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Passemos por alto sobre os anos que decorreram desde o nascimento e batizado do nosso memorando, e vamos
encontrá-lo já na idade de sete anos. Digamos unicamente que durante todo este tempo o menino não desmentiu aquilo que
anunciara desde que nasceu: atormentava a vizinhança com um choro sempre em oitava alta; era colérico; tinha ojeriza
particular à madrinha, a quem não podia encarar, e era estranhão até não poder mais.
Logo que pôde andar e falar tornou-se um flagelo; quebrava e rasgava tudo que lhe vinha à mão. (…) Era, além de traquinas,
guloso; quando não traquinava, comia. A Maria não lhe perdoava; trazia-lhe bem maltratada uma região do corpo; porém ele
não se emendava, que era também teimoso, e as travessuras recomeçavam mal acabava a dor das palmadas.
Assim chegou aos sete anos.
Afinal de contas a Maria sempre era saloia, e o Leonardo começava a arrepender-se seriamente de tudo que tinha feito
por ela e com ela. E tinha razão, porque, digamos depressa e sem mais cerimônias, havia ele desde certo tempo concebido
fundadas suspeitas de que era atraiçoado. Havia alguns meses atrás tinha notado que um certo sargento passava-lhe muitas
vezes pela porta, e enfiava olhares curiosos através das rótulas: uma ocasião, recolhendo-se, parecera-lhe que o vira
encostado à janela. Isto porém passou sem mais novidade. Manuel Antônio de Almeida – Memórias de um Sargento de
Milícias –
1.Leonardo, o filho, é o protagonista do romance. Folgado, malandro, vive suas aventuras sem nenhum compromisso com a
vida séria. Destaque do texto a passagem que comprova que ele é assim desde criança:
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2.Quando adulto, Leonardinho é incorrigível, não se emenda nunca. Ele já demonstra essa atitude na infância? Justifique com
o texto:
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3.O fragmento destaca também o comportamento não recomendável da mãe de Leonardo. Tal comportamento difere da
heroína romântica em que aspecto?
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(FUVEST): Leia o trecho de abertura de Memórias de um sargento de milícias e responda ao que se pede.
Considere o seguinte fragmento do antepenúltimo capítulo de Memórias de um Sargento de Milícias, no qual se narra a visita
que D. Maria, Maria Regalada e a comadre fizeram ao Major Vidigal, para interceder por Leonardo (filho):
O major recebeu-as de reboque de chita e tamancos, não tendo a princípio suporto o quilate da visita; apenas, porém
reconheceu as três, correu apressado à camarinha vizinha, e envergou o mais depressa que pôde a farda: como o tempo
urgia, e era uma incivilidade deixar sós as senhoras, não completou o uniforme, e voltou de novo à sala de farda, calças de
enfiar, tamancos, e um lenço de alcobaça sobre o ombro o ombro, segundo seu uso. A comadre, ao vê-lo assim, apesar da
aflição em que se achava, mal pôde conter uma risada que lhe veio aos lábios.
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Rodaque : espécie de casaco
Camarinha: quarto
Calças de enfiar: calças de uso doméstico
5.Considerando o fragmento no contexto da obra,interprete o contraste que se verifica entre as peças do vestuário com que o
major voltou à sala para conversar com as visitas.
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6.Qual a relação entre o referido vestuário do major e a sua decisão de favorecer Leonardo (filho), fazendo concessões
quanto à aplicação da lei?
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7.Manuel Antônio deseja contar de que maneira se vivia no Rio popularesco de D. João VI; as famílias mal organizadas, os
vadios, as procissões, as festas e as danças, a polícia; o mecanismo dos empenhos, influências, compadrios, punições que
determinavam certa forma de consciência e se manifestavam por certos tipos de comportamento (…). O livro aparece, pois,
como sequência de situações.(Antônio Cândido, “Formação da Literatura Brasileira”) (2,0)
Podemos entender a “sequência de situações” a que se refere Antônio Cândido como uma série de pequenos relatos no
interior de MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS, de Manuel Antônio de Almeida.
8. Já se vê que o menino não era dos mais infelizes, pois que, se tinha inimigos, achava também protetores por toda parte.
Para diante os leitores verão o papel que D. Maria representará nesta história. (ALMEIDA, Manoel A. Memórias de um
Sargento de Milícias, RJ: Ed. Expressão e Cultura, 2001, p.124)
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9. Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês
manifestaram se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino
de quase três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depois que nasceu,
mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos
interessa, porque o menino de quem falamos é o herói desta história. (“Memórias de um Sargento de Milícias” – Manuel
Antônio de Almeida)