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independência"
Não obstante, quanto mais a metrópole tentava impor seu jugo, tanto mais este se
tornava intolerável. A dominação colonial aparecia como o maior obstáculo ao
avanço da economia brasileira, às aspirações da gente da terra à liberdade e à
cultura. Nos fins do século XVIII e no início do século XIX, os aspectos essenciais
da nação já haviam adquirido nítida configuração. O território se expandira (fora
quase todo demarcado). A língua portuguesa se transformara no idioma
predominante, num fator aglutinativo de primeira ordem. Tanto a economia quanto
as comunicações haviam atingido certo grau de desenvolvimento. As primeiras
criações culturais revelaram uma psicologia comum. Afora as tribos indígenas, a
população chegara à casa dos quatro milhões. Destes, mais de um terço eram
escravos negros. A parte restante constituía-se de trabalhadores semiescravos
das fazendas de gado, de reduzido número de trabalhadores livres e de artesãos,
de pequenos proprietários rurais e comerciantes, de funcionários públicos,
soldados e intelectuais. As classes dominantes formavam uma fração diminuta de
senhores rurais escravistas e de grandes negociantes.
Cada vez mais convencido da necessidade de romper o monopólio comercial e
sacudir o sanguinário domínio colonial português, e influenciado pelas idéias
triunfantes do movimento de independência dos Estados Unidos e da Revolução
Francesa de 1789, o povo brasileiro inicia a luta pela emancipação nacional.
Nesse mesmo ano de 1789 os patriotas de Vila Rica foram presos porque
procuravam organizar um movimento em prol da autodeterminação. Tiradentes e
seus companheiros adotam o lema de "Liberdade ainda que tardia", sonhando
separar o Brasil de Portugal e instaurar a República no país. Mas a metrópole
debelou cruelmente a Conjuração Mineira. Condenou à forca Tiradentes. A cabeça
e partes do corpo do corajoso mártir foram expostas nos lugares em que
propagara a idéia autonomista. Sua família foi julgada infame até a terceira
geração. Apesar disso, as idéias patrióticas ressurgiram mais fortes na Revolução
dos Alfaiates, da Bahia, em 1798. Empolgados pelo sentimento de emancipação
nacional, Lucas Dantas, Manoel Faustino dos Santos e seus companheiros, quase
todos jovens e pobres, alguns deles escravos, esposaram a causa da liberdade,
considerando-a como o bem supremo da vida, e desejaram a igualdade de seus
irmãos brasileiros. Proclamaram a necessidade de independência, república,
emancipação dos escravos, liberdade de comércio, abertura dos portos e amplos
direitos para o povo. Foram, por isso, brutalmente massacrados.
Nos primeiros lustros do século XIX, evidenciava-se que Portugal não poderia
sustentar o estatuto colonial. O sentimento nativista e a luta para sacudir o domínio
estrangeiro haviam assumido grandes proporções. Fortalecera-se a corrente
autonomista sob a influência das revoluções, nacionais pela independência que se
sucediam no Continente americano e também pela crise da monarquia portuguesa,
revelada em especial na Revolução Constitucionalista do Porto. Amadurecia o
movimento da separação. A Coroa portuguesa procurou manter a todo custo seu
domínio. Ao mesmo tempo que usou a violência desenfreada fez algumas
concessões.
Entre os anos de 1822 e 1859, quando foi extinto o tráfico negreiro, entraram no
Brasil cerca de 1 milhão de escravos. A escravatura perdurou até 1888. A
economia, essencialmente agrícola, continuou voltada para a exportação. O café
se constituiu em seu produto predominante, enriquecendo os grandes fazendeiros.
Para suprir as crescentes necessidades do Estado e cobrir os déficits
orçamentários, os governantes recorreram a empréstimos externos, que sempre
acarretaram pesados ônus aos interesses do país.
Tal fato denota a ampliação da base social e política da luta por transformações
progressistas na sociedade brasileira. As forças monarquistas e conservadoras
sufocaram essas revoluções populares, acusando-as de separatistas. Caxias
tornou-se o carrasco-mor da repressão imperial. "Prefiro cometer uma injustiça a
permitir uma desordem" - costumava dizer esse verdugo de patriotas e de
escravos, considerando "desordem" toda luta do povo por seus direitos. A derrota
dos referidos movimentos teve diversas causas. Foram dispersos, não puderam
unir-se nacionalmente através de uma ação coordenada, de uma plataforma
comum e de uma liderança clara e firme, em virtude da situação do próprio país.
O imperialismo, por sua própria natureza, tudo fazia para impedir a criação das
indústrias de base e a capitalização de recursos internos essenciais ao
fortalecimento da independência. Provocava, ao contrário, distorções na economia
nacional e acentuava as desigualdades regionais. Explorava desenfreadamente a
classe operária e as massas trabalhadoras. Obtinha lucros anuais duas e três
vezes superiores ao capital investido, praticando verdadeiro saque do produto do
trabalho dos brasileiros. Cobrava juros extorsivos pelos seus empréstimos, para os
quais exigia garantias absurdas. Com a finalidade de preservar seus interesses,
exercia cada vez maior influência na política dos governantes e se imiscuía na vida
interna do país. Devido a isso o Brasil foi arrastado à I Guerra Mundial. Patriotas
como Eduardo Prado, Serzedelo Correia, Alfredo Ellis e Alberto Torres advertiram
sobre o perigo da subordinação ao imperialismo. Mas as classes dominantes não
modificaram a sua política. A penetração imperialista concorria para a manutenção
das forças reacionárias internas e favorecia seus interesses de exportadores de
produtos agrícolas e importadores de manufaturados. Os prejuízos da balança
comercial e do balanço de pagamentos, assim como o déficit orçamentário,
onerados por empréstimos externos que vinham desde a Independência, eram
pagos pelo povo, através das emissões inflacionárias, da rebaixa do câmbio, etc.
Em suma, conjugavam-se os interesses da reação interna com os do imperialismo.
Ambos se sustentavam mutuamente.
O Brasil, pouco a pouco, perde sua precária independência. Durante anos esteve
subordinado ao imperialismo inglês. Atualmente, é uma nação dependente dos
Estados Unidos. Essa situação aparece camuflada. Os governantes são brasileiros
e a nação goza de soberania formal. Na realidade, são os monopolistas
estadunidenses e os círculos dirigentes de Washington que exercem o controle
efetivo, direto ou indireto, sobre a economia e as finanças, influem de forma
decisiva na política interna e externa do país. Por sua vez, o sistema latifundiário
torna-se mais obsoleto e prejudicial ao desenvolvimento das forças produtivas e ao
progresso político e social. Em virtude do crescimento demográfico, aumenta a
desigualdade na distribuição da propriedade territorial. Grandes massas
camponesas, sem meios de subsistência, vêem-se marginalizadas. O êxodo rural
avoluma-se engrossando o número dos sem-trabalho nas cidades. O monopólio da
terra aparece mais claramente como um dos maiores flagelos.
A partir dos anos de 1920, as lutas do povo brasileiro atingem maior envergadura e
se orientam mais nitidamente contra as oligarquias retrógradas e por
transformações de cunho democrático. Sucedem-se vários levantes e movimentos
armados, culminando, em 1930, com a derrubada do governo. O movimento
vitorioso desaloja do poder importantes agrupamentos das forças reacionárias e
adota medidas de caráter democrático-burguês. Mas, dirigido pela burguesia em
aliança com setores de latifundiários, não toca no monopólio da terra nem impede
a penetração do imperialismo. Assim, os problemas básicos não são resolvidos.
O povo brasileiro está no pórtico da vitória. Suas forças se multiplicam, suas idéias
se tornam mais claras, seus objetivos ficam mais nítidos. Ao superar as
dificuldades e ao enfrentar a ferocidade de seus algozes, põe à prova seus
predicados de coragem, inteligência e determinação. Sente cada vez mais a
necessidade de união para tornar vitoriosa a sua luta revolucionária. Está decidido,
mais do que nunca, a cumprir a sagrada e urgente tarefa de liquidar o regime dos
generais fascistas e conquistar a verdadeira emancipação nacional. No
sesquicentenário da Independência, brilhantes são as perspectivas de triunfo.