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RESUMO
O presente trabalho focaliza o processo de urbanização de Teresina, ao longo dos seus
cento e cinquenta anos, considerando as relações com o meio ambiente e realçando a
forte presença da natureza no cotidiano da sociedade local.
Palavras-chaves: Teresina. Urbanização. Meio Ambiente.
indagar: qual o cidadão comum que, no seu dia-a-dia, consegue ver nessa natureza
modificada pelo homem – nos edifícios, no asfalto ou nas avenidas que “enterram” o
Nas análises mais recentes, que buscam o diagnóstico da vida urbana, inclui-se
falta, indica o nível de qualidade de vida de uma população, significando muito mais
que simples manipulação da natureza pelo homem, mas sobretudo seu nível
Essas reflexões remetem a várias questões no que diz respeito às formas de ação
cotidianas que se estabelecem entre a sociedade urbana e a natureza, quando se pretende
auscultar um espaço em construção – a cidade de Teresina – no ano de seu
sesquicentenário. Essa construção, não obstante mascarar alguns de seus traços naturais
e evidenciar algumas dificuldades e descuidos em conservá-los, felizmente ainda não
* Texto publicado originalmente: Scientia et Spes. Revista do Instituto Camillo Filho. V. 1, nº 2 (2002).
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conseguiu anular a forte e visível presença da natureza, que permeia a vida da cidade,
que a emoldura e a torna bela e acolhedora, fazendo jus ao seu nome de rainha, desde o
seu nascimento e perdurando até os dias atuais.
A partir de 1852, a forte presença da natureza faz-se notar em princípio pelo
local escolhido para construir a nova sede urbana do município da Vila do Poti, que se
tornaria a nova capital do Piauí. O conselheiro Saraiva, então Presidente da Província do
Piauí, escolheu um lugar à margem direita do rio Parnaíba, no planalto entre as últimas
curvas dos rios Parnaíba e Poti, antes do encontro desses dois rios, pois, rio abaixo, o
Poti desenha sua barra ao jogar suas águas no rio Parnaíba.
A ideia da transferência da Vila do Poti para outro local encontrou eco junto à
população, principalmente pelo fato de que esta já vinha sentindo a necessidade de
encontrar um lugar a salvo das enchentes que, periodicamente, lhe traziam problemas
econômicos e de insalubridade, tendo em vista que a Vila ficava no terraço fluvial
formado pela confluência dos rios Poti e Parnaíba – a barra do Poti. No entanto, em
função da importância da futura navegação para a nova Capital, a Vila Nova foi
construída à margem do rio Parnaíba, porém a montante da barra do Poti, num dos
patamares do planalto Chapada do Corisco1, lugar mais alto e, presumidamente, a salvo
das cheias.
As enchentes dos rios Parnaíba e Poti já se constituíam, portanto, problemas
socioambientais vividos pela população potiense, depois teresinense, desde o século
XIX. Esses problemas continuam até os dias atuais, uma vez que são consequência de
um fenômeno natural e cíclico, conforme o regime da vazão e o estágio da dinâmica do
rio. O que falta, pois, é a compreensão de que não adianta querer “vencer o rio”, mas
conhecer a cota de inundação em cada ponto do terraço desse rio, e usar essas áreas de
outra forma que não seja para habitação.
A área delimitada para abrigar o sítio urbano de Teresina pertencia à sesmaria
denominada "Data Covas", e o seu traçado inicial foi definido pela Miniatura do Plano
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Esse planalto assim se denominava em razão de faíscas elétricas que aí caíam frequentemente no período
chuvoso Notar que esses fenômenos ainda persistem e ainda hoje provocam acidentes no município de
Teresina, causando queima de eletrodomésticos e até algumas mortes de pessoas e animais, a despeito de
existirem locais com instalação de pára-raios.
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da cidade2, contando com 100 quarteirões para abrigar as Igrejas, os prédios públicos,
comerciais, residenciais e, ainda, algumas praças. Fora desse limite urbano inicial de
Teresina, foram reservadas áreas para outros logradouros, como o Cemitério, a Cadeia e
um poço.
Confrontando esse plano de construção inicial com a planta atual da cidade,
observa-se que esse espaço estava compreendido entre os seguintes limites: Ao Norte –
a Rua da Estrela (atual Desembargador Freitas); ao Sul – a Rua Santo Antônio,
terminando no Largo das Dores (hoje Rua Olavo Bilac e Praça Saraiva,
respectivamente); ao Leste – a atual Rua 24 de Janeiro, passando na base do Alto da
Jurubeba (onde ficava o antigo cemitério e hoje se encontra a Igreja de São Benedito).
No sentido centro-oeste, a área urbanizada àquela época chegava somente até a atual
Rua João Cabral, limitando-se com as cercas de vários pequenos sítios que existiam daí
até o Rio Parnaíba. Constituía-se também uma área suburbana o espaço entre o alto da
Jurubeba até o Rio Poti, no sentido leste, enquanto os núcleos de população que se
localizavam no extremo-norte (antiga Vila do Poti), na Catarina (atual Piçarra e
adjacências) e Angelim/Areias (hoje Vermelha, Areias e bairros circunvizinhos), eram
interligados à área urbana central por estradas carroçáveis.
O mapeamento do sítio urbano de Teresina, considerando também a sua área de
expansão, que já estava delimitada e demarcada na Data Covas, desde 1852, só foi
traçado e publicado, recentemente, a partir da descrição do memorial da cidade
transcrito pelo Mons. Chaves (ABREU; LIMA, 2000). Esse mapa complementa as
informações que traz a citada Miniatura do Plano de construção inicial da cidade,
localizada na correspondência oficial da época - Arquivo Público do Piauí - e transcrita
em várias publicações de estudiosos de Teresina. Contudo, a área total do novo
município, envolvendo o urbano e o rural, extrapolava o baixo platô da Chapada do
Corisco, transformando-se em Teresina o território que até então formava o município
da Vila do Poti3.
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2
Este mapa foi localizado e divulgado por: ABREU, Irlane Gonçalves de. O papel de Teresina na
Organização espacial do Piauí. In: Cadernos de Teresina. Teresina: Fundação Monsenhor Chaves,
ano I, nº 2, ago-1987. Depois foi reproduzido em várias publicações sobre Teresina, como:
GONÇALVES, Wilson. Teresina: Ontem e Hoje Fundação Mons Chaves, entre outras.
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Localizado no Arquivo Nacional um croqui da Vila do Poty, sem data, pela historiadora FALCI,
Miridan Brito Knox, porém ainda não foi localizado nenhum mapa do município, datado do século XIX.
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pelos pássaros, por serem os que melhor se adaptam às condições urbanas. Delas, ainda,
hoje, existem algumas espécies, remanescentes da diversidade que habitava nos
primeiros tempos, no início do desmatamento de áreas que, para serem urbanizadas,
cada vez mais são concretadas e muradas [...] “cada vez mais cinza e menos verde”4.
Essa redução relativa do verde, associada à distribuição irregular, certamente
corresponde a um dos graves problemas socioambientais de Teresina, uma vez que o
clima da cidade é tropical quente e subúmido, com elevadas temperaturas durante todo o
ano. A presença da vegetação de forma adequada (envolvendo quantidade, tipos e
distribuição espacial) em toda a cidade, provavelmente favorecia maior conforto
térmico, redução da poluição do ar e do consumo de energia, além de propiciar beleza
paisagística e elevação da autoestima da população residente.
Teresina nasceu em um exuberante pedaço de natureza que lhe deu uma beleza
singular: emoldurada por dois grandes rios “que abraçam”5 e que recebem vários
pequenos riachos nos seus terraços pontilhados por centenas de lagoas, formando um
belo sistema lagunar-fluvial. Juntos, os elementos: rocha, clima, relevo, rios e solos
imprimem dinâmica ao cenário de fluxos de energia e matérias, movimentando água x
sedimento x vida, desenhando as formas que se elevam a partir desses rios em
patamares e topos planos-terraços, encostas e baixos planaltos (hoje, em parte,
descaracterizados pelos cortes/aterros pavimentação), bem como fazendo brotar vidas,
vegetal e animal que emolduram a paisagem local, base dos demais fluxos individuais e
sociais. Estes integrantes com o natural, dando-lhe forma e sentido.
Teresina vê-se assim, guarda uma relação, visível e invisível, indissociável de
sua existência. Senão vejamos: a cidade nasceu de uma necessidade de usar o rio
Parnaíba para a navegação como meio de gerar progresso no Piauí; incorporou o verde
como símbolo de sua identidade e, mais recentemente, a extração de minerais para
utilização na sua mais expressiva atividade industrial - a concentração civil. E o calor? é
ao sol, no sentido de chacota ou pejorativa ou bricalhona, que devemos a sua decantada
condição de cidade mais quente do Brasil, mas também, analogicamente, a mais
acolhedora pelo calor de sua população
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4
Expressão utilizada por Dr. José Raimundo Machado, Presidente da Associação de Brasileira de
Arborização, em reunião no IBAMA-PI (julho/2002).
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Do Hino de Teresina, de autoria do Prof. Cinéas Santos.
* Texto publicado originalmente: Scientia et Spes. Revista do Instituto Camillo Filho. V. 1, nº 2 (2002).
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O termo Intendente designava o cargo do governante municipal, passando a Prefeito a partir de 1930.
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MONTEIRO, Orgmar. Teresina descalça. vol. 4. Fortaleza: IOCE, 1987. E depoimentos de moradores
antigos da área.
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a retirada da antiga população, em 1850, para escapar das constantes cheias. Muitas
décadas depois, o governo passa a atrair a população para a mesma área, oferecendo
serviços de matadouro, aeroporto e habitações financiadas pelo sistema financeiro de
habitação8.
A expansão da ocupação para a zona sul iniciou-se com a urbanização da
Estrada Nova, que, na época de sua abertura, em 1877, era um caminho que ia desde a
Praça Saraiva até o lugar Areias (hoje bairro da zona Sul) seguindo o eixo da estrada
que ia até Oeiras e que atualmente corresponde à extensão-sul da Rua Rui Barbosa que
continua na Av. Barão de Gurguéia. Àquela época, esse eixo desvia-se das e lagoas que
se mantiveram na margem do Parnaíba até início do século XX. Parte dessas lagoas foi
sendo aterrada, como, por exemplo, a que existia onde hoje está a Praça Da Costa e
Silva, que recebia cargas de cascas de arroz depositadas pelos piladores que
trabalhavam na área. Por essa razão, essa área passou a ser conhecida como “Palha de
Arroz” (CHAVES, 1998).
É nessa área que se encontra a outra ruptura na regularidade da planura da
encosta suave da Chapada do Corisco, para a direção Sul, marcada pela presença de
outros grotões – vales- dos riachos que formavam grandes voçorocas como a da Rua
Santo Antônio, atual Olavo Bilac, com inclinação mais forte entre as Ruas Area Leão e
Barroso, que se juntavam ao leito de um riacho maior que descia pela atual Av. José dos
Santos e Silva, alimentando as lagoas da margem do Parnaíba, que foram aterradas.
Continuando para o Sul, encontra-se um vale conhecido antigamente por “barrocão” e
que passou a ser chamado de “baixa do Chicão”, no cruzamento da Rua Rui Barbosa
com a Av. Joaquim Ribeiro, onde é mais acentuada a depressão. Aí existia uma ponte
de madeira sobre o riacho, dando acesso ao prolongamento da Rua Rui Barbosa e à área
que hoje forma o bairro Vermelha.
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Na Zona Norte da cidade foram construídos nove conjuntos habitacionais pela COHAB-PI, nas décadas
de 1970 e 1980, totalizando 6.579 unidades residenciais, conf. LIMA, ª Jesuíta. Favela COHEBE: uma
história de luta por habitação popular. Teresina: EDUFPI, 1996.
* Texto publicado originalmente: Scientia et Spes. Revista do Instituto Camillo Filho. V. 1, nº 2 (2002).
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comerciais, escritórios, clínicas médicas, etc. tiveram, em sua maioria, preservada a sua
arquitetura, documentando um período em que as famílias da elite social teresinense se
transferiram do centro antigo para essa Avenida, na primeira metade do século XX,
quando o Piauí vivia um período econômico favorável, decorrente das exportações dos
produtos extrativos vegetais (babaçu, carnaúba e maniçoba) e se dava a expansão do
centro comercial de Teresina e a instalação mais significativa dos primeiros serviços
urbanos, como calçamentos, galerias pluviais, água encanada e iluminação pública a
querosene.
Àquela época, o prolongamento da “Rua Grande” ligava dois pontos extremos
da cidade: na margem do rio Parnaíba - o Porto dos coqueiros que servia de passagem
para o Maranhão e ligava Teresina às demais cidades piauienses ribeirinhas e ao porto
das Barcas, no litoral. No rio Poti, o “Porto dos Noivos” que ligava a cidade às fazendas
do outro lado do rio, como as Fazenda dos Noivos e Itararé, (hoje bairros de mesmo
nome) e também a outros municípios e Estados.
No entanto, pela necessidade de contornar as inúmeras lagoas que se formavam
nas duas margens do rio Poti, que transbordavam no período de chuvas, a travessia
desse rio era deslocada do Porto dos Noivos para outro porto provisório, mais ao Norte,
passando pelos cordões de terra firme que se formavam uma espécie de diques naturais
entre as lagoas. Essa situação permanecia enquanto as águas não baixavam, o que deu
origem ao povoamento dessa área, e ao bairro Porenquanto9.
Mesmo sediando a capital e comandando a administração do Estado, desde a sua
fundação, Teresina manteve-se, de certo modo, isolada dos demais Estados brasileiros
até a década de 1950, quando o rio Parnaíba tornou-se o principal eixo de comunicação
e comércio.
Mais uma vez, a natureza representada pelo rio Parnaíba, que estabelece a
ligação entre Teresina e outras regiões, através da principal estrada piauiense da época –
o rio Parnaíba; como também é a natureza que promove a dinamização do espaço
urbano, com a expansão do seu núcleo inicial, embora envolvendo somente, (ou quase)
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Conf. D. Maria, moradora da margem direita do Poti, desde os anos de 1940, de onde deverá se mudar
em função da área passar a ser preservada, a partir da construção da Av. Raul Lopes. Informações
presentes em várias publicações sobre o Piauí. Destaca-se que até então, só se chegava por terra à
região Norte através da ponte ferroviária entre Teresina e Maranhão, construída na primeira metade do
século XX.
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O advento das rodovias nacionais, marca a adoção pelo Brasil de uma nova
política econômica voltada para a industrialização, exigindo como pressuposto a
interligação dos espaços – para a garantia de mercado. Para tanto, fazia-se necessário a
implantação de transportes modernos e a abertura de estradas em todo o País.
A implantação do programa nacional de construção de estradas possibilitou a
Teresina, a partir da década de 1960, tomar um grande impulso de crescimento, por ter
uma localização estratégica em relação a essa malha rodoviária, uma vez que se
encontrava em período de relativa estagnação pelo declínio da navegação do rio
Parnaíba e da participação nas exportações entre as décadas de 1930 e 1950. Destaque-
se que, até então, a interligação entre as regiões Norte e Nordeste passava
obrigatoriamente por Teresina.
E assim, Teresina colocou-se como entroncamento das estradas da região Meio-
Norte: São Luís–Teresina-Fortaleza, Teresina-Parnaíba, Teresina-Picos-Recife,
Teresina-Picos-Petrolina–Juazeiro–Salvador, possibilitando a intensificação das
relações entre Teresina e esses estados e, a partir desse entroncamento, intensificando-se
as comunicações com as demais regiões do país. A partir de então a capital piauiense
ampliou a sua área de influência, passando a comandar um espaço regional formado não
só de municípios piauienses, mas também de municípios de outros Estados como:
Goiás, Pará e, principalmente do Maranhão, através da prestação dos serviços de
educação e saúde e, em menor escala, da atividade comercial10.
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Informações presentes em várias publicações sobre o Piauí. Destaca-se que, até então, só se chegava à
região Norte, por terra, através da ponte ferroviária entre Teresina e marahão, construída na primeira
metade do século XX.
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Os primeiros loteamentos dessa área foram feitos pelo Coronel Miranda, primeiro diretor deste clube, e
pelo senhor Nicanor Barreto em terrenos adquiridos do Dr. Rio Lima, então proprietário de um grande
espaço entre o rio e a atual Av. Dom Severino, área hoje totalmente urbanizada e revalorizada após a
construção do Shooping Center Riverside Walk e de prédios de apartamentos de alto padrão social, na
década de 1990.
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concentrada das residências – edifícios de alto luxo, dotados com o que existe de mais
moderno em equipamentos residenciais. A verticalização não constitui um processo
sócioespacial em si mesmo. É outra forma da segregação expressar-se, o que é muito
peculiar em se tratando de Teresina, constata Abreu (2001) .
Assim, pode-se observar que o crescimento recente de Teresina, principalmente
o da década de 1990, passa a se caracterizar sob duas formas opostas: uma, pela
expansão da periferia, incorporando ao espaço urbano grandes áreas vazias, por uma
população de baixa renda; e a outra, pelo crescimento vertical em edifícios de luxo, nos
bairros mais valorizados da cidade, revalorizando-os.
Deve-se mencionar que o processo de segregação – que discute especificamente
a questão residencial – se expressa pela contraposição entre áreas bem distintas da
cidade. Em Teresina, por exemplo, a distância é bem visível entre uma parte e outra da
cidade: a zona Leste, já mencionada, e a área de verticalização à margem esquerda do
rio Poti, próxima ao eixo da Avenida Frei Serafim, que representam uma segregação de
alta renda; e outra área, constituída da periferia de Teresina, onde invasões e
construções precárias ou financiadas pelo poder público, a baixo custo, expressam outro
lado da segregação. São, portanto, áreas muito parecidas dentro de si mesmas, mas
extremamente diferenciadas entre si.
A franja rural/urbana, hoje chamada de periferia, antes de área suburbana, ao
contrário de outras áreas da cidade, é menos contemplada com os benefícios do poder
público, sendo frequentemente considerada “área de risco” para habitações e habitantes.
É muitas vezes lugar onde ocorrem problemas de inundações e falta de saneamento ou
solos sob erosão intensa nas encostas íngremes, e, por isso, terra de menor valor, cujos
donos são o poder público ou particulares omissos que estão à espera de melhoria
urbana para sua valorização.
Observa-se que essa condição ocorre de forma mais expressiva a partir do
crescimento periférico da cidade, para as direções Nordeste, Leste e Sul, para onde o
relevo, a partir dos terraços fluviais (com cotas de cerca de 60m de altitude), se eleva
em encostas íngremes cortadas por vários riachos que se formam do escoamento que
desce os topos dos planaltos tabulares, que atingem até 150m de altitude, na periferia da
cidade. Para a zona Norte-Nordeste, a população foi ocupando os espaços vazios entre
as lagoas, em muitos casos aterrando-as e ocupando as novas terras firmes “criadas” na
região do Poti Velho, como também ocupando a área para além do rio Poti. Esta
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Concebido dessa forma, o meio ambiente urbano deve envolver duas dimensões
no uso/consumo da natureza pela sociedade: a primeira, como Recurso Natural, no
sentido de “natureza” enquanto matéria-prima deve ter seu uso e consumo
econômico/social/cultural adequado/racional, possibilitando a geração de bens e
serviços (indústria, artesanato, ecoturismo, comércio, etc.), de emprego e renda para a
população e de impostos para o poder público. A segunda, como Patrimônio Ecológico,
em que a natureza tem valor de uso e de existência (substrato para habitação, trabalho,
lazer, além de “guardar” amostras-refúgio da biodiversidade, etc), possibilitando
qualidade de vida e manutenção de patrimônio para as atuais e futuras gerações.
Resgatemos, pois, o sonho de Saraiva, buscando com tenacidade e carinho, fazer
de Teresina um lugar de progresso e bem-estar social e que possa comandar o
desenvolvimento do Piauí, dentro do paradigma que hoje se constrói, partindo do
referencial de sustentabilidade do local para salvar o global: a casa maior do homem,
que é o planeta Terra.
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REFEÊNCIAS
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Teresina. In: Cadernos de Teresina. Teresina: Fundação Monsenhor Chaves, Edição
Especial, Ano XII, Nº 32, Outubro de 2000.
ABREU, Irlane G. Reflexões sobre Teresina (entrevista concedida à LIMA, Iracilde
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CASTELLS, Manuel. A Questão Urbana (trad. Arlete Caetano). Rio de janeiro: Paz e
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FAÇANHA, Antonio. A Evolução Urbana de Teresina: Agentes, processos e
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LIMA, Iracilde Moura Fé. Revalorizando o Verde em Teresina: o papel das unidades
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MOREIRA, Amélia Alba N. A Cidade de Teresina. In: IBGE. Boletim Geográfico.
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RODRIGUES, Arlete M. Desenvolvimento Sustentável: A Nova “Roupagem” para a
Velha Questão do Desenvolvimento. In: Direito à Cidade e ao Meio Ambiente.
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