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O Sujeito no Mundo Contemporâneo e a Escuta Psicanalítica

Por Célio Pinheiro

O Sujeito contemporâneo é fugidio, efêmero, passante, rápido, eufórico,


melancólico, por vezes depressivo, consumista, muitos são excluídos, outros tantos
entediados com a inclusão. Quer ‘ser feliz’ mas não tem ideias confusas sobre isso. É
constituído pelas relações interpessoais e pelas formas atuais da Cultura. O que pensa em
sua solidão? O que é a Cultura em que o sujeito contemporâneo está inserido?

Além das boas realizações, da capacidade de amar e fazer o bem, também


somos marcados por angústia, temos que enfrentar os revezes da vida, sofremos perdas
importantes, reclamamos que algo nos falta, usamos a linguagem para tentar nomear
nosso mal estar e estamos na busca de algo que diga que somos “felizes”.

Mas nunca encontramos esse “algo”. Acreditando neste encontro, acabamos


enfeitiçados pelos objetos, constituído pelo mundo das mercadorias que prometem um
prazer que nos livraria da angústia.

O Professor Michel de Souza da UFSCAR, diz que “a sociedade de consumo


propicia uma fauna e uma flora de objetos e prazeres inimagináveis, mas também produz
o esquecimento e a alienação sobre nossas próprias vidas. (...) as pessoas vivem vidas
que não escolheram, se aferram a valores, crenças e modos de ser e pensar sem nunca
refletirem sobre eles ou sobre suas escolhas. Os indivíduos não sabem o que querem e
também não sabem o que sentem. Eles se comportam “de forma irrefletida”, apenas vivem
para consumir, sem pensar no que consideram ser seu objetivo de vida. Eles ignoram o
que realmente buscam, o que são, o que desejam, o que é relevante ou irrelevante para
suas vidas. Viver na sociedade do consumo é viver num mundo atemporal e do
esquecimento.”

As fórmulas milagrosas são armadilhas perigosas! Elas prometem curar o


Sujeito daquilo que é incurável: a subjetividade, o pensamento, as palavras, os afetos, o
fato de que a vida não é tão ordenada, de que a morte existe mesmo e precisamos do
recolhimento do luto para o psiquismo se reorganizar. Querem roubar de nós o direito à
tristeza!

A beleza da vida não se encontra no marasmo, ela não é uma linha reta sem
desafios, sem perdas... Ao contrário, a Vida é desafio, envolve enfrentamentos,
superações, construções de sentidos, alegrias, momentos de intenso prazer e momentos
de fazer lutos por perdas. O incrível é que quanto mais acreditamos na tal felicidade plena,
mais somos infelizes, angustiados, doentes, e acabamos fazendo uso impensado das
drogas que se oferecem, numa tentativa (por vezes desesperada) de apaziguar o caos ou
a sensação de vazio. E o pior: parece que tudo que se contrapõe à tal felicidade, logo vira
doença!

Na Clínica, escuto sujeitos derrotados por não conseguirem entender estas


questões, por estarem distantes do ideal de felicidade que lhes é exigido. Escuto sujeitos
inibidos em sua ação, sem vontade, sem perspectivas, sem futuro. Sujeitos que sofrem o
drama de não conseguirem ter um Psiquismo sustentado em pilares firmes, sujeitos cuja
identidade vacila a cada curva da vida. Escuto sujeitos empapuçados de drogas, objetos e
crenças... Escuto sujeitos vivendo numa constante ameaça de serem esquecidos,
substituídos, trocados, anulados. Escuto Sujeitos para quem a crise das relações é uma
das marcas do nosso tempo. O outro deixou de ocupar o lugar do sagrado, foi coisificado,
tanto quanto ele próprio. Escuto Sujeitos sem palavras, com dificuldade de construir
memória, estamos perdemos a dimensão de que o humano é um ser histórico e que essa
dimensão é fundamental para que o psiquismo se referencie.

O recurso à palavra, ao poder imenso do falar de si, de conseguir, através das


palavras e de uma escuta, um acesso a outras verdades, deveria ser mais experimentado
pelo Sujeito contemporâneo. O trabalho no silêncio que possibilita a escuta de si, pode
conduzir este Sujeito a uma (re)construção de sua subjetividade, de um mundo interno
mais possível...

A Fala e a Escuta propiciam um modo menos sofrido de lidar com a dor de


existir, expressão utilizada pelo Psicanalista Jacques Lacan. Ajudam a transformar o
sofrimento da angústia em força criativa, a apaziguar o Desejo insaciável, a realizar (viver)
o possível, a melhorar a relação com corpo, a tornar possível as relações humanas com
menos ódio e agressividade e com mais Amor... Depois disso, quem sabe poderemos
voltar a falar sobre essa história de “ser feliz”. Antes não.

Hoje a Depressão e uma miríade de outras patologias assombram o Sujeito


que se vê na iminência sempre angustiante de ser capturado por algum diagnóstico a lhe
indicar alguma insanidade, caindo nas garras dos discursos especializados em vender a
doença e a saúde nas suas mais variadas fórmulas.

A Psicanálise ainda resiste numa concepção de Sujeito que leva em conta o


caráter simbólico, as tradições, a família, os laços, a constituição, a Cultura, o parentesco
e principalmente o Inconsciente e a Linguagem como organizadores do mundo psíquico. E
é nesta via que continua vendo o horizonte se alongando e persiste na aposta ‘salvadora’
para o Sujeito contemporâneo. A Clínica da Psicanálise ainda atesta a eficácia da Escuta.

A Psicanalista Maria Rita Kehl afirma que hoje estão aparecendo nos
consultórios aqueles Sujeitos que já tentaram por todas as outras vias curar suas dores
psíquicas. Estes “se queixam, com sinceridade, não suportar mais a desafetação e o
automatismo de seu funcionamento “normal”... (...) Já não suportam o vazio e a
insignificância de seu “bem estar”. (...) ...o bem-estar não é a cura, porque curar-se
significa ser capaz de sofrer, de tolerar o sofrimento. Estar curado, desse ponto de vista,
não é simplesmente ser feliz, é ser livre”.

Curar um sujeito não deveria ser simplesmente restabelecer a sensação de


bem estar ou a exclusão de sintomas. Mas uma fala que o libertasse da incapacidade
criativa e pudesse restabelecer sua potência criadora. Para isso seria preciso não tratá-lo
como deficitário e entender a inibição como processo estrutural e não como patologia
naturalizada.

Diante da falta de sentido para a vida, tão presente nos discursos da clínica
contemporânea, a Psicanálise mostra que o processo da fala e escuta se oferecem como
possibilidade de produzir uma compreensão de si. A partir daí poderá surgir a coragem tão
necessária à vida, a coragem (e a satisfação) de desejar, realizar, agir.

Célio Pinheiro

CRP 08/0578

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