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Didática e Prática de Ensino na relação com a Escola

ABORDAGEM TEMÁTICA E EXPERIMENTAÇÃO NA EDUCAÇÃO DE


JOVENS E ADULTOS

Rosemar Ayres dos Santos


Universidade Federal da Fronteira Sul

Resumo
O presente trabalho é de cunho qualitativo, o qual discute proposta de uma prática
educativa onde buscou-se desenvolver atividades experimentais articuladas à
perspectiva da abordagem temática, tendo como pano de fundo os pressupostos do
educador brasileiro Paulo Freire. A atividade foi desenvolvida com 29 estudantes
de duas turmas da Educação de Jovens e Adultos, consistiu na elaboração e
desenvolvimento de experimentos pelos estudantes, distribuídos em 10 grupos. Com o
objetivo de permitir que os estudantes desenvolvessem experimentos relacionados à sua
realidade, que os envolvesse, contribuindo para a compreensão dos conceitos científicos
necessários para o entendimento do tema trabalhado. Na tentativa de responder
ao questionamento: a autonomia do estudante na construção do seu conhecimento
realmente favorece a sua aprendizagem e a sua capacidade de criticidade? Estes tiveram
total autonomia na escolha do experimento, com a condição de que estivesse vinculado
ao tema que estava sendo trabalhado em aula. Ao final da atividade, um questionário foi
respondido pelos estudantes. A partir da análise das respostas, pode-se perceber que a
atividade experimental despertou interesse e curiosidade nos estudantes, aproximando-
se da categoria curiosidade epistemológica defendida por Freire, fazendo-os ir além
do mero cumprimento de uma atividade solicitada pelo professor, estimulando-os a
pesquisar sobre os conceitos articulados nas atividades. Também, a partir da realização
das atividades e resposta do questionário, há indicativos que os estudantes tornaram-se
mais problematizadores, mais críticos e autônomos na construção do seu conhecimento,
tornando-se capazes de ter um posicionamento fundamentado na defesa de suas ideias,
aumentando sua capacidade de tomada de decisão.
Palavras-chave: Abordagem Temática, EJA, Experimentação.

O contexto
A partir do ano de 2012, passou a ser implementada pela Secretaria de Educação
(SEDUC/RS), nas Escolas Estaduais, na Educação de Jovens e Adultos (EJA), uma
proposta educacional fundamentada nos pressupostos de Paulo Freire, segundo o qual
estrutura-se o currículo com base em temas, objetivando proporcionar ao estudante uma
compreensão do mundo que o cerca de forma menos fragmentada. Nesta proposta, a
carga horária de todas as disciplinas é equivalente e o programa de conteúdos a serem
trabalhados nas modalidades da EJA não mais será preestabelecido, o estudante tem a
oportunidade de participar da construção do conhecimento. A ideia não é formá-lo ou
prepará-lo para a vida, mas permitir que ele seja o construtor de sua identidade pessoal e
profissional, no contexto social no qual está inserido.
A abordagem temática é uma “perspectiva curricular cuja lógica de organização
é estruturada com base em temas, com os quais são selecionados os conteúdos de

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ensino das disciplinas. Nessa abordagem, a conceituação científica da programação é
subordinada ao tema” (DELIZOICOV, ANGOTTI, PERNAMBUCO, 2002, p. 186). O
conteúdo científico é trabalhado em função do tema, não podendo ocorrer o inverso.
Neste sentido, buscou-se aliar a abordagem temática com atividades
experimentais conduzidas de forma investigativa, na perspectiva de desenvolver a
autonomia, posicionamento e pensamento críticos, buscando promover a capacidade de
tomada de decisão dos estudantes. Além disto, atividades experimentais investigativas
possibilitam ao docente promover o interesse dos estudantes com situações
problematizadoras (BATISTA, FUSINATO e BLINI, 2009).
É importante salientar que os estudantes possuem, em sua maioria, dificuldades
em relacionar a teoria observada em sala com a realidade a sua volta. Entende-se que
este problema pode ser amenizado por meio da condução de atividades experimentais
na escola. Muitas vezes, para compreender a teoria é preciso experiênciá-la, superando a
concepção de mera memorização de informações, de conceitos.
As atividades experimentais favorecem o desenvolvimento de competências em
Física, como manusear, operar, agir em diferentes formas e níveis, conforme destacam
os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Contudo, as atividades experimentais
não precisam ficar restritas a laboratórios ou seguir roteiros fechados (BRASIL, 2002).
Assim, na atividade abordada neste trabalho, foram os estudantes os autores
das questões experimentais a serem respondidas, bem como os agentes de busca
pela resposta destas questões. Em outras palavras, tiveram uma participação ativa no
desenvolvimento das atividades.

O caminho da pesquisa
Este trabalho resulta de uma investigação relacionada ao desenvolvimento
da proposta de abordagem temática fundamentada nos pressupostos freirianos, na
disciplina de Física, com um total de 29 estudantes, em 02 turmas, modalidades 7 e
9 da EJA, que correspondem ao 1º e 3º ano do Ensino Médio, respectivamente, em
uma escola pública, no RS. Objetivando permitir que os estudantes desenvolvessem
experimentos relacionados à sua realidade, contribuindo para a compreensão dos
conceitos científicos necessários para o entendimento do tema trabalhado. No intuito

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de responder ao questionamento: a autonomia do estudante na construção do seu
conhecimento realmente favorece a sua aprendizagem e a sua capacidade de criticidade?
Neste contexto, o eixo articulador dos temas desenvolvidos em ambas as
modalidades foi Energia. Na modalidade 7, o tema trabalhado estava relacionado
à “produção”, distribuição e “consumo” de energia elétrica e na modalidade 9 às
mudanças climáticas. Desta forma, foi solicitado aos estudantes que desenvolvessem
experimentos relacionados ao tema estudado em aula, particularmente à energia.
Foram formados grupos de estudantes, tendo cada grupo liberdade para escolher o
experimento, ficando com o compromisso de propor o desenvolvimento do mesmo,
ou seja, a atividade experimental seria de total autoria de cada grupo. Estes deveriam
produzir material escrito com justificativa, descrição da atividade, referencial teórico e
os resultados, além de desenvolver, em data preestabelecida, a atividade experimental
em sala de aula, explicando-a aos colegas.
Em algumas aulas os estudantes puderam acessar a internet, no laboratório de
informática da escola, para realizarem pesquisas e tiveram acesso, também, a livros
didáticos da biblioteca da escola. Por fim, todos responderam a um questionário com
quatro questões sobre a experiência pessoal de realizar algo de forma autônoma.

Análise e discussão
Inicialmente, a ideia de desenvolver um experimento causou estranheza na
maioria dos estudantes, por ser: “[...] novidade nas aulas” (E12), “[...] uma maneira
diferente de aprender” (E29). É preciso lembrar que os estudantes estão habituados a
apenas observar, ou seja, o professor realiza o experimento e eles observam ou, quando
participam da atividade tratam-se de experimentos já programados, que deveriam seguir
tais passos e chegar a determinado resultado, se alguém encontrasse resultado diferente,
significava que o procedimento foi realizado de forma incorreta.
Isso remete ao que Freire (2009b, p. 66) denominou de educação bancária,
“em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os
depósitos, guardá-los e arquivá-los”. Nesta concepção de educação não há criatividade,
não há saber, não há transformação, nega o conhecimento e a educação como processos
de busca, de construção. O professor, aquele que sabe, deposita nos estudantes, os

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que nada sabem. Contrapondo essa visão de educação, a educação libertadora, que
promove o diálogo e a problematização, é transformadora. Neste sentido, os estudantes
foram percebendo que eles fazem parte do processo de construção do conhecimento e
consideraram que: “[...] é mais interessante aprender assim” (E12). “[...] vimos coisas
novas, coisas que nós poderíamos nunca ter visto” (E22).
As atividades desenvolvidas incentivaram a ir mais além, “[...] me fez pesquisar
e correr atrás e tentar fazer a mesma experiência, aprendi que o Sol é condutor, nem
imaginava sem essas pesquisas” (E19). “[...] tive curiosidade e fiz pesquisas” (E20).
E, a prática da pesquisa, da busca, da indagação crítica, auxilia na aprendizagem,
quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender mais se desenvolve a
“curiosidade epistemológica”, “o saber de pura experiência feito” (FREIRE, 2009a,
p. 29) e os estudantes destacaram que o desenvolvimento das atividades despertou
sua curiosidade, curiosidade que estimula o querer aprender, a capacidade criadora do
estudante, como se pode notar: [...] são aulas diferentes e desperta a curiosidade (E5).
[...] desperta a curiosidade (E20). [...] desperta a curiosidade [...] (E27).
Nesta perspectiva, a atividade foi desenvolvida de maneira dialógico-
problematizadora, onde todos puderam dizer a sua palavra, um diálogo de forma
horizontal e a prática que foi aprovada pelos estudantes: “[...] a gente demonstra o
trabalho em grupo e discute sobre a matéria, é muito bom” (E17).
Esse modo de desenvolver a atividade, com os estudantes se sentindo sujeitos
do processo educativo, fez com todos se envolvessem, pesquisando, perguntando,
investigando, indo atrás de sanar suas dúvidas e poder discutir de forma fundamentada
seus experimentos: “[...] as discussões são sempre boas para a prática, tanto que até os
bagunceiros estavam à vontade em estar ali apresentando a experiência” (E19).
A articulação entre teoria e prática foi, também, um aspecto mencionado pelos
estudantes, em que eles sinalizam a importância desta relação e o interesse que surge a
partir dela, conforme mostram os trechos a seguir: [...] desperta muito mais a atenção
porque física é muito mais interessante na prática que na teoria (E8). [...] despertam o
interesse, porque saímos da aula teórica e passamos para a prática (E21).
O desafio de buscar desenvolver o interesse dos estudantes pelas aulas de
Física foi alcançado: Deixa a aula mais interessante (E2). [...] as aulas ficam mais

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interessantes e divertidas (E7). [...] despertou o interesse em todo mundo (E13). [...] faz
o aluno querer ter mais conhecimento sobre a física (E28).
A partir destas colocações perceber-se que os estudantes passaram a se interessar
mais pelas aulas, o que pode decorrer, em parte, do fato de serem aulas que envolvem
uma dinâmica diferenciada, já que as atividades experimentais não se configuram em
rotina na formação destes sujeitos. Por outro lado, os estudantes passaram a se sentir
sujeitos do conhecimento, autores do seu processo de aprendizagem, o que contribui
para que eles se sintam mais motivados e interessados nas aulas.

Considerações finais
O objetivo do desenvolvimento da pesquisa foi alcançado, evidenciando que
essa práxis – ação-reflexão – favorece de forma significativa a aprendizagem. Foi
possível perceber que, a dinâmica de elaboração de atividades experimentais pelos
estudantes favorece o interesse, a curiosidade dos estudantes, além de desenvolver
a autonomia dos mesmos, considerando que eles foram estimulados a pesquisar por
conta própria, foram instigados a buscar pelo conhecimento que era necessário para o
entendimento da atividade que optaram por propor aos colegas.
É importante enfatizar que as atividades experimentais desenvolvem também o
hábito de questionar, de criar hipóteses, de obter e analisar resultados, permitindo criar
uma inter-relação do conhecimento aprendido com a vivência deste estudante.

REFERÊNCIAS
BATISTA, M. C.; FUSINATO, P. A.; BLINI, R. B. Reflexões sobre a importância
da experimentação no ensino de física. In: Acta Scientiarum. Human and Social
Sciences. Maringá, v. 31, n. 1, p. 43-49, 2009.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação Média e
Tecnológica. PCN+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos
Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências da Natureza, Matemática, e suas
Tecnologias. Brasília: MEC/Semtec. 2002. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/
seb/arquivos/pdf/CienciasNatureza.pdf >. Acesso em: 02 de mar. 2011.
DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências:
fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Ed.
Especial. São Paulo: Paz e Terra, 2009a.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 48º reimp. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009b.

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