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de William P. Young
A Cabana é um romance que cativa seus leitores do início ao fim, por sua
criatividade e capacidade de expressar princípios básicos do cristianismo de forma
simples e profunda. Um dos paradoxos da fé cristã é a existência de complexidade na
simplicidade de seus ensinamentos. O princípio do amor a Deus e ao próximo, por
exemplo, cuja explicação é tão elementar, revela profunda complexidade em sua prática.
Em decorrência disso, quando nos deparamos com uma obra capaz de revelar o denso
com leveza, o obscuro com clareza e o complexo com simplicidade, nada nos resta,
senão reconhecermos sua grandeza. Além disso, Young foi capaz de descrever
sentimentos comuns a todos os homens, o que contribuiu para o sucesso da obra.
Ainda que não esteja estruturado em partes, esse livro pode ser dividido em três
principais momentos que marcam a história de Mack: (1) A tragédia e as feridas dela
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Bacharel em Teologia pela FTSA, em Psicologia pela UNESA e Mestre em Teologia
pelo CPAJ-Mackenzie. Professor da Escola Teológica Reformada
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decorrentes. (2) O doloroso encontro com Deus (3) A restauração e o retorno à vida.
Tais etapas caracterizam o processo pelo qual não apenas a personagem do livro passa,
mas também todos aqueles que são surpreendidos por tragédias e se permitem
experimentar o bálsamo do amor divino para restauração das feridas em sua alma.
(1) A tragédia e as feridas dela decorrentes - Pai de cinco filhos, Mack vê sua
história ser terrivelmente abalada quando, de forma cruel e misteriosa, sua filha Melissa
– ou Missy, como era conhecida – é assassinada. Aqui reside um importante ponto de
convergência entre a história de Mack e a de todos os seus leitores. Ainda que nem
todos tenham passado experiências semelhantes à da personagem principal da ficção,
não há que esteja imune às traumáticas tragédias da vida. A cabana é a história de um
homem que, como eu e você em algum momento de nossa história, foi surpreendido
pela dor, questionado pela angústia e confrontado por suas próprias mágoas, rancores e
pela grande tristeza.
A humanidade de Mack se revela, à medida que ele percebe ser incapaz de lidar
com o sofrimento em todas as suas dimensões. Aquele homem se vê diante do paradoxo
de tentar ignorar a Deus, suposto responsável pela morte de sua filha, ao mesmo tempo
que não consegue tirá-lo de sua mente, já que seu problema estava longe de ter sido
resolvido. Mack aprende, com isso, que o silêncio e a sublimação não indicam,
necessariamente, o solução de um dilema. Feridas só saram mediante tratamento; foi o
que Mack aprendeu, ao ter sido chamado para um misterioso encontro.
(2) O doloroso encontro com Deus - Em meio a este trágico cenário, Mack
recebe um intrigante bilhete contendo um convite para um encontro na cabana onde
Missy, alguns anos antes, havia sido assassinada. Por causa da assinatura do bilhete -
“Papai” – Mack é levado a crer, a despeito do que a racionalidade diria, que aquele
recado é de Deus.
Disposto a “acertar as contas” com Papai por tudo o que ele havia permitido
acontecer em sua vida, Mack vai à cabana e é recebido de forma majestosa por três
personagens que, conquanto pouco ortodoxos, são capazes de revelar a beleza do caráter
de Deus não só a Mack, mas a todos os que se habilitam a ler esta obra. Papai, Jesus e
Sarayu ultrapassam os limites do conservadorismo, apresentando-se de forma pouco
usual. De acordo com Mack, Papai é uma mulher negra, de grandes proporções. Sarayu,
por sua vez, era uma mulher com feições asiáticas. Jesus é o que mais se aproxima do
imaginário social. Não apenas por ser ele descrito como um árabe, mas por ser ele a
única pessoa da trindade que tomou forma humana e habitou entre nós, o que torna
natural qualquer descrição de sua pessoa.
Deste encontro, é digna de nota a citação que Young faz de Jacques Ellul "...
não importa qual seja o poder de Deus, o primeiro aspecto de Deus jamais é o do
Senhor absoluto, do Todo-Poderoso. É o do Deus que se coloca no nosso nível humano
e se limita" (p. 79). A falta de conservadorismo na representação das pessoas da
trindade - motivo de repulsa por parte de alguns leitores - é, na verdade, a grande
estratégia para mostrar a proximidade de um Deus que se importa e está perto. Ademais,
Papai, Sarayu e Jesus são demonstrações de que a grandeza do ser divino pode se render
à beleza da poesia humana, sem que falte respeito e sem que se comprometa a verdade.
Não obstante, este texto nos remete ao fato de que encontros com Deus
acontecem para que, tendo havido a restauração, possamos voltar ao desafio da vida.
Viver na cabana seria transportar-se para o ambiente da glória vindoura. A verdade é
que, enquanto Deus não chama os seus para os céus - como fez com a pequena Missy,
Ele nos contempla com visitas na terra. Assim como Pedro foi impedido de fazer sua
tenda no monte e ali permanecer para sempre, Mack teve de abandonar a cabana e voltar
para o lugar onde os desafios se intensificam a cada manhã.
Vale, ainda, destacar que as realidades espirituais continuam a ser um fato, ainda
que descubramos que tudo o que aconteceu se processou em um lugar impossível de ser
apontado no mapa. Mack descobriu que não esteve na cabana. Não obstante, ele nunca
esteve mais certo de que passou um bom tempo naquele lugar, acompanhado por seus
três grandes amigos. Mas que lugar era esse? Não importa! O fato é que para lá ele foi, e
de lá saiu restaurado e pronto para a vida.
A despeito de o cenário desta obra revelar a história de Mack, seu enredo narra a
história de muitos homens e mulheres que, pressionados pelas circunstâncias da vida,
sofrem com questões não respondidas, como sofreu o pai da pequena Missy, razão pela
qual este livro é tão cativante. Young, nesta obra, é capaz de mostrar que a cabana, lugar
de desgraça e sofrimento, pode ser, também, lugar de graça e restauração.