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- Portugal em guerra.
A partir do momento que a união entre as coroas é concretizada, Portugal
também se vê em conflito contra os holandeses. A princípio os portugueses
reclamam bastante porque acreditam que se teve alguém que saiu prejudicado
da União Ibérica foram eles, isto porque “haviam ganhado de dote uma guerra”.
Boxer acredita que estas reclamações não eram justas, pois segundo
este autor mais cedo ou mais tarde o conflito iria ocorrer, já que haviam
contestações ao fato de Portugal ambicionar ser a única nação soberana a leste
do cabo da Boa Esperança, e a Inglaterra, inclusive, já havia o feito no que
tange o monopólio comercial português da Guiné.
Todavia é Portugal que mais sofre com a guerra, seu império colonial se
localizava majoritariamente em regiões costeiras o que o tornava alvo favorito e
mais vulnerável para seu inimigo, desde o momento que México e Peru, vice-
reinos espanhóis, se encontravam mais para o interior de seus de seus
territórios.
Os Estados Gerais possuíam um grande interesse comercial no império
colonial português e não obstante atacaram justamente pontos chaves do
comércio ultramarino português. Visavam a África ocidental, principalmente a
Guiné, região que fornecia além dos escravos sudaneses de “qualidade
superior” e que eram mais valorizados que os bantos dispunha igualmente de
ouro, na Ásia seus focos eram as especiarias se destacando o “cravo da índia e
a noz-moscada das Molucas, a canela do Ceilão (atual Sri-Lanka) e a pimenta
da Costa Malabar. Os holandeses ainda se voltaram para a América portuguesa
que contava com o então valorizado açúcar, chegando a ocupar Pernambuco de
1630 à 1654.
Os primeiros ataques da República Holandesa, como anteriormente
mencionado, na guerra colonial contra Portugal, ocorrem nas ilhas de São Tomé
e Príncipe 1598-9, progressivamente a guerra vai atingindo proporções maiores
e não se demora o conflito já esta ocorrendo em posessões portuguesas da
Ásia, África e América. Aos poucos os holandeses vão conquistando importantes
vitórias nas possessões ultramarinas portuguesa.
Como característica de todo conflito, que envolve nações até certo ponto
em equilíbrio, que perdura por muito tempo, a guerra luso-neerlandesa é rica de
nuances e vicissitudes que ora deixam uma nação numa posição mais
confortável e ora outra assume este papel, o tempo todo teremos avanços de
territórios por parte dos holandeses e recuos em um segundo momento, ou vice-
versa.
Durante o conflito foi possível identificar desvantagens que se
sobressaem no que se referem à nação lusitana, estas se identificam através de
alguns fatores principais. Em primeiro lugar recursos finaceiros maior no que
tange aos holandeses, não nós esqueçamos que eles eram subsidiados pelas
então “poderosas” Companhia Holandesa das Índias Orientais e Companhia
Holandesa das Índias Ocidentais, enquanto Portugal se encontrava debilitado
neste aspecto esta afirmação vem do Próprio Boxer que escreve “As Províncias
Unidas da Holanda Livre eram uma metrópole mais rica do que o empobrecido
reino de Portugal”3. Em segundo lugar a Holanda contava com um número
superior de homens, mesmo que ambas as nações possuíssem um número
estimado de população semelhante, entre 1,25 e 1,5 milhões de habitantes. Este
fator é decorrente do fato de que Portugal tinha que disponibilizar homens para a
Espanha, enquanto a República Holandesa podia contar ainda com soldados
alemães e escandinavos. Estes ainda usufruíam de um efetivo naval superior,
o ilustre padre jesuíta Antonio Vieira dizia em 1649, mesmo que de forma
exagerada, que “os holandeses dispunham de 250 mil marinheiros para tripular
os navios, enquanto Portugal não conseguia reunir 4 mil”. Entre várias
explicações para o baixo efetivo naval português podemos citar as adversidades
que os marinheiros enfrentavam como doenças, advindas da insalubridade dos
navios, a questão do soldo também pesava bastante, pois a princípio a coroa
pagava este antes do embarque e posteriormente esta prática se modifica
passando a coroa pagar após o embarque e não obstante o atraso desses
pagamentos eram constantes. Os marinheiros ainda enfrentavam o preconceito
da sociedade portuguesa contra eles, esta não via com bons olhos a ocupação
de marinheiro que segundos eles eram ignorantes e desprezíveis, a junção
desses fatores fazia com que muitos tergiversassem dessa profissão.
Os neerlandeses em geral contavam ainda com comandantes de
qualidade superior, isso é proveniente do fato de que eles escolhiam seus
líderes pelas habilidades demonstradas e competência profissional ao contrário
de Portugal que elegia seus chefes navais e militares por status e genealogia de
nobreza. Obviamente Portugal contou ao longo da idade moderna com
excelentes líderes militares e navais, para isto basta citarmos “O Grande César
do Oriente” Afonso de Albuquerque (1453-1515), porém estes casos mais se
configuravam como exceção do que regra. Destarte como resultado desta
prática Portugal iria sofrer deploráveis derrotas principalmente com os
“despreparados” vice-reis de Goa.
Insistindo na qualidade dos homens que lutavam pelos dois lados
devemos ainda lembrar que boa parte do contingente de soldados rasos
contratados pelas Companhias Holandesa das Índias Ocidental e Oriental eram
mercenários de origem nórdica famosos pela sua robustez e disciplina, um
oficial português de serviço na Bahia relatava em 1625 que “Eram todos jovens,
homens escolhidos que brilhariam em qualquer infantaria do mundo”4. Em
contrapartida os soldados portugueses eram na sua maioria homens advindos
de prisões e condenados, recrutados a força tinham como característica a
indisciplina e o despreparo para as batalhas, o número de deserção era grande.
Para agravar ainda mais esta situação muitos passavam fome pois a coroa,
como já observado, se encontrava empobrecida.
- Vencedores?
Os portugueses possuíam esperança que com a divisão das coroas,
espanhola e portuguesa, em 1641 os holandeses parassem de atacar,
esperança que se demonstraria infundada. O primeiro esboço de trégua
definitiva viria com o tratado de paz realizado em Haia 1661, contudo os
holandeses não o respeitaram e voltaram a atacar possessões no além mar de
Portugal.
Não obstante dom João IV procura realizar uma aliança que fortalecesse
a coroa portuguesa e de quebra ajudasse na resolução do conflito contra os
holandeses. E dom João atinge seu objetivo em 1661 quando casa sua filha
Catarina de Bragança com Carlos II de Inglaterra, esta aliança é efetuada, mas
não sem sacrifícios por parte de Portugal porque como dote cede Bombaim e
Tânger, dote concedido, porém debaixo de protestos da sociedade portuguesa,
afinal de contas a aliança ocorria com os hereges ingleses, não é a toa que
ulteriormente a este casamento o brio da sociedade portuguesa é abalado.
Contando com o apoio dos ingleses, Portugal obtém a paz definitiva em 1668-9.
É importante ressaltarmos que simpatizamos com Boxer de que quando o
conflito finalmente se encerra não há vitoriosos perante o quadro geral da
guerra, no entanto podemos observar da seguinte forma; vitória holandesa na
Ásia, nesta boa parte das “conquistas” são perdidas como a costa de Malabar,
empate na África, aqui a Holanda consegue uma importante vitória na Guiné em
contrapartida Portugal retoma em definitivo a Angola com a liderança de
Salvador Correia de Sá, e vitória lusitana na América com a expulsão dos
holandeses de Pernambuco em 1654.
Apesar da superação de Portugal neste conflito o que de fato fica
marcado é que após este conflito, e outros, o Estado da Índia vai aos poucos
perdendo sua relevância no contexto colonial de Portugal, vindo a ser totalmente
substituído, no aspecto prestígio, no século XVIII pelo Brasil, que iria começar a
“colher ouro das Minas”. A Ásia portuguesa iria declinar vertiginosamente e
depois da guerra luso-holandesa tanto o império marítimo português quanto à
“Goa Dourada” nunca mais seriam os mesmos, havendo alterações de vital
importância de cunho político e comercial no cenário colonial de Portugal.