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C O NS T RU IN D O N OVA S P ON T ES
No ápice do debate sobre como será o retorno às aulas e os dias finais de iso-
lamento social devido à pandemia do novo coronavírus no Brasil e no mundo,
muito tem sido feito para manter as notas dos alunos, o conteúdo das provas e o
ciclo escolar, fatores que têm tirado o sono de líderes da educação, professores e
famílias.
Que esses aspectos são importantes, não há discussão. Contudo, assim como
já vínhamos defendendo antes dessa crise, acreditamos que a escola também
é responsável por atentar para a saúde mental de seus alunos e colaboradores.
Inclusive, em uma pesquisa feita com as mais de 300 escolas parceiras do LIV
pelo Brasil, o tema da saúde mental foi o que mais apareceu! Agora, mais do que
nunca, abordar esse assunto se torna necessário.
Importante destacar que este não é um material teórico, tampouco almeja esgo-
tar o tema. Este ebook faz parte de uma conversa iniciada nos dias 28 e 29 de
maio, durante o Congresso LIV Virtual 2020 do Laboratório Inteligência de Vida,
que pela primeira vez foi realizado de maneira gratuita e 100% online. Nosso ob-
jetivo aqui é dar continuidade aos debates que foram iniciados nessa oportunida-
de, trazendo ao leitor alguns depoimentos e referências para continuar a reflexão.
Para quem deseja saber mais sobre saúde mental e outros temas que envolvem a
educação no atual contexto, disponibilizamos todos os vídeos do congresso.
PARTE 1
A SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES 4
PA RT E 2
A S A ÚD E M E N TA L DA S FA MÍ LI A S 10
PARTE 3
A SAÚDE MENTAL DOS ESTUDANTES 15
PARTE 1
A SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES
Desde abril de 2020, a parede da casa de Paulla Passos Guedes Casal se
tornou sua audiência diária. Morando em Recife (PE), ela enfrenta, assim como
milhares de professoras e professores em todo o Brasil, um dos momentos mais
inimagináveis de sua vida docente.
Para educadores de diferentes regiões do Brasil com quem conversamos por telefone
nas últimas semanas, o sentimento de estar distante do chão da escola é semelhante.
“É uma situação muito complicada para todos. A criatividade tem que ajudar”, conta
Maria Zélia Alencar de Andrade, coordenadora e psicopedagoga do Colégio Metropolitano
(Fametro), de Manaus (AM). Para a quarentena, ela se mudou para a casa da filha, de
onde acompanha as aulas virtuais oferecidas aos alunos da instituição, iniciadas em
março. “É muito trabalho, mas através de parcerias estamos conseguindo fazer um bom
atendimento”, conta.
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NOVO C E N Á R IO, V E L HO S D ESA F I OS
Celisângela - Professora LIV do Fametro É para não perder ainda mais esse senso de
comunidade durante o isolamento social que
as escolas vêm buscando criar novos cenários
de aula e maneiras inovadoras de apoiar seus
alunos, diante da inviabilidade de “recriar” o que
havia antes e da necessidade de optar por ações
excepcionais para um momento excepcional.
“Está sendo diferente para mim como acredito
que seja para eles. Eu tento mostrar agora que,
mesmo pela internet, a gente pode fazer trocas
e falar como cada um está se sentindo”, conta
Naile Costa Amate, professora de LIV no Colégio
Francilene - Professora LIV do Fametro
Bom Pastor, em São Luís (MA).
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Além do desafio emocional de vivenciar o isolamento social, Naile também
precisou enfrentar uma nova maneira de se ver como profissional. “Eu voltei de
licença maternidade na semana em que foram anunciadas as aulas virtuais.
Eu tive que rever meus alunos, de quem já estava morrendo de saudades, pela
internet”. Em um misto de saudades e medo, ela temeu como seria essa volta.
“Eu me questionei muito sobre como seria. Eu conhecia a maioria dos alunos do
ano passado, mas alguns eram novos na turma. Eu fiquei muito apreensiva, sem
saber como seria esse primeiro contato”.
“Está sendo diferente para mim como acredito que seja para eles.
Eu tento mostrar agora que, mesmo pela internet, a gente pode
fazer trocas e falar como cada um está se sentindo”.
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FORÇ A PA RA A M UDA N Ç A
Para quem estava acostumado com a sala de aula cheia todos os dias, a saudade
da turma aperta a cada aula virtual e um novo desafio aparece na rotina docente:
como oferecer apoio socioemocional sem vê-los? Para quem leciona aos alunos
mais velhos, como Renato Augusto Fontanelli, da escola São Francisco de Assis,
de Palmas (TO), é preciso um jogo de cintura especial para convencer os alunos
a ligarem as câmeras. “Como a gente teve um período de férias após o anúncio
do isolamento, no começo eu demonstrei meu sentimento de saudade dizendo
que sentia falta deles e pedi que ligassem as câmeras. Mas em todas as aulas a
gente precisa ficar pedindo para eles aparecerem, ao menos enquanto falam, para
dar uma sensação de presença”, aponta o professor.
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Criado pelo psicólogo e escritor Daniel Goleman, o termo inteligência emocional
define nossa capacidade de identificar os próprios sentimentos e das pessoas
a nossa volta, de nos motivarmos e de ter em conta as emoções dentro de nós
e em nossos relacionamentos, demonstrando autoconsciência, autodomínio,
consciência social e gestão das relações.
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TIRANDO DE LETRA A AULA VIRTUAL
No nosso dia a dia, conversando com professores LIV por todo o Brasil,
perguntamos quais estratégias eles estão usando e recomendam a outros
educadores para reduzir a ansiedade antes e durante as aulas virtuais.
Confira a seguir algumas das respostas que recebemos:
Busque um tutorial da ferramenta virtual que será usada para a aula. Afinal,
ninguém nasceu sabendo tudo! Outros professores e até os alunos podem ajudar.
Não tenha vergonha de pedir ajuda.
Livros e caixas podem funcionar de apoio para o celular, assim você evita imagens
tremidas ou tortas.
Busque uma boa iluminação para melhorar sua imagem na câmera. Se não houver
luz natural, faça alguns testes com um abajur ou uma lanterna.
A internet caiu? Não se desespere. Lembre-se de tomar nota do ponto onde parou
para fazer um breve apanhado do tema quando o sinal voltar e não perder o fluxo
da aula.
Para alunos que não gostam de ligar a câmera, uma estratégia recomendada é
convidá-los a aparecer ao menos durante a chamada ou quando estão fazendo ou
respondendo a uma pergunta, por exemplo.
Tente não se deixar abalar pela presença de pais ou gestores nas salas virtuais. É
perfeitamente natural que todos estejam curiosos com a nova dinâmica e queiram
participar. Procure enxergar a possibilidades de novos vínculos entre a família e a
escola que podem ocorrer dessa experiência.
PARTE 2
A SAÚDE MENTAL DAS FAMÍLIAS
A atual pandemia e o consequente distanciamento social estão delineando novos
cenários que afetam a todos. Contudo, a maneira como esse contexto se traduz
na realidade de cada família e de cada indivíduo é completamente distinta. Há
famílias, por exemplo, que estão enfrentando uma situação nova de trabalho
home office e de maior convivência dentro de casa, enquanto outras enfrentam a
realidade de sair às ruas para atuar em serviços essenciais ou estão lidando com
dificuldades após perder o trabalho ou um ente querido.
Essa questão fica mais evidente quando falamos sobre a saúde mental dos
alunos e suas famílias, seja durante a fase de aulas virtuais ou no retorno às
aulas presenciais após o fim do isolamento social. Segundo afirmou educador
e idealizador do LIV, Caio Lo Bianco, durante o Congresso LIV Virtual, as escolas
precisam se preparar para acolher seus alunos e funcionários, mas não apenas a
eles, também as suas famílias:
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UM NOVO F O R MATO D E V IDA FA MILIA R
Na conversa, ele observou que as novas relações causadas pelo impacto da vida
profissional na vida íntima podem “tirar algumas famílias do armário”:
“A gente vai ter que assumir o que a gente é dentro de casa, integrar
nossas identidades. As pessoas tinham o sossego do escritório, mas em
casa se veem com as demandas da família, sem esse espaço privado.
Isso é, ao primeiro momento, muito embaraçoso para todos, mas significa
uma oportunidade para experimentar na quarentena a fusão dessas
identidades, mostrar para a empresa quem a gente é em casa e mostrar
aos filhos essa nossa identidade profissional. A princípio essa relação
está confundindo as pessoas, mas tende a se normalizar, porque é isso
que vamos ter pelos próximos meses”.
O fato é que, para além da fusão entre profissional e pessoal, todos os familiares
estão descobrindo novidades sobre seus laços próximos: pais descobrem que
filhos passam o dia todo no quarto, filhos descobrem que pais podem ser bem
mais pacientes do que jamais foram com eles, esposas e esposos verão também
novas camadas uns dos outros, e isso tem repercussões nas emoções e nas
relações, e assim por diante.
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NA MEDI DA D O P O S S Í V E L
Para manter a saúde mental das famílias em bom estado, é preciso enxergar a
fase de isolamento com base no que é possível – e não no que seria ideal. Ainda
de acordo com Alexandre, “é importante ter uma noção clara de que a gente só
opera no possível. Não precisa sair da quarentena falando três línguas, se tornan-
do especialista em yoga, meditação transcendental, etc. Conseguir cuidar da vida
e se preparar para o que está vindo, já está ótimo”.
Essa abordagem ficou bastante evidente durante o Congresso LIV Virtual 2020
quando também tivemos a oportunidade de escutar mães e pais com filhos em
idade escolar contarem sobre como está sendo a realidade em suas casas. Uma
das convidadas, a atriz e mãe de alunos LIV, Taís Araújo, destacou como o apren-
dizado socioemocional que seus dois filhos recebem na escola onde estudam
está contribuindo para superar o cenário atual:
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IM PAC TO S D O IS O L A M E NTO NO SOCIOEMOCIONA L
Não são raros os relatos de pessoas que cobram de si muito desempenho, mas
sofrem com a dificuldade de encontrar “normalidade” nas ações do cotidiano ou
com o acúmulo de tarefas profissionais e pessoais. “É uma época de se acostu-
mar aos poucos a essas demandas, colocar o corpo em uma nova frequência”,
disse Alexandre Coimbra em sua live no Instagram do LIV.
Para o responsável ter sua saúde mental em dia, ele também precisa saber que
seu filho ou filha está resguardado emocionalmente. De acordo com Alexandre,
isso tem a ver com a disponibilidade que a gente oferta para a criança ou o ado-
lescente ter suas angústias acolhidas. “A gente não tem respostas de como será
o futuro depois da pandemia e nossa conexão com a criança não é ter resposta
para dar, mas sim acolher. As crianças têm uma capacidade sensorial que nem
sempre passa pela palavra. Elas sentem, mas não conseguem traduzir. Isso vira
choro, impaciência, acordar demais durante a noite e até pedidos para dormir
com os pais”, esclarece.
“Por exemplo, morre uma pessoa. A única coisa que o adulto consegue
conversar é sobre o direito da criança de sentir saudades, de se deixar
chorar, mas não resolver o sentimento no sentido de trazer a pessoa de
volta. Na quarentena é semelhante. Você não vai ter como dizer para a
criança como vai ser a aula, como vão estar professores e colegas de
turma ou quando ela vai poder visitar os avós ou outros parentes. A gente
não tem resposta para nada disso. O que podemos dar nesse momento é
conexão, dizendo eu ‘estou triste também’, ‘eu estou com raiva também’,
‘tudo bem sentir medo’. Quando a criança está chorando e vem no seu
colo e você ajuda, mas às vezes você também precisa chorar. Se esse for
o caso, aproveita e embarca nisso. Chora junto, pede para o filho dar um
abraço. Isso pode ser um momento de profunda conexão e de beleza até
no meio dessa quarentena”.
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As crianças, como os adultos, estão incertas, inseguras e exigindo muito de si e
das pessoas em volta. Por isso, Alexandre recomendou que, após ter uma reação
não compatível com o amor e o cuidado com a criança nesse momento, o adulto
pode tentar fazer uma reparação emocional. “Conversar, explicar o que houve,
pedir desculpa, pedir ajuda para sair da raiva. Assim as crianças nos salvam de
nós mesmos. Quem tem criança em casa tem esse privilégio de ter alguém que
te tira da realidade dos boletos, das tarefas domésticas e te leva para um lugar de
fantasia”, completou em sua fala.
De fato, é um momento duro e ninguém escolheu passar por ele, bem como não
temos escolha de quando poderemos voltar a nossas relações presenciais. Pode-
mos, entretanto, fazer o que está ao nosso alcance e ficar atentos, dentro de nos-
sas possibilidades, ao que esse momento nos apresenta enquanto oportunidade.
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PARTE 3
A SAÚDE MENTAL DOS ESTUDANTES
É muito delicado falar sobre a realidade dos estudantes quando sabemos
que cada um está inserido em um contexto social e familiar distinto, que irá
influenciar enormemente a maneira como enfrentam a situação de isolamento.
Algumas crianças e adolescentes podem enxergar essa fase com mais leveza,
como se fosse um longo recesso escolar, enquanto outros podem ficar mais
ansiosos ou amedrontados, por exemplo. O mais provável é que demonstrem
uma enxurrada de emoções e sentimentos distintos ao mesmo tempo – pois
somos todos humanos, afinal, e é assim que reagimos quando a realidade dos
fatos fogem ao controle.
Para aqueles que já vinham atentando para esses aspectos, o momento pode
ser de fortalecer vínculos e exercitar outros olhares para cada estudante. A
abertura conquistada no início do ano letivo dificilmente irá se perder se houver
encaminhamento com a turma. Além disso, alguns alunos terão mais autonomia,
enquanto outros precisarão de mais acompanhamento, o que exige um olhar ao
que é próprio de cada aluno e de cada relação.
Para contribuir com o trabalho das escolas, o LIV vem produzindo diversos
materiais digitais e tentado oferecer conteúdo de qualidade através das redes
sociais. Para as escolas parceiras do programa, por exemplo, foram formuladas
novas atividades, entendendo que a aula de LIV pode ser um espaço de escuta
e expressão de sentimentos – inclusive os desagradáveis – bem como um
momento para lembrar que havia uma vida antes e continuará havendo uma vida
depois desse fato.
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O material foi pensado para servir na descompressão das tensões
potencializadas pela pandemia e pelo distanciamento social, visando não romper
a conexão emocional que os docentes já vinham construindo com seus alunos.
Assim, as aulas a distância, como as presenciais, são baseadas na ideia de
convite e não de obrigatoriedade. Os professores possuem total liberdade para
alterar o material e fazer as adaptações que melhor se adequarem à realidade da
sua turma, bem como aos eventos e as emoções que estiverem sendo pauta nas
relações naquele momento. Os alunos, por sua vez, podem trazer temas do seu
interesse e expressarem-se livremente.
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CO MO IN ICI A R UMA A BOR DAG EM A D I STÂ NCIA
É necessário deixar claro para a família que, ainda que o professor possa precisar
dela para operacionalizar o momento de aula, ele continua sendo o professor,
presente e disponível para atender os alunos.
Dar informações sobre cada atividade para o aluno é primordial. Para as crianças
maiores e os adolescentes, o diálogo pode ser mais direto. Já com as crianças
menores, é necessário garantir que a família tenha conhecimento de todas as
propostas.
Essas abordagens são novas para todos. Acolha certo nível de ansiedade e use
das relações: peça dicas, sugestões e críticas de colegas. Troque sempre que
possível!
No LIV repetimos com frequência que não escolhemos o que sentimos mas
escolhemos, porém, o que fazemos com o que sentimos. Tal qual dissemos acima,
não escolhemos também passar por essa situação, e tampouco parece estar ao
nosso alcance escolhermos quando sairemos dela. Podemos, entretanto, tendo
avaliado nossas possibilidades, escolher o que faremos com ela.
S OB RE O L IV
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