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São Paul o
2013
Bruno d e Oliveira Pinho
São Paul o
2013
“Ad astra per aspera”
Ag radecime ntos
Key words: natural law, natural rights, just war, punish ment, Grotius.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO…………………………………………………………............................ 8
3.5 A pena…………………………........................................................................136
CONCLUSÃO………………………………………………......................................... 149
BIBLIOGRAFIA………………………………............................................................. 152
8
INTRODUÇÃO
1
O m ét odo ded ut iv o, caract erí st i co de f i l ósof os do sécul o XVI I (De scart e s,
Spi noza, Lei b ni z, et c), con si st e na a pre se nt ação de prem i ssa s g erai s q ue, se
v erdadei ra s, serv em para ex pl i car um caso part i cul ar. Ne st e m ét odo part e- se
de um a t eori a geral para ex pl i car um f at o esp ecí f i co. G rot i us, em sua
apre se nt ação do di rei t o nat ural , apre sent a prem i ssa s ger ai s e, apó s o
de senv olv im ent o dest a s prem i ssa s, apo nt a caso s e specí f i cos de i nci dênci a
de st e di rei t o. G roti us é um dos pri m ei ros teóri cos d o di rei t o a f azer uso d o
m ét odo dedut iv o ao t rat ar do di rei t o nat ural .
9
2
A abra ngê nci a do s a ssunt o s t rat ado s por G rot i us f az com que T I ERNEY
af i rm e que: “monarq uist as p oder iam cham ar at enção p ara a d ef esa gr ocia na
do abs olut ism o como uma f orm a le gí t ima de gover no; const it ucio nal ist as
poder iam exp lorar a in da mais a su a expl icaç ão das vári as mane iras em qu e a
sobera nia pod e ser l imit a da. Rac ion alist a s poder iam e nf at i zar a Et i am si
darem us de G rot ius ( ‘Ain da q ue a dmit amos que n ão h á Deus. . . ’); t eór icos d o
dire it o cr ist ãos pod eri am i nsist ir em s eu en siname nt o d e que a livr e vo nt ad e
de D eus f o i uma f ont e do dire it o. Empir ist as pod eriam est imar a vast a ord em
de exempl os hist ór icos de G rot ius; aq ueles q ue pref er em um modo
mat emát ico de rac iocí n io po deri am ape lar a os seus argum ent os ‘a pr ior i’. A
t radiçã o mediev al era mu lt if acet a da e, na t ransmissão de muit os d e seus
eleme nt os, G rot ius deixo u vári as opções a bert as para se us sucessor es qu e
poder iam e nt end er seus escr it os de v árias maneir as. ” (T h e ide a of nat ur a l
right s: st udi es on nat ur al ri ght s, nat ur al la w and church law , 1150- 162 5, p.
338-3 39).
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3
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, Li v ro I , capí t ul o II , p. 99.
4
A passagem com ent ada por G rot i u s é e ssa: “20 “Cont inu emos, ent ã o ”, diss e
ele, “da do q ue nos af ast amos dess es pri nc í pios da nat ure za, c om os qua is
deve est ar de ac ordo o q ue se seg ue. Segue-s e est a div isão pr imord ial :
est imável eles di zem ser ( assim po is, na minh a op ini ão, po derí amo s
denom inar) aq uil o q ue o u se ja, e le própr io, segu ndo a n at ure za, ou pr odu za
algo assim, de mod o que se ja d ign o de e scolha p orq ue t enh a al gum pes o
dign o de est ima, qu e aq uel es de nomi na m α ξια , e, cont r ariam ent e, nã o
est imável, o qu e seja co nt rário a o ant eri or. T endo as coisas prim eiras si do
assim est ab el ecid as, de m odo que aqu el a s que s ão se gun do a nat ur e za
devam s er ac olh id as p or ca usa de s i pró prias e as co nt rári as, de mod o
idênt ico, devam ser rej eit ad as, o primeir o dever (assim, com ef eit o, cham o
καθηκον ) é qu e a si mesmo se c onserv e no est ado nat u ral, em se gui da, qu e
se at enha às c oisas q ue são se gun do a nat ure za e qu e rep ila as co nt rári as.
T endo si do e ncont r ado esse crit ério de e scolha e, do m esmo mod o, d e
recusa, seg ue-se, de pois, a esc olh a un id a ao sent ime nt o de d ever; em
segui da, ela é cont í n ua, por f im, ela é cons t ant e e est á em consenso com a
nat ure za. É nessa esco lha q ue, por prime iro , começa a est ar cont ido e a ser
ent end id o o qu e se ja aqu ilo qu e p ode, verd a deiram ent e, se r ch amado de bem.
21 É primeir a, pois, a conci liaç ão do h omem em f avor daqui lo que é se gun do
a nat ure za. Mas, assim que e le se ap ossa d a int el igê ncia, ou, de pr ef erênc ia,
do ent en dime nt o (que e les cham am εννοια ), e vê, ent re as ações que e le
real i za, uma ord enaç ão e, por assim di zer, uma co ncórd ia, e le a est im a d e
muit o maior v alor do qu e t udo a qui lo q ue am ara em prim eiro lug ar e, à lu z d o
conhec iment o e da ra zã o el e de t al f orma ref let e, que co nclu i qu e ness a
ordem est á c oloc ado aqu il o qu e há de ma is e levad o par a o homem, o b em qu e
por si só deve s er lo uvad o e b uscad o. E, uma ve z que el e cons ist a na qui l o
que os est oic os chamam οµολογια , e que nós pod erí amos chamar ‘ acord o’,
caso agr ade – um a ve z, port ant o, que n iss o est eja a que le b em a que t u do
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9
“A just iça não é f i lha da nat ur e za, nem d a vont ade, m as d e n ossa f ra que za .
Se f osse prec iso esco lh er t rês cois as, comet er in just iç as sem sof rê-l as,
comet ê-las e sof r ê-las, ou ev it ar am ba s, o melh or ser ia c omet ê-l as
impun iment e; se f osse p ossí vel, port a nt o, não f a zê- las e nã o sof rê-las, a o
passo qu e o est ado mais mis eráve l seria l u t ar sempre, quer como opr essor,
quer como ví t ima. . . ” (CÍ CE RO , Marco T úl i o. Da Rep úbl ica, l iv ro I I I, p. 177).
10
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da Pa z, “Prol eg ôm eno s”, par. 5º, p .
36.
16
tanto ho mens quanto ani mais são inclinados por sua natureza a se
preocupar com a sua própria utilidade; (2) as leis, em virtude desta
utilidade, variam de a cordo co m o s povos e seus costu mes,
mudando, ta mbé m, segundo as circunstâncias; (3) não existe
justiça, ha ja vista a variação do conteúdo das leis; (4) caso
existisse u ma justiça, ela seria loucura visto que faria com que
cada indivíduo colocasse seus próprios interesses abaixo da
vantage m do outro.
11
O parágr af o 6º do s “Prol egôm eno s”, no t ex t o ori gi nal , t em a seg ui nt e
redaçã o: “ Int er haec aut em qu ae homi ni s un t propr ia est ap pet it us soci et at is,
id est commu nit at is no n qua liscu nqu e s ed t ranqu ill ae, E pro su i int el lect u s
modo ord inat a e, cum bis qui su i sunt ge neris ” (t ex t o di sponí v el no si t e
ht t p: / / gal li ca. bnf .f r/ ). Em port uguê s, t erí am os: E ent re as co isas q ue s ão
própr ias do homem est á o dese jo d e socie da de, ist o é, o de c omun ida de; nã o
de qua lqu er socie dad e, mas uma t ranqu ila e ordena da seg und o o seu próp ri o
ent end iment o, com os q uais p ert enc em ao se u gêner o. (t raduçã o l iv re).
12
“Mesmo os a nima is n ovi nhos, ac aba dos de sair d o út er o mat er no ou d e u m
ovo, sab em inst i nt ivam ent e d ond e l hes p ode vir o peri go e evit am o q ue l he s
pode ca usar a mort e; bast a ver passar a so mbra das aves de rap in a para qu e
as suas pres as ha bit ua is proc urem p ôr-se a salvo. ” (SÊNECA, L úci o Aneu.
Cart as a Lucí l io, 12 1, 18, p. 693).
13
Para G rot i us, o s ani m ai s e as cri ança s seri am desprov i dos da s f acul dade s
de conh ecer e a gi r. A i nst rução perm i t e que as cri anç a s apre ndam a f al ar e a
f azer uso d e ref eri das f acul dad e s. I st o i ndi cari a que, na s cri ança s, a
f acul dade raci onal seri a um a pot ênci a qu e nece ssi t ari a da ed ucaçã o p ara se
t ransf orm ar em at o.
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14
G RO T I US, HUG O. O Direit o da G u erra e d a Pa z, “Prol eg ôm eno s”, par. 7º ,
pp. 37-3 8.
15
No De J ure Pra eda e, G rot i us e scr ev eu: “Sêneca di sse ‘ Da mesma f orm a qu e
t odos os mem bros se harmo ni zam ent re s i, porqu e é int eress e de t odos qu e
cada um s eja preserv ado, ass im t odos os ho mens cui dam de c ada um, porq u e
f omos eng end rad os par a o c on junt o, e a s oc ieda de não pod e sa lvar-se sen ão
pelo amor e o cu ida do d as part es. A segu ran ça deve ser r eal i zad a med iant e a
segura nça mút ua. ’ (D e Ira, I I, 31). Est e é aquel e pare nt esco dos h omen s
ent re si, aq ue la ci dad ani a do mu ndo, que os a nt ig os f ilós of os no s
recomen dam com t ant os e import a nt es avi sos, sobret ud o os Est oic os, cuj o
pensam ent o t ambém Cí cer o compart ilh a: do qua l der iva t amb ém aqu el e
escrit o de F lor ent i no: uma ve z q ue a nat u re za est abe lece u ent re n ós um cert o
parent esc o, se de du z qu e é í mpi o o h omem ins idi ar out ro homem; c ois a q ue
ele ot imament e ap lica ao dire it o d as ge n t es. De on de a parec e qu e n ão
ret ament e e co nt ra a j ust iça os mest r es Acad êmicos da ig norâ nci a
sust ent avam qu e a just iç a, que é n at ure za, soment e lev a à sua pró pri a
ut ili dad e, e que a j ust iça c ivi l n ão vem da n at ure za, m as da op ini ão. E
omit iam aq uel a just iça ce nt ral, que é pró pri a ao gênero h umano. ”. No ori gi nal :
“Seneca: ut om ni a i nt er se m em bra consen t i unt , qui a si ng ul a serv ari t oti us
i nt erest , i t a homi nes si ngul i s parc ent , qui a ad coet um geni t i sum us. Salv a
aut em esse soci et a s, ni si am ore et cust odi a part i um non pot e st . I dem ali bo:
Securi t as securi t at e m ut ua paci sc end a e st . Haec e st i l l a hom i num i nt er se
cognat i o, i l l a m undi civ it as, quam t or t ant i sque pr aeco ni i s v et eres phi l o sop hi
nobi s com m endant , prae se rt i m St oi ci , quorum sent ent i am et i am Ci cero
ex sequi t ur: ex qua et ill ud est F l orent i ni : cum cognat i onem quandam i nt er nos
nat ura c on st i t ueri t , con seq uen s e sse ut h o mi nem homi ni i nsi di ari nef as si t ;
quod i l l e opt im e ad j us g ent i um ref ert . Unde appar et quam non rect e m agi st ri
i gnorant i ae Ac adem i ci cont ra j u st i t i am di spu t av eri nt , eam quae n at ura e st a d
ut i li t at em dunt ax at su am ducere, civ il em vero n on ex nat ur a e sse, sed ex
opi ni one. Hanc eni m m edi am j ust i t i am, quae h um ano gen eri propri a e st ,
om it t ebant . ” (G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae Comme nt ari us, cap. I I , p. 13).
16
G rot i us af i rm a que “(. . . ) a caridade seg ui da ment e me admoest a e, às ve zes,
me orden a pref er ir o bem de mu it os ao qu e seria va nt ajos o só par a mim. ”
(G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerra e d a Pa z, l iv ro I I, capí t ul o I , I X, p.
294).
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17
SÊNECA, Lúci o Aneu. Cart as a Lucí l io, 12 4, 14, p. 701.
18
No par ágraf o 6° dos “Prol eg ôm enos” d o Dir eit o da G uerra, o aut or su st ent a
que o hom em dif ere dos out r o s ani m ai s por ter a nece ssi dad e de um a v i da em
um a soci edad e pací f i ca organi zada de acordo com os d ado s d e sua
i nt el i gênci a e af i rm a que e st a t en dênci a hum ana era de nom i nada p el o s
est oi co s d e soci abi l i dade (a t rad ução para o port ug uê s, ne st e pont o, t raz a
ex pressã o “e st ado d om ést i co”, ent ret ant o parece m ai s corret a a t raduç ão
i ngl esa q ue ut i l i za a pal av ra “soci abl ene ss”).
19
19
“(…) A nat ure za d o hom em que nos im pel e a buscar o comérci o recí pr oco
com nossos seme lha nt es, mesmo qua ndo não nos f a lt asse a bsol ut ament e
nada, é ela p rópr ia a mã e do d ire it o nat ural. A mãe d o dir eit o civ il, n o
ent ant o, é a o brig ação qu e a g ent e s e imp õe p el o pr ópri o c onse nt iment o e,
como est a ob rig ação ext ra i su a f orç a d o d ir eit o nat ura l, a nat u re za po de s er
consid erad a como a b isavó t amb ém do dir eit o civi l ” (I bid. , “Prol egôm eno s” ,
par. 16, p. 43).
20
T rat arei , no próx im o capí t ul o, do di rei t o da s g ent e s e a su a l i gação com o
di rei t o nat ural .
20
21
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da Pa z, “Prol eg ôm eno s”, par. 8º, p .
39. Est e s dev eres, q ue G rot i us v i ncul a ao d i rei t o propri am ent e di t o, t am bém
est ã o em Cí cero (Dos Deveres, l iv ro II I , 23, 122), que su st e nt a que el es sã o
f i nal i dades da s l ei s.
22
Ibi d. , l iv ro I , cap. 2, I, p. 103.
23
“(…) mas, ent re t odas as q uest õ es que c on st it uem o ob jet o d as disc ussõe s
cient í f icas, nad a é t ão esse ncia l c omo o compr een der pl ename nt e qu e
nascemos p ara a just iç a e que o D ireit o nã o se basei a em conve nções, mas
sim na Nat ure za . ” (CÍ CERO , Marco T úl i o. Das Leis, l iv ro I , p. 44).
21
24
CÍ CERO , Marco T úli o. Das Leis, l iv ro I , pp. 47 e 48.
25
CÍ CERO , Marco T úli o. Das Leis, l iv ro I, p. 49.
26
CÍ CERO , Marco T úli o. Das Leis, l iv ro I, p. 50. Em que pe se o f i l ósof o
rom ano e st abel ecer um v í ncul o ent re o út i l e o ho ne st o, no Dos Dev eres, el e
sal i ent a qu e “t odos os home ns dev eriam t e r o segu int e ob jet iv o: que aqu il o
que é út il para cad a um o s eja t ambém par a ben ef í cio de t o dos. Se al guém o
cobiçar par a s i pr ópri o, ent ão t o dos os l aç os soci ais que un em os hom ens
ent re s i se diss olver ão. Al ém d isso, s e a na t ure za pr escrev e q ue um hom em
deveri a dese jar c onsi dera r os int er esses do seu s emel hant e, qu aisq uer qu e
sejam, pel a simpl es ra zão d e ser el e um homem, é necessár io, segu ndo a
mesma nat ur e za, q ue a qu ilo que é út il par a t odos de uma cert a mane ira o
deva ser t ambém part i lh ado em comum. ” (CÍ CERO , Marco T úli o. Dos Deveres,
l iv ro I II , 26-27, p. 123). Som a-se a i st o o f at o del e v i ncul ar a ut il i dade ao
proced er de um hom em de bem (Idem. , 64, p. 138). Est e s ar gum ent o s
m ost ram que aqui l o que Cí cero ent end e por ut il i dade é dif erent e daqui l o que
G rot i us t em em m ent e quand o a pre se nt a ar gum ent os cont ra a ut i l i dade. Para
o hol an dê s a ut i l i dade est ari a v i ncul ada à b usc a d o pr ópri o ben ef í ci o sem a
preocu paçã o com o benef í ci o dos out ro s, ao passo que pa ra Cí cero a
ut i li dade pod e e st ar v i ncul ada ao hone st o, h aj a v i st a que el a t em por obj et iv o
o bem de t odo s.
22
27
CÍ CERO , Marco T úli o. Das Leis, l iv ro I , pp. 50-51.
28
No Da R epú bl ica, ap ó s af i rm ar que a t e se de Ca rné ade s não dev eri a ser
ouv i da pel os j ov ens, Cí cero apre sent a um a concepç ão de l ei nat ural . Est a l ei
est ari a em conf orm i dade com a ret a razã o e a seri a apl i cáv el a t odo s.
(CÍ CERO , Marco T úl i o. Da Repúb lic a, l iv ro II I, XVI I , p. 178).
29
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da Pa z, l iv ro I , cap. I , X, p. 79.
30
Idem. O p. ci t . , p. 81.
31
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I , XI I , p. 85.
23
32
G ROT I US, Hugo. O Direit o da G uerra e d a Pa z, l iv ro I, cap. I , X, 6, p. 81.
33
Será v i st o, no próx im o capí t ul o, que no D e Jure Prae dae Comment ar ius,
G rot i us apre sent a d ua s e spéci e s de di rei t o nat ural e que um a del as a dv ém do
acordo d e v ont ades do s h om ens i n seri do s e m um a Repúbl i ca.
34
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerra e da P a z, “Prol eg ôm enos”, par. 9º, pp.
39-40.
24
35
ST RAUSS, Leo. Direit o N at ural e H ist óri a, p p. 78-83.
36
ST RAUSS, Leo. Direit o N at ural e H ist óri a, p. 105.
25
37
ST RAUSS, Leo. Direit o N at ural e H ist óri a, p. 80.
38
“O conve ncio nal ismo r eje it a o d ireit o nat u r al p elas seg ui nt es ra zõ es: 1) a
just iça est á i nev it avelm ent e em t ensã o com o desej o nat ur al de ca da um, qu e
se dirig e unic ament e p ara o bem própr io; 2) na medida em qu e a just iça t em
um f und ament o nat ur al – em t ermos ger ais , na me did a em qu e é be néf ic a
para o ind iví du o – as su as ex igê ncias limit a m-se aos membr os da c ida de, ist o
é, de uma un ida de conv enci ona l; a qui lo a que se cham a ‘dir eit o nat ur al ’
consist e num co nju nt o de re gras rud iment ar es de conve niê ncia soc ia l que s ó
são vál idas p ara os membros d e um grup o part icu lar e qu e, além d isso, nã o
são un iversa lment e vá li das nem mesm o para as relaçõ es no i nt eri or do gr upo ;
3) o que se ent e nde g eralm ent e por ‘ dir ei t o’ ou ‘j ust iça ’ não det ermin a o
sign if icad o exact o de ‘aj udar ’ ou de ‘caus a r dano’ o u do ‘ bem comum’; só
at ravés de uma esp ecif ic ação é q ue est es t e rmos adqu irem um sent id o ple no,
e t oda a esp ecif icaç ão é co nvenc ion al. A diversi dad e das conc epçõ es de
just iça co nf irma ma is do qu e demost r a o carát er conv enci ona l da j ust iça. ”
(Ib id. , p. 93-94).
26
39
ULLMANN, Rei nhol d o Al oysi o. O Est oicismo Romano, p. 42.
40
SPI NELLI , Mi guel . Q uest ões F undame nt ais da F ilos of ia G rega, p. 3 6-37.
41
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I , XI I , p. 86.
42
“Exist ia, pois um a ra zã o deriv ada da n at ure za das cois as, inc it and o ao b em
e af ast and o do mal, q ue par a che gar a ser Lei nã o necess it ou ser r edi gid a,
pois que já o er a des de s ua orig em. E sua o rigem é t ão ant ig a com o a me nt e
divi na. Por isso a le i verda de ira e ess encia l, a que man da e proí b e
leg it imament e, é a ra zã o just a d o gra nde J ú pit er. ” (CÍ CERO , Marco T úl i o. Das
Leis, l iv ro I I , p. 65. ).
43
“(. . . ) a le i n ão é o pro dut o da int e li gênc ia h umana, nem da v ont ad e p opu lar,
mas alg o et ern o qu e reg e o u nive rso p or meio d e sáb ios ma ndat os e sáb ia s
proib içõ es. ” (CÍ CE RO , Marco T úlio. Das L eis , liv ro I I , p. 64).
44
“Sem dúvi da, p ara d ef in ir D ireit o noss o po nt o de part i da ser á a le i supr em a
que pert e nce a t o dos os s écul os e j á er a v ig ent e qua ndo nã o h avi a l ei escrit a
nem Est ado const it uí do. ” (CÍ CERO , Marco T úl i o. Das Leis, liv ro I , p. 41).
27
45
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, capí t ul o I, X, p. 81.
28
46
No t ex t o ori gi nal a hi pót ese é a ssi m f orm ulada: “Et haec quid em, quae i am
diximus, l ocum h aber ent et iams i dar emus, quod s ine summ o scel ere d ari
nequ it , non esse De um, aut non curar i ab e o negot i a huma na ” (di sponí v el em
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re%20 bel l i %20ac%20 paci s. l an gEN).
29
Grotius afirma que o que ele havia dito teria lugar mesmo se
Deus não e xistisse ou que os negócios hu manos não fosse m ob jet o
de seus cuidados, mas ele alerta, e m seguida, que se deve
obedecer a Deus, que te m Sua e xistência confirmada “e m parte por
nossa razão” e de outra parte por “nu merosas provas e milagres
atestados através dos séculos”. Deste modo, ele não está negando
a existência de Deus ou a possibilidade de Ele intervir na criação,
mas pretende separar o direito natural de um funda mento
teocêntrico.
47
No t ex t o ori gi nal: “ex princip iis hom ini int ern is prof lu it ”.
48
HERVADA, Jav i er. “T he O l d and t he N e w i n t he Hypot h e si s “Et i am si
darem us”, G rot ia na, p. 10.
49
VI LLEY, Mi chel. A F ormação do Pe nsament o Jurí dico Mod erno, p. 64 8.
30
50
“Se os deuses exist em, nad a há de t emer o so em part ir dent re os h omens;
eles nã o t e haver iam de pr ecip it ar num a de sgraça; mas se el es não ex ist em
ou não se imp ort am com os assunt os huma nos, que me int eress a viver nu m
mundo v a zio de deus es o u va zi o d e p rovidê nci a? ” (AU RÉLI O , Marco.
Medit açõ es, p. 278).
51
“Se, por ém, el es (o s de u se s) não de lib eraram s obre na da – o que é
impie dad e adm it ir (. . . ) – se, po is, el es nã o d eli berar am sobr e na da d o qu e no s
concern e, e nt ão posso d ecid ir s obre mim p rópri o, cab e a mim exami nar os
meus int eress es ” (AURÉLI O , Marco. Medit aç ões, p. 297).
52
HERVADA, op. cit . , p. 14.
53
SCHNEEW I ND, Jerom e B. A invençã o d a aut o nomi a: uma hist ór ia d a
f ilosof i a moral mo dern a, p. 95.
31
58
G RO TI US, Hugo. Direit o da G uerra e d a Pa z, liv ro I , capí t ul o I , X, p. 81.
59
“Essa já é o ut ra f ont e do dire it o, a lém d aq uela qu e ema na d a n at ure za, a
saber, aqu el a que prov ém da livr e vont ad e de Deus. ” (G RO T I US, Hugo. O
Direit o da G uerra e da Pa z, “Prol egôm eno s”, par. 12, p. 41).
33
61
Nest a part e, ap ó s def i ni r o di reit o nat ural , G rot i us su st ent a a i m ut abi li dade
de st e di rei t o e argum ent a que nem m esm o o própri o Deu s pod eri a m udar se u
cont eúd o. El e (D eu s) “(. . . ) não po der ia f a zer com que d ois m ais do is n ã o
f ossem quat ro, de i gua l modo e le nã o p ode imp edir q ue a qui lo qu e é
essenci alme nt e mau não s ej a mau. ” (G RO T I US, Hugo. O Dir eit o da G uerr a e
da Pa z, Liv ro I , capí t ul o 1, X, p. 81).
62
Nos “Prol egôm eno s” d o Dire it o da G uerra e da Pa z, G rot i us af i rm a que
“Crisi po e os est óicos d i zi am que a ori g em do dir eit o n ão d everi a ser
procura da em p art e al guma a não ser no pró prio Jú pit er ” (p ar. 12, p. 41). N o
De Jur e Prae dae Comme nt ari us (cap. I I , p. 2 0), el e j á t i nha ci t ado Cí cero, q u e
t eri a di t o, no Ph il ipp ics, XI , x i i, 28, que o pró pri o Júpi t er sa nci onou o seg ui nt e
precei t o ou l ei : que t oda s a s coi sa s sal ut ares p ara a re públ i ca dev em ser
t i das com o l egí t im as e j u st a s. Vem os que el e ret i ra do s e st oi co s a noç ão d e
que Júpi t er ord ena a v i da pol í t i ca, adv i ndo del e a noção d e razão e d e
soci abi l i dade nat ural .
35
63
MI T SI S, Phi ll i p. “T he St oi c O ri gi n of Nat ural Ri ght s”, T opics in St oi c
Philos ophy, p. 15 3-17 7.
36
64
G RO TI US, Hugo. De Jure Praedae Comme nt arius, Cap. I I , p. 8, t raduçã o
mi nha.
65
No pri m ei ro capí t ul o do Liv ro I do D ireit o d a G uerra e da P a z, ap ó s pr ov ar a
ex i st ênci a do di rei t o nat ur al , G rot i us t raz u m ex em pl o do Deut er onôm io e d o
Salmos p ara su st ent ar que o s e st ra ngei ro s n unca f oram subm et i dos ao di rei t o
do s he breu s. T am bém ao t rat ar da guerr a, e l e usa arg um ent os da s E scri t ura s
para m ost rar q ue o em prego d a f orça é com pat ív el com a f é cri st ã.
37
66
Já f oi sal i ent ad o q ue, no pará graf o 6º do s “Pr ol egôm eno s” do Dir eit o d a
G uerra, o a ut or ar gum ent a qu e o hom em possui um a nat ureza supe ri or ao s
ani m ai s e f undam ent a est a af i rm ação no f at o de ex i st i r na hum ani dade um a
nece ssi dad e de v i da em um a soci edad e pací f i ca e organi zada d e acord o com
a su a i nt el i gênci a. Est a soci a bi l i dade nat ur al , segu ndo o j uri st a, hav i a si do
denom i nada pel o s e st oi co s d e “e st ad o dom ést i co”. Veri f i ca-se qu e ape sar d e
a soci abi l i dade hum ana ser um l ugar com um , o j uri st a ut i li za a concepção
est oi ca d e soci abi l i dade nat ural .
38
67
A capaci dade d e com uni cação do s sere s hu m anos par ece e st ar i nt i m am ent e
l i gada ao u so da s no ssa s f acul dade s raci on ai s, m as dei x a-se de i ncl uí -l a em
conj unt o c om a razão pel o f at o de G rot i us a s t er sep ara do e n ão t e r
apre se nt and o nen hum argum ent o para e st a e scol h a. Al ém di sso, j unt a- se
dua s car act erí st i cas q ue G rot i u s sep ara, m as que parec em ser si m il ares: a
f acul dade de c onh ecer e a gi r, e o j uí zo que no s perm i t e apreci ar a s c oi sa s.
Am bas di zem respei t o à no ssa ca paci dad e i n t el ect iv a adv i nda da pr e senç a d a
razão.
68
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da Pa z, “Prol eg ôm eno s”, par. 7º, p .
39.
69
Ibi d. , par. 9º, p. 39 e 40.
70
Ibi d. , p. 40.
39
71
SÊNECA, Lúci o Aneu. Cart as a Lucí l io, 12 4, 14, p. 701.
72
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, capí t ul o II , p. 99.
73
G rot i us t rat a d o e st a do de n at urez a e do surgi m ent o da soci ed ade ci v i l no
se gun do capí t ul o do D e Jure Prae dae. V erem os e st e po nt o no se gun do
capí t ul o.
40
74
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, Li v ro I , cap. I , X, p. 79.
75
Ibi d. , l iv ro I , cap. I , X, pp. 79 e 80, e l iv ro I , cap. I I , I , p. 99.
41
76
“O t ipo de mov iment o pr ópri o d os a nima is ir racion ais é a pen as a que le que a
sua n at ure za l hes permit e. ” (SÊ NECA, L úci o Aneu. op. c it . , Cart a 1 24, 19-2 0,
p. 703).
77
“O que nós di zemos é qu e a f e lici dad e de p ende de a v ida est ar de acord o
com a nat ure za; o qu e se ja “est a r de aco rdo com a nat ur e za ” é um d ad o
evide nt e e ime diat o, t al com o por ex emplo o conceit o d e “int e iro ”. Esse est ar
de ac ordo com a nat ure za (q ue é uma prop rieda de de t odo o ser assim qu e
nasce), a isso nã o chamo e u bem, mas sim o começo do bem. ”. Ne st e po nt o,
Sêneca af i rm a que est e at o d e e st ar de aco rdo com a nat ureza é com eço do
bem porqu e a perc epçã o d o b em e do m al , para el e, só seri a al cançad a com o
uso da r azão. El e af i rm a que no rec ém -nasci do não ex i st e o b em porque el e
carece de r azão. El e su st e nt a q ue o b em e specí f i co do hom em só sur g e
quan do el e aced e à perf ei t a razão e que, quan do el e f al a em “bem ”, est á
ut i li zando o t erm o no se nt i do f i gurado. Por f im , el e af i rm a que esse bem é a
obedi ênci a à pr ópri a n at ureza. ( I bid. , C art a 124, 7, 9, 11, 13 e 1 4, p. 69 9-
701).
42
78
SEG URADO E CAMPOS, J. A. Int rodução às Cart as a Lucí l io, p. XXVI .
79
“O que nós di zemos é qu e a f e lici dad e de p ende de a v ida est ar de acord o
com a nat ure za. ” (SÊNECA, Lúci o An eu. O p. Ci t . Cart a 124, 7, p. 699).
80
“A perf e ição abs olut a é a que la que é p erf eit a em rel ação à o rdem da
nat ure za. ” (SÊNECA, Lúci o An eu. op. cit . , Ca rt a 124, 14, p. 701).
43
81
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da Pa z, Liv ro I , cap. I I , I, p. 100-
101.
44
Conclusão
82
O De Jure Praed ae é de 1 604 e não f oi publ i cado, ex cet o o capí t ul o XI I qu e
recebe u o t í t ul o De Mare Lib erum. Já o Direit o da G uerr a e d a Pa z f oi
publ i cado em 162 5. Al ém da di f erença t em poral e de t am anh o (o pri m ei ro liv ro
é cerca de quat ro v ezes m enor em cont eúdo d o que o segu ndo), pel a
dif erença d e ab orda gen s e po si ci onam ent o s, o Dire it o d a G uerra e da Pa z é o
grand e t ex t o de G rot i us. Não se sabe por q u e o aut or não p ubl i cou o De J ure
Praeda e, m as, t alv ez, a f al t a de general i dad e da s af i rm ações ou de co nv i cção
so bre sua s po si çõe s po ssam t er cont ri buí do para i sso.
47
84
O m esm o procedi m ent o é rep et i do por T h om as Ho bbe s. O f il ósof o i ngl ê s
t am bém el enca, nos c apí t ul os XI V e XV do Leviat ã ( publ i cado em 1651 ), um
conj unt o de l ei s d e nat urez a.
49
Pode-se dividir este con junto nor mat ivo apresentado pelo
jurista e m duas partes. A pri meira parte é constituída por três
regras e seis leis que são apresentadas antes da e xposição
grociana de como a sociedade política teria surgido - o jurista
afirma que pequenas unidades sociais surgiram “após esses
princípios tere m sido estabelecidos” 86. Deste modo, estas regras e
leis são anteriores ao surgimento da sociedade política; por outro
lado, a segunda parte das referidas regras e das leis surgem após
a criação da República 87, estando intima mente ligadas ao home m
enquanto partícipe de uma co munidade politicamente organizada.
85
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. I I , p. 30.
86
Ibi d. , p. 19.
87
Dura nt e t od o o seg und o ca pí t ul o do De Jure Pra eda e, G rot i us ut i l i za o
t erm o l ati no respubl ica q uan do se ref ere a u m conj unt o de hom ens q ue v iv em
de um m odo pol i t i cam ent e organi zado. Cont udo, nã o p arece ser l í ci t o pen sar,
ao m enos com base n e st e t ex t o e no Direit o da G uerra, qu e há al gum a
i nf l uênci a do republ i cani sm o sobre G rot i u s. Ape sar de el e f azer uso d o t erm o
repúbl i ca, el e i gual m ent e ut i li za a pal av ra civit at es (ci dade s) qua ndo se ref ere
a a ssoci açõe s e a ssem bl ei as de hom ens e em prega a ex pre ssã o civ es par a
i ndi car os hom en s qu e com põem as repú bl i cas.
88
Regra 1 – Aqui l o que Deu s d ecl arou qu e el e quer é di rei t o (Regul a I – Q uo d
Deus se vel le si gnif icarit , id jus est ).
89
Passa gem ret i rada do De F ini bus, I V, v .ii .
50
fenô menos celestiais é benéfico à just iça e explica que o ter mo jus
teria derivado de Júpiter.
Não obstante o con junto nor mativo e xposto por Grotius ter
co mo ponto de partida o Criador, Grotius não recorre à teologia
para embasar a pri meira regra, mas a pensadores pagãos –
Cícero 90 e Crísipo 91. O jurista sustenta que a vontade de Deus não
se revela somente por meio de oráculos e presságios
sobrenaturais, mas pode mos perceb er esta vontade no próprio
desígnio de Deus, de onde derivaria o direito natural.
90
Cí cero a ssev era: “Coisas semel ha nt es pod em ser dit as so bre a ex posiç ã o
da nat ur e za, de q ue se va lem t ant o est e s quant o os voss os, e isso, n a
verdad e, não p or duas ca usas a pen as, como pensa Ep icur o, a f im de que s e
arrede o me do da mort e e d a reli gi ão, ma s at é mesmo um cert o senso de
medid a t ra z o con hec iment o das co isas cel e st es àquel es que o bservem qu ão
grand e mod eraçã o exist e t ambém e nt re os deuses, q ue gr and e or dem, e ao s
que perc ebem a gra nde za de alm a dos deu ses e suas obras e rea li za ções e
aind a a just iç a, uma ve z que t e sej a co nhec i do qu al é o p ode r div ino da que le
que g overn a e que é o s enh or, qu al é seu pla no, qu al s ua vo nt ade; à su a
nat ure za a ra zã o est á a just ad a, ra zão que p elos f i lósof os é chama da d e suma
lei, a verd ade ira l ei. ” (CÍ CERO , Marco T úl i o. De F inib us, I V, v . 11, p. 517).
91
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. I I , p. 9.
92
G rot i us f az ref erênci a a Cí cer o na pági na 9 do De Jur e Pra eda e, m as nã o
i ndi ca de q ual obr a ret i rou a f rase. Ent ret a nt o, e st a i dei a p arece se re pet i r no
Direit o da G uerra qu and o o j uri st a t rat a, no i ní ci o do segun do capí t ul o do
pri m ei ro liv ro, dos pri ncí pi os pri m i tiv os comun s ao s hom en s e ao s ani m ai s e
f az m enção ao De F ini bus, I I I , 5, 17.
51
93
Lei 1 – É l í ci t o prot eger a v i da e af ast ar a s coi sa s q ue po ssam ser nociv as
(Lex I – Vit am t ue ri et dec lin are noc it ura l ice at).
94
Lei 2 – É l í ci t o acum ul ar e m ant er para si as coi sa s út ei s à v i da (Lex II –
Adjun gere s ibi q uae a d vive ndum su nt ut ili a eaqu e ret in ere l iceat).
95
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. I I , p. 9.
52
96
“Com ef eit o, e por que, af in al, ca da um pref ere adq uir ir p ara s i mesm o
qual quer b em relat ivo às necess id ades d a nossa vid a a t er de o f a zer par a
com o s eu s emel hant e, qu e se conc eda, po i s, não ser t a l at it ude cont r ária à
nat ure za h umana. Co nt udo, aqu el a mes ma nat ur e za nã o p ermit e qu e
possamos aume nt ar as nossas poss es, o s nossos m eios ou as noss as
rique za s à cust a dos desp ojos a lhe ios. ” (CÍ CERO , Marco T úl i o. Dos Deveres,
I I I , 22, p. 122).
97
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. I I , p. 10-11.
98
“Appreh ensi o ha ec poss essio dicit ur, u nde usus et mox dom ini um secut u m
est ” - “Essa apre ensã o se c hama ‘p osses sio’ ( at o d e t omar poss e), e é
precursor a do ‘usus ’ ( uso), e su bseq uent eme nt e do ‘ domi nium ’ (p ropr ied ade). ”
(De Jure Prae dae, o b. ci t . , cap. I I , p. 11).
99
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro II , cap. II , II I .
53
100
SÊNECA, Lúci o Aneu. Cart as f ilos óf icas, ob. ci t ., Cart a 48, 2, pp. 161-16 2.
101
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. I I , p. 11-12.
102
Idem, O Direit o d a G uerra e d a Pa z, l iv ro I , cap. I , XI I , p. 85.
103
T usculana e Dis put at io nes, 13, 30.
54
104
Segund o Pet er Ha gge nm acher, est e jus g e nt ium nã o de si gnari a um a f ont e
de regra s e i n st i t ui ção com pl em ent ares ao d i rei t o nat ural , div ino ou civ il , m as
55
seri a a som a dos t rê s e corre spon deri a ao nosso di rei t o i nt ernaci onal
(HAG G ENMACHER, Pet er. G rot ius et la doc t rine d e la guerr e j ust e, p. 61 8-
619).
105
“(. . . ) Por est a r azão, de sej aram o s no sso s a nt epa ssado s qu e f osse um a
coi sa d o dom í ni o do di rei t o das gent e s enq u ant o out ra, d o dom í ni o do di rei t o
civ il . Aquil o que pert enc e ao d om í nio do di rei t o civ il não ser á
nece ssari am ent e d o dom í ni o do di rei t o da s g ent e s e, nã o o b st ant e, aqui l o q ue
é do dom í ni o do di rei t o da s ge nt e s ser á t am bém nece ssari am ent e do dom í ni o
do di rei t o civ il . Mas, nó s não p o ssuí m os qual quer n oção su b st anci al m ent e
con si st ent e acerca daq ui l o em que poderá con si st i r a v erdadei ra l ei ou a
j ust i ça pura – t ud o aq ui l o que no s é po ssí v el de sf rut ar não pa ssa de um m ero
esboço. ” (CÍ CERO , Marco T úl i o. Dos Devere s, p. 140).
106
G ai o def i ni u, no séc ul o I I , o jus ge nt ium c o m o aqui l o que “a ra zã o nat ura l
est abel ece u ent r e t od os os pov os ” (“Q uo d v ero nat ural i s rat i o i nt er om ne s
hom i nes con st i t ui t . . . v ocat or i us gent i um ”, Di gest o 1. 1. 9. G ai o é ci t ado por
Bri an T i erney - T I ERNEY, Bri an. T he Ide a of Nat ura l R ight s, p. 136). Al ém
di sso, o m esm o j uri st a escr ev eu que “cada povo (po pul us), que é gover nad o
por le is e cost umes (le ges et mores), observ a, em part e, o seu própr io dir eit o
pecul iar e, em p art e, o dir eit o c omum d e t od a a h uman ida de. Esse dir eit o qu e
um pov o est abe lece u p ara si m esmo lhe é pecul iar e é c hamad o ‘ius civ ile ’
(dire it o civ il), s end o o d ireit o es peci al da ‘ci vit as’ ( est ado), en qua nt o o dir eit o
que a r a zão nat ura l est a bel ece e nt re t od a a human ida de é s egu ido por t od os
os povos s emel hant es e é ch amad o ‘ jus gent i um’ (d ireit o das gent es, o u
dire it o do mun do), sen do o d ireit o obs ervad o por t od a a huma nid ade. Ass im, o
povo r omano obs erva, em part e, o s eu pró prio dire it o e, em part e, o d ireit o
comum de t oda a huma nid ade ” (G ai o, ci t ado por La uren s W i nkel - W I NKEL,
Laure n s. “T he Peace T reat i es of W est phal i a as a n i nst anc e of t he recept i on of
Rom an l aw”, p. 225).
107
Digest o, 1. 1. 4, ci t ado por T I ERNEY, op. cit . , p. 136.
108
T I ERNEY, Bri an. op. cit . , p. 136-137.
56
109
Herm ogeni an u s, ci t ado por W I NKEL, “T he P eace T re at i es of W est phal i a a s
an i n st ance of t he recept i on of Rom an l aw”, Peace T re at ies and I nt ernat i ona l
Law in Europe an H ist ory, p. 225.
110
G rot i us f az ref erênci a ao De O f f iciis, I , 50, de Cí cero no i t em XI do pri m ei ro
capi t ul o do Dir eit o da G uerra e da Pa z. Ne st e t rech o, Cí cer o e scr ev e: “O seu
ví nculo é const it uí do pe la ra zã o e pe la li ngu agem qu e, ensi nan do,
apren den do, comu nica ndo, discut i ndo e ra cioci nan do, assoc iam os homen s
uns com os out r os, reun in do-os numa es pécie de s oci eda de n at ura l; em
nenh um o ut ro as pect o, para a lém d est e, n os af ast amos t ant o da nat ur e za dos
anima is, na qua l af irmam os t ant as ve ze s e xist ir uma c ert a cora gem (com o
acont ece com os cava los, c omo suc ede com os l eões); acerca de les, p orém,
não f al amos nós de just iça, d e equ ida de, o u de bon dad e já q ue, com ef eit o,
não sã o e les d ot ados de r a zão nem d e l ing u agem. ” (Marco T úl i o CÍ CERO , Dos
Deveres, p. 3 3). G rot i us concor da com Cí cero qu e não cr ê na ex i st ênci a d e
j ust i ça, de equi d ade o u de bon dad e ent re o s ani m ai s, poi s l hes f al t ari a t ant o a
razão qu ant o a l i ngua gem .
111
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, “Prol eg ôm enos”, p. 51.
112
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, “Prol eg ôm enos”, p. 80.
57
113
Regra 2 – Aqui l o que o consen so d o s hom ens d ecl arou qu e t odo s quer em é
di rei t o (Regula II – Q uo d consens us homi nu m velle cunct os si gnif icaver it , id
jus est ).
114
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. I I , p. 13.
58
115
G rot i us m enci ona Carn éad e s ap ena s no cap. VI I do De J ure Pra eda e:
“Assim, em relaç ão a os suj eit os, est e argu ment o é af i nad o com a que le q u e
Carné ades e os f il ósof os aca dêmic os apl i caram erron eament e a t odas as
pessoas, a sab er, qu e a just iç a é uma q uest ão d e op in ião - “bas ead a n ão n a
nat ure za, mas no d ireit o ” -, na medida em q u e ela cons ist iri a na conf orm ida de
com as inst it uiçõ es est abe lec idas d as vári as nações ” (H ugo G RO T I US, De
Jure Prae dae, cap. VI I , pp. 76-7 7). Sem se cont rapor de f orm a ex t ensiv a ao
cét i co, o j uri st a at ri bui a C arné ade s a c on cepção seg und o a qual a j u st i ça
ba sei a- se a pen a s no di rei t o l ocal .
116
Lei 3 – Ni nguém l ese o o ut ro (L ex 3 – N e qu is at erum lae dat ). L ei 4 –
Ni nguém ocupe a s c oi sa s ocup ada s por o ut ro (Lex 4 – Ne q uis occ upet a lt er i
occupat a).
59
mas que nos são benéficos ou prejud iciais, como, por e xe mplo, a
honra e a riqueza.
117
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. I I , p. 14-15.
118
G rot i us não t raz a pa ssagem do t ex t o de Pl at ão.
60
119
G RO T I US, Hugo. O Direit o d a G uerra e da Pa z, l iv ro I , cap. I , VI I I , pp. 76-
77.
120
Lei 5 – As m ás açõe s d ev em ser corri gi das ( Lex V – Malef act a corr ig end a).
121
Lei 6 – A s bo a s aç õe s dev em ser r ecom pen sa da s ( Lex V I – B enef act a
repens and a).
122
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da Pa z, “Prol eg ôm enos”, p ar. 8º, p.
39.
123
Ibi d. , par. 15, p. 42.
124
Regr a 3 – Aqui l o qu e ca da um decl arou que el e q uer é um di rei t o em
rel ação a el e (Re gu la I I I – Q uo d se qu isqu e velle s ign if icav erit , id i n eum j us
est ).
61
125
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. I I , p. 19-20.
126
A dif erença ent re a rep úbl i ca a o Est ad o ser á v i st a no próx i m o capí t ul o.
127
G RO T I US, Hugo. De Jur e Prae dae Comment arius, ca p. I I , p. 20. Sobr e e st e
t em a, T uck af i rm a “Est e era o t ipo d e repú bl ica sob eran a, ent ão, q ue G rot iu s
t inha em ment e q uan do ele arg ument o u que o ind iví duo nat ural era,
moralme nt e f ala ndo, como um est ado s ob erano em mini at ura, ao q ua l o
vocabu lár io da li berd ade e da s ober an ia po de ser ap lic ada ” (Ri char d T UCK,
T he Right s of W ar and Pe ace, p. 84).
128
No segu ndo capí t ul o do l iv ro I I do Co nt rat o Soc ial, Rou sseau af i rm a:
“T odos p odem ver nos capí t ul os d e G rot i us como esse s ábi o e se u t rad ut or
Barbeyrac co nf und em-se, embar açam-se em seus sof ismas por me do de d i zer
demais sobr e o assunt o ou de nã o d i zer o bast ant e s egu ndo seus po nt os d e
vist a, f a ze ndo co lid ir os int er esses que pret endi am conci li ar. G rot ius,
ref ugi ado em F rança, d escont e nt e com su a pát ria e des eja ndo agra dar a Luí s
XII I, a qu em seu l ivro é de dica do, n ada p oupa par a d espo jar os pov os d e
62
130
Lei 7 - O s cidad ãos n ão só devem se abst er de pre jud icar os out ro s
cidad ãos, mas d evem, t ambém, pr ot egê- lo s, t ant o como um t od o e com o
ind iví duos. (Lex V I I – Ut sin gu li civ es caet eros t um univ ersos, t um sin gul os
non m odo no n lae dere nt , verum et iam t uer ent ur). L ei 8 - O s ci dad ão s nã o
apen a s d ev em abst er- se de t i rar un s do s o ut ros a s c oi sa s po ssuí da s de m odo
priv ado ou de f orm a em com um , m as, ao co nt rári o, dev em garant i r as coi sa s
nece ssári a s t ant o par a o s i ndiv í duos qu ant o para à c ol et iv i dade. (Lex VI I I - Ut
cives non mod o a lt er alt er i pr ivat im aut inc ommune poss essa non er iper ent ,
verum at iam si ngu li t um qu ae si ngu lis, t um quae u nivers is nec essari a
conf erent e).
131
Regr a 4 – T u do aqui l o q ue a re públ i ca d ecl arou que el a quer é di rei t o par a
t odo s o s ci da dão s ( Reg ula IV – Q u idq ui d res publ ica s e vel le s ign if icav it , id i n
cives un iversos j us est ).
64
132
Um dos arg um ent os d e Carn éad e s t razi dos por G rot i us no s “Prol egôm eno s”
repet e um a t ese do s conv enci onal i st as seg u ndo a qu al não po de hav er di rei t o
nat ural por que a j ust i ça v ari ari a de soci edade para soci edad e. Q uand o o
j uri st a, aqui , def ende que, ap e sar de ex i st i r um a v ari ação sob re a conc epçã o
do que é b om , ai nda assi m hav eri a um di rei to nat ural , el e parece ant eci pa r a
su a argum ent açã o cont ra o cét i co.
133
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. I I , p. 23.
134
Regra 5 - Aqui l o que a rep úbl i ca deci di u que el a qu er é di rei t o ent re o s
ci dadão s (R egu la V – Q u idq uid r espu blic a s e vell e sig nif ic avit , id int er c ives
singu los j us est ).
65
135
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. I I , p. 23.
136
T ant o o di rei t o civ i l quant o a l ei adv i nda do proc edi m ent o j udi ci al não sã o
obj et o da s regr a s e l ei s enum erad a s no t ex t o.
137
Na G réci a ant i ga, “arcont e” era um a espéci e de t í t ul o recebi do pel o s
at eni en se s e sc ol hi dos para f azer part e d o areóp ago, um consel ho qu e no
perí odo dem ocrát i co ex erci a o papel de um t ri bunal re spo n sáv el pel os
j ul gam ent os de cri m es. Magi st ra do t am bém era, t radi ci onal m ent e, um t í t ul o
l i gado a um cargo of i ci al . Na ant i gui dade ro m ana, um magist rat u era um do s
66
140
Regra 8 - T ud o aq ui l o que t o da s a s r epú bl i cas deci di ram que el a s q uerem ,
i sso é di rei t o para t odo s ( Reg ula VI I I – Q uid qui d omn es res pub lica e
sign if icaru nt se vel le, i d in omnes j us es t ). Regra 9 – N o j ul gam ent o a
pri ori dade será dad a para a r epú bl i ca que é ré, o u cuj o ci d adã o é o réu. M a s
se ne st a r epú bl i ca est e of í ci o cessar, a rep ú bl i ca aut ora, ou cuj o ci dad ão é o
aut or, dev e j ul gar. (Regu la IX – I n j udi cando pri ores s int p art es e ju s
reipu bl icae, u nde c ujusv e a civ e pet it ur. Q uod si h ujus of f icium c esset , t um
respub lic a, quae ipsa cu jusve c ivis pet it , eam rem judicet).
141
Lei 12 - N enh um a repúbl i ca e ne nhum ci dadão ex erça o seu di rei t o cont r a
out ra rep úbl i ca ou cont ra um ci dadão d e out r a repú bl i ca a não ser por m ei o de
um procedi m ent o j udi ci al (Lex X II – Ne respub lic a n eu c ivis i n a lt eram
rempub licam a lt eri usve civem jus suum n isi j udic io exse quat ur).
68
Esta e xce ção encontra respaldo na sua última lei (Lei 13),
que é um princípio interpretativo de todo o sistema 143. Esta lei
assevera que nos casos e m que as leis podem ser ob servadas
142
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. I I , p. 29.
143
Lei 13 - No s ca so s em que a s l ei s p odem se r ob serv adas si m ult aneam ent e,
sej am el as o b serv adas; qu and o i sso não po de ser f ei t o, ent ão sej a pref erív el
aquel a l ei qu e é m ai s di gna (Lex XI I I – Ut ub i simu l o bserv ari possu nt
observe nt ur: ubi id f ier i non p ot est , t um pot io r sit quae est di gni or).
69
149
“T omado nest e s ent i do o d ire it o é uma qua l idad e mora l li gad a ao ind iví du o
para p ossuir ou f a zer de mod o just o alg uma coisa ” (H ugo G RO T I US, O Direit o
da G uerra e da Pa z, l iv ro I , Cap. I , I V, p. 74). A t radução da e di t ora Uni j uí ,
ne st a pa ssagem , t raz com pli cações – com o o u so da p al av ra “i ndiv í duo”.
Verif i ca-se n o t ex t o ori gi nal : “ius est qua lit a s moral is perso nae comp et ens a d
ali qui d just e h abe ndum v el ag end um ”. Na t ra dução para o i ngl ê s t em -se: “ri ght
is a mor al qua lit y a nnex ed t o t he p erso n, jus t ly ent it l ing him t o poss ess som e
part icu lar priv ile gie, or t o perf orm some p art icul ar act”. N e st a s c on st am o
t erm o “pessoa”.
72
150
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I , VI , p. 75.
151
VI LLEY, Mi chel . Est údios e n t orno a la n oci ón de der echo sub jet ivo, p. 25-
31.
73
152
Segund o Mi chel Vi ll ey (Est údios en t orno a la noci ón de d erech o subj et ivo,
p. 26- 31 e 151- 190), qua ndo G rot i us d ef i niu j us com o q ual i dade m oral qu e
corre spo nde a um a pe ssoa t er al gum a coi sa ou a gi r j ust am ent e e af i rm ou que
esse jus pod eri a ser um pod er sobr e si m esm o; um poder sobr e out ro s ou um
poder sobr e a s c oi sa s, t em -se um a def i ni ção de j u st i ça pareci d a com o qu e o s
rom anos cham av am de “o seu”. Ent ret ant o, a li berdade n unca f oi concebi da
pel os r om anos com o um di rei t o. Vil l ey af i rma que e st a s n oçõe s d e di rei t os d e
per son al i dade e de p ropri ed ade, t ã o f ami li ares p ara n ó s, t êm ori gem
rel at iv am ent e recent e e q ue a v i são su bj et iv a de n o ssa ci ênci a j urí di ca é
m oderna, e n ão rom ana. Se gun do e st e com ent ador, f oi G uil herm e de O ckham
quem i nt roduzi u a i dei a de di rei t o su bj et iv o – qua ndo proc urav a def ender o
di rei t o de pro pri eda de d o s f ranci sca no s, c ont e st ado pel o P apa J oão XXI I .
O ckham deu ao t erm o jus um sent i do n o qual f ez um a di st i nção ent re
perm i ssã o e di rei t o, def i ni ndo est e com o um poder at ri buí d o p or um a l ei
po si t iv a: o poder de reiv i ndi car em j uí zo (potest as vind ican di et def en den di i n
human o iud ici o).
153
VI LLEY, Mi chel . A f ormação do pens ament o jurí dic o moder no, p. 666.
154
T I ERNEY, Bri an. “Vi ll ey, O ckham and t he Bi rt h of I ndiv i dual Ri ght s”, T he
W eight ier Mat t ers of t he Law : Essays on L aw and Rel ig ion, p. 1- 32; e T he
Ide a of N at ural Ri ght s: St udi es on Nat ura l Right s, Nat ural Law , and Churc h
Law , 1150-16 25.
74
155
G UZ MÁN, Al ej andro. “Hi st ori a de l a de no mi naci ón del der echo-f acul t ad
com o ‘subj et iv o’”, Est udios Hist ór ico-Jurí d ico s, p. 407-443.
156
Ari st ót el es, se gun do Adri ana Sa nt o s T abo sa , “propõe qu e a ‘axia ’ (val or), a
base da med ida e a própr ia med ida nas re l ações de t roca como const it ut iva
da soci eda de, é a nec essid ad e, ist o é, a r e lação dos ind iví duos uns c om os
out ros e de t odos par a cida de. Cad a u m vale segun do o qu e t ra z à
necessi dad e comum. ” (A dri ana S. T ABO SA, “A i gual dade e a
com ensur abi l i dade na s t roca s em Ari st ót el es”, HYPNO S, p. 118) . Mi chael
Pakal uk, ao com ent ar o s l iv ros VI I I e I X d a Ét ica a Nic ômaco, sal i ent a qu e a
axia, “(. . . ) em Arist ót e les, des empe nha o p apel de ind icar o qu e é que f a z
75
uma pesso a ou ação mer eced ora d e al guma coisa. ” (ARI ST Ó T ELES, Arist ot le
Nicomac hea n Et hics, book s VI I I and I X, p. 93 , t radução l iv re).
157
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I , VI I I, p. 76.
158
G RO T I US, Hugo. O Dir eit o da G u erra e d a Pa z, l iv ro I , cap. I I , I , pp. 100-
101.
159
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I I, VI II , p. 135.
76
160
G RO T I US, Hugo. O Direit o d a G uerra e da Pa z, l iv ro I , cap. I , VI I I , pp. 76-
77.
161
“(. . . ) não é sem r a zão qu e a lg uns plat ônic os e ant i gos crist ãos p arece m
t er-se af ast ado de Arist ót eles, no p ont o em que est e f ilós of o coloc ou a
própr ia n at ure za da v irt ud e num just o m eio de p aixõ es e de aç ões. (. . . ) A
f alsid ade d esse pri ncí pi o post o de um a man eira ge ral pr ovém do ex empl o da
just iça. ” (G RO T I US, Hugo. O Direit o d a G uerra e d a Pa z, “Pr ol egôm eno s”,
par. 43 e 44, p. 58).
162
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I , I X, p. 78.
77
esta força o jus não poderia ter este no me. Não basta sse isso, não
é apenas o justo que é obrigatório, mas o honesto, pois a
incidência do direito deve abranger todas as virtudes morais e não
apenas a justiça. Vê-se, nova mente, o modo co mo o autor reto ma
a doutrina moral de Sêneca e Cícero e dá a ela um grau de
obrigatoriedade. O jurista holandês pretende que as virtudes se
torne m obrigatórias e abrangidas pelo direito.
163
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I , X, p. 79.
78
Prov a-se a pri ori dem onst ran do a conv eni ênci a ou a
i nconv eni ênci a nece ssári a de um a coi sa co m a nat urez a
raci onal e soci al . Prov a-se a po st eri ori co ncl ui ndo, se
não c om um a cert eza i nf al ív el , ao m enos c om bast a nt e
proba bi l i dade, que um a coi sa é de di rei t o n at ural porqu e
é t i da com o t al em t odas a s naçõ e s ou ent r e a s qu e sã o
167
m ai s civ ili zadas.
166
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I , XI , p. 82-84.
167
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P az, l iv ro I, cap. I , XI I , p. 85.
80
173
É im port ant e t er em cont a q ue F ranci sco Suárez, ap ont a do p or di v erso s
com ent adore s com o prec ur sor d a s noç õe s d e G rot i us, nã o ex cl ui u a l ei et erna
de sua s co ncepç õe s. Seg und o Mi chel Bast i t , “a ori gi nal i dade da po si ção d e
Suarez se dev e ao f at o de el e m ant er a exi st ênci a de um a l ei et erna segu nd o
a gran de t radi ção t eol ó gi ca que v ai de Sant o Ago st i nho a S ant o T om ás,
m esm o quand o l he af i rm a o carát er v ol unt ári o. ” (BAST IT , Mi chel. Nasciment o
da le i moder na: O pensame nt o da l ei de Sa nt o T omás a Suare z, p. 412).
174
“Deu s, ao a prov ar a l ei hum ana, se di sp õe a ap rov á-l a som ent e com o
hum ana e do pont o de v i st a hum ano. ” (G RO T I US, Hugo. O D ireit o da G uerra e
da Pa z, l iv ro I , cap. I V, VI I , p. 250).
83
175
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I , XV, p. 89.
84
176
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da Pa z, “Prol eg ôm enos”, p ar. 8º, p.
39.
85
180
G RO TI US, Hugo. Direit o da G uerra e d a Pa z, liv ro I , cap. I, X, p. 79.
181
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I , X, p. 81.
88
Esta passage m pode ter inspirado John Locke, que afir mou
que a primeira sociedade foi aquela for mada por ho me m e mulher,
a sociedade conjugal 183. Contudo, o jurista holandês trata do te ma
e m outras passagens da referida obra e traz u ma argu mentação
mais elaborada no De Jure Pra edae. Sendo assi m, para
co mpreender o arran jo das ideias do autor sobre este ponto, é
indispensável analisar estas passagens.
182
Ibi d. , l iv ro I , cap. I V, VI I, p. 250.
183
“A primeira soc ied ade f oi ent re o hom em e su a m ul her, que deu i ní ci o à
que h á ent re pai s e f il hos; à q ual , com o tem po, v ei o a j unt ar-se a qu e h á
ent re senh or e serv i dor. ” (LO CKE, Joh n. Do i s t rat ados sobr e o gov ern o, l iv ro
I I , capí t ul o VII , par. 77 e 78, p. 451).
184
“O s f ilósof os que exam inar am os f undame nt os da socie dad e sent ir am t odos
a nec essid ade d e vo lt ar at é o est ad o d e n at ure za, mas ne nhum de les c heg o u
at é l á. Uns nã o h esit ar am em sup or, no h o mem, nesse est ad o, a noç ão de
just o e do in just o, s em pre ocup arem-se com most rar q ue ele dev eria t er ess a
noção, nem qu e e la lh e f oss e út i l. O ut ros f al aram d o dire it o nat ura l, q ue c ad a
um t em, sem explic ar o q ue e nt end iam por pert e ncer. O ut ros da nd o
inic ialm ent e ao m ais f o rt e a ut ori dad e so bre o mais f raco, log o f i ze ram nasce r
o G overno, sem se lemb rarem d o t empo que dev eri a decorr er ant es q ue
pudess e exist ir e nt re os home ns o sent id o d as palavr as aut or ida de e gov erno.
Enf im, t odos, f aland o inc essant em ent e de necessid ade, av ide z, op ressã o,
desej o e org ulh o, t ransport ar am para o est a do de nat u re za i déi as que t i nha m
adqu iri do em soci eda de; f a lavam do homem selvag em e descr eviam o homem
89
civil. ” ( RO USSEAU, Jean-J acqu e s. Disc urso sobre a or igem e os f und ament o s
da desi gu ald ade e nt re os home ns, p. 235-2 3 6).
185
“Q uais quer qu e s ejam t ais ori gens, vê-se, pe lo m enos, o pouc o c uid ad o
que t eve a nat ure za ao re unir os home ns po r meio de n ecess ida des mút uas e
ao f acil it ar-l hes o uso da p alav ra, como p reparo u mal sua soc iab il ida de e
como pôs p ouco de si mesm o em t udo q ue f i ze ram par a est ab elec er os se us
laços. Com ef eit o, é impossí ve l ima gin ar por que, ness e est ad o pr imit ivo, u m
homem sent ir ia mais nec essid ad e de um out ro homem do qu e um macaco ou
um lob o d e seu s emel hant e; ou a ind a – uma v e z sup ond o-se ess a
necessi dad e –, q ual o mot iv o qu e p oder ia levar o out r o a at e nd ê-lo, o u,
f inalme nt e, nest e ú lt imo cas o, como po der ia m est abel ecer con diç ões ent r e si. ”
(Ib id. , p. 250-2 51).
186
“Se Rouss eau, n o Co nt rat o soc ial, co ncent ra seus at a ques em G rot ius, é
porqu e, sem part i lhar d a admir ação de seu século p elo aut or do Di rei t o d e
guerra e de paz, el e sa be que é m elh or c ulp ar o lí der do q ue s eus c ompars as,
o mest re do que seus discí p ul os. ‘O d ire it o polí t ic o, escrev e e le no Em í li o,
est á ain da p or nasc er, e pod e-se pr esumir q ue nã o nascer á nu nca. G rot ius, o
m est re de t odo s o s no sso s sá bi os ne sse t e rreno, é ap enas uma cria nça; e,
pior ai nda, uma cria nça de má-f é’. ” (D ERAT HÉ, Robert . J ean-J acqu es
Rousse au e a ci ênci a polí t ic a de se u t empo, p. 119).
187
Ibi d. , p. 127.
90
188
Nest e t recho, a ar gum ent ação d e G rot i us p arece a nt eci par aq uel a si t uaçã o
de scri t a por T h om as Ho bb e s no capí t ul o XI V do L eviat ã. E nt ret ant o, o j uri st a
não se aprof unda no t em a, ao pa sso que Ho bbe s de se nv olv e um a
argum ent ação seg und o a qu al há um a i gual dad e e nt re o s h om ens qu e
proporci o nari a um a de sco nf i ança, est a gerari a a g uerra. A pe sar di sso, G rot i u s
ent endi a qu e t eri a hav i do um est ado de i nse gura nça, não a o pont o de se
chegar à g uerra de t o do s o s hom en s co nt ra t odo s o s hom en s, m as suf i ci ent e
para ger ar um a i ncert eza quant o à m anut enção d a i nt egri dade f í si ca e
pat ri m oni al de cada ser hum ano.
189
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. I I , p. 19.
91
190
Ibi d. , p. 19.
191
No parágraf o se gui nt e, G rot i us ref ere-se a est a or gani zaçã o pol í t i ca com o
se ndo ci dade s (civ it at es), t en do o t ra dut or da edi ção i ngl esa opt ad o p el a
pal av ra “Est ad o”. O u so da ex pressão l at i n a “re sp ubl i ca” pel o j uri st a, ne st e
t ex t o, ao que t udo i ndi ca, é sem el hant e ao em pregad o p or Ho bbe s n a
i nt rodução do L eviat ã (p. 11), o u sej a, com o si nôni m o de ci dad e (civit as), nã o
i ndi cando, port ant o, conv i cções rep ubl i cana s.
192
CÍ CERO , Marco T úli o. O rações, “Fi lí pi ca”, XI , x ii , 28.
193
A ref erênci a de G rot i us é, nov am ent e, a Rep úbl ica (VI , xi ii . 13) de Cí cero.
92
197
No di rei t o bra si l ei ro, há o dev er de p agam ent o de t ri but o s at é por recém -
na sci do s e i nca paze s qu e são pro pri et ári os d e i m óv ei s, pel o si m pl es f at o
del es serem propri et ári o s de i m óv ei s e nã o por el e s t er em acei t ado f azer
part e da com uni dad e pol í t i ca.
198
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerr a e d a Pa z, “Pr ol egôm eno s”, par. 15,
pp. 42-4 3.
199
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G u erra e da P a z, ”Pr ol egôm eno s”, pa r. 15, p .
42.
94
200
A necessi dad e nat ural hum ana pel o com érci o recí proco, al ém de col aborar
para a f undaçã o da soci ed ade ci v il , ori gi na o di rei t o nat ural . G rot i us af i rm a
que a nat ur eza d o s hom en s “é a pró pri a mãe do di rei t o nat ural ” (G RO T I US,
Hugo. O Dire it o da G uerra e da Pa z, “Prol eg ôm enos”, par. 1 6, p. 43).
201
“A mãe do d ire it o civ il, no ent a nt o, é a o brigaç ão q ue a gent e se imp õ e
pelo própr io c onse nt iment o e, como est a o br igaçã o ext ra i sua f orç a do d ire it o
nat ura l, a nat ure za p ode ser co nsid erad a como a bisav ó t ambém do dir eit o
civil. ” ( Ibi d. , par. 16, p. 43).
95
202
Est e ar gum ent o f az o l ei t or pen der para um a i nt erpret aç ão seg und o a q ual
no e st ad o de n at ureza groci ano não h á a f orm ação de núcl eo s f am ili ares e,
port ant o, a soci abi l i dade hum ana, di f erent em ent e do que o j uri st a af i rm a, não
seri a nat ural , m as art i f i ci al e adv i nda de um acordo de v ont ade s. E st a
apare nt e i ncon gruê nci a em G rot i us par ece t er si do p ouco ex pl orada p or se u s
crí t i cos, que f ocaram m ai s se u s at aq ue s so b re a sua su po st a d ef esa d o po der
real .
203
Nest e p ont o do t ex t o, G rot i us f az um a af i rm ação que de st o a da
argum ent ação at é ent ã o apr e sent a da qu and o su st ent a q ue o s ser e s hum ano s
po ssuem um a nat ureza corru pt a. A i dei a de corrupçã o pre ssupõ e a ex i st ênci a
de um a si t uação ant eri or, na qu al o s h om ens nã o er am corrupt o s. Cont u do,
G rot i us est á t rat an do do e st ad o pré-p ol í t i co, ou sej a, no sso aut or j á est á
anal i sa ndo a con di ção pri mi t iv a dos hom ens. E st a apar ent e i ncongr uênci a
pode i ndi car q ue a c ondi ção hum ana no e st a do de nat urez a, para no sso aut or,
é m ut áv el , hav eri a t ran sf orm ações suc e ssiv as qu e f azem com que o h om em,
que i ni ci alm ent e v iv i a i sol ado, p a sse a v iv er em peque no s grup o s e,
con seq uent em ent e, sej a “corrom pi do”. Nest e pont o, G rot i us parec e concor da r
com Hobbes n o que di z re spei t o à con di ção de i ncert eza do s h om ens n o
est a do d e n at ureza. O j uri st a n ão c heg a a a rgum ent ar, com o o i ngl ês, q ue o s
hom ens t êm um enorm e de spr azer d a com panhi a u n s do s out ro s e t am pouc o
acredi t a que na f al t a de soci eda de h á um a con st ant e si t uação de g uerra d e
t odo s cont ra t od o s, da qu al Hobbe s t rat a n o capí t ul o XI I I do Levi at ã.
96
204
Nest e pont o, l em brem os que a m ai or i nconv eni ênci a do e st ad o de n at ureza ,
para G rot i us, é a au sê nci a de m agi st rado s e de um poder cap az de i m por
penal i dad e s. A concepç ão gr oci ana do e st ado d e nat ur eza di f ere daquel a
ex pressa da, p or ex em pl o, por T hom as H ob be s. Para e st e, nã o é ape na s a
au sênci a de um poder co n st i t uí do que t orn a i nsu st ent áv el a v ida na condi ção
nat ural , m as é o f at o de ne st a si t uação ex i st i r um est ado de guerr a d e t od o s
cont ra t od o s qu e f az com que nada po ssa ser c on si der ado i nj u st o (ca pí t ul o
XI I I do Levi at ã).
205
G RO T I US, Hugo. O Direit o d a G uerra e d a Pa z, l iv ro I I , cap. I I, I I , p. 309-
315.
97
206
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro II , cap. II , II , p. 309.
207
De F inib us, I I I , 20, 67. Cit ado por G rot i us no Direit o d a G uerra, p. 310.
208
O j uri st a ex em plif i ca a si m pli ci dade de c o st um es a o f azer um a al u sã o ao s
i ndí gena s da Am éri ca e ent ende qu e os pri m ei ros cri st ão s de Jer u sal ém
si nt et i zari am a prát i ca da cari dade m út ua.
209
G RO T I US, Hugo. O Dire it o da G uerra e d a Pa z, l iv ro I I , cap. I I , I I, p. 310.
Rou sse au, i gual m ent e, ressal t a a nudez do s hom en s no e st ado d e nat urez a
no Discurs o sobr e as ciênc ias e as art es, p. 336.
98
210
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro II , cap. II , II , p. 312.
211
Ibid. , p. 312. Est e p ont o de v i st a de G rot i us so bre a ge neral i zação d a
v i ol ênci a nos rem et e, nov am ent e, à concepção de guerr a de t od o s cont r a
t odo s de Ho bbe s ( Levi at ã, part e 1, cap. XI I I , p. 109).
212
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro II , cap. II , II , p. 313.
213
Est e p ont o d e v i st a sob re a di v i são da s t er r as e surgi m ent o da pro pri eda de
f oi ret i rado da s E scri t ura s. G rot i us ent e ndi a que e st a hi st óri a sa grad a e st á d e
acordo c om os rel at o s do s f i l ósof os e po e t as so bre o e st ad o pri m it iv o da
com uni dade de be n s e da p art i l ha que se seg ui u.
99
214
“G ênesi s 13, 1-1 3”, Bí blia de Jerus além, pp. 50-51.
215
G RO T I US, Hugo. O Direit o d a G uerra e d a Pa z, l iv ro I I , cap. I I, I I , p. 313-
314.
216
Bri an T i erney su st ent a q ue G rot i us, ne st a di scu ssã o sobre a ori gem do
Est ad o, se apr ox im a do p en sam ent o m edi ev al t ardi o. Segu ndo e st e
com ent ador, ant e s de G rot i u s, F ranci sco d e Vi t óri a t eri a su st ent ado que a
repúbl i ca er a f orm ada por um a associ ação de i ndiv í duos e que o pod er civ il
f oi i nf undi do na com uni dade por um a conce ssã o di ret a de Deu s. Al ém di sso ,
F ranci sco Su árez ar gum ent ou q ue o p ode r de f orm ar um a soci eda de pol í t i ca
era i nerent e à n at ureza hum ana, de sde o i ní ci o; m as el e ai nda reco nheci a q ue
a com uni dade pol í t i ca po ssuí a pod ere s – e speci al m ent e o de p uni r – que nã o
pert enci am ao s i ndiv í duos qu e f orm av am a associ ação pol í t i ca. (T he Id ea of
Nat ural R ig ht s, p. 333).
100
217
LUCRÉCI O , Da nat ure za, p. 1 16-1 17.
101
218
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro II , cap. II , II , p. 314.
219
De O f f iciis, I I I , 5.
220
Rousseau, na se gun da part e do D iscurso sobre a des igu ald ade, com ent a
est a pa ssagem : “(. . . ) Q uando os ant i gos, d i z G róc io, empr est aram a Cer es o
epí t et o d e leg isla dora e a uma f est a c ele brada em sua ho nra o nome d e
T esmof oria, com iss o qu iseram dar a ent ender t er a part ilh a das t er ras
produ zi do uma nova espéc ie de dire it o, i st o é, o d ireit o de pro prie dad e,
diverso daq ue le res ult ant e da lei nat ur al ” (D iscurso so bre a des igu ald ade, p.
266).
221
Segun do R ou sse au, “(…) e nqu ant o só se d edicar am a obras que um ún ic o
homem po dia cr iar, e a art es qu e nã o sol icit avam o conc urso d e vári as mãos,
viveram t ão livr es, sadi os, bo ns e f el i zes quant o o po der iam ser p or su a
nat ure za, e co nt in uaram a g o zar ent re s i das doçur as de um comérc io
inde pen dent e; mas, desde o inst ant e em qu e um homem sent iu nec essid ad e
do soc orro de out ro, desd e q ue s e p erceb eu ser út i l a um s ó co nt ar co m
provisõ es p ara do is, des apar eceu a ig ual d ade, int rod u ziu-s e a pro pri eda de
(. . . ). ” (Discurs o so bre a desi gua lda de, p. 2 64-26 5). Para el e, a i nv enção d a
m et al urgi a e da agri cul t ura produzi u est a grande rev ol ução. A ori gem da
propri ed ade e st á v i ncul ada, seg und o Ro u sse au, a o cul t iv o da t erra q ue
gerari a, ao cul t iv ador, “(. . . ) um direit o s o bre o prod ut o d a t erra qu e e le
t rabal hou, dá- lhe co nseq uent em ent e dir eit o sobre a gl eba p elo me nos at é a
colhe it a, assim s end o cad a an o; por d et ermi nar t al f at o uma poss e cont í n ua,
t ransf orma-se f acilm ent e em pro pri eda de. ” ( Discurso sobr e a des igu ald ade, p.
266).
102
222
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I I, I , p. 103.
223
Nov am ent e G rot i us ci t a um t recho do l iv ro I I I , 5, do De O f f iciis de Cí cero
para m ost rar q ue n ão é j u st o t i rar a saúd e do v i zi nho, nem se ap oder ar do s
ben s do s o ut ro s.
224
No ca pí t ul o VI I , § 87, d o Se gun do T rat ad o Sobr e o G ov erno Civ il, Jo h n
Locke af i rm a: “T endo o homem nasci do, t al como se pr ovou, com t í t ulo à
lib erda de p erf eit a e a um g o zo i rrest rit o de t odos os d ire it os e pr ivi lég ios d a
lei d e nat ur e za, da mesm a f orma qu e qu a lquer out ro h omem ou g rup o de
homens no mu ndo, t em ele por n at ure za o p oder nã o ape nas de pres ervar su a
p ro p ri ed ad e, ist o é, su a vi d a, l i b erd ad e e b en s cont ra inj úri as e int e nt os d e
out ros h omens, c omo t amb ém de ju lg ar e punir as v iol ações dess a l ei po r
out ros. (. . . )” (LO CKE, John. Dois T rat a dos S obre o G ove rno C ivi l, p. 458, gri f o
m eu).
103
Conclusão
225
A cl áusul a 39 da Magn a C art a e st a bel ece que “ nen hum h omem l ivre s er á
capt urad o, o u leva do pris ion eiro, ou priv a do d os bens, ou exi lad o, o u d e
qual quer m odo dest ruí do, e nunc a usar emos da f orça c ontra e le, e n unc a
mandar emos que out r os o f açam, salvo em processo l ega l por seus par es ou
de acor do com as le is da t e rra ” (“3 9. Nul l us l i ber hom o capi at ur, v el
im pri sonet ur, aut di ssei si at ur, aut ul t l aget ur, aut ex el et ur, aut al i quo
de st ruat ur, n ec super eum i bim us, nec sup er eum mi tt em us, ni si per l egal e
j udi ci um pari um suorum v el per l egem t erre”). Di spi nív el no end ereç o
el et rôni co ht t p: / / gal li ca. bnf .f r/ ?l ang= PT .
105
226
No pri m ei ro capí t ul o do t ercei ro l iv ro do Direit o da G u erra e da Pa z (p.
1015- 101 9), G rot i us a pre se nt a al gum as r egr as que det erm i nari am as condut a s
perm i ti das na gu erra, segu ndo o di rei t o de nat ureza. A pri m ei ra regra aut ori za
que se f aça o nece ssári o para ev i t ar o sof rim ent o de um dano, m as est a
reação pr eci sa ser pr oporci on al à ação of ensiv a. A segund a regra d et erm i na
que o di rei t o não dev e ser apreci ad o som ent e no i ni ci o do conf li t o, m as dev e
ser av al i ado conf orm e as si t uaçõ e s qu e sur gi rem no curso da g uerr a (p. ex . ,
se al gu ém se al i ar ao m eu agr e ssor, t e nho o di rei t o de m e d ef ender c ont r a
do s doi s). A t ercei ra regra aut ori za, quan do se p ret en de a rec uper ação de um
bem que f oi i nj ust am ent e ret i rado, a ret enção de o ut ro bem ou de v al or
su peri or a o dev i do, desd e q ue n ão sej a po ssí v el recuperar i m edi at am ent e o
v al or ex at o do bem ex propri ado e se f aça, po st eri orm ent e, a rest i t ui ção d o
ex cedent e. G rot i us apr e sent a, na v erdade, m andam ent os de
proporci o nal i dade, n o s q uai s el e procur a l im i t ar a ação daq uel e q u e
l i ci t am ent e com bat e. De st e m odo a guerr a j ust a é em pree ndi da ape na s p ar a
ev it ar o dano ou rec uper ar um bem , sem que o agr e ssor sej a prej u di cado em
se u s di rei t os nat urai s.
227
Q uando G rot i us argum ent a, no se gun do ca pí t ul o do pri m ei ro l iv ro do Direit o
da G uerra, que o di rei t o de nat ur eza nã o é cont rári o à guerr a, el e ci t a um
t recho do De O f f iciis de Cí cer o no qual sã o m enci onada s d ua s m anei ra s d e
resol ução d e um a cont rov érsi a. A passagem é im port ant e por que l i mi t a a v i a
bél i ca ao s ca so s em que o di ál og o nã o pode ser col oc ado em prát i ca e
apre se nt a com o pri nci pal f i nal i dade da guerr a a bu sca d e um a v i da em paz e
sem i nj ust i ça (Dos Deveres, ob. C it . , liv ro I , 35, p. 27).
228
Na alv orada de 25 de f ev erei ro de 1603, t rês nav i os h ol and e se s, so b o
com ando do al m i rant e Jacob v an Heem skerc k, av i st aram um a nau port ugue sa
ancora da na co st a l e st e de Si ngap ura. D epo i s de al gum a s h ora s de c om bat e,
os hol and e se s d om i naram a t ri pul ação, qu e abdi cou da s m ercadori a s e do
nav i o, em t roca das pró pri as v i das. A m ercadori a era part i cul arm ent e v al i osa
108
poi s cont i nh a cobre do Ja pão, sed a e porcel ana da Chi n a e l i ngot es de o uro e
prat a do Méx i co e Peru, al ém de v ári os qui l ogram as d e al m í scar. A carga do
nav i o era t ão v ali osa qu e a v enda po st eri or arrecado u o dobro d o capi t al da
própri a C om panhi a d a s Í ndi a s O ri ent ai s Hol a nde sa (em hol andê s, "Ver een igd e
O ost -Ind ische Com pag nie", com a si gl a V.O . C. ). I nf orm ações ret i rada s d e
MASSELMAN, G eorge. T he Cradl e of Colo ni alism, p. 131, e VAN I T T ERSUM,
Mart i ne Jul i a. Hugo G rot ius, Nat ural Ri ght s T heories and t he R ise of Dut ch
Pow er in t he East Ind ies 1 595- 161 5.
229
Não f oi som ent e e st e at o q ue m arcou a s of ensi v as da Com panhi a da s
Í ndi as O ri dent ai s Hol an de sa em busc a de nov as rot a s com erci ai s.
Em 1605, m ercadore s hol an de se s da V. O . C. , arm ados, ca pt uraram o
f ort e port uguê s de Am boyna (ou Am bon), na s i l has Mol uca s (I ndon é si a);
em 1619, i nv adi ram Jacart a, que renom ea ram Bat av i a (o nom e l at i no dos
Paí se s Bai x os) e a t ran sf orm aram em capi tal , e, em 1682, t om aram Bant am ,
que era o úl t im o port o i m port ant e ai nda em m ãos do s nat iv os. A ex pl oração
com erci al l ev ou ao enri quecim ent o da Com panhi a. Para se t er i dei a, em 1669,
a V. O . C. era a m ai s ri ca com panhi a priv ada do m undo, po ssuí a m ai s d e ce nt o
e ci nquent a nav i os m ercant e s, quar ent a n av i os de gu erra, ci nque nt a m i l
f unci onári os e um ex érci t o priv ado de dez m il sol dado s (MASSELMAN o p. cit . ,
e VAN I T T ERSUM, op. cit . ).
109
230
A G uerra do s 8 0 a no s f oi um conf li t o ent re os Paí se s B ai x os e a E span ha.
Verdad ei ra gu erra de sece ssã o por m ei o da q ual o t erri t óri o hol a ndê s se
t ornou i nde pen dent e da Cor oa e sp anh ol a. O conf li t o f oi dese ncad ead o, al ém
do s al t os t ri but o s, por m ot iv os rel i gi osos: os cal v i ni st as h ol ande se s t i nham
recei o de sof rer per seg ui ção pel o s cat ól i cos espan hói s.
231
No Direit o d a G uerra e da Pa z, G rot i us m ant ém a sua t ese d e
im possi bi l i dade de a po ssam ent o do s m are s. Ent ret ant o, el e apre sent a um a
ex ceção a e st a re gra a o af i rm ar ser p o ssív el o dom í ni o sobr e ri os e m are s
que e st ão ent re doi s t erri t óri os de um mesm o paí s. S eri a po ssí v el a um
Est ad o, ou m ai s d e um , caso t e nham um a pa rt e do m ar dent ro de se u s l i mi t es
t erri t ori ai s, ocupá-l o; p ode ndo, i ncl u siv e, cobrar t ri but o s do s nav i os q ue
pa ssam por est e m ar (Liv ro I I, I II ).
232
Não é sem razão que G rot i us, ao se ref eri r ao m anuscri t o ori gi nal do De
Jure Praed ae Comm ent ari us, o den om i nav a de De In dis.
110
233
G RO TI US, Hugo. T he F reedom of t he Seas, p. 16-17.
111
234
“Armat a in armat um exsecut io be llum d ici t ur” (Hu go G RO T I US, De Jure
Praeda e, cap. I I , p. 30).
235
“(…) A guerr a é dit a " just a" se cons ist e na exec ução de um di reit o, e
"injust a" se e la cons ist e n a exec ução de uma les ão. Ela é chama da d e
"públ ica", qu and o cond u zi da pe la vo nt ade da Rep úbl ica, e nest e últ im o
conceit o a vont ade dos mag ist rad os (p or e xemplo, prí nci pes) est á inc luí da.
Além d isso, a guerr a p úb lica po de ser 'civi l' ( quan do t r avad a co nt ra uma part e
da mesma Repú bl ica) ou "est ran gei ra" (quan do t ravad a cont ra out ra s
Repú blic as). O que é conheci do como uma "guerra d e ali ados ” é uma f orma
de guerr a cont ra est ran ge iros. Aque las qu e são t ravadas de mod o cont rár io
[ do que a pú bl ica] são “ guerr as priv adas ”, emb ora a lgum as aut or ida de s
pref erem descr ever t ais conf lit os c omo 'bri gas' ao invés de " guerr as" (. . . ). ”
(G RO T I US, Hugo. De Jure Pra eda e Comment arius, cap. I I , p. 30).
112
236
Ibi d. , Cap. VI I , p. 70. I nt eressant e not ar qu e a guerr a pod e acarr et ar um a
puni ção (G RO T I US, Hugo. O Dir eit o d a G ue rra e da Pa z, Liv ro I I , cap. 1, p.
285).
237
Ibi d. , cap. VI I I , p. 108.
238
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. VI , p. 75.
113
239
O j uri st a su st e nt av a que a ex pan são m arí t i m a hol ande sa er a f undam ent al
para a m anut ençã o d a “Re públ i ca da s Prov í nci as Uni da s d a H ol anda” .
Af i rm ou, no De r epu bl ica em end and a qu e “o comércio com as Í ndi as O rie nt ais
era de gra nde im port ânc ia p ara a seg uranç a do paí s, e que est av a claro o
suf icie nt e que o com ércio n ão po di a ser condu zi do sem armas, da do a
obst rução port u gues a por m eio da f orç a e da f rau de. (Def e nsi o, p. 331) ”
(T UCK, Ri chard. Philos ophy a nd G overnm ent 1572-1 651, p. 17 0).
240
A argum ent ação do j uri st a é cont rári a à p rát i ca da v i ngança t ant o pel o s
part i cul ares com o pel o E st a do. N o De Ju re Prae dae, qua ndo G rot i us f az
al usã o a um a v i ngança e st at al , el e est á def ende ndo a po ssi bi l i dade de um a
com uni dade pol í t i ca im por um a pena para puni r e ret ri bui r a of ensa prat i cad a
pel o del i t o. De st e m odo, o E st ad o d ev e agi r de m odo j u st o, v i sando o b em
com um .
241
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. I I I , p. 39.
114
242
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. VI , p. 64.
243
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. VI I , 75.
244
Na época de G rot i us n ão hav i a a possi bi l i dade de se l ev ar a di sput a ent r e
dua s p e ssoa s j urí di ca s d e di rei t o pú bl i co ex t erno a um a cort e i nt ernaci onal .
Sendo a ssi m , qual quer conf li t o de i nt eresse s env olv endo dua s naç õe s t rari a o
ri sco de um a guerr a.
245
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. VI I I , p. 118.
116
246
Com est a t ese, G rot i us d ef ende o at o d e apr een sã o da car ga do C at arin a.
247
G RO TI US, Hugo. De Jure Praed ae Comme nt arius, cap s. I X e X, p. 124 e
141.
117
248
G ROT I US, Hugo. O Direit o da G uerra e d a Pa z, l iv ro I , cap. I , I I , p. 71-72.
249
A def i ni ção de G rot i us n ão a pre se nt a, co m o a de Hobb e s, a noç ão d e
t em po, m as o u so da pal av ra “st at us” ( e st a do). O u so de st a ex pre ssão e a
af i rm ação do j uri st a no se nt i do da po ssi bi l i dade d e se em pree nder um a guerr a
cont ra um a am eaça imi nent e nos rem et em a um a i nt erpret ação segu ndo a
qual a gu erra é um a v erdadei ra si t uaçã o que se prol ong a p or um det erm i nado
perí odo de t em po. De st e m odo, é po ssí v el v er cert a sem el hança ent re a
def i ni ção groci ana e aq uel a a pre se nt ada por Ho bbe s no ca pí t ul o XI I I d o
Leviat ã: “ pois a G UERRA não c ons ist e ap en as na bat al ha o u n o at o de l ut ar,
mas na que le la pso de t empo dur ant e o qua l a v ont ad e de t rav ar a b at al ha é
suf icie nt ement e con heci da. Port ant o, a noç ão d e t em po d eve s er l evad a e m
cont a na nat ure za da guerr a, d o mesmo modo que na n at ure za do cl ima.
Porque t a l como a n at ure za d o mau t emp o não co nsist e em d ois ou t rê s
chuviscos, mas numa t e ndê ncia p ara chov er durant e vár ios d ias seg uid os,
t ambém a nat ur e za d a g uerra nã o co nsist e na lut a r eal, mas n a co nhec id a
dispos içã o para t a l, durant e t odo o t emp o em que n ão há g arant ia d o
cont rári o. ” (L evi at ã, p. 109).
250
O s pri ncí pi o s por nat ur eza o u pri m i tiv os sã o aqu el es pel o s q uai s t odo ser
v iv o, desde o m om ent o de seu na sci m ent o, se t or na c aro a si m esm o e é
l ev ado a zel ar pel a su a con serv ação, a am ar a si própri o e t udo o q ue é
118
nece ssári o p ara se m ant er. Desse s pri ncí pi os d ecorre o dev er que t em os de
no s co n serv arm os no e st ad o n o q ual a n at u reza n o s col oco u, de ret erm os o
que e st á em conf ormi dade com el a e de repudi ar a s at i t ude s cont rári a s a el a.
Por out r o l ado, o s pri ncí pi os sup eri ore s são aq uel e s q ue t rat am da
conv eni ênci a das açõe s e obj et o s com a razão – send o que e st a é d e
nat ureza superi or ao c orpo. E st e úl t im o grupo é própri o do q ue é h one st o.
251
G RO T I US, Hugo. O Dir eit o da G u erra e d a Pa z, l iv ro I , cap. I I , I , pp. 102-
103.
252
Ibid. , p. 101.
253
CÍ CERO , Marco T úli o. Dos Deveres, I I I , 22, p. 122.
254
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerra e da P a z, l iv ro I, cap. I I, I , p. 103.
255
Ibid. , l iv ro I I , cap. I , II , II I , pp. 284-287.
119
256
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da Pa z, l iv ro I I , cap. I, I I, p. 284.
257
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro II , cap. I, I , p. 284.
258
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro II , cap. I, I I, p. 285.
259
VI T Ó RI A, F ranci sco de. ‘O n t he La w of W ar’, Vit oria: Polit ical W rit in gs.
260
G ENT I LI , Al beri co. De Jure Belli L ibri T res.
120
261
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerra e da P a z, l iv ro I, cap. I I, V e VII , pp.
109-1 14 e 1 17-1 27; e l iv ro I I , cap. I , XI I e XI II , pp. 298-302.
262
VI T Ó RI A, F ranci sco de. op. cit . , p. 303.
263
Ibid. , p. 299.
264
VI T Ó RI A, F ranci sco de. op. cit . , p. 300-301.
121
265
Menci ono u- se qu e o at a que hol a ndê s ao nav i o port ugu ê s f oi v i st o pel o s
t eóri cos da é poca c om o um a guerra i nj ust a e of ensiv a, na m edi da em que a
real i nt enção da c om panhi a com erci al hol an de sa - qu e n ão a pen a s a pree nde u
o Sant a Cat ari na, m as, em preend eu di sput a s por ent rep o st o s com erci ai s com
os port u gue se s no ocea no í n di co – era abri r rot a s c om erci ai s. A Com panhi a
da s Í ndi as n ão e st av a se def enden do de um at aque, m as t om ando a i ni ci at iv a
de at acar.
266
G ENT I LI , Al beri co. O p. cit . , p. 66.
267
Est e arg um ent o, i gual m ent e ut i li zado por G rot i us, m ost ra q ue o at a qu e
prev ent iv o, por f eri r o di rei t o nat ural , é ex cepci onal e r equ er um f at o grav e.
Vê-se q ue a i nv asão do I raqu e em m arço de 200 3 p or um a coal i zação m i li t ar
m ult i naci onal li derada pel o s E st a do s Uni do s da Am éri ca, m otiv ada pel o
su po st o de senv olv iment o de arm as de dest rui ção em m assa pel o gov erno
l ocal , seri a con den ada pel o s d oi s aut ore s. Ref eri do at o of ensi v o não e st ari a
cal cado em um f undam ent o seg uro, poi s não h av i a o recei o de at aq u e
im i nent e. Al ém di sso, at é h oj e n ão f oram en cont rada s a s arm as de de st r ui ção
em m assa sup o st am ent e de senv olv idas pel o I raque – m ot iv o pel o qual se v i a
o gov erno i raqui ano com o am eaçador à paz.
268
G ENT I LI , Al beri co. O p. cit . , p. 79-92.
269
G ROT I US, Hugo. O Direit o da G uerra e d a Pa z, l iv ro I, cap. I II , I V, p. 170.
122
270
G ENT I LI , Al beri co. O p. cit . , p. 31-32.
271
G ENT I LI , Al beri co. O p. cit . , p. 79-92.
272
T I ERNEY, Bri an. O p. cit . , e Pet er HAG G ENMACHER, O p. cit . , ent end em
que G rot i u s nã o a pre se nt a n enh um a nov idade si gni f i cat iv a t ant o na su a
anál i se do di rei t o nat ural qua nt o da gue rra. Segund o esse s com ent adore s, o
123
j uri st a hol andê s e st ari a a pen a s repet i ndo o s aut or e s da seg und a e scol á st i ca
quan do e scr ev e sobre a gu erra. Em que p e se e ssa p o ssi bi l i dade
i nt erpret at iv a, no Dire it o d a G uerr a, G rot i us ce n sur a Vi t óri a por t e r,
su po st am ent e, def endi do a po ssi bi l i dade de v i ngança (l iv ro I , cap. I I I , I V, p.
170) e, qua ndo e screv e sobre a p ena, f az out ra crí t i ca a Vi t ori a e out ros
aut ore s e spa nhói s do sécul o XVI . Essa s crí t i cas serão alv o de anál i se a
se gui r.
273
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. VI I , p. 70.
124
atitude não pode ser realizada direta mente (pois seria injusto),
mas deve ser e mpreendida de modo indireto, punindo um cri me
que apenas co meçou e ainda não se consu mou.
276
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I II , I, p. 159.
277
Ibi d. , I I , p. 160.
278
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I II , II , p. 160.
127
Para a guerra pública ser solene ela tem que ter dois
requisitos. Em primeiro lugar, aqueles que a faze m deve m possuir
o poder soberano. Ta mbé m deve m ser observadas certas
for malidades, que Grotius afirma estarem vinculadas à
necessidade de uma declaração pública de guerra 280. Por outr o
lado, a guerra pública não solene é a que não possui formalidades;
seja ela feita contra particulares e “pela autoridade de qualquer
magistrado”. Por levar perigo a todo o Estado, so mente o detentor
do poder soberano pode ordenar a guerra pública.
279
Ibi d. , l iv ro I , cap. I I, I II , p. 167.
280
G RO T I US, Hugo. O Direit o d a G uerra e d a Pa z, l iv ro I II , cap. I II , V, p.
1074.
128
281
O m esm o argum ent o é ut i li zado hodi ernam ent e para su st e nt ar a
respon sabi l i dade obj et iv a do Est ado pel o s at os prat i cado s p or f unci onári os
públ i cos, no ex ercí ci o de sua s f unçõe s, que geram da no s à s pe ssoa s.
G arant e- se o di rei t o à p erce pção de v al ores a t í t ul o de i n deni zaçã o pel o s
dano s sof ri dos sem a part i ci pação di ret a do Est ad o, por ent e nder- se que o
serv i dor públ i co est ari a ex ercendo um a at iv i dade del e gad a.
282
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. VI , p. 63.
129
283
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. VI , p. 63.
284
G RO T I US, Hugo. De Jur e Praed ae C omme nt arius, cap. VI , p. 64. Q uent i n
Ski nner sal i ent a, ao t r at ar d a t rad ução do s t erm os “pri nce p s” e “m agi st rat u s”,
que “ (. . . ) na E urop a d o s p ri m órdi os da m oderni dade, por ém , essa s t rad uçõe s
ai nda port av am as conot açõe s – m ui t o mai s am pl as – do l at im ori gi nal ,
conot açõ e s e st a s qu e de sd e ent ã o se perder am . O t erm o “prí nci pe”
f requent em ent e se ut i l i zav a para ref eri r-se a rei s e i m peradore s, al ém , de
si m pl es prí nci pe s. E “m agi st rado” se e m pregav a de m odo geral para
de screv er um a cl asse de f unci onári o s j udi ci ári os b em m ai s am pl a do que em
no sso s di a s (. . . )” (SKI NNER, Q uent i n. As fundaç ões do p ensame nt o po lí t ico
modern o, p. 21).
285
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, cap. VI , p. 63.
130
286
Do s qu ai s se de st aca P et er Ha gg enm acher ( G rot ius and G e nt il i e G rot i us et
la doct ri ne de la gu erre j ust e).
287
T UCK, Ri chard. “G rot i us, C arne ade s, an d H obbe s”, “T he ‘m odern’ t he ory of
nat ural l aw’, Nat ura l Rig ht s T heori es, Phil os ophy an d G overnme nt 157 2-16 51
e T he Right s of W ar and Pe ace.
288
Paralle la rer umpub lic arum (160 2), De repu blic a emend and a (ent re 16 00 e
1610), D e a nt iqu it at e re ipu bl icae B at avica e (161 0) e A nna les et hist ori a e
(1604, p ubl i cada em 1657).
289
“Como há vár ios gê neros d e vida, uns me lh ores que o ut ros, e que cad a um
é livre de esc olh er ent re t odos e les o que l h e convém, de igu al mod o um povo
pode f a zer a esco lha da f orma de gov erno q ue q uis er e n ão de acor do c om a
excelê nci a de t al ou qu al f orma – quest ã o que div id e as op ini ões –, mas
segun do sua v ont ad e (. . . )” (G RO T I US, Hugo. Direit o d a G uerra e d a Pa z, l iv ro
I , cap. I I I, VI II , pp. 177-178).
290
Hobbe s e st á de ac ordo com G rot i us nest e pont o. No capí t ul o XVI I I do
Leviat ã, o i ngl ê s af i rm a est ar “a nex ada à sob erani a o di rei t o de f azer a gu err a
e paz com out ras n açõe s e re públ i ca s” (p. 15 4).
131
291
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerra e d a Pa z, l iv ro I , cap. I I I , I V, p. 168.
De sde a ant i gui dad e rom ana ent e ndi a- se que a guer ra, a nt e s d e se r
em preendi da, nec e ssi t av a de cert as f orm ali dade s – em respei t o, i ni ci alm ent e,
ao “jus f et i ale ” e, p o st eri orm ent e, ao “jus gen t ium”.
292
G RO T I US, Hugo. O Dire it o da G uerra e d a Pa z, l iv ro I , cap. I I I , VI I, p. 175.
Ao usar e sse t erm o, G roti us ex cl ui aquel e que ex erce esse pod er sober ano e
ao qual é perm i t i do m udar de v ont ade e o su cessor.
293
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I II , VII , p. 176.
294
Est e argum ent o p erm i t e i nt erpret ar que, se gun do G rot i us, a so bera ni a
resi di a, i ni ci alm ent e, no pov o. Q uando anal i sa a sob erani a, o j uri st a su st ent a
que n o ca so de ex t i nção de um rei no, o poder sobe ran o ret orn a a o pov o
(G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uer ra e da P a z, l iv ro I, cap. I II , VII , p. 176).
295
Hob be s, qu and o e scr ev e sobre a geraç ão d a Re públ i ca (Lev iat ã, ca p. XVI I ,
p. 147- 14 8) t am bém su st e nt a q ue o p oder f oi de si gnad o a um hom em ou a
um a assem bl ei a de hom en s p or t od o s o s m em bros d a C ivit as. I st o f ez com
que, com o di t o ant e s, al gun s c om ent adore s def ende ssem o carát er a b sol ut i st a
de G rot i us. Cont u do o j uri st a hol a ndê s a pre se nt a hi pót e se s d e al i enação d a
so bera ni a, af i rm ação que n ão enc ont ra eco n a obra d e Hob be s.
132
296
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I II , I X, p. 189.
297
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G ue rra e d a Pa z, l iv ro I , cap. II I , XI V, pp.
202-2 03.
298
O aut or t am bém div i de a sobera ni a em um a part e que el e denom i na de
su bj et iv a e out ra que el e denom i na obj et iv a ou pot e nci al . Dá com o ex em pl os o
I m péri o Rom ano que era div i di do em part es e out ro i m péri o, ao qual el e nã o
133
302
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerr a e d a Pa z, l iv ro I II , cap. XX, V, pp.
1381- 138 2.
303
G rot i us não di st i ng ue a i ncapaci d ade em rel at iv a e ab sol ut a, com o é f ei t o,
hoj e em di a, pel os j uri st as.
304
G RO T I US, Hugo. O Dir eit o da G u erra e d a Pa z, l iv ro I II , cap. XX, I I e I I I
(repet i ção do l iv ro I I, cap. V, XVI I ), p. 1380.
305
Ibi d. , l iv ro I I I , cap. XXI I , I I , pp. 1445-1 446.
135
306
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerra e d a Pa z, l iv ro I , cap. I V e l iv ro I I I ,
cap. XI X.
307
Ibi d. , l iv ro I I , cap. I V, I V, p. 267.
308
Ibi d. , l iv ro I , cap. I V, I I , p. 234.
309
Em um a cart a de 11 de abri l de 1643, um ano ap ó s a publ i cação anô ni m a
do De Civ e, G rot i us se m ani f est ou so bre est a o bra e af i rm ou que ex i st em
i dei as i ncon grue nt e s e nt re el e e Ho bbe s: “ Vi o l ivro De C ive, e agra dam a s
coisas que d i z a f avor dos Reis. Mas n ão po sso apr ovar os f u ndame nt os c om
os quais orga ni za os se us pens ament os. Pe nsa que e nt re t odos os h omens a
guerra vem d a nat ur e za e t ra z o ut ras i dei as não co ngru ent es c om as n ossas. ”
(Cart a s de Hu go G róci o, Am st erdam , 1687, n. 648).
136
3.5 A pena
310
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro II , cap. I, I X, p. 293.
311
“(. . . ) A li berd ade de pr over por c ast ig os aos int er esses da s oci eda de
human a que, no com eço, como diss emos, p ert enci a aos priv ados, f ico u, após
o est ab el ecime nt o d os Est ad os e das j urisd i ções, par a os p oder es so bera nos,
não pro pri ament e p orqu e eles ma ndam n os o ut ros, mas porqu e não o bed ecem
a ning uém. A depe ndê nci a, de f at o, t irou es se dire it o dos out r os. ” (G RO T I US,
Hugo. O Dire it o da G uerra e da Pa z, l iv ro I I , cap. XX, XL, p. 851).
137
312
Est a di f erença nã o f i ca cl ara no e st a do de n at urez a, na au sê nci a d a
soci ed ade ci v il .
138
313
G RO TI US, Hugo. De Jure Prae dae C omment arius, p. 91-9 2, t raduçã o l iv re.
314
Argum ent o i dênt i co a e st e ser á em prega do e de scri t o por Locke c om o um a
dout ri na m ui t o est ra nha: “Ant es qu e a co n denem, p orém, gost aria que me
respon dessem p or qua l dir eit o p ode q ua lqu er prí ncip e ou Est ad o cond enar à
mort e, ou p uni r a um est r ang ei ro, por q ual quer cr ime q ue est e c omet a e m
seus domí n ios. É cert o que s uas l eis, em virt ude d e qu alq uer sa nção q ue
recebam pel a vo nt ade promu lga da do l egis l at ivo, nã o at i ngem o est ran ge iro.
Não lhe di ze m res peit o e, s e d issessem, ele não est ari a o brig ado a c onserv á-
las. A aut orid ade l egis lat iv a, pel a qua l elas t êm f orça junt o aos sú dit os d esse
Est ado, nã o t em p oder s obre el e. Aqu eles que det êm o po der su premo d e
elab orar le is na I ngl at erra, F ra nça o u H ola nda est ão p ara um í nd io c omo o
rest o do mund o: homens d esprov id os de aut orida de. Se, port ant o, p ela l ei d a
nat ure za, n em t odo homem t em o pod er de punir as t rans gressõ es cont ra el a
t al como jul gar pon dera dame nt e qu e o c aso req uer, n ão ve jo c omo o s
magist rad os de qu alq uer comun id ade po de riam puni r a um est rangei ro d e
out ro p aí s, vist o q ue, com rel ação a e le, não pod em t er ma is p oder qu e
aque le qu e q ual quer h omem p ode t er n at uralme nt e s obre out r o. ” (Do is
T rat ados Sobr e o G ov erno, l iv ro I I , cap. I I , 9, p. 387-38 8). Ape sar d a
sem el hança da argum ent açã o d e L ocke e G rot i us, o j uri st a hol and ê s
apre se nt a e st a c om paração ent re o carát er nat ural da pen a com o di rei t o qu e
o Est a do t em de puni r o e st ra ngei ro n o De J ure Prae dae, t ex t o não pu bl i cado
ant e s de 18 64 e, port ant o, de sc onh eci do por Locke, f at o que l ev a al gun s
com ent adore s a v er a simi l ari dade com o um a conv ergênci a i nt el ect ual
(Ri chard T UCK, T he Right s of w ar and peac e, p. 82). Ent ret ant o, a repet i ção
t am bém pode i ndi car, a o m eno s, que o i n gl ês t e nha ut i l i zado as m e sm as
f ont es que G rot i u s e si do i nf l uenci ado por e l e, na m edi da em no capí t ul o XX
do segu ndo l iv ro do Direit o d a G uerra o h o l andê s su st ent a q ue a p ena n ão
adv ém do di reit o civ il, m as da pró pri a nat ure za.
139
315
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro I, cap. I II , p. 161.
140
316
“O ra, como os pact os de conf i ança mút ua são inv áli dos sempre q ue d e
qual quer dos la dos exist e r ecei o d e n ão-cu mpriment o (conf orm e se disse n o
capí t ulo a nt erior ), embora a or igem da just i ça seja a cel ebraç ão dos p act os,
não pod e h aver r ea lment e in just iça ant es de ser remov ida a c ausa dess e
medo; o que nã o pode ser f eit o e nqu ant o os homens se enco nt ram na
condiç ão n at ura l de g uerr a. Port ant o, par a que as pal avras ‘ just o ’ e i njust o ’
possam t er l ugar, é nec essári a a lg uma espé cie de pod er c oercit ivo, ca pa z d e
obrig ar i gua lment e os hom ens a o cumpr ime nt o dos s eus p act os, medi ant e o
t error d e a lgum cast ig o q ue s ej a su peri or a o be nef í cio qu e es peram t irar d o
rompime nt o do pact o, e cap a z d e conf ir mar propri eda de qu e os homen s
adqu irem por cont r at o mút uo, como recom pensa d o dire it o univ ersal a q ue
renunc iar am. E não pode hav er t al po der a nt es de se erig ir uma rep úbl ica.
T ambém a d ef in ição c omum de just iça f orn ecida pe los esc olást icos p ermit e
dedu zi r o mesmo, na med ida em qu e af ir mam que a j ust i ça é a v ont ade
con st ant e de dar a ca da um o que é se u. Po rt ant o, on de n ão há o se u, ist o é,
não h á pr opri eda de, n ão p ode hav er i njust iç a, e on de n ão f o i est a bel ecid o u m
poder co ercit iv o, ist o é, onde n ão há re p úbl ica, não h á propr ied ade, p ois
t odos os homens t êm dir eit o a t odas as coisas. Port a nt o, on de n ão h á
repúb lic a nad a é in just o. De mod o qu e a nat ure za da just iça cons ist e n o
cumprime nt o d os pact os vál id os, mas a val id ade dos p act os só começ a com a
const it uiç ão de um p oder c ivil s uf icie nt e par a obri gar os hom ens a cumpr i-l os,
e é t ambém só a i qu e começa a haver p ropri eda de. ” (HO BBES, T hom as.
Leviat ã, ca pí t ul o XV, p. 124- 125).
317
“Pela mesma ra zão, um homem no est a do de nat ure za pod e puni r a s
v i ol ações m enor e s a essa le i. (. . . ) Cada d elit o passí ve l d e ser pu nid o d a
mesma f orma e no mesmo gra u qu e numa socied ade p olí t ica; p ois, embor a
est eja f ora d os meus prop ósit os ent r ar aq ui nas part icul arid ades d a lei d a
nat ure za o u d e su as m edi da s p uni t iv as, é n o ent a nt o c ert o q ue t al le i ex ist e,
sendo t amb ém t ão int el igí vel e cl ara par a uma criat ura rac ion al e par a um
est udios o d essa l ei qua nt o as l eis posit i vas das soc ie dad es po lí t icas, e
possive lment e ai nda mais clar a, t ant o qua nt o a r a zão é ma is f áci l d e se r
ent end id a d o q ue as f a nt asi as e as int r icad as maq uin ações d os h omens, qu e
seguem i nt eress es cont rár ios e oc ult os f orm ulad as por me io d e pa lavras, vist o
que assim é ver dad eiram ent e uma gr and e part e das le is munic ipa is dos
paí ses, as q ua is só s ão ver dad eir as se base adas na l ei da nat ure za. Med iant e
a qua l sã o re gul adas e i nt erpr et adas. ” ( LO CKE, John. Do is T rat ad os sobr e o
govern o civi l, p. 390-3 91).
141
318
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro II , cap. XX, I I , p. 782.
319
“(. . . ) aquel e q ue agi u mal dev a ser c onsi derad o como t end o-se por iss o
mesmo t orna do i nf eri or a q ua lqu er um e t endo-s e como q ue r iscad o d o
número dos huma nos para se c oloc ar e nt re a es péci e d os a nima is q ue sã o
submissos a o homem (. . . )” (G RO T I US, Hugo. O Direit o da G uerra e da Pa z,
Liv ro II , cap. XX, I I I , p. 786).
320
LO CKE, John. Do is t rat a dos so bre o gov ern o civi l, l iv ro I I , cap. I V, par. 23-
24, p. 403-4 05.
142
321
Re nat o Jani ne Ri bei ro sal i ent a qu e “ o def e nsor da escrav idã o é
just ament e o f i lósof o li bera l: Lock e f a z do escravo um não- homem. Per deu ,
por crime cont r a a lei d e ra zão, q ue é le i de propr ied ade, o seu d ire it o nat ura l
à vid a, e p or iss o é just o pr eá- lo, ass im c omo o se ria s up lici á-lo. ‘Q uan do
algu ém, por s ua própr ia c ulp a, per deu o dir eit o (f orf eit ed) à pr ópri a vi da, p or
algum at o que mer eça a mort e, aq ue le pa ra quem e le per deu esse dir eit o
pode ( qua ndo o t iver em s eu p oder) demor ar -se em t oma-l a e f a zer uso d essa
pessoa p ara seu pr ópr io serviç o, sem lhe inf li gir com isso inj úria a lg uma. ’
Pois ‘t a l é a pe rf eit a co ndiç ão d e escrav idã o, que n ada é s enã o o e st ad o d e
guerra co nt i nuad o ent re um conqui st a dor l egí t im o e um cativ o’ (Segundo
T rat ado, §§ 23-2 4). Já o cat ivo h obb esia no era c ont i do à f orç a; a pr isã o
apen as grif av a, no pres o, a sua li berd ade de homem. Para L ocke, o cat iv o
t ambém é domi nad o à f orça, e não ass ume obrig ação a lguma – mas porq ue
deixo u de s er hom em. Com seu cr ime re du zi u-se a co isa, e perd end o a ra zã o
deve ser t a ngi do f eit o anim al. É por que o es cravo se best ial i zou que pod e ser
propr ied ade(. . . ). ” (RI BEI RO , Renat o Jani ne . Ao le it or s em med o: Hob be s
escreven do cont r a o seu t empo, p. 15 8).
322
G rot i us af i rm a que “a ra zão s uger e ao home m de nad a f a zer q ue pr ej udi qu e
out ro homem, a n ão s er que sej a em vist a d e a lgum bem. S oment e na dor d e
um inim igo, co nsid erad o ass im iso lad ament e, não h á bem a lg um, a não s er
que um b em f also e im agi nár io, t al como a qu ele q ue se e ncont ra nas riq ue za s
supérf l uas e em vár ias o ut ras co isas d a m esma nat ur e za. ”. Al ém di sso, “é
pois evid ent e que o h omem nã o é le git imam ent e p uni do p el o hom em, qua nd o
não o é sen ão em vist a da pu niç ão. ” (G RO T I US, Hugo. O Dire it o da G uer ra e
da Pa z, l iv ro I I, capí t ul o XX, V, pp. 791 e 7 9 3).
143
323
A proporci on al i dade nã o se re st ri ng e à apl i cação da p ena, m as e st á
pre sent e t am bém na guerr a. G rot i us su st ent a qu e a pe sar de e st ar em
conf ormi dade com a j ust i ça com pensat óri a, o at o de m at ar não é p erm i ti do
ao s cri st ão s para ev i t ar um t apa ou ul t raj e. Est e at o seri a cont rári o ao di rei t o
de nat u reza porq ue e st e a ssa ssi nat o não é um m ei o própri o par a prot e ge r
no ssa próp ri a e st i m a (G RO T I US, Hugo. O Di reit o da G u erra e da P a z, l iv ro I I ,
cap. I , X, p. 295-29 7). Al ém di sso, no q ue se ref ere à def esa do di rei t o de
propri ed ade, con si d eran do ap ena s e st e d i rei t o, “(.. . ) o l adrão que f oge
l ev ando nosso bem pode ser ab at i do por nosso dard o, se é im possí v el
recuper ar de out ro m odo o s obj et o s roub ado s. ” (G RO T I US, Hugo. O Direit o d a
G uerra e da Pa z, XI , p. 297-29 8).
324
Ibi d. , l iv ro I I , cap. XX, XXVI I I , p. 833-83 4.
325
Ibi d. , l iv ro I , cap. I II , I V, p. 170.
144
326
G RO T I US, Hugo. O Direit o da G u erra e d a Pa z, l iv ro I I , cap. XX, XL, p.
854.
327
G RO TI US, Hugo. O Direit o da G uerr a e da P a z, l iv ro II , cap. XX, VI , p. 793.
145
Conclusão
328
Al beri co G ent i li af i rm a que a G uerr a é a j u st a c ont en da d e arm a s pú bl i cas
(G ENT I LI , Al beri co. O direit o de g uerr a, l iv ro I , cap. I I, p. 61).
329
F ranci sco de Vi t óri a j á su st e nt av a, ant es d e G rot i us, que qual qu er pe ssoa
poderi a decl arar e em preen der um a gue rra (VI T Ó RI A, F ranci sco d e. O n t h e
Law of W ar, p. 299).
330
G ent i li j á hav i a sal i ent ado a nec e ssi dade de um a decl araçã o ant eri or à
prát i ca de at o s d e gu erra pa ra qu e e st a f osse c on si dera da j u st a (G ENT I LI ,
Al beri co. O Direit o de G uerra, l iv ro I I , cap. I , p. 217).
147
CONCLUSÃO
331
Nest e se nt i do é o pont o de v i st a de Bri an T i erney (T he Idea of Nat ur a l
Right s) e Pet er H agg enm acher (G rot ius et la doct rin e de la guerr e just e).
150
funda mentada e m quatro argu mentos. Pri meira mente, for mulação
similar à “hipótese impiíssima” pode ser encontrada na obra de
alguns desses teóricos. So ma-se a isto o fato de a análise sobre a
origem do Estado ter sido e mpreen dido, antes de Grotius, por
Francisco de Vitória e Francisco Suárez. Igualmente, co mo visto
no terceiro capítulo, o autor retoma pontos de vistas de Vitória
quando expõe sua teoria da guerra ju sta. Alé m disso, tanto para o
jurista holandês co mo para Vitória e Suárez, o direito natural seria
u m direito advindo da razão e diria respeito às criaturas racionais.
Por fim, no De Jure Praedae, Grotius concorda com os espanhóis
ao afirmar que o direito divino seria superior ao direito natural.
BIBLIOGRAFIA
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