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O ensino da

Língua
Portuguesa
como segunda
língua para
surdos
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EXPEDIENTE O ensino da Língua Portuguesa


como segunda língua para
surdos
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Língua Portuguesa O ensino da Língua Portuguesa como


como segunda segunda língua para surdos: e n t e n d e n d o
língua para surdos a escrita dos surdos

Parte II Tatiane da Silva Campos1

Entendendo a escrita dos surdos

Após a alfabetização do surdo na língua portuguesa


como segunda língua, a manifestação estrutural da LIBRAS
continua aparecendo em suas produções escritas. A isso
chamamos de interlíngua, a interferência lingüística da estrutura
de uma língua em outra, como podemos observar neste excerto
de um texto produzido por um surdo.

UNÍNTESE
1
Professora Especialista em Docência, Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais
pela UNÍNTESE e UTP. Licenciada em Letras, pela Universidade Anhanguera Uniderp e
Tradutora/Intérprete de LIBRAS.
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expressão de intensidade), seguindo a estrutura: Advérbio de


Tempo + Sujeito + verbo (advérbio de intensidade
incorporado ao verbo) + objeto.
“Meu nome é X, nasci em 00/00/000, tenho N anos, sou Segundo Quadros (2000), a estrutura frasal básica da
estudante da escola Y - DF faço Magistério. Quando nasci LIBRAS é SVO (Sujeito+Verbo+Objeto), sendo que esta
era normal. Aos oito meses aconteceu minha mãe vejo eu
nenê, com orelhas vermelhas e com dores ficam
organização estrutural se manifesta na escrita da Língua
preocupadas, levou ao hospital e médicos fizeram pesquisas, Portuguesa por estudantes surdos, onde a marcação dos
precisa encontrar "Antibiótico", espera curar. Após quatro advérbios encontra-se no inicio ou no fim da sentença, não
anos, minha mãe falou: o X parece nada ouvir. Ela preocupa interrompendo a formação básica. Exemplo CARLOS ASSISTIR
e leva no Hospital e médico descobre perda auditiva (...)”. FILME.
(BRASIL, 2002, p. 36).
Na estrutura frasal da LIBRAS as sentenças podem variar
entre OSV e SOV mediante alguma marca especial, com a
presença de traços ou marcações não manuais atribuídas ao
Neste texto observamos problemas como remissões referente localizado no plano espacial.
indevidas e conexões inadequadas. É o caso de “ficam Em consequência destes aspectos da sintaxe da
preocupadas”, referindo-se a “minha mãe”, realizado no LIBRAS, por sua natureza viso-espacial, ao verter para a Língua
singular, e não a orelhas vermelhas ou a dores. E ainda na Portuguesa escrita, ocorrem as lacunas. Estas lacunas na
passagem “Antibiótico, espera curar”, há um problema de escrita da Língua Portuguesa se explicam pela impossibilidade
coesão textual, pois falta um elemento conjuntivo que, além de das expressões não manuais e das marcações manuais
recuperar o antecedente “Antibiótico”, estabeleceria a conexão estarem presentes na forma escrita da Língua Portuguesa por
entre as idéias. (Idem). tratarem-se de aspectos observados somente na modalidade
Por causa da freqüência com que encontramos “casos visual da LIBRAS. Por isso, quanto mais amplo for o vocabulário
irregulares” na produção textual de surdos, alguns profissionais da L2 (Língua Portuguesa escrita) pelo estudante surdo, melhor
referem-se a LIBRAS como a causadora da questão, será a sua produção textual.
desconhecendo que a língua de sinais apresenta uma estrutura
gramatical diferente. A conjugação verbal, por exemplo, não
ocorre da mesma forma em LIBRAS como ocorre na Língua
Portuguesa, a qual possui flexões de acordo com os tempos “Os surdos possuem um forte conhecimento lexical em

UNÍNTESE
sinais, mas não em palavras, o que atrapalha na formação
verbais. Na LIBRAS a conjugação de um verbo se manifesta sintática. Os surdos sabem escrever as palavras, o que
de forma visual associando um advérbio de tempo ao verbo acontece são trocas de uma letra ou outra, por causa do
no infinitivo. Por exemplo: “Ela o amava demais!” (Língua pouco uso visual da escrita e pela decodificação”. (SPERB,
Portuguesa); “Passado Ela amar ele! (amar em LIBRAS com 2010).
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A maior dificuldade neste sentido não está nas questões Não é natural para o surdo a sequência oral/auditiva,
da interferência da L1 na produção escrita da L2 (interlíngua) e comumente falada na Língua Portuguesa, uma vez que no uso
sim na ausência de leituras em L2 e na pouca produção escrita da LIBRAS a ordem dos acontecimentos são registrados em
como processo contínuo e constante. Os surdos costumam sua memória visual.
rejeitar a aprendizagem da Língua Portuguesa, em muitas
vezes, devido a métodos equivocados aos quais foram expostos
ao longo do processo educacional. Assim, são raros os
momentos em que estes se interessam em praticar a leitura e a
escrita em Língua Portuguesa. Neste sentido, os incentivos
devem partir dos professores, desde a alfabetização. Temos
acompanhado, por exemplo, que com o avanço tecnológico, um Alfabetização e letramento na Língua Portuguesa
crescente número de surdos passou a utilizar recursos de
escrita para estudantes surdos
interação social, como o MSN, Orkut, Facebook, Twiter entre
outros, espaços em que se utilizam da Língua Portuguesa
escrita e que apesar de toda a rejeição à Língua Portuguesa, Existem divergências em relação ao conceito correto de
em sua maioria, manifestam a habilidade da escrita, mesmo letramento e alfabetização entre diversos autores. No entanto, o
aqueles que possuem um vocabulário restrito. É necessário que significado acaba girando em torno do entendimento de que o
o professor busque estratégias e ferramentas a fim de tornar o alfabetizado sabe ler e escrever e, o letrado vai além, faz uso da
ambiente educacional atrativo e estimulante à aprendizagem da língua. A alfabetização não se resume em apenas decodificar e
Língua Portuguesa pelos surdos. compreender a escrita, mas sim de valer-se da leitura para
apropriar-se e expressar uma cultura. O Letramento vem de
A estrutura SVO em LIBRAS se manifesta encontro a este processo com vistas a desenvolver os
constantemente em suas produções textuais e, gradativamente, processos mentais, tais como o raciocínio, a memória ativa, a
vai sendo enriquecida com recursos lingüísticos e gramaticais resolução de problemas e a superação de dificuldades
da segunda língua (Língua Portuguesa escrita) à medida que encontradas no dia-a-dia. A alfabetização e o letramento são
ocorre uma interação e um contato com ela. No exemplo dois processos que se fundem, pois um depende do outro para
anteriormente citado, a intensidade manifestada ao usar o sinal que o estudante adquira um real aprendizado de sua língua.
do verbo amar, não é identificada na produção textual. No texto,
esta condição se manifesta visivelmente quando o aluno A alfabetização na Língua Portuguesa para os estudantes
menciona: “Aos oito meses aconteceu minha mãe vejo eu surdos está relacionada ao uso da LIBRAS. Para que a

UNÍNTESE
nenê”. Ele desenvolveu na sua mente a imaginação da aquisição da Língua Portuguesa se efetive, é preciso que os
sequência de acontecimentos, transcrevendo para a Língua vocábulos tenham significado para os surdos. O significado
Portuguesa (com vocabulário restrito) a mesma ordem, como se somente será constituído se o vocábulo estiver associado a uma
o mesmo estivesse expondo o assunto em LIBRAS. explicação na sua língua materna, a LIBRAS. Assim sendo, a
evolução gradativa da escrita em língua portuguesa irá
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depender da associação da palavra à LIBRAS, das e vocábulos, organizando-os em sequência, construindo e


estratégias de ensino que valorizem a língua materna do expressando uma ideia coerente, o que é possível mediante a
aluno (L1), da interação com falantes da língua portuguesa, significação destes vocábulos num determinado contexto.
e, fundamentalmente, do uso contínuo e constante da Desta forma, a pessoa ouvinte se utiliza, principalmente,
escrita.
do estímulo auditivo para compor em sua memória visual uma
O letramento - entendido como a apropriação da leitura e imagem gráfica, reproduzindo-a para o papel em forma de
da escrita em um contexto onde ler e escrever têm significado escrita. No caso da pessoa surda, os estímulos auditivos não
para a vida do aluno - será constituído através de contatos em produzem a mesma função que nos ouvintes e assim, as letras
LIBRAS com a literatura (narrativas, histórias, pesquisas, ou vocábulos quando ensinadas por este viés, encontram-se
releituras de poesias), os quais poderão resultar na produção de soltas na sua memória visual, sem um significado.
textos. Outra sugestão que contribui para o avanço do domínio No processo de letramento, a LIBRAS, por partir de
da língua portuguesa escrita pelo aluno surdo refere-se ao uso estímulos visuais, constitui-se como o principal mecanismo
das tecnologias presentes nas redes sociais, cujo interesse e capaz de permitir ao surdo a contextualização e significação
informalidade na comunicação, contribuem para a fluidez e destes vocábulos. Quando não há uma significação, o surdo, na
agilidade na leitura e na escrita. hora em que faz a junção de fonemas para compor uma
palavra, não vê diferença em escrever, por exemplo, CALO ao
invés de COLA. Neste caso, os grafemas não apresentam
associações e significados para ele e estarão soltos em sua
memória, sem contexto e sem função cognitiva.
Na sentença “Mamãe comer sapo”, o objetivo de
comunicar seria “Mamãe comer sopa”, mas para esta produção
escrita, apenas as palavras “mamãe” e “comer” tem um
O estímulo visual na aprendizagem da L2 a partir significado e uma memória gráfica associada a um conceito,
da L1 pelo fato de serem usuais, enquanto sopa ainda não havia sido
agregada a este conjunto, na forma escrita. Por isso é
necessário ao estudante surdo realizar associações
Todas as pessoas, independentemente de serem surdas contextualizadas (realizadas na sua primeira língua – LIBRAS),
ou ouvintes, têm em sua memória “um arquivo” onde objeto + grafia + significado, que fará com que este vocábulo

UNÍNTESE
armazenam informações ou registros gráficos que constituem a faça parte de sua memória visual.
memória visual. Assim, no processo de alfabetização, os Isto só se consegue com o uso constante do exercício da
estímulos auditivos e visuais impulsionam a busca, em nossa escrita e o contato com a leitura, fator de grande resistência por
memória, desses recursos para que possamos formar palavras parte dos estudantes surdos. A ausência de uso contínuo da
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escrita é o que a “empobrece”, principalmente pelo fato da


ausência de leituras apropriadas para o estímulo de um As Imagens como estímulo visual para a produção
pensamento crítico e coeso sobre a realidade vivenciada. A textual2:
inexistência de estratégias com vistas a oportunizar este
estímulo e um ambiente favorável para a produção escrita,
também contribuem negativamente para este processo.
O uso da escrita, a construção dos significados e
principalmente a associação dos grafemas a esta escrita é o
que desenvolve o vocabulário de uma segunda língua, no caso
a Língua Portuguesa para os surdos.
Neste sentido, o surdo fluente na LIBRAS entende melhor
a estrutura da Língua Portuguesa e consequentemente tem
melhor escrita. O estudante só vai compreender a existência de
uma segunda língua e sua estrutura a partir da vivência, da
compreensão e da comparação com “alguma outra” língua. O
surdo que tiver contato e não usar sua primeira língua (L1) tão
pouco conseguirá emergir no aprendizado de uma segunda
língua (L2). Estas lacunas são facilmente percebidas nas
escritas dos surdos, ao considerarmos o seu o nível linguístico
em LIBRAS. Assim, as lacunas na escrita da Língua Portuguesa
pelos surdos encontram suas causas na ausência ou pouco uso
da LIBRAS.
Vejamos um exemplo:

UNÍNTESE
2
Imagens e redação. Fonte: BRASIL, 2002, p. 199-200
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Observamos nesta produção textual feita por um


estudante surdo, que o conhecimento linguístico de vocábulos
A produção textual após o estímulo visual e mediação do
na Língua Portuguesa é amplo. Ainda assim há presença da
professor:
interferência da LIBRAS (L1- primeira língua). Neste caso, além
de um conhecimento amplo dos vocábulos da Língua
Portuguesa, é possível perceber também que este aluno possui
um nível gramatical razoável, ao empregar no texto: conjunções,
preposições, advérbios, etc. Observa-se que até mesmo a
flexão verbal ocorre em alguns trechos, ainda que alguns verbos
apareçam no infinitivo. Isso demonstra uma tentativa do aluno
em flexionar o verbo no tempo verbal adequado e comum a
estrutura gramatical da língua portuguesa, o que, através da
prática da leitura e da escrita, com o tempo se tornará usual.

O significado na comunicação em LIBRAS e


na Língua Portuguesa escrita

Durante o processo de alfabetização e letramento, no


reconhecimento das letras e na escrita de vocábulos e frases é
imprescindível para o estudante surdo que ele consiga perceber
as diferenças que as orações expressam, como por exemplo,
entre “Papai comer BOLA” e “Papai comer BALA”. As grafias de

UNÍNTESE
BALA e BOLA precisam ser destacadas em seus contextos,
como diferentes, pois para o estudante surdo se apropriar desta
diferença, precisará, antes de tudo, associar esta grafia ao seu
significado, a semântica, desta palavra. Isto só se consegue
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com o uso da LIBRAS, pois no momento em que se diz “Papai insustentável manter um ritmo de ensino-aprendizagem onde
comer bola de carne”, fazendo o sinal de bola de carne, duas línguas estão presentes concomitantemente e ainda ter
abstraindo o sentido disto no estudante e, após, associando-o que tratar das lacunas de aprendizagem destes estudantes.
com a palavra “almôndega” é que o estudante perceberá a Para isso, a Educação Especial estruturou o Atendimento
aplicabilidade desta palavra no contexto. bem como sua Educacional Especializado – AEE que objetiva suplementar e
sinonímia. complementar o ensino da sala de aula regular.
O exercício de produção escrita permite que O profissional, para atuar na Sala de Recursos
gradativamente este processo seja internalizado, facilitando as Multifuncional, no atendimento ao estudante surdo, deverá se
associações a partir do significado da palavra a sua escrita. Por qualificar em cursos de formação específicos e ter proficiência
exemplo: no contexto de B-O-L-A, temos a “bola” de gude, a na Língua Brasileira de Sinais. O professor regente de sala de
“bola” de carne, a “bola” de neve, etc. Estas variações gráficas aula, de igual forma, deverá possuir um “conhecimento da
na escrita e as suas significações contextualizadas são singularidade linguística do estudante surdo”, significando
fundamentais para desenvolver a associação das palavras que necessitará conhecer a LIBRAS em suas especificidades
escritas às imagens mentais e aos sinais em LIBRAS, bem gramaticais e estruturais a fim de poder avaliar adequadamente
como sua aplicabilidade. A simples associação e troca das o estudante, além de lhes oportunizar conteúdo acessível,
palavras por sinônimos podem contribuir pela ampliação do mesmo contando com a presença do Tradutor/Intérprete de
vocabulário da Língua Portuguesa e o seu desenvolvimento nas LIBRAS na sala de aula.
atividades escritas. Assim, as lacunas de aprendizagem por parte dos alunos
surdos em seus diferentes níveis, devem ser sanadas no AEE.
Este trabalho a ser realizado com o estudante surdo, deverá
acontecer na sala de recursos multifuncional, em turno inverso a
sua escolarização, envolvendo três momentos distintos:
 O ensino da LIBRAS, visto que muitos estudantes surdos
O ensino da Língua Portuguesa para surdos ao entrarem para a escola não dominam a sua própria
língua ou possuem um conhecimento muito limitado;
no atendimento educacional especializado –
 O ensino, em LIBRAS, de conceitos específicos de cada
AEE disciplina do currículo trabalhada na sala de aula comum;
 O ensino da Língua Portuguesa como a segunda língua

UNÍNTESE
Antes de qualquer especulação a respeito de qual o para o estudante surdo.
melhor ambiente de ensino na educação de surdos, nos
remetemos ao ensino regular e ao trabalho que deve ser
realizado nestes espaços. Para o professor de sala de aula é
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Todos estes momentos servirão como suporte ao Esta prática exige um profissional habilitado e bilíngüe;
professor regente de sala de aula, não sendo um reforço e sim recursos visuais e audiovisuais. Entre as estratégias que tem
um complemento deste ensino. contribuindo muito na aprendizagem e no desenvolvimento da
escrita em L2 é o uso de filmadoras. Através de imagens, filmes,
O ensino da língua portuguesa como segunda língua,
poesias em LIBRAS, entre outros, se oportuniza aos
deve ser ministrado por profissional bilíngue fluente em ambas
estudantes, estímulos visuais para que possa reproduzir
as línguas envolvidas (LIBRAS e Língua Portuguesa),
primeiramente em LIBRAS, as ideias referidas no texto, as quais
possibilitando desenvolver duas habilidades fundamentais neste
devam ser filmadas, e, posteriormente, ao assistir a filmagem, o
processo: a habilidade de leitura e escrita.
estudante transcreva todas as colocações expostas em LIBRAS
O estudante surdo, no ato de ler, atribui significados à para a escrita da Língua Portuguesa. Posteriormente, o
imagem gráfica, ou seja, o estudante relaciona suas vivências, professor poderá utilizar-se deste texto para inserir
suas, experiências com o que está posto no texto. É um gradativamente, aspectos da gramática da Língua Portuguesa,
processo de interlocução entre o leitor e o autor mediados pelo a exemplo do emprego das classes gramaticais, da coesão e da
texto, desenvolvendo no estudante mecanismos perceptivos coerência textual, além de trabalhar com os diferentes tipos de
que resultam num processo de contextualização, textos: narrativos, discursivos, descritivos, entre outros.
descontextualização e recontextualização e na interpretação
Este tipo de atividade que envolve ferramentas
textual que possibilita a familiarização com esta segunda língua,
tecnológicas tem auxiliado significativamente o ensino da L2,
a Língua Portuguesa.
tornando o processo prazeroso ao estudante surdo, uma vez
O ato de escrever oportuniza ao estudante experiências que o mesmo não necessita estruturar seus pensamentos e
gráficas em que a segunda língua é expressa na forma escrita, ideias na L2 e sim na sua língua materna, o que torna o
transmitindo através de grafemas o sentido pelo qual o momento de aprendizagem satisfatório e produtivo. Desta
estudante estava então familiarizado a expor em LIBRAS. A forma, ressaltamos que para atuar na sala do AEE, é
produção escrita proporciona, gradativamente, ao aluno o imprescindível que o profissional seja realmente habilitado e
entendimento de que a estrutura gramatical da Língua fluente em LIBRAS para poder discutir, apresentar, argumentar
Portuguesa é diferente da estrutura gramatical da LIBRAS. e mediar às produções da L1 transcritas posteriormente em L2,
Através do exercício, o estudante desenvolve suas produções além de observar a interferência linguística da L1 na produção
textuais com foco na L2. Sabemos que a interferência da escrita, fazendo com que as diferenças estruturais entre as
primeira língua, a LIBRAS, na produção escrita dos surdos é línguas envolvidas no processo não discriminem e nem exaltem
dominante, no entanto, o trabalho do AEE serve para que o qualquer das línguas utilizadas.

UNÍNTESE
professor utilize a L1 do estudante surdo, neste caso, apenas
Existem muitos recursos que devem ser oferecidos aos
como língua de instrução, direcionando para que o mesmo
expresse seus pensamentos, raciocínios e falas através da estudantes no momento do AEE destinado ao ensino da Língua
Portuguesa, como o uso de um amplo acervo textual,
escrita.
oferecendo o acesso a uma pluralidade de discursos,
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oportunizando a interação com os mais variados tipos de materna (como alguns teóricos a definem), vai além da atuação
situações e enunciações, presença de pistas escritas pré- de Tradutores e Intérpretes de LIBRAS nos espaços
estabelecidas, colocando em uso, como canal de comunicação, educacionais, ou mesmo de cursos de LIBRAS oferecidos aos
a L2. Além dos aspectos gramaticais e textuais envolvidos no profissionais da educação. Oportunizar um espaço bilíngue que
processo de ensino da Língua Portuguesa escrita para surdos, visa valer-se do uso de duas línguas no processo educacional é
ainda existem fatores culturais que coexistem em ambas as oferecer com o mesmo status lingüístico as duas línguas
línguas, que precisam ser observados e considerados neste envolvidas neste processo, sem priorizar, maximizar ou
trabalho. minimizar nenhuma delas.
O método de educação bilíngue atribui valores iguais às
duas línguas utilizadas, respeitando as diferenças de ambas.
Um espaço educacional bilíngue deve proporcionar a interação,
inserindo, aos usuários da Língua Portuguesa, a LIBRAS como
segunda língua (L2) e aos usuários da LIBRAS, a Língua
Portuguesa como segunda língua (L2). Estas ações vão além
do espaço da sala de aula, perpassam todos os setores da
O ensino da língua portuguesa na perspectiva educação e todos os demais órgãos interligados aos sistemas
de ensino, integrando toda uma sociedade e garantindo de fato
da educação bilíngue
aos surdos a acessibilidade que tanto almejam.
A simples presença da LIBRAS com uma disciplina no
Reconhecendo a LIBRAS como uma língua enriquecida currículo, sem que seja assumida por todo um sistema social e
de valores, aspectos semânticos e linguísticos necessários para educacional não fará com que sejam atingidos os propósitos
constituir-se como tal, considerando que é o meio comunicativo bilíngue da educação, tal como idealizado. A interação entre os
adequado às necessidades das pessoas com surdez, usuários da LIBRAS e os falantes da Língua Portuguesa,
independentemente do grau de sua perda auditiva, entendemos proporciona o desenvolvimento cognitivo, linguístico e social de
que a Língua Brasileira de Sinais deva estar presente no todos os envolvidos no processo educativo.
contexto escolar não apenas como uma mera língua de
instrução ou mediação entre surdos e ouvintes, mas como uma
língua viva, com identidade e história próprias.

UNÍNTESE
Repensando estas questões e respeitando a L1 dos
surdos, é possível estabelecer um método de ensino que
realmente seja capaz de atender às necessidades culturais e de
identidades manifestadas pelos seus usuários. O respeito a
LIBRAS como primeira língua do surdo, sua língua natural ou
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Considerações Finais Referências Bibliográficas


BRASIL. Ministério da Educação. Ideias para ensinar português para alunos
surdos. Brasília: MEC/ SEESP, 2006.
Ao pensarmos na educação de surdos, especificamente BRASIL. Programa Nacional de Apoio à Educação dos Surdos –
no ensino da Língua Portuguesa como uma segunda língua, MEC/SEESP. Brasília, 2002.
estamos avançando e muito neste meio, pois representa a
BROCHADO, Sonia Maria Dechandt. A apropriação da escrita por crianças
aceitação do uso de outra língua no meio escolar. Quando surdas usuárias da Língua de Sinais Brasileira. 2003. 439 f. Tese (Doutorado
dizemos bilinguismo, dizemos duas línguas de igual status em Letras) – Faculdade de Ciências e Letras de Assis – Universidade
convivendo num mesmo espaço, rompendo paradigmas no estadual Paulista, Assis, 2003.
sentido de aceitar também o “diferente”, não uma “diferença” por DIZEU, Liliane Correia Toscano de Brito. CAPORALI, Sueli Aparecida. A
conta de uma limitação, mas por conta de uma língua língua de sinais constituindo o surdo como sujeito. Educ. Soc. [online]. 2005,
diferenciada da predominante. vol.26, n.91, p. 583-597. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em
12/03/2012.
Contudo, não nos basta saber que os surdos se
FERNANDES, Eulália. Surdez e Bilinguismo. Porto Alegre: Mediação, 2005.
comunicam em LIBRAS, precisamos entender que existem
aspectos culturais que também devem ser respeitados. Pensar FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 33. ed. São Paulo: Cortez, 1997.
na língua de sinais, não é somente pensar no surdo, visto que QUADROS, Ronice Muller de. A Estrutura da Frase da Língua Brasileira de
não são os únicos usuários da LIBRAS, é pensar num outro Sinais. In: II Congresso Nacional da ABRALIN, 1999. Florianópolis. Anais.
sistema linguístico que contém características e aspectos Florianópolis: UFSC, 2000.
culturais próprios. QUADROS, Ronice Muller de. O bi do bilingüismo na educação de surdos.
In:___. Surdez e bilingüismo. Porto Alegre: Editora Mediação, 2005, v.1, p.
A LIBRAS não é propriedade dos surdos, assim como a 26-36.
Língua Portuguesa não é propriedade dos brasileiros. Uma
SÁ, Nídia Limeira, RANAURO, Hilma. O discurso bíblico sobre a deficiência.
língua permanece viva no meio de uma sociedade que a cultiva, Rio de Janeiro: Editora Muiraquitã, 1999.
que a defende e que a vivencia. Adotar uma política bilíngue de
educação é compreender esses aspectos, oportunizando a SKLIAR, C. (org). A surdez: Um olhar sobre as diferenças. 3. ed. Porto
Alegre: Mediação, 2005.
verdadeira acessibilidade aos surdos em todos os espaços
sociais. Por outro lado não podemos, diante dos usuários da SOARES, Maria Aparecida Leite. A Educação do Surdo no Brasil. 2. Ed.
Campinas: Autores Associados, 2005.
LIBRAS, diminuir e inferiorizar a Língua Portuguesa, muito pelo

UNÍNTESE
contrário. Este respeito mútuo entre as línguas fará a diferença, SPERB, Carolina Comerlato. “O Ensino de Língua Portuguesa para Surdos”.
o restante serão apenas métodos e estratégias de ensino que (Artigo da disciplina Língua Portuguesa como 2ª língua) Curso de Pós-
graduação em Tradução, Interpretação e Docência da LIBRAS. Santo
gradativamente ocuparão o espaço escolar e buscarão o êxito Ângelo: UNÍNTESE, 2010.
na coexistência desta realidade bilíngue.

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