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EBOOK LIV

A saúde mental da comunidade


escolar em tempos de pandemia

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C O NS T RU IN D O N OVA S P ON T ES

No ápice do debate sobre como será o retorno às aulas e os dias finais de iso-
lamento social devido à pandemia do novo coronavírus no Brasil e no mundo,
muito tem sido feito para manter as notas dos alunos, o conteúdo das provas e o
ciclo escolar, fatores que têm tirado o sono de líderes da educação, professores e
famílias.

Que esses aspectos são importantes, não há discussão. Contudo, assim como
já vínhamos defendendo antes dessa crise, acreditamos que a escola também
é responsável por atentar para a saúde mental de seus alunos e colaboradores.
Inclusive, em uma pesquisa feita com as mais de 300 escolas parceiras do LIV
pelo Brasil, o tema da saúde mental foi o que mais apareceu! Agora, mais do que
nunca, abordar esse assunto se torna necessário.

Para compartilhar nossos pensamentos e levantar ideias para esse momento,


reunimos aqui um conteúdo inédito voltado a refletir sobre o autocuidado, a
saúde mental e a empatia no contexto de isolamento social, buscando entender
como esses aspectos impactam também a comunidade escolar.

Visando otimizar a leitura, dividimos o material em três partes, sendo a primeira


dedicada a falar da saúde mental dos educadores a partir de entrevistas que re-
alizamos com professores e coordenadores parceiros do programa LIV em dife-
rentes regiões. A segunda parte é voltada para a saúde mental de famílias e um
terceiro capítulo é direcionado ao debate sobre a saúde mental dos estudantes.

Importante destacar que este não é um material teórico, tampouco almeja esgo-
tar o tema. Este ebook faz parte de uma conversa iniciada nos dias 28 e 29 de
maio, durante o Congresso LIV Virtual 2020 do Laboratório Inteligência de Vida,
que pela primeira vez foi realizado de maneira gratuita e 100% online. Nosso ob-
jetivo aqui é dar continuidade aos debates que foram iniciados nessa oportunida-
de, trazendo ao leitor alguns depoimentos e referências para continuar a reflexão.
Para quem deseja saber mais sobre saúde mental e outros temas que envolvem a
educação no atual contexto, disponibilizamos todos os vídeos do congresso.

Você pode assistir a qualquer momento clicando aqui.


ÍND ICE

PARTE 1
A SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES 4

PA RT E 2
A S A ÚD E M E N TA L DA S FA MÍ LI A S 10

PARTE 3
A SAÚDE MENTAL DOS ESTUDANTES 15
PARTE 1
A SAÚDE MENTAL DOS PROFESSORES
Desde abril de 2020, a parede da casa de Paulla Passos Guedes Casal se
tornou sua audiência diária. Morando em Recife (PE), ela enfrenta, assim como
milhares de professoras e professores em todo o Brasil, um dos momentos mais
inimagináveis de sua vida docente.

Após um período de férias emergenciais entre


março e abril, as aulas no Colégio Formação
Integral, onde Paulla leciona, foram retomadas
pela internet com os docentes se adaptando
a novas ferramentas e horários, para além da
distância física de seus alunos. “É tão estranho
não ver ninguém que cheguei a colocar um
boneco desses que usamos nas aulas de
Biologia para poder olhar para ele enquanto faço
meus vídeos”, conta.

Embora dê risada ao lembrar a cena da


gravação, Paulla diz que nem sempre é fácil se
animar, e vem buscando apoio em “pequenas
coisas do cotidiano” para equilibrar a saúde
mental. “Não tem como achar que está normal.
A gente toma um baque quando vê as notícias.
Têm dias que não estou bem, eu boto para fora,
choro mesmo. Mas eu também vejo muitas
coisas em paralelo, como música e lives de
humor. Estou desfrutando mais do marido, da
minha filha, fazendo chamadas de vídeo com
amigos... Quando a gente estava no ritmo
frenético da correria, com trânsito todo dia, a
gente ficava muito ansioso. Agora eu estou
achando um barato ser juíza do meu tempo”.
Paulla - Professora LIV do Colégio de Formação Integral

Para educadores de diferentes regiões do Brasil com quem conversamos por telefone
nas últimas semanas, o sentimento de estar distante do chão da escola é semelhante.
“É uma situação muito complicada para todos. A criatividade tem que ajudar”, conta
Maria Zélia Alencar de Andrade, coordenadora e psicopedagoga do Colégio Metropolitano
(Fametro), de Manaus (AM). Para a quarentena, ela se mudou para a casa da filha, de
onde acompanha as aulas virtuais oferecidas aos alunos da instituição, iniciadas em
março. “É muito trabalho, mas através de parcerias estamos conseguindo fazer um bom
atendimento”, conta.

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NOVO C E N Á R IO, V E L HO S D ESA F I OS

Com o isolamento social decretado pela pandemia, as escolas públicas e


privadas vêm lutando para atender seus alunos e famílias virtualmente, e cenas
como essa se repetem em diversas casas. Nesse cenário, os professores se
veem diante de novas – e velhas – cobranças: famílias com medo de ver seus
filhos “perderem o ano letivo”; cobrança por parte de seus gestores; ansiedade em
como conciliar as tarefas da vida pessoal com o trabalho; e falta de autonomia,
dentre outras.

O professor nunca foi o centro do saber, mas na contemporaneidade o seu papel


de mediação e facilitação do aprendizado nunca foi tão imperativo, com isso,
a pressão e as críticas se tornaram maiores e mais severas, pois conteúdos
chegam aos estudantes por fontes diversas e variadas. Com os avanços
tecnológicos, o professor vem perdendo cada vez mais status e reconhecimento,
o que faz com que sofra de uma ansiedade produzida pela incerteza social,
política e institucional. Antes da pandemia, já vínhamos apontando para um
esgotamento emocional da categoria”, explica Paloma Bastos, pedagoga e
consultora pedagógica do LIV.

Paloma destaca que isso também está


relacionado ao fato de que a escola vem
absorvendo cada vez mais responsabilidades,
como a inclusão das necessidades especiais,
o apoio às famílias, o desenvolvimento
explícito e sistematizado das competências
socioemocionais, o apoio e proteção às
diferenças, além de fazer mediação cada vez
maior de conflitos, sejam eles tecnológicos,
geracionais ou institucionais.

Celisângela - Professora LIV do Fametro É para não perder ainda mais esse senso de
comunidade durante o isolamento social que
as escolas vêm buscando criar novos cenários
de aula e maneiras inovadoras de apoiar seus
alunos, diante da inviabilidade de “recriar” o que
havia antes e da necessidade de optar por ações
excepcionais para um momento excepcional.
“Está sendo diferente para mim como acredito
que seja para eles. Eu tento mostrar agora que,
mesmo pela internet, a gente pode fazer trocas
e falar como cada um está se sentindo”, conta
Naile Costa Amate, professora de LIV no Colégio
Francilene - Professora LIV do Fametro
Bom Pastor, em São Luís (MA).

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Além do desafio emocional de vivenciar o isolamento social, Naile também
precisou enfrentar uma nova maneira de se ver como profissional. “Eu voltei de
licença maternidade na semana em que foram anunciadas as aulas virtuais.
Eu tive que rever meus alunos, de quem já estava morrendo de saudades, pela
internet”. Em um misto de saudades e medo, ela temeu como seria essa volta.
“Eu me questionei muito sobre como seria. Eu conhecia a maioria dos alunos do
ano passado, mas alguns eram novos na turma. Eu fiquei muito apreensiva, sem
saber como seria esse primeiro contato”.

Após muita reflexão, a professora recomeçou as atividades buscando relembrar


elos já estabelecidos na sala de aula física. “Eu busquei aproximar o máximo
o que eu faço online com minhas aulas presenciais. Por exemplo, eu sempre
comecei as aulas com músicas, procurando algo que eles gostam e que pudesse
levar a reflexão. No espaço online, retomei essa dinâmica”.

“Está sendo diferente para mim como acredito que seja para eles.
Eu tento mostrar agora que, mesmo pela internet, a gente pode
fazer trocas e falar como cada um está se sentindo”.

Naile Costa Amate, professora de LIV no Colégio O Bom Pastor.

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FORÇ A PA RA A M UDA N Ç A

Para quem estava acostumado com a sala de aula cheia todos os dias, a saudade
da turma aperta a cada aula virtual e um novo desafio aparece na rotina docente:
como oferecer apoio socioemocional sem vê-los? Para quem leciona aos alunos
mais velhos, como Renato Augusto Fontanelli, da escola São Francisco de Assis,
de Palmas (TO), é preciso um jogo de cintura especial para convencer os alunos
a ligarem as câmeras. “Como a gente teve um período de férias após o anúncio
do isolamento, no começo eu demonstrei meu sentimento de saudade dizendo
que sentia falta deles e pedi que ligassem as câmeras. Mas em todas as aulas a
gente precisa ficar pedindo para eles aparecerem, ao menos enquanto falam, para
dar uma sensação de presença”, aponta o professor.

Em 2019, Renato participou de uma pós-


graduação em ensino híbrido e conta que, na
época, questionava-se, assim como outros
colegas, sobre a necessidade de tantas
ferramentas virtuais no contexto escolar.
“A gente até se questionava, perguntando
quando iria usar isso. E veio a pandemia, o
isolamento, e estamos colocando em prática
esses novos métodos. Nesse ponto, a gente
percebe que o adiantamento da escola em
debater o assunto acabou ajudando. Os
professores que receberam esse apoio estão
mais seguros para essa nova dinâmica. Isso
ajudou a gente a mudar a mentalidade. O
ensino híbrido está fazendo toda a diferença.
Sem isso, talvez a gente não desse conta
e ia ficar apenas enviando atividade para
Renato - Professor LIV da escola casa para os alunos fazerem a distância”,
São Francisco de Assis completa.

Mudança de mentalidade é, aliás, um dos caminhos recomendados para


enfrentar situações inesperadas como a que estamos vivendo. De acordo com
a International Society of Applied Emotional Intelligence (ISAEI), manter uma
atitude positiva e realista mesmo nos momentos mais difíceis e motivar-se a si
próprio a dar continuidade a metas pessoais, sendo capaz de criar energia interna
para prosseguir, é uma das características da inteligência emocional, necessária
tanto no cotidiano de “normalidades” quanto em situações inesperadas como
uma pandemia.

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Criado pelo psicólogo e escritor Daniel Goleman, o termo inteligência emocional
define nossa capacidade de identificar os próprios sentimentos e das pessoas
a nossa volta, de nos motivarmos e de ter em conta as emoções dentro de nós
e em nossos relacionamentos, demonstrando autoconsciência, autodomínio,
consciência social e gestão das relações.

Embora a teoria pareça distante, colocar-se no lugar do próximo, ter consciência


emocional e buscar uma mentalidade de crescimento são atitudes necessárias
em momentos difíceis. “Cada um tem a sua medida de saúde e capacidade de
autogestão. Não existe um padrão, muito menos um ideal. Mas será que existe
espaço para buscarmos um olhar mais cuidadoso e carinhoso com a saúde do
professor? A mudança nasce do nosso desejo de mudar, dar os primeiros passos,
mesmo que pequenos. Os ideais nos distanciam das pequenas conquistas”,
defende Paloma, e completa: “Como defende [o educador português] José
Pacheco, a escola não é um edifício, são as pessoas. Ou seja, embora as aulas
virtuais pareçam vazias, não estamos sozinhos. Cada escola é uma rede e uma
comunidade”.

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TIRANDO DE LETRA A AULA VIRTUAL
No nosso dia a dia, conversando com professores LIV por todo o Brasil,
perguntamos quais estratégias eles estão usando e recomendam a outros
educadores para reduzir a ansiedade antes e durante as aulas virtuais.
Confira a seguir algumas das respostas que recebemos:

Procure fazer uma comunicação adequadamente honesta aos alunos da


condição em que as aulas se darão, poderá haver ruído, a conexão pode cair ou
falhar, o vídeo pode travar, e, diante desses potenciais entraves, haverá retorno,
comunicação e posterior tentativa de solução para garantir as aulas.

Busque um tutorial da ferramenta virtual que será usada para a aula. Afinal,
ninguém nasceu sabendo tudo! Outros professores e até os alunos podem ajudar.
Não tenha vergonha de pedir ajuda.

Use microfones e fones de ouvido para reduzir os ruídos durante as aulas.

Livros e caixas podem funcionar de apoio para o celular, assim você evita imagens
tremidas ou tortas.

Busque uma boa iluminação para melhorar sua imagem na câmera. Se não houver
luz natural, faça alguns testes com um abajur ou uma lanterna.

A internet caiu? Não se desespere. Lembre-se de tomar nota do ponto onde parou
para fazer um breve apanhado do tema quando o sinal voltar e não perder o fluxo
da aula.

Para alunos que não gostam de ligar a câmera, uma estratégia recomendada é
convidá-los a aparecer ao menos durante a chamada ou quando estão fazendo ou
respondendo a uma pergunta, por exemplo.

Tente não se deixar abalar pela presença de pais ou gestores nas salas virtuais. É
perfeitamente natural que todos estejam curiosos com a nova dinâmica e queiram
participar. Procure enxergar a possibilidades de novos vínculos entre a família e a
escola que podem ocorrer dessa experiência.
PARTE 2
A SAÚDE MENTAL DAS FAMÍLIAS
A atual pandemia e o consequente distanciamento social estão delineando novos
cenários que afetam a todos. Contudo, a maneira como esse contexto se traduz
na realidade de cada família e de cada indivíduo é completamente distinta. Há
famílias, por exemplo, que estão enfrentando uma situação nova de trabalho
home office e de maior convivência dentro de casa, enquanto outras enfrentam a
realidade de sair às ruas para atuar em serviços essenciais ou estão lidando com
dificuldades após perder o trabalho ou um ente querido.

Apesar de não vivenciarmos as mesmas narrativas, temos sentimentos similares


diante dos eventos que acontecem em nossa vida. Ou seja, em algum momento,
todos nós sentimos medo, dor, ansiedade e angústia, assim como vivenciamos
sentimentos de alegria, amor, gratidão, esperança e tantos outros. O que muda é
a maneira como lidamos com eles.

Essa questão fica mais evidente quando falamos sobre a saúde mental dos
alunos e suas famílias, seja durante a fase de aulas virtuais ou no retorno às
aulas presenciais após o fim do isolamento social. Segundo afirmou educador
e idealizador do LIV, Caio Lo Bianco, durante o Congresso LIV Virtual, as escolas
precisam se preparar para acolher seus alunos e funcionários, mas não apenas a
eles, também as suas famílias:

“É importante pensar que o alguém acolhido na escola não é só o aluno.


São os professores, funcionários e respectivas famílias também. Por isso,
é preciso olhar para a comunidade como um todo, sabendo que esse
alguém que a gente está acolhendo é único. São pessoas que passaram
por questões completamente diversas na quarentena”.

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UM NOVO F O R MATO D E V IDA FA MILIA R

As mudanças na vida familiar e o impacto na saúde mental de crianças,


adolescentes e seus responsáveis vêm sendo um tema muito comentado em
nossas redes sociais e, por essa razão, o temos abordado sempre que possível
em nossas publicações. Em uma das lives realizadas pelo LIV no Instagram, por
exemplo, o psicólogo convidado Alexandre Coimbra falou sobre isso e destacou,
especialmente, as mudanças causadas pela intersecção do trabalho no âmbito
familiar.

Na conversa, ele observou que as novas relações causadas pelo impacto da vida
profissional na vida íntima podem “tirar algumas famílias do armário”:

“A gente vai ter que assumir o que a gente é dentro de casa, integrar
nossas identidades. As pessoas tinham o sossego do escritório, mas em
casa se veem com as demandas da família, sem esse espaço privado.
Isso é, ao primeiro momento, muito embaraçoso para todos, mas significa
uma oportunidade para experimentar na quarentena a fusão dessas
identidades, mostrar para a empresa quem a gente é em casa e mostrar
aos filhos essa nossa identidade profissional. A princípio essa relação
está confundindo as pessoas, mas tende a se normalizar, porque é isso
que vamos ter pelos próximos meses”.

O fato é que, para além da fusão entre profissional e pessoal, todos os familiares
estão descobrindo novidades sobre seus laços próximos: pais descobrem que
filhos passam o dia todo no quarto, filhos descobrem que pais podem ser bem
mais pacientes do que jamais foram com eles, esposas e esposos verão também
novas camadas uns dos outros, e isso tem repercussões nas emoções e nas
relações, e assim por diante.

Nessa mesma conversa, Alexandre falou com o público sobre os impactos do


trabalho no emocional familiar e defendeu a integração das personalidades como
um caminho de se reinventar as relações:

“Os filhos ainda não estão absolutamente conscientes dessas fronteiras


e vão acabar entrando no escritório, ou até brigando enquanto estamos
em uma reunião. Que a gente possa levar a experiência desse tempo para
nossos locais de trabalho, para a gente ir construindo acordos possíveis
para os ambientes conciliarem essas identidades”.

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NA MEDI DA D O P O S S Í V E L

Para manter a saúde mental das famílias em bom estado, é preciso enxergar a
fase de isolamento com base no que é possível – e não no que seria ideal. Ainda
de acordo com Alexandre, “é importante ter uma noção clara de que a gente só
opera no possível. Não precisa sair da quarentena falando três línguas, se tornan-
do especialista em yoga, meditação transcendental, etc. Conseguir cuidar da vida
e se preparar para o que está vindo, já está ótimo”.

Essa abordagem ficou bastante evidente durante o Congresso LIV Virtual 2020
quando também tivemos a oportunidade de escutar mães e pais com filhos em
idade escolar contarem sobre como está sendo a realidade em suas casas. Uma
das convidadas, a atriz e mãe de alunos LIV, Taís Araújo, destacou como o apren-
dizado socioemocional que seus dois filhos recebem na escola onde estudam
está contribuindo para superar o cenário atual:

“Estamos tentando encontrar equilíbrio entre as relações em um momen-


to difícil e de excesso: de convivência, de saudade, da falta de ir para o
trabalho... São muitos excessos e muita falta. São tantas dualidades que
pensamos: ‘o sentimento não entra em quarentena’. A gente está tendo
que lidar e muitas vezes não tem esse equilíbrio, e exacerba com as crian-
ças, com o companheiro, com a gente mesmo [...] Ou eu respiro e tento
deixar o mais leve possível ou vai ficar insustentável”.

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IM PAC TO S D O IS O L A M E NTO NO SOCIOEMOCIONA L

Os muitos entraves nas relações familiares vivenciados até o momento podem


ser, na maioria dos casos, reflexo de hábitos e condicionamentos da vida antes
do isolamento. E isso tende a se modificar conforme as pessoas tentam se adap-
tar – ao menos é o que o contexto parece nos demandar e, ao mesmo tempo, nos
oferecer enquanto oportunidade.

Não são raros os relatos de pessoas que cobram de si muito desempenho, mas
sofrem com a dificuldade de encontrar “normalidade” nas ações do cotidiano ou
com o acúmulo de tarefas profissionais e pessoais. “É uma época de se acostu-
mar aos poucos a essas demandas, colocar o corpo em uma nova frequência”,
disse Alexandre Coimbra em sua live no Instagram do LIV.

Para o responsável ter sua saúde mental em dia, ele também precisa saber que
seu filho ou filha está resguardado emocionalmente. De acordo com Alexandre,
isso tem a ver com a disponibilidade que a gente oferta para a criança ou o ado-
lescente ter suas angústias acolhidas. “A gente não tem respostas de como será
o futuro depois da pandemia e nossa conexão com a criança não é ter resposta
para dar, mas sim acolher. As crianças têm uma capacidade sensorial que nem
sempre passa pela palavra. Elas sentem, mas não conseguem traduzir. Isso vira
choro, impaciência, acordar demais durante a noite e até pedidos para dormir
com os pais”, esclarece.

Segundo o especialista, oferecer conexão emocional à criança ou ao adolescente


nessa fase requer corregulação emocional:

“Por exemplo, morre uma pessoa. A única coisa que o adulto consegue
conversar é sobre o direito da criança de sentir saudades, de se deixar
chorar, mas não resolver o sentimento no sentido de trazer a pessoa de
volta. Na quarentena é semelhante. Você não vai ter como dizer para a
criança como vai ser a aula, como vão estar professores e colegas de
turma ou quando ela vai poder visitar os avós ou outros parentes. A gente
não tem resposta para nada disso. O que podemos dar nesse momento é
conexão, dizendo eu ‘estou triste também’, ‘eu estou com raiva também’,
‘tudo bem sentir medo’. Quando a criança está chorando e vem no seu
colo e você ajuda, mas às vezes você também precisa chorar. Se esse for
o caso, aproveita e embarca nisso. Chora junto, pede para o filho dar um
abraço. Isso pode ser um momento de profunda conexão e de beleza até
no meio dessa quarentena”.

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As crianças, como os adultos, estão incertas, inseguras e exigindo muito de si e
das pessoas em volta. Por isso, Alexandre recomendou que, após ter uma reação
não compatível com o amor e o cuidado com a criança nesse momento, o adulto
pode tentar fazer uma reparação emocional. “Conversar, explicar o que houve,
pedir desculpa, pedir ajuda para sair da raiva. Assim as crianças nos salvam de
nós mesmos. Quem tem criança em casa tem esse privilégio de ter alguém que
te tira da realidade dos boletos, das tarefas domésticas e te leva para um lugar de
fantasia”, completou em sua fala.

De fato, é um momento duro e ninguém escolheu passar por ele, bem como não
temos escolha de quando poderemos voltar a nossas relações presenciais. Pode-
mos, entretanto, fazer o que está ao nosso alcance e ficar atentos, dentro de nos-
sas possibilidades, ao que esse momento nos apresenta enquanto oportunidade.

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PARTE 3
A SAÚDE MENTAL DOS ESTUDANTES
É muito delicado falar sobre a realidade dos estudantes quando sabemos
que cada um está inserido em um contexto social e familiar distinto, que irá
influenciar enormemente a maneira como enfrentam a situação de isolamento.
Algumas crianças e adolescentes podem enxergar essa fase com mais leveza,
como se fosse um longo recesso escolar, enquanto outros podem ficar mais
ansiosos ou amedrontados, por exemplo. O mais provável é que demonstrem
uma enxurrada de emoções e sentimentos distintos ao mesmo tempo – pois
somos todos humanos, afinal, e é assim que reagimos quando a realidade dos
fatos fogem ao controle.

Embora tenham impactos diferentes para cada estudante, há muitas


possibilidades nesse momento para oferecer suporte à saúde mental e incentivá-
los em suas habilidades socioemocionais. Para aqueles que nunca vivenciaram
essa abertura com seus alunos, isso pode soar como uma dificuldade, mas
também pode ser um momento de demonstrar preocupação genuína e abrir uma
porta de aproximação, ainda que a distância.

Para aqueles que já vinham atentando para esses aspectos, o momento pode
ser de fortalecer vínculos e exercitar outros olhares para cada estudante. A
abertura conquistada no início do ano letivo dificilmente irá se perder se houver
encaminhamento com a turma. Além disso, alguns alunos terão mais autonomia,
enquanto outros precisarão de mais acompanhamento, o que exige um olhar ao
que é próprio de cada aluno e de cada relação.

É importante salientar que as relações constituídas antes desse momento


seguirão vigentes, por isso é necessário que professores troquem suas
percepções a respeito dos mesmos alunos. Diferentes perspectivas, muitas
vezes, tem a ver com diferentes tipos de vínculo. Cada vínculo nos oferece um
conjunto de possibilidades e de restrições. A troca nos oferta uma percepção
mais ampla e maior capacidade para ajudar cada indivíduo nesse momento tão
complexo.

Para contribuir com o trabalho das escolas, o LIV vem produzindo diversos
materiais digitais e tentado oferecer conteúdo de qualidade através das redes
sociais. Para as escolas parceiras do programa, por exemplo, foram formuladas
novas atividades, entendendo que a aula de LIV pode ser um espaço de escuta
e expressão de sentimentos – inclusive os desagradáveis – bem como um
momento para lembrar que havia uma vida antes e continuará havendo uma vida
depois desse fato.

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O material foi pensado para servir na descompressão das tensões
potencializadas pela pandemia e pelo distanciamento social, visando não romper
a conexão emocional que os docentes já vinham construindo com seus alunos.
Assim, as aulas a distância, como as presenciais, são baseadas na ideia de
convite e não de obrigatoriedade. Os professores possuem total liberdade para
alterar o material e fazer as adaptações que melhor se adequarem à realidade da
sua turma, bem como aos eventos e as emoções que estiverem sendo pauta nas
relações naquele momento. Os alunos, por sua vez, podem trazer temas do seu
interesse e expressarem-se livremente.

Embora seja preciso lidar com todas as imprevisibilidades de uma aula


online, como conexão ruim ou até interferências da família ou de gestores,
acreditamos que esse novo cenário apresenta uma chance para experimentar
a tão mencionada aproximação entre escola e família, com tudo que ela traz
de potências e desafios. Nesse sentido, cada aula é única, já que nenhum livro
didático ou apostila poderia dar conta de abordar o que estamos vivenciando.

Para as escolas parceiras do programa, por exemplo, foram


formuladas novas atividades, entendendo que a aula de LIV
pode ser um espaço de escuta e expressão de sentimentos
– inclusive os desagradáveis – bem como um momento
para lembrar de que havia uma vida antes e que continuará
havendo uma vida depois deste fato.

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CO MO IN ICI A R UMA A BOR DAG EM A D I STÂ NCIA

Tendo refletido sobre os pontos acima, elaboramos algumas sugestões para


professores que podem contribuir na abordagem geral com os estudantes,
visando preservar sua saúde mental. Vale ressaltar que cada ponto deve ser
colocado dentro da realidade de cada aluno. Confira:

Confie na sua relação com os alunos e as famílias.

Não acredite em “óbvios” e não rotule o estudante. Nesse sentido, o professor


precisa demonstrar frequentemente que está interessado em acompanhar seu
aluno nesse processo.

No caso da Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental, é


preciso ter em mente que a forma de acessar as crianças pequenas será através
das famílias. Essa relação é crucial para que esse processo possa acontecer.
Encantá-las e motivá-las para participar é bem importante.

É necessário deixar claro para a família que, ainda que o professor possa precisar
dela para operacionalizar o momento de aula, ele continua sendo o professor,
presente e disponível para atender os alunos.

Sempre que possível, a escola pode auxiliar as famílias de maneira orientadora,


sugerindo rotinas, construção de ambientes para a aula e horários.

Dar informações sobre cada atividade para o aluno é primordial. Para as crianças
maiores e os adolescentes, o diálogo pode ser mais direto. Já com as crianças
menores, é necessário garantir que a família tenha conhecimento de todas as
propostas.

Ainda nesse sentido, o professor pode, dentro do possível, ter um momento de


comunicação direta com o aluno: é importante que ele saiba que, por mais que a
família esteja operacionalizando a rotina, o professor ainda está ali para ele. Para
isso, vale, por exemplo, gravar um vídeo ou áudio de celular falando diretamente
com eles e enviar através dos canais de contato. Deixe claro para o aluno que você
está presente e interessado em manter essa relação.

Articule com a coordenação maneiras de dar feedback para as famílias das


atividades realizadas em casa. Por exemplo, a cada semana quando for enviar o
novo material, você pode perguntar para a família como está sendo esse momento,
ou ainda sugerir que a família envie fotos da realização das atividades.
Abra espaço para acolher as dores dos pais, mães e responsáveis para possíveis
dificuldades de manter a rotina de estudos dos filhos, além dos cuidados com a
casa e trabalho.

Essas abordagens são novas para todos. Acolha certo nível de ansiedade e use
das relações: peça dicas, sugestões e críticas de colegas. Troque sempre que
possível!

Professoras e professores, os caminhos são diversos! Usem de muita criatividade.


O importante é vocês darem esse passo inicial de maneira personalizada e cuidar
dessa relação que precisa ser mantida em novos formatos. Lembrem-se sempre,
vocês não estão sozinhos. Potencializem a comunicação com a coordenação e
com equipes de instituições parceiras.

No LIV repetimos com frequência que não escolhemos o que sentimos mas
escolhemos, porém, o que fazemos com o que sentimos. Tal qual dissemos acima,
não escolhemos também passar por essa situação, e tampouco parece estar ao
nosso alcance escolhermos quando sairemos dela. Podemos, entretanto, tendo
avaliado nossas possibilidades, escolher o que faremos com ela.
S OB RE O L IV

O Laboratório Inteligência de Vida (LIV) é o programa educacional que


oferece uma diversidade de ferramentas e materiais para a construção de um
pilar socioemocional pelas escolas que o adotam, tendo como premissa a
perspectiva de que o aluno é muito mais do que um armazenador de informações
e acreditando na escola como lugar de formação de cidadãos e cidadãs,
valorizando suas singularidades e diferenças, compreendidas em um contexto
sociocultural e histórico.

Nesse sentido, buscamos ajudar as escolas a potencializar os espaços


educacionais através do investimento na relação entre alunos, família e
escola com tudo o que ela engloba: aprendizagem, dificuldades, sentimentos,
frustrações e, principalmente, interações com o outro, com valores e ideias
diferentes. Atualmente, o LIV tem parceria com mais de 300 escolas, atingindo
cerca de 250 mil estudantes e famílias da rede privada.

O material tem como inspiração referências de renome da educação e da


psicologia, como Jean Piaget, Lev Vygostky, Edgar Morrin, Paulo Freire, e
outros mais atuais, como Daniel Goleman, Paul Ekman, Carol Dweck e Howard
Gardner, para citar apenas alguns nomes. Amparado em amplas referências, o
programa conta com parceiros que contribuem ano após ano para a ampliação e
atualização de todos os materiais, além de oferecer conteúdo exclusivo em seus
canais nas redes sociais.

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