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Caso Escola Base

O casal Cida e Ayres em sociedade com a prima de Cida, Paula e o seu marido
Maurício, decidem no ano de 1992 comprar uma escola infantil em decadência no bairro
Aclimação, em São Paulo. Durante dois anos, os quatro juntaram suas economias,
precisaram recorrer a um empréstimo, abdicaram dos seus dias livres no finais de
semana e feriados para a reforma e construção de novas instalações na escola. Tudo
andava bem, inclusive o ensino, pois durante esses anos e mesmo com as reformas em
andamento, o número de alunos passou de 17 para 72 alunos.
E em 1994 a vida dos quatro proprietários da Escola Base acaba virando de cabeça para
baixo em um piscar de olhos, quando no dia 26 de março eles se veem no meio de uma
acusação de abusos sexuais, denúncia feita por pais de alunos da escola.
Tudo começou quando Fábio, filho do casal Lúcia e Chang En Jun, na presença da mãe
faz gestos obscenos deixando a mãe preocupada. Quando interrogado pela mãe, Fábio
diz que viu aqueles gestos em fitas pornográficas na casa do seu amigo Rodrigo, junto
com estavam Rodrigo, Iracema e Cibele, todos levados por Ayres, na presença de
Maurício e Saulo, pai de Rodrigo.
No dia seguinte, Lúcia contou para Cléa, mãe de Cibele, e que também interrogada pela
mãe, confirmou algumas partes do que foi dito pelo Fábio. Na mesma noite, as duas
decidiram procurar a delegacia, onde foram orientadas a voltar no dia seguinte.
No dia seguinte, a denúncia foi feita, e o delegado pressionado pelas mães decide
começar por uma busca na casa de Rodrigo, onde não é encontrado nada e decidem
então procurar na escola.
Chegando na escola, já havia imprensa, o repórter Antônio Carlos Silveira do jornal
Diário Popular, que recebeu uma informação privilegiada do delegado. Antônio apurou
as notícias, conversou com os pais presentes no momento, logo após conversou com
Ayres, e chegando a redação mesmo tendo a notícia com exclusividade decidiram não
publicar por não haver provas, postura correta do jornal no momento.
Logo após isso, o repórter da Rede Globo Valmir Salaro toma conhecimento do caso e
aos poucos outros jornalistas descobrem e começam as apurações. Todos os jornais
soltaram alguma notícia sobre o caso, mesmo que ainda sem muito posicionamento, A
Folha de S. Paulo, A folha da Tarde e a TV Bandeirantes tentaram contato com o casal
antes mas não conseguiram e informaram isso. Já o Jornal soltou a notícia sem nenhum
posicionamento do casal, algo totalmente errado, já que de acordo com o Código de
Ética dos Jornalistas Brasileiros – FENAJ, é dever do jornalista ouvir sempre, antes da
divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas,
principalmente aquelas que são objeto de acusações não suficientemente verificadas.
No dia 30 de março, 5° dia do caso todos os jornais soltaram notas parecidas sobre o
andar do caso, tecnicamente corretas de acordo com o código jornalístico, tomando
todos os cuidados para não prejulgar nenhum dos envolvidos.
O dia seguinte, quinta-feira Santa, quase feriado, o caso ganhou mais força ainda nos
jornais, e as matérias que até então eram formais e corretas, passaram a ter um maior
peso, virando coberturas sensacionalistas, de exploração de sentimentos por parte das
crianças e das mães, abusando de relatos apenas com as vítimas emocionadas, e ao
telespectador que acompanhava tudo aquilo, não restava ao menos uma chance de
dúvida, pois não havia relatos equilibrados sobre o caso.
A partir disso, o posicionamento dos veículos de mídia foi inquestionavelmente errado e
anti ético, omitiram vários fatos que contavam ao favor dos acusados, não foram
imparciais e nem tiveram um distanciamento crítico do caso, não narravam mais
somente o que era noticiado pelas autoridades e passaram a dar espaço para novas
denúncias que não estavam e nem foram confirmadas no inquérito policial.
Consultando mais uma vez o Código de Ética dos Jornalistas, podemos verificar que a
produção e a divulgação da informação devem se pautar na veracidade dos fatos, algo
que ao longo do caso foi deixado cada vez mais de lado, levando a chamadas cada dia
mais absurdas sobre o caso, sempre influenciando cada vez mais o espectador, julgando
os acusados, que sempre, não tiveram nenhum tipo de defesa pública ao longo do caso.
Chamadas como “Pais suspeitam que escolinha drogava crianças”, “Pais pedem teste de
HIV” só mostravam o desespero e despreparo da mídia afim de chamar atenção de
forma errada.
O caso só mudou de rumo após longos e massacrantes 8 dias do seu início e foi assim
que o jornalista Florestan Fernandes Jr., da Rede Cultura entrou no caso. No dia 2 de
abril os acusados falaram e pela primeira vez trazia o outro lado da versão, sem nenhum
tipo de julgamento. Florestan passou então a acompanhar o caso de vez e fez com que
toda a investigação mudasse de rumo. A mídia em geral por sua vez, depois disso se
sentiu no direito de conversar com os acusados, deram mais espaço aos advogados de
defesa e começaram a perceber tarde demais todos os seus erros de notícia.
Diante de tantas reviravoltas, foi provada a inocência dos acusados e o caso foi
arquivado. Só restou a imprensa inúmeros pedidos de retratação em várias matérias,
capas de jornais e revistas. Na televisão o desfecho foi destaque também em todas as
emissoras e a Rede Globo, emissora que noticiou primeiro de forma errada sobre os
acusados, levou ao ar um pedido de desculpas no Fantástico, um dos programas de
maior audiência.
É certo que por diversas vezes o trabalho da polícia diante das investigações não foi dos
melhores já vistos, erraram muito também, deixando a pressão das mães influenciarem
nas decisões sobre o caso. Mas em relação ao jornalismo, se os repórteres tivessem
tomado menos partido, trabalhassem com mais ética e não tivessem usado o caso para
ganhar ibope, o caso poderia ter tomado um rumo totalmente diferente.
Embora os acusados receberam depois a retratação e as indenizações da mídia, todo esse
caso errôneo causou danos irreversíveis, tanto psicológicos como danos morais e
materiais, onde nenhum deles se reergueram novamente diante de si, da família e da
sociedade, pois é de responsabilidade do jornalista não divulgar e nem tomar posições
em notícias de caráter sensacionalista, pois se o poder de notícia e influência da mídia é
grande, então a responsabilidade deve ser maior ainda.

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