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Nota: Este artigo é sobre Jesus o homem, usando os métodos historiográficos para reconstruir a biografia de sua vida
e tempo. Para disputas sobre visão cristã dele, veja Disputas cristológicas, para uma visão geral sobre Ele veja Jesus,
para a representação do tema na arte veja Vida de Cristo.
Esta página cita fontes confiáveis, mas que não cobrem todo o conteúdo.
Saiba mais
A pesquisa sobre o Jesus histórico teve início no século XVIII e se desenvolveu, até os nossos
dias, em três ondas, preocupadas em reconstruir os fatos históricos e a pessoa humana de
Jesus, que ficavam como que escondidos atrás das afirmações dogmáticas e de fé das Igrejas.
Tal busca teve como premissa uma mentalidade racionalística, que acredita poder reconstruir a
verdade histórica relacionada a Jesus por meio da razão, e foi impulsionada pela descoberta da
estratificação e fragmentação dos textos bíblicos e sua consequente classificação. Um aspecto
fundamental dessa busca é tentar inserir Jesus no contexto histórico-sociocultural do judaísmo
do século I na Palestina, por meio do estudo de fontes canônicas, apócrifas e pseudepigráficas
que lançaram novas luzes sobre a complexidade da religião e da sociedade judaica daquela
época.
A busca pelo Jesus histórico se apoia na literatura bíblica e extra-bíblica do século I; nas
descobertas arqueológicas; nos estudos sociológicos e historiográficos; para reconstruir e
entender o contexto histórico, sociológico e religioso do tempo de Jesus, tentando entender e
imaginar o impacto de sua pessoa e de sua mensagem dentro deste mesmo contexto, portanto,
parte-se do pressuposto que Jesus deve ser lido dentro do contexto da Galileia daquela época[3].
Visão geral
1. foi um homem que viveu na Galileia na primeira metade do século I, que era filho de um
carpinteiro, que provavelmente tinha outros irmãos (Mt 13,55);
3. por um período menor que um ano como rabi na região do Mar da Galiléia até a sua
crucificação, que provavelmente ocorreu na Páscoa do ano 30 por motivos políticos
(conflito com a elite local ligada ao Templo de Jerusalém)[3];
4. realizou pelo menos uma peregrinação a Jerusalém - então parte da província romana da
Judeia - durante o tempo da expectativa messiânica e apocalíptica no final do Segundo
Templo Judaico[4][5];
A busca pelo Jesus histórico parte do pressuposto que o Novo Testamento não dá
necessariamente uma imagem histórica precisa da vida de Jesus. Nesse contexto, a descrição
bíblica de Jesus é conhecida como a do Cristo da Fé[11]. Dessa forma, o Jesus histórico é
baseado em materiais históricos antigos que podem falar alguma coisa sobre sua vida, como os
fragmentos dos Evangelhos. A finalidade da pesquisa sobre o Jesus histórico é examinar as
evidências a partir de fontes diversas, tratando-as criticamente e em conjunto para criar uma
imagem composta de Jesus[12][13]. Para alguns, o uso do termo Jesus histórico implica que o
Jesus reconstruído será diferente do que se apresentou no ensino dos concílios ecumênicos (o
Cristo dogmático)[14]. Outros estudiosos afirmam que não há nenhuma contradição entre o
Jesus histórico e o Cristo retratado no Novo Testamento[15][16][17].
História
Ao longo dos últimos 150 anos, alguns historiadores e estudiosos bíblicos como Albert
Schweitzer, com seu trabalho revolucionário Von Reimarus zu Wrede (The Quest of the Historical
Jesus) [18] em 1906, ou os participantes do controverso Jesus Seminar, têm feito progressos na
busca do Jesus Histórico, examinando provas de diversas fontes a fim de trazê-las em conjunto
para que se possa elaborar uma reconstrução completa de Jesus.[19][20]
Cristo na casa de seus pais, por John
Everett Millais, 1850. Uma série de
pinturas da Irmandade Pré-Rafaelita
O uso do termo do Jesus Histórico implica que sua reconstrução será diferente daquela
apresentada no ensino do Cristo da Fé pelo Cristianismo. Assim, a montagem do Jesus Histórico
às vezes difere dos judeus, cristãos, muçulmanos ou crenças hindus.
Em geral, esses estudiosos argumentam que o Jesus histórico foi um judeu da Galileia que viveu
numa época de expectativas messiânicas e apocalípticas. Ele foi batizado por João Batista e,
depois que João foi executado, começou a sua própria pregação na Galileia. Jesus pregava a
salvação, a vida eterna, a purificação dos pecados, a vinda do Reino de Deus, usando parábolas
como imagens surpreendentes. Além disso, ele era conhecido como um professor e um homem
que realizava milagres. Muitos estudiosos creditam as declarações apocalípticas dos
Evangelhos a Jesus, enquanto outros defendem que o seu Reino de Deus era moral, e não de
natureza apocalíptica.
A busca pelo Jesus histórico iniciou-se com o trabalho de Hermann Samuel Reimarus no
século XVIII. Dois livros, ambos chamados "A Vida de Jesus", foram escritos por David Friedrich
Strauss e publicados em alemão em 1835-1836. Ernest Renan publicou um livro em francês no
ano de 1863. O Jesus histórico é conceptualmente diferente do Cristo da fé. Para os historiadores
o primeiro é físico, enquanto o último é metafísico. O Jesus histórico é baseado em evidências
históricas. Cada vez que um rolo de papel novo é descoberto ou fragmentos de um novo
Evangelho são encontrados, o Jesus histórico é modificado.
Método
Página do Codex Vaticanus. Os
evangelhos canônicos são a principal
fonte de informação sobre o Jesus
histórico
Acredita-se que o Jesus histórico tenha sido uma figura real que deva ser entendida no contexto
de sua própria vida, na província romana da Judeia do século I, e não o Cristo da doutrina cristã
de séculos mais tarde[21]. A pesquisa histórica reconstrói Jesus em relação aos seus
contemporâneos do primeiro século, enquanto as interpretações teológicas relacionam Jesus
com aqueles que se reúnem em seu nome. Assim, o historiador interpretaria o passado enquanto
o teólogo interpretaria a tradição cristã[22]. No entanto, quando se considera o estado
fragmentário das fontes e a natureza muitas vezes indireta dos argumentos utilizados, esse
Jesus histórico será sempre um constructor científico, uma abstração teórica que não coincide,
nem pode coincidir, com o Jesus de Nazaré que supostamente viveu e trabalhou na Palestina no
século I de nossa era[21]. Os historiadores[23] e estudiosos da Bíblia analisam os Evangelhos
canônicos[24], o Talmud, o Evangelho segundo os hebreus, os Evangelhos Gnósticos, os escritos
de Flávio Josefo, os Manuscritos do Mar Morto[25], entre outros documentos antigos a fim de
encontrar o Jesus histórico. Uma série de métodos foram desenvolvidos para analisar
criticamente essas fontes:
Fontes mais antigas: muitos historiadores preferem as fontes mais antigas sobre Jesus,
desconsiderando, como regra geral, as fontes que foram escritas mais de um século após sua
morte[26]
Critério do constrangimento: enfoca atos ou palavras de Jesus que poderiam ter constrangido
ou criado dificuldades para a igreja primitiva ou para o autor do evangelho. Por exemplo, se a
crucificação foi motivo de embaraço para os primeiros cristãos, seria bastante improvável que
os evangelhos afirmassem que Jesus havia sido crucificado, a menos que ele realmente tenha
sido crucificado[27].
Atestação Múltipla: quando duas ou mais fontes independentes contam histórias semelhantes
ou consistente. Esse critério faz bastante uso dos caso de relatos orais anteriores às fontes
escritas. A atestação múltipla não é o mesmo que a atestação independente. Se um relato
utilizou outro relato como fonte, então essa história estará presente em todos os relatos, mas
com apenas uma fonte independente. O ponto de vista dominante é que o relato de Marcos foi
usado como fonte de Mateus e Lucas[26][28].
Contexto histórico: a fonte é mais credível se relato fizer sentido dentro do contexto e da
cultura em que o fato possivelmente aconteceu[29][30]. Por exemplo, alguns ditos da língua
copta do Evangelho de Tomé fazem sentido dentro de um contexto gnóstico do século II, mas
não no contexto do século I, uma vez que o gnosticismo apareceu no segundo século.
Análise linguística: há algumas conclusões que podem ser extraídas da análise linguística dos
Evangelhos. Por exemplo, se um diálogo só faz sentido em grego, é possível que ele tenha sido
redigido e que o texto seja de certa forma diferente do original aramaico. Alguns consideram,
por exemplo, o diálogo entre Jesus e Nicodemos no capítulo 3 de João como algo que só faz
sentido em grego, mas não em aramaico. De acordo com Bart Ehrman, este critério é incluído
na análise de credibilidade contextual, porque ele acredita que Jesus e Nicodemos estavam
falando em aramaico.
Objetivo do autor: este critério é o outro lado do critério de dissimilaridade. Quando o material
apresentado serve aos propósitos do autor ou do editor, ele é suspeito[31]. Várias seções nas
narrativas do Evangelho, como o Massacre dos Inocentes por exemplo, retratam a vida de
Jesus como o cumprimento de profecias do Antigo Testamento. Na visão de alguns
estudiosos, isso pode apenas refletir o objetivos literário do autor, e não acontecimentos
históricos.
Existem cinco documentos falando da pessoa de Jesus direta ou indiretamente, como é o caso
de Públio Cornélio Tácito, Flávio Josefo, Plínio, o Jovem e outros.
Uma boa referência do Jesus histórico foi escrita por Tácito no Analles, conforme ele cita abaixo:
“ Por conseguinte, para se livrar do relatório, Nero colocou a culpa e infligiu as mais
requintadas torturas em uma classe odiada por suas abominações, chamados
cristãos pela população. "Christus", de quem o nome teve sua origem, sofreu a
penalidade extrema durante o reinado de Tibério às mãos de um de nossos
procuradores, Pontius Pilatus, e uma superstição mais perniciosa, portanto,
marcada para o momento, mais uma vez surgiu não só na Judeia, a primeira fonte
do mal, mas mesmo Roma, onde todas as coisas horríveis e vergonhosas de toda
parte do mundo encontram o seu centro e se tornam populares. Assim, a prisão
pela primeira vez feita de todos os que se declararam culpados, em seguida, sobre
as suas informações, uma imensa multidão foi condenada, não tanto do crime de
incendiar a cidade, mas como de ódio contra a humanidade. [32] ”
Ver também
Referências
Ligações externas
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