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Faz um tempo que tenho advogado o uso do Proto-Céltico (doravante ‘PrC’) como língua litúrgica
para o Iberoceltismo em diversos locais e ocasiões e aproveito para tentar condensar cá os motivos,
visando deixá-los claros e facilitar o entendimento dos pontos.
endlicher
Trabalhar com “conlangs” (reconstruções hipotéticas) com alto nível de especulação, torna o uso da
língua demasiado “artificial”, quebrando psicologicamente sua dimensão mais profunda e servindo
como mero “fetiche”. Além de ser demasiado trabalhoso e dispendioso. E isto nos leva a outro
ponto.
Esta compreensão é importante para evitar “fetichismos” de recriação histórica lúdica exagerada e
também para não esquecermos o caráter “instrumental”. A língua é uma chave metafísica para
acessar sentidos até então velados. A chave em si mesma, sem as fechaduras e trancas que ela abre,
não é de tanta valia assim. Também podemos conceber que tais sentidos permitem uma
comunicação mais eficaz, pelo menos como tradicionalmente concebida, entre deuses e humanos.
Por outro lado, recuar até o Proto-Indo-Europeu (doravante ‘PIE’) também seria viável se isto não
descaracterizasse o “Celtismo”. Mas ao fazê-lo, já não mais nos ateríamos numa manifestação
cultural específica e historicamente localizável, ao fazê-lo, nos diluiríamos.
Por outro lado, o PrC pode servir como uma espécie de língua franca entre RCs de diversos focos
culturais/cultuais e mesmo destes para como Druidistas.
O problema é que na medida em que nosso conhecimento do gaulês e do celtibérico (assim como do
Lusitânico, Tartésico, Lepôntico, etc.) for ampliado, e sendo estas línguas anteriores mais próximas
do PrC, é bem possível que certas estruturas gramaticais e lexicais sejam revistas, uma vez que são
mais devedoras das línguas mais recentes (e mais conhecidas).
Além, claro, de diferenças orgânicas genuínas. Ainda no caso do celtibérico, o adjetivo PrC *mati-
“favorável, auspicioso, fasto, propício” fora construído a partir do irlandês e do galês que
apontariam para um tema em -i. No caso do celtibérico, o termo está atestado como sendo de tema
em -u (STEMPEL, P. “La gramática del primer bronce de Botorrita: nuevos resultados”. In
Palaeohispanica 9. p. 688). A frase “dentro de três dias fastos” em PrC ficaria *entra trīs matīs
dīywa se considerarmos que a palavra “dia” é neutra (como no gaulês), ou *entra trīs matīs dīywūs
se o termo for masculino. Em celtibérico, temos “entra trīs matūs (dīuūs)”. R. Matasović, o autor do
“Etymological Dictionary of Proto-Celtic”, considera que o termo seja em -i, apesar do celtibérico e
do gaulês apontarem para um tema em -u, por achar que o que aconteceu com o irlandês é a regra,
pois neste idioma o termo em -u é uma palavra tabuística para designar o animal “urso”. Eu já
desconfio que o que ocorreu no irlandês seja a exceção, não a regra.
Outro ponto que não é exatamente um problema do PrC, mas sim de que quem o “estabelece”
academicamente, é ignorar certos substratos das línguas românticas hispânicas. Se engloba algo das
línguas francesas, por causa dos trabalhos pioneiros e referenciais sobre a língua gaulesa. Mas
pouco se considera do substrato por trás de certos termos em galego ou português, por exemplo. E
os gramáticos de cá, para completar, preferem elaborar ideologias buscando validar separações e
ranços antilusos que estudarem decentemente nosso léxico.
Bem, nesta altura creio que já esteja ilustrado alguns possíveis problemas. Mas, apesar disto, o PrC
já condensa em si um certo número de convenções mais sólidas que as conlangs possíveis das
línguas posteriores. E por isto, me parece a melhor opção que temos por hora, mesmo que venha a
sofrer algumas revisões no futuro.