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ANAIS DE TEXTOS

COMPLETOS
SUMÁRIO ANAIS DE TEXTOS COMPLETOS

16 Só um tapinha? Corpo e política no 97 A figura da repetição no cinema: três momentos


audiovisual nas redes sociais Alexandre Wahrhaftig
Adil Giovanni Lepri
103 Os Corpos e o Tempo em Ulysse, de Agnès Varda
22 1968: Paulo Emilio e o diabo solto, Ana Costa Ribeiro
a tolice e os incentivos
Adriana Fresquet 111 Montagem, ética e adversário
Ana Rosa Marques
28 Do cinematógrafo ao celular:
118 Apropriações da cultura pop em
tão longe e tão perto
Adriano Chagas Batman Pobre e Hitler III Mundo
Anderson Moreira
34 Prata Palomares (1971): censura e
124 O Chiaroscuro na cinematografia de
tropicalismo no contexto pós-1968
Adriano Del Duca Cabra Marcado Para Morrer
André Fonseca Besen
40 Gênero e sexualidade: uma análise a
130 A natureza do gesto do [no] cinema:
partir da direção de fotografia
Agnes Cristine Souza Vilseki corpos e instrumentos conjugados
Andréa C. Scansani
46 Montagem e pensamento nas
136 A catástrofe do agora em A
imagens esféricas do real
Alberto Greciano terra das almas errantes
Andressa Caires Pinto
52 A Salomé de Oscar Wilde e o (in)
143 As Políticas Públicas do Audiovisual
consciente criativo de Al Pacino
Alex Beigui e a Regionalização da Produção:
um olhar sobre o Norte
58 O Cinema de Marta Nassar e Jorane Castro Angela Gomes
Alexandra Castro Conceição
151 Uma estratégia do fotográfico no cinema
64 A força dos fracos é seu tempo lento – Annádia Leite Brito
notas de um processo de trabalho
Alexandre Brasil de Matos Guedes 156 Um Disney antidisneiano
Annateresa Fabris
70 O crítico-cineasta das mil faces
Alexandre Figueirôa Ferreira 163 Experimentar o real: as interseções
entre o cinema documentário e o
76 O realismo cinematográfico de cinema experimental no Brasil
Walter Carvalho em Justiça Antoine d´Artemare
Alexandre Gomes do Nascimento
168 Eryk Rocha, João Moreira Salles
84 Violência na escola: o que o e os arquivos audiovisuais
cinema tem a ver com isso? Arlindo Rebechi Junior
Alexandre Silva Guerreiro
175 Experiências com o Cinema na Educação:
90 Os diálogos intratextuais de Woody crianças com câmeras nas mãos
Allen em Roda Gigante Arthur Fiel
Alexandre Silva Wolf
ANAIS DE TEXTOS COMPLETOS Andréa C. Scansani

A natureza do gesto do [no] cinema:


corpos e instrumentos conjugados1
The nature of the gesture of [in] cinema:
bodies and instruments combined
Andréa C. Scansani2
(doutora - UFSC)

Resumo: Esta apresentação tem por objetivo desenvolver uma linha de pensamentos que coloque em relevo
a riqueza das reflexões acerca da natureza do gesto para que possamos delinear com certa precisão o que
entendemos por gesto cinematográfico. A partir deste exercício epistemológico, cotejaremos seus desdobra-
mentos com o próprio ato de criação fílmica no exato momento de sua concretização.

Palavras-chave: gesto, Flusser, cinematografia.

Abstract: This work aims to develop a line of thoughts that emphasizes the richness of the reflections about
the nature of the gesture so that we can delineate, with some precision, what we mean by a cinematographic
gesture. From this epistemological exercise, we will compare its unfolding with the very act of filmic creation
at the exact moment of its concretization.

Keywords: gesture, Flusser, cinematography.

Toda imagem cinematográfica, a nosso ver, é dotada de intenção, de certa personalidade, de atributos
envolventes [ou repelentes] para além do conteúdo referencial e figurativo que preenche nossos olhos através
de sua incontornável visibilidade. Ela guarda peculiaridades em sua forma que são, muitas das vezes, indepen-
dentes dos propósitos imediatos de seu autor e que, no entanto, se fazem presentes. Alguns detalhes podem
ser acidentais, outros são pensados em suas minúcias. Desse modo, ela porta seus encantos, sua graça ou
sua hostilidade, quer tenhamos consciência deles ou não. Algo semelhante ao que o senso comum considera
um gesto. Aquele toque irremediavelmente pessoal, por vezes indescritível, e que transcende o simples ato
planejado. Como o caminhar de uma pessoa. Há um modo particular de cada corpo se deslocar no espaço. A
coordenação e o balanço de ossos e músculos. O toque dos pés no chão. A leveza ou o rastejo, a diligência ou
o desânimo. A cadência dos braços, a envergadura das pernas. A cada passo o caminhar se constrói. Como
se o gesto só pudesse se manifestar junto ao tempo, imprimindo sua presença através de seu sutil trajeto,
em movimento. Mas como pensar o gesto sendo ele tão instintivo, involuntário e fugaz? Seria ele da mesma

1 - Trabalho apresentado no XXII Encontro Socine de Estudos de Cinema e Audiovisual no Seminário Temático Corpo, gesto e atuação.
2 - Docente do curso de Cinema da UFSC. Doutora pelo Programa em Meios e Processos Audiovisuais ECA/USP; mestre em Multimeios pelo IA/
UNICAMP.

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A natureza do gesto do [no] cinema: corpos e instrumentos conjugados

natureza da imagem? Se assim indagamos, é porque parece-nos genuíno aproximarmos as duas instâncias:
imagem e gesto. Não apenas para refletirmos sobre as características únicas de cada manifestação, mas prin-
cipalmente, para pensarmos as possibilidades de representação dos gestos através da imagem. Algo que é
empreendido pelo cinema nas mais variadas formas. Formas essas que também podem ser entendidas como
gestos. Uma outra sorte de gesto, um outro caminhar. Aquele dado pela convergência de muitos passos. Pas-
sos dos atores e dos cenários; da equipe e dos equipamentos; da preparação e da finalização; da montagem
e da projeção. Um conjunto de gestos cinematográficos na construção do gesto fílmico, isto é, das imagens [e
dos sons] em movimento que constituem o cinema.

No entanto, o franco e imediato encontro da câmera cinematográfica com os corpos filmados não ne-
cessariamente satisfazem a reprodução da intimidade gestual. Uma inevitável dose de imaginação é exigida
na expressão em imagens deste ou daquele gesto, desta ou daquela emoção e das tantas expressões de um
corpo. Seria possível, então, abrigar em imagens as nuances do gesto? Como oferecer aos olhos, por exem-
plo, a proporção exata de um caminhar?

Ao atravessar a porta em direção à rua, ele sentiu lágrimas na garganta; mas sabia que
aquilo não significava propriamente comoção, e sim, antes, um gradual enfraquecimen-
to dos nervos. Imprimiu deliberadamente uma rapidez e vivacidade a seus passos que
não condiziam com seu estado de ânimo (SCHNITZLER, 2008, p. 89).

Qualquer gesto banal pode guardar uma infinidade de camadas, não necessariamente visíveis que, no
entanto, compõem o quadro do movimento. O corpo emocional estará sempre presente, explícito ou não. O
trecho acima - retirado do livro Breve romance de sonho (Traumnovelle, 1926) de Arthur Schnitzler e adaptado
ao cinema por Stanley Kubrick (1928 - 1999) em sua última obra De olhos bem fechados (Eyes wide shut, 1999)
-, nos traz a verdadeira dimensão do desafio enfrentado pelo gesto cinematográfico. Como dar a ver [e sentir] a
densidade dessas poucas linhas? Como transformar em imagens [e sons] o que não se pode observar? Essa, a
nosso ver, é a tarefa mais fascinante e árdua do cinema. Parece-nos evidente que não deve haver uma fórmula,
nem mesmo pistas pálidas que nos indiquem a direção ideal a ser tomada. Cada cineasta em comunhão com
sua equipe, em cada plano filmado, encontrará sua própria maneira de expressar uma lágrima na garganta.
No entanto, não nos resta dúvidas de que esse modo único de cada filme, de cada tomada, é resultante da
sintonia entre muitos modos individuais. Não apenas os próprios modos presentes nos gestos do corpo do
ator, mas principalmente [e é isso que nos interessa], a transformação desse corpo no processo da realização
fílmica. Desta maneira, faz-se necessário compreender, um pouco mais a fundo, o que entendemos como ges-
to. Um termo certamente inesgotável e do qual nos valemos para estudar o ato cinematográfico.

Ao longo de décadas, a reflexão sobre o gesto aos moldes de uma teoria se faz presente na obra de
Vilém Flusser (1920 - 1991). Ela é elaborada em textos esporádicos que culminam em seu último livro lançado
ainda em vida - Gestos (Gesten: Versuch einer Phänomenologie, 1991) -, do qual fazem parte análises de ges-

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ANAIS DE TEXTOS COMPLETOS Andréa C. Scansani

tos específicos como o gesto de escrever, o gesto de amar, o gesto de barbear, o gesto de destruir, o gesto de
buscar, entre outros. Para além do empenho em esmiuçar os diversificados gestos humanos, como o conheci-
do capítulo “O gesto de fotografar”, publicado pela primeira vez no livro A filosofia da caixa preta: ensaios para
uma futura filosofia da fotografia (1985), Flusser nos convida a transpor o sentido superficial que possamos
depreender do termo, ao colocar em perspectiva seu caráter plural. Um dos passos nessa direção se dá ainda
em 1975, quando o fundador e editor da revista ArTitudes, François Pluchart, propõe ao filósofo a publicação
de um artigo intitulado “Gesto e sentimentalidade” (Geste et sentimentalité) ao que Flusser responde com um
curto e inspirado texto. O trabalho, escrito originalmente em inglês sob o título “Gesture and Sentimentality”, é
acompanhado de uma versão francesa feita pelo próprio autor. É neste artigo que está, a nosso ver, uma das
discussões mais estimulantes sobre a natureza do gesto. E, se expomos aqui a origem bilíngue de sua criação
é porque seu título guarda a chave da complexidade de seu próprio conteúdo. Vejamos como. Flusser, ao re-
escrever o texto em alemão, escolhe a palavra Gestimmtheit para substituir sentimentalidade, um vocábulo de
difícil tradução e que é objeto de várias notas de rodapé em todas as obras que o citam. Este capítulo, Gesten
und Gestimmtheit, ao ser traduzido para outros idiomas recebe versões das mais variadas e com significados
razoavelmente diferentes como Gesto e afeto, Gesto e afinação, Gesto e concordância, Gesto e consentimento,
Gesto e disposição. A abertura para a possibilidade de múltiplas interpretações faz eco no próprio conceito
que não restringe o pensamento a sentidos conclusivos. O próprio gesto intelectual de Flusser, ao ampliar
o horizonte semântico do termo, demonstra sua intenção e sua sagacidade. O interesse do filósofo parece
residir menos em uma definição conclusiva acerca do gesto e mais em como o gesto pode deflagrar modos
sensíveis de pensar, expandindo a própria noção de pensamento para que esta não se restrinja apenas à ra-
zão. Colocando o pensamento numa zona entre fronteiras.

Ao longo de seus parágrafos, o filósofo empenha-se em fazer uma fenomenologia do gesto e esboça
uma definição, manifestamente inconclusa, com a qual podemos nos aproximar do gesto do [e no] cinema.
Para ele, os gestos podem ser compreendidos como “movimentos do corpo, e/ou dos instrumentos e ferra-
mentas unidos a este, que expressam uma intenção diferente da razão” (FLUSSER, 2014a, p. 249-254). Mas
o que seria a expressão de “uma intenção diferente da razão”? O caminho percorrido por Flusser para chegar
a essa afirmação parte da tentativa de definição do termo “sentimentalidade” [ou sua prima alemã, Gestimm-
theit]:

Devo dizer que “sentimentalidade” é a representação simbólica dos sentimentos atra-


vés dos gestos, e nesse sentido a expressão é a articulação dos sentimentos. Resu-
mindo: devo tentar manter que os sentimentos (o que quer que esta palavra signifique),
podem manifestar-se através de uma variedade de movimentos, mas o que expressa e
articula “sentimentalidade” é a maneira com a qual são representados. [...] E no que diz
respeito ao termo “sentimento”, eu posso não conhecer o seu significado, mas eu sei
que ele significa algo diferente da “razão”. E já que eu sei aproximadamente o que signi-
fica “razão”, esse entendimento negativo do “sentimento” é o suficiente. Portanto, posso
dar continuidade na consideração da sentimentalidade como sentimentos gesticulados

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A natureza do gesto do [no] cinema: corpos e instrumentos conjugados

(FLUSSER, 1975, pp. 4-5, grifo nosso).

Se seguirmos as ponderações de Flusser, podemos argumentar que a “sentimentalidade” [esta “repre-


sentação simbólica dos sentimentos através dos gestos”] é da ordem da forma, da estética. Pois se a expres-
são dos sentimentos pode se dar através de movimentos dos mais variados, é na maneira com a qual eles se
apresentam que reside sua potência em expressar aquilo que não pertence à razão. Aquilo que é compreen-
dido pelos sentidos. Não estaríamos aqui, indiretamente, delineando os elementos constituintes do cinema?
Como pensar a expressão dos sentimentos do [e no] cinema? Através de quais dispositivos ela se manifesta?
Poderíamos tomar emprestado a inconclusa definição de gesto de Flusser e nela fazer uma rápida [talvez
leviana] adaptação: “o cinema pode ser compreendido como movimentos do corpo, e/ou dos instrumentos
e ferramentas unidos a este, que expressam uma intenção diferente da razão”. Assim sendo, a operação dos
corpos humanos - obrigatoriamente vinculados e processados por inúmeros artefatos -, concebem os gestos
cinematográficos. Sua expressão se dará sempre pela articulação entre imagens, movimentos e sons e será
fruto de uma infinidade de gestos individuas combinados. Cada gesto [do ator, da câmera, da direção, do ce-
nário, do clima etc.] na composição de um plano guardaria em si sua natureza: a sentimentalidade, isto é, a
potência do afeto, do estado de presença, da disposição, da concordância e da afinação do encontro estético.
Essa sentimentalidade, esse modo que prescinde da razão, é expressada por Béla Balázs, em seu O homem
visível de 1924:

O não falar não significa que não se tenha nada a dizer. Aqueles que não falam podem
estar transbordando de emoções que só podem ser expressas através de formas e ima-
gens, gestos e feições. [...] Os gestos do homem visual não são feitos para transmitir
conceitos que possam ser expressos por palavras, mas sim as experiências interiores,
emoções não racionais que ficariam ainda sem expressão quando tudo o que pudesse
ser dito fosse dito [...] Pensar a imagem para além de sua capacidade de descrever pura
e simplesmente um evento pode nos levar a olhar mais de perto as complexidades dos
fotogramas gerados pelo mecanismo de uma câmera.

Esta outra forma não conceitual, não racional, com a qual o gesto faz sua morada é, a nosso ver, uma
das joias do cinema. E a aproximação deste vocábulo à própria natureza da arte cinematográfica parece en-
caixar-se de maneira espontânea. Fato corrente na teoria do Cinema. Em seu primeiro texto, publicado ainda
na Itália em 1908 sob o título “O triunfo do cinematógrafo”, Ricciotto Canudo, ao tentar elaborar seus primeiros
esboços sobre o que ele mesmo, mais tarde, denominaria como a sétima arte, aponta:

E o gesto rápido, que se afirma com uma precisão de um gigantesco relógio de ima-
gens, exalta o espírito dos espectadores modernos, já habituados a viver com rapidez.
A vida “real” é representada de uma maneira suprema, ela é justamente estilizada na
rapidez. (CANUDO, 1995, p. 25)

A afirmação do gesto cinematográfico como um gigantesco e preciso relógio de imagens parece fazer
eco, mais de cem anos depois, no que Laura Mulvey irá colocar em seu artigo Cinematic gesture: the ghost

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ANAIS DE TEXTOS COMPLETOS Andréa C. Scansani

in the machine (2014), onde ela retoma a análise de imagens nos gestos de Marilyn Monroe em Os homens
preferem as loiras (Gentlemen Prefer Blondes, 1953) de Howard Hawks e afirma:

[...] a medialidade dos gestos [...] enaltece o próprio meio cinematográfico como textura
material e processual. O corpo fílmico na tela também exibe a máquina cinemática
em uma fusão do humano e do mecânico. [...] Seus gestos não são simplesmente re-
-apresentados fisicamente, mas são visualmente e tecnologicamente aproveitados e
mecanicamente modulados. Em momentos como este, o cinema se materializa, ges-
ticulando para o seu próprio ser através de sua relação privilegiada com os gestos da
figura incorporada a ele.

Entre Canudo, Balázs e Mulvey há uma congruência: a fusão entre os gestos da máquina e os gestos hu-
manos filmados como um modo de expressão que possa dar conta de “uma lágrima na garganta”, de algo que
foge totalmente ao intelecto. No entanto, a nosso ver, falta-nos olhar para alguns processos com os quais es-
tes gestos se tornam filme. Visto que podemos pensar o cinema como um conjunto de gestos afinados entre
os aspectos humanos e técnicos. Investiguemos quais são os agentes destes gestos e o que eles comportam.

Tento fazer esse roteiro de forma a me convencer de que se pode rodá-lo como está,
que se pode quase obter um filme seguindo a decupagem plano a plano. Feito isso eu
me lanço na produção.

Ocorre então um fenômeno terrível: quando estou na presença dos atores, diante dos
cenários, [...] descubro que aquela resposta que me parecia cheia de vida não significa
mais nada quando é enunciada por um ator que lhe imprime sua própria personalidade;
descubro que sou obrigado, na realidade, a conjugar minha própria personalidade com a
personalidade do ator (Jean RENOIR, 1990, p. 260).

A declaração de Jean Renoir (1894 - 1979) mostra com clareza a suavidade, ou mais bem, a necessária
maleabilidade do ato cinematográfico. O embate entre a ideia no papel e a ideia encarnada apresenta enormes
desafios. Toda concepção de um personagem, por exemplo, precisa encontrar um corpo, uma voz, um figurino,
um cenário, uma maneira de ser enquadrado, iluminado etc. Para ele, tanto o corpo do ator [acompanhado
de suas ideias, seus trejeitos, sua formação etc.] quanto sua própria concepção [também escoltada por suas
idiossincrasias] irão, ao longo dos ensaios e das filmagens, descobrir e modelar os gestos do filme. Cada ci-
neasta descobrirá sua própria capacidade de moldar-se [ou não] à realidade imposta desta ou daquela obra.
É através do conjunto de pequenos encontros humanos [talvez não tão pequenos assim, se pensarmos no
encontro entre Jean Renoir e Coco Chanel - quem assina o figurino de A regra do Jogo (La règle du jeu, 1939)
] que o filme vai sendo forjado. Desse modo, poderíamos pensar o cinema também como um jogo constante
entre a ideia e a concretização da mesma, entre a intuição e a razão, entre o planejamento e o improviso.
Um jogo cujas regras são aprimoradas a cada movimento dos jogadores envolvidos. Ou, como sugerido por
Renoir, uma conjugação de personalidades, de gestos. Talvez a comunhão entre profissionais não seja verda-
deira, nem possível, para todas as produções cinematográficas. Contudo, queremos crer, que ela favorece o
surgimento das grandes obras. Não somos ingênuos de pensar que essa é a fórmula de um bom filme, isso

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A natureza do gesto do [no] cinema: corpos e instrumentos conjugados

não existe. No entanto, temos convicção [e provas] de que os momentos de afinação, concordância, confian-
ça e entrega entre os membros de uma equipe aumentam o potencial criativo individual e coletivo. O gesto
cinematográfico é desta natureza.

Referências
BALÁZS, B. Theory of film. Londres: Dennis Dobson, 1952.

BEZERRA, J. A vida lá fora. RJ: CCBB, 2017.

BOYER, E. Les gestes au cinéma. L’art du cinéma, n 10, 10 mar 1996.

CANUDO, R. L’Usine aux images. [S.l.]: Nouvelles Éd. Séguier et Arte Éd., 1995.

FLUSSER, V. Geste et sentimentalité. arTitudes international, 25-27, out-dez 1975.

FLUSSER, V. Les Gestes. Bruxelas: Al Dante, 2014a.

FLUSSER, V. Gestos. SP: Annablume, 2014b.

MULVEY, L. Cinematic gesture. Journal Cultural Research, 19, n 1, 23 jun 2014.

RENOIR, J. Escritos sobre cinema. RJ: Nova Fronteira, 1990.

ROY, P. Le geste. Appareil, 8, 02 nov 2011.

SCHNITZLER, A. Breve romance de sonho. SP: Cia das Letras, 2008.

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