Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
Orides Mezzaroba
(organizadores)
Petardo
Anuário PET
2006
Florianópolis
2006
© Fundação José Arthur Boiteux – Universidade Federal de Santa Catarina
Ficha Catalográfica
Petardo: Anuário PET 2006/ Ano 1, n. 1 (2006) – Florianópolis: Fundação
Boiteux, 2007 -
ISSN:
CDU: 34
Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071
Endereço UFSC – CCJ – 2º andar – Sala 216
Campus Universitário - Trindade
CEP 88040-900 - Florianópolis - SC - Brasil
Tel/Fax: (48) 3233-0390
E-mail: livraria@funjab.ufsc.br
Site: www.funjab.ufsc.br
Sumário
Apresentação........................................................................................................4
Entrevista.............................................................................................................10
Prof. Arsênio José Carmona Gutiérrez .......................................................... 12
A biopolítica da modernidade
Mileine Luiza Denk ....................................................................................... 37
Petardo –
Apresentação
Decisiva, neste sentido, o apoio editorial da Fundação José Arthur Boiteux, do Centro de
Ciências Jurídicas da UFSC, à qual fica registrado o devido reconhecimento.
Orides Mezzaroba
Tutor do PET 2005/2006
Petardo –
Entrevista com
Prof. Arsênio José Carmona Gutiérrez
O Prof. Dr. Gutierrez leciona atualmente na Universidade Estadual Santa Cruz, Bahia.
Foram entrevistados, além do Prof. Dr. Gutierrez, pelo projeto ENTRE(atos)VISTAS: Prof.
Dr. Friedrich Muller, Prof. Dr. Nilo Batista e Profa. Dra. Vera Malaguti Batista e Prof.
Dr.Luciano Oliveira.
A entrevista foi realizada nos dias 10 e 15 de março. Dois dias? Sim. Nosso entrevistado es-
banjou cordialidade, percebendo que ainda tínhamos várias questões a fazer, ao disponibilizar
mais uma data a estes petulantes. Por isso, exibimos aqui trechos de tal entrevista, nem por
isso mais importantes do que as partes suprimidas. Participaram da entrevista: Adailton Costa,
Alexandre Hubert, Eduardo Granzotto, Mileine Denk, Moisés Soares, Nadieje Pepler.
Entrevista
Rio para Havana. Lá, pós-revolução, foi testemunha ocular dos avan-
ços educacionais, nos quais ele mesmo participou, já universitário,
atuando no projeto de alfabetização nacional. No momento em que
estava cursando psicologia na Universidade de Havana, foi convi-
dado, em virtude de um prêmio concedido pela UNESCO por seu
trabalho sobre o desenvolvimento do pensamento lógico nas crianças,
a estudar em Bucareste, na Romênia. Sua volta a Cuba é provocada
por um convite feito pelo Ministro da Educação para assumir a função
de chefe do Departamento Nacional de Psicologia, visando a refor-
mulação completa do sistema de Psicologia Educacional. O professor
Gutierrez continuou atuando profissionalmente tanto no Ministério
da Educação quanto no da Saúde até sua saída de Cuba.
Além de ter sido Experto da UNESCO e chefe do departamento
nacional de psicologia de Cuba, o Prof. Carmona, como nós o cha-
mamos, foi também professor convidado da fundação de Investi-
gações Marxistas de Madri, da área de ação social de Granada e da
Universidade do Estado de Santa Catarina, sua última estada antes
de partir para a Bahia.
Em vista disso, quando entrevistamos um professor que estava
em Florianópolis como convidado da UDESC, um especialista em
metodologia da ciência e da pesquisa com ampla atuação na área
educacional e da saúde, não esperávamos descobrir nesse senhor de
64 anos essa soma de experiências e conhecimentos.
Para nossa sorte, era exatamente o que procurávamos para esta
entrevista inicial numa publicação que busca novos ares dentro de
um curso não muito afeito a novidades e experiências externas a
leis e códigos.
Deste modo, nada melhor do que entrevistarmos um não-jurista,
educador, marxista, cubano e, acima de tudo, provocador dos velhos
métodos arcaicos e tradicionais da academia, para construir um novo
espaço de discussão e debate e ir além dos discursos legitimadores
e dogmáticos do velho Direito.
Petardo – 13
Entrevista
Petardo – 15
Entrevista
Petardo – 17
Entrevista
outro. São culturas muito bem diferenciadas, que foram reinos inde-
pendentes, que têm uma experiência étnica, uma história, uma série
de valores, mas que, à parte disso, têm uma cultura materializada
em cada cidade. Portanto, os parâmetros curriculares que procura
um estudante de Catalunha, de Andaluzia ou de Galícia podem ser
equiparados enquanto determinados critérios de comparação, só
que o sistema atingiu esse resultado tomando como fonte a cultura
andaluza, a cultura galega, utilizando ao máximo o valor educativo
da própria comunidade. Por quê? Porque existe muito mais cultura
fora da escola do que dentro dela; porque você tem museus, teatros,
arquitetura, história de vida e obras que materializam toda a história
anterior. Agora me diz como isso se aplica em uma escolinha da Barra
do Aririú, que “vive de pegar siri no rio”. O que se vai procurar fora
dali? O máximo que se tem de cultura ali é a própria escola. Por isso,
quando você é um miserável você reclama ser igual, quando você
sai da miséria você reclama ser diferente. Portanto, esse não é um
período para tentar fazer uma direção por métodos de parâmetros
nacionais, pois o Brasil ainda está em fase de ter uma política diretiva
da educação baseada em um sistema de objetivos terminais que por
lei todos os Estados deveriam garantir.
Petardo – 19
Entrevista
Petardo – 21
Entrevista
Petardo – 23
Entrevista
Petardo – 25
Entrevista
PET: Qual lugar deve ser atribuído às primeiras obras de Marx no seu sistema
como um todo? É possível supor, como fez Althusser e outros, uma abordagem
que opõe jovem Marx e velho Marx ou, então, filosofia e ciência?
Prof. Carmona: Essa é uma polêmica eminentemente intelectualística,
pois a filosofia marxista não pode ser fragmentada e muito menos
desvinculada de suas bases sociais. A filosofia marxista não foi uma
teoria especulativa feita para filosofar, por filósofos colocados em
alguma postura contemplativa da realidade, em estilo Hegel ou Kant,
cuja postura primária é uma postura intelectual. A filosofia marxista é
uma produção teórica que vai estar condicionada, a todo o momento,
pelo protagonismo político e social de Marx e de Engels dentro do
desenvolvimento do movimento operário europeu no século XIX. É
por isso e para isso que a filosofia marxista é produzida, tanto nos
aspectos relacionados com o materialismo histórico e materialismo
dialético, quanto na economia política. Sem dúvida que o próprio
Marx vai ter um processo evolutivo de radicalização de suas concep-
ções ao longo desse processo de transformação. Marx é antes de tudo
um marxista. Por esse motivo, ele não tem nenhum tipo de limitação
para negar-se, superar-se e reconsiderar sua produção anterior em
determinados momentos. A filosofia marxista deve ser estudada
como uma estrutura piramidal, ou seja, as obras de vértice são conse-
qüências, mas uma conseqüência superadora, das obras que formam
a base. E, neste sentido, é importante aprofundar um diálogo, entre
o jovem Marx ou, eu diria, o pré-Marx e o Marx propriamente dito.
O que acontece? Nós temos uma turma de intelectuais de café, que
adoram Montparnasse e de discursar sobre Marx. Deve ser, porque
é chique... É uma filosofia um pouco exibicionista por si. E preten-
Petardo – 27
Entrevista
Petardo – 29
Entrevista
PET: A filosofia tem essa função totalizadora. Mas ela também desempenha
essa função na própria produção das idéias, e não só depois do resultado.
Talvez seja até um erro de leitura que nós tenhamos aqui no Brasil, mas é
que para realizar uma unidade entre teoria e prática, a filosofa e a dialética
estão desde o início...
Prof. Carmona: Quando você vai estudar determinado problema, por
exemplo, um problema relacionado com currículo e precisa realizar
uma abordagem do desenvolvimento do processo. Como você vai
identificar a contradição interna que determina esse processo?
Petardo – 31
Entrevista
PET: Nas obras de filosofia marxista sempre se salienta a oposição entre ma-
terialismo e idealismo. No entanto, deixam um pouco de lado a oposição entre
racionalismo e irracionalismo, que é uma oposição bastante atual. O que o
senhor tem a dizer sobre esse antagonismo: racionalismo e irracionalismo?
Prof. Carmona: Olha, a filosofia marxista não toma como unidade
de análise racionalismo e irracionalismo por uma razão muito sim-
ples: porque racionalismo e irracionalismo não configuram um par
de opostos que permite abordar toda a história da filosofia – o que
acontece com o materialismo e o idealismo. Em cada época você
encontra esse confronto entre idealismo e materialismo. A relação
entre racionalismo e irracionalismo está muito mais vinculada com as
produções teóricas, sobretudo a partir de Descartes. Após Descartes,
inicia-se todo um processo no qual o racionalismo está diretamente
centrado no sujeito como sujeito determinado epistemicamente.
Nesse sentido, a relação entre racionalismo e irracionalismo vai
estar mais centrada no papel normatizador e sistematizador do
conhecimento e do método na produção da idéia. Deste modo, o
racional caracteriza-se pelo processo de raciocínio, do geral para o
particular, do particular para o geral ou o raciocínio por analogias.
Na verdade, essas são três formas de raciocínio existentes. Existem
outras formas de produzir conhecimentos que não se estruturam a
Petardo – 33
Entrevista
Petardo – 35
A biopolítica da modernidade
Petardo – 39
A biopolítica da modernidade
Petardo – 41
A biopolítica da modernidade
Petardo – 43
A biopolítica da modernidade
Petardo – 45
A biopolítica da modernidade
Petardo – 47
A biopolítica da modernidade
e dentro dos veículos, que não se urinasse fora dos mictórios, que
não se soltasse pipas” (CARVALHO, 1987, p. 95).
Ou seja, nesse período, o governo procurou modificar hábitos e
modos de viver da população fluminense. A começar pela nova forma
arquitetônica dada à cidade, visto que foram derrubados prédios em
estilo colonial e construídos prédios e boulevards no estilo neoclássico.
Vários hábitos considerados anti-higiênicos foram proibidos. O gover-
no passou a controlar como as pessoas deveriam vestir-se e calçar-se,
como deveriam comportar-se em ambientes públicos, bem como in-
terferiu na construção das moradias. A obrigação da vacina foi apenas
mais um passo para esse controle sobre o corpo da população.
Petardo – 49
A biopolítica da modernidade
Petardo – 51
A biopolítica da modernidade
4. O estado de exceção
O termo alemão Gewalt pode ser traduzido tanto como “violência” ou como “poder”. Res-
salta-se que o termo não deve ser compreendido como força, brutalidade, tal como a sino-
nímia nos apresenta em nossa língua, mas deve ser entendido como “ação”. Logo no início
do ensaio, Benjamin esclarece que uma ação só se transforma em violência/poder quando
interfere em relações morais, ou, conforme tradução espanhola – em relações éticas.
Petardo – 53
A biopolítica da modernidade
Petardo – 55
A biopolítica da modernidade
As teses “Sobre o conceito de história” foram os últimos escritos de Benjamin antes de seu
suicídio em 1940. Há que se ter em mente o contexto histórico que estava vivendo o filósofo,
o III Reich nazista, em que o estado de exceção declarado em 1933 nunca foi revogado.
Apesar de que, na tese, o autor usa a terminologia fascismo e não nazismo. Em defesa de
Benjamin, Michael Löwy expõe que provavelmente o filósofo faz referência àquele porque
não vivenciou as grandes atrocidades do governo de Hitler, como os campos de concentração
que se intensificaram a partir de 1941.
Petardo – 57
A biopolítica da modernidade
Considerações finais
Petardo – 59
A biopolítica da modernidade
Referências bibliográficas
Petardo – 61
A biopolítica da modernidade
1. Introdução
Sobre esse ponto ver principalmente as notas §1, §13, §16 e §20 do caderno número 13 dos
Cadernos do Cárcere, intitulado Breve notas sobre a política de Maquiavel.
“Postular la ciencia como la base de la vida, hacer de la ciencia la concepción de mundo por
excelencia, la que limpia los ojos de toda ilusión ideológica, la que pone al hombre ante la
realidad tal como ella es, significa recaer en el concepto de que la filosofía de la praxis tiene
necesidad de apoyos filosóficos exteriores a sí misma. Pero en realidad también la ciencia es
una superestructura, una ideología” (GRAMSCI, 1986, P. 309).
Duas passagens do referido texto são constantemente mencionadas por Gramsci em suas
notas: 1) “Quando se estudam essas revoluções, é preciso sempre distinguir entre as mudan-
ças materiais ocorridas nas condições econômicas de produção e que podem ser apreciadas
com a exatidão das ciências naturais, e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou
filosóficas, numa palavra, as formas ideológicas em que os homens adquirem consciência
desse conflito e lutam para resolvê-lo”; 2) “Nenhuma formação social desaparece antes que
se desenvolvam todas as forças produtivas que ela contém, e jamais aparecem relações de
produção novas e mais altas antes de amadurecerem no seio da própria sociedade antiga
as condições materiais para sua existência. Por isso, a humanidade se propõe apenas os
objetivos que pode alcançar, pois, bem vistas as coisas, vemos sempre que esses objetivos
só brotam quando já existem ou, pelo menos, estão em gestação às condições materiais de
sua realização” (MARX; ENGELS, 1987, p. 300-303).
Petardo – 65
Entre a pequena e a grande política: a cidadania a partir de Gramsci
Sobre esse ponto, remetemos à obra do professor argentino Atílio Borón que, a respeito da
tradição clássica da filosofia política, assim coloca a relação entre o momento descritivo e
o momento normativo: “O que significa, nesse contexto, a tradição clássica? [...] a tradição
clássica caracteriza-se por conceber a reflexão sobre a ordem política simultaneamente como
indagação de caráter moral. Na tradição clássica, o exame da vida política e do Estado é
inseparável de sua valoração: de Platão a Maquiavel, o olhar sobre o político é também
tentativa de vislumbrar os fundamentos de uma vida boa, e seria difícil compreender a obra
de Platão e Aristóteles, Agostinho, Marsílio, Tomás de Aquino, Lutero e Thomas Morus à
margem dessa premissa” (BORÓN, 2003, p. 14).
Petardo – 67
Entre a pequena e a grande política: a cidadania a partir de Gramsci
Essa forma de interrogar está também de acordo que o que requeria Marx na segunda de
suas Teses sobre Feuerbach: “A questão de saber se ao pensamento humano pertence a
verdade objetiva – não é uma questão de teoria, mas de prática. É na práxis que o homem
tem de comprovar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno, do seu pen-
samento. A disputa sobre a realidade ou não-realidade do pensamento – que está isolado
da práxis – é uma questão puramente escolástica” (MARX; ENGELS, 2004, p. 107-108).
Petardo – 69
Entre a pequena e a grande política: a cidadania a partir de Gramsci
Esse modo de entender o papel ativo da consciência, ao contrário da posição que a considera
mero epifenômeno do mundo social, é também presente na última fase de Lukács: “Quando
se diz que a consciência reflete a realidade e, sobre essa base, torna possível intervir nessa
realidade para modificá-la, quer-se dizer que a consciência tem um real poder no plano
do ser e não – como se supõe a partir das supracitadas visões idealistas – que ela é carente
de força” (LUKÁCS, 1978, p. 3).
Não se deve, portanto, legitimar a interpretação de Gramsci como “teórico das superestrutu-
ras” em oposição a Marx, o “teórico da estrutura”, a qual resulta, como bem observa Liguori
a respeito de Bobbio, de uma leitura mecanicista da relação estrutura-superestrutura, que
tende ao determinismo imediato de um dos pólos, transformando-o em “teatro de toda a
história”. Assim, perdem-se os “momentos ao mesmo tempo de unidade e de autonomia,
e de ação recíproca, entre os diversos níveis da realidade, momentos próprios de toda
concepção dialética, como é indiscutivelmente a concepção de Gramsci” (LIGUORI, 2000,
p. 10). É oportuno também trazer aqui a crítica a que Gramsci submete a posição de Croce,
que considerava que no materialismo histórico “estrutura torna-se um ‘deus oculto’, um
‘númeno’, em contraposição às ‘aparências’ da superestrutura” (GRAMSCI, 2002, p. 27).
A essa posição, como foi mencionado acima, Gramsci opôs a identificação da necessidade
e da validade histórica das aparências, a busca do vínculo orgânico entre estrutura e supe-
restrutura, a importante distinção entre movimento orgânico e conjuntural ou, resumindo
numa idéia, o conceito de bloco histórico.
Carlos Nelson Coutinho chama atenção em seu livro sobre o pensamento político de Gramsci
para o caráter dialético da conservação/superação dos vínculos entre Gramsci e Marx, bem
como entre Gramsci e Lênin, em um processo de elevação do abstrato ao concreto, não só no
plano gnosiológico, mas também na própria realidade. Cf. COUTINHO, 1999, p. 83-89.
Petardo – 71
Entre a pequena e a grande política: a cidadania a partir de Gramsci
Petardo – 73
Entre a pequena e a grande política: a cidadania a partir de Gramsci
neo vem entre aspas, bem como o termo privado na expressão apa-
relhos “privados” de hegemonia, detalhes que não são desprovidos
de importância dentro da construção da teoria política da Gramsci.
Em uma nota escrita sobre a Vida nacional francesa, Gramsci faz espe-
cificações que contribuem para a interpretação dessas expressões:
5. Cidadania e hegemonia:
do atomismo ao consenso organizado
Petardo – 75
Entre a pequena e a grande política: a cidadania a partir de Gramsci
Petardo – 77
Entre a pequena e a grande política: a cidadania a partir de Gramsci
o consenso não tem no momento do voto uma fase final, muito ao con-
trário. Supõe-se o consenso permanentemente ativo, a ponto de aqueles
que consentem poderiam ser considerados “funcionários” do Estado e
as eleições como um modo de recrutamento voluntário de funcionários
estatais de um certo tipo, que em certo sentido poderia vincular-se (em
diversos planos) ao self-government. Já que as eleições não se baseiam
em programas genéricos e vagos, mas de trabalho imediato; quem
consente empenha-se em fazer algo mais que o cidadão legal comum
para realizar tais programas, isto é, em ser uma vanguarda de trabalho
ativo e responsável. O elemento “voluntariado” na iniciativa não po-
deria ser estimulado de outro modo para as mais amplas multidões; e,
quando estas não são formadas de cidadãos amorfos, mas de elementos
produtivos qualificados, é possível compreender a importância que
pode ter a manifestação do voto (GRAMSCI, 2002, p. 83).
10 Ainda nas Breves notas sobre a política de Maquiavel, na já mencionada nota sobre a Vida
nacional francesa, Gramsci mostra que o sufrágio universal e o plebiscito não devem ser
entendidos como esquemas abstraídos das condições de tempo e lugar, posição que lhe
permite tanto atacar a posição fetichista dos que apregoam o abstencionismo político como
o “mito do sufrágio universal”, argumentando que pode haver conflito entre “progresso”
e sufrágio (GRAMSCI, 2002, p. 105-106). Ao contrário, a posição de Gramsci é a de que é
preciso ter sempre em vista as relações e equilíbrios de força no qual o sufrágio se insere
para determinar seu caráter progressista ou reacionário.
6. Hegemonia e universalidade:
a idéia de vontade coletiva
Petardo – 79
Entre a pequena e a grande política: a cidadania a partir de Gramsci
Petardo – 81
Entre a pequena e a grande política: a cidadania a partir de Gramsci
11 Numa de suas notas sobre o fenômeno do cesarismo moderno, Gramsci ressalta o fato da
impossibilidade de conciliação entre burguesia e proletariado: “No mundo moderno, os
fenômenos de cesarismo são completamente diferentes tanto daqueles do tipo progressista
César-Napoleão I, como também daqueles do tipo Napoleão III, embora se aproximem deste
último. No mundo moderno, o equilíbrio com perspectivas catastróficas não se verifica entre forças
que, em última instância, poderiam unificar-se, ainda que depois de um processo penoso e sangrento,
mas entre forças, cujo contraste é insolúvel historicamente e que, ao contrário, aprofunda-se com o
advento de formas cesaristas” (GRAMSCI, 2002. p. 79). (grifo nosso)
Petardo – 83
Entre a pequena e a grande política: a cidadania a partir de Gramsci
Deve-se pensar que, como para a Igreja Católica, tal conceito [do centra-
lismo orgânico] não só é útil, mas necessário e indispensável: qualquer
forma de intervenção a partir de baixo desagregaria de fato a Igreja (é
o que se vê nas igrejas protestantes); mas, para outros organismos, é
questão vital não o consenso passivo e indireto, mas o consenso ativo e
direto, ou seja, a participação dos indivíduos, ainda que isso provoque
uma aparência de desagregação e tumulto. (GRAMSCI, 2002, p. 333)
12 O arditismo foi um fenômeno ocorrido na Itália após a Primeira Guerra Mundial, quando
os veteranos dos grupos de assalto compostos por voluntários durante a guerra - os arditi
– passam a organizar-se em associações de arditi e ter uma atuação social e política de
caráter nacionalista. Contribuíram para o início do fenômeno do fascismo na Itália, sendo
que muitos arditi chegaram mesmo a compor os Fasci di Combattimento de Mussolini. ���� Cf.
Petardo – 85
Entre a pequena e a grande política: a cidadania a partir de Gramsci
Petardo – 87
Entre a pequena e a grande política: a cidadania a partir de Gramsci
9. Considerações finais
Petardo – 89
Entre a pequena e a grande política: a cidadania a partir de Gramsci
Referências bibliográficas
BORÓN, Atílio. Filosofia política marxista. São Paulo: Cortez, 2003. 240 p.
COUTINHO, Carlos Nelson. Contra a corrente: estudos sobre
democracia e socialismo. São Paulo: Cortez, 2000. 176 p.
__________. Gramsci: um estudo sobre seu pensamento político. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 320 p.
__________. Marxismo e política: a dualidade de poderes e outros
ensaios. São Paulo: Cortez, 1996. 160 p.
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere vol. 3: Maquiavel,
notas sobre o Estado e a política. 2ª ed. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2002. 428 p.
Petardo – 91
Sociedade, Liberdade e Cidadania:
Maslow e perspectivas
Guilherme Demaria
Introdução
Petardo – 95
Sociedade, Liberdade e Cidadania: Maslow e perspectivas
leva a realizar uma determinada tarefa. Essa teoria pode ser visu-
alizada na forma de uma pirâmide, separada em estamentos, quais
sejam: necessidades fisiológicas, de segurança, sociais, de estima
e de auto-realização, os quais estão respectivamente classificados
da base da pirâmide para o topo.
Então, superficialmente introduzidas a questão do indivíduo,
a cidadania, e a sociedade, percebe-se a necessidade do pressuposto
‘liberdade’. A constituição dessa e seus efeitos na motivação do indi-
víduo, nos seus interesses e de que forma isso irá afetar sua partici-
pação ativa da sociedade, ou seja, na sua cidadania. Não se pretende
desenvolver uma fórmula-chave para tal entendimento, mas apenas
uma versão que sua compreensão pode adotar. Utilizar-se-á o pen-
samento de Abraham Maslow para a análise da liberdade humana,
a partir do qual será possível analisar uma nova interpretação desse
valor. Seja de forma natural ou positiva.
1. Liberdade e auto-realização
Petardo – 97
Sociedade, Liberdade e Cidadania: Maslow e perspectivas
2. Liberdades
Petardo – 99
Sociedade, Liberdade e Cidadania: Maslow e perspectivas
3. Classificando os opressores
Petardo – 101
Sociedade, Liberdade e Cidadania: Maslow e perspectivas
3.1 O meio
3.2 O homem
3.3 O sujeito
Petardo – 103
Sociedade, Liberdade e Cidadania: Maslow e perspectivas
4. Liberdade e potência
4.1 Do Conhecimento
Aquele que não sabe o que quer direito, não pode escolher direito,
não pode então agir direito, logo, dificilmente irá sentir-se livre
e realizado. Aqui entra muito da noção de responsabilidade. A
partir do momento que alguém se entende como cúmplice, sujei-
to condescendente da própria opressão, da própria situação, ou
seja, como co-responsável, é que tem-se a clareza de que parte da
mudança provém de si mesmo.
4.2 Material
4.3 Ilusório
Petardo – 105
Sociedade, Liberdade e Cidadania: Maslow e perspectivas
4.4 Econômico
5. Liberdade e igualdade
Petardo – 107
Sociedade, Liberdade e Cidadania: Maslow e perspectivas
6. A reprodução da liberdade
Petardo – 109
Sociedade, Liberdade e Cidadania: Maslow e perspectivas
Alguns deles causam mais impacto que outros por causa do seu
poder dentro da organização social.
As pessoas consideradas no topo dos vários sistemas de estra-
tificação e sistemas políticos são capazes de influenciar a direção da
mudança muito maior do que as camadas inferiores.
Há uma explicação possível para tal fenômeno. Aqueles que
possuem um grande poder econômico se movem mais facilmente
para o topo da pirâmide de Maslow e possuem mais tempo, clareza e
disposição para obter, para si, vantagens cada vez maiores. Por conse-
guinte, realizam seus objetivos pessoais. Enquanto isso, aqueles que se
preocupam consigo e com os outros, ainda amarrados pelo trabalho e
por cada uma das necessidades inferiores, lutam com mais dificuldade.
Pode-se afirmar que suas causas são direitos que procuram resolver
necessidades mais baixas, exatamente porque, ao preocuparem-se com
todos, é necessário nivelar pelo mais baixo, e ao fazerem isso, mantêm-
se lutando por prestações no campo mais baixo da pirâmide.
Resposta essencialmente importante quando estamos tentando
fazer os interesses particulares estarem em harmonia com os interesses
comuns. O espaço público realmente deve permitir o desenvolvimento
dos interesses individuais, mas quando estamos trabalhando dentro
de uma organização com princípios e objetivos bem definidos, ou
seja, uma organização que está em uma posição de fato e sabe aonde
quer chegar, para alcançar o sucesso, ela deve preocupar-se com essa
confluência. Isso motiva o cidadão, e a participação dele é essencial.
Um exemplo limite da relação entre cidadania e liberdade (e
o poder conferido pela economia) é o desenvolvimento dos lobbies.
Hoje, há registros no Brasil de pelo menos 140 representantes de
pressão com atuação “legítima” no Congresso Nacional e no Poder
Executivo (PAUL, 2005). Os grupos têm a função de influenciar as
decisões tomadas nesses órgãos para favorecer seus clientes. Além
disso, eles traduzem todo o aparato burocrático que transformam a
ação em letargia, monitoram o trabalho da máquina pública e desco-
brem a melhor maneira de abordar um deputado ou senador.
No Brasil, ainda não existem leis regulando os lobbies, o lobby
às claras é uma das atividades que se quer legalizar hoje. Empresas
que buscam defender os interesses de outras empresas. Ao que
Petardo – 111
Sociedade, Liberdade e Cidadania: Maslow e perspectivas
Petardo – 113
Sociedade, Liberdade e Cidadania: Maslow e perspectivas
Petardo – 115
Sociedade, Liberdade e Cidadania: Maslow e perspectivas
8. Organização política
Petardo – 117
Sociedade, Liberdade e Cidadania: Maslow e perspectivas
Conclusão
Referências bibliográficas
Petardo – 119
Sociedade, Liberdade e Cidadania: Maslow e perspectivas
Considerações Iniciais
Petardo – 123
Crítica pela Desconstrução da Ideologia dos Direitos Humanos
Petardo – 125
Crítica pela Desconstrução da Ideologia dos Direitos Humanos
Petardo – 127
Crítica pela Desconstrução da Ideologia dos Direitos Humanos
Da mesma forma que não se pode confundir direito com lei, não
parece lógica a idéia de que existam direitos anteriores à vida em socie-
dade, que sejam inatos. O direito surge das relações entre os indivíduos
em sociedade, como forma coativa de regular esse convívio, de impor
à coletividade uma série de normas de conduta que se amoldem aos
interesses dominantes. Carlos Nelson Coutinho���������������������������
(2000, p. 53)�������������
, em análise
dos pressupostos dos Direitos Humanos, assim se manifesta:
Petardo – 129
Crítica pela Desconstrução da Ideologia dos Direitos Humanos
Sabemos hoje que eles não são direitos naturais, mas sim direitos
históricos; surgiram como demandas da burguesia em ascensão (no
momento em que essa classe representava todos os que não eram
aristocratas nem membros do clero, ou seja, todos os que constituíam
o que os franceses chamavam de ‘terceiro estado’) em sua luta contra o
Estado absolutista, contra o Estado que, naquele momento da história,
defendia essencialmente os interesses dos outros dois ‘estados’ (ou
‘estamentos’), ou seja, a aristocracia feudal e o alto clero.
Petardo – 131
Crítica pela Desconstrução da Ideologia dos Direitos Humanos
Petardo – 133
Crítica pela Desconstrução da Ideologia dos Direitos Humanos
Petardo – 135
Crítica pela Desconstrução da Ideologia dos Direitos Humanos
Petardo – 137
Crítica pela Desconstrução da Ideologia dos Direitos Humanos
Petardo – 139
Crítica pela Desconstrução da Ideologia dos Direitos Humanos
4. Considerações Finais
Petardo – 141
Crítica pela Desconstrução da Ideologia dos Direitos Humanos
Referências bibliográficas
Petardo – 143
A seletividade do sistema penal nas
economias dependentes
1. Introdução
Petardo – 147
A seletividade do sistema penal nas economias dependentes
O Censo Penitenciário Nacional brasileiro de 1994 aponta que 95% dos presos são pobres.
Ainda, dá a conhecer que 12% são analfabetos, 54% têm até o primeiro grau incompleto e
somente 12% concluíram, regularmente, o ensino fundamental. (ARAUJO, 2006, p. 1 )
Petardo – 149
A seletividade do sistema penal nas economias dependentes
Pertinente limitar os termos: assim, em todo o texto quando se fala de economias depen-
dentes está-se a visualizar a realidade econômica dos países latino-americanos, quase que
exclusivamente do Brasil.
Integração que, logo a partir do século XVI, permite o desenvolvimento do capital comercial,
bancário e da grande industria na Europa, pelo fluxo de mercadorias (metais preciosos e
especiarias primeiro, outros bens primários depois) e por último de capital pelo pagamento
dos juros contidos nos grandes empréstimos, quando a balança comercial na periferia era
deficitária. Em contrapartida, essa integração, insere os países latino-americanos em uma
estrutura definida de sujeição, que persiste: a divisão internacional do trabalho. Dessa
forma, a produção de matéria-prima na colônia além de propiciar uma aceleração no
desenvolvimento industrial das metrópoles, atrela-a a uma subordinação em relação aos
desenvolvidos. Sobre essa epopéia capitalista ver MARINI (2000, p. 105). Para ilustrar,
faz-se razoável demonstrar dois ciclos de distintos, no tempo, mas que guardam a mesma
estrutura dentro da lógica da dependência: na Velha República o ciclo da borracha, em
que os grandes latifundiários do norte do país começaram a suprir as demandas de látex
do mundo industrializado, em contrapartida enriqueceram as custas da exploração da
mão-de-obra barata (quase gratuita) dos seringueiros, que trabalhavam pela subsistência
Petardo – 151
A seletividade do sistema penal nas economias dependentes
gual (MARINI, 2000, p. 113-121), que traz uma situação ímpar e con-
seqüências com relação à formação e condição do seu proletariado.
Como na periferia não há um aumento da riqueza (acumulação
de capital), o capitalista se vale, para poder aumentar a massa de
valor produzido, de uma maior exploração do trabalhador (superex-
ploração), por meio do aumento da carga de trabalho, manutenção
dos salários em patamares reduzidos ou pela combinação destes
estratagemas. (MARINI, 2000, p. 122)
Como se paga mal ao trabalhador (o mínimo necessário a sua
precária subsistência), ele não é incluído no mercado de consumo,
o que, conseqüentemente, não propicia o desenvolvimento de uma
demanda interna, mantendo-se, assim, o modelo exportador de bens
primários com todas as suas peculiaridades (o perverso ciclo: depen-
dência, subdesenvolvimento e superexploração do trabalhador).
Petardo – 153
A seletividade do sistema penal nas economias dependentes
No Brasil, os dados estatísticos são deficientes, porém atenta-se que, em 1995 (conforme
o Censo Penitenciário Nacional) havia 148.760 presos, já em 2005, dados fornecidos pelo
DEPEN, o número atingira 336.358 presos.
Petardo – 155
A seletividade do sistema penal nas economias dependentes
A seletividade secundária, exercida pelos aparelhos estatais que habitam as ruas (polícia, tribunais,
etc.), é fundamental para classificar aqueles que serão convidados ao retiro espiritual carcerário.
Nesse sentido o combate às drogas é o motor da exclusão, pois o aparelho policial concentra suas
ações efetivas nos bairros da periferia – favela –, recrutando às fileiras da instituição prisional os
jovens pobres que comercializavam as drogas (os chamados ‘aviõezinhos’ ) vendidas à classe
média. Meritória a análise de BATISTA (2003): quando aponta que no Rio de Janeiro a crimi-
nalização pelas drogas atinge 70% no ano 2000, um aumento de dez vezes em trinta anos. Nos
EUA, da mesma maneira, a porcentagem de condenados por infração às leis contra as drogas
ilícita passou de 34% em 1985 para 60% em 1995 (WACQUANT, 2003, p. 66-68).
Até aqui há uma nítida opção estatal de combater de forma veemente o tráfico de drogas
(seletividade primária). Seja pela criação de tipos penais atinentes ao comércio de estupe-
facientes (Lei 6.368/76), pela previsão constitucional de que esses crimes são equiparados
aos hediondos, também pela previsão legal de que aos apenados pelos crimes definidos
haverá tratamento judicial (aplicação da pena) de forma mais severa, pela impossibilidade
de progressão de regime, por exemplo, que aumenta a população carcerária. Importante dar
destaque à decisão do Supremo Tribunal Federal no Hábeas Corpus n.° 82959, que afirma
inconstitucional o §1° do artigo 2° da Lei dos Crimes Hediondos, permitindo-se, assim, a
progressão de regime, durante a execução da pena, aos apenados por crimes hediondos.
Petardo – 157
A seletividade do sistema penal nas economias dependentes
Petardo – 159
A seletividade do sistema penal nas economias dependentes
Petardo – 161
A seletividade do sistema penal nas economias dependentes
Petardo – 163
A seletividade do sistema penal nas economias dependentes
5 Considerações finais
Petardo – 165
A seletividade do sistema penal nas economias dependentes
Referências bibliográficas
Petardo – 167
A seletividade do sistema penal nas economias dependentes
Petardo – 169
Regulação e Pacificação do Conflito no
Estado Democrático de Direito:
Da Atividade Jurisdicional à Mediação
1. Introdução
2 “Toynbee vê o padrão básico na gênese das civilizações como um padrão de interação a que
chama ‘desafio-resposta’. Um desafio do ambiente natural ou social provoca uma resposta
criativa numa sociedade, ou num grupo social, a qual induz essa sociedade a entrar no
processo de civilização.” (CAPRA, 2000, p. 25)
“Sendo parte de uma concepção unificadora da vida, da mente e da consciência, a teoria
da cognição de Santiago tem profundas implicações para a biologia, para psicologia e para
filosofia. Entre essas implicações, sua contribuição à epistemologia, o ramo da filosofia que
trata da natureza do nosso conhecimento a respeito do mundo é talvez o seu aspecto mais
radical e controvertido.” (CAPRA, 2004 , p. 213)
Petardo – 173
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
“[...] Estado de despotismo esclarecido (século XVIII), cujo paradigma em Portugal terá
sido ‘Estado de Marquês de Pombal’, apresentava como características fundamentais as
seguintes: (1) afirmação da idéia de soberania concentrada no monarca, com o conseqüente
predomínio do soberano sobre os restantes estamentos; (2) extensão do poder soberano ao
âmbito religioso, reconhecendo-se ao soberano o direito de ‘decidir’ sobre a religião dos
súpditos e de exercer a autoridade eclesiástica; (3) dirigismo econômico através da adopção
de uma política econômica mercantilista; (4) assunção, no plano teórico dos fins do Estado,
da promoção da salus publica (‘bem-estar’, ‘felicidade dos súpditos’) como uma das missões
fundamentais do soberano” (CANOTILHO, 1993, p.87).
Petardo – 175
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
“São apresentados como direitos de cunho ‘negativo’, uma vez que dirigidos a uma abs-
tenção e não uma conduta positiva por parte dos poderes públicos, sendo, neste sentido,
‘direitos de resistência’ ou de oposição perante o Estado” (SARLET, 2003, p. 51)
“Não se cuida mais, portanto, de liberdade do e perante o Estado e sim de liberdade por
intermédio do Estado” (SARLET, 2003, p.52).
2.2.1 Democracia
Petardo – 177
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
Ainda para Silva (2003, p. 131 a 133), o vínculo entre povo e poder
é escopo da democracia, tanto que os dois princípios primários que a
guiam são: a soberania popular e a participação direita ou indireta
do povo no poder, esse último caracterizando a representação e o
modelo de democracia representativa existente no país.
O modelo representativo, cuja intermediação de vontade gover-
nante-governado distorce, reiteradamente, a vontade real do povo;
ainda que vigente, clama pela superação. O instalar de um modelo
não intermediado, sem gargalos na comunicação ou filtros na par-
ticipação dos governados na instância decisória é a única saída que
derruba o império do regime de alienação, inato ao sistema represen-
tativo ou de delegação. Autores como Roberto Amaral (2001, p.48)
asseveram que a democracia participativa, em que o povo interfere
diretamente nas decisões, constitui uma “tautologia virtuosa. Porque
não há democracia sem participação, sem povo, mas povo sujeito ati-
vo e passivo do processo político no pleno exercício da cidadania.”
2.2.2 Cidadania
Art.1º, parágrafo único. Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes
eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
10 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem
como fundamentos: I- a soberania; II- a cidadania; III- a dignidade da pessoa humana.
Petardo – 179
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
cada ser humano é humano por força de seu espírito, que o distingue
da natureza impessoal e que o capacita para, com base em sua pró-
pria decisão, tornar-se consciente de si mesmo, de autodeterminar
sua conduta, bem como de formatar sua existência e o meio que
o circunda. (grifou-se)
p.115). Ainda ressalta o mesmo autor (2003, p. 116): “o princípio da dignidade da pessoa
humana constitui uma norma legitimadora de toda a ordem estatal e comunitária, demons-
trando que a nossa Constituição é a Constituição da pessoa humana por excelência.”
12 “Desenvolver-se é prerrogativa dos seres humanos. Somente uns poucos reivindicam esse
direito.” (OSHO, Livro da cura). Disponível em: http://www.oshobrasil.com.br/textos.
htm. Acesso em: 06 jan. 2006.
Petardo – 181
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
13 “[...] a ‘expressão ‘acesso à justiça’, para Antonio Benjamim, comporta três enfoques básicos:
num sentido restrito, refere-se apenas a acesso à tutela jurisdicional. Em sentido mais amplo,
quer significar acesso à tutela de direito ou interesses violados, ‘através de mecanismos ju-
rídicos variados, jurisdicionais ou não’. Numa acepção integral, é acesso ao Direito, ou seja,
a uma ordem jurídica justa. Tangentemente a este último enfoque - combinando ao mesmo
tempo um rol apropriado de direitos, compreende acesso aos tribunais, acesso a mecanismos
alternativos (notadamente os preventivos), estando os titulares plenamente conscientes de
seus direitos e habilitados material e psicologicamente para exercê-los. Nesta última acepção
dilargada, ‘acesso à justiça’ significaria acesso ao poder” (ABREU, 2004, p. 41).
Petardo – 183
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
Petardo – 185
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
Petardo – 187
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
social, após ser demandado como conflito jurídico, cuja decisão rees-
tabelece a suposta harmonia pretendida pelo sistema jurídico, aquele
volta a se manifestar na estrutura societária em outro nível, havendo
uma requalificação do conflito social. (BASTOS, 1975, p. 21 a 37).
Aurélio Bastos (1975, p.37) elucida a requalificação com um
exemplo bastante didático que será aqui adaptado: uma mulher,
em Juízo, propõe ação de separação judicial litigiosa, uma vez que
a vida em comum com seu cônjuge tornou-se insuportável, pois ele
sempre a injuriou e ainda a injuria gravemente. Dada essa situação,
comprovado tal fato, a decisão é prolatada e é decretada a separação
judicial. O litígio foi decido. A indagação que o autor faz, inicialmente,
é: “Este especial conflito social (interindividual) foi solucionado pelo
Judiciário ou, na verdade, o Judiciário forneceu uma decisão sobre
aquilo que juridicamente lhe demandaram?”.
Acrescenta, ainda, que outros conflitos advindos dessa situa-
ção sobrevirão, é a requalificação. No exemplo referido, conflitos
em relação aos deveres dos pais para com os filhos, às atividades
profissionais, à herança e sucessão, desaguando até mesmo em
crimes de ameaça, lesão corporal, não seriam surpresa e, de forma
a contornar e delinear o ciclo vicioso, acabariam por buscar nova-
mente a tutela jurídica estatal.
A latência de um conflito, fomentada pela insatisfação contida,
estimulará a insatisfação do vencido ou até mesmo a do vencedor
não totalmente satisfeito a confeccionar as inúmeras máscaras de
aparições futuras. (MATOS, 1983)
Petardo – 189
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
Petardo – 191
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
4. Mediação
Petardo – 193
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
Petardo – 195
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
Petardo – 197
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
14 “A educação participativa parte da idéia de que tenho que assumir e resolver, sair a procurar
tudo aquilo que eu não sei. A educação participativa me transforma em um procurador, um
buscador, um bandeirante de territórios desconhecidos, que descobrimos por nós mesmos.
Com a Educação Participativa, procuramos perder a fé nas crenças que nos foram impostas,
nas crenças que se confundem com o conhecimento, que em nome da verdade, não se pode
ter divergências. [...] A educação participativa procura que nós adquiramos a responsabi-
lidade de produzir nossas próprias crenças, ajudar-nos a nós mesmos (com a menor cota
de ajuda terceirizada) a subtrair de qualquer outro com pretensões de dominador, o poder
de produzir-nos as crenças.” (WARAT, 2004, p. 194 e 195)
Petardo – 199
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
Eu não acreditei,
em pé, às margens de um rio
largo e agitado,
que eu atravessaria aquela ponte
trançada de palhas finas e frágeis
amarradas com corda.
Eu caminhei delicadamente como uma borboleta
e pesadamente como um elefante,
eu caminhei certamente como um dançarino
e titubeante como um cego.
Eu não acreditei que iria atravessar aquela ponte,
e agora que eu estou do outro lado,
eu não acredito que EU a atravessei.
Leopoldo Staff
5. Considerações finais
Petardo – 201
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
Referências bibliográficas
Petardo – 203
Regulação e Pacificação do Conflito no Estado Democrático de Direito...
1. Introdução
Expressão que Michel Vovelle atribui a uma conversa com Emmanuel Le Roy Ladurie.
(VOVELLE, 2004, p.22)
Petardo – 207
Contrato Social: Entre Mitos, Ideologias e Mentalidades
somente como uma luz refletida de outra fonte. Se essa fonte está
presente, a razão torna-se ineficaz e impotente” (Ibid., p.101).
O quadro se modifica, a partir do século XI, com o advento da
escolástica. S. Tomás de Aquino, ao contrário de Agostinho, considera
a razão e a revelação expressões diferentes de uma mesma verdade,
a verdade divina, não havendo desarmonia entre elas. No entanto,
se houvesse antinomia entre as duas, a razão certamente estava
equivocada, pois a revelação é incontestável. A razão, portanto, se
libertara, mesmo que de forma disciplinada.
O mundo não era mais um permanente milagre, pois Deus
não manifestava mais sua vontade ininterruptamente, mas sim de
uma maneira regular e através de causas intermediárias. S. Tomás
de Aquino – utilizando o método aristotélico, que definia como
objeto da Metafísica o estudo das causas primeiras – aponta Deus
como o criador de todas as coisas, daí ter de considerá-lo como
a primeira e principal causa. Mas não a única causa, visto que
todas as coisas finitas, sensíveis e empíricas são obras de Deus, e
justamente por isso partilham de seu toque de perfeição e possuem
uma ordem e estética próprias.
O sistema de S. Tomás de Aquino reorienta a teoria do conhe-
cimento. Na relação entre o mundo empírico e o mundo ideal (S.
Agostinho e Platão), onde antes se encontrava um abismo, agora
há organicidade. A experiência sensorial não mais obstruía o con-
tato com o mundo ideal, agora era o princípio de seu acesso. O
que repercutiria na filosofia moral e política, pois Deus ainda seria
a fonte da Lei Moral, mas a ordem moral é uma ordem terrena
(causa secundária) provinda de atos humanos livres. Assim, como
“aristotélico”, S. Tomás de Aquino não poderia aceitar a definição
de Estado corrente – uma instituição autorizada por Deus que viria
a remediar o pecado humano –, teria que derivar seu conceito de
um princípio empírico, não transcendental. “Deus continua, num
sentido, a ser a causa do Estado, mas aqui, tal como no mundo físico,
ele age simplesmente como uma causa remota ou impulsiva” (Ibid.,
p.132). Pois é o homem, um ser dotado de livre arbítrio, que origina
o Estado, não só como um produto da natureza, mas por intermédio
também de sua atividade racional, livre e consciente.
Petardo – 209
Contrato Social: Entre Mitos, Ideologias e Mentalidades
Petardo – 211
Contrato Social: Entre Mitos, Ideologias e Mentalidades
Petardo – 213
Contrato Social: Entre Mitos, Ideologias e Mentalidades
poder soberano esteja acima das leis civis, o que não quer dizer que
seja um poder sem limites: quer dizer que os limites do seu poder são
limites não jurídicos (de direito positivo), mas de fato, ou, pelo menos,
são limites derivados daquele direito imperfeito, ou seja, incoercível,
que é o direito natural (BOBBIO; BOVERO, 1979, p.76).
Petardo – 215
Contrato Social: Entre Mitos, Ideologias e Mentalidades
Mas não no sentido usual – que viria a ser chamado, por Vovelle, como um compromisso
burguês – de um conceito similar ao de ideologia, mas sem os ditos “ranços” marxistas,
dando autonomia plena ao mental.
Petardo – 217
Contrato Social: Entre Mitos, Ideologias e Mentalidades
Há uma série de outros mitos de origem que poderiam ser comparados ao mito contra-
tualista, mas optou-se pelo presente em Protágoras por compartilhar da mesma tradição
ocidental da qual se originam as teorias do contrato social.
A obra Protágoras, um dos mais belos diálogos de Platão, de fato mais socrática do que
propriamente platônica, encontra-se esgotada para língua portuguesa. Entretanto, pode-se
ler o mito citado parcialmente na obra Os mitos Platônicos, de Genevière Droz, traduzida
para o português pela Editora da UnB.
Segun distribuía, proporcionaba a unos fuerza sin rapidez; proveía a los más débiles con
rapidez. A unos los armaba, y a los que había dado una naturaleza sin defensas les arreglaba
otra faculdad para su salvación (PLATÓN,2004,p.57).
Petardo – 219
Contrato Social: Entre Mitos, Ideologias e Mentalidades
Y por eso el hombre consiguió con ella la sabiduría vital, pero no llegó a conseguir la política,
que estaba junto a Zeus, pues a Prometeu ya no le era possible adentrarse en la ciudadela,
la morada de Zeus (a todo esto se anãdia que los guardianes de Zeus eram terroríficos)
(PLATÓN,2004,p.58).
10 Al construir ciudades buscaban agruparse y ponerse a salvo, aunque cuando estaban
reunidos se agraviaban los unos a los otros, dado que no poseían el arte político, de modo
que se volvían a dispersar y perecían.Por tanto, Zeus, que se temió que nuestro género se
extinguiese por completo, mandó a Hermes que llevara hasta los hombres la honestidad
y la justicia, para que sirvieram de ordenadoras de las ciudades y también de vínculos
agrupadores de amistad (PLATÓN,2004,p.59).
Petardo – 221
Contrato Social: Entre Mitos, Ideologias e Mentalidades
11 Sobre tal percurso e os vários sentidos de ideologia na obra de Marx ,ver Leandro Konder,
A questão da Ideologia, 2002, p.30-50 e Terry Eagleton, Ideologia, 1997, 65-88.
Petardo – 223
Contrato Social: Entre Mitos, Ideologias e Mentalidades
que antes seria uma heresia, uma ideologia deste tipo, sendo uma
“forma de consciência histórica adequada ao presente momento e
desaparecerá quando esse momento for, por sua vez, ultrapassado”
(EAGLETON, 1997, p.109).
Para Gramsci, o campo ideológico da sociedade de classes
sempre está em constante contradição, geralmente entre duas con-
cepções conflitantes de mundo. Uma provinda da classe dominante
e a outra derivada da realidade social de um povo oprimido, sendo
que a consciência da classe operária apresenta-se fragmentada his-
toricamente no contraste entre o “conceito emergente de mundo”
que uma classe manifesta “quando atua como uma ‘totalidade
orgânica’ e sua submissão, em tempos ‘normais’, às idéias dos que
a governam” (Ibid., p.110).
A grande questão, portanto, seria como transcender a consciên-
cia empírica dos subjugados para uma consciência possível, poten-
cialmente universal e transformadora que fosse capaz de orientar a
prática dos homens em prol da construção de uma nova relação de
hegemonia. Então, Gramsci nos oferece uma resposta baseada na
atividade dos intelectuais orgânicos. Essa camada de intelectuais
– no sentido organizativo, de persuasor permanente, e não no sentido
corrente de um pensador contemplativo – é produto de uma classe
social emergente, e tem como função dar forma e coesão à visão de
mundo dessa classe, proporcionar-lhe uma certa autoconsciência
homogênea nos domínios cultural, econômico e político. Sobretu-
do, unificar em uma concepção de mundo as vontades individuais
habitualmente fragmentadas.
O oposto do intelectual orgânico é o intelectual tradicional,
que pertence à categoria de intelectuais preexistentes, constituídos
a partir da estrutura econômica anterior e que continuam “represen-
tantes de uma continuidade histórica que não fora interrompida nem
mesmo pelas mais complicadas e radicais modificações das formas
sociais e políticas” (GRAMSCI, 1989, p.5). Portanto, destituídos de
uma materialidade, pelo menos mediata, consideram-se autônomos
e independentes do grupo social dominante.
Os intelectuais orgânicos, ao cumprir seu papel de pivô entre a
filosofia, forma superior de ideologia, e o povo, chocam-se com ele-
12 Há, dentro do senso comum, um núcleo sadio intitulado por Gramsci como Bom Senso,
que são fragmentos pertencentes a consciência popular que “merecem ser desenvol-
vidos e transformados em algo unitário e coerente”(GRAMSCI,1978, p.16), visando a
superação do senso comum.
Petardo – 225
Contrato Social: Entre Mitos, Ideologias e Mentalidades
Petardo – 227
Contrato Social: Entre Mitos, Ideologias e Mentalidades
5. Considerações Finais
Referências bibliográficas
Petardo – 229
Contrato Social: Entre Mitos, Ideologias e Mentalidades
Woldemar Jamundá
Introdução
Diz-se papel realístico porque imaginar que ao Judiciário cabe tão somente uma concepção
passiva frente aos valores encartados na riquíssima Constituição de 1988 é abstrair-se da
realidade e imaginar que o Judiciário não está na Sociedade. Foram-se os tempos em que
se acreditava que os princípios constitucionais constituíam-se em meras diretivas a serem
concretizadas pelo legislador ordinário. Em outros termos: abandonou-se a matriz de uma
teoria formal em prol de uma teoria material da Constituição.
1.1 Generalidades
No Brasil, a discussão da separação dos poderes passa a ser ainda mais recomendável, uma
vez que o abuso na utilização das medidas provisórias chegou a um absurdo desmesurado,
trazendo à balha a reflexão a respeito dos reais limites e responsabilidades constitucionais
do Executivo, Legislativo e Judiciário. Tal tema, aliás, serve como anteparo propício para se
averiguar a quantas anda o cumprimento das responsabilidades constitucionais por cada
um dos Poderes no Brasil. E o que se tem visto é que quando o Legislativo e o Judiciário
pecam pela omissão, o Executivo também peca... Mas pela ação, que cada vez confere mais
onipresença própria em desrespeito de muitas disposições constitucionais.
Uma definição de “funções” será delineada logo a seguir.
Conforme Nuno Piçarra (1989), formulações de mesma ordem não escaparam a Políbio
e Cícero.
Petardo – 233
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
Importante o que deixou consignado Pontes de Miranda (1972, p. 11): “... um conceito é
o de distinção das funções do Estado em função legislativa, função executiva e função
judiciária, outro o de separação absoluta dos Poderes segundo tal critério distintivo. Quer
se adote o princípio da separação absoluta, quer não se adote, a distinção existe porque é
de ordem fática, isto é, pertence à natureza dos fatos da vida social...”
Atente-se, aqui, que o objetivo não é definir um critério correto para a sistematização de
funções no Estado, mas sim de fornecer um conceito lógico-operacional de “função”, tendo
em vista diferenciá-lo do conceito de “Poder”.
Ver a análise de Canotilho (1997, p. 502-512) sobre os conceitos operacionais respeitantes
ao Direito Constitucional Organizatório, ainda que não se tenha adotado integralmente os
seus ensinamentos.
Note-se que, aqui, fala-se sobre doutrina da separação dos poderes e não sobre o princípio
da separação dos poderes, uma vez que esse é criação das concepções modernas e nasce
como elemento imprescindível à idéia de “Constituição”, como adiante explicitado.
Petardo – 235
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
10 É necessário frisar que o chamado Rule of Law (Estado de Direito) é fruto de um processo
histórico de constantes lutas entre setores sociais (rei, nobreza e burguesia) a fim de impor
a legalidade como controle do poder. Já se vislumbrava a tentativa do controle do poder
mediante a busca pela separação dos poderes, buscando-se dividi-lo na conformidade
dos estamentos sociais.
É que a Inglaterra, como se sabe, já na Idade Média tinha uma monarquia fortalecida
em virtude da conquista dos normandos (ano de 1066). Se em um primeiro momento tal
centralização era imprescindível para que os nobres pudessem se sentir seguros, a seguir
passou a ser um empecilho inarredável, sobretudo porque a tributação dos reis se fazia
cada vez mais implacável. Assim, o centralismo real, bastante precoce em relação a outros
países também feudais, foi muito propício para o surgimento das primeiras manifestações
de descontentamento tendentes a por “freios” no poder real.
Tal desiderato já ficou patente na Carta Magna de 1215 imposta ao rei inglês conhecido
como João Sem Terra. Tal documento plasmava a obrigatoriedade de prévia autorização
do Grande Conselho (formado por nobres) para aumento de tributos. Já no século XIV o
Grande Conselho foi transformado em Parlamento de duas Câmaras (Câmara dos Lordes
e Câmara dos Comuns) após uma revolta de nobres e burgueses, iniciada em 1264, contra
o rei Henrique III por desobedecer a disposições da Carta Magna. A origem das duas Câ-
maras no Parlamento se deu justamente porque foi necessária a acomodação da burguesia,
já bastante atuante na Inglaterra, que colaborou com a nobreza na referida revolta. Assim,
a Câmara dos Comuns foi destinada aos burgueses, enquanto a Câmara dos Lordes foi
composta de nobres e pessoas do alto clero.
É claro que tais disputas só demarcaram o início de muitas outras. Assim, em 1628 o
Parlamento Inglês impôs a Carlos I, absolutista convicto, o “Petition of Rights”, que repetia
preceitos da Carta Magna e de outros documentos históricos visando à contenção dos abu-
sos da Dinastia dos Stuart em proveito da autoridade do Parlamento e do devido processo
legal. A partir de 1640 e ainda oprimido pelo monarca, o Parlamento se fez presente com
o julgamento e execução de ministros de Carlos I, após ter sido convocado pelo rei para
autorizar o aumento de tributos frente às necessidades financeiras da Corte para a derrota
da revolta escocesa iniciada em 1637.
Em seguida, principalmente por parte da Câmara dos Comuns, o Parlamento desencadeou
a Guerra Civil inglesa que derrubou a Monarquia e instaurou a República. Com a morte
do principal expoente da República recém-instaurada (Oliver Cromwell), passou-se à
restauração Monárquica com aval do Parlamento e mediante o comprometimento do Rei
Carlos II (ainda da Dinastia dos Stuart) de respeitar o âmbito decisório parlamentar.
Em 1679 foi aprovada a Lei do Habeas Corpus para coibir as prisões arbitrárias ordenadas
pelo rei Carlos II.
Em 1689 o Parlamento entregou a Coroa a Guilherme de Orange e Maria, após derrotar o rei
absolutista Jaime II, sob o compromisso por parte de ambos de respeitarem uma Declaração
de Direitos (Bill of Rights, de 13 de fevereiro de 1689) que firmava de uma vez por todas a
convocação periódica do Parlamento, bem como a submissão do poder real à legalidade.
Tratava-se da Revolução Gloriosa, que foi marco simbólico de contundência indubitável
no que se refere à queda do Absolutismo.
11 Para uma comparação da separação dos poderes nos Estados Unidos e na Inglaterra, ver
a obra Direito Constitucional Americano, de Bernard Schwartz.
Petardo – 237
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
12 Basta ver o exemplo de dizer lacônico, mas nem por isso pouco categórico, constante da
Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão de 26 de agosto de 1789: “Qual-
quer sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos, nem estabelecida a separação
dos poderes, não tem constituição”.
13 É claro que a palavra “princípio” aqui não pode ser lida com o significado que tem tomado
nas últimas décadas pela doutrina do Direito Constitucional, ou seja, com o substancioso
sentido de imperatividade normativa autonômica.
14 A doutrina majoritária faz, contudo, a errônea associação sem apontar as devidas ressalvas!
15 Expressão utilizada por Nuno Piçarra.
16 A expressão grifada é de Canotilho.
Petardo – 239
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
17 Madison (1984, p. 404-406) anotou que: “... O legislativo está, por toda a parte, estendendo a esfera
de suas atividades e abarcando todo o poder com seus ambiciosos tentáculos.” Mais à frente aduz:
“O Legislativo ostenta uma superioridade em nossos governos oriunda de outras causas. Seus poderes
constitucionais, sendo desde logo mais abrangentes e menos suscetíveis de uma limitação precisa,
mascara, sob medidas complicadas e indiretas, as intromissões que ele se permite fazer nos demais
ramos. Não é raro haver sérias dúvidas, nas assembléias legislativas, se a execução de determinada
medida se situa ou não fora de sua competência...” Suzana de Toledo Barros (2003, p. 60), por
sua vez, registra: “Ao contrário do que ocorreu na França, nos Estados Unidos desenvolveu-se, no
período pré-revolucionário, uma desconfiança em relação ao Parlamento, em face das experiências dos
colonos, que tiveram seus direitos postergados inúmeras vezes pela prepotência das assembléias e dos
governadores nomeados pela Coroa, sobretudo em relação ao direito de propriedade. Por outro lado,
o Parlamento inglês, no período colonial, pouca influência tinha na América, pois não se reconhecia
seu poder além-mar. Eram, as colônias americanas, patrimônio do rei.”
18 Adaptado o texto para o Português escrito no Brasil, uma vez que a tradução da obra alemã
para a Língua Portuguesa foi feita em Portugal.
Petardo – 241
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
2. Gênese do Federalismo
E por mais incrível que possa parecer, nenhuma das duas ten-
dências, a que se refere o mestre francês, saiu vitoriosa. Surgiu como
ponto convergente de ambas, refutando, contudo, a integralidade
de cada uma, o federalismo. As observações das similitudes entre
os Estados americanos feitas por Tocqueville, associadas à solução
20 Isso porque muitos Estados que se denominaram “Federais” não se mantiveram em nada
fiéis aos postulados básicos do Federalismo, gerando uma situação de contradição inegável
entre o aspecto nominal e os seus aspectos político-estruturais. Plenamente nefasta é uma
concepção organicista de federalismo, na qual os entes federados são tidos como subordi-
nados ao ente central.
Petardo – 243
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
3. Caracterização do Federalismo
21 É por isso que dispôs o art. 11 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da
Constituição Federal de 1988: “Cada Assembléia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará
a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal,
obedecidos os princípios desta”.
Petardo – 245
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
22 Os artigos componentes do livro O Federalista foram publicados por seus três autores (Alexan-
der Hamilton, James Madison e John Jay) entre 27 de outubro de 1787 e 4 de abril de 1788.
Petardo – 247
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
23 Tem-se que as normas da Constituição Estadual podem ser repetições obrigatórias (normas
de reprodução obrigatória) ou facultativas (normas de repetição facultativa) do conteúdo
constante na Constituição Federal. As normas de reprodução obrigatória são aquelas impos-
tas pela Constituição Federal, que, nesse caso, não deixa margem ao constituinte decorrente
para adotá-las ou não. Ou seja: se a Constituição Estadual for omissa e não reproduzir tais
normas, aplicáveis serão as disposições da Constituição Federal; se a Constituição Estadual
possuir normas que disponham diversamente, essas normas diversificantes são nulas por
inconstitucionalidade. Tal imposição decorre de duas situações: 1) do caráter necessário
de algumas normas da Constituição Federal em virtude de concretizarem instituições ou
princípios constitucionais configuradores do modelo de Estado adotado (exemplos: normas
básicas referentes ao processo legislativo, uma vez que realizam o princípio da separação
dos poderes que, por óbvio, não se restringe à órbita da União, mas é inerente à toda a
República brasileira; norma referente à necessidade de concurso público para provimento
de cargos, decorrência natural dos princípios basilares de toda a Administração Pública);
2) da menção expressa da Constituição Federal impondo determinada conduta diretamente
aos Estados-Membros (exemplos: normas referentes aos Tribunais de Contas dos Estados;
normas referentes ao Ministério Público dos Estados).
As normas de repetição facultativa podem ou não ser adotadas pelo constituinte decorrente,
uma vez que não dizem respeito a instituições ou princípios inerentes ao Estado Brasileiro
(República do Brasil), restringindo-se, na Constituição Federal, à esfera da União. Assim,
cabe aos Estados definirem se é conveniente ou não seguir as normas constitucionais diri-
gidas à União. Importante, nesse contexto, que se tenha em mente a diferença entre União
e Estado Federal total (composto da União e dos demais entes federados).
No mesmo contexto verificar a ADIN 978-8-PB, na qual o Supremo Tribunal Constitucional
decidiu que o § 3º e o §4º do art. 86 da Constituição Federal não podem ser reproduzidos
pelos Estados-Membros. A imitação de tais normas, portanto, é proibida.
24 Interessantes as decisões antagônicas do Supremo Tribunal Federal nas Reclamações 370-
MT e 383-SP que dizem respeito aos limites do controle de constitucionalidade concentrado
nos Estados-Membros frente a impugnações que possuem como causa de pedir uma norma
de repetição obrigatória constante da Constituição Estadual.
Petardo – 249
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
27 Em primeiro lugar é importante esclarecer que o modelo federativo adotado pode ser de
tipo dual ou de tipo cooperativo. No modelo dual cada ente federativo possui compe-
tências privativas, ficando inteiramente responsável pelas matérias a si atribuídas. Já no
modelo cooperativo, há matérias que são repartidas entre os entes federativos de forma
que ambos ficam responsáveis por aspectos da mesma matéria. É o que ocorre no âmbito
da competência legislativa concorrente prevista no art. 24 da Constituição Federal de 1988
ou da competência material concorrente prevista no art. 23.
Em segundo lugar, faz-se necessário ressaltar que os Estados-Membros têm garantida
competência remanescente prevista no art. 25, § 1º, da Constituição Federal. Ocorre que a
extensão de tal competência remanescente fica bastante restrita não só pela competência
privativa da União (como ocorre no clássico modelo norte-americano), mas também pela
competência concorrente (na qual são atribuídos poderes aos Estados-Membros) e pela
própria competência privativa dos Municípios (art. 30, especialmente inciso I).
Não se pode esquecer ainda o art. 155 da Constituição Federal que enumera a competência
privativa dos Estados-Membros no importante âmbito da tributação.
28 José Alfredo de Oliveira Baracho, em sua Teoria Geral do Federalismo, dedica capítulo espe-
cífico (capítulo III) a apresentar as diversas teorias a respeito do assunto.
Petardo – 251
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
liberdade humana nem sempre aparece como uma das funções pri-
mordiais. A doutrina, por vezes, ressalta o aspecto organizacional do
federalismo, reduzindo-se a uma perspectiva axiomático-dedutiva das
normas constitucionais definidoras de competências federativas.
Em primeiro lugar, é preciso deixar bem claro que tanto a sepa-
ração dos poderes quanto o federalismo se constituem em princípios
estruturais da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Por isso, constam ambos do Título I (“Dos Princípios Fundamentais”),
bem como do art. 60, § 4º, respectivamente incisos I e III. Plasmam-se,
portanto, conforme as mais avançadas considerações atuais a respeito
dos princípios, em normas constitucionais com conteúdo próprio e
passíveis de valoração teleológica. Assim, expressam valores, não
mais podendo ser tidos como meras diretivas que dependem de ou-
tras normas constitucionais para que se possa auferir impositividade.
Possuem, como princípios que são, dimensão própria.
É claro que a separação dos poderes e a forma federativa re-
clamam densificação por meio de outras normas constitucionais,
eis que, por si sós, não são aptas a limitarem o espectro de suas
próprias potencialidades, de forma a garantirem a segurança que se
espera de qualquer Constituição que vise consubstanciar um Estado
Democrático. Daí porque ambos princípios se realizam mediante
regras constitucionais organizatórias que delinearão, de maneira
quase exaustiva, o modo de sua realização. Isso, contudo, em nada
elide a força cogente inerente a cada um dos princípios, que hão de
ser utilizados de maneira efetiva mediante extração direta de poten-
cialidade em situações nas quais as regras constitucionais não trarão
solução para a questão apresentada.
Sendo assim, a análise feita de cada um dos princípios alhures
conduz, de maneira contundente, à idéia de que as potencialidades
de ambos possuem como elemento valorativo inarredável a busca
pela preservação da dimensão fundamental subjetiva dos indivídu-
os. Parece ser evidente que ambos princípios têm como finalidade
primordial o resguardo das liberdades constitucionais.
É de ser observada, então, a complementaridade existente entre
ambos os princípios, sendo que a idéia do controle do poder mediante
a técnica da separação dos poderes pode ser reforçada com a adoção
do federalismo. Além disso, pela desconcentração do poder entre o
Petardo – 253
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
31 É claro que não se pode, a priori, direcionar em absoluto a atuação do Judiciário sem abrir
portas para que seja feita a análise concreta. Poderá, assim, haver hipóteses excepcionais nas
quais uma centralização específica seja necessária para concretização de determinado valor
constitucional, sobretudo em um país na qual a disparidade regional em tema de concreti-
zação de valores fundamentais básicos é tão gritante, como ocorre no Brasil. Nesses casos,
contudo, é claro que a medida legislativa de ordem constitucional ou infraconstitucional
não desacatará materialmente o princípio federativo, eis que a sua finalidade essencial de
garantir a satisfação humana mediante garantia das liberdades fundamentais estará sendo
atendida, desde que sustentável o arranjo específico propugnado. Um exemplo poderia ser
dado numa hipótese na qual se necessitasse centralizar na União determinadas medidas
a fim de que se pudesse dar um salto nacional na qualidade da educação fundamental e
básica, de forma a buscar uma homogeneização entre todos os entes federados na conse-
cução do imprescindível objetivo. A excepcionalidade, contudo, não induz que o Judiciário
seja conivente com os centralismos que se traduzem em desrespeito aos ideais básicos do
princípio federativo decorrentes da descentralização do exercício do poder.
Petardo – 255
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
Conclusão
Petardo – 257
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
Referências bibliográficas
Petardo – 259
Princípio da separação dos poderes e princípio federativo: aproximações
1. Introdução
Petardo – 263
A jurisdição constitucional e a necessidade de consolidação...
suficiente para torná-la legal, uma vez que dela emana toda noção de
legalidade (SIEYÈS apud BRITTO, 2003). Sociedade política (sob esse
prisma), nação e Poder Constituinte, todos esses em sua sinonímia,
são denominações para o momento de um poder que tudo pode,
pois o único limite que encontra está em si mesmo, em sua natureza
autodeterminante que estará a modelar o Estado por nascer. Diz-se,
até mesmo, que o Poder Constituinte é, não apenas genuinamente
político, mas exclusivamente político, porque se sujeita tão somente
a si mesmo, subsistindo em um universo de “ser” e não de “dever-
ser”; é o instante criador ainda ajurídico, pois se o fosse, já não seria
Poder Constituinte, mas constituído e derivado de algo que lhe desse
a qualidade de jurídico, ou seja, em conformidade com um dever-ser
superior, excluindo toda a pretensão de soberania do texto que se
julgava constituinte. Em suma, nas palavras do abade,
Tal afirmação é feita posteriormente a uma sustentação de similitude entre Deus e o Poder
constituinte; o primeiro revela-se mediante as coisas por si mesmo criadas e, semelhante-
mente, o povo o faz da mesma forma, entendendo-se como ser soberano na figura do Poder
Constituinte, editando a Constituição; vide BRITTO, 2003.
Petardo – 265
A jurisdição constitucional e a necessidade de consolidação...
Importa perceber que tal situação perdurou até 1688, quando a Revolução Gloriosa ins-
taurou a supremacia do Parlamento; antes disso, porém, supremo era o Judiciário e essa
idéia foi essencial para o desenvolvimento posterior das instituições norte-americanas,
mais especificamente o controle judicial de constitucionalidade.
Hans Kelsen afirma o mesmo, ao questionar-se sobre quem deve ser o Guardião da Cons-
tituição, que, em suas palavras: a função política da Constituição é estabelecer limites
jurídicos ao exercício do poder.
Petardo – 267
A jurisdição constitucional e a necessidade de consolidação...
De acordo com a sentença: If the former part of the alternative be true then a legislative act
contrary to the constitution is not law: if the latter part be true, then written constitutions
are absurd attempts, on the part of the people, to limit a power in its own nature illimitable
ESTADOS UNIDOS. Suprema
��������������������
Corte, 1803.
Petardo – 269
A jurisdição constitucional e a necessidade de consolidação...
Não se pretende com isso desacreditar o papel do controle difuso, também de importância
singular, visto que contém relevante fundo pedagógico no sentido de estimular a supremacia
da Constituição em todas as instâncias, pois a ela deve recorrer o intérprete da lei a fim de
que tenha correta compreensão das normas infraconstitucionais.
Petardo – 271
A jurisdição constitucional e a necessidade de consolidação...
Petardo – 273
A jurisdição constitucional e a necessidade de consolidação...
Petardo – 275
A jurisdição constitucional e a necessidade de consolidação...
11 De acordo com Lênio Streck, “a fraqueza do poder Judiciário ficava nítida no art. 121 da
Lei de 17 de dezembro do mesmo ano, que dispunha que quando uma sentença haja sido
cassada duas vezes, e um terceiro tribunal tenha que decidir em última instância no mesmo sentido
que as anteriores, a questão somente poderia ser debatida junto ao Tribunal de Cassação depois de
submetida ao Legislativo, ao qual cabia ditar um decreto interpretativo/aclaratório da citada lei,
sendo que, uma vez sancionado esse decreto pelo Rei, o Tribunal de Cassação se ajustará
a essa sentença” (2004, p. 347)
Petardo – 277
A jurisdição constitucional e a necessidade de consolidação...
12 A impetração do habeas corpus foi motivada pela prisão arbitrária ordenada por Floriano
Peixoto, na época Vice-Presidente, “de quarenta e seis cidadãos, entre os quais estavam
quatro senadores, sete deputados federais, marechais, coronéis e outros militares de
menor patente, além de civis, um deles o poeta Olavo Bilac”. Para mais detalhes sobre o
caso, ver TEIXEIRA, 2005, p.63.
Petardo – 279
A jurisdição constitucional e a necessidade de consolidação...
13 Isso, contudo, não ocorreu sem que a referida Corte sofresse, ao longo da história, o descaso
quanto a suas deliberações, outras limitações de competência, ou até mesmo intervenções
em tempos de maior crise como os períodos ditatoriais. Entretanto, vale citar, como último
comentário, que o caput do artigo 102 da Constituição de 1988 estabelece que “Compete
ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição”.
14 Ainda existe divergência quanto ao significado que se dá à expressão “questão política”, a
qual entendemos ser aquela referente à discricionariedade, e não arbitrariedade, atribuída
para alguns atos dos Poderes Executivo e Legislativo que os tornam insindicáveis perante o
Poder Judiciário. Todavia, pela natureza do texto constitucional, acreditamos que a função
da jurisdição constitucional sempre traz consigo o peso do político, sendo que suas decisões
sempre atingem efeitos dessa espécie.
15 Nessa ocasião, que infelizmente não foi a única, Floriano Peixoto chegou a fazer ameaças ao
Supremo Tribunal Federal caso respondesse positivamente e deferisse a petição apresentada.
Petardo – 281
A jurisdição constitucional e a necessidade de consolidação...
Petardo – 283
A jurisdição constitucional e a necessidade de consolidação...
16 Segundo G. K. Chesterton, “já dissemos que temos de gostar deste mundo, até mesmo para
que possamos modificá-lo. Acrescentamos agora que temos de gostar de um outro mundo
(real ou imaginário), para que possamos ter algo em que transformá-lo”; vide CHESTER-
TON, 2001, p. 140.
6. Conclusão
Petardo – 285
A jurisdição constitucional e a necessidade de consolidação...
Referências bibliográficas
Petardo – 287
A jurisdição constitucional e a necessidade de consolidação...
Introdução
Flávia Budal Guenther é acadêmica da 10a fase do Curso de Direito noturno da Universidade
Federal de Santa Catarina e ex-bolsista do grupo PET – Programa de Educação Tutorial -,
tendo-o integrado de dezembro de 2003 a agosto de 2005.
A proporcionalidade no Direito Constitucional brasileiro
Petardo – 291
A proporcionalidade no Direito Constitucional brasileiro
Petardo – 293
A proporcionalidade no Direito Constitucional brasileiro
2. A origem da proporcionalidade
Petardo – 295
A proporcionalidade no Direito Constitucional brasileiro
Petardo – 297
A proporcionalidade no Direito Constitucional brasileiro
3.1 A adequação
Petardo – 299
A proporcionalidade no Direito Constitucional brasileiro
3.2 A necessidade
Petardo – 301
A proporcionalidade no Direito Constitucional brasileiro
Petardo – 303
A proporcionalidade no Direito Constitucional brasileiro
5. A proporcionalidade e a igualdade
arbitrárias das leis conforme o direito, e eleve até esta alta triagem a
tarefa do órgão máximo do Poder Judiciário.
Petardo – 305
A proporcionalidade no Direito Constitucional brasileiro
[...] quando não haja uma razão qualificada como suficiente para a
distinção, está ordenada a igualdade de tratamento. Em contrapartida,
o fato de existir uma razão suficiente não equivale a dizer que, nesse
caso, estaria ordenada a distinção de tratamento. Uma razão suficiente
para uma diferenciação de tratamento pode dar lugar a uma permissão
ou uma obrigação de o legislador impor o tratamento desigual. Será
uma obrigação, tão-somente quando a manutenção de um tratamento
igual seja arbitrária. (grifos constam do original).
E complementa:
Petardo – 307
A proporcionalidade no Direito Constitucional brasileiro
Considerações Finais
Petardo – 309
A proporcionalidade no Direito Constitucional brasileiro
Referências bibliográficas
Petardo – 311
A proporcionalidade no Direito Constitucional brasileiro
Rafael do Nascimento
1. Notas iniciais
No Brasil, muito embora exista uma farta doutrina acerca do tema, sua aplicação se tem
dado de maneira tímida. Basta perceber as truculências cometidas pelos Poderes Executi-
vo e Legislativo, muitas vezes chanceladas pelo Poder Judiciário, frente à efetividade dos
direitos fundamentais inerentes a pessoa humana.
Utilizar-se-á, no presente trabalho, a concepção de princípio da proporcionalidade desen-
volvida pela doutrina e jurisprudência alemãs, tendo em vista a origem e maior projeção
do citado princípio nesse país. Entretanto, não se deixará de reportar, aos exemplos e
problemas que a proporcionalidade enfrenta em nossa nação.
Petardo – 315
O princípio da proporcionalidade como via de aferição do retrocesso social
Assim o fez o Ministro Arnaldo Esteves Lima que, no Incidente de Deslocamento de Com-
petência nº 1 (2005/0029378-4), de 10/10/2005, ajuizado junto ao STJ, proferiu seu voto
com propriedade, embasado no critério da proporcionalidade e suas máximas parciais.
Petardo – 317
O princípio da proporcionalidade como via de aferição do retrocesso social
Vê-se, portanto, que esse subprincípio não está tão conexo à com-
posição da causalidade (entre meio e fim) quanto os subprincípios da
adequação e necessidade. Está, porém, relacionado a uma valoração
substancial, a um sopesamento entre o peso da intervenção, às ra-
zões que a justificam, os inconvenientes e às possíveis conseqüências
geradas pela restrição do direito fundamental.
Destarte,
É certo que a pós-modernidade vem sepultando o simples binômio sociedade civil versus
Estado. Em tempos de globalização e delegação de funções a organismos heterogêneos (as-
sim ditos devido às suas composições civis com incumbências de concretizarem interesses
do poder público), surgidos entre os dois extremos, não há que se falar em direitos funda-
mentais como categoria exclusiva das pessoas naturais. As relações jurídicas emergentes
entre sindicatos, Estado, associações civis e organizações fizeram com que alguns direitos
fundamentais fossem estendidos, também, a essas entidades.
Petardo – 319
O princípio da proporcionalidade como via de aferição do retrocesso social
E continua:
Petardo – 321
O princípio da proporcionalidade como via de aferição do retrocesso social
Petardo – 323
O princípio da proporcionalidade como via de aferição do retrocesso social
Petardo – 325
O princípio da proporcionalidade como via de aferição do retrocesso social
Petardo – 327
O princípio da proporcionalidade como via de aferição do retrocesso social
Petardo – 329
O princípio da proporcionalidade como via de aferição do retrocesso social
Petardo – 331
O princípio da proporcionalidade como via de aferição do retrocesso social
26 Ver Acórdãos nº 34/84 – TC, nº 465/01 – TC e nº 254/02 – TC, todos do Tribunal Consti-
tucional de Portugal.
27 Até o momento tem-se notícia de duas ADIs impetradas pelo Partido dos Trabalhadores
– PT, cujo princípio da proibição aparece como um dos fundamentos jurídicos constantes
na inicial. Nenhuma, porém, obteve êxito nos seus objetivos. Ver ADI nº 2002.
Petardo – 333
O princípio da proporcionalidade como via de aferição do retrocesso social
5. Considerações finais
Petardo – 335
O princípio da proporcionalidade como via de aferição do retrocesso social
Referências bibliográficas
Petardo – 337
A Reforma Política Brasileira:
questões controversas sobre financiamento
público de campanhas, listas fechadas e
fidelidade partidária a partir da teoria
do estado de partidos (Parteinstaat)
O sistema
Os funcionários não funcionam.
Os políticos falam, mas não dizem.
Os votantes votam, mas não escolhem.
Os meios de informação desinformam.
Os centros de ensino ensinam a ignorar.
Os juízes condenam as vítimas.
Os militares estão em guerra contra seus compatriotas.
1. Introdução
E ste artigo visa fazer uma análise de algumas propostas que tra-
mitam no Congresso Nacional sobre a Reforma Política, a qual
é debatida no Brasil desde a aprovação da Constituição de 1988; são
mais de 150 projetos, tanto de leis como de emenda à constituição,
que tramitam no Congresso Nacional. Dado ao grande número de
projetos que tramitam sobre o referido tema, em fevereiro de 2003,
foi instalada, no Congresso Nacional, a Comissão Especial de Refor-
ma Política que, com o intuito de facilitar os trabalhos, aglutinou as
principais proposições no projeto de Lei n°2679/2003.
Grande parte dessas dezenas de projetos versam sobre alguns te-
mas pontuais, como listas fechadas, financiamento público, fidelidade
partidária, cláusula de barreiras, sistema proporcional, verticalização
das coligações, federação partidária, coligações e etc.
Neste trabalho optou-se por fazer uma análise de três pontos
abordados nas propostas de reforma, o financiamento público e a
adoção das listas e fidelidade partidária. A escolha desses se deu em
virtude de se acreditar que são três temas polêmicos e também pelo
ideal de que são eles os que possuem maior potencial transformador
do nosso sistema eleitoral.
O referencial teórico adotado foi a Teoria do Estado de Partidos
– “Parteinstaat” em alemão -, por ela nos apresentar um novo arqué-
tipo de representação política, uma alternativa ao modelo liberal de
representação política. Assim, já se partiu do pressuposto de que
para a realização de qualquer reforma política no Brasil, é preciso
transcender o atual modelo de representação. O referencial teórico
usado, como poderá ser visto já no início do artigo, trabalha com
uma sistemática de representação relativamente diferente da atual
e muito pode contribuir para análise política brasileira.
Petardo – 341
A Reforma Política Brasileira...
Petardo – 343
A Reforma Política Brasileira...
pular, ou ainda por meio dos partidos que tenham obtido a maioria
popular, pois a vontade dos cidadãos se identifica com a vontade da
totalidade nacional (GÁRCIA-PELAYO, 1986 p.45).
a máquina política deve funcionar como uma máquina que tem idéias
por realizar, deve funcionar como se fosse as pernas do programa,
enquanto o programa teórico-político não pode ser outra coisa que
uma cabeça que se dá as pernas. Caso contrário, a prática política decai
a mera força e a teoria política se volatiliza em mero doutrinarismo
(CERRONI, 1982, p.36).
Para que se possa ter uma idéia um pouco mais clara do que vem
a ser o partido político, pode-se analisar o que ele não é, assim, pre-
tende-se fazer uma breve distinção entre o partido político e a parte
política na concepção de Cerroni, bem como diferenciar o partido de
facção. A distinção entre partido e fração será abordada adiante.
Ao conceituar o partido político, o italiano, Umberto Cerroni,
enfatiza que essa instituição é deveras diferente das agregações polí-
ticas e não pode, jamais, ser confundida com parte política. Reduzir
o partido à parte política significa, para Cerroni, minimizar o partido
“à problemática mais geral, mais genérica das opções políticas” (CERRONI,
Petardo – 345
A Reforma Política Brasileira...
Petardo – 347
A Reforma Política Brasileira...
O caso mais recente de recall ocorreu na Califórnia, com o afastamento do governador Gray
Davis, do Partido Democrata e a eleição do Republicano Arnold Schwarzenegger.
O Presidente do Reich pode, por moção do Reichstag, ser retirado do cargo antes da expiração
do seu mandato por meio do voto do povo. A resolução de Reichstag deve ser sustentada
por uma maioria de 2/3. Com a adoção de tal resolução o presidente do Reich é impedido de
prosseguir no exercício do seu cargo. A recusa em retirá-lo do cargo expressa pelo voto do
povo é equivalente a uma re-eleição e acarreta necessariamente a dissolução do Reichstag.
Petardo – 349
A Reforma Política Brasileira...
Quando a matéria em questão esteja autorizada pelo estatuto do partido a decisão de forma
colegiada.
Caso esteja o filiado exercendo mandato eletivo, a conseqüência lógica, conforme já exposto
acima é a perda do mandato com a saída do partido.
Petardo – 351
A Reforma Política Brasileira...
Petardo – 353
A Reforma Política Brasileira...
Fonte: estudo do professor da USP e consultor político Galdêncio Torquato, com base nas
campanhas dos principais candidatos à Presidência em 2002, publicado na Revista Veja, São
Paulo, n. 1920, p. 48, ago.2005.
Fonte: estudo do professor da USP e consultor político Galdêncio Torquato, com base nas
campanhas dos principais candidatos à Presidência em 2002, publicado na Revista Veja, São
Paulo, n. 1920, p. 48, ago.2005.
Amparo constitucional no art. 17 da Constituição Federal 1988 que dispõe que os partidos
políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão,
na forma da lei.
Não existe a possibilidade de colocarmos dados reais, uma vez que os candidatos não declaram
o que realmente recebem de doações de campanha, por isso a expressão “acredita-se”.
Petardo – 355
A Reforma Política Brasileira...
O fundo partidário, originalmente, foi criado pela Lei n°4.170, de 15 de julho de 1965, o
qual, em sua origem, era composto por recursos provenientes das multas eleitorais e das
doações de particulares. Os recursos eram repassados à Justiça Eleitoral que, por sua vez,
distribuía aos partidos políticos da época, a Arena e o MDB, sendo que 20% do total do
fundo eram distribuídos igualmente aos dois partidos, ou seja, 10% para cada, e os 80%
restantes eram distribuídos proporcionalmente ao número de cadeiras ocupadas na Câmara
dos Deputados por cada um desses partidos. Feito o repasse, os partidos deveriam fazer os
repasses aos diretórios estaduais e esses, por conseguinte, fariam-no aos diretórios muni-
cipais. A Constituição de 1988 constitucionalizou o fundo e a Lei 9096/95 em seu art. 38 e
regulamentou que, além das multas e demais penalidades e das doações, a União incluirá
no seu orçamento anualmente uma quantia de 0,35 centavos de real por número de eleitores
inscritos em 31 de dezembro do ano anterior ao da proposta orçamentária, sendo que tal
montante também comporá o fundo partidário.
Art. 38 da Lei 9096/95. O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos
(Fundo Partidário) é constituído por:
I - multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código Eleitoral e leis conexas;
II - recursos financeiros que lhe forem destinados por lei, em caráter permanente ou
eventual;
III - doações de pessoa física ou jurídica, efetuadas por intermédio de depósitos bancários
diretamente na conta do Fundo Partidário;
IV - dotações orçamentárias da União em valor nunca inferior, cada ano, ao número de
eleitores inscritos em 31 de dezembro do ano anterior ao da proposta orçamentária, mul-
tiplicados por trinta e cinco centavos de real, em valores de agosto de 1995.
Petardo – 357
A Reforma Política Brasileira...
10 Art. 79 da Lei 19504/1997. O financiamento das campanhas eleitorais com recursos públicos
será disciplinado em lei específica.
11 Art. 81 da Lei 19504/1997. As doações e contribuições de pessoas jurídicas para cam-
panhas eleitorais poderão ser feitas a partir do registro dos comitês financeiros dos
partidos ou coligações.
§ 1º As doações e contribuições de que trata este artigo ficam limitadas a dois por cento do
faturamento bruto do ano anterior à eleição.
§ 2º A doação de quantia acima do limite fixado neste artigo sujeita a pessoa jurídica ao
pagamento de multa no valor de cinco a dez vezes a quantia em excesso.
§ 3º Sem prejuízo do disposto no parágrafo anterior, a pessoa jurídica que ultrapassar
o limite fixado no § 1º estará sujeita à proibição de participar de licitações públicas e de
celebrar contratos com o Poder Público pelo período de cinco anos, por determinação da
Justiça Eleitoral, em processo no qual seja assegurada ampla defesa.
12 Art. 24. É vedado, ao partido e candidato, receber direta ou indiretamente doação em di-
nheiro ou estimável em dinheiro, inclusive por meio de publicidade de qualquer espécie,
procedente de:
I - entidade ou governo estrangeiro;
II - órgão da administração pública direta e indireta ou fundação mantida com recursos
provenientes do Poder Público;
III - concessionário ou permissionário de serviço público;
IV - entidade de direito privado que receba, na condição de beneficiária, contribuição
compulsória em virtude de disposição legal;
V - entidade de utilidade pública;
VI - entidade de classe ou sindical;
VII - pessoa jurídica sem fins lucrativos que receba recursos do exterior.
13 Art. 31. É vedado ao partido receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou
pretexto, contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive através
de publicidade de qualquer espécie, procedente de:
I - entidade ou governo estrangeiros;
II - autoridade ou órgãos públicos, ressalvadas as dotações referidas no art. 38;
III - autarquias, empresas públicas ou concessionárias de serviços públicos, sociedades de
economia mista e fundações instituídas em virtude de lei e para cujos recursos concorram
órgãos ou entidades governamentais;
IV - entidade de classe ou sindical.
Petardo – 359
A Reforma Política Brasileira...
Petardo – 361
A Reforma Política Brasileira...
Petardo – 363
A Reforma Política Brasileira...
4. Listas Fechadas
Petardo – 365
A Reforma Política Brasileira...
votos dos candidatos dos mesmos partidos para que se possa definir
o cociente partidário. Os votos dos candidatos já eleitos e dos que não
atingiram o quociente eleitoral são computados (transferidos) para os
demais candidatos do mesmo partido, ou da mesma coligação.
Embora com pífia importância em termos de programa político
ideológico, nossa legislação atribui grande importância à legenda
partidária no momento do cômputo dos votos nas eleições. Ainda
que o voto seja dado ao candidato, ele é computado para o partido
ou coligação – legenda –, e quando há muitos candidatos na mesma
coligação partidária ou quando há os chamados “puxadores de voto”,
as aberrações aparecem. O caso mais recente na política nacional foi
o do Deputado Enéas Carneiro - Prona - eleito deputado federal pelo
estado de São Paulo nas eleições de outubro de 2002.
Petardo – 367
A Reforma Política Brasileira...
Petardo – 369
A Reforma Política Brasileira...
5. Fidelidade Partidária
Petardo – 371
A Reforma Política Brasileira...
16 A regulamentação do instituto era fornecida pela Lei n° 5.682, de 1971 que era a Lei Orgânica
dos Partidos Políticos.
17 Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos
casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
II - incapacidade civil absoluta;
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do
art. 5º, VIII;
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.
18 Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;
Petardo – 373
A Reforma Política Brasileira...
Petardo – 375
A Reforma Política Brasileira...
6. Considerações Finais
25 PEC n° 42/95 Dep. Rita Camata. Ementa: Perda do mandato do parlamentar que vier a se
desfiliar do partido sob cuja legenda foi eleito.
PEC n° 60/95 Dep. Sílvio Torres. Ementa: Acrescenta inciso ao art. 55 da CF, punindo o
parlamentar que se filiar a partido político distinto daquele pelo qual ele foi eleito.
PEC n° 27/99 Dep. César Bandeira. Ementa: Estabelece a perda do mandato para os mem-
bros do Poder Legislativo que trocarem de partido.
PEC n° 51/95 Dep. Murilo Pinheiro. Ementa: Acrescenta inciso ao art. 55 da Constituição
Federal, pune o parlamentar com a perda de mandado no caso de mudança de filiação
partidária antes de completar pelos menos metade do mandato.
PEC n° 143/99 Dep. Freire Júnior. Ementa: Perda do mandato ao parlamentar que se filiar
ao partido diverso daquele pelo qual foi eleito
26 PEC 24/99 Dep. Eunício de Oliveira. Ementa: Acrescenta parágrafos ao art. 17 e altera o
art. 55 da Constituição Federal, dispondo sobre fidelidade partidária. Perda do mandado
ao parlamentar que deixar o partido sob cuja legenda tenha sido eleito. Perda do mandato
por descumprimento de decisão partidária tomada em convenção por 2/3 dos votos.
PEC n° 137/99 Dep. Hélio Rosa. Ementa: Dispõe sobre a fidelidade partidária, acrescentando
parágrafos aos art. 17 da CF/88. Perda do mandato ao parlamentar que deixar o partido em
cuja legenda foi eleito, salvo para fundar novo partido. Perda do mandato ao parlamentar
que por atitude ou voto, se opuser os princípios fundamentais do estatuto Partidário.
Petardo – 377
A Reforma Política Brasileira...
Petardo – 379
A Reforma Política Brasileira...
7. Anexo
Petardo – 381
A Reforma Política Brasileira...
Fonte: Ianoni, Marcus, Dirceu, José. Reforma Política: Instituições e democracia no Brasil atual.
Editora Perseu Abramo: São Paulo, 1999. p. 41.
Referências bibliográficas
Obras
Petardo – 383
A Reforma Política Brasileira...
Periódicos
Websites