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CONSULTORIA-GERAL DA UNIÃO
DEPARTAMENTO DE COORDENAÇÃO E ORIENTAÇÃO DE ÓRGÃOS JURÍDICOS
PARECER n. 00037/2019/DECOR/CGU/AGU
NUP: 58000.009662/2016-09
INTERESSADOS: SECRETARIA NACIONAL DE ESPORTE EDUCAÇÃO LAZER E INCLUSÃO SOCIAL-
SNELIS
ASSUNTOS: ATIVIDADE MEIO
1. DO RELATÓRIO
1. Trata-se de análise, encaminhada a este Departamento após solicitação com base no art.
12 do Ato Regimental nº 1, de 22 de março de 2019. O objeto da análise é, em breve síntese, a
divergência de entendimentos entre as consultorias jurídicas do Ministério do Esporte e dos Ministérios
das minas e Energia e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, acerca da destinação de Bens
móveis remanescentes de convênios que não contêm cláusula que preveja solução expressa.
i). Houvesse previsão no próprio convênio de que a propriedade dos bens adquiridos com
os recursos repassados seria do convenente;
ii). Em que pese omisso o instrumento quanto à possibilidade supracitada, se o convenente
fosse Estado, Distrito Federal ou Município e o bem fosse considerado antieconômico ou
necessário à continuação do programa governamental objeto do convênio, mesmo após
sua extinção; ou
iii). Embora omisso quanto à previsão da destinação ou a entidade convenente não fosse
integrante da Administração Pública de qualquer das esferas da Federação, se o bem fosse
considerado antieconômico ou irrecuperável nos termos do art. 15, II e III, do Decreto nº
99.658/1990, e o possível donatário pudesse ser qualificado como instituição filantrópica,
assim reconhecida de utilidade pública pelo governo federal ou como organização da
sociedade civil de interesse público – OSCIP.
4. Por sua vez, a Consultoria Jurídica do Ministério das Minas e Energia – CONJUR-
MME/CGU/AGU, no PARECER Nº 0462/2015, manifestou-se no sentido de que o Decreto nº 99.658/1990
teria sido omisso quanto à doação de bens remanescentes dos convênios a entidades privadas sem fins
lucrativos. Diante disso, tal possibilidade teria fundamento nos termos do § 2º, do art. 41 da Portaria
Interministerial MP/MF/CGU nº 507, de 2011, e do julgado do Tribunal de Contas da União (Decisão nº
492/2002-Primeira Turma), desde que atendidas as exigências do art. 17, II, da Lei nº 8.666, de 1993:
35. Ante o exposto, entende-se que os bens remanescentes de convênios, nos quais a
União Federal é concedente, e que não prevejam a destinação destes, após a execução do
ajuste, não podem ser doados às organizações da sociedade civil, consoante previsto no
inciso IV, do art. 15, do Decreto nº 99.658, de 1990 c/c a alínea ‘a’, do inciso II, do art. 17,
da Lei nº 8.666, de 1993;
36. Atualmente, a doação de bens móveis pela administração pública federal é regida pelo
Decreto nº 9.373, de 2018, que revogou o Decreto nº 99.658, de 1990. Segundo a norma
em vigor, o regime jurídico aplicável à doação de bens móveis não se altera em função de
terem sido adquiridos ou não por meio de convênio. Assim:
a. se destinados à execução descentralizada de programa federal poderão ser doados à
União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios e às suas autarquias e fundações
públicas e aos consórcios intermunicipais, para exclusiva utilização pelo órgão ou entidade
executor do programa, conforme preconiza o art. 12 do Decreto nº 9.373, de 2018;
b. se considerados ociosos, recuperáveis, antieconômicos ou irrecuperáveis deverão
observar a respectiva classificação e as limitações impostas a cada pessoa jurídica, na
forma do art. 8º do Decreto nº 9.373, de 2018.
8. Por fim, tendo em vista o Ato Regimental nº 1, de 22 de março de 2018, este Departamento
(DECOR) solicitou que alguns processos pendentes da CRU-4ª Região fossem encaminhados à CGU,
dentre eles o presente processo.
2. ANÁLISE JURÍDICA
14. O convênio, em sentido amplo, é um acordo ajustado entre pessoas administrativas entre
si, ou entre elas e particulares, despidos de interesse lucrativo ou pretensão de vantagem econômica,
objetivando a realização de um fim de interesse público. Diferentemente dos contratos, onde as partes
possuem propósitos econômicos e lucrativos contrapostos, nos convênios o fundamental é a
cooperação, a ação conjunta ou comum para o atendimento de um interesse público.
15. Em sentido semelhante, Diogo de Figueiredo Moreira Neto ensinou que o convênio é o ato
administrativo complexo em que uma entidade pública acorda com outra ou com outras entidades,
públicas ou privadas, o desempenho conjunto, por cooperação ou por colaboração, de uma atividade de
competência da primeira (MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo. 14ª ed.
Rio de Janeiro: Forense, 2006. P. 185).
16. Referindo-se aos convênios, a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, assim estabeleceu:
“Art. 116. Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber, aos convênios, acordos,
ajustes e outros instrumentos congêneres, celebrados por órgãos e entidades da
Administração”.
Art. 1º [...]
§1º [...]
I - [...] o acordo, ajuste ou qualquer outro instrumento que discipline a transferência de
recursos financeiros de dotações consignadas nos Orçamentos Fiscal e da Seguridade
Social da União e tenha como partícipe, de um lado, órgão ou entidade da administração
pública federal, direta ou indireta, e, de outro lado, órgão ou entidade da administração
pública estadual, distrital ou municipal, direta ou indireta, ou ainda, entidades privadas sem
fins lucrativos, visando a execução de programa de governo, envolvendo a realização de
projeto, atividade, serviço, aquisição de bens ou evento de interesse recíproco, em regime
de mútua cooperação;
19. Ocorre que, nas relações conveniais, após a execução do pacto de colaboração, podem
remanescer bens adquiridos com os recursos transferidos, ficando pendente a solução acerca da
propriedade desses bens. Como medida de segurança jurídica, a destinação de tais bens deveria
constar do instrumento convenial, contudo, em muitos casos, o instrumento é omisso quanto a este
destino final.
20. A Instrução Normativa STN nº 01, de 15 de janeiro de 1997 , que disciplinava a celebração
de convênios de natureza financeira, assim prescrevia:
Art. 25. A titularidade dos bens remanescentes é do convenente, salvo expressa disposição
em contrário no instrumento celebrado.
Art. 27. São cláusulas necessárias nos instrumentos regulados por esta Portaria as que
estabeleçam:
XIV - a indicação da obrigatoriedade de contabilização e guarda dos bens remanescentes
pelo convenente e a manifestação de compromisso de utilização dos bens para assegurar a
continuidade de programa governamental, devendo estar claras as regras e diretrizes de
utilização;
25. Nada obstante, mesmo quando a titularidade dos bens restem com a Administração Pública
concedente, existem situações em que o interesse público recomenda sua posterior alienação. Nesses
casos, ela poderá se desfazer daqueles bens que já não desempenham com eficiência as funções para
as quais foram afetados. Raciocínio que também deve ser aplicado aos bens adquiridos com recursos
provenientes de convênios, de titularidade da Administração Pública.
26. Assim sendo, uma vez identificado o interesse público no desfazimento do bem, a
Administração deverá assim proceder, observando a legislação que autoriza e regulamenta a alienação
de bem público. Entre as formas que o Estado dispõe para alienar os seus bens, está a doação.
28. A Lei nº 8.666/1993 dispõe sobre os procedimentos a serem observados pela Administração
Pública, na hipótese de alienação de bens públicos móveis, mediante doação, in verbis :
29. O Interesse público engloba duas concepções: o interesse público primário (interesse da
coletividade) e o interesse público secundário (interesse do Estado, enquanto sujeito de direitos). Nem
sempre há coincidência entre o interesse público primário e o interesse da máquina administrativa do
Estado (secundário). Diante de aparente conflito entre essas facetas do interesse público, deve, em
regra, predominar o atendimento ao interesse público primário, mais nobre e relevante aos fins que
justificam a existência do Estado.
30. De acordo com Jacoby Fernandes, a doação tem por objetivo “fins e uso” de interesse
social, evidenciando o seu caráter restritivo. Pode acontecer, por exemplo, que um determinado órgão
decida doar móveis para uma entidade filantrópica. “No caso, a finalidade da doação atenderá ao
interesse social, mas a Administração deverá certificar-se de que o uso a ser dado ao bem guardará
correlação com igual interesse social”:
É que muitas vezes a finalidade do ato não apresenta correlação com a utilização a ser
dada ao móvel posteriormente, tal como ocorreria se os bens doados não fossem utilizados
pela entidade exemplificada para os seus fins, mas transferidos para uso pessoal ou
particular de um dos membros de sua diretoria (Contratação Direta sem Licitação. 10º ed.
rev. atual. e ampl. Belo Horizonte: Fórum, 2016. p. 224).
Poderia parecer, à primeira vista, que sempre será mais vantajoso, sob o aspecto
econômico, não doar bens, pois, na venda, por exemplo, há o ingresso de recursos. Não é
esse o sentido do dispositivo, como também não é verdadeiro que a venda sempre resulta
vantajosa para a Administração.
É o que ocorre quando o Município reúne leitos e outros utensílios inservíveis para um
hospital, por intermédio de um clube de serviços como o Rotary, e equipa um asilo ou
orfanato, desonerando-se da atividade e poupando estrutura de recursos humanos, de
material e de manutenção para a realização dessa atividade social.(FERNANDES, Jorge
Ulisses Jacoby. Contratação Direta sem Licitação. 10º ed. rev. atual. e ampl. Belo
Horizonte: Fórum, 2016. p. 225).
32. Outrora, o tema da doação era regulamentado pel o Decreto federal nº 99.658/1990, que em
seu art. 15, enumerava os órgãos e entidades em favor das quais poderia a Administração Pública
proceder a doação, vejamos:
Art. 15. A doação, presentes razões de interesse social, poderá ser efetuada pelos órgãos
integrantes da Administração Pública Federal direta, pelas autarquias e fundações, após a
avaliação de sua oportunidade e conveniência, relativamente à escolha de outra forma de
alienação, podendo ocorrer, em favor dos órgãos e entidades a seguir indicados, quando se
tratar de material:
I - ocioso ou recuperável, para outro órgão ou entidade da Administração Pública Federal
direta, autárquica ou fundacional ou para outro órgão integrante de qualquer dos demais
Poderes da União;
I I - antieconômico, para Estados e Municípios mais carentes, Distrito Federal, empresas
públicas, sociedade de economia mista, instituições filantrópicas, reconhecidas de utilidade
pública pelo Governo Federal, e Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público;
III - irrecuperável, para instituições filantrópicas, reconhecidas de utilidade pública pelo
Governo Federal, e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público;
IV - adquirido com recursos de convênio celebrado com Estado, Território, Distrito Federal
ou Município e que, a critério do Ministro de Estado, do dirigente da autarquia ou fundação,
seja necessário à continuação de programa governamental, após a extinção do convênio,
para a respectiva entidade convenente;
V - destinado à execução descentralizada de programa federal, aos órgãos e entidades da
Administração direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e
aos consórcios intermunicipais, para exclusiva utilização pelo órgão ou entidade executora
do programa, hipótese em que se poderá fazer o tombamento do bem diretamente no
patrimônio do donatário, quando se tratar de material permanente, lavrando-se, em todos
os casos, registro no processo administrativo competente.
Parágrafo único. Os microcomputadores de mesa, monitores de vídeo, impressoras e
demais equipamentos de informática, respectivo mobiliário, peças-parte ou componentes,
classificados como ociosos ou recuperáveis, poderão ser doados a instituições filantrópicas,
reconhecidas de utilidade pública pelo Governo Federal, e Organizações da Sociedade Civil
de Interesse Público que participem de projeto integrante do Programa de Inclusão Digital
do Governo Federal.
33. Com a revogação do supracitado Decreto, o tema passou a ser regido pelo Decreto Federal
nº 9.373, de 11 de maio de 2018, que dispõe sobre a alienação, a cessão, a transferência, a destinação
e a disposição final ambientalmente adequadas de bens móveis:
34. Em nossa opinião, no que tange aos convênios, não há alteração em relação à disciplina
fixada pelo artigo 25 da Portaria Interministerial nº 424, de 30 de dezembro 2016. As regras dispostas
pelo Decreto Federal nº 9.373, de 11 de maio de 2018, notadamente em seus artigos 7º , 8º e 12
envolvem a doação de bens públicos da União, que enquadrados nas classificações definidas pelo
normativo, poderão ser alienados ou mesmo doados.
35. Para fins de aplicação do referido Decreto aos bens remanescentes de convênio, essas
regras seriam aplicáveis apenas quando tais bens remanescentes tivessem sido definidos como de
titularidade do órgão público concedente.
36. Assim, os bens móveis remanescentes cuja titularidade já tenha sido definida como de
titularidade da entidade convenente, por óbvio, não estariam submetidos a este regime de alienação ou
doação, embora possam sofrer limitações em sua utilização pelo convenente, em razão do regime
jurídico adstrito à parceria realizada.
37. Outrossim, em princípio, este regime de alienação ou doação previsto pelo Decreto Federal
nº 9.373, de 11 de maio de 2018, em princípio, não será aplicável na hipótese em que há omissão, no
instrumento convenial, acerca da titularidade do bem remanescente, uma vez que a Portaria
Interministerial nº 424, de 30 de dezembro 2016 já definiu que, nessas hipóteses, a titularidade
pertencerá ao convenente.
39. Por fim, conforme definido outrora pela Câmara Regional de Uniformização de
Entendimentos Consultivos da 4a Região, em relação à possibilidade de doação de bens remanescentes
de convênios ou de outros bens públicos móveis às organizações da sociedade civil, mediante acordo de
cooperação precedido de chamamento público, com base na Lei nº 13.019, de 31 de julho de 2014,
embora raciocínio semelhante pudesse ser desenvolvido, convém observar que a referida Lei estabelece
regime específico aos bens remanescentes destas parcerias, o que nao foi objeto da divergência posta à
referida Câmara Regional.
3. CONCLUSÃO
40. Diante do exposto, concluímos que:
À consideração superior.
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NUP: 58000.009662/2016-09
INTERESSADA: SECRETARIA NACIONAL DE ESPORTE EDUCAÇÃO LAZER E INCLUSÃO SOCIAL
ASSUNTO: DESTINAÇÃO DE BENS REMANESCENTES DE CONVÊNIOS
Senhor Diretor,
Estou de acordo com o Parecer n.º 37/2019/DECOR/CGU/AGU, subscrito pelo Exmo. Sr.
Advogado da União Ronny Charles Lopes de Torres.
À consideração superior.
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DEPARTAMENTO DE COORDENAÇÃO E ORIENTAÇÃO DE ÓRGÃOS JURÍDICOS
DESPACHO n. 00436/2020/DECOR/CGU/AGU
NUP: 58000.009662/2016-09
INTERESSADOS: SECRETARIA NACIONAL DE ESPORTE EDUCAÇÃO LAZER E INCLUSÃO SOCIAL-
SNELIS
ASSUNTOS: ATIVIDADE MEIO
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DESPACHO n. 00568/2020/GAB/CGU/AGU
NUP: 58000.009662/2016-09
INTERESSADOS: SECRETARIA NACIONAL DE ESPORTE EDUCAÇÃO LAZER E INCLUSÃO SOCIAL-
SNELIS
ASSUNTOS: ATIVIDADE MEIO
(assinado eletronicamente)
ARTHUR CERQUEIRA VALÉRIO
Advogado da União
Consultor-Geral da União
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NUP: 58000.009662/2016-09
INTERESSADOS: SECRETARIA NACIONAL DE ESPORTE EDUCAÇÃO LAZER E INCLUSÃO SOCIAL-
SNELIS
ASSUNTOS: ATIVIDADE MEIO
3. À Assessoria para:
a) dar ciência à equipe jurídica da COJAER;
b) dar ciência às OM assessoradas pela COJAER em matéria de convênios e parcerias; e
c) introduzir na pasta MJR, possível o compartilhamento futuro com as AJ.