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26 Fevereiro 2008

Eliseu Martins

Uma entrevista com Eliseu Martins sobre a nova lei de Contabilidade Internacional

"País está mais bem preparado para a mudança"


Valor Econômico - 26/2/2008

O professor Eliseu Martins está preocupado. Ao receber o Valor, não aguentou esperar as
perguntas começarem. Saiu logo dizendo que as reportagens sobre a nova lei contábil
mostram que os profissionais consultados, no geral, estão muito mal informados. E o que é
ainda pior: são pessoas, em sua grande maioria, que atuam em grandes instituições e
empresas. A celeuma toda é sobre o tamanho do impacto tributário - um trauma não só
para as empresas, mas para os contadores. O Fisco tem um longo histórico de
interferência na contabilidade, o que acabou desviando os nossos balanços da tendência
de harmonização contábil internacional.

Agora, o ambiente é muito mais receptivo, acredita Martins. A adoção pela União
Européia dos chamados padrões internacionais de demonstrações financeiras (IFRS, na
sigla em inglês) e os recentes avanços nas discussões com os Estados Unidos deram peso
ao tema.

Nesse contexto, o governo, e em especial a Receita Federal, estariam mais receptivos a


resolver as questões em conjunto. Dono de uma experiência que poucos tiveram a chance
de acumular, o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e
Financeiras (Fipecafi) e da Faculdade de Economia, Contabilidade e Administração
(FEA) da USP, ex-diretor do Banco Central e ex-diretor da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), continua à frente das mudanças contábeis do país. É vice-coordenador
técnico do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Leia a seguir trechos da
entrevista:

Valor: O sr. acha que o país perdeu com a demora na aprovação da nova lei contábil?
Eliseu Martins: É claro que se tivéssemos começado lá atrás estaríamos numa situação
melhor. Mas também não fico lamentando. Acredito que ainda está em tempo. Podíamos
ter feito um trabalho com mais calma, de melhor qualidade e treinado melhor as pessoas,
mas não acho que foi um desastre. Hoje, estamos todos mais maduros do que estávamos
em 2000, quando o projeto de lei foi mandado para o legislativo. Na época, não tinha nem
o acordo da União Européia [2002], que obrigava a publicação pelo IFRS em 2005. Nós
éramos considerados meio malucos. O ambiente para aceitação, por parte das empresas,
da implementação das normas é completamente diferente do que era em 2000. Então, por
esse lado, houve uma melhora no ambiente empresarial. Tanto que hoje não se vê ninguém
reclamando.

Valor: Toda essa confusão para entender a lei não traz receio de que possa haver erros na
aplicação?
Martins: Vou responder essa com a experiência de quem participou da aplicação da Lei
das Sociedades Anônimas, lá em 1976. Levou pelo menos uns cinco anos para as coisas
começarem a ser feitas do jeito que deveriam. Então, não pense que vai sair a lei e no fim
do ano vai estar tudo certo. É um processo que não muda. Desde os europeus. Lá os
balanços também não saíram todos certos em 2005. Teve muita gente acertando balanço
depois.

Valor: Como treinar e preparar todas as pessoas envolvidas com as mudanças contábeis?
Martins: Estamos procurando produzir o máximo de material possível. A CVM tem um
projeto de educação. Além disso, o CPC está pleiteando um financiamento junto ao Banco
Mundial (Bird). Eles já financiaram Chile, Costa Rica, entre outros, para incentivar no
treinamento e educação. Buscamos de US$ 1,5 milhão a US$ 2,0 milhões. Mas é preciso
vencer questões burocráticas antes. O CPC é um comitê e não possui personalidade
jurídica própria. É preciso ver qual dos membros vai pegar o dinheiro. Mas já estão sendo
formadas equipes de trabalho, com alunos de mestrado e doutorado. A Vale do Rio Doce e
a Gerdau deram dinheiro voluntariamente para esse projeto: R$ 100 mil cada uma.

Valor: A lei tem impacto fiscal?


Martins: Olha, eu não posso falar pela Receita Federal, está certo? Mas a idéia, quando o
projeto nasceu, era que não houvesse impacto tributário. Nem para cima, nem para baixo.
O ideal é que haja um posicionamento oficial. Mas o que eu posso dizer é que nunca antes
a Receita teve um envolvimento tão grande com o tema.

Valor: Quando o projeto de lei foi ao Senado, já estava claro que as companhias fechadas
de grande porte não teriam que publicar balanço, pois o artigo 289, que previa a
divulgação, caiu ainda na Câmara. Mas após a sanção presidencial esse debate
recomeçou. O sr. acha a discussão pertinente ?
Martins: Eu acho. Não tenho dúvida. Ficou um negócio perneta. A empresa tem que fazer
de acordo com a regra, seguir uma auditoria do mais alto nível, que é dos auditores
registrados na CVM, e guardar o balanço na gaveta. Dá para perceber que tem algo que
não está lógico. Na hora de montar a lei, ninguém se preocupou em colocar tudo num
único parágrafo: tem que fazer, auditar e publicar. Colocaram a regra de fazer e auditar
em um artigo e a de publicar, em outro. Aí, tiraram o artigo que obrigava a divulgação e
deixaram o outro. A questão é um entrave ao desenvolvimento do mercado acionário. Tem
muita empresa que não abre o capital porque não quer expor os números à concorrência
fechada. Mas se todos publicassem balanço acabava a discussão.

Valor: Parece que há um outro projeto sendo feito sobre isso...


Martins: Isso. Tem. Ouvi dizer também. Mas não sei de quem e nem que pé estaria. Mas
seria algo para tapar esse buraco.

Valor: Na questão da reavaliação de ativos para baixa contábil ["impairment"], como a


empresa decide o que precisa ser reavaliado?
Martins: Quando a empresa vai bem e produz lucro não tem que pensar em fazer teste de
impairment. Se a companhia dá lucro é porque está sendo capaz de recuperar o valor do
ativo. Mas é possível que haja problema em um produto ou uma linha específica. A
empresa tem monte de possíveis luzinhas amarelas para seguir. Só vai ter teste para baixa
contábil quando essas luzinhas estão acendendo. A companhia tem que olhar o painel.

Valor: Mas é uma decisão livre da própria empresa?


Martins: Sim. Ela tem que ter esse olhar geral.

Valor: E o laudo usado pelas companhias para essa reavaliação não é um instrumento
subjetivo?
Martins: Os testes não são laudos no sentido de serem contratados por terceiros. A própria
empresa pode fazer. Além disso, ao contrário dos outros laudos, esse tem que ser auditado.
E isso é uma diferença enorme. O auditor vai verificar, inclusive, as premissas, os cálculos
e, consequentemente, todas as conclusões. Também é importante dizer que a figura do
impairment, em teoria contábil, é coisa de mais de dois séculos atrás. O ativo se não for
capaz de ter o saldo contábil recuperado ou pela venda ou pelo uso, tem que ser baixado.
É regra antiqüíssima. As boas e grandes companhias já faziam isso, apesar de no Brasil
existir um problema de falta de norma até a recente resolução da CVM e CPC.

Valor: Por conta da falta de normas para essa questão, nós temos muito esqueleto no
armário?
Martins: Não. Por causa da tributação e de controladores interessados em pagar menos
impostos, sempre se depreciou e baixou tudo o que era permitido e o mais rápido possível.
Se desse para reduzir imposto, os controladores faziam. Não ficavam guardando esqueleto
no armário.

Valor: O sr. acha que a regra que obriga a marcação por valor de mercado de
instrumentos financeiros ativos e passivos pode trazer volatilidade ao balanço de
empresas?
Martins: Essa é uma regra que já existe para bancos e seguradoras. E não houve grande
volatilidade nos balanços dessas instituições, comparado aos patrimônios. Não será nas
empresas não financeiras que estarão os problemas. A volatilidade no lucro e patrimônio
pode existir forte nos lucros de bancos e seguradoras. Foi por isso que a Europa optou por
não seguir integralmente essa regra do IFRS, o IAS 39. Eles [europeus] seriam os grandes
afetados, pois aplicam em derivativos muito mais do que os nossos bancos. Além disso,
empresa não financeira para apresentar volatilidade é preciso ter muito caixa aplicado em
derivativos, que são instáveis. São casos poucos. Aqui, a CVM já declarou que vai usar
primeiro a regra do Banco Central, que hoje atende aos bancos, para as demais
companhias abertas. Só depois de alguns anos é que passará a normatizar a questão
aproximando-a da norma estrangeira (IAS 39). (GV e NN)

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