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Conflito ibérico-Holandês: Portugal em destaque.

O conflito ibérico-holandês 1568-1669 é para muitos considerado o


primeiro conflito de escala mundial e alguns intelectuais chegam a afirmar que
este se tratou na verdade da primeira guerra mundial, pois as batalhas travadas
durante o conflito ocorreram em quatro continentes o que de fato ultrapassa a
questão geográfica da então “legítima” 1º guerra mundial. Boxer no seu livro o
Império Marítimo Português 1415-1825 comunga desta mesma opinião ao
afirmar que “… a luta foi sem dúvida mundial. A guerra foi travada não só nos
campos de Flandres e no mar do Norte, como também em regiões tão remotas
como o estuário do Amazonas, o interior de Angola, a ilha de Timor e a costa do
Chile”.¹ Muitos contestam esta visão dizendo que o número de vítimas da grande
guerra foi incomparavelmente superior, mas se compararmos a população neste
período com certeza encontraremos um número incomparavelmente inferior,
também. De fato foi um conflito de grandes proporções e que seria travado em
todo o império colonial dos Habsburgos e posteriormente nas “conquistas
portuguesas”.

- O início: Guerra dos Oitenta Anos.


O conflito se inicia, para a Espanha, em 1568 quando Guilherme I de
Orange decide afastar o impopular Duque de Alba de Bruxelas, esta atitude não
terá muito apoio e Guilherme I se vê forçado a fugir. Em 1579 a Espanha cria a
União de Arras e reforça o catolicismo nos territórios que englobam esta união.
Em contrapartida Guilherme I une os estados protestantes na União de Utrecht
(1581) igualmente denominada República das Sete Províncias Unidas dos
Países Baixos, Estados Gerais e ou República Holandesa. A guerra para a
Espanha termina com o tratado de Münster (1648) que reconhecia a
Independência das Províncias Unidas.
Entretanto o caminho se torna meandroso em 1580 quando ocorre a
célebre União Ibérica que resultaria na entrada de Portugal no conflito. Todavia
o confronto de verdade chega em Portugal somente por volta de 1598-9 com o
ataques das Províncias Unidas as ilhas de São Tomé e Princípe. Para os
portugueses, no entanto, a guerra terminaria somente em 1668-9 mesmo com a
restauração da dinastia de Bragança em Portugal (1640-1) – o que ocasiona na
secção das coroas - e com o tratado de paz de Haia sendo assinado em 1661.
Como Portugal será o nosso principal objeto de estudo neste artigo -
apesar da Espanha ser o pivô desta história afinal a Holanda havia se revoltado
contra esta nação e não contra aquela – iremos nos ater a ele e para
compreendermos melhor sua particpação neste conflito, se faz necessário lançar
luzes sobre a União Ibérica.

- Dois países um Império só, aonde o sol nunca se põe.


União Ibérica é assim que ficou conhecido o período de união das coroas
espanholas e portuguesa em uma só, ela durou de 1580 até 1640 quando ocorre
o período da Restauração. A união e ocasionada quando dom Sebastião –
soberano de Portugal – morre em 04 de agosto de 1578 na batalha de Alcácer
Quibir no Marrocos, ele deixa como herdeiro da coroa o cardeal dom Henrique,
porém este, já velho, vem a falecer em janeiro de 1580. Após a morte de dom
Henrique o último da disnatia dos Avis, o rei Filipe reivindica a coroa portuguesa
para sí, partindo do princípio que sua mãe era portuguesa e seu avô foi dom
Manoel o Venturoso. Filipe obtém ainda nos mesmo ano a coroa portuguesa, e
se vangloriava de seu novo Império, onde o sol nunca se punha, “Herdei-o,
comprei-o, conquistei-o” (“Yo lo heredé, yo lo compré, yo lo conquisté”).
Filipe II não encontrou resistência muito grande entre os portugueses, boa
partes da nobreza e do alto clero lhe eram favoráveis, somente encontrando
obstáculos em dom Antônio, o prior do Crato, que chegou a resistir, uma
resistência simbólica, na ilha Terceira situada nos Açores, porém não era
suficiente para impedir a ascensão de Filipe II ao trono português e se tornar
Filipe I de Portugal. Dom Antônio representante dos nacionalistas acaba se
refugiando na Inglaterra da rainha Isabel.
Filipe consegue a coroação com o sancionamento das Cortes em 1581 e
institui na mesma época que apesar de unidas pela coroa tanto a administração
de Portugal quanto a da Espanha deveriam permanecer separadas. Uma sábia
decisão de sua parte já que - correndo o risco de sermos anacrônicos - o
sentimento nacionalista era forte na sociedade portuguesa. Além desta decisão
“O rei Filipe II de Espanha e Filipe I de Portugal jurou preservar as leis e a lingua
portuguesa; a consultar conselheiros portugueses em todos os assuntos
concernentes a Portugal e suas posessões ultramarinas, e a nomear apenas
funcionários portugueses para elas. Os espanhóis estavam expressamente
proibidos de comerciar ou de se fixar no império português, e os portugueses, no
espanhol”.²
A União Ibérica perdura até 1640-41 quando Portugal se revolta contra o
governo dos espanhóis de Filipe IV de Espanha e Filipe III de Portugal. Findado
o predomínio da coroa espanhola sobre a portuguesa, com a ascensão de dom
João IV, e dado o início a uma nova dinastia a dos Bragança.

- Portugal em guerra.
A partir do momento que a união entre as coroas é concretizada, Portugal
também se vê em conflito contra os holandeses. A princípio os portugueses
reclamam bastante porque acreditam que se teve alguém que saiu prejudicado
da União Ibérica foram eles, isto porque “haviam ganhado de dote uma guerra”.
Boxer acredita que estas reclamações não eram justas, pois segundo
este autor mais cedo ou mais tarde o conflito iria ocorrer, já que haviam
contestações ao fato de Portugal ambicionar ser a única nação soberana a leste
do cabo da Boa Esperança, e a Inglaterra, inclusive, já havia o feito no que
tange o monopólio comercial português da Guiné.
Todavia é Portugal que mais sofre com a guerra, seu império colonial se
localizava majoritariamente em regiões costeiras o que o tornava alvo favorito e
mais vulnerável para seu inimigo, desde o momento que México e Peru, vice-
reinos espanhóis, se encontravam mais para o interior de seus de seus
territórios.
Os Estados Gerais possuíam um grande interesse comercial no império
colonial português e não obstante atacaram justamente pontos chaves do
comércio ultramarino português. Visavam a África ocidental, principalmente a
Guiné, região que fornecia além dos escravos sudaneses de “qualidade
superior” e que eram mais valorizados que os bantos dispunha igualmente de
ouro, na Ásia seus focos eram as especiarias se destacando o “cravo da índia e
a noz-moscada das Molucas, a canela do Ceilão (atual Sri-Lanka) e a pimenta
da Costa Malabar. Os holandeses ainda se voltaram para a América portuguesa
que contava com o então valorizado açúcar, chegando a ocupar Pernambuco de
1630 à 1654.
Os primeiros ataques da República Holandesa, como anteriormente
mencionado, na guerra colonial contra Portugal, ocorrem nas ilhas de São Tomé
e Príncipe 1598-9, progressivamente a guerra vai atingindo proporções maiores
e não se demora o conflito já esta ocorrendo em posessões portuguesas da
Ásia, África e América. Aos poucos os holandeses vão conquistando importantes
vitórias nas possessões ultramarinas portuguesa.
Como característica de todo conflito, que envolve nações até certo ponto
em equilíbrio, que perdura por muito tempo, a guerra luso-neerlandesa é rica de
nuances e vicissitudes que ora deixam uma nação numa posição mais
confortável e ora outra assume este papel, o tempo todo teremos avanços de
territórios por parte dos holandeses e recuos em um segundo momento, ou vice-
versa.
Durante o conflito foi possível identificar desvantagens que se
sobressaem no que se referem à nação lusitana, estas se identificam através de
alguns fatores principais. Em primeiro lugar recursos finaceiros maior no que
tange aos holandeses, não nós esqueçamos que eles eram subsidiados pelas
então “poderosas” Companhia Holandesa das Índias Orientais e Companhia
Holandesa das Índias Ocidentais, enquanto Portugal se encontrava debilitado
neste aspecto esta afirmação vem do Próprio Boxer que escreve “As Províncias
Unidas da Holanda Livre eram uma metrópole mais rica do que o empobrecido
reino de Portugal”3. Em segundo lugar a Holanda contava com um número
superior de homens, mesmo que ambas as nações possuíssem um número
estimado de população semelhante, entre 1,25 e 1,5 milhões de habitantes. Este
fator é decorrente do fato de que Portugal tinha que disponibilizar homens para a
Espanha, enquanto a República Holandesa podia contar ainda com soldados
alemães e escandinavos. Estes ainda usufruíam de um efetivo naval superior,
o ilustre padre jesuíta Antonio Vieira dizia em 1649, mesmo que de forma
exagerada, que “os holandeses dispunham de 250 mil marinheiros para tripular
os navios, enquanto Portugal não conseguia reunir 4 mil”. Entre várias
explicações para o baixo efetivo naval português podemos citar as adversidades
que os marinheiros enfrentavam como doenças, advindas da insalubridade dos
navios, a questão do soldo também pesava bastante, pois a princípio a coroa
pagava este antes do embarque e posteriormente esta prática se modifica
passando a coroa pagar após o embarque e não obstante o atraso desses
pagamentos eram constantes. Os marinheiros ainda enfrentavam o preconceito
da sociedade portuguesa contra eles, esta não via com bons olhos a ocupação
de marinheiro que segundos eles eram ignorantes e desprezíveis, a junção
desses fatores fazia com que muitos tergiversassem dessa profissão.
Os neerlandeses em geral contavam ainda com comandantes de
qualidade superior, isso é proveniente do fato de que eles escolhiam seus
líderes pelas habilidades demonstradas e competência profissional ao contrário
de Portugal que elegia seus chefes navais e militares por status e genealogia de
nobreza. Obviamente Portugal contou ao longo da idade moderna com
excelentes líderes militares e navais, para isto basta citarmos “O Grande César
do Oriente” Afonso de Albuquerque (1453-1515), porém estes casos mais se
configuravam como exceção do que regra. Destarte como resultado desta
prática Portugal iria sofrer deploráveis derrotas principalmente com os
“despreparados” vice-reis de Goa.
Insistindo na qualidade dos homens que lutavam pelos dois lados
devemos ainda lembrar que boa parte do contingente de soldados rasos
contratados pelas Companhias Holandesa das Índias Ocidental e Oriental eram
mercenários de origem nórdica famosos pela sua robustez e disciplina, um
oficial português de serviço na Bahia relatava em 1625 que “Eram todos jovens,
homens escolhidos que brilhariam em qualquer infantaria do mundo”4. Em
contrapartida os soldados portugueses eram na sua maioria homens advindos
de prisões e condenados, recrutados a força tinham como característica a
indisciplina e o despreparo para as batalhas, o número de deserção era grande.
Para agravar ainda mais esta situação muitos passavam fome pois a coroa,
como já observado, se encontrava empobrecida.

- Batalha no campo teológico.


Tanto portugueses como holandeses travaram embates memoráveis no
campo religioso, além do claro interesse comercial não podemos nos esquecer
que ambas as sociedades confessavam religiões diferentes, católica e
protestante respectivamente, e se consideravam os responsáveis pela
propagação e afirmação destas. O século XVI havia sido marcado pelas
reformas protestantes e pelo advento do concílio de Trento, estes
acontecimentos iriam ter seus reflexos nos séculos seguintes, inclusive no
século XVII aonde ocorre à maior parte do conflito luso-holandês, e acabariam
por aumentar as tensões geradas por este. Tensões facilmente detectadas por
relatos da época fabricados por ambas as nações, enquanto no Sínodo de Dort,
em 1618-9 era definido que “a igreja de Roma era “a grande prostituta da
Babilônia”, e o papa o verdadeiro anticristo.”,5 em Portugal um cronista escrevia
em 1624 “Os holandeses são apenas bons artilheiros e, além disso, servem
somente para serem queimados como hereges desesperados”.6
Contanto nesta batalha podemos afirmar peremptoriamente que os
discípulos de Lutero não conseguiram atingir o nível de seus rivais,
principalmente quando se tratava do corpo jesuítico português, e inúmero são os
relatos que comprovam a flagrante derrota holandesa no campo teológico, o
calvinista escocês Alexander Hamilton queixava-se se de que os bantos da
região de Zambeze e do litoral moçambicano só comercializavam com os
portugueses, pois esses quando acompanhados de “padres” ocasionavam medo
nos nativos.7
De fato a batalha teológica terminou com vitória dos portugueses, seu
êxito foi tão grande no que condiz ao proselitismo que em algumas regiões
aonde os portugueses haviam se estabelecido durante seu império colonial
possuem até hoje, por mais que não fique tão claras devido ao sincretismo
religioso, tradições católicas.

- Vencedores?
Os portugueses possuíam esperança que com a divisão das coroas,
espanhola e portuguesa, em 1641 os holandeses parassem de atacar,
esperança que se demonstraria infundada. O primeiro esboço de trégua
definitiva viria com o tratado de paz realizado em Haia 1661, contudo os
holandeses não o respeitaram e voltaram a atacar possessões no além mar de
Portugal.
Não obstante dom João IV procura realizar uma aliança que fortalecesse
a coroa portuguesa e de quebra ajudasse na resolução do conflito contra os
holandeses. E dom João atinge seu objetivo em 1661 quando casa sua filha
Catarina de Bragança com Carlos II de Inglaterra, esta aliança é efetuada, mas
não sem sacrifícios por parte de Portugal porque como dote cede Bombaim e
Tânger, dote concedido, porém debaixo de protestos da sociedade portuguesa,
afinal de contas a aliança ocorria com os hereges ingleses, não é a toa que
ulteriormente a este casamento o brio da sociedade portuguesa é abalado.
Contando com o apoio dos ingleses, Portugal obtém a paz definitiva em 1668-9.
É importante ressaltarmos que simpatizamos com Boxer de que quando o
conflito finalmente se encerra não há vitoriosos perante o quadro geral da
guerra, no entanto podemos observar da seguinte forma; vitória holandesa na
Ásia, nesta boa parte das “conquistas” são perdidas como a costa de Malabar,
empate na África, aqui a Holanda consegue uma importante vitória na Guiné em
contrapartida Portugal retoma em definitivo a Angola com a liderança de
Salvador Correia de Sá, e vitória lusitana na América com a expulsão dos
holandeses de Pernambuco em 1654.
Apesar da superação de Portugal neste conflito o que de fato fica
marcado é que após este conflito, e outros, o Estado da Índia vai aos poucos
perdendo sua relevância no contexto colonial de Portugal, vindo a ser totalmente
substituído, no aspecto prestígio, no século XVIII pelo Brasil, que iria começar a
“colher ouro das Minas”. A Ásia portuguesa iria declinar vertiginosamente e
depois da guerra luso-holandesa tanto o império marítimo português quanto à
“Goa Dourada” nunca mais seriam os mesmos, havendo alterações de vital
importância de cunho político e comercial no cenário colonial de Portugal.

Autor: CASTANHO, Felipe; graduando da Faculdades Integradas Simonsen.


Notas:
1 – BOXER, C. R.; O império marítimo português 1415-1825; 3º reimpressão;
companhia das letras 2008; página 120.
2 – ibidem; página 122.
3 – ibidem; página 127.
4 – ibidem; página 130.
5 – ibidem; página 121.
6 – ibidem; página 121.
7 – ibidem; página 137.
Fontes Bibliográficas:
1 – BOXER, C. R.; O império marítimo português 1415-1825; 3º reimpressão;
companhia das letras 2008.
2 - BOXER, C. R.; A Idade de Ouro do Brasil – Dores de Crescimento de uma
Sociedade Colonial; Nova Fronteira 2000.
3 - Voltaire Schilling; A União Ibérica; http://educaterra.terra.com.br/volta
ire/500br/uniao_iberica.htm
4 – DAROZ, Carlos; GUERRA DOS OITENTA ANOS - INDEPENDÊNCIA DA
HOLANDA (1568-1648) ; http://darozhistoriamilitar.blogspot.com/2009/03/guerra-dos-
oitenta-anos-independencia.html

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