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Universidade Católica Portuguesa

Faculdade de Direito – Escola de Direito

Direito da Cultura – Professor Doutor Vasco Pereira da Silva

Direito da
Cultura e
Liberalização
de conteúdos
musicais na
Internet
1
Trabalho elaborado por:

Rita Sales Dias, nº140108128

Sara Oliveira de Almeida, nº 140108090

“Um autor não tem direitos. Eu não tenho nenhum, apenas deveres.”

Jean-Luc Godard, sobre a pirataria

2
Índice

Introdução – página 4

O direito à cultura e as várias concepções – página 6

A perspectiva das bandas – página 7

A perspectiva das editoras – página 13

IGAC, SPA e ilícitude associada ao desrespeito pelos direitos de autor – página 15

Em jeito de conclusão – página 17

Bibliografia – página 18

3
Introdução:

Este trabalho, desenvolvido no âmbito da cadeira optativa de Direito da Cultura


leccionada na Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa tem por tema
“Direito da cultura e liberalização de conteúdos musicais na Internet” e pretende fazer a
avaliação do tema sobre duas perspectivas: por um lado, a opinião das bandas face a
esta nova realidade e, por outro lado, a posição das editoras que se vêem perante uma
situação que aumenta radicalmente a necessidade de alteração dos seus métodos/ formas
de afirmação no mercado.

Quando falamos de liberalização de conteúdos na Internet podemos pensar que


esta é a primeira realidade que permitiu ao homem uma fácil partilha da música, no
entanto, antes da desta, gravavam-se CDs (ainda que com algumas restrições), antes
destes, partilhavam-se cassetes para regravar, ou emprestavam-se discos. O que a
Internet trás de novo tem que ver com a cultura das massas. A Internet trás consigo um
aumento da quantidade do que ouvimos (à distância de um clique qualquer um pode ter
disponível a discografia de um qualquer cantor ou banda, mais ou menos conhecidos),
uma melhoria das condições nas quais os conteúdos nos chegam e, de certa forma,
potencia a ideia de que qualquer um pode ser titular de uma cultura musical vasta (sem
custos!).

A Internet que começou por ser usada como tecnologia bélica é hoje um
elemento banal no dia-a-dia de qualquer cidadão, seja através da utilização do vulgo e-
mail, da pesquisa on-line, das compras ou da utilização de conteúdos musicais,
cinematográficos, literários, entre outras coisas. No que toca à utilização de conteúdos
musicais que é, de resto, o que interessa ao nosso trabalho, podemos distinguir uma
panóplia de tipos: a pesquisa gratuita de conteúdos musicais (através de redes como o
MySpace ou YouTube), o download gratuito desses mesmos conteúdos (através de sites
das bandas, editoras ou de comunidades on-line) e o download ilegal destes.

A utilização gratuita de forma lícita tem, assim, e de acordo com o supra


mencionado, lugar na pesquisa de conteúdos e no download gratuito. A este respeito

4
será feita uma análise da dicotomia bandas/editoras apresentando os representantes
contra e a favor.

Quanto à utilização ilícita, que não é o ponto principal deste trabalho, terá uma
análise quanto ao regime jurídico e actual realidade, isto é, quanto aos vários níveis de
reprovabilidade do acesso não autorizado a conteúdos musicais e quanto aos vários
tipos de possíveis indivíduos a punir.

5
O direito à cultura e as várias concepções

Dada a impossibilidade de uma definição de cultura, é necessário distinguir três


acepções de cultura que coexistem entre si: uma restrita, uma intermédia e uma ampla.

Em primeiro lugar, a concepção restrita entende a cultura como uma realidade


intelectual e artística do passado, presente e futuro.

Em segundo lugar, a concepção intermédia não compreende apenas o domínio


da criação e fruição intelectual e artística mas compreende outros “direitos espirituais”.

E, por fim, a concepção mais ampla, que identifica a cultura como uma realidade
complexa que conjuga vários elementos, nomeadamente sociológicos e filosóficos.

Falando na nova realidade social (na medida do uso da Internet!), estamos de


certa forma, a alargar o conceito de direito da cultura para poder fazer uma análise
complexa que mistura vários elementos.

O direito fundamental à cultura e as relações jurídicas que decorrem deste são


objecto de grande diversidade. Se, por um lado o direito à cultura é um direito universal,
que diz respeito e pode ser usufruído por todos, como, de resto, pressupõe o Estado de
Direito democrático em que vivemos, dentro deste podem ser encontradas dicotomias.

No tema que, hoje, abordamos encontramos uma dicotomia porque, se por um


lado, o direito de fruição cultural é um direito universal, por outro, os direitos de autor
são um direito relativo. Assim, se defendemos que a liberalização de conteúdos potencia
este direito de fruição porque permite às massas ter acesso a uma quantidade
inimaginável de conteúdos musicais, por outro, pode acarretar certos riscos para os
titulares dos direitos de autor (quer os autores, quer os que medeiam a criação artística e
o acesso desta ao público, como por exemplo, as editoras e agentes).

6
A perspectiva das bandas

A revolução musical de início de século ameaça a hegemonia das grandes


editoras. Na era da partilha online, o acesso a conteúdos musicais não se limita à troca
de ficheiros. Através de comunidades virtuais, e em regime de auto-promoção, novas
bandas sobem a escadaria da fama1.

Bandas a favor

Com vista a uma melhor compreensão desta nova realidade, que é a liberalização
de conteúdos musicais na Internet, vamos focar-nos numa banda, os Arctic Monkeys, e
vamos dissecar o seu “caminho” no mundo da música de modo a compreender a
influência que esta forma de promoção tem.

Os ingleses Arctic Monkeys deram os primeiros passos no mundo da música


sem a habitual “ajuda” da rádio, imprensa ou editoras2. O som da banda foi distribuído
de forma gratuita, foram oferecidas maquetas (CDs gratuitos de demonstração) em
alguns concerto que os fãs partilharam em sites e foi a partir daí que tudo começou. Em
pouco mais de um ano a legião de admiradores espalhou-se por todo o Mundo, sendo
que os Arctic Monkeys são hoje intitulados por alguns, como “as primeiras estrelas da
era do iPod”.

A publicidade estava assim criada, e os bilhetes para os concertos da banda


começavam a ser leiloados na Internet, tendo mesmo chegado a atingir valores como as
100 libras.

Como tal, e por tudo o que em cima foi dito, fácil é compreender que muito
antes da edição do CD de estreia, já os Arctic Monkeys esgotavam salas em Londres.

Face a este estrondoso sucesso, as grandes editoras começaram a tentar assinar


um contrato com a banda, mas os Arctic Monkeys acabaram por optar pela Domino

1
FERNANDES, Pedro Relógio, Arctic Monkeys e MySpace Proibida a Entrada a Editoras (consultado
em Outubro de 2010 em http://www.inversus.pt/v7/musica.pdf).
2
FERNANDES, Pedro Relógio, Arctic Monkeys e MySpace Proibida a Entrada a Editoras (consultado
em Outubro de 2010 em http://www.inversus.pt/v7/musica.pdf).

7
Records, uma editora independente, que se encontrava mais de acordo com os ideais da
banda.

Para percebermos como esta forma de “início de carreira” em nada prejudica o


sucesso futuro das bandas/cantores, basta olharmos para os números, o álbum de estreia
dos Arctic Monkeys vendeu mais de 100 mil cópias só na primeira semana! Pode
parecer-nos praticamente impossível que uma banda como esta, tenha chegado ao topo
em tão pouco tempo e com tão pouca experiência. Mas o poder de divulgação que a
Internet tem não pode ser subestimado, e neste sentido, as grandes editoras, como a
Warner ou a Sony/BMG, enfrentam uma ameaça real3.

É necessário entendermos que existem na música actual, bandas e cantores


absolutamente extraordinários e verdadeiramente únicos, de que muito provavelmente
não ouviríamos falar se não fosse a Internet, e de certa forma, toda a crise que vivemos
actualmente. Afinal de contas, com a música em tanta quantidade e de forma tão
acessível, a procura de algo que nos soe realmente novo torna-se cada vez mais intensa.

Comunidades musicais

Iremos agora proceder à análise do papel que as comunidades musicais têm no


auxílio das bandas, na divulgação de conteúdos na Internet.

A fama dos Arctic Monkeys nasceu e evoluiu no ciberespaço, em comunidades


como o MySpace4, uma das mais conhecidas e frequentes em toda a World Wide Web 5.
O vocalista dos Arctic Monkeys, chegou mesmo a dizer numa entrevista que deu,
quando questionado sobre o papel da Internet no percurso da banda, que a mesma,
“ajudou a acelerar o processo” de sucesso. E tal como esta banda, tantas outras tendem a
seguir esta via, colocando desta forma os meios de promoção utilizados pelas grandes
editoras em risco.

Cada vez mais o consumidor tende a procurar bandas que escrevem as suas
próprias músicas e que sejam originais, e não apenas aquelas que pretendem a fama. E é

3
FERNANDES, Pedro Relógio, Arctic Monkeys e MySpace Proibida a Entrada a Editoras (consultado
em Outubro de 2010 em http://www.inversus.pt/v7/musica.pdf).
4
O MySpace apresenta uma das taxas de crescimento mais elevadas da Internet.
5
FERNANDES, Pedro Relógio, Arctic Monkeys e MySpace Proibida a Entrada a Editoras (consultado
em Outubro de 2010 em http://www.inversus.pt/v7/musica.pdf).

8
precisamente neste sentido que o MySpace assume uma importância crucial. Tem se
registado uma fidelização cada vez mais intensa e “sentida”. Troca-se a distância pelo
real. Pela essência sincera da relação entre ouvinte e criador de música. A relação
funciona como uma espécie de “pacto de lealdade”. Baseado no descomprometimento
com que tudo começa. Livre de compromissos forçados pela habitual insistência dos
media e desprendida de encargos. É a nova forma de promover música: sem filtros.
Directamente da garagem para o consumidor6.

Downloads na Internet e venda posterior de álbuns

O século XXI traz novas formas de divulgar conteúdos musicais. A Internet


funciona actualmente como um palco virtual, onde podemos “ver desfilar”, de uma
forma bastante eficiente e em tempo real, uma panóplia de músicas, que no final não
precisamos de “levar para casa” porque elas já se encontram lá. O sucesso dos Arctic
Monkeys demonstra como as tecnologias modernas estão a aproximar as pessoas com
interesses semelhantes.

A Internet levou as editoras a perderem o monopólio que detinham no mundo da


música, e a questão que se impõem agora é: Para quê comprar álbuns, quando estes
estão integralmente disponíveis na Internet e de graça? A verdade é que qualquer
verdadeiro amante de música acaba sempre por comprar um álbum de que
efectivamente goste7, exemplo desta realidade é o caso do In Rainbows, um dos álbum
dos Radiohead, que esteve disponível na Internet de forma gratuita ou mediante o
pagamento daquilo que cada um achasse mais apropriado mas, que quando foi lançado
em formato físico, foi um sucesso.

Bandas contra

Por parte das bandas, não existe de facto uma posição marcada contra esta
realidade, na medida em que a decisão de optar por esta forma de divulgação de

6
FERNANDES, Pedro Relógio, Arctic Monkeys e MySpace Proibida a Entrada a Editoras (consultado
em Outubro de 2010 em http://www.inversus.pt/v7/musica.pdf).
7
TRINDADE, Gonçalo, Indie: O Mito (consultado em Outubro de 2010 em
http://www.ruadebaixo.com/indie-o-mit.html).

9
conteúdos musicais é pessoal, isto é, esta realidade não retira o ónus das bandas
decidirem como querem fazer o seu percurso e a divulgação da sua música.

Como exemplo do supra referido temos as declarações que os Braithwaite


fizeram, eles não criticam quem opte pela liberalização de conteúdos na Internet, mas
dizem que: “Pessoalmente não daria a nossa música de graça, mas não criticaria
ninguém que fizesse isso. Afinal de contas, a música é deles por isso eles podem fazer o
que querem”com a mesma.

Parte jurídica

Tendo em conta o que foi referido na introdução do presente trabalho, e fazendo


agora uma aproximação jurídica do tema, começamos por conciliar o art. 42º da CRP8
com o art. 9º do Código dos Direitos de Autor e dos Direitos Conexos9.

As leis vigoram durante períodos mais ou menos longos. Durante esse tempo, a
sociedade regulada pelo ordenamento jurídico a que a lei pertence sofre
necessariamente evoluções e modificações mais ou menos profundas. As leis terão de
se adaptar a estas, sob pena de se tornarem rapidamente letra morta ou de
preconizarem soluções claramente inadequadas ao devir social e às necessidades e
interesses que pretendem regular10.

Com base no supra referido, quanto a nós impõem-se fazer uma interpretação
actualista do mencionado artigo do Código dos Direitos de Autor e Direitos Conexos11,
uma vez que o DL que introduziu as alterações que levaram à presente redacção do art.
9º data de 198512, e como tal, parece-nos que nesta altura, o legislador quando fez o
artigo não estava a pensar na questão da divulgação de conteúdos musicais na Internet,

8
Art. 42º da CRP: «É livre a criação intelectual, artística e científica. § 2.º Esta liberdade compreende o
direito à invenção, produção e divulgação da obra científica, literária ou artística, incluindo a protecção
legal dos direitos de autor.»
9
Art. 9º do Código do Direito de Autor e Direitos Conexos: «O direito de autor abrange direitos de
carácter patrimonial e direitos de natureza pessoal, denominados direitos morais. § 2.º No exercício dos
direitos de carácter patrimonial o autor tem, o direito exclusivo de dispor da sua obra e de fruí-la e utilizá-
la, ou autorizar a sua fruição ou utilização por terceiro, total ou parcialmente.»
10
PEDRO EIRÓ, Noções Elementares de Direito, Editorial Verbo, Lisboa, 2008, p.164.
11
Como, aliás, o legislador ordinário, muito provavelmente, também deve ter feito.
12
O Código do Direito de Autor e Direitos Conexos sofreu nove alterações, sendo que a que introduziu o
art. 9º com a presente redacção foi a terceira.

10
até porque, as novas formas de acesso à música não se encontravam tão difundidas, e
não se impunham na sociedade de uma forma tão sedimentada como hoje em dia.

Tal como prevê o art. 42º n.º2 da CRP, existe uma liberdade constitucionalmente
protegida, de divulgação de obras artísticas. Estabelecendo a Constituição comandos
gerais, e servindo a lei ordinária para concretizar esses mesmos comandos, o Código
dos Direitos de Autor e Direitos Conexos especifica no seu art. 9º este mesmo
imperativo constitucional.

Os direitos de autor abrangem assim direitos de dois tipos, os de carácter


patrimonial e os de carácter pessoal. Sendo que dentro dos segundos, se encontra a
faculdade dos autores disporem da sua obra, autorizando a sua fruição ou utilização por
terceiros, total ou parcialmente. E é precisamente por isto, que nos parece que, no caso
da liberalização de conteúdos musicais na Internet, não estamos perante verdadeiras
violações dos direitos de autor, uma vez que, sendo os direitos de autor, direitos
subjectivos, as bandas e os cantores têm a possibilidade de os afastar, porque na
verdade, ninguém interfere nesses direitos, nem os viola, porque são as próprias
bandas/cantores, que os afastam.

Contudo, se pelo contrário restringíssemos ou limitássemos esta liberdade de


decisão, que pertence somente a cada autor, estaríamos a violar outro imperativo
constitucional que estabelece a liberdade de expressão, o do art. 37º que nos diz no seu
n.º1 que todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela
palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio, bem como o direito de informar, de
se informar e de ser informados, sem impedimentos nem discriminações; e no n.º2 do
mesmo preceito legal que, o exercício destes direitos não pode ser impedido ou
limitado por qualquer tipo ou forma de censura.

Talvez possa parecer um pouco exagerado chamarmos à colação o princípio da


liberdade de expressão, mas se olharmos com atenção para o “tapete” da História
compreendemos como as músicas foram importantes em certos momentos. Algumas
tornaram-se verdadeiros ícones e marcos, hinos a determinados ideais. As músicas são,
pois, formas de liberdade de expressão, através das suas letras, os cantores/bandas
transmitem ideias, opiniões e emoções.

11
Se a liberalização de conteúdos musicais na Internet não fosse permitida,
estaríamos de certa maneira a limitar o princípio da liberdade de expressão, uma vez
que nem todas as bandas têm a oportunidade de ter uma editora, quer por as mesma não
apostarem nelas, quer por não ser possível, tendo em conta o grande crescimento que se
tem registado nesta área, do mercado as absorver.

Como tal, e pelo que dissemos, parece-nos que, e tendo em conta que as letras
das músicas são muito mais do que meras palavras, e que são sim verdadeiras fontes de
ideias, a sua limitação seria um verdadeiro atentado à liberdade de expressão.

12
A perspectiva das editoras

De acordo, com o Código dos Direito de Autor e Direitos Conexos, o contrato de


edição pressupõe-se oneroso, de acordo com o artigo 91º.

A favor:

Encontramos um testemunho a favor da liberalização de conteúdos musicais na


internet. O argumento é simples: para uma editora on-line o único caminho a seguir é o
da liberalização de conteúdos, no entanto, temos de distinguir vários níveis de
liberalização. Por um lado, podemos encarar a liberalização de conteúdos como a mera
venda destes na Internet, ou seja, há como pressuposto um pagamento, dá-se algo em
troca, há sinalagma. Por outro lado, temos a opção totalmente gratuita, ou seja, a banda
ou editora, colocam os conteúdos para que qualquer interessado faça o seu download
sem necessitar de gastar dinheiro.

Nos dias de hoje, onde o download ilegal é uma realidade cada vez mais em
crescendo, as editoras acreditam que disponibilizar conteúdos on-line de forma gratuita
é a forma mais eficaz de combater este “hábito”.

Contra:

As grandes editoras são contra a disponibilização gratuita das músicas dos seus
agenciados na Internet, no entanto, utilizam este meio para promover (por exemplo
através de vídeos em sites como o youtube) e descobrir novos talentos.

O argumento, essencialmente, utilizado prende-se com o lucro. Numa altura em


que as vendas caem cada vez mais, as editoras perdem algum (muito!) dinheiro, pelo
que, quer através dos contratos de trabalho com novas bandas/cantores a solo, quer
através da venda de discos, estas tentam, colmatar estas falhas. De referir que esta venda
de discos pode ser feita on-line, por exemplo através do itunes.

13
Indie – Estilo musical ou tipo de editora?

Para alguns, o indie é somente um estilo musical ligado ao post-rock, para


outros, forma de ver a música e a nova realidade, os novos desafios do novo século.
Para as editoras que assumem um papel inovador no que toca à música partilhando
conteúdos de forma gratuita, o indie é uma espécie de bilhete de identidade que atrai
clientes que se identificam com esta filosofia. Como já referimos, bandas como os Artic
Monkeys, após o sucesso alcançado somente através da Internet associaram-se a
editoras marcadamente indie, ou também apelidadas de independentes por estarem
ligadas à música independente.

14
IGAC, SPA e ilícitude associada ao desrespeito pelos direitos de autor.

A Inspecção Geral das Actividades Culturais (IGAC) tem vindo, desde 2003 a
combater a pirataria, principalmente no formato físico. Só nos primeiros seis meses de
2009 o IGAC apreendeu mais de 138 mil ficheiros ilegais.

Esta entidade já tentou fechar dezenas de sites que propiciam o download ilegal,
no entanto, muitos destes sites não desaparecem do ciberespaço.

Quanto à Sociedade Portuguesa de Autores (SPA), vem considerar que o


mínimo que se pode fazer em relação ao download ilegal é o fecho dos sites que o
fomentam, no entanto, quanto à liberalização de conteúdos na internet de forma lícita e
gratuita nada é dito, uma vez que este não coloca em causa os interesses daqueles que
são defendidos pela sociedade.

Quanto aos crimes cometidos e já referidos ao longo do trabalho, no artigo 195º


e seguintes do Código dos Direitos de Autor e Direitos Conexos são punidos com pena
de prisão até três anos e multa de 150 a 250 dias, de acordo com a gravidade da
infracção, agravadas uma e outra para o dobro em caso de reincidência, se o facto
constitutivo da infracção não tipificar crime punível com pena mais grave (nº1 do
artigo 197º do referido código). Assim, quer o crime de usurpação – utilização,
publicação ou compilação sem autorização, no caso deste trabalho da música/álbum -,
quer o crime de contrafacção (que se traduz na utilização como sendo sua de uma obra
que não pertence a essa pessoa) têm punição. Para além disto, de acordo com o artigo
199º, quem vender, puser à venda, importar, exportar ou por qualquer modo distribuir
ao público obra usurpada ou contrafeita ou cópia não autorizada de fonograma ou
videograma, quer os respectivos exemplares tenham sido produzidos no País quer no
estrangeiro, será punido com as penas previstas no artigo 197.º. Repare-se que, ainda
que este crime não necessite de queixa por parte do ofendido estamos apenas a colocar
no âmbito da norma, aqueles que, sem autorização, disponibilizam conteúdos
(imaginem-se os casos supra-referidos pelo IGAC). Isto significa, por tanto, que tal

15
como a ex-ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas referiu13 “o download ilegal de
produtos culturais não pode ser penalizado em Portugal uma vez que não está
identificado como matéria criminal”, sendo, neste momento, penalizável a
disponibilização de conteúdos para esse download.

13
http://www.ionline.pt/conteudo/35152-download-ilegal-conteudos-nao-pode-ser-penalizado-diz-
ministra-

16
Em jeito de conclusão…

Com este trabalho cumprimos o nosso objectivo de mostrar a importância da


liberalização de conteúdos musicais. Parece-nos que esta realidade é cada vez mais
actual e, nessa medida, levanta mais problemas em termos jurídicos. Todos os dias
somos informados que fazer um download ilegal é crime quando, na verdade, só é
punido quem disponibiliza esse download.

Seja-se contra ou a favor do download gratuito, fã do MySpace ou info-excluído


é impossível passar à margem do vulgo termo “sacar” da Internet, por isso, aprendemos,
debatemos, de certa forma inovámos e descobrimos particularidades de um tema que já
nos interessava e nos passou a fascinar.

Sobrepor um direito universal como o de fruir da cultura ao direito relativo que


os seus autores têm pode, neste momento, fazer mais sentido que nunca. Parece-nos no
entanto, que ainda estamos a encontrar o caminho certo em termos sociais, filosófico e,
principalmente, legislativos.

17
Bibliografia

EIRÓ, Pedro; Noções Elementares de Direito; Editorial Verbo; Lisboa; 2008.

SILVA, Vasco Pereira da; A cultura a que tenho direito – Direitos fundamentais e
cultura; Edições Almedina; Coimbra; 2007.

Webografia:

http://www.igac.pt/

http://www.spautores.pt/

http://www.agenciafinanceira.iol.pt/geral/internet-download-pirataria-agencia-
financeira/1220185-5238.html, consultado em Outubro de 2010.

http://www.inverbis.net/actualidade/gabinete-combater-downloads-ilegais.html,
consultado em Dezembro de 2010.

http://www.ionline.pt/conteudo/35152-download-ilegal-conteudos-nao-pode-ser-
penalizado-diz-ministra-, consultado em Outubro de 2010.

http://www.musicatotal.net/noticias/ver.php?id=4813, consultado em Outubro de 2010

TRINDADE, Gonçalo, Indie: O Mito (consultado em Outubro de 2010 em


http://www.ruadebaixo.com/indie-o-mit.html).

FERNANDES, Pedro Relógio, Arctic Monkeys e MySpace Proibida a Entrada a


Editoras (consultado em Outubro de 2010 em http://www.inversus.pt/v7/musica.pdf).

18

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