente desde 1988, quando as primeiras mutações
no mtDNA foram descobertas, permitindo que muitas doenças fossem classificadas como distúrbios mitocondriais por causa de características
morfológicas ou bioquímicas anormais da mitocôndria ou por causa de um padrão de herança materna. Nos últimos cinco anos, observaram-se
avanços importantes em nossa compreensão de genética mitocondrial e como mutações do mtDNA causam doença. Entender estes processos é de
importância fundamental para o tratamento clínico de pacientes, junto com o aconselhamento genético e para desenvolver tratamentos novos. As
doenças mitocondriais com freqüência envolvem o sistema neuromuscular e produzem, dentre outras manifestações, encefalopatia, miopatia,
ataxia, degeneração da retina e perda de funcionalidade dos músculos oculares externos.
INTRODUÇÃO
Depois da descoberta, na década de 60, de que a mitocôndria continha seu próprio DNA (DNAmt), dois avanços principais se seguiram: a
seqüência de DNAmt humano foi publicada em 1981 e em 1988 foram relatadas as primeiras doenças relacionadas com mutações desse DNAmt.
Foram ainda identificados vários genes nucleares que são fundamentalmente importantes para a homeostase mitocondrial e, quando estes genes
são alterados, causam doenças mitocondriais herdadas de forma monogênica(1).
Todos os tecidos podem ser afetados por mutações no DNAmt, o que explica o fato das doenças mitocondriais serem multissistêmicas(2-4).
Aproximadamente 50% dos pacientes apresentam envolvimento neurológico(5). São muito comuns manifestações oftalmológicas, cardíacas,
endócrinas e renais(4-10) (Tabela 1).
As mitocôndrias estão intimamente envolvidas na homeostase celular. Elas executam um papel fundamental no metabolismo da energia celular,
produzindo ATP através da cadeia respiratória. A cadeia respiratória mitocondrial é um grupo de cinco complexos de enzima situado na membrana
interna mitocondrial, onde esses participam de vários processos e o processo global é chamado de fosforilação oxidativa (OXPHOS)(1,6,9,11).
O complexo OXPHOS é central para algumas das principais funções das mitocôndrias. A alteração dessas atividades, decorrentes de mutações no
DNAmt, provavelmente é subjacente à disfunção celular e à morte celular que ocorrem nas doenças de DNAmt.
Uma característica do OXPHOS é produzir energia para a célula. A redução de ATP caracteriza muitas doenças de DNAmt. Outra característica é a
geração de subprodutos de OXPHOS. O aumento desses subprodutos ocorre em alguns defeitos de OXPHOS, um fator que também contribui para
a morte celular. Terceiro, as mitocôndrias integram muitos sinais que iniciam a apoptose. Este processo usa alguns polipeptídeos de OXPHOS e as
mutações no DNAmt podem aumentar a predileção pela apoptose(2,5,9,12,13).
DNA MITOCONDRIAL
Além do genoma nuclear, cada célula humana típica contém milhares de cópias de DNA mitocondrial, que é uma pequena molécula (16.5-kb)
embalada em um cromossomo circular dentro da organela mitocondrial e não no núcleo. A molécula de DNAmt contém 37 genes, os quais todos
estão envolvidos na síntese de subunidades do complexo da cadeia respiratória. Treze genes codificam polipeptídeos que são componentes da
cadeia respiratória, permanecendo 25 genes que codificam 22 RNA transportadores (RNAt) e 2 RNA ribossômicos (RNAr), essenciais para síntese
de proteínas mitocondriais(2,4,8,9,12-14).
As mitocôndrias podem replicar, transcrever e traduzir o DNAmt delas independentemente do DNA nuclear. Porém, a função celular e a função
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mitocondrial são interdependentes(4).
Os genes nucleares também são importantes para manter o genoma mitocondrial, incluindo aqueles que codificam o DNAmt polimerase [gama]
(POLG1) e produtos que mantêm um equilíbrio apropriado de nucleotídeos livres dentro da mitocôndria (TP, TK, DGK, e ANT1). O DNA nuclear
também codifica fatores essenciais necessários para transcrição e tradução intramitocondrial, inclusive TFAM, TFBM1 e TFBM2. Uma alteração de
genes nuclear ou mitocondrial pode causar deficiência orgânica e, então, doença mitocondrial humana(1,9,15).
PROPRIEDADES DO DNAmt
O DNAmt tem propriedades incomuns que são importantes para nossa compreensão de doença mitocondrial causada por mutações do
DNAmt(1).
Para todas as mutações de DNAmt a expressão clínica depende dos fatores seguintes:
A porcentagem de DNAmt mutado pode variar amplamente entre pacientes diferentes, de órgão para órgão e até mesmo entre células do
mesmo indivíduo. Em estudos in vitro que usam células "transmitocondriais citoplásmicas híbridas (cybrid)", contendo quantidades
diferentes de DNAmt mutado, mostraram que a maioria das mutações de DNAmt é recessiva, ou seja, as células puderam tolerar alta
porcentagem de DNAmt mutado (tipicamente 70% a 90%) antes que eles desenvolvessem um defeito bioquímico na cadeia respiratória. O
limiar preciso para expressão bioquímica varia de mutação para mutação e de tecido para tecido. Estudos retrospectivos mostraram que o
nível de porcentagem de DNAmt mutado em alguns tecidos tem correlação com a gravidade da doença(1,2,8,9).
Herança materna
Embora tenha sido conhecido que o DNAmt é transmitido da mãe à descendência, os mecanismos estão sendo esclarecidos há pouco
tempo. Em contraste com a abundância de mitocôndrias em cada ovócito, os espermatozóides contêm poucas mitocôndrias e estas não
passam para a prole. Uma criança, portanto, herda todo o seu DNAmt da mãe e não do pai(1,9,12).
Um das características mais notáveis de doença mitocondrial causada por defeitos de DNAmt é a variabilidade clínica entre irmãos. O
nível de porcentagem de DNAmt transformado em tecidos individuais também pode mudar durante o desenvolvimento e ao longo da vida
do indivíduo, influenciando o fenótipo. Dois mecanismos contribuem para este processo: replicação relaxada e segregação mitótica(1,2,8).
Replicação relaxada
Enquanto o DNA nuclear só reproduz uma vez durante cada ciclo celular, o DNAmt é reciclado continuamente. Então, replicação de
DNAmt é independente do ciclo celular, ou seja, é relaxado. Em uma célula heteroplásmica é possível que DNAmt mutado e DNAmt
normal reproduzam taxas sutilmente diferentes porque um tipo foi selecionado por casualidade para destruição ou replicação ou por causa
de um efeito seletivo sutil em favor de um tipo particular. Teoricamente, este mecanismo poderia conduzir a mudanças na proporção de
DNAmt transformado que foi descrito em pacientes com doenças mitocondriais, provendo uma explicação para o início e a progressão de
alguns distúrbios de DNAmt(1,9).
A compreensão da bioquímica mitocondrial e da genética tem implicação importante para a investigação de doença mitocondrial. Em
pacientes com uma síndrome claramente definida pode ser possível confirmar o diagnóstico com um teste de genética molecular por meio
da extração de DNA do sangue ou músculo. A investigação dos pacientes é complexa e muitas doenças podem ser confundidas com
doenças mitocondriais. Muitos defeitos genéticos diferentes em DNA mitocondrial e DNA nuclear podem causar desordens neurológicas
semelhantes.
A heteroplasmia é o principal problema ao investigar doenças do DNAmt. Mutações do DNAmt podem não ser detectadas no sangue com
o uso de técnicas convencionais. Isso significa que um resultado de exame de sangue negativo não exclui o diagnóstico.
Se há suspeita de doença mitocondrial e o exame de sangue de DNA é negativo, o paciente deveria fazer uma biópsia de músculo
(normalmente a primeira escolha em adultos) ou uma biópsia de pele (normalmente a primeira escolha em crianças). Sedimento de urina e,
em menor grau, folículos de cabelo são fontes excelentes para teste não invasivo de DNAmt. Fazer um diagnóstico genético específico é
útil, pois permite o aconselhamento genético(1,9).
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O fenótipo de um indivíduo com uma mutação de DNAmt é o resultado de uma combinação de fatores como o tipo de mutação, a
porcentagem de mitocôndria mutante (carga mutacional) e os órgãos e tecidos nos quais eles são achados (distribuição no tecido).
Familiares herdam freqüentemente porcentagens diferentes de DNAmt mutante e, então, podem ter uma gama extensiva de sintomas
clínicos.
A interpretação dos resultados de testes de familiares assintomáticos com risco é extremamente difícil. Predição de fenótipo, idade de
início das manifestações clínicas, gravidade ou progressão, baseada em resultados de teste molecular, não é possível(9,17).
DOENÇAS MITOCONDRIAIS
As doenças mitocondriais são divididas em três grupos, o primeiro é o grupo das doenças de herança materna, geralmente heteroplásmica,
como MELA, MERRF, CPEO, LHON, NARP, SKS, Leigh, Pearson, Alpers (Tabela 2).
No segundo grupo os sinais e sintomas apresentados pelo afetado não caracterizam uma síndrome como as citadas anteriormente.
Geralmente há baixa estatura, surdez bilateral, oftalmoplegia, ptose ou história de enxaqueca e diabetes. A associação desses sinais e
sintomas à miopatia ou alterações do sistema nervoso são indicativos de mitocondriopatia.
O terceiro grupo é mais difícil de definir. Os sintomas são miocardiopatia hipertrófica, doença tubular renal, hipoparatireoidismo,
insuficiência adrenal de diabetes mellitus(11).
Manifestações adicionais incluem surdez neurossensorial, neuropatia periférica, demência, baixa estatura, intolerância ao exercício e
atrofia óptica. Os sinais clínicos menos comuns (<50% de pacientes) são cardiomiopatia, retinopatia pigmentar, sinais piramidais,
oftalmoparesia, lipomas múltiplos(8,9,18).
O limiar de vulnerabilidade de um tecido provavelmente não varia substancialmente entre indivíduos, mas carga mutacional variável e
distribuição no tecido podem responder pela diversidade clínica de pacientes com MERRF. A vulnerabilidade seletiva do núcleo dentado
do cerebelo e o núcleo de oliva da medula é inexplicada, bem como a patogênese do lipoma múltiplo associado com mutações no gene
tRNALys(18).
Em indivíduos que têm apenas poucos sintomas ou em parentes maternos assintomáticos a mutação pode ser indetectável em leucócitos e
só pode ser descoberta em outros tecidos como fibroblastos de cultura de pele, sedimento urinário, mucosa oral, folículo de cabelo ou
músculo-esquelético(9,18).
Três mutações no gene tRNALys do DNAmt são consideradas em aproximadamente 90% das mutações em pacientes com MERRF. A
mutação mais comum em MERRF, presente em 80% dos pacientes com achados típicos, é uma transição A-G no nucleotídeo 8344. Duas
mutações adicionais, T8356C e G8363A, estão presentes em 10% dos pacientes. Os 10% restantes provavelmente têm outras mutações no
gene tRNALys, inclusive a mutação de A8296G, deleções únicas de mtDNA ou a mutação de A3243G geralmente observadas em
MELAS(18).
A mutação mais comum em MELAS, presente em 80% dos pacientes com achados clínicos típicos, é uma transição A-G no nucleotídeo
3243 no gene mitocondrial MTTL1 que codifica RNAt Leu (UUR), primeiro descrito por Goto et al. (1990). Mutações de ponto e uma
deleção 4 bp em sete outros genes foram associados com a síndrome de MELAS. As mutações estão normalmente presentes em todos os
tecidos e podem ser detectadas em leucócitos de pacientes com MELAS típico, porém, a ocorrência de "heteroplasmia" em distúrbios de
DNAmt pode resultar em distribuição de DNAmt mutado em tecidos variados. Conseqüentemente, em indivíduos que têm um ou só alguns
sintomas consistente com MELAS ou parentes maternos assintomáticos, a mutação pode ser indetectável em leucócitos e só pode ser
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descoberta em outros tecidos como fibroblastos, folículos de cabelo, sedimento urinário ou músculo-esquelético(9,20,22).
Nos EUA a freqüência da mutação A3243G aproxima-se de 16.3 por 100.000. Na população adulta finlandesa a prevalência é cerca de
10,2 por 100.000 para a mutação A3243G. Esta prevalência, que é alta, sugere que distúrbios mitocondriais podem constituir uma das
maiores categorias de diagnóstico de doenças neurogenéticas em adultos. Nenhuma informação está disponível a respeito da freqüência da
mutação em outras populações, como no Brasil(9,23).
É importante notar que familiares com a mutação MTTL1 A3243G têm maior probabilidade de ter manifestações de não MELAS (como
diabetes e surdez) do que de MELAS. O fenótipo de um indivíduo com uma mutação do DNAmt é o resultado de uma combinação de
fatores como o tipo da mutação, a porcentagem de mitocôndria mutante e os órgãos e tecidos em que elas são encontradas. Os familiares
herdam freqüentemente porcentagens diferentes de DNAmt mutante e podem ter uma gama de sintomas clínicos. A interpretação dos
resultados de testes de familiares assintomáticos com risco é extremamente difícil (9,20).
O tratamento não é específico para MELAS. A administração de coenzima Q10 (50 a 100 mg três vezes por dia) e L-carnitina (1000 mg
três vezes por dia) foi de algum benefício para alguns pacientes. Dicloroacetato (DCA) reduz a lactose do sangue, ativando o complexo
desidrogenase piruvato. As convulsões respondem à terapia de anticonvulsivantes tradicional. O diabetes mellitus pode ser controlado com
mudanças na dieta, especialmente em indivíduos magros ou com agentes hipoglicemiantes orais, mas freqüentemente requer terapia com
insulina. A surdez sensorial pode ser tratada com implante coclear 20(20).
Outros sintomas são fraqueza muscular, diminuição crônica e progressiva do movimento dos olhos e ptose, disfagia, fraqueza muscular,
disfunção do SNC, ataxia, demência, encefalopatia, ou ambos, surdez, cegueira noturna, síncope e sintomas de deficiência orgânica
endócrina(12,26). Além disso, KSS pode incluir defeitos de condução cardíaca, ataxia cerebelar e elevados níveis de proteína (>100
mg/dL) no fluido cerebroespinhal(8,9,16,19).
KSS decorre de deleções no DNAmt, que causam um fenótipo particular. Em pacientes com KSS ocorrem deleções de DNAmt, das quais a
maioria é esporádica e se acredita que aconteçam como mutações de células germinativas ou muito precoces no desenvolvimento
embrionário. As deleções variam em tamanho (1.3-8 kb) e se posicionam dentro do genoma mitocondrial, porém o local mais comum está
entre as posições 8469 e 13147 no gene. Esta mutação de 4.9 kb responde por um terço de casos de KSS. São encontradas deleções em
todos os tecidos. Embora o tamanho da deleção varie, elas produzem um fenótipo semelhante.
Nem o tamanho nem o local da deleção sozinhos determinam o fenótipo clínico. O fenótipo parece ser determinado pela quantidade
relativa de deleções para DNAmt normal. É provável que níveis muito altos de deleções de DNAmt em todos os tecidos causem síndrome
de Pearson, na qual a característica dominante é pancitopenia. Níveis mais baixos de deleções de DNAmt causam KSS. Em CPEO só
podem ser diagnosticadas deleções do DNAmt em tecido muscular(24).
Lestienne and Ponsot (1988) descreveram uma deleção 5 kb no DNAmt do músculo de um paciente com síndrome de Kearns-Sayre. A
deleção só foi observada em mitocôndria de músculo e não no DNA de linfócitos ou fibroblastos. A deleção foi mapeada na região,
incluindo a seqüência de quatro subunidades do complexo I, duas subunidades do complexo IV e V e genes do RNAt(25).
KSS é uma doença rara. Há heterogeneidade e foram observados vários tipos de herança. Antes de 1992, já havia descrição de 226 casos na
literatura. O bloqueio cardíaco é uma causa significante e evitável de morte.
Não há terapia específica para KSS. No futuro, tratamento potencial em pacientes com KSS pode tentar inibir replicações de DNAmt
mutante ou estimular a replicação de DNAmt normal(12). A administração de coenzima Q10 (CoQ10) e suplementos de vitamina provou
benefícios em casos individuais, embora os efeitos sejam passageiros(24).
Síndrome de Leigh
Síndrome de Leigh é um distúrbio neurodegenerativo progressivo. O início dos sintomas pode ocorrer no período neonatal, mas a maioria
ocorre entre 3 e 12 meses de idade, seguido freqüentemente de uma infecção virótica, sendo que 75% dos pacientes morrem antes dos três
anos, freqüentemente devido a uma parada cardíaca ou respiratória. A descompensação (freqüentemente com acidose láctica) durante uma
doença intercorrente é tipicamente associada com retardo psicomotor. Um período de recuperação pode seguir à decompensação inicial,
mas o indivíduo raramente volta ao estado de desenvolvimento que apresentava antes da doença. Características neurológicas incluem
hipotonia, espasticidade, distonia, fraqueza muscular, hipo ou hiper-reflexia e crises convulsivas. Exames oftalmológicos incluem atrofia
óptica, retinite pigmentosa e distúrbios do movimento do olho. Outras manifestações incluem cardiomiopatia hipertrófica, hepatomegalia e
tubulopatia renal(8,9,27).
O diagnóstico laboratorial deve ser realizado a partir de exames de neuroimagem, nível sérico de ácido lático elevado, teste de genética
molecular para mutações de DNAmt comuns. Se nenhuma mutação de DNAmt for identificada, serão analisadas enzimas de cadeia
respiratórias em uma biópsia de músculo-esquelético. Estudos de enzimas em outros tecidos que incluem fibroblastos, leucócitos, fígado ou
músculo cardíaco podem ser executados em alguns centros.
Aproximadamente 10% a 20% dos pacientes com síndrome de Leigh têm a mutação T8993G ou T8993C no gene MTATP6, 10% a 20%
têm mutações em outros genes mitocondriais.
Os genes mitocondriais associados com essa síndrome são MTATP6, MTTL1, MTTK, MTND1, MTND3, MTND4, MTND5, MTND6,
MTCO3, MTTW e MTTV.
As mutações T8993G e T8993C mostram correlação de genótipo-fenótipo mais forte do que qualquer mutação de DNAmt. Uma
característica notável é que elas mostram uma variação tecido-dependente ou idade-dependente muito pequena na carga mutacional e tem
uma correlação forte entre carga mutante e gravidade da doença. A mutação T8993C é menos grave do que T8993G e virtualmente todos
indivíduos sintomáticos têm cargas mutantes maior do que 90% de T8993C. Indivíduos com carga mutacional de T8993G abaixo de 60%
são assintomáticos, têm retinopatia pigmentar moderada ou dores de cabeça. Correlações de genótipo-fenótipo são muito mais fracas para
outras mutações de DNAmt descobertas em casos sem conexão de síndrome de Leigh como A3243G em MTTL1, A8344G em MTTK,
T9176C em MTATP6, G14459A em MTND6, e G13513A em MTND5. A presença de quaisquer destas mutações em pacientes com
sintomas de síndrome de Leigh identifica a causa genética do distúrbio(27).
CPEO
Oftalmoplegia externa progressiva crônica (CPEO) é um distúrbio caracterizado por paralisia lentamente progressiva dos músculos extra-
oculares. Os pacientes normalmente têm ptose bilateral, simétrica, progressiva e seguida por oftalmoparesia. O início dos sintomas é antes
dos 20 anos de idade. Testes de biologia molecular (PCR) são utilizados para diagnóstico de certeza(16,30,26). A maioria das famílias com
CPEO têm mutações heterozigóticas em um dos três genes, o ANT1, codificando o nucleotídeo translocador mitocondrial adenina do
músculo cardíaco, o Twinkle, codificando uma helicase do DNAmt e POLG1, codificando a subunidade catalítica do DNAmt pol-[gamma]
(9,15).
NARP
Fraqueza muscular Neurogênica, Ataxia e Retinite Pigmentosa, descrita por Holt et al. (1990), é caracterizada por crises convulsivas,
dificuldades do aprendizado e demência. O início dos sintomas se dá na infância. As manifestações clínicas se iniciam freqüentemente em
associação com doenças viróticas. MTATP6 é o único gene relacionado com NARP. Uma mutação T-G (T8993G) é muito comum(8,9,27).
Síndrome de Pearson
É reconhecida como uma doença multissistêmica mitocondrial rara. Suas características são anemia sideroblástica refratária, pancitopenia,
fosforilação oxidativa defeituosa, insuficiência pancreática exócrina e insuficiência hepática, renal e endócrina. Deleções de certos
componentes da cadeia transportadora de elétrons, codificada por DNAmt, causam um defeito no metabolismo de energia oxidativa
celular(8,9,28).
Doença de Alpers
É caracterizada por uma tríade clínica de retardo psicomotor, epilepsia e insuficiência hepática na infância(8,9,29,30).
A compreensão da biologia básica de doença mitocondrial provê uma base para desenvolver tratamentos novos. Foram empregadas várias
estratégias para tentar corrigir o defeito genético subjacente. Isso poderia ser alcançado aumentando o número de DNAmt normal ou
removendo DNAmt mutado. Tratamentos farmacológicos foram usados com graus variados de sucesso, mas nenhuma melhoria clínica
consistente foi demonstrada.
No momento, o tratamento de doença mitocondrial é encorajador e aponta para a identificação, prevenção e tratamento das complicações,
porém nenhum tratamento para o defeito genético está atualmente disponível(1,9,18).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em nosso meio não temos dados epidemiológicos de doenças mitocondriais. É necessário que os especialistas conheçam os sinais e
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sintomas das doenças mitocondriais para que possam fazer o diagnóstico dessas doenças. O diagnóstico de uma doença mitocondrial deve
ser seguido do aconselhamento genético para que o indivíduo e sua família possam conhecer e compreender os fatos médicos a respeito da
doença, incluindo a prevenção de sintomas e de novos casos na família.
A avaliação clínica e laboratorial está indicada quando há casos esporádicos ou de heredograma com casos afetados provenientes de
linhagem materna com quadro neurológico complexo ou sintoma neurológico único associado a envolvimento sistêmico.
Na maioria dos casos está indicada a dosagem sérica e/ou liquórica de lactato, podendo ser necessária também a cromatografia de ácidos
orgânicos para diagnóstico diferencial. O estudo da biópsia muscular é importante, tanto bioquímico como histológico. O estudo da
mutação do DNAmt normal não exclui o diagnóstico de doença mitocondrial e só é realizado em poucos centros no país; no entanto, o
achado da alteração no DNAmt determina o diagnóstico de certeza do quadro clínico.
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