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CURSO DE LETRAS
MARIA CRISTINA S. V. CIMMINIELLO
SUZANO
2010
MARIA CRISTINA S. V. CIMMINIELLO
SUZANO
2010
MARIA CRISTINA S. VEIGA CIMMINIELLO
SUZANO, 09/12/2010
BANCA EXAMINADORA
_____________________________
ALBA LÚCIA ROMEIRO TAMBELLI
DRA. EM LINGUÍSTICA E SEMIÓTICA
FACULDADE UNIDA DE SUZANO - UNISUZ
_____________________________
PAULA BARBOSA PUDO
MESTRE
FACULDADE UNIDA DE SUZANO - UNISUZ
_____________________________
JANE GATTI
MESTRE
FACULDADE UNIDA DE SUZANO - UNISUZ
Dedico esse trabalho as três pessoas amigas e responsáveis por me mostrarem como é bom
estudar Letras.
A primeira é minha amiga Luciana Aparecida Shinabe de Rezende, que me convidou a voltar
a estudar e me trouxe a Unisuz.
A segunda é minha professora e nossa coordenadora Jane Gatti, que me convenceu a estudar
Letras.
A terceira é minha professora e orientadora Alba Lúcia Romeiro Tambelli, que me guiou e
sempre me ouviu com paciência para sanar minhas dúvidas.
AGRADECIMENTO
A Deus, que me permitiu ter condições físicas para realizar esse trabalho.
A meu marido Eduardo e meu filho Bruno, que souberam entender como era importante para
minha a realização pessoal esse estudo.
A minha mãe Guiomar, que concordou em abrir mão de vários dos nossos encontros aos
domingos para que eu pudesse estudar.
Aos meus professores, pelos ensinamentos e dedicação com que nos trataram durante o curso
de Letras.
Aos meus colegas de classe que foram, cada um a seu modo, muito importantes na minha
vida acadêmica
“Como diz Bill McDonald, de certa maneira, os melhores obituários
são aqueles que nos falam de pessoas sobre as quais nós nunca
tínhamos ouvido falar, e nos deixam chateados por não termos tido a
chance de conhecê-las”.
Matinas Suzuki Jr
RESUMO
INTRODUÇÃO ..........................................................................................................10
1 DISCURSO E TEXTO ............................................................................................12
1.1 Gêneros do Discurso...........................................................................................12
1.2 Gênero textual e ensino ......................................................................................18
1.3 Origem do obituário na mídia ..............................................................................24
2 TEXTO E CONTEXTO ...........................................................................................28
2.1 Tipos textuais ......................................................................................................28
2.2 A enunciação.......................................................................................................30
2.3 O sentido do texto ...............................................................................................32
2.4 Contexto.... ..........................................................................................................33
2.5 Estrutura do texto ................................................................................................34
2.5.1Título...................................................................................................................34
2.5.2 Parágrafo..........................................................................................................35
3 ANÁLISE DA ESTRUTURA DOS OBITUÁRIOS....................................................39
3.1 Titulo....................................................................................................................39
3.2 Texto......... ..........................................................................................................40
3.2.1 Análise das Introduções ...................................................................................41
3.2.2 Análise do desenvolvimento.............................................................................45
3.2.3 Análise das conclusões.....................................................................................49
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................53
REFERÊNCIAS.........................................................................................................57
ANEXOS........ ...........................................................................................................58
10
INTRODUÇÃO
1 DISCURSO E TEXTO
constitutiva da língua. O autor usa a expressão tipo textual para designar a natureza
linguística de sua composição. A expressão gênero textual é usada para referir os
textos materializados que encontramos diariamente e que apresentam características
sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais e estilo.
O quadro abaixo, apresentando por Marcuschi (2005, p. 23), permite
visualizarmos essas definições:
Injuntiva Amiga A. P.
Oi!
Descritiva Para ser mais preciso estou no meu quarto escrevendo na escrivaninha, com um
Micro System ligado na minha frente (bem alto, por sinal)
Expositiva Está ligado na Manchete FM – ou rádio dos funks – eu adoro funk, principalmente
com passos marcados.
Aqui no Rio é o ritmo do momento... e você, gosta? Gosto também de house e
dance music, sou fascinado por discotecas! Sempre vou à K.I,
Narrativa ontem mesmo (sexta-feira) eu fui e cheguei quase quatro horas da madrugada.
Expositiva Dançar é muito bom, principalmente em uma discoteca legal. Aqui no condomínio
onde moro têm muitos jovens somos todos muito amigos e sempre vamos todos
juntos. É muito maneiro!
Narrativa C. foi três vezes à K.I.,
Expositiva Está tocando agora o “Melo da Mina Sensual”, super demais! Aqui ouço também a
Transamérica e RPC FM.
Expositiva Demorei um tempão pra responder, espero sinceramente que você não esteja
chateada comigo. Eu me amarrei de verdade em vocês aí, do Recife, principalmente
na galera da ET, vocês são muito maneiros! Meu maior sonho é viajar, ficar um
tempo por aí, conhecer legal vocês todos, sairmos juntos... Posso te dizer uma
17
Narrativa Agora, a minha rotina: segundas, quartas e sextas-feiras trabalho de 8:00 às 17:00h,
em Botafogo. De lá vou para o T., minha aula vai de 18:30 às 10:40h (sic). Chego
aqui em casa quinze para meia-noite. E às terças e quintas fico 050 em F. só de
8:00 às 12:30h. Vou para o T.; às 13:30 começa o meu curso de Francês (vou me
formar ano que vem) e vai até 15:30h, 16:00h vou dar aula e fico até 17:30h. 17:40h
às 18:30h faço natação (no T. também) e até 22:40h tenho aula. /........../ Ontem eu
Simone fizemos três meses de namoro;
Expositiva Ela mora aqui mesmo no ((ilegível)) (nome do condomínio). A gente se gosta muito,
às vezes eu acho que nunca vamos terminar depois eu acho que o namoro não vai
durar muito, entende?
Argumentativa O problema é que ela é muito ciumenta, principalmente porque eu já fui afim da B.,
que mora aqui também. Nem posso falar com a garota que S. já fica com raiva
/......../
Injuntiva escreva!
Faz um favor? Diga pra M., A. P. e C. que esperem, não demoro a escrever
Adoro vocês!
Um beijão!
Narrativa Do amigo
P.P.
15:16h
Quadro 2: Sequências Tipológicas.
Existem também alguns gêneros que só são recebidos na forma oral apesar
de terem sido produzidos originalmente na forma escrita (MARCUSCHI, 2005, p.33).
As notícias são escritas e oralizadas pelo apresentador ou locutor. As orações
são escritas e seu uso nas atividades religiosas é sempre oral. Por isso se diz que
oramos e não que escrevemos a Deus (MARCUSCHI, 2005, p. 33).
Só uma concepção profunda da natureza do enunciado e das
peculiaridades dos gêneros discursivos pode assegurar a solução correta
dessa complexa questão metodológica. (BAKHTIN, 2003, p.269).
desconhecidos, nível social, formação, etc...); a natureza dos objetivos das atividades
desenvolvidas.
No obituário, objeto desse trabalho, são apresentados os fatos da vida
da pessoa falecida. Marcuschi (2005, p.35) destaca que “Gêneros textuais não são
fruto de invenções individuais, mas formas socialmente maturadas em práticas
comunicativas”.
Cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da
língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais
denominamos gêneros do discurso. (BAKHTIN, 2003, p. 262).
Outro ponto importante destacado pelos autores é que o professor deve variar
as atividades e os exercícios. Executar trabalhos em grupo, propondo aos alunos
atividades diversificadas, dando a eles a possibilidade de ter acesso às noções e
aos instrumentos, aumentando suas chances de sucesso.
Ao executar esse trabalho, de acordo com os autores, os professores devem
utilizar atividades de observação e de análise de textos, que podem ser feitas
comparando vários textos ou parte deles. Propor tarefas simplificadas de produção
de textos, exercício que permite aos alunos descartarem certos problemas de
linguagem que eles devem gerenciar simultaneamente, permitindo-lhes se
concentrarem num aspecto preciso da elaboração de um texto. Auxiliar os alunos a
utilizarem uma linguagem comum, poder falar dos textos, comentá-los, criticá-los,
melhorá-los, quer se trate de seus próprios textos ou de outrem. Realizando esse
trabalho os alunos aprendem a falar sobre o gênero abordado. Adquirem um
vocabulário, uma linguagem técnica, que será comum à classe e ao professor.
Assim numerosos alunos fazendo o mesmo trabalho sobre os mesmos gêneros,
construiriam progressivamente conhecimentos sobre o gênero.
A sequência é finalizada com uma produção final que permite ao aluno por
em prática o que aprendeu e permite ao professor realizar uma avaliação somativa.
Essa avaliação é baseada em critérios elaborados ao longo da sequência realizada.
Ela orienta os professores para uma atitude responsável, humanista e profissional.
Marcuschi (2008, p.206) indaga se diante da multiplicidade de gêneros
existentes, existe um gênero ideal para utilizar-se em sala de aula. Segundo ele, os
próprios Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs (BRASIL, 1997) têm grande
dificuldade quando chegam a este ponto. Aparentemente existem gêneros
adequados para a leitura e outros para a produção. Uma observação atenta e
qualificada dos gêneros textuais presentes nos manuais de ensino, revela que
utilizamos sempre os mesmos. Os demais figuram apenas para distração dos
alunos.
[...] a distribuição da produção discursiva em gêneros tem como correlato a
própria organização da sociedade, o que nos faz pensar no estudo sócio-
histórico dos gêneros textuais como uma das maneiras de entender o
próprio funcionamento social da língua [...] (MARCUSCHI, 2008, p.208).
Conto maravilhoso
Fábula
NARRAR Lenda
Cultura literária funcional Narrativa de aventura
Mimeses da ação através da Narrativa de enigma
criação de intriga Narrativa de ficção científica
Novela fantástica
Conto parodiado
Relato de experiência vivida
RELATAR Relato de viagem
Documentação e Testemunho
memorização de ações Representação pelo discurso Curriculum vitae
humanas de experiências vividas, Noticia - Reportagem
situadas no tempo. Crônica esportiva
Ensaio biográfico
Texto de opinião
Diálogo argumentativo
ARGUMENTAR Carta ao leitor
Discussão de problemas Sustentação, refutação e Carta de reclamação
sociais controversos negociação de tomadas de Deliberação informal
posição Debate regrado
Discurso de defesa (adv.)
Discurso de acusação (adv.)
22
Seminário
Conferência
Artigo ou verbete de
enciclopédia
EXPOR Entrevista de especialista
Transmissão e construção de
Apresentação textual de Tomada de notas
saberes
diferentes formas dos saberes Resumo de textos
“expositivos” ou explicativos
Relatório Científico
Relato de experiência
científica
Instruções de montagem
DESCREVER AÇÕES Receita
Regulamento
Instruções e prescrições Regulação mútua de Regras de jogo
comportamentos Instruções de uso
Instruções
Quadro 3: Aspectos Tipológicos.
Ensinar a escrever textos torna-se uma tarefa muito difícil fora do convívio
com textos verdadeiros, com leitores e escritores verdadeiros e com
situações de comunicação que os tornem necessários. Fora da escola
escrevem-se textos dirigidos a interlocutores de fato. Todo texto pertence a
um determinado gênero, com uma forma própria, que se pode aprender.
Quando entram na escola, os textos que circulam socialmente cumprem um
papel modelizador, servindo como fonte de referência, repertório textual,
suporte da atividade intertextual. A diversidade textual que existe fora da
escola pode e deve estar a serviço da expansão do conhecimento letrado
do aluno (BRASIL, 1997, p.28).
The New York Times OBITUARIES Monday, New York Times OBITUÀRIOS Segunda
september 18, 2006 feira, 18 de setembro de 2006
Sergio Savarese, a designer known for lyrial Sergio Savarese, um designer conhecido por
shapes and a founder of the furniture store formas líricas e o fundador da loja de móveis
Dialógica, died on Friday in a small-plane Dialogica, morreu na sexta-feira, num
crash in Moffat Country, Colo., that also took pequeno acidente aéreo em Mofat Country,
the life of his flying companion., Ivan Luini, Colorado, que também tirou a vida de seu
according to their familes. Mr. Savarese was companheiro de vôo, Ivan Luini, de acordo
48 and lived in Manhattan and Southampton, com suas famílias. Savarese tinha 48 anos, e
N.Y.[…]. vivia em Manhattan e Southampton, New
York.[...]
The New York Times OBITUARIES Thursday, New York Times OBITUÀRIOS Terça feira, 1
may 1, 2008 de maio de 2008
Yossi Harel, Who, Defying British, Took Jwes Yossi Harel, que, desafiando os ingleses,
to Palestine, Dies at 90 levou judeus à Palestina, morre aos 90 anos
Yossi Harel, Who renamed the rickety ship He Yossi Harel, que rebatizou o frágil navio que
commanded Exodus 1947 and sailed it to comandava como Exodus, em 1947, e o
legend as a symbol of the righteousness of transformou numa lenda como um símbolo da
the mission by Jews to settle Palestine in the justiça da missão pelos judeus para
face of British opposition, died Saturday at his estabilizar a Palestina, contrariando a
home in Tel Aviv. He was 90. oposição britânica, morreu no sábado em sua
His death of a heart attack and burial were casa em Tel Aviv. Ele tinha 90 anos.
widely reported in the Israeli news media.[…] Sua morte por um ataque cardíaco e
sepultamento foram amplamente divulgados
na mídia israelense.[...]
Quadro 6 - Obituário do New York Times – Anexo B.
2 TEXTO E CONTEXTO
2.1 Tipos textuais
2.2 A enunciação
2.4 Contexto
Koch (2003, p.21) explica que “as concepções de contexto variam não só no
tempo, como de um autor a outro [...]”, e muitas vezes, eles não se dão conta desse
fato.
Dentre os autores citados por Koch, destacamos o trabalho de Hymes, o
esquema SPEAKING, matriz de traços etnográficos que permitem caracterizar o
contexto:
O S significa: cenário, lugar; o P participantes: falante, ouvinte; o E fins,
propósitos, resultados; o A sequência de atos: forma da mensagem, forma
do conteúdo; o K código; o I instrumentais: canal/formas de fala; o N
normas: normas de interação/normas de interpretação; o G gêneros.
(HYMES apud KOCH, 2003, p.22).
2.5.1 Título
2.5.2 Parágrafo
A definição é o tópico frasal usado nos textos didáticos. Ela pode ser
denotativa, didática ou científica. O autor mostra como exemplo um trecho de
Augusto Magne do livro Princípios elementares de literatura:
em lugar nenhum. Tem uma varinha mágica, mas as coisas por aqui não se
deixam comover facilmente, ou, na sua rebeldia se comovem por conta
própria, em horas indevidas, de sorte que não devemos esperar pelas
consequências diretas do seu sortilégio. (GARCIA, 2006, p. 227).
3.1 Título
PÁGINA DA
DATA ANEXO TITULO
PUBLICAÇÃO
24/10/2007 C4 C Marco Maia, estilista carioca
25/10/2007 C10 D Miguel Idalgo, primeiro patrão de Lula
26/10/2007 C4 E Mário Sayeg, pioneiro da gerontologia
27/10/2007 C8 F Antonio Mendonça, pastor protestante
30/10/2007 C4 G Elisabete Hart, a eterna voz do Oscar
31/10/2007 C2 H Hélio Cherubini, o legista obstetra
01/11/2007 C6 I José Carlos da Fonseca, um ruralista
02/11/2007 C4 J José Correa, o maior devedor do BB
03/11/2007 C4 K Eduarda Delascio, mulher do médico
04/11/2007 C4 L Gratagliano, o pracinha
Quadro 7 -Títulos dos Obituários.
No quinto título, “Elizabeth Hart, a eterna voz do Oscar”, o autor leva o leitor a
lembrar-se da festa do Oscar. Na entrega do prêmio, comenta-se o evento em si e
não as pessoas que fazem a tradução dos que os apresentadores e premiados
dizem sobre o prêmio. Os tradutores precisam ter conhecimento e experiência
suficientes para que possamos compreender as piadas, que, quando mal
interpretadas, perdem totalmente a graça e a transmissão perde o brilho.
No sexto título, “Hélio Cherubini, o legista obstetra”, o autor trabalha
novamente a curiosidade do leitor. Podemos considerar como paradoxo a frase “o
legista obstetra”, porque encontramos dois pontos opostos: o legista lida com a
morte e o obstetra com a vida.
No sétimo título, “José Carlos da Fonseca, um ruralista”, é um tiíulo simples,
porém quando lemos o texto, percebemos que foi omitida a palavra Militante, que se
houvesse sido destacada no título, traria de imediato a certeza de que estava se
falando de uma pessoa ligada a um movimento político.
No oitavo título, “José Correa, o maior devedor do BB”, embora pareça que o
autor estava mostrando um lado negativo do caráter da pessoa sobre quem estava
escrevendo, a matéria relata bem, porque ele foi considerado o maio devedor do BB
e o que o levou a obter esse título.
No nono título, “Eduarda Delascio, mulher do médico”, é importante observar
que o autor usou a conjunção “do” e não a preposição “de”, para identificar a pessoa
de quem ele fala. Novamente é preciso ler-se o texto para entender o título.
No décimo título, “Gratagliano, o pracinha”, o autor nos apresenta um
brasileiro descendente de italianos que lutou na guerra. Pracinha era o termo que
designava os soldados brasileiros que foram convocados para lutar na Itália.
3.2 Texto
escrever o texto e não pela quantidade de informações que ele possui sobre a
pessoa que faleceu.
O obituário será do tamanho necessário para manter o alinhamento junto às
outras informações fúnebres do caderno.
Essas informações nos foram passadas pelo jornalista Estêvão Bertoni, que
atualmente é o obituarista do jornal, conforme e-mail enviado em 25 de outubro de
2010, anexo M do nosso trabalho.
Analisaremos os obituários publicados no período de 24 a 27 de outubro de
2007 e 30 de outubro a 04 de novembro de 2007, dividindo-os em três partes:
introdução, desenvolvimento e conclusão. Usaremos o termo homenageado para
não repetir o nome da pessoa sobre quem o texto foi escrito. Os textos estão
anexados ao trabalho em ordem de data de publicação, assim os parágrafos
destacados poderão ser facilmente localizados.
A oração “Nos idos dos anos 1960, quando poucos atentavam para a velhice
como um caso de saúde pública” é uma oração subordinada adverbial temporal,
marcada pela conjunção subordinativa quando. “Nos idos dos anos 1960” é um
adjunto adverbial de tempo, inserido na oração adverbial temporal.
No anexo I, encontramos no primeiro parágrafo dois períodos compostos:
[Houve um tempo] [em que os políticos usavam chapéu] [e eram mais
honestos,] [pensava José Carlos da Fonseca] [Todos os fins de semana [–
ninguém sabe por que só nesses dias –] ele punha o seu na cabeça e saía
para passear.]
Nesse relato fica bem caracterizado que o homenageado tinha uma visão
pessoal sobre religião. Mesmo tendo problemas com a Igreja, ele era fiel a suas
convicções pessoais e crítico ao estudar os temas ligados à religião.
No anexo G, o autor identifica a homenageada por uma característica física: a
voz. A voz que marcou por duas décadas a um evento da televisão e provavelmente,
a vida das pessoas amantes do cinema.
Quem viu a entrega do Oscar pela TV Globo nas décadas de 1980 e 1990
tem na memória a voz de Maria Elisabete Figueiredo Hart. Sem mostrar o
rosto, a intérprete virou sinônimo do evento na televisão brasileira.
Marcação temporal –
Miguel Idalgo, primeiro oração subordinada
Quando Miguel Serrano Idalgo carimbou
patrão de Lula – anexo adverbial temporal.
a carteira daquele Pernambucano
(Introduzida pela
D obstinado [...]
conjunção subordinativa
temporal quando)..
Mário Sayeg, pioneiro Marcação temporal –
“Nos idos dos anos
da gerontologia – Nos idos dos anos 1960, quando poucos
1960” - oração adverbial
atentavam para a velhice [...]
anexo E temporal, marcada pela
conjunção quando.
Antonio Mendonça, Não havia contradição em ser pastor e
Convicção religiosa e
pastor protestante – pesquisador do protestantismo e
crítica – “não havia
defender o ecumenismo na visão do
anexo F contradição”.
professor Antonio Gouvêa Mendonça
Elisabete Hart, a eterna Quem viu a entrega do Oscar pela TV Identificação do
voz do Oscar – anexo Globo nas décadas de 1980 e 1990 tem homenageado por
na memória a voz de Maria Elisabete característica física: a
G Figueiredo Hart voz.
Hélio Cherubini, o Durante mais de vinte anos ele entrou na
Omissão do nome –
legista obstetra – sala de aula com o rosto sério e os slides
desperta a curiosidade
debaixo do braço – com fotos de
anexo H do leitor.
cadáveres que ele [...]
José Carlos da Houve um tempo em que os políticos Marcação temporal –
Fonseca, um ruralista – usavam chapéu e eram mais honestos, “Houve um tempo” –
pensava José Carlos da Fonseca. oração adverbial
anexo I temporal.
José Correa, o maior José Arlindo Passos Correa tinha uma
Identificação do
devedor do BB – anexo vida pacata e uma bela casa em
homenageado no inicio
Votuporanga, interior de São Paulo, com
J do primeiro parágrafo.
a mulher e os dois filhos.
Eduarda Delascio,
Eduarda Delascio foi daquelas mulheres Identificação da
mulher do médico- que vivem abnegadas a vida de homenageada no início
anexo K outrem[...] do parágrafo.
Marcação temporal –
oração subordinada
Gratagliano, o adverbial
Quando Vicente Gratagliano entrou
temporal.(introduzida
pracinha- anexo L naquele navio com outros pracinhas[...]
pela conjunção
subordinativa temporal
quando).
Quadro 8 - Análise dos parágrafos introdutórios.
45
Nesse texto, o autor nos mostra que o homenageado tem uma visão bastante
pessoal sobre política, embora tivesse exercido a função de deputado estadual e
deputado federal, não via a política como profissão. No primeiro parágrafo o autor
destaca que ele era advogado e fez carreira como repórter para depois candidatar-
se a um cargo público, permanecendo um bom tempo trabalhando em institutos
governamentais.
Quando uma revista publicou um perfil pouco elogioso sobre ele, em 1999,
sua dívida com o banco era de R$ 300 milhões – valor que hoje, atualizado,
pode passar de R$ 500 milhões e que, somado a outras dívidas com o
Fisco pode chegar a R$ 1 bilhão. Que ele nunca pagou – julgava injustos os
juros cobrados.
Tampouco foi punido pelos mais de 300 processos contra suas empresas –
tinha tantos credores que uns tentam tomar dos outros algum naco de seus
bens.
48
Por isso é provável que o maior deles, o BB, nunca veja a cor do dinheiro
devido, por ser o último da fila de espera. Se seus bens fossem vendidos,
seria preciso pagar os impostos atrasados, depois dívidas trabalhistas e, se
sobrasse algo, iria para banco.
Nesse texto, o autor nos conta como era a vida do homenageado até ser
convocado pelo Exército. Seus medos, remorsos, o amor por uma italiana, a
profissão que passou a exercer quando retornou ao Brasil. Não é mencionada a
família, nem do que ele morreu.
Finalizamos esta seção, com o quadro que apresentamos na próxima página,
mostrando as qualidades de cada homenageado:
49
CARACTERÍSTICA
TITULO ATIVIDADE PROFISSIONAL
PESSOAL
Marco Maia, estilista carioca
Estilista Apostava na ousadia.
– anexo C
Miguel Idalgo, primeiro patrão Empresário – admirava Luiz
Sempre votou em “Luiz”.
de Lula – anexo D Inácio da Silva
Formou a primeira turma da
Mário Sayeg, pioneiro da Cardiologista – especializou-
especialização em
gerontologia – anexo E se em envelhecimento envelhecimento e saúde do
idoso.
Antonio Mendonça, pastor Tornou-se conhecido por
Professor e pastor seus estudos em sociologia
protestante – anexo F
do protestantismo.
Elisabete Hart, a eterna voz Tinha orgulho de ter
Tradutora e intérprete aprendido inglês não na
do Oscar – anexo G
escola, mas na vida.
Adorava dizer que cuidava
Hélio Cherubini, o legista sozinho dos mortos “da
Obstetra e legista barranca do rio em Santa Fé
obstetra – anexo H
do Sul”.
Desde então viveu a vida dele, dos três filhos e seis netos. Cantora lírica,
abandonou a carreira para dedicar-se à do marido, que mantinha uma
enfermeira gratuita. Eduarda cuidava dos pacientes e dos presépios de
Natal. Quando ele recebia alunos em casa, para consultas que varavam a
noite em sua biblioteca, ela lhes servia cafés e strudels. Cem telegramas
desses ex-alunos lamentaram sua morte domingo, no hospital, por
complicações de uma pneumonia. Tinha 92 anos.
Diferente dos textos anteriores, nesse obituário o autor deixa claras as opções
que a homenageada fez para atender a família, deixando de fazer o que gostava
para viver em função do marido, dos filhos e netos.
No anexo L, último de nossa análise, o autor cita as palavras ditas pelo
homenageado no momento da morte. Informa onde ele morreu, a idade e não indica
a causa da morte:
Quando delirava, já internado na UTI, reclamava do tamanho da trincheira
em que havia sido colocado – “não vai caber os outros soldados”,
balbuciava. Morreu pensando na guerra, no hospital em São Paulo, aos 88
anos.
Observamos nos obituários analisados que o autor dos textos relata a vida
das pessoas homenageadas de forma semelhante. As informações de nome, idade,
dos familiares, atividade profissional, característica pessoal, local de falecimento e
causa da morte, estão em todos eles, embora não exista uma pré-determinação do
parágrafo em que serão escritos.
53
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por exemplo, quando ele esclarece como Miguel Serrano Idalgo passou a agir
após seu ex-funcionário ter sido eleito Presidente da República ou quando relata a
importância do trabalho do médico Mário Antonio Sayeg no estudo do
envelhecimento humano.
Em cada texto conseguimos visualizar o homem ou a mulher que realizou
uma tarefa que merece ser conhecida por todos. Principalmente porque são
atividades do dia a dia de pessoas que podem nos servir de exemplo e de incentivo
para nossas realizações pessoais.
Na conclusão dos textos, o obituarista informa a idade, os familiares deixados,
o local de falecimento e a causa da morte.
Assim, diante do estudo realizado concluímos que esses obituários têm uma
estrutura estável que nos permite defini-los como relatos, conforme nos ensinam
Dolz, Schneuwly e Noverraz, e identificá-los como gênero do discurso jornalístico, de
acordo com a definição de Bakhtin.
São textos que contém conteúdo temático, apresentam a vida de pessoas
comuns, que ficam conhecidas a partir da publicação dos obituários; possuem estilo
próprio, são relatos que nos apresentam experiências vividas em um determinado
tempo.
E sua construção composicional é específica para o meio de comunicação em
que estão inseridos, possuem título, introdução, desenvolvimento e conclusão
obedecendo sempre a diagramação da página em que são publicados.
Os títulos sempre trazem um detalhe da vida do homenageado; na
introdução encontramos em vários deles a predominância da marcação temporal; no
desenvolvimento do texto fatos relevantes ou curiosos que mostram como viveram;
na conclusão encontramos sempre a causa da morte.
Acreditamos que na medida em que os obituaristas conseguissem um espaço
maior por parte do setor de diagramação do jornal, eles nos dariam mais detalhes da
vida das pessoas sobre quem escreveram. Por exemplo, no obituário de Eduarda
Delascio consta que cem telegramas de ex-alunos lamentavam sua morte.
Podemos imaginar que deveria haver muitas histórias envolvendo os alunos,
ela e o marido. Histórias que trariam mais informações sobre a mulher que se anulou
para viver a vida do marido.
Foi possível determinar a estrutura dos obituários a partir de estudos sobre
gêneros textuais. Para um aprofundamento do tema, estudos futuros poderão ser
56
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes,
2003.
BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral II. São Paulo: Pontes, 1989.
SILVA, Jane Quintiliano G. Gênero discursivo e tipo textual IN: DECAT, Maria
Beatriz Nascimento, BITTENCOURT, Vanda de Oliveira (Org.). Scripta Linguística
e Filologia. Vol. 2, n.4, Revista da Pragrem. Belo Horizonte: PUC Minas, 1999.
SUZUKI, Matinas. O Livro das Vidas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
58
ANEXOS