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OLIVEIRA, Laura de.

Publicar ou Perecer: a edições GRD, a política da tragédia e a campanha


anticomunista no Brasil (1956-1968). 317 f. 2013. Tese (Doutorado em História) – Universidade
Federal de Goiás, Goiânia.

Tem-se uma tese motivada a analisar dois conjuntos de questões: a primeira parte da
verificabilidade da divulgação de propaganda política pautada em uma editora, as edições GRD, de
Gumercindo Rocha Dorea, de 1956 até 1968, apesar de a mesma existir até a atualidade (não
conferi, mas é informação da tese), verificando-se, especificamente, o programa editorial que a
autora entende ser “o conjunto das relações institucionais e humanas travadas entre a editora e
outras partes, bem como o instrumental subjetivo do editor” (p. 10). É interessante a ressalva
metodológica no uso do termo programa em lugar de projeto: pois visto como uma construção
coletiva, apesar de, obviamente, possuir ingerência do editor, chefe das publicações. Essa
perspectiva, como coloca Oliveira, tem o objetivo de ampliar a análise para além de um fato dado,
mas na constituição de relações diversas que a envolve.
O grande tema que envolve toda a tese é o integralismo, movimento de cunho fascista
instaurado no Brasil da primeira metade do século XX e capitaneado principalmente por Plínio
Salgado, o golpe civil militar, as propagandas anticomunistas e as relações com interesses
contextuais de Guerra Fria, especificamente dos Estados Unidos no Brasil. A autora pretende
entender as articulações do movimento através da comunicação, não fechada em si, quer também
desbravar a estruturação do mesmo após a anistia do fim da Segunda Guerra Mundial, seja na
formulação de políticas, na construção de memórias, nas relações com a religiosidade. Portanto,
trata-se de uma busca por compreender um aspecto amplo do movimento, não só em sua própria
formulação, mas nas dinâmicas que envolvem os sujeitos individuais ou coletivos, como na busca
por identidades intelectual e política da própria publicação, caso em que as Edições GRD demarcam
como exemplar na heterogeneidade das constituições históricas de qualquer cunho (o homogêneo
seria uma ilusão confortável). Partindo dessa premissa, explora a continuação das perspectivas na
figura de Gumercindo Rocha Dorea, como processo histórico, na participação do mesmo no IPÊS,
na formulação do golpe civil militar, na produção literária anticomunista e com auxílio direto de
interesses ianques. Vale destacar, também, na leitura da introdução, as fontes que pretende abordar
e alguns destaques historiográficos pertinentes. Primeiro, quer-se investigar documentos do Fundo
Plínio Salgado encontrados no Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro para
entender a construção da editora e seu formato, relacionando-o ao movimento e suas características
de compreensão, como memória e propaganda. Destaca-se, neste caso, o diálogo com historiadores
que também exploraram os documentos apresentados: Gilberto Grassi Calil, Rodrigo Christofoletti
e Rogério Lustosa Victor.
Interessante a apresentação da perspectiva de ouvir orelhas que Oliveira faz. Quase poético
e retirado de afirmações do próprio Gumercindo Dorea, a ideia é dar atenção a partes específicas
das publicações que possuem ingerência direta do editor, os paratextos. A noção é baseada no
pensamento de Gérard Genette em que busca estabelecer os vínculos das publicações
especificamente nos espaços que há uma intervenção de interesses editoriais, que “constituem uma
mensagem limiar entre o texto nu e o mundo exterior” (p. 11), isto é, olhando especificamente para
um dos paratextos, os peritextos (“zonas do livro que competem à intervenção direta do editor, tais
como a capa, a página de rosto, as orelhas, os prefácios e os posfácios” – p. 11), busca encontrar as
relações diretas entre os escritos publicados e os interesses do editor, numa leitura deste para com
aquele, criando uma zona própria de intervenção da mensagem dirigida ao leitor. Não sou um
profundo conhecedor das teorias da comunicação mas a formulação teórica me pareceu bastante
notória. Por fim, mas não menos importante e com relação ao primeiro capítulo, a autora pretende
fazer uma biografia de Gumercindo Dorea. O sentido exposto na produção da investigação
biográfica não é em si estabelecer tal gênero como fundante da tese, mas perceber que, apesar de
todos os pormenores, a vida, o pensamento e as ações do editor acabam por influenciar diretamente
todas as publicações do periódico. Isto é, não que o produto cultural seja meramente um reflexo ou
pilar do biografado, mas a dinâmica das relações do mesmo com o espaço e tempo que o circundam
são importantes para buscar compreender a obra como um todo (não em si).
No capítulo dois, pretende estabelecer um vínculo entre a atuação de GDR (abreviarei o
nome a exemplo de Marcela Quinteros) no IPÊS, as publicações da editora GRD e o golpe de 1964.
Aqui também é interessante denotar algumas considerações: primeiro, como já evidenciado no
capítulo anterior, a perspectiva relacional da análise, em especial na propagação dos discursos
nacionalista, anticomunista e cristão; segundo, o trabalho com um outro tipo de fonte: os
relatos/entrevistas. Tal fonte não foi obtida diretamente pela autora, mas através de um terceiro,
Roberto de Sousa Causo, que, como fonte, acaba por traduzir ingerências de sua própria produção.
Além disso, também apresenta todo um aparato historiográfico existente que já traduz, de modo
investigativo, o papel do IPÊS e da Edições GRD na concepção do golpe de 1964, em especial na
produção de políticas culturais que refletem uma legitimação da autoridade militar pautada no
anticomunismo. Assim, pretende-se explorar documentos que demonstrem a relação entre os
interesses políticos do instituto e a reprodução desses interesses como políticas culturais por meio
de publicações como das edições. Essa relação acaba por ser obtida através da análise da
documentação sobre tais políticas disponível no Arquivo Nacional Brasileiro, localizado no Rio de
Janeiro.
De forma análoga, apresenta a documentação obtida na Biblioteca de Manuscritos Mudd da
Universidade de Princeton e demais advindos do Arquivo Nacional dos Estados Unidos (Opening
the Archives?) que busca relacionar as ações do instituto com interesses estadunidenses que se dão,
segundo a autora, mais que apenas financiamento, mas diretamente, na tradução, distribuição,
circulação de produtos culturais. Isso se reflete mais profundamente na análise do terceiro capítulo,
quando constrói um panorama que envolve a diplomacia (axial, subterrânea) dos EUA com a
América Latina em um contexto de Guerra Fria e na propagação do anticomunismo, não como
produção externa, mas explorável pelas configurações contextuais. Vale destacar também que não
se configuram apenas como mensagens, para ressaltar as teorias da comunicação, em específico
Richard Hoggart, recebidas, incutidas e aceitas. Há de se observar que exista uma forma própria de
interpretação das leituras que perpassa tanto as escolhas pelos meios editoriais quanto a recepção do
leitor (Carlo Ginzburg e Mennochio, por exemplo). Por uma dificuldade analítica, de fontes e
objetivos, talvez, a autora não se debruce sobre tal meio, mas deixa claro a existência do mesmo.
Isto é, cria uma categoria antropológica do leitor/receptor, mas sempre destacando o fato de não ser
homogênea ou passiva (Gramsci já não formulava a ideia de subalterno em lugar de dominado?)
como algumas produções historiográficas costumam estruturar. Devido à razão de trabalhar com
documentações do exterior, em específico dos Estados Unidos, a autora apresenta diálogo com a
historiografia estadunidense, particular em certas concepções.
Dois últimos destaques que pretendia fazer ao seguir a leitura são apontados pela autora:
O primeiro: “a divisão da tese em quatro capítulo, intitulados, respectivamente, ‘o passado’,
‘o presente’, ‘o futuro’ e ‘a tragédia’ [em especial os três primeiros] não alude a recortes
cronológicos estanques, mas a temporalidades entrecruzadas por um programa editorial e político
assentado no alarme de uma tragédia iminente” (p. 27). Essa configuração apresenta as noções de
tempo não como meros produtos lineares, positivistas, mas em condição de relações imbricadas de
pertencimento e dinâmicas que podem ser traduzidas pelo conceito historiográfico de processo. Não
se estabelece o fato posterior como determinante do anterior, mas é possível entender que
continuidades, articulações, programas e interesses acabam por gerar consequências que se refletem
no contexto histórico não de forma linear ou objetiva, mas pelos meandros da história. Cabe ao
historiador, justamente, perceber e compreender tais nuances. É por isso que o passado (como
apresentado no livro) não é meramente uma análise do integralismo, mas nas relações entre GRD e
as configurações do espaço e tempo. O mesmo se pode afirmar sobre o presente e o futuro.
O segundo, de caráter mais exemplar e de curiosidade: “Publicar ou perecer”/”Publish or
perish”, título da tese, faz alusão a uma locução que a autora encontrou em um documento escrito
por um diretor responsável pelo Programa de Fomento ao Livro. A citação, como ela afirma, não
traduz apenas uma referência ao fast science, aos moldes da conjuntura brasileira atual da CAPES
(pequena grande crítica), mas “parecia sintetizar a lógica da guerra cultural norte-americana nas
duas primeiras décadas da Guerra Fria”, isto é, conforme apontado na introdução, na legitimação de
um discurso a favor de interesses geopolíticos que representava todo o aporte da indústria cultural
(aos moldes de Adorno e Horkheimer) na política à América. Uso indústria cultural por dois
motivos: o primeiro que a própria autora estabelece como produção cultural o conjunto de
publicações que tinham interesse lógica na guerra de legitimação que passava pelo aporte
culturalístico; o segundo, por me lembrar de duas publicações: a primeira da tese de Alexandre
Busko Valim sobre o cinema e a Guerra Fria no Brasil, remontando também a uma diplomacia
estadunidense em favor da divulgação do anticomunismo; e o segundo, do livro organizado pelo
professor Ângelo Priori, O anticomunismo e a cultura autoritária no Brasil, que se refere a um
conjunto de configurações brasileiras que demarcam uma cultura política historicamente constituída
no Brasil. Obviamente que não compreendo o termo fechado em si aos moldes que os autores o
definiram, já que partiam de concepção sobre cultura e arte, por exemplo, que são atualmente
consideradas elitistas até mesmo pelas produções do campo artístico, mas o conceito reflete as
considerações de uma tecnocracia cultural, na configuração de produção artística aos moldes do
sistema capitalista em relações de trabalho e na massificação desvirtuada da objetivação da
produção artística (tudo é passível de se tornar mercadoria no sistema, até mesmo o rosto de um
revolucionário como Ernesto “Che” Guevara). Devaneios deveras simplificados que acabariam,
caso necessário aprofundamento conceitual, tomando a maior parte deste relatório. Por fim, deixo-
os como processo de criação de relações por meio das letras.
Para o primeiro capítulo, o passado, a autora faz um levantamento sobre a formulação da
GRD (editora) e seu contexto de publicação, principalmente ligado ao integralismo. GRD,
inclusive, era próximo de Plínio Salgado e a narrativa inicial é justamente a do recebimento de um
livro escrito por este. A autora explora três tipos de fontes para fazer a análise da primeira parte: as
entrevistas de GRD; as orelhas de livros, partes introdutórias, os chamados paratextos como já
discutido; e o teor das publicações, isto é, os temas, assuntos, autores e tipos de tiragens que eram
feitas pela editora. Dessa forma, apresenta as características do futurólogo passadista, a relevância
de autores próximos do integralismo e da ficção científica. Dessa forma, na segunda parte,
apresenta a formulação tanto de uma glorificação do passado pautado na figura de Salgado e nas
ações da AIB, mas também demonstra a construção de estratégias políticas, em especial culturais, a
fim de se dar razão aos discursos integralistas. Veja bem, não se passa de um integralismo aos
moldes fascistas derrotados da Segunda Guerra Mundial (apesar das aproximações passíveis de
serem feitas), mas de uma reorganização do mesmo que dizia se afastar do europeu por meio de
suas bases anticosmopolita (na teoria) – além de anticomunista, nacionalista, cristã católica.
Aproximações como império soviético e nazismo russo são demonstrações levantadas pela autora.
As políticas culturais se baseiam no “Plano 333” e na abertura da empresa “Sigma –
Empreendimentos Educacionais e Culturais”. Novamente se percebe uma familiaridade a dois
capítulos da obra organizada pelo professor Ângelo Priori: “O anticomunismo integralista nos anos
1930: o caso da revista Anauê!” escrito por Rodolfo Fiorucci; e “Protetoras da Nação: a luta
anticomunista da direita feminina gaúcha em tempos de autoritarismo”, por Eduardo dos Santos
Chaves. Este último em especial quando relacionada às ações tomadas pelo grupo de mulheres
gaúchas na manutenção de instituições educacionais que exprimiam o anticomunismo através do
ensino. Outra configuração desse tipo de característica doutrinatória do plano, como consequência,
advinha da CCCJ e a eleição de GRD para presidente em defesa de um uso estratégico e político das
configurações juvenis em defesa da divulgação dos interesses do grupo, em termos
propagandísticos. A ligação entre as publicações e a USIA, por exemplo, através de contrato (que
terá aprofundamento posteriormente) é uma forma de se compreender a grande exploração que se
dá ao anticomunismo como estratégia política/guerrilheira em tempos de Guerra Fria (de novo,
explorada mais adiante).
Vale ressaltar, ainda, uma característica levantada pelos defensores do integralismo: a
espiritualidade. Assim, o movimento era tanto contra o capitalismo como contra o comunismo,
filhos da mesma mãe, ambos imbricados no materialismo, cerne das imoralidades. Esse sentido
espiritual mostrava justamente em como, metafisicamente, a proposta integralista existia como
essência, mas que possuía, sim, as dificuldades da implementação prática, seja na AIB da década de
1930, seja na PRP. Não que as aplicabilidades, como um conceito cristão de pecado, seja o fruto do
impossível, mas como uma tentativa de se aproximar do plano essencial. Lembrou-me um pouco da
filosofia de Platão sobre a metafísica e a dicotomia ideias x real (posso estar enganado pois não é
exatamente minha área).
O segundo capítulo, o presente, vai analisar a trajetória da constituição do integralismo não
mais como movimento aos moldes da década de 1930, mas como reorganizado no PRP e nas
Águias Brancas. A forma de fazer tal pesquisa, como destaca a autora, perpassa um levantamento
historiográfico, feito ao início do capítulo (colocado em evidência, por exemplo, na instigação do
objetivo por meio de Juan Linz), uma biografia de GRD, dando especial atenção às suas
articulações com a editora homônima e a participação institucional, em especial do IPÊS, seja na
defesa das instituições liberais ou na propagação do anticomunismo. É uma dinâmica de construção
de memória interessante, de se afastar da alcunha fascista, reapropriando a noção de democracia e
de comunismo. Há todo um levantamento sobre as atuações do instituto no período de seu
nascimento, 1962, até o golpe e na posteridade (analisado depois, acredito). Dessa forma, algumas
vinculações entre a editora e o instituto demonstram não apenas uma parceria empresarial, mas
também político-ideológica, na qual a associação também física de GRD (na qual a autora vai
buscar na documentação de inscrição ao instituto seu parecer, num movimento bem interessante –
pautando-se no endereço indicado na inscrição) demonstravam uma coesão de ideários,
principalmente o anticomunismo. É nesse momento também que a editora passa a atuar de forma
mais veemente na produção de obras para o instituto. E também o momento em que se percebe as
formulações de uma aproximação entre os institutos estadunidenses, em especial o Franklin e a
USIA, e o instituto. Essas formulações são mostradas pela autora através da análise da
documentação de correspondências, cursos, palestras, mensagens e demais fontes obtidas no
arquivo público indicado. Vale ressaltar que a autora destrincha um caminho de ligação entre o
nascimento dessas instituições (conflitantes inicialmente) para uma convergência pautada na
propaganda anticomunista. Como vi uma frase de um autor (que não lembro o nome nesse
momento) que era mais ou menos assim: “Se queres saber qual o interesse/objetivo de um periódico
[mas estendendo para um conjunto de publicações maiores] saiba quem o financia”.
No terceiro capítulo a autora vai explorar a “diplomacia axial” em um primeiro momento,
isto é, não na perspectiva da tragédia que se quer mostrar no quarto capítulo (como afirma na
introdução), mas como estruturação, como base e em uma formulação um pouco cronológica mas
sempre flexível, ligada mais às instituições e à implementação dos interesses do que ela chama, por
meio de Elizabeth Cancelli, de Cultural War. A participação tanto do governo estadunidense
(Kennedy, Aliança para o Progresso, entre outros) quanto das agências como a USIA/USIS e
Programa de Fomento ao Livro são discutidos, apresentados e aprofundados pela autora,
contextualizando-os na perspectiva financeira, de investimento, de aproximação ideológica, e na
(anti)propaganda relacionada ao comunismo. Destaca-se o aumento do financiamento
principalmente a partir do pós golpe de 1964 e da tratativa de dar corpus cultural ao movimento de
estabelecimento de democracias (entendido como conceito prático do contexto, assim como foi
para o primeiro capítulo), isto é, daquilo que se concebia como exemplo advindo dos Estados
Unidos, da propriedade e iniciativa privada, do Estado Mínimo, do anticomunismo. Vale lembrar
ainda em como a autora não aborda apenas o campo institucional das relações, sempre colocando
em evidência que as mesmas passavam por interesses e objetivos de cada um dos lados da relação,
sem falar de certas auspicias pessoais, de certas leituras feitas pelas editoras como a GRD (na
perspectiva teórica que ela aborda inicialmente), de tensões e a não homogeneidade, num sentido
quase clássico de dominantes e dominados (ativos e passivos, respectivamente). Na parte final, a
autora vai demonstrar a crise da USIA, contextualizada no seu momento de menor financiamento
no Brasil, até 1968. Essa crise, como explica, está voltada a um conjunto de fatores internos dos
EUA, desde queixas à propaganda interna, problemas na sucessão presidencial e ações políticas de
congressistas, como Lipscomb, além de jornais internos e em como essa crise afetou as editoras
brasileiras e a publicação, por meio da Cultural War, de obras alinhadas, no caso da GRD, com o
anticomunismo (mas não somente, vale apontar).
“O futuro não apenas da editora, mas também do projeto para o Brasil delineado na obra do
editor, não começou com o golpe, em 1964, e se encerrou com o corte do convênio cultural, em
1968. Esse foi apenas o espaço em que o futuro se organizou institucionalmente, permitindo à GRD
selar o maior conjunto editorial de sua história, ordenar a memória integralista, enfrentar os desafios
presentes da luta anticomunista que culminaria no golpe de 31 de março e encaminhar os projetos
que se organizariam sob a égide da agência norte-americana” (p. 205).
O capítulo quatro tem uma lógica interessante: inicia-se, entendido como segunda parte
(palavras) a partir de uma genealogia (não profunda, já que deixa de ser filológica, mas apenas para
pensar os ensaios literários sobre a mesma na contemporaneidade) da palavra tragédia. Para isso,
apresenta as discussões na esfera da crítica literária de Steiner e Williams, entre outros, para
entender em como se configurava a leitura do trágico, seja na cristalização do conceito, como
aponta o primeiro, ou na ressignificação a partir da historicização do termo e pautado em uma
consumação contextual. Enfim, entendido como parte fundante da filosofia e da história ocidental,
como percebe-se na narrativa da autora, a exploração segue para as constituições de utopia e
utopismo como categorias distintas, uma literária e outra política. Essa configuração é entendida
contextualmente ao se alinhar os locais geográficos e períodos de produção de certas obras
literárias, sempre pautadas, no caso da ficção científica, com tais características (trágica + utópica),
na compreensão de ações humanas em um passado, presente e futuro (do pretérito). Para
exemplificar: o que fizemos, o que podemos fazer, o que acarretou/tornou. Toda essa apresentação
de teoria literária tem um sentido prática à tese: estabelecer os vínculos das produções e publicações
da editora GRD com os interesses políticos marcados pela defesa de uma concepção própria de
sociedade e política (autoritária em contrário ao possível avanço comunista). É então que a autora
levanta a expressividade e pioneirismo da editora GRD no Brasil, mesmo sem o apoio da USIA (em
vários casos, mas com ele em alguns), para a circulação desse tipo de obra. É aí que reside a análise
cultural mas também materialista da tese, isto é, fala-se da produção literária e de seu uso político
(controle das massas, propagação do anticomunismo) como ferramenta de controle social. A
ressalva para tal afirmativa é presente desde a introdução: só acontece em termos ideais. Jamais se
pode conceber uma leitura por qualquer parcela da população como mera acepção/consumo dos
produtos culturais recebidos (e aqui Hoggart é uma boa expressão disso), mas há de se entender os
interesses que envolvem a busca e divulgação de tais objetivos.
Outro ponto de destaque (e aqui se pensando mais na perspectiva de analisar empiricamente
as propostas teóricas e em sintonia com a editora), a autora vai apontar, como fonte para sua análise,
além da escolha do conteúdo por parte do leitor-editor, a sua ação direta nos paratextos, nas partes
do livro que compunham a capa, contracapa, orelha, etc. É nesses locais que a autora vai perceber o
direcionamento dos interesses de GRD na publicação, seja traduzida ou brasileira. É aí que se
corpora o monstro social, moral, biológico, psicológico (ao estilo freudiano), espacial do
comunismo. Um monstro dissecado (anatomicamente) para se compreender todos os seus perigos,
suas mazelas e atrocidades. Um monstro que, como um espectro, ronda aterrorizantemente a
realidade brasileira, mas também um monstro inventado e que, circularmente, aparece e reaparece
na esfera política nacional.
Há de se notar, ao chegar às partes finais do livro, aquilo que no início não é tão claramente
notado: uma certa linearidade na tese. Explico: na introdução (e como se consegue perceber até
mesmo no momento que inicio o relatório) não se consegue estruturar tão objetivamente os
propósitos de análise da autora. Tudo aparentemente fica nebuloso, permeado por muitas questões
que envolvem as mais diversas fontes e métodos. Entretanto, percebe-se que se quer compreender a
formulação de uma ideologia (integralista) nas ações de um indivíduo (GRD) na posterioridade do
fim do movimento e em relação ao contexto que o envolve (golpe 1964). Mas não apenas, destaca-
se pelo primordial papel da análise literária, nos usos políticos que GRD faz do anticomunismo por
meio da editora que chefia, na exploração do medo e do gênero literário da ficção científica. Essa
linearidade (não cronológica) de construir esse caminho para a análise deu, por meio da primeira
parte, as condições empíricas para se entender os objetivos da segunda, mais cultural. Os apoios
financeiros, os movimentos políticos, as organizações sociais, o contexto da Guerra Fria, a guerra
culural (“Cultural War”) patrocinada pela USIA/CIA e Estados Unidos, tudo abarca a
complexidade da dinâmica entre o social e o particular de GRD. Não se trata de uma biografia aos
moldes clássicos (acredito que passa longe de tal gênero), mas da constituição, por uma via da
história das publicações da editora GRD, do contexto do golpe de 1964. É (aqui colocando como
adendo, sem ter sabido antes) nas considerações finais que essa pequena apresentação (que fiz
agora) toma corpo direto da autora.

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