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ANA PAULA DE JESUS PEREIRA

O USO DAS FIGURAS DE LINGUAGEM

Faculdade de Educação São Luís


Núcleo de Apoio do Tatuapé
Jaboticabal - SP
2009
ANA PAULA DE JESUS PEREIRA

O USO DAS FIGURAS DE LINGUAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de


Educação São Luis, como exigência parcial para a conclusão
do curso de Pós – Graduação Lato Sensu em Língua
Portuguesa, Compreensão e Produção de Textos.

Orientador: Prof. Doutor Luiz Roberto Wagner

Faculdade de Educação São Luís


Núcleo de Apoio do Tatuapé
Jaboticabal - SP
2009
AGRADECIMENTOS

A Deus, pela vida e saúde

A minha filha, Sara pela compreensão e motivação

Aos professores pela orientação e dedicação


“Sou, por meu gosto pesquisador. Experimento toda a sede de conhecer e a ávida inquietude
de progredir, do mesmo modo que a satisfação que toda a aquisição proporciona”

Immanuel Kant em 1710


RESUMO

Há vários tipos de linguagem, cada uma com suas peculiaridades, mas é a


linguagem escrita a modalidade que requer maior cuidado, devido sua
complexidade. É preciso observar a norma culta e o auditório que pretende ser
alcançado; no campo da estilística há diversos recursos que auxiliam o autor pois
proporcionam efeitos a língua escrita. Tais recursos são denominados figuras de
linguagem, e sua finalidade máxima é a valorização do texto dando a ele maior
complexidade. As figuras de linguagem por sua vez se dividem em três
modalidades: As figuras de palavras, as figuras de pensamento e as figuras de
construção. Basicamente as figuras de pensamento dão ao texto recursos sonoros
à linguagem, as figuras de palavra por sua vez buscam dar outro sentido as palavras
empregadas e as figuras de construção dizem respeito aos desvios causados na
coesão, na concordância nas orações.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 08

1 FIGURAS DE LINGUAGEM .................................................................................. 10


1.1 Denotação .......................................................................................................... 10
1.2 Conotação.......................................................................................................... 11
1.3 Figuras de Estilo ............................................................................................... 11

2 FIGURAS DE PALAVRAS..................................................................................... 13
2.1 Comparação ou Símile...................................................................................... 13
2.2 Metáfora ............................................................................................................. 14
2.3 Metonímia........................................................................................................... 15
2.4 Sinédoque .......................................................................................................... 17
2.5 Catacrese ........................................................................................................... 17
2.6 Sinestesia........................................................................................................... 18
2.7 Antonomásia...................................................................................................... 18
2.8 Alegoria .............................................................................................................. 18
2.9 Figura de Harmonia........................................................................................... 19
2.9.1 Aliteração ........................................................................................................ 19
2.9.2 Assonância ..................................................................................................... 19
2.9.3 Paranomásia ................................................................................................... 20
2.9.4 Onomatopéia .................................................................................................. 20

3 FIGURAS DE PENSAMENTO ............................................................................... 21


3.1 Antítese .............................................................................................................. 21
3.2 Apóstrofe ........................................................................................................... 22
3.3. Paradoxo ........................................................................................................... 22
3.4 Eufemismo ......................................................................................................... 23
3.5 Gradação............................................................................................................ 23
3.6 Hipérbole............................................................................................................ 24
3.7 Ironia................................................................................................................... 24
3.8 Prosopopéia....................................................................................................... 24
3.9 Perífrase ............................................................................................................. 25
3.10 Reticência ........................................................................................................ 25
3.11 Retificação ....................................................................................................... 25

4. FIGURAS DE SINTAXE........................................................................................ 26
4.1 Assíndeto ........................................................................................................... 26
4.2 Elipse.................................................................................................................. 26
4.3 Zeugma............................................................................................................... 27
4.4 Anáfora............................................................................................................... 27
4.5 Pleonasmo ......................................................................................................... 27
4.6 Polissíndeto ....................................................................................................... 28
4.7 Anástrofe............................................................................................................ 28
4.8 Hipérbato............................................................................................................ 28
4.9 Sínquise ............................................................................................................. 29
4.10 Hipálage ........................................................................................................... 29
4.11 Anacoluto......................................................................................................... 29
4.12 Silepse.............................................................................................................. 29

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 31

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 33
INTRODUÇÃO

Dentre os vários ramos da gramática destaca-se a Estilística, que estuda


as nuances e estilos da linguagem. Então ao analisar um texto é perceptível o uso
de certos recursos que “embelezam” a escrita, e que podem dar a ela diferentes
sentidos.
Esta monografia abordará os efeitos e os recursos causados pela
estilística, principalmente no que tange as chamadas figuras de estilo.
Na comunicação, principalmente na linguagem escrita é comum que os
textos tenham sentidos diferenciados. A denotação e conotação são justamente
recursos ligados a significação da escrita, a primeira assume o real significado do
texto enquanto a segunda oferece ao leitor um sentido figurado. Porém a estudo
estilístico não se restringe apenas a esses dois recursos, há ainda várias figuras de
estilos que dão as nuances na linguagem.
Essas figuras de estilo também conhecidas como de figuras de linguagem
revelam ao autor uma linguagem valorizada, mais expressiva; tais figuras dividem-se
em figuras de palavras, figuras de pensamento e figuras de construção.
As figuras de palavras se ocupam de desvios causados nas palavras para
que se tornem mais expressivas dando ao texto um sentido diferente do
convencional, este recurso é possível através das figuras: comparação, metáfora,
metonímia, sinédoque, catacrese, sinestesia, autonomásia e alegoria.
Já as figuras de pensamento não atuam propriamente nas palavras, seu
efeito está no campo das idéias, do pensamento, trabalham no contexto semântico
da linguagem. Fazem parte deste rol a antítese, apóstrofe, paradoxo, eufemismo,
gradação, hipérbole, ironia, prosopopéia, perífrase, reticência e retificação.
9

As figuras de construção também conhecida como figuras de sintaxe são


desvios relacionados à concordância das palavras no contexto da oração, são
construídas a partir de omissões, repetições, inversões, rupturas ou concordância
ideológica. Estas figuras são o assíndeto, a elipse, a zeugma, a anáfora, o
pleonasmo, o polissíndeto, a anástrofe, o hipérbato, a sínquise, a hipálage, o
anacoluto e a silepse.
1 FIGURAS DE LINGUAGEM

A comunicação é uma ação humana que compreende transmitir e receber


imagens, idéias, impressões e informações; a linguagem é um meio de
comunicação, sendo que entre suas diversas formas, cabe aqui destacar a
linguagem escrita.
Como todo o tipo de linguagem na escrita também há mensagens a serem
transmitidas para o leitor. E ao passar tal mensagem o emissor pode se valer de
recursos para realçá-la, podendo uma mesma mensagem de acordo com a nuance
utilizada ter diversos significados.
É justamente a Estilística que vai estudar essas nuances e recursos. Tal
campo de gramática preocupa-se com a utilização da linguagem como meio de
exteriorização de dados emotivos e estéticos.
Segundo Pasquale e Infante (1999, pg. 571) “seu objeto de estudo são os
processos de manipulação da linguagem que permite a quem fala ou escreve mais
do que simplesmente informar – interessam principalmente as possibilidades de
sugerir conteúdos emotivos e intuitivos por meio das palavras e da sua
organização.” Por isso ao analisar um texto ou expressão é preciso observar se o
sentido empregado foi denotativo ou conotativo, justamente pelo fato que conforme
a organização das palavras o efeito dado pode ser diferente.
Então cumpre aqui esclarecer a diferença entre denotação e conotação.

1.1 Denotação
A linguagem denotativa é aquela cujo significado real encontra-se no
dicionário. A palavra quando empregada no sentido denotativo expressa sua
significação usual, literal referindo-se a uma realidade concreta ou imaginária,
afastando-se da subjetividade e da análise fora do discurso.
11

Contudo vale lembrar que mesmo a palavra sendo empregada no sentido


denotativo, ela pode ter significados diferentes, devido sua natureza polissêmica, por
isso cabe ao receptor/leitor identificar o melhor significado da palavra de acordo o
contexto empregado.

1.2 Conotação
A conotação é o inverso da denotação, a significação da palavra não
corresponde à significação estável, ou seja, ao valor representativo como símbolo de
um elemento; o seu significado corresponde a uma transferência do significado
visual para um sentido figurado.
A conotação é a parte do significado das palavras utilizadas para as
expansões emocionais; ela é capaz de sugestionar, despertar emoções, persuadir,
implicando, com isso, subjetividade da expressão.
Exemplos: A corrente marítima não manteve o barco na rota.
“A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir”
(Chico Buarque)

Observa-se que na primeira oração que as palavras corrente e barco


foram empregadas denotativamente, ao passo que no segundo exemplo as mesmas
palavras são conotativas sendo que corrente é uma metáfora de resistência e barco
significa mudança de rumo.
A linguagem conotativa está diretamente ligada as figuras de linguagem.

1.3 Figuras de estilo


As figuras de linguagem ou de estilo são empregadas para valorizar o
texto tornando a linguagem mais expressiva. É uma forma de recurso linguístico
usado para expressar de maneiras diferentes, experiências comuns, conferindo
originalidade, emotividade ou teor positivo ao discurso.
Essas figuras revelam muito da sensibilidade de quem as produz,
traduzindo particularidades estilísticas do autor, as palavras são empregadas no
sentido figurado (conotativo)
12

As figuras de linguagem classificam-se em

A) figuras de palavra
B) figuras de pensamento
C) figuras de construção
2. FIGURAS DE PALAVRAS

“As figuras de palavras também são denominadas tropos e “consistem no


emprego de um termo com sentido diferente daquele convencionalmente
empregado, a fim de se conseguir um efeito mais expressivo na comunicação”
(MASSARANDUBA; CHINELLATO, 2005, p.21)
Esse desvio a que são submetidas às palavras rompe o seu sentido
convencional, para que a elas sejam atribuídos efeitos expressivos, por isso a
denominação tropos, que é uma palavra de origem grega que significa giro, desvio.
São figuras de palavras: comparação, metáfora, metonímia, sinédoque,
catacrese, sinestesia, automásia, alegoria

2.1Comparação ou Símile

Evidencia-se esse recurso estilístico quando se estabelece aproximação


entre dois elementos que se identificam, ligados por conectivos comparativos
explícitos.
A comparação consiste em pôr em confronto pessoas ou coisas, a fim de
lhe destacar semelhanças, características, traços comuns, desta forma visando um
efeito expressivo.
É possível identificar essa figura de palavra, quando estiverem presentes
no texto analisado as expressões: feito, assim como, tal, como, tal qual, tal como,
qual, que nem, parecer, assemelhar-se, etc.
Um exemplo que caracteriza muito bem a comparação é a música
Construção do compositor e cantor Chico Buarque de Holanda:
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“(...)
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse náufrago
Dançou e gargalhou como se fosse músico
E tropeçou no céu como se fosse bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
(...)
Amou daquela vez como se fosse máquina
E
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse pássaro
E flutuou no ar como se fosse príncipe
E acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado”

2.2 Metáfora
Segundo Cegalla (2002, p. 570), a metáfora “consiste em atribuir a uma
pessoa ou coisa uma qualidade que não lhe cabe logicamente. É, pois uma
transferência de significado de um termo para outro e se baseia em semelhanças
que o emissor da mensagem encontra entre termos comparadores” .
Pode-se dizer que tal desvio de significação é resultante da subjetividade
de quem o cria, daí dizer que a semelhança é nascida de uma comparação mental.
Assim, a metáfora é considerada uma espécie de comparação observada
ou de caráter subjetiva, porque o conectivo não esta expresso, e sim subentendido.
Este tipo de figura de linguagem tem um caráter enfático e incisivo no
campo da sensibilidade, por isso tem grande força emotiva e evocativa.
Porém, não confundir a metáfora com a comparação, embora essas duas
figuras tenham nexos comparativos, a segunda está sempre acompanhada de
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conectivos, ao passo que a metáfora geralmente é acompanhada por outras figuras


de linguagem como a hipérbole e a personificação.
Exemplo: Viola esquecida num canto é silêncio
Coração encolhido no peito é desprezo
Solidão hospedada no leito é ausência
A paixão refletida num pranto, ai, é tristeza
Um olhar espiando o vazio é lembrança
Um desejo trazido no conto é saudade
Um desvio na curva do tempo é distância
E um poeta que acaba vadio, ai, é destino
(Paulo César Pinheiro)

Observa-se ainda, que os clichês ou jargões tão arraigados na nossa


cultura também são metáforas.

2.3 Metonímia

É a substituição de um termo por outro, que apresenta relação de sentido


lógico e constante.
“A metonímia consiste em usar uma palavra por outra, com a qual se acha
relacionada. Essa troca se faz não porque as palavras são sinônimas, mas porque
evoca a outra” (PASQUALE; ULISSES, 1995, p. 574)
Embora as palavras não sejam sinônimas, há a substituição de uma por
outra porque há um grau de semelhança, relação, proximidade de sentido ou
implicação mútua.
A metonímia se dá nas seguintes inúmeras formas:

A) O continente pelo conteúdo e vice-versa:


Exemplos: A terra Inteira chorou a morte do Santo Pontífice.
Terra = os habitantes da terra
Tomou uma taça de vinho
Taça = o vinho contido na taça
16

B) A causa pelo efeito e vice e verso:


Exemplos: E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
(Vinicius de Moraes)
Com suor e com cimento = com trabalho.
Os aviões semeavam a morte = Bombas mortíferas = morte

C) O lugar de origem ou de produção pelo produto:


Exemplos: Ofereceu-me um havana - Um havana = um charuto produzido em
Havana
Comprei uma garrafa do legítimo madeira - Legítimo madeira = o
vinho fabricado na Ilha da Madeira

D) O autor pela obra:


Exemplos: Um Picasso vale uma fortuna - Picasso = obra / quadro de Picasso
Ganhei um Guimarães Rosa - Guimarães Rosa = obra / livro de
Guimarães Rosa

E) O abstrato pelo concreto:


Exemplos: Não devemos contar com o seu coração - Coração = sentimento,
sensibilidade.
A mocidade é entusiasta - Mocidade = moços

F) O símbolo pela coisa simbolizada, ou o sinal pelo significado:


Exemplos: Não te afaste da Cruz - Cruz = cristianismo
O trono estava abalado - Trono = império

G) A matéria pelo produto:


Exemplos: Lento, o bronze soa - Bronze = o sino
Joguei duas pratas no chapéu do mendigo - Pratas = moeda

H) O inventor pelo invento:


Exemplo: Edson ilumina o mundo - Edson = a energia elétrica
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I) A coisa pelo lugar:


Exemplo: Vou à Prefeitura - Prefeitura = edifício da Prefeitura

J) O instrumento pela pessoa que o utilizar:


Exemplos: Ele é um bom garfo - Garfo = guloso, comilão
As penas mais brilhantes do país reverenciaram a memória do
grande morto - Penas = escritores

2.4 Sinédoque
A sinédoque é uma espécie de metáfora e ocorre quando há a
substituição de um termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido visual
da palavra numa relação quantitativa.
Esta figura estilística esta presente nos casos:

A) O todo pela parte e vice-versa:


Exemplo: A cidade inteira viram assombrada, de queixo caído, o pistoleiro sumir
do ladrão, fugindo nos cascos de seu cavalo.
(J. Candido de Carvalho)
Cidade inteira = o povo/ Cascos = parte das patas

B) O singular pelo plural e vice e versa:


Exemplo: O paulista é temido; o carioca, atrevido.
Paulista = todos os paulistas/ Carioca = todos os cariocas

C) O indivíduo pela espécie (nome próprio pelo comum):


Exemplo: Para os artistas ele foi um mecenas.
Mecenas vem de Gaio Mecenas – 74 a.C., que era incentivador das
letras e das artes.

2.5 Catacrese
“A catacrese é um tipo especial de metáfora, é uma espécie de metáfora
desgastada, em que já não se encontra nenhum vestígio de inovação, de criação
individual e pitoresca.” É uma figura que se tornou um hábito lingüístico, já fora do
âmbito estilístico. (GARCIA, 1980, p.121)
18

Desta forma, a catacrese consiste no uso impróprio de uma palavra por


falta de outra mais específica para dar nome a alguma coisa que necessita de
designação.
Exemplos: folhas de livro, dente de alho, céu da boca, asa da xícara,
perna da mesa, boca da calça, bala de revólver, menina dos olhos, casa do botão,
cabeça do preto, etc.

2.6 Sinestesia
É a figura resultante da fusão de sensações percebidas por diferentes
órgãos do sentido. Essas sensações podem ser físicas (gustação, audição, visão,
tato, olfato) ou psicológicas, subjetivas.
Exemplos: A luz gelada e pálida diluindo
Brancas sonoridades de cascatas.
(Cruz e Souza)
A noite é como um olhar longo e claro de mulher.

2.7 Autonomásia
A autonomásia é caracterizada pela substituição de um nome próprio, por
um nome comum ou por uma expressão a ele ligada. Essa palavra de expressão
designa uma característica do ser cujo nome substitui de uma qualidade que se
atribui a este ser.
Num paralelo, a antonomásia na linguagem coloquial é o mesmo que um
apelido, alcunha de cognome, cuja origem é um aposto do nome próprio.
Exemplos: O genovês salta os mares - Genovês = Colombo
O Poeta dos Escravos nasceu na Bahia - Poeta dos Escravos = Castro
Alves

2.8 Alegoria
A alegoria é uma acumulação de metáforas referindo-se ao mesmo objeto,
é uma figura poética que consiste em expressar uma situação global por meio de
outra que a evoque e intensifique o seu significado.
Na alegoria, todas as palavras estão transladadas para um plano que não
lhes é comum e oferecem dois sentidos completos e perfeitos – um referencial e
outro metafórico.
19

Exemplos: A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo
soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o
contralto que lutam pelo tenor em presença do mesmo baixo e dos mesmos
comprimários...
(Machado de Assis)
A vida é um grande poema em estrofes variadas, umas em opulentos
alexandrinos de rimas milionárias; outras, frouxas, quebradas, misérrimas, mas o
refrão e um para todas, sempre o mesmo: morrer.
(Coelho Neto)

2.9 Figura de Harmonia


Segundo Chinellato e Massaranduba (2005, p.23), dentro das figuras de
palavras, há uma variação: “chamam-se figuras de som ou de harmonia os efeitos
produzidos na linguagem quando há repetição de sons ou ainda, quando se procura
“imitar” sons produzidos por coisas ou seres”.
São quatro as figuras de harmonia: alteração, assonância, paranomásia e
onomatopéia.

2.9.1 Aliteração
Ocorre a aliteração com a repetição de fonemas idênticos ou semelhantes
no início de palavras de um verso ou frase; geralmente as palavras estão próximas
uma das outras.
Exemplo: Vozes veladas, veludosas vozes.
Volúpias dos velões, vozes veladas.
Vagam nos velhos, vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas
(Cruz e Sousa)

2.9.2 Assonância
Enquanto a aliteração versa sobre a repetição de consoantes, a
assonância ocorre quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou
poema.
Exemplo: Sou Ana da cama
Da cana, fula na, bacana
Sou Ana de Amsterdam
(Chico Buarque)
20

2 9.3 Paranomásia
Este tipo de figura de linguagem é caracterizada pela ocorrência de
reprodução de sons semelhantes em palavras e significados diferentes.
Exemplo: Berro pelo aterro pelo desterro
Berro por seu berro pelo seu erro
Quero que você ganhe que você me apanhe
Sou o seu bezerro gritando mamãe
(Caetano Veloso)

2 9.4 Onomatopéia
É a figura que procura representar sons através de sinais gráficos que não
sejam palavras. Por isso, as onomatopéias são um conjunto de fonemas que se
combinam para imitar sons ou ruídos.
Observa-se ainda, que os substantivos criados para dar nome a esses
ruídos são chamados de palavras onomatopaicas. Vale dizer que os sons
onomatopaicos obedecem aos modelos fonológicos de uma língua, embora atentem
de certa forma, a universidade já que sempre estão associados às imagens.
Exemplo: Pacatau, Pacatau, Pacatau – foi – se o boquinha enforquilhado no arreio
do castanho.
3 FIGURAS DE PENSAMENTO

As figuras de pensamento são processos estilísticos que se realizam na


esfera do pensamento, no âmbito da frase; nelas intervém fortemente a emoção, o
sentimento, a paixão.
Estas figuras são recursos de linguagem que se referem ao significado
das palavras, ao seu aspecto semântico.
São figuras de pensamento: antítese, apóstrofe, paradoxo, eufemismo,
gradação, hipérbole, ironia, prosopopéia, perífrase, reticência e retificação.

3.1 Antítese
Segundo Cegalla (2002, pg.580) a antítese “consiste na aproximação de
palavras ou expressões de sentido oposto”, há aproximação de palavras e
expressões formando a oposição, é um recurso poderoso de estilo.
A música O quereres de Caetano Veloso, faz um jogo exaustivo com o
uso da antítese:
(...)
Onde queres família sou maluco
E onde queres romântico, burguês
Onde queres Leblon sou Pernambuco
E onde queres eunuco, garanhão
E onde queres o sim e o não, talvez
Onde queres o ato eu sou espírito
E onde queres ternura eu sou tesão
Onde queres o livre, decassílabo
E onde buscar o anjo sou mulher
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Onde queres prazer sou o que dói


E onde queres tortura, mansidão
Onde queres um lar, resolução
E onde queres bandido sou herói

3.2 Apóstrofe

Evidencia-se esta figura de pensamento quando há invocação de uma


pessoa ou algo, real ou imaginário, que pode estar presente ou ausente. É uma
interrupção que faz o orador ou escritor no texto ou discurso e corresponde ao
vocativo na análise sintática, sendo utilizada para dar ênfase à expressão.
Exemplo: Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura ou se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Ó mar! por que não apagas
Co’a esponja d tua vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noite! tempestade!
Rolar das imensidades
Varrei os mares, tufão!...
(Castro Alves)

3.3 Paradoxo

Embora o paradoxo trabalhe com a oposição, ele não se dá meramente


com a aproximação de palavras de sentido oposto, mas também, na oposição de
idéias que se contradizem referindo-se ao mesmo termo. Pode-se dizer que é uma
verdade enunciada com aparência de mentira. O paradoxo também é conhecido
como Oxímoro.
Exemplo: Amor é fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
23

É um não querer mais que bem querer;


É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;


É servir a quem vence, o vencedor;
E ter com quem nos mata lealdade

Mas como causar pode seu favor


Nos corações humanos amizade,
Se tão contrario a si é o mesmo Amor?
(Luiz Vaz de Camões)

3.4 Eufemismo
“Ocorre eufemismo quando uma palavra de expressão é empregada para
atenuar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante” (CHINELLATO;
MASSARANDUBA, 2005, p.25)
Exemplo: Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansar dessa longa vida,
Aqui vinho e virei, pobre querida
Trazer-te o coração do companheiro
(Machado de Assis)

Observa-se que as expressões “pé do leito derradeiro” e “descansar dessa


longa vida” referindo-se a morte da esposa do autor.

3.5 Gradação
A gradação é uma sequência de idéias dispostas em sentido ascendente
ou descendente, que intensificam uma mesma idéia.
Exemplos: Eu era pobre. Era subalterno. Era nada.
(Monteiro Lobato)
O dinheiro é uma força tremenda, onipotente, assombroso.
(Olavo Bilac)
24

3.6 Hipérbole

A hipérbole representa o exagero de uma idéia, a fim de proporcionar uma


imagem emocionante e de impacto. É uma afirmação exagerada, uma deformação
da verdade que visa um efeito expressivo.
Exemplos: Na chuva de cores
Da tarde que explode
A lagoa brilha
(Carlos Drummond de Andrade)

3.7 Ironia

A ironia ocorre quando através do contexto, da entonação ou pela


contradição de termos, sugere-se o contrário do que as palavras ou orações
parecem exprimir. A intenção dessa figura de linguagem é marcar uma idéia
sarcástica ou depreciativa.
Exemplos: O bom rapaz buscava, no fim do dia, negociar com os traficantes de
drogas.
Muito benigna e pródiga a dona plácida chegava à loucura por um
tostão.
(Machado de Assis)

3.8 Prosopopéia

A figura prosopopéia também é chamada de animização ou


personificação, e segundo ANDRÉ (1992, p.378) “é a atribuição de ações ou
qualidades humanas a seres inanimados, irracionais ou mesmo abstratos”.
Pode-se dizer ainda que tal figura ocorre quando se atribui movimentos,
fala, sentimentos, caracteres próprios dos seres animados, a seres inanimados ou
imaginários.
Exemplo: a Lua
tal qual a dona do bordel
pedia a cada estrela fria
um brilho de aluguel”
(João Bosco & Aldir Blanc)
25

3.9 Perífrase
A perífrase está presente no texto quando se cria um torneio de palavras
para expressar algum objeto, acidente geográfico ou situação que não se quer
nomear. Na perífrase sempre se destaca algum atributo do ser.
Exemplo: Cidade maravilhosa
cheia de encontros mil
cidade maravilhosa
coração do meu Brasil.
(André Filho)
cidade maravilhosa = Rio de Janeiro

3.10 Reticência
Este tipo de figura de pensamento caracteriza-se por suspender o
pensamento, deixando-o meio velado.
Exemplos: “De todas, porém a que me cativou logo foi uma...uma... não sei se digo.”
(Machado de Assis)
“Quem sabe se o gigante Piaiamã, comedor de gente...”
(Mário de Andrade)

3.11 Retificação
“A retificação, como figura de linguagem significa o próprio sentido da
retificação, consiste em retificar uma afirmação anterior” (CEGALLA, 2005, p.583).
Exemplos: “Era uma jóia, ou melhor, uma preciosidade, esse quadro.
Tirou, ou antes, foi lhe tirado o lenço da mão”
(Machado de Assis
4 FIGURAS DE SINTAXE

As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a desvios em


relação à concordância, coesão entre os termos da oração, sua ordem, possíveis
repetições ou omissões.
Estas figuras são construídas a partir de omissões, repetição, inversão,
ruptura e concordância ideológica.

4.1 Assíndeto
A palavra assíndeto vem do grego asýdeton “não ligado” ou, “não unido”, e
esta figura de sintaxe se dá quando as orações de um período ou as palavras de
uma oração se sucedem sem conjunção coordenativa que poderia enlaçá-las.
Por isso, tal figura exige do leitor ou do ouvinte atenção rebuscada em
cada fato examinado, por devido sua indivisibilidade e as pausas rítmicas.
Exemplo: Agachou-se, atiçou o fogo, apanhou uma brasa com a colher,
acendeu o cachimbo, pôs-se a chupar o canudo do taquari cheio de sarro

4.2 Elipse
A elipse é a omissão de um termo ou oração que o contexto ou a situação
permitem facilmente identificar ou subentender. Pode ocorrer na supressão de
pronomes, conjunções, preposições ou verbos.
Entre as elipses que ocorrem com mais frequência estão:
a) a da preposição em algumas circunstâncias adverbiais depreendidas pelo
contexto: As visitas, pés sujos, entraram no salão;
b) a da preposição antes do conectivo que introduz as orações de complemento
relativo e completivas nominais: Preciso (de) que venhas aqui;
c) a da conjugação integrante: É necessário (que) se faça tudo rapidamente;
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d) a do verbo dizer nos diálogos: E ela: - você está zangado comigo?;


e) a do objeto direto representado por pronome átono para aludir ao substantivo
anteriormente expresso: Você recebeu o convite? Recebi sim (por recebi-o sim), e;
f) a da preposição de em construções do tipo vestido de cor de rosa por vestido
cor de rosa ou vestido rosa.

4.3 Zeugma

Ocorre a figura zeugma quando um termo já expresso na frase é


suprimido, ficando subentendido sua repetição.
Exemplo: “Rubião fez um gesto, Palha outro; mas quão diferentes”
Nesta oração o zeugma é: Palha fez um outro gesto.

4.4 Anáfora

Esta figura, segundo ANDRÉ (1992. p.368) “é a repetição de palavra ou


frase no princípio de vários versos”, ou ainda orações e períodos.
Exemplo: “Eu quase não saio
Eu quase não tenho amigo
Eu quase nos consigo
Ficar na cidade sem ser contrariado”
(Gilberto Gil)

4.5 Pleonasmo

Pleonasmo é a repetição da idéia com as mesmas palavras ou não. A


finalidade desta figura é realçar as idéias, isto é, a redundância de significado.
Segundo Massaranduba e Chinellato (2005, p.27) há dois tipos de
pleonasmo: pleonasmo literário, que “é o uso de palavras redundantes para reforçar
uma idéia, tanto do ponto de vista semântico quanto do ponto de vista semântico”.
Este recurso estilístico é usado para enriquecer a expressão, dando ênfase à
mensagem.
Exemplo: “morrerás morte vil na mão de um forte”
(Gonçalves Dias)
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Já o pleonasmo vicioso é o desdobramento de idéias que já estavam


implícitas em palavras anteriormente expressas. Este tipo de pleonasmo deve ser
evitado, já que não tem valor de reforço de uma idéia, provindo do fruto do
desconhecimento do sentido real das palavras.

Exemplos: subir pra cima, hemorragia de sangue, entrar pra dentro, monopólio
exclusivo, etc.

4.6 Polissíndeto

Assim como a figura assíndeto, o polissíndeto também tem origem grega


(polysyndeton – muitas conjunções) e está presente no texto quando há repetição
enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige a norma
gramatical. Seu uso é um recurso que sugere movimentos ininterruptos ou
vertiginosos.

Exemplo: “E saber, e crescer, e ser, e haver


E perder, e sofrer, e ter terror”
(Vinicius de Moraes)

4.7 Anástrofe

Esta figura de construção é caracterizada pela simples inversão de


palavras vizinhas (determinante/determinado).

Exemplo: “Tão leve estou que já nem sombra tenho”


(Mario Quintana)
Tão leve estou = estou tão leve

4.8 Hipérbato

O hipérbato assim como a anástrofe, também é um tipo de inversão,


porém aquela figura refere-se à inversão completa dos membros da frase.

Exemplo: “Passeiam, à tarde, as belas na avenida”


(Carlos Drummond de Andrade)
Sem a inversão a frase ficaria: As belas passeiam na Avenida à tarde.
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4.9 Sínquise

A sínquise, também é uma inversão, porém esta figura é caracterizada por


uma inversão violenta de distantes partes da frase; pode-se dizer que é um
hipérbato exagerado.
Exemplo: “A grita se alevanta ao céu da gente”
(Camões)
O sentido da frase na verdade é: A grita da gente se alevanta ao céu.

4.10 Hipálage

Dentre as figuras de construção, a hipaláge é a quarta e última inversão


caracterizada pela troca de posição do adjetivo – uma qualidade que pertence a um
objeto é atribuída a outro, na mesma frase.

Exemplo: “...em cada olho um grito castanho de ódio”


(Dalton Trevisan)
Sem a permuta do adjetivo a frase ficaria: em cada olho castanho um grito
de ódio.

4.11 Anacoluto

O anacoluto é caracterizado pela interrupção do plano sintático com que


se inicia a frase, alterando-lhe a sequência lógica. A construção do período deixa um
ou mais termos desprendidos dos demais, geralmente depois de uma pausa
sensível.
Exemplo: essas empregadas de hoje, não se pode confiar nelas.

4.12 Silepse

A silepse é marcada pela concordância que se faz com a idéia


subentendida não com a palavra expressa, aparentemente é uma discordância. A
silepse divide-se em gênero, número e pessoa.

a) Silepse de gênero: ocorre quando há discordância entre os gêneros gramaticais.


(feminino e masculino).
Exemplo: Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.
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b) Silepse de número: ocorre com a discordância envolvendo o número gramatical


(singular ou plural).
Exemplo: corria gente de todos os lados, e gritavam.

c) Silepse de pessoa: ocorre quando há discordância entre o sujeito expresso e a


pessoa verbal: o sujeito que fala ou escreve se inclui no sujeito enunciado.
Exemplo: Ambos recusamos praticar este ato.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A linguagem escrita é sempre vista com tensão por muitos leitores e


escritores por ser complexa e repleta de regras, porém há um ramo da gramática
que não se ocupa da sintaxe ou da morfologia, busca em um texto causar efeitos
que tornem a linguagem diferenciada e expressiva - trata-se da estilística.

A estilística não se preocupa com regras de pontuação ou com regência


verbal, sua finalidade é estudar as variações linguísticas, permitindo manipular a
linguagem através das palavras. Esta ‘manipulação’ é feita através de recursos, que
conferem ao texto vários efeitos no que tange a significação e o sentido das palavras
bem como as emoções na língua escrita.

As figuras de linguagem são responsáveis por boa parte destes recursos,


pois tornam as mensagens emitidas pelos autores muito mais expressivas. Tal
expressividade é possível com o uso das figuras de palavras, de pensamento e as
de construção.

As figuras de pensamento por trabalharem no campo do psicológico no


contexto da oração é muito explorada na literatura, pois seus efeitos dão sonoridade
e beleza ao texto. Muitos poetas se valeram de figuras como a antítese ou o
eufemismo, pois ao trabalhar com estas figuras de linguagem é possível expressar
sentimentos.

As figuras de palavras talvez não tenham a sonoridade que as figuras de


pensamento, mas também são muito exploradas no campo da arte por que o efeito
causado por elas está ligado intimamente com a denotação e a conotação. É um
recurso valioso para o campo jornalístico, pois permite um jogo de palavras e
sentidos, é muito frequente deparar-se com textos repletos de comparações ou
metáforas.
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As figuras de sintaxe não deixam de ser importantes, pelo contrário seu


conhecimento permite a produção de um texto claro e mais coeso. Isso porque elas
atuam em desvios causados por omissões despidas de conectivos, por repetições
como no caso da zeugma, ou ainda na concordância ideológica proporcionada pela
silepse, que nada mais do que uma concordância psicológica, espiritual.

Assim, um texto deve conter vários aspectos gramaticais, além das regras
de sintaxe, morfológicas e semânticas é favorável que haja aspectos estilísticos, não
importando o gênero literário produzido. Pois, ao utilizar os recursos estilísticos
como a figura de linguagem o autor produz sua obra com mais expressividade,
chamando mais a atenção do leitor, deixando a leitura mais agradável e envolvente.
REFERÊNCIAS

ANDRÉ,H. Gramática Ilustrada, 4.ed. São Paulo: Moderna, 1992.

CEGALLA, D. Novíssima gramática da Língua Portuguesa, 43.ed. São Paulo.


Companhia Editora Nacional, 2004.

GARCIA, O. Comunicação em prosa moderna. 8.ed. Rio de Janeiro: FGV, 1989.

MASSARANDUBA, E; CHINELLATO, T. Redação, coleção objetivo. São Paulo: Sol,


2005.

NETO, P; INFANTE, U. Gramática da Língua Portuguesa, 1.ed. São Paulo:


Scipione, 1998.

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