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Gottfried Böhm e sua obra no Brasil

João Francisco Noll e Silvia Odebrecht


1. Introdução2. Projetos no Brasil3. Questões estilísticas e
conceituais4. Difusão da obra5. Créditos
1. Introdução
 

2 >

João Francisco Noll, Gottfried Böhm, Elisabeth Böhm e Silvia Odebrecht, escritório
do arquiteto, Colônia, Alemanha
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]
Uma pesquisa realizada no âmbito do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Regional de Blumenau – FURB – sobre arquitetura moderna, que está
desenvolvendo o inventário arquitetônico em Blumenau e região, levou ao
interesse em conhecer a história da construção da então igreja matriz da
cidade (1953-61), hoje Catedral de São Paulo Apóstolo, e de conhecer
pessoalmente o arquiteto Gottfried Böhm, autor desse projeto e também dos
projetos da Igreja São Luis Gonzaga (1953-62), em Brusque, da Igreja Nossa
Senhora da Piedade e de um centro de acolhida de crianças portadoras de
deficiências visuais, de Tubarão, da Igreja São Francisco Xavier, de Joinville
e de uma residência em Itajaí, todos em Santa Catarina, os quatro últimos não
executados. Para alcançar este intuito realizou-se uma viagem a Colônia, na
Alemanha, onde mora o arquiteto, para sabermos um pouco mais sobre suas obras
no Brasil. Não foi exatamente uma entrevista, mas uma conversa informal num
aconchegante ambiente envidraçado com visuais para um vistoso jardim, num dia
chuvoso, na qual tudo se relaciona com arquitetura.

Gottfried Böhm é o único arquiteto alemão a receber o Prêmio Pritzker (1986).


É o terceiro filho do arquiteto Dominikus Böhm, reconhecido pela construção de
igrejas católicas e considerado pioneiro no rompimento da arquitetura
eclesiástica em relação ao historicismo, construindo de acordo com os novos
materiais e as novas ideias litúrgicas da época. Por esse pioneirismo foi
nomeado, em 1952, Comendador da Ordem de Silvestre pelo Papa Pio XII.

Entre as obras mais importantes de Gottfried Böhm constam a Prefeitura de


Bergisch Gladbach-Bernsberg (1962-67), a Igreja Paroquial de Düsseldorf-Garath
(1962-1967), a Igreja e Centro de Peregrinação de Velbert-Neviges (1963-73),
considerado por ele um de seus trabalhos mais relevantes, o Conjunto
Habitacional em Colônia-Chorweiler (1969-1975), o Centro Provincial de
Informática e Estatística em Düsseldorf-Golzheim (1969-1979), a Igreja e
Centro de Peregrinação de Wigratzbad (1972-78) e o Teatro Hans Otto de Potsdam
(1995-2006), todas na Alemanha. Sua obra torna-se altamente sugestiva e
emocionante por justapor tradição e modernidade, conectar o antigo e o novo, o
mundo das ideias e o mundo físico, integrando um edifício a seu marco urbano,
inserindo elementos da história numa arquitetura moderna de linguagem própria.

Em 1985, antes da reunificação alemã, Böhm foi convidado pelo então chanceler
Helmut Kohl para fazer, confidencialmente, um projeto para a reconstrução do
Reichstag, em Berlin. Böhm desenvolveu a ideia da cúpula de vidro do
parlamento, em cujo topo passarelas helicoidais proporcionassem vistas aos
visitantes, tanto das atividades dos políticos – como forma de fiscalizá-los -
como das adjacentes paisagens urbanas. Em 1992, quando da realização do
concurso internacional, seu projeto tornou-se público e disponibilizado aos
arquitetos participantes como informação complementar. Böhm não estava
diretamente envolvido na sua implementação, mas algumas de suas originais
ideias fizeram-se presentes no projeto vencedor apresentado por Norman Foster.

Gottfried Böhm
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]

2. Projetos no Brasil
< 1
3 >
Igreja de Blumenau
Perspectiva de Gottfried Böhm [Arquivo Histórico do Museu Alemão de Arquitetura,
Frankfurt]
Silvia Odebrecht: Como o Sr. veio a realizar projetos no Brasil, mais
precisamente em Santa Catarina?
Gottfried Böhm: Os padres franciscanos convidaram meu pai Dominikus Böhm (1)
para realizar o projeto da nova Igreja Matriz de Blumenau. Como meu pai não
pode viajar naquele momento, indicou que eu fosse em seu lugar. Inicialmente
os padres não acreditaram que eu pudesse realizar um bom projeto, e se
posicionaram receosos. Todavia, isso eu fiz em aproximadamente um mês. A
partir deste projeto eles já puderam realizar a construção. Naturalmente
depois, aqui na Alemanha, eu ainda fiz os detalhamentos, mas o projeto em si
foi desenvolvido em Blumenau. E neste meio tempo, veio o Sr. Renaux, de
Brusque, e viu como eu estava trabalhando; e foi assim que ele também
encomendou uma igreja para sua cidade. No entanto, esse projeto não foi
desenvolvido no Brasil, mas já de volta, aqui em Colônia.
SO: O Frei Brás Reuter, idealizador do projeto em Blumenau, conhecia seu pai,
Dominikus? Como foi este contato?
GB: Não, meu pai nunca esteve no Brasil. Um outro padre, de quem não lembro o
nome, esteve aqui e fez o contato com meu pai, e foi ele que me levou a
Blumenau.
João Francisco Noll: Quantas vezes o senhor esteve no Brasil?
GB: Eu estive cinco vezes no Brasil. A primeira vez que eu voei para lá foi em
janeiro de 1953, quando os aviões ainda eram de hélice. Para mim esta viagem
foi muito excitante; os motores esquentavam muito e pela noite ficavam
incandescentes, parecia que iam pegar fogo. Sempre que eu estive no Brasil
também estive em Blumenau. A igreja de Blumenau eu conheci concluída, pois
estive lá, com minha esposa Elisabeth (2), na inauguração. Nós fomos com um
navio cargueiro numa viagem de três semanas. Eu também estive pessoalmente em
Brusque.
Igreja Nossa Senhora do Rosário, Presidente Getúlio SC, década de 1960, projeto do
arquiteto Dominikus Böhm, pai de Gottfried Böhm
Foto divulgação [Acervo da Paróquia Nossa Senhora do Rosário]
JFN: Quantos projetos o senhor realizou para Santa Catarina? E no Brasil,
foram realizados projetos para outros estados?
GB: Somente realizei projetos para Santa Catarina. A igreja de Blumenau e a
igreja de Brusque. Para Tubarão eu fiz um projeto para uma catedral, mas não
sei se ela foi construída. Aliás, para Tubarão eu fiz dois projetos, uma
catedral e um abrigo para crianças. Temos que procurar no meu livro onde estão
esses projetos. Por favor pegue aí em cima o meu livro, aí dentro está o
croqui da igreja para Tubarão.
JFN: E a igreja de Presidente Getúlio?
GB: Sim, é uma igreja pequena. Este projeto é de meu pai, Dominikus Böhm. Ela
é anterior. Quando eu fui para o Brasil acho que sua construção já estava
praticamente pronta. Naquela época eu fui visitá-la (3).
SO: E os originais de seus projetos, poderíamos ter acesso a eles?
GB: Os originais estão no Museu Alemão de Arquitetura em Frankfurt. Vocês
poderiam ir até lá e provavelmente conseguirão cópias dos projetos (4).
JFN: A igreja em Blumenau foi construída conforme o projeto? E a torre já
fazia parte do projeto inicial?
GB: Sim, igreja e torre nasceram juntas. Para mim, o início, lá em Blumenau,
não foi nada fácil. Em primeiro lugar, eles esperavam meu pai, o famoso
Dominikus (5), e aí apareceu um jovem rapaz. Depois, os padres franciscanos me
disponibilizaram uma grande sala de aula na escola ao lado, já que era período
de férias. Os materiais necessários para desenvolver o projeto, como papel e
outros, creio que eu havia levado junto. Eles me deixaram lá sozinho e estava
extremamente quente. Assim, eu tive que tirar a roupa e colocar algo debaixo
para não molhar o papel dos desenhos com o suor. Isto se deu com muita
dificuldade (6). A todo instante chegava um padre e entrava para espiar o que
eu estava fazendo. Até que eu fiz uma grande perspectiva, de um metro de
altura. Quando eles viram a perspectiva o gelo se quebrou. Então à noite fui
convidado para ir ao convento, pois eles ficaram realmente entusiasmados. A
partir de então eles tornaram-se muito amáveis.
Depois deste episódio, até fui com os padres à praia onde eles possuíam um
terreno com uma pequena casa. Foi naquela praia, que agora se transformou numa
cidade muito grande, e onde, naquela época, somente existiam casas
unifamiliares (7). Ela era tão encantadora e hoje ficou tão horrível. Para
esse lugar também desenvolvi um projeto de uma residência para o jovem Renaux
(8). Esta casa também está no meu livro.

Chegou meu filho Paul (9).

Residência junto ao mar


Perspectiva de Gottfried Böhm [Arquivo Histórico do Museu Alemão de Arquitetura,
Frankfurt]
Paul Böhm: Olá! Muito prazer. Nós, nesse momento, estamos aqui com uma
estagiária do norte do Brasil.
GB: Paul, podes verificar em que livros estão os projetos realizados no
Brasil?
Paul: Nesse aqui está o projeto para a igreja de Tubarão.
JFN: Mas esta igreja é diferente da existente. Isso comprova que esse projeto
não foi construído. A igreja atual possui outra autoria.
GB: Para o bispo eu realizei, ainda naquela época, um projeto de um asilo para
menores, em Tubarão. Eu pensei que também estivesse no livro, mas não está.
Pelo que sei este asilo também não foi construído. Não, não era um asilo para
crianças, era para cegos. Naquela época existiam lá muitos cegos.
Paul: Ano passado, em 2011, nosso escritório participou da 9ª Bienal
Internacional de Arquitetura. Infelizmente minha viagem não foi possível, e
não pude estar lá pessoalmente.
GB: Em São Paulo eu estive rapidamente. Não é uma cidade muito atrativa. Mas
Rio de Janeiro sim, é muito bonita, com uma situação maravilhosa.
Paul: Vou ausentar-me por uns instantes. Tenho que dar atenção aos meus
trabalhos. Até mais tarde.
João Francisco Noll, Gottfried Böhm, Silvia Odebrecht e Paul Böhm e, escritório do
arquiteto, Colônia, Alemanha
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]
notas
1
Na época, Dominikus Böhm era um dos mais renomados arquitetos de igrejas da
atualidade e, conforme Frei Brás Reuter, de origem alemã e idealizador da nova
igreja de Blumenau, o arquiteto era reconhecido e recomendado pelo próprio Papa em
Roma (REUTER, 1963). Conforme Der Spiegel (1953), Dominikus Böhm foi condecorado,
em 1953, pelo Papa Pio XII com a Ordem de São Silvestre.
2
Elisabeth também graduou-se em arquitetura pela Universidade Técnica de Munique,
onde o casal se conheceu. Profissionalmente foi colaboradora no escritório do
marido. Faleceu em setembro de 2012.

3
A igreja de Presidente Getúlio foi construída a partir do projeto realizado em
Colônia, Alemanha, entre 1949-51, conforme os originais encontrados nos arquivos da
Paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Presidente Getúlio, SC.

4
Em posterior visita ao Museu Alemão de Arquitetura em Frankfurt, tivemos acesso a
alguns originais no respectivo Arquivo Histórico, onde nos foi permitido fotografar
os documentos, como as impressionantes perspectivas de grandes dimensões.

5
Dominikus foi pioneiro no conceito de um volume único, de uma igreja de planta
aberta. Suas obras tendem para o expressionismo, mas mantém um forte senso de
geometria e materialidade. Ao reduzir a forma da igreja à sua forma essencial, e
jogar uma sofisticada iluminação natural sobre o altar, ele criou uma nova tradição
de moderna arquitetura de igrejas. Em particular, ele usou a luz como material de
construção e como parte da liturgia católica.
6
Blumenau é uma cidade com alto índice de umidade relativa do ar, e por isso a
transpiração é elevada no verão.

7
Gottfried estava fazendo referência à Balneário Camboriú SC.

8
Conforme documento encontrado no arquivo histórico do Museu Alemão de Arquitetura
em Frankfurt, a localização da residência Renaux é em Itajaí, cuja perspectiva
apresenta o título “Residência junto ao mar”. Portanto, provavelmente deve tratar-
se de Cabeçudas, balneário próximo à Balneário Camboriú e pertencente ao município
de Itajaí.

9
Paul Böhm (1959) é o filho mais novo de Gottfried Böhm.

3. Questões estilísticas e conceituais


< 2
4 >

Batistério da Catedral de São Paulo Apóstolo, Blumenau


Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]
Silvia Odebrecht: Como o senhor idealizou o conceito para a igreja em
Blumenau?
Gottfried Böhm: Sua situação é especial, sobre uma área elevada no centro da
cidade. Naquela época a capela batismal desempenhava um importante papel, por
isso ela foi concebida no eixo central da nave, no átrio coberto frontal da
igreja. Hoje em dia o batistério já não possui mais essa importância. Foi
muito bom eles terem aceitado todas essas ideias. Ainda existem lá os padres e
a escola?

Campanário da igreja São Paulo Apóstolo, Blumenau


Perspectiva de Gottfried Böhm [Arquivo Histórico do Museu Alemão de Arquitetura,
Frankfurt]
João Francisco Noll: Sim, os padres franciscanos continuam na igreja, e a
escola pertence hoje a uma rede educacional com sede em Curitiba, mantida pela
Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus. Nas suas igrejas existe
alguma inspiração na arquitetura gótica, ou outra arquitetura religiosa?
GB: As minhas influências derivam, é particularmente perceptível na igreja de
Blumenau, de meu pai Dominikus Böhm. Nesta igreja ainda se caracteriza muito o
fato de eu ser filho de meu pai. A igreja de Brusque, realizada um pouco mais
tarde, já apresenta um pouco mais as minhas próprias percepções. Mas é muito
complicado fazer algo bem feito quando não se faz o acompanhamento frequente,
como aconteceu em Brusque, e infelizmente nem tudo ficou como deveria ter
sido. No entanto, ela também possui uma situação privilegiada com sua
imponente escadaria. Já a cruz infelizmente ficou muito pesada sobre a
cobertura. Todo o edifício havia sido projetado bem mais leve, mais suave. De
qualquer forma, que naquele tempo conseguiram construí-la com toda sua técnica
em concreto, já está ótimo, pois a construtora era pequena e artesanal.
Tivemos um relacionamento agradável durante a construção, pois os responsáveis
queriam que tudo fosse muito bem feito. Mas a distância era grande. E nessa
época eu também já tinha mais encargos aqui em Colônia. Por isso as coisas não
correram tão bem como em Blumenau. Em Blumenau eu considero que a igreja
apresentou um ótimo resultado. Ela carrega muito o estilo de meu pai.
SO: O senhor considera que suas obras possuem um caráter expressionista?
GB: A igreja de Brusque possui um caráter mais expressionista do que a de
Blumenau.

Igreja São Luis Gonzaga, Brusque SC


Perspectiva de Gottfried Böhm [Acervo da Paróquia São Luis Gonzaga]
JFN: E quem desenhou os vitrais da igreja de Blumenau?
GB: Os vitrais fui eu quem os criou. Uma empresa vitralista no Brasil executou
a obra, cujo proprietário era alemão (10). Tive contato com ele, mas nunca
visitei seu atelier. Com ele também realizei uma outra obra. Quem idealizou a
construção da igreja foi o padre franciscano Frei Brás Reuter. Ele esteve aqui
me visitando, mas já faleceu. Era uma pessoa muito agradável.
Igreja Matriz de Brusque em construção
Foto divulgação [Acervo da Paróquia São Luis Gonzaga]
JFN: Quais são suas igrejas aqui em Colônia?
GB: Aqui em Colônia, tanto eu quanto meu pai realizamos algumas igrejas. Logo
aqui perto temos uma igreja de meu pai (11). Depois a St. Gertrud (12) é
projeto meu e está no outro lado da cidade. Lá perto, no norte da cidade,
também está a St. Engelbert (13), em Riehl, que é de meu pai, um projeto muito
interessante, sua construção foi concluída em 1932. Aqui no sul somente existe
esta uma de meu pai. Depois construí mais uma em Melaten, no leste da cidade
(14). Mas a minha maior e mais significativa igreja está em Neviges, mais ou
menos a uma hora daqui, a “Mariendom”. Esta obra foi de grande importância
para que eu recebesse o Prêmio Pritzker. Vejam, chegou meu filho Peter (15).

Igreja Matriz São Luis Gonzaga, Brusque SC


Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]
Igreja Matriz São Luis Gonzaga, Brusque SC
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]
Peter Böhm: Bom dia. Muito prazer em conhecê-los. Considero a igreja de
Blumenau muito especial, ela é de grande significado na vida profissional de
meu pai.
GB: Sim, esta obra possui grande influência do avô Dominikus, meu pai.
PB: De qualquer forma não existem outras igrejas de meu avô parecidas com ela,
com suas muitas e expressivas colunas.
GB: Gosto muito da igreja de Blumenau. Eu acredito que muito do espírito de
meu pai está dentro dela, muito mais do que na de Brusque.
Maquete da igreja em Neviges, de Gottfried Böhm
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]
Interior da igreja de Neviges
Foto Paul Böhm
Elisabeth Böhm: Mas sentem-se. Fiquem à vontade.
PB: Sim, sentem-se, que eu também vou sentar rapidamente e aproveitar para
tomar um café com vocês.
SO: Percebemos que seus projetos para igrejas são muito diferentes uns dos
outros, em forma e conceito.
PB: Confere. Depois de Blumenau houve um tempo em que surgiram elementos mais
expressionistas, em que se deu mais valor e interesse à concepção conceitual.
GB: A igreja de Brusque já está neste novo contexto.
PB: Sim, e por isso talvez pensas que há influências do avô em Blumenau.
GB: A igreja de Koblenz (16) deu referências ao meu projeto em Blumenau. São
influências de meu pai.
Batistério da Igreja Santa Elisabeth, Koblenz
Foto divulgação [Kirchengemeinde St. Laurentius]
PB: Claro, mas influências do avô, todos nós da família temos.
GB: Quando estive em Blumenau, fiquei de 4 a 6 semanas realizando o projeto,
com o qual já começaram a construção. De volta a Colônia, ainda fiz o
detalhamento, realizado com muita limpeza projetual (17), e que depois foi
enviado para lá, já que os padres queriam ter o projeto em sua íntegra.
PB: Esses projetos estão todos no arquivo do museu de Frankfurt, inclusive a
perspectiva, que participou de uma grande exposição sobre as obras de meu pai.
A perspectiva com o caminho inferior, a escadaria e a torre. Esta
exposição Felsen aus Beton und Glas (18) ocorreu quando o seu acervo
arquitetônico foi doado ao museu de Frankfurt. Eu me alegro em saber que a
igreja está bem conservada e que ainda está sendo frequentada. Gostaria de um
dia poder visitar Blumenau.
SO: Teremos o maior prazer em recebê-los.
Igreja de Blumenau
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]

Igreja de Blumenau
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]
notas
10
Conforme consta gravado no vitral da igreja, estes foram executados em 1957 por
Lorenz Heilmair, proprietário da Arte Sul, São Paulo.

11
Trata-se da Igreja St. Maria Königin, edificada entre 1952 e 1954.
12
St. Gertrud é uma paróquia no Bairro Agnes na cidade nova de Colônia, projetada em
1960 e construída entre 1962 e 1965. Em 1967 o arquiteto Gottfried Böhm recebeu por
esta obra, com suas formas assimétricas e construção em concreto aparente, o prêmio
alemão de arquitetura.

13
St. Engelbert é uma igreja católica construída entre 1930 e 1932 a partir de um
projeto do arquiteto Dominikus Böhm, e constitui-se na primeira igreja de
Arquitetura Moderna na cidade de Colônia.

14
Trata-se da Igreja Cristo Ressuscitado, edificada entre 1963 e 1970.

15
Peter Böhm (1954) é o terceiro filho de Gottfried Böhm.

16
Gottfrid Böhm refere-se à Igreja Santa Elisabeth, em Koblenz, que concebeu em
parceria com seu pai, Dominikus, um ano antes de projetar a de Blumenau.

17
No discurso de recebimento do Premio Pritzker, Gottfried Böhm também se refere à
limpeza projetual: “linhas limpas, não no sentido de que essas linhas sejam como
hoje muitas vezes sinônimo de geometria - até mesmo uma forma complexa pode ter
linhas limpas - mas no sentido de que não se pode adicionar nada, e também não se
gostaria de tirar nada”.

18
Aqui traduzido como “Rochas de concreto e vidro”.

4. Difusão da obra
< 3
5 >
João Francisco Noll, Elisabeth Böhm, Gottfried Böhm e Silvia Odebrecht, escritório
do arquiteto, Colônia, Alemanha
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]
João Francisco Noll: Quais são as indicações de livros de suas obras?
Peter Böhm: A Exposição “Felsen aus Beton und Glas”, no Museu Alemão de
Arquitetura de Frankfurt, deu origem a um Catálogo das obras de meu pai (19).
Também houve outra exposição intitulada “Väter und Söhne” (Pais e Filhos), em
Bielefeld (20), com os desenhos arquitetônicos do meu avô, meu pai e nós três
filhos, também organizada em forma de livro. Penso que a produção do trabalho
em arquitetura não depende do tamanho da obra, isto não é decisório. Quando a
gente trabalha, concebe um projeto pequeno com a mesma magnitude que um
projeto grande. A gente se envolve tornando-o tão importante como um projeto
de grandes dimensões.
Gottfried Böhm: Sim, isto confere. Um arquiteto não se nutre somente de
grandes realizações. Eu já fiz edificações significativas, muito grandes e
complexas, e com a mesma dedicação, uma pequena moradia, um anexo de uma
residência existente. Todos podem ser trabalhos atrativos.
Escritório de Arquitetura da família Böhm, em Colônia
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]
Silvia Odebrecht: E esta residência, hoje escritório, quando foi construída?
GB: Ela foi concluída em 1933, alguns meses antes que meu pai fora afastado da
universidade pelo partido nacional socialista (21).
SO: O senhor continua trabalhando?
GB: Sim, com muito prazer. Estou feliz por meus filhos sempre me incluírem em
seus trabalhos. No momento estou um pouco livre aqui no escritório e assim
estou planejando cidades visionárias, cidades do futuro.

Detalhes da perspectiva de Brusque, com desenhos de Dominikus, Gottfried,


Elisabeth, Stephan e Markus Böhm. É uma característica do arquiteto identificar
suas perspectivas – assinatura artística – com figuras familiares observando sua
obra recém criada
Perspectiva de Gottfried Böhm [Acervo da Paróquia São Luis Gonzaga]
SO: Para concluir, o senhor ainda gostaria de dizer algo?
GB: Gostaria muito de um dia ainda poder voltar a Blumenau. Estive lá na
inauguração. As festividades de inauguração foram ótimas. Os brasileiros sabem
fazer boas festas. Infelizmente não tenho um livro meu para dar a vocês. Mas
gostaria de presenteá-los com um livro de minha esposa, Elisabeth (22). O
livro também contém algo meu.

Detalhe da perspectiva de Blumenau, com desenhos de Dominikus e Gottfried Böhm 


Perspectiva de Gottfried Böhm [Arquivo Histórico do Museu Alemão de Arquitetura,
Frankfurt]
notas
19
VOIGT, Wolfgang (Org.). Gottfried Böhm. Catálogo da exposição “Felsen aus Beton und
Glas. Die Architektur Gottfried Böhms”, Deutschen Architekturmuseum. Berlim, Jovis
Verlag. 2006.
20
WEISNER, Ulrich (Org.). Böhm: Väter und Söhne. Architekturzeichnungen von Dominikus
Böhm, Gottfried Böhm, Stephan, Peter und Paul Böhm. Bielefeld, Kerber Verlag, 1994.
21
O projeto da residência foi realizado por Dominikus Böhm, em 1931-32. Por motivos
econômicos gerados pelo período nazista, Dominikus transferiu seu escritório de
arquitetura para sua residência, em 1934.

22
FEIREISS, Kristin (Org.). Elisabeth Böhm: Stadtstrukturen und Bauten. Tübingen-
Berlin, Wasmuth, 2006. Por meio de preciosos desenhos e algumas fotografias o livro
apresenta a obra da arquiteta.

5. Créditos
< 4
 
João Francisco Noll, Peter Böhm e Elisabeth Böhm, escritório do arquiteto, Colônia,
Alemanha
Foto divulgação [Acervo Noll & Odebrecht]
Gottfried Böhm
Filho do arquiteto Dominkus Böhm, Gottfried nasceu em Offenbach-am-Main em 23
de janeiro de 1920. Graduou-se como arquiteto pelo Instituto Técnico de
Munique em 1946, e estudou escultura na Academia de Belas Artes de Munique. A
partir de 1947 trabalhou com seu pai, em Colônia. Quanto este faleceu, em
1955, Gottfried assumiu o escritório de arquitetura. Durante sua carreira,
Böhm projetou um grande número de edifícios, incluindo igrejas, museus,
teatros, centros culturais, centros cívicos, escritórios e residências. De
1963 a 1985 lecionou na Universidade RWTH Aachen. Nos anos 1980 lecionou no
Instituto Tecnológico de Massachusetts, em Cambridge, na Universidade da
Pennsylvania, na Philadelphia e na Universidade de Washington, em St. Louis,
Estados Unidos. Gottfried Böhm recebeu várias condecorações e prêmios, entre
eles o Grande Prêmio Bund Deutscher Architekten (1975), a Medalha de Ouro de
l'Academie d'Architecture, Paris, (1982); o Prêmio Fritz Schumacher, Hamburgo,
(1985), e o prestigioso Prêmio Pritzker de Arquitetura (1986). É sócio
honorário da Associação estadunidense de Arquitetos (AIA) e do Instituto Real
de Arquitetos Ingleses (RIBA). Recebeu o prêmio Doctor Honoris Causa da
Universidade Técnica de Munique.

Silvia Odebrecht
Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos, RS (1981), possui especialização em Engenharia Urbana e Ambiental pela
Universidade Regional de Blumenau (1995) e doutorado em Modernidad
Contemporaneidad en la Arquitectura pela Escola Técnica Superior de
Arquitetura da Universidade de Valladolid, Espanha (2005). Atualmente é sócia-
proprietária da Neo Arquitetura Paisagismo Interiores e professora da
graduação em Arquitetura e Urbanismo e da pós-graduação em Arquitetura
Sustentável da Universidade Regional de Blumenau – FURB.
João Francisco Noll
Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos, RS (1981), possui mestrado em Educação: Ensino Superior pela
Universidade Regional de Blumenau (1997) e doutorado em Modernidad
Contemporaneidad en la Arquitectura pela Escola Técnica Superior de
Arquitetura da Universidade de Valladolid, Espanha (2005). Atualmente é sócio-
proprietário da Neo Arquitetura Paisagismo Interiores, e professor da
graduação em Arquitetura e Urbanismo e da pós-graduação em Arquitetura
Sustentável da Universidade Regional de Blumenau – FURB.

Entrevista
A entrevista de Silvia Odebrecht e João Francisco Noll com Gottfried Böhm, que
contou com a participação dos familiares do arquiteto alemão, aconteceu no dia
17 de julho de 2012, no escritório de arquitetura da família Böhm, em Colônia,
Alemanha.

referências bibliográficas
DER SPIEGEL. Gott treibt Geometrie. Der Spiegel, Hamburgo, n. 52, 23 dez. 1953, p.
30-37. Disponível em: www.spiegel.de/spiegel/print/d-25658204.html. Acesso em
10.04.2013.
FEIREISS, Kristin (Org.). Elisabeth Böhm: Stadtstrukturen und Bauten. Tübingen-
Berlin, Wasmuth, 2006.
REUTER, Brás. Mensagem do padre vigário. In: MATRIZ de São Paulo Apóstolo.
Blumenau: Liv. e Tip. Blumenauense, 1963.

VOIGT, Wolfgang (Org.). Gottfried Böhm. Catálogo da exposição “Felsen aus Beton und


Glas. Die Architektur Gottfried Böhms”, Deutschen Architekturmuseum. Berlim, Jovis
Verlag. 2006.
WEISNER, Ulrich (Org.). Böhm: Väter und Söhne. Architekturzeichnungen von Dominikus
Böhm, Gottfried Böhm, Stephan, Peter und Paul Böhm. Bielefeld, Kerber Verlag, 1994.

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