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História da Educação
CADERNO DE RESUMOS
CADERNO DE RESUMOS
El objetivo del curso es analizar las políticas de formación de profesores en México de finales del siglo XIX a
nuestros días, destacando sus objetivos, instituciones y mecanismos, y la forma en que se vincula con la política
educativa, las características del sistema educativo y la agrupación gremial de los profesores. Tras una
panorámica general, se analizará el caso específico de las Escuelas Normales Rurales, encargadas de formar
profesores para los medios rurales.
Objetivos:
Realizar un primer acercamiento a las discusiones en torno a la extensión universitaria y la articulación
con las otras funciones universitarias.
Favorecer una aproximación a las diferentes conceptualizaciones para pensar la política en las escuelas
públicas
Abordar la especificidad de la intervención pedagógica del trabajo con escuelas públicas desde la
historia de la educación.
Contenidos:
1-. La tradición de la Universidad Latinoamericana y el lugar de la extensión como parte de la propuesta de
trabajo docente. La discusiones más recientes en torno a la "integralidad" y los Espacios de Formación Integral
como parte de las propuestas de formación de los estudiantes en el marco de los nuevos planes de estudio en la
Universidad de la República.
2.- Los formatos educativos y la política educativa en la escuela. Pensar la escuela como proyecto político-
pedagógico. La cotidianidad del espacio escolar, las decisiones y la definición de la dirección. El lugar del cuerpo
docente. Las contradicciones que atraviesan los colectivos. La importancia de la memoria pedagógica como
recuperación de la dimensión política del hacer cotidiano de la escuela.
3.- Las disputas por la memoria como una cuestión inherente al espacio escolar. La incorporación de estudiantes
universitarios en el marco del curso de Historia de la Educación en el Uruguay como investigadores. La
perspectiva de la historia de la educación desde el punto de vista de los maestros rurales. Su lugar como
reconstructores de la historia de la educación.
This workshop will examine emotions and affect as a topic of inquiry in the history of education. Human
emotions and “structures of feeling” appear from time to time on the research agendas of historians of education
who, as in other areas of academic research, sometimes treat emotion as an “overlearned habit” that involves
some sort of neuro-chemical expression, which, over the long-term, can be manipulated, learned and unlearned
just as other social and cultural practices. Yet emotions present particularly difficult historiographic challenges
including whether to focus on actual, lived emotional experience; or, on regulative standards for emotional
comportment; or, on the interplay between the two. These questions prompt us to carefully examine our theory,
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Caderno de Resumos - Minicursos
method and evidentiary material as well as how we are to identify change over time in emotional regimes and
emotional experience. The history of the emotions as a sub‐field of historical inquiry has increasingly moved
away from a hydraulic conception of emotions as pressures and forces that build up and seek release, (e.g. Freud,
G. Stanley Hall). Instead, researchers increasingly direct attention at what emotional regulation produces, i.e.
what particular styles and patterns of emotional comportment make possible and not possible. Recently,
historians of the emotions also have begun to draw on “affect theory” to understand the relationships between
bodies and things. Brian Massumi, one of the key early Affect Theory scholars, has proposed that the concept of
“emotion” be treated as one of the ways that humans qualify the intensity of affective experience where the
identification of emotion is frequently fit to notions of continuity and linear causality. In contrast to the
Foucaultian tradition of effective history the workshop concludes by considering the promises and problems
presented by the project of affective history, bearing in mind Eve Sedgewick’s suggestion that “a relentless
attention to the structures of truth and knowledge obscures our experience of these structures”. Emotions and
affect invite historians of education to take up questions of ontology and intersubjectivity. The workshop
grapples with the question of how historians of education can approach processes of embodiment. It aims to
equip participants with an informative introduction to the history and historiography of emotion and affect.
O minicurso tem como objetivo analisar o processo de regulamentação do Ensino Religioso na escola pública
brasileira destacando a articulação política desenvolvida pelos grupos religiosos, fortemente representados pela
Igreja Católica, para assegurar o financiamento desse ensino pelos cofres públicos. A análise é resultado de uma
pesquisa documental e bibliográfica, que teve como principais fontes os Parâmetros Curriculares Nacionais para
o Ensino Religioso (PCNER), de 1997, e a legislação educacional brasileira relacionada ao contexto político da
década de 1990, especialmente, os documentos produzidos no Estado do Paraná. A aprovação da Lei Federal n.
9.475/97, que alterou o artigo 33 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n. 9.394/96, bem como
a publicação dos PCNER, documento elaborado pelo Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso (FONAPER),
uma entidade civil formada por representantes de diferentes tradições religiosas, imprimiram um novo caráter
ao Ensino Religioso, destituído de confessionalidade e de proselitismo. De acordo com esses documentos, o
Ensino Religioso deve garantir o respeito à diversidade cultural religiosa brasileira, bem como preservar o
princípio de laicidade do ensino público. Um grande desafio para a implementação desse componente curricular,
até mesmo no Paraná, Estado considerado modelo nacional da atual proposta pedagógica do Ensino Religioso.
Entre as contradições que se apresentam, destaca-se o posicionamento do Ministério da Educação (MEC), que
não assumiu a responsabilidade quanto à definição dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
Religioso, eximindo-se também do estabelecimento de diretrizes para a formação dos professores. As análises
são desenvolvidas em uma perspectiva que contempla a educação como uma produção humana, inserida numa
totalidade histórica e social. Destacamos também que a inclusão do Ensino Religioso como componente
curricular obrigatório no ensino fundamental ocorreu por meio da luta política travada entre homens reais.
Portanto, pensar a educação em sua totalidade é entendê-la como produto da organização social e política dos
homens, que buscam equacionar os problemas da sociedade na qual estão inseridos, e isso não ocorre de forma
neutra ou sem resistência, mas, em meio a lutas e contradições, que conferem movimento à história. Não pode
ser desconsiderado o fato de que a inclusão do Ensino Religioso na organização do currículo escolar ocorreu no
contexto de uma sociedade capitalista, de classes desiguais e antagônicas, na qual a busca pela hegemonia no
âmbito educacional também se faz presente. As análises são realizadas à luz das perspectivas teóricas de autores
como Karl Marx, Antonio Gramsci e Peter Berger, que entendem a sociedade como um fenômeno dialético.
Palavras chave: Educação. Ensino Religioso. Políticas Educacionais. Legislação Educacional. PCNER.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
A partir do making off de dois percursos de pesquisa em História da Educação, o minicurso propõe o debate em
torno aos métodos, questões e fontes que, em diálogo com a produção acadêmica proveniente de diversas áreas
das ciências humanas e sociais, foram estruturando a reflexão sobre a história da profissão docente. A
proposta visa expor os processos das pesquisas, apresentando ao debate as perspectivas teórico-metodológicas
que as embasaram. Além disso, procura destacar a relevância de se promover a positivação da memória e da
história dos profissionais da educação, inquirindo e analisando os seus percursos formativos, assim como os seus
espaços de atuação política e profissional. No primeiro momento, será apresentada a pesquisa desenvolvida pela
Professora Libania Xavier (PPGE-UFRJ) em seu pós-doutoramento na Universidade de Lisboa (no âmbito do
Convenio Capes-FCT:2008-2009), do qual resultou o livro Associativismo Docente e construção Democrática:
Brasil-Portugal (1950-1980), publicado em 2013. Em seguida, serão apresentados os resultados da pesquisa
Mulheres no Ensino Superior: trajetórias de lutas e conquistas, desenvolvido pela Professora Nailda Marinho com
apoio do Programa JCNE – Faperj (2012-2015). Um recorte deste projeto foi desenvolvido no seu pós-
doutoramento junto ao PPGE-UFRJ (PNPD/CAPES 2014), focalizando a história da formação docente em nível
superior no Curso de Pedagogia da Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi - RJ). Ambas as pesquisas exploraram
documentos ligados às dinâmicas sociais em espaços institucionais e organizações coletivas. Um conjunto de
fontes documentais foi levantado na Biblioteca Nacional (de Portugal e do Brasil); no acervo do Arquivo Nacional
(Rio de Janeiro) e no Programa de Estudos e Documentação Educação e Sociedade (Proedes/UFRJ), entre outros.
Recorreram, também, ao estudo de trajetórias de mulheres e homens que se destacaram por sua suas escolhas e
ações, revelando a seus grupos de referência um campo de possibilidades passível de promover mudanças na
ambiência política e profissional dos contextos em que viveram.
Referências:
BONATO, Nailda Marinho da Costa. “Os arquivos escolares como fonte para a história da educação”. Revista
Brasileira de História da Educação da SBHE, n. 10 (jul./dez. 2005). Campinas, SP: Autores Associados, 2005,
pp.193-220.
______ e XAVIER, Libania (orgs.). História da Educação no Rio de Janeiro: identidades locais, memória e
patrimônio. RJ, Letra Capital, 2013.
XAVIER, Libania. Associativismo Docente e construção democrática (Brasil-Portugal: 1950-1980). Rio de Janeiro:
EDUERJ, 2013. (Ver, em especial, o capitulo 3. (pp.79-102).
______. “Trajetórias profissionais de professores em contextos de transição democrática”. In PINTASSILGO,
Joaquim (org.). O 25 de abril e a Revolução: discursos, práticas e memórias docentes. Lisboa, Colibri, 2014
(pp.149-166).
O minicurso tem como tema o pensamento de Antonio Gramsci (1891-1937) e o objetivo de fornecer subsídios
teóricos para o estudo e o uso de seu pensamento como referencial teórico nas pesquisas em educação. O
minicurso tem como foco a exposição, caracterização e a análise de interpretações que se destacaram no campo
dos estudos gramscianos e mediaram a sua apropriação. Foram selecionados cinco intelectuais que, embora não
sejam do campo da educação, influenciaram e direcionaram o debate nacional e internacional sobre Gramsci
com análises sobre os conceitos de Estado, sociedade civil e política, bloco histórico, hegemonia, intelectuais e
filosofia da práxis. Serão abordadas as interpretações dos seguintes autores: a) Palmiro Togliatti (1983-1964,
italiano): responsável pela organização da primeira edição da obra de Gramsci publicada na Itália ao fim da
década de 1940. Sua interpretação foi criticada porque limitou o conhecimento da obra e das ideias gramsciana
em função de sua estratégia política; b) Norberto Bobbio (1909-2004, italiano): sua interpretação de inspiração
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Caderno de Resumos - Minicursos
liberal e social democrata sobre o conceito de sociedade civil caracterizou o debate nas décadas de 1960 e 1970.
Ao se fixar na discussão da terminologia Bobbio fundamentou deu início à apropriação liberal das ideias de
Gramsci; c) Jacques Texier (1932-2011, francês): contrapôs-se à Bobbio e defendeu que em discussão estava mais
do que questões de terminologia e, sim, a filiação de Gramsci ao marxismo. Retomou o debate sobre o conceito
de sociedade civil e defendeu o marxismo gramsciano enfatizando a natureza dialética e materialista de seu
pensamento; d) Carlos Nelson Coutinho (1943-2012, brasileiro): era um intelectual do Partido Comunista
Brasileiro quando coordenou a tradução e a publicação da obra de Gramsci no Brasil, ao fim da década de 1960.
Na década de 1980, sua interpretação pautou-se na defesa do marxismo-leninismo e da estratégia política do
partido. Apresentou Gramsci como um filósofo da cultura e crítico literário e, ao tratar de suas ideias políticas na
década de 1990, tornou-se uma referência obrigatória para o estudo das ideias gramscianas; e) Edmundo
Fernandes Dias (1943-2013, brasileiro): no início da década de 1990 travou com Carlos Nelson Coutinho um
intenso debate sobre a interpretação de Gramsci no Brasil. Critico da interpretação de Coutinho, Dias foi um dos
mentores de uma coletânea de textos que tinha o objetivo de apresentar ao Brasil O outro Gramsci, um militante
marxista engajado na transformação da sociedade por meio de uma estratégia revolucionária. Reconhecer
cristalizações teóricas inerentes às disputas interpretativas do pensamento de Gramsci qualifica o debate
educacional, ao liberá-lo para explorar as ideias e a obra gramsciana de modo autônomo e de acordo com as
necessidades próprias do campo da educação.
As investigações sobre a escola que reúnem perspectivas tanto de sua arquitetura como de suas propostas
pedagógicas evidenciam que os edifícios escolares não são apenas um espaço/lugar, uma estrutura física onde se
desenrolam os processos educativos e formativos, mas, eles próprios, desempenham um papel fundamental no
movimento histórico da instituição escolar, marcada por permanências e transformações. Com este mini curso,
pretendemos discutir, com os interessados, as pesquisas que temos realizado sobre o tema nestas duas últimas
décadas, mostrando as ideias diretrizes gerais, os procedimentos metodológicos, as fontes utilizadas neste tipo
de investigação que envolve conhecimentos e questões relativas a duas áreas disciplinares distintas.
Mostraremos como temos realizado a leitura das propostas pedagógicas e da arquitetura dos edifícios escolares
dos vários graus da escolarização, da educação infantil à universidade. Em relação à educação infantil,
pretendemos focalizar três escolas em que há uma convergência explicita entre a proposta pedagógica e a
arquitetura. São elas: a Escola Jean Piaget construída em Porto Alegre, RS, em 1991; a escola Vale Encantado de
Capão Bonito, SP, em 1987 e a Escola da Criança, em Uberlândia, MG, em 1993. A primeira, como o próprio nome
indica, é tributária do construtivismo de Piaget. A segunda foi construída nos moldes do que propõe a pedagogia
Waldorf. A terceira também se apoia no construtivismo de Piaget que valoriza o desenvolvimento da percepção
das crianças por meio do contato com espaços e materiais diversificados, conforme afirma a equipe responsável.
No que se refere ao ensino que já foi denominado primário, trataremos dos Grupos Escolares paulistas (1984-
1971), sempre considerando os edifícios e o ensino. Quanto ao ensino médio, trataremos do surgimento dos
colégios do século XVI, no continente europeu, matriz pedagógico-espacial de nossas escolas. Finalmente,
trataremos da universidade, considerando seu surgimento na Europa, situada na malha urbana, para chegar ao
século XX, no Brasil. Inicialmente localizada nas cidades, a partir dos anos 1960, adotou-se aqui, por influência
norte-americana, o modelo de câmpus universitário. Após um breve histórico serão feitas algumas precisões
conceituais tais como a de cidade universitária e câmpus universitário, a escola enquanto lugar e enquanto
território para se chegar a uma crítica ao modelo adotado. Em todo o curso serão enfatizados os referenciais
teóricos e os procedimentos metodológicos.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Em sete de Agosto de 1814, Pio VII celebrou a missa no Altar de Santo Inácio, fazendo a leitura da Bula Sollicitudo
Omnium Ecclesiarum, que comunicava a restauração da Companhia de Jesus em todo o Mundo. O texto
orientava o olhar para as necessidades espirituais dos fieis em todas as partes do mundo, sendo fundamental o
papel da Igreja no processo de educação dos povos. Esse novo momento da Santa Sé valorizava a participação
dos religiosos da Companhia de Jesus. A retomada das atividades da instituição impôs grandes desafios:
desarticular a desconfiança que pairava em diversos segmentos da sociedade em relação à Companhia de Jesus;
demolir a imagem de que os jesuítas eram um obstáculo para o avanço da sociedade moderna; manter
afastamento dos embates políticos externos; garantir a harmonia interna da ordem religiosa.
O objetivo do minicurso é oferecer uma leitura e compreensão sobre o quadro da retomada das atividades da
Companhia de Jesus no decorrer do século XIX e XX. O Pe. Mariano Berdugo dirigiu-se ao Rio de Janeiro para
negociar com o bispo D. Manuel do Monte Rodrigues de Araújo (1798-1863) a atuação dos jesuítas no Rio Grande
do Sul. As correntes contrárias eram intensas, mas as barreiras seriam vencidas. Destacaremos como o processo
de retomada das atividades católicas, a priori, esteve diretamente ligado ao movimento de imigração e,
moralmente, a “obrigação de fazer” um projeto educacional mais sólido.
A realização do primeiro Concílio Vaticano (1869-1870) reforçou o papel do papa, ao mesmo tempo em que
definiu a infalibilidade pontifícia em matéria de doutrina. As ações de Pio IX e Leão XIII (1810-1903) visaram ao
fortalecimento da Igreja e de sua atuação política, e implicou uma nova organização que incluía a educação como
um dos elementos básicos para manter sua influência junto à elite social, garantir a prática missionária e o
desenvolvimento da formação profissional.
Desta forma, procuraremos explorar como a Restauração da Companhia de Jesus impôs a reorganização da
instituição, conforme a nova dinâmica social, cultural, política e econômica. A retomada das atividades conduziu
inevitavelmente a impasses no seio da instituição sobre como gerir as práticas missionárias e a administração dos
colégios. Os jesuítas foram perspicazes ao identificarem a necessidade formular de retomar um projeto
educacional para a nação brasileira, carente de propostas efetivas nessa área, tanto para as camadas mais
favorecidas, como para os grupos desamparados. Foram eles que alertaram sobre a incapacidade de a
modernidade liberal atender às novas exigências de organização da educação pública.
Após a conquista dos territórios indígenas no Paraná iniciada pelo mercantilismo europeu no século XVI, os
grupos indígenas que sobreviveram foram “pacificados” por meio de guerras, cooptação, dispersão, doenças e
imposição de regras de conduta. A instrução foi marcada por uma educação escolar rudimentar, usada como
parte do processo civilizatório. Atualmente os indígenas, que somam cerca de 26.000 (vinte e seis mil pessoas),
vivem nos limites das pequenas áreas demarcadas no início do século XX, as chamadas aldeias ou Terras
Indígenas, e nas cidades. As aldeias encontram-se com solo enfraquecido pelo constante reuso, rios envenenados
e meio ambiente devastado pelas atividades de agronegócio do entorno; o que gera miséria, doenças e exclusão.
As etnias Kaingang, Guarani e Xetá, continuam resistindo à conquista e às regras do sistema capitalista
(privatização da terra, exploração da força de trabalho, lucro, acumulação e destruição do meio ambiente).
Buscam formas de reorganização cultural tendo, na atualidade, a escola como espaço de reafirmação das línguas
indígenas, identidades étnicas e instrumento de apropriação de novos conhecimentos. Com as pesquisas
realizadas pelo Observatório da Educação Escolar Indígena na Universidade Estadual de Maringá, financiado pela
CAPES/INEP, o presente minicurso, pretende abordar este processo contribuindo com a compreensão da história
de instalação de escolas nas aldeias indígenas no Paraná, a partir dos anos de 1940.
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Caderno de Resumos - Minicursos
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Comunicações Coordenadas
SUMÁRIO
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Sessão Coordenada – 15 ...................................................................................................................................67
REPUBLICA E EDUCAÇÃO: DEMANDAS PEDAGÓGICAS E CONDIÇÕES DE TRABALHO NO PROJETO DE
FORMAÇÃO DE FUTUROS CIDADÃOS
Coordenadora: ELIANA DE OLIVEIRA
Claudia Alves
Talita Barcelos
Eliana de Oliveira
Cynthia Greive Veiga
Adelia Bassi
Ana Carolina Bergamashi
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Sessão Coordenada – 21 ...................................................................................................................................85
REGISTROS MEMORIALÍSTICOS, DIÁRIOS, LITERATURA E RELATÓRIOS DOCENTES: FONTES DA PRESENÇA E
AÇÃO FEMININAS NOS DIFERENTES ESPAÇOS DA EDUCAÇÃO NO SÉCULO XIX
Coordenador: JUAREZ JOSÉ TUCHINSKI DOS ANJOS
Maria Celi Chaves Vasconcelos
Juarez José Tuchinski dos Anjos
Ana Maria Rufino Gilies
Paula Perin Vicentini
Rita de Cássia Gallego
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Sessão Coordenada – 28 .................................................................................................................................106
RENOVAÇÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO BRASILEIRO: CLASSES EXPERIMENTAIS E GINÁSIOS VOCACIONAIS
(DÉCADAS DE 1950 E 1960)
Coordenador: NORBERTO DALLABRIDA
Sérgio Roberto Chaves Júnior
Carlos Bizzocchi
Daniel Ferraz Chiozzini
Sandra Marques
Letícia Vieira
Norberto Dallabrida
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Sessão Coordenada – 34 .................................................................................................................................124
GEOPOLÍTICA DOS SABERES PEDAGÓGICOS E OS PERIÓDICOS EDUCACIONAIS NO SÉCULO XIX
Coordenador: JOSÉ GONÇALVES GONDRA
Fabiana Sena
Sonia Maria da Silva Araujo
Giselle Baptista Teixeira
José Gonçalves Gondra
Juan Suásnabar
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 01
Os estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Mato Grosso, mediante os investigadores convidados, professores
doutores e uma professora doutoranda, respectivamente da UFES, UERJ e Universidade de Cuiabá, articulam um
debate acerca do intelectual público e a história do pensamento educacional no Brasil, dando visibilidade a
personagens ainda não plenamente observados em sua relevância na história da educação brasileira. Tem como
objetivo geral apresentar tais nomes inserindo-os nos respectivos círculos intelectuais e contextos, atentando, de
um lado, para as noções mannheimianas de ideologia e utopia e, de outro, para a leitura gramsciana do
intelectual orgânico e da luta pela hegemonia. Tematiza-se o início do século XX, numa São Paulo em processo de
urbanização, quando da recepção do anarquismo no Brasil, e rebatimentos na formulação de ideais educacionais;
as décadas de 1950-60, tempos de construção da nova capital e de planejamento de uma universidade antenada
aos desafios postos pelo nacional-desenvolvimentismo, num cenário de luta pelas reformas de base; o “antes” e
o “depois” dos anos ditatoriais no Brasil, a histórica luta pela implementação da escola pública em tempo integral
nas redes municipal e estadual do Rio de Janeiro, na árdua tensão entre o "chaguismo" e o "brizolismo"; mais
uma vez, os anos 1980 e a campanha pela redemocratização no país, atentando para as disputas nas políticas
públicas, observando-se o Brasil, desta vez, a partir do Mato Grosso. Fala-se aqui nada menos do que das
trajetórias do intelectual autodidata e militante anarquista João Penteado, em especial, de sua atuação na Escola
Moderna n.1 de São Paulo (1912-1919); de Darcy Ribeiro na criação, junto a SBPC, da UnB em convergência à
utopia de um Brasil a se libertar do “atraso”, levando tal reflexão para, após o Golpe de 1964, mediante as
vivências do intelectual como reformador universitário no exílio latino-americano. Traz-se ainda a biografia da
primeira catedrática da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, no curso de História, Maria
Yedda Linhares, acompanhando sua trajetória da “academia” à “ação político-pedagógica”, observando, com
isso, a presença das mulheres na história das instituições; por fim, Dante de Oliveira, no foco ao processo de
redemocratização brasileira e de construção de seu pensamento educacional, na ligação às teses de Anísio
Teixeira e Darcy Ribeiro, particularmente sensível à inclusão social e ao respeito às diferenças culturais numa
nação plural. Nesta sessão coordenada, os investigadores partilham do tratamento das biografias como, também,
fragmentos de histórias coletivas, cuja memória é capaz hoje de inspirar o debate acerca da educação brasileira.
A aposta é nas continuidades e descontinuidades das experiências políticas e educacionais brasileiras, a gerar o
acúmulo do pensamento crítico.
Sob o título "O sonho de um tolstoiano: João Penteado e a Escola Moderna de São Paulo (1912-1919)",
apresenta-se o autodidata e militante anarquista que começou a lecionar em Jaú. Em suas conferências, João
Penteado defendeu o pacifismo e o internacionalismo, granjeando a admiração com a qual foi conduzido à
condição de diretor da Escola Moderna de São Paulo. Uma vez à frente deste "ninho de liberdade", procurou
implantar, o mais imediato possível, o comunismo anarquista. Na qualidade de admirador de Liev Tolstói,
Penteado adocicou o discurso político, árido para a maioria da população, temperando-o com o anarquismo
cristão do afamado escritor russo. Além disso, ainda como entusiasta do humanismo apregoado pelo autor de
“Guerra e Paz”, combateu a propaganda militarista que incidiu sobre os jovens, sobretudo após a eclosão da
Primeira Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, ao buscar os recursos financeiros que necessitava junto aos
organismos de classe, ajudou a politizar os sindicatos, fazendo com que ultrapassassem as lutas mais imediatas
na mesma medida em que introduzia a luta de classes no currículo de uma escola brasileira. Dessa maneira,
conforme as condições dos estudantes e suas necessidades enquanto futuros trabalhadores, tal como propõe o
conceito de “demopedia” de Pierre-Joseph Proudhon, João Penteado procurou implantar a “instrução integral”
reivindicada por Mikhail Bakunin, encontrando na Escola Moderna de Barcelona, organizada pelo educador
catalão Francisco Ferrer y Guardia, um paradigma para suas experiências educacionais. Portanto, dando
consequência às resoluções do Congresso Operário Brasileiro de 1906, João Penteado e seus colaboradores se
dedicaram à instrução física, intelectual e social dos meninos e meninas que frequentaram a Escola Moderna n.1
de São Paulo. Convictos de que adultos comprometidos com o conjunto da sociedade resultam do ambiente
vivenciado durante a infância, insistiram na perspectiva de que para alcançarmos uma sociedade livre, composta
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
por comunas autônomas, necessitamos de uma educação sem prêmios ou castigos, que transforme a escola em
exemplo de ação direta. Em outras palavras, as poucas edições de “O Início”, jornalzinho elaborado pelas
crianças, revelam a vinculação entre a metodologia racionalista e o campo político e social, permitindo aos jovens
desenvolver as habilidades com as quais os problemas coletivos podem ser resolvidos coletivamente, tanto pela
substituição da disciplina pelo livre acordo, quanto pelo esforço conjunto no sentido de que cada estudante se
torne o principal mestre de si.
Em "A utopia necessária: Darcy Ribeiro, Universidade e América Latina", focalizam-se, na década de 1950, as
vigorosas ideias mannheimianas de “intelligentsia” e utopia. Em que pesem as matrizes distintas, um inegável
voluntarismo marca aqueles homens – e algumas mulheres – em torno de um projeto intelectual de
reinterpretação e de transformação do Brasil rumo à superação do atraso. Darcy Ribeiro (1922-1997) fez parte de
uma geração de intelectuais e artistas que acreditava firmemente ser possível construir um projeto cultural
abrangente para o Brasil e para a América Latina. Destaco, em sua trajetória intelectual, o entrelaçamento com
Anísio Teixeira nos esforços de criação da Universidade de Brasília (UnB), convergência rara de intelectuais e
cientistas eminentes em torno de um projeto de desenvolvimento nacional autônomo. Narro, de modo especial,
os não poucos embates dentro e fora do Governo JK a fim de que a universidade da nova capital não se perdesse
de seus princípios originais bem como explicito a instabilidade do Governo de João Goulart na luta pelas reformas
de base. Fato é que Jango, em 1962, ainda como primeiro-ministro, assinava, enfim, a lei de fundação da nova
universidade. Chamo atenção para o “pensamento-ação” de Darcy Ribeiro que o conduz, no projeto da UnB, a
uma autocrítica severa da universidade, expressa no intento de se repensar “responsavelmente” sua função, e
reagir, nas palavras do próprio, à “mediocridade” do desempenho cultural e científico das cátedras. Entendendo
a universidade como “motor de desenvolvimento” nas sociedades, Darcy atribuía-lhe uma significativa relevância
na “aceleração do progresso global das nações” em oposição à perpetuação da “modernização reflexa”. A
derrota política com o Golpe de 1964, que o levou ao exílio e “selou” o destino da UnB, é lembrada. Opta-se,
porém, por valorizar a memória do ponto de vista da criação de uma vasta rede de intelectuais latino-americanos
que fazem de Darcy Ribeiro “cidadão latino-americano” e reformador de universidades no continente. Assim, sua
biografia e suas teses se confundem em “Universidade Necessária” (1968), livro em que descreve um projeto de
universidade pioneiramente fundado na integralidade dos saberes, mediante a construção dos institutos de
ciências e institutos centrais, na extinção do regime de cátedra, na criação de uma carreira docente, na
valorização do ensino, pesquisa e extensão, na articulação com a educação básica, na atenção aos distintos perfis
de alunos, na excelência da pós-graduação, no compromisso entre universidade e sociedade. Nesse sentido, a
comunicação postula contribuir, em sua medida, para o campo da história da educação brasileira promovendo a
visibilidade de uma experiência que, mesmo temporária, traduziu um “estado” da intelectualidade nacional que
ganhou realidade e desdobramentos, movendo ainda hoje o pensamento crítico.
Em "Maria Yedda Leite Linhares: uma intelectual na educação do Rio de Janeiro", analisa-se a trajetória da
professora Maria Yedda Leite Linhares, desvelando indícios sobre a contribuição desta historiadora que esteve,
intelectualmente, à frente de seu tempo. Desta forma, investigamos suas ações e pensamento, ressaltando a luta
que sempre travou pelas causas que acreditava serem fundamentais para a consolidação da universidade pública
e da escola republicana no Brasil. Tal análise se inscreve no desejo de indagar qual a contribuição desta
professora para a jovem historiografia brasileira, destacando em particular, o debate acerca da atuação feminina
nos meios intelectuais e universitários naquela década de 1960. Dentro de tal ótica, desvendar as sombras que
ainda ocultam a participação de mulheres como Maria Yedda, enquanto dirigente e intelectual de seu tempo é
objeto desta investigação, rompendo esquecimentos e registrando memórias datadas de um determinado
período histórico. Os múltiplos olhares, da cátedra à ação político-pedagógica, enquanto secretária municipal e
estadual de educação do Rio de Janeiro (RJ) revelam um cotidiano entrelaçado, em meio aos sucessivos embates
travados nos campos da educação, da política e da história nacional e fluminense. A partir deste deslocamento da
filiação da memória, intentamos também recuperar a consciência geracional de uma coletividade acadêmica
inserida naquela contingência temporal dos anos 1960 e, posteriormente, dos anos 1980, no período de
redemocratização. Segundo Le Goff (1992), a classe hegemônica e o Estado são os senhores da memória e do
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
esquecimento, trata-se portanto, de recuperar a visibilidade dos acontecimentos dos anos imediatamente pré e
pós-ditadura civil militar no Brasil. E, identificar as possíveis marcas encontradas no cotidiano da rede municipal
das escolas do Rio de Janeiro. Neste viés, a história de Maria Yedda, embora (...) única, perdida e solitária entre
todas as outras - aponta para o perigo dos processos de manipulação da memória coletiva, ressignificando os
sentidos da universidade pública brasileira (Faria, p.709, 1998). Portanto, os olhares de Maria Yedda, como
acadêmica e cidadã, surgem lado a lado com a construção de um mundo novo, se somando à tarefa de garantir
às mulheres um espaço real de atuação política na sociedade. Novos rumos e novos olhares se apresentam no
caminho da incansável historiadora durante o processo de redemocratização do Brasil nos anos 1980, quando é
convidada para assumir a secretaria de educação do município (1983) e em 1986, a secretaria de educação do
estado. Em tal contexto, falar de Maria Yedda é falar da própria histórica política do Brasil, se considerarmos que
ela conviveu com os intelectuais mais importantes das décadas de 1950 a 1980.
"O projeto educacional de Dante de Oliveira, o autor da emenda das DIRETAS-JÁ!" é o título da exposição que
aborda a tese acerca da trajetória de formação, convivência familiar e rede de sociabilidade de Dante de Oliveira
em convergência à construção de seu pensamento político. Pergunta-se qual ideologia o permeou e sua
influência em sua atuação como formulador de políticas públicas. A investigação possibilitou constatar que havia
por parte de Dante uma preocupação em priorizar a educação, tanto em seus planos de metas, quanto na
execução das políticas. Neste sentido, consta do Plano de Metas Mato Grosso (1995- 2006), que as políticas
prioritárias do governo seriam Educação, Emprego e Renda, Energia e Estradas. Estas propostas foram
construídas com a participação popular e a Frente Cidadania e Desenvolvimento, composta pelos partidos: PDT,
PMDB, PSD, PC do B, PT, PV, PSC, PMN, PSB, PPS. No período de 1995 a 2002, quando Dante de Oliveira esteve à
frente do governo do Estado de Mato Grosso a Política Educacional orientou-se desde 1995, com os princípios de
Democracia, Descentralização e Ética para a Cidadania. Esta visão educacional norteava-se nos principais eixos:
Reorganização do Sistema Educacional, Fortalecimento da Escola, e a Valorização dos Profissionais da Educação.
Conforme linhas norteadoras do Documento Denominado: Na nova Educação de Mato Grosso (SEDUC, 2001)
houve avanços, contudo permanecia o desafio de melhorar continuamente o trabalho Educacional do estado.
Nesta perspectiva foi executado O Programa Xané com objetivo de promover a inserção educativa sociocultural
de crianças e adolescentes em situação de risco e vulnerabilidade. Esta iniciativa repercutia a influência dos ideais
de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro de propiciar Educação Integral e uma escola melhor para a classe trabalhadora.
O programa foi extinto no ano de 2004, após ser viabilizado em 91 municípios, quando participavam 55 mil
crianças com investimento estadual na ordem de R$ 5.000 000,00 (Cinco milhões). Sem contar os outros
investimentos em formação continuada, e disponibilidade das equipes. Além do Programa Xané, foi executado o
Tucum, programa de educação escolar indígenas, que se destinava à formação de professores com o tema
“Terra, Língua e Cultura”, tendo como base um currículo diferenciado, específico e bilíngue (SEDUC/MT 2001,
p.16). Outra questão trabalhada foi a formação dos profissionais do apoio da administração escolar com o
Programa Arara Azul. Tais inciativas admite-se afirmar as evidências do avanço educativo quando as propostas
são desencadeadas à luz das necessidades da população.
27
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 02
Trata-se de uma proposta de Comunicação Coordenada composta por quatro pesquisadores de instituições
diferentes, encontrando-se cada um atuando em três unidades da Federação brasileira. São pesquisadores que
vem estudando a temática dos bacharéis em direito e sua relação com a educação, no âmbito da historiografia,
particularmente, da História da Educação. Assim, a intensão da Comunicação é a de abrir o debate histórico
sobre a relação entre os bacharéis em direito, a criminologia e a educação, apontando para os desdobramentos
que ocorreram no estabelecimento de políticas educacionais e, bem assim, na construção do estado brasileiro. As
comunicações propostas pelos autores e autoras abordam: 1ª. JURISTAS E BACHARÉIS E A QUESTÃO DA
EDUCAÇÃO NO DEBATE CRIMINOLÓGICO NO BRASIL DURANTE A PRIMEIRA REPÚBLICA. O autor propõe uma
discussão acerca da educação no âmbito criminológico, de acordo com os autores da Nova Escola Penal no Brasil,
tendo em vista também as reformas legais e institucionais propostas pelos juristas defensores da Criminologia.
Para ele, a reconstrução do debate sobre o papel da educação no âmbito criminológico no país pode apontar,
assim, para novas dimensões das concepções e das práticas de setores das elites, especialmente juristas e
bacharéis, no que diz respeito à história da educação no Brasil; 2ª. CRIMINOLOGIA NA FORMAÇÃO DE BACHARÉIS
EM DIREITO: configuração de cultura jurídica acadêmica no século XIX. A autora objetiva problematizar a
configuração da cultura jurídica acadêmica a partir de teses e dissertações de doutoramento dos bacharéis em
Direito da Academia de São Paulo, no período de 1850 a 1888, que tratam sobre justiça, delitos, penas, júri,
violação e processo criminal na relação com os estudos sobre o Código Criminal de 1830. Para ela, compreender
as ideias de direito e processo criminal sob a luz da cultura jurídica acadêmica da Faculdade de Direito de São
Paulo no século XIX, estão lançadas as luzes para um campo de discussões representado pelas escolas do direito
da modernidade e pensamento jurídico brasileiro; 3ª. A RETÓRICA DISCURSIVA DOS BACHARÉIS EM DIREITO
SOBRE OS PROJETOS DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL. Com essa proposta, o autor propõe refletir sobre a
construção de projetos de educação profissional e de República, sob o ponto de vista da retórica dos discursos
dos bacharéis em direito que ocuparam postos de destaque na política mineira, na virada do século XIX para o
século XX. 4ª. FORMAÇÃO JURÍDICA: PRÁTICAS DE ENSINO NA FACULDADE DE DIREITO DE SERGIPE (1950 A
1970). Aqui autora apresenta as práticas de ensino adotadas na instituição para a formação de bacharéis entre as
décadas de 1950 a 1970, buscando evidenciar os aspectos relacionados à cultura acadêmica vivenciada durante a
existência da Faculdade de Direito de Sergipe.
O que se propõe nesta comunicação é uma reflexão sobre a construção de projetos de educação profissional e de
República, sob o ponto de vista da retórica dos discursos dos bacharéis em direito que ocuparam postos de
destaque na política mineira, na virada do século XIX para o século XX. O Estado de Minas Gerais, no período
entre 1889 e 1930, teve 22 presidentes que assumiram um ou dois mandatos, consecutivos ou não. Deste elenco,
somente quinze produziram as mensagens enviadas ao Congresso mineiro. Assim, como nosso propósito
principal é analisar as mensagens enviadas, nos deteremos somente sobre quinze presidentes que as produziram.
Dos quinze selecionados identificamos que doze deles possuíam o grau acadêmico de bacharel em direito, um
era formado em medicina, um em engenharia e outro autodidata. Entre os bacharéis, apenas um se formou na
escola Livre de Direito em Minas Gerais e onze se formaram na Faculdade de Direito de São Paulo entre 1868 e
1900. Essa constatação estimulou o aprofundamento sobre a participação dos bacharéis em direito na política
mineira, bem como o interesse em descortinar, a partir dos seus discursos, a influência que eles tiveram na
produção de políticas públicas para a educação profissional. As mensagens foram produzidas em forma de
relatórios digitados e enviados ao Congresso Mineiro anualmente, contendo disposições acerca da administração
do Estado, frente as dificuldades e soluções ressaltadas pelo presidente em exercício. Para embasar a reflexão, a
referência teórica será o da cultura política, a partir de Serge Berstein. Com ele temos que o movimento para a
identificação da cultura política é duplo: primeiramente pelo discurso, pelo argumentário e pelo gestual. O
discurso é o pronunciamento oral ou escrito, elaborado com uma série de significados que expressam a maneira
de pensar e de agir, de um indivíduo dirigindo-se ao outro ou a um grupo de indivíduos. Nele se encontram os
28
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Ao longo da Primeira República no Brasil, juristas e bacharéis debateram e divulgaram as idéias da Criminologia e
da assim chamada Nova Escola Penal, voltadas para o estudo do criminoso e para a reforma do Direito e das
instituições penais. A discussão acerca do papel da educação no combate à criminalidade exemplifica aspectos
das formas de pensamento dos juristas adeptos da “nova escola”. A maioria dos autores, ao acompanhar neste
aspecto as opiniões correntes já manifestas na Europa, se mostravam céticos quanto ao papel da simples
instrução no combate à criminalidade. Para eles, o máximo que se conseguiria, com a ampliação da instrução
primária para o conjunto da população, seria formar criminosos mais bem preparados intelectualmente para as
tarefas delituosas. Também os trabalhadores estariam entregues à propaganda nefasta dos revolucionários, sem
as necessárias orientações morais que a instrução isoladamente não poderia proporcionar. Eles defendiam, em
contrapartida, a necessidade de uma educação moral, pois esta sim poderia, ao fornecer um senso moral
adequado às necessidades da sociedade, coibir os atos considerados anti-sociais. Os juristas brasileiros adeptos
da Criminologia, sobretudo de sua vertente italiana, no entanto, parecem menos preocupados em definir qual
seria o conteúdo dessa educação moral do que em estabelecer os mecanismos jurídicos e institucionais capazes
de torná-la viável. Por exemplo, estabelecimentos como o Instituto Disciplinar, em São Paulo, criado em 1902,
foram concebidos sob os mesmos parâmetros, pois não se propunha aí apenas uma instituição penal, mas uma
“escola para crianças anormais”, capaz de garantir a formação moral para as abandonadas pelos pais ou
responsáveis. Nesta exposição, tal discussão acerca da educação no âmbito criminológico, de acordo com os
autores da Nova Escola Penal no Brasil, será aprofundada, tendo em vista também as reformas legais e
institucionais propostas pelos juristas defensores da Criminologia. A discussão sobre o tema da menoridade, que
culminou com a promulgação do primeiro Código de Menores, em 1927, será igualmente explorada como
exemplo das reformas propostas a partir do horizonte das idéias criminológicas. Juristas e bacharéis brasileiros
no período reafirmaram a convicção de que a educação teria influência nula no combate ao crime, se não fosse
acompanhada de uma adequada formação moral, sobretudo diante do perigo da “criminalidade precoce”. A
reconstrução do debate sobre o papel da educação no âmbito criminológico no país pode apontar, assim, para
novas dimensões das concepções e das práticas de setores das elites, especialmente juristas e bacharéis, no que
diz respeito à história da educação no Brasil.
Esta comunicação tem como objetivo problematizar a configuração da cultura jurídica acadêmica a partir de
teses e dissertações de doutoramento dos bacharéis em Direito da Academia de São Paulo, no período de 1850 a
1888, que tratam sobre justiça, delitos, penas, júri, violação e processo criminal na relação com os estudos sobre
o Código Criminal de 1830. O ano de 1850 refere-se ao período em que encontramos os primeiros trabalhos
acadêmicos dos bacharéis em Direito, bem como evidenciamos configuração da cultura jurídica acadêmica por
meio de mudanças na estrutura curricular do curso, temas de estudo e autores estudados. Já o ano de 1888
constitui-se como período que encontramos as últimas teses e dissertações referentes ao período imperial.
Assim, é possível compreender o Estado brasileiro a partir de ideias de justiça contidas nas teses e dissertações?
Como os bacharéis da Faculdade de Direito de São Paulo fizeram a reflexão acerca dos estudos de criminologia?
Quais eram os crimes e delitos que mais afetavam a sociedade brasileira e como se configura a cultura jurídica
acadêmica em torno do direito e processo criminal? Para tanto, o levantamento de vestígios no centro de
29
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
documentação da biblioteca da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo - USP fez-se necessário, já que
ao dialogarmos com esses vestígios procuramos fazer indagações que toda investigação histórica pressupõe
diante da multiplicidade de documentos e das ferramentas próprias ao ofício do historiador. Contudo, é essencial
desvelar a relação das ideias acadêmicas com o direito e processo criminal e, por fim, conceber uma noção de
cultura jurídica a partir de referenciais teóricos que aplicaram esse conceito. Não obstante, procuramos fazer
uma reflexão acerca do conceito de cultura jurídica a partir das análises contidas nos livros “Cultura jurídica no
Brasil (1822-1922)” de Plínio Barreto, “O império dos bacharéis: pensamento jurídico e a organização do Estado-
Nação no Brasil” de Mozart Linhares da Silva com as obras “Os juristas na formação do Estado-Nação brasileiro
do século XVI-1850 e de 1850-1889”, organizadas por Carlos Guilherme Mota. Temos em vista ampliar os estudos
da história da educação, sob as perspectivas da história social e cultural, investigando nas teses e dissertações a
configuração da cultura jurídica brasileira. Assim, tentando compreender as ideias de direito e processo criminal
sob a luz da cultura jurídica acadêmica da Faculdade de Direito de São Paulo no século XIX percebemos que há
um campo de discussões representado pelas escolas do direito da modernidade e pensamento jurídico brasileiro.
Após algumas tentativas de implantação e funcionamento de uma Academia jurídica em Sergipe, datadas do final
do século XIX e do início do século XX, em 1950, um grupo de intelectuais, reunido no Conselho Penitenciário,
fundou a Faculdade de Direito de Sergipe (FDS). Foi a última instituição, desta natureza, a ser criada na região
nordeste, o que demonstra as dificuldades locais para a implantação do ensino superior. A iniciativa situou-se em
um cenário de crescimento econômico, impulsionado pelo modelo nacional-desenvolvimentista, momento em
que o governo sergipano investia na interiorização da escola primária e das estradas de rodagem, na
puericultura, na telefonia, transportes, dentre outros. A FDS foi a terceira instituição de ensino superior a ser
fundada entre o final da década de 1940 e o início da década de 1960, quando este foi definitivamente
implantado. A Faculdade de Direito, considerada uma instituição exemplar do ponto de vista administrativo,
docente e estudantil, por Inspetores Federais de Educação e diversos juristas que a visitaram, a exemplo de
Hermes Lima e Orlando Gomes, foi federalizada no início da década de 1960. Em 1968, juntamente com outras
cinco instituições superiores, deu origem à Universidade Federal de Sergipe. Este estudo apresenta as práticas de
ensino adotadas na instituição para a formação de bacharéis entre as décadas de 1950 a 1970. Busca evidenciar
aspectos relacionados à cultura acadêmica vivenciada durante a existência dessa instituição, o que justifica o
recorte proposto. Para tanto, a pesquisa caracteriza o espaço físico onde as aulas eram ministradas, a dinâmica
de aulas inaugurais, aulas teóricas, atividades relacionadas à prática forense e às aulas de Medicina Legal.
Também levanta o modo como eram aplicadas provas escritas e orais. O trabalho, construído a partir dos
pressupostos teóricos da História Cultural, fundamentou-se em fontes bibliográficas que trouxeram à baila as
contribuições de Pierre Bourdieu, Roger Chartier, Michel de Certeau e Peter MacLaren, por intermédio das
categorias campo e capitais (simbólico, social e cultural), práticas, representações e rituais de resistência.
Também utilizou fontes documentais (atas de exames, cadernetas de aula), orais e periódicas (Revista da
Faculdade de Direito) que apresentam as representações de ex-alunos e os discursos relativos ao ideal de
bacharel que a FDS deveria formar. Os resultados obtidos ajudam a compreender o tipo de formação realizada
pela instituição e sua ligação com a tradição do bacharelismo no Brasil.
30
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 03
A educação dos negros é um tema que foi definitivamente incorporado à historiografia educacional brasileira.
Seu surgimento e consolidação enquanto objeto de análise na história da educação ocorreu nas duas últimas
décadas e a manifestação mais clara de sua evolução encontra-se no refinamento das análises. Os trabalhos
produzidos nos últimos anos revelam que o foco das pesquisas não está exclusivamente centrado nos processos
de inclusão/exclusão dos negros dos espaços escolares e nem tampouco em questões amplas como a relação dos
membros deste grupo com as políticas educacionais. A produção vem sendo revigoradas por análises que, sem
perder de vista os elementos estruturais, se voltam para o entendimento e detalhamento da relação entre os
negros e as práticas educativas (escolares e não escolares) que ocorreram em distintas regiões do país. As
questões que vem sendo formuladas pelas pesquisas giram em torno da tentativa de compreensão das
experiências que marcaram a trajetória dos negros enquanto um grupo social. Nesta perspectiva, o termo negro
deixou de ser uma categoria que reflete as condições de um grupo social homogêneo para ser tratado como uma
designação que se aplica a diferentes condições sociais vivenciadas por segmentos desta população. Estas
condições necessitam ser compreendidas para que haja um entendimento mais amplo de suas possibilidades de
relação com as práticas educacionais. Desta forma, procuramos nesta comunicação articular múltiplos elementos
que perpassam à trajetória social dos negros estabelecendo conexões com a educação. A partir disso, elementos
como a condição de livres e escravos adquirem uma significação importante na construção das perguntas e da
própria matriz interpretativa relativa às experiências educacionais do século XIX. Na mesma direção segue o
destaque cada vez maior que alcançam as práticas educativas que se davam fora do espaço escolar, como os
movimentos associativistas que, no século XIX, foram responsáveis pela elaboração e sustentação de padrões
conduta dos negros. As condições de educabilidade são ainda reforçadas por análises que colocam em foco os
processos de escolarização dirigidos a alunos negros que foram submetidos a processos pedagógicos específicos,
ou na condição de professores marcados por práticas em que a condição profissional e racial se encontravam
fortemente articuladas. Este conjunto de experiências indica um padrão de variabilidade dos processos
educacionais que precisa ser compreendido a partir de considerações que levem em conta os negros como
sujeitos portadores de condições sociais que possuem especificidades no tempo e no espaço. Assim, partimos do
tratamento desta situação em Pernambuco, Paraíba e Minas Gerais para indicar, entre o século XIX e XX, uma
variedade de condições sociais que possibilitaram diferentes formas de relação dos negros com a educação.
O objetivo dessa comunicação é discutir os limites entre ser livre e ser escravo no que se refere à população
negra da província da Parahyba do Norte ao longo do século XIX. Como demonstram trabalhos de historiografia
social da escravidão que analisam outras províncias, personagens ou momentos específicos do Império, as
fronteiras entre as duas condições jurídicas eram muito frágeis. A justificativa para a preocupação com esse
problema no campo da história da educação brasileira é pensar nas possíveis consequências dessa fluidez entre
ser livre e ser escravo para as experiências negras no acesso (ou não) à educação escolar, especificamente para a
escola paraibana no período imperial. A análise será desenvolvida a partir da conceituação de estratégias e
táticas de Michel de Certeau (1998) de modo a pensar sobre a ação dos que escravizavam ou re-escravizavam
pessoas negras livres (estratégia) e, também, em diferentes maneiras como escravizados se utilizavam dessa
possibilidade para se passar por pessoas livres (táticas). Serão utilizados como fontes a imprensa paraibana
(principalmente os jornais O Governista, O Publicador, e o Jornal da Parahyba), a legislação sobre instrução da
Parahyba do Norte (leis e regulamentos) e os documentos oficiais da administração provincial do governo da
Parahyba, como ofícios e relatórios de inspetores da instrução pública e de presidentes da província. Tendo como
referências os trabalhos de historiografia social da escravidão e história da educação, sugerimos que no caso de
estudos de história da educação da população negra é mais fecundo para a análise da sociedade imperial
paraibana analisá-los como um grupo social do que segmentá-los em categorias como escravos, libertos, livres,
ingênuos. Para os debates historiográficos e para o debate político acerca da resistência negra sempre foi
importante e necessário observar as diferenças entre as diversas classificações a que podiam estar submetidas as
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
pessoas negras. A partir de referências à presença negra em espaços escolares, encontradas em notícias de jornal
e em outras fontes consultadas, defendemos que para o estudo da escola paraibana em que havia a presença de
alunos de diferentes condições jurídicas e raciais, é mais pertinente não dividir o segmento negro da população
em livres e escravos, uma vez que os limites entre estas condições eram muito tênues neste período.
Esta comunicação discute as atividades associativas praticadas pela população negra, entendendo-as também
enquanto instâncias educativas no conjunto dos arranjos coletivos produzidos por este grupo no interior da
ordem escravista. Para tanto, observamos suas formas de manifestação particularmente na Província de
Pernambuco da primeira metade do século XIX, tendo em vista seu papel significativo no circuito do tráfico de
escravizados e, por conseguinte, cenário de uma expressiva presença dessa população de africanos e seus
descendentes. Nesse contexto, analisamos o papel social e político das irmandades negras, com recorte em três
destas entidades: Irmandade do Rosário dos Homens Pretos; Irmandade de N. S. do Terço; e Irmandade de S.
José do Ribamar, buscando compreender sua organização e funcionamento, as articulações existentes entre
essas entidades e sua capacidade de promover a circulação de valores e saberes diversos junto à população
negra local. Com base em estudos sobre História da África, História do Escravismo no Brasil, além de estudos
sobre Culturas e Sociabilidades no Mundo Atlântico, realizamos uma pesquisa documental sobre as irmandades
de pretos e de pardos, a exemplo dos Compromissos, Livros de Registros, Petições e outros. Além destes
registros produzidos diretamente pelos próprios sujeitos pesquisados, tomamos à análise os ofícios e relatórios
emitidos por órgãos oficiais e eclesiásticos da Província relativos a esse tipo de organização, bem como a
legislação e jornais da época, considerando a contribuição desses dois elementos no exercício de compreensão
da realidade vigente. Tal levantamento de fontes foi realizado no Arquivo Público Estadual, no Arquivo da
Assembléia Legislativa de Pernambuco, no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco e
IPHAN. Somou-se ao estudo um levantamento da legislação da época e uma busca aos jornais da época
disponíveis no setor de microfilmagem da Fundação Joaquim Nabuco. Com base nesses levantamentos,
compreendemos que estes arranjos associativos da população negra como expressão de alternativas
“autônomas” de vida social e política frente à ordem escravista a partir do compartilhamento de valores e
saberes entre gerações, sendo a própria dinâmica associativa uma via de educabilidade. Os estudos sobre essa
prática associacionista da população negra nesse período também apontam para essas entidades como
possibilidade de certas “vivências africanas” para seus membros, ao mesmo tempo em que também ajudava na
configuração de estatutos sociopolíticos diferenciados, o que pode nos ajudar avançar na compreensão sobre as
diferentes formas de afirmação e resistência promovidas pelos negros.
Este trabalho tem como objetivo analisar a relação entre a educação e a população negra no sul de Minas, região
em que os membros deste grupo racial tinham menor capacidade de circulação no espaço social. Isso pode ser
constatado através de dados demográficos que indicam a elevada proporção de escravos em meio à população
das cidades desta região. Pode também ser constatado através da comparação com outras regiões de Minas,
onde é possível perceber que os negros tinham uma presença significativa na população livre, inclusive com
elevado registro em meio aos alunos das escolas elementares, como ocorria na região central de Minas Gerais.
Para construção da análise utilizamos como referência a trajetória de Padre Victor (1827-1903) que nasceu em
Campanha/MG, onde frequentou escolas de instrução elementar e latim; posteriormente foi para o Seminário
Nossa Senhora da Boa Morte, em Mariana/MG, tornando-se sacerdote. Em 1852, tornou-se vigário na cidade de
Três Pontas/MG, atuando também como professor público de latim e francês. Nesta mesma cidade, foi diretor do
Colégio Sacra Família, escola que foi criada e dirigida por ele com objetivo de educar a mocidade da região, foi
também diretor da primeira escola normal da cidade, fundada no ano de 1895. Padre Victor foi considerado uma
pessoa profundamente generosa, sendo atribuída a ele a condição de santo. A idéia de santidade permaneceu
após a sua morte dando origem a um forte movimento de culto a sua imagem, resultando na construção de um
processo para sua canonização que, atualmente, encontra-se em curso no Vaticano. Neste trabalho utilizaremos
como referência a idéia de ilusão biográfica, de Pierre Bourdieu, para analisar registros relativos à sua trajetória
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
de vida. O primeiro deles foi produzido em 1946, por um ex-aluno chamado João Abreu Salgado, Magnus
Sacerdos: Conêgo Padre Vitor; o segundo foi produzido em 1973, por padre Victor Rodrigues de Assis tendo como
título Vida e vitórias de monsenhor Francisco de Paula Victor: o patriota e milagroso padre Victor de Três Pontas.
Por fim, analisaremos o livro Padre Francisco de Paula Victor: o Homem de Deus para o mundo, publicado em
2004, por Maria Rogéria de Mesquita e Nilce de Oliveria Piedade, através da Associação Padre Victor de Três
Pontas. A partir destes registros procuramos demonstrar a implicação da condição racial na trajetória social de
Padre Victor e também, que a sua atuação como educador foi um dos elementos acionado para construir a
condição de homem santo deste padre negro que viveu no sul de Minas Gerais.
Neste texto buscamos compreender como se davam as ações médicas para construir a biotipologia das crianças
que frequentavam as aulas de educação física nos grupos escolares e nas escolas isoladas da cidade do Recife na
década de 1911-1945, com vistas a perceber como a biotipologia tentou estabelecer uma hierarquia entre
brancos e negros a partir das suas práticas de racialização no ambiente escolar. A periodização aqui adotada
tomou como referência inicial o momento de institucionalização dos grupos escolares em Pernambuco, enquanto
que o marco final refere-se ao Estado Novo, período que foi marcado por uma preocupação mais acentuada do
estado brasileiro em relação à definição da “figura do homem brasileiro.” Para tanto, foram elaborados muitos
estudos antropométricos objetivando o estabelecimento do biótipo do escolar pernambucano. Tais estudos
visavam criar turmas escolares homogêneas física e intelectualmente. Assim, as discussões em torno do
higienismo e do pensamento eugênico se materializaram no universo escolar a partir das prescrições e
normatizações que iam desde a construção das escolas até o seu funcionamento, marcando, portanto
singularidades da cultura escolar especialmente no âmbito dos grupos escolares. Baseados nas discussões,
comumente racializadas, a elite intelectual e política procurou explicar biologicamente o atraso pelo qual se
encontrava a nação brasileira. Para tanto, a proposta apontada para sair daquela situação era a harmonização de
um tipo nacional, buscando-se para isso o “branqueamento” da sociedade brasileira, ora de forma mais explicita
ora mais velada. Utilizamos como fontes: leis, decretos, relatórios, regimentos, regulamentos e reformas da
instrução pública, programas de ensino das escolas primárias, relatórios e jornais de grupos escolares, anuários
estatísticos de ensino, mensagens de governadores sobre a educação, revistas do ensino, da área médica e de
assuntos gerais. Nos baseamos teórica e metodologicamente na Nova História Cultural, além de estudos sobre o
pensamento racial brasileiro e sobre história da educação no Brasil. Percebemos que nas escolas primárias a
antropometria foi utilizada com o intuito de estabelecer o biotipo do escolar pernambucano. Nesse processo o
fator racial era levado em consideração e a classificação adotada era a de Edgard Roquette-Pinto:
leucodermos(brancos), faiodermos(brancos x negros), xantodermos(brancos x indios) e melanodermos(negros).
Nesse contexto, destacamos o papel que teve a matéria de educação física no cenário nacional e local tendo em
vista que as políticas de racialização, baseadas testes e medições antropométricas imprimiram a missão de
revigorar a raça e garantir o estabelecimento de uma sociedade saudável fisicamente, intelectualmente e
moralmente.
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 04
A proposta aqui apresentada unifica-se pelo propósito comum de compreender processos de produção do
conhecimento histórico educacional mediante o exame de casos específicos do recurso a fontes e métodos
diversos. As comunicações retomam e analisam, assim, entre outros aspectos, em especial, a utilização da
legislação e dos manuais de ensino situando a discussão a partir de estudos desenvolvidos acerca de situações
determinadas como a educação no Maranhão na primeira república e a elaboração de manuais escolares e os
sentidos por eles assumidos no campo educacional, em São Paulo, no período entre as décadas de 1940 e 1950.
Características dos processos de autoria e legitimação dos manuais são objeto de atenção. Também se confere
lugar de destaque para as potencialidades da legislação (e de diversas outras fontes) no confronto entre as
proposições oficiais e a concretização de práticas na vida escolar, a partir da análise da situação do ensino de
história da educação em Minas Gerais constatando o baixo nível de correspondência entre prescrições e
realizações no ensino. Questões ligadas à produção do conhecimento histórico educacional e suas configurações
em países (como Portugal, França e Espanha), cujas relações com o Brasil tem sido marcantes, são o ponto de
partida para a discussão sobre o trânsito de modos de interpretação, escolhas teóricas e recurso a fontes que
predominaram entre nós desde a década de 1970. As comunicações em seu conjunto evidenciam a preocupação
com as possibilidades de concorrer para a história do ensino, da produção de conhecimentos, das escolas e da
profissão docente. As potencialidades e limites dos diferentes materiais são problematizados em cada um dos
trabalhos bem como o são as questões relativas às experiências de identificação, sistematização e
disponibilização, como se sublinha na investigação sobre a situação do ensino primário no Maranhão. Desse
modo, é possível afirmar que os estudos reunidos na proposta caracterizam-se de forma convergente ao se
ancorar, cada um deles, numa investigação específica de objeto e periodização autônomos e realizar,
simultaneamente, incursões metodológicas que explicitam e debatem o potencial de fontes e métodos
exemplificando marcas teóricas e enquadramentos diversos que mostram modalidades de construção de
interpretações em História da Educação.
Trata-se de uma reflexão teórico-metodológica realizada a partir de experiência de investigação sobre o percurso
disciplinar da História da Educação na escola secundária e superior brasileiras, na qual houve emprego de
evidências de pesquisa diversificadas. De um lado, no que se refere as fontes relacionadas ao exame das
finalidades ideais, que podem ser melhor compreendidas na relação entre escola e sociedade, em sua variedade
de projetos políticos e culturais, as fontes de investigação incluíram: as ideias educacionais veiculadas em livros,
jornais e revistas; as legislações de ensino; as notícias veiculadas pela imprensa de modo geral e a pedagógica de
modo particular; os programas de ensino; os manuais; os diários de classe; etc. De outro lado, compreendendo as
fontes relacionadas às realidades pedagógicas, que compõe um universo de instituições escolares, com fontes
que incluem: cadernos de alunos, provas escolares, iconografia, imprensa escolar e, quando possível, a
construção de documentos escritos a partir de depoimentos orais. Consciente desta situação, a experiência de
investigação que será relatada e sobre a qual repousa a presente reflexão, incluiu, primeiramente, o
levantamento minucioso dos programas e dos manuais de História da Educação em circulação no Brasil desde o
início da vigência da disciplina, do qual resultaram listagens completas, bem como com a montagem de um
acervo documental integrado pelo conjunto destes documentos e obras, a partir do qual, tem sido possível
desenvolver uma série de esforços de interpretação sobre o conteúdo definido para disseminação na disciplina.
Ao lado deste esforço, outro de maior envergadura tem encontrado lugar na experiência de pesquisa, o que
inclui o exame das práticas de ensino da disciplina História da Educação em instituições escolares específicas,
neste caso, na região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, no estado de Minas Gerais, tanto no nível
secundário, mas, também, no nível superior, para o que um conjunto variado de fontes relacionado ao ensino
veiculado nas salas de aula tem sido buscado e examinado, com resultados de grandes fertilidade para a
34
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Neste trabalho tratamos da instrução pública maranhense na primeira república partir das fontes legislativas.
Esta fonte é de fundamental importância para a compreensão do movimento da instrução pública nos níveis
primário e secundário, na medida em que a partir delas podemos identificar os vários procedimentos adotados
pelos dirigentes do Estado para fazerem a “maquinaria escolar” funcionar. Ou seja, podemos compreender o
modo pelo qual eram contratados os professores e as professoras, a criação e substituição de cadeiras,
construção, reformas e adaptações dos edifícios escolares, locais e espaços onde eram edificadas essas
instituições e os artefatos utilizados como livros, cadeiras, quadros parietais, cadernos, etc. Enfim, essas fontes
representam as diversas estratégias adotadas pelos dirigentes para atenderem a crescente demanda por
instrução no amplo território do Maranhão. Para a realização desta pesquisa nos centralizamos em duas
perspectivas metodológicas. A primeira a realização de um levantamento bibliográfico para identificarmos
estudos similares realizados no Brasil: Sá e Siqueira, em Mato Grosso (2000), Miguel e Martin, no Paraná (2000),
CURY, (2005), na Paraíba e Stramatto e Gurgey no Rio Grande do Norte, por exemplo. Segundo passo foi à
pesquisa documental junto ao Arquivo e Biblioteca Pública do Estado do Maranhão para mapearmos a massa
documental armazenada e o estado de conservação da mesma. Em seguida, realizamos a catalogação das leis.
Para tanto, elaboramos ficha onde descrevemos as fontes por ano, tipologia (lei, decreto, portaria), localização,
estado de conservação, etc. Em seguida, os documentos foram transferidos para uma base de dados para
indexação e recuperação da informação através de palavras-chave. Em paralelo transcrevemos as fontes
localizadas e as que apresentaram bom estado de conservação, foram digitalizados e/ou escaneados e aquelas
onde estes procedimentos não foi possível foram transcritas. Em seguida, realizamos a atualização ortográfica da
documentação digitada/transcrita. A partir desses procedimentos iniciamos o processo de análise da legislação,
dando ênfase às contribuíram para a estruturação e organização da educação maranhense procurando-se
correlacionar as medidas impostas pelo regime republicano que trazia a ideia de uma escola moderna e capaz de
propiciar o progresso e a civilidade do Maranhão. Destaca-se no conjunto da legislação (leis, decretos e portarias)
as relativas aos grupos escolares, a Escola Modelo “Benedito Leite” e a Escola Normal, instituições mais
representativas da educação maranhense no primeiro período republicano. Palavras-chave: Legislação
educacional. Fontes Históricas. Maranhão República.
A pesquisa mobilizou como fontes prioritárias os manuais de língua portuguesa para as séries ginasiais, editados
nas décadas de 1940 e 1950, de autoria de professores paulistas, e a defesa do ensino do idioma pátrio através
da didática moderna, que pregava o aprendizado da gramática a partir de textos literários. A coleção “Páginas
Floridas”, de Francisco Silveira Bueno, editada pela Livraria Acadêmica, Saraiva e Cia e a “Coleção Didática do
Brasil – Série Ginasial- Português”, assinada por Aída Costa foram selecionadas como exemplares representativos
de compreensão da circulação de novos padrões didáticos por professores-autores que ocuparam posições
relevantes no campo educacional paulista. A produção de pesquisas no campo da História da Educação, nas
últimas décadas, tem demonstrado a importância das temáticas relacionadas com a História da Profissão
Docente. Através de fontes diversas, registros da atuação de professores, suas práticas de formação e de
docência, suas estratégias de organização e de produção de saberes, bem como, as trajetórias de diferentes
professores e professoras estão sendo inventariados e analisados nas diferentes regiões do Brasil, entre outros
estudos, que tratam destas temáticas, em diferentes estados brasileiros, indica-se: Catani (2003;2008); Bastos,
Bencostta e Cunha (2004); Peixoto e Passos (2005); Vasconcellos e Nascimento (2006); Araújo, Freitas e Lopes
(2008); Souza e Mignot (2008); Tambara e Corsetti (2008 e 2009); Vicentini e Lugli (2009). Legitimidade,
experiência, competência didática comprovada, aprovação em concursos públicos, exercício do magistério em
35
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
instituições de ensino renomadas, formação acadêmica, domínio de línguas estrangeiras, entre outros elementos
parecem produzir “efeitos” específicos na autoria-didática, na primeira metade do século XX. Nos “conflitos de
poder” estabelecidos entre as editoras para a seleção e manutenção de autores e coleções de livros, neste
período, observamos que as disputas são travadas não apenas no campo educacional, mas também diante de
“normas” que regem o campo editorial. Diante deste contexto, pode-se perguntar: por que, para que e para
quem escreveriam os professores e as professoras? Em que medida a escrita docente de livros didáticos servia
como mediação para os processos de legitimação na carreira do magistério? Seriam apenas objetivos materiais
que estimulariam os professores e as professoras a escreverem livros didáticos? A pretensão do estudo foi
contribuir com a História da Profissão Docente, e com a História das Disciplinas Escolares ao desvendar a
trajetória de dois professores-autores, que difundiram o ensino de português e literatura, a partir de coleções,
que foram produzidas em São Paulo, e tiveram circulação ampliada. Palavras-chave: Ensino Ginasial. História da
Profissão Docente. Manuais.
O trabalho aqui apresentado beneficia-se dos resultados da investigação realizada sobre a produção de
conhecimentos na área dos estudos educacionais e, em especial, sobre a produção dos estudos da história da
educação no Brasil. Para tanto recorre à pesquisa dos processos que permitiram a construção e renovação de
matrizes interpretativas a partir do exame da produção da área em países que sabidamente estabeleceram, nas
últimas décadas, importantes relações acadêmicas com o nosso país, isto é França, Espanha e Portugal. Indicam-
se, assim, as relações entre as transformações da escrita histórico educacional no Brasil e nos países citados
atentando especialmente para as apropriações decorrentes de intercâmbios, deslocamentos e viagens dos
conhecimentos. O projeto original ancorou-se numa delimitação temporal que abrangeu o período desde 1970
até a primeira década do século XXI. Procura-se aqui evidenciar os aspectos do estudo que se ligam à história
educacional elaborada nos quatro países e que se mostra em teses, artigos e balanços efetuados sobre a
produção e suas características de construção. Mantendo-se nos limites de uma perspectiva comparada mostra-
se a partir dos resultados do projeto, algumas das características assumidas pela produção da história da
educação e as transformações que caracterizaram a produção brasileira no período relacionando-as ao caso dos
diferentes países mediante o exame dos procedimentos e escolhas teóricas recorrentes, ao privilégio conferido a
tipos específicos de fontes e a autores representativos de modos de produzir a investigação-interpretação. Tanto
quanto possível, para cada caso buscou-se, no desenvolvimento do projeto que sustenta a análise apresentada,
dar conta das relações entre as condições do campo e as operações lógicas de análise. Desse modo, pode-se
construir um entendimento das aproximações e distanciamentos na concretização da história da educação
nesses espaços. Da observação de diferentes formas de apropriação decorrentes de intercâmbios,
deslocamentos e viagens dos pesquisadores e dos conhecimentos é possível, na análise do material, identificar
não apenas as dimensões da caracterização interna da produção, mas igualmente características devidas a
especificidades das escolhas e posições de pesquisadores no campo em tempos diferentes. Dentre as referências
que auxiliaram a análise na perspectiva dos estudos sócio- histórico-comparados cabe sublinhar Schriewer,
Nóvoa e C. Charles dentre outros. Palavras-chave: Produção histórico-educacional, Estudos sócio- histórico-
comparados, Escrita da história da educação.
36
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 05
A mesa apresenta uma discussão sobre a história da educação científica no Brasil entre a segunda metade do
século XIX até finais dos anos 1960 investigando, os conteúdos de ensino de disciplinas científicas e a seleção
cultural feita pela escola em relação a esses saberes. Busca-se a ampliação das discussões sobre a história do
ensino das ciências considerando tanto as especificidades da vida escolar, como os nexos com o contexto
sociocultural, nos seguintes aspectos: a ocupação dos saberes científicos nos curriculos escolares; as mudanças e
permanências que ocorrreram nos programas de ensino ao longo do período indicado; o uso de objetos
pedagógicos em espaços específicos para essa finalidade. O fato de o currículo humanista ter sido hegemônico
por quase dois séculos de escolarização não apaga as discussões sobre a entrada e o fortalecimento das ciências
da natureza no currículo escolar e nem a existência de objetos científicos, como conteúdos e recursos de ensino
no Colégio Pedro II desde 1858. Trata-se, portanto, de pensar a constituição da educação científica em seus
próprios termos e significados históricos construídos, apresentando os atores envolvidos e seus respectivos
espaços de saber, fosse na docência ou no fomento de políticas educacionais, demarcando a necessidade do
ensino das ciências como elemento para o progresso e, posteriormente, para o desenvolvimento do país. Propõe-
se a criticar um tipo de pesquisa dito “histórico” do ensino das ciências que apela à evolução do tempo
cronológico, percebendo-o como o único formato do tempo histórico, para tratar de “resgates” e “trajetórias”,
entre os métodos de ensino mais antigos aos mais modernos, evidênciando a inovação como a principal
qualidade das Ciências. Essa perspectiva parece desconhecer que a racionalidade científica não acontece por
abstração pura em constante evolução, desconsiderando o jogo dinâmico, clivado no tempo, entre cientistas,
professores, produção do conhecimento, produtores de materiais e processo de escolarização. Para tanto, os
trabalhos da mesa apresentam as seguintes perspectivas: 1. A maneira pela qual os animais taxidermizados
foram tornados materiais didáticos entre meados do século XIX e começo do século XX entendendo-os pela
“biografia” do objeto, ou seja, por sua trajetória de uso, entre a apropriação, aquisição e abandono da prática
escolar; 2. A análise de como era a relação entre os professores de ciências e o mercado de objetos didáticos
científicos no estado de São Paulo no período da Primeira República, mostrando a dialética entre os interesses
pedagógicos modernizadores e o estímulo comercial dado pelo mercado didático; 3. O programa de ensino e a
análise das concepções de educação em ciências veiculadas nas reformas educacionais entre os anos 1920-1950;
4. A comparação dos programas de ensino de Química que foram propostos entre os anos 1940-1960 e a análise
dos conteúdos conceituais e dos métodos de ensino que prevaleceram nesses documentos.
O estudo teve por objetivo analisar a maneira pela qual animais taxidermizados foram tornados materiais
didáticos entre meados do século XIX e começo do século XX. Nesse período, ocorreu a renovação dos currículos
escolares, mais sensíveis ao ensino de ciências, acompanhado pela exigência do aprimoramento da “observação”,
principalmente de coisas. A utilização de animais taxidermizados como ferramenta de ensino significava uma
guinada pedagógica, já que apontava para um conhecimento dito “prático”, contrário à recitação. O teor do
método intuitivo permeou o ensino Primário e o Secundário que se apropriaram da noção de treinamento da
observação, também favorecida pela entrada das ciências no currículo. Escolas passaram a contar com gabinetes
para o ensino de Física, Química e História Natural. Por meio do estudo dos animais taxidermizados, foi possível
conhecer a biografia deste material “peculiar” dentro de um quadro histórico que compreendeu a sua produção;
sua inserção na cultura, como itens ornamentais colecionáveis e/ou objetos de estudos para os naturalistas,
antes mesmo de seu uso didático; a apropriação escolar; comercialização até o “abandono” dessa modernidade
pedagógica em meados dos anos de 1950. Foi apreendido que esses itens aproximavam aos olhos dos alunos
uma natureza distante e, na maior parte das vezes, selvagem. Tais artefatos serviam para que aluno fizesse a
descrição e reconhecimento das especificidades do animal; a comparação entre os animais, da mesma ou de
espécies diferentes; a classificação segundo o saber corrente da Zoologia que à época se fazia pelo estudo da sua
morfologia, da anatomia externa do animal. Foi percebido que essas práticas visavam veicular e introjetar no
37
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
público escolar, o próprio método científico das ciências naturais. Este estudo se ancora à temática da cultura
material escolar e tem por referenciais Souza (2007), Escolano (2007), Law e Grosvenor (2005). Participa da ideia
de que artefatos escolares são vetores das relações socioculturais presentes na escola. Para esse trabalho foi
mobilizada a documentação escolar variada: a coleção de animais taxidermizados, do Colégio Marista
Arquidiocesano de São Paulo; os livros didáticos da Biblioteca do Livro Didático (FEUSP); legislações educacionais,
manuais de naturalistas do século XIX, os relatórios produzidos pela França relativos às Exposições Universais dos
seguintes anos: 1851, 1855, 1862, 1889. O presente trabalho apresenta os resultados obtidos em pesquisa de
mestrado. Prática Escolar, Taxidermia, Cultura Material Escolar
Os objetos invadiram o sistema de ensino no Brasil e no mundo, seduzido pelo fascínio de uma pedagogia dos
sentidos. A ideia de obtenção de conhecimento por meio da experiência direta com a chamada “realidade”
passou a elencá-los como recursos imediatos e meios vantajosos para que fosse executado o ato de ensinar. Na
educação, tal processo que dependia da visualização direta de coisas para a obtenção de conhecimentos foi
difundido sob a denominação de “método intuitivo”, fundamentado pela hipótese de que sujeitos aprendiam
partindo de noções concretas às abstratas. O uso de artefatos como necessidade pedagógica instigou o interesse
dos defensores deste método de ensino para o estímulo da “observação”, ação que, pelo uso dos sentidos,
desencadearia graus sucessivos de entendimento e conhecimento no aluno. Esse movimento pedagógico instigou
um mercado didático científico. Esse tipo de material foi adquirido, acompanhando os discursos educacionais que
pregavam pelo avanço das ciências no currículo escolar. Instituições de ensino de todos os tipos passaram a
comprar materiais científicos – máquinas, aparelhos, instrumentos, taxidermizados e modelos anatômicos –
vistos como elementos distintivos que as posicionavam entre as escolas modernas; igualmente para exibi-los
como curiosidades. Fabricantes dotavam-nas com o seus produtos, estimulando a circulação comercial; mas
também, informavam e formavam os professores sobre o funcionamento desses mesmos objetos. Portanto, o
vetor contrário, de que o mercado foi um grande estimulador do método intuitivo não pode ser descartado como
hipótese. Essa comunicação tem por interesse apresentar como era o contato entre os professores e o mercado
de objetos voltados ao ensino das ciências no estado de São Paulo, de modo a discutir como essa relação
comercial foi acontecendo em meio à batalha de representações entre o estabelecimento de um “espírito
científico”, frente à hegemonia de um currículo clássico. O caráter transnacional de tal situação, entre a aquisição
de produtos, a recepção e apropriação de conhecimentos, entendendo tais ações como transferências
interculturais, leva em conta os estudos de Ossenbach e Pozo (2011). Para a pesquisa foram investigados os
seguintes documentos: catálogos de venda de objetos científicos; cartas entre professores e as empresas;
registro de aulas de professores; atas de reuniões; inventários; anúncios diversos publicados em jornais;
patrimônio científico-escolar etc. Esses documentos estão distribuídos pelos seguintes arquivos: Arquivo do
Estado de São Paulo; Centro de Referências Mário Covas, acervo da Escola Normal; Primeiro Ginásio da Capital;
Colégio Marista Arquidiocesano; Colégio Marista Glória. Ensino das Ciências, Mercado Didático, Cultura Material
Escolar
Os anos 1920 a 1950 no Brasil foram cenário de transformações sociais, políticas e econômicas, em que o país se
afastou da tradição agroexportadora e se direcionou para a urbanização e industrialização. No primeiro governo
de Getúlio Vargas foram empreendidas duas reformas educacionais importantes para o ensino secundário. A
primeira foi a reforma Francisco Campos (1931), que se estendeu a todo o território nacional, instituindo a
frequência obrigatória, a seriação do ensino secundário, a formação universitária específica dos professores
secundários, e concedendo mais prestígio à educação em ciências no currículo escolar. A segunda foi a reforma
Capanema, intitulada no texto legal como Lei Orgânica do Ensino Secundário (Decreto-Lei nº 4244), que manteve
os sete anos de duração do ensino secundário, caracterizando-se pela valorização da cultura geral e
predominância do enciclopedismo, com a diminuição do tempo escolar para as disciplinas de ciências e aumento
do tempo das disciplinas de humanidades. Gustavo Capanema valorizou o ensino de humanidades no ensino
38
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
secundário, associando-o ao nacionalismo e à formação da elite dirigente do país. Com base nas contribuições
teóricas de Goodson (1983, 1995, 1997) e Chervel (1990), este estudo pretende contribuir com reflexões sobre a
organização das disciplinas escolares de História Natural e Biologia, com foco nos conteúdos e métodos de ensino
entre os anos 1920-1950. Tomando como principais fontes programas de ensino e textos da imprensa
pedagógica, o intuito foi compreender as concepções de educação em ciências veiculadas em documentos da
época, na perspectiva de apontar mudanças e permanências nos conteúdos e saberes dessas disciplinas
escolares. A análise indicou que a seleção e organização de conteúdos nos programas do ensino secundário se
diferenciaram no período, com a presença da Botânica e da Zoologia, ramos tradicionais da História Natural, na
maioria dos programas; a inclusão da Biologia Geral a partir do programa do curso complementar em 1931; e
exclusão da Geologia e Mineralogia no programa de 1943. Das “lições” e “pontos práticos” nos programas dos
anos 1920 aos métodos ativos e experimentais nos discursos dos anos 1930-1950, acentuou-se a tendência de
valorização de uma educação com base científica e calcada em saberes especializados. Argumenta-se que as
modificações nos programas de ensino de História Natural e Biologia na primeira metade do século XX sinalizam
sua gradual reconfiguração, sob a influência do desenvolvimento das Ciências Biológicas desde o final do século
XIX e das finalidades pedagógicas e sociais da educação escolar. Educação em Ciências, Ensino de Biologia,
História das Disciplinas Escolares.
Neste trabalho serão apresentados alguns resultados obtidos durante o desenvolvimento do projeto “O ensino
de Química no Brasil – 1945/1971” que definiu como objetivos: 1. Entender as concepções de educação em
Química que predominaram no nível secundário entre o final da Segunda Guerra e a promulgação da Lei 5692/71
e 2. Fazer uma aproximação com as práticas pedagógicas escolares que foram estimulas para o ensino de
Química nesse período. Nos anos 1950 e 1960, ocorreu um movimento com os objetivos de atualizar os
conteúdos pedagógicos e promover métodos práticos para a educação em ciências que resultou, entre outras
iniciativas, na criação do Instituto Brasileiro de Educação em Ciências e Cultura (Ibecc), na formação da Fundação
Brasileira para o Desenvolvimento do Ensino de Ciências (Funbec) e nas traduções dos projetos de ensino
elaborados por cientistas estadunidenses. Tendo em vista essas iniciativas e o contexto sociocultural da época,
procurou-se responder a seguinte questão: qual foi o alcance das propostas de transformação da educação,
especialmente em Química, elaboradas nesse período? Ou, formulada de outra forma: as propostas de
modificação da educação em ciências se concretizaram na escolha dos conteúdos conceituais e na opção dos
métodos de ensino? Visando responder a essas questões, tomaram-se como referência as ideias de Chervel,
sobre a possibilidade de tratar a disciplina escolar como um objeto histórico, e as ideias Goodson, sobre a
construção social dos currículos, para se analisar as transformações dos programas de educação em Química, no
contexto do pós-guerra e o impacto que a “comunidade disciplinar” ou “comunidade de referência”, entendida
como o grupo com mais poder de legitimação da disciplina escolar, exerceu sobre a definição dos programas de
ensino de Química. Para a realização dessa análise foi feita a comparação entre os programas de ensino de
Química que foram propostos em 1943 e em 1951, e as orientações que surgiram para essa disciplina após a
promulgação da LDB, em 1961, que vigoraram em termos legais até a reforma educacional promovida pelo
regime militar com a Lei 5692/71. Os resultados apontaram que, nesse período, houve uma mudança nas
concepções de educação em Química. Em relação aos conteúdos conceituais, os temas sociais ou mais próximos
da vida cotidiana foram substituídos por conteúdos conceituais mais abstratos e, no caso das metodologias de
ensino, houve um retorno à “química descritiva” em detrimento das metodologias ativas. Educação em Química,
Programas de Ensino, Currículo de Ciências
39
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 06
O trabalho busca resgatar a presença de escolas isoladas na cidade de Belo Horizonte, no período entre a
Reforma de 1906, que instituiu a escola graduada no estado mineiro e a Reforma de 1927, que implementou a
pedagogia escola novista, tendo como fontes a legislação educacional, relatórios de inspetores, correspondências
oficiais, cartografia. Tem-se em vista apreender o lugar social das escolas multiseriadas, após a implementação da
escola graduada. O projeto republicano de instrução centrou-se naquele período na criação dos grupo escolares.
Tal projeto era voltado para os espaços urbanos, demandando recursos para prédios, funcionários e cultura
material sofisticada. Porém, as condições históricas de um país rural, com um modelo federativo que imputava
aos estados a responsabilidade pela instrução determinaram um alcance limitado e socialmente restritivo das
escolas graduadas. As escolas isoladas permaneceram numericamente dominantes no país até meados do século,
embora secundarizadas nas políticas de instrução e demonizadas nos discursos dos educadores e dirigentes,
produzindo seu apagamento na história e historiografia da educação primária. Ainda que presentes nos centros
urbanos, afirmou-se historicamente a associação entre escola rural e escola isolada, representantes do atraso e
ineficiência na oferta da instrução. No caso de Belo Horizonte, cidade republicana planejada para reproduzir na
ocupação dos espaços a estratificação social, observa-se a dificuldade do acesso à escola graduada por parte dos
setores populares. Os recursos foram concentrados na criação dos grupos escolares, inicialmente localizados no
centro da cidade, atendendo aos extratos superiores, precarizando-se as escolas isoladas, que atendiam
preponderantemente à população pobre das zonas suburbana e colônias agrícolas. Observa-se, ao longo do
período, oscilação e ambiguidade nas políticas de instrução dirigidas a estas escolas na cidade. Por um lado,
verifica-se um progressivo investimento na sua qualificação, com elaboração de plantas que padronizassem os
prédios, pagamento igualitário dos docentes dos grupos( desde que normalistas), financiamento de auxiliares de
ensino. Por outro, mobiliário, material didático, presença de caixa escolar(recurso que buscava garantir a
frequência dos alunos) eram secundarizados em relação aos grupos. Tal ambiguidade do projeto de instrução é
demonstrativa do modelo restritivo de cidadania da primeira república. No caso de Belo Horizonte fez-se
presente tanto a elitização dos grupos escolares, quanto o investimento, ainda que limitado, nas escolas isoladas,
configurando- as como um mal necessário, ante as dificuldades de universalização da instrução. Palavras chave:
cidade- escola isolada- República
Apresentamos resultados de pesquisa concluída sobre os tipos de escolas primárias existentes no município de
Iguaçu, estado do Rio de Janeiro, entre 1916-1950. O município apresentou uma significativa expansão na oferta
de escolas primárias nas primeiras décadas republicanas. A partir da análise dos mapas de frequência escolar –
ferramenta de inspeção estadual das escolas – foi possível restituir um perfil de escolas primárias. A escola
isolada predominou como tipo de organização das escolas, tanto em áreas rurais quanto urbanas do munícipio.
Os mapas de frequência, ao fornecerem indícios que permitem situar a distribuição nas escolas em um mesmo
município, constituem uma fonte importante para os estudos de história local. O trabalho sistemático realizado e
o cruzamento com outras fontes revelaram a expressiva presença de escolas públicas estaduais e municipais de
ensino primário em Iguaçu e no distrito-sede – nas décadas de 1930 e 1940. A presença de escolas foi maior no
distrito-sede em todo período coberto pela pesquisa. A localização das escolas no distrito- sede revelou a maior
presença de escolas de localização urbana, nas principais ruas e no entorno central do distrito-sede. A
experiência da microanálise imposta por este tipo documental institui uma escala de observação para a
40
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
compreensão da diversidade e heterogeneidade dos processos de escolarização. Quanto ao formato das escolas,
da seriação de ensino ofertada, da organização de turnos, dos professores e alunos por elas distribuídos,
localizamos a existência de múltiplas experiências de escolas primárias no município, sendo, contudo,
predominante a escola isolada com até as três primeiras séries do ensino. A comparação da movimentação de
alunos por classes, séries e turnos restitui um cotidiano diversificado. Quadro de adjuntos, turno, série e classe
eram variáveis agregadas de diferentes modos, revelando a coexistência de tipos diferentes de escolas e as
apropriações realizadas dos termos classe, série, turno, em face da implantação do novo regime de organização
das escolas. Nas contradições que permearam este processo, observava-se o contraste entre a homogeneidade
pretendida pelos projetos de norma zação elaborados pelo estado, e a pluralidade das experiências, a
instabilidade, as estratégias promovidas para povoar as escolas de alunos, professores, modos e condições de
funcionamento. Estes resultados da pesquisa agregam subsídios ao debate historiográfico sobre a importância
das escolas isoladas públicas nos processos de expansão da escola primária nas primeiras décadas republicanas.
Palavras-chave: escola isolada, mapa de frequência, seriação.
Este trabalho centrou-se no exame das representações das escolas isoladas na documentação do estado do Rio
Grande do Sul durante o início do século XX. Embora seja inegável que a escola seriada tenha sido identificada
como uma instituição de melhor qualidade ao longo desse período e progressivamente tenha passado a
predominar em termos quantitativos, esse processo não se deu sem resistências. A historiografia da educação
recentemente tem dado maior atenção a essas escolas numerosas e reputadas quase sempre como de pior
qualidade, cuja existência deveria durar apenas enquanto ou onde não se tivesse condições de substituí-las por
uma escola seriada. É no sentido da compreensão das representações acerca dessas escolas que este estudo
pretende contribuir. Opera-se aqui a análise a partir do conceito de representação, conforme definido por Roger
Chartier (2002). Ou seja, busca-se compreendê-la como percepções do social que mobilizam estratégias e
práticas pretendendo impor-se sobre outras. Nesse sentido, objetivou-se compreender a coexistência de
discursos antagônicos como evidência da luta de representações. Numerosas no estado do Rio Grande do Sul, as
escolas isoladas vão existir/resistir por um longo período – fisicamente, é certo, mas também no imaginário das
pessoas que, mesmo recentemente, estudaram nessas instituições. Até pelo menos os anos 1940, a matrícula
nessas escolas, de diversos tipos e administradas por diferentes instâncias, foi numericamente mais expressiva
do que a das escolas seriadas, cuja instalação se deu em 1909 no estado. Nem sempre essas representações
reportam uma escola precária, indesejável. Aqui, interessa sublinhar a necessidade de aprofundar os estudos
sobre essas escolas sul-rio-grandenses, buscando conhecer suas características, as resistências e os arranjos na
composição com o novo modelo. Neste estudo, num primeiro momento, tentou-se evidenciar a expressiva
participação das escolas isoladas nas matrículas do ensino público no estado durante a primeira década de
funcionamento da escola seriada. Em seguida, pretendeu-se destacar aspectos do discurso oficial ressaltando as
oscilações entre a defesa desses “pequenos focos de luz” espalhados pelo amplo território do estado e a
proposição de sua substituição pelos colégios elementares e grupos escolares, que puseram em funcionamento
no Rio Grande do Sul o modelo seriado. Para tanto, foram analisados os Relatórios da Secretaria do Interior e do
Exterior publicados entre 1909 e 1920, além da legislação que regulamentou o funcionamento da instrução
pública no período. No que se refere à legislação, foi dada especial atenção ao decreto nº 89, de 2 de fevereiro
de 1897, que reorganiza a instrução pública do estado em consonância com as necessidades do novo regime
político. Palavras-chave: escola isolada, escola seriada, matrículas
Esta pesquisa tem por objeto a organização do trabalho didático nas escolas isoladas paulistas no período de
1893 a 1932. Neste período ocorreu a criação e a predominância dos grupos escolares sem, contudo, extinguir-se
as escolas isoladas. Fundamentando-se no método histórico-crítico, foi estabelecida a organização do trabalho
didático como categoria de análise, objetivando analisar a história e a forma como estas escolas se organizaram
didaticamente para atender à camada pobre, enquanto os grupos escolares voltavam-se à camada média, em
formação naquele período. A fundamentação teórica tem por base os trabalhos de Saviani (2008); Alves (2005);
41
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Marcílio (2005); Souza (1998, 2009); Reis Filho (1995); Infantosi (1983). Os documentos impressos e manuscritos,
constantes no Arquivo do Estado de São Paulo, foram as fontes primárias consultadas. No primeiro período
republicano, a necessidade de universalização da instrução pública brasileira levou à criação dos grupos
escolares, que atendiam, inicialmente, aos grandes centros urbanos; para os centros menores e bairros
populosos, criaram-se as escolas reunidas. Contudo, estas escolas não atendiam aos bairros afastados,
periféricos, às vilas, nem às áreas rurais; locais onde a instrução deveria chegar também, para alcançar a
universalização pretendida. Coube, então, às escolas isoladas assumiram a função de dar uma formação básica –
leitura, escrita e as operações elementares da aritmética – à população pobre, residente nesses locais.
Funcionando em casebres, as Escolas Isoladas herdaram das Escolas de Primeiras Letras, principalmente, o
atendimento, em uma só sala, por um único professor, com crianças de idades variadas e em diferentes níveis de
adiantamento. Conforme Souza (2009), enquanto os grupos escolares caracterizavam um tipo de escola de
melhor qualidade, consolidava-se um sistema escolar excludente, privilegiando determinados setores sociais e
discriminando setores populares de menor poder aquisitivo. Para Cunha (1978) as escolas elementares,
destinadas aos filhos dos trabalhadores, eram de qualidade muito baixa, a educação por eles recebida era
incomparavelmente inferior à dos filhos das classes dominantes e das camadas médias. No período da Primeira
República brasileira foi conveniente manter as escolas isoladas para atender às classes populares suburbanas
e/ou rurais, economicamente carentes, educando, em pouco tempo, crianças cujo serviço era muito cedo
aproveitado pelos pais. Nos grandes centros urbanos, os grupos escolares atendiam aos filhos dos trabalhadores
mais especializados e, para a elite, escolas particulares nacionais ou estrangeiras. Palavras-chave: Escolas
Isoladas; Grupos Escolares, Organização do Trabalho Didático.
42
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 07
Esta proposta de comunicação pretende articular quatro pesquisas no âmbito da História das Instituições
educativas, em diversos espaços e temporalidades brasileira. Insere-se no eixo História das Instituições e práticas
educativas e pretende dialogar com a história da instalação de diversas congregações confessionais femininas no
Brasil, a implantação de suas escolas e as práticas educativas desenvolvidas no interior das instituições aqui
analisadas. O diálogo das pesquisas aqui apresentadas busca perceber as proximidades e distanciamentos das
práticas educativas, nas suas culturas congregacionistas. Além disso, busca-se articular a análise das práticas
educativas com as diferenças étnicas ou sociais no interior de cada instituição. Percebe-se que, além de educar
meninas das elites e pagantes, com o intuito de praticar uma ação caritativa, as instituições confessionais
femininas católicas aceitavam educar e preparar para o trabalho meninas pobres ou órfãs. Esta era uma prática
comum na maioria destas instituições desde o início do período moderno, variando no público assistido e no tipo
de atividade ensinada de acordo com as regras da Congregação religiosa e com as necessidades do espaço de
instalação da obra caritativa. No período Moderno, para além da preparação para o casamento e para a
maternidade, as instituições femininas católicas, além do preparo da instrução e da moralização, foram também
responsáveis por preparar as educandas para o desenvolvimento de diversos tipos de trabalhos, principalmente
domésticos e manuais. A história das instituições escolares faz parte de uma tendência recente das pesquisas
historiográficas, especificamente dentro dos quadros de temáticas regionais. Muitas pesquisas se perdem no
singular, mas salienta-se que é importante perceber o particular, mas sem perder de vista o geral. Como as
instituições são criadas para satisfazer determinadas necessidades humanas, elas tornam-se unidades que estão
sempre em construção e transformação. Constituem-se como um sistema de práticas, com agentes e
instrumentos que atinjam as finalidades esperadas. Quando pensa-se em instituições educativas, trabalha-se com
um emaranhado de instituições que existem em determinado espaço e tempo para a construção e ordenamento
da educação de um determinado grupo social. Assim, esta proposta de comunicação coordenada pretende
trabalhar as especificidades da instalação de determinadas congregações femininas e a criação de instituições
educativas em territórios distintos. A diversidade das análises das instituições propiciam a percepção de
aproximações e distanciamentos nas práticas educativas das congregações católicas aqui analisadas: A
Congregação das Filhas de Caridade de São Vicente de Paulo; a Congregação de Nossa Senhora de Sion; a
Congregação das Filhas da Imaculada Conceição; por fim, uma comparação entre as Congregações Nossa Senhora
do Calvário de Gramat e Sagrada Família de Bordeaux.
Este trabalho pretende dialogar com as discussões teóricas acerca da História Conectada, a partir das reflexões
propostas pelo historiador francês Serge Gruzinski. Segundo este, para que ocorram trocas entre culturas
distintas e enraizamentos nos locais de instalação de um novo grupo cultural, torna-se necessário aplicar práticas
de contato entre os dois polos culturais. Assim, quando as Filhas de Caridade de São Vicente de Paulo chegaram
em Mariana em 1849, estabeleceram contato com os seus superiores em Paris por meio de cartas, que
conectavam a obra mineira com a obra parisiense. Pretende-se então trabalhar com a análise das cartas enviadas
a Paris pela Primeira Superiora de Mariana (Irmã Dubost), entre os anos de 1849 e 1854 e verificar as conexões
estabelecidas para a implantação do Colégio Providência em Mariana. O material pesquisado totaliza 81 cartas,
sendo 59 destas encaminhadas à Superiora de Paris, 14 ao Superior Geral da Congregação da Missão, e oito para
pessoas variadas da Congregação. As correspondências buscavam assegurar a regularidade das ações e da
preservação da cultura organizacional vicentina em solo brasileiro. As cartas estavam repletas de juízos,
referenciados nos valores franceses, católicos e congregacionistas e são considerados primordiais para o
estabelecimento das práticas educativas das vicentinas no solo mineiro. Inicialmente propuseram o
desenvolvimento de diversas obras caritativas em Mariana, mas logo voltaram as suas atenções para a educação
43
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
feminina: órfãs, pobres ou ricas. O acolhimento das meninas mais abastadas estava relacionado à manutenção
financeira das demais obras da Congregação, mas foi especificamente a prática educativa que proporcionou o
distanciamento dos princípios originais, ocasionando mudanças na cultura organizacional, por meio do
desenvolvimento, fortalecimento e expansão do Colégio Providência. A demonstração da capacidade adaptativa
das Filhas de Caridade em Minas Gerais chega até a atualidade, pela própria historicidade e existência do referido
colégio até os dias de hoje. Verifica-se que, no início do funcionamento do Colégio, a educação constituía-se da
divisão das turmas em dois grupos, que ficavam, cada um, a cargo de uma professora. A divisão das alunas era de
acordo com a idade, e não de acordo com sua condição, já que órfãs, meninas pagantes e não-pagantes ficavam
na mesma sala. Mas logo, as diferenças nas práticas educativas entre as meninas pagantes e aquelas órfãs e não–
pagantes foram delimitadas, uma vez que as primeiras receberam uma formação desejada pelas famílias
mineiras, nos moldes de uma civilidade francesa, especialmente no aprendizado de língua estrangeira e do piano;
já as demais alunas eram preparadas para o aprendizado do trabalho manual, como atividades de limpeza,
costura, etc.
Minha pesquisa sobre a educação das jovens nas sociedades francesa e brasileira constitui meu primeiro
argumento para compreender o papel dos colégios católicos e suas práticas educativas, que se desenvolveram no
final do Império e início da República. A atuação pioneira das religiosas francesas corresponde a um campo rico
para a compreensão da educação das jovens brasileiras, quando algumas congregações vieram para o Brasil
especialmente para fundar estabelecimentos de ensino para as filhas da oligarquia cafeeira e industrial. Era
grande a influência entre nós da cultura francesa e os pais de família costumavam enviar suas filhas para
internatos na França para que recebessem uma educação requintada. A vinda dessas religiosas ao solo brasileiro
veio ao encontro dos anseios dessa oligarquia, sem os altos custos de enviá-las à Europa. O sistema educativo
francês permaneceu no XIX, dividido em classes sociais. O ensino secundário era acessível apenas à burguesia,
uma pequena porcentagem da população. Ele era diferenciado também de acordo com os sexos. O sistema
disponibilizava aos rapazes uma variedade de estabelecimentos (particulares e públicos), que davam acesso à
universidade e os preparavam para as profissões liberais. As jovens, por sua vez, eram educadas para se
tornarem boas donas de casa, com aulas de costura, lições de música, com destaque para o piano, a harpa e o
canto. No Brasil, a situação não era muito diferente. Até meados do século XIX não havia preocupação com a
educação feminina. Tal informação é confirmada pelos viajantes de exterior que visitaram o Brasil nessa época.
Em 1827, a lei da Instrução passou a exigir “escolas das primeiras letras” nos municípios mais populosos. As
meninas tiveram acesso ao ensino básico das quatro operações matemáticas, leitura e escrita, enquanto os
meninos tinham acesso às demais disciplinas mais “científicas”. A influência da cultura francesa e dos princípios
liberais que norteavam a política e as sociedades dos países desenvolvidos europeus veio provar aos pais de
família que não era possível manter as mulheres ignorantes, sabendo cuidar apenas da casa e dos filhos. Era
preciso que estudassem mais para poderem conversar com os filhos. A partir de 1850, com a abolição do tráfico
negreiro, iniciou-se no Brasil um período de profundas transformações econômicas, sociais e políticas que
viabilizaram o aparecimento e crescimento das escolas para as jovens nas principais cidades da região sudeste do
país. Elas foram criadas principalmente pelas ordens religiosas francesas. Nesse trabalho, pesquisei fontes
variadas: arquivos públicos e privados da congregação Notre Dame de Sion, uma das primeiras a chegar ao Brasil
no final do século XIX. Estudei os contextos político, social e religioso nos quais viveram as irmãs e alunas de São
Paulo.
Paula Leonardi
Esta comunicação analisa as práticas formativas de religiosas no interior de duas congregações católicas
francesas que enviaram religiosas para o Brasil no início do século XX: Nossa Senhora do Calvário de Gramat e
Sagrada Família de Bordeaux. Tendo desenvolvido suas comunidades no Brasil e com o recrutamento local, essas
religiosas enviaram as noviças brasileiras para formação em suas casas na França. Francesas e brasileiras, as
religiosas atuaram na educação no Brasil nas primeiras décadas do século em escolas ou fora delas. Dessa forma,
essas práticas são analisadas no trânsito França-Brasil e vice-versa procurando relacioná-las com seu tempo, a
origem social dessas mulheres, a cultura de seus países. Intenta compreender de que forma esses elementos se
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
relacionam de modo a oferecer a possibilidade de seguir determinada “carreira” no interior da instituição. Utiliza
como fontes crônicas, circulares e excertos de cadernos de noviças. Havia três períodos na passagem de uma
freira por uma congregação religiosa que permanecem os mesmos até os dias de hoje: formação, vida ativa e
aposentadoria, coincidentes, respectivamente, com a adolescência, vida adulta e velhice. O período de formação
divide-se em: aspirantado (que correspondia ao período do colégio), postulantado e noviciado. A análise das
fontes aponta que, desde seu ingresso na vida religiosa, a aspirante se vê imersa em imagens e em um programa
visual que tem por fim atingir a memória individual por meio de exames de consciência e exercícios espirituais. O
uso da memória com fins morais utiliza as imagens agentes (Yates) a fim de lembrar a religiosa em formação do
bom o do mau caminho mas, também, de oferecer-lhe um modelo a ser imitado. As virtudes cardeais e
teológicas combinavam-se, em momentos de recordação, nos personagens imediatos que emprestavam suas
qualidades dos modelos supremos: José, Jesus e Maria. Esses modelos deveriam, por sua vez, combinar-se em
uma forma de educação específica que imprimisse nas almas das futuras freiras suas virtudes. Educar, nesse
sentido, seria, como queria Durkheim, inscrever o mestre nas almas de suas alunas. Para ele, o homem só se
tornaria ser moral quando incorporasse o Outro, primeiro pela disciplina; em seguida se sacrificando, por amor
ao Outro e às regras e; em um terceiro momento, alcançaria a autonomia da vontade, o que significa que
concordaria com conhecimento de causa, isto é, obedeceria voluntariamente e desejaria ativa e deliberadamente
as regras. É essa pedagogia que se inscreve nesses textos. Isto significa conseguir que a Regra seja livremente
desejada por aquele que é educado. Ao alcançar esse objetivo, o discípulo estaria apto a reproduzir esse
esquema e também ensiná-lo. Assim, a pedagogia do exemplo tem seu início e fim na perfeição da imagem
especular.
Os objetivos desta comunicação são analisar as práticas educativas – e as relações étnico-raciais embutidas nelas
– de uma organização católica, a Instituição Sagrada Família, que nasceu de um projeto idealizado por Vicente de
Azevedo (parlamentar e leigo abonado da Igreja de São Paulo), e operacionalizado pelas Filhas da Imaculada
Conceição (congregação brasileira nascida em Santa Catarina no ano de 1890 e expandida para São Paulo em
1903). O ideal de Vicente de Azevedo era atender ex-escravos e seus descendentes, o que se materializou na
inauguração de um asilo em 1903, o Asilo Sagrada Família, localizado à Avenida Nazaré, no Ipiranga. Esse asilo,
gerenciado pelas Filhas da Imaculada Conceição e mantido pela Instituição Sagrada Família, na qual Vicente de
Azevedo tornou-se seu primeiro presidente, assistiu exclusivamente às meninas negras durante seus primeiros
anos de funcionamento (1904-1909); de 1909 a 1918 atendeu também os velhos negros, mas depois desse ano
eles foram transferidos para que se pudessem receber mais meninas órfãs, cujas famílias haviam sido vítimas da
gripe espanhola que grassou na cidade de São Paulo. Em 1918, em comum acordo com a Instituição Sagrada
Família, as freiras deram mais um passo importante: criaram uma escola particular (anexa ao asilo) para meninas
e moças das classes médias paulistanas, a fim de subsidiar financeiramente o asilo em um momento de grande
instabilidade econômica, no contexto da Primeira Guerra Mundial. Esse estabelecimento escolar foi chamado
Colégio São Luiz Gonzaga e depois renomeado Colégio Sagrada Família; funcionou no Ipiranga até 1961 e depois
foi transferido para a Via Anchieta, mudando também sua nomenclatura para Colégio Regina Mundi (funciona
até hoje nesse lugar). A ideia básica desta comunicação é explorar a seguinte questão: as práticas educativas
nesses espaços – asilo e colégio – podem ser analisadas a partir da marca da ambiguidade, pois as irmãs
passaram a fazer distinção de sua clientela com base no critério de raça e de classe social. Desse modo,
funcionaram dois projetos distintos de educação, que desembocaram em diferentes práticas educativas e em
diferenças de tratamento às meninas do asilo e às meninas do colégio, em termos de grau de estudo, rotina
escolar e de trabalho, alimentação, vestimenta, instalações físicas etc. A problemática anunciada foi apreendida
da documentação examinada, sobretudo, depoimentos escritos de irmãs que trabalharam no asilo e no colégio
nas primeiras décadas do sec. XX e entrevistas realizadas com irmãs e ex-internas que também passaram pela
“Sagrada Família”, os quais são cotejados com outros documentos institucionais (crônicas, cartas, biografias)
referentes à história e à trajetória das Filhas da Imaculada Conceição.
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 08
No conjunto das práticas educativas realizadas nos espaços escolares encontramos aquelas que ainda carecem
ser mais evidenciadas: as festas religiosas, acadêmicas e cívicas. Compreendemo-las como rito e festa, que se
interpenetram e cuja “linha divisória é tênue”, conforme Segalen (2002), identificando-as no âmbito de uma
escola confessional masculina nas primeiras décadas do Século XX, em São Luis do Maranhão, e analisando-as
como, na constituição da cultura escolar (JULIA, 2001), elas contribuíram para a formação do “bom cristão e o
virtuoso cidadão”, lema do Instituto dos Irmãos Maristas, à luz das orientações da Igreja Católica. Estas estavam
explicitadas na Encíclica "Pascendi" e no Decreto "Lamentabili", do Papa Pio X" publicados em 1907, os quais
destacaram o papel da educação realizada nos seminários, colégios e universidades católicas na defesa de seus
posicionamentos antimodernistas. No Brasil, foi dada ênfase à educação dos jovens por meio das escolas
católicas e das publicações de periódicos católicos, como mecanismos de oposição à mentalidade liberal-
positivista, tendo em vista a reação católica ao clima laicista pós-proclamação da República. (CURY, 1978). Os
Irmãos Maristas somaram-se a outros institutos religiosos europeus presentes no País na formação de um novo
tipo de laicato, oriundo, em sua maioria, da classe média, surgindo e consolidando-se uma nova cristandade
conservadora. Assim sendo, do bom cristão era esperado que assumisse estas orientações em sua vida;
frequentasse, regularmente, os sacramentos e defendesse sua fé. E do virtuoso cidadão, que se posicionasse
como cidadão católico, defensor da educação, da família e da imprensa católicas, diante deste contexto. Para
tanto, as referidas festas constituíram-se em “uma verdadeira ação pedagógica”, e em ritos, como “maneiras de
agir” (DURKHEIM, 1996) e como “maneiras de fazer”, num processo de sacralização do profano, tendo em vista
“um viés sagrado ou sacralizante” do divertimento. Os registros destas práticas educativas foram encontrados
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
nos 23 exemplares do jornal "Labor” publicados pelos alunos do Colégio “São Francisco de Paula”, de 1913 a
1917, e no Jornal "A Tarde", de 1915, que foram localizados nos arquivos da Biblioteca Pública “Benedito Leite”,
em São Luís do Maranhão, em 1999, quando da elaboração de minha Dissertação de Mestrado, intitulada: “Os
Primórdios da Obra dos Irmãos Maristas no Maranhão (1908-1920)”. O “Labor” era publicado mensalmente com
quatro páginas, nas quais eram distribuíam artigos e notícias registrando, detalhadamente, os eventos mais
importantes do Colégio. O estudo revela como estas práticas reforçaram a identidade educativa do Instituto
Marista por meio da incorporação de seus princípios pedagógicos, mediante os atos de atribuição e pertença por
parte de seus docentes e discentes. Palavras-chave: Práticas educativas, Espaços. Rituais.
Pesquisa de cunho histórico que apresenta como objeto de análise a instituição escolar Escola Doméstica de
Natal, discutindo a multiplicidade dos atores e práticas envolvidas na escola que melhor definiam e explicavam os
fenômenos daquela realidade educativa e das relações com o tempo e o lugar em que estava inserida. Os
conceitos de memória e cultura escolar foram fundamentais para a compreensão dessas práticas, porque
contribuíram para fazermos uma leitura histórico-cultural do conjunto de aspectos institucionalizados na escola,
como o seu currículo, finalidades, modos de ensinar e aprender, condutas, normas, enfim, o que caracterizavam
a sua organização e práticas cotidianas. Sendo a Escola Doméstica de Natal uma instituição pioneira no modelo
de ensino voltado para a educação feminina no Brasil, priorizamos reconhecê-la e circunscrevê-la na sua
contribuição à História da Educação norte-rio-grandense. Concebida por um modelo de organização escolar
europeu para a educação feminina, a Escola Doméstica de Natal foi inaugurada em 1914, tendo como seu
criador, o intelectual norte-rio-grandense Henrique Castriciano de Souza. Sua singularidade, divergindo das
escolas femininas existentes no RN e no país naquele momento, advinha do modelo escolar adotado, que
enfatizava a formação de uma mulher voltada para atender aos anseios modernos despontados com o advento
da República. Esse ideário exigia, por parte da escola, a formação de um modelo de mulher em seus aspectos
moral, físico, cultural e intelectual moldados nos ideais da ordem e do progresso. Essa seria uma nova forma de
educação escolar que favoreceria a modernização dos velhos métodos de ensino, provocando o surgimento de
modelos que implicariam numa nova organização pedagógica nas escolas existentes no Estado e conduziriam a
cidade a novos e elevados patamares de cultura e civilidade. Estava presente, também a representação de que,
com essa formação, a escola contribuiria para que a mulher atuasse na sociedade de forma mais ativa, social e
ajustável ao meio. As palavras ordem, novo, civilidade, moderno e progresso circulavam e se entrecruzavam com
valores arcaicos ainda arraigados e permanentes na visão da vida e na ideia de mundo de então. Assim, percebia-
se a Escola Doméstica como instituição modelo, específica em sua função, que iria trazer para a cidade e,
particularmente para o Estado do RN, ideias de civilidade, ordem e progresso. Palavras-chave: História da
Educação, Cultura Escolar, Escola Doméstica.
Com o intuito de acessar o cotidiano de escolas confessionais de cursos ginasiais no sul de Mato Grosso, entre as
décadas de 1930 e 1940, buscou-se estudar os métodos elaborados, os materiais relacionados ao trabalho
escolar e as práticas realizadas pelos professores no ensino das disciplinas. Duas escolas foram pesquisadas: o
Ginásio Imaculada Conceição, em Corumbá, e Ginásio Nossa Senhora Auxiliadora, em Campo Grande. As fontes
desse estudo são documentos criados pelos inspetores federais de ensino secundário como “Termo ou registro
de visitas” e “Relatórios” e emitidos pela instância federal - Divisão de Ensino Secundário - como “Circulares” e
“Ofícios”, “Decretos” e “Exposições de motivos”. Com exceção dos decretos e exposição de motivos, o corpus
documental foi encontrado no acervo das próprias escolas. Partimos do princípio de que apesar de estar inserido
em um amplo e aprofundado sistema de regras, normas, instruções e legislação, por meio da cultura escolar é
possível enxergar sujeitos que se inserem em práticas relativamente consolidadas permitindo possibilidades de
construção de outras formas e modos de atuação e de hábitos. Formas e modos, ideias e pautas que conformam
a realidade e extrapolam a determinação e o ordenamento, possibilitando outros sentidos. Assim, pela análise da
cultura escolar percebida nos métodos e materiais imbricados às práticas cotidianas do ensino secundário vimos
que o incentivo à autonomia do jovem, a capacidade de construir conhecimento pelo trabalho pessoal, a
descoberta de novos caminhos e soluções de maneira individual eram aspectos em voga naquele momento no
Brasil. Os relatos dos inspetores nos Termos de visitas forjaram um conjunto documental que permitiram
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
enxergar práticas de professores, ainda que pelas lentes dos inspetores. O método intuitivo identificava-se ao
ensino primário como fundamento teórico e pedagógico para o trabalho escolar do professor de crianças e, de
certa forma, o mesmo método intuitivo era o referencial para a prática do docente secundário. O conhecimento
escolar do curso ginasial pode ser entendido pela organização de um currículo com disciplinas escolares
humanísticas e científicas sem necessariamente um equilíbrio dos números de aulas entre as duas tendências,
consagrando aos estudos secundários um caráter predominantemente humanístico. Contudo, os discursos dos
inspetores esboçados nos métodos de ensino para o curso ginasial, defendiam a ascendência científica nos
estudos secundários, propondo um trabalho prático, baseado na observação e experiência. Palavras-chave:
Ensino secundário, Cultura escolar, Escola confessional.
As sociabilidades apresentam-se como manifestações do social que formam e ditam habitus à vida urbana. Dessa
forma, objetivamos problematizar as sociabilidades religiosas no Príncipe (atual cidade de Caicó, Rio Grande do
Norte) no século XIX. O corpus documental é composto pelo primeiro livro de tombo da Freguesia da Gloriosa
Senhora Santa Ana do Seridó (1748 – 1906), pelos livros de registros de batismo, de matrimônio e de
enterramento e pelos Compromissos das irmandades de leigos de Santa Ana, do Santíssimo Sacramento, de
Nossa Senhora do Rosário e da Irmandade das Almas, aprovados pela Assembleia Provincial em 1836. Para a
análise e interpretação das fontes, o estudo assenta-se no método indiciário, permitindo o apreço aos
pormenores e a conciliação entre a racionalidade e a sensibilidade. Este trabalho se inscreve na dimensão da
história cultural aqui empreendida, de conformidade com Roger Chartier e Peter Burke enquanto estudo dos
processos com os quais se constrói sentidos, pois é preciso aproximá-la das configurações sociais e conceituais de
um tempo e de um espaço próprios. As sociabilidades religiosas ocorriam com as preces, as novenas e missas, as
procissões e reuniões das irmandades que glorificavam os santos ao mesmo tempo em que preservavam ritos e
simbologias religiosas. As igrejas e outros espaços de culto e celebrações eram igualmente (se não
principalmente) voltados ao convívio social, onde religiosidade e sociabilidade se (con)fundiam e se
interpenetravam. Nesses termos, as missas, as novenas, os ofícios solenes, os sepultamentos, as visitas de covas,
as palavras ouvidas nos sermões, as reuniões e eleições das irmandades, as visitas pastorais eram ritos e
celebrações que faziam da Igreja e de seus representantes dispositivos de poder e de sociabilidades. Assim, as
educabilidades vinculadas aos aprendizados decorrentes de sociabilidades religiosas versavam, em sua maioria,
acerca da ação dos fiéis, de seus habitus frente à Igreja Católica e suas cerimônias religiosas e festivas seja para
glorificar a Senhora Santa Ana, os santos protetores ou mesmo a celebração das exéquias solenes que se
direcionavam à renovação da fé dos católicos e para o aprimoramento de comportamentos e atitudes ligados a
uma vida religiosa. As sociabilidades religiosas, como as político-administrativas e jurídicas, ditaram formas de
portar-se e com isso gestavam habitus específicos para assistir missas e novenas, sepultamentos e reuniões de
irmandades ou mesmo posturas privadas, pois os preceitos eclesiásticos tinham desde cedo implicações, talvez
sutis mas seguramente concretas, sobre o ordenamento citadino. Palavras-chave: Sociabilidade. Príncipe (Rio
Grande do Norte). Século XIX.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 09
Esta proposta de comunicação coordenada tem como finalidade ampliar os debates sobre a história do ensino
rural e de suas escolas a partir de produções científicas de quatro pesquisadores; bem como acolher, dar
visibilidade e gerar novas indagações a partir de memórias, legislações, economia doméstica e perspectiva
civilizatória. Percebemos alguns desafios sobre o ensino público rural brasileiro no século XX, avanços e
permanências no que se refere à história das instituições e de práticas educativas. Nessa modalidade de ensino
que se apresenta com área de interesse comum em nossos estudos e pesquisas intentamos expor o
funcionamento do ensino rural em alguns munícipios brasileiros. Acreditamos que as investigações sobre escolas
situadas no meio rural permitam melhores entendimentos sobre as práticas educativas construídas e
sedimentadas ao longo do tempo. Dessa forma, a mesa coordenada envolverá quatro pesquisas tratando de
distintos subtemas relacionados à temática da história do ensino público rural e de suas escolas. O primeiro texto
versa sobre Um intelectual na “província”: História do meio rural e de suas escolas nos escritos de Jerônimo
Arantes (Uberlândia-MG, década de 1970) de autoria de Sandra Cristina Fagundes de Lima (PPGEd/FACED/UFU),
a proposta é de compreender as representações do meio rural e de suas escolas engendradas no âmbito do
memorialismo a partir Jerônimo Arantes. A comunicação abordada por Nilce Vieira Campos Ferreira
(PPGed/IE/UFMT/Cuiabá/MT) intitulada Economia rural doméstica: educação para a mulher (1950-1962), discute
o ensino de Economia Rural Doméstica que emergiu nas escolas brasileiras com o intuito de atender as
demandas das instituições voltadas para o atendimento à extensão rural. O terceiro texto é de autoria de Gilma
Maria Rios (UNIPAC/Araguari/MG) que traz ao debate a análise de questões pertinentes a organização do ensino
rural dentro da política educacional do Estado Novo, seu título é a Organização do ensino público primário rural
no município de Araguari e a Lei 13 de fevereiro de 1937. Por fim, ao tratar de questões que tangenciam a
educação a partir dos preceitos da Republica civilizatória, o texto de Josemir Almeida Barros
(PPGE/FaE/UEMG/B.Hte.) é centrado em algumas particularidades do ensino rural e traz com título O ensino
público primário rural em Minas Gerais na perspectiva civilizatória (1899-1911). Entendemos que os textos ora
apresentados para a composição da mesa coordenada são instigantes e significativos, portanto, contribuem para
a abordagem histórica das instituições e suas práticas educativas no meio rural.
O tema de nossa pesquisa (financiada pelo CNPq e FAPEMIG) incide sobre a história das escolas e do ensino rural
no município de Uberlândia-MG no século XX. A relevância desse estudo encontra-se no fato de que até
aproximadamente os anos 1950, quando a população brasileira vivia majoritariamente no campo, as escolas
rurais eram o locus privilegiado de alfabetização das crianças e, não obstante, a sua história ainda não se
consolidou como objeto de investigação. Partindo, portanto, dessa temática, a questão aqui proposta consistiu
em compreender as representações do meio rural e de suas escolas engendradas no âmbito do memorialismo,
uma literatura produzida para exaltar a cidade quando as fronteiras com o campo ainda eram tênues. Para
respondê-la elegemos o livro Cidade dos Sonhos Meus, escrito por Jerônimo Arantes na década de 1970 e
publicado postumamente em 2003. Arantes nasceu em Monte Alegre-MG no ano de 1892 e faleceu na cidade de
Uberlândia em 1983, onde foi professor, funcionário público (Inspetor de Ensino e Secretario Municipal de
Educação), jornalista e, sobretudo, memorialista, pois nas horas vagas buscava documentos, recolhia-os e os
organizava com vistas a reunir material empírico para escrever a história de Uberlândia. Além do arquivo que
construiu, dos livros que escreveu, ele idealizou, produziu e editou, durante os anos de 1935 a 1961, a revista
Uberlândia Ilustrada. Em virtude do envolvimento com os fatos que marcaram a história desta cidade, num
período em que o meio rural ainda era mais povoado do que o urbano, assim como devido ao fato de que toda a
produção escrita de uma história local, na primeira metade do século XX, era resultado do trabalho dos
memorialistas é que os escritos de um deles serão tomados como fonte para se apreender as representações que
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
construiu sobre o papel que esse meio, os seus habitantes e as suas escolas teriam desempenhado no processo
de constituição e de consolidação do município. Os resultados aos quais chegamos demonstram que, embora
escrevendo sobre um município marcadamente rural, Arantes construiu uma história apologética sobre a cidade,
com a qual enfatizou o crescimento urbano, destacou o comércio, as escolas e o papel desempenhado pelos
pioneiros. Em contrapartida, a história do espaço rural, de seus habitantes, de seus fazeres, de sua cultura e de
suas escolas foi parcialmente silenciada e não encontrou nesse livro a acolhida necessária para ser divulgada.
Palavras-chave: História do ensino rural, Meio rural, Memorialismo, Provinciano, Uberlândia.
O ensino de Economia Rural Doméstica emergiu nas escolas brasileiras com o intuito de atender as demandas das
instituições voltadas para a extensão rural. Os arcabouços dessa formação destinada às mulheres era formar uma
educadora que pudesse orientar as famílias rurais a respeito de princípios básicos relacionados à alimentação e
nutrição; saúde e higiene; desenvolvimento humano; vestuário; habitação; administração do lar; educação do
consumidor, entre outras atividades que pudessem contribuir para atender as necessidades básicas da família
rural. Nessa linha de raciocínio, tenho como objetivo analisar como algumas dessas práticas cotidianas à
escolarização feminina se desenvolveram, investigando a expressão de sua historicidade e dos processos de
formação. No Brasil, nesse período, balizados por diversas ações visando a escolarização do povo brasileiro, os
governantes sugeriram a criação de escolas especializadas, agrícolas, femininas, para preparar moças para atuar
como educadoras familiares agrícolas. As seguintes questões compõem a problemática: Quais eram os princípios
pedagógicos do curso de Economia Rural Doméstica? Qual era a formação técnica, profissional oferecida às
mulheres? Fontes escritas/ documentais, como programas educacionais, relatórios do ministro da educação,
programas de curso, imprensa oficial, fotografias e outros documentos compõem a pesquisa. Ressalto que a
criação desses cursos refletia transformações e problemas vividos pela sociedade brasileira e voltava-se para
problemas sociais vivenciados, mantendo estreita vinculação às iniciativas da Igreja Católica e com intelectuais
católicos. Constato que programas educacionais serviam como instrumento para tentar eliminar as carências de
alimentos, de informações, de saúde, de laços sociais do homem brasileiro rural e desprovido. Esses programas
traziam imbuídos em si o propósito de integrar as brasileiras ao mundo da produção e do consumo, desígnios do
capitalismo em expansão no país. Para o Ministério da Agricultura brasileiro, ao qual a formação estava
vinculada, os ensinamentos em Economia Doméstica visavam proporcionar à mulher conhecimentos capazes de
elevar o nível de vida das famílias, favorecer a organização do ambiente doméstico, além de levá-las a assimilar
os valores fundamentais das condições econômicas e sociais essenciais à melhoria da vida rural brasileira por
meio do consumo de bens, serviços e insumos diversos, como era foco da visão desenvolvimentista que se
espalhava pelo país. Em suma, uma formação aliada aos ditames do capitalismo e como forma de incentivar as
mulheres a participarem de uma produção extensiva de bens e serviços e na formação de novos hábitos de
produção e consumo. Palavras-chave: História das mulheres, Ensino profissionalizante, Instituições escolares.
Este trabalho tem como proposta abordar e analisar as questões da educação rural em Araguari, cidade do
interior mineiro, referente a política municipal local na década de 30 e 40. Para a reconstrução da história da
educação araguarina durante o período da História Brasileira denominada de “Estado Novo”, usamos como fonte
de pesquisa os jornais “Gazeta do Triângulo” e revistas locais que circularam no período mencionado acima. Tal
proposta se justifica considerando que o Poder executivo em Araguari sanciona a Lei n. 13 de 12 fevereiro de
1937, organizando o ensino público primário do município, onde no primeiro artigo foi exposto que o ensino
público primário, ministrado no município seria de uma única categoria: ensino primário fundamental. Época em
que as escolas do município de Araguari serão classificadas em: urbanas, distritais e rurais. Porém, havia uma
permuta constante entre os lugares - fazendas da região - de fixação das escolas rurais. As discussões em torno
dessa temática perpassam reflexões que buscam esclarecer aspectos importantes das políticas educacionais
estadonovistas no sentido de compreender do papel da escola e o seu significado no esboço de uma sociedade
liberal. O Brasil havia passado por uma série de mudanças estruturais que ganharam velocidade a partir da
década de 1930. Essas transformações diziam respeito especialmente às bases do desenvolvimento, ao modelo
econômico adotado, à ênfase na industrialização orientada pelo Estado, à liberalização política e ao controle
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
social e sindical. O Brasil vivia o que se chamava então de um intenso processo de "modernização" política e
econômica e sofria todos os impactos, positivos e negativos, daí decorrentes. Assim, com a urbanização crescente
pela decadência das formas de produção no campo e a intensificação do processo de industrialização, aumenta a
demanda social por educação, mas a expansão de oportunidades educativas, naquele período, se caracterizou
pela desigualdade. Atendeu às expectativas das camadas privilegiadas da sociedade em detrimento das camadas
populares. Nesse sentido, embora tenha sido registrada a criação de algumas escolas rurais no período, as
condições necessárias para mantê-las em funcionamento não foram criadas. Havia carência de prédios próprios -
uma vez que os espaços eram improvisados, predominavam professoras leigas, dentre outros problemas.
Palavras-chave: Estado Novo, Educação rural, Araguari.
O presente texto traz como recorte temporal e espacial os anos de 1899 a 1911 em alguns municípios que
compuseram a primeira e a segunda Circunscrição Literária de Minas Gerais, tendo como especificidade a
discussão sobre o ensino primário rural na perspectiva civilizatória. Um dos objetivos é analisar a composição dos
currículos instituídos oficialmente para o exercício das práticas educativas nas escolas situadas no meio rural.
Percebemos que o ensino público primário rural em Minas Gerais se articulava com particularidades da vida no
campo assumindo características próprias, nas quais era necessário conjugar hábitos higiênicos necessários para
um novo homem a partir dos preceitos da jovem República. Na maioria das localidades, o ensino rural ocorria em
salas de aula com espaço reduzido, com turmas diferenciadas convivendo ao mesmo tempo e no mesmo espaço,
estudando programas diferentes, com graus distintos de complexidade. Uma de nossas indagações é: o currículo
da instrução pública primária rural em Minas Gerais apresentava correspondentes para a formação de sujeitos
patrióticos incutindo valores e normas sociais na perspectiva civilizatória? Nessa perspectiva, em diversos
momentos ocorriam adaptações curriculares no processo de ensino nas escolas primárias rurais. Com essa
concepção a organização do ensino carregava a necessidade de dar visibilidade aos novos significados políticos,
sociais e culturais que foram impostos à sociedade. A lógica civilizatória se fez presente no ideário dos
administradores públicos e se materializou por meio de uma proposta de caráter elitista, bastante e
consequentemente excludente. A nosso ver, o projeto macroestrutural de ensino era voltado para os centros
urbanos e deixava de lado os investimentos em educação no meio rural. Em termos metodológicos utilizamos
como fontes históricas oficiais as Mensagens dos Presidentes de Estado de Minas Gerais, leis, decretos,
regulamentos, resoluções, relatórios de inspeção e termos de visitas, bem como anuário estatístico do Brasil.
Pesquisamos também termos de nomeações, designações e remoções de professores. Recorremos a jornais,
correspondências e fotografias. As críticas relacionadas à infraestrutura das escolas se fizeram presentes por
todo o período pesquisado, nos inúmeros relatos mencionados. No conjunto, deduzimos que poucas ações
educacionais subsidiavam as escolas mais afastadas dos centros urbanos. Palavras-chave: Ensino rural, Instrução
pública primária rural, Currículo, Ensino civilizatório.
51
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 10
Esta comunicação coordenada tem como tema a História da transmissão do conhecimento pelos meios de
comunicação. Atualmente, a educação a distância é reconhecida como uma modalidade de ensino que muito
contribui para a expansão do processo de universalização do ensino em nosso país. A cada semestre, são criados
novos cursos nos níveis fundamental, médio, superior e de pós-graduação. Embora a expressão “educação a
distância” seja recente, a prática da transmissão do conhecimento pelos meios de comunicação remonta ao início
do século XX. Com efeito, no Brasil, a partir dos anos 1910, os intelectuais que desejavam divulgar aos lugares
mais distantes e isolados do país, informações sobre a ciência, a geografia e a história por meio de irradiações e
imagens, sucumbiram aos encantos da cinematografia e da radiofonia, que eles logo identificaram como
poderosos veículos para a transmissão de conhecimentos com vistas à integração e ao preparo da nação em
torno de um propósito científico. Na década de 1930, estudiosos de métodos de ensino como Edgar Roquette-
Pinto, Jonathas Serrano, Francisco Venâncio Filho, Genolino Amado e Gilson Amado empreenderam esforços em
prol do uso de tais instrumentos de comunicação para fins exclusivamente educacionais. Com o desenvolvimento
comercial das emissoras e estúdios, e com o processo de regulamentação destes meios de comunicação, estes
intelectuais intensificaram as campanhas sobre o uso pedagógico dos referidos veículos, de forma a salientar a
relevância de tal propósito e de convencer pais e professores sobre a adequação de suas ideias. Dentre as
questões abordadas constavam as recomendações sobre o teor que seria mais adequado à família, pois à luz da
concepção de que o processo educacional não terminava na escola, a unidade familiar e a sociedade também
atuariam de maneira decisiva na formação infantil. Participaram deste fórum de discussões o Estado, educadores
e os defensores do uso comercial das emissoras. Nos anos 1950, estes debates também foram levados à
televisão, que acabava de ser trazida ao nosso país. Pioneiros do radio e do cinema, como, por exemplo, Gilson
Amado organizaram os primeiros programas tele educativos. Estas experiências, apesar de terem sido
fundamentais para o desenvolvimento da linguagem e do formato de programas educacionais, são pouco
estudadas e raramente são aludidas nos estudos sobre a educação a distância. O objetivo desta comunicação
consiste em promover uma discussão sobre os desafios enfrentados e as estratégias empregadas por estes
educadores para o controle do uso educacional do rádio, do cinema e da televisão durante o processo de
implementação destes veículos. Pretende-se, assim contribuir com novos prismas para a história das práticas
educativas no Brasil, em especial para a história da educação pelos meios de comunicação em nosso país.
O tema do cinema educativo durante as reformas Fernando de Azevedo entre 1927 e 1930 e Anísio Teixeira de
1931 a 1935 inspirou interesse por parte dos educadores que procuravam aproveitar de forma instrutiva as
projeções de imagens. Nesse sentido, a Diretoria Geral de Instrução, por meio de Jonathas Serrano e Francisco
Venâncio Filho, ambos da subdiretoria técnica entre 1928-1930, entrou em contato com diversas empresas
dedicadas a cinematografia e projeção de imagens para organizar uma exposição de aparelhos. E, depois, em
1932, foi organizada a Filmoteca Central como seção da Biblioteca Central da Educação do Departamento de
Educação do Distrito Federal. Ainda no espaço da capital da República, o Instituto Nacional do Cinema Educativo
(INCE) foi criado em 1937, sob os auspícios do governo federal. São dessas iniciativas de institucionalização do
cinema educativo de que se ocupa esta comunicação. Interessou, sobretudo, estudar o lugar do cinema
educativo na estrutura administrativa da instrução pública durante os anos 1920 e 1930 e o seu uso nas escolas
públicas como marca de uma renovação dos métodos e procedimentos de educação da capital federal. A partir
da análise do livro Cinema e Educação, do Boletim de Educação Pública, do relatório administrativo do
Departamento de Educação de 1935 e da legislação relativa ao cinema educativo pensou-se tratar da proteção
oficial para a utilização do cinema como meio de educação e do estabelecimento de critérios para utilizar filmes
na sala de aula. Assim, a pesquisa assume como perspectiva a história das políticas públicas de educação para
compreender, além das estratégias de controle da linguagem e dos conteúdos das produções, as condições de
implantação do cinema educativo. Decisiva para a análise, a percepção de que a presença de educadores nesse
52
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
campo de atuação definiu seu pioneirismo em um espaço então emergente de negociação entre o Estado e os
interesses econômicos da indústria cultural completa o quadro explicativo desta abordagem. Como resultado,
por um lado, o estudo procura mostrar que a criação dos serviços de cinema educativo na legislação de ensino e
no Departamento de Educação serviu tanto à conversão do prestígio intelectual em autoridade pública quanto ao
treinamento técnico dos quadros de pessoal. Por outro, então, sublinha-se que na discussão em torno do cinema
educativo na capital federal tão importante quanto a regulamentação e a censura parecem ter sido as políticas
de indução e a formação de quadros para os órgãos administrativos. Palavras-chave: Cinema Educativo, reforma
educacional, processos de escolarização.
Qual a opinião do ouvinte sobre a programação das estações de rádio, particularmente as paulistas e cariocas,
nos anos 1930 e 1940? Em particular, como analisavam as relações entre rádio e educação naquele período?
Nesta comunicação, procuro responder a essas questões tomando como fontes as cartas publicadas pela revista
Carioca na seção “O que pensam os rádio ouvintes”, presente na publicação desde os seus primeiros números,
datados de 1935. Entre 1935 e 1939, semanalmente, a revista publicou cerca de quatro missivas, premiadas com
valores em dinheiro, além de várias menções honrosas. A partir de janeiro de 1939, passa a publicar uma única
carta, mantendo o procedimento da premiação financeira. Quando tomado este conjunto documental, observa-
se que parte das mensagens eram assinadas por pessoas que se identificavam como professores e que, em geral,
dirigiam um olhar bastante crítico à programação radiofônica de caráter mais comercial e de entretenimento,
defendendo o uso educativo do rádio. As acusações incidiam, principalmente, sobre a canção popular – o samba,
em particular -, os anúncios publicitários, a atuação dos speakers e programas de humor e auditório, grande
parte delas ressaltando o desrespeito às normas cultas da língua e as ameaças à “boa” moral presentes na
programação. Tais ouvintes, professores, reiteram em seus escritos a necessidade de retomar os ideais do rádio
educativo dos anos 1920, ligados aos pioneiros da radiodifusão no Brasil, e de um maior controle do Estado sobre
o veículo. Deste modo, ao defenderem as potencialidades educativas do rádio, faziam-no de modo a abarcar
tantos aspectos pedagógicos escolares stricto sensu quanto a formação moral, preocupação dirigida em especial
às classes populares. Em não raras ocasiões, estas cartas trataram de programas radiofônicos destinados
especificamente às crianças. Ao clamor dos professores que expressaram sua opinião nas páginas da Carioca,
juntavam-se outros, igualmente preocupados com o que era entendido como permissividade e desserviço
educacional prestados pelo rádio. Trata-se, portanto, de buscar compreender as visões dos ouvintes,
particularmente dos professores, sobre a programação e, nas críticas formuladas, identificar também suas
impressões a respeito dos brasileiros, adultos e crianças, a serem educados. Trata-se, ainda, de identificar o
modo como esses professores sentiam a interferência do rádio em sua prática profissional cotidiana, na tensão
entre saberes escolares e costumes, inclusive linguísticos, da população.
Em 1924, cientistas, professores, médicos e engenheiros, associados da Academia Brasileira de Ciências (ABC),
empolgados com o potencial da radiofonia para transmitir conhecimento aos lugares mais distantes do Brasil,
organizaram a Radio Sociedade do Rio de Janeiro (PRA2). No mesmo ano foi autorizado o início das atividades de
outras sociedades de rádio, que partilhavam dos princípios da ciência e da importância da educação para a
integração da nação, vendo a radiodifusão como um instrumento capaz de contribuir para o nosso
desenvolvimento como nação, tais como a Radio Sociedade da Bahia (PRA4), a Radio Educadora Paulista (PRA6) e
a Radio Club de Pernambuco (PRA8). Entre os educadores que participaram desta fase da radiofonia é possível
citar: Edgar Roquette-Pinto, Francisco Venancio Filho, Edgar Sussekind de Mendonça, Ariosto Espinheira, Ilka
Labarthe e Genolino Amado. Juntos construíram uma rede de sociabilidade em defesa do uso exclusivamente
educacional do rádio. Entre as ações deste grupo estavam organização de campanhas, elaboração de programas
educacionais radiofônicos de diferentes formatos, a irradiação de aulas e a realização de cursos para os
professores. No início da década de 1930, o mundo da radiofonia assistiu ao início de um intenso debate sobre os
parâmetros educacionais que deveriam ser adotados. Participavam destas discussões: educadores, ouvintes e
diretores de broadcasting das estações, que não se orientavam a partir de preceitos educativos, e ambicionavam
53
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
uma programação com novo formato, que chamasse mais atenção do público e atraísse anunciantes. No mesmo
período, as sociedades de rádio viveram uma crise financeira com um orçamento deficitário, que as
impossibilitavam de se adaptar às exigências técnicas do Decreto 21.111 e continuar suas atividades. Neste
contexto de disputas, a luta dos educadores no rádio se intensifica, uma vez que eles se sentem responsáveis
pela condução da cultura nacional. Neste aspecto, não aceitam perder o controle sobre o veículo de comunicação
que tanto divulgaram como solução para o nosso atraso. O objetivo desta comunicação é analisar as estratégias
empreendidas pelos radioeducadores para assegurar a presença dos preceitos educacionais nas emissoras
comerciais. Em especial, serão estudadas as trajetórias de Genolino Amado e Ilka Labarthe na Rádio Nacional, no
final dos anos de 1940. Serão usados como fonte gravações, scripts e periódicos. Com este estudo, se pretende
contribuir com novas perspectivas sobre a história da educação por meio do rádio e novos referenciais para a
história da educação a distância. Palavras-chave: Educadores, Rádio, História
Esta proposta para mesa coordenada tem o objetivo discutir o curso de introdução à TV educativa, direcionado a
professores de todo o país e coordenado pela professora Alfredina de Paiva Souza, no Instituto de Educação do
Rio de Janeiro. Docentes dos níveis primário, médio e superior de diferentes regiões do Brasil aprendiam noções
de eletrônica e questões técnicas sobre o funcionamento de uma emissora de televisão. A iniciativa teve adesão
do Centro Brasileiro de Televisão Educativa (FCBTVE) e da Secretaria de Educação da Guanabara. A intensão do
curso era capacitá-los para o lançamento da TV Educativa. O Instituto de Educação também mantinha curso de
produção e operação de TV e uma emissora de televisão interna. A iniciativa pioneira de capacitar professores
começou em 1967 e teve o apoio de Gilson Amado que dirigiu a FCBTVE e estabeleceu como meta alfabetizar 15
de milhões de brasileiros acima de 18 anos com o auxílio da televisão, que chegou ao Brasil em 1950, com a
inauguração da TV Tupi. No inicio, a programação tinha público restrito e seguia com proposta de uso educativo
semelhante ao rádio com gincanas infantis, encenações de clássicos da dramaturgia nacional e internacional,
balés, concertos e saraus literários. Em 1960, a Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação e Cultura (UNESCO) sinalizou a possibilidade de usar satélites para erradicar o analfabetismo, e nos
anos seguintes, com a adoção do videoteipe, a televisão se popularizou no Brasil, tornando-se um veículo de
comunicação de massa. Os governos militares se dedicaram á instalação de emissoras educativas e criaram meios
legais para que as redes comerciais veiculassem conteúdos educacionais. Neste período foi criada a TV Educativa
visando à educação popular, tanto no sentido lato, de informação e divulgação do conhecimento e de formação
cidadã, quanto no sentido de educação supletiva. Em São Paulo, o governo criou, em 1963, o Serte – Serviço de
Educação e Formação pelo Rádio e Televisão, que produzia e transmitia 10 horas semanais de aulas para o grupo
Diário Associados de Assis Chateaubriand. A necessidade de mão de obra para a produção de programas
educativos culminou em parceria entre a FCBTVE e a Unesco, em 1969, para realização de cursos de capacitação
de profissionais para atuarem nos diferentes setores das emissoras educativas. Instrutores da Grã-Bretanha
vieram ao Brasil ministrar cursos em locais sugeridos por Gilson Amado. As fontes utilizadas na pesquisa são
livros, documentos, gravações, revistas e jornais da época. Palavras-chave: História da Educação, TV Educativa,
Formação de Professores
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 11
A pesquisa histórica, a consequente operação com fontes e as problematizações a partir de questões distintas, já
permitiu a elaboração de inúmeras narrativas acerca da educação do corpo, de suas práticas, lugares e tempos.
Os trabalhos aqui reunidos examinam, especificamente, impressos que, em sua singularidade, se constituem
como documento e recortam um período: fins do século XIX e primeiras décadas do século XX. As análises e
interpretações acerca da educação do corpo foram desenvolvidas tomando como fontes diferentes revistas,
jornais, coleções de desenhos infantis e manuais de ensino. Interrogados e problematizados como fonte para a
história da educação do corpo, estes impressos trazem múltiplas possibilidades de interpretação daquilo que se
desejou como projeto de intervenção sobre e no corpo. Essa comunicação coordenada reúne quatro trabalhos
que, a partir da análise de diferentes impressos, apresenta e problematiza práticas e representações acerca da
educação do corpo, interrogando-os desde diferentes questões. Operando com revistas especializadas, dois
trabalhos problematizam a educação do corpo de diferentes modos. Um deles toma como tema e problema de
pesquisa a educação do corpo pela natureza e a vida ao ar livre, ideário caro ao pensamento educacional
brasileiro das primeiras décadas do século XX e que se faz presente de forma abundante em revistas
especializadas em educação e educação física. Outro trabalho que toma para si as revistas debruça-se sobre o
impresso oficial da Associação Cristã de Moços, que veiculando ideias, práticas e saberes, desejam forjar e
mesmo legitimar valores e projetos para a educação do corpo entre fins do século XIX e início do XX. Já um outro
formato de suporte impresso também presente nesta comunicação coordenada tomado como fonte e objeto,
são os manuais de ginástica sueca produzidos nessa mesma temporalidade, procurando perceber como a
ginástica sueca, em sua versão pedagógica, foi sistematizada para o uso de professores. Adentrando os anos 30
do século XX, o quarto trabalho nos interpela ao pensar as práticas corporais infantis e as representações de
corpo de crianças, a partir da coleção de desenhos infantis do acervo de Mário de Andrade. Reside aqui neste
trabalho uma reflexão conceitual sobre o que temos compreendido como impresso. Com esse debate, os autores
tentam mostrar como, a partir de diferentes registros e suportes impressos, novas possibilidades de
compreender a educação do e no corpo vai sendo construída. É desse modo que os estudos desenvolvidos aqui
vão observar como, lentamente, diversas prescrições vão difundindo-se no Brasil e em países de língua
portuguesa, de diferentes modos, em diferentes lugares, revelando diferentes formas de conceber o corpo e de
educá-lo a partir de distintas e múltiplas práticas. Palavras-chaves: revistas, manuais escolares, desenho infantil,
educação do corpo
Andrea Moreno
Diretor do Instituto Central de Ginástica de Estocolmo, Ling vai, pouco a pouco, rascunhando seu método
ginástico, que tinha na formação do corpo harmonioso sua razão de ser e na ciência médica sua explicação.
Construiu-se explicita e severamente: movimentos precisos, coordenados, gestos rígidos, tempo ordenado.
Hjalma Ling (1820-1886) dedica-se a pormenorizar a obra do pai, particularmente a ginástica pedagógica. Este
estudo debruça-se sobre os Manuais de Ginástica Sueca produzidos em língua portuguesa. Podemos identificar
que, entre fins do século XIX e início do XX, um farto conjunto de impressos, sobretudo com características de
manuais, foi produzido. O que eles podem querer dizer em seu formato, em sua linguagem, em sua estrutura? É
perceptível o esforço de professores, mas também de militares e médicos, em escrever e divulgar a ginástica
sueca, num esforço de sistematização e aplicação de sua prática. Uma verdadeira vulgarização desse saber foi
produzida por meio desses. Uma primeira questão que se coloca diz respeito à “taxionomia” desses impressos.
Sob diferentes denominações são intitulados: tratados, compêndios, manuais ou guias. De todo modo, a despeito
do termo utilizado, é um impresso pequeno, objetivo, que visa a aplicação pelo professor, com uma rasa
fundamentação teórica e uma sistematização de lições práticas. Uma hipótese para a proliferação desses em
língua portuguesa pode ter sido a necessidade de tradução. O Instituto de Estocolmo tinha um forte investimento
na divulgação de suas práticas, via visita de estrangeiros e também da ida de professores formados no Instituto
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
ao exterior. Nesse caminho, a tradução se fazia necessária. Outra, diz respeito mesmo a necessidade de
sistematizá-la para o uso nas escolas. Muitos desses escritos iniciam dizendo da escassez de material disponível
que servisse ao “professor de gymnastica”. Os manuais, neste aspecto, tinham um formato bastante convidativo:
eram simples, organizados em lições, fáceis de aplicar. Continham muitos desenhos que facilitavam sua
compreensão. Aqui residia um problema de apreensão do método sueco: fazia-se necessário simplificá-lo,
considerando o excesso de detalhes em sua execução e de pormenores para sua prática. Finalmente, convém
ressaltar que a ginástica sueca concretizava um importante alinhamento com o modelo escolar: podia ser
realizada com um grande grupo de alunos, num espaço reduzido, com atividades iguais para todos e um esquema
de progressão de exercícios organizado em lições. Assim, saliento que, a investigação da ginástica sueca,
tomando como fonte os manuais de ginástica produzidos em língua portuguesa pode nos possibilitar contar
outras histórias dessa prática em terras brasileiras. Palavras-chaves: ginástica sueca, manuais de ginástica,
ginástica educativa.
No Brasil há uma fértil cultura de revistas desde fins do século XIX, em especial, nas primeiras décadas do século
XX, período recortado pela nossa pesquisa. Consideramos a significativa importância deste tipo de impresso para
um estudo do ideário de uma educação pela natureza e da vida ao ar livre, sobretudo pelo seu caráter leve,
condensado e de fácil apreensão. Testemunho de tempos e vozes diversas, revelando e traduzindo sentimentos,
as revistas educavam seus leitores ao sublinhar e destacar certos temas, ao mesmo tempo em que esqueciam,
ou, simplesmente, negligenciavam outros. Em registros múltiplos que tomam a forma escrita tais como editoriais,
reportagens, artigos, cartas e comentários de diferentes seções, bem como fotografias e desenhos gráficos,
propaganda de produtos diversos, o conteúdo de uma revista oscilava entre o perfil de seus proprietários àquele
de seus consumidores, mas, elas também desejavam educar e, muitas vezes tomavam a própria forma escolar
em suas seções. Folhear uma revista antiga nos remete a uma fluidez naquilo que mostra, esconde, ou, talvez,
naquilo que apenas deseja, pois, de suas páginas parece exalar uma atmosfera desse outro tempo, de gostos e de
sentimentos, de necessidades diversas que aparecem ali como as mais importantes. Assim, uma revista não seria
um espelho fiel do passado e nem seu registro mais seguro. Talvez, o mais adequado fosse mesmo pensar nas
ambiguidades e ambivalências que cada fonte contém, incluindo aí as revistas. Suas páginas, assim, expressam
tanto desejos, sentimentos, dúvidas e certezas de indivíduos que lá viveram, vínculos com causas e circunstâncias
políticas, ideológicas, emocionais que já não são mais as nossas, quanto silêncios, ausências, vazios. Num
impresso, não estão guardados segredos e nem tesouros são ali escondidos, mas, sim, e de modo muito tênue,
rastros humanos, pequenos trechos da vida que se esparramam em múltiplas direções entre lembranças e
esquecimentos, em traços da memória que ali permanecem. Interrogar seus silêncios, ausências, assim como
seus excessos, em outras palavras, ouvir, ver, interpretar, narrar, eis a tarefa do presente que se impõe. Para este
trabalho, operamos com três revistas especializadas em educação física e esporte que circularam no Brasil desde
1932: 1-Educação Physica - Revista Téchnica de Sports e Athletismo de 1932-1945; 2- Revista de Educação Física
do Exército de 1932 até os dias de hoje e 3- Revista Sport Illustrado de 1938 a 1952. Concluímos que as revistas
aqui analisadas guardam significativo conteúdo para uma compreensão do ideário de uma educação pela
natureza e da vida ao ar livre, tão caro ao pensamento educacional brasileiro do período recortado neste
trabalho. Palavras-chave: revistas; natureza e vida ao ar livre; historia da educação física
A Revista Mocidade contribuiu com a circulação de práticas e saberes nas Associações Cristãs de Moços (ACMs)
brasileiras. Instituição criada na Inglaterra, em 1844, implantou-se no Brasil em 1893, no Rio de Janeiro, por
intermédio do norte-americano Myron Augusto Clark. Seu projeto de formação, seguindo um padrão norte-
americano, apresentava-se alicerçado no tripé: formação intelectual, moral e física. Para proporcionar uma
formação física aos associados, a ginástica e o esporte apresentaram centralidade, foram eleitos e colocados em
evidência, para todos os associados por diversos meios de comunicação, entre eles – e o principal – a Mocidade:
Revista Mensal das Associações Christãs de Moços no Brasil. Tratava-se de um órgão oficial das ACMs no Brasil,
de publicação mensal, que era distribuída a todos os seus associados. É a partir da importância desse periódico
56
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
que tenho como propósito compreender a educação dos corpos presente na revista Mocidade, por meio da
circulação de saberes e práticas referentes à ginástica e ao esporte. Foram analisados 88 números da revista, que
no período escolhido para esse estudo, passou por diferentes denominações: ACM (1898-1907), Amigo da
Mocidade (1908-1911), Canaan (1911-1912), Mocidade (1913-). Não se pode precisar o período final do
periódico, mas se nota, nos exemplares presentes na Biblioteca Nacional, que, a partir de meados da segunda
década do século XX, as publicações começaram a tornar-se menos frequentes, finalizando, para este estudo, no
ano de 1925. Todos os números produzidos pela ACM foram analisados como um impresso que nas palavras de
Limeira (2012), forjam, legitimam e ratificam valores, ideias, projetos, mobilizam discursos na produção de
verdades. Elegem fatos que chegam ao público, assim como a forma como estes fatos serão recebidos. Com esse
olhar, percebi a revista circulando a necessidade do indivíduo controlar as vontades, ser recatado, formado a
partir dos predicados morais que conduziam os ensinamentos cristãos. O corpo, no periódico, aparece como
lugar da moral, da religião e do aprendizado. Deveria, portanto, ser tratado como tal. A alimentação adequada,
as formas de comportar e agir e as orientações de como deveria ser a atuação dos associados nos momentos das
práticas corporais, especialmente na ginástica e no esporte, indicam a necessidade de uma “reforma dos
costumes”. Essas ideias integraram um debate que, em grande parte, foi incorporado ao discurso acmista no
Brasil, materializado no conjunto de textos escritos e traduzidos pelo H. J. Sims na revista Mocidade, os quais
circularam em instâncias de decisões políticas da Educação Física brasileira, como a seção de Educação Physica e
Hygiene da Associação Brasileira de Educação, extrapolando os limites formativos das ACMs, no Brasil. Palavras-
chaves: Revista, ACM, educação do corpo
O presente trabalho aborda práticas corporais de crianças de São Paulo, das décadas de 1930 e 1940,
considerando sua interface com a natureza. O principal objetivo é identificar e analisar práticas corporais infantis,
destacadamente as brincadeiras, bem como representações de corpo de crianças e os cenários expressos na
coleção de desenhos infantis do acervo de Mário de Andrade. Pretende-se, desse modo, salientar a cultura
infantil no campo dos estudos historiográficos. A coleção de desenhos infantis de Mário de Andrade se constitui
fonte primária de pesquisa. A mesma encontra-se sob a guarda do Instituto de Estudos Brasileiros da
Universidade de São Paulo e é composta por 2160 peças. A maior parte está identificada pelo nome, idade, nome
da escola, origem dos pais e raça da criança. Trata-se da única coleção de desenhos infantis conhecida no Brasil
aberta à consulta para pesquisadores, o que sugere sua importância como fonte para estudo da história da
infância brasileira. O desenho é uma manifestação típica da infância e um ato estritamente humano. O seu
produto surge como efeito da integração da ação – prática que torna visível a ideia – e do pensamento – a
imaginação. Em adição, os desenhos são considerados como expressão da cultura infantil de uma época e um
lugar. Na perspectiva da história cultural, evidenciam a experiência de crianças mediadas pelas fontes culturais e
visuais de sua própria contemporaneidade. Desse modo, o desenho é um ponto de partida para se compreender
a experiência infantil, em especial, a cultura corporal. A partir da apreciação dos desenhos observou-se que há
grandes temas que foram representados pelas crianças do período, como cenários urbanos, meios de transporte,
flores, frutas, a figura humana, ambientes domésticos, paisagens naturais e ainda brincadeiras. Elementos da
natureza são bastante explorados nos cenários dos desenhos, por meio de nuvens, mar, montanhas, rios, sol,
céu, árvores, pássaros, borboletas, flores e frutas. A natureza também está representada nos contextos urbanos
em formato de jardins, remetendo à ideia de natureza controlada. Destacam-se desenhos contendo
representações de brincadeiras tradicionais, como, por exemplo, pular corda. Além dessas, esportes também
foram objeto de representação das crianças. Os desenhos infantis expressam um tempo cruzado por elementos
culturais tecnológicos, ilustrados pelos meios de transporte, ao mesmo tempo em que registram a natureza como
uma dimensão significativa da vida das crianças. Além disso, o desenho é uma brincadeira em si, que faz parte da
cultura lúdica infantil daquele período. Destaca-se, ao fim, o desenho como uma gestualidade, integrando o
conjunto de práticas corporais infantis. Palavras-chave: Práticas corporais. Desenhos infantis. Mário de Andrade.
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 12
Ao longo dos últimos quatro anos, no espaço social e científico delimitado pelo Programa de Pesquisa Moderno,
Modernidade, Modernização: a educação nos projetos de Brasil – séc. XIX e XX temos reunido esforços no
sentido de elaborar uma teoria sobre o lugar da intelectualidade brasileira na construção da esfera pública e
produzir entendimentos sobre as noções de moderno, modernidade e modernização, presentes nesses projetos.
Tomando como recorte a longa duração, empreendemos o propósito de produzir conhecimento sobre as
articulações e desdobramentos da relação intelectuais e educação, considerando a polissemia presente nos
conceitos de moderno, modernidade e modernização e as relações estabelecidas entre estes conceitos e a
concepção de educação, ao longo dos séculos XIX e XX, por instituições e sujeitos, principalmente por aqueles
que, sobretudo por meio da escrita, vieram a público para apresentar propostas de compreensão e de ação sobre
variados aspectos relacionados à nação brasileira. Compreender os dilemas da modernidade ou dos processos de
modernização é uma operação complexa, pois o grande desafio dos tempos modernos foi alcançar uma
estabilidade, ou unanimidade, a partir de rupturas estabelecidas no mesmo processo. Denominamos como
intelectuais, cientes dos riscos dessa categoria, aqueles que por meio da escrita procuraram não só esclarecer e
dar visibilidade aos modos, às marcas, à multifacetada modernidade e ao processo de modernização, mas
também dar sentido e norte para os dilemas impostos pelos próprios tempos vividos. Enquanto intelectuais,
ocuparam diversos espaços públicos – instituições de ensino, instituições políticas, editoras, instituições de
pesquisa; manifestaram-se por variados meios – a imprensa, os livros, os debates parlamentares; estabeleceram
amplas relações de sociabilidades nas províncias e na Corte, nos estados e na capital da República. Tendo tais
aportes como substratos, reunimo-nos para apresentar quatro exemplos que senão representam, somam-se aos
outros também elaborados a partir do referido Programa de pesquisa: Bernardo Guimarães (1825-1884), em cuja
escrita multiforme alertava para a função da educação na construção de uma nacionalidade com aportes da
modernidade; Tobias Barreto (1839-1889), professor da Faculdade de Direito do Recife, partícipe do movimento
denominado “Escola do Recife”, encabeçou projetos que defendiam a democracia na política, a liberdade do
homem e a educação/emancipação feminina; Primitivo Moacyr (1868-1942) que estendeu sua experiência como
redator de debates parlamentares na produção de uma vasta obra sobre a história da educação brasileira,
abrangendo o período imperial e a Primeira República, tendo sido colaborador de pesquisa no Instituto Nacional
de Estudos Pedagógicos - INEP; e a Sociedade Amigos de Alberto Torres que, em consonância ao pensamento
deste atuam, publicamente, entre os anos 30 e 40, em defesa do ensino rural.
Referência para a História da Educação Brasileira, a escrita de Primitivo Moacyr consiste na compilação e
organização das legislações e regulamentos, debates parlamentares e cenários educacionais traçados nos
relatórios de presidentes de província e diretores da instrução pública, abrangendo desde o período do Império
até a Primeira República, retratando as proposições e as tensões políticas afeitas ao tema. O objetivo deste
trabalho é compreender o contexto no qual os livros de Primitivo Moacyr foram publicados, especialmente o
período dos anos 30 e princípios dos anos quarenta do século XX. O primeiro volume do seu livro A instrução e o
Império: subsídios para a história da educação no Brasil saiu a público em 1936, pela Companhia Editora Nacional
e os últimos volumes de A instrução e a República, em 1942, pela Imprensa Nacional. O período assinalado, anos
30 e princípios da década de 40, foi marcado por grandes transformações sociais e políticas, como a Revolução de
30 e as medidas de modernização do Estado Brasileiro que implicaram na criação do Ministério da Educação e
Saúde, do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos- INEP, dentre outros organismos direta ou indiretamente
vinculados à educação e à cultura brasileiras. Ainda no campo educacional, o Manifesto dos Pioneiros da Escola
Nova, publicado em 1932, é um ponto de inflexão importante, seja pelo diagnóstico ali exposto sobre a educação
brasileira, seja pela defesa da educação enquanto ciência. Em 1937, a implantação do Estado Novo apresentou
58
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
novas perspectivas para o conjunto das forças políticas, angariando o apoio de muitos intelectuais. Moacyr foi
um homem de relações amplas, decorrentes de atuações múltiplas: no campo profissional era bacharel em
Direito e foi redator de debates da Câmara Legislativa do Congresso Nacional por mais de três décadas. Como
homem de imprensa publicou durante vários anos no Jornal do Commercio, um dos jornais de maior circulação
durante a Primeira República. Os resultados obtidos com a pesquisa apontam para o enquadramento da obra de
Moacyr na arquitetura da construção de uma nova identidade para a educação brasileira, postulada pelos
escolanovistas. Tal postulação, também articulada ao processo de modernização do Estado brasileiro, explica a
publicação das obras de Moacyr pela Companhia Editora Nacional, na coleção Biblioteca Pedagógica dirigida por
Fernando de Azevedo, e pela Imprensa Nacional, sob a chancela do INEP, dirigido por Lourenço Filho. No âmbito
da historiografia da educação brasileira, seu trabalho está marcado pela concepção de história praticada nos
marcos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB, qual seja, a premência documental. Por outro lado,
não é incomum perceber a presença do autor na própria obra como, por exemplo, sua posição claramente
favorável pelos recursos destinados à instrução primária e pelo ensino oficial, ou seja, sob a batuta do Estado.
No decorrer da história do Brasil várias associações civis foram fundadas com o objetivo de discutir e participar
do cenário político nacional. Este é o caso, por exemplo, da Sociedade dos Amigos de Alberto Torres - SAAT -
(1932-1945), fundada na então capital federal, o Rio de Janeiro, e que teve sua existência marcada pela ascensão
e declínio do governo de Getúlio Vargas. Alberto Torres (1865–1917) foi um personagem bastante popular e
atuante em seu tempo, em seus livros criticava veemente o modelo político brasileiro, afirmava que a falta de
união nacional era um dos principais motivos que coibiam o desenvolvimento do país à condição de uma nação
desenvolvida. Torres é considerado por grande parte da historiografia como pertencente ao grupo dos sujeitos
que primeiramente teceram reprovações ao modelo republicano, até então vigente, e é também avaliado como
um dos fundadores da linhagem do pensamento autoritário brasileiro. Dessa maneira, no começo dos anos de
1930, período de intensas agitações sociais, um grupo de intelectuais formado por Oliveira Vianna, Edgar
Roquette-Pinto, Sud Mennucci, entre outros, decidiram fundar a SAAT para dar continuidade ao projeto nacional
proposto por Torres. Até hoje foram poucos os estudos que se dedicaram na compreensão do funcionamento e
da estruturação dessa sociedade, tal fato se deu, principalmente, pois todo o acervo documental dessa
instituição fora perdido em um incêndio ocorrido na década de 40 do século XX. Contudo, ao analisar as revistas
educacionais daquele período fica evidente que o nome desse associação era ventilado com frequência como
sendo uma organização de incentivo à Educação Rural. Assim, através de uma análise que transita nos estudos
sobre intelectuais, política e impresso, esse presente trabalho procura exibir as trajetórias de alguns dos
associados da SAAT, almejando vislumbrar rastros que indique uma correlação entre as posturas políticas
defendidas por esses sujeitos na esfera pública com as diretrizes e concepções orientadoras da SAAT. Deste
modo, por meio de uma pesquisa em diversos artigos de revistas educacionais de Minas Gerais e São Paulo, nas
década 30 e 40 do século XX, procurarei compreender melhor o funcionamento e a composição desta sociedade.
Nesse sentido, usarei de uma perspectiva analítica que procura situar o intelectual como um mediador, visando
observar como a atuação pública sobre determinados aspectos educacionais representava uma transição de
proposições instituídas pela SAAT.
Esta comunicação tem como objetivo problematizar representações culturais que sugerem relações entre a
formação de determinadas estruturas de sentidos e sensibilidades em meio ao conflito entre tradição e
modernidade que se operava no Brasil do século XIX. Em nossas abordagens, privilegiaremos as análises sobre as
produções discursivas do escritor mineiro Bernardo Guimarães (1825-1884), sobretudo sua escrita poética. A
temática educacional sempre foi uma marca nas reflexões desenvolvidas por Bernardo Guimarães durante toda
sua trajetória. Foi Professor do Liceu Mineiro durante quase quinze anos e refletiu profundamente sobre a
condição dos jovens nos romances que escreveu, expondo os dilemas colocados para as novas gerações de
brasileiros. Seus protagonistas, sejam masculinos ou femininos, localizavam-se sempre nesse recorte geracional.
Junto de Flávio Farnese e Lafaiete Rodrigues, inaugurou no início de 1859, no Rio de Janeiro, então Corte do
Império do Brasil, uma ‘folha’ liberal intitulada A Actualidade, onde frequentemente publicavam textos sobre a
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
condição da instrução e educação no Brasil daquele momento. O que tinham em comum, além da Província de
origem, era a passagem pela Faculdade de Direito de São Paulo. Inaugurada em 1827, a Faculdade surge com o
propósito de superar a antiga dependência do Brasil em relação a Portugal. Esperava-se dos alunos que
passassem por ela que protagonizassem um movimento não só de renovação da legislação e da administração
pública do Império do Brasil recém-surgido, mas também de construção de uma mentalidade acerca da nação
brasileira, marcada por referenciais associados à modernidade. Não há dúvidas quanto à influência dessa
instituição na vida desses sujeitos que se engajaram na produção desse jornal para intervirem nas questões
nacionais. Frequentemente a educação aparece como mola mestra para o desenvolvimento da modernidade
nacional no periódico mencionado. Na escrita poética de Bernardo Guimarães a questão da educação aparece de
forma mais sutil. Toda uma estrutura de sensibilidade é sugerida nessa produção que se dá em meio ao
dilaceramento produzido pela tensão entre modernidade e tradição, aspecto importante naquele contexto
histórico. Conhecido como o poeta dos jovens, sua escritura também marca a formação sensível de inúmeros
leitores que o aclamavam como um autor modelar, o que torna o empreendimento que propomos ainda mais
relevante para a História da Educação no Brasil. Para a análise dessa produção escrita foram utilizados os aportes
teóricos desenvolvidos por Roger Chartier, Reinhart Koselleck e Hans Gumbrecht.
O século XIX responde pela maior transição política do país o que também representa mudanças em suas esferas
social, cultural e educacional. A proclamação da República brasileira, o processo de laicização e tudo o que ele
alavancou em termos de estruturação do ensino público no país foram senão frutos, mas consequências de uma
série de ações de personagens da história do Brasil que pensaram, propuseram e por vezes implementaram
modos de ser e conceber o mundo a partir da noção de moderno. Tobias Barreto de Menezes (1839-1889),
sergipano da cidade de Campos, foi uma dessas personagens que marcaram o Brasil Império e contribuíram com
um projeto de nação voltado para a modernidade. Professor da faculdade de Direito do Recife e divulgador das
ideias culturais alemãs no Brasil, Tobias Barreto, como ficou conhecido, foi também poeta, político e autor de
vários livros que contemplam temas da filosofia, do direito e da crítica política social, além da religião. Consta no
rol dos intelectuais brasileiros por estar a frente das mentes que compuseram o movimento da “Escola do Recife”
e por encabeçar projetos que defendiam a democracia na política, a libertação do homem e a
educação/emancipação feminina, sendo este último tema de seu projeto de lei, quando deputado provincial em
Pernambuco, intitulado Paternogógio que primava pela defesa da escolarização feminina em nível superior. O
objetivo desse trabalho é, portanto, compreender as bases de seu pensamento e consequentemente de seus
ideas, pensando o Brasil a partir da Filosofia, do Direito e da Cultura. Buscar desvelar em que medida o “projeto
de Brasil” pensado Tobias Barreto de Menezes, envolve as noções de moderno, modernidade e modernização, se
justifica, haja vista o destaque dado por Carvalho (2012, p. 31) quando este ressalta que parece licito afirmar que
os projetos de Brasil invariavelmente têm sido produzidos num circulo vicioso de preconceito, exclusão social,
violência e brutalidade, cuja resultante é a ratificação de seus fatores originários. Assim sendo, analisar e
interpretar as permanências e as pregnâncias no projeto interpretativo de Brasil, onde a educação ganha relevo,
auxilia, por certo, no desvelamento do seu pensamento e o de seus seguidores a exemplo dos juristas, escritores
e políticos Silvo Romero e Fausto Cardoso, que encabeçaram, em Sergipe, o movimento republicano. Ao tomar
como objeto de estudo a trajetória de vida de Tobias Barreto de Menezes e dentro dela seu desempenho em
pensar e propor ao Brasil uma forma de organização da sociedade o faço através da consulta em suas obras,
reunidas em 10 volumes, nas quais constam suas ideias acerca da religião, do direito e da filosofia, em especial a
alemã e que compõe seu entendimento acerca do papel da educação.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 13
O acervo do professor catarinense Elpídio Barbosa (1909-1966) contém documentos oficiais e ordinários que
permitem construir uma memória para a história da educação catarinense entre as décadas de 1930 a 1960. Os
materiais reunidos neste acervo permitem mapear a configuração de projetos educacionais em Santa Catarina
seja na proposição de políticas públicas para a educação em SC (Escola Nova) seja nas ações efetivas para a
gestão destas políticas. Elpídio Barbosa foi, entre 1935 e 1966, advogado, professor, inspetor escolar, reitor da
UDESC e diretor de sua Faculdade de Educação e secretário da Educação do estado de Santa Catarina. Seu acervo
está depositado no Instituto de Documentação e Investigação de Ciências Humanas (IDCH - UDESC) e é composto
por um fundo documental de cerca de trezentas peças entre revistas pedagógicas, catálogos, uma hemeroteca e
cadernos com anotações manuscritas, recortes e colagens contendo cópias de leis, atas de reunião e fotografias
escolares que se encontram coladas em seus cadernos, autonomeados como “tomos” todos relativos à sua
atuação na educação em Santa Catarina, entre 1935 e 1966. Deste acervo já se encontram higienizadas sessenta
(60) exemplares da Revista da Editora do Brasil S/A.(EBSA) abrangendo os anos de 1953 a 1964. Este trabalho
busca evidenciar um itinerário investigativo nesta coleção de revistas a partir da descrição deste impresso tanto
em sua materialidade (dimensões, diagramação) como em seu conteúdo (articulistas, temas, abordagens) com o
objetivo de analisar a importância da Revista como veículo de divulgação de ideias e propostas para os
professores que atuavam no Ensino Médio, conjugada à trajetória deste professor como um intelectual/
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
mediador para a configuração de projetos educacionais em Santa Catarina, desde a década de 1940. Assim, a
partir desses vestígios documentais, busca-se dar sentido a esta experiência sob o prisma combinado da História
da Educação – como produto de uma construção cultural em articulação com sua dimensão social assumida por
noções como representações, práticas e materialidade destes objetos culturais – (CARVALHO e PINTASSILGO,
2011 e FAULLHABER, LEITE LOPES e CHARTIER,2012) e da História do Tempo Presente - que considera as
experiências temporais da história e como em cada presente, as dimensões temporais do passado e do futuro
são postas em relação (HARTOG, 2013), considerando-se também, diálogos na clave dos estudos sobre o
Patrimônio Cultural pela análise das instâncias que custodiam e caracterizam um acervo dessa monta como um
bem cultural.
A cidade de São Leopoldo, localizada na região metropolitana de Porto Alegre, é conhecida como o berço da
colonização alemã no Rio Grande do Sul. Em 1824, ao chegarem ao Brasil, os alemães cultivaram seus hábitos:
idioma, cultura, religião, em sua grande maioria luterana. O Sínodo Rio-Grandense, responsável, em grande
medida pela educação da região, reuniu pequenas escolas de modo a melhorar as condições de estudo dos
colonos. Neste contexto é lançada, em 1936, a pedra fundamental do Colégio Sinodal, com bases fortemente
luteranas. As marcas dos diferentes contextos de ordem política, econômica, social e cultural, bem como seus
efeitos nas instituições escolares e na educação do país podem ser identificados, traduzidos e analisados a partir
dos acervos documentais encontrados em distintas instituições de ensino. Esses acervos, ao mesmo tempo em
que se constituem em remanescentes de uma história da educação, são também ilhas, muitas vezes isoladas, do
contexto escolar a que pertencem. O edifício, o mobiliário conservado, a luz, a iconografia e demais elementos
que os compõem, são fragmentos que produzem uma interpretação sobre a globalidade do que foi a escola de
outros tempos (DÍAZ, 2002). Os discursos escolares, materializados em museus, arquivos e acervos, produzidos
nos espaços de conservação a eles destinados, configuram uma espécie de hermenêutica daquele que organizou
e para aquele a quem se destina esse “lugar de memória”, que é, de modo geral, uma comunidade escolar. Uma
professora de Artes entusiasmada, um professor de História colaborador, um diretor empreendedor, um
marceneiro criativo e uma faxineira disposta: cinco pessoas e a história de criação e organização de um museu
escolar. O Museu Escolar Arnildo Hoppen do Colégio Sinodal em São Leopoldo, foi inaugurado dia 19 de maio de
1996. A investigação que tem como objetivo, produzir a história desse espaço e fazer uma reflexão sobre a
materialidade desses objetos e sua relação coma a História da educação, faz parte de um projeto intitulado
Instituições escolares na Região Metropolitana de Porto Alegre e Vale dos Sinos: acervos, memórias e cultura
escolar - sec. XIX e XX. A construção da empiria para a análise deste espaço, que hoje se denomina museu e
arquivo, foi se constituindo a partir de visitas ao acervo, de produção de imagens do espaço por ele ocupado,
consultas aos documentos e, sobretudo, a partir da narrativa memorialística de sua idealizadora: a professora
Lilian Sofia Saenger. A professora Lilian foi aluna nas décadas de 1940 e 1950, trabalhou como secretaria da
escola entre 1951 e 1957 e, em 1974, retornou como professora. Através de suas memórias foi possível entrever
uma rede de elementos que tornaram possível a criação, conservação e permanecia, até os dias atuais, do espaço
em questão.
A presente investigação faz parte das ações desenvolvidas pelo grupo de pesquisa “Educação no Brasil: memória,
instituições e Cultura Escolar”. Elege-se como objeto de análise o Acervo de História Oral do Instituto Marc
Chagall, localizado em Porto Alegre, que salvaguarda memórias de imigrantes judeus no Rio Grande do Sul. O
Instituto Marc Chagall foi criado em 1985 com o objetivo de promover o reconhecimento da cultura judaica no
Rio Grande do Sul. Aqui interessa apresentar e problematizar um de seus acervos, o de História Oral, composto
por quase 500 entrevistas desenvolvidas com imigrantes judeus e seus descendentes, todas elas transcritas e
disponíveis para consulta. Este Acervo começou a ser constituído em 1986 com o projeto “Preservação da
Memória Judaica”. Naquela ocasião, escutaram-se 428 narrativas desta comunidade étnica, tanto de Porto
Alegre, quanto de cidades do interior do Estado. Na década de 1990, o Instituto Marc Chagall promoveu um novo
projeto intitulado “Identidade Judaica”, cuja proposta era produzir documentos para elaboração de um censo da
62
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
comunidade judaica no Rio Grande do Sul. Assim, complementou-se o Acervo de História Oral com mais 40
entrevistas. A pesquisa situa-se no campo da História da Educação, em suas interfaces com as discussões acerca
da constituição de Acervos, Memória e História Oral. Teorizar e conferir dinamicidade e legitimidade às
investigações que tenham a História Oral como opção metodológica é uma forma de desenvolver pesquisas que
envolvam movimentos realizados em comunidades de memória anteriormente organizados por outros. Neste
sentido, valoriza-se aqui esse Acervo de História Oral do Instituto Marc Chagall, entendendo-se que as narrativas
produzidas nas entrevistas são portadoras de informações preciosas que nos permitem um maior entendimento
das histórias vividas pelo povo judeu desde seu processo de emigração da Europa até a chegada ao Brasil.
Especificamente, a pesquisa busca analisar como se deu a constituição desse Acervo, quem eram as pessoas
responsáveis pelas entrevistas, como elas aconteceram, como se deu a escolha dos narradores, quais as questões
disparadoras, quais os evocadores de memória, entre outros aspectos. Para além da constituição do Acervo de
História Oral, importa analisar nesses depoimentos indícios da história da educação desses sujeitos, incluindo aí
seus processos de escolarização. Trabalhar com essas memórias por meio da utilização de um Acervo Oral já
existente é uma legítima possibilidade historiográfica que promove a produção de outras histórias tendo como
fonte vozes de mulheres e homens, de certo modo imortalizadas, preservadas no Instituto Marc Chagall.
O estudo da imagem como um arquivo da memória escolar e da memória das práticas educativas é um
dispositivo de informação e de formação. A imagem é uma proposta ou protocolo de leitura, sugerindo ao leitor
a compreensão do texto e do seu significado. A iconografia na história e, especialmente, na história da educação
tem sido analisada como um registro histórico que merece um tratamento interno e externo pelos
pesquisadores. A imagem constitui uma forma importante de evidência histórica e nos permite “imaginar” o
passado de forma mais vívida. A análise de imagens deve abarcar os seus diversos elementos e planos,
identificando mensagens e motivações, o que implica uma leitura de temas e significados, que trazem as formas
expostas na imagem e o contexto de produção e recepção (BURKE, 2004). A leitura de imagens representa um
campo de pesquisa da História Cultural, pela conjugação de três elementos não dissociáveis: uma história dos
objetos em sua materialidade, uma história das práticas nas suas diferenças e uma história das configurações,
dos dispositivos nas suas variações. Por longo tempo, as imagens foram utilizadas como ilustração de algo, como
paisagem ou retrato. A sua redescoberta deu-se pela associação com a ideia de representação (CHARTIER, 1999).
Entendendo as representações e as imagens como elementos que participam das relações sociais e como
práticas educativas, o presente estudo analisa o acervo iconográfico do Memorial do Colégio Farroupilha de
Porto Alegre/RS (1886), tendo como foco as fotografias/retratos do ensino primário, nas décadas de 1940 a 1970.
O corpus documental é composto de 700 fontes imagéticas, a maioria em preto e branco, realizadas
majoritariamente pelo Studio Os Dois, que podem ser classificadas como individuais, coletivas, de sala de aula, de
festas escolares, quanto ao gênero, posadas ou espontâneas, em filas, alunos, professores, alunos e professores,
etc. As imagens serão analisadas como representações da cultura escolar. A pesquisa também abordará os outros
estúdios fotográficos presentes no espaço escolar. O estudo com imagens – cartazes de propaganda, anúncios de
publicidade, ilustração de livros didáticos e revistas pedagógicas, fotografias, mapas, plantas, filmes, lâminas,
slides, obras de arte, desenhos, histórias em quadrinhos – oferece múltiplas possibilidades de leitura da liturgia
escolar, como discurso pedagógico e não como um mero elemento decorativo.
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 14
A Comunicação Coordenada busca apresentar e discutir a presença das lógicas transnacionais no debate
educacional brasileiro dos anos de 1950 e 1960. Embora as leis e a organização do sistema educativo brasileiro
resultem da ação do governo do país, elas seguem na esteira de um pensamento mais global e de uma estratégia
de desenvolvimento definida em função de conveniências de uma sociedade capitalista. São, sobretudo,
importantes, em relação à modernização, às pressões para o desenvolvimento da escola de massas. Esse
desenvolvimento era sentido como necessário à expansão das relações que deveriam promover a consolidação e
a expansão das sociedades que valorizavam a iniciativa privada, os valores burgueses, a circulação do capital e
dos produtos, o aumento do consumo. Fortes pressões externas mais ou menos explícitas pela influência do
Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE), da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e de outros
organismos internacionais, estiveram presentes em vários países, na segunda metade do século XX, sobre
diversas formas: missões técnicas para a orientação do planejamento educacional, realização de conferências
educacionais, assistência na produção do conhecimento para a implementação das políticas públicas pela
valorização do papel das ciências sociais, como também a realização de empréstimos, entre outras ações. A
criação de organizações internacionais de natureza supranacional, como a Unesco, proporcionou um forte
impulso à internacionalização das problemáticas educacionais. As várias ações realizadas faziam parte do
“esforço para estabelecer uma racionalidade científica que permitisse formular leis gerais capazes de guiar, em
cada país, a acção reformadora no campo da educação permitindo criar vastas redes de conctatos, de
financiamentos e de permuta de informações e conhecimentos entre autoridades político-administrativas de
âmbito nacional, actores sociais experts e investigadores universitários” (TEODORO, 2001, p. 127). O tema
predominante no meio intelectual brasileiro nos anos de 1950 e 1960 era o tema da mudança social, ancorada na
percepção dualista da realidade brasileira. Esses foram os anos do desenvolvimentismo, forma de teorizar a
industrialização elaborada pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e divulgada no
Brasil, visando colocar o Estado a serviço de um acelerado crescimento econômico, reunindo intelectuais e
educadores em torno do projeto de democratização da sociedade brasileira, ancorado também no debate
transnacional sobre a educação.
A educação que se discute e que se organiza no Brasil participa de um sistema civilizacional fortemente
relacionado com a ordem econômica capitalista. Assim, e reconhecendo que todo o país tem sistemas educativos
com particularidades decorrentes das dinâmicas econômicas e culturais de cada um e de processos e
protagonismos políticos singulares, devemos ter em consideração que a educação no Brasil está sujeita a lógicas
transnacionais que a condicionam fortemente. Embora as leis e a organização do sistema educativo brasileiro
resultem da ação do governo do país, elas seguem na esteira de um pensamento mais global e de uma estratégia
de desenvolvimento definida em função de conveniências de uma sociedade capitalista. Exploraremos a hipótese
de um processo de globalização cultural de longa duração, que inclui a expansão da forma política do Estado-
Nação (DALE, 1999), para compreender a relação entre educação e desenvolvimento no Brasil, tendo como
principais atores, nas décadas de 1950/1960 organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) e a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal),
entre outras. A criação de organizações internacionais de natureza supranacional, como a Unesco, proporcionou
um forte impulso à internacionalização das problemáticas educacionais. As conferências, missões e assistência
técnica e financeira foram oferecidas a inúmeros países, entre os quais o Brasil. Nas recomendações das
Conferências Internacionais de Instrução Pública da Unesco (12 Conferências realizadas entre os anos de 1946 e
1962), a maior ênfase está na preocupação com a universalização da educação primária, obrigatória e gratuita,
64
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
com a diversificação da educação secundária e sua progressiva gratuidade, bem como a articulação deste grau de
ensino com o antecedente e com o acesso ao ensino superior. Essas recomendações estão centradas na equação
educação e desenvolvimento, ou seja, na crença que a expansão e a melhoria dos sistemas educativos
assegurariam o desenvolvimento socioeconômico e cultural. O tema predominante no meio intelectual brasileiro
nos anos de 1950/1960 era o tema da mudança social, ancorada na percepção dualista da realidade brasileira.
Esses foram os anos do desenvolvimentismo, forma de teorizar a industrialização, elaborada pela Cepal e
divulgada no Brasil, visando colocar o Estado a serviço de um acelerado crescimento econômico. No Brasil as
bases do projeto nacional desenvolvimentista são reforçadas pelo processo de redemocratização do país após a
queda do Estado Novo em 1945, sendo esse um momento de confluência entre o projeto do Estado Nacional e as
ambições dos educadores e intelectuais reunidos em torno do projeto de democratização da sociedade brasileira,
reforçado também pela transnacionalização da discussão educacional.
Nas décadas de 1950 e 1960, o Brasil vivia um período de redemocratização e reconstrução nacional e o mundo
enfrentava o pós-guerra, reorganizando-se o sistema capitalista, tanto nos países mais desenvolvidos como nos
países menos desenvolvidos. Os organismos internacionais passaram a prestar assessoria aos países latinos na
produção de conhecimento e implementação de políticas públicas para a organização da sociedade. Em especial,
valorizou-se o papel das ciências sociais no direcionamento do planejamento econômico e desenvolvimento
social dos países latino-americanos. A educação passou a ser pensada como fator determinante para a
democracia e desenvolvimento do país, a partir de uma “modernização planejada” (XAVIER, 1999). Dessa forma,
“a mobilização no interior do campo intelectual foi marcada pelo empenho em criar instituições e abrir mercado
próprio para o assessoramento na condução das políticas públicas, tendo como princípio norteador o
planejamento racional e científico” (XAVIER, 1999, p. 82). Foi neste contexto de mudanças sociais, políticas e
econômicas, que o intelectual brasileiro João Roberto Moreira (1912-1967) iniciou sua atuação em órgãos e
centros de pesquisa da educação nacional e internacional, entre eles o Centro Brasileiro de Pesquisas
Educacionais (CBPE) e o Centro Latino Americano de Pesquisas em Ciências Sociais (CLAPCS). Moreira participou
de um momento em que se iniciava o processo de institucionalização das ciências sociais, na mesma medida em
que se intensificava o processo de profissionalização e racionalização da esfera educacional. Nos seus estudos
publicados, bem como nas atuações que marcaram sua trajetória, Moreira passou a participar de um projeto
que, a partir da fundamentação científica nas ciências sociais, refletiu sobre a educação e a organização dos
sistemas de ensino, bem como pretendeu colaborar no direcionamento de políticas de Estado para essa área,
subsidiando o encaminhamento dado por este e pelos organismos internacionais à educação no Brasil e dos
países latino-americanos, em especial a partir de sua especialização na área da Educação Comparada. Para
George Bereday, especialista da Educação Comparada, no seu livro Método Comparativo em Educação, de 1968,
Moreira pode ser considerado um estudioso da Educação Comparada, na América Latina. Considera-se, assim,
que Moreira participou desse projeto implementado na América Latina por estes organismos e coadunou com
muitos dos intelectuais que acreditavam no papel central das ciências sociais para o encaminhamento das
políticas nacionais, bem como na sua função como intelectual que buscava compreender o sistema histórico-
social e fornecia subsídios para intervenção. Moreira integrou, neste sentido, um “projeto de modernização da
sociedade e de edificação de uma ciência do desenvolvimento e de mudança planificada” (BLANCO, 2007, p.
105).
No Brasil dos anos 1950 e 1960 a cooperação técnica internacional não era uma raridade. Sua difusão no século
XX pode ser observada nas décadas anteriores, quando a Universidade de São Paulo (USP) recebeu missões de
professores franceses nos anos 1930, e também foi criada a Comissão Mista Brasil Estados Unidos para o
Desenvolvimento Econômico em 1951 e encerrada em 1953, durante a segunda gestão do governo de Getúlio
Vargas (RIBEIRO, 2013). Essas missões encontraram no País uma ambiência privilegiada e receptiva, e após a 2ª
Guerra Mundial a intervenção de organizações internacionais nas políticas educativas nacionais, como novos
65
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
modos de regulação da problemática educacional, possuem uma intensa movimentação. As missões não focaram
somente o campo educacional, mas também outros campos como, por exemplo, o da arte e da cultura, uma vez
que podemos destacar a presença dos peritos Michel Parent (1966/1967), Frédéric Limburg Stirum (1967 -
projeto Parati); Graeme Shankland (1968/1969 - Projeto Salvador) e Alfredo Viana de Lima (1968/1970 - Projeto
Ouro Preto), dentre outros que se fizeram presentes depois dos anos 1970 (RIBEIRO, 2013). António Teodoro
(2001), inspirado em B. Fuller e R. Rubinson (1992) transcreve em uma epígrafe: “Deus se encarnava sempre na
figura de um ministro da educação”, o que demonstra que o sistema escolar se constituía “um dos lugares
centrais no processo de construção da modernidade” (TEODORO, 2001, p. 125). Assim, o objetivo das missões,
tanto culturais quanto educacionais, foi a integração desses campos ao planejamento e ao desenvolvimento do
país. No que diz respeito ao campo educacional, as missões internacionais procuraram imprimir soluções aos
problemas educacionais. Deste modo, negociações e intensas trocas foram possibilitadas pela cooperação
técnica da agência internacional Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco),
no Brasil. As missões técnicas foram oferecidas por meio de convênios realizados entre o Ministério de Educação
a vários estados brasileiros, entre os quais Santa Catarina, no intuito de reforçar a ideia de promoção do
desenvolvimento por meio da elaboração do planejamento da educação. O planejamento e a pesquisa eram
prescritos como “remédios” capazes de curar os males da educação (elevada taxa de repetência e evasão) e de
tornar hígidos os recursos humanos e materiais para acelerar o progresso social, econômico e cultural. Assim, os
países da periferia e da semiperiferia. ocidental começam a depender cada vez mais, na formulação de suas
políticas educativas, “da legitimação e da assistência técnica das organizações internacionais” (TEODORO, 2001,
p. 127).
O período de democratização do Brasil iniciado em 1945 foi marcado pelo clima de modernização via
desenvolvimento da indústria e da infraestrutura nacional. Tal contexto contribuiu para a crença de que o país,
além de fabricar seus bens e produtos, deveria gestar conhecimentos, uma vez que estes subsidiariam propostas
ajustadas à modernização preconizada (FREITAS, 2002). A prática do planejamento com fins à modernização, no
tocante à educação, esteve relacionada à criação de instituições voltadas para o desenvolvimento de pesquisas
ancoradas nas ciências sociais. Conceitos e métodos dessas ciências aplicadas à educação embasaram campanhas
e inquéritos acerca da realidade educacional brasileira, como é o caso das iniciativas do Instituto Nacional de
Estudos Pedagógicos (Inep) e do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE). A partir de 1952, quando
assumiu a direção do INEP, uma das primeiras ações de Anísio Teixeira foi a implementação da Campanha de
Inquéritos e Levantamentos do Ensino Médio e Elementar (Cileme), que atendia ao objetivo de conhecer a
realidade educacional dos estados brasileiros a fim de planejar racionalmente as ações a serem efetivadas, numa
vinculação entre pesquisa, planejamento, elaboração de políticas educacionais e aplicação de recursos no setor.
A partir do ano de 1956, as atribuições da Cileme passaram ao CBPE que, criado com a colaboração da
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), encontrava-se afinado às ideias que
circulavam transnacionalmente acerca das relações entre educação, modernização e desenvolvimento.
Intersecções entre o local, o nacional e o transnacional podem ser identificadas como uma das características do
projeto, pois, ao mesmo tempo em que eram realizados estudos sobre a realidade nacional (“encomendados” ou
não pela Unesco), com atenção às características regionais, também se colocava a perspectiva transnacional,
uma vez que os intelectuais ligados ao CBPE circulavam em instâncias que extrapolavam os limites do país.
Lógicas transnacionais representadas por organismos como a Unesco estiveram presentes em vários países no
período em questão, o que se deu tanto na forma de missões técnicas para a orientação do planejamento
educacional, quanto pela realização de conferências educacionais, ou ainda na assistência à produção de
conhecimentos ancorados nas ciências sociais visando à implementação de políticas públicas. Uma das
preocupações que emerge nos discursos assinados por esses organismos é a universalização da educação
primária, obrigatória e gratuita, o que encontrou ressonância no Brasil e no estado de Santa Catarina, quando,
por exemplo, há uma série de projetos voltados para as escolas primárias rurais e a formação de seus
professores, em iniciativas que pareciam atender ao objetivo de uma espécie de modernização do arcaico.
66
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 15
Claudia Alves
A circulação de ideias associadas ao positivismo de Auguste Comte iniciou-se no Brasil logo na segunda metade
do século XIX. A historiografia assinala a repercussão que tais ideias tiveram no meio militar, com destaque
particular para professores e alunos da Escola Militar da Corte, que formava oficiais para o exército brasileiro. O
ideário positivista fomentou a adesão ao projeto republicano e fundamentou as críticas ao regime monárquico,
assentando as bases do golpe militar que instaurou a república no Brasil. Na historiografia da educação brasileira,
a presença dos pressupostos positivistas foi constatada em várias dimensões da educação e dos processos de
escolarização empreendidos na Primeira República. O primeiro momento representativo das tentativas de
implementação prática das propostas comtianas para a educação escolarizada é assinalado na reforma de ensino
consubstanciada no Decreto n. 981, de 8 de novembro de 1890, que determinou um novo Regulamento para a
instrução primária e secundária do Distrito Federal, conhecida como Reforma Benjamin Constant. Vista como
resultado da vontade de um dos maiores expoentes do pensamento positivista do século XIX, a vinculação direta
do instrumento legal ao nome do oficial que ocupava, naquele momento, a Secretaria da Instrução Pública,
Correios e Telégrafos, criada pelo novo regime, é assumida como um dado pacífico. A liderança de Benjamin
Constant sobre as hostes positivistas militares impõe-se como um fato de tal envergadura que as disputas que
ocorreram em torno das leituras da obra de Comte são pouco discutidas pelos historiadores. Neste trabalho,
investimos em mapear as diferenças no interior do campo militar, quanto à apreensão da doutrina positivista, em
especial no que se refere à escola, no âmbito do projeto republicano. As principais fontes utilizadas foram
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
documentos manuscritos do acervo da Casa de Benjamin Constant e os artigos publicados por Raimundo Teixeira
Mendes e Miguel Lemos no Jornal do Comércio, no período imediatamente posterior ao decreto da reforma. O
principal objetivo foi identificar os pontos de divergência nessas leituras, colocando em foco um campo de
representações sobre a escola, o papel dos professores e o Estado republicano. Por meio da análise desse corpus
documental, foi possível perceber as nuanças da adesão de Benjamin Constant às ideias de Auguste Comte,
permeadas por uma experiência de ocupação de postos no estado construída sob a monarquia. Observou-se,
também, os dilemas que, no nascedouro, se impunham a um projeto republicano de educação escolarizada que
pretendesse aderir ao comtismo de forma radical. Palavras-chave: República, positivismo, Benjamin Constant
Talita Barcelos
Os anos iniciais da República pautaram-se pelo debate em relação à necessidade da ampliação do acesso à
instrução pública, uma vez que, ela era considerada o componente essencial para o progresso e a modernização
do país. Nesse contexto, alguns espaços de debate foram construídos com o intuito de discutir as possibilidades
de diminuição dos altos índices de analfabetismo da população no período. Um desses espaços foi estabelecido
por meio dos Congressos Brasileiros de Instrução Primária e Secundária, ocorridos entre 1911 e 1913, que tinham
por objetivo debater os princípios e as ações necessárias para o desenvolvimento de uma educação nacional.
Dentre os diversos temas discutidos nesses congressos, ressaltava-se a importância atribuída ao papel do
professor, entendido como agente essencial na educação das crianças principalmente no que diz respeito à
importância moral de sua função. O objetivo desse trabalho é analisar as demandas morais aos professores da
escola primária nos debates do 2º Congresso Brasileiro de Instrução Primária e Secundária, realizado em Belo
Horizonte no ano de 1912. Esse congresso pretendia concentrar seus debates especificamente nas questões
relativas à educação primária. Como fonte de análise utilizou-se as atas de organização e os anais relativos ao 2º
Congresso, bem como, notícias de jornais do estado de Minas Gerais que deram visibilidade ao Congresso
educacional. Para análise das fontes tomou-se como referencial teórico a perspectiva do sociólogo Èmile
Durkheim visando entender o educador como instrumento moralizador no processo de socialização e
aprendizagem dos alunos. Utilizou-se ainda, os conceitos de Norbert Elias considerando a escola, e a moral
construída através dela, como parte de um processo civilizador. Constatou-se que a formação e o resguardo
moral dos professores constituía-se ponto fundamental das questões e dos debates realizados no Congresso,
logo que, a educação moral do cidadão deveria ser aspecto imprescindível do processo educativo das novas
gerações. Entre outras questões, identificou-se que os debates realizados durante o Congresso destacaram o
professor como sujeito fundamental para a erradicação do analfabetismo e para a transformação das crianças em
cidadãos moralmente ativos para a república. Desse modo, esse trabalho pode concorrer para o entendimento
do processo de construção da profissão docente, esclarecendo os aspectos e as demandas que se constituíram
associados à profissão. Pode ainda, contribuir para o debate em torno dos projetos educacionais em disputa nos
anos iniciais da república e como a profissão docente era influenciada ou se relacionava com tais projetos.
Palavras-Chave: Moral, profissão docente, república.
Eliana de Oliveira
Cynthia Greive Veiga
Esta comunicação apresenta reflexões desenvolvidas em pesquisa recentemente concluída sobre o processo de
profissionalização dos professores públicos primários em Minas Gerais nos anos iniciais da republica. Parte-se da
premissa de que o processo de normatização da escola pública primária realizada pelos governantes mineiros e
que culminou na criação oficial dos grupos escolares no ano de 1906, contribui de forma significativa para alterar
as dinâmicas relacionais entre o professorado, bem como entre docentes, gestores do ensino e comunidades
locais, havendo inclusive em algumas escolas variados conflitos que culminavam em processos disciplinares,
perseguições políticas, abandono do cargo e em alguns casos, no surgimento ou agravamento de doenças,
relacionadas com problemas de fundo nervoso. Por sua vez, concomitante com o processo de organização dos
grupos escolares, os professores também começam a se organizar em associações docentes, que culminou na
criação da “União do Magistério Mineiro” em 1906 e na realização de três encontros anuais entre os professores
primários ocorridos respectivamente nos anos de 1909, 1910 e 1911 intitulado “Congresso dos Professores
Públicos Primários de Minas Gerais”. Nossa principal hipótese é que a instituição dos grupos escolares
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
intensificou de forma significativa as relações entre os docentes, visto que passaram a compartilhar de forma
mais intensa as experiências da prática do trabalho, o que por sua vez, contribuiu para acentuar o processo de
criação das entidades associativas e a realização de proposição para a melhoria da escola primaria e das
condições de trabalho. A análise do processo de associação entre os professores primários se fundamentou na
teoria de Edward Thompson, deste modo, pretendeu-se explicar que a consciência de classe elaborada pelo
professorado favoreceu a organização dos professores enquanto categoria profissional de modo a fazer ouvir
suas reivindicações. A teorização de Norbert Elias também contribuiu para dar visibilidade a dinâmica relacional
de interdependência presente no processo de escolarização, sendo possível, perceber a existência de equilíbrios
diferenciados de poder entre professores, alunos, pais e gestores do ensino. As principais fontes utilizadas para o
desenvolvimento desta comunicação foram os documentos que se encontram no Arquivo Público Mineiro, como
as correspondências enviadas a Secretaria do Interior, contendo solicitações e queixas de professores e
inspetores ambulantes no que diz respeito as condições de trabalho nas escolas primárias. Também foi dado
destaque para as publicações no Jornal “Minas Gerais” referente a “União do Magistério Mineiro” e sobre a
realização dos três encontros do “Congresso dos Professores Públicos Primários de Minas Gerais”. Palavras
Chave: escola republicana, condições de trabalho docente, associativismo docente
Adelia Bassi
Ana Carolina Bergamashi
Esta comunicação analisa os debates sobre a elaboração de políticas de estruturação da educação rural no Brasil
por meio de estudos sobre os projetos de educação rural em circulação no período entre 1934 e 1961. Neste
recorte histórico, adotamos como marco inicial a promulgação da Constituição de 1934 que de modo inédito
previu fundos para a educação rural e, como marco final, a finalização da primeira lei de diretrizes e bases da
educação nacional em 1961. No Brasil, desde o período imperial é possível identificar iniciativas de educação
para o trabalho no meio rural, especificamente nas instituições inauguradas após a Lei do Ventre Livre (1871),
como colônias e asilos orfanológicos. Neste contexto, se instaurou uma tradição de associação entre formação
rural e crianças marginalizadas social e economicamente. Esta prática se seguiu ao longo da república, embora
alguns grupos escolares trouxeram em seus currículos, conhecimentos elementares de práticas agrícolas. Com o
avanço da urbanização, crescimento da indústria e êxodo rural, ampliou-se a nacionalização dos debates sobre a
educação rural e profissionalização tanto no nível da escola primária como da escola secundária, incluindo o
aparecimento da vertente do ruralismo pedagógico. Há de se destacar que no contexto em estudo houve um
deslocamento nas representações negativas da população brasileira (ROCHA, 2004), para uma dimensão de
república pautada pelo nacionalismo e valorização popular. Contudo, nas discussões sobre educação e
profissionalização da população rural destacam-se contradições. Nossa hipótese é de que os projetos de
educação rural foram constituídos pelos valores da vida urbana e, paradoxalmente, acabaram por negar a própria
vida rural. O objetivo do estudo é realizar um levantamento das principais proposições pedagógicas para a
educação no meio rural, no recorte temporal indicado, em diferentes fontes documentais tais como legislações,
artigos veiculados em periódicos, como a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, anais dos congressos da
Associação Brasileira de Educação (ABE), entre outras. Os estudos historiográficos se fazem através da produção
sobre república dialogando principalmente com Ângela de Castro Gomes (2002; 2013), Marcos Cezar Freitas
(2005), Maria Helena Capelato (2007); historiadores da educação contemporâneos como Flavia Werle (2007;
2010; 2013) e Marta Carvalho (1998); autores clássicos, como Alberto Torres (1982), Sud Menucci (1934),
Fernando de Azevedo (1953, 1962), Jorge Nagle (1974; 1975), entre outros; os estudos teóricos e conceituais se
realizam no âmbito da sociologia rural a partir dos estudos de José de Souza Martins (1986; 1975) e William
Héctor Soto (2002). Palavras-chave: Educação rural; República; Modernização do campo.
69
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 16
A proposta desta mesa resulta de discussões sobre a República em vários e diferentes aspectos, buscando a
compreensão de seus contextos e dos processos educadores. Não sem razão, a diversidade de abordagens traduz
a heterogeneidade da Primeira República no Brasil, e as temáticas aqui expostas estiveram presentes nos
debates educacionais constituindo as diferentes matizes do pensamento pedagógico e das ações educacionais
enquanto políticas de Estado. Esta mesa se organiza a partir de quatro comunicações que abordam distintas
proposições pedagógicas, são elas: “República e educação: o positivismo como um processo educador” que
analisa a relação positivismo e educação em sua construção enquanto um processo educador, considerando em
seu contexto a produção de concepções de educação e sociedade que circularam por meios diversos em fins do
século XIX e início do XX, influenciando os processos políticos, sociais e educacionais; “As relações perigosas:
espiritismo, marxismo, comunismo, educação de adultos” que objetiva compreender figuração estabelecida por
Paschoal Lemme (1904-1997) em sua interdependência com outras figuras sociais no processo de militância e
produção intelectual na educação de adultos; “O Integralismo e a educação: escolas integralistas em Minas
Gerais (1932-1937)” que analisa a educação nas fileiras do integralismo a partir da implantação e funcionamento
das escolas integralistas em Minas Gerais e “Escola Nova: da renovação do ensino à reforma educacional pelo
alto” busca pontuar as ideias pedagógicas esgrimidas na sociedade civil, distinguindo as diferentes concepções de
escola em jogo no processo da organização do ensino na Paraíba e no Rio Grande do Sul na década de 1940.
Perfaz, assim, uma trajetória da história da educação brasileira de fins do século XIX a meados do XX, período de
maior vigor destas propostas educacionais. A presença das diferentes proposições podem levar, em um primeiro
momento, a pensar em rupturas ou dicotomias, no entanto, o entendimento dos processos mais específicos da
história da educação demonstraram que, no trânsito social e político, diversas tendências do pensamento
educacional caminharam juntas: ora se aproximando, ora se negando e ora se mesclando. Neste entendimento é
possível observar e compreender como a história da educação da Primeira República e dos anos subseqüentes
abrigou em seus domínios a complexidade social do período. Neste movimento, esta proposta de comunicação
coordenada além de aprofundar o diálogo com as especificidades da educação que constituíram a diversidade do
período, busca compreender, por meio de novas fontes e olhares mais específicos, como e em que aspectos,
proposições articuladas com o positivismo, com o comunismo, com o integralismo e o escolanovismo permearam
as discussões político-sociais sobre a educação e as proposições de ações no contexto de sua importância na
construção do Brasil.
Este trabalho analisa a relação positivismo e educação a partir das propostas veiculadas em estudos, publicações
e periódicos associados a essa corrente de pensamento. Parte da constatação da visibilidade que ambos,
positivismo e educação, adquiriram na República brasileira e busca compreender, pelas fontes, como esta relação
se constrói e se apresenta enquanto um processo educador. Considera que o positivismo é essencialmente
pedagógico tanto nas proposições quanto nas ações, e que seus adeptos (ortodoxos e não ortodoxos)
produziram concepções de educação e sociedade que circularam por meios diversos em fins do século XIX e início
do XX, influenciando os processos políticos, sociais e educacionais. Tais concepções, calcadas principalmente nas
lições de Comte, proliferaram em diferentes estados, escolas, faculdades, entre políticos, professores e alunos,
aliadas às lutas políticas da abolição da escravatura e da instauração da República brasileira. A ambiência
positivista em diferentes escolas do país, a atuação de professores e as publicações construíram a visibilidade
desta corrente de pensamento, que teve na República sua emergência política. Assim, o ideário positivista se
transformou em conteúdos escolares e programas políticos com vistas ao progresso, onde a Humanidade, por
meio do conhecimento, do ordenamento político-social, do desenvolvimento da indústria e da ciência, atingiria a
regeneração social. Dizer do positivismo como um processo educador significa considerar além das diferentes
formas de sua manifestação e disseminação no Brasil, seus objetivos educativos expressos na sistematização de
70
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
suas propostas, de suas ações e sua relação com uma educação político-social. Estas ações foram desenvolvidas
institucionalmente pela Igreja Positivista do Brasil e pelo Apostolado Positivista, e “pela fortaleza das convicções
de uma plêiade de cidadãos”. Neste contexto, a abordagem da temática do positivismo como processo educador
considera a atuação dos positivistas no período que antecedeu a República, na sua implantação e no período
subseqüente, temporalidades em que apresentou maior influência. Esta pesquisa foi feita a partir da
historiografia brasileira e da educação, e de autores como Alonso(1995), Bergo(1979), Botto(1996),
Carvalho(1998), Lins(1967), Paim(2002), Silva(2008), Sobreira (2003) e Veiga(2011) cujas análises balizam este
estudo; além das obras de e sobre Comte e de positivistas brasileiros dos séculos XIX e XX. Esta comunicação
apresenta resultados parciais de pesquisa de pós doutoramento e foi efetivada pelo levantamento de fontes
primárias e secundárias, com seleção por sua caracterização e pertinência ao estudo. Constitui-se em uma
pesquisa documental e bibliográfica realizada a partir da história da educação e suas propostas metodológicas de
inquérito das fontes, ampliação da leitura e interpretação temática. Palavras-chave: Positivismo, Educação,
República
Cristiane Xavier
Este estudo é parte de pesquisa de doutorado, em andamento, e que objetiva compreender a figuração formada
por Paschoal Lemme (1904-1997) em sua interdependência com outras figuras sociais no processo de militância e
produção intelectual em prol da educação de adultos. Constitui-se em um esforço de articulação conceitual entre
as proposições da sociologia do conhecimento em Norbert Elias e da história dos intelectuais em François Sirinelli
para o qual trazemos como fontes a obra de Lemme publicada nas suas Memórias, livros, artigos, entrevistas e
relatórios bem como decretos, leis, jornais de época e estudos sobre a temática da educação de adultos
realizados por membros da ABE. Os resultados parciais indicam que a participação de Lemme no debate sobre o
problema da educação de adultos no movimento de renovação pedagógica dos anos de 1920-1930, apresentava
algumas particularidades em relação à ação dos reformadores na atividade administrativa da instrução pública do
Distrito Federal. Tais particularidades estiveram situadas na disputa entre mudar as condições sociais para criar
um sistema adequado de instrução ou construir um sistema de instrução adequado capaz de mudar as condições
sociais. Assim, para tornar possível a democratização do ensino, enquanto a escolarização das crianças “em idade
escolar” no modelo próprio das escolas ativas fora enfatizada nas reformas educacionais do Distrito Federal,
mesmo ciente dos altos índices de analfabetismo da população em geral Lemme afirmava que a educação de
adultos ultrapassava em premência e importância a própria obra de extensão do ensino elementar para os
indivíduos em idade escolar. É certo que as atividades profissionais e a militância de Lemme no campo da
educação foram marcadas por uma posição de esquerda. As suas redes de interdependência demonstram que
ele estava estreitamente ligado ao comunismo e às suas atividades. Tais redes indicam que ao menos três dos
seus irmãos atuavam junto ao Partido. Foi detido e preso em 1936, pelo Tribunal de Segurança Nacional, acusado
de fazer propaganda comunista nos cursos de educação de adultos que organizara. Artigos e notas de divulgação
de conferências por ele proferidas e de livros de sua autoria estão presentes em jornais como “Tribuna Popular”
e “A classe operária”. Referências elogiosas ao seu nome, caráter e competência figuram nas páginas de “A
Batalha” e “A Esquerda”. Como fruto do seu processo de individualização, a identificação de Lemme com a
esquerda e o seu modo de compreender a educação de adultos tem origens nas relações familiares tecidas
durante a sua infância e adolescência e suas raízes estão conectadas ao espiritismo. Palavras-chave: Paschoal
Lemme, Educação de Adultos, Comunismo
Lenir Palhares
O trabalho analisa a educação nas fileiras do integralismo a partir da implantação e funcionamento das escolas
integralistas em Minas Gerais, no período compreendido entre os anos de 1932 e 1937. A delimitação
cronológica foi estabelecida levando-se em consideração o período de atuação da Ação Integralista Brasileira. O
Integralismo se lança oficialmente no ano de 1932, por meio do Manifesto de 7 de Outubro, e seu fim é
decretado em dezembro de 1937, data em que os partidos políticos são cassados por Getúlio Vargas com o
advento do Estado Novo. Nos anos iniciais da República e nas primeiras décadas do século XX, aprofunda-se a
compreensão de que a instrução do povo brasileiro era fundamental para construção e consolidação da
República. Nessa perspectiva, o advento da escolarização pode ser visto como processo de continuidade de um
projeto que se instaura já nos primórdios da República, mas que, ainda na década de 1930, se apresenta
71
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
incipiente e incapaz de suprir a demanda social. Em consonância com essa abordagem, este trabalho parte da
hipótese de que a adesão à proposição de projeto pedagógico na perspectiva da cultura política do integralismo
foi favorecida pelas lacunas deixadas pelo Estado no que toca a expansão do acesso à alfabetização, da escola
primaria e de profissionalização. O trabalho tem como objetivo apontar a forma de funcionamento dessas
instituições escolares por meio do estudo do dos regimentos integralistas, do processo de implementação e
funcionamento destas escolas, assim como também de suas práticas pedagógicas, de modo a estabelecer sua
forma de atuação em face às demandas sociais do contexto. O estudo toma por base as proposições de José
Chasin (1978), Hélgio Trindade (1979), Marilena Chauí (1978), Gilberto Vasconcelos (1979); no tocante à
educação integralista, estabelece interlocução com Rosa M. F. Cavalari (1995), Giovanny Viana (2008) e Renata
Simões e Silvana Goellner (2012). No que se refere ao campo conceitual situa-se por meio das proposições de
Cynthia Veiga (2003), Rodrigo Patto Sá Motta (2009), Serge Berstein (1998) e René Rémond (1996). O trabalho
parte de fontes documentais do acervo do Arquivo Público Mineiro onde estão guardados documentos
produzidos pela Polícia Política e pelos integralistas, entre os anos de 1927 a 1979; dos periódicos integralistas,
visto que a AIB foi o primeiro partido de massa brasileiro a fazer uso da imprensa de forma sistemática; conta
ainda com a investigação bibliográfica das obras produzidas por Plínio Salgado e outros intelectuais integralistas,
no que se refere à educação. Palavras-chave: educação, integralismo, escolas integralistas
Recebendo como herança do Império a descentralização da escola elementar, a República brasileira teve que
esperar pela década de 1930 para que o Estado nacional assumisse efetivamente a meta da escolarização básica
para todos. Manteve-se assim por mais de 40 anos a motivação federativa do Ato Adicional de 1834, que
praticamente relegou às então Províncias o cuidado com a educação primária e secundária. O caráter
essencialmente propedêutico ao ensino superior dessa última manteve-a sob o rígido controle do poder central,
enquanto se deixava ao incipiente ensino primário a livre experimentação pelo poder local. O modelo de
organização desse ensino em grupos escolares se tornou rapidamente uma marca distintiva da República, com
suas edificações grandiosas a simbolizar “a ordem e o progresso” nacionais. Em estreita associação com a
modernidade, sob a influência das inovações pedagógicas em curso tanto na Europa como nos Estados Unidos as
elites intelectuais locais criticam duramente a educação tradicional nesse período, apropriando-se das diversas
propostas metodológicas então em circulação. As reformas educacionais da década de 1920 nas diversas
unidades da federação já anunciam sua convergência para uma “escola nova”, cuja oportunidade surge de
imediato com a irrupção do movimento revolucionário liderado por Getúlio Vargas e que tinha a educação
popular como bandeira de luta. Exatamente um século depois do Ato Adicional, na constituinte de 1934, ao se
retomar a questão de uma escola única para todos, investe-se o Estado nacional do dever de prover uma
escolarização básica para os brasileiros, objetivo que seria alcançado apenas no final do século e somente para o
ensino fundamental. Neste trabalho pretende-se pontuar essa trajetória analisando as ideias pedagógicas
esgrimidas na sociedade civil, procurando distinguir as diferentes concepções de escola em jogo nos debates que
ocorreram na organização do ensino na Paraíba e no Rio Grande de Sul no início da década de 1940. A
intervenção do governo federal na educação desses dois Estados durante o Estado Novo varguista, com a
participação efetiva do escolanovista Lourenço Filho então no comando do INEP, nos parece ilustrar bem a gama
de problemas então enfrentados nessa tentativa de implantação de um sistema nacional de educação primária.
O problema da nacionalização do ensino nas zonas de imigração estrangeira em terras gaúchas e o desafio da
inclusão escolar na região nordestina pôs à prova a capacidade das novas ideias pedagógicas de feitio liberal
embasar a política educacional do governo autoritário. Palavras-Chave: Reforma Educacional, Política
Educacional, Lourenço Filho
72
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 17
Esta sessão de comunicações parte do pressuposto de que é possível construir uma história do ensino das línguas
a partir da legislação referente à matéria. Isso porque tal história, ao atentar para o processo de
ins tucionalização do ensino de línguas, bem como de sua configuração como disciplina escolar no sistema
educacional do país, tem como objetivo principal investigar o modo como se delineiam suas finalidades políticas,
pedagógicas e culturais, para além do seu papel como instância de validação de um conjunto de conteúdos e
métodos (re)elaborados ou facilitados para sua aprendizagem escolar no decorrer do tempo, como geralmente
se pensa. Nesse sentido, a perspectiva aqui adotada torna possível a inves gação do modo pelo qual os próprios
conceitos de língua e literatura se cons tuíram historicamente, uma vez que, através do estudo de certas peças
legislativas, pode ser observado o papel que tais conceitos se configuraram nas políticas linguísticas e
educacionais implementadas nos diferentes momentos históricos. Desse modo, o estudo do seu processo de
ins tucionalização, isto é, de sua oficialização, mediante as políticas educacionais do Estado, confunde-se com a
análise da legislação promulgada por esse mesmo Estado, no intuito de apreender suas finalidades – que são ao
mesmo tempo políticas, pedagógicas e culturais –, tal como se mostram no texto final da lei, a qual, por sua vez,
resulta das práticas legislativas de vários agentes, ao mesmo tempo em que repercute seus fatores políticos,
religiosos, econômicos e culturais. Seus objetivos são os seguintes: fazer um levantamento biobibliográfico de
professores de línguas que, em seus respectivos contextos institucionais, contribuíram para o desenvolvimento
do ensino de suas disciplinas, seja publicando compêndios, seja ocupando cargos diretivos ou legislativos;
estabelecer uma periodização relacionada ao ensino de línguas e de suas respectivas literaturas no Brasil, do
ponto de vista legislativo, levando em conta suas finalidades e práticas; congregar pesquisadores das áreas de
História da Educação, Língua Portuguesa, Linguística, Linguística Aplicada e Teoria Literária, numa relação
recíproca de trocas e empréstimos, para romper certas limitações e fomentar perspectivas inusitadas do ensino
de línguas; fazer o levantamento, seleção e descrição crítica de compêndios produzidos e publicados no Brasil,
classificando-os por gêneros e relacionando-os com o processo de ins tucionalização e desenvolvimento do
ensino de línguas no país; contribuir para a construção e sistema zação de um banco de dados referentes ao
ensino de línguas e de suas respectivas literaturas no Brasil, facilitando o desenvolvimento de futuras pesquisas
sobre o tema.
Este trabalho pretende propor uma periodização para o ensino de línguas estrangeiras no século XIX,
contrapondo-se a uma certa historiografia que divide a sua história no Brasil em uma fase anterior e outra
posterior a 1931, posição adotada não só por Leão (1935) e Chagas (1967), mas por quase todos os estudos que
tratam da matéria, justificando-se pelas finalidades políticas, pedagógicas e culturais assumidas pelo ensino
daquelas línguas, mais do que pelos seus supostos avanços metodológicos, os quais, de qualquer modo, são bem
anteriores a 1931, ano em que foi instituído o método direto no país. Dessa forma, são delineadas três fases, ou
etapas, do processo de institucionalização do ensino das línguas estrangeiras no Brasil. Na primeira fase (1809-
1837), que comporta o governo joanino e do seu filho e sucessor, D. Pedro I, bem como o período regencial,
estendendo-se até o ano em que foi criado o Colégio de Pedro II e instituída a Instrução Secundária no país, as
línguas estrangeiras têm uma finalidade eminentemente instrumental, uma vez que seu estudo se justifica como
instrumento de acesso a um conhecimento tido então como “scientifico”, e que era professado, às vezes por
lentes estrangeiros e quase sempre por compêndios escritos em língua francesa ou inglesa, nas Academias
Militares, nos Cursos Médico-Cirúrgicos, nas Aulas de Comércio e Agricultura e depois nos Cursos Jurídicos,
centros formadores da Sociedade Civil, ou da elite local, que excluía todos os que não fossem “cidadãos”, de
acordo com a interpretação à época corrente do artigo 6.º da Constituição de 1824: os escravos e os homens
livres e despossuídos. A segunda fase (1837-1870) tem início com a instituição da instrução secundária no país,
que coincide com a fundação do Colégio de Pedro II, quando o ensino das línguas estrangeiras, além de seu papel
instrumental, assumiu uma finalidade literária, mais de acordo com o tipo de formação que os estabelecimentos
modelados segundo aquela instituição deveriam proporcionar aos alunos, e que estava muito próximo de uma
73
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
“educação litteraria”, estendendo-se até a reforma de seus regulamentos por um decreto de 1870, assinado pelo
Conselheiro Paulino José Soares de Souza, que reformulou os programas de línguas em função da supremacia
que o estudo do português passou a ter no plano de estudos da instituição. A terceira fase (1870-1890),
finalmente, se inicia quando as línguas estrangeiras, mantendo seu caráter instrumental e literário, começam a
assumir uma finalidade prática, como “meio de communicação do pensamento” – nas palavras do professor
Carlos de Laet, em relatório de 1882 –, o que ocorre com a reforma do conselheiro Paulino José Soares de Souza,
em 1870, e termina quando o inglês deixa de ser uma matéria obrigatória no plano de estudos do Colégio de
Pedro II, o que ocorre quando o ministro Benjamin Constant assina o Decreto n. 1.075, de 1890.
O que se procura descrever nesta ocasião é um recorte de uma pesquisa que foi desenvolvida no Programa de
Pós-Graduação em Educação (Mestrado) da Universidade Estadual de Maringá, entre o ano de 2009 a 2010,
orientado pelo Prof. Dr. Mário Luiz Neves de Azevedo. Ao longo da História, houve várias mudanças no cenário
do ensino de Língua Estrangeira (LE) no Brasil. Elas ocorreram não somente na estrutura desse componente
curricular das escolas de ensino fundamental e médio, mas também, na estrutura do currículo escolar que sofreu
constantes transformações em decorrência dos aspectos políticos, sociais e econômicos. Até meados do século
XX, o ensino de LE tinha objetivos bem diferentes do dos dias atuais, pois, antigamente, desde o Império até a
LDB de 1971, a LE era entendida como parte da formação para a própria unidade do espírito humano dos jovens.
Atualmente, ela é atrelada a fins de instrumentalização (não no sentido de instrumento de comunicação, mas
principalmente no sentido de ferramenta para certos fins determinantes) da entrada do jovem no mercado de
trabalho, como afirma a mídia em certas reportagens e/ou documentários que tratam da importância em se
aprender uma LE com ênfase ao mercado de trabalho. Portanto, podemos dizer que essa transformação na
forma do ensino de LE, ocorrida na primeira metade do século XX, afetou a forma de se concebê-la como
disciplina escolar. Assim, o objetivo desse trabalho é apresentar os (des) caminhos que levaram o estado do
Paraná a um momento de reformulação em seu currículo, levando a saída do espanhol como componente
curricular na década de 1980 e voltando a sua oferta no início da década de 1990 com a criação do Centro de
Ensino de Língua Estrangeira Moderna (CELEM) em todo Estado. Este trabalhou utilizou uma metodologia
documental e bibliográfica para elucidar os sentidos da política de ensino do espanhol (1980-1990) no Paraná.
Nesse sentido, constatou-se, que, no estado do Paraná, o espanhol começou a se solidificar no cenário do ensino
de LE, no final da década de 1980, devido a sua valorização mundial e também pela valorização dos professores
de idiomas que não concordavam com a supremacia do inglês como LE a ser ensinada como componente
curricular nas escolas do Paraná. Devido a esta luta contra a hegemonia do inglês, o espanhol se configura no
estado do Paraná, em 1982, com a criação do CELEM, que primeiramente, ficou mais restrito no Colégio Estadual
do Paraná, em Curitiba, devido à existência de professores licenciados a lecionarem o espanhol, e mais tarde,
entre 1984 a 1989 expandiu-se por todo o Estado, vindo se consolidar como componente curricular devido à
criação do MERCOSUL na década de 90.
A presente proposta de comunicação tem como objetivo principal observar a configuração das Aulas de
Comércio e sua iminente demanda do ensino de língua inglesa. Após um relativo período de estabilidade
econômica portuguesa baseada na sua posição geográfica privilegiada e pelo pioneirismo nas grandes
navegações, Portugal enfrentou a crise do sistema colonial agravada pelo Terremoto de Lisboa (1755), que trouxe
à tona as dificuldades portuguesas em sustentar-se na sua política de neutralidade, além de expor a crise
administrativa enfrentada por um reinado descomprometido com os assuntos da corte portuguesa, conforme
Maxwell (1996, p. 4). Diante do mencionado cenário histórico, surgiu a necessidade da (re)construção da nação
portuguesa. A figura responsável por implementar as reformas necessárias foi o secretario dos negócios do reino,
Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal. Uma das primeiras manobras das reformas
pombalinas foi a capacitação dos homens de negócios. Visando o projeto de perfeito negociante idealizado na
legislação pombalina, foram criadas as Aulas de Comércio, que, além de oferecer aulas de aritmética, registro
mercantil e outras referentes à prática comercial, ainda suscitou o ensino de língua inglesa para viabilizar as
transações comerciais mantidas com a Inglaterra. A partir da contextualização histórica e do entendimento dos
princípios das reformas pombalinas, foram observadas peças legislativas e documentos que prestaram
74
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
depoimento acerca das Aulas de Comércio, iniciadas em 1759 em Lisboa e importadas para o Rio de Janeiro em
1846. As Aulas de Comércio e seus Estatutos foram observados a partir de registros encontrados de suas
representações em Lisboa, Porto, e mais tarde, Brasil. Algumas contribuições de intelectuais como Sanches
(2003) e Locke (1779) para a instrução foram relacionadas para apontar a recomendação do ensino de língua
inglesa no contexto da formação utilitária necessária para a formação do Estado Moderno português. Além disso,
para atender ao objetivo proposto e promover o embasamento teórico necessário, foram utilizados alguns
pressupostos teóricos da historiografia linguística, como (AUROUX, 1992), dos estudos culturais (HALL, 2001), da
história cultural (ANDERSON, 2008), da história política (HOBSBAWM, 1991), da historiografia educacional
(ANDRADE, 1978; CARVALHO, 1978; FALCON, 1993), bem como do ensino de Inglês (HOWATT, 1984; MICHAEL,
1987; OLIVEIRA, 1999, 2006, 2008, 2010; e SANTOS, 2010). Diante da natureza desta pesquisa, a proposta
teórico-metodológica que mais se aproximou das necessidades foi o método indiciário de Ginzburg (1986, p. 149-
150), o qual tem seu paradigma centrado no uso de dados considerados reveladores ainda que residuais ou
marginais.
Este trabalho objetiva investigar a importância da língua portuguesa na constituição do Estado Nação e como
esta foi inserida no ensino de humanidades no Brasil durante o período de 1757 a 1772, que corresponde à
primeira fase das reformas pombalinas da instrução pública. Para tanto, fez-se a análise do discurso educacional
da legislação expedida no período recortado, observando, sobretudo, os elementos que contribuíram para
reconhecer a maioridade da língua portuguesa, em detrimento do latim. Nesse sentido, realizou-se o
levantamento dos Alvarás de 1757, 1759, 1770 e 1772. Serviram de base para esta pesquisa alguns pressupostos
teóricos da história das disciplinas escolares (CHERVEL, 1990; CHERVEL & COMPÈRE, 1999), da história cultural
(ANDERSON, 2008; HÉBRARD, 2000; CHARTIER, 2000), da linguística histórica (AUROUX, 1992), e da historiografia
educacional (ANDERSON, 2008; CARVALHO, 1978; CARVALHO 2001; HÉBRARD, 2000; OLIVEIRA, 2010). A fonte
objeto de estudo deste trabalho foi a legislação pombalina em dois volumes: Collecção da Legislação Portugueza
desde a ultima compilação das ordenações oferecida a El Rei Nosso Senhor pelo Desembargador Antonio
Delgado da Silva. Legislação de 1750 a 1762 e Collecção da Legislação Portugueza desde a ultima compilação das
ordenações redegida pelo Desembargador Antonio Delgado da Silva. Legislação de 1763 a 1774, ambas
disponibilizadas por meio eletrônico. Dentro dessa coleção, figura um documento chamado Instrucções Régias
que corresponde às orientações para professores de Humanidades das escolas abertas em Portugal e seus
domínios e abrangiam desde a finalidade do ensino até a proibição da metodologia jesuítica. Nele, vê-se a
importância de acrescentar o idioma nacional ao ensino de Humanidades. O recorte cronológico justifica-se pelo
seguinte: 1757 por ser o ano da publicação da Lei do Diretório, primeira legislação a tratar explicitamente do
ensino de língua portuguesa, tornando-o razão de estado. Ainda no mesmo dispositivo, Sebastião José de
Carvalho e Melo, marquês de Pombal, expressou seu projeto de maioridade e valorização da língua portuguesa
como instrumento de representação do espírito nacional não só de Portugal, mas também da América
Portuguesa, por meio da institucionalização do ensino da referida através da abertura de duas escolas de ensino
elementar no Grão-Pará e Maranhão. Quanto a 1772, explica-se por ser este o ano no qual foi promulgado o
Alvará que constituiu o “coroamento” de um conjunto de ações pedagógicas travadas durante o Reinado de José
I, com a reformulação dos Estudos Menores, criação de mecanismos estatais para viabilizar a ensino ofertado
pelo Estado, a exemplo do subsídio literário, e abertura de escolas em todos os territórios sob seu domínio, em
benefício do plano de administração do ensino em Portugal e suas colônias, dando início à segunda fase das
reformas.
75
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 18
Esta sessão coordenada propõe estudar práticas educativas que contemplam a educação da infância. Os estudos
nessa área vêm ampliando seu campo de ação, saindo dos espaços mais tradicionais de pesquisa em história da
educação. Nos presentes trabalhos, os pesquisadores que compõem essa proposta apresentam suas pesquisas
em estudos voltados para etnias indígenas e ciganas e para as práticas educativas desenvolvidas pela Igreja
Católica de assistência à criança pobre, envolvendo estudos nos estados do Ceará e Rio Grande do Norte e
Paraíba. O marco temporal se situa no período que vai do Pós Segunda Grande Guerra aos dias atuais e têm
como referencial teórico a história cultural e antropologia da infância. A pesquisa ‘As Práticas Educativas da Igreja
Católica de Assistência à Criança no Crato/CE e em Natal/RN’ reconstitui a história de duas instituições não
escolares e escolares, criadas pela igreja católica e realizaram ações de assistência as crianças pobres. As
instituições se constituíram em um lugar de assistência, formação escolar e profissional; foram espaços de
disputa entre o público e o privado/católico; e responsáveis pela formação de muitos que residiam em bairros
periféricos e no meio rural dos estados do Ceará e do Rio Grande do Norte. A pesquisa intitulada ‘Pedagogia das
Tradições: educação da criança indígena potiguara’ procura compreender como o povo potiguara, em
Mamamguape (PB) tem investido no envolvimento das novas gerações na afirmação da cultura e tradições
indígenas. Neste estudo de cunho histórico-antropológico, a criança indígena é vista como um sujeito social capaz
de vivenciar, assimilar e comunicar a cultura religiosa de seu povo. São curumins que agem e interagem com o
meio onde vivem através das práticas de sobrevivência instituídas no próprio cotidiano da aldeia. A pesquisa
analisa um programa de intervenção nas trinta e duas aldeias dispostas no Vale do Mamanguape, na Paraíba. O
estudo intitulado ‘Educação de Crianças Ciganas (O Romanèsthan) no Rio Grande do Norte’ evidencia trabalhos
com sujeitos itinerantes - os ciganos (romanèsthan), presentes em uma grande quantidade de cidades do estado.
O trabalho tem sua relevância em proporcionar reflexões acerca dos desafios de vivenciar no espaço da escola,
questões relativas à diversidade cultural, bem como ao trabalho educativo com Ciganos que historicamente
estiveram excluídos das salas de aula do nosso país. Os pesquisadores consideram que um debate desta natureza
busca discutir a educação da infância no Brasil na perspectiva da história da educação, trazendo elementos para
práticas educativas na contemporaneidade.
O estudo aborda o desenvolvimento sociocultural da região do Vale do Mamanguape, Litoral Norte da Paraíba, e
busca compreender as representações e práticas educativo-religiosas compartilhadas por crianças indígenas que
vivem no seio da aldeia São Francisco, no município de Baía da Traição/PB. Os filhos dos índios Potiguara estão
cotidianamente envolvidos em práticas relacionadas às tradições, crenças e a cultura de seu povo. Enquanto
curumins em formação possuem o desafio de assimilar os artefatos socioculturais e religiosos como patrimônio
identitário que deve ser perpetuado e apreendido pelas novas gerações. As crianças são levadas a aprender os
valores e as atitudes dos índios adultos vivenciando e participando das atividades coletivas e eventos sociais na
comunidade. Para entendermos essas diferentes formas de apreensão, temos que dialogar com uma
antropologia da criança, especificamente, da criança indígena. Referimo-nos, a um ramo da antropologia que se
preocupa em analisar o que significa ser criança no seio de outras culturas. Não podemos abordar o ser curumim
sem entender como essa criança se concebe enquanto sujeito integrante de uma comunidade ou povo indígena.
Buscamos um modelo analítico que permite entender as crianças por elas mesmas, com ponto de partida e de
chegada o ponto vista de cada uma delas sobre o mundo em que se inserem. Neste estudo de cunho histórico-
antropológico, a criança indígena é vista como um sujeito social capaz de vivenciar, assimilar e comunicar a
cultura religiosa de seu povo. São curumins que agem e interagem com o meio onde vivem através das práticas
de sobrevivência instituídas no próprio cotidiano da aldeia. A pesquisa integra um programa de intervenção nas
trinta e duas aldeias dispostas no Vale do Mamanguape, na Paraíba. Procura compreender como o povo
76
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Potiguara tem investido no envolvimento das novas gerações na afirmação da cultura e das tradições nas ações
do cotidiano e nas práticas desenvolvidas pela educação escolar indígena. O estudo é de natureza etnográfica,
com o desenvolvimento de estudo de caso, realização de entrevistas e observação participante nas comunidades
indígenas São Francisco, Jaraguá e Monte-Mor. Atualmente, é notada a preocupação das lideranças indígenas em
integrar a infância (os curumins) às tradições, pela promoção frequente do ritual Toré; aos saberes da etnia, pela
instituição de escolas indígenas que tenham o currículo e a rotina focados na cultura Potiguara; à construção de
uma identidade, pela valorização da memória, das crenças herdadas dos ancestrais. Ser Potiguara é acreditar no
fortalecimento da etnia, no reconhecimento de si mesmo como indígena. No Projeto de etnicidade, a infância
torna-se fator essencial. Ela é convidada a protagonizar as práticas, a continuar construindo a sua própria
história. Palavras-chave: Pedagogia das Tradições, Educação Indígena, Etnia Potiguara
O presente trabalho é parte de uma pesquisa que tem por objetivo compreender os modos de vida itinerante dos
ciganos e suas interrelações com a escola no Rio Grande do Norte. Este texto tem como objeto de estudo, as
práticas educativas e culturais dos Ciganos Calon no Rio Grande do Norte e os desafios de educar crianças ciganas
nômades no cotidiano escolar. A pesquisa se insere no campo da História da Educação ao evidenciar um
fenômeno social, cultural e educativo, com centralidade na História Cultural e aporte teórico em Certeau (1994),
Le Goff (1994), Burke (1998), Julia (2001) e Frago (1993); evidenciando trabalhos com sujeitos itinerantes - os
ciganos (romanèsthan), presentes em uma grande quantidade de cidades do RN. Como técnica de pesquisa
optamos pela observação participante, com utilização de filmagens, fotografias, entrevistas, documentos
pessoais, publicações de circulação nacional e internacional. Os ciganos são descendentes de comunidades
tradicionais, com traços culturais diferenciados, costumes e tradições próprias de grupos subordinados e sofrem
a estigmatização desde sua perspectiva física, justificada pela ausência da disciplina do corpo. Por quase todo o
século XX, o tema da diversidade cultural esteve ausente das salas de aula e, estudos sobre as relações étnico-
raciais no espaço escolar evidenciam que a escola, enquanto agência socializadora, pode reforçar as tradicionais
assimetrias raciais presentes na sociedade e atuar como difusora do preconceito e da discriminação. Entretanto,
as questões étnico-raciais estão presentes no sistema educacional, seja através dos livros textos das áreas de
ensino, comemorações, eventos cívicos e culturais, seja também nos discursos e práticas docentes. Os
Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN - e as implantações das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 são medidas
que, neste sentido, dão contribuições, ainda que tímidas, a problemática, pontuando algumas alternativas em
busca da promoção de mudanças no sistema educacional. O trabalho tem sua relevância em proporcionar
reflexões acerca dos desafios de vivenciar no espaço da escola, questões relativas à diversidade cultural, bem
como ao trabalho educativo com crianças ciganas que, historicamente, estiveram excluídos das salas de aula do
nosso país. Concluímos que um estudo desta natureza colabora para o conhecimento de experiências educativas
étnico-raciais, com os sujeitos nômades, propondo alternativas para o trabalho pedagógico no cotidiano escolar.
Palavras-chave: Ciganos, Práticas culturais, Cultura escolar.
Em 1950, pelo Censo Demográfico o Rio Grande do Norte contava com uma população de 800.538 habitantes,
desse total, apenas 222.923 sabiam ler e escrever, ou seja, um percentual de apenas 27,8%. O Rio Grande do
Norte, à época um dos seus estados mais pobres, destacou-se pelas experiências educacionais aqui
desenvolvidas. Essas experiências, que ocorreram no final da década de 1950 e início da de 1960, trouxeram
importantes contribuições para a educação de adultos no Brasil. As políticas públicas, que mal atendiam a
educação primária para as crianças, descuravam quase totalmente a educação de adultos. Foram três as mais
destacadas experiências educacionais que apontavam para uma prática de libertação das condições de
exploração do homem. Objetivamos analisar práticas educativas das experiências educacionais das Escolas
Radiofônicas, da Campanha de pé no chão também se aprende a ler e da experiência de Paulo Freire em Angicos.
as três experiências partiram de três diferentes segmentos da sociedade civil e política: Igreja católica, prefeitura
municipal de Natal e Estado do Rio Grande do Norte. Inicialmente, a Igreja Católica, por meio da Arquidiocese de
Natal, que desde o final da Segunda Grande Guerra vinha desenvolvendo ações sócio-educativas de largo alcance
social, denominadas de Movimento de Natal, resolveu, em 1958, iniciar atividades na área da educação de jovens
e adultos, voltadas para o meio rural, procurando alfabetizar por meio do rádio, criando as Escolas Radiofônicas;
77
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
A expansão da experiência fez surgir o Movimento de Educação de Bases (MEB), que atingiu grande parte do
país. Depois, em 1961, a prefeitura de Natal, na gestão do prefeito Djalma Maranhão, diante da extrema falta de
escolas e de verbas para construí-las, iniciou um movimento de educação popular que recebeu o sugestivo nome
de Campanha de pé no chão também se aprende a ler; essas duas experiências alcançaram um contingente
expressivo da população, desenvolvendo, além da alfabetização, uma ação pedagógica conscientizadora. Por
último, o Governo do Estado, com subsídios da USAID, empreende, na cidade de Angicos, município do sertão
norte-rio-grandense, a experiência de educação de adultos coordenada por Paulo Freire, conhecida como as 40
horas de Angicos. Nessa cidade, o renomado educador aplicou em escala maior o seu sistema educacional. O
sistema estava pensado e aplicado em pequenos grupos. Naquele momento, ao aplicá-lo em escala maior, o
educador conseguiu consolidá-lo, redimensionando-o e adequando-o às necessidades de alfabetização das
camadas mais pobres da população. Concluímos que, essas experiências educacionais possuíam um componente
político-pedagógico inovador que contribuiu para modificar as diretrizes curriculares da educação de jovens e
adultos até então adotadas. Palavras – Chave: História da Educação, Movimentos de Educação Popular,
Campanhas Educativas
O estudo reconstitui a história das Instituições Liceu Diocesano de Artes e Ofícios, no Crato/Ceará e o Serviço de
Assistência Rural–SAR no Rio Grande do Norte. Essas instituições tinham em comum a assistência às crianças
carentes e eram coordenadas pela Igreja Católica. A metodologia baseou-se nos estudos da história cultural, com
a consulta de documentos oficiais, a realização de entrevistas com antigos professores, freiras e leigos envolvidos
na ação sócio-educativa da Igreja. Objetivou reconstituir a história da ação sócio educativa da Igreja Católica, no
período do final da década de 1940 a 1990. A criação do Liceu, situado em um bairro de moradia de
trabalhadores na cidade do Crato (CE), foi resultado da ação missionária dos padres do Seminário São José (1875)
e das freiras da Congregação das Filhas de Santa Teresa de Jesus. Tinha como ação pastoral o clube de mães,
cursos profissionalizantes e com crianças carentes. A criação da creche, em 1968, teve início com 60 crianças, em
1974 recebeu a parceria da prefeitura do município para contratação dos professores. Oito turmas foram
formadas com professores contratados e com a habilitação no magistério, auxiliares de serviços gerais e uma
clientela de 300 crianças. Em 2005 deixou de ser assistida pela ação social e o pessoal passou a ser contratado
pela Secretaria de Educação municipal, exigência do Parecer Nº594/2005. Foi responsável pela alfabetização e
profissionalização de crianças, adolescentes, jovens e adultos, se constituindo como umas das primeiras
experiências de creches e escola para crianças pobres do bairro do Seminário. Na década de 1990 a instituição
criou a escola de educação infantil e fundamental, após a aprovação da LDB Nº 9394/96. O Serviço de Assistência
Rural-SAR iniciou ação sócio-educativa de assistência à infância em finais da década de 1940, tendo em vista as
dificuldades sociais e econômicas que o estado do Rio Grande do Norte enfrentava com a retirada das tropas
americanas no campo militar de Parnamirim, cidade vizinha. Iniciou sua atuação com escolas-ambulatórios,
creches e clubes de mães nos bairros pobres situados na periferia da capital, se estendendo para o meio rural,
com maior atuação. No meio rural um dos programas que se destacou foi o projeto denominado Grupos Mirins
de Saúde, integrante do Programa de Educação Sanitária. O Programa objetivou criar novas práticas e hábitos de
higiene e saúde, diante de uma modernidade que ainda não alcançara o meio rural. Foi possível concluir com as
pesquisas que as instituições, se constituíram em um lugar de assistência, formação escolar e às vezes
profissional; foram espaços de disputa entre o público e o privado/católico; e responsáveis pela formação de
muitos que residiam em bairros periféricos e no meio rural dos dois estados. Palavras-Chave: História da
educação, história de instituições, assistência à criança
78
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 19
O objetivo dessa comunicação é discutir aspectos de grupos étnicos do Rio Grande do Sul e do Paraná que
imigraram ao Brasil a partir da segunda metade do século XIX e entender o processo de escolarização desses
grupos que buscaram se organizar diante do descaso pelo Estado brasileiro em relação à educação pública. Pode-
se depreender que esses grupos tiveram apoio ao fomento das escolas das instituições religiosas tanto luteranas
como católicas, como também de iniciativas comunitárias particulares. Mas de forma geral buscaram através da
escolarização a manutenção da identidade e coesão do grupo, reforçado pela língua, ritos e práticas escolares. A
cultura escolar dos grupos e as situações de adaptações e de resistências as normas impostas da política
educacional brasileira foram também aspectos que auxiliaram a constituir a formação da escolarização das
escolas étnicas. O trabalho dos diferentes grupos pode ser amplamente aprofundado através de fontes do
material didático, de documentos e da memória. Apesar das semelhanças no processo de escolarização
comunitária dos grupos identificados como italianos, ucranianos, poloneses e pomeranos, é possível perceber
especificidades das marcas de cada grupo étnico, dependendo do processo imigratório e das estratégias e
influências que cada grupo se constituiu. Cada grupo étnico manteve especificidades nos processos educativos.
Apesar de muitas semelhanças nos processos históricos e na forma de organização escolar, os grupos
mantiveram algumas singularidades que precisam ser estudadas e comparadas no sentido de ampliar os estudos
nessa temática. Os imigrantes de italianos organizaram-se em espaços da serra Gaúcha e criaram vínculos
comunitários através da religião católica, assim como os grupos de poloneses e ucranianos. Em relação aos
pomeranos a religiosidade luterana esteve presente e neste contexto as escolas comunitárias resistiram ao
processo de nacionalização do ensino, mesmo sendo fiscalizadas pelo Estado. De qualquer forma estes grupos
tiveram que se reorganizar diante da política de nacionalização do ensino. Eles sofreram processos de repressão
e ingerência do estado, mas as formas de resistência são diversas. A produção da cultura escolar nos diferentes
tempos escolares pode ser percebida através de várias fontes que antes se presumia que eram inexistentes. Mas
no aprofundamento dos estudos é notório reconhecer que há muitos processos, silenciamentos e fontes a ser
exploradas ao pesquisar sobre grupos étnicos e escolarização.
O presente texto analisa o processo escolar vivenciado por imigrantes italianos e descendentes no contexto
brasileiro entre o final do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX, atentando especialmente para as
escolas étnico-comunitárias. A análise é resultado parcial do projeto de pesquisa “História das escolasétnico-
comunitárias italianas no Brasil (1875 – 1945)”.Desde o final do século XIX, emtodos os relatórios consulares,
encontram-se menções da falta de escolasno país e da necessidade do governo italiano intervir, passando a
apoiar a educação, enviando livros e materialescolar. Considerando a atuação de cônsules e agentes consulares,
da Igreja e das lideranças das próprias comunidades na promoção de um processo escolar marcadamente étnico
e comunitário, o tema é desdobrado percebendo-se aproximações e distinções nos modos como os imigrantes
foram constituindo a escola, organizando-a, criando táticas para mantê-la, em diferentes espaços territoriais por
eles ocupados em terras brasileiras. O aporte teórico da História Cultural orienta a análise do corpus documental
constituído de relatórios, correspondências, jornais, fotografias, estatutos de associações de socorro mútuo,
autobiografias e entrevistas. Entre os imigrantes italianos, as escolas comunitárias se multiplicaram
principalmente na zona rural e tiveram características étnicas, pela questão da língua (dialetos), dos valores e de
hábitos partilhados. Havia escolas comunitárias, étnicas, que foram iniciadas e mantidas pelas comunidades,
estabelecidas próximo às capelas. As escolas étnico-comunitárias italianas em sua maioria foram efêmeras e não
funcionaram com regularidade. Predominou o ensino do ler, escrever e calcular, e também, do catecismo. Os
professores em geral não tinham formação, com exceção daqueles que foram enviados pelo Governo Italiano.
Algumas escolas receberam subsídio por meio de livros e do envio de professores, mas a política externa italiana,
no recorte temporal em foco, foi instável.Percebe-se ainda marcas de diferenciação entre as escolas italianas
79
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
rurais e aquelas mantidas pelas Associações de Socorro Mútuo ou pela Sociedade Dante Alighieri. Dentre os
materiais didáticos que circularam pelas escolas, a maioria era impresso na Itália e enviado para o Brasil, mas
também houve livros impressos no Brasil para as escolas italianas. Assim, compreender as iniciativas escolares
étnicas dos grupos de imigrantes italianos é tema de relevância para a História da Educação permitindo
compreender o calidoscópio de possibilidades de escolarização organizadas e vivenciadas no país.
Esta comunicação discute as escolas étnicas eslavas como um espaço escolarização comunitária, de manutenção
da identidade étnica e resistência à nacionalização do ensino, nas primeiras décadas do século XX, no Paraná.
Neste estado aportaram milhares de imigrantes eslavos, que organizavam a sua vida em colônias étnicas,
mantendo a tradição cultural, através do associativismo, da religiosidade, da língua materna e da escolaridade.
Ante a ausência de escolas públicas na maioria das colônias eslavas, estes imigrantes construíram as escolas
comunitárias e assumiram a escolarização dos seus filhos, assim como a compra do mobiliário, do material
didático e do pagamento do professor. As escolas étnicas eslavas não formavam um bloco monolítico, mas,
atendiam os interesses das comunidades, com o ensino em língua estrangeira e cultuando a identidade étnica.
Haviam mais de 200 escolas étnicas eslavas no Paraná, conforme atestam os documentos oficiais de que, em
cada colônia havia uma escola. Estas escolas existiam à margem do aparelho estatal e tinham uma organização
pedagógica própria vinculadas às associações comunitárias e associações de professores laicas ou vinculadas à
Igreja Católica. As associações, a partir dos anos de 1920 intensificaram seu trabalho de homogeneização
pedagógica com a produção e publicação de livros didáticos, organização de cursos de qualificação para os
professores, a produção e circulação dos suplementos educacionais infantis nos seus jornais étnicos, a circulação
de literatura através das bibliotecas itinerantes e também ministrando cursos de língua portuguesa. Os clamores
pela nacionalização das escolas étnicas e homogeneização dos conteúdos escolares se intensificaram na
legislação escolar a partir de 1914, evidenciando que estas escolas passaram a representar um perigo para a
formação do sentimento de pertencimento nacional, pois as autoridades consideravam que elas
‘desnacionalizavam’ a infância. Ante isso, inúmeras medidas por tomadas pelo Estado, de caráter coercitivo,
como inspecionar, fiscalizar e controlar estas instituições, para o fim específico de verificar se ministravam aulas
em língua portuguesa, se cumpriam os preceitos legais e se estavam formando o sentimento de brasilidade. O
corpus documental compõe-se dos documentos oficiais, tais como a legislação escolar, os Relatórios de Governo
e da Inspetoria de Ensino, os documentos dos arquivos das instituições de ensino, tais como cadernos, livros
didáticos, documentos de matrícula, fotografias e também os relatos dos ex-alunos que vivenciaram este
período. O cotejamento das fontes possibilita entender e analisar esta experiência escolar, que é única na
história da educação brasileira e também porque existem semelhanças e diferenças nos processos escolares das
diferentes etnias no Brasil.
Patrícia Weiduschadt
Essa comunicação pretende abordar a constituição das escolas luteranas paroquiais no contexto pomerano, na
Serra dos Tapes- RS, a partir do final do século XIX até as décadas de 1940-1970, atentando que a periodização
difere da instituição luterana envolvida. Historicamente a etnia pomerana migra em meados do século XIX para o
interior de São Lourenço do Sul e tenta organizar a vida comunitária incluindo igreja e escola utilizando a língua
alemã. O primeiro tipo de luteranismo organiza-se em torno das igrejas independentes, fenômeno discutido nos
estudos de Teichmann (1996), sendo que, atualmente, a maioria dos fieis luteranos da região pertencem a
comunidades independentes. Entretanto, as igrejas oficiais: Sínodo Riograndese (atual IECLB), constituída em
meados do século XIX e Sínodo de Missouri (atual IELB), fundada em 1900, tentam demarcar espaço no contexto
fundando escolas e igrejas, muitas vezes, aproveitando as comunidades independentes anteriormente formadas.
Neste contexto muitas escolas paroquiais comunitárias religiosas luteranas formaram-se e é possível analisar as
diferenças e semelhanças nos projetos religiosos-educativos existentes através de fontes, apesar de escassas no
período que antecede a nacionalização como: material didático, publicação religiosa, material escolar. Outras
fontes são os impressos produzidos pelas instituições religiosas, direcionadas às crianças, jovens e adultos, sendo
de extrema relevância para o entendimento da diferenciação dos projetos educativos. Neste contexto da Serra
dos Tapes as escolas religiosas ainda conseguiram manter os processos educativos dentro da realidade local,
80
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
muitas ainda mantendo filiadas as instituições religiosas diante da fiscalização do governo do Estado Novo. As
fontes mais recorrentes aparecem depois da década de 1940, em que as escolas religiosas eram fiscalizadas e
obrigadas a guardar o material como boletins, planos, cadernos de chamadas, atas cívicas. No contexto
meridional do Rio Grande do Sul as escolas étnicas conseguiram resistir por mais tempo a municipalização das
escolas. Ainda como fonte de grande valia são as memórias de muitos que vivenciaram esse período: os alunos e
professores. Nessa perspectiva a memória é construída coletivamente (HALBWACHS, 1990) através das narrativas
sobre a escola e igreja. É necessário compreender esse processo de escolarização dentro de um contexto étnico
pomerano, que por muitas vezes foi silenciado (THUM, 2009), especialmente pelo uso da língua alemã valorizada
pela religião e pela educação formal.
Carmo Thum
Objetiva esse painel discutir e problematizar os aspectos da memória e da escrituração escolar no conjunto
interpretativo das fontes da historiografia cotejada com as fontes específicas de regiões com contextos sócio-
históricos similares em diferentes locais do Brasil, especialmente de espaços de imigração polonesa, ucraniana,
pomerana e italiana no Brasil. Coloca em análise a História da Educação da Serra dos Tapes/RS especialmente a
partir dos aspectos que envolvem os processos de colonização dessa região a partir do ano de 1858. Apresenta
dados relativos às experiências docentes narradas de sujeitos que vivenciaram a condição de professor-colono e
que viveram no seu tempo profissional as mudanças nas estruturas de ensino aqui analisadas em fases distintas.
Para tanto busca em cadernos de visitas e cadernos de inspeção, em dados de escrituração escolar e higienização
dos espaços as fontes históricas primárias da história da educação das instituições educativas do espaço. O
espaço rural e/ou do campo já foi objeto de análise de diferentes autores, contudo, lacunas específicas em
regiões inóspitas geram a possibilidade de, na atualidade, revisitar a historiografia a respeito. A presença maciça
de pomeranos se faz visível no espaço. Os pomeranos, como um povo tradicional do Brasil mantêm processos
ritualísticos, de sociabilidade e de organização social próprios, o que lhes garante continuidade e coesão como
grupo cultural. O Núcleo Educamemória tem realizado processos de pesquisa e intervenção nos espaços rurais da
localidade da Serra dos Tapes/RS de forma a problematizar as questões relativas à vida no campo, a memória, ao
pertencimento e empoderamento dos camponeses, levantando dados relevantes de fonte primária. A
historiografia da Educação Brasileira, tem nos mostrado recorrentes indicações de que a condição docente se
fazia precária e de modo muito irregular (TAMBARA, 2011, RENCK, 2009; THUM, 2009; LUCHESI, 2008; THIES,
2008; WEIDUSCHADT, 2007). Os espaços rurais não ofereciam condições para a permanência dos profissionais,
seja por questões salariais, de difícil acesso, ou na maioria dos casos, também, por falta de condições de
permanência. No caso em análise, a memória é tomada como um processo de totalidade que envolve a história
dos sujeitos da cultura local, nas suas múltiplas dimensões. Partindo de uma análise de dados historiográficos
oficiais confrontados pela memória problematizada buscamos produzir uma interpretação contemporânea que
re-interpreta a história a partir das circunstâncias-limites colocadas como condicionadores da condição
camponesa local a partir da fonte historiográfica.
81
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 20
A Comunicação Coordenada que ora apresentamos tem como objetivo analisar os desafios e possibilidades na
seleção e utilização de fontes para a pesquisa sobre a História da Educação Rural, na perspectiva da história
cultural. Com o intuito de aprofundar a discussão teórico-metodológica sobre a educação rural, nos propomos a
analisar as potencialidades da literatura como fonte para o estudo da educação das populações rurais em Minas
Gerais no final do século XIX; analisar as memórias orais como fontes documentais para a reconstrução de
práticas e culturas de Escolas Isoladas públicas primárias municipais, da região de Lomba Grande, município de
Novo Hamburgo-RS, entre 1940 a 1952; analisar uma revista infantil produzida pela instituição luterana do
Sínodo de Missouri, atual Igreja Evangélica Luterana do Brasil, para a educação de crianças em escolas étnicas
comunitárias alemãs no Rio Grande do Sul, na primeira metade do século XX e finalmente analisar a utilização de
testemunhos escritos, testemunhos orais e testemunhos figurados (materiais arqueológicos) para a construção
de trajetórias de professores/as leigos/as do município rural de Icapuí, estado do Ceará, entre 1940 e 2000. No
campo da historiografia brasileira, tem-se ressaltado a importância de se revisitar períodos, temas e problemas
históricos, que, embora privilegiados pelas pesquisas ancoradas na vertente tradicional, merecem receber novas
abordagens, conforme Janotti (2000). Na historiografia da educação, esse movimento também tem se
apresentado, levando os pesquisadores a considerar outros objetos e outros problemas, além daqueles
estudados nas tradicionais histórias das idéias pedagógicas e história das políticas educacionais. Esse movimento
tem possibilitado a emergência de campos de investigação, tais como: a leitura, os impressos, a profissão
docente, os processos de escolarização, a cultura escolar, as práticas educativas e pedagógicas. Somando-se a
eles, também sentimentos, emoções e mentalidades passaram a fazer parte da História, assim como fontes até
então consideradas pouco confiáveis e científicas, como a literatura, as memórias, os periódicos, passam a
constituir indícios para a reconstrução do passado, de acordo com Lopes; Galvão (2001). Embora os historiadores
da educação brasileira estejam se debruçando sobre novos objetos e trabalhando com novas fontes, as pesquisas
sobre os processos de escolarização têm priorizado o contexto urbano. Apesar desse predomínio, as pesquisas
sobre a História da Educação Rural têm constituído um campo em expansão no Brasil e desafiado pesquisadores
a mobilizar variadas fontes em contextos onde o documento escrito muitas vezes é lacunar, disperso e às vezes
de difícil localização. Quando o historiador se propõe apreender sujeitos, práticas e culturas nos contextos rurais
essa tarefa se torna mais complexa e desafiadora.
A LITERATURA COMO FONTE PARA O ESTUDO DA EDUCAÇÃO DAS POPULAÇÕES RURAL EM MINAS
GERAIS
O presente trabalho tem como objetivo analisar as possibilidades e os limites do uso da literatura como fonte
para a apreensão das representações sobre os espaços sociais rurais, seus sujeitos e sua educação em Minas
Gerais no final do século XIX. O estudo está baseado, teórica e metodologicamente, nos pressupostos da História
Cultural, em especial, na noção de representações de Roger Chartier. Para Nicolau Sevcenko (2003, p.286), as
décadas situadas em torno da transição dos séculos XIX e XX assinalaram mudanças drásticas em todos os setores
da vida brasileira. Essas mudanças foram registradas pela literatura; elas, sobretudo, transformaram-se em
literatura. Nessa direção, diferentes historiadores, incluindo-se nesse grupo, os historiadores da educação, têm
utilizado a literatura como fonte importante em suas pesquisas (WILLIAMS, 1989; GALVÃO, 1998; SEVCENKO,
2003; GOUVÊA, 2004). Assim, como podemos aprender os espaços sociais rurais, seus sujeitos e sua educação a
partir dos textos literários? Segundo Ana Maria de O. Galvão; Antônio A. G. Batista (2009), “a apreensão do
cotidiano escolar, como qualquer outra dimensão da realidade, é uma tarefa difícil. No entanto, há fontes que se
revelam mais férteis para uma aproximação de sua reconstrução. As memórias, autobiografias e os romances
constituem algumas delas” (p.34). Considerando essa afirmação, trabalhamos com quatro romances do escritor
sabarense Avelino Fóscolo, romancista da virada do século XIX, que fez da literatura documento social. São eles:
O Caboclo, A Capital, O Mestiço e Morro Velho. Eduardo Frieiro (1960) ressalta que “os romances de Avelino
Fóscolo oferecem matéria de interesse para possíveis futuros estudiosos da vida social em Minas nos derradeiros
82
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
anos do Império e primeiros da República” (p.35). Contudo, Galvão; Batista (2009) salientam que, ainda que a
literatura apresente potencialidades, o trabalho com esse tipo de fonte implica a discussão de questões teórico-
metodológicas. Como conciliar, então, história e ficção? Considerando as reflexões de Chartier (2009b), tal como
seus diálogos com Greenblatt (1988) e Hobsbawn (1994), tomo a literatura como uma produção social, como
ressaltado por Galvão (1996). Apesar de manter como referência a realidade na qual foi produzida, a literatura
guarda em si uma relação de não transparência, de opacidade, caracterizada pela própria reconstrução que
realiza (GOUVÊA, 2004). Nesse processo, “torna-se importante a explicitação de quem fala e de onde fala, ou
seja, do autor de sua obra e das características que marcaram o período literário em que se vincula” (GALVÃO,
1996, p.108). Os referidos romances nos possibilitaram uma aproximação dos espaços sociais rurais de Minas
Gerais no final do século XIX e a apreensão de práticas educativas diversas nesses espaços.
Este estudo trata da história do Ensino Rural e suas práticas e representações relacionadas ao desenvolvimento
de Culturas Escolares, entre 1940 a 1952, a partir da memória de alunos e professores de Escolas Isoladas
municipais, da região de Lomba Grande, município de Novo Hamburgo. Objetivo foi reconstruir,
historiograficamente, práticas e culturas de Escolas Isoladas públicas primárias municipais, nesta localidade,
evidenciando as identidades culturais como construções coletivas que se constituíram na relação plural com
contextos valendo-se de memórias orais como fontes documentais. A cultura é aqui entendida como campo
particular de práticas e produções sociais que, constituem um conjunto de sentidos, que se materializam pelos
diferentes enunciados e condutas, como argumenta Chartier (1990, 2002). As memórias são analisadas na
perspectiva do “tempo social”, no sentido que trata Halbwachs (2006), pelas relações formais ou informais, por
meio de mediações culturais diversas que compõem os quadros sociais de memórias. Sob o referencial da
História Cultural, a análise valeu-se de depoimentos orais de dez sujeitos que constituíram empiria estudada na
pesquisa de doutorado. Neste trabalho, enfatizou-se a discussão do uso da memória oral e escrita como
possibilidade investigativa para estudo de história da educação no meio rural, tendo como pressupostos as
fontes como documento/monumento, como discutem Certeau (2011) e Le Goff (2012). Para Stephanou (2011) as
lembranças/esquecimentos não representam uma realidade passada e ainda tangível, tampouco acessível na
imediatez da narrativa. Escrevemos e dizemos o que pensamos ter vivido, o que pensamos ter sentido,
experimentado. Do mesmo modo que o binômio da memória nos impõe o desafio de construir uma história
frente à afirmativa de Ricouer (2009): impossível lembrar tudo e narrar tudo que sucedeu, ou seja, o que se
reconstrói é parcial. Nesse sentido, as memórias trazidas pela voz dos sujeitos, que viveram em um determinado
tempo e espaço, é documento construído e produzido pelo historiador. Grazziotin e Almeida (2012) acrescentam
que este procedimento agrega o risco e as implicações de encontrar uma verdade, pois o mesmo se constrói em
função da posição ocupada pelo historiador, na instituição histórica de sua época. Essa construção carrega ainda
um conteúdo narrativo que conforma interesses subjetivos. As memórias permitiram conhecer e compreender
como as práticas e culturas escolares foram se constituindo no interior de Escola Isolada nesta localidade. A
escolarização e institucionalização, em Lomba Grande foi marcada pela coexistência de iniciativas particulares e
públicas, sob a influência da comunidade para ampliar escolas públicas no interior deste bairro.
Patrícia Weiduschadt
Pretende-se abordar nessa comunicação o uso dos impressos no campo da História da Educação. Esse campo ao
aproximar-se da História Cultural buscou ampliar os tipos de fontes e os modos de análise. Vários trabalhos na
área já discutiram o quão profícuo se torna o uso de impressos na análise historiográfica, como jornais, revistas
infantis e juvenis, ou periódicos direcionados ao professor (LUCA, 2010; FARIA FILHO E SOUSA, 1999). Através
deles pode-se analisar com mais propriedade aspectos das práticas educativas e da cultura escolar. Neste
sentido, este resumo se propõe a analisar especificamente uma revista infantil produzida pela instituição
luterana do Sínodo de Missouri, atual Igreja Evangélica Luterana do Brasil. A referida instituição instalou-se no
Brasil no início do século XX, na região meridional do Rio Grande do Sul, logo expandindo para outras regiões,
fundando a editora Concórdia, localizada em Porto Alegre, que teve a preocupação em editar periódicos, livros
didáticos e revistas que atendesse vários públicos de seus fiéis: homens, mulheres, jovens e crianças. O trabalho
da igreja também estava envolvido com as escolas étnicas comunitárias alemãs no Brasil, sendo essas escolas
83
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
localizadas na grande maioria na zona rural. O uso dos impressos nesta realidade foi pensado na educação
religiosa e escolar das crianças. Essa revista circulou entre as comunidades do Sínodo entre 1933 até 1939, na
língua alemã denominada “Kinderblatt”, depois com a nacionalização do ensino ela modifica-se para a circulação
em português com o nome “O Pequeno Luterano”, sendo editada até 1966. Foi possível perceber determinadas
estratégias usadas pelo editorial e as diferentes táticas dos leitores (CERTEUAU, 2012), na apropriação da revista.
A revista teve como objetivo geral preparar o leitor, aluno, fiel da escola paroquial a educar os leitores
preparando-os para determinadas condutas para o futuro. Nos discursos apresentados pelo impresso fica claro o
investimento doutrinário e religioso na educação das crianças. Não era somente necessário o leitor no futuro
pertencer à instituição, mas era preciso instaurar modos próprios de participação: como as formas de
contribuição financeira, a valorização de práticas de participação em eventos religiosos e o comprometimento na
vida infantil, juvenil e na vida adulta nos vários departamentos da igreja. Para isso, seria necessário o
conhecimento dos conteúdos religiosos, doutrinários e de ordem moral. Essas eram uma das estratégias usadas
pelo periódico, mas de forma pouco recorrente aparecem também determinadas táticas dos leitores, como
formas de resistência ao objetivo central do impresso. É possível perceber subliminarmente essas táticas, nas
reclamações e chamadas da revista por uma ampliação da rede de leitores e pela crítica aos leitores em
preferirem outras revistas que não fossem religiosas.
84
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 21
No século XIX, as luzes se voltam para destacar a presença feminina, rompendo com seu aparente silêncio
(Perrot, 2005). No Brasil, pesquisas recentes confirmam essa situação, tanto no campo da História como da
História da Educação. Todavia, para ouvir tais vozes femininas e capturar sua presença nos variados espaços em
que elas foram enunciadas, o historiador ou historiadora, no presente, precisa romper com a mudez dos
arquivos, investindo na localização e problematização de fontes que permitam, por novos olhares, que as
mulheres do passado sejam capturadas, observadas e interrogadas como protagonistas na História. O objetivo
desta comunicação coordenada é justamente problematizar registros memorialísticos, diários, literatura e
relatórios de docentes, como fontes da presença e ação femininas nos diferentes espaços da educação no século
XIX brasileiro, apresentando, ainda, algumas interpretações sobre as experiências das mulheres sobre as quais
testemunham. Tratamos aqui de mulheres da elite, imigrantes, professoras e escravas, tanto as que deixaram
registros de si na primeira pessoa como aquelas de quem os homens nos falam, sem, contudo, impedir-nos de
chegar aos ecos das vozes das mulheres às quais se referem. O registro memorialístico e a literatura são
abordados na comunicação que analisa as possibilidades da educação feminina a partir da investigação da
história de três mulheres inseridas no contexto do Rio de Janeiro Oitocentista, no espaço doméstico. Noutra
investida, em registros memorialísticos da infância de paranaenses que viveram no século XIX, são apontadas e
analisadas as práticas de educação da criança livre, engendradas pelas amas escravas, no espaço familiar. Se elas
próprias não puderam relegar testemunho pessoal a comunicação procura mostrar de que modo as memórias de
infância são um caminho para contornar seu silêncio. A terceira comunicação, também situada na Província do
Paraná, debruça-se sobre o diário de uma imigrante britânica que atuou como professora particular na casa de
famílias abastadas e também como educadora dos próprios filhos. Além de problematizar as peculiaridades desse
testemunho feminino, evidencia o trabalho, sociabilidades, sucessos, angústias e intrigas em que a personagem
se viu imersa, no período pesquisado. A última comunicação, indagando os relatórios enviados por professoras
aos seus superiores na instrução pública primária na Província de São Paulo, lança sobre elas um novo olhar, ao
tomar por objeto a experiência docente feminina. Por meio da operação com essa fonte e discutindo aspectos
relativos ao exercício da docência, revela como a voz ativa dessas mulheres professoras, falando de seu ofício,
pode ser recuperada nessa empiria.
O trabalho analisa possibilidades de educação feminina, a partir da investigação na história de três mulheres no
contexto do Rio de Janeiro oitocentista. A primeira é uma personagem real, Maria Isabel de Lacerda Werneck,
viscondessa de Arcozelo, nascida no século XIX, em 1840, vivendo o apogeu do Império bem como a sua
decadência, e que deixou registrado um ano de sua vida, 1887, em um egodocumento singular por sua autoria e
contexto, o Diário de Lembranças. Considerando as relações permitidas entre a história e a literatura como fonte
(CHARTIER, 2000; PESAVENTO, 2003; KARNAL & TATSCH, 2011; FERREIRA, 2011), a segunda personagem é
Guiomar, criada por Machado de Assis, para ser a protagonista do romance A mão e a luva, publicado em 1874,
que conta a história da moça órfã que vive sob a proteção da madrinha, uma baronesa viúva, que quando lhe
morre a filha, estabelece-a definitivamente em sua casa, alterando seus planos educacionais. A terceira
personagem, também machadiana, é Iaiá Garcia, heroína do romance datado de 1879, que ambicionava ser
professora de piano ou em um colégio, e que escapa a tal destino ao casar-se com um oficial do exército, não
precisando mais submeter-se à condição de mestra. O objetivo do estudo, na perspectiva da análise das
circunstâncias educativas dessas três mulheres, é averiguar as possibilidades e as representações da educação
feminina contidas nas fontes estudadas, com centralidade nos padrões do que era permitido ao sexo feminino na
sociedade oitocentista, visando às expectativas relativas a essa formação, ou seja, moldar uma boa esposa, boa
gestora da casa e uma mãe capaz de educar seus filhos. Na pesquisa histórica, a utilização de fontes como
egodocumentos se inscreve na ampliação dos modos de investigação (SCHULZE, 1996; FULBROOK & RUBLACK,
85
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
2010), buscando-se localizar em escritos não intencionais ao tema tratado, vestígios que possam revelá-lo. A
associação de fontes de pesquisa documentais, como o diário, relacionadas e confrontadas com a literatura que,
no Brasil do século XIX, é um dos principais registros para se compreender a realidade existente, permitem a
recomposição de cenários historiográficos, especialmente aqueles que têm como foco anotações e reflexões
sobre a cotidianidade vivida, contendo elementos que outras fontes não explicitam de forma tão elucidativa.
Conclui-se que o ensino de aprendizagens consideradas indispensáveis à boa educação feminina era uma
demandada constante nas elites, assim como a perspectiva de aquisição de um ofício, como o de mestra, era
destinada, particularmente, às mulheres que, não dispondo de sustentação parental, tinham que prover o seu
próprio sustento, embora a ocupação de mestra de meninas seja a única opção de trabalho feminino, descrita e,
relativamente, aceita nas histórias dos romances oitocentistas. Palavras-chave: Educação feminina; História e
literatura; Rio de Janeiro.
A figura da ama escrava é uma das facetas femininas mais conhecidas nas histórias da infância, das mulheres e da
escravidão no Brasil. Geralmente enfocada nos estudos na sua função de nutriz, pouca atenção tem sido dada ao
papel educativo que desempenhou na vida das crianças pequenas que estiveram sob seus cuidados. Com efeito,
no Brasil Oitocentista, não raras foram as escravas que, adentrando numa família como ama de leite, para nutrir
o Nhonhô ou a Sinhazinha, após o período de lactação, ali permaneceram como amas secas, incorporando a
identidade de “mãe preta”, coadjutora da mãe biológica na educação dos seus filhos durante a infância. As
práticas empregadas por esta personagem feminina, tanto na função de ama de leite como ama seca, na
educação da criança na família, são o objeto de estudo nesta comunicação. A fonte aqui privilegiada são
memórias de infância de adultos que, quando crianças, tiveram contato com essas mulheres no Paraná da
segunda metade do século XIX. Embora tais textos sejam escritos por homens, permitem ao historiador, em meio
aos fios de memória e das retóricas da infância (BECCHI, 1994), aproximar-se dessas mulheres do passado, pelas
imagens que esses registros memorialísticos delas refletem, no encalço da operação histórica proposta por
Georges Duby (2011) no seu “Damas do Século XII”. Em face disso, o objetivo é identificar, a partir dos registros
memorialísticos, as práticas educativas engendradas pelas amas e como elas tornavam-se práticas de educação
das crianças sob seus cuidados. Para o desenvolvimento da pesquisa, dialoga-se com os conceitos de prática e
apropriação, conforme demarcados por Roger Chartier (2002) e Michel de Certeau (1998) e com a historiografia
da escravidão, da infância e das mulheres no Brasil Oitocentista, com especial ênfase àquela que tem se dedicado
ao estudo das amas escravas. Os resultados alcançados permitiram identificar, dentre as práticas de que
lançavam mão as “mães pretas” na educação das crianças sob seus cuidados, as canções de ninar e as estórias de
seres sobrenaturais ou folclóricos. Observou-se que essas práticas tornavam-se educativas na medida em que
traduziam e naturalizavam na criança, desde a infância, as relações patriarcais e de gênero em que estavam
inseridas no contexto da sociedade brasileira oitocentista. Por fim, evidenciou-se a possibilidade das memórias
de infância redigidas por homens como fonte potencial para a escrita da história de mulheres, como as amas
escravas, que não deixaram registros de si. Palavras-chave: Amas escravas. Registros memorialísticos. Século XIX.
A comunicação proposta objetiva discutir a atuação de uma imigrante britânica, Caroline Tamplin, que tornou-se
professora particular na província do Paraná na segunda metade do século dezenove, utilizando como fonte
central um diário escrito por ela entre os anos de 1880 a 1882. Ao fazê-lo, pretende-se explorar o potencial desse
tipo de documento para o estudo das representações femininas e, no presente caso, particularizar aspectos
sobre a educação. Caroline chegou ao Paraná em dezembro de 1868 acompanhada do marido e filhos. Da capital,
foram enviados à colônia do Assunguy, a 100 quilômetros de Curitiba, uma das colônias para onde eram
destinados os milhares de europeus atraídos pelas campanhas de imigração postas em ação pelo governo
imperial brasileiro. Em 1874, seu marido faleceu, mas ela permaneceu na colônia atuando como professora em
escola estabelecida em suas terras. Contudo, em 1880, possivelmente cansada da dificuldade para receber do
governo provincial os materiais escolares que considerava adequados bem como as gratificações que lhe seriam
devidas, colocou anúncio do principal periódico da época oferecendo seus serviços como professora de línguas,
86
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
piano, música, pintura etc. e, acompanhada de dois filhos menores, mudou-se para Curitiba, onde estabeleceu-se
- educando os filhos dos outros, a cujas casas ela ia em dias e horários previamente marcados, seus filhos, outras
mulheres e a si própria - ao menos até 1888, quando não foi mais possível encontrar quaisquer vestígios sobre
ela. O diário, único exemplar, possivelmente parte de uma coleção maior quiçá queimada numa daquelas
fogueiras feitas para dar cabo de papéis velhos, assemelha-se a uma contabilidade cuidadosa dos dias e as horas;
são vestígios do cotidiano de mulheres, crianças e pessoas bem postas na sociedade; eles falam de trabalho,
sociabilidades, alegrias, desventuras, intrigas; são indícios dos modos de pensar. O diário suscita muitas
perguntas e lança luz sobre muitas outras. Por que alguém escreve um diário? Quais teriam sido suas intenções
ao fazê-lo? Para quem escreve? Muitos autores debruçaram-se sobre esta questão (Artières, Caligaris, Lejeune,
Barros, Gomes); alguns escreveram belos textos a partir deste tipo de fonte (Perrot, Borges), outros discutiram
ainda seu caráter autobiográfico. Transparece, nos lançamentos diários certamente submetidos a uma seleção, a
preocupação com a construção e a manutenção de uma imagem favorável de si e dos filhos, orientada por
práticas culturais próprias de camadas mais elevadas da sociedade ou em ascensão. Assim sendo, a discussão
será orientada por pressupostos teóricos da história cultural, como o conceito de ‘representações’ (Chartier),
identidade e escrita-de-si. Palavras-chave: Mulheres. Educação. Diários.
A comunicação visa discutir aspectos relativos ao exercício da docência entre os anos de 1850 e 1890, quando
estavam surgindo os sistemas públicos de ensino no âmbito mundial com muitas demandas aos professores para
incorporar os imperativos de mudanças difundidos pelo modelo pedagógico da escola de massas. O que era ser
professora nesse período? Como elas vivenciavam o seu ofício e viam tal inciativa? Essas questões balizam a
análise realizada aqui sobre os relatórios de professoras que atuavam nas escolas da Província de São Paulo,
produzidos entre 1850 e 1890, tendo como base os conceitos de representação (Chartier) e de cultura escolar
(Escolano, Frago e Julia). Escritos sob páginas amareladas, brancas, rasgadas, conservadas ou corroídas pelo
tempo, sendo a caligrafia, às vezes, ilegível, esses documentos encontram-se no Arquivo do Estado de São Paulo
e permitem conhecer as discussões que antecederam a criação dos grupos escolares em São Paulo, ocorrida em
1893, mostrando o modo como as professoras – ao relatarem a sua prática e os problemas enfrentados –
vivenciaram este processo. Esses relatos guardam, portanto, ricas memórias sobre o cotidiano escolar, embora
por serem endereçados à inspeção, por vezes, têm um formato padronizado e acentuam, quase sempre, a
conformidade de suas ações com as leis e regulamentos ou outros como as circulares, o que demonstra a
hierarquização e controle ao qual estavam submetidas. Entretanto, foi possível encontrar registros de episódios
transcritos com emoção, insatisfação, inconformismo ou reivindicação. Ao tratarem dos aspectos que deveriam
contemplar no relatório, as professoras trazem textos nos quais se notam conflitos velados (ou explícitos) entre
docentes, pais e inspetores, deixando transparecer agressões simbólicas por meio de apresentação de intrigas e
insinuações aos diferentes agentes ou à realidade na qual o professor se encontrava. Alguns relatórios são
bastante originais do ponto de vista dos argumentos, das demandas, da dedicação ao escrever relatos para não
só descrever, mas também propor mudanças e contar minuciosamente as atividades desenvolvidas. Assim, atrás
da aparente receptividade das professoras, que endossam suas práticas a partir das referências às normas, há um
grande número de relatórios que expressa a precariedade com que os docentes cumpriam seu dever, ensinavam,
preparavam as crianças, discutiam questões de ensino, solicitavam materiais para poderem melhor aplicar os
métodos tidos como ideais. Mais do que querer instaurar a regularidade do funcionamento de suas escolas, as
professoras solicitavam alterações em sua realidade, muitas vezes, bastante distantes daquela a partir da qual a
legislação partia. Palavras-Chave: Profissão Docente. Memórias. Relatórios.
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 22
O objetivo desta mesa é explorar as múltiplas possibilidades em torno da temática “Mulheres viajantes e história
da educação”, pensando aspectos referentes aos intercâmbios, à formação docente, à circulação de saberes e
práticas pedagógicas em diferentes realidades educacionais. Situamos a presente proposta no âmbito das
preocupações da História da Educação, acompanhando um movimento de outros trabalhos sobre a temática,
produzidos na área a partir de fontes diversas, tais como cartas, cartões, diários, relatórios, notas de viagem,
dentre outras (VIÑAO, 2000), transbordando “relatos de espanto, admiração, respeito e esperança. Olhares de
familiaridade e estranhamento que tentaram inspirar e legitimar mudanças nas realidades
educacionais”(MIGNOT & GONDRA, 2007, p.9), evidenciando-se experiências de viagens de educadoras, num
mosaico com diferentes nacionalidades, temporalidades e destinos. A comunicação intitulada As viagens da
advogada e professora Maria Rita Soares de Andrade (1904-1998): em defesa da educação e da emancipação
feminina busca compreender os processos vivenciados e construídos pela personagem como pioneira em
diversas situações, desvendando aspectos da trajetória de uma livre-docente do ensino secundário, destacando
ainda as relações das professoras sergipanas com a mobilização das lideranças femininas na década de 1930.
Abordando uma personagem que atuou também de forma privilegiada no ensino secundário, o trabalho Uma
porta aberta para o mundo: as viagens de Maria Junqueira Schmidt como experiência de formação e distinção no
cenário educacional brasileiro, analisa as viagens desta personagem em seus sentidos de experiência de
formação e signos de distinção no campo educacional, buscando apreender como ela constrói seus saberes e
práticas nesse movimento de circulação internacional. Em outra dimensão que foge do cenário escolar, o
trabalho Mulheres de letras e educação feminina no espaço luso-brasileiro: lições em torno da infância nos
escritos de Júlia Lopes de Almeida e Emília de Sousa Costa focaliza a ação educativa conduzida pelas duas
escritoras, a partir principalmente de suas obras de aconselhamento dirigidas a mulheres-leitoras-educandas,
tendo como horizonte a intervenção na infância, aspecto visto como essencial na construção da nação nos dois
países, que se encontravam, no período de publicação das mesmas, sob a vigência do regime republicano, recém-
instituído. Nesse contexto mais ampliado, o trabalho Histórias cruzadas? A educação como horizonte em três
viajantes do século XIX, põe em conexão experiências isoladas de viagem, cruzando histórias que apresentam
personagens em lugares sociais e geográficos distintos, conectadas pelo sentido de importância do viajar. A
educação, em suas diferentes formas, é tema central e crucial na vida e nas viagens realizadas não apenas pelas
três personagens abordadas neste trabalho, mas em todas as personagens estudadas nas pesquisas articuladas
nesta mesa.
Maria Rita Soares de Andrade (1904-1998) nasceu em Aracaju e se formou em Direito em 1926, na Faculdade de
Direito da Bahia. Em 1929, prestou o concurso para o Atheneu Sergipense para a cadeira de Línguas Latinas e
Literatura Brasileira. A tese defendida perante a banca do concurso teve como título: “A mulher na Literatura”.
Apesar de ter sido aprovada em primeiro lugar, só conseguiu ser nomeada depois de entrar com um processo
contra a direção do estabelecimento do ensino, em 1931. Foi também processada por calúnia e difamação pelo
diretor, tendo em vista as denúncias apresentadas à imprensa sergipana contra a gestão do mesmo. Entre 1931 e
1934 ela foi editora responsável pela Revista Renovação, de caráter literário, a publicação veiculava em suas
páginas textos em prosa e em verso, de autoras e autores sergipanos, bem como de outros colaboradores
reconhecidos nacionalmente. Em muitas matérias defendia os direitos femininos e a emancipação da mulher pela
ampliação da sua escolarização. Neste período, as viagens realizadas por Maria Rita também foram visibilizadas
nas páginas da Renovação, ela esteve diversas vezes no Rio de Janeiro, em contato com as lideranças da
Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e da União Universitária Feminina. Em 1938, mudou-se
definitivamente para o Rio de Janeiro, atuou como advogada e foi redatora de diversos impressos, entre eles do
Jornal do Brasil, de 1954 a 1963. Em 1967, Maria Rita foi nomeada a primeira juíza federal do Brasil, atuando
88
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
nesta função até a sua aposentadoria em 1974. A pesquisa fundamentou-se na abordagem biográfica associada à
História da Educação, na perspectiva teórica e metodológica da História Cultural. As categorias de representação
e apropriação de Chartier, bem como capital cultural e capital social de Pierre Bourdieu foram mobilizadas para
compreender os processos vivenciados e construídos por Maria Rita como pioneira em diversas situações.
Buscou-se a partir dos depoimentos, relatos de viagens, cartas, reportagens, entre outras fontes, analisar as
contribuições da referida professora no Atheneu, e em outros campos de atuação em defesa da educação
feminina e da ocupação do espaço público pelas mulheres. Espera-se com esta investigação contribuir para a
História da Profissão Docente e a História das Mulheres, desvendando aspectos da trajetória de uma livre-
docente do ensino secundário, bem como compreender as relações das professoras sergipanas com a
mobilização das lideranças femininas na década de 1930, através de impressos, cartas, viagens, participação em
congressos e seminários. Palavras-chave: História da Profissão Docente, Magistério secundário, Sergipe.
UMA PORTA ABERTA PARA O MUNDO: AS VIAGENS DE MARIA JUNQUEIRA SCHMIDT COMO
EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO E DISTINÇÃO NO CENÁRIO EDUCACIONAL BRASILEIRO
Maria Junqueira Schmidt foi uma mulher católica, de atuação expressiva na educação brasileira em diferentes
áreas que abrangeram do ensino escolar à orientação educacional e educação das famílias. Autora de biografias,
livros de literatura, livros didáticos de francês e história e uma coleção de livros voltados para a educação das
famílias, a personagem é considerada nesta pesquisa como uma intelectual da educação católica pelo lugar que
ocupou como produtora e mediadora de uma cultura católica, profundamente engajada nas questões sociais de
seu tempo. Nascida na década de 1910, estudou por dez anos na Europa, entre Alemanha, Bélgica, Suissa e
França. Ao retornar ao Brasil integra o corpo docente do Colégio Jacobina no Rio de Janeiro, e em 1929 passa no
concurso público do estado, sendo designada como professora de francês na Escola de Comércio Amaro
Cavalcante, assumindo posteriormente o cargo de diretora dessa mesma escola. Ao longo de sua carreira
empreende novas viagens vinculadas à profissão docente. Dentre elas, destaco viagens para a França a fim de
realizar novos cursos de aperfeiçoamento em Literatura Francesa, e uma viagem aos Estados Unidos para
compreender como aquele país lida com o problema dos menores abandonados. Suas experiências acabam por
ampliar seu escopo de atuação profissional e, com isso, se insere no contexto da educação profissional, da
Orientação Educacional e da educação das famílias. Convidada pelo Ministro da Educação compõe a Comissão
nacional de Literatura e a Comissão Nacional do Livro Didático ao lado de expoentes da literatura como Cecília
Meireles, José Lins do Rego, Manuel Bandeira, dentre outros. Sua rede alcança também a intelectualidade
católica, expressa no convite de Alceu Amoroso Lima para ministrar um curso sobre educação das famílias no
Centro D. Vital. O aporte teórico para compreender essa personagem passa pelo conceito de intelectual
(SIRINELLI, 2006), considerando suas viagens como experiências de formação e distinção no campo educacional
(BOURDIEU, 2007). As viagens se constituem como fontes privilegiadas deste trabalho para apreender como essa
personagem constrói seus saberes, suas práticas nesse movimento de circulação que lhe permite trazer mais do
que lembranças em sua bagagem (VIÑAO FRAGO, 2007; LIMA, 2012; MIGNOT & GONDRA, 2007; GONDRA, 2010).
Ao mesmo tempo, essas viagens podem ser lidas como um investimento em uma formação cada vez mais
distintiva que lhe permite ocupar uma posição de visibilidade entre seus pares, especialmente entre as mulheres.
Palavras-chave: Viagens, Intelectuais, Formação e profissão docente.
Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) foi uma literata que ocupou um lugar de destaque na cena cultural brasileira,
de fins do século XIX até as primeiras décadas do século XX. Em meio às produções literárias de sua autoria, de
gêneros diversos, como romances, crônicas e peças teatrais, entre outras, que conformam um conjunto
volumoso, distinguem-se os manuais dirigidos às mulheres brasileiras, desde as jovens, consideradas em um
momento de vida anterior ao casamento, até mulheres maduras, mães e esposas. Nas páginas destes livros, a
dimensão educativa e civilizadora, presente em sua obra de forma geral, adquire centralidade, sendo uma marca
dos mesmos a abordagem prescritiva, observada nas lições por meio das quais a escritora e educadora pretendia
alcançar “noivas”, “donas e donzelas”, sobre os mais diversos temas referidos à vida feminina. Do outro lado do
Atlântico, em um tempo que coincide, em parte, com aquele em que se desenvolveu a carreira de Júlia Lopes de
Almeida, Emília de Sousa Costa (1877 -1959), escritora portuguesa, também teve uma trajetória de relevo no
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
mundo das letras de seu país, publicando, do mesmo modo que a autora brasileira, obras de gêneros diversos,
em meio às quais se destacam as dotadas de viés educativo. Entre as duas autoras e suas obras que elegiam as
mulheres como alvos privilegiados, podem ser observadas aproximações expressivas, a que daremos atenção
nesse estudo. No que se refere ao contato estabelecido entre ambas, são dignas de nota as viagens promovidas
por cada uma das escritoras ao país em que vivia a outra, percebidas como momentos privilegiados no
intercâmbio de experiências e de ideias entre as duas. Este foi o caso, por exemplo, da visita de Emília de Sousa
Costa ao Brasil, em 1923, ocasião em que foi recebida, justamente, por Júlia Lopes de Almeida, como pôde
registrar a imprensa carioca da época, e em que os vínculos entre as duas puderam ser estreitados. No caso
desse estudo, a pretensão é de focalizar a ação educativa conduzida pelas duas escritoras, a partir principalmente
de suas obras de aconselhamento dirigidas a mulheres-leitoras-educandas, tendo como horizonte a intervenção
na infância, aspecto visto como essencial na construção da nação nos dois países, que se encontravam, no
período de publicação das mesmas, sob a vigência do regime republicano, recém-instituído. Na análise das
prescrições veiculadas, será explorado o direcionamento das autoras tencionando a preparação das leitoras para
a educação e o cuidado dos filhos e o seu direcionamento às mesmas leitoras, com vistas ao estímulo à sua
atuação social via filantropia, caminho por meio do qual era visualizada a possibilidade de extensão de hábitos e
comportamentos higiênicos e civilizados para a infância pobre. Palavras-chave: Mulheres de letras, Impressos,
Circulação de saberes.
O horizonte do presente trabalho é analisar algumas figuras de mulheres viajantes em narrativas como as de
Amanda Berry Smith (1893), Anna Harriette Leonowens (1870) e Ina Von Binzer (1887), no sentido de indicar as
possibilidades de tais fontes para a escrita e o ensino de história da educação. Há conexões em experiências tão
distintas? Amanda Berry Smith nasceu escrava em 23 de janeiro de 1837, nos Estados Unidos. Após uma
trajetória de percalços, tornou-se missionária. Durante doze anos, Amanda Smith conheceu diferentes culturas,
conheceu pessoas e visitou instituições diversas. O tom da narrativa muda, ganha feições de diário de viagem.
Após viajar pelo mundo afora, escreveu a autobiografia intitulada An autobiography. The story of the Lord’s
dealings with Mrs. Amanda Smith the colored evangelist, onde relata suas viagens à América, Inglaterra, Irlanda,
Escócia, Índia e África. Fundou a Amanda Smith Orphan Home and Industrial School, destinado a abrigar crianças
negras abandonadas. Amanda Berry Smith faleceu aos 78 anos, no ano de 1915. Por sua vez, Anna Harriette
Leonowens é considerada uma educadora britânica, porém, nasceu na Índia, no ano de 1831. A partir de suas
memórias dos tempos em que foi preceptora e professora da realeza do Sião, escreveu o livro The English
Governess at the Siamese Court, being of six years in the Royal Palace at Bangkon, publicado em Londres pela
editora Trubner &Co, no ano de 1870. Tal obra inspirou outra, o livro ficcional Anna e o Rei do Sião, de Margareth
Landon. Tal obra, por sua vez, inspirou o roteiro dos filmes Ana e o Rei (1946 e 1999). A terceira figura de viajante
a ser analisada no presente trabalho é Ina Von Binzer, cujo nome completo é Ina Sofie Amalie von Bentivegni.
Nascida na Alemanha, em 1856, viajou para o Brasil no ano de 1881 para atuar como preceptora de crianças da
elite. Afinal, o que une tais mulheres que nasceram e viveram no século XIX? Situadas em lugares sociais e
geográficos distintos, as três mulheres analisadas no presente trabalho estão conectadas pelo sentido de
importância do viajar nas três narrativas. A educação e o exercício da docência é algo central e crucial na vida e
nas viagens realizadas pelas três. Ademais, a viagem representou um marco nas trajetórias das três mulheres,
dotando a experiência de uma excepcionalidade que a tornou digna de ser lembrada e contada. O viajar pode ser
explorado neste caso, como uma experiência educativa e formativa, nos remetendo à dimensão proposta por
Antonio Viñao, para qual, “todos los viajes educan, aunque solo sea por abrir al viajero a uma realidad diferente a
la suya. Sólo que unos educan más que otros, o de forma diferente a otros” (VIÑAO FRAGO, 2007, p. 15).Enfim, as
viagens tornam experiências aparentemente isoladas, em histórias cruzadas. Palavras-chave: Narrativas de
viagem, Mulheres, Formação
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 23
A comunicação coordenada tem como objetivo apresentar e discutir pesquisas de história da educação que têm
tomado como referencial as teorias dos processos civilizadores e da sociologia figuracional propostas por Norbert
Elias e interlocutores. A motivação é a de que nas três últimas décadas os estudos e as investigações em história
da educação no Brasil identificaram na história cultural e social uma forma de revitalizar seus objetos de estudo,
elaborando temas e fontes diversificados. Para tanto houve, e ainda há o constante diálogo com autores
representativos. Por sua vez, a obra de Norbert Elias apresenta-se a historiografia da educação como um
caminho teórico e metodológico pertinente aos estreitamentos entre os campos da educação, da história e da
sociologia. A matriz interpretativa de Norbert Elias instiga-nos a investigar a história da educação considerando as
dinâmicas sociais, as relações de poder, os controles das emoções, as figurações sociais, a formação de estados,
bem como os comportamentos e habitus específicos dos processos civilizadores. Deste modo, pretende discutir
investigações relativas a estes processos civilizatórios tendo a educação como centralidade nas sociedades em
civilização. A comunicação coordenada se organiza em quatro trabalhos. O primeiro “Educação dos povos nativos
no Brasil”, a partir de fontes referentes ao século XVI e XVII, discute a hipótese de que o olhar do branco sobre os
nativos foi se alterando em diferentes momentos e que as ações de conversão, catequese, domesticação,
civilização e educação, quando se referem a grupos com menor participação nos centros de poder, têm
significados muito próximos e, algumas vezes, sinônimos. O segundo “O (re)equilíbrio de poder nas escolas
paulistas de formação de professores (1897-1921)”, considerando o conceito de poder de Norbert Elias e uma
realidade empírica, investiga o processo da escola complementar à escola normal de Piracicaba/SP no período
republicano. O terceiro “Processo civilizatório escolar na infância: memorias de imigrantes (1930-1945)”, analisa
como se deu os processos de civilização escolar na vida de imigrantes europeus, mais precisamente, filhos da
primeira geração que ocupou a região centro oeste do Paraná em meados do século XX. O quarto “Civilización y
construcción del Estado Nacional Argentino: Domingo F. Sarmiento”, apresenta uma pesquisa sobre o processo
de civilização que tem em foco um dos intelectuais e políticos fundamentais no processo de construção do
Estado Nacional da República Argentina. Todas as comunicações têm como premissa a teoria dos processos
civilizadores proposta por Norbert Elias. Elas problematizam as tensões educacionais históricas, vividas pelos
colonizadores brancos e povos nativos; por indivíduos no processo de institucionalização na formação de
professores em São Paulo; pelo processo escolarizador dos filhos de imigrantes no Brasil e na formação do Estado
argentino a partir de uma ótica de política (des)civilizatória.
Tony Honorato
Esta comunicação apresentará uma experiência de pesquisa na área de história da educação, tendo como
orientação o diálogo entre a realidade empírica e o conceito de poder proposto por Norbert Elias. O objeto
empírico de investigação foi o processo de uma instituição escolar pública voltada à formação de professores,
tomando como caso específico a Escola Complementar e Normal (1897-1921) localizada na cidade de Piracicaba
no Estado de São Paulo, Brasil. Como fonte assumiu a legislação da instrução pública paulista e registros da
administração escolar impressos e manuscritos. A periodização justifica seu início em 1897 em razão ter sido o
ano de instalação da Escola Complementar de Piracicaba, que somente em 1921 funcionou como uma Escola
Normal recebendo os mesmos atributos de suas congêneres. A partir de tal realidade buscou um diálogo com o
conceito de poder de Norbert Elias (1980; 1994; 2000; 2006) para produzir uma interpretação histórica. Como
registro inicial, para Norbert Elias o poder não é um amuleto que um indivíduo possua e o outro não, é
característica estrutural das relações humanas que diz sobre níveis de interdependências e de correlações de
forças entre pessoas, grupos, instituições e nações. Desse modo, e sem usar os documentos para reprodução de
uma teoria dada a priori, o conceito de poder de Norbert Elias e o caso estudado possibilitaram problematizar a
existência, concomitantemente, de dois modelos de formação de professores: o complementarista e o
normalista. O normalista gozava de maior prestígio no quesito preparação de professores, particularmente o
modelo ofertado pela Escola Normal da Capital do Estado de São Paulo; enquanto o modelo complementar era
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
um paliativo encontrado pelos reformadores republicanos. Contudo, com a Reforma da Instrução Pública Paulista
de 1911, conhecida como Reforma “Oscar Thompson”, converteu-se as complementares em normais primárias
ou secundárias, por conseguinte nominalmente houve uma maior reequilíbrio de poder entre as instituições
voltadas à formação de profesores. Já em 1920, com a Reforma “Sampaio Dória”, o aparelho escolar paulista foi
reorganizado tendo como um de seus objetivos o ato de transformar a formação de professores em tipo único.
Neste momento, nominalmente, pode ser interpretado que houve um equilíbrio de poder, que não é sinônimo
de igualdade, entre as instituições modelares. No caso da Escola de Piracicaba, a argumentação do texto, ora
proposto, desenvolverá: a) a interpretação de que o equilíbrio de poder foi visível para além dos dispositivos
legislativos; b) a teoría proposta por Norbert Elias possibilita uma interpretação da história da formação de
professores sem dualidades e polarizações, e sim produtora de relações de interdependências humanas e
pedagógicas, indicando assim um ângulo diferente para a historiografia da educação. Palavras-chave:
Institucionalização, Escola, Poder.
Ademir Gebara
Magda Sarat
Na escola a criança vivencia as primeiras experiências fora do âmbito familiar o que faz da infância um período
fundamental na formação dos indivíduos em qualquer grupo social. Para Norbert Elias (1998) “a criança só se
torna um ser humano” ao se integrar a um grupo e aprender as regras de controle das pulsões e dos afetos que
são próprias da civilização. As condutas que a criança vivencia na escola como espaço de aprendizagem coletivo e
individual é parte do processo de escolarização da infância que, ainda segundo Elias, depende totalmente da
aprendizagem de símbolos sociais. Tais conhecimentos caracterizam um processo de longa duração que vem
sendo acumulado histórico, social e culturalmente e marca as diferenças entre o ser humano e outros seres vivos,
pois somos dependentes e precisamos confiar na aprendizagem adquirida no processo de longa duração que,
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
caracteriza as trocas e as relações geracionais entre os indivíduos. Partindo, dessa premissa, este trabalho
pretende discutir à luz das teorias de Norbert Elias como se estabeleceram estes processos de civilização escolar
na vida de imigrantes europeus, filhos da primeira geração que ocupou a região centro oeste do Paraná e viveu a
infância entre as décadas de 1930 a 1940. Tais indivíduos compõem a segunda geração de imigrantes que vieram
nos processos migratórios para o Brasil no início do século XX e, se estabeleceram, permitindo assim criar
sucessivas gerações dentro de um mesmo grupo social. Portanto, trata-se de uma pesquisa com fontes orais,
recolhidas a partir dos procedimentos metodológicos da história oral e, que procura apontar, de que modo à
escola fez parte da vida e do aprendizado destas pessoas e da sua geração. Buscamos recuperar os modos de
perceber como se estabeleceu um processo civilizador aprendido na escola paranaense do período, qual seja
entre os anos 1930 e 1945. Este foi o período em que os entrevistados viveram suas primeiras experiências
escolares, portanto, nos permite indagar os comportamentos, as condutas, as regras, as pulsões e os padrões
civilizatórios que estavam presentes, ou não, neste espaço escolar caracterizado por uma cultura específica.
Assim, perscrutando o lugar da escola e sua materialidade nas histórias e memórias de ex-alunos, percebemos
que de alguma forma, ela se caracterizou pela ausência em relação à formação familiar e ao trabalho, mantendo
silêncios e descontinuidades na infância destes indivíduos. Finalmente, esperamos a partir das teorias de Elias
contribuir com a discussão da história da infância e seu processo de escolarização e, a partir das fontes orais, dar
visibilidade aos modos como a escola e sua educação foram lembradas, pois atribuímos à ela a tarefa social de
inserir o indivíduo, desde a infância, em um processo civilizador que pretende torná-lo humano e parte do seu
grupo social. Palavras chave: Infância, Processo Civilizador, Escolarização.
Me propongo presentar en esta ponencia un avance de investigación sobre el proceso de civilización que tenía en
mente uno de los intelectuales y políticos fundamentales en el proceso de construcción del Estado Nacional en la
República Argentina: Domingo F. Sarmiento. A través de una revisión bibliográfica de la producción de este
personaje fundamental de la historia argentina se intentará responder a preguntas nodales de Norbert Elias tales
como: “¿Cómo mantienen entre sí los miembros de un grupo la convicción de que son no solo más poderosos,
sino también mejores seres humanos que los de otro grupo? ¿A qué medios recurren para imponer la creencia en
su propia superioridad humana sobre los menos poderosos?”. Estimo que la respuesta a estas preguntas ayudará
a pensar, desde el caso argentino, un proceso civilizador latinoamericano. Para el objetivo señalado se utilizarán
fuentes secundarias como la obra del pensador y político en cuestión, artículos de revistas, periódicos de la
época, producción audiovisual y académica directa o indirectamente relacionado con el tema. El marco teórico
desde el cual se realiza este análisis está fuertemente influenciado por el pensamiento de Norbert Elias e
involucra conceptos centrales del mismo como configuración, proceso de civilización, proceso de individuación,
informalización, autocoacción de las emociones, concentración del poder estatal, interdependencia, figuración
establecidos-forasteros, etc. Si podemos hablar de un proceso de civilización argentino este deviene de
complejas luchas civilizadoras y descivilizadoras que deben ser esclarecidas para poder objetivar la particularidad
“del” proceso local. En este trabajo se propone una primera lectura desde grupos cuyo diferencial de poder ha
hecho que los intentos de otros, incluso de culturas y pueblos originarios, sean considerados claramente
descivilizadores. El objetivo final de esta investigación es insertarse en otra que integra diversas perspectivas
latinoamericanas en la misma dirección. Se trata de mi primera incursión en un terreno en el que se incorpora, a
parte de una mirada politológica lógicas propias del campo de la historia de la educación y de la filosofía y la
sociología de la educación. Se trata, también, de una lucha encarnizada sobre los límites de lo nacional y la
concepción de los elementos materiales y simbólicos que deben constituirlo; de la conformación social de las
subjetividades en un espacio social determinado, ajustándolo a un territorio legalmente constituido. Desde ya
que esta legalidad tiene que ver con este juego de imposición de concepciones de lo legítimo y de aquellos que
“debe ser” más allá de las particularidades de lo que “es”. Palabras-clave: Educación, Civilización, Argentina.
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 24
A história da história da educação de épocas longínquas e recentes há de elucidar as vicissitudes das maneiras de
educar na interação entre grupo familiar, instituição escolar, poderes públicos e História. Na Alta Idade Média
(século V ao século X d.C.), a educação da criança ocidental é predominantemente pensada e praticada para
formar o adulto cristão, seja nos mosteiros, seja nas escolas paroquiais. Com o desenvolvimento das cidades
ocidentais devido ao crescimento do comércio e de uma burguesia urbana, escolas elementares são criadas e
dirigidas por corporação de mestres, professores particulares, professores laicos. A sua expansão é simultânea ao
crescimento de alunos (scolares) e mestres (magistri). Nos tempos modernos, a educação da criança em idade
escolar, além do jovem e do adulto não alfabetizado, está associada à ação educativa na família, na escola pública
e nas instituições religiosas e laicas. Nesses lugares e nesses tempos distintos, o mosteiro, a escola paroquial, a
família, a escola pública, religiosa e laica constituem-se em instituições reconhecidas para educar visando ao
aprimoramento do educando, das sociedades e dos tempos. Assim sendo, os trabalhos da Sessão Coordenada,
inscritos no Eixo Temático História da Educação das Crianças, Jovens e Adultos no Brasil, dialogam com os
repertórios das fontes documentais nacionais e internacionais (incluindo cartas escritas por São Jerônimo (347-
420), o manual de dhuoda (803-843) escrita por uma mulher nobre), além de uma literatura educacional
especializada. No seu conjunto, objetiva-se proporcionar uma apreciação da educação da criança, do jovem e do
adulto em tempos e lugares diferentes, igualmente Europa na Alta Idade Média, Portugal e Brasil no século XX,
por intermédio da centralidade daquilo que é peculiar ao ato de ensinar: aprender a viver em comunidades
estritas e extensivas. Os quatros trabalhos de fundamentos históricos encontram-se, assim, estruturados
articuladamente: i) a educação da criança mediante projetos cristãos na Alta Idade Média; ii) a educação escolar
para idade adulta no Brasil e em Portugal no século XX; iii) a educação da criança da escola primária no Paraná
pelas prescrições do Estado na Segunda República; iv) a educação de crianças e de jovens na casa no Brasil e em
Portugal, simultaneamente com o preceito da obrigatoriedade escolar; Nos tempos medievos e modernos, a
educação da criança, do jovem e do adulto constituem-se em projetos cristãos, planos públicos e programas
privativos da família. Palavras-chave: Educação da criança, jovem e adulto. Idade Média. Século XX.
Na maior parte dos países ocidentais, o século XIX marca o início da escolaridade obrigatória aliada à
estruturação e organização dos sistemas de ensino sob o domínio do estado. Tal processo tem seu ápice no
século XX, quando, em alguns países, como o caso do Brasil e de Portugal, é consagrada a escolaridade
obrigatória e o estado, direta ou indiretamente, torna-se o mantenedor e o regulador das redes públicas e
privadas de escolarização. Assim, o objetivo central deste estudo é a investigação acerca do processo de
estabelecimento da escolaridade obrigatória em Portugal e no Brasil, bem como das novas tendências de
desescolarização presentes no cenário educativo mundial e as consequências desse movimento sob a legislação
nos dois países em foco. A escolha do tema referente aos dois países resultou do fato do Brasil haver
compartilhado com Portugal a legislação educacional relativa à instrução pública durante o Reino Unido, período
em que o ensino doméstico era prática majoritariamente exercitada pelas elites para a educação intelectual de
seus filhos, parentes e agregados. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, na qual é utilizado um repertório
diversificado de fontes, destacando-se os documentos produzidos sobre esta problemática e depoimentos
tomados sobre essa modalidade de educação. Na atualidade, constata-se que o ensino doméstico volta a ser
procurado de maneira significativa, atendendo a diferentes motivações de pais, que optam por manter os filhos
fora da escola oficial, denominando-se de homeschooling por ter nos Estados Unidos da América o maior número
de adeptos, dois milhões de crianças e jovens submetidos à educação na casa em 2002, de acordo com os dados
apresentados no Worldwide guide to homeschooling. Em países como Brasil e Portugal, tal prática cultural
possui, hoje, políticas orientadoras diferentes, sendo, no primeiro proibido e sujeito a penalidades das leis em
vigor, especialmente as que tratam da proteção à criança e ao adolescente; e no segundo, consentido com base
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
no princípio constitucional da liberdade de aprender e ensinar. Como resultados constata-se que a análise das
propostas de desescolarização sinaliza caminhos para a possível revisão e consequente flexibilização da legislação
vigente ou, pelo contrário, para uma tomada de consciência por parte dos decisores políticos e dos legisladores
da necessidade de reforçar a obrigatoriedade da escolarização por meio da escola pública e privada. Palavras-
Chave: Educação doméstica; Legislação educacional; Brasil e Portugal.
A efetiva inserção na modernidade requer das nações a consolidação de bases nas quais estas se assentem com
vistas a responder às exigências próprias desse tempo. Nesse sentido, à escola primária é atribuída pelo Estado
brasileiro e distintos governos lugar de centralidade na conformação da nacionalidade brasileira, visando atender
aos imperativos do mundo moderno. Nessa base ela se institucionaliza em distintas modalidades, sendo-lhe
delegada a instrução da criança. Na segunda Republica com o acirramento das medidas de nacionalização a
criança da escola primária é entendida como a expressão da construção futura da nacionalidade moderna em
documentos governamentais aqui entendidos como códigos de ensino, relatórios de governo, programas, mas
também em livros escolares de leitura. Desse modo, este estudo objetiva trazer apreciação sobre a criança da
escola primária na Segunda Repúbica, sob as representações (CHARTIER, 1990) de distintos governos. Essas
representações estão contidas naqueles documentos, traduzidas, muitas vezes, por meio de prescrições a serem
rigorosamente cumpridas pela escola. Para tanto, certos saberes escolares se constituem em matrizes para a
formação nacional por meio de livros escolares. Metodologicamente situado no campo da História da Educação
utiliza-se da documentação anteriormente referida como fontes desde as quais são apreendidas tanto as
prescrições como os saberes num exercício interpretativo por meio do qual se estabelecem nexos com as
aspirações modernas e nacionais sobre o escolar da instituição primária do período. Trata-se de uma abordagem
histórica sócio/política da educação no Brasil, considerando-se a abrangência e, ao mesmo tempo, as
intencionalidades governamentais tacitamente marcadas numa materialidade na qual substancialmente são
prestadas contas para os supostos representantes do povo sobre realizações governamentais acerca da
escolarização da criança no Paraná, bem como por meio do que essa escolarização precisaria ser levada a cabo.
Os governos entendem haver necessidade de educar a criança brasileira segundo as bases da moderna ciência
pedagógica com substrato psicológico/sociológico da escola ativa em duas vertentes: a cientificista e a escola
nova em sua articulação com pensadores europeus, tais como: Decroly, Pestalozzi, Maria Montessori, entre
outros e, por meio de desdobramentos presumivelmente científico/higienista que deveriam conformar o escolar
nacional segundo condutas cívicas patrióticas, calcadas em distintos campos do conhecimento, necessários à
inserção do futuro adulto no mundo do trabalho e da modernidade.
Terezinha Oliveira
O objetivo desta comunicação é analisar, por meio de três escritos, projetos que indicam como deveria ser a
educação/formação da criança com vistas a formar o adulto cristão. O primeiro escrito é uma Carta de São
Jerônimo (347 – 420), dirigida aos pais de Pácula, uma criança romana prometida, desde antes do nascimento, à
Igreja. O segundo é o texto de uma mãe nobre, do reinado de Carlos, o Calvo, que redige um manual para educar
seus dois filhos. Ele leva o seu nome Manual de Dhuoda (803-843). O terceiro é uma peça de teatro intitulada
Sabedoria. A monja Roswitha de Gandersheim (ca. 935 - ca.1002) redige com uma dupla finalidade: educar nos
princípios cristãos as meninas que se encontravam no seu mosteiro e, ao mesmo tempo, ensinar matemática. Por
meio destes três textos refletiremos sobre a permanência de um ideal de formação da criança que norteou o
pensamento dos teóricos medievais entre os séculos V ao X d.C. Observamos que a escolha e o recorte temporal
dos documentos estão associados aos limites possíveis para análise da proposta deste trabalho. A eleição destes
documentos justifica-se por serem textos singulares da história da educação da criança no medievo. Em primeiro
lugar, os escritos apontam para a diversidade de autorias: um teórico romano convertido ao cristianismo, que
reflete sobre a formação da criança no momento de transição do Império Romano para o início da Alta Idade
Média; uma mãe que redige um Manual para orientar a educação de seus filhos à distância, já que, em virtude do
estado de guerra que marcava o governo do seu ‘senhor’, afastou os dois filhos de seu convívio para assegurar a
sobrevivência destes e, por fim, uma monja, de linhagem real, vinculada à dinastia de Otão III (980 – 1002), que
se dedica a ensinar matemática às meninas do mosteiro no qual exerce a função de abadessa. No conjunto dos
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
textos encontramos aspectos essenciais da educação medieval e, especialmente, do princípio escolástico porque
neles encontram-se fundidos as duas fontes do conhecimento medieval, o pensamento filosófico greco-latino e
os escritos sagrados. Em face de suas características, acreditamos que a recuperação e análise, dos mesmos
contribuirão para a construção da memória da educação da criança no Ocidente medieval e, em concomitância,
possibilitará que consideremos que os teóricos cristãos, envolvidos com a criação e manutenção de um ideário de
sociedade, tinham em mente que para que este se efetivasse seria preciso iniciar pela educação das crianças.
Salientamos, por fim, que elegemos a história social para analisar os escritos, pois ela nos permite que, ao
recuperar a memória dos escritos, possamos tomar os teóricos medievais – que se dedicaram à elaboração de
projetos para educação das crianças – como ponto de apoio para nossas reflexões para elaborar projetos para
educar nossas crianças. PALAVRAS CHAVE: Educação da Criança. Idade Média. Cristandade.
No regime do Estado Novo no Brasil, o presidente Getúlio Dornelles Vargas criava, no Ministério da Educação e
Saúde, a Comissão Nacional de Ensino Primário (1938), com uma das atribuições de organizar o plano de uma
campanha nacional de combate ao analfabetismo. No governo do General Eurico Gaspar Dutra, o Ministro da
Educação e Saúde, Clemente Mariani Bittencourt nomeou, em janeiro de 1947, o Diretor-Geral do Departamento
de Educação, Manoel Bergström Lourenço Filho, para coordenar o Plano de Ensino Supletivo da Campanha de
Educação de Adolescentes e Adultos. O recenseamento geral de 1940 revelou na população de maiores de 15
anos, a taxa de 55% de analfabetos. No regime do Estado Novo em Portugal (1933-1974), especialmente na
presidência de António de Oliveira Salazar, no Conselho de Ministros (1933-1968), o censo da população de 1940
evidenciou uma elevada percentagem de jovens e adultos entre 14 e 35 anos de idade analfabetos, atingindo um
milhão em 1950. A escolaridade primária obrigatória como antídoto do analfabetismo levaria as autoridades do
Ministério da Educação Nacional a declarar um Plano de Educação Popular (1952), elaborado e dinamizado pelo
Subsecretário da Educação Nacional Henrique Veiga de Macedo e o Ministro Fernando Andrade Pires de Lima. A
cargo da Direção-Geral do Ensino Primário do Ministério da Educação, o Plano de Educação Popular integrava a
Campanha Nacional de Educação de Adultos, destinada aos indivíduos de 14 a 35 anos não alfabetizados. A partir
do corpus documental pesquisado (legislação educacional, portarias ministeriais, acordos institucionais, planos
anuais de ensino supletivo), o trabalho histórico pertinente aos quatro primeiros anos da Campanha de Educação
de Adultos oficializada em Portugal (1953-1957) com os recursos do Fundo Nacional de Educação de Adultos e no
Brasil (1947-1951) com os recursos do Fundo Nacional do Ensino Primário tem como objetivo elaborar quadros
descritivos circunscritos à infraestrutura político-jurídica e educacional, bem como elaborar quadros analíticos
referentes ao Plano efetuado pelo Serviço de Ensino Supletivo especialmente do munícipio de Coimbra (Portugal)
e ao Plano efetivado pelo Serviço de Ensino Supletivo do Estado do Rio Grande do Norte (Brasil). Os quadros
descritivos e analíticos analisam-se pelo procedimento histórico-comparativo conforme a orientação de Clarice
Nunes (2001), que consiste em compreender e explicar as lógicas sobre as quais as singularidades e as
diversidades se operam numa perspectiva mais global. Em Portugal e no Brasil, a política nacional de educação de
adultos centrada nas Campanhas de Educação de Adultos na promoção da educação elementar transitória
(Portugal) e do ensino supletivo primário (Brasil) era permeada de propósitos no sentido de concorrer para a
integração ajustada de cada aluno adulto alfabetizado no trabalho produtivo.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 25
Esta comunicação coordenada objetiva dar visibilidade e aprofundar a discussão sobre um tema ainda pouco
investigado na História da Educação no Brasil, isto é, a história do magistério primário rural. Foi a partir dos anos
30 do século XX que se intensificaram no país políticas do governo federal e dos estados para a educação
primária rural. No âmbito do governo federal, a partir de 1946, com base nos recursos do Fundo Nacional de
Ensino Primário, criado em 1942, o Ministério da Educação e Cultura passou a implementar o plano nacional de
ampliação e melhoria da educação primária e normal. Para o meio rural, o plano previa a construção de escolas
com residência para o professor, cursos de aperfeiçoamento para professores rurais e a construção de escolas
normais rurais com internatos quando necessário nas diversas unidades federais. Coube ao Instituto Nacional de
Pesquisas Educacionais (Inep) o planejamento, execução e fiscalização desse plano de expansão e melhoria do
ensino primário rural. Com base nesse plano, entre 1946 e 1949 foram construídas no país 6.160 escolas rurais
primárias. No âmbito regional, além dos convênios assinados com a União, os estados implementaram políticas
específicas para a formação e profissionalização de professores rurais. Alguns investiram na criação e expansão
das Escolas Normais Regionais Rurais enquanto outros privilegiaram cursos de especialização e outros programas
de formação, como o curso normal de férias. Visando a solucionar o problema de provimento das escolas
primárias nas zonas rurais, os governos estaduais buscaram adotar incentivos como a construção de casas para
residência dos professores e incentivos na carreira docente. Além disso, instituíram programas de inovação
educacional incidindo sobre os programas e métodos de ensino. O objetivo desta comunicação coordenada é
apresentar as trajetórias distintas de formação e profissionalização do magistério primário rural em quatro
estados brasileiros: Pernambuco, Mato Grosso, São Paulo e Paraná no período em que ocorreram políticas
específicas de expansão da escolarização pública no campo e que se manteve o ensino normal como instância de
profissionalização docente. Os quatro estudos problematizam as políticas de formação e as condições de
trabalho docente no campo colocando em questão como os governos estaduais lidaram com os problemas da
educação rural. O cotejamento dessas diferentes experiências possibilita apreender a complexidade da história
da profissão docente no Brasil e as desigualdades educacionais inscritas nas diferenças e desigualdades regionais
do país.
O estudo sobre a história da formação do professor primário no meio rural paranaense, anunciado no título da
comunicação, objetiva aprofundar a discussão sobre a educação rural no estado entre as décadas de 1930 e
1960. Período inicialmente marcado por medidas intervencionistas e políticas de nacionalização e
posteriormente, por um processo de democratização que perdura até a implantação do Regime Militar, em 1964.
Neste contexto o debate e as ações do governo federal e dos governos estaduais em torno da expansão do
ensino primário rural, bem como da formação de seus professores ganha centralidade diante do contingente da
infância brasileira que vivia no campo. O Paraná, alinhado às políticas nacionais, volta sua atenção ao
povoamento e a modernização do estado para garantir a produção agrícola e a pecuária, contando com o
ingresso de imigrantes nacionais e estrangeiros que se dirigiam para as áreas rurais. Povoar e educar se torna
uma de suas metas do estado e coloca a educação rural como pauta das ações governamentais, por meio de
acordos e subvenções com os municípios, com o objetivo de expandir a rede de ensino primário e normal no
meio rural. A preocupação com esta formação é impactada com a aprovação da Lei Orgânica do Ensino Normal
em 1946, que prevê a formação do regente de ensino primário nos cursos normais regionais. Após doze anos de
aprovação da lei, o Paraná contava com uma rede de 71 cursos normais regionais. Além destes eram ofertados
aos professores rurais, cursos de atualização e aperfeiçoamento. Cabe salientar a presença de periódicos
educacionais como a Revista de Pedagogia, órgão da Associação de Estudos Pedagógicos para os Cursos Normais
Regionais, dirigida por Erasmo Pilotto, na formação do professor primário rural. O corpus documental da
investigação que deu origem a presente comunicação reuniu textos dos relatórios e mensagens de governadores
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Estudos recentes assinalam que a profissão docente compreende a organização de um campo específico de
atuação que foi se tornando cada vez mais complexo, uma vez que o sistema escolar passou a abranger diversos
níveis e modalidades de ensino (primário, médio, superior, profissional, de jovens e adultos, infantil), exigindo,
dessa forma, a criação de instituições para a formação docente, a produção e a circulação de conhecimentos
específicos para a área. Outro aspecto destacado pela literatura especializada se refere ao fato de que, em
muitos lugares, durante boa parte do século XX, as escolas e os cargos de professores constituíram moeda de
troca nos jogos políticos locais. Em Pernambuco, por exemplo, na década de 1960, conviviam, praticamente lado
a lado, escolas rurais do estado, em precárias condições de aparelhamento, e escolas rurais mantidas pela União,
nas quais os(as) professores(as) eram mais bem remunerados(as), inclusive recebendo materiais adequados para
o trabalho. Este texto analisa aspectos da profissionalização docente em escolas rurais no sertão pernambucano,
no período que compreende os anos de 1950 a 1970. Busca, sobretudo, compreender o processo de formação de
professores para as escolas rurais no sertão nordestino e as implicações advindas com o ingresso na profissão
(tipo de contrato, empregador, vencimentos e condições de trabalho), cotejando aspectos locais, regionais e
nacionais. Com referência aos aspectos teórico-metodológicos da investigação, optou-se pela história oral como
metodologia de pesquisa, no caso específico, a utilização de entrevistas com ex-professores(as) de diferentes
cidades do sertão pernambucano. Por delimitação temporal, tomam-se as décadas de 1950 e 1970, período em
que o país viveu a fase dos “anos dourados”. A primeira é considerada uma época de transição entre o período
de guerras da pri¬meira metade do século XX e o período das revoluções comportamentais e tecnológicas. No
Brasil, essas transformações foram se consolidando ao longo da década, e alteraram o consumo e o
compor¬tamento de parte da população que habitava os grandes centros urbanos. A segunda tem como marco a
ascensão dos militares ao poder. A situação edu¬cacional configurada a partir das reformas instituídas pela
ditadura militar logo se tornou alvo da crítica dos educadores, que crescentemente se orga¬nizavam em
associações de diferentes tipos. O estudo se insere no campo da História e Historiografia da Educação, mais
especificamente relacionado à Nova História Cultural. Por ser este um campo de investigação ainda pouco
explorado, pretende-se, com o presente trabalho, contribuir com os estudos acerca da história da
profissionalização docente no Brasil e, de maneira especial, com a história da profissão docente no sertão
pernambucano.
O presente trabalho tem o objetivo de analisar as políticas implantadas para a formação do professor leigo rural
primário em Mato Grosso, especialmente na parte Sul do Estado, nas décadas de 1960 e 1970. Esse recorte
temporal justifica-se tendo em vista as políticas educacionais implementadas visando soluções para a questão da
formação de docentes leigos, como o Programa de Aperfeiçoamento do Magistério Primário (PAMP), nos anos de
1960, e o Projeto LOGOS I, na década de 1970, criados pelo governo federal e implantados em alguns estados
brasileiros, como Mato Grosso. E, ainda, por abranger a implantação de políticas estaduais em Mato Grosso, na
década de 1970, que, em parceria com os municípios, sobretudo da parte Sul do Estado, instalaram cursos para a
formação de professores leigos. O trabalho foi realizado por meio de dados obtidos em fontes documentais, tais
como os Relatórios e Mensagens de governadores do Estado de Mato Grosso, Relatórios e Mensagens de
Interventores, Relatórios de Secretários de Estado, legislação, entre outros. Recorreu-se, também, a uma
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
bibliografia ligada à História, história de Mato Grosso, história e historiografia da educação e ao ensino rural. A
falta de professores habilitados era uma questão bastante problemática em Mato Grosso, sobretudo na parte Sul
do Estado, uma vez que eram os professores leigos que lecionavam nas classes dos primeiros anos da escola rural
primária. Entretanto, nas décadas de 1960 e 1970, as fontes documentais indicaram que as políticas adotadas em
âmbito federal e estadual em parceria com os municípios favoreceram a formação de uma parcela dos
professores leigos em Mato Grosso. O Centro de Treinamento do Magistério de Cuiabá criado no contexto do
Programa de Aperfeiçoamento do Magistério Primário (PAMP), na década de 1960, contribuiu com os cursos
intensivos de férias para professores leigos, realizados em Cuiabá. Por outro lado, as reivindicações de
professores leigos, devido à distância geográfica das localidades do Sul do Estado a Cuiabá, possibilitaram a
adoção de políticas estaduais, em parceria com os municípios, para a instalação de Cursos de “Normal de Férias”,
que também proporcionaram a habilitação de uma parcela considerável dos professores. Apesar das políticas
postas em funcionamento em Mato Grosso, a parte Sul do Estado continuava apresentando problemas com a
falta de professores diplomados, tendo que contar, no final da década de 1970, com o Projeto LOGOS I, um
projeto do Ministério da Educação e Cultura, que, por meio de uma metodologia personalizada, atendia um
número significativo de professores. Assim, as políticas para a formação dos professores leigos, no Sul de Mato
Grosso, no período estudado, enfrentaram dificuldades para atender à demanda de professores sem habilitação,
que lecionavam nas escolas rurais primárias.
A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES PRIMÁRIOS RURAIS NO ESTADO DE SÃO PAULO (1930 – 1971)
A questão da formação dos professores rurais teve um encaminhamento bastante peculiar no estado de São
Paulo entre as décadas de 1930 e 1970. Enquanto a maioria dos estados brasileiros optou pela criação e
instalação de Escolas Normais Regionais Rurais, em São Paulo, apesar das inúmeras propostas de criação da
Escola Normal Rural, prevaleceram os cursos de especialização para a formação dos professores rurais. Este
encaminhamento resultou de vários fatores, entre eles o embate político entre ruralistas e defensores da escola
comum. Neste texto problematizamos dois aspectos interelacionados: as propostas para a formação dos
professores rurais que circularam na imprensa pedagógica e que mobilizaram o debate entre os educadores e as
políticas educacionais implementadas pelos poderes públicos para a formação do magistério rural. Os adeptos
das concepções ruralistas, liderados por Sud Mennucci, batalharam pela criação de uma Escola Normal Rural no
Estado de São Paulo. Esses educadores defendiam uma formação especializada para os professores rurais cujas
características estariam voltadas para o meio fossem nas finalidades, nos programas de ensino e na organização
administrativa e pedagógica. Por outro lado, a posição dos partidários da escola comum, como Fernando de
Azevedo e Almeida Junior, postulavam a criação dos cursos de especialização nas escolas normais já existentes.
Esses cursos deveriam ser breves, compreendendo três a quatro meses de duração e abrangendo matérias e
atividades essenciais ao professor rural. A ideia era formar o professor técnico de educação rural. A Secretaria de
Educação do Estado de São Paulo realizou vários desses cursos de especialização nos anos 40 e 50 do século XX.
Nos anos 60, a opção política foi a revisão dos programas das Escolas Normais do estado com a inclusão de
conteúdos rurais. Este estudo está fundamentado na Nova História Política levando em conta as representações
dos educadores sobre a formação de professores e a compreensão das relações entre educação e Estado
entendendo o poder e suas manifestações não só como soberania do Estado, mas como um assunto social que
afeta os sujeitos particulares e coletivos. As fontes de pesquisa utilizadas foram os periódicos educacionais (a
Revista de Educação e a Revista do Professor), os Boletins publicados pela Secretaria da Educação de São Paulo,
os Anuários do Ensino de 1935- 1936 e de 1936-1937, a legislação educacional e as mensagens dos governadores.
O presente estudo é fruto de análises e investigações realizadas no âmbito do projeto temático “História da
Escola Primária Rural no Estado de São Paulo (1931 – 1968): circulação de referenciais estrangeiros, iniciativas do
Poder Público e cultura escolar”, financiado pela FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo.
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 26
A comunicação coordenada traz como eixo agregador, dos esforços empreendidos pelos pesquisadores aqui
reunidos, a cultura material escolar e o processo de escolarização da infância. Os estudos realizados escrutinam o
tema por fontes e vias de perspectivas teórico-metodológicas diversas, mas o que os articula é a provisão
material da escola primária, em diferentes províncias e estados brasileiros - como em Minas Gerais, Paraná,
Santa Catarina e Maranhão - e as interrogações acerca dos processos históricos de escolarização da infância. Os
objetivos deste painel de estudos têm como mote de reflexão: os intentos de projeto de modernidade e
modernização do ensino; os debates acerca da materialidade da escola primária e a circulação de objetos
escolares; as experiências e apropriações que a escola e seus objetos produziram na memória dos adultos que
quando crianças frequentaram estes espaços educativos; de desigualdades escolares e desigualdades das
condições de infância; a cultura material escolar constituidora da diversidade da oferta escolar; de distinções
pedagógicas em relação as inscrições geográficas e sociais dos sujeitos envolvidos nas experiências escolares.
Nesta direção, interroga-se acerca da cultural material escolar tanto como constituidora das finalidades da escola
e dos sentidos a ela confiados, como ferramenta de distinção social e pedagógica das instituições e dos sujeitos
que nelas vivenciaram suas infâncias. Os pesquisadores que compõem esta comunicação utilizam-se de acervos e
diversos arquivos e contam com uma ampla base empírica, como por exemplo: textos memorialísticos, relatórios
de governo, de diretores e inspetores de ensino, inventários escolares, revistas pedagógicas, jornais, discursos de
Conferência Estadual do Ensino, legislação e correspondências entre professores e autoridades de ensino. O
recorte temporal se estende de fins do século XIX até as primeiras décadas do século XX, período este que
antecede a implantação da escola graduada em determinadas províncias e se prolonga à experiência dos grupos
escolares e escola modelo. Em termos teóricos, os pesquisadores utilizam como aporte para o exercício analítico
das fontes, referências como: Norbert Elias, Michel de Certeau, Roger Chartier, Michael Pollak, Krzystof Pomian,
Clifford Geertz, Richard Bucaille, Jean-Marie Pesez, Agustín Escolano, Antonio Viñao Frago, Juri Meda, Witold
Kula e da historiografia brasileira especializada no tema da cultura escolar e cultura material escolar.
Esta comunicação discute no âmbito da historia das desigualdades escolares as desigualdades das condições de
infância a partir da investigação e analise da materialidade das escolas de Minas Gerais nas primeiras décadas
republicanas. O recorte temporal compreende o período de instalação dos grupos escolares e a realização da
reforma educacional Francisco Campos que introduz uma nova materialidade fundada nos argumentos do
escolanovismo. Em Minas Gerais, durante o período imperial, predominou uma situação de extrema
precariedade material das escolas de instrução elementar, o que deu visibilidade a condição de aluno pobre por
meio dos registros escolares, relatórios de governo, bem como a criação de meios para atenuar tal situação,
como é o caso das caixas escolares (VEIGA, 2007). Contudo, com a fundação dos grupos escolares e significativa
alteração da cultura escolar ampliaram-se também os campos de visibilidade das desigualdades da condição da
infância. Minha hipótese é de que no contexto republicano, levando-se em consideração a crescente
urbanização, demandas por alfabetização, crescimento das camadas médias, progressos na oferta de produtos de
consumo, associados à heterogeneidade da oferta escolar de ensino primário, ampliaram-se os processos de
identificação e matização da pobreza das crianças escolares e desigualdade das condições de vivência da infância.
O objetivo da pesquisa é identificar, por meio de pesquisa documental e discussões teóricas e conceituais a
cultura material escolar constituidora da diversidade da oferta escolar; e a cultura material escolar produzida nas
estratégias politicas de governo das desigualdades materiais das crianças escolares, entre elas a caixa escolar.
Este estudo é feito a partir das proposições desenvolvidas pela historiografia da educação brasileira em autores
como Cynthia G. Veiga (2000), Rosa Fatima de Souza (2007), Ana Maria G.B. de Freitas (2011), Vera Lucia G. da
Silva (2012), Cesar Castro (2013) e estudiosos da cultura material, tais como Richard Bucaille e Jean M. Pesez
(1989) e Jean M. Pesez (1990). Apesar das diferenças das abordagens desses autores, eles aproximam-se no
entendimento de que os objetos organizam a percepção que temos de nos mesmos, individual e coletivamente.
Acrescento a este entendimento a análises do sociólogo Norbert Elias (1994), relativa à dimensão relacional e
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
interdependente presente na produção da cultura material. Indaga-se, portanto sobre a relação entre as
dinâmicas diferenciadas de poder produtoras de culturas materiais escolares distintas e as desigualdades na
condição de infância. Destaca-se para este estudo a investigação de diferentes fontes documentais, como
relatórios de governo, de inspetores de ensino, inventários escolares, revistas pedagógicas e jornais. Palavras
chaves: infância, cultura material escolar, desigualdades
A intenção desta apresentação é explorar parte do potencial que os objetos da escola oferecem para a reflexão
da educação, entendendo-os como portadores de mensagens de modernidade e modernização e como base
material de um projeto de escolarização da infância. Como suporte teórico lança-se mão de perspectivas
articuladas a cultura material escolar, com apoio em Agustín Escolano, Antonio Viñao Frago, Juri Meda e Witold
Kula, Como fonte toma-se por base discursos extraídos dos Annaes 1ª Conferência Estadual do Ensino Primário,
realizada em Santa Catarina no ano de 1927. Esta Conferência está alinhada a outras que aconteceram no Brasil
dos anos de 1920 como Conferência Interestadual do Ensino Primário, realizada por iniciativa do governo federal
(Rio de Janeiro, 1921); Primeira Conferência Nacional de Educação, promovida por intermédio da Associação
Brasileira de Educação em Curitiba, em 1927 e outras ocorridas nos anos de 1928/1929. Além de se constituírem
espaços importantes de difusão de propostas pedagógicas e de forte mobilização de um discurso bastante
prescritivo sobre os modos de operar no interior da escola e com a infância, estes fóruns também serviram como
vitrines para estimular o consumo de produtos oriundos de uma emergente indústria que descobre na educação
um importante nicho; um consumo muitas vezes sustentado nas prescrições. O mapeamento feito nas páginas
dos Annaes indicou um aparato material sintonizado com outros projetos já localizados no espaço nacional e
internacional, defendido, ou condenado, com base em discursos que encontram no argumento da modernização
um moderno recurso de sustentação. Contudo, esta modernização se constitui não como inovação genuína mas
como superação de um modelo julgado obsoleto, antigo, ultrapassado, incapaz de formar o cidadão para atuar
nos espaços urbanos, já que para o campo o modelo “ultrapassado” insistia em servir. Para o presente trabalho
fez-se a escolha por destacar as peças do mobiliário e da estrutura material da escola citadas nos Annaes e
discursos e argumentos a elas articulados. Nos dados localizados a higiene escolar é uma espécie de “bandeira de
luta”, aliada escolar do projeto de higienização dos costumes, tão caro ao projeto de escolarização da infância e,
particularmente, da criança “pobre”. O mobiliário comporia parte do cenário dedicado ao ensino e prática dos
preceitos higiênicos: a forma de cuidar das peças, de organizá-la nos espaços, de usá-las, com destaque para as
carteiras, são partes do projeto educativo. O aparato moderno tinha destino certo e os dados indicam que a
modernização do projeto educativo foi alimentada pedagogicamente de maneira diferente pelos objetos da
escola, em geral seguindo as inscrições geográficas e sociais dos sujeitos envolvidos. Palavras-chave: cultura
material escolar, escolarização da infância, objetos da escola
Gizele de Souza
Juarez José Tuchinski dos Anjos
A presente comunicação examina alguns aspectos da cultura material escolar por meio de memórias de infância
escritas por adultos que, quando crianças, entre os anos de 1870 a 1900, período que antecedeu a implantação
da escola graduada no Paraná, frequentaram escolas primárias isoladas daquela região, na passagem do Império
para a República. Dentre os aspectos privilegiados neste estudo, enfocam-se aqueles ligados à indumentária
escolar e aos materiais visuais, sonoros e táteis utilizados para o ensino. Os primeiros testemunham vestígios das
condições materiais das infâncias escolarizadas ao passo que os segundos trazem evidências da circulação e
apropriação de alguns materiais destinados ao ensino e escolarização dos sujeitos dessas infâncias. Tais aspectos
aqui considerados integram um quadro mais amplo de referência, classificação e categorização de itens
representativos do provimento material da instrução primária em determinadas províncias e estados brasileiros
no mesmo período. Este material foi inventariado no âmbito da pesquisa realizada pelo Grupo Cultura Material
Escolar (2011-2012), inserido no projeto de investigação “Por uma teoria e uma história da escola primária no
Brasil: investigações comparadas sobre a escola graduada (1870 – 1950)”. Avançando sobre os resultados da
referida pesquisa coletiva, que mapeou a circulação de objetos na escola primária brasileira e representações
acerca de seu provimento, o exercício analítico nesta comunicação reside em examinar as apropriações dessa
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
materialidade escolar pela ótica dos alunos, conforme experimentadas na infância pelos autores dos registros
memorialísticos aqui interrogados. Nesta perspectiva, a cultural material escolar é parte e ferramenta da
memória de infância e escola dos adultos protagonistas das narrativas memorialísticas, mas também sinaliza para
uma dada representação de ensino, dos sujeitos e dos objetos escolares no contexto social. Na operação
historiográfica empreendida, tais registros, tomados como uma construção de memória, tal qual alertam Michael
Pollak e Krzystof Pomian, foram cruzados com outras fontes, contemporâneas às experiências que relatam,
compostas por ofícios, regulamentos e relatórios da instrução pública paranaense, a fim de serem descontruídos
como monumentos de memória e interrogados como evidência histórica. Complementando a operação empírica,
o estudo dialogou, ainda, com referências teóricas derivada das contribuições de Clifford Geertz, Michel de
Certeau, Roger Chartier, Richard Bucaille e Jean-Marie Pesez e com o campo da historiografia brasileira. Palavras
chaves: Infância, Cultura Material Escolar, Memórias.
Neste ensaio tratamos dos materiais da cultura que fizeram parte do processo de formação de alunos e alunas
maranhenses nas primeiras décadas republicanas, tendo como foco a Escola Modelo “Benedito Leite”, instituição
anexa à Escola Normal do Estado. Esta instituição, criada pela Lei n.155, de 6 de maio de 1896, como resultado da
Reforma Educacional de 1895 empreendida no governo de Benedito Leite, com a finalidade de dar novos rumos a
educação através da formação de professores e da melhoria da instrução primária. Por problemas de ordem
econômica do Estado e de carência de espaço físico, somente em 1900 é efetivamente instalada, trazendo no seu
ideário a noção de modernidade, civilidade e de progresso que tanto carecia a instrução pública e particular
maranhense. Na direção da Escola Modelo esteve à frente Barbosa de Godóis (importante educador maranhense
na primeira década republicana) com a responsabilidade de fiscalizar as atividades dos professores e alunos,
reivindicar a melhoria das condições físicas, adquirir material para as disciplinas e contratar docentes como se
depreende da vasta quantidade de ofícios que diariamente encaminhava aos governadores do Estado. Portanto,
o objetivo deste ensaio é discorrer e analisar os diferentes artefatos da cultura, como os mobiliários, os objetos
de leitura escrita, os quadros parietais e outros que eram adquiridos em duas ordens. A primeira, em menor
proporção, se destinava às atividades administrativas da instituição como papel diplomata para correspondência
do diretor com os pais das crianças, livros de frequência, de controle de ponto dos professores e servidores, livros
de matrícula, dentre outros; e aqueles que se destinavam à limpeza e conservação do edifício escolar como
vassouras, fechaduras, tintas para parede e cera para móveis, por exemplo. A segunda destinava-se às atividades
pedagógicas, que variavam de acordo com a disciplina, o nível de conhecimento das crianças – curso primário,
médio ou complementar – e o gênero dos alunos. Como fontes para a escrita deste trabalho utilizamos os
relatórios do Diretor dessa instituição, a legislação e, principalmente, os correspondências trocadas entre as
autoridades do governo e a Escola relativas à compra, a confecção e a aquisição de materiais escolares em
diferentes mercados brasileiros como as mesas para os professores e os armários na indústria Cimo, os quadros
parietais, pedras, mamíferos, aves, etc na Casa de Fils de Emille Dyrrolle (Paris) e as cadeiras de alunos na
Chandler Adjustable Chair and Desk Compan (Estados Unidos). Este texto possibilita compreendermos as formas
de organização escolar maranhense e o processo de circulação dos objetos da cultura escolar em diferentes
espaços e regiões brasileiras. Palavras-chave: cultura material escolar, ensino primário, Maranhão República.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 27
A presente comunicação coordenada vincula-se aos trabalhos de pesquisa desenvolvidos no âmbito do grupo de
pesquisa História da Educação, Imigração e Memória (GRUPHEIM) e objetiva discutir o cotidiano das escolas com
marcas étnicas, predominantemente italianas, entre o final do século XIX e primeiras décadas do século XX. Ao
final do século XIX, como sabemos, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito
Santo e Minas Gerais foram os principais espaços que contaram com a presença de imigrantes provenientes da
península itálica. Muitos desses já traziam conhecimentos rudimentares da escolarização e, por intermédio da
organização em comunidades, mas também com o incentivo da Igreja, dos cônsules, de Sociedades como a Dante
Alighieri e das Associações de Mútuo Socorro, investiram na abertura de escolas étnicas. Essas escolas se
constituíram em experiências singulares no processo histórico educacional brasileiro e nos sinalizam para a
diversidade de iniciativas e formas como a escola foi organizada por diferentes culturas e grupos humanos.
Escolas étnicas vinculadas às comunidades ou aquelas mantidas por associações, escolas confessionais e mesmo
escolas públicas foram espaços ressignificados pela presença de imigrantes e descendentes. O Governo Italiano
subsidiou, mesmo que irregularmente, com remessas de materiais escolares (livros) e subsídios para algumas
dessas escolas. O Governo Brasileiro, de sua parte, permitiu que muitas das escolas étnicas fossem mantidas e
em alguns casos, mediante o ensino do português, também subsidiou o pagamento dos professores, ao menos
até o final dos anos 1930, quando a política de nacionalização determinou seu fechamento. Atentando para
aspectos da cultura escolar tais como os saberes, os livros e leituras, a cultura material, as memórias das
vivências desses espaços escolares marcadamente étnicos, nossa proposta é lançar olhares investigativos sobre
diferentes matizes das culturas escolares instituídas e instituintes. O apoio teórico das análises considera as
contribuições da História Cultural e o corpus empírico é diversificado, contando com memórias, livros de leitura,
objetos da cultura material, relatórios, correspondências, livros de atas, jornais e fotografias. Adentrar no
cotidiano, na cultura escolar vivida, permite relacionar e perceber os espaços de negociação e tensionamento, os
vínculos de pertencimento e processos identitários, as marcas dialetais, os saberes, as leituras, as políticas
nacionais mas também as italianas. Enfim, os processos escolares étnicos italianos que marcam a História da
Educação no Brasil.
Clarícia Otto
No decorrer da segunda metade do século XIX e primeiras décadas do século XX, imigrantes de diversas etnias
aportaram no sul do Brasil. Pela iniciativa de porta-vozes dos países de origem, agentes consulares e cônsules,
líderes locais ou iniciativa deles próprios, buscaram “conservar” e/ou (re)inventar aspectos de identificação
étnica. Nesse contexto, ocuparam lugar associações religiosas, culturais e escolares, destacando-se as escolas
étnicas. Essas escolas funcionaram como um dos principais espaços para inculcar discursos visando manter e/ou
desenvolver sentimentos vinculados aos valores das regiões das quais haviam emigrado. Por exemplo, nas
colônias italianas, em Santa Catarina, as escolas étnicas Dante Alighieri foram as principais fomentadoras do
sentimento de italianidade. Todavia, não se pode imaginar uma cultura italiana homogênea, em consequência de
fatores diversos: a região da Itália de onde os imigrantes eram procedentes, o tipo de atendimento religioso em
cada núcleo colonial, o grau de instrução e envolvimento político de algum emigrado, as especificidades de cada
região no interior do próprio estado catarinense, os diferentes momentos da política educacional no Brasil, a
coexistência de diferentes redes escolares, entre outros. Nesse sentido, este trabalho objetiva identificar
aspectos do cotidiano escolar de imigrantes italianos, em Santa Catarina, tomando como fonte principal
memórias de imigrantes. Trata-se de uma revisita a memórias de descendentes de imigrantes italianos do Médio
Vale do Itajaí-Açu e do Sul catarinense, gravadas e transcritas entre os anos de 2002 e 2003, período em que
foram coletados dados para determinada pesquisa, com objetivos distintos dos atuais. Rememorar é viajar por
caminhos, tempos e espaços de passados longínquos. As narrativas dos entrevistados são compreendidas na
perspectiva da memória coletiva de Halbwachs (2006), aquela que rememora experiências circunscritas aos
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
quadros sociais de tempos e espaços circunscritos a determinados grupos. Ao mesmo tempo em que se
observam elementos de coesão, as narrativas dos entrevistados apontam para aspectos relacionados aos
processos de coerção, de enquadramentos, de seleção e de silêncios da memória, na perspectiva de Pollak (1989;
1992). Ressaltam-se, nas narrativas, confluências em torno das dificuldades vividas naqueles tempos, das
disputas na implantação de diferentes redes escolares e, principalmente, sobre o processo de nacionalização
forçada, o qual exterminou as escolas étnicas e proibiu o uso da língua italiana e de seus dialetos. Palavras-chave:
Memórias. Imigrantes italianos. Escolas étnicas.
A CULTURA MATERIAL ESCOLAR NAS ESCOLAS RURAIS ITALIANAS: ESPAÇOS, OBJETOS E MATERIAIS
DE ENSINO
O trabalho tem como objetivo analisar a materialidade das escolas rurais públicas localizadas nas colônias
italianas, no interim dos séculos XIX e XX. Considerando os elementos materiais da cultura escolar, procura-se
compreender a dimensão dos espaços e da materialidade da escola, caracterizados pelos edifícios, pelos objetos,
pelos materiais e pelo mobiliário. Busca-se identificar os aspectos que constituem a cultura material das escolas
públicas coloniais dedicadas ao ensino das primeiras letras, por meio da análise das representações,
apropriações, usos e consumos. A dinâmica de apropriação de um espaço social para o ensino colocava em
evidência a escolarização do espaço que inicialmente era provisório. Do mesmo modo, objetos e materiais eram
apropriados ao uso escolar. Ao se apropriar do espaço e dos objetos do cotidiano da colônia, atribuía-se outro
sentido àquela materialidade. Assim, a análise da cultura material escolar ajuda a compreender como os
processos de escolarização ocorrem em determinado tempo e lugar, bem como, quais os sentidos e significados
são atribuídos ao ensino pelos sujeitos. Como fonte de pesquisa foram utilizadas as correspondências oficiais,
entre elas os inventários de materiais escolares, os relatórios dos secretários, inspetores e professores. Sob a
perspectiva da História Cultural, o diálogo foi constituído pelos estudos de Chartier (1991), Certeau (2008),
Bucaille e Pesez (1989), Escolano (2001,2010) e Viñao Frago (2012). Ainda que a materialidade das escolas rurais
das colônias italianas tenha se constituído de modo similar aos demais processos de escolarização público
primário do período, merece destaque os aspectos que configuram o improviso dos espaços para abrigar as
aulas, a precariedade do mobiliário, os modos como as escolas eram providas com os materiais escolares, a
preocupação das famílias italianas em providenciar o material escolar diante da falta destes ou da demora da
entrega por parte do governo. Somente a partir de meados da década de 1910 a constituição de um espaço físico
adequado ao ensino, e a preocupação com a higienização da sala e do asseio dos alunos foram configurando
paulatinamente o cotidiano das escolas rurais. Neste processo de renovação dos materiais e mobílias escolares,
de adequação dos espaços escolares por meio de práticas sanitaristas, houve a ampliação dos materiais
escolares. Essas transformações contribuíram para reforçar o processo de homogeneização de uma cultura
escolar das escolas públicas primárias. Tais mudanças assinalaram também as experiências com o ensino de
primeiras letras nas colônias italianas. Palavras-chave: Materialidade. Escolas Rurais. Imigração.
LEITURAS SUGERIDAS PELOS EDITORIAIS DOS PERIÓDICOS AOS ALUNOS DAS ESCOLAS ELEMENTARES
A grande comunidade peninsular que se fixou nas terras brasileiras organizou-se política, social e
economicamente. A medida em que existiam reivindicações ao governo local e este não atendia essas
solicitações, o grupo assumiu outros papéis, providenciando, o que fosse necessário para sua localidade. Para
além da fundação das associações de ajuda mútua e escolas elementares, existiram os periódicos semanais e
mensais, que adotaram a função de divulgar as ideias e contribuir com a manutenção da nacionalidade.
Prerrogativa disseminada pelo governo italiano aos indivíduos emigrados. O objetivo deste estudo é o de delinear
como os editoriais dos periódicos escritos em italiano, sugeriam livros de leitura aos alunos das escolas
elementares, frequentadas principalmente por peninsulares. Existiam duas modalidades de escolas elementares
voltadas para essa população: as públicas e as subsidiadas pelo governo italiano. As escolas deveriam receber
materiais suficientes para o desenvolvimento das aulas. Muitas dessas escolas foram criadas nas colônias de
imigrantes visando a alfabetização dos filhos dos estrangeiros. Na prática essa ação não se realizava, o envio de
materiais era falho, e as escolas nem sempre tinham prioridade nas remessas. Por outro lado, as subsidiadas
aceitavam alunos estrangeiros e brasileiros filhos de imigrantes. Recebiam alguns materiais, livros e valores
mínimos em espécie, visando melhorias no cotidiano escolar. Nenhuma das duas modalidades de escolas
contavam com bibliotecas estruturadas. As sugestões de leituras propaladas a partir dos editoriais dos periódicos
104
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
possibilitaram a reflexão sobre outros livros além dos indicados nos programas de ensino. Os autores que
fundamentaram essa pesquisa foram: Salvetti (1995) que estudou a Sociedade “Dante Alighieri”; Cruz (2013)
discutiu a vida urbana e o periodismo; Biondi (2010) focou o movimento operário italiano; Toledo (2010) estudou
a trajetória de alguns periódicos italianos; Mimesse (2010) apresentou as escolas elementares de imigrantes
italianos; entre outros. As fontes documentais foram compostas por periódicos e documentos diversos sobre a
instrução pública, que estão alocadas no acervo do Arquivo Público do Estado de São Paulo. As indicações de
leituras efetuadas pelos periódicos eram mais acessíveis a comunidade peninsular, por serem conhecidos no país
de origem. Os livros difundiam a nacionalidade, e ainda contribuíam com a alfabetização de crianças e adultos na
língua instituída no Reino Italiano, de modo a colaborar indiretamente com a manutenção do sentimento de
italianidade. Palavras-chave: Leitura. Escolas elementares. Imigrantes italianos.
LER, ESCREVER, CONTAR, REZAR OU MUITO ALÉM? SABERES PRESCRITOS E PRATICADOS EM ESCOLAS
ÉTNICAS ITALIANAS NO BRASIL (1875 – 1942)
A emergência de escolas marcadamente étnicas por imigrantes saídos da península itálica e estabelecidos no
Brasil entre o final do século XIX e primeiras décadas do século XX, sensibiliza para pesquisar o que se ensinava
nesses espaços de escolarização, quais saberes eram prescritos e quais foram trabalhados pelos professores.
Essas questões constituem o recorte temático do presente texto que resulta de projeto de pesquisa intitulado
“História das Escolas Étnico-Comunitárias Italianas no Brasil (1875 – 1945)”. As escolas étnicas italianas foram
organizadas a partir da ausência de um sistema escolar público no país, ou seja, como resposta a uma
necessidade. As formas de organização das escolas étnicas variaram no tempo e no espaço e perseguir os indícios
que foram preservados para compreender quais saberes foram prescritos e quais foram os realmente
trabalhados nas aulas é possível considerando-se uma diversificação da base documental constituída por
materiais didáticos, especialmente livros enviados pelo Governo Italiano mas também aqueles impressos no
Brasil, fotografias, correspondências, relatórios, livros de atas, jornais, dentre outros. Esse corpus documental é
analisado à luz dos referenciais da História Cultural. Em 1908, o conde De Velutiis, cônsul no Rio Grande do Sul,
descreveu e definiu as escolas italianas no Brasil afirmando que nas áreas urbanas e sedes coloniais as escolas
eram mantidas ou surgiam sob a liderança das Associações Italianas, que forneciam o local, os móveis e utensílios
necessários. Nas colônias, entre as linhas que não contavam com escolas públicas, os imigrantes procuravam
sustentar as próprias custas, uma pequena escola para seus filhos, sob a responsabilidade do colono mais
instruído do lugar. (1908, p. 348). Analisando a documentação observa-se, com relação aos saberes ensinados
nas escolas mantidas pelas Associações o currículo era amplo, com ensino de língua italiana, francesa e
portuguesa, além da história italiana e brasileira, geografia, matemática, geometria, desenho, caligrafia, canto,
ginástica e exercícios militares. A circulação de livros e alguns outros materiais escolares também era mais
frequente. Já as escolas étnicas rurais trabalhavam com as noções rudimentares da leitura, escrita, operações
fundamentais e catecismo. Em alguns momentos puderam contar com os livros distribuídos pelo consulado
italiano. Essas escolas, vistas de um modo geral, como espaço privilegiado para a manutenção da língua e do
culto da Itália como a pátria dos filhos dos imigrantes, por cônsules e autoridades italianas, exerceram múltiplos
papéis, para além da difusão do sentimento de italianidade. O texto procura contribuir para a compreensão da
multiplicidade de processos de escolarização no Brasil, atentando especialmente para os saberes, considerando
sua diversidade étnica e cultural.
105
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 28
A partir dos anos 1950, foram formulados novos desenhos curriculares para o “tradicional” ensino secundário
brasileiro. A renovação mais contundente nesse nível de escolarização foi colocada em marcha pela Diretoria do
Ensino Secundário (DESE), órgão do Ministério da Educação e Cultura, chefiada por Gildásio Amado. Em meados
de 1958, a DESE viabilizou a oficialização das “Instruções sobre a natureza e a organização das classes
experimentais”, que autorizavam, a partir do ano letivo seguinte, a instalação de classes experimentais no ensino
secundário. Essa legislação prescrevia uma preocupação com o desenvolvimento das “aptidões individuais” dos
alunos, que se efetivavam na limitação de até trinta alunos por sala de aula e na possibilidade de os discentes
optarem por disciplinas e atividades educativas. E também estipulava exigência em relação ao corpo docente,
que deveria ter reuniões regulares, sendo agrupado por classes, particularmente para viabilizar a integração de
“disciplinas-saber”. Desta forma, a partir de 1959, começaram a ser implantadas, em alguns poucos colégios –
especialmente no curso ginasial, o primeiro ciclo do ensino secundário – as classes secundárias experimentais,
que construíram uma marcante renovação no ensino secundário brasileiro. A presente comunicação coordenada
procura discutir resultados de quatro pesquisas históricas sobre experiências das classes secundárias
experimentais, bem como os seus desdobramentos, a partir da década de 1960, nos ginásios vocacionais. O
trabalho “Luís Contier e as classes secundárias experimentais no Instituto Estadual Alberto Conte (1951-1962)”
procura refletir sobre o pioneirismo desse ensaio pedagógico no Estado de São Paulo, enfatizando a apropriação
das classes nouvelles francesas. O trabalho “As classes integrais do Colégio Estadual do Paraná no contexto das
inovações pedagógicas do ensino secundário brasileiro (1960-1967) busca compreender as apropriações das
classes secundárias experimentais no principal educandário público de Curitiba, sob a denominação de classes
integrais. Sob o título “Experimental da Lapa (1961-1971): as práticas escolar de uma instituição renovadora”, o
texto coloca o foco sobre o ensaio educacional colocado em prática no Ginásio Experimental Dr. Edmundo de
Carvalho, sendo fundamentado em diferentes matrizes pedagógicas. Por fim, o ensaio “As relações entre Escola
Nova, Classes Experimentais e Ginásios Vocacionais (1958-1970)” tem o fito de estabelecer conexões entre as
classes experimentais secundárias e os ginásios vocacionais, mediadas por premissas escolanovistas. Esta
comunicação coordenada, portanto, procura cotejar ensaios educacionais, nas décadas de 1950 e 1960, que
tiveram o intuito de concretizar uma renovação pedagógica no ensino secundário brasileiro.
As Classes Experimentais Secundárias configuraram-se como campo de ensaio de novas matrizes curriculares. O
surgimento dessas experiências no Estado de São Paulo, onde ocorreram em maior número, teve como principal
fator a atuação do educador paulista Luis Contier. Esse trabalho pedagógico iniciou com a sua participação no
Congresso de Educadores, realizado na França, em 1950, e do seu estágio no Centro de Sèvres, onde se plasmava
a proposta das classes nouvelles, que o estimulou a empreender renovações no ensino brasileiro. Ao retornar ao
país, em meados de 1951, Contier desenvolve uma apropriação – conceito usado a partir da perspectiva de Roger
Chartier – das classes nouvelles no Brasil, realizando adaptações de seus princípios fundamentais ao contexto
nacional. Tolhido pela legislação vigente, que não permitia o caráter ensaístico do projeto pretendido, bem como
pela escassez de recursos, Contier busca efetivar táticas – no sentido certeauniano – que o permitissem colocar
em marcha um processo de renovação do ensino secundário no Instituto Estadual Alberto Conte, onde era
diretor. Nessa esteira, Contier iniciou um trabalho pedagógico com professores e alunos desse colégio de ensino
secundário para introdução de uma metodologia ativa pautada nos princípios das classes nouvelles, cujas
principais estratégias eram trabalhos de pesquisa, atividades em grupos e estudo do meio. Além disso, o diretor e
os professores dessa escola dedicavam um dia por mês para atendimento de pais de alunos, buscavam redução
do número de alunos por classe e ministravam aulas onde o conteúdo contava com contribuições pessoais dos
alunos. Obtendo resultados positivos, Contier recebeu em suas classes experimentais a visita de autoridades
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
educacionais interessadas nas especificidades da cultura escolar praticada no Instituto Estadual Alberto Conte e
foi convidado por Marina Cintra – delegada do MEC no Estado de São Paulo – a divulgar os resultados obtidos no
colégio que dirigia na “Jornada de Diretores” (1956). Em decorrência dessa exposição e do reconhecimento do
trabalho pedagógico inovador realizado pelo professor Luis Contier, por meio das “Instruções sobre a natureza e
a organização das classes experimentais” (1958), as classes secundárias experimentais foram autorizadas a
funcionar no Brasil. A LDB de 1961, que vigorou a partir do ano letivo de 1962, permitiu a organização de cursos
ou colégios experimentais mediante a autorização dos conselhos estaduais de educação. Este trabalho, portanto,
procura compreender a experiência pioneira das classes secundárias experimentais Instituto Estadual Alberto
Conte, liderada por Luis Contier, que serviu de referência para as prescrições dessa cultura escolar em nível
nacional. Palavras-chave: Classes Experimentais, Luis Contier, Ensino Secundário.
Carlos Bizzocchi
Ao longo da década de 1950 o debate acerca da necessidade de reformulação do ensino secundário brasileiro se
intensifica. Dentre as principais críticas estavam a inadequação dos programas, métodos e finalidades daquele
nível de ensino em decorrência das transformações sociais, somada à necessidade de efetivar a democratização
de acesso ao ensino secundário a uma parcela mais significativa da população. Nesse quadro de urgência de
transformações as Classes Experimentais podem ser consideradas uma importante realização de mudanças
pedagógicas que representavam “a mais lidima esperança de dias melhores para nossa educação secundária”, de
acordo com Gildásio Amado, da Diretoria do Ensino Secundário (DESe). As possibilidades de ensaios de
modalidades de ensino e a flexibilização curricular motivadas pelas Classes Experimentais foram desenvolvidas
em um conjunto ímpar de instituições de ensino secundário a partir de 1959, com desdobramentos muito
particulares. No que tange ao objeto desta comunicação, a concretização daquela proposta de inovação
pedagógica no estado do Paraná se deu no modelar Colégio Estadual do Paraná sob a denominação de “Classes
Integrais”, entre os anos de 1960 e 1967. De pronto, destacam-se os argumentos sobre a nomenclatura
diferenciada: o horário integral de funcionamento; o espírito de educação integral; o receio de que o nome
experimental não encontrasse repercussão favorável junto aos pais; e, por fim, a consciência de que não seria
possível dispor, de início, das condições indispensáveis para a realização de um trabalho rigorosamente
experimental. Coexistindo ao lado das classes comuns - que representavam mais de 95% das turmas da
instituição -, as poucas turmas das Classes Integrais do Colégio Estadual do Paraná procuraram desenvolver um
currículo adaptado às condições dos alunos e às solicitações de uma “sociedade democrática em crescente fase
de industrialização, urbanização e que constantemente se modifica[va] pelos influxos das novas descobertas
científicas”, de acordo com a coordenadora das Classes Integrais, a professora Ruth Compiani (1964). Faziam
parte dos objetivos da inovação pedagógica paranaense contemplar as seguintes dimensões da formação dos
alunos: educação física, intelectual, artística, moral, sexual, formação religiosa, educação social, democrática,
para o trabalho e para as horas de lazer (COMPIANI, 1960). As principais modificações no plano pedagógico se
efetivaram na realização de atividades que englobavam o entrosamento de disciplinas, o estudo meio, a adoção
de métodos de ensino ativos, o acompanhamento individualizado dos alunos e a reunião semanal de professores
para planejamento. Palavras-chave: ensino secundário; inovações pedagógicas; classes integrais.
O Grupo Escolar – Ginásio Experimental “Dr. Edmundo de Carvalho”, mais conhecido como Experimental da Lapa,
foi uma das referências em ensino experimental entre as diversas experiências nas décadas de 1960 e 70 no
Estado de São Paulo e uma das mais duradouras iniciativas baseadas no modelo experimental. Iniciou as
atividades em 1939, manteve o caráter pedagógico inovador durante a década de 1950 e, com o advento das
classes experimentais, teve o auge de sua produção e realizações durante os anos 1960 e 70. Continuou
aplicando métodos que serviram à rede pública e se disseminaram por outros municípios até 2000, quando a
escola foi inserida na rede estadual sem a diferenciação que teve durante 60 anos. Por meio de análise
documental – leis, decretos, portarias, pareceres, além de exaustiva leitura dos relatórios da instituição e dos
Cadernos publicados para divulgação da experiência na escola à rede pública – e de estruturas metodológicas
baseadas em mapas conceituais, o estudo investigou as práticas escolares e suas relações com quatro
107
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
movimentos educacionais, em especial. Fundamentada por preceitos da Escola Nova nas principais práticas
pedagógicas, a Escola Compensatória tem forte amparo em várias ações desenvolvidas junto à comunidade em
geral e, em especial, com as famílias dos alunos, enquanto o Tecnicismo se instala nos métodos, advindo das
orientações dos projetos educacionais oficiais elaborados pelo governo federal em conjunto com os Estados
Unidos durante a década de 1950. A Escola Compreensiva encaixa-se no modelo de ensino continuado e
universal que era reivindicado a partir da Segunda Guerra. A inclusão dos Ginásios Pluricurriculares na estrutura
do Grupo Escolar que já vinha funcionando juntamente com a pré-escola proporcionou a experiência de um
ensino contínuo de oito anos, sem reprovação e com a exclusão do exame de admissão. O Experimental da Lapa,
forjado nos modelos educacionais citados, inovou o ensino paulista e influenciou no rumo de algumas práticas
oficializadas mais tarde ao incluir o aluno como protagonista do processo educacional por meio de várias
práticas, visar à integração com a comunidade para a elaboração de um projeto pedagógico curricular voltado às
expectativas das famílias dos alunos e da sociedade como um todo e a formação continuada em trabalho para o
aperfeiçoamento docente, entre outras. Palavras-chave Experimental da Lapa; classes experimentais; práticas
escolares.
Letícia Vieira
Norberto Dallabrida
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 29
No período compreendido entre a segunda metade do século XIX e três primeiras décadas do XX diferentes
projetos relacionados ao governo das populações foram tencionados no Brasil, Portugal e Estados Unidos. Em um
esforço de síntese, pode-se afirmar que tais investimentos concorreram para que a escolarização primária fosse
concebida como uma estratégia possível para harmonizar e disciplinar as circunstâncias do viver social. Para
alcançar esses propósitos, sob a lógica governamental, tornou-se imprescindível a organização de mecanismos
que, de algum modo, tratassem de normatizar, controlar e fiscalizar a instrução pública em relação à formação
docente e ao funcionamento dos tempos, espaços e saberes escolares. Desse quadro geral, ao selecionar
algumas experiências de escolarização que foram construídas no Brasil, Portugal e Estados Unidos – colocando
em relevo suas aproximações e distanciamentos – os trabalhos aqui reunidos objetivam, principalmente: 1)
discutir algumas das políticas públicas voltadas à construção de um lugar próprio para as escolas elementares,
buscando analisar como foram pensadas e apropriadas as medidas de modernização e a tentativa de
uniformização dos espaços escolares, assim como as tensões por elas suscitadas nos três países em questão; 2)
problematizar os debates sobre o fim dos castigos físicos travados por professores no Brasil e em Portugal na
segunda metade do século XIX; 3) examinar alguns dos mecanismos de controle, normatização e fiscalização que
foram direcionados ao corpo docente da cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, nas duas primeiras
décadas do século XX; 4) analisar as transformações na formação e na atuação docente na antiga capital do Brasil
nas décadas de 1920 e 1930, buscando compreender as maneiras como as reformas da educação reorganizaram
as condições de exercício do trabalho docente por meio da reforma da Diretoria Geral de Instrução Pública e do
Instituto de Educação. As fontes históricas que embasaram os estudos aqui reunidos abarcam diferentes tipos
documentais: jornais, revistas, livros, relatórios, manifestos e boletins referentes à imprensa pedagógica, à
administração pública, às ações de educadores e agentes de governo nos países e período tratados. Com esta
mesa busca-se tanto fomentar o diálogo em torno dos possíveis caminhos de pesquisa sobre a escola primária e a
formação de seus professores quanto ampliar, qualitativamente, as fontes para a produção do conhecimento em
História da Educação.
UM LUGAR PRÓPRIO PARA A ESCOLA PÚBLICA ELEMENTAR: DEBATE SOBRE PRÉDIOS ESCOLARES
(BRASIL, PORTUGAL, ESTADOS UNIDOS, SÉCULO XIX)
Neste trabalho focalizamos o debate relativo às iniciativas de governo dirigidas à construção de prédios para
abrigar escolas públicas de ensino primário em meados do século XIX. Na intenção de ampliar os espaços de
observação acerca das propostas pedagógicas sobre esse tema, pretendemos considerar aspectos que foram
importantes na discussão dessa questão no Brasil, em Portugal e nos Estados Unidos. Tivemos por objetivo
elucidar políticas públicas voltadas à construção de um lugar próprio para as escolas elementares, buscando
analisar como foram pensadas e apropriadas as medidas de modernização e tentativa de uniformização dos
espaços escolares, assim como as tensões por elas suscitadas. No que diz respeito às fontes, acompanhamos, no
Brasil, a discussão sobre os prédios escolares, principalmente, por meio de seus projetos de construção,
examinando plantas-baixas, a materialidade proposta para fins pedagógicos e os indícios dos usos desses espaços
educativos em construção, perceptíveis na massa documental sob a guarda do Arquivo Nacional e do Arquivo
Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Em relação aos Estados Unidos, buscamos perceber o debate pelas páginas de
dois impressos: School Arquitecture; or contributions to the improvement of school-houses in the United States
(1849) e The American Journal of Education (1855-1881), ambos sob a direção do educador Henry Barnard. No
que se refere a Portugal, consideramos a polêmica estabelecida na documentação sobre as escolas de ensino
elementar guardada na Biblioteca da Torre do Tombo e nas obras de António da Cósta: Imprensa Nacional (1870)
e História da Instrução Popular em Portugal (1890). Nesse estudo foi possível observar a simultaneidade do
debate sobre o tema em destaque e nele localizar pontos de conexão entre projetos de construção dos prédios
escolares nos países aqui considerados. Percebemos, então, sinais da circulação das concepções relativas à
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
arquitetura escolar veiculadas, principalmente, pela imprensa comum e pedagógica, mas também em exposições
internacionais e nas ações de professores viajantes em missão ao estrangeiro na segunda metade do Oitocentos.
Ao apreender as singularidades dos acontecimentos aqui demonstrados, compreendemos a importância de
termos em conta os sentidos produzidos em cada um desses lugares a partir da relação entre as políticas de
Governo e as práticas de atores envolvidos na luta pela construção de um espaço próprio para o funcionamento
da escola pública de ensino elementar no século XIX. Prédios Públicos Escolares, Processos De Escolarização,
Circulação De Projetos Pedagógicos
“Há de chegar à pedagogia a sua época de serenidade cientifica”, assim se posiciona diante do público leitor O
Ensino – Revista d’Instrucção Primária ao defender a manutenção dos castigos físicos nas escolas portuguesas no
ano de 1887. Para os autores do impresso, ainda era tempo das palmatórias nas escolas de Portugal. No Brasil o
jornal Noticiário do Rio, publicou em 1876 uma matéria intitulada “um mestre irascível” criticando o uso dos
castigos, lembrando a proibição legal que havia em tal atitude. O presente trabalho busca compreender os
debates sobre o fim dos castigos físicos travados por professores através de jornais e revistas pedagógicas na
segunda metade do século XIX no Brasil e em Portugal opinando sobre a instauração de novas práticas
disciplinares vistas como modernas. O tema da disciplina escolar ocupou nesse período um lugar de destaque na
organização das escolas, fato que pode ser observado pelo grande número de artigos dedicados ao tema nos
jornais docentes nos dois lados do Atlântico. Enquanto no Brasil da segunda metade do século XIX os professores
que atuam na imprensa vão cada vez mais se afinando com a proposta de supressão dos castigos, entendendo
essa posição como parte de um processo que promovia a modernização do ensino e possibilitava a instituição de
novos mecanismos disciplinares, em Portugal a imprensa docente aponta no sentido da defesa dos castigos
corporais, argumentando que seu abandono era idealista. Ao trabalhar com essas publicações, busco
compreender por meio do debate o pensamento educacional dos professores e demais envolvidos com a
disciplina escolar. Para tanto, utilizo como fontes revistas e jornais pedagógicos brasileiros e portugueses, mais
especificamente os produzidos nas cidades de Lisboa e Rio de Janeiro. O conjunto de fontes que mobilizo estão
localizadas na Biblioteca Nacional (BN), no caso do Brasil, e na Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), no caso de
Portugal. Nas duas bibliotecas localizei jornais, tanto pedagógicos como da grande imprensa, que noticiavam
casos de uso de castigos nas escolas e de abusos de professores. Para o presente trabalho vou centrar a análise
nos jornais A Instrução Pública e o Noticiário do Rio, e no caso português vou trabalhar com as revistas O Ensino
e Froebel. Por fim, busco perceber como os impressos pedagógicos e os professores brasileiros e portugueses
constroem seus argumentos e como se posicionam, compreendendo os sentidos produzidos por cada um desses
discursos na construção de uma modernidade pedagógica no ensino elementar no século XIX. História Da
Educação, Castigos Corporais, Disciplina Escolar
TEMPOS DE FORMAÇÃO, ESPAÇOS DE ATUAÇÃO DOCENTE NA CAPITAL DO BRASIL NOS ANOS 20/30
O artigo trata da historiografia do movimento educacional brasileiro entre 1920 e 1930, especialmente dos
estudos acerca da formação docente. Por um lado, discute a relevância do Instituto de Educação do Rio de
Janeiro para entender as reformas da instrução pública no período. Sugere que essa instituição foi marcada por
transformações na memória do movimento educacional brasileiro nos anos 20 e 30. Por outro lado, a
comunicação aborda as transformações do tempo de formação docente na ampliação da Escola Normal do
Distrito Federal em Instituto de Educação entre 1927 e 1935 e também reflete sobre os espaços de atuação
docente na capital do país nesse período.Assim, estuda-se o Boletim de Educação Pública, o Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova, os relatórios administrativos e a imprensa periódica para a compreensão da
ampliação do tempo de formação de professores e sua elevação de nível durante a década e meia que separa a
posse de Antônio Carneiro Leão como diretor geral de instrução pública do Distrito Federal, em 1922, da
exoneração de Anísio Teixeira da Secretaria de Educação e Cultura do Rio de Janeiro em 1935. Já em relação à
atuação docente no Distrito Federal, procura-se mapear a legislação para entender o modo como se deu a
ocupação dos cargos na instrução pública da capital à época. Sobretudo, baseado numa historiografia que, de
diversos modos, vem analisando as trajetórias e modos de circulação de professores no Rio de Janeiro, a
comunicação aborda a questão a partir da reestruturação administrativa conduzida entre 1922 e 1935 por
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Carneiro Leão (1922-1926), Fernando de Azevedo (1927-1930) e Anísio Teixeira (1931-1935). A análise beneficia-
se ainda das proposições da história cultural dos intelectuais para tratar das tabelas de designação e promoção
dos quadros do magistério. Tendo em vista pensar as transformações na formação e na atuação docente da
então capital do país, busca-se compreender a forma como as reformas da educação reorganizaram as condições
de exercício do trabalho docente por meio da reforma da Diretoria Geral de Instrução Pública e do Instituto de
Educação. No texto da apresentação conclui-se que entre 1922 e 1935 o exercício da docência na capital foi
sendo profissionalizado por meio da reestruturação administrativa da carreira do magistério. Desse modo,
argumenta-se que parte do que o movimento de renovação educacional dos anos 20 e 30 logrou alterar nos
saberes e nas práticas docentes resultou da reforma dos tempos de formação do magistério e da reestruturação
da sua carreira. História Da Profissão Docente, Processos De Escolarização (1922-1935), Instituto De Educação
O CORPO DOCENTE CARIOCA SOB CONTROLE: SOBRE ALGUMAS DAS ESTRATÉGIAS ACIONADAS PELA
DIRETORIA GERAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA NO FINAL DA DÉCADA DE 1910
O presente trabalho estabelece interlocuções com um conjunto de pesquisas em História da Educação que têm
explicitado que analisar a escolarização primária na cidade do Rio de Janeiro no decurso das duas primeiras
décadas do século XX significa, fundamentalmente, atentar para todo um repertório de projeções que, sob a
lógica das ações de governo, ansiavam disciplinar e harmonizar a capital e a sua população. Baseado no exame de
um conjunto de solicitações encaminhadas pela Diretoria Geral de Instrução Pública e na análise de uma série de
notícias colocadas em circulação pelo periódico carioca Gazeta de Notícias, as atenções incidiram sobre alguns
dos mecanismos de controle, normatização e fiscalização que foram direcionados em relação ao corpo docente
no período enfocando, principalmente, as investigações e as acusações que culminaram na prisão do professor
adjunto Álvaro Palmeira. A trama envolveu a Diretoria Geral de Instrução Pública (DGIP) e a Polícia. No início,
houve uma suspeita: a DGIP se ocupou de averiguar se Álvaro Palmeira exercia adequadamente os seus encargos
docentes. Para tanto, junto à Inspetoria Escolar responsável pelo Distrito no qual professor lecionava (São José),
inquiriu acerca da “capacidade” do adjunto, mas também sobre a sua “conduta”, posto haver suspeitas de que o
mesmo estaria “incutindo nos alunos ideias subversivas”. Tais suspeitas concorreram para que outra instituição
fosse acionada por parte da DGIP: a polícia. Nessa medida, o professor foi preso e teve instaurado um processo
sob a acusação de que “concitara o povo à revolta”. Passadas vinte e quatro horas, Álvaro Palmeira foi colocado
em liberdade e, “espontaneamente”, dirigiu-se até a DGIP e “fez exposição verbal da ocorrência em que se
achara envolvido, deixando em mãos uma justificativa de sua ação naquela ocorrência”. A problematização desse
acontecimento contribui com outros indícios para se pensar algumas das estratégias que foram empregadas pela
DGIP para controlar, normatizar e fiscalizar os tempos e espaços escolares do ensino primário da antiga capital do
Brasil. Nesse sentido, no que diz respeito aos constrangimentos que foram empreendidos ao professor Álvaro
Palmeira, despontam dimensões que podem ser perscrutadas tanto como uma tentativa de explicitação da
normalidade almejada quanto, e principalmente, como uma reafirmação da exemplaridade que deveria
proporcionar junto àqueles que eram concebidos e largamente propalados, na época, como os responsáveis pela
conformação do futuro da cidadania carioca: os professores. História Da Educação, Escolarização Primária,
Diretoria Geral De Instrução Pública
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 30
Esta proposta de comunicação coordenada visa promover o debate historiográfico e metodológico acerca da
história das instituições educativas especializadas e de suas práticas pedagógicas. Apresenta um panorama de
estudos que tomam por base instituições escolares consideradas de educação especial e suas práticas
apresentando um painel multifacetado de aspectos da história da educação especial em diferentes regiões do
país. Parte-se do pressuposto de que é preciso entender a história da educação especial nos planos micro e
meso-histórico, na perspectiva das instituições, do local e do regional, dialeticamente interligados com o social, o
geral e o nacional. Foca-se na apresentação de instituições educativas que se ocuparam e ainda se ocupam da
educação e/ou escolarização de pessoas com deficiência, aqui compreendidas como patrimônio histórico e como
fontes propícias ao entendimento das contradições hoje vivenciadas pela proposta nacional de educação especial
na perspectiva da educação inclusiva. Essas instituições apresentam grande potencial para a pesquisa
historiográfica em educação, com seu acervo de materiais impressos e/ou fotográficos, documentos e registros
ainda em processo de catalogação, bem como no registro de uma memória das vivências de seus atores que se
constituem em rico painel para a compreensão da educação brasileira. Entendemos que a preocupação com a
história das instituições educativas, também precisa entrar na agenda das pesquisas sobre educação especial.
Empreender estudos e pesquisas nessa área, enfocando a história das instituições educativas especializadas, que
se dedicaram ao ensino e educação de pessoas com deficiência, e que, ao fazê-lo, produziam uma cultura
peculiar, uma memória, um ideário pedagógico, um inventários de práticas e representações; em síntese, uma
identidade histórica ainda a ser conhecida e explorada é um dos objetivos dessa comunicação coordenada. Os
trabalhos que a compõem apresentam um painel que se estende do Nacional, como o estudo do impacto do
Decreto que institui, na década de 1960 a comemoração da Semana do Excepcional e suas manifestações no
extremo norte do país, ao peculiar representado pelas instituições que constituíram a Sociedade Pestalozzi no
Sudeste passando pelo registro histórico de instituições especializadas no Centro Oeste brasileiro. Os sentidos
dessas instituições, seu ciclo de vida, suas representações e estratégias, seus nexos com os planos local, regional
e nacional, os meandros de sua ação educacional e ideológica são investigados, no que se depreende a relevância
desta comunicação coordenada, congregando pesquisadores que se dedicam à história e memória da educação,
em particular à educação especial, suas instituições e práticas educativas. Metodologicamente, diferentes
caminhos de análise das Instituições Especializadas também se apresentam, ampliando o panorama de
perspectivas historiográficas, ampliando as vertentes investigativas para a área.
A Educação Especial como política pública oficial a ser estruturada em todo o Brasil tem seu início na década de
1970 com a instauração formal de órgãos como o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP) em 1973 e a
inserção da educação dos então chamados “excepcionais” no ordenamento jurídico, a partir da reforma do
ensino preconizada pela lei 5692/71. Trata-se de período em que atuavam dirigentes militares que governaram o
país entre os anos de 1964 e 1985, na perspectiva de um regime militar ditatorial. Dos documentos de natureza
legal produzidos à época, destacamos o Decreto Federal 54.188 de 28 de agosto de 1964, do presidente
Humberto de Alencar Castello Branco, que instaura a “Semana do Excepcional” a ser comemorada anualmente
entre 23 e 28 de agosto além de determinar que o Ministério da Educação protagonize a execução dessa ação.
Em estudo com o objetivo de compreender os efeitos do regime militar nos processos de implantação de serviços
de Educação Especial no então Território Federal de Roraima, documentos e entrevistas apontam que a
comemoração da Semana do Excepcional é parte das atividades sistemáticas dos serviços especializados,
diversificando-se ao longo dos anos, mas trazendo em sua estrutura e práticas, indicativos das concepções de
deficiência que perpassam o período. Analisar de que forma esta ação se desenvolve, suas atividades principais, o
teor dos discursos que atravessam as ações e o impacto dessas na comunidade escolar nesta localidade, são os
objetivos desse trabalho, que se desenvolve na perspectiva histórica de E. P. Thompson, de uma “história vista de
112
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
baixo”. Com base neste referencial teórico metodológico, busca-se identificar de que maneira os indivíduos
diretamente envolvidos experimentaram os processos educacionais dos quais participaram. No processo de
pesquisa, buscamos mapear as práticas estabelecidas nos serviços especializados de educação especial a partir
deste decreto e como essas atividades impactaram junto a diferentes atores do processo educacional, através de
entrevistas realizadas com profissionais envolvidos e da análise de documentos do cotidiano escolar como atas,
convites, folhetos de divulgação, imagens e correspondências institucionais. Com base nestes dados,
identificamos a presença de um discurso missionário e religioso, direcionando práticas de sensibilização quanto
às questões relativas à deficiência e o foco em discursos de forte apelo emocional à comunidade, numa
perspectiva de solidariedade, permeada por uma ótica de benemerência e humanismo cristão. Destaca-se ainda,
o foco nas atividades esportivas com referências que remetem às concepções militares de valorização da
Educação Física e do domínio corporal como prática disciplinadora. Palavras chave: História da Educação Especial,
Educação de Excepcionais, Deficiência.
Em geral, os trabalhos que tratam da História da Educação Especial no Brasil tomam, como ponto de partida, as
ações das esferas governamentais e, considerando que essa área ganhou espaço nos programas dessas esferas
nas décadas de 1960 e 1970, os estudos têm privilegiado a análise desse contexto. Para o período anterior à
década de 1960, as pesquisas indicam que há o predomínio das ações de instituições particulares, entre estas,
destaca-se a Sociedade Pestalozzi, que teve sua primeira experiência em Belo Horizonte, em 1932, por iniciativa
da educadora russa Helena Antipoff. A Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais, como ficou conhecida, viabilizou
outras instituições: o Pavilhão de Natal (1934), o Instituto Pestalozzi (1935) e a Fazenda do Rosário (1939), todas
destinadas à educação daqueles considerados “excepcionais”. Nas décadas seguintes, outras instituições
congêneres foram se organizando em diferentes partes do país. O objetivo desse texto é analisar os princípios e
práticas direcionadas à educação dos “excepcionais” pela Sociedade Pestalozzi, em Minas Gerais, nas décadas de
1930 e 1940, e dimensionar a participação desta instituição e de suas congêneres brasileiras na organização dos
programas governamentais direcionados à Educação Especial no Brasil, nas décadas de 1960 e 1970. Para esta
elaboração, foi utilizado um variado corpus documental, preservado na Fundação Helena Antipoff, em Ibirité
(MG), onde se instalou uma das instituições criadas pela Sociedade Pestalozzi, a Fazenda do Rosário, e no Centro
de e Pesquisa Helena Antipoff, na Biblioteca Central da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Entre os
documentos estão os Estatutos da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais; o Boletim da Secretaria da Educação e
Saúde Pública de Minas Gerais; a Coletânea de Obras Escritas de Helena Antipoff, organizadas pelo Centro de
Documentação e Pesquisa Helena Antipoff (CDPHA) da Universidade Federal de Minas Gerais, entre outros. A
análise desses documentos foi feita à luz dos referenciais de Antonio Gramsci e possibilitou concluir que o
princípio educativo presente nas Sociedades Pestalozzi foi a educação pelo e para o trabalho, restrito ao trabalho
manual; esses princípios permaneceram na realidade educacional brasileira porque as Sociedades Pestalozzi se
constituíram enquanto aparelho privado de construção da hegemonia social, criando uma proposta para a
educação dos excepcionais e disseminando seus princípios e práticas em diferentes partes do país. Além disso,
essas instituições articularam, tanto a sociedade civil, quanto a sociedade política, a organização da Educação
Especial brasileira, participando ativamente da institucionalização dessa educação enquanto política educacional.
Palavras-Chave: Educação Especial. História da Educação. Sociedades Pestalozzi. Práticas Educativas.
A história da Educação Especial no estado de Mato Grosso do Sul, antigo estado de Mato Grosso, ainda precisa
ser contada. As informações sobre o tema são escassas e, quase sempre, limitadas às fontes oficiais. Três
instituições educativas especializadas dominaram e dominam a cena em Mato Grosso do Sul, quanto ao
atendimento das pessoas com deficiências, sendo, ainda, referências modelares em seu campo de atuação, a
saber: o Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos “Florisvaldo Vargas”, criado em 1957; a Associação de Pais e
Amigos dos Excepcionais (APAE), fundada em 1967, e a Sociedade Pestalozzi, inaugurada em 1979, todas as
instituições na cidade de Campo Grande/MS. Todavia, elas não têm sido objeto de estudos com enfoque
historiográfico propriamente dito. Muitas narrativas dessa história encontram-se por serem escritas, com a
113
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
localização de documentos, impressos variados e materiais iconográficos que, por ora, encontram-se avulsos,
dispersos, desordenados e em risco constante de deterioração nessas instituições educacionais que contam a
história e compõem a memória do povo sul-mato-grossense. Na direção do exposto, busca-se, com este relato de
pesquisa, vinculado ao doutoramento em educação, na linha de pesquisa História da Educação, Memória e
Sociedade, apresentar o legado histórico de uma instituição privado-filantrópica, a Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais de Campo Grande/MS (APAE) - Centro de Educação Especial Girassol (CEDEG), para a educação
das pessoas com deficiência no Sul de Mato Grosso e em Mato Grosso do Sul, haja vista ser essa a segunda
instituição educativa especializada fundada no referido estado para atender a clientela da Educação Especial, em
10 de junho de 1967. Em seu itinerário, a instituição revela e esconde diversas apropriações, práticas e
representações culturais, implicadas em seu programa de ensino, em suas rotinas e formas de organização
pedagógico-administrativa. Diante de sua representatividade, torna-se necessário entender como foi se
constituindo e instituindo a APAE/CEDEG em Campo Grande/MS, haja vista o distanciamento histórico já ser de
quase 50 anos da sua fundação. Para o desenvolvimento desta pesquisa, parte-se da vertente historiográfica
mais ampla denominada História Cultural, que, recentemente, à medida que amplia as fontes, os objetos e
métodos de investigação, tem forjado a emergência da abordagem denominada de Nova História Cultural, mais
adequada para estudar objetos históricos singulares, como as instituições educativas. Recorre-se à perspectiva
teórico-metodológica da História das Instituições Educativas, compreendendo a instituição educativa como uma
totalidade epistêmica. Palavras-chave: História e Memória das instituições educativas especializadas. História
Cultural. Sul de Mato Grosso/Mato Grosso do Sul.
Este trabalho tem por objetivo refletir sobre instituições escolares, entendendo-as como portadoras de
organicidade materiais e simbólicas, que impõem aos pesquisadores a necessidade de apreender seus elementos
constitutivos. Como recorte, foram analisadas as práticas desenvolvidas por uma instituição especializada do
Estado de Mato Grosso do Sul, instalada em meados da década de 1970 em Campo Grande, que vem
desenvolvendo projetos para incluir seus alunos no ensino comum, desde o final dos anos 1990, como o
Programa de Apoio à Inclusão. Para atender ao objetivo de analisar a extensão dessas práticas na inclusão dos
alunos no ensino comum, elegemos também duas escolas da Rede Municipal de Campo Grande, que recebiam
alunos com deficiência encaminhados pela instituição pesquisada. Tal delimitação revelou-se como mecanismo
de análise da constituição da educação especial, sobretudo frente ao processo de inclusão escolar que tem
tomado corpo no campo das políticas públicas nos últimos anos. O problema que emergiu na investigação foi
avaliar em que medida essas práticas contribuíram efetivamente para o processo de escolarização dos alunos por
ela atendidos. A abordagem utilizada foi o estudo etnográfico, que além de possibilitar a apreensão de vários
elementos de análise por meio da pluralidade de fontes para a apreensão do objeto da pesquisa, mostrou-se
como fundamental para a investigação que se propõe a estudar as práticas da instituição. Foram utilizados a
observação participante, a entrevista e, também, a análise documental que complementou os dados obtidos. A
opção pela abordagem etnográfica justifica-se também pela necessidade de mergulho do pesquisador no campo
estudado, a fim de captar as práticas desenvolvidas na instituição para entender como as instituições estão
trabalhando no interior do movimento da inclusão escolar e se tais práticas são determinantes para o processo
de escolarização dos alunos com deficiência. Foi preciso, ainda, empreender esforços que permitiram a
compreensão das relações sociais mais amplas no âmbito do movimento educacional, expressão da
materialidade da sociedade. A pesquisa revelou que a instituição especializada, por força do emergente
movimento de inclusão escolar, deflagra um processo de reorganização de suas práticas e implanta serviços que
se ocupam especificamente da inclusão dos alunos com deficiência no ensino comum. A experiência de pesquisa
no campo das instituições escolares evidenciou-a como um locus privilegiado para o estudo de temáticas
educacionais, e um caminho importante para o estudo da educação especial no âmbito do movimento da
inclusão escolar permitindo estudar as relações internas das instituições e as influências sociais presentes na
instituição. Palavras-chave: Instituições escolares; Instituição escolar especializada; História da Educação de MS.
114
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 31
A História Local vem ganhando a cada dia maior importância. Desde os anos de 1980, mais pesquisadores
brasileiros vêm mergulhando em pesquisas cuja abordagem tem privilegiado a história regional, buscando
evidenciar as comunidades e suas particularidades e singularidades. A história local e regional tem a
característica de aproximar o pesquisador de seu objeto de estudo. Nesse mesmo movimento, a História da
Educação vem sofrendo transformações, e cada vez mais dedicando parte de suas pesquisas a conhecer a
educação e a história das pequenas localidades, de suas escolas mais distantes, de seus personagens, professores
e gestores nos municípios mais longínquos. Em parte, esse processo foi estimulado posto que, atualmente, a
maior responsabilidade política e administrativa acerca da educação, no Brasil, recai sobre a esfera municipal. A
carta constitucional vigente confirma a importância dos municípios ao determinar que a responsabilidade sobre o
ensino fundamental, cabe obrigatoriamente aos municípios, que ainda assumem a tarefa de assegurar a
Educação Infantil. O artigo 18 da Constituição Federal afirma que a “ (...) organização político-administrativa da
República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos
autônomos”. Portanto, atualmente, os municípios são entes da federação, assim como os estados, assumindo na
educação um papel preponderante, pois enfeixam a tarefa de gerir os primeiros anos de escolaridade da
educação brasileira. Entretanto, do ponto de vista dos recursos financeiros, o município torna-se a esfera mais
fragilizada da estrutura política. Como as políticas financeiras para a educação são determinadas por legislações
federais, a comunidade municipal fica muito distanciada das disposições legais e sua participação acaba sendo
muito minimizada, as iniciativas populares são incipientes ou então ineficazes, e confirmam a fragilidade dos
municípios nas questões financeiras. O exame da educação pública no município de Seropédica parte da
compreensão de que “(…) a sociedade é criação, e criação dela mesma: autocriação” (CASTORIADIS, 1999, p.
281). Toda sociedade, no seu processo de criação, estabelece os valores, o padrão de ética e de comportamento,
e as leis que vão regê-la. Assim sendo, estabelece também o seu projeto de escola e de educação. Esse olhar
circunscrito sobre algumas localidades de diferentes regiões brasileiras pretende contribuir para o fortalecimento
da história da educação local.
Historicamente, a gênese da escola pública guardou por muito tempo a marca do centralismo de um Estado que
pretendia monopolizar os esforços educacionais da sociedade, reduzindo-os a seus objetivos “civilizadores”,
“modernizadores” ou disciplinares. No entanto, a escola não é somente o instrumento de construção de uma
ordem autoritária; ela também é o reflexo do processo sociopolítico que define a sociedade. Mais do que a
iniciativa isolada de um de seus grupos, ela é recriação cotidiana dessa iniciativa. De tal forma que, como destaca
Valle (2000, p.27) “(…) a grande tarefa da escola é hoje a de construir coletiva e permanentemente o sentido de
sua especificidade, e recriando a cada momento as vias, os meios, os procedimentos pedagógicos que permitem
concretizá-lo”. A escola pública é o lócus em que diferentes projetos de sociedade se confrontam e disputam a
possibilidade de construir uma nova sociedade. Nessa instituição convivem profissionais da educação,
professores e funcionários que, em alguns casos, discutem a possibilidade de constituir a escola como uma
instituição voltada para a construção de uma sociedade socialmente referenciada, onde o debate sobre a
transformação social assume um lugar privilegiado. Cabe destacar que esse processo constante de elaboração da
identidade da instituição escolar, necessita cada vez mais ser objeto de uma reflexão consciente por parte de
seus profissionais, dos alunos e famílias e da sociedade em geral. O presente trabalho pretende identificar os
motivos e os agentes que determinaram a criação das primeiras escolas no município de Seropédica/RJ,
buscando reconhecer o envolvimento da comunidade. A educação que hoje conhecemos na referida cidade,
município da região metropolitana do Rio de Janeiro, teve seu início nos limites do município de Itaguaí, ao qual
pertencia como um distrito. Todas as escolas municipais de Itaguaí localizadas no antigo distrito foram
transferidas para a nova esfera municipal: eram dezenove unidades escolares, distribuídas por vários bairros e
também localizadas na área rural dos limites territoriais do município. Até a emancipação, a Prefeitura de Itaguaí
115
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
construiu com seus próprios recursos oito unidades escolares, como se observa pelo documento fornecido pela
Secretaria Municipal de Educação (SME) de Seropédica. Duas outras foram construídas por moradores, outra
funciona em prédio estadual, e, por fim, as oito restantes são escolas estaduais que foram municipalizadas, em
sua maior parte, no ano de 1993.
Esta comunicação pretende analisar o convênio estadual de ensino primário assinado entre os municípios do
antigo estado do Rio de Janeiro e seus municípios à época (1943) e sua relação com o ideário do Estado Novo
então em voga no país. Em 1943 os municípios do estado do Rio de Janeiro assinaram com o referido estado um
convênio em que cada município abria mão da administração das suas escolas municipais que passariam a ter
fiscalização e orientação da rede estadual, os municípios também não poderiam criar novas escolas. O convênio
determinava ainda quanto cada município (segundo legislação nacional) deveria investir em educação além de
decidir que este valor seria repassado ao estado à medida que este assumisse as escolas então da rede municipal.
Esta ação teve grande influência nos municípios fluminenses que estavam organizando suas redes e ficaram
impedidos de desenvolver sua atuação. Outro fator importante neste convênio era a obrigatoriedade de que
todas as escolas municipais passassem a cumprir o programa oficial do estado além de participarem
obrigatoriamente de todos os programas desenvolvidos pela rede estadual, como por exemplo, as provas de
avaliação a que as escolas estaduais eram submetidas. Toda a estrutura física das escolas municipais que fossem
sendo desativadas passaria também para a rede estadual. Algumas cláusulas deste convênio nos mostram
claramente o grau de interferência na organização municipal, como por exemplo a “Clausula terceira: As atuais
escolas municipais continuarão a ser mantidas pelos municípios; a orientação e a fiscalização entretanto serão
ministradas pelos órgãos estaduais competentes, os quais, remeterão ao Prefeito, para os devidos fins, os mapas
mensais de frequência (...)” (ABREU, 1955,p.145). A importância deste estudo se dá na forma de recuperar
aspectos pouco estudados da história da educação fluminense, que no período enfocado estava sob intervenção
do Comandante Amaral Peixoto que implantou politicas educacionais que influenciam a educação fluminense até
hoje, pois foi o governador que ficou mais tempo a frente do estado (oito anos como interventor no período
compreendido entre 1937-1945 e depois como governador eleito entre 1951-1955.Nesta comunicação
analisaremos a influência do Estado Novo nesse Convênio e de como o estado do Rio de Janeiro e os municípios
fluminenses reagiram diante desta nova forma de organização da rede escolar, além de refletir sobre as
consequências deste Convênio no estado do Rio de Janeiro.
Edilson de Souza
Anísio Teixeira procurou fazer com que a criação de Brasília conjecturasse também a execução de um projeto
pedagógico que pudesse acompanhar o crescimento de uma nova cidade. Tais anseios, nada pequenos,
necessitavam de uma reconfiguração socioeconômica, política e cultural que, para obter êxito, devia ser
implantada em um local onde a pólis e seu sistema de ensino estivessem iniciando. A estrutura física de Brasília é
composta por grandes quadras arborizadas, sendo reconhecida, para além das fronteiras brasileiras, pelo seu
planejamento urbanístico e arquitetônico, como expressão contemporânea da criação técnica e artística do país.
Anísio acreditava que o novo Distrito Federal se apresentava como cenário propício para a criação de uma nova
escola pública e um novo sistema educacional, que se constituísse de fato enquanto polis. O debate que
proponho vai no sentido de discutir o processo de criação das Escolas Parque/Classe de Brasília, apontando os
tensionamentos positivos pelo qual passou a construção dessa escola, tendo em vista o momento histórico em
que foi criada, sendo essa experiência importância histórica como possibilidade de avanços no âmbito da escola
pública. Por outro lado, as experiências de educação integral pelas quais passou o Brasil ensaiaram, dentro das
condições materiais possíveis, uma aproximação a uma formação humanista moderna. Foi o caso das
proposições advindas do Movimento dos Pioneiros da Escola Nova, que se materializaram nas experiências
educacionais de Anísio Teixeira, no Centro Educacional Carneiro Ribeiro na Bahia, mais tarde, durante a
experiência da formação da Cidade de Brasília, com as escolas Classe/Parque e com a própria Universidade de
Brasília. Mudanças demandadas pelos anseios provocados pelo Movimento de 1932, que lançou um manifesto
intitulado “A reconstrução educacional no Brasil – ao povo e ao governo”, Mais conhecido como Manifesto dos
Pioneiros da Escola Nova, rogou pela qualidade da escola pública, inserindo a discussão sobre educação integral.
116
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Tal escola deveria ser capaz de superar os imperativos da educação tradicional e transformar-se num espaço
democrático, de valorização de direitos e individualidades, onde a autonomia e a liberdade pudessem promover
o exercício da vida em tempo real, independentemente da classe social, centrado no indivíduo e no
desenvolvimento de suas potencialidades e, ainda, sem a velha dicotomia entre formação geral e formação
especial, entre formação para o trabalho e formação para o lazer, que tem caracterizado a educação brasileira ao
longo do tempo, para Anísio Teixeira, a instituição escolar teria de ser repensada em seus fundamentos,
alterando seus objetivos, a sua organização e os modos de funcionamento, portanto, transformar um sistema de
educação discriminatória, de privilégios, em um sistema de educação democrático, igualitário.
ROBERTO FARIA: SUA CONTRIBUIÇÃO PARA O COLÉGIO LEOPOLDO OSCAR STULTZ, MUNICÍPIO DE
BOM JARDIM/RJ (1984-2004)
O presente trabalho objetiva dar visibilidade a um dos trabalhos realizados pelo educador Roberto Faria que, ao
longo de sua carreira, no exercício da profissão docente, pronunciou-se de forma expressiva a favor da educação
pública enquanto prática possível de mediação para a libertação, para a emancipação democrática e a construção
da cidadania. Revelou-se um cidadão ativo, militante político, defensor da democracia e da transformação da
realidade socioeconômica, através do sistema público municipal de ensino. Roberto Faria atuou como professor
de Matemática na rede de ensino estadual do Rio de Janeiro, com mais de 35 anos em sala de aula. Sua formação
escolar e acadêmica sempre foi em instituições públicas e, fiel ao ideário da instrução pública, laica, gratuita e
para todos, defendeu, no exercício do magistério público, tais ideais. O período recortado compreende os anos
de 1975, quando o professor Roberto muda-se para Nova Friburgo, até 2004, ano que se aposentou e saiu do
colégio observado nessa pesquisa. Ao longo de sua carreira, o referido professor trabalhou incessantemente em
defesa do acesso à escola pública, em especial, à escola pública do meio rural de Nova Friburgo, região que
escolheu para trabalhar e também para morar. Foi no Colégio Leopoldo Oscar Stultz (CELOS), no distrito de Barra
Alegre, no município de Bom Jardim, que o professor extrapolou os limites da sala de aula se engajando em
mudanças políticas ao desenvolver e implementar projetos de âmbito municipal. Sua participação e atuação em
atos efetivos na proposição de políticas para o favorecimento desta comunidade escolar pode ser verificada
através de alguns documentos elaborados pelo próprio educador. A representação social e o papel político
desempenhado por Roberto Faria me remetem ao conceito que Gramsci categoriza como intelectual orgânico.
Pensando nessa categoria é que procurei trazer para o debate no campo da história da educação a presença do
educador enquanto tal. Para a composição dessa narrativa, me utilizei também da história oral, a qual, pelo
reavivamento da memória de pessoas que participaram direta ou indiretamente junto ao educador Roberto
Faria, me proporcionou maior aproximação com o sujeito investigado, possibilitando assim, construir um perfil,
uma história. Procuro identificar – nos projetos, nos relatos das memórias (companheiros de profissão,
familiares, alunos), nas escolas que frequentou, na sua formação acadêmica, na sua geração, nas suas leituras, na
sua militância política – indícios, marcas, vias, que engendraram escolhas que os conduziram a uma determinada
forma de atuar na vida, mas, sobretudo na educação, quando se decidiu pelo magistério. Trata-se, assim, de levar
em consideração que suas ações resultam de um conjunto de elementos que se revelam sob um aspecto datado,
mas que também manifestam escolhas.
117
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 32
Este trabalho investigativo situa-se no campo da História da Educação e da temática "Intelectuais e História da
Educação". Reúne quatro professores-pesquisadores de universidades públicas federais de diferentes regiões do
Brasil – Sul, Sudeste, Norte e Nordeste – interessados em discutir como tem se constituído a difusão do livro
"História da educação: da antiguidade aos nossos dias", do historiador da educação Mario Alighiero Manacorda
(Itália, 1914–2013), entre os professores brasileiros. Na Itália, o livro foi publicado em 1983. No Brasil, sua
primeira edição data 1988. Hoje, o livro tem 31 anos de existência na Itália e 26 anos de circulação no Brasil,
estando aqui na 14ª edição. O objetivo geral da pesquisa é dimensionar a perspectiva marxista no campo da
História da Educação por meio da análise da propagação e da influência deste livro na formação de professores e
no pensamento pedagógico brasileiro nas últimas três décadas. Para tanto, os pesquisadores delinearam como
fontes de estudo os planos de ensino dos cursos de graduação e pós-graduação das universidades públicas
federais, os acervos das respectivas bibliotecas, as dissertações e teses produzidas pelos programas de pós-
graduação e os depoimentos escritos de professores que se utilizam desse livro. O primeiro pesquisador conta a
história do livro na Itália e no Brasil, esclarece as intenções do autor e do responsável pela tradução no Brasil,
registra as diversas edições e analisa o valor cultural da obra para a história da educação em geral. O segundo
pesquisador avalia a presença do livro nos planos de ensino da disciplina de História da Educação dos cursos de
formação de professores, em particular do Curso de Pedagogia. O terceiro pesquisador aborda o livro nos planos
de ensino das disciplinas de História da Educação e Educação Brasileira dos Programas de Pós-Graduação em
Educação. Ambos os trabalhos – segundo e terceiro – estão acrescidos por um diagnóstico do número de
exemplares do livro nos acervos das bibliotecas, bem como por alguns depoimentos escritos de professores que
orientam o trabalho pedagógico pela epistemologia marxista de Manacorda. E o quarto pesquisador enfatiza o
exame do livro nas dissertações e teses elaboradas nos Programas de Pós-Graduação em Educação nas
universidades públicas federais das regiões Nordeste e Sudeste, no período de 2009 a 2012. Trata-se, por fim, de
uma pesquisa de caráter colaborativo, referendada na premissa gramsciana de que uma ação coordenada, no
caso específico, a ampla socialização do livro "História da educação: da antiguidade aos nossos dias" na formação
de professores, contribuiu, de algum modo, para significar a crítica e o avanço do pensamento pedagógico no
limiar das últimas três décadas.
Paolo Nosella
História da Educação enviou, em 2006, ao autor: “Sou professora da UFSCar onde, há 13 anos, ensino com o seu
livro “História da Educação: da antiguidade aos nossos dias” e me sinto muito gratificada quando, no
encerramento das aulas, na ocasião da confraternização que costumo realizar com meus alunos, ouço deles:
“vamos sentir saudades de Manacorda” (BITTAR, 2006). É natural se perguntar: qual a razão dessa notável
circulação entre historiadores e educadores brasileiros? Que influência teve no campo da história da educação?
Em síntese: o valor principal do livro é apresentar um esplêndido panorama da história da educação ao longo dos
séculos com base não apenas em fontes produzidas por profissionais da pedagogia, mas, sobretudo, em
documentos extraídos dos clássicos da literatura, da poesia e das artes em geral, ou seja, não é um texto
corporativo que conta a história da educação partindo só de fontes relacionadas com o interior da instituição
escolar; é um livro que fala de educação mas se relaciona com o crescimento geral da sociedade nos aspectos
culturais, da vida cotidiana e do trabalho.
Este trabalho parte do princípio que a disciplina de História da Educação possibilita o entendimento amplo do
processo educativo e escolar por meio do qual o homem se produz. A compreensão da historicidade do processo
educativo permite problematizar os objetivos da educação nos diferentes momentos históricos. No entanto, em
oposição a perspectiva de uma história totalizante, verificou-se no decorrer do último quartel do século XX,
especialmente com a crise do socialismo real, o fortalecimento do discurso pós-moderno na produção do
conhecimento. Sinteticamente é possível afirmar que o pós-modernismo no campo da história privilegia como
objeto de estudo as mentalidades, a vida cotidiana, das mulheres, gays, etc. Os desdobramentos da perspectiva
pós-moderna implicam na rejeição das concepções de racionalidade, igualdade e da perspectiva marxista de
emancipação. Movimento análogo foi verificado também no campo da história da educação que abdicou do
propósito de explicar a totalidade dos fenômenos sociais, restringindo-se ao singular dos objetos estudados.
Neste contexto, o trabalho busca analisar a importância da literatura marxista, e mais especificamente da obra
"História da Educação: da antiguidade aos nossos dias" de Manacorda, nos planos de ensino da disciplina de
História da Educação dos cursos de Pedagogia nas universidades federais do Brasil atual. Sua obra é uma leitura
obrigatória nos cursos de formação de professores? Mesmo difundida em diferentes regiões do país nos cursos
de pedagogia, pode-se afirmar que nem sempre foi devidamente compreendida. Em “História da Educação: da
antiguidade aos nossos dias”, Manacorda apresenta uma percepção ampla de fonte histórica o que leva ao leitor
descobrir por meio da produção da existência pelos homens o aspecto educativo. Trata-se de um trabalho de
síntese de cultura geral, que não aborda a questão pedagógica por meio apenas dos documentos produzidos
pelos educadores, mas também por outros gêneros de literatura e com a utilização de fontes pouco
convencionais ao universo de autores marxistas. No entanto, Manacorda não rompe com os pressupostos do
pensamento marxiano. A pertinência das fontes empregadas pelo autor permite a compreensão do cotidiano
sem resvalar no em aspectos fragmentários, mas como parte constituinte de uma totalidade. O zelo no trato com
as fontes e a leitura dos clássicos materializa-se em um livro que abrange um conhecimento necessário à
formação dos futuros professores e daqueles que trabalham com a história da educação. Para realização do
trabalho foram analisados os documentos atinentes ao Projeto Pedagógico dos diferentes cursos e a bibliografia
das disciplinas de História da Educação ofertadas nas instituições. Tendo como princípio norteador o referencial
teórico marxista foram utilizados os seguintes autores: Al
Mundialmente, o historiador da educação Mario Alighiero Manacorda (Itália, 1914-2013) é reconhecido como um
dos mais empenhados intelectuais a disseminar o debate da relação entre trabalho e educação no pensamento
pedagógico no transcurso do século XX para o século XXI. Para ele, o trabalho é a atividade vital do homem e o
princípio pedagógico das sociedades industriais desde a modernidade (MANACORDA, 1988). Sua premissa
fundamenta-se no estudo filológico rigoroso das obras de Karl Marx (1818-1883) e Antonio Gramsci (1891-1937).
A perspectiva marxista assumida por Manacorda explicita a necessidade de superação da dicotomia pedagógica
na formação humana, ou seja, decidir se as novas gerações serão rousseaunianamente deixadas ao
119
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
O educador e historiador da educação Mario Alighiero Manacorda nasceu na Itália, em 1914, e faleceu em 2013.
É considerado um dos maiores intelectuais marxistas italianos do século XX. Cursou Literatura e Língua Italiana na
Universidade de Pisa, lecionou literatura italiana no liceu clássico de Siena e seguiu carreira de professor
universitário, assumindo a cátedra de História da Pedagogia, passando por quatro universidades: Cagliari,
Viterbo, Florença e Roma. Dedicou-se em traduzir e comentar, do original para o italiano, os textos mais
importantes do marxismo para a educação. Na década de 1950, publicou a coleção Clássicos do Marxismo.
Escreveu sobre diferentes assuntos, sempre mantendo a unidade no método e a coerência teórica. Em 1987, foi
convidado para participar do evento comemorativo dos 10 anos do Programa de Pós-Graduação da Universidade
Federal de São Carlos. Nessa ocasião, palestrou em diferentes universidades brasileiras, concedendo entrevistas
e estabelecendo contatos com diferentes intelectuais, abrindo caminho para tradução e publicação de suas obras
no país. Até o momento, temos as seguintes obras de Manacorda publicadas em nosso idioma: “Marx e a
pedagogia moderna”; “O princípio educativo em Gramsci”; “Marx e a liberdade”; “História da Educação: da
Antiguidade aos nossos dias”. Esta última constitui o foco dessa comunicação por apresentar um panorama da
História da Educação numa perspectiva marxista. A primeira edição italiana é de 1983, sendo publicada, no Brasil,
em 1988 e, na atualidade, está na 14ª edição. O objetivo deste trabalho é verificar a difusão e a influência desta
obra no campo da História da Educação no Brasil, especificamente, na elaboração de teses e dissertações,
produzidas nas universidades públicas federais das regiões Nordeste e Sudeste, no período de 2009 a 2012. Para
essa investigação, foram utilizados os dados disponíveis nos Cadernos de Indicadores da CAPES, constituídos a
partir das informações preenchidas anualmente pelos programas de pós-graduação e enviadas por meio do
Coleta de Dados. Entre os dados qualitativos está a categoria Teses e Dissertações, que apresenta todos os
trabalhos defendidos por instituição/ano, contendo: nome do autor; título do trabalho; área de concentração;
linha de pesquisa; entre outros. Foram selecionados todos os trabalhos inseridos nas linhas de pesquisa
fundamentos da educação e afins. Em seguida, buscou-se identificar a presença do livro de Manacorda nas
referências dos trabalhos, destacando aqueles em que a obra se fazia presente. Com esta incursão, procurou-se
quantificar a presença do autor nestas elaborações e analisar como o livro está sendo utilizado nas nossas
produções acadêmicas. Trata-se de resultados preliminares de um esforço coletivo de mapear essa produção em
todas as universidades públicas brasileiras, desde a primeira publicação do livro em questão no Brasil até a
atualidade desde o período de publicação do livro no Brasil até a atualidade.
120
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 33
Esta comunicação coordenada tem por objetivo problematizar os projetos de escolarização que emergiram nas
primeiras décadas do século XX e que estabeleceram diálogos com os campos de conhecimento médico e
psicológico. Para tanto, propomos estabelecer reflexões sobre impressos de intelectuais que desenharam novas
rostidades para a infância no referido contexto, elaborando paisagens médico-educativas para meninos e
meninas em idade escolar. O interesse é problematizar os discursos médico-pedagógicos sobre a infância
tomando como referencial o discurso médico-higienista que circulou tanto na imprensa pedagógica (a exemplo
do jornal oficial O Educador – Órgão do Professorado Primário, publicado na província da Parahyba do Norte)
quanto em publicações de intelectuais brasileiros do porte de Belisário Penna, Renato Kehl e Maria Lacerda de
Moura. Para a análise documental operamos com o campo historiográfico dos fundamentos teórico-
metodológico da Nova História Cultural, fazendo a leitura dos impressos e manuais pedagógicos que elegemos
como fontes, dialogando, sobretudo, com a análise do discurso e a genealogia, além das noções de
governamentalidade, biopoder e normalização. A perspectiva investigativa em História Cultural da Educação nos
possibilita interrogar os discursos de verdade elaborados e legitimados pelo ideário republicano. Tal ideário foi
veiculado na imprensa pedagógica, no projeto científico de educação da infância formulado por Maria Lacerda de
Moura e apresentado à Secretaria do Interior do Estado de Minas Gerais no ano de 1919, bem como em obras
voltadas para o professorado (Em torno da Educação, de 1918 e Renovação, de 1919, ambos de Maria Lacerda de
Moura); para as crianças (Fada Hygia, do médico-higienista Renato Kehl, publicado em 1925), para a instrução e o
público em geral (Higiene para o povo: amarelão e maleita, do médico-sanitarista Belisário Penna, editado em
1924). Portanto, a partir dessas fontes, pretendemos problematizar a produção e circulação do discurso
higienista nos projetos de escolarização nas primeiras décadas do século XX, colocando em suspeição os
repertórios culturais e políticos, a partir dos quais a sociedade promoveu a produção de sentidos sobre a
infância, e as maquinarias de governo da infância que esta formação discursiva produziu e pôs em
funcionamento, no horizonte da formação da nação e de um sentimento cívico nacional. Compreendemos que as
práticas discursivas dos intelectuais presentes em diversas publicações (livros, jornais, requerimentos e projetos)
possibilitaram o surgimento de verdades sobre a regeneração da raça pela prática higienista e eugênica, sobre a
instrução pública, e sobre o professor ideal para lidar com a infância a ser cuidada.
“AS EXIGENCIAS DA HYGIENE INTELECTUAL SERÃO MUITO NECESSÁRIAS AFIM DE SE EVITAR UMA
RAÇA DEGENERADA”: DISCURSOS SOBRE A INFÂNCIA NAS PÁGINAS D’ O EDUCADOR
A pesquisa analisa os discursos sobre a infância e a instrução pública, em textos jornalísticos que circularam na
Paraíba na Primeira República (1921-1922). O interesse é problematizar os discursos médico-pedagógicos sobre a
infância tomando como referencial o discurso higienista que circulou na imprensa pedagógica, no caso o jornal
oficial O Educador – Organ do Professorado Primário, publicado na província da Parahyba do Norte, e dirigido aos
professores, como dispositivo para a sua formação. A pesquisa da fonte – jornal O Educador – foi realizada no
arquivo do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba – IHGP, onde se encontra depositado e ao qual tivemos
acesso através de cópia digitalizada. Para a análise documental operamos com o campo historiográfico dos
fundamentos teórico-metodológico da Nova História Cultural, fazendo a leitura do impresso pedagógico que
elegemos como fonte a partir das teorizações de Roger Chartier e da analítica foucaultiana, sobretudo a análise
do discurso e a genealogia, além das noções de governamentalidade, biopoder e normalização. A leitura dos
impressos possibilitou o conhecimento sobre uma preocupação com a instrução primária e o analfabetismo na
Paraíba em início do século XX, e aponta novos indícios acerca do ideário higienista que atravessa os discursos
em diferentes matérias, as quais nos ajudam a compreender sobre a história da infância na Paraíba no século XX,
sobre a instrução escolar, civilidade, desenvolvimento mental, higiene social e disciplinamento dos corpos. A
perspectiva investigativa em História Cultural da Educação nos possibilita interrogar os discursos de verdade
elaborados e legitimados pelo ideário republicano, veiculados na imprensa pedagógica paraibana – ou seja, a
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Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
produção e circulação do discurso higienista, entre os anos de 1921-1922; e sobre os repertórios culturais e
políticos, a partir dos quais a sociedade promoveu a produção de sentidos sobre a infância, e as maquinarias de
governo da infância que esta formação discursiva produziu e pôs em funcionamento, no horizonte da formação
da nação e de um sentimento cívico nacional. Compreendemos que as práticas discursivas possibilitaram o
surgimento de verdades sobre a regeneração da raça pela prática higienista, sobre a instrução pública, e sobre o
professor ideal para lidar com a infância a ser cuidada. Essas foram as condições de possibilidade para
compreendermos o que a sociedade paraibana da época pensava, o que escrevia, e o que a expertise da
educação local propunha como leitura para a formação dos professores e de como deveria ser educada a
infância, através de aconselhamento dirigido às instituições de ensino, por pessoas autorizadas a dizerem sobre a
infância, na imprensa pedagógica, legitimado pelos saberes modernos, sobretudo a medicina, a psicologia e a
pedagogia.
A presente pesquisa aborda as imagens construídas pelo intelectual e médico-higienista Renato Ferraz Kehl
(1889-1974) sobre a educação sanitária e a higiene da infância no período da Primeira República (1889-1930),
tendo como fonte o livro para crianças A Fada Hygia: primeiro livro de higiene, publicado pela primeira vez em
1925, em São Paulo, e adotado pelas diretorias de instrução pública desse estado, bem como do Distrito Federal,
Pará e Pernambuco. A partir desse livro, problematizarmos as aproximações entre os saberes médico e o
pedagógico, num contexto em que o Brasil precisava se inscrever internacionalmente como a pátria da “ordem e
do progresso”. Para analisarmos a obra em apreço, lançamos mão em nossa metodologia de teóricos da Nova
História Cultural francesa, dentre os quais Roger Chartier e Michel de Certeau, com os quais dialogamos com os
conceitos de recepção, leitura, cotidiano, estratégias e táticas. Esses teóricos nortearam a leitura documental e
foram fundamentais para recortarmos os objetivos da pesquisa, dentre os quais fazer aproximações entre os
saberes médico e o educacional, tomando como referência temporal a Primeira República. Nessas aproximações,
analisamos a presença do discurso médico orientando o saber pedagógico e a recepção desse ideário médico-
sanitarista pelos educadores do Brasil. Desta forma, a pesquisa objetiva colocar em análise os escritos de Renato
Kehl acerca da educação higienista na Primeira República, mostrando como este médico procurava apresentar as
heterogeneidades acerca da saúde e da doença da cartografia brasileira, particularmente da infância. A
importância das aproximações entre os campos médico e pedagógico consiste no próprio estatuto de saber
médico na Primeira República, principalmente a partir das primeiras décadas do século XX. Neste contexto, os
médicos chamaram para si o poder de remediar e educar a população, curar os “males do país”, assumindo a
questão da educação pública. Os discursos médicos vinham quase sempre acompanhados por uma preocupação
com a legitimidade, com o controle social e com a afirmação desta categoria profissional como fundamental para
a implementação de um projeto saneador e modernizador. Dessa forma, médicos como Renato Kehl
estabeleceram as escolas como clínicas em que os males nacionais associados à mistura de raças poderiam ser
curados. Suas crenças forneceram um poderoso motivo para a construção de escolas e moldaram a forma de seu
funcionamento. Como um “fervoroso” defensor da aliança entre pais e escola, objetivando melhorar tanto o
organismo das crianças quanto o da sociedade brasileira, Renato Kehl reclamava, em seus escritos, da falta de
interesse dos pais pela educação dos filhos e do governo federal para salvar o Brasil pela educação. A Fada Hygia,
portanto, é um livro no qual ganham visibilidade os discursos para pedagogizar a própria escola, alertando-a
sobre a importância da educação em seu sentido mais amplo.
Este trabalho tem por objetivo analisar o papel educativo das imagens presentes no livro Higiene para o povo:
amarelão e maleita, do intelectual e médico sanitarista mineiro, Belisario Penna, cuja primeira edição é de 1924
(SILVA, 2013, p. 63) e foi direcionado à instrução pública. A análise se apóia nas noções e conceitos de Michel
Foucault, principalmente, sobre a biopolítica (2005). Penna teve grande inserção social no país. Sua atuação
médica iniciou-se no final do século XIX, e, logo no início do século XX, já estava à frente de projetos nacionais de
saúde pública, como inspetor sanitário, sob o comando do médico Oswaldo Cruz que, na época, era o
responsável pelos serviços federais de saúde. Belisario Penna atuou em mais de 22 estados do Brasil, fez
intervenções médicas, pesquisou a ocorrência de doenças na população e realizou extensas campanhas de
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
educação sanitária. Teve uma vida política ativa, assumiu vários cargos públicos, entre eles a direção do
Departamento Nacional de Saúde Pública, nos anos de 1930 (THIELEN e SANTOS, 2002). Além da saúde pública, o
sanitarista esteve presente em vários encontros educacionais, apresentou diversos trabalhos sobre higiene e
educação sanitária, realizou palestras e conferências, e, também deixou livros e textos publicados, entre eles, o
livro sobre Higiene, que é objeto de investigação deste trabalho. A Higiene, na época, era tratada e difundida por
médicos, intelectuais, políticos e educadores, como uma ciência, cuja finalidade era preservar a saúde (ROCHA,
2003). Com isso, surgem vários dispositivos em prol da educação higiênica e sanitária da população, como o livro
estudado. O autor direciona o livro a “todos os habitantes do Brasil que saibam ler: aos alunos das escolas
primárias, secundárias, superiores; aos operários das fábricas e aos patrões; aos trabalhadores rurais, aos
fazendeiros e aos sitiantes, aos jornalistas, aos padres, aos políticos, aos administradores federais, estaduais e
municipais” (PENNA, s/d, p. 03). Uma vez que, “por ignorância de rudimentares preceitos de higiene, a população
brasileira está bichada, intoxicada, com os intestinos transformados em carniças vivas de vermes, que se podem
extinguir, e, melhor ainda, evitar completamente” (PENNA, s/d, p. 10). A busca pelo progresso do Brasil dependia
da educação, para isso, Penna se utilizou, exaustivamente, das imagens como dispositivo persuasivo para ilustrar
seus textos e educar (governar) a população, por meio da polaridade doença versos saúde. As imagens
contrastam a desgraça da doença e o milagre da cura para persuadir a população a tratar das enfermidades,
adquirir hábitos higiênicos, tornar-se forte e saudável para contribuir, com seu valor biológico, ao progresso do
Brasil.
O presente trabalho descreve e analisa o projeto científico de educação da infância formulado por Maria Lacerda
de Moura e apresentado à Secretaria do Interior do Estado de Minas Gerais no ano de 1919. Tal projeto se
apresenta no formato de um requerimento, em que a professora da cidade de Barbacena-MG expõe seus
objetivos para realizar estudos de psicologia experimental aplicados à pedagogia e solicita autorização do Estado
para aplicá-los nas escolas da sua cidade. Em anexo ao requerimento estão seis pareceres que ora aceitam, ora
refutam o projeto de Maria Lacerda e que fornecem informações valiosas sobre os debates travados sobre as
questões da psicologia aplicada à educação em Minas Gerais no início do século XX. A referida fonte de pesquisa
é inédita e se completa com outros impressos e fontes produzidos sobre e por Maria Lacerda no período em que
atuou na cidade de Barbacena. Trata-se de documentos diversos da Escola Normal de Barbacena, lugar em que
atuou como professora de Pedagogia e Higiene entre os anos de 1908 e 1921; também de livros de sua autoria,
tais como Em torno da Educação (1918) e Renovação (1919), em que expõe seus ideais de educação da infância;
e também jornais da época, que noticiaram sua atuação enquanto reformadora social ao atuar na Liga
Barbacenense contra o Analfabetismo, ao criar uma vila para as pessoas pobres de sua cidade, e na fundação de
um lactário para crianças pobres. O recorte temporal (1919) contempla o período em que a professora mineira
escreve o seu projeto enquanto educadora na cidade de Barbacena – MG e se justifica pela riqueza das fontes
encontradas até o momento bem como pela falta de pesquisas que comtemplem esse período de sua atuação. Já
a proposta do trabalho se justifica pela possibilidade de “lançar luzes”’ sobre as experiências da psicologia
experimental aplicada à educação da infância 10 anos antes da chegada e atuação de Helena Antipoff no Estado
Mineiro, percebendo em que medida educadores e políticos mineiros pensavam a condição da educação aliada à
ciência para a formação da infância em um momento anterior a utilização desse recurso no âmbito das diretorias
de instrução pública. Para a análise dos discursos e práticas que perpassaram o projeto científico de educação da
infância de Maria Lacerda de Moura são utilizadas as ferramentas de análise formuladas por Michel Foucault,
principalmente aquelas que nos ajudam a compreender as relações de poder, a produção de saber e de verdade
no interior das ciências.
123
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 34
GEOPOLÍTICA DOS SABERES PEDAGÓGICOS E OS PERIÓDICOS
EDUCACIONAIS NO SÉCULO XIX
Coordenador: JOSÉ GONÇALVES GONDRA
Eixo Temático: 8 - Impressos, Intelectuais e História da Educação
Os saberes pedagógicos foram objeto de múltiplas iniciativas que visaram convencionar o permitido e o proibido
em termos de doutrina pedagógica. Dentre elas, podemos destacar o processo de formação escolar dos
professores, a sofisticação dos exames de seleção, bem como inúmeras ações no campo da agremiação e de
reuniões pedagógicas ao longo do século XIX em diversas províncias. Essa mesa focaliza a produção de impressos
pedagógicos em três províncias brasileiras, a saber, Rio de Janeiro, Ceará e Pará. Os estudos incidem sobre cinco
revistas e um jornal. No que se refere às revistas, trabalhamos com periódicos que apresentam uma perspectiva
nacional, na medida em que recobrem temas extra-provinciais. Trata-se das revistas A Instrucção Nacional:
revista de pedagogia, sciencias e letras (Rio de Janeiro, 1873), American Journal of Education (Hartford,
Connecticut, 1855-1881), A Escola (Rio de Janeiro, 1878-1879), Anales de la educación común (Buenos Aires,
1858-1874) e Revista de Educação e Ensino (Pará, 1891-1900). No que se refere ao jornal, trabalhamos com o
Cearense (Ceará, 1881), enfatizando a análise do relatório de viagem realizada por Amaro Cavalcanti aos Estados
Unidos, refletindo o suporte, mas também a função autoral que nele se efetiva. No exame desse conjunto
documental, procuramos observar as condições de produção desses impressos e ciclos de vida, como para
compreender um movimento de abrangência nacional em sua capilaridade. Como indagação complementar,
exploramos uma entrada específica para analisar as referências ao "nacional" e ao "estrangeiro" em algumas
revistas do XIX. Com isso, observamos aspectos do processo de montagem de uma agenda constituidora do
campo educacional e dos próprios impressos, identificando o mapa da comunicação e os conteúdos do que se
comunica. Temos assim, ainda que indiciariamente, um pequeno atlas da geopolítica do conhecimento
pedagógico, com as instituições envolvidas, estratégias, saberes mobilizados e sujeitos em ação. Por meio desse
recorte suplementar, refletimos sobre os sistemas de trocas dentro da América, para sublinhar os processos de
inclusão e de veto nos impressos por nós selecionados. Assim, procuramos sustentar que o debate pedagógico se
processa de modo policéfalo, sem um único centro, seja no interior das nacionalidades, seja nas mediações e
hierarquizações transnacionais em curso ao longo do século XIX. Palavras-chave: historiografia, periódicos
pedagógicos, história da educação na américa
Fabiana Sena
Em 29 de julho de 1880, o professor em exercício de Latim, Amaro Cavalcanti, na cidade de Baturité, província do
Ceará, foi comissionado para estudar o sistema de instrução elementar nos Estados Unidos da América, pelo
presidente desta província, o senador Pedro Leão Velloso. Durante a sua estada na América, o professor de Latim
aproveitou a oportunidade para obter o título de bacharel em Direito, na Albany Law School of Union University,
em Nova York. Após um ano excursionando por este país, o docente, em seu retornou à província, publicou o
relatório sobre as suas observações acerca da instrução no jornal Cearense no período de 07 de setembro a 21 de
outubro de 1881. Essa produção, entretanto, não foi privilégio apenas dos leitores cearenses, uma vez que o
Ministério do Império foi contemplado com 5 exemplares. De acordo com o periódico supracitado, o relatório é
composto de três partes: a primeira refere-se à educação em geral; a segunda trata da educação nos Estados
Unidos da América; e a última sobre as reformas pertinentes à província do Ceará. Nele estão presentes também
dados estatísticos da educação estadunidense, bem como as visitas aos principais institutos de educação nos
vários estados. Após o regresso, a carreira de Amaro Cavalcanti tomou outras direções. Em outubro de 1881, por
exemplo, assumiu a Direção Geral da Instrução Pública da província do Ceará. No ano de 1883, ele foi designado
pelo Ministro do Império para reger uma turma de Latim do 2º ano do externato do Colégio Pedro II. Já em 1884
tornou-se Deputado-Geral pela província do Ceará. Na esteira dos estudos de Gondra sobre a instrução pública
na América, que analisam o direcionamento do olhar da elite brasileira oitocentista sobre a educação para os
Estados Unidos da América, estes colocam em evidência os referenciais desse país para o projeto civilizatório no
Brasil. Com o propósito de investigar esses referências, este estudo busca dar visibilidade ao relatório do
professor Amaro Cavalcanti por meio do jornal Cearense do ano de 1881, no qual apresenta dados da sua viagem
aos Estados Unidos da América. Para tanto, faz-se necessário considerar o suporte onde o relatório foi publicado,
pois concebemos o jornal como o lugar tanto das aspirações do privado quanto do coletivo. Outro dado a ser
124
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
considerado para este estudo é a autoria do relatório. Para esse propósito, buscamos identificar a circulação do
professor, advogado e político Amaro Cavalcanti na sociedade cearence e brasileira oitocentista por meio da
imprensa, bem como a atuação dele na instrução pública. Nessa perspectiva, o estudo do relatório de viagem do
professor no jornal possibilita compreender a participação da imprensa para a discussão e projeto de educação a
partir de um novo modelo educacional para a província do Ceará, inserindo-a no Brasil moderno e civilizado.
Palavras chave: Instrução, CE
A comunicação tem como objeto de discussão a Revista de Educação e Ensino, publicada no Pará, na última
década do século XIX. A questão que procuramos responder é: que sentidos assumem a produção da Revista de
Educação e Ensino na história da Instrução Pública do Pará e sua relação com a consolidação do estado nacional
brasileiro? Assim, objetiva-se compreender os sentidos local e global da Revista de Educação e Ensino na
complexa condição histórica da Instrução Pública do Pará no final do século XIX ao se inspecionar a dimensão
interior e exterior de seu conteúdo. Metodologicamente, operamos uma análise que estabelece relações entre o
mundo interior do texto e seu exterior. Nesta direção, realizamos o estudo em três etapas: 1) Levantamento e
localização dos números publicados do periódico; 2) Cotejamento do interior dos números do periódico,
identificando sua estrutura, editor, autores de artigos e vínculos institucionais, temas recorrentes, notas, citações
e referências; 3) Identificação de acontecimentos e apresentação de dados sobre a Instrução Pública no Pará; 4)
Estabelecimento de conexões entre os dados internos e os dados externos. A Revista de Educação e Ensino,
publicada por homens de letras e ciência do Pará sob os auspícios da Instrução Pública do Estado, que vinha
sendo articulada muito antes de sua primeira publicação, se materializou para atingir um grupo específico: o
professorado primário paraense. O periódico apresenta uma estrutura canônica: editorial, seção de “Sciencias”,
seção de “Assumptos Grammaticaes”, seção de “Litteratura”, seção destinada à “Instrucção Pública” e Noticiário.
A Revista de Educação e Ensino é publicada em um momento importante da Instrução Pública do Pará – já havia
ocorrido um incremento na expansão do número de escolas em todo o Estado e a incorporação, por parte da
população mais empobrecida da sociedade paraense, da importância e necessidade da instrução. Do ponto de
vista político e econômico a Revista de Educação e Ensino é publicada no final de um século em que a Amazônia
sofre profundas transformações por conta: a) da incorporação do norte ao Estado brasileiro e da adesão
sangrenta à Independência do Brasil; b) dos projetos ideológicos da Doutrina Monroe, que previa a expansão dos
EUA em direção ao vale do Amazonas; c) da exploração da borracha. Mediante tal contexto, a Revista de
Educação e Ensino, composta discursivamente de textos pautados na ‘sciencia’, no domínio culto da língua, na
assimilação de valores suscitados pela literatura que publicava e em informação sobre Instrução Pública, dirigida
ao professorado primário, se constitui em mais um instrumento da política de educação da população em direção
à incorporação ‘qualificada’ do norte ao Estado do Brasil e à soberania de seu território continental, moderno e
livre. Palavras chave: Revista de Educação e Ensino – Pará – Estado Nacional Brasileiro.
Na movimentada década de 1870, vimos emergir na cidade do Rio de Janeiro a chamada “imprensa pedagógica”,
que se propunha a trazer mais especificamente as questões referentes à educação e ao ensino. Ao analisarmos
os impressos que surgiram neste período, podemos verificar que um dos assuntos comuns que perpassavam os
mesmos, era uma prometida reforma da instrução pública, feita pelo Imperador Dom Pedro II no início da
referida década que, segundo os próprios professores públicos da Corte, agitou o país inteiro. Objetivando
interferir nessa reforma, na busca pelo que consideravam os melhoramentos na instrução, descrita
constantemente como “atrasada”, muitos dos sujeitos envolvidos com as questões educacionais recorriam não
só a elementos do repertório “nacional”, como do “estrangeiro”. O argumento que prevalecia como técnica de
convencimento era a obtenção dos bons resultados alcançados pelos diferentes lugares citados. No intuito de
melhor compreender parte dessas comunicações estabelecidas, assim como os seus conteúdos, elejo nesse
momento para pesquisa um dos impressos que surgiram nesses anos, intitulado “A Instrucçao Nacional: revista
de pedagogia, sciencias e letras”. Publicada no ano de 1873, a iniciativa para a elaboração dessa revista partiu
dos destacados professores públicos da Corte, Antonio Estevão da Costa e Cunha e Augusto Candido Xavier Cony.
Como o próprio nome do impresso indica, seus idealizadores almejavam uma revista que não se restringisse
125
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
somente ao município da Corte, mas que abrangesse todo o país, sendo um lugar de encontro do magistério
brasileiro. Na busca por uma uniformidade no ensino, publicam notícias de outros estados, que serviriam de
exemplo, evidenciando uma relação mais próxima com Pernambuco. A valorização das ideias educacionais
advindas do estrangeiro, muitos dos quais considerados lugares do avançado e do moderno, também esteve
presente nessa revista. A defesa de propostas apresentadas como o ensino obrigatório, as conferências
populares, o fim dos castigos físicos e a instrução secundária, foram respaldadas, principalmente, por
experiências europeias. Porém, podemos averiguar também, o estabelecimento de relações com países
americanos, interesse maior de investigação deste trabalho. Foi possível localizar exaltações ao educador
estadunidense Horace Mann, e ao jornalista Benjamin Franklin, com referências a sua obra “Almanaque do Bom
Homem Ricardo”, considerado um importante documento da história norte-americana, que também circulou no
Brasil. Tais informações dão pistas sobre os processos de constituição do campo educacional no Rio de Janeiro,
formado pelo sistema de trocas com outras províncias e países, no qual a imprensa pedagógica exerceu um
significativo papel. Palavras-chave: impressos pedagógicos, Rio de Janeiro, comunicações estabelecidas.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 35
O conjunto de trabalhos apresentados refere-se ao século XIX brasileiro e traz o objetivo de abordar temas
correlativos à educação no período. Busca-se a vinculação desses estudos a um eixo maior- o da modernização
social, econômica e política da sociedade-, entendendo-a como uma avantajada demanda social, imbricada nos
projetos que se revestiam de caráter progressista e contrários à manutenção das práticas enraizadas no passado
colonial. O debate sobre educação nos Oitocentos assumiu contornos vários: esteve presente na imprensa, nos
discursos políticos e nas experiências individuais ou coletivas, marcando cada um deles as especificidades de uma
época urgente de propostas capazes de somar forças a modernização, requerendo a impostação de novas
práticas sociais, cujo cerne advinha da implantação do trabalho livre e do fim da escravidão. Entretanto, o debate
progressista não encontrou espaço acolhedor desde sempre: a sua construção deu-se ao sabor das demandas
pontuadas no decorrer do longo século XIX e enfrentou um quadro opositor aguerrido à manutenção dos
privilégios e de uma concepção de mundo ligada à superioridade de classe. Estas características estão delineadas
perfeitamente nos estudos aqui apontados e transitam pela defesa de um tipo de educação preparadora de
quadros burocráticos oriundos das elites locais, como em Sabará a partir de 1850, ou no tomismo vinculado ao
Antigo Regime presente nas obras de Direito do professor José Soriano de Souza, escritas nos anos 1870, no
posicionamento do Dezenove de Dezembro (1854 a 1890), jornal de circulação nos campos de Curitiba a respeito
da formação de identidade dos paranaenses elevados a provinciais e, ainda, a proposta de educação feminina
emergente em dois jornais estudantis publicados na capital do Maranhão, e divergentes quanto ao novo papel da
mulher frente à nova realidade política e social nos fins dos Oitocentos. O ponto de unidade dos estudos é a
compreensão da importância da educação na formação de indivíduos que se presumiam necessários a
manutenção das prerrogativas elitistas ou a construção de uma sociedade moderna e progressista. A História da
Educação requer este esmiuçar historiográfico, fundamental à delimitação cada vez mais precisa do próprio
campo e das respostas que a época de hoje exige no sentido de se superarem os obstáculos interpostos ao
estabelecimento de uma sociedade democrática. Neste sentido, os estudos buscam compreender os processos
históricos que pontuaram o decorrer do século XIX brasileiro, inclusive os debates sobre a educação e os diversos
propósitos nela existentes.
É um estudo sobre o modelo de conduta feminina determinado às mulheres em fins do século XIX. Os jornais A
Eschola (1891) e O Ensaio (1891), publicados no Maranhão, são exemplos de imprensa envolvida na definição de
modelos de comportamento feminino. Esses jornais dirigidos por estudantes em São Luís expuseram uma forma
de educação centrada nos velhos costumes e ideias, em oposição aos conteúdos educativos requeridos na
construção e afirmação do ideal feminino moldado nas transformações que atingiam o domínio patriarcal e
permitia às mulheres uma participação mais direta na dinâmica social brasileira. Considera-se o fato dos jornais
terem sido publicados no ocaso do século XIX, tempo de acentuada perda na supremacia da classe dominante
ligada à agricultura e ao latifúndio. A riqueza material passava a ser também produzida nas cidades com a
instalação de manufaturas e do trabalho dos imigrantes europeus, provocando profundas transformações no
corpo social, político e econômico brasileiro. O estudo objetiva traçar as condições de submissão das mulheres no
final do século XIX e os propósitos estabelecidos na sua educação. As mulheres pouco conviviam fora do círculo
familiar ou social, eram educadas a cultivar comportamentos condizentes ao extrato social dominante e tinham a
tarefa de perpetuá-los. Esse tipo de educação não descuidava das questões morais, pois se entendia que a
menina, ao se casar, seria o esteio do lar, e da formação dos filhos. Tinha que ser bem educada, nos moldes
rígidos do comportamento para também bem educar e manter acesa nos filhos a chama da natural superioridade
de classe. Nos jornais da época verificam-se propostas educativas voltadas às mulheres. A elas traçava-se um
modelo do feminino muito mais relacionado à manutenção do status social do que a um modelo modernizado de
feminilidade, sobretudo diante da chegada massiva de imigrantes que traziam mulheres trabalhadoras, e muitas
127
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
delas atuantes intelectualmente nos seus meios de origem e praticantes de uma liberdade garantida pela prática
do trabalho livre nos seus países de origem. A imprensa, de modo geral, põe-se como um espaço privilegiado da
memória histórica. Exatamente por trazer as marcas das transformações, da luta pela consolidação da nação, de
busca da identidade nacional, de estabelecimento de modelos sociais ou de oposição aos que denotavam
modernização dos hábitos e punham a perder o modelo patriarcal, faz-se num objeto que merece dos
pesquisadores uma atenção redobrada. A História da Educação e a pesquisa muito têm a analisar nos impressos
jornalísticos, na medida em que neles se encontram irrevogáveis marcas de um tempo histórico que até os dias
de hoje ainda persistem amalgamados no ideário social. Palavras-Chave: Educação- Imprensa; Modernização
Social; Educação Feminina.
Trata-se de um estudo documental de caráter histórico que tem como objeto e fonte de pesquisa o jornal O
Dezenove de Dezembro (ODD), o primeiro periódico a circular na Província do Paraná. Cândido Martins Lopes,
editor e proprietário do jornal, era tipógrafo conhecido pela qualidade de seus trabalhos em Niterói. A convite do
Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos, presidente da província do Paraná, instalou a Tipografia Paranaense
em Curitiba, na Rua das Flores número 13. O primeiro número do jornal circulou no dia 1 de abril de 1854 e o
último no dia 9 de abril de 1890. Cândido Lopes prometera isenção política na publicação dos atos oficiais do
governo provincial e da assembleia legislativa, promessa difícil de ser cumprida. Manteve-se à frente do
empreendimento até dezembro de 1871, quando faleceu. O texto mostra a ação político-educativa dos artigos
publicados no jornal, sejam oficiais ou a pedido dos moradores da província ou ainda o próprio editorial. No caso
dos atos oficiais, evidenciavam a necessidade de dar forma e direção à província do Paraná, apontando quais
eram as novas normas estabelecidas para o seu funcionamento. Em caso de descumprimento dessas regras, o
governo provincial aplicava as sanções cabíveis, por exemplo o caso que envolveu o senhor Jesuíno Marcondes
de Oliveira e Sá, nomeado pelo presidente de província Vasconcellos para o cargo de inspetor geral da instrução
pública. O inspetor comunicou a autoridade provincial que um dos professores se recusava a cumprir as
determinações oficiais. O jornal publicou o desenrolar e o desfecho do episódio com a penalidade aplicada ao
professor. Em relação ao pedido dos moradores, selecionamos o caso da negra liberta Francisca Placidiana e seus
quatro filhos que, após a morte de sua senhora, foram incluídos no inventário, partilhados pelos herdeiros e
escravizados em Castro. O periódico ODD apresentou a petição elaborada e enviada por Antonio Rufino Nunes ao
presidente de província, bem como o encaminhamento da solicitação e a decisão final. Quanto ao editorial do
jornal ODD, o destaque coube ao posicionamento frente à questão da imigração na província paranaense, desde
o artigo de esclarecimento ao público sobre a Lei de Terras de 1850, a divulgação da Lei n. 29 de 21 de março de
1855 que incentivava a imigração na província, além de fatos relacionados aos imigrantes. Todos esses artigos
contribuíram para a formação e a modernização da província do Paraná e, ao mesmo tempo, para a
conscientização e a educação dos moradores quanto à sua nova condição de paranaenses e as ações dela
decorrentes. Para os pesquisadores no campo da História da Educação, o jornal traz preciosas lições de História
do Paraná e do processo educativo instaurado na província paranaense nos oitocentos. Palavras-chave:
Educação, Modernização, O Dezenove de Dezembro.
O objetivo deste trabalho é analisar à luz da História da Educação o compêndio “Lições de Philosophia Elementar
Racional e Moral”, de José Soriano de Souza, publicado em 1871 e a sua influência no ensino de filosofia no Brasil
nos Oitocentos. No seu percurso intelectual José Soriano foi aluno do Lyceu Provincial da Parahyba do Norte,
atuou como professor da cadeira de Filosofia no Gymnásio Provincial Pernambucano e teve segundo alguns
pesquisadores, muita influência no campo da Filosofia brasileira nos Oitocentos. Publicou ainda vários trabalhos
onde se destacam temas como a religião, o Direito, entre estes se destacam o “Compêndio de Philosophia
ordenado segundo os princípios e methodo do doutor Angelico S. Thomaz de Aquino”, “Elementos de
Philosophia do Direito”. Soriano teve ainda uma grande atuação nos jornais de Recife atuando como redator e
jornalista em vários periódicos na segunda metade dos Oitocentos entre estes: o Cathólico, (1872), A Esperança
(1864) e A União. O Compêndio ao qual aqui nos detemos “Lições de Philosophia Elementar Racional e Moral”,
128
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
escrito por ele, foi adotada como manual de filosofia no Gymnásio Pernambucano, instituição de ensino
secundário na qual lecionava. A obra de José Soriano de Souza trouxe no momento de sua publicação elementos
que remetiam ao pensamento tomista francês do Antigo Regime. Segundo Barbuy (2012), Soriano de Souza foi o
mais significativo vulto do pensamento tomista brasileiro do século XIX. Sendo este um dos elementos que
caracterizam o autor como o primeiro a difundir o tomismo no Brasil, nossa análise da obra parte destes aspectos
e de como eles se inserem no campo da história da educação. Para Deleuze (1992) os filósofos trazem novos
conceitos, os expõem, mas não dizem, pelo menos não completamente, aos quais problemas esses conceitos
respondem. Diante disso, pretende-se investigar os aspectos inovadores e não somente reprodutores no ponto
de vista do pensamento filosófico de José Soriano. Por meio do ensino de filosofia, da pessoa do professor José
Soriano de Souza e sua obra Lições de Philosophia Elementar Racional e Moral, pretende-se aqui buscar as bases
para compreensão das diversas especificidades, signos e representações da área pesquisada. Como historiadores,
sabemos da impossibilidade de reconstituir o passado tal como ele foi vivenciado, o máximo que podemos é
recuperar algumas facetas, parte de um todo muito mais complexo e dinâmico. Para a análise aqui proposta
direcionamos o nosso olhar para a História Cultural e entendendo o livro didático como objeto cultural, buscamos
manter diálogos com alguns estudiosos desta área como Chartier (1998), Chervel (1990); Choppin (2004), Abreu
(1999), Bittencourt, (2004), Felgueiras (2010). Palavras-chave: Filosofia. Compêndio. Oitocentos.
O trabalho aborda o envolvimento dos camaristas de Sabará/MG com a instrução da “mocidade” na segunda
metade do século XIX. O debate sobre a instrução esteve presente no centro das preocupações dos vereadores
de Sabará durante o século XIX, em alguns momentos de forma mais intensa e, em outros, apenas tangenciado. A
partir de 1850 o debate voltou-se para o ensino secundário, tornando-se mais presente nas falas dos camaristas.
Colégios particulares, como o Emulação Sabarense, o Externato da Cidade e a Escola Normal de Sabará foram
espaços em que os vereadores atuaram na condição de professores, pais de aluno, parentes de docentes, ou
como cidadãos preocupados com os rumos do Brasil. Essa inquietação com a educação expressava o desejo da
“prosperidade” do município como ainda de verem seus filhos preparados para serem “colunas” da “nação”.
Além da documentação da câmara municipal - especialmente atas e ofícios, os jornais foram grandes
colaboradores na difusão de ideias sobre a educação sabarense e das atividades das instituições escolares desse
período. As fontes que contribuem para o cruzamento de dados do presente trabalho são os jornais O Bom
Senso, Diário de Minas, O Correio Official de Minas, O Liberal Mineiro, A Folha Sabarense e O Contemporâneo. A
imprensa oportuniza apreender que o envolvimento político desses indivíduos não deixou de fazer parte dessas
instituições. Tanto a Câmara como as instituições escolares foram espaços de sociabilidades dos grupos de
dirigentes locais. O colégio Emulação Sabarense – fundado em 1853, pelo médico e vereador Anastácio
Symphronio de Abreu recebeu em seu quadro alunos das elites locais que, em tempos vindouros, se
constituiriam em alguns dos políticos que viriam a assumir a administração municipal e atuariam no campo da
educação, assim também o Externato de Sabará, criado em 1867. Essa instituição foi espaço não só da instrução
da mocidade, mas também de intensa vivência política e social. A Escola Normal sabarense, instalada em 1882,
levou para o município novas perspectivas de instrução, e por ela passaram vários alunos e professores que
tiveram de algum modo ligação com a Câmara, como por exemplo, os descendentes de vereadores e ex-
vereadores que foram docentes na instituição. A elite sabarense, ou pelo menos parte dela, demarcou bem seu
lugar nessas instituições demonstrando que os esforços educativos visavam apenas a “mocidade” que fazia parte
de seus quadros. Levando-se em consideração o fato de que vários dos camaristas passaram por cargos da
burocracia administrativa do Estado, podemos considerar que esse movimento também se constituiu num
processo de educação política, nos tramites da administração pública imperial e no qual os jornais expressaram
as demandas da época. Palavras-chave: Educação e imprensa, Política, Sabará- Século XIX.
129
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
Sessão Coordenada - 36
Apresentamos como temática geral desta comunicação coordenada a recorrência das relações que passam a ser
estabelecidas entre educação e modernidade em discursos produzidos por sujeitos situados em diversificados
lugares de enunciação no Brasil do século XIX. As quatro partes integrantes dessa comunicação coordenada
resultam da contribuição efetiva que um Programa de Pesquisa nacionalmente articulado e apoiado pelo CNPq
tem proporcionado enquanto agente de integração entre pesquisadores de diferentes universidades e regiões
desse país. A partir de uma preocupação central com a circulação de referenciais de Educação, Civilização,
Progresso, Modernidade e Nação, cada pesquisador, participante dessa comunicação, irá se debruçar sobre um
ponto específico em que tais noções se entrelaçam, de modo a operacionalizar um posicionamento efetivo de
sujeitos individuais ou coletivos em seus contextos determinados. Um dos trabalhos presentes nessa
comunicação procura esclarecer que a linguagem do direito passa a emergir como a forma, por excelência, para
se pensar e expressar qualquer projeto de futuro para a nação, então em construção. A educação foi
sistematicamente mobilizada por esse saber jurídico como elemento fundamental para a construção de um país
ilustrado, civilizado e polido. Outro resultado de pesquisa, presente nessa comunicação, se dedica a analisar e
ressaltar a ideia de que educar e instruir adultos também fazia parte da preocupação da elite letrada brasileira
que se dedicava ao vocabulário da filantropia moderna, envidando esforços em prol da construção da nação, por
meio de ações concretas, mesmo que, prescindir do apoio efetivo do Estado, necessário fosse. Um terceiro
trabalho, que integra a comunicação, ressalta o fato de que num contexto em que a noção liberal de que todos
os indivíduos nascem livres e iguais perante a lei já está largamente difundida, instituições como a escravidão e o
machismo soam como incômodos indicativos de falta de civilização. Para além das mulheres articulistas, os
diversos sujeitos do gênero masculino que, no século XIX, tomam da escrita para fazer uma defesa da educação
da mulher em nome da modernização do país evidenciam a complexidade desse momento histórico específico
que continua a nos exigir mais cautela nas leituras que fazemos daquele contexto. A quarta reflexão a integrar
essa comunicação enfatiza a atenção ao modo como ideias sobre educação e modernidade se entrelaçaram nos
discursos produzidos pela classe política dirigente ao longo do século XIX, construindo referenciais estrangeiros,
entre os quais destacam-se os casos franceses e norte-americanos. Palavras-chave: Modernidade, Educação,
Brasil do século XIX.
Esta comunicação tem como objetivo analisar configurações de modernidade na formação da cultura jurídica
brasileira no séc. XIX. Para realizarmos tal analise tomamos como documento base o livro de Plínio Barreto (1922)
intitulado “A cultura Jurídica no Brasil (1822-1922)”, o qual traça a história da formação da cultura jurídica
brasileira ao longo da primeira década da independência do Brasil. O autor aponta que alguns homens do Brasil
pós 1822 traziam consigo um senso prático das necessidades do país e não desconheciam os valores da cultura
jurídica. A obra em evidência, traz também possibilidades de cruzamentos interpretativos de documentos que
podem evidenciar a implantação dos cursos jurídicos no Brasil, como as atas da Assembleia Constituinte ao longo
das sessões parlamentares e trabalhos acadêmicos dos bacharéis em Direito. As faculdades de Direito do Brasil
tiveram uma importância na constituição da cultura jurídica, uma vez que essas instituições estavam nos planos
parlamentares não apenas para a formação do Estado-Nação brasileiro, mas em gerar futuros estadistas pelos
moldes da ciência do direito moderno. Juntamente com esse livro tomamos os trabalhos acadêmicos produzidos
pelos bacharéis da Academia de Direito de São Paulo, em vias de doutoramento, a fim de verificar nessas
composições um pensamento de modernidade atrelado à formação da cultura jurídica. Durante o século XIX é
possível perceber algumas mudanças na configuração da cultura jurídica brasileira que podem evidenciar noções
de modernidade, uma vez que entendemos esse conceito como um conjunto de elementos que se sobrepõe e
justapõe ao longo do tempo e que cria relações múltiplas com o espaço envolvido. Dessa forma, buscamos
responder às questões: Como se configurou a formação da cultura jurídica brasileira? Que repertório de
130
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
modernidade pode ser evidenciado a partir dessa formação jurídica no século XIX? O exercício histórico-
metodológico contribui para história da educação brasileira, uma vez que nos possibilita analisar as noções de
modernidade numa obra comemorativa de cem anos da independência, tratando da formação dos juristas
brasileiros e da própria organização dos cursos de Direito como instituições formadoras de homens públicos e
políticos. Portanto, diante das fontes providas de significações e de possibilidades para a história da educação
brasileira acerca de configurações de modernidade, é possível afirmar que a cultura jurídica pode ser
compreendida pelo processo de formação acadêmica na Academia de São Paulo, durante o século XIX,
projetando para a sociedade do séc. XIX homens de Estado. Palavras-Chaves: Modernidade, Formação, Cultura
Jurídica.
Esta comunicação objetiva analisar e refletir sobre o sentido das diversas iniciativas voltadas para a instrução e a
educação de adultos nas diversas províncias brasileiras e que, nas décadas finais do Império, mobilizou um
conjunto de experiências educativas, criadas e mantidas por distintas forças sociais e políticas, vinculadas não
somente ao Estado como também à igreja e à sociedade civil, tais como sociedades protetoras da instrução,
maçonarias, clubes literários, musicais, abolicionistas etc. Tais iniciativas compreendem parte de um repertório
discursivo moderno inserido no projeto de construção da nação empreendido pela intelectualidade brasileira já a
partir da década de 30 do oitocentos, na sede do poder político e econômico do país. Uma das condições para se
alcançar o status de nação civilizada era a de promover o seu aperfeiçoamento moral, técnico e político e, para a
concretização desse ideal civilizatório, muito contribuiu uma das formas de sociabilidade intelectual mais
difundidas por meio da imprensa periódica imperial, que foi a filantropia moderna. O vocabulário da filantropia
comportava práticas que possibilitavam a identificação dos letrados beneméritos como construtores de lugares
de referência de ações e de pertencimento vinculados a um projeto de construção de Nação embasado nos ideais
de modernidade e de civilização. A imprensa atuava na difusão e, ao mesmo tempo, na construção dessa
concepção de filantropia moderna, seja pela visibilidade que conferia às mais variadas práticas de benevolência
realizadas por indivíduos e associações, ou pela possibilidade de fazer circular e de socializar um vocabulário
comum que traduzia o sentido de tais ações, destacando, ora seu alinhamento às nações civilizadas, ora o
sublime significado humanitário dessas práticas que deveriam ser imitadas por toda a sociedade. A filantropia
moderna, diferindo-se da caridade tradicional, rompia com o sentido conferido à ajuda aos pobres e à relação
estabelecida com o Estado-nação. Nos Oitocentos acentuaram-se as diferenças entre o sentimento relacionado a
ambas evidenciadas com as transformações operadas pelas Luzes no sentimento de caridade. No âmbito da
pedagogia, atuava a filantropia na instrução primária dos adultos, com o objetivo de levar as Luzes àqueles que
viviam nas trevas provocadas pelo analfabetismo e, bem assim, operar na transformação de comportamentos,
atitudes e valores indispensáveis ao progresso moral e material da sociedade. Nesse caso, a função da escola
noturna para adultos seria a de fazer de “analfabetos sair homens úteis e verdadeiros cidadãos”, incorporando,
dessa forma a população pobre aos costumes, ideias e ao progresso civilizatório. Palavras-chave: Modernidade,
Filantropia, Educação de adultos.
Esta comunicação tem como objetivo problematizar representações culturais que articulam gênero,
modernidade e educação nas produções discursivas de Presidentes de Província e viajantes europeus que
visitaram o Nordeste brasileiro do século XIX. As análises presentes nesse trabalho são frutos do Projeto de
Pesquisa que procurou analisar a docência masculina em tempos de feminização do magistério no contexto da
Parahyba do Norte. Foram analisados os Relatórios dos Presidentes da Província da Paraíba, produzidos entre os
anos de 1840 e 1890, além dos relatos produzidos por viajantes europeus, como George Gardner, Alcide
D’Orbigny, Henri Koster e Agassiz, que visitaram as Províncias do Nordeste brasileiro ao longo da primeira
metade do século XIX. Pode-se afirmar que esses viajantes europeus estavam atentos a inúmeros detalhes em
suas descrições, como relevo, clima, espécies de plantas, mas, também se mostravam interessados pelos
contextos socioculturais com os quais se deparavam. Procuramos, nessa ocasião, enfocar mais, detidamente, as
representações construídas por eles no que tange às relações de gênero, indagadas, a partir da especificidade de
suas posições discursivas, masculinas e europeias, diante das situações sociais encontradas nos trópicos. Outro
131
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
discurso masculino que procurou mapear e dar alguma racionalidade às experiências vividas pelos brasileiros do
século XIX foi o dos governantes estatais. Anualmente, os Presidentes das numerosas Províncias brasileiras
produziam um relatório minucioso de suas atividades, nos mais diversos ramos da administração pública, para
ser endereçado à Corte Imperial. As temáticas concernentes às questões educativas costumavam ocupar um
volume importante nesses relatórios. Nessas sessões do relatório relativas à educação podemos ver com
frequência o estabelecimento de correlações discursivas entre o progresso da nação, o avanço da educação e a
condição do masculino e do feminino nesse processo. Fica evidenciado nas escritas dos europeus e brasileiros
analisados que um modo específico de compreensão do mundo está se consolidando ao longo do século XIX.
Uma compreensão marcada pela associação entre as noções de progresso e civilização à noção de modernidade.
As questões de gênero e da educação não ficam apartadas desse escopo. As conexões entre esses diversos
aspectos, na verdade, são fartamente exploradas e dos mais diferentes modos pelos distintos sujeitos masculinos
que se valem da escrita, naquele período, a partir de lugares sociais específicos. Para a análise dessa diversificada
documentação foram utilizados os aportes teóricos desenvolvidos por Roger Chartier, Reinhart Koselleck e Hans
Gumbrecht. Palavras-chave: Relações de gênero, Modernidade, Educação.
A leitura dos discursos da presidência da província mineira, produzidos ao longo do século XIX, permitiu flagrar
uma manifestação contínua pela inserção do Brasil no rol das nações civilizadas. Os contornos de uma relação
teleológica com a civilização evidenciaram-se por meio de estratégias de educação da população, seja pela via da
escola, seja por outras instituições. Ao explorar a semântica dos discursos que pleiteavam a civilização do país, o
léxico mobilizado permitiu vislumbrar que, até meados do século XIX, civilizar significava promover hábitos de
civilidade, de moral e bons costumes, como expressão de combate à barbárie. Do mesmo modo, verificamos
nesse período também a manifestação pelo progresso da nação. Porém, não tão flagrante quanto a partir da
segunda metade do século. Já na década de 1850, ao ideal de civilidade viria se acrescentar o anseio de
direcionar a nação para a rota do progresso: o progresso da indústria e o progresso através da construção de
estradas e demais vias de comunicação. O ideal de civilização se encontra vinculado, logo, ao progresso e aos
princípios da modernidade colocados em circulação. Justaposto aos países “adiantados” do Velho Mundo, os
Estados Unidos, nessa segunda metade do século, são definidos como a nação exemplo do progresso; e a
instrução da população, como razão do prodígio da pátria norte-americana. Pretendemos, nesta comunicação,
portanto, uma aproximação das estratégias empreendidas — vislumbradas no plano dos discursos — para se
colocar a Província de Minas Gerais na marcha da civilização; de acordo os contornos acima descritos. Na busca
do outro e deus códigos de civilização, destacaram como formas de contato: as viagens de estudantes ao
estrangeiro, a organização de bibliotecas públicas, as exposições internacionais. E, considerando que esse
“outro”, espelho do civilizado e do moderno, era o estrangeiro, ou seja, tratava-se aí dos países considerados
adiantados na marcha do progresso e da civilização, o ensino de línguas estrangeiras, por sua vez, pode ser
considerado como uma prática mediadora de acesso aos códigos da civilização. Além da instrumentalidade que
pode ser atribuída ao aprendizado das línguas: para leituras de livros e jornais estrangeiros, para as viagens de
estudantes ao exterior, destaca-se ainda o caráter de distinção conferido àqueles que aprendiam idiomas
estrangeiros. Palavras-chave: Instrução Pública, Países Estrangeiros, Modernidade.
132
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Sessão Coordenada - 37
Esta Comunicação Coordenada demarca matrizes teóricas, instituições, sujeitos e produções escritas,
favorecendo a compreensão de nuances do pensamento educacional, político e social no Brasil das décadas de
1920 a 1940. As diferentes opções teóricas, procedimentos metodológicos e a variedade de fontes enriquecem o
debate proposto, delineado nos campos sociológico e historiográfico da educação brasileira. Com a proposta
busca-se discutir projetos de Brasil, tendo como ponto de convergência diferentes formas de inscrever propostas
de modernidade e modernização para o período. Para tanto, articulam-se temáticas que tratam de aspectos que
expressam o movimento histórico e social brasileiro, colocando em cena projetos políticos que tomam a cultura,
a educação e a modernidade como eixos centrais para a problemática em foco. Problematiza-se, dentre outras
questões, os princípios legitimadores da escola moderna, destacando-se a matriz da diferenciação social e as
abordagens integracionistas de Durkheim e Parsons, além da perspectiva crítica da dominação e da reprodução
social de Bourdieu. Pressupõe-se que o discurso modernizador foi apropriado de diferentes formas pelos projetos
de educação, os quais, examinados à luz de princípios dessas matrizes, gravitam em torno da ideia de justiça
social. Outra questão crucial para a reflexão proposta é a mobilização de temas centrais para o Brasil dos anos
1920 a 1940, que entrecruzam de maneira complexa projetos modernos com o debate político, educacional e
cultural. A trajetória intelectual e política de Sérgio Buarque de Holanda, marcada por um regime escritural
poligráfico, que se articulava com a interpretação social e cultural do Brasil, é pródiga, por exemplo, na
construção de interfaces indissociáveis entre intervenções na crítica literária, cultural e historiográfica e as
experiências republicanas. As críticas do período assinalado, em certo sentido, traziam a exigência de sintonizar o
Brasil com “a hora atual do mundo”. Assim, certas narrativas foram construindo uma ideia de educação e
modernidade que anunciava a necessidade de sintonizar o projeto educacional brasileiro com a modernidade
educacional de países considerados mais avançados. Nos embates e tensões do Brasil republicano das décadas
de 1920 a 1940, os projetos colocados em disputa permitem vislumbrar as marcas das trajetórias de sujeitos que
em suas vinculações a matrizes teóricas, grupos, instituições, associações, empreendem conflitos que em sua
processualidade dão azo à delimitação ética de um espaço público brasileiro. Supõe-se que ao coadunar
perspectivas historiográficas e sociológicas sobre os campos educacional, cultural, político e social criar-se-á a
oportunidade de discutir alguns dos projetos que se embatem em torno da proposição da “organização nacional
através da organização da cultura”, tencionando firmar o Brasil como Nação moderna, favorecendo, assim, uma
contribuição consistente e rigorosa para o pensamento social brasileiro.
Que princípios têm fundado os diferentes projetos de escolarização postos em prática ao longo do século XX? A
resposta a esta questão supõe a mobilização de diferentes matrizes teóricas. Revisitar uma dessas matrizes
edificadas por pensadores clássicos e contemporâneos é o objetivo central desta reflexão. Buscamos, assim, na
matriz da diferenciação social duas abordagens integracionistas, de Émile Durkheim (1858-1917) e Talcott
Parsons (1902-1979), as quais foram criticadas pela teoria da dominação e reprodução social desenvolvida por
Pierre Bourdieu (1930-2002) e Jean-Claude Passeron (1930-). Consideramos que o discurso modernizador foi
apropriado de diferentes formas pelos projetos de educação, tendo se pautado em dois princípios que estão na
base dessa matriz teórica e que gravitam em torno da ideia de justiça social. Segundo Bruno Garnier (2010),
desde que Condorcet (1743-1794) a incluiu no campo dos direitos do cidadão, a educação passou a compor a
agenda dos projetos republicanos e a integrar as diferentes retóricas liberais. Se outrora ela era unicamente uma
questão familiar, ficando ao abrigo de todo debate sobre a justiça, ao ser vista como um direito torna-se de
interesse de todos. Espera-se, desde então, que o desenvolvimento dos sistemas escolares não apenas amplie as
habilidades humanas úteis à economia, mas torne os indivíduos e as sociedades melhores e mais “civilizados”.
Apesar do estreitamento, em termos ideais, das relações entre educação (escolar) e justiça social, estudos
desenvolvidos em diferentes campos do conhecimento têm demonstrado que a apropriação do princípio da
igualdade foi, ao longo dos tempos, sendo matizada, ora se aproximando ora se distanciando dos propósitos a ele
133
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
subjacentes. Assim, de uma igualdade de direitos, que se traduz nos projetos de escola pública, gratuita,
obrigatória e laica, se evoluiu para uma igualdade de oportunidades, segregando dos projetos de escolarização
grandes contingentes populacionais. Nesse quadro de ambiguidades ganha força outro princípio de justiça social:
a meritocracia escolar, que harmoniza e legitima diferenças individuais e desigualdades sociais, e vê no mérito a
única maneira de enfrentar as “propriedades herdadas” e produzir desigualdades justas. Apesar do caráter,
aparentemente, inabalável deste princípio, sabemos, desde as rupturas epistemológicas promovidas no campo
educacional nos anos de 1960, que as desigualdades fracionam-se, multiplicam-se e diversificam-se no âmbito da
escola, do mundo do trabalho, das hierarquias sociais. Revisitar portanto esta matriz teórica permite lançar um
novo olhar sobre a reprodução cultural e apreender os mecanismos da escola conservadora buscando saber em
que condições a escola pode se tornar libertadora – e justa. Palavras-chaves: Escola moderna; diferenciação
social; igualdade e meritocracia.
A proposta deste trabalho é ponderar criticamente sobre a trajetória intelectual e política de Sérgio Buarque de
Holanda nos anos 1920 e 1930. Interessa argumentar que sua atividade intelectual, marcada por um regime
escritural poligráfico, articula-se à interpretação social e cultural do Brasil sendo indissociável de suas
intervenções políticas. As tensões entre modernidade e tradição na crítica literária, cultural e política em seus
primeiros artigos produzidos entre 1920 e 1921 – publicados, por exemplo, no Correio Paulistano e no Rio-Jornal,
quando ele contava entre 17 e 19 anos – serão chave para o argumento que contemplará ainda suas atividades
como professor assistente na Universidade do Distrito Federal na década de 1930. Importa considerar como e em
que medida questões relativas à arte, à cultura material e à república brasileiras articulam problemáticas que
arranjam a visada holandiana sobre a tradição brasileira com sua perspectiva sobre a formação de uma
sensibilidade moderna no cultivo de um sentimento nacional brasileiro a partir de sua interpretação crítica sobre
a urbanização, a modernidade e a política no Brasil do início dos anos 1920, instruindo um olhar sobre a nação e
os brasileiros que lança o horizonte de suas intervenções no período do governo Vargas junto ao Ministério da
Educação e Saúde Pública e à UDF. Os problemas relativos à república e à educação sugerem distinguir suas
experiências republicanas a fim de delimitar os exercícios intelectuais deste ativista do letramento esclarecido,
percebendo seu regime de escritura, sua inserção nos processos de mediação social e cultural, e, nas relações
sociais de produção escrita daquele período. Com este procedimento discriminativo, será possível interpretar a
dimensão crítica de sua ação política visando à formação dos brasileiros, como cidadãos, e do Brasil, como
entidade nacional, inferindo sua percepção sobre interesse público e ética nacional. Merecerá relevo a
proposição de uma crítica cultural e política que pretende operar no processo formativo da nação brasileira em
sua pretensão modernizadora, favorecendo considerações sobre seu impacto na emergência de tensões entre a
esfera pública, a vida privada e as instâncias governamentais no Brasil. Este trabalho pretende contribuir para a
história da educação e a historiografia brasileiras ao problematizar a proposição da “organização nacional através
da organização da cultura”, discutindo tensões entre trajetórias individuais em dinâmicas institucionais, levando
a sério os limites entre a estabilização do espaço público e o âmbito dos interesses privados na definição de um
campo ético para a estruturação educacional e a fruição cultural que visava dar forma ao Brasil moderno.
Palavras-chave: Modernidade. Espaço público. Sérgio Buarque de Holanda.
“A hora atual do mundo” anuncia a necessidade de sintonizar o projeto educacional brasileiro com a
modernidade educacional de países considerados mais avançados. Este é um entre muitos argumentos que
compõem discursos inscritos nas páginas de obras de relativa circulação nacional e que são tomadas neste
trabalho como fonte, com base nas quais se busca refletir sobre possibilidades de interpretação acerca da
modernidade educacional no Brasil dos anos de 1920. O eixo de análise gira em torno dos conceitos de moderno
e modernidade, no desafio do enfrentamento teórico-metodológico que marca estes conceitos – tendo em vista
a já anunciada e denunciada polissemia que os envolve – no sentido de compreender modos como certas
134
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
narrativas discursivas, imbricadas nessas noções, foram construindo uma ideia de educação e modernidade no
Brasil dos anos de 1920. Como fontes foram escolhidas duas obras de educadores que ocuparam espaço na cena
pública nesse período: À margem da história da República – Tomo I (1924/1981), organizada por Vicente Licínio
Cardoso, com estreitamento para o texto de Antonio de Arruda Carneiro Leão – Os deveres das novas gerações
brasileiras; e Suggestões sobre a educação popular no Brasil, de Orestes de Oliveira Guimarães, publicada em
1924. Carneiro Leão (1924) e Orestes Guimarães (1924), como a chamada dos títulos das suas produções
sinalizam – “deveres” e “sugestões”–, se colocaram como porta-vozes do povo brasileiro, dirigindo-se não apenas
à geografia específica de algum estado ou a um ponto específico para a área educacional, mas delineando o que
acreditavam que deveria ser providenciado para suplantar o indesejável em termos de “educação popular para o
Brasil”, no caso das “sugestões” de Orestes; e dos “deveres das futuras gerações brasileiras” para o progresso do
país, no caso de Carneiro Leão. Os textos, considerados como representativos do “pensamento político e cultural
renovado”, apresentam uma análise quase sempre comparativa entre passado, presente e futuro. As referências
ao passado frequentemente recebem um tom de crítica ao regime político do Brasil Império ou mesmo anterior a
ele, como algo a ser superado, adaptado às necessidades do presente. Esses “intérpretes” apontam as causas e
soluções do que consideram as problemáticas daquele momento (anos de 1920). Ainda que se tenha que ter em
conta as diferentes condições de produção entre as obras de Orestes Guimarães e Carneiro Leão – a primeira sob
encomenda e a segunda de ordem mais “independente” – não se pode deixar de avaliar que ambas significam
possibilidades de interpretação dos problemas existentes e das soluções defendidas por seus autores e são
representativas das discussões presentes nos anos de 1920. Palavras-chave: Modernidade educacional. Carneiro
Leão. Orestes Guimarães.
Nosso trabalho se insere num investimento maior de compreender a atuação de intelectuais vinculados a
projetos políticos em disputa nas décadas de 1930 e 1940. Entendemos os intelectuais como sujeitos que no
espaço público atuaram elaborando propostas, defendendo posições e mediando relações. Investimos sobre eles
esforço interpretativo nos processos de constituição de seus grupos, nas redes de sociabilidades em que atuaram
e, por fim, na constituição de projetos políticos percorrendo a trajetória desses indivíduos através das ações
empreendidas no espaço público brasileiro. Dentro deste quadro investigativo, insere-se a pesquisa sobre o
Instituto de Estudos Brasileiros – IEB, que congregou, entre 1938 e 1944, cerca de 300 pessoas por meio da
realização de conferências e da publicação da revista Estudos Brasileiros. Este instituto se propôs a convidar
especialistas, nos mais variados temas, a participar de suas conferências, seja na condição de conferencistas ou
de debatedores. Neste trabalho apresentamos os modos como o IEB estabeleceu sua estrutura organizacional, o
que lhe permitiu constituir-se como um lugar de sociabilidade para um grupo expressivo de intelectuais
brasileiros durante o tempo em que funcionou. Compreender o tipo de inserção do IEB na sociabilidade
intelectual carioca nos remete ao entendimento, em uma escala maior, ao modo como esta intelectualidade
atuante na capital da república se insere nos debates do período e define um campo de atuação. Noutra escala,
queremos compreender a forma como o sujeito coletivo IEB se engaja nas disputas que ocorrem no campo
intelectual e político. Na pesquisa, trabalhando com documentos institucionais e, sobretudo, com a coleção da
revista Estudos Brasileiros que se encontra no acervo do Centro de Documentação da Faculdade de Educação da
UFMG, vimos que o IEB constitui e é constituído por redes de sociabilidades e que sua atuação na mediação dos
sujeitos, se realiza a partir do uso das formas de inscrição social destes intelectuais no contexto de atuação no
Rio de Janeiro. O acirramento do debate, a radicalização de posições políticas, a funcionarização dos intelectuais,
a ampliação do aparelho de Estado, modificam o quadro de atuação destes sujeitos, criando facilidades ou
estabelecendo constrangimentos não apenas no estabelecimento de ligações e na montagem de redes de
sociabilidade, mas também para o próprio reordenamento do campo de atuação destes intelectuais. Nesse
sentido, nesta pesquisa apresentamos um conjunto de questões relacionadas às mudanças ocorridas no
ordenamento do trabalho intelectual entre 1930 e 1940 e em como estas mudanças afetaram a constituição da
sociabilidade e dos projetos para o Brasil, no interior dos quais a Educação aparece como objeto e espaço de
disputa política e cientifica. Palavras-chave: Intelectuais. Sociabilidade. Estado Novo.
135
Caderno de Resumos - Comunicações Coordenadas
136
Comunicações Individuais
Eixo Temático 1
A EXPANSÃO DA ESCOLA SECUNDÁRIA E O CAMPO POLÍTICO NO ESTADO DE SÃO PAULO (1947-1964) .........155
CARLOS ALBERTO DINIZ .................................................................................................................................... 155
XVII CONEPE (1980): O DEBATE DOS DIRIGENTES DAS ESCOLAS PARTICULARES COMO UMA ESTRATÉGIA PARA
O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA .........................................................................................161
EDUARDO NORCIA SCARFONI ........................................................................................................................... 161
COUTTO FERRAZ E OS REGULAMENTOS DE EDUCAÇÃO NA PROVÍNCIA DO ESPÍRITO SANTO – 1848 E 1861 ...162
EDUARDO VIANNA GAUDIO.............................................................................................................................. 162
140
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
EDUCAÇÃO, HIGIENE E SAÚDE NAS REPRESENTAÇÕES SOBRE AS POPULAÇÕES RURAIS EM MINAS GERAIS: UMA
ANÁLISE DOS ANAIS DO CONGRESSO MINEIRO (1889 - 1892)..........................................................................167
GILVANICE BARBOSA DA SILVA MUSIAL ............................................................................................................167
WALQUIRIA MIRANDA ROSA............................................................................................................................. 167
EDUCAÇÃO BÁSICA E DITADURA MILITAR: CONTRIBUIÇÕES PARA A DISCUSSÃO SOBRE O PERÍODO DE 1964-
1985.................................................................................................................................................................169
JANE SANTOS DA SILVA.....................................................................................................................................169
141
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
DISPUTAS QUE ENVOLVERAM O SERVIÇO SANITÁRIO PAULISTA ENTRE A REPÚBLICA VELHA E O ESTADO NOVO
MÁRCIA GUEDES SOARES ................................................................................................................................. 175
O ENSINO NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO LITORAL PAULISTA NA DÉCADA DE 1930. A ATUAÇÃO DO DELEGADO DE
ENSINO LUIZ DAMASCO PENNA.......................................................................................................................175
MARIA APPARECIDA FRANCO PEREIRA.............................................................................................................. 175
ESCOLA PRIMÁRIA NA PARAHYBA DO NORTE: SUA ORGANIZAÇÃO PARA A CIVILIDADE E PROGRESSO (1884-
1886)................................................................................................................................................................184
ROSE MARY DE SOUZA ARAÚJO ........................................................................................................................ 184
OS FAZERES COTIDIANOS DO CONSELHO SUPERIOR DA INSTRUÇÃO PUBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO (1893
-1896) ..............................................................................................................................................................184
ROSILEY APARECIDA TEIXEIRA........................................................................................................................... 185
A POLIVALÊNCIA NA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR PERNAMBUCANA ENTRE 1950- 1960: QUAIS PERSPECTIVAS? .187
SHIRLEIDE PEREIRA DA SILVA CRUZ ...................................................................................................................187
O ENSINO PAULISTA NA IMPRENSA PERIÓDICA ENTRE 1935 E 1938: NOTICIÁRIO SOBRE A ADMINISTRAÇÃO
ALMEIDA JÚNIOR.............................................................................................................................................187
SILVIA VALLEZI FULACHIO .................................................................................................................................187
143
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
144
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
145
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
práticas da Educação Física, encontram ressonância nos discursos dos republicanos gaúchos, e
consequentemente no projeto educacional de Carlos Cavalcanti Mangabeira. Os Relatórios Intendenciais
afirmavam ser Bagé, a primeira cidade do Estado do Rio Grande do Sul que possuiria uma praça totalmente
dedicada às práticas desportivas. Contudo, esta ideia deve ser relativizada, mas podemos suspeitar que ainda não
existam outras praças iguais, no Estado do Rio Grande do Sul. Para tanto, ao iniciarmos nossas análises destes
documentos, procuraremos historicizar o que significa afirmar que este espaço escolar tenha sido considerado
um lugar único para a manutenção dos discursos cívicos e educacionais pensados pela municipalidade bageense.
educacionais do governo. Como elemento coordenador das atividades ruralistas em Pernambuco, foram
fundados “Clubes Agrícolas Escolares”. Sua finalidade, segundo a documentação estudada, era de despertar nas
crianças, através do incentivo a cultura da terra, o gosto pela agricultura, o amor à vida do campo, aproveitando
as tendências naturais e vocacionais dos alunos. No intuito de fiscalizar e orientar os trabalhos dos “Clubes
Agrícolas Escolares” foi criado as “Missões Ruralistas Escolares”, as quais tinham como fim promover a
aproximação entre o mundo urbano e rural. Nosso corpus teórico foi composto por autores relacionados à
historiografia brasileira sobre o Estado Novo e História da Educação, tais como: José Beired, Luiz Bezerra Neto,
Adonias Prado, Zélia Gominho, Maria Helena Capelato, Durval Munis Albuquerque Júnior, Ângela de Castro
Gomes, Analete Schelbauer e Virgínia Ávila. O interesse pelo ensino rural partia de duas finalidades: a fixação do
homem na zona rural e, consequentemente a ampliação das fronteiras nacionais; e a otimização da produção
agrícola a partir do ensino de técnicas mais produtivas e eficientes no campo. A partir do discurso de civilização e
modernidade argumentava-se que era necessário identificar os problemas do interior do Brasil. Defendia-se que
apenas o poder de intervenção do Estado poderia transformar a situação do homem rural.
147
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
de políticas – Informes, Cartas, Declarações, Relatórios e Leis – provenientes dos setores da saúde e da educação.
O estudo da reforma do sistema de saúde canadense e do desenvolvimento do Movimento da Nova Promoção da
Saúde das décadas de 1960 e 1970 subsidiou o entendimento dos antecedentes históricos das políticas
internacionais de educação e saúde na escola atualmente em vigor. Com o Movimento, premissas foram
disseminadas mundialmente formando consensos internacionais que incluíram: a) a noção de empoderamento
de sujeitos e comunidades para atuação na promoção e produção de saúde; b) a equidade em saúde como fator
de desenvolvimento econômico e social e combate à pobreza e; c) a valorização da intersetorialidade como
mediação necessária para a superação de desafios no campo da saúde e dos demais setores sociais. A análise dos
documentos dos anos 1990 desvelou a construção de uma “Agenda Globalmente Estruturada para a Educação”
(DALE, 2004), na qual a saúde está inserida como política de apoio à melhoria da qualidade da educação básica, a
qual, por sua vez, consta como fundamental à promoção do desenvolvimento socioeconômico e para o combate
às desigualdades sociais, bem como à pobreza. A educação é entendida como peça chave para o processo de
modificação de comportamentos individuais e formação de subjetividades ativas em saúde. As iniciativas
intersetoriais entre as políticas de educação e saúde na escola começaram a ser implementadas, formalmente, a
partir da década de 1990 com o lançamento da Iniciativa das Escolas Promotoras de Saúde. Na perspectiva das
EPS, a instituição escolar deveria ser entendida como um campo privilegiado para a promoção da saúde por
reunir crianças e adolescentes em etapa crítica de crescimento e desenvolvimento. A Iniciativa serviu de
referência para a atuação de organizações internacionais – OMS e UNESCO – nos debates técnicos e políticos
sobre o tema em âmbito internacional e na proposição de diretrizes e estratégias de ação para os governos
nacionais no tocante às políticas de educação e à saúde na escola. Desenvolvida em um contexto mundial
caracterizado pela crise estrutural do capital, a Iniciativa em foco é compreendida como parte das estratégias de
regulação social forjadas no processo de reorganização capitalista na transição do século XX para o XXI.
148
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
149
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
católica, o Colégio dos Santos Anjos, o único no município que passa a partir de 1970 a oferecer o curso. Verifica-
se, portanto, que essas alfabetizadoras eram jovens e não tinham experiência na docência. Para tanto, havia o
suporte do material didático pedagógico, distribuído nacionalmente, e, em larga escala no município. Além de
orientar as alfabetizadoras, o material didático enfatizava o civismo, a saúde e alimentação, visando atuar na
formação do trabalhador, indispensável ao progresso do Brasil. Desta forma, revigorava-se o discurso
disciplinador, nacionalista e moralizante.
150
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
conceitos de “finalidade de objetivo” e “finalidades reais” (CHERVEL, 1998; 1990). A metodologia é embasada na
legislação, ofícios da Diretoria de Instrução Pública e relatórios de inspeção escolar, que postulam elementos
para a caracterização dos discursos reformadores da educação, ao mesmo tempo, permitem questionamentos:
Até que ponto seria possível uma transformação social porque isto foi previsto pela mudança da lei? O estudo
objetiva demonstrar como aparecem nos discursos dos dirigentes do campo educacional de Santa Catarina as
prerrogativas existentes e que poderiam configurar estratégias à exaltação de políticas educacionais, sem,
contudo ter o efeito no ambiente social e cultural proposto. Estabelecemos como âmbito cronológico a reforma
de 1911, responsável por uma legislação que buscou regular o cenário educacional nas décadas de 1910 e 1920 e
a reforma de 1935, que centralizou-se na reestruturação dos cursos de formação de professores e em princípios
alinhados às campanhas nacionalistas do Estado Novo. Os resultados indicam a ação do Estado e sua influência
ao longo do tempo, quer nas mudanças das políticas educacionais e formas de gestão da organização escolar
associadas, quer na ênfase do cumprimento dos ditames das Reformas, expressos principalmente numa base
normativa com fins de controle e regulação. As análises permitem dizer que a ação educativa, no período,
configurou um embate teórico-metodológico entre as práticas político-pedagógicas tidas como tradicionais e os
influxos do enaltecimento de um novo ideário vinculados aos pressupostos da Escola Nova e dos discursos a elas
alinhados. Portanto, alertamos para o ufanismo historiográfico que traz à tona apenas os feitos reformadores
alinhados às concepções de modernização e “republicanização” da escola primária de Santa Catarina, numa
escrita que, conforme busco demonstrar, ignora o que o perscrutar nas fontes possibilita agora afirmar: as
instituições escolares, naquele período, foram marcadas por um hibridismo no campo político, teórico e
conceitual, nutrido por discursos, práticas e políticas que geraram um embate histórico que marca a
historiografia sobre a instituição da escola em Santa Catarina.
151
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
um padrão dualista na educação, mantendo dois sistemas paralelos de ensino, um para o povo e outro para a
elite. O primeiro começava na escola primária e continuava nas poucas escolas profissionalizantes de Ensino
Médio. O segundo sistema, também iniciado no ensino primário, continuava na escola secundária, organizada
com a intenção de encaminhar as elites para o Ensino Superior e para posições mais privilegiadas na sociedade.
Trata-se de um estudo documental dos Anais do Senado Mineiro. Para a leitura das fontes, será tomado como
suporte teórico o entrecruzamento da história dos conceitos com a história política e a história cultural. Ainda, o
conceito de repertório será um aporte importante para a análise. Isto porque, o conceito de repertório
trabalhado foi compreendido como “um conjunto de criações culturais aprendidas” à qual o sujeito recorria
seletivamente de acordo com suas necessidades de “compreender certas situações e definir estratégias de ação”,
de acordo com Ângela Alonso. Os discursos foram usados para compreender o imaginário das elites mineiras
sobre educação pública, percebidos como indicadores de uma prática social, circunscrita a um espaço público,
permeado por relações de poderes. Compreendeu-se o discurso como narrativa construída segundo condições
históricas e sociais específicas, sendo uma representação do imaginário social de um grupo de interlocutores, ao
qual seu autor pertence. O discurso dos senadores, imbricado no jogo político e social do Estado, demonstrou sua
forte preocupação em desenvolver a economia, a fim de superar o atraso mineiro. Logo, no imaginário político
mineiro, era preciso “educar” o povo, transmitindo-lhe os saberes necessários a uma sociedade dita civilizada,
correspondente aos referenciais de modernidade e progresso que se tinha em vista. A metodologia que se fará
uso é o da análise do discurso, em especial a partir de Patrick Charaudeau, por contribuir com a análise do
discurso político.
de ações empreendidas pelo governo mineiro em especial a criação de Escolas Médias de Agricultura, que nesta
pesquisa tomaremos parte da trajetória institucional de uma dessas instituições de ensino: a Escola Média de e
Agricultura de Florestal-MG. Entendendo os fatos sociais e históricos como em si complexos, e a educação
destacadamente, busca-se olhar a constituição da instituição educacional para além das polarizações,
incorporando elementos presentes nas documentações sobre um determinado período da trajetória dessas
instituições para discutir aspectos que possibilitam apreendê-las frente ao debate social sobre a educação rural.
Sob a abordagem que busca apreendê-la, atenta-se para os conflitos internos, discursos, propostas e ações
presentes, tentando ouvir os ecos da dinâmica social na qual essas trajetórias institucionais se inscrevem.
Considera-se que, assim procedendo, podemos apreender as lógicas, nem sempre consensuais, que ordenavam
as práticas pedagógicas, inscreviam-se no cotidiano e expressavam-se, ainda, na cultura material das instituições.
Para isso tomamos como substratos, a análise de fontes escritas localizadas nos acervos da referida Instituição,
do Arquivo Histórico Central da Universidade Federal de Viçosa e do Museu Histórico de Pará de Minas, todos
situados no estado de Minas Gerais, além de vários outros acervos públicos, analisou-se as leis e decretos que
orientam legalmente as ações, além de jornais estaduais que circularam na época, bem como revistas estaduais.
Como resultado, destacamos que o discurso ruralista permanece acentado como base, buscava defender, dentro
de um campo de forças, projetos de educação que estavam intimamente sintonizados com projetos de nação e
que para isso mobilizou um repertório de ações - por vezes paradoxais -, agentes e agências. Ao mesmo tempo,
que a vocação eminentemente agrícola - pautada na ideia do rural como espaço solidário, essencial e salvador - é
invocada como argumento de base, eixo de estruturação econômica e social, que se contrapõem radicalmente às
investidas de projetos eminentemente industriais e urbanos, vemos também o diagnóstico do rural como a causa
imediata do atraso moral, técnico e econômico do Brasil, lugar de barbárie, que se deveria civilizar, modernizar
via instrução.
155
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
156
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
negativos de uma fragmentação do trabalho pedagógico. Toma-se como mote o referencial teórico do campo da
sociologia da educação e sociologia das profissões, os conceitos de habitus, de Bourdieu(1983), e os conceitos de
divisão social do trabalho, de Durkheim (1960). Faz-se uso, também, de referenciais da História da Educação e da
profissão docente, assim como de políticas públicas e educação: Libâneo, Pimenta (1999); Saviani (1998, 2011);
Santos (1985); Simões, Mendonça, Corrêa (2011); Vicentini, Lugli (2009); Oliveira (2003, 2007); Oliveira, Duarte
(2011); Oliveira, Pini, Feldfeber (2011). Analisa-se, na parte documental, sobretudo, o parecer 252 de 1969 do
antigo Conselho Federal de Educação.
agosto, uma das escolas mais antigas de Campo Grande (atual capital do Estado de Mato Grosso do Sul),
tomando-se como referência as reformas educacionais em âmbito nacional. O recorte temporal abrange o
período de 1936 a 1982, considerando-se os convênios realizados entre o público, representado pelo Governo do
Estado de Mato Grosso, e, depois, pelo Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, e o privado, pela Seleta
Sociedade Caritativa Humanitária (SSCH), na concretização dessa escola. As atividades da instituição escolar
tiveram início em 1932, sendo, porém, oficialmente fundada em 1936, por membros da SSCH, no período
correspondente ao governo Getúlio Vargas (1930-1945) com o nome de Escola Mista 26 de agosto, levando-se
em conta a data da fundação da cidade, atendendo o ensino primário. Tornou-se em 1957 Escolas Reunidas 26
de agosto e passou a denominar-se Ginásio Comercial 26 de agosto em 1968. Em 1970 recebeu o nome de
Colégio Estadual 26 de agosto, alterando-se para Escola de 1° e 2° Graus 26 de Agosto, por ocasião da Lei 5.692,
de 1971, quando foram instituídos cursos profissionalizantes, no período dos governos militares. A investigação
baseia-se em fontes documentais formadas por leis, regulamentos, mensagens governamentais encaminhadas à
Assembleia legislativa do estado, termos de convênio, regimento interno e livros de ocorrência da escola,
levantados em arquivos públicos e particulares e nos arquivos da mencionada escola. Os resultados mostram que
a Escola sempre funcionou em prédio da SSCH, por meio de convênios efetivados com os governos estaduais e
evidenciam a interferência dessa Seleta Sociedade na organização escolar, por exemplo, com a presença de seus
membros em reuniões para tomada de decisões e definição de diretrizes e ações da escola; com a indicação dos
diretores escolares, mesmo quando esses são professores aprovados em concurso público realizado pela
administração estadual, enfim, na organização e funcionamento da escola como um todo.
158
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
159
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
prescrever a organização das instituições educacionais. Nessa perspectiva, defendia-se a autonomia para a
adequação de cada sistema escolar às condições de sua região, os sistemas de ensino municipais e estaduais
precisavam de liberdade, flexibilidade e iniciativa. Nos debates acerca da elaboração da LDBEN emergiram-se
intensas discussões sobre a “unidade”, “flexibilidade” e “descentralização” da Lei para a constituição de um
sistema de ensino democrático e articulado. As propostas referentes aos princípios da LDBEN expressavam um
projeto de modernização da sociedade. Esperava-se que a Lei se adequasse a dinâmica social, que exigia soluções
a problemas encontrados no contexto educacional, como a insuficiência de vagas para matrículas e de
investimentos para fundação e custeamento de escolas urbanas e rurais. O contexto econômico, político, cultural
e social do país desencadearam a necessária valorização da escola pública, sendo a LDBEN definida como
importante para o desenvolvimento do ensino público e garantia da educação popular. A expectativa quanto a
uma legislação específica a orientar a estrutura de toda a educação nacional, promoveu mobilização de diversas
instâncias sociais, que percebiam na educação instrumento de civilidade e progresso social.
escolas públicas pelo Estado e, por outro, a ida assídua e o não abandono dos bancos escolares pelos alunos. A
escolarização obrigatória é um importante mecanismo de homogeneização cultural e de constituição de novos
costumes. Contudo, não se pode descrever a conduta dos sujeitos da escolarização pelos objetivos que a lei
prescreve. O que queremos problematizar é como a imposição da instituição escolar à vida social e a
escolarização obrigatória dos sujeitos foi recebida por seus utilizadores na história. Tomando como fonte os
relatórios de inspetores e diretores escolares e de diretores gerais de ensino, depoimentos e memórias impressas
de professores primários, além do Jornal “Folha da manhã”, me propus a analisar esta problemática a partir da
implantação da obrigatoriedade escolar do ensino primário no estado de São Paulo nos anos 20 do século XX,
observando as tensões advindas dos diferentes usos feitos, pelos alunos, da instituição escolar. A obrigatoriedade
do ensino primário foi instituída legalmente em São Paulo em 1874, por meio da Lei nº 9, denominada Lei da
Obrigatoriedade do ensino. No entanto, os inspetores escolares e diretores de ensino, nos relatórios que
perpassam a década de 1910, são unânimes em assinalar a necessidade de uma maior e melhor aplicação da lei.
A execução, com maior rigor, do dispositivo de obrigatoriedade do ensino primário, a partir da reforma do ensino
paulista de 1920, assinala uma face importante do processo da escolarização das crianças. Indago sob quais
circunstâncias os inspetores escolares, os diretores de ensino, os(as) professores(as) e demais profissionais da
educação reclamaram pelo efetivo cumprimento dos dispositivos legais? Sob que estado de coisas os legisladores
instituíram a obrigatoriedade e a colocaram em execução de forma, às vezes, autoritária? A escola pública
primária, ao ampliar as possibilidades de acesso ao ensino, multiplicara as possibilidades de sua utilização. A
obrigatoriedade de frequência escolar, embora estipulada em lei, pouco alterara a prática de utilização da escola
pelas camadas mais pobres. O tempo de permanência das crianças na escola variava, podendo ser de alguns
meses, um ou dois anos. Tal fato, de certo modo, frustrara os objetivos de modernização da sociedade através da
escola, levando muitos políticos e agentes do ensino a representar as populações mais pobres como indiferentes
à escola e ao ensino.
utilizadas fontes presentes no Arquivo Público Mineiro, tais como correspondências entre diretores de Grupos
Escolares e Secretária do Interior. Além disso, outras fontes que tratavam da frequência escolar foram
consultadas, como mapas de matrícula e relatórios de final de ano. Podemos concluir que vários eram os fatores
que impactavam a frequência escolar de crianças e crianças pobres na educação pública mineira no período
analisado. Dentre eles podemos elencar a falta de adesão dos pais dos alunos à educação escolar. A falta de
recursos para a manutenção da vida nestes grupos também causava impacto negativo na frequência escolar. A
falta de uniforme e material escolar também eram fatores determinantes da baixa frequência, assim como as
doenças que ou causavam óbito nos alunos, ou os mantinham afastados da escola por longos meses,
interrompendo sua formação no ano escolar e todos os exemplos eram alvo de intervenção dos agentes
escolares através da caixa escolar e demonstram como essa associação agiu em favor de frequência escolar em
Minas Gerais.
partir desses projetos, descrevemos um histórico da formação do trabalhador do comércio em Minas Gerais a
partir do recorte temporal definido em função da proposta curricular original da instituição escolar pesquisada.
ECCSL foi criada por meio do Decreto nº. 7.114, de 09/2/1926, em conformidade curricular com o Decreto nº.
7.007, de 13/10/1925. O objetivo curricular original era formar Guarda-Livros e Auxiliar do Comércio para o
exercício de atividades comerciais mais gerais. A extinção desses cursos ocorreu em atenção à Reforma
Capanema, instituída por meio do Decreto nº 6.141, de 28/12/1943. Trata-se de um estudo documental, de
problematização de fontes, que permitiram compreender as tendências de pesquisa histórica sobre instituições
educacionais, ao considerar as especificidades e singularidades regionais e locais como importantes referências.
Tomando como aporte teórico pesquisadores como Magalhães, Gatti Jr. e Sanfelice, esse artigo foi desenvolvido
seguindo a metodologia de pesquisa da micro-história, em relação à delimitação do campo social estudado.
Nesse aspecto, a utilização dos relatórios e mensagens de presidentes do Brasil e de Minas Gerais justifica-se pela
necessidade de integrar a instituição escolar, em análise, a uma realidade mais ampla, para que ela possa ser
compreendida e explicada a partir da multidimensionalidade de sua existência histórica. Para analisar essas
fontes, recorremos às contribuições da História da Educação, pelo viés da História das Instituições Escolares,
cujos pressupostos contribuíram para evidenciar a dinâmica da historicidade da Escola. A opção pela História das
Instituições Escolares tem a ver com a possibilidade dessa abordagem na apreensão dos elementos que conferem
identidade à instituição educacional. Tornou-se possível, desse modo, construir uma escrita capaz de ilustrar
sujeições, negociações, burlas e conflitos ocorridos nos processos legislativos, nas inter-relações sociais e nas
rotinas escolares. Ademais, tal abordagem permitiu identificar os vínculos entre a ECCSL e as propostas estaduais
inseridas em um discurso republicano, além de esclarecer a opção de se pensar uma escola de formação do
trabalhador do comércio em Minas Gerais consoante com propostas republicanas nacionalmente difundidas pelo
Governo Central nas primeiras décadas da República.
164
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
expansão da Rede de Educação Profissional desenvolvido pelo MEC, os documentos internos do IFRN que tratam
da criação dos Campi e os relatórios de gestão produzidos por esses Campi do IFRN. Os resultados da pesquisa
apontam para muitos avanços na Educação Profissional no Brasil nas duas últimas décadas. No Rio Grande do
Norte, que até fins do século XX possuía dois campi (Natal e Mossoró), nas primeiras décadas do século XXI foram
criados mais 17 que estão espalhados pelas quatro microrregiões potiguares abrangendo uma média de 2
milhões de habitantes. Porém, para além desses avanços em termos numéricos, há grandes desafios que a
Educação Profissional enfrenta e precisa solucionar para que se consolide e cumpra com os seus objetivos. São
alguns deles: a formação de professores para atuar nessa modalidade, a manutenção da qualidade do ensino, a
satisfação das necessidades da população abrangida, a dinamização das regiões e microrregiões onde se
instalam, a destinação de recursos para a infraestrutura, dentre outros.
166
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
167
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
a questão, como fora mencionado, da estatização do ensino, pois a educação passou a ser razão de Estado, que,
no século XVIII, de acordo com Silvia Brügger (2007, p. 56), não é sinônimo de “uma entidade abstrata, mas sim
de instituições e pessoas investidas de autoridade pela coroa portuguesa”. Com essa lei, a estrutura e a finalidade
do ensino mudam completamente. Esta última deixa de focalizar a formação do homem temente a Deus para ser
uma formação do homem civilizado apto à guerra e a realizações comerciais, a profissão docente e os métodos
de ensino são regulamentados.
técnica, o nível intelectual da população rural, preparando agricultores, veterinários e industriais esclarecidos
pela aquisição de conhecimentos especiais que pudessem ser utilizados em escolas normais, de ensino agrícola e
zootécnico, em cursos voltados para a indústria e farmácia. Outras importantes leis vieram como maneira de
aprimoramento dessa Lei, e que também tratavam da organização do ensino profissional primário, do ensino de
ofícios, como é o caso da Lei n0 203, de 1896, Lei n0 438 de 1906, Lei n0 439 de 1906, Lei n0 533 de 1910, Lei n0
800 de 1910 e Lei n0 895 de 1925, bem como de leis que visavam incrementar a formação de operários e
contramestres nacionais na tentativa de amenizar os problemas da instrução profissional em Minas Gerais. Os
discursos das reformas da educação profissional, no debate legislativo, são preponderantes, pois é nele que é
possível captar a circulação das ideias de vários sujeitos que frequentaram aquele espaço, construindo um novo
conceito de educação/ensino profissional para a realidade mineira. O recorte temporal, de 1891 a 1930,
enquadra-se dentro de um período denominado República Velha, classificação essa recorrente na historiografia
brasileira. O esforço republicano para reformar o ensino foi resultado de uma concepção de sociedade que
ambicionava o adiantamento do país por vias do trabalhador nacional. As referências teóricas utilizadas para o
diálogo com as fontes contam com o aporte da História Política e História dos Conceitos, notadamente a partir
dos teóricos Berstein e Koselleck.
conclusões da pesquisa A Educação Brasileira de 1964 a 1985: impactos da ditadura que tem como objetivo
produzir elementos para a reflexão das formas estratégicas da educação pública brasileira para a atualidade.
Sendo assim, partimos da premissa que as relações de força que se constituíram nos anos 1950/60 criaram uma
sociabilidade que fortaleceu um aparato ideológico repressivo promovendo uma inflexão em toda sociedade
brasileira e em especial nas políticas educacionais. No campo da História da Educação a memória das políticas
institucionais - públicas e privadas - educacionais durante a ditadura militar, contribuirá para diminuir lacunas e
superar a visão do senso comum sobre o período. Consideramos que mergulhar na análise do projeto
educacional constituído pelos grupos que tomaram o governo através da força nos permite revelar as disputas
contra hegemônicas constituindo os caminhos traçados nos governos militares através de suas diretrizes e
estratégias de execução. Para tal, partimos da ideia de Florestan Fernandes (1980) de que o intuito do governo
estabelecido pelo golpe era impedir a consolidação do regime democrático, constituído na área educacional nos
anos 1950/60, através da recuperação das bandeiras de luta do Manifesto dos Pioneiros (1932), de forma
ampliada pelo Manifesto "Mais uma vez convocados" (1959) onde educadores, intelectuais e políticos se
organizaram reivindicando educação pública e gratuita. Podemos afirmar que estes foram anos férteis para a
História da Educação Brasileira conduzida por nomes que consolidaram esse campo como, por exemplo, Anísio
Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Carneiro Leão, Armando Hildebrand, Pachoal Leme, Paulo Freire,
dentre outros. Esses anos já se tornaram referenciais para o contexto da educação. Nos propomos a decifrar a
educação do período com a dualidade que ela se propõe: face condutora de um projeto emancipatório ou base
para a estruturação e conservação de um projeto reacionário. É necessário pensar que mesmo em períodos de
retração há um embate entre as forças hegemônicas e contra hegemônicas que revela o conflito inerente a
sociedade de classes. É, nesse sentido, onde a História político-pedagógica se faz central que este texto se insere
com o objetivo de revelar as forças políticas condutoras da educação no período histórico após o Golpe e suas
consequências.
170
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
da população paraibana e as condições que se encontrava a instrução pública primária na Província, podemos
inferir que a população pobre também teve acesso às primeiras letras pela defesa da instrução ser também
considerada um meio de acesso à civilização. Mesmo que para isso fosse necessário enfrentar as precárias
condições em que se encontrava o ensino paraibano.
172
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
outro lado, ao invés de mecanismo de consenso, constituía-se no próprio campo onde o conflito social se
desenvolvia”. Essa consideração estimula-nos a revisitar as medidas legais destinadas ao ensino secundário que
foram implementadas no período pós-1930 e formular a hipótese de que as características atribuídas ao
secundário por meio das políticas públicas aprovadas foram resultado da batalha de projetos distintos para esse
nível de ensino. Foi nos ensaios de Clarice Nunes onde encontramos elementos para começar a ponderar sobre
as concepções de educação secundária em disputa, concepções essas que resultaram das forças que rivalizavam
pela direção do campo educacional no pós-1920: os católicos e os educadores profissionais. No grupo dos
católicos, a autora destaca a atuação e as deliberações de Gustavo Capanema que, enquanto Ministro da
Educação, instituiu uma reforma da educação secundária em 1931 e 1942. Já no grupo dos educadores
profissionais, ela aponta Anísio Teixeira como um intelectual que elaborou e implementou, no então Distrito
Federal, uma outra proposta de ensino secundário. A partir das observações sinalizadas, foi elaborada a proposta
do presente artigo: ponderar sobre as ideias de Teixeira para o ensino secundário brasileiro, utilizando como
fonte de investigação as suas próprias produções teóricas. Todo esse exercício de reflexão parece-nos
fundamental para, de um lado, fugir daquelas perspectivas teórico-metodológicas ainda comuns nas pesquisas
em História da Educação que trabalham tanto com as ideias de maneira descolada, desencarnada ou autônoma
em relação às instâncias e às contradições da realidade e de maneira independente dos agentes históricos e das
práticas sociais, como se elas tivessem vida própria. Por outro lado, tal exercício é importante na medida em que
desenvolve uma temática ainda pouco explorada por aqueles que tomam o pensamento de Anísio Teixeira como
objeto de investigação.
174
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
175
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
18.000 alunos, porém o índice de analfabetismo ainda era grande. Dedicado Luiz Damasco Penna à orientação
das práticas pedagógicas deixou vários estudos, um deles “Horário para as escolas Isoladas” (1934), abordado
neste estudo. Dão aporte teórico a esta pesquisa: Dosse, “O desafio biográfico – escrever uma vida ” (2009); a
dissertação (UNISANTOS) de Silvio Luiz Pasquarelli, “A presença de Luiz Damasco Penna [...]”(2012); Frugeri, “A
educação das classes populares no Litoral Norte Paulista (2006); Pereira,” Crise da educação brasileira: problema
da educação rural(2011); Silva (“Ilhas de saber”( 2004). As obras do autor, seus relatórios e os Anuários de Ensino
do Estado de São Paulo foram fundamentais.
prol da escola pública e, nesse cenário, a forma de engendrar os segmentos da escola, sobretudo em relação à
qualificação dos professores e a permanência dos alunos, que se consolidaram como principais metas desse
segundo período governamental desse governo. Responder ao projeto de desenvolvimento do setor educacional
no âmbito nacional da criação dessas metas compreendeu uma superestrutura que resultou em outros fatores
como: o método de ensino, a organização curricular, a edificação ou arrendamento de prédios para servirem
como instituição de ensino, além de outros de interesses políticos no alcance das metas traçadas no início do
mandato de Augusto Montenegro (1901), quais foram: reunir escolas em grupos nos centros mais populosos;
suprimir por inúteis as escolas de lugares e povoados, guardando as da sede de municípios e das vilas mais
importantes em que grupos não pudessem ser reconstituídos; dotar grupos e escolas restantes de bom material
escolar; fundar alguns internatos em torno dos quais se constituíssem externatos que servissem de centro para a
população escolar; organizar uma inspeção escolar que oferecesse todas as condições de idoneidade e
praticabilidade; investir no setor de pessoal qualificado, valorizar e recuperar a autoestima do docente; combater
a evasão escolar e aumentar o número de matrículas nos grupos da capital e dos interiores, segundo a principal
fonte de consulta limitada às Mensagens de Governo, as quais transcrevem os discursos políticos do período
estudado. Assim sendo, enfocar uma compreensão da política educacional do Estado do Pará nesse período,
representa um instrumento legítimo de construção do estado e da nação e de produção de uma suposta
população culturalmente homogeneizada, encarnada no processo civilizador de um modelo de cidadania
moderna, pois, a intenção de difundir principalmente o que correspondia à educação primária no estado do Pará
já se projetava desde o final do século XIX quando a principal tarefa do projeto de modernização era educar a
população em consonância com o ideário civilizatório.
177
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
mais adequada, e levaria à outro problema, encontrar profissionais dignos ao cargo. Notamos que Não só os
métodos de ensino são responsáveis por uma boa educação, mas também o ambiente escolar e a boa formação
de professores são vistos como parte das práticas de ensino. E o edifício escolar e os materiais necessários para
que ele funcione são os elementos da organização que merecem maior cuidado, sendo a escola responsável por
habilitar o indivíduo a viver em sociedade.
179
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
escolares. A metodologia adotada consistiu na crítica documental, a partir de um levantamento inicial junto ao
Acervo Histórico da Biblioteca da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no
intuito de identificar e listar a ocorrência de artigos que abordassem os temas da classificação de alunos,
organização de classes, desempenho, rendimento, frequência, repetência, entre outros. Foram consultados
sessenta e dois números da Revista do Ensino, dos quais vinte e dois artigos foram selecionados por
apresentarem características de vinculação específica à questão do rendimento escolar. O estudo permitiu
constatar que há uma maior incidência ou presença do tema em artigos publicados entre os anos de 1951 e 1955.
A partir da leitura dos mesmos foi possível identificar a presença de grupos que disputavam a influência na
definição de rendimento escolar no âmbito dos problemas da educação. No entanto, sob esse aspecto, a forma
como estes elementos são apresentados assume a conotação de prescrição, como uma espécie de “dever” de
todos e de cada um. Tendo em conta que para a escrita da história das políticas públicas, conforme alerta
Dominique Julia, importa perceber a distância entre a realidade e a norma prescrita, cabe observar como a
discussão sobre o rendimento escolar aparece na Revista do Ensino, sempre visando à formação do discurso da
política educacional. O trabalho procura demonstrar que no período estudado a circulação de estudos e a
expressão de opiniões sobre o rendimento escolar teve como efeito ampliar o controle do Estado sobre os
escolares e os docentes.
intervenção municipal e pondera o conjunto de competências municipais em matéria de instrução pública. Utilizo
como fontes documentação oficial, incluindo atas da Câmara Municipal e outros atos do executivo,
complementados por reportagens da imprensa e bibliografia especializada, compondo um quadro que esteja
inter-relacionado com o processo educacional de Mato Grosso e do Brasil. Procuro responder: a) Qual foi o papel
atribuído pelos representantes políticos ao município cuiabano relacionado à instrução pública? b) Apreendendo
a escola como uma ação local, como os documentos oficiais, relatórios e artigos de imprensa defenderam a
necessidade de descentralização do ensino? Ressalvo que a Constituição Federal Brasileira só foi promulgada em
1891 e dispôs que as ações do Congresso Nacional naquilo que se referia à educação seria cumulativa
considerando a ação dos governos locais. Essa Constituição reconheceu formalmente a autonomia municipal no
artigo 68. Não foi diferente com a Constituição do Estado de Mato Grosso também promulgada em 1891 que
definiu que o município seria autônomo, independente em seus negócios e acresceu que caberia a ele criar,
manter e subvencionar escolas de instrução primária (Art. 52, § 16). Constato que nessa nova forma de governo
transparece uma tentativa, ainda incipiente, de o município ocupar uma posição decisória no campo educacional
no âmbito local. Nessa visão, percepções educativas circulantes no período, de um tempo e de uma proposta
educativa coerente com as concepções modernas incidem na proposta que a República tencionava instalar.
Nessa possível acepção, o poder local se entrelaçava aos objetivos de elevar valores morais, concepções,
atitudes, enfim, modos específicos republicanos e, sobretudo de produção e reprodução de organização da vida
política. Logo, os governantes precisavam prover novas formas para manutenção da instrução pública mato-
grossense visando novas configurações para o ensino público. No caminho da descentralização era preciso um
poder com capacidade de tomar iniciativas frente à educação pública, em complemento ou para além das
atribuições concedidas pela União e pelo estado.
181
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
182
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
configurar o conceito de “cidade universitária”, refletir sobre disposições teóricas de arranjos econômicos
temáticos, bem como sistematizar características das primeiras cidades universitárias medievais e de algumas das
principais cidades universitárias contemporâneas no mundo e no brasil. Utiliza como referenciais teórico-
metodológicos as concepções de Pierre Bourdieu no que se refere a campo, região e capital intelectual. Dialoga
com a historiografia medievalista de Jacques Verger e Jacques Le Goff, quanto às cidades, universidades e
intelectuais na idade média. Destaca, como resultados da pesquisa, o peso político, econômico e social que as
universidades contemporâneas tem nas cidades universitárias da atualidade, em uma contradição entre a
simbiose e o conflito, nas cidades universitárias de médio porte do interior brasileiro.
do Brasil com os Estados Unidos e o ensino das línguas modernas adquiria maior valorização desde as reformas
de 1931, propostas pelo ministro Francisco de Campos, que reestruturaram todo o ensino secundário, através do
decreto N.º 20.833, de 21 de dezembro de 1921, e das orientações anexas ao documento, que, pela primeira vez,
indicavam a metodologia a ser utilizada para as aulas das línguas vivas, instaurando, oficialmente, pelo menos na
legislação, o Método Direto no Brasil, um marco de grande importância para a história do ensino das línguas no
país. A Reforma Capanema, promulgada pelo decreto lei N.º 4.244, de 09 de abril de 1942, propõe uma
reestruturação do ensino médio, e, no tocante ao ensino das línguas vivas, mantém o Método Direto como o
oficial, amplia a carga horária de estudo dessas línguas, e discorre sobre a estruturação necessária para o ensino
de idiomas, como a implantação do laboratório de línguas, por exemplo. Desta forma, nota-se que a importância
dada ao ensino de idiomas era crescente no país. Entretanto, de forma paradoxal, a LDB de 1961 retira a
obrigatoriedade do ensino de Língua Estrangeira em todo o ciclo ginasial e colegial, deixando a cargo dos Estados
a opção pela sua inclusão nos currículos das últimas quatro séries do ginásio, cuja duração era de oito anos à
época. Ao não incluir as línguas estrangeiras dentre as disciplinas obrigatórias – Português, Matemática,
Geografia, História e Ciências –, a LDB de 1961 ignora a sua importância, deixando sob a responsabilidade dos
Conselhos Estaduais decidirem sobre o seu ensino. Assim, visando à compreensão do porquê dessa não
obrigatoriedade e, também, ao delineamento da dimensão formativa do ensino das línguas estrangeiras, têm
sido investigados os discursos legislativos, pedagógicos e linguísticos que trataram da questão, desde 1961. Como
pressupostos teóricos, utilizamos a História das Disciplinas Escolares (CHERVEL, 1990); os estudos sobre Currículo
(GOODSON, 2005) e trabalhos pioneiros no campo da Linguística Aplicada que contribuíram para uma história do
ensino das línguas no Brasil (CHAGAS, 1957; CARNEIRO LEÃO, 1935). Como fontes, utilizamos a legislação e a
historiografia educacionais.
escolas secundárias nas zonas rurais também é relacionada à ausência de lideres camponeses, outra dimensão
que poderia provocar o fracasso do povoamento uma vez que defendia-se a idéia de uma população que deveria
exercer o auto governo e buscar – por seu trabalho e iniciativa – a construção das condições materiais e culturais
necessárias a gestão da vida. De outro, os discursos sobre a imigração européia para Goiás produziam efeitos de
mudanças, modelagens e remodelagens do campo educacional goiano impactando em programas e currículos
escolares e no estatuto jurídico-político dos professores primários goianos.
Assim, combater uma escola desonesta, inadequada, foi a meta traçada para mitigar os índices alarmantes de
analfabetismo crônico pelo qual o Rio de Janeiro estava acometido. A gestão de Yedda traz preocupações
latentes para a arena de lutas que disputavam poderes tanto a nível do sindicato dos professores, quanto aos
outros profissionais que não estavam envolvidos naquele Programa Especial. Os embates no pensamento
educacional da época foram intensos e conflituosos, acabando por definhar a maior marca daquele Programa, os
Centro Integrados de Educação Pública (CIEPs), sucumbidos posteriormente após a hegemonia brizolista e
trabalhista. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é estudar os impactos e contradições das reformulações
propostas enquanto metas no I Programa Especial de Educação. Tais metas foram destinadas aos mais diversos
aspectos da gestão educacional que focalizava a classe historicamente marginalizada em nossa sociedade. Assim,
Yedda e sua equipe gestora propôs, cautelosamente, metas ligadas ao currículo do ensino primário, a uma
proposta inovadora de educação juvenil no horário noturno, à implantação de escolas de demonstração, ao
treinamento de professores em serviço, ao plano de carreira e gratificações encampadas ao salário do professor
regente, à merenda escolar de qualidade, bem como à criação dos CIEPs, dentre outras. Os CIEPs foram a grande
revolução educacional do Rio de Janeiro, sobretudo por ter sido o marco da educação em tempo integral. Assim,
espera se que este trabalho possa recuperar um período histórico importante na educação pública fluminense,
que transitoriamente ora afirma ora desmente verdades acarretadas ao legado da Res pública no nosso país.
presentes na imprensa periódica. Para esse estudo, realizou-se um mapeamento no jornal “Folha da Manhã” em
versão digital. Foram analisadas 897 edições, que correspondem à totalidade de números editados de agosto de
1935 a maio de 1938. Destas, foram selecionadas 476 edições que continham alguma informação sobre as
questões educacionais do período, estabelecendo-se uma série. Buscando notícias sobre as práticas
administrativas de Almeida Júnior enquanto diretor do ensino no estado de São Paulo, novos recortes estão
sendo operados. O trabalho com a imprensa periódica tem a preocupação de realizar um mapeamento útil para a
pesquisa, no sentido de apreender os detalhes do cotidiano que interessaram ser noticiado. A intenção é analisar
as notícias sobre as ações de Almeida Júnior na Diretoria Geral de Instrução Pública do Estado de São Paulo. Na
medida em que os debates relativos à educação costumam encontrar nos jornais um caminho para atingir
amplos setores da população, um periódico pode, de acordo com Magaldi (2008), contribuir para a profusão de
um ideário educacional ou de uma perspectiva acerca do que deve ser a educação e sua organização. Nesse
sentido, a imprensa periódica como fonte para a pesquisa é entendida não como um receptáculo de informação,
mas, segundo a compreensão de Luca (2006) como uma peça documental que traz consigo um amplo espectro
de elementos socioculturais do momento em que foi produzida. Outro ponto que se observa no trabalho com a
imprensa periódica é acerca do estatuto do conteúdo publicado. Nessa questão, analisa-se a objetividade, a
neutralidade e, ainda considera o lugar do periódico, a representação social de seus atores e as relações de
interesses que permearam sua produção. Além disso, se atenta para as motivações que levaram à decisão de se
dar publicidade ou de preterir determinadas ações de governo. A presença de Almeida Júnior na imprensa
produziu uma forma de discurso sobre a prática administrativa que interessa tanto pela intenção da escrita
quanto pela possibilidade de comparação com as ações descritas em outros suportes. A imprensa periódica,
assim delimitada, é tomada como objeto de construção histórica e uma fonte para a pesquisa que, apesar de
seus limites, permite o acesso às decisões de Almeida Júnior alargando as condições de interpretação das
práticas da administração do ensino público no período.
188
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
189
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
preparação e oferta de empregos onde fosse mantido o papel da mulher, valorizando suas características. Na
década de 1920, quando o Brasil participa de grandes transformações políticas e culturais e se define um grande
embate entre oligarquias pela disputa de hegemonia nacional, o país assistiu uma ampla organização de
mulheres, que em 1922 criaram a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, organização da sociedade civil
que não buscava disputar a hegemonia, e sim ampliar os direitos dentro da ordem vigente, com influência
internacional dos grupos sufragistas. A organização era composta por mulheres populares e por mulheres
integrantes de grupos dominantes. Entende-se a Federação como um movimento em busca de reforma para
ampliar os direitos das mulheres na vida pública, incluindo a educação, não extrapolando a questão da
representação feminina e tarefas típicas femininas, se adaptavam a ela, procurando potencializar a área de
atuação da mulher e nas discussões de conquistas de direitos.
190
Comunicações Individuais
Eixo Temático 2
ESCOLARIZAÇÃO DA INFÂNCIA EM COMUNIDADES ÉTNICAS POLONESAS NO RIO GRANDE DO SUL (1875 – 1939)
ADRIANO MALIKOSKI........................................................................................................................................195
PROCESSOS CULTURAIS E A ESCOLARIZAÇÃO DOS ITALIANOS EMIGRADOS NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DE 1900.
PERCURSOS E INSTRUMENTOS PARA A PROMOÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL ITALIANA NO BRASIL,
DURANTE O FASCISMO (1922-1943)
ALBERTO BARAUSSE .........................................................................................................................................195
O ‘ESTADO NOVO’ E A EDUCAÇÃO DOS FILHOS DOS IMIGRANTES ALEMÃES NO SUL DO BRASIL: 1937-1945
ARICLÊ VECHIA .................................................................................................................................................196
A IMIGRAÇÃO ITALIANA PARA A PROVÍNCIA DE SÃO PAULO: A EXPERIÊNCIA ESCOLAR ENTRE FINS DO SÉCULO
XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX NOS NÚCLEOS DE SÃO BERNARDO E SÃO CAETANO.
CLAUDIA PANIZZOLO ........................................................................................................................................196
HISTÓRIA ORAL: BALANÇO DA PRODUÇÃO HISTORIOGRÁFICA DISCENTE ORIUNDA DOS CAMPOS DA HISTÓRIA
E DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
GENIRA ROSA DOS SANTOS............................................................................................................................... 198
A CONSTRUÇÃO DO CURRÍCULO EM UMA EXPERIÊNCIA ESCOLAR PARA MENINOS PRETOS E PARDOS NA CORTE
IMPERIAL
HIGOR FIGUEIRA FERREIRA ............................................................................................................................... 199
IMPRESSÕES SOBRE O NEGRO NA INSTRUÇÃO PÚBLICA EM MATO GROSSO: DO FINAL DO IMPÉRIO AOS
PRIMEIROS ANOS DA REPÚBLICA
PAULO SÉRGIO DUTRA......................................................................................................................................202
A CAPOEIRA E A LEGISLAÇÃO CRIMINAL NO BRASIL: DO PERÍODO DA COLÔNIA ATÉ O INÍCIO DO SÉCULO XIX
RICARDO MARTINS PORTO LUSSAC...................................................................................................................203
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
OS POVOS INDÍGENAS NO LIVRO A FADA BRASILEIA E NO LIVRO DE LEITURA DA SÉRIE BRAGA II: UM ESTUDO
COMPARATIVO
ROSEANE MARIA DE AMORIM .......................................................................................................................... 205
194
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
instituída pelo Ministério das Relações Exteriores Italiano, em dezembro de 1921, para a reorganização e a
vigilância das escolas italianas nas Américas; mas também as relações produzidas pelos agentes consulares
durante as missões conduzidas nos anos posteriores, no vasto território brasileiro. De tal modo, ao lado de
propostas de redefinição das linhas de intervenção para favorecer os processos de escolarização das
comunidades italianas presentes no Brasil, a comunicação tem o objetivo de evidenciar as mentalidades que
acompanharam a reelaboração da defesa da cultura e da identidade nacionais italianas no Brasil. O estudo se
apoia em documentação inédita, conservada junto ao Arquivo Histórico Diplomático do Ministério das Relações
Exteriores Italiano, juntamente com a análise de documentação impressa.
197
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
198
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
transcrição literal do relato gravado, realizando a seguir a textualização de modo a torná-lo inteligível e,
finalmente, produzindo a transcriação quando o historiador torna-se autor com a colaboração da fonte oral que,
por esta razão, é denominada colaborador. Considerando que, no entender dos referidos autores, entre outros, a
História Oral avança dentro e fora do Brasil e que oferece diferentes abordagens e aplicações praticadas por
historiadores, este balanço consiste em mapear a referida produção historiográfica, identificando: onde os
trabalhos estão sendo produzidos e por quem; quais são os temas de interesse, problemas e objetivos
proclamados; as opções por abordagens e tendências por linha investigativa. Este balanço irá produzir
posteriormente uma analise da produção historiográfica dos campos da História e da História da Educação
comparando semelhanças e diferença no manejo com a História Oral.
filhos sendo supostamente coagidos nas outras escolas em função do aspecto da cor, recorreram ao professor
Pretextato dos Passos Silva, também preto, imaginando que com ele os meninos obteriam melhores resultados.
Para que a escola se mantivesse aberta era necessário, no entanto, que a burocracia imperial anuísse ao pedido
dos pais e do próprio Pretextato, permitindo que a escola mantivesse suas atividades. Através da análise dos
requerimentos por eles enviados à Inspetoria de Instrução – órgão responsável pela educação na Corte – se
tornou possível, a partir de contribuições teóricas do campo da História da Educação e do Currículo, perceber que
as demandas desses pais não eram apenas por uma escola, mas também por um currículo, por uma forma
específica de organização escolar. Sendo assim, foram formulados os seguintes problemas: como se deu o
processo de construção do currículo na escola para meninos pretos e pardos da Corte? Quais eram as
particularidades deste currículo? Quais eram os interesses em disputa na formulação deste currículo? Para a
resolução destas questões foi primeiramente necessário entender de que modo as legislações educacionais
formuladas pelo Estado – compreendidas para efeito deste trabalho enquanto documentos curriculares – se
constituíam enquanto um conjunto de prescrições que visava ancorar as experiências escolares naquele período.
Em seguida, foi preciso analisar de que maneira o currículo da escola de meninos pretos e pardos se amparou
nestas prescrições governamentais, o que possibilitou notar quais eram as similaridades e as possíveis
particularidades que o currículo desta escola apresentava. O desenvolvimento deste trabalho pode contribuir
ainda mais significativamente no entendimento acerca do protagonismo social destes segmentos sociais.
200
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
201
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
prática educativa. O Internacionalismo visualizou-se durante as oficinas, pelas visitas que recebem da França,
Canadá, Espanha e as Madres da Praça de Mayo, da Argentina.
data final, quando do início do governo ditatorial de Getúlio Vargas o integralismo despojou-se, aparentemente,
de sua ação política. Analisou os números do jornal A Offensiva que se encontram no Acervo Plínio Salgado do
Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro-SP e os arquivados na Biblioteca Nacional-RJ. O corpus
documental da pesquisa foi constituído por 748 exemplares. Observou que a ideia de “educação integral para o
homem integral” apresentava-se como uma constante do discurso da AIB e era aplicada com a finalidade de
disciplinar os quadros integralistas e de formar militantes obedientes aos dirigentes e à doutrina do movimento.
As escolas que a AIB fundou foram postas em funcionamento com a função, prioritariamente, de alfabetizar seus
militantes para que pudessem votar e para que fossem doutrinados e submissos. Contudo, não só a esses
intentos as escolas integralistas se prestaram, pois possibilitaram a crianças e adultos o acesso à educação, assim
como ampliaram a possibilidade de atuação no espaço público a mulheres que se tornaram professoras.
203
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
registro de ocorrências. Concomitantemente, a partir do início da segunda década do século XIX, a presença do
jogo-luta da Capoeira começa a ser constatada de modo exponencial, perturbando a ordem e preocupando as
forças de segurança pública no Rio de Janeiro. Cada vez mais os capoeiras figuraram nos registros policiais e em
processos judiciais, o que pode ser amplamente constatado em diversas fontes documentais, principalmente, no
Códice 403, já tão visitado pelos historiadores, guardado pelo Arquivo Nacional. Com a Proclamação da
Independência, foi necessário o desenvolvimento jurídico do novo Estado. Para tanto, a Constituição Brasileira de
1824 determinou o desenvolvimento de um Código Criminal, o primeiro do Brasil, sancionado em 1830. Contudo,
neste período, a prática da capoeira ainda não era considerada crime, pois não constava no referido Código,
continuando a ser tratada no domínio da correção extrajudicial, ainda com a polícia em um papel costumeiro
como agente disciplinar. Deste modo, a ausência de dispositivos legais não impediu que as autoridades policiais
exercessem brutalidade, arbitrariedade e grande quantidade de castigos corporais aos capoeiras durante
praticamente todo o século XIX. Com a proclamação da República, a legislação é reformulada, entrando em vigor
o Código Penal de 1890, que continha artigos específicos de combate à capoeiragem. Escorado pela nova
legislação, Sampaio Ferraz, chefe de polícia, obteve carta branca de Marechal Deodoro para acabar com a
capoeiragem. Com um golpe fatal na espinha dorsal, a capoeiragem carioca nunca mais voltaria a ter a projeção
que obteve no período do Império. A Capoeira só deixaria de ser considerada crime com a reformulação do
Código Penal, em 1942. É necessário entender que a preocupação do Estado imperial brasileiro e, logo após, do
republicano em coibir a Capoeira resultou, em contrapartida, no desenvolvimento de estratégias de resistência e
contra poder por seus praticantes, que repercutiram, consequentemente, também em seus processos
pedagógicos. Fato é que foram profundas as mudanças no jogo-luta da Capoeira carioca durante o século XX.
Neste sentido, ancorada em importantes autores da história da Capoeira, como Soares, Dias e Tonini, esta
pesquisa procurou situar a Capoeira no cenário legislativo de modo a compreender como o Estado, seja o
imperial ou republicano brasileiro, interveio nas manifestações populares e expressões culturais, assim como
também, enquadrava e condenava os comportamentos sociais e criminosos em seus diferentes tempos e regimes
legislativos. Tais constatações fornecem subsídios para a compreensão sobre o fenômeno Capoeira, seu
desenvolvimento e, consequentemente, sobre os elementos constitutivos de seus processos pedagógicos ao
longo a história
204
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
infância apresentadas nos estudos, tomando para análise as concepções de infância indígenas ligadas: à
liberdade e às brincadeiras. O resultado deste trabalho aponta que para ressignificar a infância nas diversas
sociedades indígenas brasileiras, é preciso inicialmente desconstruir o pensamento eurocêntrico de que os povos
indígenas (adultos e crianças) são primitivos, bárbaros, rudes, sem cultura e socialmente inferiores. Faz-se
necessário romper com o modelo eurocêntrico que nos foi repassado desde a colonização do Brasil e, evidenciar
a importância das sociedades indígenas para o futuro da sociedade como um todo.
206
Comunicações Individuais
Eixo Temático 3
CARTAS EDIFICANTES: OLHARES DOS JESUÍTAS PORTUGUESES EXILADOS SOBRE A EDUCAÇÃO E O BRASIL NO
INÍCIO DO SÉCULO XX ......................................................................................................................................219
CARLOS ÂNGELO DE MENESES SOUSA...............................................................................................................219
FONTES DOCUMENTAIS PARA O ESTUDO DAS INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS: O CASO DA ESCOLA RURAL
GERALDINO NEVES CORRÊA EM DOURADOS-MS (1942-1974) .........................................................................220
CLOVIS IRALA....................................................................................................................................................220
HISTÓRIA DA CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS SERVAS DE NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO NO BRASIL: FONTE
PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ....................................................................................................................222
FANEIDE PINTO FRANÇA BITENCOURT ..............................................................................................................222
O USO DAS FONTES ORAIS NA IDENTIFICAÇÃO DAS MEMÓRIAS SOBRE OS MESTRES-ESCOLAS NO SUDESTE
GOIANO (1930-1960) .......................................................................................................................................223
FÁTIMA PACHECO DE SANTANA INÁCIO............................................................................................................223
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
PANORAMA HISTORIOGRÁFICO DA EDUCAÇÃO FÍSICA SOBRE OS ANOS FINAIS DO SÉCULO XIX E INICIAIS DO XX
FELIPE LAMEU DOS SANTOS.............................................................................................................................. 223
CULTURA ESCOLAR E PRÁTICAS EDUCATIVAS NO GRUPO BARÃO DO RIO BRANCO: CARACTERIZAÇÕES A PARTIR
DO ROMANCE “PASSAGEM DOS INOCENTES”..................................................................................................225
FERNANDO JORGE DOS SANTOS FARIAS............................................................................................................ 225
REFLEXÕES SOBRE O USO DAS BIOGRAFIAS COMO FONTES PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO .......................226
FLÁVIO MASSAMI MARTINS RUCKSTADTER....................................................................................................... 226
VANESSA CAMPOS MARIANO RUCKSTADTER .................................................................................................... 226
O DIREITO PORTUGUÊS COMO FONTE PARA ESTUDO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL..227
GILMAR ALVES MONTAGNOLI........................................................................................................................... 227
NATÁLIA CRISTINA DE OLIVEIRA........................................................................................................................ 227
O USO DA IMPRENSA COMO FONTE NOS TRABALHOS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DO PPGE/ UFPB (2007-
2014): ALGUNS APONTAMENTOS ....................................................................................................................228
INGRID KARLA CRUZ BISERRA ........................................................................................................................... 228
EVELYANNE NATHALY CAVALCANTI DE LUNA FREIRE ........................................................................................ 228
O ESTUDO DOS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA E SEUS EXERCÍCIOS: UMA DISCUSSÃO A PARTIR DA ESCOLA
PRIMÁRIA E DA RENOVAÇÃO DOS MÉTODOS DE ENSINO NO BRASIL..............................................................232
JOSEANE ABÍLIO DE SOUSA FEREIRA ................................................................................................................. 232
A ESCRITA DA HISTÓRIA: UMA EXPERIÊNCIA DE PESQUISA COM MICHEL DE CERTEAU E MANOEL DE BARROS
JOSIANE BROLO ROHDEN.................................................................................................................................. 232
210
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
O USO DAS FONTES PARA A HISTÓRIA DE INSTITUIÇÕES ESCOLARES CONFESSIONAIS: O LAR DA IMACULADA
CONCEIÇÃO E A INSTITUIÇÃO ESPÍRITA CASA DO PEQUENINO ........................................................................233
JOSINEIDE SIQUEIRA DE SANTANA ....................................................................................................................233
ROSEMEIRE SIQUEIRA DE SANTANA..................................................................................................................233
ANE ROSE DE JESUS SANTOS MACIEL ................................................................................................................233
O FUNDO MEB COMO POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO DE UMA HISTÓRIA DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS
MONITORES DAS ESCOLAS RADIOFÔNICAS......................................................................................................234
KELLY LUDKIEWICZ ALVES .................................................................................................................................234
A FLOR DE TODA A FILOSOFIA: PEDAGOGIA E HISTÓRIA DA CULTURA NAS CIÊNCIAS DO ESPÍRITO DE WILHELM
DILTHEY ...........................................................................................................................................................239
MARCUS VINICIUS CORRÊA CARVALHO.............................................................................................................239
FICHAS DE LEITURAS COMO FONTES PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM SERGIPE: UMA ANÁLISE SOBRE AS
NOTAS DO INTELECTUAL CARVALHO NETO......................................................................................................239
MARIA DO SOCORRO LIMA ............................................................................................................................... 239
CLARA, CATARINA, PAULO E TERESA: UMA ANÁLISE DA PEDAGOGIA DO CATOLICISMO POR MEIO DAS CARTAS
MARIA JOSÉ DANTAS ........................................................................................................................................240
211
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
CAPPELLA DEGLI SCROVEGNI UM ESTUDO SOBRE O HOMEM DO TRECENTO ITALIANO SOB O OLHAR DE GIOTTO
DI BONDONE....................................................................................................................................................242
MEIRE APARECIDA LÓDE NUNES....................................................................................................................... 242
TEREZINHA OLIVEIRA........................................................................................................................................ 242
OS ESTUDOS SOBRE AS ESCOLAS SECUNDÁRIAS RENOVADAS DE SÃO PAULO NA DÉCADA DE 1960 E A CRIAÇÃO
DE UMA MEMÓRIA EDUCACIONAL..................................................................................................................242
NATÁLIA FRIZZO DE ALMEIDA........................................................................................................................... 242
O QUE OS LIVROS DE MATRÍCULA NOS MOSTRAM SOBRE OS ALUNOS DO 2° GRUPO ESCOLAR DA CAPITAL
MINEIRA (1907-1916) ......................................................................................................................................244
PRISCILLA NOGUEIRA BAHIENSE ....................................................................................................................... 244
MATER ET MAGISTRA: A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA CATÓLICA E A PEDAGOGIA VICENTINA (1972 À 1985)249
RODOLFO KNESEBECK....................................................................................................................................... 249
212
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
A EUGENIA E AS PRÁTICAS EDUCATIVAS VOLTADAS AO COMBATE DA SÍFILIS NO PARANÁ DOS ANOS 1920...254
SILVIA DE ROSS.................................................................................................................................................254
FONTES PARA O ESTUDO DA PEDAGOGIA COMO DISCIPLINA NAS ESCOLAS NORMAIS DO ESTADO DE SÃO
PAULO (1874-1959)..........................................................................................................................................256
THABATHA ALINE TREVISAN ............................................................................................................................. 256
DIARIO DO RIO GRANDE: O USO DO JORNAL COMO FONTE DE PESQUISA PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
GAÚCHA (1848-1889).......................................................................................................................................257
VANESSA BARROZO TEIXEIRA............................................................................................................................ 257
213
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
215
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
crianças para o ingresso nas escolas, sobre o período e o horário das aulas. Presumimos que este regulamento,
foi influenciado pelos princípios republicanos gaúchos e liberais, visto que já em seu primeiro capítulo
encontramos ideais defendidos por estes educadores. Ademais, neste processo promoveram-se várias reformas
na Instrução Pública Municipal, tais como, a normatização da educação municipal, a municipalização do
Gymnasio Nossa Senhora Auxiliadora, a encampação municipal da Escola de Música e a construção da Praça de
Desportos, um templo dedicado a conjugação de todos os discursos republicanos presentes na Primeira
República gaúcha.
escola que os elementos culturais são transformados e ressignificados e que esse papel de ressignificação é
empreendido por aqueles que exercem o ofício de professor. A partir de sua perspectiva de um entrelaçamento
entre cultural, história e realidade material, percebe-se, também, a relação de crítica que o autor – somando-se a
estudiosos do calibre de Edward P. Thompson – estabelece com perspectivas mecanicistas e reducionistas que
procuram, amiúde, explicar os fenômenos educacionais e curriculares como meros reflexos da estruturas
econômicas e reprodutores, portanto, de uma ideologia dominante. Finaliza preocupando destacar, em primeiro
lugar, que não se trata de uma defesa de que a obra de Williams funcione como panaceia ou camisa de força
para os estudos sobre história do currículo e da profissão docente; em segundo, que, dado o seu potencial de
análise, ao captar as intrínsecas relações entre as dimensões objetivas e subjetivas da realidade, sua obra pode
contribuir com perspectivas de estudos que compreendam o inevitável movimento da história, uma vez que ela é
processo, e ques somando-se ao conceito thompsoniano de experiência, não se pode investigar nenhum objeto
histórico, considerando a existência de elementos a priori; os homens se fazem sujeitos a partir de múltiplas
determinações que só podem ser compreendidas dentro do movimento da história e não de maneira enrijecida e
reducionista. A obra do autor pode trazer à baila outros elementos para a problematização da história do
currículo, da profissão docente, ampliando, ainda mais, a diversidade epistemológica configuradora da pesquisa
em História da Educação.
218
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Ricoeur, 2010) para o trabalho com a história do tempo presente: em seu processo próprio de criação, a história
é reescrita indefinidamente utilizando-se o mesmo material, mediante correções, acréscimos e revisões.
caminhos para a abordagem dos conteúdos de forma interligada e um exemplo disto é o estudo dos conjuntos de
números porque, quando se amplia os campos numéricos, estes, historicamente, estão associados à resolução de
situações-problema que envolvem medidas. Presta-se atenção, ainda, para a descrição do livro, que se apresenta
em volume único, se estrutura em oito capítulos e aborda conteúdos relacionados com números inteiros,
frações, potências e raízes, medidas, razões e proporções, aplicação das progressões e logaritmos. Pode-se
perceber que os conteúdos são apresentados a partir de definições formais e seguidos de exemplos, que
traduzem a preocupação da Aritmética como um campo de estudo separado da Álgebra e da Geometria,
distintamente da tendência atual em que estes campos estão integrados, e que a abordagem usada para
introduzir os sistemas metrológicos direciona pouca atenção para aspectos conceituais e teóricos, mas destaca
tabelas e conversões entre os sistemas, com ênfase em exercícios e cálculos que requerem memorização, e em
situações-problema relacionados com a vida das pessoas. Destaca-se, ainda, que o livro de Luiz Schuler pode ter
tido circulação restrita ao Rio Grande do Sul, uma vez que não se encontrou referências a ele nos principais
trabalhos que abordam o ensino de Aritmética no Brasil, em especial os de Zuin (2007) e Costa (2010).
220
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
da Educação (UFMG) -, que tiveram o ensino secundário como objeto e/ou fonte de pesquisa, principalmente
aquelas orientadas pelo estudo das disciplinas escolares, instituições escolares, currículo, organização do ensino
e/ou cultura escolar. Na condição de objetos, as dissertações e teses são entendidas como impressos, que
selecionam, legitimam e distribuem conhecimentos, mobilizam discursos na produção das verdades acerca do
processo de escolarização e, como fontes, particularmente escritas e dialógicas, ocupam espaço privilegiado de
reconstituição das ideologias ou mentalidades educativas subtraídas a uma projeção particular. As análises aqui
apresentadas dizem respeito ao estudo comparado de 4 trabalhos, 2 de cada grupo de pesquisa, orientadas pela
explicitação de uma das técnicas do estudo comparado, as áreas de comparação, que permitem analisar as
diferenças e as semelhanças, de rastrear os conteúdos das informações nos diversos contextos onde estão
construídas e estabelecer relações com as distintas situações em que foram/são produzidas. Para compreendê-
las desta forma temos constituído práticas de pesquisa alimentadas por percursos teórico-metodológicos que,
entendemos parte de uma versão particular dos estudos comparados, isto é, que recorre à educação e à histórica
comparada, tomando-as como resultado de um movimento duplo, de um lado, marcado por uma presença
crescente das questões educativas na criação de identidades escolares, definidas não tanto numa perspectiva
geográfica, mas no sentido de uma pertença a certas comunidades discursivas. De outro, deslocando-se da
referência tradicional inter-países para dimensões simultaneamente intra e extra nacionais, isto é, centradas nas
comunidades de referência dos agentes locais e nos processos de regulação ao nível nacional. Essa investigação
está ancorada na hipótese de que os estudos sobre a educação secundária produzidos no sul de Mato Grosso e
em Minas Gerais, em comparação, registram processos de relativização cultural e ideológica promotoras de
novas formas de entender o currículo, as disciplinas escolares, a organização do ensino e/ou a cultura escolar, ou
melhor, podem produzir outra escrita histórico-social do currículo. Escrita essa em que os as teses e dissertações
possibilitam a atenção às condições e as táticas (no sentido apresentado por Certeau, 1994) na condução de
operações de construção de sentidos.
221
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
se fez por meio de procedimentos técnicos de investigação que se amparam na análise documental, na
investigação historiográfica e na pertinência de matrizes teóricas desenvolvidas em estudos que tratam de
métodos pedagógicos mais próximos das tendências disciplinadoras. O construto teórico também destaca a
importância de autores ingleses que entendiam o letramento como tática das classes menos favorecidas. Os
resultados obtidos revelam os interesses de classes que Sara Trimmer defendia no quesito: instrução pública.
Pretendia-se, por meio da instrução, formar bons alunos, bons homens e bons cristãos, e para isso era necessário
evitar perda de tempo na escola, era necessário fornecer aos alunos condições de satisfação pessoal e, a todo
custo, procurar manter a população sob controle. Havia o temor e o receio de que se as classes menos
favorecidas tivessem acesso à instrução, se rebelaria. Nas Considerações Finais relacionamos a intenção
disciplinadora da sociedade inglesa anglicana com a sociedade disciplinadora luso-brasileira.
Góis Junior (2003), Omar Schneider e Amarílio Ferreira Netto (2006) e Tarciso Mauro Vago (2000). Na análise os
textos foram divididos em dois grupos. Os critérios usados para esta divisão foram a cronologia (trabalhos
produzidos nas décadas de 1980/90 e trabalhos pós anos 2000) e as suas filiações teóricas. Na análise
apresentarei suas teses centrais, méritos e limites, bem como suas ancoragens teóricas. Ao mesmo tempo, irei
refletir sobre as condições de produção desses trabalhos pensando o texto cientifico como uma atividade social
repleta de tensões, negociações e tentativas de rupturas e continuidade da produção da área e de áreas
correlatas. Como conclusão poder-se-á argumentar que os autores do grupo de 1980/90 possuíam uma análise
estrutural-econômica e ligavam a Educação Física do período analisado a um processo de dominação das classes,
no qual a classe dominante estaria preocupada em forjar um corpo individual e social mais saudável e produtivo.
Já no segundo grupo de trabalhos, pode-se perceber um movimento de mudança nos referenciais teóricos com a
aproximação de autores como Certeau, Chartier, Le Goff, Chervel, dentre outros. Percebe-se que, com exceção
do trabalho de Vago (2000), que os trabalhos analisados estão preocupados em observar o que se pensou sobre a
Educação Física, mas poucos são os indícios sobre o que foi a Educação Física na prática escolar e formativa no
período. A história produzida pela historiografia da Educação Física do final do século XIX e começo do XX está
ancorada em fontes legais, manuais de métodos ginásticos e aos intelectuais. Dentre os estudos analisados
apenas Vago se preocupa em fazer uma história mais próxima do que aconteceu na escola usando fontes como
relatórios escolares e desenvolvendo sua narrativa prestando atenção a outras formas de educação do corpo na
escola e não apenas à Educação Física.
224
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
225
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
relações com os aspectos nacionais. A hipótese, ainda em construção, é a de que o ensino secundário tornou-se
uma exigência, ou uma necessidade, a partir do momento em que ocorreu estabilidade política, econômica e
social nestas regiões. Por isso, nosso estudo tem buscado identificar, nos dois estados, cidades que possam, por
meio do seu desenvolvimento histórico-educacional confirmar ou não tal hipótese. Contudo, a complexidade na
ocupação histórica do território e no desenvolvimento destes dois estados tem-se apresentado como dificuldade
e desafio a ser superado por nosso estudo, pois o estabelecimento de um recorte deve considerar essa
complexidade. Diante destas, e de outras questões, faz-se necessário pausas para a reflexão dos caminhos já
percorridos e dos que ainda se projetam no horizonte, visando discutir os avanços e possíveis equívocos do
estudo. Tal proposta de texto enquadra-se nesse contexto, apresentar e discutir os caminhos que estão sendo
percorridos por um estudo que visa contribuir para o avanço do conhecimento na História da Educação.
personagens pode colaborar para entendimento do olhar sobre a educação de forma não seria por parte dos
governantes e até mesmo da população. O esforço teórico caminha no sentido de compreender a piada
relacionada à educação como documento rico em códigos sociais, aliando a abordagem semiótica à perspectiva
histórica. Tendo a probabilidade de que a aproximação dos estudos educacionais com as transformações do
campo historiográfico trazidas pela Nova História Cultural ampliou as tipologias de fonte disponíveis ao
pesquisador, como também a possibilidade da análise de grupos sociais como os alunos pinçados em breves
histórias, de final engraçado e às vezes surpreendente, cujo objetivo é provocar risos ou gargalhadas em quem a
ouve ou lê. Assim, ao trabalhar determinados temas em sala de aula, passei a usar este arquétipo de material, em
um primeiro momento houve a estranheza dos alunos, depois era só risada, mas a partir do momento que se
iniciou a interpretação e a utilização de um corpo teórico, ocorreram mudanças nos comportamentos. Essa
prática foi iniciada no ano 2000 no 9º ano do ensino fundamental e nos três anos do ensino médio em uma
Escola Estadual no interior de Minas Gerais, na cidade de Araguari, e continua até hoje, porém, em outra escola
da rede estadual. O desenvolvimento desta pesquisa está centrado na perspectiva de que as piadas são registros
que se revelam de pertinaz importância por permitirem a observação cuidadosa das rupturas e continuidades nos
ambientes urbanos, sociais e culturais em épocas distintas tornando possível compreender estes processos pelas
informações que esse material fornece. A piada como fonte histórica é relevante, mas é preciso considerar que,
assim como os testemunhos orais e textos escritos de maior folego, deve ser tratada como um vestígio de uma
época que possibilite o entendimento de uma realidade e a elaboração de uma versão do passado. A memória
humana não pode ignorar a piada como diversificação dos fragmentos/documentos históricos, conforme
sinalizam as escolas historiográficas contemporâneas.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
com Luca (2010), Senna (2014), Vieira (2007), Zanlorenzi (2010), entre outros autores, percebendo como tal uso
vem contribuindo para novas interpretações sobre o pensamento educacional brasileiro. Posteriormente
apresentamos e analisamos o levantamento das pesquisas realizadas no Mestrado e no Doutorado em História
da Educação do PPGE/UFPB que se utilizam da imprensa para seus estudos. Na corrente dos resultados
percebidos nesta pesquisa, discutimos também sobre um dos veículos mais utilizados pelos trabalhos analisados,
qual seja o Jornal “A União”, que representou a imprensa oficial do estado durante décadas. Desta forma,
entendemos que estamos contribuindo para a ampliação da divulgação dos trabalhos realizados no Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba, enfatizando deste modo o crescimento das
pesquisas frente à utilização da imprensa para a ampliação das contribuições histórico-educacionais paraibanas.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
relevância de um curso de especialização em Desenho e Artes para professores primários? Qual a finalidade da
produção dessas fotografias, que intenções se revelam a partir da análise das imagens e quais seriam os
propósitos dos sujeitos que as produziram ou idealizaram? Foram adotados como referenciais teóricos centrais
autores que tratam da utilização de fontes imagéticas na pesquisa em História como: Abdala (2003), Burke (2003)
e Mauad (1996). Para compreender o contexto no qual as fotografias foram produzidas, condição essencial para
elucidar a compreensão de seus significados, utilizou-se um referencial teórico de apoio constituído por
pesquisadores dedicados à História da Educação no período da década de 1930, a saber: Vidal e Paulilo (2003);
Carvalho (2003) e Lopes (2006). A metodologia utilizada consiste na análise de fontes documentais, em especial
as imagens fotográficas, que se encontram sob a guarda do Centro de Memória do Instituto Superior de
Educação do Rio de Janeiro (CMEB – ISERJ).
coisas pequenas, os detalhes considerados simples, banais aos olhos do mundo, mas que contém vestígios de
ações que construíram a história da educação mato-grossense e brasileira; invenções e reinvenções que
marcaram o cotidiano de professores e alunos que buscaram na educação força e forma de alteração de suas
condições de vida. Nesse sentido, trata-se de uma pesquisa historiográfica sobre cultura escolar, a qual insere nas
discussões e análises da Nova História Cultural, apontando para uma história que se detém nas particularidades e
nas culturas pormenorizadas. Com Certeau em sua obra “A escrita da História, entende-se que pesquisar a
educação dentro de uma abordagem historiográfica, é preocupar-se com a articulação da realidade investigada e
a escrita que se fará da história, para lhe dar o aspecto de criação e não mais de mera leitura. Diante disto,
utilizou-se de fontes históricas, entrevistas e qualquer outro vestígio que se permitia perceber as marcas da
história. Desta forma, com dados coletados, a escrita da presente pesquisa, pretendeu narrar uma história da
educação fazendo uma aproximação com a poesia, na perspectiva de conceber o conhecimento técnico,
científico não como algo fragmentado e absoluto, porém, um entrelace das áreas do conhecimento com o
espírito artístico e poético da vida. Trata-se de uma escrita inovadora, que rompe com as linhas rígidas e até
certo ponto imaginárias que circundam os diversos saberes, ao estabelecer um diálogo da pesquisa científica com
a poética – instância da razão, a primeira, e do sentir, com Manoel de Barros, a segunda, – facetas inseparáveis
de uma mesma realidade, visto que complementares e intrínsecas à trajetória humana –oferece a leitura de um
texto leve, poético, mas também e, sobretudo, científico, numa demonstração de que arte e ciência podem,
senão devem, manter diálogo frutífero.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
que se refere à pesquisa em história da educação, em que o campo de análise da produção historiográfica passa
a situa-se no limiar entre o prescrito – as ideias e as normas – e o efetivo – as práticas. A escola passa a ser
historicamente e socialmente construída como objeto, a partir do qual os saberes pedagógicos podem ser
analisados em sua relação com a cultura. As pesquisas desenvolvidas nesse campo propõem-se a pensar a
relação entre o prescrito e o efetivo, ou entre as normas e as práticas, tornando possível que uma gama mais
variada de tipos documentais passe a ser objeto de análise. Os arquivos escolares ganham espaço na
historiografia da educação como uma categoria bastante abrangente e com tipos diversificados de
documentação, definindo-se basicamente como um conjunto de documentos produzidos ou recebidos por
escolas, de diversas naturezas e suportes, decorrentes do exercício de suas atividades. Propõem-se, por fim,
discutir as possibilidades do Fundo MEB como arquivo escolar, tendo em vista suas especificidades no que se
refere à produção e circulação, quando comparada aos documentos produzidos por instituições escolares
tradicionais, mas apontando também elementos de sua dinâmica própria, já que o tipo de documentação
produzida no âmbito das escolas radiofônicas está relacionado à natureza do MEB como modelo experimental de
educação.
235
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 1957) MEC/SEE/CNE (1956), SEEC do Rio de Janeiro (1976). A pesquisa
das fontes históricas e a aplicação da metodologia da pesquisa permitiram demonstrar que a descontinuidade
das políticas publicas provocou a expansão dos estabelecimentos de ensino nos municípios do Estado do Rio de
Janeiro, especialmente de Nova Iguaçu de forma heterogênea, na área geográfica, limitando oportunidades
educacionais em função das condições oferecidas pela administração municipal e governo estadual. Palavras
chave: Fusão - “Chorographia Fluminense” “Magé: Terra do Dedo de Deus” Educação – Instituições de Ensino.
e a permanência destes no Brasil com a expulsão dos jesuítas já é razoavelmente conhecida, embora ainda
incipiente se levarmos em conta que as suas ações assumiram contornos próprios nos diferentes lugares que
ocuparam. Este balanço nasceu da necessidade de se conhecer melhor como a historiografia educacional vem
atentando para a presença desses grupos, seus contornos e modos de atuação, e suas contribuições na sociedade
brasileira. O levantamento das informações apresentadas foi realizado a partir de pesquisas em banco de teses e
dissertações do portal CAPES, artigos publicados em revistas conceituadas da área de História da Educação,
destacadamente: a Revista Brasileira de História da Educação, Revista História da Educação, Cadernos UFU e a
Revista do Histerdbr. Também se considerou os trabalhos apresentados no Congresso Brasileiro de História da
Educação em todas as suas edições até o momento. No banco de teses da CAPES, a busca ocorreu por meio de
palavras-chave. Já nas revistas, analisou-se todos os sumários e, em caso de dúvida, leu-se os resumos.
Procedimento semelhante foi utilizado em relação aos artigos enviados para os Congressos Brasileiros de História
da Educação. A realização de balanços periódicos no campo é fundamental para compreender o que vem
preocupando os historiadores, reconhecer lacunas e apontar caminhos ainda pouco explorados, abrindo dessa
forma um leque de possibilidades e problemas como novas possibilidades de pesquisa ao historiador da
educação. Se constitui, portanto, como uma fonte para o historiador. Trabalhos semelhantes foram feitos por
Faria Filho e Vidal (2005), Denice Catani (2002) inspirados nos balanços realizados ao final dos Congressos
Brasileiros de História da Educação, dos Congressos Luso-Brasileiros de História da Educação ou por encomenda
de alguns GT’s de trabalhos vinculados à ANPED e ao HISTEDBR, no sentido de compreender a produção
historiográfica do campo. Levando em consideração os dados levantados através dessa pesquisa, este artigo
pretende contribuir com os estudos no campo da História da Educação, chamando a atenção para a importância
de se estudar as congregações católicas, tendo em vista sua atuação junto à sociedade brasileira e a circulação de
saberes que promoveram por meio de suas práticas nos diferentes lugares que ocuparam.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
Neto foram destacados como importantes referenciais para o debate sobre a produção do lugar das coisas ditas
em suas anotações, como as enunciações sobre o pecado, a bondade e a crença em Deus, apontamentos sobre a
relação do individualismo e o Liberalismo, incursões sobre a magistratura brasileira, jurisprudência e
especificidades das regiões, pensamentos sobre a justiça, discussões teóricas sobre a ciência e o conhecimento.
As fichas de leitura se entrelaçam com cadernos de anotações, grifos nos manuscritos de livros da autoria de
Carvalho Neto. Tais fontes nos interessam na medida em que, por meio de seus emblemas, produzimos mosaicos
indicadores da interpretação possível sobre as coisas ditas no tempo social em que viveu Carvalho Neto,
construímos um perfil intelectual sobre ele, identificamos pistas acerca do pensamento educacional que
circundava sua trajetória vida e sua escrita de jurídica.
seja visto pelo remetente. Alguns pesquisadores têm trabalhado com a escrita epistolar católica e vêm
contribuindo para esclarecer aspectos da História da Educação em períodos diversos. A produção de pesquisas
nesse campo nas últimas três décadas, tem ressaltado a importância de investigar a temática, buscando verificar
o que estes escritos têm a nos dizer e a contribuição que podem proporcionar à História da Educação. A escrita
epistolar no cristianismo começou a ser aplicada já desde as primeiras comunidades. As cartas foram utilizadas
pelos Apóstolos e assumiram dimensões instrutivas, catequéticas e evangelizadoras. Na História da Igreja
Católica, vários Santos e Santas, além dos Apóstolos, serviram-se deste veículo de comunicação e aproveitaram
as cartas como recursos para suas atividades formativas. Assim sendo, o uso epistolar tem sido uma estratégia
pedagógica de doutrinação e evangelização, desde a origem do catolicismo. Ao lado de impressos como:
manuais, catecismos, jornais e revistas católicas, as cartas servem para suscitar a exortação à fé, a perseverança
no catolicismo e a exaltação das virtudes. A análise foi realizada por meio de leitura e elaboração de quadros
temáticos e possibilitou viajar por entre linhas, decifrar diálogos, conhecer personagens e lugares, compreender
a história em determinado espaço e tempo. Estudar a escrita epistolar é revelar angústias, dúvidas, desafios. É,
também, narrar opiniões, desejos, apropriações e representações de alguém sobre determinado assunto ou
objeto. Investigar a escrita destes santos possibilitou conhecer e acompanhar as atividades de pessoas, que
mesmo fora dos muros da escola, proporcionaram, por meio de cartas, formação, instrução e transmissão de
valores católicos a pessoas de diversas partes do mundo.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
dois pontos centrais: desconsideram-se o contexto histórico e, como Webere defende, foram práticas
experimentais e centradas em poucas escolas, que não se estenderam a toda população. Com isso, pretendemos
entender como essas produções da história da educação das escolas renovadas da década de 1960 criam uma
memória educacional, que não problematiza o passado historicamente. Os historiadores tem buscado
estabelecer balizas e fronteiras entre a história e a memória. Partindo da leitura sobre o tema, proposta por
autores como Ulpiano Bezerra Meneses, a memória não é sinônimo de história, embora ela se constitua como
uma fonte significativa para o trabalho dos historiadores. Segundo o autor, o historiador não pode abandonar a
sua função crítica, sendo que “a memória precisa ser tratada como objeto da História”. Portanto, propomos uma
discussão metodológica de como operar com essas memórias educacionais cristalizadas e como elas podem ser
objeto para as pesquisas na História da educação.
para elaborar um projeto orgânico de reordenamento da instrução naquele país: nascia assim um instrumento
legal de defesa do direito dos cidadãos à educação, que inspirou outros países europeus, mas não só, como é o
caso da experiência moçambicana. Deste modo, cabe pensar a normatização do campo educacional em
Moçambique articulado a um movimento mais geral de ordenação da nação. O exercício a que me propus,
tornou-se possível a partir da identificação, selecção e análise de dispositivos legais atinentes à evolução do
sistema de educação em Moçambique, ao longo da vigência de dois sistemas políticos diferentes: o
monopartidário [entre 1983 a 1992], e o multipartidário [1993 a 2013]. Entre os dispositivos legais selecionados
destaco a Constituição da República [versões de 1978, 1990 e 2004], as leis do Sistema Nacional de Educação
[4/83 de 23/03 e 6/92 de 06/05], os decretos, decretos-leis, diplomas legislativos e resoluções. Uma das
dificuldades enfrentadas na realização deste trabalho consistiu na relativa escassez de pesquisas, em história da
educação, cujos autores adotam a legislação como fonte. Mesmo assim, neste exercício, de recuo a um passado
recente, encontrei vestígios de interpretação e de apropriação de diretrizes das políticas públicas educativas, por
educadores e demais envolvidos no planificação educativa. Em uma análise preliminar, tais dispositivos
evidenciaram, por um lado, marcas de influência interna e externa – com instâncias supra-nacionais. O estudo
revelou, igualmente, que, na definição de políticas educativas, apesar de alguma literatura considerar que o (i)
sistema político [em sua concepção clássica – executivo, legislativo, e judiciário], (ii) a sociedede civil bem como
(iii) as organizações multilaterais se associarem em prol desse exercício, estes últimos parecem “romper” o
“equilíbrio de forças” mediante certos recursos com vista a “imposição” da sua hegemonia dentro da “aliança
tripartida”, o que por sua vez parece revelar que o sistema político não é independente na definição de
prioridades educativas.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
indagando-se (indagando-nos) acerca daquilo que pretendeu atualizar, da maneira como tem afetado a
concepção de pesquisa histórica e seus efeitos nos problemas estudados, fontes, na demarcação de balizas
cronológicas e na própria relação dos pesquisadores com o presente e o modo como percepcionam a construção
do conhecimento no âmbito dos constrangimentos e das potencialidades a que estão relacionados.
Multifacetado, nos horizontes vislumbrados contemporaneamente o campo de história da educação tem
problematizado inclusive algumas barreiras geo-espaciais que se notabilizaram por demarcar as fronteiras dos
estudos na área praticados tanto na esfera da pesquisa quanto do ensino. É exatamente consoante com essa
perspectiva de compreensão dos significados da comparação em história da educação e das “passagens”
culturais entre diferentes realidades geo-espaciais que se propõe como objetivo desta proposta uma análise
acerca de um dos principais dispositivos de divulgação dos trabalhos na área, os periódicos científicos,
representados aqui pela Revista Brasileira de Educação, Revista Brasileira de História da Educação, Revista
História da Educação e os Cadernos de História da Educação. A hipótese e a aposta deste estudo residem na
tentativa de colaborar para o mapeamento dos usos feitos pela comunidade de história da educação no Brasil
acerca das ferramentas de comparação e conexão e, simultaneamente, como atuaram no âmbito de uma escrita
voltada a analisar o passado educativo brasileiro.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Colóquios contribuem para entender que a conquista dos astecas não ocorreu somente pela guerra, como
também pela educação catequética, que visava docilizá-los, enquadrando-os em uma nova ordem implantada
pelos espanhóis. Na efetivação desse quadro, a educação foi um dos caminhos para construir valores e condutas,
que os espanhóis acreditavam que poderiam colaborar para minimizar conflitos e garantir as possessões
adquiridas pela guerra. Assim, espera-se que o Colóquio contribua, como fonte histórica, para compreender a
formação do homem mexicano. Colabore, ademais, para compreender que a educação catequética franciscana
colaborou para a adaptação dos astecas às estruturas coloniais espanholas.
248
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
vasta publicidade dispersa em todo o corpus de fontes: medicamentos, modistas, cursos, escolas e ginásios,
livros, revistas. Em 1925, surge a seção Coisas Femininas, com notícias e anúncios sobre “os últimos modelos de
Paris”, revelando uma das mais longevas associações entre moda e universo feminino (LIPOVETSKY, 2009;
PERROT, 2008; VIGARELLO, 2006). Nos anos 1930, diagramação e publicidade se dinamizam, com o surgimento
do Correio Feminino e, em 1940, nasce o Correio da Manhã Supplemento Feminino, com um tratamento
revistizado, conforme nomeou Luca acerca dos suplementos especiais que viraram prática recorrente nos
impressos (2013). Os assuntos, no entanto, pouco variam, pois são principalmente sobre moda, emagrecimento e
beleza: temas historicamente relacionados ao gênero feminino (BUITONI, 2009). Nos anos 1950, as páginas
femininas são divididas em Correio Feminino e Vamos falar de mulheres? Os títulos também se alteram na
década de 1960, como Correio da Manhã Caderno Feminino (1962) e Correio Feminino (1963), que passa a
publicar a seção Teen-Age. Nos anos 1970, circula o caderno BELA. As mudanças ocorridas nos anos de 1960 e
1970 são substanciais, principalmente no que concerne à segunda onda feminista verificada no período, mas
preserva-se a antiga preocupação, verificada desde 1901, de falar sobre emagrecimento, rejuvenescimento e
afins. Em consonância com as proposições ocorridas no campo da História da Educação a partir do fértil diálogo
com a História Cultural, partimos do pressuposto de que a educação dos sujeitos se dá em várias instâncias
educativas, não apenas no interior das escolas, e que a publicidade impressa do século XX colaborou para a
construção de um determinado tipo de sujeito posto no mundo (PERROT, 1992; PROST, 1992). Postulamos,
ainda, que materiais não declaradamente pedagógicos podem lançar luz sobre a história da educação de leitoras
ao longo do século XX.
249
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
perspectiva teórico-metodológica que problematiza as prescrições oriundas das ações de governo e suas
possíveis “influências” sobre os sujeitos sociais. Como recorte, problematizo a legislação educacional como fonte
de pesquisa. Considerada um mecanismo de controle das ações de governo para ordenar as práticas de
escolarização, vinculando a atividade do sujeito ao atendimento às finalidades sociais, sem prender-se à sua
dimensão prescritiva, a legislação foi tomada como prática social e campo de disputa. A adesão a este enfoque
metodológico propõe, portanto, uma abordagem que visa superar as aproximações mecânicas no que diz
respeito ao seu caráter normativo, compreendendo a prática legislativa em sua dinamicidade e inter-
relacionando-a às várias dimensões do fazer pedagógico, que vão desde a política educacional até as práticas de
sala de aula. Em caráter conclusivo, proponho uma possível compreensão das reformas educacionais brasileiras
e, mais especificamente, da experiência do programa PARFOR, levando em conta o espaço de inventividade dos
sujeitos sociais a que ele se destina. Por esta ótica, considero o processo de apropriação, de ação dos professores
supostamente inspirada pela legislação, como sendo alvo de conflitos, negociações, tensões, disputas.
251
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
termos de rigor, com a recolha testemunhal por via oral, problematizando a superioridade das fontes escritas.
Ante a problemática: como as fontes orais de educadores(as) podem colaborar na elaboração de narrativas
históricas e ampliar a compreensão da história da educação no Ceará? O presente artigo objetiva discutir os
métodos utilizados pela História e exprimir argumentos que suplicam pela legitimidade do aproveitamento das
fontes orais, não apenas como suporte complementar na ausência das chamadas “fontes primárias”, mas como
metodologia viável e importante para o estudo historiográfico, em especial no campo da História da Educação do
Ceará, no sentido de desmistificar a supremacia das fontes “tradicionais”. A escolha pela temática decorreu da
institucionalização, pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), do projeto de pesquisa intitulado “Educação e
educadores(as) no Ceará do século XX: práticas, leituras e representações; e a posterior observação de
preconceitos ensejados tanto por historiadores de postura mais positivista como por educadores que
desconheciam a história oral enquanto metodologia de pesquisa. A relevância desse artigo consistiu em produzir
um breve ensaio que enfatiza a relevância das pesquisas (auto)biográficas com educadores(as) cearenses para
compreensão histórica e elaboração de um acervo documental, com fontes orais e transcritas, que retratam a
cultura escolar, práticas educativas e representações dos professores(as) cearenses; o que permite um estudo
mais minucioso da história da educação local nos seus imbricamentos com o contexto político, econômico e
sociocultural no âmbito da micro história. Sensibilizar profissionais acerca da importância da história oral e
proporcionar visibilidade a narrativa de professores(as) infames ou com certo reconhecimento local, que
contribuíram para educação do estado, permite não apenas melhor compreensão das vicissitudes educacionais,
mas também o fomento à preservação da história de um povo. Com suporte teórico em Pollack (1992),
Thompson (1992), Albuquerque Júnior (1994), Le Goff (1996), Bosi (1994), Marcuschi (2001), Albert (2003),
Mehhy e Holanda (2007), Loriga (2011), dentre outros, defendeu-se o argumento de que a oralidade é uma
prática social interativa para fins comunicativos que, sistematizada cientificamente, permite o armazenamento e
a propagação de informações entre indivíduos e gerações fomentando histórias relevantes, por vezes
invisibilizada pela valorização da macro história. A fonte oral, viabilizada pela narrativa dos educadores(as)
cearenses, demonstrou importância histórica e cultural por relevar nuances não contempladas na história oficial
e permitir melhor compreensão do contexto sócio educacional do Ceará.
252
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
pesquisadores da história da educação, querendo ir sempre em busca de novas fontes, novos vestígios e sinais
ainda não encontrados ou vistos, nas fontes ou documentos já analisados.
Chartier para discutir os embates em torno da literatura enquanto fonte para a História da Educação; no caso
específico de Chartier (2002), o conceito de representação é bastante pertinente para orientar a leitura das
fontes privilegiadas porque destaca a força que estas têm, ao darem a ler uma determinada realidade, fazem-no
com tal vigor que a torna verossímil, trazendo à tona elementos que ultrapassam as simples imagens e em
Foucault (2010), buscamos seu posicionamento quanto à formação da sociedade disciplinar, que se vincula aos
mais diversos processos históricos, ampliando-se no interior das áreas mais distintas- economia, política, ciência,
etc.- que compõem a sociedade. Na educação, esta dominação de ordem disciplinar investe em forma de
atividade sobre os corpos, tornando-os dóceis a projetos diversos, dentre eles o político. A partir desse
referencial teórico, o texto mostra como a educação serviu aos modelos de homogeneização das elites
canavieiras dentro dos projetos da chamada modernização instaurada pela República, com a educação seguindo
modelos de práticas militares e como símbolo de status social, retirando a criança do ambiente familiar, onde
outrora ela era iniciada nas primeiras letras, para o regime de internato, com as práticas disciplinadoras
aparecendo nos discursos como capazes que modelar a criança dentro desse modelo a ser seguido.
Medicina do Paraná. Também dois periódicos voltados ao público leigo, os jornais Gazeta do Povo e Diário da
Tarde, de grande circulação no período estudado. Por meio da análise de publicações que têm como tema e
problema a sífilis pôde-se perceber a íntima relação estabelecida entre a luta contra tal doença e um projeto de
construção da nação brasileira. Tal relação já foi apontada nas pesquisas de Marques(2004), Carrara(1997),
Stern(2003) e Batista(2013), ao enfatizarem que a sífilis constituiu um entrave, na visão de muitos letrados, para
a construção do Brasil como uma nação inspirada nos países considerados como epicentros da modernidade.
Nesse “novo” Brasil, o “embranquecimento da raça” e a “saúde” passavam a ser o principal objetivo almejado. A
emergência da educação e da saúde como elementos essenciais à construção da nação brasileira esteve ligada a
publicação dos relatórios da expedição científica do Instituto Oswaldo Cruz iniciada, em 1912, por Arthur Neiva e
Belisário Penna e com o impulso recebido pelo movimento sanitarista que defendeu a remoção das endemias
rurais, por meio da educação, como via para a “regeneração” nacional. No entanto, o destaque às endemias
rurais como problema essencial à constituição de uma nação não deve ser vista como oposição a ciência
eugênica, que conseguiu muitos adeptos nas primeiras décadas do século XX. Durante os anos 1910-1920, na
busca por “regenerar a nação”, as principais campanhas dos eugenistas tiveram como foco principal o combate
aos ambiente disgênicos e as doenças como a sífilis, tuberculose, ancilostomíase, malária e a lepra (SOUZA,
2006). O combate a sífilis foi embasado em “uma visão higienista de conteúdo eugênico e buscou introduzir
normas e padrões morais e comportamentais consoantes a um modelo de nação inspirado nos padrões
europeus, isto é, depurado de traços culturais à época considerados inferiores” (SILVEIRA & NASCIMENTO, 2004,
p.21). Mas só seria possível realizar tal empreitada por meio da educação do povo, que destacava-se como
elemento essencial para conter a transmissão das doenças venéreas e propiciar o nascimento de uma prole
saudável, já que por meio dela seria possível, na visão dos médicos, controlar a sexualidade de homens e
mulheres e impedir a “degeneração” da espécie. Essa luta antivenérea, no Paraná, teria como o principal objetivo
combater, por meio da orientação da população, uma grave ameaça à saúde do povo e ao futuro da pátria: a
sífilis, em especial, pela sua capacidade em se disseminar no seio da família, comprometendo o trabalhador e
ameaçando o futuro da nação – sua descendência.
instrumento de pesquisa contém relação de referências de documentos que foram localizados em Paris-França,
entre 1841 e 1959, datas, respectivamente, do manual de Pedagogia mais antigo que foi possível localizar nesse
país, e o ano estabelecido como limite cronológico final, para igualar-se ao caso do estado de São Paulo. Nele
estão reunidas 42 referências, ordenadas em seis seções: manuais de ensino de Pedagogia, de autores franceses;
manuais de ensino de Pedagogia, de autores de outras nacionalidades; discurso; conferências; lições de abertura
de cursos de ciências da educação;e artigos em revista. A partir da elaboração desses instrumentos de pesquisa,
analisou-se a configuração textual de ambos a fim de compreender o conjunto de aspectos que, inter-
relacionados, constituem os seus sentidos. Essa análise permitiu compreender o desenvolvimento da disciplina
Pedagogia em dois importantes momentos da história da educação paulista, os quais caracterizam, o primeiro,
como de constituição da disciplina Pedagogia, e o segundo, como o de consolidação dessa disciplina. Os
resultados também indicaram, entre outros aspectos, a importância e pertinência da elaboração de instrumentos
de pesquisa, não só porque podem “salvar do esquecimento” tais fontes, mas porque podem viabilizar discussões
sobre os temas apresentados nos documentos reunidos, e podem contribuir para a organização do campo de
conhecimento a que se referem ou mesmo para problematizar ou ainda permitir avanços.
pode ser negligenciada. É necessário refletir sobre a importância que os registros podem assumir e as dimensões
que se é possível registrar por meio da captação de imagens em movimento, bem como de seu devido
armazenamento e preservação. Trata-se, portanto, de reconhecer a importância dos relatos aos estudos
biográficos e refletir acerca da guarda e disseminação desse patrimônio cultural. Esse trabalho tem como
objetivo compreender as possibilidades inerentes as fontes históricas que podem ser coletadas utilizando a
técnica de captação audiovisual de relatos em entrevistas, desde a metodologia da história oral, em especial, da
iniciativa “Memórias em Rede” do Instituto Francisca de Souza Peixoto, na cidade de Cataguases, Minas Gerais. A
proposta deste projeto consiste em entrevistar diversos sujeitos históricos, infames ou reconhecidas na
comunidade, que estão inseridos nos mais variados espaços socioculturais - política, educação, comércio, cultura,
meio ambiente, dentre outros - de modo a garantir a preservação da história da cidade de Cataguases por
intermédio da oralidade. Salienta-se, contudo, as possibilidades oriundas da análise de um projeto ou iniciativa
de registro audiovisual de relatos orais temáticos de uma pessoa ou grupo, de modo a tentar vislumbrar os
desdobramentos possíveis na aquisição e interpretação do material produzido. Com aporte teórico em
estudiosos da temática em tela: Meihy, Holanda (2007); Minayo (2006); Napolitano (2006); Silva (2003), e Turato
(2003) tratamos a história oral como instrumento de descoberta de narrativas que apontam para o modo como
as pessoas compreendem seu passado, seu contexto e dão significado a suas experiências. Os relatos filmados
oferecem ao pesquisador um material rico em palavras e gestos que proporcionam uma densidade de
informações importantes na leitura e compreensão dessas narrativas orais, uma vez que em diversas ocasiões os
entrevistados utilizam uma variedade de formas de expressão, algumas destas ultrapassam o que pode ser
expresso em texto transcrito, como os olhares, pausas, silêncios, bem como a repetição de palavras e expressões
(SILVA, 2003). A linguagem audiovisual permite que essas outras formas de expressão sejam apreendidas de tal
modo que o investigador tenha em sua pesquisa a ampliação das possibilidades das análises e interpretações dos
relatos, uma vez que dispõe de mais informações do que normalmente teria acesso em entrevistas transcritas,
garantindo, assim, uma percepção mais holística das narrativas construídas pelos indivíduos filmados.
258
Comunicações Individuais
Eixo Temático 4
O MOVIMENTO DAS IDEIAS PEDAGÓGICAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL BRASILEIRA E SUA APROPRIAÇÃO (1964-
1996)................................................................................................................................................................265
ALESSANDRA ELIZABETH FERREIRA GONÇALVES PRADO....................................................................................265
FILHAS, IRMÃS, ESPOSAS, MÃES E PROFESSORAS: EDUCAÇÃO FEMININA NA ERA VARGAS ............................272
ELIEZER RAIMUNDO DE SOUSA COSTA..............................................................................................................272
A EDUCAÇÃO DA PRIMEIRA INFÂNCIA: ESCOLAS INFANTIS PÚBLICAS EM BELO HORIZONTE (1908-1930) .......273
ELLEN ROSE FERNANDES FIGUEIREDO...............................................................................................................273
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
O FUZIL É PEQUENO, POUCO PESA, MAS SERVE PARA A DEFESA DA REPÚBLICA DO BRASIL............................282
MARIA ZELIA MAIA DE SOUZA........................................................................................................................... 282
262
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
ALFABETIZAÇÃO, HISTÓRIA E MEMÓRIA: CULTURA ESCOLAR NA REGIÃO NOROESTE PAULISTA (1960-1970) .282
RENATA DE SAMPAIO VALADÃO ....................................................................................................................... 282
ESTELA NATALINA MANTOVANI BERTOLETTI.....................................................................................................282
ASPECTOS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO SEXUAL NO BRASIL ENTRE O FINAL DO SÉCULO XIX E AS PRIMEIRAS
DÉCADAS DO SÉCULO XX .................................................................................................................................283
RONALDO AURÉLIO GIMENES GARCIA ..............................................................................................................283
HISTÓRIA DE UMA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO MUNICÍPIO DE RIO CLARO/SP NO SEU PROCESSO DE
MUNICIPALIZAÇÃO ..........................................................................................................................................285
SUELI IWASAWA...............................................................................................................................................285
263
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
miséria, ao abandono e à delinquência. Isto tinha que ser inibido de alguma forma e por isso foram criadas
diversas políticas assistencialistas, bem como se ampliou os poderes do Judiciário para lidar com esse problema.
A discussão das causas da pobreza era complexa, como também eram as suas consequências. Estavam
relacionadas com o social, política, economia e educação. Para as discussões e análise das fontes, utilizarei as
concepções sobre infância e menoridade de RIZZINI (1995), VEIGA e FARIA FILHO (1999), FALEIROS (1995),
MARCILIO (2011), VENÊNCIO (2010) e LEITE NETO (1937).
urbanos na cidade do Rio de Janeiro. Destacamos ainda, que nossa investigação pretende esmiuçar os contornos
que as aulas e cursos noturnos acabaram por ganhar entre os mencionados trabalhadores. A referida imprensa se
coloca como ponto de partida em nossa análise, por oferecer dimensões descritivas e críticas dos mundos do
trabalho. Assim, poderemos perceber as mudanças e as similitudes nas propostas que circulavam no período, de
origens diversas. O momento foi de intenso debate sobre os espaços possíveis de participação social, os direitos
que envolviam a cidadania e a participação de variados sujeitos nas múltiplas esferas políticas. Cabe lembrar, que
uma das principais vias de participação política durante a República se dava através do voto, limitado pela
exigência do letramento e gênero, cujo universo era bastante reduzido se observamos o total da população que
não sabia ler e escrever, chegando a níveis considerados altos nos censos anteriores a 1900. Por conta de tais
fatores, a instrução noturna adquire noções plurais e constituem identidades multifacetadas dos sujeitos, objetos
de nossa pesquisa. Tal universo de trabalhadores, nos permite entender o Rio de Janeiro como uma cidade negra
aonde se articulavam redes sociais (re)construindo espaços de solidariedade e autonomia. Por outro lado,
atentamos aos esforços de determinados grupos para diminuir, restringir e sanear as áreas de intensas
mobilizações sociais, apontadas como focos de resistência, espraiadas por regiões distantes do centro do poder
político. Nossa proposta tem como referências a historiografia da história da educação, da escravidão e da pós-
abolição, cruzando perspectivas, metodologias e temas. As categorias de experiência e identidades construídas
por E. P. Thompson são pensadas como concepções importantes diante das modificações dos mundos do
trabalho da cidade citada. A partir da imprensa operária procuramos recuperar diversas falas de autoridades,
sobre aulas e cursos noturnos, a partir de alguns ofícios e requerimentos contidos nos códices do Arquivo Geral
da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ). Neste complexo território de práticas sociais, pensamos os conceitos de
classe, gênero e etnia a fim de depreender multifacetadas identidades sociais, gestadas pelo universo de
possíveis alunos (homens, mulheres, jovens e crianças).
268
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
269
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
1967, com sede no Rio de Janeiro, para produzir e distribuir material audiovisual educativo com a justificativa de
suprir a insuficiência de professores e escolas no país. Estava a cargo do Estado a responsabilidade de investir em
tecnologias de comunicação e também de fiscalizar as redes de televisão, controlando a programação que
deveria estar de acordo com os valores pregados pelo governo. A televisão já era considerada um meio de
comunicação estratégico capaz de atingir diferentes grupos sociais, etários e regionais. Entre os produtos
televisivos de maior sucesso de público estava a teledramaturgia e o programa educativo João da Silva apostou
na teatralização de situações do cotidiano como estratégia pedagógica para alfabetizar e disseminar valores. Esta
experiência televisiva recebeu, em 1973, prêmio internacional e foi considerada como um dos melhores
programas da teleducação do mundo.
fé, de sua coragem, de seu amor à Pátria e ao próximo, enfim, dos mais puros sentimentos que se possam abrigar
na alma feminina”. De acordo com as ideias de Ginzburg (2002), na avaliação das fontes documentais, o
historiador precisa ter em mente que esses textos são sempre um ponto de vista sobre a realidade e, por isso
mesmo, seletivo e parcial, pois são diretamente condicionados pelas relações de força. Desse modo, é possível
questionar um impresso e compreendê-lo mais do que mediador do discurso, pois as linhas, as entrelinhas e os
aspectos que estão para além dele, nos oferecem “o que está fora do texto”. Nesse sentido, cabe perguntar: De
que modo e com quais intenções emergiram, nesse livro, prescrições relativas ao cuidado com as crianças e com
a família dentro da proposta da CEAA? Para isso, recorremos ao conceito de processo civilizador de Norbert Elias,
para compreender o vínculo entre educação, saúde e civilização pelo qual a CEAA se guiou. Nessa perspectiva,
compreendemos, que essa fonte serviu como uma das maneiras de determinados grupos fazerem circular as
concepções modelares de família, de infância e de pátria. E que os discursos trabalhados neste livro, contava com
um encaminhamento na direção da construção da família como refúgio a ser disponibilizado pelos indivíduos em
tempos de modernização crescente. Assim, essa obra tencionava transmitir lições às famílias sobre os modos
como seus membros deveriam proceder e sobre a forma como deveriam exercer a importante tarefa educativa
que lhes cabia com relação às crianças e aos jovens.
271
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
articuladas ao desenvolvimento histórico do ensino secundário no Estado. Para tanto, recorremos ao aporte
teórico de Paul Thompson (1998), Marc Bloch (2001), Lucilia de A. N. Delgado (2006), Lílian Anna Wachowicz
(1984) entre outros. Apresentamos os depoimentos articulados aos aspectos verificados na legislação e no
referencial teórico do período. Por meio dessa análise percebemos que os exames de admissão ao ginásio
significaram um importante marco na história da educação brasileira e, além de constituírem-se dispositivos de
seleção e controle, tinham a função pedagógica de verificação de conhecimentos prévios necessários à
continuidade dos estudos. Discurso esse, sentido em grande parte dos depoimentos coletados.
por parte de ações governamentais, a prática do isolamento compulsório em hospitais ou colônias os doentes,
previsto na legislação sanitária federal de 1920. Por sua vez, os doentes ao serem isolados nos chamados
leprosários, eram automaticamente separados de seus filhos, ainda não contaminados. Buscando solucionar esse
problema, começaram a ser criados os preventórios, também conhecidos como educandários. Assim, essas
instituições passaram a ser criados em todo o país, sobretudo a partir dos anos de 1940, sendo construídos vinte
e três (23) preventórios em vários estados. Os preventórios, ou os chamados educandários, foram construídos
em parceria com a Federação das Sociedades de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra com o auxílio do
governo federal. O cenário desses isolamentos de adultos e de internamento de crianças, encontra-se vinculado
às práticas higienistas tão em voga no início do século XX, mas também às políticas públicas do então Presidente
Getúlio Vargas. Em termos gerais, as mentalidades estavam voltadas para as práticas de salvar da lepra as novas
gerações, ou seja, as crianças e adolescentes que estavam em situação de risco. As instituições funcionavam em
regime de internato, oferecendo assistência médica, alimentar e educacional. Diante disso, o trabalho busca
problematizar os espaços destinados para o acolhimento dos filhos (sadios) de Lázaros no início do século XX. O
foco norteador da pesquisa, diz respeito à compreensão dos espaços constituídos para as crianças destinadas ao
isolamento compulsório dos pais. Os mecanismos de assistência infância, as políticas de proteção à infância
vigente naquele período. Para a realização da pesquisa, estabelecemos a revisão bibliográfica e documental que
aprofunde a temática abordada, além de análise do tema em periódicos, teses e dissertações. Quanto aos
aportes teórico-metodológico, aqui utilizados, são os que dizem respeito à Nova História Cultural (NHC).
274
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
suas inquietações sobre o aprendizado da gramática, história e da matemática, bem como as suas preocupações
evidentes quanto à formação dos aspectos morais, respeitando a condição etária da infância. No Collegio
Americano, tais ideais são praticados a partir de uma noção ligada aos preceitos de higiene, no qual os
“idealizadores” de uma infância saudável e forte tinham como objeto de suas ações não somente o corpo, mas
também a mente e a moral da criança.
do Juizado de Menores e o Jornal Correio do Paraná analisados sob a perspectiva que leva em consideração o
fato de que em todas as gerações da Escola dos Annales desde Bloch (2001, p. 128) e Febvre (2009, p. 43-44) até
os dias atuais, uma palavra resume o fazer historiográfico e deve dominar e iluminar nossos estudos:
“compreender. Diante disso, em nossas análises encontramos o Dr. Francisco Cunha Pereira, primeiro Juiz de
Menores do Paraná, envolvido em uma série de críticas por parte da imprensa paranaense que na década de
1930 o levou a baixar várias portarias para restringir a circulação dos “menores” em cinemas, campos de futebol,
bailes de carnaval e até mesmo no Passeio Público. Resulta destas análises as considerações de que de maneira
geral não parece que a população da década de 1930 compreendesse a complexidade do trabalho de um Juiz de
Menores e esperava vê-lo nas ruas apreendendo as crianças que “jogavam cascas de frutas nas ruas”. No
entanto, parece que esta percepção se construiu gradativamente e o tom de crítica se minimizou na década de
1940, intensificando-se nas notícias dos jornais os problemas sociais referentes aos menores abandonados; aos
desajustes familiares que levam ao abandono; à delinquência e aos crimes de menores, assim também como
informações sobre a construção de escolas de assistência aos menores desvalidos ou delinquentes. Diante dos
discursos analisados foi imprescindível considerar o que foi apontado por Foucault (2008, p. 56-61), isto é, quem
fala, os lugares institucionais de onde cada um fala e a posição que ocupa em relação ao objeto de que fala.
mãe e os filhos, em que cada qual desempenha um papel determinado -, será apresentado a família como uma
formação múltipla de arranjos e de variações ao longo dos tempos. Para tanto pretende-se estabelecer vínculos
de inteligibilidade entre momentos na história em que a família passou por definições e configurações distintas
até chegar à formação atual. O historiador reconhece a possibilidade do “conhecimento do presente ser
diretamente mais importante para a compreensão do passado” (BLOCH, 2001, p.56). Dessa forma, sem a
pretensão de buscar a origem - uma questão identificada também por Bloch como desnecessária - este trabalho
parte de uma perspectiva genealógica para entender o que é a família, suas diferentes configurações e
definições, além de identificar as instituições que se ocuparam – e ainda se ocupam - em defini-la e mostrar o
tabu referente à sexualidade que gira em torno dela. No que diz respeito à metodologia, será realizado um
estudo de conceitos que fundamentam uma pesquisa sobre discursos a respeito da família brasileira na
perspectiva da História da Educação. O objetivo é de confrontar diferentes perspectivas de discursos sobre a
família no sentido de problematizar a respeito da aceitação da idealização de uma determinada forma de
organização familiar do tipo pai, mãe e filhos, como uma disposição naturalmente estruturada dessa formação
social a partir de alguns estudos feitos por diferentes autores ao longo da história sobre a família: ALGRANTI
(1997); MATTOSO (1988); SAMARA (1987); VAINFAS (1997). Entende-se haver uma emergência de imagem sobre
a família e não representações sobre a mesma, no sentido de que não há um modelo original do qual se derivam,
se afastam ou se contrapõem outras formações. Sem querer lançar um olhar progressista a respeito dessa
organização social, pode-se perceber que a família passou de uma discreta estrutura doméstica a uma complexa
teia de relações que se interage diretamente com a sociedade, religião, educação, com o processo de
urbanização e migração de um país. Daí a perspectiva genealógica deste estudo.
278
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
279
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
uma vez que levou o ribeirinho a refletir sobre a situação de abandono em que vivia, mudando suas concepções e
transformando-o em cidadãos conscientes. Para sobreviver ao período do regime militar o MEB repensou sua
prática pedagógica e firmou convênio com o MOBRAL, criado para atender aos interesses da ditadura. Os
desafios enfrentados pelo MEB foram muitos e dentre eles podemos citar: falta de professores com formação
específica; as comunidades mais distantes eram desprovidas de escolas e energia elétrica, neste caso, o professor
lecionar em sua residência que na maioria das vezes era precária; a gratificação irrisória aos professores; o
trabalho árduo dos alunos na agricultura; a fome e a idade avançada dos alunos. Cabe salientar que, verificou-se
nestes contextos a ausência do governo na promoção de políticas públicas em educação no município de Tefé e
uma presença marcante da Igreja Católica através da alfabetização, da evangelização e da conscientização dos
direitos e deveres do povo ribeirinho.
280
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
de meninas e jovens são ensinados na filosofia e práticas escoteiras em cerca de cem países. O objetivo central
deste artigo é o de historicizar o surgimento de scouting em dois países latino-americanos, o Brasil e a Argentina,
considerando-se como um movimento internacional é redefinido em estados nacionais para construir e treinar o
cidadão nacional. O trabalho é dedicado, em particular, para a análise do uso do escotismo nas regiões do sul de
ambos os países. O recorte temporal selecionado refere-se ao processo de consolidação do Estado argentino,
embora este seja anterior, a sua consolidação não se deu até o final do século XIX, período que coincide com a
república brasileira e que precede o aparecimento do escotismo, concebido como uma escola moral para a
infância e a juventude, a serviço de certos valores morais e éticos. A análise das semelhanças e diferenças entre
os dois movimentos será realizada tendo-se em conta os seus princípios orientadores, aos seus organizadores, as
suas ações iniciais e que lugar tiveram na Maçonaria e na Liga de Defesa Nacional, no caso do Brasil e da Liga
Patriótica na versão Argentina . Livros escoteiros, atas fundacionais, correspondência e imprensa nacional e
regional serão as fontes que sustentam esta investigação, com base em estudos culturais e na ideia de um Estado
regionalizado, o que determina a variável espacial e procederes e itinerários, em que em ambas as regiões sul
(Brasil e Argentina), o escotismo foi avaliado positivamente associado a "ordem e progresso" e utilizados como
propaganda nacionalista na esfera pública com caráter de modelo. Dessa forma, utiliza-se os referenciais teórico-
metodológicos da História Cultural para realizar uma análise do escotismo em duas realidades que possuem
várias características distintas, mas outras tantas semelhantes. Dessa forma, percebe-se as utilizações políticas
das práticas do escotismo em regiões distantes do centro político dos países estudados, regiões em que o Estado
utilizou instituições de formação moral para a infância e a juventude, como uma maneira de manter a unidade
nacional e fortalecer o Estado que então se consolidava, no caso argentino, ou um sistema político que se
estabelecia, no caso brasileiro.
281
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
memória se reconstrói o passado. Os resultados parciais apontam para a importância da figura do professor
alfabetizador no processo de escolarização inicial de crianças, influenciado esse processo por toda a vida, bem
como apontam para a necessidade de ouvir sujeitos envolvidos no processo de escolarização, como forma de
levantamento de dados sobre as práticas escolares, que revelam a existência de uma cultura escolar e assim
contribuir para a compreensão do processo de alfabetização do passado propondo soluções para os problemas
contemporâneos da alfabetização no Brasil.
série de tabus. O mais grave, segundo Ramos, era a interiorização dessas concepções por meio da auto-
repressão. Havia uma forte oposição enfrentada por um autor que além de admitir a atividade sexual para além
do seu caráter reprodutivo, o considerava como um instinto natural inclusive na infância. Aqui é preciso
considerar que o Brasil era um país católico em que o sexo era visto apenas como meio de reprodução. Nestas
condições falar em sexualidade infantil era um discurso que destoava das concepções morais do período. O
comportamento sexual na criança se revelava sobre diversas formas e com diferentes características. O objetivo
do artigo foi analisar as estratégias utilizadas para aproximar o saber técnico-científico sobre a sexualidade
infantil da população e os princípios que orientavam a educação sexual naquele contexto histórico. A orientação
dos médicos era recomendar aos pais que procurassem agir com justiça perante os filhos, tanto os excessos de
carinhos como de castigos e punições eram prejudiciais à infância. O caminho para ajudar um menor a superar
suas dificuldades na escola e no relacionamento com os demais era conhecer sua história de vida, conquistar a
sua confiança e procurar compreender suas atitudes. Nestes estudos a infância era tratada à luz da ciência, por
meio do que chamavam de “perspectiva esclarecida”, ciente das possíveis causas do comportamento inadequado
das crianças. O ideal era desenvolver mecanismos precisos para localizar a origem dos problemas que afetavam a
infância e propor soluções. Havia uma visível confiança no poder das ciências em resolver os mais diversos e
controversos problemas da nação, como era o caso da educação. Era preciso implantar um modelo de ensino
voltado para a transformação da realidade e a educação sexual faria parte desta nova escola que se vislumbrava.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
285
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
abordagem histórica centrada em pesquisa documental, por meio dos procedimentos de localização, seleção e
análise de fontes documentais; e de leitura de bibliografia especializada sobre a EJA, especialmente de
abordagem histórica. A relevância do estudo de Rio Claro justifica-se, por se desenvolver salas de EJA, sob
responsabilidade do município, que atendem jovens e adultos: nas etapas de 1º segmento (processo de
alfabetização - 1ª a 4ª séries) e 2º segmento do Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries); além de possuir salas que
atendem educandos jovens e adultos, por meio de um projeto de extensão universitária - PEJA - desenvolvido
pela UNESP, Rio Claro. Do desenvolvimento dessa pesquisa na qual serão apresentados, resultados da análise das
fontes documentais. Os resultados dessa análise propiciarão compreender como se deu o atendimento dessa EJA
após a municipalização dessa modalidade de ensino, possibilitando compreender a história da(s) primeira(s)
escola(s) que atenderam a EJA, em Rio Claro/SP.
286
Comunicações Individuais
Eixo Temático 5
“BRAÇO FORTE MÃO GENTIL”: AS CONTRIBUIÇÕES DA PROFESSORA ROSÁLIA BISPO DOS SANTOS PARA O
CENÁRIO EDUCACIONAL SERGIPANO (1960 1991). ..........................................................................................298
ANE ROSE DE JESUS SANTOS MACIEL ................................................................................................................298
JOAO MOUZART DE OLIVEIRA JUNIOR...............................................................................................................298
O PLANO DE ESTUDOS DE 1769 DE DOM FREI MANUEL DO CENÁCULO: A FORMAÇÃO DO PADRE PROFESSOR
CASSIA REGINA DIAS PEREIRA ........................................................................................................................... 300
CÉZAR DE ALENCAR ARNAUT DE TOLEDO..........................................................................................................300
ATUAÇÃO DO CORPO DOCENTE NOS GRUPOS ESCOLARES MARANHENSES NO PERÍODO DE 1903 A 1912......302
DIANA ROCHA DA SILVA....................................................................................................................................302
“UMA VEZ NOMEADO POR ATO DA PRESIDÊNCIA O PROFESSOR (...)”: “MODOS DE EXISTIR” DOS PROFESSORES
PRIMÁRIOS NA PROVÍNCIA PARANAENSE .......................................................................................................306
FRANCIELE FERREIRA FRANÇA........................................................................................................................... 306
UMA BIBLIOTECA PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: SABERES PEDAGÓGICOS QUE CIRCULARAM ENTRE
PROFESSORES E ALUNOS DA ESCOLA NORMAL PAULISTA ...............................................................................307
GIZELMA GUIMARÃES PEREIRA SALES............................................................................................................... 307
FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL E NOS ESTADOS UNIDOS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX. .308
INÁRA DE ALMEIDA GARCIA PINTO ................................................................................................................... 308
ALINE MACHADO DOS SANTOS......................................................................................................................... 308
A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA NO ENSINO SUPERIOR: FORMAÇÃO DO PROFESSOR EM CURITIBA FACE À LDB 5692/71
JACYARA BATISTA SANTINI................................................................................................................................ 310
“O MODO COMO APRENDI E ENSINEI”: A CONSTITUIÇÃO DA PROFESSORA JANETE AGUIAR DE SOUZA CRUZ 311
JOAQUIM FRANCISCO SOARES GUIMARÃES ...................................................................................................... 311
MARBENE COSTA DOS SANTOS......................................................................................................................... 311
290
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
QUEM SE QUER FORMAR NO CURSO NORMAL, NAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS EM CURITIBA – PR ........316
LIGIA LOBO DE ASSIS.........................................................................................................................................316
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL: IMPACTO DAS AÇÕES DO CENESP NAS
CONCEPÇÕES E PRÁTICAS INSTITUCIONALIZADAS NOS ANOS 1980 EM RORAIMA ..........................................319
MARIA EDITH ROMANO SIEMS-MARCONDES....................................................................................................319
O USO DE MATERIAIS DIDÁTICOS PELO PROFESSORADO PRIMÁRIO CATARINENSE NA DÉCADA DE 1960 .......321
MARILÂNDES MÓL RIBEIRO DE MELO ...............................................................................................................321
291
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
O ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA NO RIO GRANDE DO NORTE SEGUNDO A PROFESSORA OLÍVIA PEREIRA
(1928-1948) .....................................................................................................................................................324
NANAEL SIMÃO DE ARAÚJO.............................................................................................................................. 324
OS NORMALISTAS CHEGAM À UNIVERSIDADE: OS IMPACTOS DAS REFORMAS EDUCACIONAIS DOS ANOS 1920
E 1930 NO ACESSO AOS CURSOS SUPERIORES .................................................................................................325
PATRICIA GURGEL............................................................................................................................................. 325
SONIA MARIA DE CASTRO NOGUEIRA LOPES..................................................................................................... 325
A DOCÊNCIA NO BRASIL NO PERÍODO REPUBLICANO (1920-1970): OLHARES POR MEIO DAS FOTOGRAFIAS
PARA AS PRÁTICAS ESCOLARES........................................................................................................................325
ROSEANE MARIA DE AMORIM .......................................................................................................................... 325
292
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
293
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
cartas da professora D. Maria Amélia Jacobina, e como interlocutores Bastos, Cunha e Mignot (2002), Cunha
(2007), Gomes (2004), Malatian (2011), Mignot (2012), entre outros, a investigação pretende analisar, através da
escrita epistolar, a trajetória de uma mulher professora no século XIX, no subúrbio do Engenho de Dentro no Rio
de Janeiro.
296
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
pelos participantes, foram selecionadas as respostas que se referiam à memória mais antiga da escola,
acompanhadas da menção de onde, o que, quando, com quem e como ocorreram, bem como o que pensaram e
sentiram os envolvidos naquele momento. As histórias de vida possibilitaram conhecer uma grande variedade de
situações que dão sentido à vida das pessoas. Essas respostas foram categorizadas e submetidas a análise e
interpretação, numa abordagem qualitativa, com respaldo nas orientações de Bardin (2011) e nos estudos de
McAdams et al (1997). Como resultado, além de se recuperar a singularidade das histórias de vida escolar dos
alunos, contadas por eles mesmos, foi possível analisar a possibilidade de se trabalhar a autobiografia em
contextos de formação docente, identificando aproximações desses relatos com aprendizagens da docência e
com a construção da identidade profissional.
297
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
secundário nas mãos do governo federal, através do Ministério da Educação e Saúde, que se consubstanciou na
Lei Orgânica do Ensino Secundário de 1942, e sob cujo impacto, a nosso ver, o Colégio encerra uma espécie de
ciclo e perde o seu caráter de colégio padrão. O presente trabalho se debruça sobre o período imperial e procura
estudar o processo que caracterizamos como de uma progressiva disciplinarização do currículo, que se pode
constatar a partir do Regulamento de 1855, e do seu impacto no recrutamento e no trabalho docente dos
professores do Colégio. O novo Regulamento para o Imperial Colégio de Pedro II, aprovado por meio do Decreto
n. 1556, de 17/02/1855, que procurou adaptar o Colégio às exigências do Decreto-lei n. 1331-A, de 17/02/1854,
vulgarmente conhecido como Reforma Couto-Ferraz, introduziu uma série de alterações significativas no
funcionamento interno do Colégio, entre elas a exigência de concurso para o ingresso no seu quadro docente.
Como afirmamos em trabalhos anteriores, até então, os professores do Colégio eram diretamente nomeados
pelos Ministros do Império. Outra questão, com relação a essa primeira geração de professores, diz respeito à
sua intensa circulação entre as mais distintas cadeiras/matérias de ensino, sendo a interinidade a estratégia
frequentemente utilizada para o preenchimento das mesmas, ou seja, um professor era nomeado para uma
determinada cadeira, mas interinamente encarregado de uma outra. O Regulamento de 1855 cria também uma
nova categoria docente, a dos repetidores, que foi objeto de outro trabalho nosso e para a qual também se exige
o concurso para o ingresso. Diferentemente do que ocorria com os professores substitutos do primeiro
regulamento (1838), tais repetidores passavam a ficar vinculados a um grupo de matérias de ensino,
estabelecendo-se, portanto, uma primeira vinculação, ainda que tênue, entre o professor e uma área de
conhecimentos. Encontramos indícios, na documentação levantada, de que esse processo se dá,
preliminarmente, em determinadas áreas curriculares, a saber, as Ciências Naturais e as Matemáticas, o que
tentaremos analisar na parte final do texto.
298
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
intuito foi verificar o processo formativo desses docentes tomando por base suas histórias de vida. Em suma, em
uma profissão repleta de valores e crenças, como a docência, é inconcebível dissociar o processo formativo da
trajetória de vida do professor.
em que houve preocupação em preservar as bases de sustentação da política absolutista e a religião católica em
Portugal. Destacamos neste texto o Plano de Estudos para a Reforma da Ordem Terceira de São Francisco de
1769, elaborado por Dom Frei Manuel do Cenáculo, como um exemplo de uma proposta de formação de
professores que se alinhou com o contexto reformador de Pombal. Nele foi evidenciado o cuidado e a
importância que deveria ser dada à boa formação do professor e sua relação com o bom desenvolvimento do
aluno nos estudos e fora deles na sociedade. Apresentou uma proposta de ensino que defendia o método
científico, baseado na observação e na experimentação. Sua proposta curricular para a formação do padre
professor se constituiu em um exemplo de estrutura de ensino de cunho iluminista, mas, sem abandonar o
catolicismo. Seu pensamento pedagógico e sua proposta curricular propunha ao trabalho do professor um
caráter prático e interventivo. Destacou que suas práticas pedagógicas precisariam ser coerentes, e para isso elas
deveriam estar vinculadas a propostas metodológicas coerentes. O documento analisado representa o
movimento chamado de iluminismo católico, especificidade portuguesa.
301
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
nos parece até o presente momento inesgotável. Este trabalho, acreditando nessa hipótese, ao adentrar ainda
mais em suas especificidades procura investigar a história da profissão docente sob o prisma daqueles
professores que lecionaram/lecionam em uma instituição especializada na escolarização de alunos deficientes
visuais, na medida em que os trabalhos encontrados sobre esses estabelecimentos têm se preocupado mais com
as didáticas e as práticas docentes do que com a identidade docente desse agrupamento de professores. Nesse
sentido, este estudo tem o objetivo de compreender a trajetória profissional de docentes cegos e com baixa
visão do Instituto Benjamin Constant (IBC), órgão do Ministério da Educação (MEC) que presta atendimento a
pessoas com deficiência visual - cegueira e baixa visão - na estimulação precoce, educação infantil, ensino
fundamental - 1º ao 9º ano - à reabilitação. A partir de uma perspectiva sócio-histórica, toma como recorte seis
ex-alunos que estudaram nessa instituição de ensino e que após terminarem sua graduação retornaram a esse
mesmo estabelecimento como professores nos anos 1980, 1984, 1993 e 2006. Ou seja, o que fez com que esse
grupo de ex-alunos optasse por construir sua trajetória profissional no mesmo colégio em que foram alunos? A
comodidade? A certeza de que ali seriam bem recebidos? O receio do desconhecido? O risco em se verem em
uma escola regular? Enfim, esses são os questionamentos que movem este trabalho, cujas respostas, com
certeza, indicam facetas ainda não pesquisadas sobre a história da profissão docente. As fontes privilegiadas
deste estudo até agora analisadas são os resultados de um questionário aplicado a esse agrupamento de
professores, suas fichas funcionais, bem como suas fichas de ex-alunos. De imediato, alguns resultados já podem
ser percebidos: se há uma passagem de ex-aluno para professor a partir de uma linha sequencial que implica em
continuidade e ininterrupção, também podem ser detectadas algumas diferenças quanto às trajetórias desses
seis professores que compõem a amostra deste trabalho.
302
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
303
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
locais. Sá e Rosa (2004), apontam que em quase todos os estados brasileiros o magistério se torna uma ocupação
majoritariamente feminina entre finais dos séculos XIX e início do Século XX. Afirmam ainda que as razões
utilizadas para explicar esse fenômeno são muito semelhantes e “são mais afirmadas do que demonstradas”
(p.3). No caso do Espírito Santo, as mulheres passam a ser maioria no exercício do magistério a partir das
primeiras décadas do Século XX e este estudo pretende contribuir para a compreensão desse fenômeno, por
meio da investigação historiográfica de singularidades e semelhanças constituídas localmente.
Congressos Luso-Brasileiros de História da Educação (COLUBHE), Reuniões Anuais da ANPEd (Grupo de Trabalho
História da Educação/GTHE). Outros balanços da produção historiográfica sobre os educadores e seus entornos
vem sendo produzidos, assim o diferencial desta comunicação é recortar temporalmente um século da história
brasileira buscando verticalizar a análise de resultados de pesquisas acadêmicas desenvolvidas e questionar
matrizes interpretativas e análises propostas para as diferentes realidades brasileiras Como investigadora das
experiências docentes oitocentistas, compreendo o balanço na perspectiva proposta por José Gondra (2007),
como um esforço que “exige pensar nossa própria experiência de modo a diagnosticar nosso presente para dizer
o que somos hoje e o que significa, hoje, dizer o que somos. Atitude experimental que implica em um trabalho
nos limites de nós mesmos, do campo em que atuamos para, simultaneamente, apreender os pontos em que a
mudança é possível e desejável e para determinar a forma precisa a dar a essa mudança, como diria Foucault
(GONDRA, 2007, p. 174). Este esforço de diagnosticar permitiu delinear os contornos de uma produção ampla e
diversificada, com estudos que enveredaram a partir de diferentes entradas: as práticas cotidianas, a ação do
estado, reformas educacionais, formação docente, recrutamento e ingresso, exercício do magistério, processo de
profissionalização, associações, periódicos educacionais, representações do professor entre outras.
305
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
306
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
307
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
Escola Normal, nas primeiras décadas do século XX. Esses saberes disseminados em livros brasileiros e
estrangeiros, revistas, coleções, jornais e demais literaturas sobre o ensino na escola primária tinham como
objetivo oferecer subsídios para conduzir o trabalho docente dos futuros professores, com base nos considerados
avançados estudos da escola moderna, ativa, denominado no Brasil como Escola Nova. Este texto tem por
objetivo compreender aspectos relacionados à Biblioteca da Escola Normal, entendida como um espaço
destinado a reunir um conjunto de saberes, especialmente voltados à formação do professor, como é o caso das
bibliotecas das Escolas Normais. A circulação de saberes pedagógicos passa a ser um fator de grande relevância
para a formação de professores. Dessa forma, os livros de destinação pedagógica são importantes fontes de
divulgação, circulação e sistematização desses saberes científicos, psicológicos e pedagógicos a serem utilizados
pelos professores no desempenho de suas atividades. Esse livros, manuais, revistas etc. desempenharam um
papel relevante, tanto na formação dos professores, quanto no desempenho das funções do professor primário,
uma vez que, neles circulavam saberes e propostas de modelos de ensino que procuravam atender a um ideal de
renovação educacional, fundamentado, segundo os seus defensores, em “novos” e “modernos” pressupostos
teóricos e filosóficos, e que visavam a uma elevação do nível cultural e intelectual do país. Tais impressos
caracterizam-se como suportes de investigação para a compreensão de determinados saberes pedagógicos e
permitem analisar, na sua materialidade, tanto os processos de difusão e imposição desses saberes, quanto as
práticas dos que deles se apropriam. (CARVALHO, 1989). Essa pesquisa parte dos pressupostos de análise da
História Cultural, e busca compreender como em diferentes momentos uma determinada realidade tem sido
apropriada por diferentes leitores. (CHARTIER, 1990). Resultados da pesquisa permitiram compreender a
relevância desses impressos como fontes de divulgação e circulação de saberes necessários à formação do
professor primário, assim como para a configuração da escola primária, ao longo do seu desenvolvimento.
Compreender aspectos da formação de professores primários no Brasil é, também, conhecer como determinados
conjuntos de saberes pedagógicos e modelos culturais foram difundidos, desde o final do século XIX e que
tiveram relativa hegemonia nas primeiras décadas do século XX.
308
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
do conceito de competência, particularmente, e de sua força nas políticas educacionais mais recentes, buscou-se
examinar as apostas do ensino público em Santa Catarina na competência profissional do magistério, a partir de
uma análise da legislação educacional posta em vigor ao longo da segunda metade do século XX. O modo como
os professores incorporaram, ou não, a retórica da competência profissional contida nos dispositivos legais, foi
instrumento de análise por intermédio das representações descritas por eles. Para a realização deste estudo, nos
apoiamos em concepções teóricas produzidas, principalmente, no quadro da sociologia e da história da
educação. O estudo das representações dos professores aposentados em relação a competência docente, mais
especificamente a como que um professor se torna competente evidenciou cinco aspectos mais atribuídos pelos
docentes aposentados, graças: ao seu esforço pessoal (95%); a experiência em sala de aula (88%); ao curso de
capacitação (85,5%); ao curso de formação inicial (73,5%) e aos recursos didáticos (55%). Assim sendo, as
representações dos professores interrogados com relação a competência apontam para o caráter polissêmico do
termo e de seu uso bastante ambíguo no campo sócio-educativo.
direção ficou à incumbência do Curso de Artes Plásticas na Educação - CAPE. Pesquisas têm-se ampliado no
âmbito da história e da historiografia desse ensino no Brasil acerca da formação e dos cursos que marcam essa
trajetória e o Paraná tem sua própria história, marcada primeiramente, por artistas/professores imigrantes como
Alfredo Andersen, Guido Viaro, Ricardo e Emma Koch, entre outros que aqui se instalaram e desenvolveram seus
projetos, norteados pelos ideais da livre expressão, das escolinhas de arte e dos movimentos renovadores da
educação. A necessidade da formação superior para o professor de Arte já era sentida e discutida em Curitiba
desde a ciência do projeto de reforma educacional, inclusive pelo CAPE, que possuía fortes ideais relacionados à
formação e desejava expandir-se para a formação universitária. Inicialmente objetiva-se, com esse texto,
compreender a passagem ou a transformação do lugar de formação do professor de arte mediante um conjunto
de fatores que se impuseram à realidade Curitibana: a promulgação da lei 5692/71, o fim do Curso de Artes
Plásticas na Educação - CAPE e o início do curso de licenciatura em Educação Artística na Faculdade de Educação
Musical do Paraná em 1976, uma instituição que até então tinha sua trajetória exclusiva na área de música. Além
disso, busca-se refletir sobre as condições do ensino de arte e seus mecanismos de sustentação para a formação
específica do professor diante da referida lei. Algumas pesquisas historiográficas no âmbito do ensino de arte,
realizadas pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Paraná - UFPR
fundamentam essa reflexão. São as de: Ricardo Carneiro Antonio, Denise Bandeira, Dulce Osinski, Luciana Gurgel,
João Paulo de Souza Silva e Rossano Silva. Utiliza-se ainda fontes como Circulares, Ofícios, Relatório de
Atividades, Convênios, Leis, Resoluções e Pareceres. Para embasar algumas relações sobre a Lei 5692/71 e o
entendimento da legislação escolar buscou-se autores como Nádia Gonçalves, Telma Valério e Faria Filho. Para
pensar sobre a situação do ensino de arte, especificamente diante das mudanças da lei 5692/71, apoia-se em
balanços feitos por Ana Mae Barbosa e Carmen Biasoli. Por fim, para adensar as reflexões sobre ações no interior
de instâncias de poder buscou-se Michel de Certeau.
discursos que circulavam no contexto da Reforma da Educação no Espírito Santo no período aponta para: a) a
valorização de conhecimentos científicos relativos à Psicologia, à Sociologia e à Filosofia na formação de
professores; b) a presença do ideário de uma política desenvolvimentista; c) a utilização de modelos estrangeiros
como orientação para a educação, entendida como “elemento chave” para o progresso e para o
desenvolvimento da nação; d) a ênfase ao exercício da didática em sala de aula. Tanto nos discursos analisados
como no livro Didática Mínima, identificamos como características da proposta reformadora realizada, políticas e
programas voltados para a formação de professores em serviço, com base na pedagogia nova, assim como
iniciativas que visavam à organização profissional do trabalho docente.
membros as ABE, como também pelo Ministério da Guerra. Em “operação historiográfica” como nos indica
Certeau (1982) recorremos às fontes científicas. As Atas da Seção de Educação Física e Higiene da ABE, da 20ª
sessão de 2 de maio de 1929, da 21ª sessão de 16 maio, da 22ª sessão de 3 de maio de 1929, da 23ª sessão de 30
de maio de 1929, da 24ª sessão de 13 de junho de 1929, da 31ª reunião da ABE em 14 de novembro de 1929 e da
32ª reunião da ABE em 22 de novembro de 1929 constituem um corpus empírico importante para que possamos
investigar às pistas, às evidências e os encobertos à luz da história cultural (Burke, 1992, p.14-16) num esforço de
heteroglossia, entrecruzamento de linguagem, ideologias e poder. Assim, buscamos pensar representações,
imagens e proposições interpretativas dos métodos pedagógicos norte-americanos imiscuídos no processo de
formação de professores para a prática docente da educação física no país. Nesta perspectiva, a partir de 1929, a
Associação Brasileira de Educação (ABE) e, de modo mais específico, através de sua Secção de Educação Physica e
Hygiene (SEPH) estreitou diálogo com a Associação Cristã de Moços (ACM) e com a Associação Cristã
Feminina(ACF) a fim de estabelecer uma rede de trocas com entidades educacionais norte-americanas para
formação de profissional de educação física. Não à toa, os membros da ACM e da ACF, passaram a frequentar
reuniões do Conselho Diretor da ABE e da sua Sessão da SEPH. Neste mesmo período, ACM foi escolhida pela ABE
para ser a interlocutora para os assuntos relativos à Educação Física. Conectada à ACM, ABE passou a ter
afinidade com modelo pedagógica norte-americano, ao enviar frequentemente professores e professoras
associados da ABE para a realização de cursos de formação pedagógica em educação física nas entidades
educacionais nos Estados Unidos da América do Norte. Pressupostos que modelaram proposições para a
Educação Física no Brasil.
314
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Educação a Distância, relaciona-se mais à descrição de procedimentos de trabalho e prática pedagógica dos
tutores e pouco à formação de tutores. No entanto, com base no referencial bibliográfico, foi também possível
avaliar que está em construção uma teoria sobre a formação de tutores, tendo como referência a produção já
bastante consolidada a formação de professores.
fechamento do Curso de Magistério em razão deste ser objeto de legislação específica do Conselho Estadual de
Educação do Estado do Paraná (Deliberação PR/ CEE 002/90), que tratava especificamente da regulamentação
desta habilitação. Serão utilizados para esse fim o documento síntese do Programa de Melhoria e Expansão do
Ensino Médio - PROEM (PARANÁ, 1996), bem como artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado que
tratam do tema (ALMEIDA, 2004; SANDRI, 2007; VALGAS, 2003). Os elementos acerca do perfil do egresso e da
trajetória de formação para o Curso Normal nas escolas que compõem o campo de pesquisa atualmente serão
baseados na Proposta Pedagógica Curricular do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos
Iniciais do ensino Fundamental, em Nível Médio, na modalidade Normal, produzida pela Secretaria Estadual da
Educação do Paraná (PARANÁ, SEED, 2006) e nos projetos de curso elaborados e implementados pelas
instituições formadoras. Análises preliminares da proposta oficial e dos projetos pedagógicos das escolas
indicaram que é comum aos documentos, tanto da Secretaria de Estado como aqueles em vigência nas escolas, a
explicitação de que visam à formação de educadores e professores para a Educação Básica, mais especificamente
para a atuação na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. A partir desta constatação
pretende-se constituir elementos que contribuam para compreensão tanto da suposta função e demanda social
pela continuidade de sua oferta no âmbito da pesquisa ora realizada.
317
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
professoras que, não estando nas lideranças do movimento grevista, atuaram dentro das escolas, nas ruas e
acampadas nas praças. Procura compreender seus sentimentos, seu olhar sobre o vivido e o sentido durante as
greves. O estudo dialoga com a perspectiva de Michel Foucault sobre os homens infames, aqueles que durante
séculos foram esquecidos por uma História que privilegiava as ações de uns, eleitos como merecedores de terem
suas vidas narradas, destinando outros a um estado de marginalidade, de anonimato. Através das entrevistas,
procuro trazer à tona este passado das greves em que foram sujeitos muitas mulheres-professoras. Esse ato de
lembrar, afirma Lucilia de Almeida Neves, insere-se entre as possibilidades múltiplas de registro do passado,
elaboração das representações e afirmação de identidades construídas na dinâmica da História. Não perdendo de
vista a afirmação de Alistair Thomson, compomos nossas memórias para dar sentido à nossa vida passada e
presente. Relembrar, revisitar as memórias atualizando o tempo passado, tornando-o vivo e cheio de significados
no presente.
repassada pelas Escolas Normais. Ocorre, então, nesse ínterim, uma coexistência entre as duas maneiras de
formação. Os fundos que ampararam a busca de evidências para esta investigação foram dois, localizados no
Arquivo Público Mineiro: Presidência da Província e Instrução Pública, nos quais se pesquisou e transcreveram-se
determinados documentos. Trabalha-se metodologicamente embasando-se no pensador Michel Foucault,
inspirando-se em seus estudos genealógicos para desenvolver os argumentos e analisar as fontes pesquisadas.
Baliza-se a análise agrupando os documentos em cinco grupos temáticos, a saber, Controle dos Alunos, A
Conduta e os Conteúdos dos Professores, Os Outros Especialistas da Escola: a Vigilância da Conduta, O Salário e a
Docência como Dom, As Leis e os Métodos de Ensino. Cada um desses tópicos vem explicar como se pode, a
partir deles, lançar luz à formação de professores no período estabelecido. Percebe-se que a obrigatoriedade
escolar é pioneira na província de Minas Gerais. Obrigar as crianças em idade escolar a frequentarem as escolas
remete a uma medida do bom governo, e coincide com a necessidade do controle social. Além disso, há também
a criação de cargos que atuam no controle direto da atuação do professorado, como os inspetores e delegados,
além do diretor. Há uma clara normatização dos deveres dos professores, e uma exaustiva regulamentação de
conduta para os estudantes. Muitas reclamações são encontradas acerca de estrutura física e ausência de
materiais e utensílios para o sucesso das aulas. Existiam inúmeros pedidos de demissão de professores que
encontram outras profissões mais rentáveis que a docente ou que alegavam terem sido acometidos por
moléstias que os impediam de prosseguir com a realização de seus trabalhos. Essa evasão de profissionais gerava
certa flexibilização no cumprimento das leis. Relativizava-se, por exemplo, a real necessidade de punição de um
professor que não se adaptava ao novo método de ensino, já que o método antigo, ainda que inadequado sob a
voz da lei e aos olhos do Estado, dava resultados na instrução e mantinha o docente empregado. Ser professor
após a independência era, portanto, um ato encarado por poucos, e esses poucos por vezes não resistiam à
tarefa de lecionar sob as condições que lhes eram ofertadas, solicitando a retirada do cargo em decorrência de
moléstias ou pelo salário baixo.
320
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
obrigatoriedade do ensino. No movimento de expansão do ensino público e nos projetos dos Conselheiros e
reformadores os professores primários apareciam como objeto de discussão, pois seria necessário qualificá-los
para a formação dos futuros cidadãos. Aliado a questões específicas sobre a forma escolar que seria difundida, o
debate acerca da necessidade de criar escolas primárias e educar as crianças e jovens das classes populares, que
estava presente desde os anos finais do Império se mantinha nas falas de diferentes sujeitos, como escritores,
advogados, literatos e políticos (SCHUELER, 2002; COSTA, 2012). Ao propor esse estudo, questões podem ser
levantadas como, por exemplo, o que era necessário para o exercício da função segundo os responsáveis pela sua
ordenação? Como os professores primários e a Escola Normal apareciam nas falas administrativas? De que
maneira os administradores percebiam e registravam os acontecimentos do ensino? Questões que serão
investigadas a fim de entendermos o papel dos professores primários, sua atuação na escola pública e algumas
representações construídas sobre eles nas décadas finais do século XIX e iniciais do XX.
autoritário. Tais relatos, de ordem política e social: “Era perigoso”, “Tínhamos que ter cuidado”, “Não podíamos
falar de democracia”; e de ordem didático-pedagógica: “Eles ‘mexeram’ nas disciplinas”, evidenciam a percepção
do cerceamento das liberdades, da alteridade. Contudo, o grau e a forma como avaliavam esse controle variava
entre os professores. Nas narrativas sobre a docência, os professores intercalam os fatos vividos nas escolas com
a vida familiar, os problemas, desafios e as experiências carregadas de humor, de entusiasmo e, em muitos casos,
a ênfase estava no fato de terem cumprido o seu papel de educadores, de terem feito o melhor que puderam
pelos alunos, pelas escolas e por eles mesmos, como o relato que segue: “Nós éramos professores o tempo todo.
Era como um sacerdócio!” (PROFESSORA C.R.N.). Trata-se de modos múltiplos de perceber e narrar suas
experiências, que evidenciam também modos distintos de compreender a História. Em tempos sombrios, como
aos que aqui se refere, diante das tensões e das prescrições, por um lado pela Lei nº 5692/1971 e, por outro, pela
ênfase na formação técnica, de mão de obra para o mercado de trabalho, os professores relataram suas
percepções sobre a disciplina na qual atuavam a partir das seguintes questões: ensino: buscavam tornar essa
disciplina mais significativa para os estudantes; zelavam por desenvolver um “bom trabalho”, mesmo que isso
implicasse na adoção de modelos autoritários; que confessam ter ensinado uma História meio “truncada”.
Concepção de História: compreendiam que, a História constituía-se em “[...] disciplina que nunca formou
cidadãos, pelo contrário, era ministrada de forma metódica que ‘forçava’ apenas a decorar hinos, armas e
brasões, um terror” (PROFESSOR M.F.S.F); Outros que permaneceram compreendendo a história tal como antes
da Ditadura e das prescrições no período instituídas. Professores que, em meio às diretrizes a serem seguidas,
percebiam a História permeada por outros saberes, que, de algum modo, escapavam às prescrições, como forma
de inventar seus fazeres docentes cotidianamente.
323
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
apresentamos os documentos localizados no acervo pessoal de Jane Carmen Lacerda, ex-aluna da Escola Normal
de Paranaíba/MT, e outros documentos como atas, cópia do Diário Oficial, pasta das ex-alunas do Curso Normal
encontrados no arquivo da escola Estadual Aracilda Cícero Correia da Costa, local onde funcionaram os cursos de
formação de professores na cidade de Paranaíba. Todo o material encontrado, após reunião, seleção e
organização constituem os documentos que ajudam a compor a história do Curso Normal de Paranaíba/MT.
325
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
práticas, captando, portando, a concepção de educação da época. O estudo aqui apresentado encontra-se filiado
a uma pesquisa qualitativa, inserido no campo da Antropologia e da História cultural. Como não podia deixar de
ser, estaremos estudando as crenças, as representações e os dizeres produzidos pelas pessoas no passado, por
meio dos documentos escritos e fotográficos. Apesar disso, os nossos questionamentos nasceram no presente,
quando em confronto com a realidade em que estamos imersos. Notamos, a partir dos estudos realizados, que
há pouca produção no Brasil e em Alagoas sobre as práticas educativas vividas por professores e professoras
através da análise fotográfica. Compreendemos que a educação é construída por pessoas comuns que em seu
cotidiano realizam ações e constroem conhecimentos de diferentes modos. Ainda, podemos dizer que de certa
forma a realidade do passado é quase inatingível. O historiador produz uma “ficção controlada” a partir da
construção de sua narrativa, “compondo uma espécie de ilusão ou versão sobre o passado” (PESAVENTO, 2003,
p. 22). Pois, o que elaboramos sobre o passado é também uma produção cultural do homem e da mulher no
tempo presente. Sendo assim, estamos filiados à Nova História Cultural e à Antropologia cultural. A cultura é
entendida como todo fazer humano, tanto nos aspectos materiais, quanto simbólicos. Enfim, de modo geral,
podemos afirmar que a educação é um elemento da prática social responsável pelo processo de socialização e de
organização dos sujeitos no mundo, isto é, na vida cotidiana. Atua, também, no desenvolvimento da inteligência,
da aprendizagem e da personalidade, e garante a sobrevivência e o funcionamento das coletividades humanas. O
ser humano, em seu desenvolvimento, busca progressivamente a descoberta de si próprio pelas experiências no
mundo exterior e interior, através do processo de aprendizagem e das trocas diárias. Nessa perspectiva,
destacamos a importância do nosso trabalho, na medida em que recupera aspectos da docência no Brasil. Dentre
os autores estudados, destacamos Vicentini e Lugli (2009) Gondra (2008) e Pesavento (2003). Palavras-chave:
Docência. Período Republicano. Fotografias.
326
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
327
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
derivada do Tupi Guarani, que significa “pedra bonita”, possa ser (re)conhecida além de sua etimologia; e as
pedras bonitas passem a ser os antigos professores da cidade, que possam ter vida, alma, vozes; que suas
lembranças ecoem para além das pedras bonitas assentadas na cidade, fixando-se principalmente em nossos
afetos, conforme apresenta Ecléa Bosi, de maneira bem mais entranhada, do que simplesmente observar as
pedras como coisas. A metodologia está pautada na pesquisa narrativa, que considera a experiência de vida
como história, sendo que as histórias serão trazidas não como parte da pesquisa, mas sim como a própria
pesquisa. Nesta perspectiva, as contribuições da história oral, considerada como a interpretação dessas histórias
de vidas e das possíveis mudanças que as sociedades e culturas passam, por meio da escuta das pessoas e do
registro de suas lembranças e experiências, seja pelas produções de novas fontes históricas, seja pelo
compartilhamento das histórias de vida através de diferentes suportes disseminadores das memórias, venham
fortalecer a cidadania e a constituição de uma sociedade cada vez mais plural e democrática.
329
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
330
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
elaborado, a fim de fazê-los falar por meio da noção de circularidade e do cruzamento das fontes. A princípio, por
determinação legal todos os docentes da Escola Normal Pedro II, localizada também em Vitória – ES, tornaram-se
professores do GES. Posteriormente o educandário foi entregue à Congregação do Verbo Divino, o que ocasionou
uma predominância de religiosos no quadro de professores. No que se refere à estrutura curricular, a saber:
orientações metodológicas, duração do curso e disciplinas ministradas no Ginásio do Espírito Santo, houve uma
apropriação do Programa de Ensino oficial e orientações advindas do Colégio Pedro II.
encontrados nessas fontes possibilitaram uma análise preliminar de quem eram estes professores: filiação,
formação acadêmica, itinerários profissionais, inserção social, bem como as condições de trabalho, incluindo os
recursos materiais para o exercício profissional. Como ferramenta teórico-metodológica destacam-se as
contribuições de Jean-François Sirinelli com seus conceitos de itinerário, geração e sociabilidade como forma de
analisar o intelectual (professor) como ator político, e de experiência de E. P. Thompson, a fim de compreender
as ações e representações condicionadas destes professores que o contexto lhes permitia. As fontes
demonstraram que a vivência dos professores ao se depararem com diferentes realidades, tais como a atuação
em escolas precárias ou planejadas, conseguidas sob a dispensa de seus recursos ou do Estado, localizadas nas
zonas rural, urbana periférica ou central, com alunos de diferentes faixas etárias, graus de escolarização ou
organizados em salas seriadas; a escassez ou acesso a materiais didático-pedagógicos; suas obrigações
administrativo-pedagógicas; seus relacionamentos conflitantes ou amistosos com inspetores, diretores e
autoridades locais; as epidemias que se alastraram pela região, as festas religiosas e outros eventos que
diminuíam os dias letivos; as licenças médicas, problemas de ordem pessoal, etc.; foram determinantes para a
forma como estes professores “trataram” na consciência estas situações e como agiram diante delas. Com isso,
foi possível avaliar de que maneira as relações hierárquicas com o Estado, além de sua inserção social, acabaram
por influenciar na atuação e na carreira destes professores.
332
Comunicações Individuais
Eixo Temático 6
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO: UMA HISTÓRIA DA DISCIPLINA NO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO DE BELO HORIZONTE
[ENTRE AS DÉCADAS DE 1960 E 1990] ..............................................................................................................343
AURILANE MESQUITA FREITAS.......................................................................................................................... 343
PROJETOS DE CIVILIZAÇÃO: EDUCAR A MORAL E DISCIPLINAR CORPOS E MENTES NA CORTE IMPERIAL (1860-
1880) ...............................................................................................................................................................348
FÁTIMA APARECIDA DO NASCIMENTO.............................................................................................................. 348
“PARA DAR PERFEITA EDUCAÇÃO À ALMA DO TENRO INFANTE”: RECOMENDAÇÕES E PRESCRIÇÕES MORAIS
EM UM MANUAL PORTUGUÊS DO SÉCULO XVIII..............................................................................................349
FERNANDO CEZAR RIPE DA CRUZ...................................................................................................................... 349
“ASSIM DEVEM PROCEDER TODAS AS MENINAS EDUCADAS!”: EDUCAÇÃO FEMININA EM LIVROS DE LEITURA
FLÁVIA REZENDE .............................................................................................................................................. 350
CIRCULAÇÃO DE PRINCÍPIOS DA ESCOLA NOVA EM SANTA CATARINA NA DÉCADA DE 1940: UMA ANÁLISE
CRÍTICA DO DISCURSO DA DISCIPLINA DE “LEITURA, LINGUAGEM ORAL E ESCRITA”.......................................351
GLADYS MARY GHIZONI TEIVE .......................................................................................................................... 351
O SABER HISTÓRICO NOS LIVROS DIDÁTICOS PARA O ENSINO PRIMÁRIO (1917-1945): UMA ANÁLISE DO
MANUAL NOSSA PÁTRIA..................................................................................................................................352
HELOISA ANTONIO FERREIRA............................................................................................................................ 352
A CIRCULAÇÃO DA ARITMÉTICA DE SOUZA LOBO NAS AULAS PÚBLICAS DE PORTO ALEGRE (1892 – 1921).....353
JOSEANE LEONARDI CRAVEIRO EL HAWAT ........................................................................................................ 353
A OLIMPÍADA ESCOLAR E A CULTURA ESPORTIVA CAPIXABA NA GRANDE IMPRENSA CAPIXABA (1946-1954) 355
MARCELO LAQUINI ELLER ................................................................................................................................. 355
OMAR SCHNEIDER............................................................................................................................................ 355
WALLACE ROCHA ASSUNÇÃO............................................................................................................................ 355
MARCELA BRUSCHI........................................................................................................................................... 355
SOAM CANÇÕES COM MATIZES ALEMÃES E CANTOS CÍVICOS BRASILEIROS; CONJUGAM-SE TRADIÇÕES
MILENARES COM CIDADANIA NO COLLEGIO ALLEMÃO DE PELOTAS-RS (1910-1940).......................................356
MARIA ANGELA PETER DA FONSECA ................................................................................................................. 356
A PRODUÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA E HISTÓRIA NO NPGED NO PERÍODO DE 1997 ATE 2014 ........................357
MARIZA ALVES GUIMARÃES.............................................................................................................................. 357
CONCEPÇÕES DE HISTÓRIA E DO SEU ENSINO EXPRESSAS NAS DIRETRIZES CURRICULARES DURANTE O REGIME
DITATORIAL NO ESPÍRITO SANTO (1964-1985).................................................................................................359
MIRIÃ LÚCIA LUIZ .............................................................................................................................................359
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE (1968-1998).......362
PATRICIA SLANY SOARES PEREIRA.....................................................................................................................362
O TRABALHO DE OLGA REVERBEL PARA O ENSINO DO TEATRO ENTRE OS ANOS DE 1974 A 1989 ...................365
SIMONE VARELA...............................................................................................................................................365
337
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
A ARITHMÉTICA ESCOLAR – LIVRO DO MESTRE DE RAMON ROCA DORDAL: AS PRESCRIÇÕES NOS PROGRAMAS
DE SANTA CATARINA .......................................................................................................................................366
THUYSA SCHLICHTING DE SOUZA...................................................................................................................... 366
DAVID ANTONIO DA COSTA .............................................................................................................................. 366
DAS REPRESENTAÇÕES AOS SENTIDOS: AS FESTIVIDADES ESCOLARES DO GRUPO ESCOLAR SOLON DE LUCENA
EM CAMPINA GRANDE-PB (1924-1937) ...........................................................................................................367
VÍVIA DE MELO SILVA ....................................................................................................................................... 367
RECURSOS PARA O ENSINO DE MÚSICA E CANTO ORFEÔNICO NA ESCOLA SECUNDÁRIA PÚBLICA DE CURITIBA
(1931-1956) .....................................................................................................................................................368
WILSON LEMOS JÚNIOR.................................................................................................................................... 368
338
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
339
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
organização própria do conhecimento (CHERVEL, 1990). Essa construção se dá, principalmente, através do
diálogo com outras áreas do saber, como a Psicologia e a Pedagogia. É importante ressaltar também que, ao
propor um formato para o livro destinado às crianças, a disciplina literatura infantil parece interferir no circuito
de circulação (DARNTON, 2009) desse gênero literário, ao menos no que se refere à circulação no meio escolar,
uma vez que privilegia certos formatos de encadernação, de linguagem e de ilustração, em detrimento de outros.
Por último, nota-se que o estudo ancora-se em reflexões teóricas e metodológicas extraídas tanto da História da
Leitura quanto da História da Educação.
discursos presentes em “Princípios de Pedagogia” são entrecruzados com outras fontes, como por exemplo, o
Programa da Escola Normal do Estado de Santa Catarina do ano de 1911, e são entendidos nesta produção como
representações, que procuram disseminar um modelo de educação a partir de determinados ideais, sustentados
pela ciência. A partir da classificação proposta pela autora Marta Maria Chagas de Carvalho (2006), identifica-se
este manual como um Tratado de Pedagogia, o qual expõe teorias por meio de argumentos de autoridades
científicas. Assume-se aqui a percepção de que os manuais são fontes muito prósperas para análises no âmbito
da História da Educação, por colaborarem, entre outros fatores, para a construção de uma cultura escolar,
auxiliando, a partir da divulgação de seus discursos, na elaboração de representações sobre educação e práticas
pedagógicas por parte de docentes já atuantes ou ainda em formação. Para fundamentar as reflexões
desenvolvidas neste trabalho, apoia-se em produções de autores como Dominique Julia (2011), para tratar do
conceito de “cultura escolar”; e de Chartier (2002), no que se refere às noções de representação e apropriação.
Pelas análises desenvolvidas, percebe-se nos discursos de José Augusto Coelho contidos nas páginas do tratado
“Princípios de Pedagogia”, a defesa de uma Pedagogia entendida como ciência e a responsabilização da educação
para adaptar os alunos à civilização. Nesta direção, destaca-se a importância do exemplo que deveria partir dos
docentes para que os alunos se espelhassem, o que seria decisivo e essencial na formação da virtude e da
moralidade das crianças.
341
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
superior e sua articulação com o ensino básico. A pesquisa pretende se estender até a década de 1990, marco de
expansão dos centros universitários do país. A proposta é explorar, por meio da utilização e articulação de fontes
variadas - textos oficiais programáticos, leis, decretos, planos de estudo, programas, métodos, exercícios, etc. -
uma história da disciplina de Filosofia da Educação no currículo de formação de professores do curso de
pedagogia, entre o final de década de 1960 até a década de 1990, investigando as relações entre a disciplina e os
aspectos políticos, sociais e culturais que influenciaram na organização da estrutura curricular do curso de
pedagogia da UFMG. A pesquisa aspira oferecer possíveis reflexões para os problemas contemporâneos relativos
à educação, ao processo de escolarização e à sua história, considerando como elementos-chave os conceitos de
disciplina, cultura, experiência e formação. Para essa análise investigativa foram escolhidas, inicialmente, três
abordagens historiográficas, imprescindíveis para o seu desenvolvimento: as propostas metodológicas do
historiador inglês Edward Thompson, com o intuito de captar aspectos culturais, sociais e políticos na medida em
que são tomados como intermediários em certos aspectos da estrutura do sistema educativo, o emprego do
conceito de experiência thopmsoniana amplia as considerações a respeito dos diversos sujeitos envolvidos no
processo de legitimação da escolarização, suas influências e interesses, e o conceito de formação possibilita
alcançar uma compreensão entre práticas formativas e práticas escolares, presentes no processo de
escolarização da referida Instituição de ensino; e duas abordagens historiográficas dentro do campo da História
das Disciplinas Escolares: o viés historiográfico francês de André Chervel, na medida em que se servirá de suas
definições sobre disciplina e cultura escolar; e a historiografia anglo-saxônica de Ivor Goodson, uma vez que, se
reportará às suas teorias sobre o currículo como um artefato social e político e a constituição das disciplinas
acadêmicas. A análise de uma história da disciplina na formação docente pretende compreender as relações
entre diretrizes curriculares, instâncias legais e institucionais, programa da disciplina, projeto político pedagógico,
etc., que são muitas vezes marcadas por tensões que remetem às experiências sócio-históricas que as viabilizam.
344
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
de conhecer os locais, isto é cadeiras isoladas, cursos e colégios que lecionaram Geografia em São Paulo no
período de 1834 a 1896, e os sujeitos que a compõem, alunos e professores destacando como a disciplina de
Geografia foi se constituindo ao longo desse período.
concepções didáticas no trabalho com a referida disciplina no decorrer do século XX e sua caracterização vigente
nas diretrizes curriculares da rede estadual de ensino. Para tanto, utiliza-se, enquanto fontes: Regulamentos do
ensino público entre 1902 e 1915, os jornais “A Pacotilha” e “Diário do Maranhão” periódicos da primeira década
do século XX, os principais livros didáticos abordados na disciplina e a proposta curricular da rede estadual de
ensino do ano de 2013. Por meio do estudo, identifica-se a concepção de História que norteou a abordagem da
disciplina e seus desdobramentos na formação do aluno a partir de pressupostos da história local. Assim,
contribui-se para a escrita de uma nova História da Educação Maranhense com base na interpretação do
currículo escolar e sua relação com a cultura local. A partir dos aspectos apontados pela pesquisa, compreende-
se que a disciplina História do Maranhão em sua trajetória, se fundamentou no processo de “invenção da
tradição” ao instituir os conteúdos curriculares a serem abordados no âmbito da História Regional.
Caracterizando a parte diversificada do currículo, a referida disciplina escolar foi permeada pela condução
problemática da relação entre identidade e diversidade. No currículo da rede estadual, a organização do ensino
de História do Maranhão vinculou-se ao estabelecimento de um padrão quanto à seleção de conteúdos. Nesse
sentido, privilegiou fatos, narrativas, sujeitos, elementos identitários, ou seja, versões da História construída por
uma parcela da sociedade em detrimento de toda a diversidade étnica e cultural maranhense.
347
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
348
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
costumes de professores e alunos. Nas páginas do impresso, foi possível perceber alguns vestígios relacionados
ao funcionamento do comércio da instrução, que pretendiam por em prática o projeto moralizador a partir da
ordem e da disciplina, cuja intenção era homogeneizar comportamentos na sociedade. Observamos que o
propósito era utilizar o veículo impresso, as normas legais, as ações públicas de controle e fiscalização para
construir representações acerca da conduta moral, para erigir dispositivos direcionados à formação de uma
população ordeira e disciplinada.
349
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
350
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
História da Educação, Cultura e Literatura, que já localizou vários compêndios para o ensino da cadeira, tais como
Opúsculo da Descripção geographica e topographica, phizica, política, e histórica do que unicamente respeita à
provincia das Alagôas no Império do Brazil (1844), de Antônio Joaquim Moura; Geografia alagoana ou descrição
física, política e histórica da província das Alagoas (1860) e Elementos de Geographia e Cosmographia oferecidos
a mocidade alagoana (1874), ambos de Thomaz do Bomfim Espíndola. Conforme Madeira e Reis (2011), durante
o século XIX havia uma concepção predominante de que os agentes físicos influenciavam mais poderosamente a
raça humana, sendo fator determinante para o desenvolvimento da nação. Dessa maneira, ganhavam destaque
os aspectos geográficos frentes as demais áreas de ensino. Além disso, a geografia antecede a história porque
também havia a necessidade de se demarcar territórios, descrevê-los e medi-los. Somente assim se poderia
elaborar a história pátria, com suas dimensões territoriais definidas. Souza Neto (1997) observa que o
pensamento geográfico do Império tinha uma relação direta com o poder político, e tal prestígio tinha
desdobramentos diretos na forma de circular o saber geográfico nas escolas provinciais, em especial, por
disseminar a ideia de que havia uma força externa ao homem, definindo o seu presente e o seu futuro. Para
identificarmos a finalidade do ensino de história, bem como analisarmos os compêndios e manuais utilizados,
apropriamo-nos das reflexões teórico-metodológicas de autores como Choppin (2004), Souza Neto (1997) e
Galvão (2005) e com relação à análise do livro didático destacamos os pesquisadores Bittencourt (2004), Corrêa
(2000) e Munakata (2013).
353
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
pública gaúcha, como professor da Escola Normal, diretor geral da Instrução Pública da Província e,
posteriormente, da Escola Normal, inspetor escolar e, também, autor de livros didáticos. Com o propósito de
identificar elementos acerca da circulação da Primeira Arithmetica nas aulas públicas primárias de Porto Alegre
no final do século XIX e início do século XX, foram analisados três conjuntos de documentos: as inscrições
contidas na capa e interior do livro, os “Mappa(s) Demonstrativo(s) dos objectos recebidos pelo Almoxarifado da
Instrução Publica e distribuidos ás escolas publicas” e livros de inventários do período, estes últimos localizados
no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul. A reflexão proposta ampara-se na perspectiva da história cultural, na
qual o campo historiográfico de investigação explora as diversas possibilidades de analisar a trajetória do homem
no tempo e espaço. Dessa forma, os estudos da história cultural abrangem as mais variadas produções do próprio
homem, procedendo à observação da cultura letrada, da cultura popular, das diferentes manifestações sociais de
determinados grupos, a produção cultural de sociedades diversas, cotidianos, normas de conduta, sistemas de
educação e cultura material. Segundo Roger Chartier, a história cultural, do modo como a compreendemos, tem
por principal intenção identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade
social é estabelecida, pensada, dada a ler (2002). Tendo em vista que a Primeira Arithmetica esteve presente nas
aulas públicas da capital, tanto nas aulas do sexo masculino como mistas e, ainda, contando com um número
significativo de edições, mesmo após a morte do autor, acredita-se que esta obra possa ter desempenhado uma
função de apoio no cotidiano e práticas docentes das aulas públicas de Porto Alegre. Nesse sentido, ao examinar
a circulação do livro do professor Souza Lobo foram consideradas as apreciações de Alain Choppin acerca das
funções essenciais exercidas pelos livros didáticos. De acordo com o autor, os livros didáticos são fontes
privilegiadas e portadores de múltiplas funções – referencial, instrumental, ideológica e cultural e documental – ,
as quais podem ser alteradas segundo condições socioculturais, período, disciplinas, métodos de utilização e
níveis de ensino.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
355
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
instrução, veiculando valores e elementos identitários a serem inculcados nas novas gerações. Seja em âmbito
individual ou coletivo, a memória e a História fornecem a matéria-prima com a qual os seres humanos tecem as
explicações sobre sua vida ao longo tempo, estabelecendo uma complexa conexão entre a “consciência de nós” e
a “consciência do Eu”. Dessa maneira o ensino da história no espaço escolar contribui para formulação de uma
consciência histórica coletiva em que os indivíduos se reconheçam como pertencentes a uma dada comunidade e
portadores de uma identidade. E, pelas práticas educativas desenvolvidas na escola identificam-se a memória e a
história das guerras, levando os indivíduos a formularem os fundamentos que diferenciam as identidades
coletivas dos grupos em confronto.
depoimentos de professores. A pesquisa mostra que a influência das primeiras experiências artísticas vividas no
seio da família e a rede de relações estabelecida na trajetória individual e de formação profissional do professor
contribuíram para sua formação artística, a estruturação e organização de seu trabalho pedagógico com arte. A
arte ensinada na escola apresentou elementos advindos dos espaços de formação que o professor frequentou,
no entanto, não podemos afirmar que ela adveio, estritamente, do conhecimento científico. Muitas vezes a arte
ensinada foi criada e produzida na própria dinâmica do cotidiano escolar. A arte produzida pela escola se
apresentou completamente diferenciada daquela dos movimentos artísticos, produzida pelos artistas em um
período de governo ditatorial, no caso brasileiro. Os alunos da escola estudada compunham o grupo seleto que
atingia a educação secundária no Brasil naquele momento. As diversas experiências vivenciadas pelos alunos
provocaram uma dinamicidade no espaço escolar e os lugares escolhidos pelo professor para a realização dessas
atividades diferenciadas corresponderam a sua própria trajetória de formação e as concepções que tinha de arte.
Os processos metodológicos utilizados pelo professor e as formas de veicular a arte no interior mesmo do espaço
escolar foram diferenciadas provocando uma constante dinâmica nas aulas de arte. No que se refere à avaliação
em arte observa-se uma dificuldade em estabelecer critérios do como e do que avaliar em arte e isso se reflete
no estabelecimento de elementos que dizem mais respeito às atitudes e comportamentos que ao próprio
processo de aprendizagem em arte.
em que havia uma forte discussão sobre o estatuto científico da história e a definição do campo empírico ao qual
esta pertencia. Neste sentido, além de consistir um objeto de estudo representativo da história da Educação, a
história da Educação Física desenvolvida na dinâmica interior do NPGED pode implicar um apoio na compreensão
do desenvolvimento institucional e epistemológico o que coincide com o desenvolvimento do fazer
historiográfico em âmbito nacional e internacional. Com isso, podemos formular uma primeira pergunta: sobre
quais bases epistemológicas a história produzida pelos acadêmicos oriundos da Educação Física foi desenvolvida
no contexto do NPGED/UFS? Para o desenvolvimento desta pesquisa utilizamos a pesquisa bibliográfica, nela
consultamos livros, teses de doutorado e dissertações de mestrado defendidas no NPGED/UFS no período de
1997 até 2014. Observando as produções relacionadas à Educação Física observamos trabalhos sendo defendidos
a partir de 1997, sendo uma dissertação na linha marxista e outro na história cultural. Fato que atende ao que se
percebeu ao longo do processo de efetivação da História da Educação enquanto campo científico. Sendo que na
Educação Física esta diversidade no que tange ao método de pesquisa vai permanecer durante todo o período
estudado. Outro fato a ser observado é que dentre as 05 primeiras dissertações defendidas, 04 eram de
professores do quadro efetivo do Departamento de Educação Física. Fato importante para o incentivo aos
acadêmicos deste curso à pesquisa e a produção em história da educação e história da Educação Física. Aos
observamos os temas das dissertações de mestrado defendidas no NPGED, percebemos que em 05 delas temos
como objeto de estudo algo relacionado à História da Educação, em 06 delas temáticas relacionadas à História da
Educação Física. Após o ano de 2012 o NPGED já trouxe no seu quadro de teses de doutorado defendidas,
algumas produções relacionadas à Educação Física, nestas não tivemos temas que tratam da História da
Educação e da História da Educação Física. Pudemos perceber com os dados apresentados o quanto da Educação
Física esteve presente no quadro de dissertações e teses defendidas no NPGED/UFS. Fato que colaborou para o
aumento de produções deste núcleo e contribui para o processo de legitimação e visibilidade da pesquisa em
níveis locais, regionais e nacionais. Além de mostrar sua efetiva participação nos debates no campo de produção
da linha em História da Educação e no processo de desenvolvimento e legitimação deste núcleo de pesquisa.
questões escolares apresentadas, mas, fundamentalmente, a apreensão dos conceitos em sua, também,
aplicação humanista
secundário e a importância das provas de acesso ao ensino superior como vetores do ensino médio, esta
comunicação objetiva apresentar um levantamento tanto dos textos e autores presentes em materiais didáticos
relevantes da disciplina “literatura”, a fim de verificar quais os autores, textos e modelos de leitura foram
priorizados em três diferentes materiais: a) o compêndio denominado Antologia Nacional, de Carlos de Laet e
Celso Barreto, cuja permanência na escola brasileira vai de 1895 a 1969; b) livros didáticos atuais, entre os quais
se selecionou os livros adotados do Plano Nacional do Livro Didático em escolas do município de Maringá-PR e c)
as provas do Exame Nacional do Ensino Médio desde sua primeira versão, em 2009 até a prova de 2013. Como
lembra Chartier (1999), a leitura enquanto prática será sempre inacessível, pois raramente deixa vestígios, de
forma que, na ausência de outros indícios, o livro pode ser um forte indício de seu uso. Neste sentido, este
trabalho investigará no corpus mencionado tanto os materiais de leitura propostos para a leitura no ensino
secundário quanto os modelos de leitura que podem ser deles aferidos. Espera-se que, com tal levantamento,
seja possível observar o desenvolvimento diacrônico do conteúdo "literatura", dentro da disciplina de Língua
Portuguesa e suas relações com questões políticas e identitárias que definiram e definem as práticas de leitura
em sala da aula.
360
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
e instintos infantis, das infâncias do Brasil e Argentina, no período de final do século XIX e início do século XX.
Como procedimentos metodológicos, nos pautaremos num estudo sócio-cultural acerca do campo literário,
obtendo os vestígios de uma infância, em que a criança será colocada como personagem principal, sem descrevê-
la com artificialidade e com aspecto meramente lúdico, mas, com a realidade evocada, obtendo assim, uma
recriação social, de forma, a se obter elementos para uma análise da organização social familiar e escolar,
buscando definir como foi sendo elaborada essa infância em meio às normas, regras e formalizações de direitos e
deveres de uma sociedade. Como embasamento teórico nos pautaremos nas obras de ARIÈS (1978); FARIAS
FILHO (2004); GÉLIS (1992); GOUVEA (2008); KUHLMANN JR. (1998); SARAT (2005); SARMENTO (2007); VEIGA
(2010), VIDAL (2000), e de acordo com os estudos sociais de ELIAS (1994) para compreender como o afastamento
e distinção entre adulto e infantil foi sendo elaborada em ambiente familiar e escolar, num processo de longa
duração e como o campo cultural (obras literárias, poesias, livros infantis, propriedades culturais) descritos pelo
próprio mercado editorial e a instâncias de mediação e difusão da literatura, do qual esses autores participaram,
vão denotar características importantes sobre o período em que eles viveram e produziram suas obras,
conduziram a uma construção de uma relação de indivíduo e sociedade, conforme propõe BOURDIEU (1992). Tal
análise, se pautará na história, sociedade e cultura brasileiras e argentinas, verificando quais os pontos em
comum acerca da criança e de escola, bem como, da sua constituição escolar enquanto espaço destinado
exclusivamente à criança. Como resultados, apresentaremos as aproximações e distanciamentos entre as
infâncias brasileiras e argentinas, por meio das transformações sociais e culturais, obtidas na escola e na
formação do indivíduo, compreendendo como os dispositivos de correção, modelação, moralização, instrução
foram utilizados na formação da criança escolarizada do Brasil e Argentina.
361
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
362
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
presença dos Irmãos Marista no colégio, e 1963 ano de encerramento da Revista Echos do Collegio
Archidiocesano, principal fonte para o trabalho, e refreamento na divulgação dos prêmios escolares. O estudo
centra sua análise nas práticas escolares acessadas a partir dos documentos que compõem o Memorial do
Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo, centro de documentação e memória, responsável pela preservação
dos acervos da instituição. A análise estabeleceu o cotejamento dessas fontes com as informações levantadas no
Guia das Escolas Maristas, manuais pedagógicos, normativas, imagens e registros de outras instituições escolares.
Como resultado, percebeu-se a presença constante das práticas de punição e recompensa ao longo da
escolarização moderna, como traço da cultura escolar, revelando resistências, rupturas e transformações de seus
significados. No caso do Colégio Arquidiocesano foi amplo o uso das premiações com objetivo de promover os
conteúdos das disciplinas; o conhecimento teórico da religião católica; a vivência espiritual em ritos; a frequência
à escola e as habilidades artísticas e físicas. O que incentivou a competitividade tratada como qualidade da
virtuosidade masculina do varão político a ser formado. No caso dos castigos as poucas informações foram lidas
como ausência proposital. Contudo percebe-se que, além do bom funcionamento da escola, visavam propiciar as
condições consideradas necessárias ao aprendizado e exercícios para o aprimoramento intelectual dos alunos.
364
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
primeira por conter o detalhamento da proposta do referido currículo e a segunda por revelar, a partir de
entrevistas com Olga Reverbel, a concepção metodológica por ela adotada. Embora tenha ocorrido a extinção do
currículo proposto por Olga Reverbel, atualmente no referido Colégio o Teatro é componente curricular
obrigatório para os anos finais do ensino fundamental e, no ensino médio, os alunos optam entre Educação
Musical, Artes ou Teatro, mantendo assim uma apropriação do que fora pensado por Olga Reverbel. Fato
intrigante haja vista o artigo 26 da LDB 9.394/96 determinar uma base nacional comum a ser seguida.
366
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
escolar em um dado período. Dessa forma, esta comunicação tem por objetivo apresentar uma análise do texto
de Ramon Roca Dordal tomando aportes da história cultural para responder a seguinte questão: Quais eram as
metodologias presentes no livro do mestre para o ensino de Aritmética? Compreendemos que a análise desse
livro didático contribui para o estudo da história da Aritmética, particularmente em momentos de implantação
dos grupos escolares catarinenses. Este livro está indicado no Parecer das Obras Didáticas (1911) emitidas por
Orestes Guimarães - professor paulista que conduziu as mudanças no ensino catarinense durante a reforma da
instrução pública de 1910 sob o cargo de inspetor-geral. Sua indicação está prescrita para duas instâncias:
Biblioteca dos Inspetores e Biblioteca dos Grupos Escolares. Ou seja, o Parecer indica livros que poderiam ser
consultados, mas não utilizados de forma sistemática no ensino. Este fato representa o que o novo e “moderno”
modelo pedagógico desejava ultrapassar: o ensino pautado na memorização e repetição de compêndios. As
análises presentes neste artigo indicam ainda que no livro do mestre de Dordal as concepções pedagógicas
adotadas eram baseadas no método intuitivo seguindo um ensino gradual, do simples para o mais complexo, do
concreto para o abstrato. Ressaltamos ainda a proposição de exercícios realizados com faturas de lojas e
estabelecimentos comerciais nos problemas indicados para as operações básicas. Isto permitia ao aluno aprender
o conteúdo por meio de problemas práticos e contextualizados. Outros resultados serão arrolados na versão final
desta proposição de comunicação.
367
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
professor na condição de ensinar Música e Canto Orfeônico. Serão abordados neste estudo, quatro recursos
focados na realidade das duas instituições aqui contempladas: os métodos para o ensino de Música, os livros
didáticos, os materiais disponíveis para o professor de Música, além da questão espacial para as práticas
orfeônicas na escola.
369
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
370
Comunicações Individuais
Eixo Temático 7
A INFLUÊNCIA DOS IMIGRANTES JAPONESES NAS PRÁTICAS ESCOLARES DAS ESCOLAS PRIMÁRIAS DE PILAR DO
SUL (1934 – 1976) ............................................................................................................................................387
ADRIANA APARECIDA ALVES DA SILVA ..............................................................................................................387
ONGS ENQUANTO ESPAÇO NÃO ESCOLAR: UMA CARTOGRAFIA DESTE CENÁRIO NA CIDADE DE JOÃO PESSOA-
PB ....................................................................................................................................................................392
ALYSSON ANDRÉ RÉGIS OLIVEIRTA....................................................................................................................392
MARLÚCIA MENEZES DE PAIVA......................................................................................................................... 392
O INSTITUTO LAR DE JESUS, SUA HISTÓRIA A PARTIR DAS MEMÓRIAS DE SEUS GRUPOS VIVOS E HISTÓRIA DE
VIDA DE UMA DE SUAS FUNDADORAS A PROFESSORA DIOSMA MARTINEZ NUNES........................................392
ANA CRISITINA DOS SANTOS AMARO DA SILVEIRA ............................................................................................ 392
O ‘COLLEGIO DE MENINOS DE CURITIBA’ DE JACOB MÜLLER NO SECULO XIX: FAZENDO A VEZ DO GOVERNO.
ARICLÊ VECHIA ................................................................................................................................................. 398
DIÁLOGOS ENTRE EDUCAÇÃO FORMAL E INFORMAL NA VIDA E OBRA DE DONA IVONE LARA: O PAPEL DO
INTERNATO ORSINA DA FONSECA ...................................................................................................................399
BRUNO DE CASTRO SOUZA ............................................................................................................................... 399
MISSÃO PEDAGÓGICA AO URUGUAI EM 1913: CONTRIBUIÇÕES PARA O SETOR EDUCACIONAL DO RIO GRANDE
DO SUL.............................................................................................................................................................401
CAROLINE BRAGA MICHEL ................................................................................................................................ 401
374
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
O ENTRECHOQUE FATAL DAS CURVAS CONTRARIAS: A GRAMÁTICA DAS DANÇAS DE SALÃO EM UMA BELO
HORIZONTE PLANEJADA (1897 A 1936)............................................................................................................407
CRISTIANE OLIVEIRA PISANI MARTINI................................................................................................................407
ANDREA MORENO............................................................................................................................................407
DAS AULAS AVULSAS PÚBLICAS E PARTICULARES NA PROVÍNCIA DE SERGYPE: BREVES APONTAMENTOS SOBRE
A CONFIGURAÇÃO DA INSTRUÇÃO SECUNDÁRIA. (1840-1860)........................................................................407
CRISTIANO DE JESUS FERRONATO.....................................................................................................................407
ANDERSON SANTOS..........................................................................................................................................407
A DISCIPLINA DE DIDÁTICA DO CEFAM DE TUPÃ “ODINIR MAGNANI” – (1988-2003): UMA CONTRIBUIÇÃO PARA
A HISTÓRIA DA DISCPLINA DE DIDÁTICA NO BRASIL ........................................................................................408
CRISTINA MIRANDA DUENHA GARCIA CARRASCO ............................................................................................. 408
MARIANA SPADOTO DE BARROS....................................................................................................................... 408
A PRODUÇÃO DA EXCLUSÃO PERPETUADA PELA HISTÓRIA DE UMA ESCOLA CENTENÁRIA INFLUÊNCIANDO NAS
PRÁTICAS EDUCATIVAS....................................................................................................................................409
DENIZE SEPULVEDA ..........................................................................................................................................409
375
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
PRÁTICAS DE LEITURA, ESCRITA E PODER: DA VOZ DOS DECLAMADORES DE POEMAS DO SÉCULO XVII AOS
POETAS MARGINAIS CONTEMPORÂNEOS........................................................................................................414
ELIANE APARECIDA BACOCINA.......................................................................................................................... 414
MARIA ROSA RODRIGUES MARTINS DE CAMARGO............................................................................................ 414
AS ESCOLAS ELEMENTARES ITALIANAS SUBSIDIADAS NO INÍCIO DO SÉCULO XX NA CIDADE DE SÃO PAULO. .415
ELIANE MIMESSE PRADO .................................................................................................................................. 415
LEIS E REGIMENTOS: O ENSINO E AS TRANSFORMAÇÕES NAS ESCOLAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE.
EUCLIDES TEIXEIRA NETO.................................................................................................................................. 417
MARIA ARISNETE CÂMARA DE MORAIS............................................................................................................. 417
ESCOLA ESTADUAL DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO NO CENTRO SÓCIOEDUCATIVO SÃO COSME DAMIÃO:
EDUCAÇÃO ESCOLAR OFERTADA ÀS PESSOAS COM RESTRIÇÃO DA LIBERDADE (2010-2013) ..........................421
FLÁVIO CÉSAR FREITAS VIEIRA .......................................................................................................................... 421
O REGULAMENTO DE 1943 DA BIBLIOTECA INFANTIL “CAETANO DE CAMPOS”: UMA PRÁTICA MODELAR .....423
FRANCIELE RUIZ PASQUIM................................................................................................................................ 423
376
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
DA ESCOLA DE APRENDIZES ARTÍFICES À ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE: AGENTES E
SUJEITOS DA FORMAÇÃO ESCOLAR PROFISSIONAL (1910-1971)......................................................................423
FRANCISCO CARLOS OLIVEIRA DE SOUSA ..........................................................................................................423
INSTALAÇÃO DA ETFRN EM MOSSORÓ: UMA ANÁLISE A PARTIR DOS REGISTROS ESCRITOS E VISUAIS DA
IMPRENSA LOCAL.............................................................................................................................................424
FRANCISCO DAS CHAGAS SILVA SOUZA .............................................................................................................424
ELVIRA FERNANDES DE ARAÚJO OLIVEIRA.........................................................................................................424
DEUS E AS ESCOLAS NAS RUAS: A MARCHA PELA “REVOLUÇÃO VITORIOSA” NAS CIDADES DA PARAÍBA NO ANO
DE 1964............................................................................................................................................................426
GENES DUARTE RIBEIRO ...................................................................................................................................426
UM ESTUDO SOBRE A HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS ESPECIALIZADAS EM MATO GROSSO DO SUL:
O CASO DA A APAE/CEDEG DE CAMPO GRANDE..............................................................................................426
GIOVANI BEZERRA BEZERRA, GIOVANI FERREIRA .............................................................................................. 426
ESCOLA NORMAL NOSSA SENHORA AUXILIADORA (1896 - 1930): A FORMAÇÃO DE PROFESSORAS MINEIRAS
NOS PRIMEIROS ANOS DA REPÚBLICA.............................................................................................................427
GIOVANNA MARIA ABRANTES CARVAS .............................................................................................................427
DENILSON SANTOS DE AZEVEDO....................................................................................................................... 427
377
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
ESCOLA NORMAL NOSSA SENHORA DE FÁTIMA: PERCURSOS INSTITUCIONAIS E PRÁTICAS (1953 – 1980)......432
ISABELLE DE LUNA ALENCAR NORONHA ........................................................................................................... 432
VADIAGEM E CRIME. A EDUCAÇÃO DAS MULHERES NAS ESCOLAS PRISIONAIS EXISTENTES NO COMPLEXO
PENITENCIÁRIO DA CORTE E PENITENCIÁRIA NACIONAL DE BUENOS AIRES (1877-1890). ...............................434
JAILTON ALVES DE OLIVIEIRA ............................................................................................................................ 434
INSTITUTO FERREIRA VIANNA – 1920: O QUE OS RELATÓRIOS DO DOUTOR MARIO FERREIRA EVIDENCIAM
SOBRE AS POLÍTICAS HIGIENISTAS? .................................................................................................................435
JAQUELINE DA CONCEIÇÃO MARTINS ............................................................................................................... 435
MARYSOL DE SOUZA SANTOS ........................................................................................................................... 435
ANDRÉA MIGUEL ABRANTES FERREIRA ............................................................................................................. 435
378
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
DO OLHAR MICRO À CADERNETA NA MÃO: A EDUCAÇÃO FEMININA NA ESCOLA NORMAL NOSSA SENHORA DE
NAZARÉ, CONSELHEIRO LAFAIETE (1930-1934) ................................................................................................442
JULIANA MIRANDA DE FARIA ............................................................................................................................ 442
A LUZ DA MEMÓRIA: A HISTÓRIA RECONTADA. O COTIDIANO DA ESCOLA RURAL MISTA MUNICIPAL SANTO
ANTONIO (ANOS 1960) ....................................................................................................................................447
KATIA MARIA KUNNTZ BECK ............................................................................................................................. 447
OS LEGADOS TESTAMENTAIS COMO INDÍCIOS DE PRÁTICAS EDUCATIVAS RELIGIOSAS – SÃO LUÍS, MARANHÃO
(1770-1830) .....................................................................................................................................................448
KELLY LISLIE JULIO ............................................................................................................................................448
379
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
EXPANSÃO E MODALIDADES DAS ESCOLAS PRIMÁRIAS NO CENTRO E SUL SERGIPANO (1930-1961) ..............449
LAISA DIAS SANTOS .......................................................................................................................................... 449
RAYLANE ANDREZA DIAS NAVARRO BARRETO................................................................................................... 449
MARIA NILDE MASCELLANI E AS CLASSES EXPERIMENTAIS DE SOCORRO (SÃO PAULO, 1959-1962) ................450
LETÍCIA VIEIRA.................................................................................................................................................. 450
“BONS TEMPOS AQUELES... OU NÃO”: MEMÓRIA, HISTÓRIA E ORALIDADE NAS RELAÇÕES SOCIAIS DO COLÉGIO
PAROQUIAL NOSSA SENHORA DO CARMO (1952-2000) ..................................................................................455
MARCELO SILVEIRA SIQUEIRA ........................................................................................................................... 455
INSTITUTO BORGES DE ARTES E OFÍCIOS: ESCOLA PROFISSIONAL DEIXADA EM TESTAMENTO POR BRASILEIRO
DE TORNA-VIAGEM. 1921-1966 .......................................................................................................................456
MÁRCIA CRISTINA BELUCCI ............................................................................................................................... 456
WILSON SANDANO ........................................................................................................................................... 456
380
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
PEDAGOGIA NO CÁRCERE: HISTÓRIA E MEMÓRIA DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DOS PEDAGOGOS NAS
UNIDADES PENAIS DO PARANÁ .......................................................................................................................466
MAXCIMIRA CARLOTA ZOLINGER MENDES........................................................................................................466
381
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
ESCOLA LAR SÃO JOSÉ: UM DIÁLOGO ENTRE A HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS E A POLÍTICA DE
EDUCAÇÃO INTEGRAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO. ....................................................................................472
PAULO SÉRGIO CANTANHEIDE FERREIRA .......................................................................................................... 472
A HISTÓRIA DO CONSELHO DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL (CEDF): UM ÓRGÃO QUE CONTRIBUI PARA O
EXERCÍCIO DA CIDADANIA E DA PARTICIPAÇÃO SOCIAL ..................................................................................474
REGINA TOMAS BLUM DE OLIVEIRA.................................................................................................................. 474
382
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
ESCOLARIZAÇÃO DA INFÂNCIA EM MATO GROSSO (UNO): HISTÓRIA DA CASA ESCOLA O INFANTIL DO BOM
SENSO DE DOURADOS (1973-1986)..................................................................................................................480
RONISE NUNES .................................................................................................................................................480
O CURSO GINASIAL DO COLÉGIO SANTOS ANJOS: ESPAÇO DESTINADO À PREPARAÇÃO DA ELITE FEMININA NA
FRONTEIRA ENTRE PARANÁ E SANTA CATARINA .............................................................................................482
ROSELI BILOBRAN KLEIN ...................................................................................................................................482
383
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
A ESCOLA NORMAL RURAL MURILO BRAGA: FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA O CAMPO? .......................485
SILVÂNIA SANTANA COSTA ............................................................................................................................... 485
EDUCAÇÃO PELA DISCIPLINA E PRINCÍPIOS MORAIS: COLÉGIO LINS DE VASCONCELLOS E A EVOLUÇÃO PELA
EDUCAÇÃO (1963 – 1998) ................................................................................................................................485
SILVETE APARECIDA CRIPPA DE ARAUJO ........................................................................................................... 485
HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DOCENTE NO SUL DE MATO GROSSO: AS ESCOLAS NORMAIS EM CAMPO GRANDE,
AQUIDAUANA, PONTA PORÃ E DOURADOS (1930-1970).................................................................................486
SILVIA HELENA ANDRADE DE BRITO .................................................................................................................. 486
MARGARITA VICTORIA RODRÍGUEZ................................................................................................................... 486
LIVROS DE OCORRÊNCIA DISCIPLINAR: PODER DISCIPLINAR VERSUS DISCIPLINA ESCOLAR NO COLÉGIO PEDRO II
TATYANA MARQUES DE MACEDO CARDOSO..................................................................................................... 489
"ELEVAR AO GRAU SUPERIOR...": O IHGB E O PROJETO DA ACADEMIA DE ALTOS ESTUDOS (1916 -1919).......490
THAÍS DE MELO ................................................................................................................................................ 490
HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO GRUPO ESCOLAR PROFESSOR BALDUINO CARDOSO DE PORTO UNIÃO-SC (1918-
1938) ...............................................................................................................................................................491
VALÉRIA APARECIDA SCHENA ........................................................................................................................... 491
HISTÓRIA DO COLÉGIO ESTADUAL DR. GASTÃO VIDIGAL (1953-1975): UMA ABORDAGEM SOBRE AS FEIRAS DE
CIÊNCIAS..........................................................................................................................................................494
VIVIANE DE OLIVEIRA BERLOFFA CARAÇATO .....................................................................................................494
MARIA ANGÉLICA OLIVO FRANCISCO LUCAS......................................................................................................494
COLÉGIO ESTADUAL PROFESSOR ERNESTO FARIA E O BAIRRO DE SÃO CRISTÓVÃO COMO ESPAÇOS QUE SE
ENTRELAÇAM...................................................................................................................................................494
WÂNIA CRISTINA DOS REIS JOSÉ BALASSIANO...................................................................................................494
385
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
387
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
caráter público da cidade de Sorocaba, a dinâmica da escola de aplicação anexa assim como a análise dos
regimentos escolares. Um dos conceitos de cultura considerados, do qual nos apropriaremos, é o de Romanelli,
2013, que a conceitua como humanização, ou o processo que nos faz homens. Ou seja, a história do homem
como história da cultura é dessa forma, processo de transformação do mundo e simultaneamente do próprio
homem. A indiscutível relevância deste monumento, objeto de estudo e pesquisa para a cidade de Sorocaba,
assim como de certa forma para a história da educação brasileira, a qual marca o início da história do ensino
secundário de humanidades na cidade, além das marcantes relações de poder que permearam e ainda permeiam
o seu interior.
educação rural desse estado. Essas escolas tinham programas de ensino diferenciados, exigiam formação ou
especialização agrícola de todos os profissionais que nelas trabalhavam, tinham critérios específicos para sua
instalação, como por exemplo, área de terra destinada à realização de atividades agrícolas e pastoris, dentre
outros. Se comparadas às demais escolas primárias rurais, essas escolas, ao menos em tese, apontariam no
sentido de superação da histórica precariedade desse ensino. A concepção de ensino dessas escolas estava em
consonância com a proposta dos ruralistas do ensino, que defendiam uma escola adequada ao meio, com vistas
inclusive a impedir o êxodo rural, difundir o sanitarismo e preparar para o trabalho agrícola. Alguns desses
quesitos, no entanto, não eram defendidos exclusivamente pelos ruralistas. Essa discussão era recorrente
naquele momento histórico, haja vista a defesa, por alguns setores, de um Brasil de vocação agrícola. Essa
ideologia, baseada no agrarismo, permeava inclusive o programa de ensino dessas escolas. Verifica-se, portanto,
que a criação, a manutenção e a extinção dessas escolas ocorreram conforme os projetos sócio-político-
econômicos vigentes no Brasil, conforme os grupos hegemônicos no poder em cada momento. Isso indica que a
escola, ainda que apresente características específicas, não está à margem da sociedade que a concebe.
390
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
391
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
disciplina branda composta por jogos, sesta e alimentação. Para amparar o nosso estudo, teremos como aparato
teórico as contribuições de Bueno (2011), Carvalho (1997) e Lobo (2008), a Lei nº 1541 de 30/12/1916, o Anuário
do Ensino do Ensino de São Paulo (1917), o Relatório de Inspeção do Doutor Vieira de Mello (1917) e as fichas
sanitárias dos escolares débeis. Desta forma, este estudo tem por objetivos apresentar como o método intuitivo
se fez presente na instrução pública proposta nos primeiros anos da República paulista, reconfigurando na aposta
de uma pedagogia nova, experimental, cientifica sobre a natureza, os tempos, os espaços e as práticas para o
desenvolvimento infantil. Reconfiguração que elegia como pilares a associação entre a saúde e a educação, de
forma a colaborar na obra e formação integral do homem brasileiro.
serão importantes recursos e ainda uma ferramenta capaz de instrumentalizar a construção da história do Lar de
Jesus. Na pesquisa em tese, a fonte oral será utilizada com outras fontes tradicionais (documentos) para construir
o passado dessa Instituição, que como já citado percebo a mais profunda união e ligação entre a D. Diosma
(professora, mãe, mulher, política, gestora e benevolente) com o Lar de Jesus (instituição espírita, instituição
assistencial e instituição escolar), como se fosse uma única história. É nas instituições escolares que a educação
tem a mais profunda relação com os sujeitos que fazem parte de seu lócus espacial e é onde ela se manifesta de
forma mais completa e elaborada. Isso porque a história das instituições escolares é construída pelas histórias
dos sujeitos envolvidos suas memórias, seus olhares, considerando a profunda interligação que há entre eles.
Esta ligação se dá pela participação destes sujeitos em seu processo social, cultural e político. O lar de Jesus
também construiu a sua história a partir da história de seus sujeitos e principalmente pela história de vida da
professora Diosma, que deu sentido e propósito para a instituição. Por perceber que nas memórias há
possibilidade de construir, tecer a história da Instituição Lar de Jesus, hoje escolar, antes assistencial. O texto
procura entender essas memórias, então fontes de pesquisa, como mecanismos vivos que dialogam com a
história e documentos para assim poder construir a história dessa Instituição. Portanto para a construção da
pesquisa será levado em conta a relação dialógica e os aspectos elencados pelos teóricos trabalhados e ainda
contextualizar as falas dos grupos vivos, para assim poder construir a história da instituição dialogicamente e
dialeticamente entre memórias, histórias e documentos. Nesse delineamento da História do Lar de Jesus, na
construção do caminho da investigação a partir de documentos da instituição e entrevistas acredito na simetria e
no diálogo entre as fontes documentais já existentes e as fontes orais, que serão produzidas a partir das
entrevistas. E nessa simetria percebo os lugares de memória, desde a materialidade concreta ao que é simbólico
e abstrato. Assim nessa relação dialógica levando em conta aspectos elencados procuro construir a história da
instituição.
393
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
394
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
professores colocariam à prova os mais recentes métodos pedagógicos. A investigação adota como fontes
principais os anais dos referidos eventos científicos, assim como dos Congressos Pan-Americanos da Criança e os
documentos oficiais da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. A motivação para a pesquisa proposta
advém do fato das Escolas ao Ar Livre terem sido concebidas como uma iniciativa alternativa de educação pública
que, ao unir as teorias da saúde pública e dos movimentos da Escola Nova, em circulação durante às primeiras
décadas do século XX, conformaram um dos exemplos mais refinados de uma educação do corpo ao ar livre.
preconceitos do recorte histórico citado, era um poderoso instrumento de adestramento para o cumprimento
dos papéis socialmente esperados para as meninas e mulheres que sobreviveram ao abandono familiar, ao
estigma da exposição num asilo e ao rigoroso cumprimento da disciplina do corpo e da alma. Soma-se, ainda, a
aspiração de imitação dos valores mariológicos, pregados e defendidos pela instituição para alunas, mestras e
servas que viviam e circulavam em seus espaços cuidadosamente demarcados. As jovens consideradas aptas para
o casamento, devidamente educadas e com o recebimento do dote e do enxoval, dali partiam para o mundo
exterior, conhecendo muito pouco sobre o novo modo de vida que enfrentariam no campo social, afetivo e
sexual e, principalmente, sobre como lidar com as adversidades. A pesquisa em fontes documentais da própria
instituição é reveladora de procedimentos adotados pelas mestras, mulheres integrantes de ordens religiosas e,
posteriormente, pelas mulheres que viviam fora dos muros institucionais e com olhares diversos sobre o mundo.
As transformações sociais, culturais e políticas vivenciadas pelo país e que, naturalmente, se refletiram na cidade
de Salvador, também se fizeram sentir no espaço da Santa Casa de Misericórdia e no seu processo educativo,
levando a embates e reformulações significativas até os dias presentes na história da instituição e no cenário da
filantropia na Bahia.
administrativo-burocrático, o das vozes de seus agentes sociais e o da observação da dinâmica social que
determinou esse processo. A micro-história inscreveu-se como a abordagem historiográfica que guiou a
investigação na medida em que nos permitiu a partir do conceito de variação de escala de observação (entre o
micro – local e institucional – e o macro – o global e o nacional –, operar com diversas fontes.Estas por sua vez, se
distribuíram entre: a literatura pertinente, a legislação sobre o tema, os documentos legais internos – portarias,
atas e outros - e entrevistas abertas com os atores sociais envolvidos no processo de transformação da ESAL em
UFLA dentro dos marcos temporais do final dos anos 80 e inicio dos 90, com variações. Assim, do ponto de vista
micro-historiográfico, os resultados evidenciaram que, no universo micro-institucional esaliano ocorreu um
debate interno entre docentes das ciências agrárias e humanas que, a despeito de desejarem o modelo
universitário, divergiam no que diz respeito à qual concepção de universidade deveria ser adotada – se
especializada/agrária ou mais ampla/humanizada e heterogênea – , tornando essa discussão um importante
elemento de análise da transformação em si. Por outro lado, variando a escala de observação para o nível macro-
político – Brasília e a tramitação burocrática do processo – percebeu-se que igual discussão manifestava-se
naquela instância por força de aspectos tais como: o político – o mandato-tampão de Itamar Franco e suas
deliberações – e as normativas legais tais como o “princípio de universalidade de campo”. Dois aspectos se
evidenciaram como conclusão: um primeiro que indica o fato de que a universidade brasileira, em sua construção
histórica, assumiu determinada concepção que, em dado momento, entrou em processo de esgotamento e a
transformação da ESAL em UFLA espelhou exatamente esse fenômeno, tendo a discussão sobre a universalidade
de campo como cerne. O segundo aspecto diz respeito à confirmação de premissa apontada pelo autor, da
importância de se retirar do “anonimato interiorano”, estudos históricos educacionais de diversas ordens, na
medida em que nos permitem enxergar com igual clareza, o universo macro histórico-político.
397
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
de las realidades locales, regionales y nacionales”. Conclui-se até a presente data o mapeamento dos bairros
rurais e respectivas escolas, os tipos de escolas rurais, municipais e estaduais, e quantificação destas por
determinados períodos. Diante do exposto, esta pesquisa visa contribuir tanto para a produção de uma história
das escolas rurais em Birigui, do ponto de vista proposto, quanto contribuir para a compreensão de como essa
expansão do ensino rural aconteceu no Estado de São Paulo, oferecendo assim subsídios para se pensar e se
repensar esse tipo de ensino, a partir da compreensão histórica desse fenômeno, uma vez que, como afirma
Michel de Certeau (1994) “o ‘lugar’ é o que permite e o que proíbe” (p.78) o tipo de discurso onde se enquadra
as operações cognitivas.
Orfeônico. O segundo ambiente, informal, seria a casa do tio, músico e compositor do gênero choro, Dionísio
Bento da Silva, onde Dona Ivone Lara passava temporadas esporádicas e tinha contato com o cavaquinho e com
as composições de Dionísio. Finalmente, o terceiro ambiente, também informal, seria a comunidade da Serrinha,
no bairro de Madureira, onde a artista foi morar e vivenciou dentro do seu núcleo familiar experiências muito
intensas com o Jongo e o Samba, que estavam inseridos no contexto cultural local. Nesse sentido, o estudo
pretende analisar a importância do diálogo entre os saberes formais e informais no processo de formação
pessoal, acadêmica e artística de Dona Ivone Lara, com ênfase para a relação formal estabelecida com a Escola
Internato Orsina da Fonseca. Tomaremos como base as literaturas que dissertem sobre os métodos utilizados no
educandário naquele período, e também os escritos sobre as disciplinas oferecidas com foco no canto orfeônico
ministrado naquela ocasião, pela professora Lucila Guimarães Villa-Lobos que, no período em questão, convidou
Dona Ivone Lara a ingressar no Orfeão dos Apiacás, grupo com o qual a artista chegou a se apresentar na antiga
rádio Tupi regida pelo maestro Heitor Villa-Lobos, então marido da professora Lucila. O presente trabalho
fundamenta-se, ainda, em depoimentos orais de Dona Ivone Lara e de suas colegas do internato, assim como de
familiares. Essas falas são cruciais para o entendimento de como se deu o impacto positivo na formação pessoal e
profissional dessas alunas, já que todas reforçam em seus testemunhos a qualidade da formação que lhes foi
ofertada pelo poder público naquela ocasião, possibilitando a assimilação de uma série de saberes que foram
fundamentais ao longo de suas vidas. A vivência pessoal do autor principal deste artigo – desde 2007 músico e
parceiro da cantora – também será explorada no presente estudo, visando contribuir, inclusive, para o debate
sobre o papel das subjetividades na construção do conhecimento acadêmico.
400
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
leitura uruguaias; (iv) a necessidade de ter pessoas preparadas pedagogicamente para assumir as aulas da Escola
Complementar, assim como, a importância de destinar às escolas anexas a essa, o exclusivo preparo pedagógico
dos futuros professores. Desse modo, identificamos que os elogios tecidos à estrutura educacional uruguaia
corroboravam a proposta defendida pelos dirigentes do Estado de progresso através da ordem e da educação,
bem como reafirmavam a importância do caráter prático na formação dos professores.
402
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
de Antão de Jesus Batista. Em 1938 é inaugurado o novo prédio de alvenaria com capacidade para receber 500
alunos. Conforme os registros encontrados a partir da inauguração, a escola passa a se chamar Grupo Escolar
Farroupilha. Está Instituição, chama-se hoje Colégio Estadual Farroupilha, está situado na região central da cidade
de Farroupilha/RS, dispondo em seu acervo particular uma vasta documentação que permite a (re)construção da
sua história institucional a partir de diferentes enfoques. Para este artigo, apresento um recorte temporal, entre
os anos de 1940 a 1946, com o objetivo de pensar e analisar as práticas de nacionalização do ensino que
estiveram presentes no processo histórico educacional do Grupo Escolar Farroupilha, tendo como pano de fundo
o aporte teórico da história cultural e das culturas escolares. A metodologia consistiu na análise documental e o
corpus empírico é formado pelo acervo disponível na escola, como fotografias, Livro Ata de “Comemorações”,
Livro de Ata Cívica referente ao trabalho do CPM do Grupo Escolar, Leis e Ofícios. Os resultados apontam que as
práticas de nacionalizam se constituíam em verdadeiros rituais de civilidade, dentro e fora da escola, envolviam
não só alunos e professores, mas a comunidade em geral, buscando instaurar o sentimento de patriotismo
através dos desfiles cívicos, das disciplinas escolares, dos símbolos nacionais, entre outros.
403
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
404
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Instituto de Ciências Humanas e Sociais, da Universidade Federal de Mato Grosso. A própria escola, objeto da
nossa pesquisa, também é guardiã de grande parte dos documentos oficiais. Além disso, é possível contar com
relatórios localizados na Diretoria Geral da Instrução Pública de Mato Grosso, materiais reunidos nos arquivos da
escola e nos acervos privados fornecidos por alguns moradores da cidade de Itaporã-MS. Os dados obtidos
permitiram observar que a escola historicamente teve suas singularidades, já que se localiza na proximidade da
fronteira Brasil-Paraguai, mas também foi veiculo propagador dos ideais de nacionalismo e progresso,
amplamente divulgado pela República Populista Varguista
formação de professores. A indagação que mobiliza nosso grupo de pesquisa em busca de subsídios para nossa
atuação, diz respeito ao resgate dessa memória. Sendo assim, objetiva-se investigar a história das escolas (rurais,
urbanas, interculturais de fronteira e especiais/inclusivas) e a formação de professores a partir de suas memórias
e das epistemologias de suas práticas pedagógicas.Trata-se de uma pesquisa qualitativa, no qual, serão
analisados documentos, fotos, entrevistas, depoimentos, entre outros; fontes primárias e secundárias.
Pretendemos ao longo dos próximos anos investigar a constituição das escolas e suas práticas educativas em 42
municípios que compõem essa região para então investir no processo de formação permanente de professores e
na organização de um Centro de Memórias. Um dos recortes da presente pesquisa diz respeito às escolas de
fronteira vinculadas ao Programa Escolas Interculturais de Fronteira (PEIF), realizado pelo Ministério da Educação
do Brasil, em parceria com os Ministérios de Educação de países vizinhos e com as Secretarias Estaduais e
Municipais de Educação. Uma vez já envolvidos com o programa Escolas Interculturais Bilíngües de Fronteira,
surge à necessidade de compreender melhor a constituição das escolas e as práticas pedagógicas existentes
nessa micro-região. Por isso, o presente recorte de pesquisa visa apresentar um estudo sobre a constituição da
fronteira (Brasil/Argentina - Paraná/Santa Catarina) e o projeto de educação existente, quando da sua
constituição. Foi somente na segunda metade do século XX, interessado em ocupar a área, principalmente a
região de fronteira, que o governo estadual estimula a ocupação da região. Inicialmente a ocupação das terras
devolutas esteve a cargo da Colônia Agrícola General Osório (CANGO). Essa colônia tinha um projeto educacional
bem marcado, por isso, a expectativa com a pesquisa proposta é de contribuir para formar uma massa
documental que permita subsidiar as pesquisas atuais e futuras sobre a formação de professores da região. A
partir da pesquisa, apropriar-se das experiências para melhor qualificar os alunos em formação nas licenciaturas;
dar visibilidade ao processo de formação de professores em uma perspectiva que conceba as relações histórico-
sociais, econômicas e culturais. Além disso, intencionamos, concomitantemente, construir um Centro de
Memórias em Formação de Professores, que possibilite a realização de pesquisas e proposições de formação, na
tentativa de amenizar lacunas existentes no processo de formação de professores da região em questão.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
corte temporal, o presente estudo tem como orientação metodológica a pesquisa documental, baseando-se nos
escritos de Le Goff (1984) acerca de documento/monumento. Os atores que atuavam nos círculos político-
administrativos e da instrução como os presidentes de província, inspetores da instrução pública, diretores e
professores são as vozes que podem ser ouvidas por meio dessa documentação e é sob a ótica desses sujeitos
históricos que buscaremos compreender o processo de estruturação da instrução secundária do Sergype do
século XIX. O cotejamento da documentação a ser utilizada poderá nos propiciar uma perspectiva mais ampla da
temática em questão, no entanto levaremos em consideração que nossas fontes sempre terão a mediação das
autoridades provinciais e das esferas oficiais do governo. Tendo em vista estes limites, esperamos que a análise
das ações dos agentes envolvidos no âmbito instrucional do Sergype oitocentista, possibilite a compreensão do
processo de organização da instrução secundária no período proposto. Para atingir os objetivos propostos, este
trabalho se baseará nos aportes teórico-metodológicos da História Cultural, Historia das Disciplinas Escolares e da
História política tendo como base Chartier (1970), Chervel (1990), Gouvêa (2008) e Dolnikoff (2005).
instauração da República, 1889, e como referência final a Reforma de Sampaio Dória, 1920. A República chama
para si o desafio da escolarização e se compromete a alfabetizar a população brasileira, formando o cidadão e
construindo um novo tempo. O projeto é frustrado. Assim, neste período surgem várias estratégias,
empreendidas pelo setor particular e por movimentos sociais, para oferecer escola à população. Escolhemos a
data da Reforma Sampaio Dória como marco final para o recorte temporal da pesquisa porque, após a reforma, a
estrutura educacional paulista é redefinida, diminuindo o tempo de escolarização oficial e ampliando o número
de alunos atendidos. Dessa forma, ao operacionalizarmos, a ideia de escolarização não nos limitamos às
iniciativas públicas, estendendo a ideia também para as estratégias de escolarização da iniciativa particular.
Metodologicamente, utilizamos o referencial teórico da micro-história. A contribuição da pesquisa consiste em
explorar a importância das escolas isoladas e das organizações civis para a escolarização republicana. Não há
como negar que há diferenças na dinâmica do movimento de escolarização primária observado no caso da capital
paulista e no caso das cidades do interior. Fatores sociais, entre outros, moldam e alimentam essas dinâmicas. O
corpus documental selecionado para o estudo é composto por fontes de pesquisa de diversas naturezas,
Relatórios de Presidente de Província, Legislação Educacional, Anuários do Ensino de São Paulo, Jornais da cidade
de Rio Claro, fotografias da cidade e das escolas, Correspondências entre a Câmara Municipal e a Assembleia
Legislativa, Atas da Câmara Municipal, Recenseamento Escolar de 1895 da cidade de Rio Claro, Livros de
Matrícula escolares, Atas de exames escolares, boletins escolares, entre outros. A análise conjunta de todas as
fontes mencionadas tornou possível identificar as estratégias de escolarização, objeto desta pesquisa. A análise
do local, em relação à macro política, pode contribuir para a compreensão das prioridades educacionais,
sobretudo, se considerarmos que o foco dessa investigação contemplou também diferentes modalidades
escolares.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
salesiana. Esse estudo é parte de um projeto ainda em fase inicial, mas que conta com apoio da UNIRIO através
do programa institucional de Iniciação Científica. A obra salesiana inicia-se em Niterói ainda no período do
Segundo Império e tem a participação do Imperador no fomento e financiamento da escola salesiana em Santa
Rosa. Naquele período, temos a educação como questão civil e disposta no sentido da maior inclusão das pessoas
no processo civilizatório e/ou educativo no qual as necessidades do Estado Nacional em consolidação dava o
ritmo dos investimentos. Paralelo a isso, a questão da pobreza, com o crescimento da sociedade urbana e
industrial, torna-se cada vez mais preocupante: a industrialização produz novos pobres. A iniciativa salesiana liga
a pobreza ao trabalho e nos permite perceber tal relação como socialmente aceita e válida. Ainda não tínhamos a
educação como um direito social. Fundada pelo religioso Dom Bosco, a ordem dos salesianos tinha como
característica a educação de jovens pobres e desamparados com a finalidade de equipá-los para saírem dessa
condição. Assim como acontecia em Turim na Itália, nos colégios salesianos, ao se instalarem em Niterói, em
1883, eles começaram sua obra atraindo os jovens através de Oratórios Festivos, para encaminhá-los pela fé e
oferecer-lhes um ensino profissionalizante. Consideramos assim, na obra salesiana, a educação como uma forma
de diminuir as mazelas sociais. Com essa visão, os salesianos foram bem vindos ao Brasil, uma vez que por aqui já
se havia instalado um “pensamento industrialista” com a que tornou necessária a capacitação de trabalhadores
para as indústrias que instituíam uma produção brasileira, abrindo espaço para o desenvolvimento do país. A
educação profissional no Brasil sempre esteve ligada a camada mais pobre da população num processo que ainda
hoje é referido como uma dualidade educacional. A profissionalização era uma solução encontrada para
amenizar as desigualdades e as mazelas sociais, tirando os “marginais” da rua e amparando os “desvalidos”.
Nosso estudo pretende abordar como esse processo de profissionalização se deu no Rio de Janeiro sob o prisma
da educação salesiana.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
o nacional era o principal objetivo da escolarização naquele período, a fim de torná-los homens “úteis à Pátria”. A
fiscalização foi outro ponto forte da política de manutenção das Escolas Subvencionadas Federais, que ocorria
por meio de inspetores escolares federais. Considera-se que essas instituições foram importantes para o
processo de escolarização primária, porque preencheram uma lacuna da política educacional estadual, qual seja,
a de criar escolas e nas regiões mais afastadas das cidades paranaenses. Assim, elas não atenderam somente os
filhos de imigrantes e seus descendentes, mas grande parte da população infantil desprovida de escola.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
por meio da leitura em voz alta, com artesãos e camponeses. Em Darnton (2014), é possível também conhecer os
poemas contra o rei, na França do século XVIII. No Brasil, na época da ditadura militar, poetas, músicos e
compositores também deixavam suas mensagens por meio das criações que produziam. Assim como tais pessoas
utilizavam-se da linguagem poética para protestar, declamavam novelas de cavalaria, e peças poéticas destinadas
à oralização, os poetas da atualidade, em espaços escolares, ruas, bibliotecas, livrarias e calçadões de praia no
litoral de São Paulo, compartilham poemas de sua autoria ou não, muitos com ênfase no fazer político e social. O
trabalho de pesquisa se desenvolve a partir de um trabalho de interlocução com o grupo de poetas proposto e
tem como objetivos: cartografar práticas de invenção (escrita e produção poética) postas em ação por sujeitos
em comunidades de escritores, estabelecer uma relação de interlocução com práticas de escrita e leitura,
buscando conjuntamente construir com os sujeitos, conhecimentos e sentidos, dialogar com os diferentes
“atores” que atuam nesse espaço, convidando-os a apresentar suas leituras de mundo a partir da linguagem
poética e apontar elementos que contribuam para a invenção de novos / outros modos de compreensão da
leitura, escrita e da formação de leitores e escritores. Constituem-se como questões da pesquisa: De que forma
se constituem os sentidos que movem a criação de poetas anônimos? Como, nos caminhos que seguem
cotidianamente, eles escrevem a si mesmos? Quais possibilidades encontram e inventam para tornar conhecidos
seus escritos? Que conhecimentos terão esses sujeitos a respeito de aspectos referentes à língua escrita? O que
seus textos possibilitam aos leitores / expectadores, enquanto obras de arte? Como foi o processo de formação
desses “artistas”? E como os espaços por eles utilizados constituem-se enquanto espaços de formação? E
trazendo tais questões em diálogo com os autores da História Cultural: Que podem ter em comum a leitura em
voz alta do século XVII com a vertente de leitura atual? Que sentidos tais leituras podem despertar no leitor /
ouvinte dos poemas e de que modos podem transformar as relações dos mesmos em seus processos de leitura e
escrita? Busca-se, portanto, retomar na história de leitores do passado práticas singulares que se assemelham e
diferenciam-se das práticas contemporâneas.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
a participação das escolas rurais no desenvolvimento regional também implica em compreender como essas
instituições formaram os cidadãos cônscios de seu papel social, e exige destacar o interesse que motivou a
implantação dessas escolas, os argumentos que as justificaram e a realidade que as superou enquanto forma
educativa. Trata-se de uma análise importante para a historiografia das instituições escolares da região do
noroeste paranaense, uma vez que o sustentáculo histórico e analítico das ações referentes ao contexto social e
político do pós- guerra mundial possibilitou o desenvolvimento da cidade de Maringá de forma acentuada e,
nele, a educação teve papel preponderante, inclusive com a participação das escolas rurais.
Chartier (1990) e Burke (1992). Utilizamos como fontes documentais as Mensagens Governamentais, Leis e
Decretos, Leis de Ensino, Regimentos Escolares, artigos de jornais e revistas. A partir do contato com os
documentos e as leituras feitas, percebemos como foram desenvolvidas as práticas e, quais foram os métodos de
ensino e as orientações das Leis, decretos e dos regimentos que conduziam e regulamentavam o ensino-
aprendizagem da época em destaque. Diante da institucionalização escolar, buscamos produzir a escrita desta
narrativa na construção da sociedade letrada norte-rio-grandense, colaborando para a história da educação.
Assim, nos propomos a escrita da História da Educação do Rio Grande do Norte, especificamente, reescrever a
história de uma instituição educacional, buscamos reconstruir a história de uma Escola Estadual, a Escola
Estadual Desembargador Vicente Lemos, com o objetivo de recuperar o processo de institucionalização,
nomeação e evolução do ensino juntamente com a organização da Escola primária no Estado. Denominada
inicialmente de Escola Subvencionada, a instituição passou a ser Escola Rudimentar Mista, Escola Isolada, Escola
Reunida, Grupo Escolar e Escola Estadual ao longo de seu percurso, conforme as Leis e Regimentos vigentes. As
atividades de instrução desta instituição surgem a partir da década de 1910, no interior do Estado do Rio Grande
do Norte, no povoado de Caiada de Baixo. A investigação mostra a importância da Instituição para a História da
Educação norte-rio-grandense, na estruturação do saber escolarizado e na universalização da leitura e a escrita.
Ressaltamos que as instituições educativas são decorrentes das institucionalizações, nas suas estruturas,
características e funcionamento. Destacamos, também, a importância da instituição Escolar, por oportunizar
formação e conquistas, seja no seu ambiente interior ou fora dele.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
exigem o instinto maternal. Logo, instituições como o Estado, a família, o mercado de trabalho, a escola, a
religião, entre outras, acabam compondo discursos que padronizam modelos aceitáveis como polidos, corretos,
civilizados em relação ao comportamento de mulheres e homens. Para além dos estudos de gêneros, os estudos
sobre a História da Educação e a História Cultural têm contribuindo para a compreensão da transmissão e a
intervenção da cultura, práticas educativas e representações dos atores, o que existe é uma preocupação com o
cotidiano da escola, o ambiente escolar, o ser da escola, os saberes que se produziam e reproduziam, a disciplina
como forma de manipulação, os ritos e rituais. Toma como fontes de pesquisa documentos da escola, tais como:
livros de atas, de matrículas, de exames, cartas e documentos avulsos.
diários oficiais, que estão no Arquivo Público do Estado de Goiás, neles encontramos a legislação educacional do
ensino público secundário estadual e também documentos inerentes ao Lyceu. É preciso observar que
primeiramente a mudança da instituição foi apenas de local. Toda a escola foi colocada em caminhões, a
biblioteca, secretaria, laboratórios, todos transferidos juntamente com seus professores e boa parte de seus
alunos, já que a maioria destes era parte de uma população que também se mudara para Goiânia, ou por
ocuparem cargos públicos ou por pertencerem à classe comerciante da cidade e que teriam novas oportunidades
de negócios na nova capital. Este é um dos fatores da diminuição de matrículas nos anos de 1937 e 1938. A
mudança para o novo prédio foi feita de uma só vez, mas a adaptação à nova realidade se processou aos poucos,
tanto que a documentação do Lyceu ainda continuou com o título Lyceu de Goyaz. Esta situação mudou
lentamente, à medida que Goiânia ia tomando forma, o Lyceu foi se incorporando ao novo prédio e
transformando-se em Lyceu de Goiânia. Enquanto o clima de industrialização tomava o país, Goiás ainda
preservava a economia agrária como principal atividade. Esta realidade preservou a sociedade com sua elite
tradicional atuante na política, na economia e na intelectualidade. O Lyceu em Goiânia não deixou de ser a
instituição para o fim a que foi criada, e com o currículo humanista, preservado pela legislação, continuou a sua
formação propedêutica e elitista.
carência de pesquisas sobre a história de instituições com foco na educação escolar que ofertadas a pessoas com
restrição da liberdade na perspectiva dos Direitos Humanos. As fontes utilizadas são Regimento Escolar, a
proposta Político-Pedagógica, Calendário Escolar, Quadro Curricular, entre outros. O procedimento metodológico
foi realizado com duas etapas, sendo a primeira com objetivo de identificação e catalogação das fontes primárias
e secundárias com respeito ao funcionamento da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio vinculada ao
Centro Socioeducativo São Cosme Damião em Teófilo Otoni/MG, no período de 2010-2013. Em sequência, foi
iniciada a análise dos dados obtidos e elaboração da versão parcial de resultados. Os resultados parciais obtidos
apresentam a identificação do espaço físico do prédio onde está instalada a escola desde o ano de 2006 que
sofreu adaptação para sua instalação. Verifica-se que o espaço físico da escola apresenta limitações para o
desempenho das atividades tanto da administrativa quanto pedagógicas, sendo identificados os seguintes: salas
de aula, sala dos professores, espaços para atividades da prática de educação física e da biblioteca, com os seus
respectivos mobiliários. Verificou-se que essa instituição educativa enfrentou e enfrenta situação peculiar diante
de instituições educativas da educação básica, pois, mesmo diante dos avanços educacionais, políticos e legais
ainda há inúmeros impedimentos para aplicação de políticas públicas voltadas para garantir a democratização do
acesso e a permanência na escola de jovens autores de atos infracionais. Os dados obtidos indicam que na esfera
educacional a vinculação de dificuldades de aprendizagem e de evasão escolar são fenômenos comuns na vida de
adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, portanto, a maioria dos alunos dessa escola
encontram-se com defasagem idade-série, tornando-se público alvo para Educação de Jovens e Adultos,
resultados que expressam que a preocupação maior foi o de manter a pessoa presa com oferecimento de meios
à sua recuperação insatisfatórios, em contradição as orientações dos direitos humanos que tem exigidos
mecanismos de humanização no cumprimento das penas e das medidas sócios educativas, com base no
ordenamento jurídico no país.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
da decretação da Lei Orgânica até a implantação dos primeiros cursos técnicos (1942-1963), verificam-se
graduais modificações no perfil socioeconômico discente e na qualificação profissional de docentes e gestores,
sobretudo com a instalação do Conselho de Representantes. Na terceira fase, cuja abrangência vai da criação dos
cursos técnicos até a promulgação da Lei nº 5.692/71, que torna compulsória a profissionalização do Ensino de 2º
Grau (1963-1971), consolida-se o ensino profissional de referência e modifica-se consideravelmente o conjunto
de agentes e sujeitos da formação escolar profissional.
CPII, para materializar a escolarização e a higienização, a arquitetura e a alimentação eram alvos de atenção,
tanto no regime de Internato, quanto no Externato – então as duas seções da instituição. Outro aspecto
importante que também identificamos para a formação dos estudantes de colégio secundário era a disciplina,
que forjava a existência de normas específicas e da polícia escolar para os estabelecimentos desta modalidade de
ensino, com o intuito de garantir um espaço educacional asséptico, ordenado e regido pelas regras da higiene e
da civilidade. Acreditava-se que tais condições favoreceriam a disciplina, que, por sua vez, resultaria na ordem
desejada. Como coadjuvante da disciplina, nas duas seções do CPII, encontrava-se a instrução militar, existente
desde 1908, objetivando conduzir os discentes a hábitos de obediência e subordinação. Havia empenho
institucional para a regularidade da instrução militar, assim como o estímulo para os discentes participarem de
solenidades e de campeonatos desportivos, estes últimos relatados com orgulho por docentes e ex-alunos, que
eram registrados como as marcas do cotidiano escolar nos livros de ocorrências. Concluímos que a construção da
escola deveria ser admirada, reverenciada e modelaria hábitos, atitudes e sensibilidades; a disciplina estava
intrinsecamente ligada às proibições, desejando estudantes que se vestissem decentemente, obedecessem às
ordens e fossem assíduos, pontuais e asseados; frequentemente discentes infringiam regras e responsáveis pela
disciplina aplicavam punições; a instrução militar auxiliava o desenvolvimento do indivíduo forte, saudável e
indispensável para o processo de desenvolvimento nacional; e as participações em eventos esportivos eram
destacadas, principalmente quando da obtenção de resultados positivos em torneios.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
distrito de Mandaguari. A partir das imagens iconográficas, buscou-se construir a memória da instituição e
revelar as práticas educativas por ela instituídas, com a finalidade de implementar seu projeto de formação
intelectual e humana pautada nos princípios cristãos. Desde o início da sua fundação até o desenvolvimento do
município de Maringá, sendo de grande aprendizado com apelo catequético do universo propriamente católico.
Destaca-se a contribuição do Bispo Dom Jaime para o aprimoramento e desenvolvimento da Escola juntamente
com a construção do município que estava sendo formado.
história e compõem a memória do povo sul-mato-grossense. Na direção do exposto, busca-se, com este relato de
pesquisa, vinculado ao doutoramento em educação, na linha de pesquisa História da Educação, Memória e
Sociedade, apresentar o legado histórico de uma instituição privado-filantrópica, a Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais de Campo Grande/MS (APAE) - Centro de Educação Especial Girassol (CEDEG), para a educação
das pessoas com deficiência no Sul de Mato Grosso e em Mato Grosso do Sul, haja vista ser essa a segunda
instituição educativa especializada fundada no referido estado para atender a clientela da Educação Especial, em
10 de junho de 1967. Em seu itinerário, a instituição revela e esconde diversas apropriações, práticas e
representações culturais, implicadas em seu programa de ensino, em suas rotinas e formas de organização
pedagógico-administrativa. Diante de sua representatividade, torna-se necessário entender como foi se
constituindo e instituindo a APAE/CEDEG em Campo Grande/MS, haja vista o distanciamento histórico já ser de
quase 50 anos da sua fundação. Para o desenvolvimento desta pesquisa, parte-se da vertente historiográfica
mais ampla denominada História Cultural, que, recentemente, à medida que amplia as fontes, os objetos e
métodos de investigação, tem forjado a emergência da abordagem denominada de Nova História Cultural, mais
adequada para estudar objetos históricos singulares, como as instituições educativas. De modo mais específico
ainda, recorre-se à perspectiva teórico-metodológica da História das Instituições Educativas, herdeira da
concepção supramencionada, compreendendo a instituição educativa como uma totalidade epistêmica. Palavras-
chave: História e Memória das instituições educativas especializadas. História Cultural. Sul de Mato Grosso/Mato
Grosso do Sul.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
seus heróis nacionais, em especial por meio do Sete de Setembro e do Quinze de Novembro. Nesta perspectiva,
cabe destacar ainda a presença marcante da imprensa no registro das festividades. No caso das duas escolas
pôde-se observar a presença de artigos relacionados às mais diversas festividades ocorridas ao longo ano,
enaltecendo a ação dos professores e da direção dos estabelecimentos de ensino pelo exemplo de civilidade e
patriotismo dos alunos frente aos desfiles cívicos, sendo que a mesma festividade era anunciada por dias
seguidos em jornais locais. Nesse sentido, resultados parciais apontam que os eventos cívico-patrióticos davam
grande visibilidade às escolas, mostrando e reafirmando, perante a sociedade, suas ideias e valores, importantes
na constituição da cultura da cidade e da nação.
novo proletariado, preparado para compor a nação socialista. Neste caso, a Arte se tornou mais uma estratégia
de educação, de conscientização das massas e disseminação dos ideais do Socialismo na busca do fortalecimento
de uma classe revolucionária contra o governo absolutista dos czares. Integrando técnicas circenses ao teatro, os
artistas e diretores da época carregaram os espetáculos de ideias socialistas na busca por um proletariado
politécnico e com força suficiente a partir da compreensão do corpo como importante agente de formação da
nova sociedade. A partir dessas constatações, o presente estudo tem o objetivo de compreender as relações do
Circo e do Teatro com a educação do proletariado na época da Revolução Socialista na Rússia. Primeiramente
discutiremos o Circo, sua incorporação entre os princípios pedagógicos do teatro de Vsevolod Meyerhold e a
formação da Escola de Circo de Moscou. Em seguida, vamos analisar as encenações teatrais-circenses como
meios de educação e disseminação das ideias revolucionárias no proletariado Russo. Este estudo será elaborado
a partir da revisão de literatura acadêmica e não acadêmica sobre o tema, além de discussões sobre conceitos de
Arte, Educação e o sistema de produção Socialista. Acreditamos que a partir dessas reflexões é possível elaborar
uma compreensão mais aprofundada sobre a importante função da Arte para atender às necessidades estéticas
humanas, mas também no que diz respeito ao seu potencial educador para a transformação da realidade social.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
com os dois níveis de ensino ainda era nova como mostram as atas de reuniões e plantas escolares das
edificações. A imagem idealizada de um currículo impositivo na ditadura militar se desfazia diante das
dificuldades estruturais do crescimento e da expansão do sistema municipal que iam desde a falta de carteiras,
de limpeza, de materiais didáticos, de uniformes e de funcionários, até o problema das licenças, falta de
professores substitutos e efetivos nas escolas. Os professores procuravam dentro de suas culturas escolares
construírem um currículo para a escola de oito anos mais condizente com as limitações espaço-materiais do
sistema municipal. Sair da sala de aula e ir para o modo como os professores lidavam com as dificuldades e
possibilidades do espaço escolar é um modo de ampliar o debate sobre suas ações como intelectuais na escola e
da educação e ampliar a noção de “currículo ativo” para além do processo interativo na sala de aula.
elegemos, dentro dos limites que este artigo comporta, o caderno de desenho. Este caderno traz atividades
lúdicas que supostamente as normalistas deveriam aprender para reproduzir em seus campos sociais de atuação.
Nos estudos em história da educação por meio de cadernos escolares, temos a possibilidade de chegarmos com
maior proximidade às representações das práticas, posto que esses “objetos quase invisíveis da sala de aula” têm
o poder de concentrar em suas páginas matérias e assuntos veiculados pela escola. É uma fonte complexa como
qualquer outra, que não diz tudo e precisa ser posto em diálogo com outras fontes. O texto apresenta-se dividido
em duas partes: inicialmente com a história da instituição e a sua inserção nos espaços da cidade. Este colégio foi
edificado especificamente para o público feminino, numa época em que predominava na educação o enfoque
escolanovista. As irmãs Beneditinas estiveram na direção do estabelecimento por três décadas. No segundo
momento analisamos o caderno de desenho da normalista, a materialidade da forma e o seu uso. Interessa-nos
perscrutar as representações das mensagens que este veicula nos desenhos e escritos grafados como rastros de
memórias, e assim, conhecermos práticas educativas em desenvolvimento nos idos tempos, na instituição em
tela. Por fim, as considerações finais retomam as reflexões feitas, no sentido de compreender melhor a educação
feminina católica, especificamente em relação as práticas de ensino do curso normal da instituição pesquisada.
contribuindo para sua prosperidade. O segundo período equivale à fundação do município: 16/06/1981 até 1996
com a publicação da LDB 9.394/96 e a terceira etapa de 1997-2013, momentos fortes do processo de
institucionalização do ensino municipal. Por meio da elaboração de uma linha de tempo, contendo as datas de
fundação, número de alunos atendidos, professores que atuaram neste espaço, estamos fazendo o inventário
das fontes. A linha de tempo e o vídeo que serão produzidos servirão como recursos didáticos e de pesquisas
para educadores e educandos das escolas da rede pública e particular de ensino do município, para alunos da
graduação e pós graduação da UNEOURO, que desejam fazer suas TCCs com base nas 130 escolas que o
município já teve, a maioria rural. A partir de uma investigação documental iniciada em março de 2014, por mim,
e pelos Coordenadores dos Cursos da UNEOURO: Licenciatura em Pedagogia, Licenciatura em Letras,
Bacharelado em Administração, Ciências Contábeis e Programação de Sistemas, e outros professores e alunos da
Graduação e da Pós Graduação, objetiva localizar e mapear os diferentes documentos que apresentam sujeitos,
memórias e objetos destas antigas escolas, num movimento que busca dar visibilidade a estas instituições
educativas, muitas vezes esquecidas, pois muitas delas já foram fechadas devido à polarização. Na primeira etapa
do processo, começamos a realizar a coleta de fontes nos arquivos da SEMECE, da CRE, do INCRA e nas escolas de
Ouro Preto do Oeste/RO, com a preocupação de compreender os sentidos das ausências e mesmo da guarda de
determinados documentos, como parte das disputas em torno da manutenção de determinadas memórias, em
detrimento de outras, como discutido em Ricoeur (2007). No auxílio teórico para tais análises sobre a escola,
autores como Frago e Escolano (1998), Mogarro (2005), Magalhães (1996, 1999), Nóvoa (1991, 1992, 1995),
proporcionam embasamento para a elaboração das perguntas feitas às fontes, sobretudo na preocupação com a
memória escolar, com ênfase na história material e social das instituições educativas. O projeto se propõe
também estudar a construção da identidade profissional dos professores da educação básica, na sua articulação
com o processo de institucionalização desse nível de ensino no Brasil, com foco no único curso de magistério que
existiu no município. O referencial teórico e metodológico é a História e a Memória das Instituições Educativas, a
Formação de Professores.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
as meninas que completassem 10 anos e os meninos que atingissem 11 anos de idade seriam desligados e
transferidos, respectivamente, para o Instituto Profissional Feminino – Orsina da Fonseca – e o Instituto
Profissional Masculino – João Alfredo. Para desenvolver o estudo, resultante de pesquisa em andamento,
interlocuções foram estabelecidas com um conjunto de estudos na área da História da Educação que têm
explicitado o conceito de políticas higienistas. A análise foi conduzida a partir dos relatórios médicos realizados
nos meses do ano de 1920, mas também do cruzamento com outros documentos do arquivo da instituição em
estudo, da observação da legislação que regia a instituição e de publicações relativas ao asseio da instituição pela
imprensa. Assim, foi possível verificar que, apesar de regulamentações que determinavam todas as ações
direcionadas à higiene dos ambientes e dos internos da instituição, persistiam algumas burlas. Além de reflexões
no que tange às discussões higienistas, foram evidenciados outros indícios sobre possíveis vias de validação das
concepções vigentes através da formação dos docentes em exercício, despontando dimensões caracterizadas
como tentativa de conquistar, através dos profissionais da educação, a naturalização de algumas práticas
educativas.
realizado na cidade de Filadélfia, no Estado da Pensilvânia dos Estados Unidos da América onde encontra-se o
Presbyterian Historical Society, que tem a missão de arquivar, cuidar e preservar documentos sobre a história da
Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos e de vários locais do mundo. Essa sociedade foi criada em 1852 e se
tornou uma referência nacional, dado o acervo que possui, tendo principalmente muitos documentos raros sobre
a vinda dos presbiterianos para o Brasil, como correspondências, panfletos, relatórios e jornais. Durante os
quinze dias de intensa pesquisa, o resultado foi promissor. Por meio do levantamento e a fotocópia desses
documentos algumas dessas fontes serviram para compreender o motivo do envio de missionários ao Brasil e
também fazer uma aproximação dos conceitos de moderno e progresso trabalhados nesta tese. Um outro
objetivo foi entender como os missionários presbiterianos, vindos dos Estados Unidos da América, iniciaram, na
cidade de Campinas-SP, em 1969, o Colégio Internacional, que foi transferido para Lavras-MG em 1892, onde
recebeu o nome de “Instituto Evangélico”. Com esta pesquisa pretendeu-se também compreender como essa
escola foi se constituindo ao longo do tempo, construindo uma cultura escolar diferenciada e marcante para sua
época, principalmente voltada para a educação secundária. Um fato determinante para seu desenvolvimento foi
sua inserção urbana num momento em que outras tantas instituições já se faziam presentes em terras lavrenses,
tendo o apoio de autoridades locais. Com o tempo, foi incorporada aos seus ideais educacionais a missão de
contribuir para o progresso não somente da cidade, mas também do Brasil, criando um sistema educacional que
abrangeu alunos de vários locais brasileiros. A categoria “moderno” foi objeto de compreensão do progresso da
cultura urbana, escolar e religiosa presente tanto na educação secundária como nas outras escolas pertencentes
ao Instituto Evangélico, na tentativa de compreender como ela e as outras instituições se auto intitulavam assim
e eram também intituladas, como fator importante para o desenvolvimento urbano, cultural e religioso. Uma teia
de relações foi estabelecida por seus fundadores, Samuel Rhea Gammon e Carlota Kemper, que se dedicaram à
evangelização e à direção do Instituto. No estabelecimento de redes de sociabilidade, ambos conquistaram a
confiança dos lavrenses e foram inseridos na história da cidade que ajudaram a instruir.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
rádio como meio de difundir o nacionalismo e a educação como instrumento de salvação nacional, capaz de
moldar o povo e constituir a nação a partir da cultura, dessa forma, o rádio educativo enquanto veículo de
difusão e integração de novos valores sociais baseado no liberalismo e da tarefada imputada ao rádio educativo
de levar luz às trevas. Assim, o projeto de Oswaldo Diniz de educação física pela radiodifusão passaria a ensinar e
valorizava o caráter, a dignidade, a verdade os bons costumes e outros temas. Vale ressaltar, o pensamento de
Oswaldo Diniz teria como matriz teórica a busca da reflexão sobre o papel que caberia a educação física através
do rádio, ao difundir novos valores sociais. Outorgando-se a tarefa missionaria e iluminista de através da
educação física promover progresso civilizatório, como também e, sobretudo, a defesa do território nacional.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
de 25 trabalhos, sendo 17 da autoria da professora Maria Thétis Nunes, dentre eles a elaboração do livro História
da Educação em Sergipe. Nos anos 90 do século XX, esse panorama se modificou em detrimento de alguns
fatores, tais como: a) a modificação curricular dos cursos de licenciatura em história e licenciatura em educação
física da Universidade Federal de Sergipe, onde os mesmos passaram a exigir o trabalho de monografia no final
dos cursos, permitindo a pesquisa no campo da história da educação; b) a criação em 1994 do núcleo de pós-
graduação em educação da Universidade Federal de Sergipe, já no ano de 1996 ocorreu à primeira defesa de
dissertação com o objeto de vinculado ao campo da história da educação; c) a criação em 1997, no PPGED, do
Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação: intelectuais e práticas escolares, sob a coordenação do
Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento. Dentre estes fatores acima elencados o NPGED se configurou o locus da
produção e pesquisas no campo da história da educação em Sergipe a partir dos anos 90 do século XX. No
decorrer destes 20 anos de existência, o PPGED (Programa de Pós-Graduação em Educação), com os cursos de
mestrado e doutorado, no curso de mestrado que teve o seu início em 1994, já foram defendidas 362
dissertações, sendo 131 no campo da história da educação, num percentual de 49,3% de toda produção do
programa. No curso do doutorado o seu inicio foi no ano de 2008. Até agosto de 2014 foram defendidas 24 teses,
sendo 11 no campo da história da educação num percentual de 45,8% do total geral. Deste universo da produção
na história da educação desenvolvida pelo PPGED que destacaremos os trabalhos que versam sobre a trajetória
de vidas de professores e intelectuais sergipanos. O conceito de trajetória de vidas está amparado no campo da
história cultural. Utilizamos a pesquisa bibliográfica como aporte metodológico e constatamos que o estudo de
trajetória de vidas ganhou uma expansão, a partir de 2003 no Programa de Pós-Graduação em Educação, pois
neste período ocorreu o deslocamento do aporte teórico-metodológico da interpretação marxista para os
estudos no campo da história cultural, com o alargamento na utilização das fontes, e inovações de pesquisas
atreladas aos saberes das culturas escolares. Contribuindo para o debate sobre o uso e descobertas de novas
fontes, a exemplo das memórias, testemunhos e da oralidade.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
cursos; a maior evasão ocorria entre as 1ªs e 2ªs séries, entendendo-se que com apenas seis meses iniciais do
curso os alunos estariam minimamente preparados para pleitear vagas no mercado de trabalho. Nos cursos
conviviam alunos oriundos do centro da cidade, dos bairros e de cidades circunvizinhas, bem como descendentes
de brasileiros e de outras 21 nacionalidades. A análise dos diplomados conclui que acima de 55% dos egressos
tinham como destino final de emprego a Estrada de Ferro Sorocabana; revela ainda que acima de 3/4 dos cursos
oferecidos, mesmo aqueles destinados às mulheres, forneciam mão de obra para a ferrovia. Percebeu-se, nos
cursos fornecidos pela instituição escolar, viés industrializante, em detrimento de formação integral do
educando, consoante as concepções propostas pelos métodos Della Vos, da Escola Técnica de Moscou e do
método Slojd. Ao fazer uso das séries metódicas, fornecendo aos alunos folhas de instrução que continham
etapas, modelos e medidas de como desenvolver as tarefas solicitadas, a instituição inaugurou um novo tempo
nos métodos do ensino profissional no país atendendo aos interesses do capital.
caderneta contém dez páginas com informações de identificação como o nome da escola, da aluna, dos
responsáveis pela emissão do documento e seu número de registro, bem como elementos das grades
curriculares do curso. A instituição estabeleceu-se, no início de seu funcionamento, em 1905, como Orfanato
Feminino sendo administrado pelas Irmãs pertencentes à Congregação da Divina Providência. Mais tarde
transformou-se na Escola Normal Nossa Senhora de Nazaré, uma instituição confessional que passou a funcionar
em regime de externato direcionado a um público exclusivamente feminino no período relativo ao documento. A
instituição hoje é encontrada no mesmo prédio como Colégio Nossa Senhora de Nazaré. O documento em
particular faz parte do acervo do Museu e Arquivo Antônio Perdigão, situado também na cidade de Conselheiro
Lafaiete. O exercício de análise pautou-se nos procedimentos metodológicos da micro história, no intuito de
alcançar o universo singular dos nomes e experiências específicas de um de entorno escolar. Buscamos
compreender, nesta perspectiva, a educação voltada ao público feminino e sua relação com a religiosidade. Os
caminhos percorridos à luz do nosso referencial nos sugerem analisar as especificidades dessa educação como
componentes do discurso social da época que compreendia, entre outros, o debate que coloca o magistério
diretamente relacionado à “aptidão” da mulher, qual seja, a atributos da maternidade, ampliando para o
magistério sendo representado como uma atividade de amor, de entrega e doação. Essas características,
consideradas tipicamente femininas, articuladas à tradição religiosa, reforçavam a ideia de que a docência
deveria ser percebida mais como uma missão, um sacerdócio e um gesto de entrega do que propriamente uma
profissão. Foi possível observar, por meio do documento analisado, que o desempenho da aluna, estabelecido
por meio de notas e observações textuais, sugere se tratar de uma formação de cunho deontológico, parâmetro
usualmente utilizado à época.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
histórico em que se circunscreve a fundação do ginásio. Estabelecemos ênfase na relação entre os movimentos
nacionais e locais de luta pela expansão da oferta do ensino secundário público e gratuito. É nesse contexto de
conflitos e disputas sociais que se configuram ações de grupos como a CNEG, movimento que se caracterizava
pela atividade do voluntariado, com objetivo de ampliar a oferta do ensino secundário para atender a população
carente nas diferentes localidades brasileiras. Consideramos importante o resgate de movimentos sociais na luta
pela expansão do ensino secundário nos anos de 1960 e sua vinculação com a história de uma instituição escolar
de cunho militar, para entrelaçar novos fios na história da educação brasileira, na medida em que nos permite
também articular o local e o nacional.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
meados de 1930. Em 1940, o Reverendo Donald F. Schroeder e sua esposa Helen assumiram a missão na região,
tendo como tarefa inicial a organização de uma biblioteca e uma escola primária, em virtude – segundo eles - da
escassa capacidade de leitura daquela população. Em 1942, sob a diligência do Reverendo Robert E. Lodwick,
cria-se um pequeno educandário intitulado Escola Evangélica de Jataí. Posteriormente, nesse cenário o
Reverendo Samuel Irvine Graham, com sua esposa Ruth Graham, assumem a direção da instituição, com o
propósito principal de construir uma sede própria para abrigar além da escola primária, o Curso Normal Regional
(formação de professores rurais), o Curso Secundário com Habilitação Básica em Saúde, no nível de 2º Grau e
Técnico em Magistério, sendo que os cursos primário e secundário passaram ao longo do tempo, a serem
oferecidos em regime de internatos feminino e masculino. Pretende-se nesse escopo, apresentar reflexões
acerca das ações educacionais e dos ideais de protestantes presbiterianos nesse município. Diante disso, o
trabalho busca problematizar essas missões de implantação de colégios, mais especificamente no caso de Jataí
(GO). Para a realização da pesquisa, estabelecemos duas frentes: uma de revisão bibliográfica que aprofunde a
temática abordada, além de pesquisas em periódicos, teses e dissertações, e, outra pela busca, localização e
digitalização do acervo escolar do Instituto Presbiteriano Samuel Graham. O foco norteador da pesquisa, diz
respeito à compreensão da influência desses protestantes no processo educacional dessa região do sudoeste
goiano. Ao que parece, os missionários presbiterianos, não foram apenas sujeitos sociais envolvidos no processo
histórico que caracterizou a formação da educação protestante em Goiás, nem tampouco figurantes no seu
tempo, mas sim atores que contribuíram na construção de uma educação confessional pautada em princípios de
uma dita escola moderna. Quanto aos aportes teórico-metodológicos envolvidos na pesquisa, são utilizadas as
contribuições da Nova História Cultural (NHC) e a pesquisa visa contribuir para a historiografia da educação no
estado de Goiás.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
construíram um novo espaço de formas de fazer. Os resultados até o momento evidenciam que foi a partir da
mobilização, do envolvimento e do interesse das famílias migrantes, que buscavam melhores condições de vida,
que a educação escolar desponta durante o período inicial de colonização. Percebe-se, portanto, no caso da
instituição em estudo a presença marcante das culturas familiares e infantis na constituição da cultura escolar
que podem ser observadas através dos relatos de memória e das imagens, da construção da escola e da sala de
aula e que diferentes representações de escolarização de infância se materializaram na cultura escolar da Escola
Rural Mista Municipal Santo Antonio.
como educandos. Os testamentos, dentre outros elementos, trazem as últimas determinações do testador, sua
naturalidade, filiação, estado civil, nome do cônjuge e dos filhos, quando estes existiam. Além disso, entendidos
como relatos individuais, expressam maneiras de viver, comportamentos e, especialmente neste estudo, trazem
o modo como o testador desejou dispor de seus bens, além das últimas vontades a serem cumpridas após a sua
morte. Interessa-nos os legados relacionados com alguma forma de prática religiosa, que foram aqui analisados
como intenções educativas. Assim, as determinações ligadas à religiosidade, como a doação de imagens de
santos e oratórios e os legados condicionados a missas e orações ao testador foram considerados sob o viés
educativo. Os testamentos estão sob a guarda da Coordenadoria do Arquivo e Documentos Históricos do Tribunal
de Justiça do Estado Maranhão – CADHTJEM e também no Arquivo Público do Estado do Maranhão/IPHAN –
APEM/IPHAN, ambos localizados em São Luís. A intenção é evidenciar a participação feminina no que se refere à
orientação educacional das crianças e jovens tentando demonstrar a importância das mulheres no processo de
formação “idônea e de caráter moral” desses educandos. Para isso, primeiramente, tento, nesta comunicação,
demonstrar a função educativa exercida pelas mulheres e as estratégias desenvolvidas para isso e, num segundo
momento, sua importância no cultivo de uma moral religiosa cristã, contribuindo assim para a tentativa de
produção de uma sociedade “virtuosa e civilizada”, como então era almejada. Para desenvolver essa discussão,
considero a noção de estratégia defendida por Bourdieu (2004; 2010) e de costume de Thompson (1981; 1998).
Os documentos analisados apontam que as maranhenses eram "produtos de seu tempo". Assim, adaptando-se
às normas e aos papéis sociais para elas determinados, especialmente àquelas pertencentes a "elite", buscaram
sim direcionar o processo educativo religioso das crianças e jovens sob suas responsabilidades.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
análise, realizou-se consulta ao arquivo pessoal de Maria Nilde, salvaguardado no Centro de Memória da
Educação da Universidade de São Paulo, o qual é composto por relatórios da experiência, recortes de jornais e
revistas, entrevistas, textos de autoria da educadora e de autores por ela lidos, bem como outros documentos
pessoais. Menciona-se que por conter registros, anotações pessoais, entrevistas e relatórios, estes documentos
fornecem-nos elementos de aproximação da “ordem dos efetivados”. Buscou-se, a partir destas fontes, perceber
os jogos de poder e as distâncias que se colocaram entre as prescrições para as Classes Experimentais
Secundárias e suas práticas no cotidiano escolar: esta “bricolagem” entre o prescrito e o efetivado.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
livro de registro de matrículas dos funcionários. Na Assembléia Legislativa de Minas Gerais foram consultados
Relatórios dos Presidentes do Estado de Minas Gerais bem como decretos e leis refentes ao serviço sanitário da
época, que também foram tomados como fontes neste trabalho. A partir da leitura e da análise de todo esse
corpus documental foi possível compreender os modos de agir da Diretoria de Higiene e os interesses que
norteavam as ações realizadas. O diálogo com os trabalhos de E.P.Thompson foram relevantes na medida em que
o autor nos provoca a pensar a educação como uma baliza direcionada para a ampliação do universo mental, por
meio de novos conhecimentos que, ao mesmo tempo, tende a distanciar os sujeitos de suas experiências forjadas
nos costumes. As fontes analisadas sugerem que para elaboração e execução de propostas e ações educativas
pela Diretoria de Higiene foram importantes os contratos firmados com o Governo Federal e com a Fundação
Rockefeller. No diálogo com esses interlocutores, o órgão mineiro produziu um discurso que apontava a
necessidade de educar a população nos preceitos higiênicos como maneira fundamental de melhorar as
condições sanitárias do estado. Com tal objetivo, apresentou propostas de intervenções médicas nas escolas e
procurou difundir noções de higiene junto ao povo nos serviços criados para a profilaxia das chamadas endemias
rurais. Percebeu-se que, nesse contexto, a educação foi entendida como importante recurso para promover uma
mudança de hábitos na população e que os médicos almejavam, dessa forma, produzir uma reforma de costumes
que tivesse a higiene como base.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
pretende reconstituir a história da Associação Feminina Santista na direção de D. Zeny de Sá Goulart, professora
de várias gerações de jovens em renomadas escolas femininas santistas, além de ter passado pela rede pública
de ensino. Paralelamente, a educadora atuou na Câmara Municipal de Santos, sendo a primeira vereadora
feminina na cidade, inclusive num período tão emblemático que é o do governo de Getúlio Vargas, quando, por
uma rápida intervenção federal - de março a agosto de 1938 - é afastada de seu cargo no Liceu Feminino junto
com alguns professores.
periódicos do estado na primeira metade do século XX. No campo da educação ampliaram-se as instituições
educativas de ensino feminino com a achegada de várias ordens religiosas de diversos países. O Bispo agiu
taticamente disseminando o poder católico, temeroso em virtude da ampliação do protestantismo. A nossa
pesquisa é qualitativa documental, recorremos aos arquivos do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS)
e o Arquivo Público de Sergipe, encontramos alguns artigos de periódicos e documentos oficias. Ao lermos esses
documentos, usamos as lentes do historiador Jacques Le Goff, para considerar que todo documento consiste em
rastros, resquícios, vestígios e, sobretudo, é fruto de uma construção social e, por isso, possui relações de poder.
Por certo, quando nossos olhos leram o que estava registrado nas páginas amareladas dos documentos, tivemos
a intencionados de despi-los de suas roupagens e da sua aparência enganadora. Ainda estudando as fontes a
nossa categoria de analise é fundamentada nos conceitos da História das Instituições de Magalhães (2002), por
meio de tal conceito podemos conjecturar que as instituições educativas estabelecem interações políticas e
normativas em uma estrutura educativa, estas podem estar inseridas na dimensão nacional ou internacional.
Assim, as instituições por serem vivas, do mesmo modo que as pessoas, são possuidoras de memória. Outro
conceito utilizado foi o de tática, elaborado por Certeau (2000). Para melhor compreender o movimento da
reforma católica no século XX no Brasil recorremos a Azzi (2008). Conclui-se que as ações do Bispo, contribuíram
para ampliar e compreender o trabalho evangelizador da igreja católica e a fundação de diversos colégios
confessionais em Sergipe.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
da pesquisa apontam que, o prédio do IBAO foi inaugurado em 28 de outubro de 1924, para que a Misericórdia
de Itu não perdesse a doação, considerando que as obras da escola ainda não estavam concluídas. As primeiras
turmas iniciaram somente oito anos após a inauguração oficial do prédio escolar, como evidenciam os registros
de diplomas. Situação reafirmada, por meio dos registros de funcionários, professores e diretor da escola,
contratados pela Irmandade, somente em 1932. O levantamento apurou ainda que os móveis e bordados
confeccionados nas oficinas eram disponibilizados para venda, valendo-se da Legislação Federal de 1909, que
permitia que escolas de aprendizes artífices, para ensino profissional e gratuito, revertessem sua produção em
renda para a compra de materiais e em prêmios para o diretor, mestres e alunos. E que, a escola habitualmente
contratava os alunos, com melhor desempenho, na função de auxiliar para os referidos cursos.
estabelecida no final do XIX entre educação profissionalizante e a questão social da pobreza na obra educacional
salesiana. Esse estudo é parte de um projeto ainda em fase inicial, mas que conta com apoio da UNIRIO através
do programa institucional de Iniciação Científica. A obra salesiana inicia-se em Niterói ainda no período do
Segundo Império e tem a participação do Imperador no fomento e financiamento da escola salesiana em Santa
Rosa. Naquele período, temos a educação como questão civil e disposta no sentido da maior inclusão das pessoas
no processo civilizatório e/ou educativo no qual as necessidades do Estado Nacional em consolidação dava o
ritmo dos investimentos. Paralelo a isso, a questão da pobreza, com o crescimento da sociedade urbana e
industrial, torna-se cada vez mais preocupante: a industrialização produz novos pobres. A iniciativa salesiana liga
a pobreza ao trabalho e nos permite perceber tal relação como socialmente aceita e válida. Ainda não tínhamos a
educação como um direito social. Fundada pelo religioso Dom Bosco, a ordem dos salesianos tinha como
característica a educação de jovens pobres e desamparados com a finalidade de equipá-los para saírem dessa
condição. Assim como acontecia em Turim na Itália, nos colégios salesianos, ao se instalarem em Niterói, em
1883, eles começaram sua obra atraindo os jovens através de Oratórios Festivos, para encaminhá-los pela fé e
oferecer-lhes um ensino profissionalizante. Consideramos assim, na obra salesiana, a educação como uma forma
de diminuir as mazelas sociais. Com essa visão, os salesianos foram bem vindos ao Brasil, uma vez que por aqui já
se havia instalado um “pensamento industrialista” com a que tornou necessária a capacitação de trabalhadores
para as indústrias que instituíam uma produção brasileira, abrindo espaço para o desenvolvimento do país. A
educação profissional no Brasil sempre esteve ligada a camada mais pobre da população num processo que ainda
hoje é referido como uma dualidade educacional. A profissionalização era uma solução encontrada para
amenizar as desigualdades e as mazelas sociais, tirando os “marginais” da rua e amparando os “desvalidos”.
Nosso estudo pretende abordar como esse processo de profissionalização se deu no Rio de Janeiro sob o prisma
da educação salesiana.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
cabe a nós, pesquisadores, não permitir que esta história faça parte apenas da memória esquecida dos
ferroviários e seus familiares.
criada pelo Bispo Diocesano Dom Benedito Zorzi, em 08 de julho de 1959, tendo iniciado suas atividades em
janeiro de 1960, porém apenas em 1963 foi reconhecida pelo Ministério da Educação e Cultura. Iniciou com
quatro cursos: filosofia, pedagogia, história e letras neo-latinas. Ministrados de forma seriada com calendário
escolar de 180 dias efetivos de aula, sem considerar período de provas e exames, os cursos funcionavam da
mesma forma. A avaliação era bimensal, nos meses de abril, junho, setembro e novembro. Na primeira quinzena
de dezembro eram realizados exames orais com avaliação de todo conteúdo do programa. As avaliações
bimensais tinham peso 6 e o exame oral peso 4, a soma dos dois fixava a nota final do aluno. Para aprovação sem
exames de segunda época, era exigida nota 7 e para os que necessitassem desse exame a nota mínima para
aprovação era 5. O aluno que ficasse com pendência em até duas disciplinas podia avançar de série de forma
condicional. Apesar das regras rígidas, a Faculdade se manteve com apoio da Mitra Diocesana e colaborou para a
formação de professores para o então ensino secundário na região serrana gaúcha.
representação dessa identidade profissional. Conforme posto por Magalhães (2004), o estudo sobre instituições
educativas abarca uma leitura de uma realidade complexa e multifacetada, sendo assim buscamos decompor
neste trabalho: a legislação que a rege, os aspectos econômicos e culturais que a embalam, as similitudes e
diferenças entre instituições do mesmo porte. No mosaico que se configura esse processo, reunimos um acervo
documental para análise, a qual se abre para as contribuições dos vários campos do conhecimento, fontes as
mais variadas: dos escritos oficiais emanados do governo aos escritos privados de arquivos pessoais. A utilização
da memória e da oralidade são, entre outras, novas fontes, e o pensar o que fazer com elas, se constitui em
novas formas de fazer a história. É certo que o exercício está em identificar as sinalizações das representações
postas por seus sujeitos. Entre estas representações, nos debruçaremos neste artigo a analisar duas inclinações
até então identificadas: A primeira aborda práticas pedagógicas de cunho cívico – patriótico, representados pelas
comemorações de datas cívicas e personalidades nacionais. A segunda aborda práticas disciplinares dado a
“Educação Feminina”, ou seja, saberes considerados necessários aos cuidados com o lar e a família, estas mais
presentes na disciplina Economia Doméstica, o qual, aponta para uma formação posta não só para a exercício
docente, e sim para suas funções sociais de mulher, esposa e mãe.Pelos sempre incompletos resultados a que
chegamos, destacamos que escrever sobre a história das instituições escolares no âmbito da história cultural
significa mergulhar num contexto que permite compreender a própria cultura de uma época, enraizada nos
processos escolares que, por sua vez, gera também ideias, práticas e hábitos que são culturais.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
foco de estudo as instituições escolares, bem como seu cotidiano educacional. Os dados indicam que ser aluno
da uma escola rural e após alguns anos ser professor dessa mesma escola constituía-se um status na
comunidade, era um reconhecimento da formação recebida na escola e o único meio de se continuar com as
“portas” da escola aberta. Mesmo com a falta de estrutura física e pedagógica, o professor tinha uma classe com
níveis diferentes de conhecimento para lecionar, alguns dos estudantes da escola rural moravam com os
professores, por não terem como retornar frequentemente a suas casas, pois à distância era um fator
complicador para as crianças. Um professor poderia permanecer em uma escola rural, dependendo de suas
aspirações profissionais, até 30 anos e só deixava o cargo para se aposentar.
no novo ramo de atividade. A expansão econômica, impulsionada pelo setor e, a geração de tantos postos de
trabalho disseminou, como outrora, a ideia de um novo eldorado. Famílias inteiras de pequenas cidades da
região e de outros Estados foram atraídas aumentando consideravelmente a população do município. Nesse
cenário, a educação no município teve que se voltar ao novo ciclo de desenvolvimento. O crescimento do
município requeria um modelo de educação formal para os filhos dos seus colonizadores. O quadro foi iniciado
pela construção da primeira instituição de ensino, a Casa Escolar de Cianorte, em 1955. Desde então, outras
instituições escolares foram surgindo, sobretudo em áreas rurais, entretanto, não deixavam de atender aos
interesses do levante urbano que se instaurava no período. Ao eleger este município como objeto de estudo
levou-se em consideração a ausência de produção historiográfica sobre a educação local, fato que justifica a
necessidade de empreender pesquisas que venham a guardar a sua memória histórico-educativa. A pesquisa foi
alicerçada em documentos produzidos e preservados pelas instituições educacionais e órgãos oficiais e escritos
que versam sobre a memória e análise documental como trabalhos já realizados sobre Instituições Escolares.
Também utilizou-se obras contemporâneas que tratam da pesquisa em história da educação e da história do
Brasil. Quanto ao eixo teórico-metodológico norteador da pesquisa, a opção foi pelo método da História, cujas
categorias, entre elas o trabalho, contribuíram para explicitar o evento educacional no município em questão
como um fenômeno da relação trabalho- capital. Acredita-se que o objetivo da pesquisa de contribuir com a
memória e história das instituições escolares locais, foi alcançado.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
(2013), Gatti e Barreto (2009), Silva (1999), Tanuri (2000), Freire (1976, 1990, 2000, 2006), Julião (2007, 2011),
Onofre (2007) e Ireland (2011). Ainda outros subsídios com leis e documentos da execução penal; documentos
oficiais relacionados às normativas da Educação Básica e Educação de Jovens e Adultos e estudos relacionados à
educação prisional. O presente estudo suscita novos e relevantes debates acerca da formação do profissional
pedagogo para atuação em espaços diversos, como a prisão. As reflexões contribuíram para repensar os
prisionais e a necessidade de trabalho pedagógico emancipador.
Tive como foco de análise os espaços culturais, pedagógicos e de sociabilidade criados e mantidos por maçons
ilustrados, como por exemplo, a Associação Promotora da Instrução da Corte (1874), assim como as associações
propagadoras de São Paulo, Minas, Pernambuco entre outras regiões. A criação dessas associações teria
fornecido legitimidade e reconhecimento político e social aos seus organizadores e criaram ambiente para
iniciativas concretas como a fundação e manutenção de aulas diversas e escolas gratuitas, algumas das quais
remanescentes no espaço das cidades, como a Escola Municipal Senador Correia no Rio de Janeiro, a Biblioteca
Municipal Pelotense (RS), entre outras. Foram também responsáveis pela criação e manutenção de bibliotecas,
periódicos, conferências públicas entre outras iniciativas. Para a realização deste estudo, a investigação apóia-se
em múltiplas fontes documentais, privilegiando, no entanto, as publicações da imprensa maçônica em diálogo
com material proveniente de diferentes arquivos e que inclui diversos tipos de documentos, como textos legais,
biografias, cartas, estatutos de associações, atas de assembléias, balancetes orçamentários, dados relativos à
matrícula e aprovação em disciplinas, relatórios diversos, além de toda uma bibliografia nacional e internacional
dedicada ao exame da relação entre maçonaria e educação e uma literatura historiográfica voltada tanto para a
compreensão da Sociedade e do Estado, quanto da maçonaria brasileira no final do século XIX.
dessa escola uma referência regional no trabalho com o ensino inclusivo. O debate relacionado à inclusão social
de pessoas com deficiência tem conquistado cada vez mais espaço na sociedade. As pessoas com deficiência
possuem um histórico, construído em determinada época e cultura, de exclusão do convívio social, mas
atualmente possuem direitos específicos e importantes na luta pela inclusão. Nessa perspectiva de inclusão, a
educação tem sido uma via, e o Instituto Federal Fluminense (IFF) campus Campos Centro, tem sido uma
referência regional. O instituto possui o Núcleo de Apoio a Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais
(NAPNEE), responsável por gerir as diversas ações voltadas para a inclusão. A história do Instituto Federal
Fluminense - IFF campus Campos Centro é algo relevante para a compreensão da relação deste com a inclusão
dos alunos com deficiência no espaço escolar. De tal modo, abordaremos alguns aspectos desde sua criação,
como algumas questões da política educacional no decorrer do século XX, considerando a influência dos fatos
ocorridos neste período para as ações desta instituição na atualidade. O censo demográfico demonstra que no
país ao menos 12.777.207 milhões de pessoas, representando 6,7% da população total, declararam possuir pelo
menos uma deficiência severa (IBGE, 2011). Apesar desta quantidade de pessoas, no mínimo expressiva, ainda há
dúvidas sobre o que é deficiência. As escolas, importante espaço de direito para a inclusão, possuem inúmeras
dificuldades para se tornarem inclusivas, e no IFF campus Campos Centro também existiram, e ainda há barreiras
para se concretizar a inclusão de pessoas com deficiência. Neste ponto, será abordado então o que é deficiência,
como foi a entrada dessas pessoas na instituição, e quais são as ações voltadas para esta realidade. O Histórico
do IFF e autores como Frigotto (2006), Cunha (2000), Mota (2008), Fávero (2004), Sassaki (2003) e outros
deveram ser utilizados na análise do trabalho. As reflexões trazidas no mesmo tende a contribuir para ampliar o
olhar sobre as pessoas com deficiência como sujeitos de direitos e analisar as práticas educativas envolvidas no
processo de inclusão dos alunos com deficiência.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
disciplinarmente com metodologia própria, que consegue proporcionar o desenvolvimento social, a consciência
para a cidadania, a solidariedade e a sustentabilidade, através do lúdico e do desafio do trabalho em equipe na
vida ao ar livre. As memórias e a vida ao ar livre promovem total integração dos sujeitos com o meio ambiente e
a comunidade do entorno, primando pela melhoria na dinâmica das relações.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
concepções pedagógicas sobre co-educação dos sexos estiveram em circulação no período evidenciado? 2) Quais
as possíveis conexões entre as ideias em circulação e os argumentos apresentados por educadores e
parlamentares? Para essa investigação tomamos como fontes estudos de Rui Barbosa sobre co-educação dos
sexos, expressos em seus trabalhos - Reforma do Ensino Secundário e Superior (1882) e Reforma do Ensino
Primário e Várias Instituições Complementares da Instrução Pública (1883) - e a opinião de professores e
educadores sobre o tema, presentes nos Pareceres enviados à Mesa Diretora do Congresso da Instrução e nos
trabalhos apresentados na Sétima Conferência Pedagógica, ambos em 1883. O primeiro foi elaborado quando o
parlamentar ocupou o cargo de Relator da Comissão de Instrução Pública, encarregada de apreciar o Decreto nº
7.247, de 19 de abril de 1879, de autoria do ministro Carlos Leôncio de Carvalho, o qual reformava o ensino
primário e secundário no município da Corte e o ensino superior em todo o Império. Em seus Pareceres dedicou
parte de seus estudos ao que considerou a especificidade das mulheres em sua sexualidade e os cuidados que
requer, inserido no debate a respeito da co-educação dos sexos ou igualdade de ensino para ambos os sexos. Já
os pareceres e trabalhos apresentados nos encontros de educação aqui analisados foram escritos por educadores
para discussão de assuntos referentes à instrução e ao ensino a partir de seus conhecimentos e experiências
sobre o tema em questão e sua adoção nas escolas primárias, nos estabelecimentos de instrução secundária e
nas escolas normais. Nesse estudo foi possível verificar a circulação de concepções pedagógicas entre Brasil,
Estados Unidos e países da Europa, baseadas, em geral, em argumentos de ordem moral, econômica e médica,
que deveriam ser considerados para a educação de jovens de ambos os sexos.
472
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
GOODSON (1995) são referenciais para o desenvolvimento da pesquisa, já que o autor defende a análise histórica
do currículo, pois esta auxilia na compreensão da escola em seu interior, assim como as tensões e conflitos dos
atores nela presentes. O estudo da arquitetura dos espaços escolares constitui-se como um subsídio importante
para a apreensão das complexidades existentes entre os muros da escola. As disposições dos espaços presentes e
ausentes dentro de uma instituição escolar formatam a diagramação de “uma espécie de discurso que institui na
sua materialidade um sistema de valores, como de ordem disciplina e vigilância, marcos para a aprendizagem
sensorial e motora, e toda uma semiologia que cobre diferentes símbolos estéticos, culturais e também
ideológicos” (ESCOLANO, 1998, p. 26). Analisados de forma articulada, currículo e arquitetura escolar, trazem à
tona as transformações e modificações das instituições escolares e constituem um campo frutífero para
investigação no campo da cultura escolar. VINÃO FRAGO; ESCOLANO. A. Currículo, Espaço e subjetividade. A
arquitetura como programa. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1998. GOODSON, I. Currículo: Teoria e História.
Petrópolis, RJ, Vozes, 1995.
documentais no acervo em análise revela que seu uso era corriqueiro em diferentes espaços da educação
nacional, conforme demonstram os estudos da área. Sua disseminação atingiu até mesmo os mais recônditos
lugarejos, entre eles, o da escola em análise: Escola Ipiranga. A documentação dos Testes ABC revelam práticas
educativas da instituição na medida em que pressupõem e orientam concepções epistemológicas de ensino e
aprendizagem ao que diz respeito à ‘verificação da maturidade necessária à aprendizagem da leitura e da escrita’
(LOURENÇO FILHO, 2008). A aplicação destes testes acontecia no ingresso do aluno na instituição,
caracterizando-se como pré-requisito para a matrícula do estudante na 1° série do Ensino Fundamental. Os dados
utilizados na análise são provenientes do banco de dados do Núcleo Educamemória (IE/FURG) e referem-se a
documentos de escrituração escolar. Dentre eles: livros de atas, livros de matrículas, livros de frequência escolar,
fichas de matrículas, testes ABC e boletins. Tais artefatos culturais da história da educação fazem parte de um
conjunto de documentos encontrados nos arquivos de escolas da região rural da Serra dos Tapes. A localização
deste arquivo escolar ocorreu por meio de práticas de pesquisa continuada articuladas pelo Núcleo
Educamemória. As fontes documentais em análise revelam características da escola Ipiranga como uma escola
rural situada no interior da Serra dos Tapes, no sul do Rio Grande do Sul, distante 70 km da sede do município de
Pelotas. Datações documentais apontam para o fato da Escola Ipiranga ter sido municipalizada no ano de 1960.
Os dados de escrituração escolar nos registram procedimentos formais e o cotidiano da história da instituição. A
escola era multisseriada tendo em média um ou dois professores atuando por ano. Em trinta e cinco anos de
funcionamento catorze docentes atuaram na escola Ipiranga. Apenas em um caso o professor permaneceu na
instituição por mais de dois anos, totalizando o tempo de vinte e cinco anos. Havia na escola quatro ou cinco
classes de aula, turmas de alfabetização a 4° série do Ensino Fundamental. Em três anos letivos funcionou na
instituição a 5° série. Informações de comemorações cívicas, datas festivas, realização de provas finais e exames,
reunião com pais e/ou comunidade, assim como inícios e términos de anos letivos aparecem nos livros de atas
como práticas educativas formais realizadas no espaço da instituição escolar.
475
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
476
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
diversos estabelecimentos de ensino, tendo cursado o curso pedagógico no Colégio Dom José Thomaz, enquanto
fazia o científico no Atheneu e graduou-se em Letras na Universidade Federal de Sergipe, em 1978. Os programas
apresentados por Nazaré Carvalho foram realizados na década de 1970, quando o país vivia a ditadura militar, a
inclusão da educação moral e cívica nas escolas era defendida como uma maneira de ensinar as crianças a serem
bons filhos, alunos e cidadãos. O conteúdo dos programas, em parte, seguia esse ideário. Assim, as televisões
sergipanas, logo nos seus primeiros programas infantis, de forma intencional ou não, ao passo que procuravam
entreter e garantir a audiência com suas produções, acabaram por inculcar diversos conteúdos educativos.
nos princípios de países civilizados, e o Brasil era visto como um campo fértil para difusão de suas ideias e
práticas religiosas. É possível destacar nos escritos produzidos por essas missionárias referências ao primitivismo
local, em relação aos costumes dos chamados países civilizados, bem como a preocupação em colocar em prática
um movimento civilizatório que ao mesmo tempo em que provocasse mudanças nos comportamentos
reorganizasse a sociedade por meio da intervenção educacional e religiosa. Este trabalho de pesquisa se propõe a
investigar a ação de dois grupos religiosos e confrontar suas ações no campo educacional por meio da leitura e
análise das cartas trocadas com seus superiores nos países de origens. Um desses grupos, é a ordem feminina
Servas do Espírito Santo, enviada pelo Pe. Arnaldo Janssen da congregação Verbo Divino e que chegou ao Brasil
no ano de 1902, para fundar escolas femininas e afirmar seus ideais católicos. O outro grupo, encabeçado pela
missionária metodista Martha H. Watts, é a Woman’s Foreign Missions Society of the Methodist Episcopal
Church, South – WFMS, de origem norte-americana, fundada em 1878 e que chegou ao Brasil em 1881, no
interior de São Paulo, para divulgar os preceitos religiosos e instalar escolas metodistas. O trabalho de análise
será realizado com base nas cartas trocadas com o fundador da ordem católica na Alemanha no período de 1891
a 1911, e nas correspondências da Martha Watts com suas superiores protestantes nos Estados Unidos, no
período de 1881 a 1908. O estudo busca a partir da perspectiva de análise processual da meso-abordagem e das
contribuições teóricas propostas por Norbert Elias, caracterizar os processos civilizatórios, percebendo o uso das
estratégias e táticas que ambas as congregações empreenderam em um país novo que as recebiam. Ao
evidenciar como vai sendo percebida a imagem, as mudanças nos percursos dessas mulheres, uma vez que se
trata de instituições que representaram a veiculação do projeto de educação da Igreja Católica e da Igreja
Metodista, pretende-se compreender a forma constitutiva deste universo de evangelizar e educar.
478
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
denominada Missão Brasil Central. Por sua vez, podemos perceber a penetração do protestantismo em Sergipe a
partir de 1897, quando os missionários presbiterianos vinculados à Missão Brasil Central se estabelecem na
cidade de Salvador. As escolas paroquiais eram mantidas e equipadas pela Missão ou comunidade protestante
local. “Em alguns momentos a missão propôs que também fossem preparadas pessoas das próprias comunidades
para assumirem o ensino de suas escolas paroquiais.” (NASCIMENTO, 2004, p.219). Em Estância, as aulas
ministradas nas escolas americanas ou paroquiais, pelos professores missionários ou pelas professoras formadas
no Instituto Ponte Nova, desenvolviam no alunado, as aptidões que estavam intrínsecas, como também
ensinava-lhes um ofício para nortear sua futura profissão.
480
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Supletivo de Treinamento com Participação Comunitária para Professoras da Casa Escola O Infantil do Bom
Senso”, que aconteceu a 21/11/1973 a 12/01/1974, realizado pelo Departamento Supletivo de Ensino, da
Secretaria de Educação e Cultura de Mato Grosso (Uno), que serviu tanto à formação do primeiro corpo docente
dessa instituição quanto à definição do currículo da CEOIBS. O ano de 1986 sinaliza a extinção do funcionamento
da CEOIBS nos moldes iniciais e em espaços improvisados, quer dizer, em casas alugadas pelo Governo do Estado
e utilizadas para fins educativos. Em 1986, a CEOIBS instalou-se em prédio novo construído na Escola Estadual
Castro Alves, à qual foi integrada pelo Decreto nº 2030, a 07/07/1974, conquistando após doze anos de
reivindicações espaço próprio e adequado ao atendimento da criança pré-escolar. Metodologicamente, esta
investigação de caráter documental realiza pesquisa de campo em fontes documentais no arquivo passivo da
Escola Estadual Castro Alves em documentos administrativos do Departamento Regional de Educação e Cultura
(DREC), depositados no Centro de Documentação Regional (CDR), da UFGD. A pesquisa norteia-se pela
perspectiva da Nova História Cultural ligada à História do Tempo Presente, ancorada em autores da História da
Educação como Certeau (2002), Chartier (1990; 2010), Cunha e Silva (2013), Dosse (2012), Freitas e Biccas (2009),
Kishimoto (1990; 1999), Kuhlmann Júnior (1998), Magalhães (1998, 2005), Rosemberg (1989; 1992; 1997), Sá
(2007; 2012), Silva (1997; 2001, 2002; 2003; 2005), e outros. Resultados indicam que a CEOIBS de Dourados fez
parte de um projeto estadual maior, se constituiu na primeira iniciativa de educação pré-escolar pública, marco
representativo da história da educação em Mato Grosso (Uno), criado pelo Decreto nº 2328, de novembro de
1974, no Governo de José Manuel Fontanillas Fragelli, a ser instalado em seis cidades-sede: Cuiabá, Campo
Grande, Três Lagoas, Corumbá, Aquidauana e Dourados. Em sua gênese, há indícios de que a CEOIBS de
Dourados teve participação comunitária, porém, nas fichas de matrículas verifica-se que em sua maioria a
clientela atendida eram filhos de pecuaristas, médicos, dentistas, engenheiros e advogados. Em março de 1974,
começou a funcionar, atendendo 103 crianças com idades entre três e sete anos, matriculadas no Maternal, no
Jardim I e no Jardim II.
“GENERALIZAR, AMPLIAR E NÃO RESTRINGIR”: O PROCESSO DE
EXPANSÃO DA ESCOLA PRIMÁRIA RURAL EM SERGIPE (1947- 1961)
RONY REI DO NASCIMENTO SILVA
Eixo Temático: 7 - História das Instituições e Práticas Educativas
O presente trabalho é fruto de dissertação de mestrado em andamento, intitulada: “Memórias caleidoscópicas: A
expansão das Escolas Rurais no estado de Sergipe (1947- 1961)”. Tal investida de pesquisa pretende
compreender o processo de expansão da Escola Primária Rural no Estado de Sergipe, no arco de tempo que
compreende 1947 a 1961. Para tanto, buscamos em dois projetos de pesquisa as fontes para nossa investigação,
a saber: “Memória Oral da Educação Sergipana” e “História da Escola Primária no Brasil: investigação em
perspectiva comparada em âmbito nacional (1930 – 1961)”. Para alcançar o que nos propomos, identificamos
nos discursos de educadores e políticos as concepções de ensino delineadas para a Escola Primária Rural. Em
seguida, operamos com os relatos orais dos(as) 16 professores(as) entrevistados(as), de acordo com a
metodologia da História Oral, conforme as experiências de Alberti (2004). Para além de uma versão do passado,
buscamos narrativas de acordo com o filósofo Walter Benjamin (2012). Unimos as fontes orais com a pesquisa
documental, a saber: Anuários Estatísticos do IBGE, Mensagens de Governadores do Estado e os Relatórios
Anuais. Ao lermos esses documentos, estabelecemos um diálogo entre teoria e evidência nos termos E. P.
Thompson (1981). Operamos com as categorias de análise: “Cultura Escolar”, segundo Felgueiras (2005) e
“Práticas Escolares” de acordo com Faria Filho e Vidal (2000). O processo de expansão das Escolas Rurais
pretendia preparar o Brasil para se tornar uma nação desenvolvida em fina sintonia com os preceitos de
progresso e civilização. Foi dentro desse contexto que se desdobrou um projeto em âmbito nacional de criação
de Escolas Rurais por todo interior do país. Tal processo se desenvolveu no contexto de estreitamento das
relações entre o Brasil e os Estados Unidos no pós-Segunda Guerra. Buscava-se dar a essas Escolas Rurais o papel
de agente civilizador das populações rurais, cabendo a elas promover uma aprendizagem que atendesse as novas
necessidades nacionais. Além disso, buscava-se ampliar o ensino para uma maior parcela da população brasileira,
como a finalidade de reduzir os altos índices de analfabetismo da época. Por fim, concluímos que o processo de
expansão das Escolas Rurais no Estado de Sergipe se deu de forma mais acentuada no governo de José
Rollemberg Leite (1947 e 1951), que resultou na construção de mais de 200 unidades. Por certo, tal projeto de
intensificação contou com a participação INEP em parceria com o Departamento de Educação do Estado de
Sergipe, para além de diversos pesquisadores brasileiros e estrangeiros.
481
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
482
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
agregando novos elementos, objetos e fontes antes não considerados apresenta um leque de possibilidades no
que se refere à pesquisa histórica em educação, constituindo um campo produtivo de estudo. Assim, a pesquisa
realizada permitiu vislumbrar por meio do estudo das bibliotecas escolares no período de 1936 a 1971, parte de
uma cultura escolar presente na escola primária do município de Paranaíba, no espaço das Escolas Reunidas e
dos Grupos Escolares como uma representação do passado, que se produz numa constante dialética entre
memória e história.
pesquisa bibliográfica e a análise documental, privilegiando a legislação e os livros de atas dos exames do grupo
escolar. Os mecanismos de avaliação da aprendizagem nos grupos escolares em Goiás davam-se pelo cômputo
das faltas às aulas, análise da disciplina (aqui entendida como comportamento e aplicação) e os exames (de
promoção e final) que definiam os aprovados e os reprovados. No que se refere aos resultados finais do processo
de avaliação da aprendizagem no período entre 1926 e 1929 verificamos que foram matriculados no grupo
escolar 611 alunos e, destes, 68% foram considerados aptos a prestarem os exames e 32% sem condições de se
submeterem aos mesmos, um percentual de aproveitamento relativamente baixo. No entanto, o resultado final
foi ainda pior, pois dos alunos encaminhados para exame apenas 26% foram aprovados. Esses indicadores
significam que o fracasso escolar era marcante na unidade de ensino, no período estudado. Em relação ao grau
de aprovação (conceito emitido na avaliação final dos aprovados), 19% dos alunos tiveram grau 5, 42% grau 4,
22% grau 3 e 17% grau 2. Os dados demonstram que era baixo o número de alunos aprovados com “distinção”
(grau 5), sendo a maioria aprovada “plenamente” (grau 4) e num plano intermediário os aprovados
“simplesmente” (graus 2 e 3). Acreditamos, a partir dos registros encontrados na documentação, que era alto o
nível de exigência da junta examinadora, contribuindo para tais resultados. E não foi identificado nenhum
registro referente a algum tipo de inquietação em relação ao alto índice de reprovação e ao baixo percentual de
aprovação, o que nos permite inferir que a preocupação maior estava voltada para verificar, medir os
conhecimentos adquiridos pelos alunos.
484
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
foi sediado pela FEP o 1º Encontro de Educadores Espíritas Centro Sulino, os eventos se sucederão em prol da
propagação do espiritismo e de uma educação espírita que contribua com a evolução moral e social da
humanidade. Contudo este discurso se desconfigurou a partir do ano de 1998, quando o Colégio Lins de
Vasconcellos foi arrendado ao grupo Opet (Organização Paranaense de Ensino Técnico) por 15 anos. A análise
desta investigação foi constituída por levantamento historiográfico a partir de fontes primárias documentais e de
periódicos e de fontes secundárias.
semelhança na atualidade. O estudo é dirigido pela análise de documentos da época. Com sua obra O Verdadeiro
Método de Estudar (1746), Verney afirmou que os alunos não frequentavam as aulas e não estudavam, porém,
eram aprovados nos estudos. Antonio Ribeiro Sanches, em sua obra Método para Aprender a Estudar a Medicina
(1763), relatou que a maior parte dos estudantes ficava em suas terras ou em outras localidades, mas não
frequentava a universidade. Na reforma universitária empreendida pelo Marquês de Pombal O Compêndio
Histórico do estado da Universidade de Coimbra (1771) criticou o uso das apostilas e a falta de rigorosidade nas
atividades acadêmicas, e o Estatuto da Universidade de Coimbra de 1772 estabeleceu a criação dos compêndios
pelos professores das disciplinas e rigidez nos exames e na frequência dos alunos. Nos primeiros anos de vigência
do Estatuto de 1772 a rigidez foi mantida, mas os compêndios não foram redigidos e o interesse pela
consolidação da reforma diminuiu com a saída do Marquês de Pombal do governo. Os compêndios foram
substituídos pelas “sebentas” que eram as anotações das aulas proferidas pelos professores. Essa prática
permitia aos estudantes que evitassem a necessidade da leitura dos livros impressos. Muitos estudantes sequer
compravam os compêndios das aulas que eram obrigados a frequentar, e faziam todo o seu estudo pelos
cadernos. Os cadernos manuscritos apresentavam erros de ortografia, de linguagem, de método e até de
doutrina. Os estudantes mantinham o costume de faltar deliberadamente às aulas, não estudavam, e se
entregavam a outras atividades, como jogar, beber e as práticas dos ritos de iniciação muitas vezes violentos.
Braga (1898) admitiu na sua obra História da Universidade de Coimbra que naquele período ainda permanecia o
uso das “sebentas” como prática universitária. Na atualidade o uso das apostilas ou “sebentas”, a falta de
frequência às aulas, o uso de bebidas e a prática violenta dos ritos iniciação permanecem, e são renovados, no
tempo e no espaço, dificultando as práticas pedagógicas.
487
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
professores que contribuíssem para a adaptação do educando ao seu meio, de forma que pudessem
compreender e intervir na dura realidade e vulnerabilidade em que viviam; sabendo-se que a dimensão social do
currículo expressa compõe uma significativa carga de trabalho, que conciliava conhecimento e práticas
elementares.
Nudom (livros de ofícios, regulamentos e regimentos do Colégio, anuários, programas de ensino, entre outros)
constitui um rico material de análise e estão à espera de investigação. De acordo com Barros (2005), a disciplina
no contexto escolar está voltada para o cumprimento de regras de convivência, isto é, o desenvolvimento físico,
intelectual, moral e cívico dos alunos no sentido de conseguir, numa primeira fase, atingir as metas traçadas para
o projeto educativo de uma dada sociedade, o que significa formar um tipo ideal de Homem e, finalmente, atingir
a plena integração social desse Homem que se quer cumpridor e respeitador das regras e das leis estabelecidas,
um ser disciplinado que se possa tornar útil e produtivo enquanto trabalhador e cidadão ativo.Daqui se
depreende que a disciplina escolar faz parte de um contexto político e ideológico que permite compreender que
o controle social e a regulação de comportamentos eram colocados ao serviço de um poder que visava formar
um determinado tipo de cidadão. Deste modo, a análise da disciplina escolar poderia mostrar de que forma o
Colégio Pedro II procurou criar seus jovens educandos e em que moldes a disciplina escolar estava atrelada ao
poder disciplinar de professores/inspetores de alunos na difícil missão que lhes era atribuída: formar o
indivíduo/aluno?
490
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Mato Grosso (CVSPMT) que fazia parte da “estratégia formada no Estado Novo forjada na expressão ‘Marcha
para o Oeste’”; em 1941 a Companhia foi comprada pelo tchecoslovaco Jan Antonin Bata, que
pretendiadesenvolver negócios no país.Uma das finalidades da CVSPMT era a de explorar terras devolutas
concedidas pelos governos dos estados de São Paulo e Mato Grosso, além de criar colônias, explorar a indústria
de navegação e transporte no rio Paraná e afluentes, explorar o comércio de gêneros alimentícios, entre outros
tipos de explorações. No ano de 1953 deu-se início a colônia de Batayporã na região do rio Samambaia com
20.000 hectares. Em meio a essas conjunturas foi criada em 4 de março de 1955 a primeira escola no distrito de
Batayporã, que em seu primeiro ano teve cerca de 70 alunos, filhos de colonos e de outros moradores de
localidades próximas. Inicialmente a escola funcionou com a denominação de Escola Rural Mista passando, logo
em seguida,ase chamar Grupo Escolar de Batayporã.Nesse sentido, buscou-sedescrever e analisara visão de
educação dos colonizadores, utilizando fontesdisponíveis nos arquivos da escola (atualmente Escola Estadual
“Jan Antonin Bata”)e do Centro de Memória “Jindrich Trachta”, localizado naquele município,além dos ditos da
primeira professora da escola, obtidos em entrevista realizada em setembro de 2014. O aporte teórico-
metodológico inscreve-se na perspectiva foucaultiana, considerando taisinterpretações e escritos como
narrativas do nosso tempo, e que contribuem para problematizar o objeto em questão. Narrativa sem pretensão
de plenitude do saber, nem de confortar averdade; antes, ciente de seus limites, conforma-se em ser um saber
preliminar, parcial. Afirmar um diálogo com essas análises tem várias implicações, entre as quais se destacam
para a pesquisa em questão: a recusa da busca de uma origem e de uma noção de poder como algo que se
detém e que emanaria de instituições como o estado. Trata-se antes de concebê-la como correlações de forças,
que produz saberes e os faz circular. Assim, a preocupação com a educação escolar em questão, se dirige para a
relação entre o projeto de colonização em curso naquele lugar e momento e a invenção da instituição escolar.
Observou-se que diferentes práticas e discursos, que lhe são exteriores e anteriores, possibilitaram sua
fabricação como singularidade histórica.
491
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
relacionadas à formação de professores. O método de análise privilegiado é o da História Oral concebido por
Meihy (2000). Trata-se de projeto de pesquisa de mestrado, em desenvolvimento, iniciado no âmbito do GP
Forme - Formação do educador, da FFC-Unesp/Marília-SP e integrante do programa de pesquisa intitulado
“História da didática em instituições de formação de professores no Brasil (1827-2011)”
educação das sensibilidades que regenerava e produzia cidadãos aptos ao viver moderno. Foi por meio da Nova
História Cultural e da apreensão/reflexão de fontes jornalísticas e de impressos pedagógicos produzidos pela
própria Instituição, que encontramos os caminhos possíveis de serem traçados para a confecção deste texto, que
almeja a produção de uma cartografia da história do Instituto Pedagógico, denotando como essa instituição
educativa estava a serviço da cidade, mas também da pátria. Instituição escolar, cultura (material) escolar,
disciplina e civilização são nossos conceitos-motes de reflexão, que apontam em seus interstícios para uma
discussão sobre a arquitetura escolar, os materiais didáticos, os/as professores/as e os impressos pedagógicos
como fontes que rememoram a organização da vida escolar dos/as alunos/as do Instituto Pedagógico. Para nos
auxiliar nessa discussão lançamos mão de um grupo de autores/as da historiografia da Educação, entre eles/as
Luciano Faria Filho, Clarice Nunes, Tarcisio Vago, Cynthia Greive Veiga, Dermeval Saviani, entre outros, visando
discutir a cultura própria desse espaço escolar em conexão com a história da cidade, que educava/civilizava
corpos e mentes, escolarizando as sensibilidades dos sujeitos.
favela da Mangueira, esta fervilhava social e culturalmente por conta de sua escola de samba, que pode ser
entendida como a síntese do que de mais nobre havia em termos de cultura popular na cidade. Este trabalho,
através de um ponto de vista sócio-histórico, propõe-se a destacar alguns aspectos específicos da história do
bairro bem como da instituição em foco, visando salientar que a instituição escolar ao receber o nome de um
latinista se firma segundo um valor distintivo, cujo nome implica na perpetuação de um modelo de escola pública
que tem como base os mais altos valores de nossa cultura legítima - o latim - que, inclusive, se contrapõe à
própria cultura produzida pelo bairro de São Cristóvão e, particularmente, pela favela da Mangueira naquele
momento. Parte da hipótese de que haveria uma inter-relação entre bairro e escola que não deve ser
desconsiderada. Enfim, acreditamos que um trabalho sobre a referida instituição implica considerar o bairro em
que se situa, sua história e seu desenvolvimento cultural, na medida em que ambos os espaços de maneira
diferenciada passam a produzir cultura, respectivamente, escolar e popular. O trabalho através de uma pesquisa
documental nos Arquivos da Cidade e do próprio colégio se utilizará de registros que justamente consigam
explicitar as condições históricas da criação do mesmo e também da efervescência social e cultural da cidade nos
anos 1960 que, na época, se torna celeiro de uma mistura cultural que se efetiva por meio da “união” entre a
favela e a zona sul, as culturas popular e de elite. A música e o cinema novo são exemplos emblemáticos dessa
postura. O texto será dividido em duas partes. Na primeira mostrará o ambiente cultural do Rio de Janeiro e,
mais especificamente, do bairro e da favela; a segunda parte evidenciará que o Colégio Estadual Professor
Ernesto Faria, na contramão dessa postura, e apesar de encontrar-se circundado pela escola de samba, nasce
sobre a lápide de um latinista. Assim, parece querer cumprir com o seu auguro: se constituir como um colégio
modelo para a época, baseado nos princípios do que denominamos de cultura legitima.
495
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
conteúdos e pelos valores da época. Estes preceitos, juntamente com os difundidos na disciplina Educação Cívica,
eram baseados em temas como “pátria e religião, necessidade da religião, a salvação, a bíblia, os mandamentos”,
como consta nos registros da súmula do primeiro livro de ponto de professores da Escola. Por fim, os currículos
das escolas sofreram algumas imposições com a instalação do Governo Militar. Isso figurou, por exemplo, a
substituição de disciplinas como história e filosofia pela Organização Social e Política do Brasil (OSPB) e Educação
Moral e Cívica (EMC) fazendo dissolver as reais necessidades políticas das pessoas ao incutir práticas educativas
disciplinares, normatizadoras e rígidas, perpassadas por um dispositivo político ideológico.
497
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
498
Comunicações Individuais
Eixo Temático 8
A ATUAÇÃO DE DOM JOÃO FRANCISCO BRAGA NO CONTEXTO EDUCACIONAL PARANAENSE (1907 – 1935) ..509
ADRIANA SALVATERRA PASQUINI .....................................................................................................................509
A EDUCAÇÃO PRIMÁRIA RURAL NOS JORNAIS DO MUNICÍPIO DE DOURADOS, SUL DE MATO GROSSO(1955-
1970)................................................................................................................................................................512
ALINE DO NASCIMENTO CAVALCANTE ..............................................................................................................512
A EMERGÊNCIA DA INFÂNCIA NAS IDEIAS DE CARLOS DIAS FERNANADES: EDUCAR, HIGIENIZAR E MORALIZAR A
INFÂNCIA PROLETÁRIA ....................................................................................................................................514
AMANDA SOUSA GALVÍNCIO ............................................................................................................................ 514
“UNIÃO SEM CONFUSÃO, DISTINÇÃO SEM SEPARAÇÃO”: O CAMINHO PARA SE FORMAR IDEIAS. UM ESTUDO
DO COMPÊNDIO LIÇÕES DE PHILOSOPHIA ELEMENTAR RACIONAL E MORAL DE JOSÉ SORIANO DE SOUZA ....516
ANDERSON SANTOS..........................................................................................................................................516
ANGELA MARIA MELO SÁ BARROS ....................................................................................................................516
REPRESENTAÇÕES DE MATO GROSSO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE ROCHA POMBO (1889-1930) .....................518
APARECIDO BORGES DA SILVA .......................................................................................................................... 518
A AMBIÊNCIA INTELECTUAL E A CAUSA DA INSTRUÇÃO NAS DÉCADAS FINAIS DO SÉCULO XIX NO RIO DE
JANEIRO...........................................................................................................................................................518
BEATRIZ RIETMANN DA COSTA E CUNHA .......................................................................................................... 518
DIÁLOGOS ENTRE BRASIL E ARGENTINA: A TRAJETÓRIA INTELECTUAL DE LUIS REISSIG E SUAS APROXIMAÇÕES
JUNTO AOS PROJETOS EDUCACIONAIS DOS ESCOLANOVISTAS (1940-1960)....................................................519
BRÁULIO SILVA CHAVES.................................................................................................................................... 519
POR UMA ESCRITA IDEALISTA: ANÁLISES SOBRE AS CONCEPÇÕES FILOSÓFICAS E EDUCACIONAIS DE JOSÉ
FRANCISCO DA ROCHA POMBO (1882-1917). ..................................................................................................521
CAMILA FLÁVIA FERNANDES ROBERTO ............................................................................................................. 521
CORPO E EDUCAÇÃO DURANTE A DÉCADA DE 1920: UMA ANÁLISE A PARTIR DE MÁRIO PINTO SERVA..........523
CARLOS HEROLD JUNIOR .................................................................................................................................. 523
A LIGA BRAZILEIRA CONTRA O ANALPHABETISMO: COMBATE À IGNORÂNCIA PARA O FRANCO PROGRESSO 525
CÍNTIA BORGES DE ALMEIDA ............................................................................................................................ 525
O PROFESSOR E O ESCRITOR NOS CADERNOS DE ARQUIVO DE JÚLIO CÉSAR DE MELLO E SOUZA: UMA ANÁLISE
A PARTIR DO ACERVO PESSOAL DE JULIO CESAR DE MELLO E SOUZA..............................................................525
CLAUDIANA DOS REIS DE SOUSA MORAIS ......................................................................................................... 525
“A NEW VOICE FOR EDUCATION”: ESTÉTICA FOTOGRÁFICA E NARRATIVAS SOBRE A EDUCAÇÃO NA REVISTA
NORTE-AMERICANA LIFE (1936-1940)..............................................................................................................526
CLÁUDIO DE SÁ MACHADO JÚNIOR .................................................................................................................. 526
500
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
PELA FORMAÇÃO DO SELF MADE MAN: O LICEU DE ARTES E OFÍCIOS DO SERRO COMO ATUALIZAÇÃO DE UM
PROJETO CIVILIZATÓRIO. .................................................................................................................................527
CLÁUDIO HENRIQUE PESSOA BRANDÃO............................................................................................................527
OS NEGROS NOS LIVROS ESCOLARES: UMA ANÁLISE DO “RESUMO DA HISTORIA DO BRASIL (1834)” .............528
CRISTINA CARLA SACRAMENTO......................................................................................................................... 528
INSTRUIR E MORALIZAR: A IMPRENSA DE SÃO JOÃO DEL-REI COMO DISPOSITIVO EDUCATIVO (1900-1920) ..528
CYRO LUIZ DOS SANTOS BOSCO ........................................................................................................................ 528
UMA ESCOLA PARA A POBREZA: O PROFESSOR NEGRO GEMINIANO ALVES DA COSTA E A ESCOLA PARA
POBRES EM FEIRA DE SANTANA (1919- 1940)..................................................................................................529
DAIANE SILVA OLIVEIRA....................................................................................................................................529
POR QUE LER? A PRESENÇA DE DISCURSOS RELIGIOSOS NOS ROMANCES PARA MENINAS E MOÇAS..............530
DAISE SILVA DOS SANTOS .................................................................................................................................530
MARIANNA BORGES BARBOSA DE CARVALHO...................................................................................................530
JOSÉ DA SILVA LISBOA, JOSÉ BONIFÁCIO E MARTIN FRANCISCO: DISCUSSÕES SOBRE EDUCAÇÃO NO IMPÉRIO
DO BRASIL........................................................................................................................................................530
DALVIT GREINER DE PAULA............................................................................................................................... 530
VERA LÚCIA NOGUEIRA ....................................................................................................................................530
ENSINAR A LER É BOM, MAS NÃO SERÁ AINDA TUDO: LOURENÇO FILHO E A EDUCAÇÃO DE ADOLESCENTES E
ADULTOS NO BRASIL NOS ANOS DE 1940 ........................................................................................................531
DEANE MONTEIRO VIEIRA COSTA .....................................................................................................................531
AS REPRESENTAÇÕES SOBRE O MAGISTÉRIO NA REVISTA EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO (1929 – 1945) ..............534
DISLANE ZERBINATTI MORAES .......................................................................................................................... 534
501
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
DOUTORES DA VIDA OU MESTRES DO LATIM? TRÊS PROFESSORES MESTIÇOS NO IMPERIAL COLÉGIO DE PEDRO
II (1838 – 1865). ...............................................................................................................................................536
ELISABETH MONTEIRO DA SILVA....................................................................................................................... 536
AS PROPOSTAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA EM CIRCULAÇÃO NA REVISTA NOVA ESCOLA (1997 A 2006) ....537
ELISANGELA ALVES DOS REIS SILVA................................................................................................................... 537
ELAINE RODRIGUES .......................................................................................................................................... 537
A PRESENÇA DO DISCURSO BIOPOLÍTICO NAS PÁGINAS DO JORNAL GAZETA DE MINAS: UMA ANÁLISE DO
"CODIGO DE POSTURAS MUNICIPAES DE OLIVEIRA/MG" (1937) .....................................................................537
FABIANA APARECIDA OLÍVIA............................................................................................................................. 537
AS REPRESENTAÇÕES SOBRE O MAGISTÉRIO RURAL NA REVISTA EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO (1929-1945) .....539
FERNANDO HENRIQUE TISQUE DOS SANTOS..................................................................................................... 539
DISLANE ZERBINATTI MORAES.......................................................................................................................... 539
A ÁFRICA NO LIVRO DIDÁTICO: REPRESENTAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DO CONTINENTE AFRICANO NOS LIVROS
DIDÁTICOS DE HISTÓRIA..................................................................................................................................540
FLÁVIA CÂNDIDA DO NASCIMENTO DE SOUZA .................................................................................................. 540
NARRATIVAS JUVENIS EM IMPRESSOS ESCOLARES: UM ESTUDO DOS PERIÓDICOS "O JULINHO" E "O CLARIM"
NA PORTO ALEGRE DOS ANOS 1690 ................................................................................................................541
GIOVANNI BIAZZETTO DA SILVA PRÉVIDI........................................................................................................... 541
CULTURA JURÍDICA E CULTURA POLÍTICA NOS JORNAIS ACADÊMICOS DA FACULDADE DE DIREITO DE SÃO
PAULO (1850-1889)..........................................................................................................................................542
GUSTAVO DOS SANTOS .................................................................................................................................... 542
A ESCOLA PRIMÁRIA: REVISTA PEDAGÓGICA DOS INSPETORES ESCOLARES DO DISTRITO FEDERAL (1916-1939)
HELOISA HELENA MEIRELLES DOS SANTOS........................................................................................................ 543
CULTURA, RAÇA E EDUCAÇÃO EM MANUEL GAMIO E GILBERTO FREYRE: CONVERGÊNCIAS E DISTINÇÕES ENTRE
PENSAMENTOS DA NAÇÃO NO MÉXICO E NO BRASIL NO INÍCIO DO SÉCULO XX .............................................544
HENRIQUE JOSÉ ALVES RODRIGUES .................................................................................................................. 544
A INSPEÇÃO MÉDICA ESCOLAR NO RIO DE JANEIRO E O MODELO DE ESCOLAS HOSPITAIS CRIADO POR OSCAR
CLARK (1916-1939) ..........................................................................................................................................545
HENRIQUE MENDONÇA DA SILVA ..................................................................................................................... 545
502
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
"A PRIMEIRA COISA QUE SE DEVE LER DEPOIS DAS ESCRIPTURAS": EDUCAÇÃO POR MEIO DE O JORNAL
BAPTISTA (1901-1902) .....................................................................................................................................549
JONATHAN DOUGLAS PEREIRA ......................................................................................................................... 549
EDUCAÇÃO E SOCIALISMO: NOTAS SOBRE CHARLES FOURIER, SAINT SIMON E PIERRE-JOSEPH PROUDHON ..551
JOSÉ DAMIRO DE MORAES................................................................................................................................ 551
OS PERIÓDICOS “ÓRGÃO DOS ALUNOS” NO SUL DE MATO GROSSO NA ERA VARGAS ....................................552
KÊNIA HILDA MOREIRA.....................................................................................................................................552
A CIRCULAÇÃO DO FOLHETO FONTE DA VERDADE OU CAMINHO PARA A VIRTUDE NAS AULAS DE PRIMEIRAS
LETRAS DA PROVÍNCIA DE SERGIPE (1833-1835)..............................................................................................554
LEYLA MENEZES DE SANTANA........................................................................................................................... 554
SIMONE SILVEIRA AMORIM .............................................................................................................................. 554
GILTON KENNEDY SOUZA FRAGA ...................................................................................................................... 554
503
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
A RELAÇÃO ENTRE A EDUCAÇÃO E AS CIÊNCIAS SOCIAIS NAS DISCUSSÕES DO INTELECTUAL BRASILEIRO JOÃO
ROBERTO MOREIRA (1912-1967) .....................................................................................................................554
LEZIANY SILVEIRA DANIEL ................................................................................................................................. 554
"LEITURAS MORAES E CÍVICAS": CIVILIZANDO A INFÂNCIA POR MEIO DOS LIVROS DE LEITURA .....................557
LÚCIA DE FÁTIMA PEDROSA DOS SANTOS ......................................................................................................... 557
LEIGOS E CATÓLICOS EM DISPUTA PELA ESCOLA NOVA NO BRASIL DA DÉCADA DE 1930 ................................561
MACIONIRO CELESTE FILHO.............................................................................................................................. 561
JOSÉ OLYMPIO E A EDIÇÃO DE UMA COLEÇÃO PARA MENINA E MOÇA (1934 – 1960).....................................563
MÁRCIA CABRAL DA SILVA................................................................................................................................ 563
504
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
MULHERES PIONEIRAS NA ADVOCACIA E NO ENSINO JURÍDICO NO BRASIL E EM PORTUGAL, NOS SÉCULOS XIX
E XX .................................................................................................................................................................564
MARCIA TEREZINHA JERÔNIMO OLIVEIRA CRUZ................................................................................................ 564
POR TRÁS DA “ARTE MAIOR DA GRAVURA”: O DISCURSO VEICULADO NOS MANUAIS DE GRAVURA ARTÍSTICA
DE ORLANDO DASILVA (1976 - 1990) ...............................................................................................................564
MARCOS EDUARDO GUIMARÃES ...................................................................................................................... 564
ESCOLA NOVA EM MANUAIS DIDÁTICOS DE ALFREDO MIGUEL AGUAYO (SANTA CATARINA 1942-1949)........568
MARIA FERNANDA BATISTA FARACO WERNECK DE PAULA................................................................................568
GLADYS MARY GHIZONI TEIVE .......................................................................................................................... 568
PROPOSIÇÕES PARA A DIFUSÃO DO ENSINO TÉCNICO NAS PÁGINAS DO THE AMERICAN JOURNAL OF
EDUCATION E NA REVISTA O NOVO MUNDO (1855-1881) ...............................................................................571
MARIA ZELIA MAIA DE SOUZA........................................................................................................................... 571
505
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
POR UMA HISTÓRIA DAS TIPOGRAFIAS BRASILEIRAS: NOTAS ACERCA DA PRODUÇÃO DA COLEÇÃO FOLHETOS
EVANGÉLICOS (1860-1938) ..............................................................................................................................577
MIRIANNE SANTOS DE ALMEIDA....................................................................................................................... 577
506
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
BERTHA LUTZ: A IMPORTÂNCIA DOS IMPRESSOS PARA A DIVULGAÇÃO DAS IDEIAS DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA
PELO PROGRESSO FEMININO...........................................................................................................................585
RAQUEL DOS SANTOS QUADROS....................................................................................................................... 585
GIZELI FERMINO COELHO..................................................................................................................................585
TENTATIVAS DE CONTROLE DOS LIVROS NAS ESCOLAS: REPRESENTAÇÕES DOS “BONS” E “ADEQUADOS” .....586
RAQUEL MENEZES PACHECO............................................................................................................................. 586
DE CHOCOLAT: IDENTIDADE NEGRA, TEATRO E EDUCAÇÃO NO RIO DE JANEIRO DA PRIMEIRA REPÚBLICA ....586
REBECA NATACHA DE OLIVEIRA PINTO..............................................................................................................586
O ENSINO DE GREGO E A FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO IDEAL: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA BATISTA (1930-1945)
TACIANA BRASIL DOS SANTOS........................................................................................................................... 593
507
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
PARA SER ÚTIL À REPÚBLICA E À IGREJA: LUIS ANTÓNIO VERNEY E O PROGRAMA DE REFORMA DOS MÉTODOS
EM PORTUGAL (SÉCULO XVIII) .........................................................................................................................596
VANESSA CAMPOS MARIANO RUCKSTADTER .................................................................................................... 596
CÉZAR DE ALENCAR ARNAUT DE TOLEDO.......................................................................................................... 596
508
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
Curitiba/Pr, permanecendo por mais de vinte e oito anos. A atuação de Dom João Francisco Braga na
Arquidiocese de Curitiba caracterizou-se por uma participação ativa em diferentes frentes: imprensa, educação,
acolhida de congregações e ordens religiosas, edificação de igrejas, e outros. A análise das fontes possibilitou a
constatação de que o apostolado de Dom João Francisco Braga imprimiu ao estado do Paraná o posicionamento
de um líder religioso que possibilitou a interiorização do Catolicismo e a estruturação educacional das mais
diversas ordens religiosas no estado do Paraná.
ao ensino de História? Quais os impactos das viagens nas escritas de tais autores/professores? Qual a
importância das viagens para tais intelectuais? Se por um lado, é possível identificar elementos que os unem, tais
como a viagem e a escrita da história, quais as especificidades de tais experiências? Quais destes viajantes foram
também, professores? Quais se dedicaram ao ensino de História? Tais viagens foram momentos formadores?
Possibilitaram intercâmbios? O significava viajar para dentro e para fora do país? Há relação entre viagem e
mercado editorial? Os estudos no campo da História da educação vêm contribuindo significativamente para
pensar a importância das viagens no âmbito da formação docente, a circulação de modelos pedagógicos, a
difusão de livros e teorias educacionais, enfim, o intercâmbio, a troca, de saberes práticas pedagógicas. Tais
estudos cada vez mais, trazem à tona experiências enquanto viajantes de sujeitos plurais: professores, diretores
de escola, inspetores de ensino, historiadores, diplomatas, políticos envolvidos com projetos educacionais. Nesse
sentido, o italiano Carlo Ginzburg (2004) auxilia no entendimento da ideia de circularidade cultural, atentando
para o fato de que ninguém é uma ilha, onde os debates e a circulação em âmbito nacional e internacional são
importantes para o diálogo e a formação. Em suma, trilhar as viagens dos intelectuais que se dedicaram à escrita
de manuais didáticos de história pode auxiliar no entendimento dos conflitos e competições do mercado editorial
no período, com especial atenção à expansão do público escolar e às diferentes ações dos editores no sentido de
ampliar a circulação de livros, dentro e fora do país.
os intelectuais, dentre outros. Entretanto, as discussões sobre esse nível de ensino estiveram presentes nos
debates sobre educação. O recorte temporal deste trabalho se inicia em 1911, quando foram criadas a Faculdade
Livre de Medicina, a Escola de Odontologia e a Escola de Engenharia da Universidade de Minas Gerais ou UMG.
Nesse momento, as ações de associativismo estudantil são intensificadas com o surgimento de grêmios, centros
acadêmicos e inserção gradativa dos estudantes na imprensa. O ponto de chegada é o ano de 1931, quando o
Estatuto das Universidades, ou Decreto nº 19.851 de 11 de abril de 1931, reorganizou a estrutura da “Vida Social
Acadêmica”. Tal decreto modificou o associativismo da UMG tornando-o institucionalmente controlado. As
informações levantadas sobre as associações sugerem que os grupos de alunos formavam redes de sociabilidades
que se constituíam por amizades, trabalho conjunto, proximidade pelos cursos, discussão sobre política,
sociedade, cotidiano e a educação superior no período e ainda, as disputas. Como fontes, serão consultadas as
publicações de cunho acadêmico – jornais acadêmicos e semanários, tais como o Semanário Humorístico
Acadêmico “A Caveira” e a Revista da UMG – e ainda periódicos que tiveram a participação de estudantes, ou
seja, o Jornal Estado de Minas e o Jornal Diário da Tarde. A análise do conjunto de documentos selecionados
aponta para uma possível conexão entre a produção escrita pelos alunos em publicações (estudantis ou não) com
a formação de grupos mais ou menos definidos nos quais participavam muitos estudantes dos cursos superiores,
além dos quadros das diretorias dos centros acadêmicos e das associações estudantis. As formas de sociabilidade
entre os estudantes podem ter conduzido à criação de um “viveiro associativo”, que de acordo com Jean-François
Sirinelli, corresponde a um espaço de vivência conjunta e que nas elites possibilita a fermentação de idéias e a
mediação cultural. Tal perspectiva de análise alarga os horizontes de compreensão das sociabilidades entre as
elites intelectuais. Por isso, observar alguns jovens que na década de 1910 eram alunos, mas década de 1920
assumiram lugares nas cadeiras da Congregação da UMG como professores, possibilitará indagar se a elaboração
das idéias e iniciativas para a criação da UMG circulou entre esses sujeitos durante seu processo de formação e
se suas sociabilidades conectadas pelo associativismo estudantil colaboraram para a criação da UMG.
512
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
513
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
um breve relato da tecnologia gráfica disponível naquele período, a mesma que permitiu que as gravuras
realizadas por artistas pudessem compor o impresso. Por fim, entendemos que a contribuição para os estudos
em história da educação resultante de nossas interpretações do discurso artístico-literário presente nesta fonte
reside no conceito de modernidade e moderno que esses artistas pretendiam com a publicação deste impresso, o
conteúdo que pregava a contestação e a renovação da cena literário-artística, transmissor e portador de
elementos formadores de significados, sentidos e mensagens históricas, artísticas e educacionais.
514
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
os trabalhos que se debruçam sobre o intercruzamento da História da Educação e História dos Intelectuais tem se
dedicado em compreender, especialmente, as implicações no cenário político, a relação entre o contexto local,
nacional e internacional e os espaços de sociabilidade. Portanto, neste artigo, o objetivo é apresentar um recorte
de nossa pesquisa, centrando no debate educacional em torno da construção de uma história da educação no
âmbito dos Institutos Históricos Geográficos, repertório partilhado entre os intelectuais no Brasil desde século
XIX, em especial, os que estavam diretamente ligados a referida instituição. A investigação se debruça sobre os
participantes no Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, a partir da coleta, organização e leitura das Revistas
publicadas pelo IHGP, entre os anos de 1905 e 1929. Essa nos levou à atuação do intelectual paraibano Irineu
Ferreira Pinto. Esse sujeito nasceu no ano de 1881, frequentou o Liceu paraibano, colaborou na imprensa local,
publicando crônicas, sonetos e trovas. Tornou-se funcionário público, admitido na secretaria do estado e sócio-
fundador do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, onde exerceu o cargo de bibliotecário e secretário até a
sua morte, em 1918. Para tanto, utilizamos como fonte principal o seu artigo publicado na Revista do IHGP,
intitulado: “A Intrucção Publica na Parahyba apontamentos para a sua historia”, volume 2, no ano de 1910. Por
fim, como conclusões parciais de nossas investigações, inferimos que o IHGP foi um importante espaço de
sociabilidade intelectual no estado, buscando efetivar o projeto de paraibanidade, ressaltado na escrita de Irineu
Pinto, o qual, por um lado, enaltecia os feitos educacionais no estado sob a iniciativa dos seus governantes, mas,
por outro, indicava melhorias na educação ofertada na Paraíba.
1920. Um dos objetivos desta análise será por um lado a recuperação da divulgação de um projeto pedagógico e,
por outro, o resgate da crítica da situação do ensino no Paraná. Esses periódicos reservaram espaços para as
discussões sobre os acontecimentos relacionados à arquitetura, com destaque na construção das Escolas
Normais de Curitiba, Ponta Grossa e Paranaguá, marcado pelo investimento na formação dos professores no
Paraná no período em destaque. Outro objetivo evidenciará as publicações de jornais e revistas que criticaram,
enalteceram, comentaram ou aqueles que denunciaram a real necessidade com a construção das Escolas
Normais entre o período de 1922 até 1927. A Escola Normal deu suporte para os acontecimentos políticos
através das celebrações escolares, que aconteciam por meio da participação dos alunos em solenidade cívicas,
das exposições escolares abertas ao público, das formaturas e das inaugurações dos prédios. Todas essas ações
foram estratégias encontradas para dar identidade e divulgar a escola e as políticas governamentais pela
imprensa paranaense. Para a análise deste estudo uma das referências são os estudos de Maria Helena Capelato,
que considera os sujeitos que escrevem neste meio de comunicação, envolvidos com os ideários de sua época.
Outro referencial teórico utilizado, cujas obras contribuíram para abrir o campo da investigação será os trabalhos
de Carlos Eduardo Vieira, sobre a educação na imprensa paranaense. Os artigos escolhidos para essa análise
foram veiculados nos periódicos “Diário da Tarde”, na “Gazeta do Povo” e na “Ilustração Paranaense”, publicados
em Curitiba, O “Diário dos Campos” e “O Progresso”, publicados na cidade de Ponta Grossa e a revista “Itiberê”,
em Paranaguá. Estes veículos são necessários para o historiador, pois evidenciam uma realidade por vezes
diferente daqueles confirmados nos relatórios oficiais. O intuito destas reflexões é de contrapor as divulgações
governamentais, uma vez que nessa época os debates nos periódicos eram formadores de opiniões. Além disso,
as três cidades aqui destacadas foram importantes centros econômicos e políticos do Estado nos anos de 1920,
tem-se, portanto, nessas três cidades paranaenses uma imprensa ativa e de diferentes opiniões.
516
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
517
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
em determinado campo. Raul Rodrigues Gomes defendeu publica e insistentemente suas ideias quanto à
necessidade de “desanalfabetização”, da valorização da profissão de professor e da criação de aparelhos
educacionais, a exemplo da campanha a favor da federalização da Universidade do Paraná e da criação da Escola
de Música e Belas Artes do Paraná, o que evidencia em seus discursos uma ideia de modernização. Dentre outras
razões, verifica-se um interesse na pesquisa em torno da figura de Raul Rodrigues Gomes devido à sua
personalidade crítica e debatedora que contribuiu para executar os planos de um grupo específico interessado no
desenvolvimento da educação e da cultura paranaense das primeiras décadas ao terceiro quarto do século XX.
social até então não percebidas no século XIX brasileiro, denotando a importância destinada à educação escolar
como elemento civilizador da sociedade. A centralidade do Rio de Janeiro e sua intensa politização, primeiro
Corte Imperial e, depois, Capital Federal, atraía talentos intelectuais da província, que confluíam para a cidade,
onde se concentrava a maior parte dos empregos da burocracia estatal, notadamente no ensino, promovendo a
tessitura de uma rede necessária de relações pessoais para a obtenção de boas colocações. Acreditamos que se
pode refutar a historiografia que imputa a esses intelectuais, do último quartel do século XIX, a pecha de
alienados, indiferentes ou ainda, imitadores acríticos de teorias ou doutrinas estrangeiras, desconhecendo a
produção desses intelectuais militantes, participando da imprensa ou da política. Em realidade, tudo indica
precisamente o contrário, e que o sentido dessa ambiência intelectual e suas manifestações, traduziu-se num
pensamento engajado, interessado nos destinos da nação, em que os intelectuais se viam como agentes e
condição sine-qua-non das mudanças. Através da formação de redes de sociabilidades, esse campo intelectual
pôde configurar uma ação coletiva visando intervir no debate político, cuja produção intelectual contestou as
instituições, práticas e valores da sociedade brasileira ao fim do século.
519
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
Em 1892, na Câmara dos Deputados do Estado de São Paulo entrou em discussão o projeto n.9, de autoria do
deputado e engenheiro civil Antônio Francisco de Paula Souza (1843-1917), que propunha a criação de uma
“escola superior de matemáticas”, sob a denominação de Instituto Politécnico. Composição híbrida de escola
preparatória e de cursos especiais de engenharia civil, engenharia mecânica, arquitetura, química aplicada às
indústrias, agricultura e ciências matemáticas e naturais, essa instituição é reconhecida como embrião da Escola
Politécnica de São Paulo (1893), por sua vez consagrada à formação técnica do engenheiro em diferentes
modalidades. Naquele recinto legislativo, o consenso generalizado entre os deputados paulistas sobre a
insuficiência do ensino preparatório ao superior, notadamente quanto ao caráter prático, levou Paula Souza a
defender em plenário o seu caráter de “escola preparatória” para os cursos superiores de engenharia. Paula
Souza, sobretudo quando da 3a discussão do projeto, respondeu principalmente às criticas do professor,
normalista e membro da comissão de instrução pública, deputado Gabriel Prestes, para quem o analfabetismo de
80% da população do estado requereria prioritariamente a generalização de escolas primárias e a criação de
escolas normais. O projeto, afirmava, era “puramente profissional”, não obedecendo a um desejável plano de
ensino integral que fornecesse ao povo uma benéfica “influência científica e social”. Para Prestes, como seria
frequentada apenas pelos “favorecidos da fortuna”, não pelos proletários, a instituição só faria aumentar o
abismo entre essa classe e a dos “abastados”, cujos membros poderiam adquirir meios suficientes para vencer a
luta econômica e se apropriar dos melhores postos de trabalho. As objeções de Gabriel Prestes, reconhecido
seguidor das ideias de Comte, desencadearam no debate parlamentar uma interessante discussão à luz das
interpretações que os deputados faziam da doutrina positivista, a respeito de temas como a existência de classes
e do proletariado no Brasil, a fertilidade das universidades para o progresso da humanidade e a prioridade dos
gastos do Estado segundo os níveis de ensino. Utilizando a noção de repertório, de C. Tilly, e, particularmente
para o caso brasileiro, de seu emprego por Angela Alonso em Ideias em movimento (2002), pretende-se
investigar que temas e interpretações do positivismo foram levados ao debate, de que maneira foram
politicamente apropriados para a defesa de diferentes posições quanto à instrução pública, particularmente em
uma situação na qual se defrontaram partidários da educação superior e do ensino primário e normal.
520
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
521
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
do ano de 1962, além de documentos institucionais da UNE, bem como teses publicadas por pensadores desta
época autodenominados intelectuais progressistas. O referencial teórico-metodológico adotado neste estudo é o
materialismo histórico, pois, acredita-se que o entendimento dos intelectuais sobre a realidade da educação
brasileira em dado momento é um desdobramento das contradições provenientes das condições materiais de
uma determinada sociedade. Entre os resultados obtidos verificou-se que a ideologia nacional-
desenvolvimentista esteve presente nas percepções da intelectualidade brasileira no que diz respeito à situação
educacional do país durante um período de intensa agitação política e social.
523
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
como fonte e objeto de pesquisa na História da Educação, bem como, pontuar traços da história da instituição a
que se originou o “O Porvir”. Na segunda parte, buscou-se mostrar o jornal em seu conteúdo, trazendo sucintas
análises a respeito de alguns escritos encontrados no impresso. Portanto, pretendeu-se analisar os artigos e
matérias que circularam nesse impresso, a fim de observar a forma como um jornal estudantil pode nos levar à
compreensão das questões educacionais de uma determinada época.
o dia escolhido foi 06 de maio, data do seu nascimento. Júlio César de Mello e Souza, o “Malba Tahan” divulgou a
cultura oriental no Brasil e na América do Sul e por um decreto especial ao Ministério da Justiça, Getúlio Vargas
autorizou em 1954, a presença do pseudônimo Malba Tahan na sua carteira de identidade. A partir de então ele
passou a assumir o falso nome em todas as suas obras. O objetivo deste trabalho é a partir dos 56 cadernos de
arquivo classificar a documentação e fazer o inventário deles para posteriormente entender como o material
reunido expressa as atividades de professor e escritor do Júlio César de Mello e Souza. Tendo em vista que o
acervo de Malba Tahan foi ainda pouco explorado, este projeto parte dos estudos que já foram produzidos
acerca dele. Dentre estes estudos encontram-se artigos, dissertações e teses, no entanto a problemática está em
distinguir a documentação proveniente do exercício da docência e da atividade do escritor e a metodologia a ser
utilizada está baseada num levantamento de referencial teórico acerca da história cultural dos intelectuais para
assim compreender a atuação de Júlio César de Mello e Souza como professor e escritor. Conclui-se a
comunicação com a apresentação dos critérios para a classificação de documentação.
526
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
ferro. Além dos projetos mais voltados para a infraestrutura de comunicação que integrasse o norte de minas à
nação, esse diamantinense se engajou na formação escolarizada do trabalhador nacional, diferentemente de
Ottoni que apostou mais no imigrante para a formação de uma classe trabalhadora livre. Matta Machado em
1879, enquanto deputado provincial, apresentou na Assembleia Legislativa de Minas Gerais o projeto para a
criação do Liceu de Artes e Ofícios do Serro, voltado para a formação de trabalhadores para atuar tanto no
ambiente urbano e no rural, quanto nas obras de construção das estradas de ferro. Uma dimensão que aproxima
o conceito de formação do trabalhador desses dois norte mineiro é justamente o objetivo da formação do self
made man. Objetivamos nesse artigo demonstrar que o Liceu de Artes e Ofícios do Serro, portanto, foi idealizado
como uma atualização do projeto civilizatório de Otoni; tendo como baliza os valores identificados nos EUA, essa
escola objetivou a formação de uma classe trabalhadora cujo valor da liberdade era um elemento basilar. As
fontes analisadas foram os relatórios redigidos por Ottoni sobre seus projetos, jornais e anais da assembleia que
tiveram como tema o Liceu e o norte mineiro.
para a investigação histórica referente à circulação de discursos educacionais nos anos iniciais do século XX. A
análise articula-se a partir de uma perspectiva que apreende os impressos como meio de comunicação educativo.
Ainda que não possuam um caráter explicitamente educacional, os jornais pesquisados adotam uma posição
notoriamente instrutiva, no sentido de oferecer modos e procedimentos de hábitos e condutas para a vida social.
Para além de apenas registrar acontecimentos, os impressos jornalísticos, por intermédio de seus discursos
ordenam e produzem saberes, de maneira a intervir nas relações de poder e na ordenação da sociedade. Desse
modo, a imprensa local assume um caráter de dispositivo educativo que atua fora da escola. Para tanto, utilizam-
se as ferramentas de análise de Michel Foucault para o estudo das construções discursivas, uma vez que, os
discursos educacionais se relacionam a questões relevantes no pensamento dos dirigentes e intelectuais
brasileiros do início do regime republicano. Os problemas da saúde, da higiene e das raças aparecem articulados
às questões econômicas e políticas do período em estudo. Dessa forma, os discursos da saúde – bons hábitos,
postura adequada, higiene – abordados pela “Biopolítica” de Foucault se acoplam com os discursos da moral e se
fazem presentes nas páginas dos impressos produzidos em São João del-Rei. Outra indicação metodológica se
relaciona à micro-história, especificamente, a dois marcos conceituais elaborados por Carlo Ginzburg: o
“paradigma indiciário” e a atitude de “estranhamento”. Estes conceitos permitem investigar os indícios a partir
dos quais é possível analisar a imprensa local para além de seu caráter informativo, isto é, construir um estudo
que percebe os impressos jornalísticos enquanto dispositivos educacionais. Este trabalho considera que a análise
da imprensa local contribui para problematizar como, por meio da vinculação entre imprensa e meio social, as
questões educativas e as propostas de instrução da população circularam por amplos setores da sociedade.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
Cidadão, de José da Silva Lisboa e Projetos para o Brasil, de José Bonifácio. A primeira publicada em 1827
pretensamente um complemento moral à Constituição política outorgada em 1824 e a segunda uma coletânea
de textos do Patriarca da Independência em que apresenta suas propostas para a construção da nação. Para a
análise e interpretação dos dados, nos inspiramos nos conceitos da História Política e da História Cultural - numa
visão horizontal e vertical – como sugeridos por Chartier, bem como do método quantitativo proposto por Peter
Burke e Régine Robin aplicado à atividade panfletária, jornalística e parlamentar dessa elite intelectual e política
imperial. Nessa fase percebeu-se claramente os conceitos caros ao Liberalismo, principalmente os de liberdade e
felicidade, bem como a necessidade de um sistema educacional que mobilizasse o Estado na construção e
instrução da nação. Assim, apesar de concepções diferentes, e com viés político antagônico, terminam por
enxergar a necessidade da educação para a nova nação, porém com finalidades diversas.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
pedagogia burguesa de inspiração liberal e cultiva os ideais principais do escolanovismo como o respeito à
individualidade da criança, cultivo à infância, incentivo à criatividade, busca da liberdade individual e subjetiva.
Foi possível também observar em Alves uma ênfase marcante na psicologização do ensino, na questão dos
métodos e no deslocamento do eixo da escola para a criança, que passa a ser vista como o centro do processo de
ensino-aprendizagem. Na concepção educacional de Alves, pudemos evidenciar um direcionamento para a
educação dos sentidos, onde o intelecto é apenas uma parte da totalidade que compõe o ser humano, e esse
modo de perceber o seu pensamento nos permitiu inferir que a sua construção teórica, no que diz respeito aos
assuntos educacionais, se encontra fundamentada nos princípios norteadores do liberal-escolanovismo.
Universidade de Bristol, no Reino Unido, e contou com a colaboração de textos assinados por artistas, críticos de
arte e educadores de diversos países interessados nas interfaces entre educação e arte, tais como Henri Matisse,
Pierre Duquet, Walter Battiss, Arno Stern, Edwing Ziegfeld, Herbert Read, Jean Piaget, Richard Ott, Thomas
Munro w Viktor Lowenfeld, entre outros. Esses intelectuais, oriundos de diferentes recantos do planeta, eram em
sua maioria profissionais atuantes em instituições educacionais e culturais de países como África do Sul,
Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Egito, França, Japão, Estados Unidos, Holanda, Israel,
Itália, Noruega, México, Nova Zelândia, Reino Unido e Suécia. O projeto também contou com o apoio
institucional dos governos dos países envolvidos. Entre os assuntos tratados, incluem-se as relações entre a
expressão artística infantil e os diversos estágios da infância, a educação artística e seus aspectos administrativos,
a formação dos professores de arte, os aspectos sociais da educação em arte e sua inserção no contexto
internacional. Essa diversidade denota a preocupação não só com os aspectos teóricos, mas também com a
instrumentalização dos educadores para a operacionalização das ideias discutidas. A fonte principal de análise é a
própria publicação, que apresenta, além dos textos, imagens de crianças em situação de prática artística e
também dos trabalhos por ela realizados. Além dela, foram utilizados documentos produzidos pela da Unesco,
tais como relatórios e atas, além de publicações do período. História da educação em arte; Unesco; arte infantil.
535
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
nomeação de professores, ofícios, relatórios do reitor do Colégio Pedro II e avisos do Ministério do Império, entre
1838 e 1865, localizadas no Núcleo de Documentação e Memória do Colégio Pedro II (NUDOM), nos Arquivo
Nacional e Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Nesta investigação foi possível perceber que o estatuto da
“cor” não foi obstáculo para o ingresso desses atores no círculo do magistério secundário do século XIX,
impregnado por valores importados das sociedades ditas desenvolvidas, os quais destinavam a esses sujeitos a
exclusão e o impedimento a qualquer lugar social que não fosse àquele destinado a sua condição social.
Minas foi fundado na cidade de Oliveira – MG em 1887 pelo português Antônio Fernal. Nos primeiros anos de
circulação, o jornal chamou-se Gazeta de Oliveira. Em 1º de janeiro de 1899, dada a sua larga circulação, o jornal
passou a denominar-se Gazeta de Minas, adotando ali, o nome que até hoje traz em seu frontispício. Tal
periódico se coloca como o mais antigo jornal do estado ainda em circulação. Entre outras curiosidades históricas
chegou a noticiar a assinatura da Lei Áurea, a Proclamação da República e a Primeira Guerra Mundial. Ao longo
dos anos este veículo de comunicação cresceu, chegando a ser considerado um dos maiores jornais de Minas em
formato e tiragem. Suas edições traziam notícias tanto da cidade de Oliveira como também notícias do Brasil e do
mundo. A partir da década de 20 o jornal ganha uma feição mais política, seguindo uma linha editorial bastante
direcionada, principalmente a favor de Arthur Bernardes. A publicação do "Codigo de Posturas Municipaes de
Oliveira", como um suplemento do jornal, evidencia a tentativa de educar o indivíduo e a população, mesmo que
fora do âmbito escolar, por meio de normas de comportamento. Os temas privilegiados no documento são
referentes à higiene domiciliar, alimentação pública, moléstias epidêmicas, além de abordar o comportamento
dos comerciantes, mendigos e infratores. Desta forma, percebe-se que o "Codigo de Posturas Municipaes de
Oliveira" ajuda a compreender a formação dos discursos biopolíticos na década de 30, em Minas, que,
permeados por relações de poder, tentavam utilizar o jornal como um dispositivo educativo, ou seja, um meio
para educar a população e transformar os habitantes em uma população forte, saudável, moralizada e apta para
o trabalho.
538
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
escritor nortista, destaca-se, guardada as devidas diferenças, o percurso do “trânsfuga da Amazônia paraense”,
consideravelmente similar àquele vivenciado/refletido pelo sociólogo francês, Pierre Bourdieu, o que estabiliza o
debate de conceitos pertinentes a agentes que, mesmo nascendo em condições desfavoráveis, operaram a partir
dos “espaços de possíveis”, e, assim, conseguiram certa posição e produção considerável no campo intelectual. A
entrevista surge, consideravelmente, como fonte pertinente para o registro e leitura da vida do intelectual
amazônida, acrescentando, com efeito, ao debate relacionado à história dos intelectuais brasileiros que, direta
ou indiretamente, somaram para as configurações da educação nacional. Por fim, é necessário pontuar que a
investigação, acentuadamente memorialística, buscou contribuir aos estudos que lutam pela valorização e uso de
“vestígios”, em uma tentativa de se (re) conhecer vidas e ações que devotaram considerável tempo de si para a
concepção e realização da educação brasileira.
tem por objeto e fonte investigativa a revista Álbum das Meninas: revista literária e educativa dedicada às jovens
brasileiras publicada em São Paulo entre 1898 e 1901, impresso idealizado e produzido por Anália Emília Franco
como meio de divulgação do seu ideário sobre a educação e a sociedade. Sua atuação foi marcada por uma
convicta preocupação social, levando-a a posicionamentos políticos em um período em que havia pouco espaço
para a mulher na vida pública, destaca-se o amparo, a proteção e a educação de mulheres e crianças. O presente
texto tem por objetivo identificar as imagens de infância contidas na revista, relacionando as concepções
pedagógicas às políticas de inovação educacional do período. O estudo a partir do aporte teórico-metodológico
da história cultural ancora-se nos conceitos de materialidade de Roger Chartier (1994) e de estratégia de Michel
de Certeau (1994). Almeja-se a compreensão do impresso como objeto cultural, o que implica em estudar e
interrogar o impresso, que preserva indícios de práticas sociais de produção e de usos e como objeto de estudo,
além de interrogá-lo como veículo de discursos pedagógicos e de indicações inscritas nos saberes promovidos por
eles, mas também como produto das pedagogias compreendidas como sistema de regras que regulam os
próprios processos de produção, superando a noção estreita de materialidade. Compreende-se ainda o impresso
como produto de estratégias determinadas, que o remete às práticas cujo exercício pressupõe um lugar de
poder. O estudo permitiu a dar a ver o contexto em que foram produzidas as relações de poder que
determinaram seu contorno, bem como as marcas de produção, as relações com as políticas educacionais
republicanas e o ideal de educação e sociedade desta educadora.
541
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
exercício histórico-metodológico contribui para história da educação brasileira, uma vez que essa instituição além
de ser formadora de homens públicos e políticos faz parte de um estratégia pós-independência de capacitação de
homens para assumir cargos públicos no Império.
Realizamos neste trabalho uma cartografia das possíveis representações acerca dos
homens professores durante as décadas 1920 e 1930 em Campina Grande. Objetivamos
discutir a presença/ausência masculina no magistério infantil em face do avanço da
escolarização, feminização do magistério e da instauração dos grupos escolares,
questionando em que medida esses aspectos se relacionaram na constituição de
experiências modernizadoras do espaço escolar e das subjetividades docentes relacionadas
a este modelo de ensino. Entre as transformações que colaboraram para mudanças das
práticas educativas nas primeiras décadas do século XX, encontravam-se as teorias
aplicadas a pedagogia, a expansão gradativa da co-educação e a transição da educação
escolar baseada no modelo das cadeiras isoladas de ensino/casa-escola para os grupos
escolares, que colocaram os/as professores/as e os/as alunos/as em contato com outras
práticas de gênero no âmbito escolar. A partir dessas mudanças, verificamos que algumas
gradações foram criadas para a atuação profissional masculina na escola, sendo mais
comum vê-los durante as primeiras décadas do século XX entre os segmentos posteriores
ao ensino primário ou nos cargos administrativos, de coordenação, inspeção e direção. O
primeiro Grupo Escolar de Campina Grande, o Solon de Lucena, fora inaugurado em 1924,
no entanto, até sua materialização houve um intenso investimento discursivo político e
pedagógico acerca da sua importância. A necessidade de expandir a escola graduada em
Campina Grande fez emergir falas que visavam desqualificar a atuação do mestre-escola e
o espaço escolar da casa-escola. Logo, algumas tentativas de adequação ao modelo grupo
escolar, tão propalado como mais moderno, foram colocadas em prática pelos mestres-
escolas que ainda atuavam na cidade. Destacamos as experiências dos professores Alfredo
Dantas e Mauro Luna, que construíram escolas ensejando a modernização do ensino. Tanto
o Instituto Olavo Bilac (1921-1932), fundado pelo Mauro Luna, bem como o Instituto
Pedagógico (1919-1943) por Alfredo Dantas, tiveram intensa participação na produção,
circulação e recepção de ideias que expressaram mudanças no processo educativo,
publicadas em impressos campinenses, notadamente por impressos produzidos pelos
próprios institutos: O Clarão, do primeiro e a Revista Evolução, o Jornal Evolução e o
Folheto Flâmula, do segundo. Portanto, investigamos nestas fontes impressas as
experiências docentes, a fim de perscrutar em que medida a modernização do espaço
escolar como fenômeno ligado a expansão da cidade (in)visibilizou e (in)dizibilizou a
atuação masculina no magistério, sobretudo no ensino primário, criando outras
espacialidades para estes no ensino formal.
543
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
Graça, Dr. Heitor de Mello e Domingos Magarino de Souza Leão. A revista era endereçada a professores, ao preço
de 7 mil réis a assinatura para a cidade do Rio de Janeiro, e 10 mil réis, a assinatura fora do espaço geográfico da
cidade. Tinha o endereço da redação à rua da Quitanda, 72, o mesmo da livraria-editora. O periódico teve
periodicidade mensal, e circulação identificada no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Pará e Santa
Catarina.Foram colaboradores articulistas Coelho Neto, Afrânio Peixoto, Pedro Lessa, Dr. Luiz Gastão de
Escragnole Dória, Dr. Oscar Clark, Jonathas Serrano, Frota Pessoa, Eulina Nazareth, Orminda Isabel Marques,
Joaquim José de Campos da Costa Medeiros de Albuquerque, Francisco Cabritta, dentre outros. No entanto nem
todos os artigos publicados têm autoria e alguns, em todas as edicações, têm autores identificados apenas por
letras maiúsculas, provavelmente indicações de seus nomes. Os autores são, todos, ainda quem nem sempre
identificados, intelectuais, homens e mulheres, que trazem, no texto educativo, de leituras pedagógicas e
sugestões didáticas e bibliográficas, seus ideais de civilidade do povo, através dos professores.O periódico
dirigido pelos inspetores escolares do Distrito Federal vinculava o discurso impresso de uma representação que a
historiografia define como cívico-pedagógica. A língua e a História pátria constituíam o discurso da
intelectualidade para a constituição de um povo instruído e civilizado aos moldes europeus. A revista era dividida
em três espaços distintos. No espaço inicial, os artigos, expressos no sumário, que tinham destaque na
publicação vindo logo abaixo do título, expresso em letras maiores; o segundo espaço, denominado “A Escola”,
titulado no alto da página em negrito e letra maior e de tipo diferenciado, com sugestões de atividades que
podiam ser feitas pelos professores e o terceiro espaço, denominado “Lições” com inúmeros exercícios para
séries distantes e até para alunos da Escola Normal ou Liceus. Tomando por fonte e objeto o periódico A Escola
Primária, e como interlocutores Nóvoa (1993), Catani (1996) e Bastos (1997), a investigação pretende minimizar
lacuna historiográfica da educação sobre o estudo dos periódicos pedagógicos na primeira república brasileira e o
papel dos intelectuais na consolidação deste regime.
A criação de escolas hospitais silvestres no estado do Rio de Janeiro, guarda ligações com
o médico Oscar Castello Branco Clark; intelectual médico que encarou de uma maneira
muito própria a tarefa de modernizar, reformar, civilizar a sociedade brasileira. Fez parte
de uma geração de intelectuais que atuaram em espaços educacionais do país, em um
momento de alterações pedagógicas e políticas que deixaram marcas em nosso
pensamento social.Voltou-se para um grupo de questões ligadas à relação entre corpos
doentes e saudáveis para explicar a impossibilidade do crescimento do Brasil como nação.
O problema constrangedor do nosso estado de civilização e norteador da construção do
seu discurso e ação médico-social era a doença. Um conjunto delas circulava entre as
populações pobres, urbanas e rurais, tais como tuberculose, sífilis, ancilostomose e
malária, que sugavam toda a vitalidade física e entregavam os brasileiros à morte. Clark
chegava a dizer, baseado em investigações hematológicas de populares no município do
Rio de Janeiro, “que o sangue dos países tropicais são mais pobres que os seus
tesouros[sic]”(CLARK, 1940, p.200). Para ele, o grau de civilização de um povo era medido
pelo índice da mortalidade entre zero e 50 anos (Clark, 1943). Identificado o problema-
base, duas consequências foram sentidas pelo intelectual médico: 1) a mortalidade, que
pelo seu grande número depunha contra o nosso progresso, tornava-se, particularmente,
uma tragédia quando se percebia que a morte atingia principalmente as crianças em seus
primeiros anos de vida, fazendo-o ponderar: “quase não vale a pena ter filhos no
Brasil” (CLARK, 1940, p. 35); e 2) A forma de alcançar estas mudanças, era pela alteração
do estado de saúde de nossas populações e isto passava fundamentalmente pelo nosso
sistema educacional, desdobrando-se em práticas e instituições que resguardariam o
brasileiro da doença, torná-lo-iam robusto,ensinar-lhe-iam um oficio e, por fim, fariam
dele porta voz desta nova pedagogia da saúde e do trabalho em família, alterando os seus
hábitos, a precariedade moral e a conduta anti-higiênica, influenciando positivamente toda
a sociedade. Clark manejou uma série de ideias médico-sociais e pedagógicas a partir de
sua atuação na inspeção médica escolar. tencionou implementar no sistema de educação
do Distrito Federal um projeto médico-social eugênico baseado na educação formal
(alfabetização), nos cuidados com o corpo e no ensino vocacional que se espalhariam pelo
estado Rio de Janeiro por meio da criação de escolas-hospitais em regiões de montanha e
marinas do interior (rurais) afastadas das zonas urbanas, consideradas perniciosas à
saúde. Escrevia ser o seu modelo “o tipo ideal de escola ao ar livre regida pelos sagrados
princípios da fisiologia e da medicina preventiva onde se inscreve sem dúvida a melhor
pedagogia.”(CLARK, 1943, p. 9)
545
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
república. Utilizamos como fonte os jornais Diário do Estado, A União e O Educador, e os impressos produzidos
por esses personagens, como o Boletim da Sociedade dos Professores Primários (1919). Esse corpus documental
constitui-se num espaço de discussão de ideias de um dado período, e principalmente nos estudos em educação,
em suportes que informam, instruem e educam, o que nos ajuda a pensar sobre diversos elementos envoltos no
processo educativo. Em tais veículos os professores primários e secundários, tomados em nossa pesquisa como
intelectuais, discutiram sobre temas como a higiene escolar, a educação física, a ginástica, a educação moral e
cívica, a inspeção médica escolar, entre outros assuntos imersos no rol de discussões do período. A periodização
justifica-se por nesse período ter havido uma maior abertura na discussão e efetivação de ações voltadas para a
educação no estado da Paraíba, em que foi possível observar um intenso debate em torno das questões
educativas, principalmente sobre os novos ditames pedagógicos propugnados pelo ideário escolanovista que se
formava e se operacionalizava nos vários grupos escolares criados a partir de 1916 no estado. Como alguns
aportes teóricos utilizados, citamos: Sirinelli (2003), Vieira (2006) e Costa (2012) para dialogar sobre o conceito e
a atuação dos intelectuais no debate público a partir da noção de sociabilidade; Morel (2005), Vieira (2007) e
Luca (2010) para pensar as ideias de impressos e educação; finalmente, Buriti; Freire; Lourenço (2012) e Gondra
(2011) para discutir a importância e os principais elementos do discurso higienista na educação escolar. De modo
geral, os elementos apontados nas fontes são uma derivação de várias iniciativas preocupadas por inserir o país
na modernidade sob os ideais de higiene, beleza, progresso e civilidade. Rever as discussões de intelectuais
nesses espaços nos ajuda na ampliação do entendimento do complexo processo de escolarização brasileira e, em
particular, o lugar ocupado por intelectuais paraibanos nesse cenário.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
escolha profissional, formando-os como pessoas capazes de pensar, estudar, de exercer a direção política,
cultural e econômica da sociedade. Uma educação escolar capaz de formar o ser humano integralmente,
desenvolvendo suas habilidades intelectuais e manuais, de modo desinteressado ao mundo da produção. Essa
escola unitária criaria as condições necessárias para que as futuras gerações, por volta dos 17 ou 18 anos, possam
avançar conscientemente em direção à sua formação profissional: na Universidade, tornando-se profissionais
liberais, cientistas, professores ou ao escolher a profissionalização em escolas técnicas e tecnológicas, tornando-
se por ambos os caminhos os profissionais necessários à organização política e econômica de cada momento
histórico, os intelectuais orgânicos do seu tempo.
ensino. A revista em análise insere-se no bojo de transformações que ocorriam também no campo econômico,
social, cultural e político. De certo modo, a finalidade da revista é atender ao “desejo de modernidade” do meio
educacional com a publicação de uma revista pedagógica. Na análise em pauta focamos como o órgão de
divulgação das ações da Secretaria de Educação e Cultura, no período em análise, tentou estabelecer
representações de modernidade educacional, como o emprego da psicologia como fundamento para ações
educacionais, a divulgação de experiências no ensino rural, e o ideário montessoriano como modelo para
educação pré-primária, a partir de textos de educadores locais, dentre os quais destacamos a personagem Eny
Caldeira, então diretora do Instituto de Educação do Paraná. Foram empregadas como fontes para o
desenvolvimento da pesquisa os exemplares da referida publicação, outras publicações da imprensa local,
documentos oficiais da Secretaria de Estado da Educação e do Instituto de Educação do Paraná. Tomamos como
referenciais metodológicos as concepções de intelectual a partir das ideias de Carlos Eduardo Vieira e Helenice
Rodrigues da Silva, a teoria praxiológica de Pierre Bourdieu, os trabalhos acerca de apropriações e
representações de Roger Chartier, além das discussões acerca do uso da imprensa como fontes para pesquisa em
História da Educação, de Maria Helena Rolim Capelato, Antonio Nóvoa e Denice Catani.
foi atriz, cantora e fadista, festejada em revistas e jornais da época. Foi criado na Bahia e, em 1926, se radicou no
Rio de Janeiro, se consolidando num cânone da memória das tradições religiosas de matriz africana no Brasil. Na
década de 1930, abandona o curso de medicina e ingressa como professor de gramática e literatura portuguesa
no Colégio Pedro II. Estuda piano, se interessa pelo canto lírico e frequenta aulas com Elena Teodorini, tornando-
se amigo de Bidu Saião e Cecília Meireles. O Professor Agenor, como era conhecido por todos, além da sua
atuação como docente, exerceu também as funções sacerdotais de Oluô - sacerdote adivinho do oráculo de Ifá
ou de búzios, e Olossãe - o sacerdote de Ossãe que detêm o conhecimento das folhas e seus derivados mágicos e
medicinais das tradições religiosas Nagô-Kêtu, subgrupo nagô proveniente da região de Kêtu, cidade do atual
Benin. O termo refere-se especialmente ao rito Nagô-Kêtu ou simplesmente Kêtu, importante nação do
candomblé. O estudo explora momentos e aspectos das duas faces desse personagem: o percurso do professor
de gramática e literatura portuguesa do Colégio Pedro II, no mundo prestigiado da cultura letrada e da educação
escolarizada, entre as décadas de 1930 e 1960; e o universo cultural do sacerdote das tradições religiosas afro-
brasileiras, desprestigiados e perseguidos pelo poder oficial de seu tempo. A trajetória de Agenor Miranda Rocha
registra a circularidade de conhecimentos e sobrevivências culturais africanas, que transbordaram os limites das
comunidades negras de origem étnica. Por meio de sua experiência de vida, se pode investigar como esses
conhecimentos e tradições de origens africanas influenciaram e se dinamizaram na sociedade e na cultura
brasileira, ao longo do século XX. A pesquisa investiga numa perspectiva historiográfica o itinerário desse
professor e sacerdote em torno da sua formação, suas ideias e ações, bem como a rede de sociabilidade a que
pertenceu. A sua intervenção na cena pública brasileira que estiveram relacionadas à instrução, educação,
formação do homem brasileiro e a organização da cultura.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
movimento operário do século XIX tanto no campo organizacional como nas propostas educacionais. Vamos
encontrar nas reuniões da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT) ou Primeira Internacional, entre
1864-1872, temas como o da educação, que receberam influência direta desses intelectuais pesquisados. Esses
conceitos apreciados e discutidos nos congressos da AIT marcaram de forma indelével o pensamento socialista e
sua divisão em correntes distintas (inicialmente em corrente marxista e corrente proudhoniana e
posteriormente, em marxistas e bakuninistas). O desenvolvimento da pesquisa converge para o estudo
documental que será tratado em uma perspectiva dialética que busca compreender esses intelectuais em seu
tempo. Os documentos estudados são os produzidos por estes três socialistas, além de outros elaborados por
comentadores e pesquisadores que ajudam a compreender suas trajetórias, propostas e contradições.
A Vida Escolar – orgão dos estudantes de Campo Grande (1934 a 1936); Ecos Juvenis – orgão das alunas do
Colégio N. S. Auxiliadora (1936 a 1939); e Vida Escolar – orgão dos alunos do Internato Osvaldo Cruz (1937). São
periódicos vinculados e controlados por escolas. No caso do primeiro jornal, estava sob a responsabilidade do
diretor do Colégio Visconde de Taunay, mas não se vinculava a uma escola específica, como os demais. Tais
fontes foram localizadas no Centro de Documentação Regional (CDR) da Universidade Federal da Grande
Dourados, nesse sentido, utiliza-se para a análise todos os exemplares disponíveis de cada jornal no CDR. A
análise procura responder sobre a concepção de educação ideal na Era Vargas nos distintos períodos, atenta aos
conflitos de interesses perceptíveis nas narrativas dos jornais selecionados e às aberturas para as “vozes” dos
alunos. Considera-se, para tanto, o caráter formativo desses periódicos e não apenas de divulgador de ideias.
Observa-se ainda que, por terem sido produzidos em instituições escolares, a análise de um “órgão dos alunos”
permite evidenciar vestígios de práticas escolares. Como referencial teórico metodológico, baseia-se na Nova
História Cultural, com ênfase para autores que tratam da imprensa pedagógica (BICAS, 2008; CATANI; SOUSA,
1999; NÓVOA, 1997; dentre outros). Como considerações finais, destaca-se que a leitura dos referidos jornais
permitiu evidenciar a predominância do discurso varguista com ênfase para a importância do “uso da nossa
língua que é tesouro”, com páginas de aulas de língua portuguesa e constantes manifestações de contentamento
com o governo, que conseguiu a “harmonia nacional” e trouxe progresso a Mato Grosso e à cidade de Campo
Grande, a partir da “marcha para oeste”. Permite evidenciar ainda a valorização da Igreja Católica como maior e
mais perfeita escola; a preocupação com a definição dos papeis que cada um desempenha na instituição escolar;
a sugestão dos filmes educativos que deviam ser assistidos pelos alunos; a importância do uso de novos meios e
métodos por parte do professor no processo de ensino-aprendizagem; e a importância de tais jornais escolares,
que permitem o controle do crescimento da “mocidade cheia de ideias”, sob a vigilância de “orientadores
experimentados”.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
naquele momento refletia acerca do papel da educação, do valor da ciência para o homem e do estatuto
científico da Pedagogia. Já na segunda fase, décadas de 1950 e 1960, os termos Ciências Fontes da Educação e
Pedagogia Científica são substituídos, mais fortemente, no discurso de Moreira, pela preocupação em torno da
maior aproximação entre a Educação e as Ciências Sociais. Podemos perceber, assim, que embora com a mesma
preocupação, a nomenclatura e os conceitos utilizados sofreram mudanças. Nesta fase, atuando junto ao CBPE e
aos organismos internacionais, como a UNESCO, em especial, a Sociologia e agora a Antropologia, foram tratadas
por Moreira como importantes áreas em diálogo com a educação, num processo em que os conhecimentos mais
seguros deveriam agora vir, segundo intelectuais como Anísio Teixeira, de pesquisas mais fortemente baseadas
em dados empíricos, necessidade esta considerada fundamental para o estabelecimento de um melhor e mais
seguro planejamento, pois este era “tido como o instrumento por meio do qual seria possível organizar o
processo de mudança que redundaria no desenvolvimento” (XAVIER, 2000, p.53).
primário, secundário e superior –, embora o cerne das discussões tenha sido o papel da União em relação à
instrução primária mediante as prerrogativas descentralizadoras da Constituição de 1891. Não obstante, entre as
páginas 47 a 56 há um texto redigido especialmente sobre a educação física e sua importância para a formação
das novas gerações de cidadãos republicanos cujo conteúdo nos leva a inferir que o Projeto Tavares Lyra foi
elaborado em consonância com os preceitos higienistas amplamente difundidos na época. Ao defender as
vantagens dos jogos e exercícios físicos para o desenvolvimento corporal e preservação da saúde mental das
crianças, compreendemos que o Ministro da Justiça, juntamente com a Comissão de Instrução instituída, como
homens de seu tempo, estavam preocupados com a formação para o trabalho, para a guerra e todos os demais
desafios inerentes à vida citadina que, paulatinamente, torna-se o modelo a ser seguido com o desenvolvimento
do comércio e da indústria nascente. Além disso, a escola passa a ser chamada a repensar seus métodos de
ensino e conteúdos necessários ao tipo de sujeito que se pretendia forjar, priorizando ensinamentos morais e
preceitos de higiene, asseio, convivência, respeito, amor à pátria, amor ao trabalho e obediência. Diante desse
contexto, nos propomos a estudar a contribuição dessa fonte pouco conhecida pelos historiadores da educação
do Brasil para o avanço nas pesquisas sobre higienismo, partindo do princípio de que os projetos de reforma não
são criados de forma alijada do contexto que os engendrou. Antes, representam esforços humanos na tentativa
de solucionar problemas que se apresentam na vida concreta dos homens. Para tanto, discorreremos sobre o
modo como a educação física é apresentada no Projeto Tavares Lyra para, a seguir, discutirmos o higienismo no
Brasil no decorrer da Primeira República e, por fim, estabelecermos um diálogo entre os intelectuais envolvidos
com o projeto e seus pares pertencentes ao movimento higienista da época.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
ao longo do período estudado. E o processo de enfrentamento se deu por meio de movimentos intensos para
superação dos frequentes obstáculos, sendo adotadas diferentes estratégias, tais como palestras, encontros
coletivos e individuais de convencimento, eventos culturais, entre outros, além de uma postura assistencialista,
como forma de atrair o professorado do Amazonas para a defesa e adoção dos novos ideais educacionais.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
nacional, com uma extensa longevidade editorial. Entendemos que os livros didáticos de “longa duração”
sustentaram projetos político educacionais, projetos que legitimaram a constituição da mentalidade de várias
gerações, perpetuando um modelo pedagógico que saiu vencedor no embate social entre diversos intelectuais da
educação. Portanto, entender o papel intelectual presente no ofício do professor, do homem da gestão pública e
do escritor de livros escolares pressupõe analisar suas pertenças sociais, compreendendo a produção do
conjunto de sua obra dentro de um contexto social de formação amplo e permeado de influências culturais. Para
tanto é preciso compreender: Quais os vetores de mediação permitiram a entrada de Thomaz Galhardo para uma
elite cultural educacional paulista nos auspícios da República? Quais as pertenças sociais foram compartilhadas
pelo grupo de intelectuais a que Thomaz Galhardo estava engajado? Qual o poder de influência de seu grupo de
pertencimento? Quem são os mediadores culturais que viabilizaram a circulação de sua produção didática? As
questões propostas neste trabalho são pensadas na perspectiva da história dos intelectuais, compreendendo sua
formação, ideias e ações, assim como a rede de sociabilidade desse professor e sua intervenção na cena pública
paulista e na organização da cultura.
publicações uma proposição sobre a instrução que se descobre no movimento das tendências, posturas, projetos
e críticas que destacou na organização que produziu do material que publicou sobre a história da instrução
brasileira. O tema exigiu considerar outras fontes produzidas pela área de História da Educação, bem como
produzidas no período estudado. Tais publicações auxiliaram nos estudos do momento histórico, bem como de
alguns contemporâneos de Moacyr. Assim, constituiu-se o corpus documental da pesquisa, revelando, com base
nos semanários e mensários publicados na capital, como Moacyr transitava por grupos políticos, intelectuais,
seus espaços e instituições. Dadas as condições específicas da realidade brasileira do período, tomou-se como
referenciais teórico-metodológicos os conceitos de patrimonialismo (FAORO 2011), modernização autoritária
(FAUSTO, 2001) e conservadora (FERNANDES; 2006; (GRAMSCI, 1991; PÉCAUT, 1990). Moacyr foi influenciado
pelo pensamento jurídico de Rudolf Von Jhering (1818-1892), e nas primeiras décadas do século XX, travou
contato com as ideias de Bertrand Russel (1872-1970), dos quais concluímos ter assumido posicionamentos a
respeito das questões educacionais. Dos dois autores, decorre a fundamentação da instrução como espaço de
construção da autonomia dos indivíduos, no qual o professor e os conteúdos assumem uma centralidade numa
atribuição peculiar da condição moralizadora, cívica e civilizadora da educação no interior do processo de
formação da intelectualidade como condição da cidadania republicana. Alcançou-se como resultado a
identificação de que há uma intenção e uma consistência em sua obra, qual seja, a defesa da federalização do
ensino primário, como observamos nas publicações de 1916, 1942 e 1944. A primeira seção, “Um caminho de
lutas e escolhas”, reporta-se a espaços e tempos de construção da pessoa, do profissional, do cidadão, e
pesquisador Primitivo Moacyr. O que permitiu uma compreensão mais ampla do autor a partir dos espaços de
sua ação. No segundo percurso, “Instrução primária na “selva selvaggia” de Primitivo Moacyr”, indica-se como
Moacyr demonstra o processo de adiamento do investimento em instrução primária na arena do Congresso
Nacional mediante a realidade do patronato. Na terceira parte, “Federalização do ensino: uma proposta de
Moacyr”, aborda-se como nos textos entre os anos 1917 a 1929, Moacyr sustenta que a constituição das
inteligências, da uniformidade de caráter e bondade (condições da nacionalidade republicana) reclamava uma
unidade de desígnio; pautada na
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
em Coimbra e em Paris. Evidenciar-se-ão, assim, traços dos modos de viver coimbrão (estudantes) e daqueles
que vivem à margem da “civilização” (lavradores e saloios).
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
destaque, Na ocasião, o mercado para essa literatura estava crescendo rapidamente. Alguns dados são
esclarecedores: o editor, em 1933, lançara apenas oito livros; em 1934, publicou trinta e dois; em 1935,
cinquenta e nove e, em 1936, foram lançadas sessenta e seis novas edições da José Olympio, o que permite
considerá-lo um dos mais proeminentes editores nacionais no campo de edições literárias e livros não didáticos
no período examinado. Desse conjunto, como observado, anuncia-se uma coleção voltada para a categoria social
denominada menina e moça. Em diálogo com pressupostos teóricos e metodológicos no campo da História
Editorial tanto quanto da História da Leitura, pretende-se problematizar a arquitetura desta coleção, com
especial ênfase em seus aspectos materiais. Ao lado disso, ao se consultar fontes documentais como os catálogos
mencionados, identificaram-se elementos como preços dos volumes, propagandas elogiosas, assim como
estratégias editoriais para fazer circular amplamente a coleção. Espera-se, pois, indicar elementos adicionais para
a História da Educação por intermédio do exame da produção e da circulação de um tipo de impresso que
educou meninas e moças no período assinalado.
Dasilva desembarcou no Brasil em 1932, estabelecendo-se no Rio de Janeiro, local em que iniciou seus primeiros
estudos em arte em desenho. Dez anos depois Dasilva inscreveu-se no Liceu de Artes e Ofícios, iniciando o
aprendizado de gravura artística com Carlos Oswald. Sua carreira como professor se iniciou em 1952 no Liceu de
Artes e Ofícios, substituindo seu próprio mestre, tendo também lecionado na Escolinha de Arte do Brasil e
ministrado diversos cursos, inclusive em Curitiba, local onde atuou de maneira bastante sistemática, tomando
parte na organização das Mostras Anuais de Gravura, das Feiras de Gravura e, através da Fundação Cultural de
Curitiba, lançou múltiplos livros como: Poty, o artista gráfico (1980), De colecionismo Graphica (1990), Viaro, uma
permanente descoberta (1992) e Guido Viaro: Alma e Corpo do Desenho (1997). Ainda em Curitiba ele também
foi colunista do Jornal do Estado e Almanaque, suplemento do Estado do Paraná. No contexto dos manuais de
gravura, Dasilva se destacou por propor em 1967 um manual que discutia algumas noções de gravura artística e
do ofício de colecionador desta arte, intitulado “Decolecionismo – Noções”. A publicação destacava-se pela
escassez de textos de cunho técnico de gravura no contexto em que foi escrito e, principalmente, por preencher
uma lacuna aproximando potenciais colecionadores, marchands e galeristas, da linguagem da gravura artística
que passava a consolidar-se nos principais concursos de arte da época. Em 1976 Dasilva foi convidado a
aprofundar as questões técnicas do manual de 1967, lançou-se “A arte maior da gravura” o qual anexava
também a obra gráfica de Marcelo Grassmann. Em 1990, o professor artista teve oportunidade de revisitar e
republicar o Decolecionismo, mantendo sua característica principal de discutir a cerca da coleção de gravura
artística, assunto que se mantinha fora dos principais manuais da linguagem publicados no Brasil até então. Para
almejar os objetivos da pesquisa, como fontes foram eleitos os próprios escritos de Dasilva, além de artigos
publicados nos jornais diários no período lançamento de seus livros. Como aporte teórico para a compreensão
dos manuais contamos com a contribuição de Chartier, que contribui no sentido de nortear procedimentos
metodológicos para se pensar a análise dos livros em sua materialidade.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
sexualidade. Manteremos nosso foco na pesquisa documental e bibliográfica, e tomaremos como referenciais
teóricos como Michel Foucault e Judith Butler. É importante ressaltar que os escritos de Jean Claude Nahoum
não estavam limitados a questões feministas, saúde no sentido estrito ou na ponte entre essas duas
extremidades. Sua fala buscava matéria-prima na atuação do pesquisador, nos desafios do profissional de saúde
mas sobretudo nas suas convicções como docente. Por isso, a análise dos textos será relacionada não somente
pelo seu caráter descritivo dentro do campo da medicina, mas como dispositivo de natureza educativa.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
profissionais. Este trabalho se vincula a uma pesquisa de doutoramento e está ancorado nas orientações teórico-
metodológicas da História Cultural e História da Educação. Na primeira metade do século XX, a formação dos
profissionais do Direito se configurou, entre outras perspectivas, a partir de publicações coletivas de intelectuais,
cujo escopo se constituiu na formação de uma cultura jurídica, traduzida no conceito de deontologia do direito,
com vistas à produção de um tipo de comportamento que se constituía em exemplo de ordenamento social,
baseado em preceitos, como a ética; conceito forte no discurso apresentado por diversos advogados que
conduziam, em certa medida, a mobilização do pensamento jurídico brasileiro. O advogado haveria de ser
reconhecido como exemplo de comportamento, por meio da interpretação da Lei, compreensão da justiça e
constituição da cultura jurídica, refletida em intelectuais como Rui Barbosa, Gilberto Freyre, no Brasil, e outros
produtores do pensamento jurídico, como Hanz Kelsen, com a sua “teoria pura do Direito”. Tomamos esses
autores do Direito, na primeira metade do século XX, cujo pensamento inscreve o intelectual Carvalho Neto, na
direção desse discurso. Carvalho Neto, discípulo de Kelsen, via no Direito a razão máxima para se conceber uma
sociedade educada, equilibrada e justa. Assim, publicou um livro que classifico como manual de aprendizagem
para a formação do advogado, tendo sido indicado como leitura significativa capaz de moldar o conhecimento e
as práticas sociais dos profissionais do Direito e, com isso, contribuir para a constituição de uma cultura jurídica.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
marcado por algumas interrupções oriundas de censura e dificuldades financeiras, teve seu último número
publicado na semana encerrada a 1º de janeiro de 1968. De grande alcance no estado, tinha como objetivo
central veicular o ideário da igreja católica, divulgando e orientando modos de ser à mulher e ao homem
paraibanos, de forma que seus comportamentos fossem sustentáculos à família cristã e, consequentemente, a
uma sociedade que respeitasse os preceitos do catolicismo. Os textos analisados possibilitam dizer que a leitura é
colocada como prática de grande perigo à formação da mulher cristã, uma vez que os livros, revistas e jornais em
circulação no recorte definido apresentavam conteúdos voltados à moda, à vaidade, aos novos costumes, às
novas formas de relacionamento homem /mulher. Cabia aos pais, observarem e controlarem os materiais de
leitura a que suas filhas tinham acesso, evitando que seus perfis de pureza e submissão fossem maculados. A
educação proposta pelo jornal A Imprensa para a mulher paraibana enfatiza a manutenção de papeis definidos
para homens e mulheres, sendo que cabe àqueles o poder e a posição pública, e a estas a obediência, a castidade
e o mundo privado. Almeja-se que as discussões apresentadas contribuam para os estudos e o conhecimento
sobre a história da educação das mulheres na Paraíba.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
alguns autores, como Peter Burke (1991, 2005) e Pesavento (2005); no conceito de representação, com
referencial teórico de Roger Chatier (1990; 2002) e em outros estudiosos que contribuem com reflexões acerca
da temática da escola primária no período denominado Primeira República: Schueler e Magaldi (2009), Carvalho
(2003); e acerca das fontes históricas e da imprensa: Pinsky (2006). De Luca (2006), De Luca e Martins (2006),
Catani e Bastos (1997), Capelato e Prado (1980), Capelato (1988) Schelbauer e Araújo (2007), Schueler e Teixeira
(2008), entre tantos outros. A imprensa periódica mato-grossense veiculava discursos propagados pela escola
pública primária republicana, como o patriotismo, o civilismo, símbolos patrióticos (presente nas festividades
realizadas em datas cívicas), entre outros. Apesar dessas mensagens serem dirigidas à um público específico,
interno à escola, percebe-se que pelos jornais ampliava-se esse processo para além dos muros escolares,
alcançando toda a sociedade.
uma finalidade política. Historicamente os intelectuais são reconhecidos como sujeitos capazes de interpretar e
interferir na realidade, características essas que deixaram de ser evidenciadas e passaram a ser negligenciadas
por aqueles que teorizam suas ações. No quadro teórico, em tempos de hegemonia dos referenciais da Nova
História, em que as pesquisas acadêmicas sobre História de Intelectuais valorizam ora a História de vida do
intelectual, ora a rede de relacionamentos que permitiu a produção de suas ideias, é comum nessas pesquisas a
reconfiguração das características dos intelectuais, agora modelada a partir da dissociação entre ciência e
política. Esse referencial teórico, muitas vezes sustentado na Sociologia Compreensiva de Max Weber, caracteriza
a função do intelectual enquanto ação eminentemente teórica. Diante disso, faz-se necessário entender o
intelectual enquanto sujeito histórico-social e retomar como central nas pesquisas o que é próprio da sua
atividade, qual seja, a intervenção na realidade. Desse modo a categoria práxis ganharia centralidade nesses
estudos, pois nos permitiria analisar o intelectual no processo de interação com a sua materialidade, entendido
enquanto resposta às lutas reais travadas pelos homens de seu tempo na produção da sua existência. Portanto,
devemos privilegiar como objeto nas pesquisas a unidade entre conjunto teórico (a obra) e ação política, a práxis
do intelectual, pois a pesquisa sobre os intelectuais deve possuir como objetivo principal recuperar o intelectual
e suas ideias na relação com as suas ações políticas no interior da luta de classes. Em síntese, entender o
intelectual a partir da sua práxis, nos permite contribuir com a História da Educação evidenciando a dimensão
humana da construção da História. Disso podemos entender que a vida social não é construída por decretos,
senão pela ação humana no interior do jogo da luta de classes, e que o intelectual não pode ser compreendido
somente pelo modo como ele pensa o mundo, mas em conjunto com o modo como ele intervém na sua
realidade.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
movimento da Escola Nova no Brasil haver representado a emergência do liberalismo educacional e a defesa da
escola pública laica, contrapondo-se, portanto, à hegemonia do pensamento católico na educação brasileira,
sustentáculo da escola privada. Assim referenciado, o exame dos onze números da Revista do Ensino ensejou
algumas constatações, em síntese: em todos os números, pelo menos um artigo refere-se ao professor ou ao seu
papel na educação; de forma explícita ou subliminar, a concepção de professor adotada diverge radicalmente
daquela preconizada pelos escolanovistas, identificando-se, contraditoriamente, à disseminada pela pedagogia
católica tradicional. Desse modo, em lugar de um profissional, caracterizado pela competência para aplicar os
novos métodos de ensino, o professor é definido por características como abnegação, bondade, dedicação,
entusiasmo, honradez, civismo e, principalmente, como um ser virtuoso e vocacionado, cuja “nobre missão” é,
substituindo os pais, amparar os alunos, neles desenvolvendo o caráter do futuro homem. Trata-se, pois, de uma
afinidade de pensamento que permite cogitar-se a hipótese de não se ter verificado, na Paraíba, mesmo no início
da década de 1930, um ruptura dos escolanovistas com o pensamento católico, como em outros Estados do país.
um olhar mais próximo das emoções despertadas por tais leituras, buscando os primeiros livros mencionados
pelo autor em seu texto autobiográfico, ou seja, tanto os que despertaram seu interesse e curiosidade, quanto os
que lia por imposição do ambiente escolar; pois, compreendemos que a capacidade de ler depende das relações
que cada leitor conseguir estabelecer entre o seu conhecimento linguístico e o seu conhecimento do mundo,
assim como, a capacidade que a literatura tem de confirmar a humanidade do homem. Se, por um lado, Erico lia
os livros presentes na biblioteca paterna, aqueles instigantes, cheios de aventura e ação; por outro lado, lia os
livros adotados pela escola, os que chamava de “aborrecidos”, tamanha a diferença em relação à literatura de
“capa e espada”, os folhetins cheios de aventuras amorosas, moralizantes e educativas, a que estava acostumado
a ler durante horas no quintal do casarão. Para tal pesquisa, utilizaremos a metodologia de revisão bibliográfica,
e, como referencial teórico, trabalhos desenvolvidos por autores ligados à Escola dos Annales e à Nova História
Cultural, entre eles Roger Chartier (1996); Pierre Félix Bourdieu (2001); Jacques Le Goff (1989); e Robert Darnton
(2010); como também Antonio Candido de Mello e Souza (1972); e o próprio Erico Veríssimo em sua romance
autobiográfico (2005). Com este estudo, buscamos compreender aspectos da trajetória do leitor, ainda que
através do filtro da memória do escritor, com reinterpretação constante, e a importância de tais leituras para o
escritor literário, a ponto de o influenciarem. Por último, tentaremos reconstituir as primeiras leituras do
pequeno Veríssimo e as emoções despertadas por elas.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
culturais, instrumentos para difundir saberes e práticas em dados contextos sociais. As pesquisas desenvolvidas
acerca da produção, circulação e usos de impressos vêm constituindo relevante área de investigação para o
campo da História da Educação, posto que apontam caminhos para a compreensão de práticas culturais que
circularam em diferentes contextos sociais, sobretudo, quando os impressos imperaram como principal
ferramenta de disseminação cultural. Os resultados permitem delinear o Brasil como palco da produção de
diferentes tipologias de impressos e inferir o aumento da produção, no período de 1860 à 1938, em diferentes
regiões brasileiras.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
excluindo-se os estrangeiros e aqueles cujo objeto era muito distinto do da pesquisa, resultando em oitenta e
sete títulos. Em cada um deles, busca-se o acesso à integralidade de seus números, identificando-se os artigos
que tratem do tema, com base no título, nas palavras-chave e no resumo, a partir do critério de que o trabalho
deverá ter foco específico em algum aspecto da educação na ditadura. Em uma segunda etapa, os artigos
selecionados são lidos, identificando-se elementos como periódico, ano de publicação, instituição de vínculo dos
autores, conceitos ou referenciais teóricos, fontes, temas (por exemplo, reforma universitária; lei 5.692/71;
formação de professores; saberes e práticas docentes; disciplinas escolares; movimentos estudantis; entre
outros), entre outros. A seleção está quase completa e a análise em andamento, mas devido ao recorte final
proposto, somente poderá ser concluída em dezembro. Como principais referenciais, destacam-se os conceitos
de campo e habitus de Pierre Bourdieu, em especial suas problematizações relativas ao campo científico, e
representações e luta de representações de Roger Chartier. Como recorte para a apresentação deste trabalho em
especial, pretende-se apresentar o quadro geral dos artigos identificados, com ênfase nos temas abordados pelos
autores, averiguando o movimento ocorrido ao longo do período analisado.
as principais historiografias que elegeram a História Intelectual como domínio ou abordagem de investigação;
Discutir as contribuições da História Cultural para ampliação do repertório analítico da História Intelectual. Desse
modo, esta narrativa faz um debate sobre o nascimento e a transformação da função do intelectual entre o final
do século XIX e o século XX, a História Intelectual como um novo campo da historiografia, a articulação entre
História Intelectual e História Política e a relação entre História Intelectual e História Cultural. A abordagem
metodológica delimita-se a partir da análise da bibliografia existente que trata do nascimento da ideia de
intelectual no contexto francês do final do século XIX e sua consequente circulação e apropriação em outras
experiências societárias do Ocidente, da constituição da História Intelectual no âmbito do movimento
historiográfico do último quartel do século XX, da História Cultural e de sua possibilidade de interlocução com a
História Intelectual, assim à luz de leitura das obras de Chartier que discutem especificamente a respeito da
História Intelectual e dos conceitos de representação e apropriação. A proposição desta discussão justifica-se
pelo pressuposto de que as ideias tendem a circular de um lugar a outro sem seu contexto de produção,
indicando que os leitores ou intérpretes mobilizam um conjunto de saberes para se apropriar de pensamentos e
teorias, resultado de campos intelectuais distintos e modos diferentes de percepção e de apreciação. Portanto,
os conceitos de representação e de apropriação podem ampliar o repertório de análise da História Intelectual à
medida que possibilitam problematizar a recepção das ideias pedagógicas e das ideias educativas nos mais
variados ambientes culturais, desde os círculos acadêmicos de maior proporção (academias, universidades,
imprensa) até espaços com menor visibilidade intelectual (práticas pedagógicas e escolares).
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
forneceu as bases para a reforma das escolas de gramática inglesa, ponto fundamental da proposta de Charles
Hoole. Hoole que era da segunda geração de comenianos da Inglaterra. Quanto a Companhia de Jesus, a
referencia a Sturm é uma constante em seu tratado pedagógico. O objetivo deste texto é tecer considerações
que confirmem a existência da rede de intelectuais acima indicada e a caracterizem como tal, usando, neste
ultimo ponto, dos argumentos de Randal Collins (1998). Considerando como foco de analise os trabalhos de
Comenius, Hoole, Ramus e da Companhia de Jesus citados, procurar-se-á construir argumentos que dêem conta
de demonstrar a influencia que estes autores exerceram entre si, coadunando com o processo de configuração
da escola moderna. Serão buscadas evidencias, ainda, no contexto intertextual, educacional, religioso e político
da entrada da modernidade. Esta é uma pesquisa de base bibliográfica, sendo utilizadas, também, fontes
primárias e secundárias.
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
industrial, promessa teatralizada nos palcos das Exposições Internacionais. Nesse contexto, a Eugenia atraiu a
atenção de diversos atores sociais, dentre médicos, educadores, juristas e políticos, mobilizados pelas
expectativas de revigoramento da população brasileira, para uns uma questão racial, para outros uma questão de
educação e saneamento. No âmbito desse debate, marcadamente polissêmico, analisamos como a educação foi
aquilatada por eugenistas de orientações diversas e que lugar ocupou entre as propostas eugênicas discutidas no
período. Dentre as fontes analisadas, destacam-se: os exemplares do Boletim de Eugenia, periódico criado e
dirigido pelo eugenista Renato Ferraz Kehl, entre 1929 e 1933; o livro Annaes de Eugenia, reunindo as atividades
e publicações da efêmera Sociedade Eugênica de São Paulo, editado em 1919; e o primeiro e único volume, dos
três planejados, com as Actas e Trabalhos do Congresso Brasileiro de Eugenia, realizado em 1929.
Oportunamente, recorreu-se à imprensa diária, especialmente aos jornais paulistas e fluminenses do período,
tendo em vista a ampla repercussão, em suas páginas, dos temas e autores ligados à Eugenia; obras
especializadas de eugenistas e legislação relativa à temática complementaram nosso estudo. Ao analisar o lastro
documental reunido, em busca das propostas eugênicas no campo da educação, optou-se, metodologicamente,
pelo cotejo crítico das fontes selecionadas, procedimento que favoreceu a problematização do Boletim de
Eugenía, periódico de grande relevância às pesquisas acerca do movimento eugênico brasileiro, explorando seus
limites e potencialidades como conjunto documental. A pesquisa visou, ainda, contribuir com o campo de estudo
da história da educação brasileira, pela investigação da importância atribuída à educação, em suas diversas
acepções, em meio às perspectivas em debate no âmbito do movimento eugênico no país.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
concentrou-se nos problemas locais, privilegiando textos de autores capixabas e difundindo uma identidade
espírito-santense por meio de seus atributos gráficos. Punaro Bley foi constituído como o agente principal do
movimento de renovação educacional no Espírito Santo.
década de 1930. Procura-se apresentar a importância dessa fonte histórica para a investigação nas pesquisas.
Toma-se como princípio a compreensão de que fontes para pesquisas históricas são produções humanas, as
quais emergiram em um determinado espaço e tempo, por sujeitos historicamente estabelecidos num dado
contexto social. O trabalho demonstrará duas faces das fontes: por um lado, algumas produções foram
construídas sem intencionalidade o que muitas vezes retrata o ambiente no qual foram encontradas; por outro,
alguns documentos foram produzidos com certa intencionalidade no campo político, social e cultural. Cabe ao
historiador/pesquisador dialogar com as fontes e o com o cenário que as constituíram. Com efeito, os
mencionados objetos somente irão adquirir o estatuto de fonte diante do historiador que, ao formular o seu
problema de pesquisa, delimitará aqueles elementos a partir dos quais serão buscadas as respostas às questões
levantadas. Em consequência, aqueles objetos em que real ou potencialmente estariam inscritas as respostas
buscadas erigir-se-ão em fontes a partir das quais o conhecimento histórico referido poderá ser produzido.
o letramento, e conferindo a educação uma vasta gama de sentidos. Nesse universo, a proposta desta pesquisa
tem como direção a ampliação dos estudos sobre as possibilidades de práticas educativas vivenciadas pelos
negros na cidade do Rio de janeiro, entre elas o teatro, no intuito de compreender como a educação foi um
espaço de intensas negociações sociais na Primeira República. Iolanda de Oliveira salienta que a discussão do
problema das relações entre nação, raça, educação e cidadania, esteve presente em grande parte dos países
americanos no final do século XIX e início do XX, fundamentada em discursos e pesquisas científicas, que visavam
garantir a continuidade das restrições de direitos aos descendentes de escravos libertos. Minha proposta é
pensar a atuação do ator e escritor, nos termos da concepção de intelectual, gestada pelo historiador François
Sirinelli, na medida em que compreendemos a sua inserção no campo das lutas dos negros no processo de
abolição e no pós-abolição. Cabe ressaltar que não buscamos estudar o indivíduo isolado, examinado em si
mesmo. Defendo a hipótese de que os estudos biográficos constituem importante brecha para compreensão dos
diferentes espaços de participação política conquistados pelos negros na Primeira República. A partir do conceito
de configuração social, de Norbert Elias (ELIAS, 1994), e também dos estudos chamados de micro-históricos,
como os de Giovanni Levi (LEVI, 1996), Carlo Ginzburg (GINZBURG, 2006) e Natalie Davis (DAVIS, 1987),
apresenta-se a possibilidade de pensar no indivíduo em sua fluida e complexa produção histórica. Ao
considerarmos as diferentes vivências de Cândido Ferreira no universo do entretenimento carioca, apreendemos
a percepção que Edward P. Thompson intenta, ao nos incentivar olhar para a sociedade na sua multifacetada
rede de relações. Nesta conjuntura, insere-se, a meu ver, a trajetória de De Chocolat. Este, afirmou uma
identidade negra, frente ao debate acerca das diferentes teorias raciais na sociedade brasileira. Para além disso,
abordou em suas peças teatrais o contexto do negro na sociedade brasileira, revelando-nos as possibilidades de
um posicionamento dentro da organização político-social do Brasil dos anos 1920.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
de documentos, tais como documentos oficiais. Acredita-se, nesse viés, que o periódico seja uma possibilidade
em se investigar questões voltadas para os professores primários durante o período do governo militar, em uma
materialidade que escapava à censura do regime ditatorial. Em consonância com essas concepções, a
contribuição para o campo da História da Educação está circunscrita entre o ineditismo do estudo e a
possibilidade de se investigar materiais produzidos para professores primários, no final da década de 1960 e a de
1970, tendo como pano de fundo o cerceamento de ideias imposto pelo regime militar.
pesquisadores, regionais ou estaduais e nacionais. Sobre esses grupos e associações, um exemplo é a Associação
Sul-rio-grandense de Pesquisadores em História da Educação, desde 1995; o Grupo História, Sociedade e
Educação no Brasil/HISTEDBR, desde 1991; GT História da Educação da Associação Nacional de Pesquisa e Pós
Graduação em Educação/ANPED; Sociedade Brasileira de História da Educação, desde 1999. Também se destaca
o aumento dos congressos nacionais e internacionais; o aumento da participação de pesquisadores brasileiros
em encontros internacionais sobre História da Educação e que aqui se faz apenas uma exemplificação do
crescimento nessa área e que nesse aspecto, historiadores brasileiros passaram a ter então, maior preocupação
teórica com os usos das fontes na pesquisa, o que se discutirá a seguir. Entende-se, que a história quer seja como
disciplina e campo de pesquisas, mais do que isso, campo de produção de conhecimentos, se nutre de teorias
explicativas e de fontes, ou seja, de pistas, vestígios, indícios, até mesmo fragmentos que auxiliam a
compreender as ações humanas no tempo e no espaço. Considera-se que o trabalho do historiador que se utiliza
da imprensa pedagógica como fonte ou objeto, abre a possibilidade de questionamentos que direcionam de
maneira diferenciada o olhar do pesquisador, o que é significativo para uma escrita da história da educação que
contribua para pertinentes e inovadoras reflexões.
escolar, não dissonante dos livros didáticos utilizados no cotidiano escolar, encontramos os livros de leitura, que
acompanham o processo de alfabetização e servem tanto como aporte quanto para o aprofundamento das
questões escolares. Detentores de paradigmas políticos, incidentes de ideologias e ideários, a literatura escolar
forma e conforma um determinado projeto de nação, sociedade, civilização, sobre o qual se depositam modelos
a serem seguidos. Professora formada pela escola normal do Rio de Janeiro, Cecília Meireles veio a publicar “Rute
e Alberto resolveram ser turistas”, em 1938, no qual continha muito mais que a matéria do programa de ciências
sociais para o terceiro ano elementar. Presente um ideário, uma forma de ver, ser e reproduzir a sociedade. Este
livro de leitura apresenta inúmeras imagens que forjam uma consciência de gênero em torno de uma deliberada
formação. Ao confrontarmos as imagens com os enunciados propostos por Roland Barthes: studium e punctum.
Compreendendo o studium como uma significação mais geral determinando um ideário cultural, um estudo do
cotidiano em geral, composto por cenários, sujeitos, ações e comportamentos. Os cenários presentes na obra
abrangem tanto o espaço privado quanto o público, as representações de situações típicas do cotidiano. O
punctum enquanto uma “pequena mancha”, como algo secundarizado, mas marcadamente presente, algo para
se lembrar ou destacar. Nas imagens, o punctum, revela a incidência de uma divisão entre o feminino e o
masculino, partindo de um ideário próprio para a infância, com questões de gênero determinadas a partir do
binário, coisas de meninos e coisas de meninas, público e privado, força e delicadeza. Mesmo tendo a autora uma
forte presença no movimento escolanovista, as imagens selecionadas trazem marcas ligadas ao gênero, a figura
feminina é secundarizada, nem a mãe como administradora do lar não está presente. A presença masculina urge
como provedor do lar, orientando seu filho nos afazeres escolares. Existe um forte apelo a escolarização do
menino e uma presença marcante do uso de impressos, jornais e livros como suportes de comunicação e
instrução. As questões da mulher, do feminino, do embate entre movimentos sociais do período são subalternos,
foram perdidas nos traços e profundidades da imagem.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
terem irculado nas principais instituições de ensino da Província. Para a análise da Revista do Ensino, tomada na
condição de impresso pedagógico, utilizamos os referenciais teóricos de especialistas na temática, entre eles
Carvalho(2003), Nóvoa (1997), Bastos (1997), Biccas (2001, 2006 e 2008), Caspard(1997) entre outros.
bastante difundida no território norte-americano ainda no século XVIII, bem como no Brasil, com circulação no
período da segunda metade do século XIX. De acordo com Robert Darnton (2005, p. 21), “os philosophes [...]
brilhavam na conversa inteligente, na escrita de cartas, nos boletins manuscritos, no jornalismo e em todas as
formas do mundo impresso”. Desta forma, o objetivo deste artigo é realizar um levantamento biográfico do
norte-americano Benjamin Franklin, buscando, através dos seus feitos particulares e públicos, da sua influência
na sociedade e dos documentos escritos deixados, evidenciá-lo como philosophe. Como metodologia, foi
realizada uma pesquisa bibliográfica, e como referencial teórico, utilizou-se a categoria de philosophe,
evidenciada nos estudos de Robert Darnton (2005).
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VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
As revistas científicas são fontes de pesquisa que se tornaram referenciais, espraiaram teorias e práticas de
pesquisa e formação em diversos campos de estudo. Especificamente no campo da Educação Física no Brasil e na
Argentina distinguiram-se por seus elementos identitários e sua representatividade histórica, a Revista Brasileira
de Ciências do Esporte (RBCE) e a Revista Stadium. Ambas caracterizaram-se pela projeção de um leitor
especializado, atuante na área de Educação Física, sobretudo professores e alunos. O exame intercruzado desses
impressos é capaz de expor encaminhamentos, expectativas, concordâncias e conflitos envoltos na validação de
saberes sobre a disciplina nessas territorialidades distintas. Diante disso, o objetivo central desse trabalho foi
analisar e comparar as representações sobre o ensino de Educação Física, seus métodos e práticas pedagógicas,
veiculadas por esses impressos entre os anos de 1979 e 1986. Em especial, centrou-se a análise sobre os textos
que defendiam um posicionamento, demonstravam uma tomada de posição e ou destoavam do conteúdo que
convencionalmente circulava no interior das revistas. Para alcançar o êxito nessa empreita foi realizada uma
pesquisa documental que teve como aporte teórico para orientar a análise das fontes impressas o conceito de
representação de Roger Chartier e seguiu como perspectiva histórica as teorizações da História Cultural e da
História Comparada. Os textos das revistas foram esmiuçados com o propósito de apresentar indícios e efeitos de
realidade suficientes para a construção de uma narrativa histórica que admitisse tecer uma comparação entre os
dois periódicos. Como resultado encontrou-se nas duas revistas, textos que defendiam o uso de métodos não-
diretivos, que versavam sobre a inserção do esporte como modelo pedagógico e proposituras que ambicionavam
modificar os contornos conservadores dados a disciplina. Frisa-se que nos dois impressos teorias educativas
diversas, por vezes contraditórias, foram utilizadas para sustentar as prescrições para o ensino da Educação
Física. Uma diferença significativa foi o modo como às revistas divulgaram essas discussões. A Stadium desde os
primeiros números analisados exibiu textos contestatórios com intensidades desiguais. A RBCE apresentou
inicialmente textos mais conservadores que posteriormente foram substituídos por artigos com uma posição
crítica mais nítida. Como consideração final sublinha-se a existência de uma diversidade de posicionamentos
entre as revistas que se remeteu a disparidade entre critérios, orientações teóricas e preocupações formativas
que compunham o amálgama de representações que municiaram as discussões no campo da Educação Física no
Brasil e na Argentina. Implicadas nesse processo as disputas por autoridade e reconhecimento ressaltaram
dissonâncias e rupturas na constituição de modelos pedagógicos e objetos de ensino voltados à escolarização da
disciplina nos dois países.
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Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
dos yearbooks de colégios e universidades Metodistas norte-americanos. Por fim, cabe destacar que a
contribuição deste estudo para a História da Educação ocorre principalmente por abordar aspectos das escritas
juvenis que por tanto tempo foram esquecidas pela historiografia oficial da educação, portanto, busca-se aqui, de
certo modo, valorizar as produções escritas destes sujeitos.
de ideias no cenário nacional, afinal vivia-se uma época em que a indústria e a educação profissional se uniam
para impulsionar o mercado de trabalho brasileiro. Estes gêneros jornalísticos formavam a opinião pública em
Campina Grande, trazendo ideias, prescrições e normatizações que corroboravam com o projeto de
modernização que vivenciava a cidade á época. Temáticas que envolviam a Associação de Professores, a
civilização, a higiene e a educação do novo cidadão para a pátria eram algumas das questões debatidas nesta
imprensa, que remonta a discussão de uma regulação de condutas que conferiu um ritmo específico de
sociabilidade para a cidade de Campina Grande nas primeiras décadas do século XX. Tidos como “heróis da
educação”, estes educadores buscavam suprir as necessidades de Campina Grande, enfatizando em seus escritos
temas outros que eram reconhecidos como de interesse na cidade. Como protagonistas na produção de um
esboço de educação para Campina Grande estes educadores são aqui pensados como partícipes de uma
“intelligentsia campinense”. A prática social desses intelectuais, associada aos processos de produção, veiculação
e recepção dos discursos sobre a relação entre educação e modernidade em Campina Grande nos oferece
indícios do pensamento educacional que circulava na cidade durante o período estudado, sobre o que se tinha e
se produzia a respeito da educação. Orientados pelos pressupostos da História dos Intelectuais e também pela
Nova História Cultural foi que utilizamos as fontes de autoria jornalística e institucional para pensar os sentidos
compartilhados no interior dos discursos, tentando associar o tema da educação como partícipe de um processo
de modernização da cidade de Campina Grande, associada a construção de uma sociedade ordenada, asseada e
laboriosa.
por parte da administração estadual em torno da instrução pública, tentando superar não apenas o
analfabetismo, mas criar uma estrutura abrangente para o progresso da educação, o que aparece expresso na
Constituição estadual (1891), na Lei n. 41, de 3 de agosto de 1892 (“Dá nova organização à instrucção publica do
Estado de Minas”) e no Decreto Lei n. 655, de 17 de outubro de 1893 (“Promulga o regulamento das escolas e
instrução primária”). Por essa via são implantadas, entre outras medidas, inspetorias ambulantes,
regulamentados os diferentes níveis de ensino, criadas escolas, fundo escolar e um Conselho Superior que passa
a acompanhar o estado da educação. Mas também foram estimuladas outras práticas, como a publicação do
“Methodo Penido”, de autoria do bacharel e professor Agostinho Maximo Nogueira Penido, que o desenvolvera
em sua escola na cidade de Ouro Preto. O método foi publicado em 1891, como prêmio por parte do governo
estadual e largamente distribuído entre as escolas mineiras ao longo da década de 1890. No entanto, apesar de
adotado por vários anos, não se tem notícia de qualquer exemplar remanescente desse método e nem de
estudos sobre seu autor. Nesta pesquisa, foram analisados registros nos relatórios dos inspetores sobre a
utilização do método nas instituições escolares, em que se atesta sua eficácia, depoimentos de professores
nesses relatórios e num opúsculo produzido pelo autor e manifestações na imprensa que retratam sua difusão.
Também se buscou recuperar a trajetória de Agostinho Penido em Ouro Preto onde, além da docência, exerceu o
cargo de Intendente Municipal. Além disso, foram encontradas muitas correspondências à Secretaria do Interior
solicitando exemplares do método e indicações de despacho de centenas do mesmo para diversas regiões do
estado. Referências ao desenvolvimento e utilização do método, inclusive com doação do autor ao município,
também foram encontradas nas atas da Intendência e da Câmara Municipal de Ouro Preto. Foram utilizadas
fontes encontradas no Arquivo Público Mineiro e no Arquivo Municipal de Ouro Preto, incluindo a imprensa do
período. Para além da descrição do processo e de seu contexto histórico, percebe-se que a importância da
alfabetização estava em pauta na sociedade mineira do início da República e que intelectuais da educação
participaram do processo de busca de alternativas para seu enfrentamento e superação. A identificação desse
método sinaliza que outras iniciativas podem ter sido implementadas no estado e no País, merecendo um olhar
mais atento dos historiadores da educação sobre essa questão.
598
Comunicações Individuais
Eixo Temático 9
o objetivo neste trabalho foi o de analisar a configuração da disciplina HE planejada para o ensino, na relação
estabelecida entre conteúdos programados e o material bibliográfico indicado / disponibilizado para o estudo, ou
seja, verificar se, e quando, foi possível alterar as referências tradicionais expressas nos manuais? A análise tem o
intuito de buscar indícios para pensar a relação entre o que foi programado para a sala de aula e os resultados de
pesquisa na área, a propalada relação ensino e pesquisa. As fontes utilizadas foram os indícios da bibliografia
referendada nos programas de disciplina e os textos produzidos pelos professores para a atividade de ensino,
tomando como caso particular a experiência de organização da disciplina História da Educação no curso de
Pedagogia da UEL de 1962 a 1991. A análise considerou também publicações sobre o ensino de HE e sobre a
circulação de manuais de HE. Compôs a série documental 40 programas da disciplina e 10 textos produzidos
pelos professores responsáveis pela mesma na instituição e período referidos. Como referencial teórico foi
utilizada bibliografia sobre a história da disciplina e do ensino de História da Educação.
Educação significa entrar em contato com múltiplas dimensões que, juntas, pretendem selecionar, fixar e
produzir sentidos para as experiências educacionais construídas pelos sujeitos sociais em diferentes períodos
históricos. Dentre essas dimensões, devem ser destacadas, por exemplo, aspectos relacionados às
intencionalidades daquele responsável pelo exercício da função autoral, bem como as características e
constrangimentos envolvidos na editoração, divulgação e circulação dessas narrativas históricas. Além disso, a
problematização do enfoque enciclopédico e caráter panorâmico existentes na obra, fizeram pensar na pesquisa
a tradição historiográfica de escrita linear dos “tempos primitivos à contemporaneidade”, incluindo a Educação
nessa curva ascendente do “progresso” e avanço da marcha civilizatória. No exercício da comparação, foi possível
perceber alguns aspectos dignos de maiores reflexões: 1) na 3ª edição de 2006, foram acrescidas “Leituras
Complementares” ao texto original de historiadores da Educação que não necessariamente partilham das
prerrogativas de Arruda Aranha, 2) as perguntas presentes aos “Questionários” aumentaram consideravelmente
da 1ª para a 3ª edição orientando “aquilo que deveria ser retido”. No que diz respeito à tiragem, a partir de
levantamentos realizados junto à Editora Moderna, nos últimos cinco anos (2009-2014) a 3ª edição do manual de
História da Educação (2006) vendeu 65.000 exemplares. Infere-se que os manuais de História da Educação
embebidos pela função autoral e com elevada circulação nos cursos de formação de professores indiciou a
possibilidade de ênfase em alguns padrões narrativos por meio de realces, silenciamentos e seleções como
estratégias escriturárias. Dessa forma, inventariar essa modalidade discursiva é deparar-se com um instrumento
amplo para pensar a prática pedagógica e determinados sentidos dados nessas narrativas aos acontecimentos do
passado.
605
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
606
Comunicações Individuais
Eixo Temático 10
HISTÓRIA E PATRIMÔNIO EDUCATIVO: UMA DISCUSSÃO INICIAL A PARTIR DOS PAINÉIS DE POTY LAZZAROTTO
NO PARANÁ (1953-1996) .................................................................................................................................611
AMANDA GARCIA DOS SANTOS......................................................................................................................... 611
POR ENTRE BONECAS, CHOCALHO E LIVROS INFANTIS, O MATERIAL LÚDICO-PEDAGÓGICO DISPONÍVEL NAS
CRECHES:UM ENFOQUE NA CULTURA MATERIAL.............................................................................................611
ANTONIA SIMONE COELHO GOMES ..................................................................................................................611
AS PRÁTICAS DE ENSINO COM OS MUSEUS ESCOLARES NO ESTADO DE SÃO PAULO FINAL DO SÉCULO XIX
INICIO DO XX ...................................................................................................................................................612
CAMILA MARCHI DA SILVA................................................................................................................................ 612
ENTRE LOUSAS E CADERNOS: SUPORTES DE ESCRITA E MEMÓRIA DOCENTE (SANTA CATARINA, 1890-1950).613
CAROLINA RIBEIRO CARDOSO DA SILVA ............................................................................................................613
MARIANA OVÍDIA PRATTS.................................................................................................................................613
GISELE TEREZINHA ALVES .................................................................................................................................613
NO RASTRO DAS LEITORAS DE ROMANCES. ENTRE A LEITURA PRESCRITA E A LEITURA REALIZADA. ...............614
CÁSSIA APARECIDA SALES MAGALHÃES KIRCHNER ............................................................................................ 614
ESTADO DO CONHECIMENTO: O QUE TRAZEM OS RECENTES ARTIGOS SOBRE O LIVRO DIDÁTICO, DE 2009 A
2013.................................................................................................................................................................614
CASSIA HELENA GUILLEN CAVARSAN.................................................................................................................614
LIMITES E PERSPECTIVAS NA PRESERVAÇÃO DOS OBJETOS DO ENSINO DE QUÍMICA DE UMA ESCOLA PÚBLICA
EM SÃO PAULO................................................................................................................................................616
DANIELE PRADO DOS REIS ................................................................................................................................ 616
REGINALDO ALBERTO MELONI.......................................................................................................................... 616
O DISCURSO MÉDICO NAS AULAS DE CIÊNCIAS FÍSICAS E NATURAIS COM O ENSINO DE PUERICULTURA PARA
CRIANÇAS DE 4ª SÉRIE PRIMÁRIA NO ANO DE 1970.........................................................................................617
ÉLLEN PEREIRA NEVES ......................................................................................................................................617
LAERTHE DE MORAES ABREU JUNIOR ...............................................................................................................617
DAS PARTITURAS AOS LIVROS DO ENSINO DE MÚSICA NAS ESCOLAS : AS TRADUÇÕES, COMPOSIÇÕES E
ADAPTAÇÕES DO MAESTRO JOÃO GOMES JUNIOR E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO CENÁRIO DA HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO MUSCIAL BRASILEIRA ....................................................................................................................617
ÉRICA MALDONADO JULIÃO ............................................................................................................................. 617
“E, POIS QUE VALEM ESCOLAS SEM BONS LIVROS, OU SEM LIVROS TOTALMENTE?” MATERIAIS UTILIZADOS
PARA O ENSINO DA LEITURA NAS ESCOLAS PRIMÁRIAS DA PROVÍNCIA PARANAENSE....................................618
FRANCIELE FERREIRA FRANÇA........................................................................................................................... 618
ETIENNE BALDEZ LOUZADA BARBOSA............................................................................................................... 618
ENTRE RASGOS E POEIRAS: HISTÓRIAS PARA SEREM LIDAS ATRAVÉS DOS ARQUIVOS ESCOLARES .................619
HIASSANA SCARAVELLI ..................................................................................................................................... 619
AS SÉRIES GRADUADAS DE LEITURA NO BRASIL: UM ESTUDO SOBRE A SÉRIE MENINICE (1948, 1949), DE LUIZ
GONZAGA FLEURY ...........................................................................................................................................620
ILSA DO CARMO VIEIRA GOULART..................................................................................................................... 620
LIVROS DE LEITURA NO INÍCIO DO SÉCULO XX: OBJETO DE UMA CULTURA MATERIAL ESCOLAR.....................620
ILSA DO CARMO VIEIRA GOULART..................................................................................................................... 620
AS SALAS ESPECIAIS DO COLÉGIO MARISTA ARQUIDIOCESANO DE SÃO PAULO: UMA ADEQUAÇÃO ÀS NORMAS
LUNA ABRANO BOCCHI..................................................................................................................................... 622
CULTURA MATERIAL ESCOLAR: LEGISLAÇÃO E OS OBJETOS PARA ENSINAR CIÊNCIAS EM UM GINÁSIO DO SUL
DE MATO GROSSO (1930-1940) .......................................................................................................................623
MARIA CECILIA SERAFIM SILVA ......................................................................................................................... 623
EURIZE CALDAS PESSANHA ............................................................................................................................... 623
610
HISTÓRIA E PATRIMÔNIO EDUCATIVO: UMA DISCUSSÃO INICIAL A
PARTIR DOS PAINÉIS DE POTY LAZZAROTTO NO PARANÁ (1953-1996)
AMANDA GARCIA DOS SANTOS
Eixo Temático: 10 - Patrimônio educativo e cultura material escolar
O presente trabalho discute e analisa um conjunto representativo de murais do artista paranaense Poty
Lazzarotto (1924-1998) localizados na cidade de Curitiba, entendidos neste estudo sobre a ótica do historiador
Pierre Nora como “Lugares de Memória”. A partir de pesquisa documental e de campo acerca dos murais e
painéis concebidos por Poty Lazzarotto, entre os anos de 1953-1996, foram escolhidas quatro obras enquanto
objetos de investigação histórica, todas instaladas em logradouros ou praças da cidade de Curitiba no Estado do
Paraná. Compreendidas nesta pesquisa como uma herança identitária, as praças e os murais portam elementos
que contribuem na formação de uma representação de memória urbana e coletiva de significados, sentidos e
mensagens históricas, artísticas, educacionais e patrimoniais. As obras de Poty Lazzarotto investigadas nesta
pesquisa são entendidas como monumentos e fragmentos de memória que perpetuaram ao longo de gerações e
que testemunharam o emprego de linguagens visuais marcadas por demandas a ele encomendadas por interesse
do poder público, ou seja, através da ação do Estado em representar em narrativas visuais a história e memória
dita oficial, as obras localizadas em Curitiba são: o painel “Monumento ao 1° centenário de Emancipação do
Paraná” instalado na Praça Dezenove de Dezembro, em 1953; o mural “Desenvolvimento de Curitiba” instalado
na Praça 29 de Março, em 1967 e o“Alegoria ao Paraná” incrustado na extremidade da fachada do Palácio Iguaçu
no ano de 1987; o painel “Imagens da cidade”, instalado na Rua Nestor de Castro, no ano de 1996. É
compreendido que o patrimônio artístico na arte mural de Poty Lazzarotto é possuidor de componentes
educativos, transmissores de valores de uma memória, muitas vezes ufanistas de momentos significativos da
história paranaense. A obra deste artista é reconhecida e recentemente tombada no Estado do Paraná como
patrimônio histórico e cultural, por conter elementos e traços de uma cultura, possuidores de temporalidades e
representações de uma memória histórica. Nesse sentido, essa cultura material, concretizada em forma de
painéis e murais artísticos, evidenciam o intuito de fazer lembrar uma memória, cenas ou personagens históricos
do Estado do Paraná. Deste modo, ao discutir dentro da perspectiva do historiador Jacques Le Goff e analisar os
murais e painéis como “Materiais da memória coletiva e da história”, estes se configuram como um
“Documento\Monumento”, transmissores e portadores de elementos formadores de uma memória coletiva de
significados, sentidos e mensagens históricas, artísticas, educacionais
encaixes, lápis e papéis coloridos, assim como o acervo de livros infantis, etc Dado às especificidades que propõe
esse tema, algumas questões nortearam a investigação: Como se constitui o acervo material lúdico das creches?
Como são organizados os brinquedos para serem disponibilizados às crianças? Como os brinquedos traduzem as
concepções acerca do que é ser criança e da infância vivenciada nas creches? O que os objetos dizem sobre o
brincar? Ao reconstituirmos as condições materiais das unidades de educação para crianças pequenas, abrimos a
possibilidade de darmos visibilidade àquilo que é parte da expressão das culturas infantis.
1923). A escolha, no entanto, deste educador não é fortuita, sua presença em todos os números do periódico,
demonstra a atividade do mesmo nos debates educacionais do período, o que permite compreender quais as
ideias educacionais foram veiculadas pelo mesmo, o que possibilita “lançar luzes” para um entendimento mais
amplo sobre as propostas voltadas a educação brasileira nessa época. Por meio deste estudo nota-se que os
trabalhos de Carlos da Silveira abordam textos que contêm assuntos importantes à história da educação do país.
Carlos da Silveira realizou uma sequência de trabalhos no periódico, publicou em todos os 13 números do
periódico, abordando temáticas de grande relevância com assuntos e discussões sobre temas referentes à
História da Educação, sobre Escolas Normais e questões de ensino, como o ensino da língua pátria e o papel
educativo da Escola Primária, educação cívica entre outros. O estudo utiliza as ideias de Depaepe (2005) e
Certeau (2008) no que se refere à compreensão do objeto de estudo em seu período, de modo a desvelar os
fatores a que esteve imerso e que foram responsáveis por influenciar e caracterizar sua dinamicidade. Isto é, o
pesquisador em história da educação e na história das ideias pedagógicas necessita ter um arcabouço teórico e
uma instrumentalização no processo de análise que permita compreender o objeto dentro do seu tempo
histórico. Portanto, nota-se que ao lado de autores que foram importantes para a educação brasileira, a exemplo
de João Toledo, também professor da Escola Normal de São Carlos, destaca-se a importância de estudá-lo como
um intelectual pertencente ao conjunto de indivíduos que trabalharam pela educação brasileira por meio da
divulgação de ideias pedagógicas e educacionais impressas em jornais e revistas que contribuiu para a educação
na cidade de São Carlos e em todo o país. A relevância desta pesquisa consiste na (re)descoberta de registros
fundamentais para a reconstituição e compreensão da História da Escola Pública Brasileira.
613
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
encontrados artigos que evidenciassem pesquisas ligadas diretamente ao uso do livro didático feito por
professores e alunos. Tal constatação sinaliza que há uma necessidade de se enveredar para novas perspectivas a
cerca deste material escolar, como a de conhecer como os docentes e alunos fazem a apropriação e a utilização
deste instrumento em suas práticas diárias. Nesse sentido, será possível ainda analisar quais são as reais
contribuições e/ou implicações para o processo ensino-aprendizagem, de acordo com a pluralidade de empregos
investidos neste material escolar, pelos sujeitos que dele fazem uso. Enfim, este estudo bibliográfico contribuiu
de forma relevante para se conhecer os avanços nas pesquisas referentes a esse objeto.
616
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
com os conceitos de “simulacro sonoro”. Utilizar o contato com as fontes primárias, inclusive relatórios,
partituras, cartas e registros que apontem caminhos para melhor análise da materialidade do objeto cultural – o
plano de ensino, os cadernos de música, livros didáticos - , como circulava e era utilizado na escola. A apropriação
de canções ou mesmo hinos cívicos e religiosos no contexto escolar, assim como sua circulação, sofreu aquilo que
Burke (2009) chama de descontextualização de seu país de origem e recontextualização no país que apropriou a
música Embora existam trabalhos que discutem a música nas escolas e defendam a ideia da partitura como
objeto cultural (BORGES, 2010), partindo das canções pretendo operar com os conceitos de “objeto cultural,
apropriação, circularidade” de Roger Chartier, de “tradução cultural” de Peter Burke, e de Tatit (2008) sobre
simulacro sonoro e as análises realizadas por Kishimoto ( 1988) a respeito dos jogos brinquedos e brincadeiras
como referencial teóricos da pesquisa.
“E, POIS QUE VALEM ESCOLAS SEM BONS LIVROS, OU SEM LIVROS
TOTALMENTE?” MATERIAIS UTILIZADOS PARA O ENSINO DA LEITURA
NAS ESCOLAS PRIMÁRIAS DA PROVÍNCIA PARANAENSE.
FRANCIELE FERREIRA FRANÇA
ETIENNE BALDEZ LOUZADA BARBOSA
Eixo Temático: 10 - Patrimônio educativo e cultura material escolar
Junto à estruturação da instrução pública primária no Império brasileiro durante o século XIX, foi se constituindo
também a materialidade escolar, fosse pelas determinações dos métodos de ensino, dos espaços específicos, dos
conteúdos a serem ensinados, ou da definição do que era imprescindível de se ter na escola. Em meio aos
materiais utilizados, destacam-se aqui os livros adotados para o ensino da leitura e escrita das crianças das
618
VIII Congresso Brasileiro de História da Educação
escolas primárias paranaenses. Portanto, este trabalho tem por intuito discutir de que forma alguns livros foram
escolhidos e aprovados para serem enviados às escolas, ou seja, de que modo se deu a circulação e uso dos
mesmos nas salas de aula da província, em uma tentativa de evidenciar a constituição de uma cultura material
escolar por meio da determinação, adoção e apropriação destes livros. Faz-se pertinente salientar que a
perspectiva que se toma entende os livros escolares e/ou livros de leitura como manuais didáticos, pois são livros
que carregam uma ideia de escolarização e de didática muito mais forte do que um livro de literatura. Segundo a
legislação, a escolha e determinação de um livro ou outro ficava a cargo do Inspetor Geral do ensino, mas, em
certos períodos, a autorização partia do presidente da província; a partir de 1876 tal função ficou a cargo do
Conselho Literário. No ano de 1856, o Inspetor Geral do Ensino, Joaquim Ignácio Silveira da Motta, inicia uma
primeira reestruturação da legislação de ensino no Paraná resultando numa definição dos materiais necessários
nas escolas e, para o ensino da leitura, apresenta uma lista dos livros que deveriam ser utilizados pelos
professores, em quais classes e quando estes deveriam ser substituídos, contribuindo desta forma, para a
distribuição, entrada e uso destes materiais no interior das escolas. Porém, é a partir de 1870 que os chamados
livros específicos para o ensino da leitura adentram as escolas paranaenses, com a autorização de adoção dos
livros de leitura de Abílio Cesar Borges. Diante disso, estes livros começaram a integrar as listas de pedidos dos
professores, bem como a serem usados nas escolas, ora como um manual para ensino da leitura, ora como
método seguido pelos professores na condução de suas aulas. Em meio às fontes consultadas - relatórios de
presidentes da província, relatórios de professores primários, relatórios de inspetores escolares e a legislação
educacional paranaense - é possível perceber que as relações em torno da solicitação, aquisição e distribuição de
uma obra na estrutura de ensino paranaense eram muito mais complexas do que ser este ou aquele livro/autor
bom ou ruim, ou de ser lucrativo ou não para o governo provincial, estas também eram permeadas por acordos
políticos e pessoais.
619
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
enunciados. A história cultural se mostra um suporte teórico e metodológico capaz de subsidiar, nortear e
direcionar diferentes pesquisas que priorizam em seus estudos as práticas e as representações culturais.
621
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
relatórios, ofícios, anuários, atas, requerimentos, e regulamentações, e abarca o tema biblioteca escolar e
interesse de uso dos professores desse período investigado. A pesquisa pauta-se nas formulações teóricas sobre
a biblioteca da escola como espaço de comunicação, aberto ao meio sociocultural que o rodeia, configurando-se,
portanto, como um espaço dinamizador de produção e reprodução de aspectos da cultura escolar, como
concebida por Dominique Jùlia. Como considerações finais temos que, assim como as várias ações empreendidas
pelos primeiros reformadores republicanos, em torno de um projeto de escola também republicana, as
atividades centradas no uso da biblioteca pelos professores teriam sido empreendidas para a produção e
reprodução de dada cultura escolar voltadas para esse projeto mencionado.
Centro de Pesquisa, Memória e História da Educação da Cidade de Duque de Caxias e Baixada Fluminense -
CEPEMHEd, em 2005, no âmbito da Secretaria Municipal de Educação, a partir da reivindicação dos profissionais
da educação da rede municipal de ensino. Em 2008, o acervo remanescente da escola, da biblioteca e do museu
escolar foi entregue à guarda do CEPEMHEd, que iniciou um trabalho de tratamento e identificação dos
documentos, com objetivos de preservação e de disponibilização para pesquisa. Compõe-se de documentos
escritos, fotográficos, iconográficos, tridimensionais e bibliográficos, datados das décadas de 1920 a 1990, os
quais nos oportunizam a reapropriação da cultura e das práticas dessa instituição que, a despeito de servir para a
materialização de uma política de educação e de saúde que modelava a população para um projeto nacionalista e
higienista, ousou e inovou no atendimento aos alunos e suas famílias em ações pedagógicas, sociais e culturais,
contribuindo para o desenvolvimento local. O olhar sensível dos militantes à preservação da Escola manifesta-se
também na mobilização para a proteção do seu prédio, objeto de reivindicação por tombamento desde o início
dos anos 2000. Em 2013, retomando-se esse processo, foi entregue o requerimento de tombamento da Escola à
Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, iniciando-se outra demanda por política pública de preservação e
nova arena de disputa junto ao poder público. O presente trabalho pretende divulgar o referido acervo e
apresentar, a partir dos referenciais teóricos de Edward Thompson e de Jorge Najjar, o crescente processo de
conscientização patrimonial em relação à educação em Duque de Caxias.
623
Caderno de Resumos - Comunicações Individuais
busca conhecer os principais direcionamentos propostos pelo CRPE/SP, por meio de fontes documentais
produzidas por uma de suas divisões e setores: a Divisão de Aperfeiçoamento do Magistério (DAM) e o Serviço de
Recursos Audiovisuais (SRAV), bem conhecer o conjunto da cultura material escolar que deveria ser apropriada
pelos professores por meio dos cursos de aperfeiçoamento para a utilização de objetos; e as práticas propostas e
os significados que as mesmas recebiam em um âmbito de busca de uma educação de qualidade, relacionada aos
anseios de uma política desenvolvimentista que contextualiza o período histórico no qual o CRPE/SP foi criado.
Os resultados obtidos por meio de nossa análise contribuem para conhecermos sobre a história da formação
docente para a utilização de tecnologias no ensino brasileiro, trazendo reflexões sobre a introdução de
tecnologias no ensino, a necessidade de uma formação docente direcionada a ela, a maneira como esta formação
foi proposta, e a importância que os objetos recebem na prática docente, neste período histórico.
Ginzburg e Walter Benjamin. Assim, nossa prática historiográfica, fundamenta-se na perspectiva histórica de
Bloch, onde buscamos a compreensão do ofício do historiador, de modo que, privilegiando a multiplicidade das
fontes, procuramos tensioná-las a fim de alcançar o seu testemunho histórico. Na produção das fontes, tomamos
em Ginzburg, o método indiciário como ferramenta de pesquisa, do mesmo que, na abordagem histórica e
“leitura” de fontes iconográficas, nos orientamos em suas reflexões sobre morfologia das imagens, por meio do
“método morelliano”, e nas suas aproximações com as “teorias warbuguianas”. Por fim, procurando
compreender as ilustrações no seu contexto de produção, realizamos, segundo Benjamin, a leitura à contrapelo
das fontes iconográficas, que pertencendo ao campo de domínio da linguagem da arte, em suas várias formas de
expressões, abrangem percepções de mundo, do seu momento histórico. Desse modo, analisando,
historicamente, as ilustrações nas cartilhas, percebemos que as mesmas se constituem como indícios que nos
oferecem pistas de propostas pedagógicas, tendências metodológicas e políticas públicas, do "espaçotempo" de
sua produção, circulação e utilização. Portanto, concluímos que as ilustrações têm a potência de narrativas de
uma cultura escolar, ao representarem palavras, textos e temas, assim sendo, detêm valores, sentidos e
significados. Portanto, enquanto objeto culturais, trazem informações, que registram pontos de vista culturais e
escolares das épocas, além dos elementos que desenvolvem habilidades de leitura e escrita. À vista disso,
concluímos que as ilustrações e seus significados, que lhe são atribuídos ao longo do tempo nos espaços
escolares, se constituem como possibilidades que oportunizam narrativas historiográficas.
626