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PRODUÇÃO DE TEXTO
INTRODUÇÃO
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Caderno Seminal Digital Ano 17, nº 16, V. 16 (Jul.- Dez/2011) – ISSN 1806 -9142
Sendo os diferentes diálogos sociais dinâmicos, os enunciados
que os materializam são igualmente dinâmicos e passam, no mínimo,
por uma leitura para cada sujeito envolvido no ato de comunicação.
Trata-se de leituras realizadas pelos sujeitos e de suas
multiplicidades, como afirma Bakhtin (1988), ao tratar do aspecto
responsivo do ouvinte. Qual seja, o sujeito que recebe o enunciado,
ao compreendê-lo na prática do discurso, está em colóquio com as
suas experiências. Neste sentido, é um sujeito plural que dialoga com
o autor.
A capacidade e habilidades de leitura constituem elementos
essenciais para o desenvolvimento do intelecto. Através das ações
circunscritas à leitura, o sujeito realiza uma atividade de
interpretação que lhe leva a elaborar concordâncias ou refutações,
incorporando , ou não, novas idéias em suas práticas cotidianas.
Por este entendimento, um dos pontos principais em torno do
qual repousa a questão do entendimento e interpretabilidade se
localiza na escrita, no registro efetivo das linguagens. Segundo
TODOROV (1982), qualquer sistema semiótico visual espacial pode
ser considerado um sistema de notação de linguagem: mitografia,
logografia, morfemografia.
O homem tem registrado seus comunicados, suas
intencionalidades discursivas através dos tempos, estabelecendo um
diálogo entre um povo buscando ao outro: informa, comunica,
tornam comum diferentes níveis de necessidades. Da sintaxe
construída por imagens, representações de objetos, até chegar ao
registro dos signos verbais, à semiótica complexa como hoje, a
compreensão dessas sintaxes pressupõe o conhecimento do sujeito
sobre a forma de representação utilizada, ou o desejo de entendê-las,
de decifrá-las. (MELO: 2008. p.19)
Por certo que compreender enunciações, implica no
reconhecimento das formas utilizadas para a comunicação, da cultura
e dos valores que a gerou. A afirmação nos remete às práticas
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sociais, seus sistemas, sujeitos que apresentam diferentes níveis de
experiências culturais e leitura de seu entorno, sempre gerando
outros enunciados.
Haver humanos implica em existir discursos, sujeitos a
produzirem discursos e leituras. Em tempos de diversidades
tecnológicas, novos veículos de comunicação e maior precisão nos já
existentes, tornam-se mais perceptíveis às complexidades sociais:
dos indivíduos e dos discursos por eles produzidos. Sendo assim, a
leitura vai além da apreensão maquinal de sentidos, deve atingir ao
entendimento das situações humanas e gerar novas leituras.
De certa forma, pode-se compreender a leitura enquanto
atividade social: lê-se o que está escrito, seja qual for o sistema
representação. Reside na vida em comum a necessidade da leitura:
ler o que é comunicado. Lê-se a fala dos sujeitos-leitores dos
diferentes cenários: ler as linguagens em circulação, dentro das
possibilidades que envolvem as próprias experiências humanas. Toda
comunicação para ser apreendida, portanto, para ser lida, passa por
um saber específico em relação à modalidade da linguagem na qual
se manifeste o objeto da leitura. Assim, o nível de conhecimento
incide no nível de apreensão realizado pelo sujeito.
Em síntese, no contexto onde as linguagens circulam,
desenvolvem-se as transformações, traços de sentidos adicionados
aos já existentes constroem, nas dinâmicas das linguagens em
movimento, novos recortes e valores: cultura em movimento. Os
sistemas conceituais fornecidos pela Semiótica emprestam a este
artigo caminhos possíveis para reflexões sobre pesquisa, ensino e
práticas de leitura.
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convivência com textos, os sujeitos ampliam a percepção sobre a
linguagem e, em consequência, suas ideias sobre o mundo em sua
volta. Todavia, para que isso ocorra, se faz necessário um trabalho
sistemático de interação com os diferentes textos que produzimos.
Neste âmbito que estão situadas as investigações icônicas para as
práticas de leitura.
Em conformidade com a Semiótica de inspiração nos estudos
de Peirce (1839-1914), se formula a Teoria da Iconicidade Verbal
(SIMÕES, 2007-2009). Essa construção teórica se propõe a orientar a
leitura e também a produção de textos, baseando-se nas qualidades
e relações sígnicas, a partir da possibilidade em identificar ícones e
índices (função semiótica) na superfície dos textos.
Uma vez compreendidas as funções semióticas, os sujeitos
estarão preparados para enfrentar leituras de textos simples e
complexos, a partir daí poderão enfrentar os sinais que lhes dão
condições de entender a mensagem do texto.
A Teoria da Iconicidade verbal vem suprir a necessidade
crescente de uma base teórica que observasse o signo em sua
materialidade sonora e visual. O interesse pela materialidade do
signo surge ao se considerar a mediação durante a interação
comunicativa. Seja no nível da oralidade, seja no nível da escrita, a
materialidade do signo se evidencia. Nestes termos, acredita-se na
premissa de que qualquer signo é criado a partir da imagem mental
sobre algo. Essa primeira imagem é um ícone. Ela se torna conhecida
por meio de sua representação de um ícone de segunda, ou
hipoícone, o qual tenta re(a)presentar o objeto pensado a partir de
um sinal material ou gráfico.
Disso é possível deduzir que temos por premissa que o ícone é
fonte primária do signo. A prova disso é encontrada na origem da
comunicação humana, já que as primeiras linguagens humanas se
constituíram a partir das imagens.
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Segundo SIMÕES (1994i - 2009), ―O iconismo da imagem se
assenta em relações de analogia ou similaridade com seu referente
(ideia-objeto representada).‖ Conforme a Semiótica visual, a imagem
é uma manifestação auto-suficiente, une um texto porque comunica
uma mensagem (SIMÕES, id.).
Existem diversas posições teóricas sobre iconicidade. Ocupamo-
nos da iconicidade do signo verbal, na qual se destaca a iconicidade
diagramática. Diferentemente do construto de Saussure, o enfoque
paradigmático e sintagmático no plano semiótico observa as relações
simbólicas possíveis extraídas da superfície textual, as quais servem
de indutores para a interpretação.
Cumpre esclarecer que, nessa perspectiva, não são
consideradas as relações in praesentia o in absentia – tão relevantes
para o estudioso genebrino. Do ponto de vista semiótico aqui
adotado, os signos produzem sua semiose a partir da relação
imediata emergente de sua participação nos textos. Não se devem
desprezar as inferências, ilações, implicaturas etc., mas a produção
do signo interpretador do signo interpretado nasce da
contextualização do signo, já que tudo pode ser signo de tudo (cf.
SIMÕES, 2007, p.42).
Ademais, signo é tudo o que possa ser conhecido, tudo o que
possa ser reconhecido. Todavia, para que um signo potencial possa
funcionar como signo, deve estar relacionado a um objeto, deve ser
interpretado e produzir um interpretante na mente do sujeito
implicado. Este processo interpretativo é denominado semiose. E a
iconicidade focalizada neste artigo é a potencialidade de materializar
nas mentes interpretadoras signos-referência, os quais deflagrem o
processo interpretativo independentemente do código em uso
(SIMÕES ibidem).
Assim sendo, o edificio da Teoria da Iconicidade Verbal tem por
premissas:
1. O signo verbal é uma imagem. (sonora o visual);
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2. A seleção e a combinação produzem a iconicidade textual no
nível diagramático;
3. O projeto comunicativo se baseia na verossimilhança e visa à
eficácia textual;
4. O texto deve ser analisado em seus atributos plásticos;
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contexto da enunciação. A memória dos actantes aparece nos
discursos através do encadeamento de certos elementos que na
enunciação expressam as marcas de espaço, tempo e dos sujeitos
que se situam na enunciação. Cada discurso contém determinantes
para a sua leitura, diretamente implicados aos seus estatutos
discursivos e ao conjunto de signos através dos quais ganham
materialidade.
3 - A LEITURA E O LEITOR
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modalidade textual, o sujeito –leitor é inserido nos mecanismos de
construção e comunicação do conhecimento.
O sujeito – leitor fica diante, sobretudo, de um universo lexical
e dos procedimentos normativos do grupo comunitário profissional e
científico ao qual pertence o discurso produzido, em um contexto
específico. Trata-se, em termos gerais, de reconhecermos diferenças
motivadoras que circundam a elaboração de um texto acadêmico e a
necessidade de haver uma preparação para a realização da leitura.
De maneira geral, o sujeito-leitor , no caso dos graduandos, não
dispõe de ferramentas que o auxiliem a penetrar na leitura.
Em decorrência, em termos exemplificativos, reportamo-nos
aos textos de TCC (Trabalhos de Conclusão de Curso), nos quais é
comum a presença de produção textual cuja intencionalidade seja
apresentar as idéias de determinados autores ou teorias. Muitas
vezes, o que temos é uma distância acentuada entre os conceitos, ou
proposições de pesquisadores, e o que o sujeito – leitor – aluno trás
em seu texto.
O fenômeno identificado mostra um leitor que lê a si próprio no
outro. Narra uma intencionalidade discursiva atribuída a determinado
autor, fato muita vezes cobrado em bancas examinadoras. A
problemática ganha destaque na medida em que, ao entrarmos nas
dimensões do texto científico, saímos do imaginário subjetivo,
alimentado pela poética, para atingirmos a literatura científica e seu
estatuto: comunicação da produção do conhecimento.
A aplicação de elementos da teoria greimasiana como
ferramenta na formulação de um método para as práticas de leitura
da literatura científico- acadêmica tem se revelado eficaz. Dela
destacamos alguns pontos: a concepção da narração sempre
presente nos níveis mais profundos; os papéis actanciais e o percurso
em torno do objeto- valor.
Em primeiro plano, ao se ter à compreensão segunda a qual
toda produção textual apresenta, independentemente da forma
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manifestada, tem em sua estrutura profunda a intencionalidade
narrativa, permite a formulação de uma primeira base conceitual
sobre a literatura acadêmico-científica e um instrumental para o
sujeito –leitor: o autor tem como intencionalidade contar o
pensamento dele em torno de determinada temática, narrar a idéia e
como chegou a ela e em quais pontos a fundamenta. Neste caso, o
sujeito-leitor deve identificar o caminho elaborado pelo sujeito-autor.
Com relação aos papéis actanciais, temos aí um ponto
fundamental para a leitura do texto científico: a separação entre o
sujeito-leitor e o sujeito – escritor. Separadas essas relações
actanciais, opera-se um fato importante que é a identificação dos
sujeitos com os quais o escritor dialoga para a fundamentação de
suas idéias. Quais os papéis de cada um no contexto do discurso
elaborado? Em relação ás idéias, cumprem o papel de adjuvantes ou
oponentes?
Como define Greimas, no clássico Prefácio à obra de Courtés:
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pelo destinador. Compete ao leitor, em seu papel a de sujeito,
caminhar pelo percurso do outro, do autor e identificar cada as
narrativas auxiliares trazidas no texto que dão forma as idéias do
outro, do destinador. Em posse do percurso realizado pelo outro pode
expressar seu saber e conhecimento e trazer o resultado desta leitura
para a elaboração de outro discurso, outro texto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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edificantes,seja qual for a modalidade textual. Levando-se que as
dinâmicas em aulas de linguagem têm por objetivo a eficácia na
comunicação,implícito está a necessidade de dotar o sujeito de um
saber específico em relação à modalidade da linguagem na qual se
manifeste o objeto da leitura.
Por último, o nível de conhecimento remete ao nível de
apreensão realizado pelo sujeito. A partir das bases conceituais de
Peirce, nasceu a Teoria da Iconicidade Verbal, que vem subsidiando
as aulas de gramática e estilística; no mesmo caminho, a utilização
de recursos inspirados na teoria de Greimas, temos desenvolvemos
estudos dos processos de enunciação, sujeito e leitura que dão
suporte à leitura e a produção de textos acadêmicos. Além de
otimizar o ensino dos conteúdos linguístico-gramaticais
indispensáveis ao adequado desempenho verbal nas instâncias
públicas (a norma culta), estamos conseguindo formar sujeitos
leitores plurais.
REFERÊNCIAS :
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TODOROV&DUCROT. Dicionário das. C. da Linguagem. Lisboa:
Publicações Dom Quixote, 1982.
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