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Presente e Futuro.
Mediadora: José Renato Carvalho Jornalista Vera Magalhaes
José Renato Carvalho: O objetivo deste painel é discutir os caminhos recentemente
tomados pela diplomacia brasileira e quais as melhores estratégias em um contexto global cada vez
mais complexo?.
Pergunta Contextualizadora: Considerações Iniciais: Qual a impressão do mundo a
respeito do Brasil a partir dos impactos causados pelo Governo Bolsonaro? Como veem o papel do
brasil no mundo e a imagem do brasil no exterior hoje?
Alosio Nunes: (05:07) A atual politica externa não serve ao Brasil, pelo contrario ela
desserve ao Brasil, a sua projeçao no mundo e a sua busca permanente pela satisfaçao dos interesses
nacionais que é uma das caracteristicas históricas da política externa brasileira. Uma boa política
externa precisa considerar a existencia de fatores antecedentes à própria política externa, a partir de
linhas de continuidade que definem um perfil diplomático ao pais, conferindo-lhe credibilidade,
previsibilidade nas relaçoes políticas que se travam com os demais países do mundo, permitindo a
construção de uma memória histórica-institucional. Ademais, de adotar posturas realistas,
considerando apenas a realidade dos fatos, baseando-se na objetividade para a tomada de decisoes, é
dizer, deve-se considerar objetivamente os interesses envolvidos a partir da arte da política.,
levando em consideração o pragmatíismo, ou seja, a capacidade de juntar valores, princípios à
satisfação dos interesses permanentes do pais. Para ser frútifera, uma política externa deve buscar
reunir internamente o consenso mais amplo possível, devendo ser eficaz quando for capaz de juntar
interesses diversos na construção coletiva de temas universais.
Apresenta sua crítica ao atual governo e sua política externa vinculada a estes dois
fatores, caracterizando a primeira crítica:o atual governo não considera a construção histórica da
política externa compreendendo-a superficialmente e a segunda crítica: o autal governo substituiu a
tomada de decisões realistas objetivamente consideradas pela perseguiçao de quimeras. O que se vê
é um alinhamento infantil e primário (não com os EUA, e sim) com o Governo Donald Trump que
tem sido norteador de uma sério de atos que vão compondo um desprestígio crescente do país
representando o rompimento com uma cultura de tradições, princípios e ações que caracterizaram o
Brasil e fizeram o Brasil ser valorizado e reconhecido no mundo, tendo como fator principal a
decorrente consequencia das ações personalistas, populistas e patrimonialistas do presidente da
República, transformando o exercício do governo em uma continuidade da campanha eleitoral
caracterizada pela prática do confronto levando ao desenvolvimento de uma política de combate
que nada constroi interna ou externamente, entrincheirado em militancia virtual agressiva e
violenta. Ressalta, que os impactos negativos destas políticas não são maiores ante a existencia de
um corpo diplomático técnico e competente que é capaz de trabalhar com redução de danos
causados pelo governo na imagem junto ao exterior, implicando em uma política externa de
confronto com avanços e recuos que carece de uma estratégia coerente e pensada que acabam mais
prejudicando os interesses nacionais.
Celso Amorim: (11:49): A política externa permite uma compreensão diversa a
partir de vários aspectos sobre um mesmo problema, mas esta discussão parte de pressupostos de
discurso racional com o qual se é possível debater. Hoje há uma total ausencia de razão no
Itamaraty, que não se compara a nenhum de seus períodos históricos, o que se apresenta é um
ataque a razão, ao destruir a reputação a coerencia histórica do Brasil. Há confusões primárias sobre
conceitos e atores, entre instituições e posições, levando a vergonhas constantes no cenário
internacional. Destaca-se o não patrocinio induzido pelos EUA à resolução mexicana vinculada à
area da saúde, visto a opção da OMS como alvo da política verborrágica do Donald Trump. Há um
forte ataque a reputação brasileira. Deve-se notar, que apesar de diferenças pontuais entre os
governos, há uma certa linha de continuidade na construção da política externa brasileira, ainda que
houvesse iniciativas e enfoques diferentes (A Declaração de Doha sobre propriedade intelectual em
saude, até hoje é vista como um ganho para o mundo em desenvolvimento para quebrar patentes,
em função da política interna adotada a partir dos genéricos). A vergonha das consequencias do
Governo Bolsonaro superará o governo e influenciará a imagem do Brasil por meios anos.
Celso Laffer: (16:54): O painel reune pessoas que possuem um fundo comum de
preocupação com os rumos da diplomacia brasileira e tambem com a dimensão da racionalidade
com a qual a PE deve ser conduzida. A diplomacia e a condução da política externa não só na
prática, mas tambem constituiconalmente é uma tarefa que cabe ao presidente da república,
auxiliado pelos seus ministros. Cada presidente tem a estratégia de sua personalidade, e sem duvida
atual política externa é uma expressão da estratégia pessoal do presidente Bolsonaro, sua estratégia
é o confronto que sempre o caracterizou desde a sua vida militar, sua presença no parlamento e sua
campanha e a maneira de condução com a polarização política e a identificação de inimigos; o
confronto é a estrátegia de governo, política e pessoal compondo a sua maneira de ser. A PE é a
expressão de uma estratégia de confronto, isto implica no porquê de sua operação em base de
diplomacia de combate fruto de uma visão do mundo em desconexão com a realidade em
detrimento de uma estratégia diplomatica de cooperação. A diplomacia brasileira vem sendo
construida a partir de um processo de erros e aproximações, mas em seu conjunto representa um
ativo do país. Rubens Ricupero demonstra ser muito mais que uma história diplomatica, uma
analise do papel da diplomacia na construção do Brasil. O conselho do imperio definia a politica
brasileira como sendo uma diplomacia inteligente sem vaidade, franca sem discrição e energica sem
arrogancia. Essa tradição diplomatica está corporificada nos principios constitucionais que regem as
relações internacionais no brasil, corporificando a linha da tradição expondo uma importente e
legítima preocupação com a independencia nacional e estando aberta com a cooperação com o
mundo, expresso no seu princípio de cooperação com os povos para o progresso da humanidade,
esta cooperação deve ser feita a partir do relacionamento direto com outros países e com a
participação em Organizações Internacionais e Organismos Multilaterais, a exemplo e dentro outras,
a Organização Mundial da Saúde (OMS) que tem tido um importante papel na lida mundial deste
problema compartilhado que é a pandemia. Neste contexto, o que deve ser feito é se minar toda e
qualquer diplomacia de combate, pois esta não tem nenhuma relaçao com a realidade, e como
consequencia o que tem acontecido é levar o Brasil a um isolamento em relação ao mundo, alianças
que não são do interesse, levando ao isolamento na própria regiao em especial a America do Sul e a
America Latina que é fundamental para a nossa projeção no mundo. O soft-power da presença do
Brasil no mundo que é fruto de sua capacidade de diálogo e interação com diferentes posições esta
sendo efetivamente dilapidado pelo atual governo. A politica externa tem sua função como política
pública em traduzir as necessidades internas em possibilidades externas, o que se esta agora
acontecendo é intransitiva capacidade de afirmar construtivamente a presença do Brasil no mundo
de acordo com suas necessidades e seus interesses.
Hussein Kalout: (23:17): Apesar de eventuais dissonancias de visões, convergencias
e divergencias de opiniões que caracterizam o debate democrático, há pressupostos racionais de
união como a defesa do Estado Democrático de Direito, a liberdade de expressão, o interesse
nacional brasileiro e os tramites e tradições (canones e doutrinas) nos quais a política externa
bicentenária do brasil foi construida. A política externa é uma construção histórica, não é
autocentrada com inicio e fim nela mesma.
Critica a atual política externa ao identificar que está abrindo mão dos tabuleiros de
política internacional que o Brasil dominava, em algumas áreas como a ambiental com maestria,
com capacidade de moldar a realidade internacional, sendo um ator influente que possa moldar o
processo decisório. Optou-se pela criação de novos tabuleiros, absolutamente incertos, inexistentes,
não sabendo a dimensão de jogo que o país possa jogar ou ter determinada importância. Neste
processo o que esta se fazendo é a destruição dos canones da política externa de dois séculos, uma
tentativa de destruir uma doutrina e formar uma nova sob um novo corolário sob o trinômino de
liberdade, democracia e nacionalismo. É falso as premissas, pois todas as políticas externas
anteriores se ativeram a estes princípios, tanto em seu processo de formulação como em seu
processo de execução.
Portanto, o que vemos hoje, é a ausencia de estratégia. Toda estratégia de política
externa apresenta três componentes fundamentais: pragmatismo, realismo e defesa do interesse
nacional. Nenhuma das ações diplomáticas do atual governo obedecem a estes três critérios. O que
temos na verdade são movimentos táticos conjunturais que somados não se configuram, e não
compõe a cultura de uma estratégia integrada, coesa, com alguma linearidade e sobretudo nos
coloca em uma posição extremamente vulnerável nas relações internacionais.
O Brasil devido a seu tamanho e sua importância regional, não pode servir como uma
engrenagem na política externa de outros países. Ainda no regime militar, ou mesmo nos períodos
anteriores da República ou do Império, a política externa brasileira sempre primou por ser
autonoma e independente em seu processo decisório, ainda que nos governos Castello Branco e
Dutra pudesse ter havido um alinhamento automático não no sentido de orientar o processo decisóro
a partir de Washington, caracterizando um grave problema da política externa atual. Quanto a sua
importância regional, o país levou quase duzentos anos para construir e projetar nosso poder
desenvolvendo a região, colocando de forma suave e sutil a nossa liderança. Atualmente, em análise
do compasso sul-americano, o país não sabe como quer desenvolver a região, não tem um projeto
de liderança para a região e não apresenta qualquer outro projeto de oferecimento de alternativas de
construção dinâmica e de desenvolvimento para seus vizinhos.
Há uma substituição dos tradicionais parceiros europeus, como a França e Alemanha,
por parceiros como a Hungria e a Polônia, parceiros cuja a complementariedade é zero, sequer é
comparavel com a complementariedade existente com a França e com a Alemanha. O Brasil na
verdade esta se impondo um autoisolamento, não é que o mundo esteja contra o Brasil, o Brasil está
contra o mundo, sendo isto um reflexo da forma beligerante adotada para a condução dos interesses
nacionais e das relações exteriores do Brasil. É uma política externa sem precedentes que não terá
continuidade ante a adoção de linhas anacrônicas que se apresenta como alternativa de política
externa, pois política externa não é.
Rubens Ricupero: (28:54): Constata-se o consenso entre todos os painelistas,
ficando patente a convergencia de opiniões. Destaca-se a importância do evento ante a reunião de
três ex-chanceleres, Ministro de Relações Exteriores que encarnam a história da política externa
contemporanea do Brasil. Pressupõe que Celso Lafer e Celso Amorim foram chanceleres no periodo
de ouro da nova republica hoje em declínio, enquanto Aloysio Nunes representa um periodo mais
conturbado de agravamento da crise brasileira. A diversidade das experiencias históricas e o
consenso vivido é importante para a construção da posição do brasil no mundo, externando uma
posição unanime de condenação ao modelo adotado pelo atual governo, e que mais além da crítica
ao modelo atual, é importante ter em mente a construção ou melhor dizendo a reconstrução da
posição do Brasil no mundo que esta por vir, na esperança que a despeito das diferenças, possa ser
construido um mínimo denominador comum a respeito daquilo que deve ser a política de
reconstrução. Atualmente tem-se uma política que é um não-objeto que não se pode discutir
racionalmente, é o anti-consenso. Recorda que Tancredo Neves identificou em 1984, no final do
Regime Militar que se havia uma força que comandava o consenso entre todas as forças civis,
políticas e militares do país era a política externa realizada pelo Itamaraty. Hoje, pelo contrário, há
um anti-consenso as políticas adotadas, baseadas em escolhas superficiais, ideologicas e
principalmente errada de aliados, que atrapalham a construção e a proteção do interesse nacional,
caracterizando um governo alucinado, tresloucado da realidade.
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