HEGEL, G. W. F. Political writings. Traduzido por H. B. Nisbet.
Editado por Laurence
Dickey; H. B. Nisbet. Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
General introduction (p. vii-xli)
Para Knox e Pelzynski, o Hegel de PR e PH é um Hegel metafísico. Em PR, o Estado moderno é descrito como uma teoria geral da vida ética. Em PH, essa vida ética responde a necessidades religiosas e políticas. Por outro lado, em seus escritos “menores” teríamos um Hegel pragmático e não metafísico. – viii – A presença coleção adota a visão oposta. Não é possível reabilitar o pensamento político de Hegel sem considerar seus aspectos metafísicos. A vida ética se funda numa certa metafísica e entende a esfera política como uma esfera de mediação entre universas e particulares. A vida ética é, também, uma forma de trazer os cidadãos de volta à vida pública e ao engajamento cívico. Entram na esfera política considerações religiosas e éticas. A discussão é sobre o movimento que essa vida ética promove. Para alguns liberais, ela é um instrumento ideológico (metafísico) que subordina os direitos individuais aos direitos superiores do Estado. Na verdade, ela é uma ferramenta ideológica que estende a cidadania da esfera privada para a esfera pública. Mais importante do que seu eventual caráter antiliberal é seu defesa fio “to that reactionary aliance of throne and altar that dominated Prussian public policy during the Restoration.” - ix
I. The European states in comparative political perspective
Em M, Hegel apoia uma visão que circulava na sua época. A publicidade como forma de reavivar a vida pública. Os cidadãos deveriam formar associações que operariam por fora das instituições políticas oficiais e também associações para participar do processo político-decisório. – xi – A inércia das instituições públicas cria a necessidade de se fomentar grupos extrapolíticos. Em GC, Hegel reitera essa importância da participação na vida pública. Não basta repetir ideias culturais abstratas ou ideias políticas utópicas. Não basta o exercício da liberdade civil ou medir uma suposta felicidade geral (teoria da felicidade - Glückseligkeitslehre). É necessário participar no exercício do poder. – xii – A Inglaterra seria o exemplo melhor acabado dessa liberdade. Enquanto o feudalismo francês teria degenerado em despotismo e, na Alemanha, “into na institutional system of controlled political anarchy”, na Inglaterra o feudalismo dera espaço a uma forma constitucional de governo. – xiii - Em GC, Hegel acusa a Revolução Francesa de ter apresentado apenas duas opções: tirania absoluta; ou liberdade absoluta. – xiv (...) Em ERB, Hegel destaca a necessidade de reformas pelo risco de se repetir a França revolucionária. Ao falhar em dar conta das necessidades (direitos materiais) dos cidadãos mais pobres, esses são jogados à “necessidade extrema” e, cedo ou tarde, buscarão meios não-políticos de alcançar justiça social por si mesmos clamando por princípios formais de igualdade abstrata. Nesse sentido, Hegel coloca uma linha de continuidade evolutiva entre: regime do laissez-faire da economia política liberal; regime intervencionista de um liberalismo modificado; e o regime ético-político do Sittlichkeit. O regime político da democracia revolucionária francesa seria um erro de trajeto entre os dois primeiros passos. - xviii II. Hegel as a philosopher of Sittlichket The origins of the Sittlichket in Hegel’s early writings A noção de Sittlichkeit já estava presente nos escritos teológicos de seu começo (1793-1800). Aqui vemos a religião cristão como uma potencial “folk religion”, entendida como um chamado para que os indivíduos assumam responsabilidade por agir eticamente no mundo. No começo dos 1800s, quando começa a lecionar em Jena, Hegel passa a dar uma centralidade formal ao conceito de Sittlichkeit, especialmente em NL, onde já antecipa alguns argumentos que serão mais bem desenvolvidos em PR. – xix Em NL, Hegel mostra um otimismo em relação ao espírito humano. O objetivo de sua filosofia seria acordar os seres humanos para o que lhes é imanente. Para organizar suas comunidades de acordo com sua substância imanente, cuja externalização é o Sittlichkeit: “subjective individuals have to realise themselves as ethical substance in the external world”. – xx – Essa visão tem duas consequências: os seres humanos apenas realizam sua natureza comunal quando se vêem como seres espirituais ao invés de seres naturais; Sittlichkeit é uma correção à Moralität kantiana, elevando e expandindo a consciência. - xxi
Sittlichket and Protestantism in the development of Hegel’s political thinking
Ao longo de sua obra, o protestantismo ganha crescente influência e o “princípio protestante” fica no centro da Sittlichkeit – é essencial para a liberdade moderna. Isso é especialmente verdade para seus escritos de Berlim (1818-31). Nesse sentido, PR pode ser lido como o começo de um projeto que tentar explicar as relações políticas entre protestantismo e Sittlichkeit em termos de filosofia da história. Protestantismo se torna uma ideologia política que serve à Sittlichkeit e ela se torna uma agente da realização religiosa do primeiro. – xxii – Isso vai junto de uma passagem da Filosofia da França para a Alemanha. – xxiii – Uma passagem a torna a educação menos “católica” (hierárquica e fechada) e mais “protestante” (aberta ao leigo e ao pensamento crítico, essencial às ciências). – xxiv A realização do Sittlichkeit é um produto da ação do protestantismo, tornando todos mais livres, como cidadãos e como cristãos. Como realizar a liberdade é o plano de Deus para a salvação da humanidade, é o Estado, e não a sociedade, o espaço de desenvolvimento da vida ética, o espaço de realização da essência divina no mundo moderno. – xxvi – A linha narrativa usual, não a de Hegel, é que teríamos três momentos: Lutero e a doutrina do individualismo religioso; o Iluminismo a moldaria em uma filosofia do pensamento crítico e autonomia moral; e culminaria no individualismo política da Revolução Francesa. Hegel discorda, pois 1789 não seria a realização da liberdade protestante, não seria uma segunda Reforma. - xxvii
Sittlichkeit and the critique of civil society
Em NL, Hegel quer repolitizar a burguesia, ou seja, convencer seus membros da importância de desenvolver a parte política da sua natureza. As noções de cidadania e pertencimento a uma comunidade política seriam aspirações a almejar. Sittlichkeit se torna um ideal politico e ético-religioso. – xxix – Em NL, Sittlichkeit aparece como uma alternativa ao modo como se organiza a esfera civil, marcada por indivíduos atomizados e despolitizados. Ele, ao mesmo tempo, expande os limites da esfera política para alcançar a economia (valorizando o liberalismo econômico) e expande a economia para alcançar a política (registrando seu descontentamento com o liberalismo e o liberalismo econômico). - xxx
The dialectic of Sittlichkeit and Hegel’s myth of the state
(…)
Sittlichket and Hegel’s concept of political association