Sie sind auf Seite 1von 15

c 


  c 






c       
 

          c   

c  c       






c           !"#







     $  






 
%&'&
c           !"#

$  ( 

Título: O Prisioneiro da Grade de Ferro (Auto -retratos)


Título (inglês): The Prisoner of the Iron Bars (self -portraits)
Duração: 123 min e 0 seg.
Ano: 2004
Cidade: São Paulo UF(s): SP País: Brasil
Gênero: Documentário
Subgênero: Político
Cor: Colorido
Número do CPB: 04000502
Sinopse (inglês): The brazilian penitentiary system seen from inside: one year before
the deactivation of Carandiru's Jailhous e, inmates learn how to use videocameras
and document the daylife of America Latina's biggest prison.



$)

Direção: Paulo Sacramento


Roteiro: Paulo Sacramento
Assistente de Direção: Dennison Ramalho
Depoimentos: detentos da Casa de Detenção de São Paulo
Empresa Produtora: Olhos de Cão Produções Cinematográficas
Produção: Paulo Sacramento
Produção Executiva: Gustavo Steinberg e Paulo Sacramento
Direção de Produção: Gustavo Steinberg
Direção Fotografia: Aloysio Raulino
Operador de Câmera: Aloysio Raulino e detentos da Casa de Detenção
Fotografia de Cena: Não
Fotografia de Cena Autor: Aloysio Raulino
Montagem/Edição: Idê Lacreta e Paulo Sacramento
Estúdio Montagem/Edição: Olhos de Cão
Técnico de Som Direto: Louis Robin e Márcio Jacovani
Microfonista: detentos da Casa de Detenção de São Paulo
Edição Som: Ricardo Reis
Mixagem: Armando Torres Jr.
Estúdio Som: Effects (edição) e Estúdios Mega (mixagem)
Trilha Musical: Não
Trilha Original: Não

 ) 

Suporte de Captação: Vídeo (MiniDV)


Suporte de Projeção: 35mm
Janela de projeção de película: 1:1.66
Janela de projeção de vídeo: 16x9 (Letterbox)
Produto Final do Telecine: Vídeo (Betacam Digital)
Ano Telecine: 127
Disponível nos Suportes: 35mm
Vídeo (Betacam Digital)
Vídeo (MiniDV)
Vídeo (VHS)
Vídeo (DVD)
Vídeo (Betacam SP)
Vídeo (DV-CAM)
Som: Sonoro
Dolby Digital
Idioma: Português
Legendas: Inglês, Espanhol, Francês,
Classificação Indicativa: 16 anos


   

Website: www.olhosdecao.com.br/prisioneiro
Festivais: 8º Festival Internacional de Documentários -
É Tudo Verdade
31º Festival de Cinema de Gramado
60a. Mostra Internacionale d¶Arte
Cinematografica di Venezia (Itália)
27º Festival des Films du Monde de Montreal (Canadá)
Festival de Biarritz (França)
Festival do Rio
Festival International de Documentários
de Amsterdam (Holanda)
Festival Internazionale Filmmaker - Milão (Itália)
Forum Doc BH
Festival Internacional del Nuevo Cine
Latinoamericano - Havana (Cuba)
Festival Internacional de Programmes Audiovisuels -
FIPA (França)
7a. Mostra de Cinema de Tiradentes
27th Goteborg Film Festival (Suécia)
Human Rihts Watch (Suíça)
Tessaloniki Documentary Festival (Grécia)
Muestra de Cine Mexicano e Iberoamericano
en Guadalajara (México)
Rencontres Cinémas d'Amérique Latine de
Toulouse (França)
The Amnesty Internacional Film Festival in Amsterdam
(Holanda)
International Film Festival of Uruguay
Buenos Aires Festival Internacional de Cine
Independente (BACIFI) (Argentina)
7º Festival de Málaga (Espanha)
Enc Del Outro Cine Quito (Equador)
6º Festival de Cinéma Brésilien de Paris (França)
Tribeca Film Festival (EUA)
Festival de Cinema Brasileiro de Miami
Premiere Brasil ± NY (EUA)
Mostra de Cinema Brasileiro na América Latina
(Cidade do México - México)
8º Los Angeles Latino Internacional Film Festival (LA)
4º Festival de Cinema Brasileiro em Israel
Mostra de Cinema Brasileiro na América Latina
(Lima ± Perú)
8º Encuentro Latinoamericano de Cine de Lima (Perú)
Mostra de Cinema Brasileiro na América Latina (Buenos
Aires - Argentina)
Festival Internacional de Helsinki
Reel Afirm. Festival (Washington) (EUA)
Festival de Haifa / Israel
20th Warsaw International Film Festival (Inglaterra)
18TH Leeds International Film Festival (Inglaterra)
Puerto Vallarta Film Festival of the Americas ± (Mexico)
20º Festival Internacional de Cinema de Santa Bárbara (EUA)
Festival Internacional de Cine Contemporâneo (México)
1a. Mostra Cine Brasil ( Bogotá - Colômbia)
Festivalíssimo (Montreal - Canadá)
6º Festival Internacional de Lãs Palmas Gran Canarias (Espan ha)
Mostra Cinemateca Centro Galego de Arte da Imagem (Espanha)
Festival Internacional de Cine Documental (Quito - Equador)
New Brasil / The UK Brasilian Film Festival (Inglaterra)
Ano do Brasil na França
Prêmios: - Melhor Filme - Golden Owl Awards - Feature Film Competition - 18º
Leeds International Film Festival - Leeds, REINO UNIDO (2004)
- Melhor Documentário - Diretor Estreante - 8º Los Angeles Latino International Film
Festival - EUA (2004)
- Melhor Diretor Estreante de Documentário - Tribeca Film Festival - New York, EUA
(2004)
- Melhor Documentário - 7º Festival de Málaga - Espanha (2004)
- Menção Especial - Future Film Festival / Digital Awards - 60a. Mostra
Internacionale d´Arte Cinematografica di Venezia ¬ Itália (2003)
- Melhor Documentário - Prêmio da Crítica - 31º Festival de Cinema de Gramado -
RS, Brasil (2003)
- Medalha de Prata - Filmmaker Doc Festival - Itália (2003)
- Melhor Filme Internacional, Melhor Filme Brasileiro, Prêmio ABD e Prêmio
Ministério da Cultura - É Tudo Verdade - 8º Festival Internacional de Documentários
- SP/RJ, Brasil (2003)
- Prêmio Especial do Júri - Festival do Rio - RJ, Brasil (2003)
- Melhor Diretor Estreante - APCA - Associação Paulista de Críticos de Arte, São
Paulo (Brasil, 2004)
Data de Lançamento: 16/04/2004
Local Lançamento: SP/RJ

 c 

Um ano antes da desativação da Casa de Detenção do Carandiru, detentos


aprendem a utilizar câmeras de vídeo e documentam o cotidiano do maior presídio
da América Latina.
O documentário retrata a ineficácia do sistema carcerário brasileiro, sobretudo
sua falha no processo de ressocialização. As lentes de Paulo Sacramento
conseguem captar a desobediência a vários princípios constitu cionais,
principalmente em relação à dignidade do apenado.
Apesar de mostrar assassinos, estupradores, ladrões, entre outros, o filme
expõe a maneira - muitas vezes inusitada e criativa - que os presos encontram para
(sobre)viver no cárcere, numa tentativa de diminuir o tempo que sempre insiste em
correr mais vagarosamente quando se está cerrado dentro das gaiolas de ferro. Por
outro lado, o documentário revela as condições sub -humanas a que os apenados
estão submetidos no cárcere, confirmando o descaso Estatal que impera no Sistema
Penal brasileiro.
O diretor entregou a posse das câmeras aos próprios presos, para que eles
filmassem seu dia-a-dia e para dar veracidade à situação em que vivem .


  

Formado em Cinema pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade


de São Paulo (ECA/USP). Em 1992, cria a produtora independente Paraísos
Artificiais, que se tornaria em 1996 a produtora Olhos de Cão.
Foi assistente de direção e produtor de finalização do longa -metragem "A
Causa Secreta" (1994, direção de Sérgio Bianchi). Presidiu a Associação Brasileira
de Documentaristas - Seção São Paulo (ABD-SP) ao longo do ano de 1997.
Realizou a montagem dos longas -metragens "Tônica Dominante" (2000,
direção Lina Chamie) e "Cronicamente Inviável" (2000, direção de Sérgio Bianchi).
Produziu e montou o longa "Amarelo Manga" (2002, direção de Cláudio
Assis), vencedor de oito prêmios no Festival de Brasília em 2002, entre eles o de
melhor montagem e os prêmios de melhor filme segundo o júri oficial, a crítica e o
público. Recebeu ainda prêmios de melhor filme no Fórum do Novo Cinema do
Festival de Berlim e no Festival de Cinema Latino -Americano de Toulouse, ambos
em 2003.
Dirigiu os curtas-metragens "Ave" (1992) e Juvenília" (1994) - este último
recebeu o Grande Prêmio de melhor filme nos Rencontres Henri Langlois (França), o
prêmio de melhor curta no Riminicinema Mostra Internazionale (Itália) e a Medalha
de Prata no Kurtzfilmfestival Goldene Câmera (Ale manha).
Montador laureado, recebeu prêmios de melhor montagem pelos curtas "Nunc
et Semper ou Canal 100" (de José Roberto Torero) no Guarnicê de Cine Vídeo de
São Luís; "Amor!" (de José Roberto Torero) nos festivais de Gramado e de Brasília;
"Geraldo Filme" (de Carlos Cortez) no Festival de Brasília; "5 Filmes Estrangeiros"
(de José Eduardo Belmonte) no Festival de Brasília; e "Tepê" (de José Eduardo
Belmonte) no Festival de Gramado.
Foi também premiado pela edição de som do curta "Onde São Paulo Acaba"
(de Andréa Seligmann) no Festival de Brasília.

 

Documentário captado durante sete meses no presídio do Carandiru, em São


Paulo, "O Prisioneiro da Grade de Ferro (auto -retratos)" foi o grande vencedor da
edição 2003 do É Tudo Verdade - 8º Festival Internacional de Documentários.
O longa-metragem venceu a Competição Internacional e a Competição
Brasileira. Também recebeu o Prêmio da Associação Brasileira de Documentaristas
e um dos três Prêmios Estímulos do Ministério da Cultura. Em maio do mesmo ano,
o filme foi exibido na sessão de encerramento do XIII Cine Ceará - Festival Nacional
de Cinema e Vídeo.
Para o júri internacional do É Tudo Verdade, ³O Prisioneiro da Grade de Ferro
(auto-retratos)" se impôs como uma evidência tão forte quanto à necessidade da sua
existência. Segundo os jurados, é "um filme que permite aos próprios prisioneiros
revelar seus corpos abafados; um trabalho onde o ponto de v ista do cineasta não é
a sua prioridade exclusiva. Ele é o fruto de um contrato passado entre duas
necessidades. A dos presos de fabricar a sua imagem. A do diretor cineasta de
revelar uma realidade´.
Já para o júri brasileiro do mesmo evento, trata-se ³de um filme que soube
criar mecanismos cinematográficos aptos a trazer para o espectador uma dimensão
até então desconhecida de uma questão especialmente dramática. O cineasta
soube criar neste filme, em marcante sintonia com a equipe envolvida, um
dispositivo onde a encenação ou a sinceridade produzem sentidos confluentes,
revelando aspectos muito especiais (inéditos em alguns casos) sobre a situação
carcerária´.
Poucas coisas são tão clichês quanto dizer que um filme é ³um soco no
estômago´. Infelizmente, não se pode imaginar outra sentença para O Prisioneiro da
Grade de Ferro, documentário de Paulo Sacramento (produtor e editor de Amarelo
Manga). Aliás, soco no estômago é pouco.
A película é uma das coisas mais fortes desde Cronicamente Inviável de
Sérgio Bianchi e não traz o alívio de saber -se que há ali uma ficção.
A ideia do documentário é simples: após um curso profissionalizante, os
presos do Carandiru receberam câmeras para filmar o cotidiano da prisão como
quisessem. O diretor Paulo Sacramento ambici onou mostrar o que o filme Carandiru
não conseguiu: a realidade dos presidiários.
Diferente da película de Hector Babenco, O Prisioneiro da Grade de Ferro não
carrega o menor compromisso com uma estética agradável ou em explicar várias
tramas que não traduzem quem os presidiários são. Para retratar o que alguns
presidiários chamam de Portal do Inferno, Sacramento opta por imagens isoladas de
enfermos quase deformados por suas mazelas e sem receber o tratamento
adequado além de retratos isolados de grupos c omo os evangélicos, os desportistas
e os artistas.
Para se fazer documentário, o grande problema não é com a verossimilhança
das imagens, mas na intenção do diretor que pode manipular seja na edição ou até
mesmo nas perguntas o que filma. Usando os prision eiros como co-diretores,
Sacramento aumenta em níveis exponenciais o grau de veracidade que o filme
reproduz. Os próprios presos se apresentam como protagonistas e diretores ³vocês
desculpem, mas sou apenas um amador´, afirma um dos cinegrafistas.
É esse grau de inexperiência que confere a pureza necessária para mostrar o
descaso da sociedade com os penitenciários. O Prisioneiro da Grade de Ferro é
uma demonstração clara das razões que levam o sistema penal a ficar cada vez
mais superlotado.
No melhor e pior daquele universo, entre traficantes que vendem crack (³isso
aqui é raspa da canela do diabo´), rappers e assassinos, satanistas e artistas é
possível encontrar até aqueles que vão e voltam por vontade própria e para manter
a palavra. Não é difícil enten der as mudanças, mas quando e las ocorrem para
melhor. Por que após assistir O Prisioneiro da Grade de Ferro não há a menor
dúvida de que o Carandiru é, realmente, um portal para o inferno de onde será
quase inevitável sair pior do que entrou.
Em uma cena de O Prisioneiro da Grade de Ferro (Auto -Retratos), Dennison
Ramalho, aqui assistente de direção, empresta uma câmera a um detento pela
estreita escotilha do "Amarelo", uma das cerradíssimas celas de segurança máxima
do complexo carcerário do Carandiru. Fica claro, aqui, que a equipe de filmagem
consegue ir até certo ponto (o mais profundo, aliás, que alguém de fora dali já
conseguiu chegar) e a mini DV é quem segue adiante, sem limites, operada pelos
detentos e tendo um acesso mais íntimo àquele dramático e spaço.
À parte essa liberdade suprema da câmera, é seu empréstimo que se faz
emblemático neste documentário. É com ele que o diretor Paulo Sacramento dilui
sua autoridade como diretor e autor do longa, repartindo o controle com os presos
durante as filmagens. Um gesto raro num documentarismo que, de praxe, é feito
para justificar teses previamente concebidas. Sacramento e sua equipe chegam ao
Carandiru sem uma verdade pronta e tampouco pretendendo encontrá -la.
Não há, também, nenhuma intenção de se desenha r um painel que junte as
várias verdades dos presidiários. É mais uma experiência coletiva, sob a
coordenação de Sacramento e sua equipe - tanto que foi ele, mais a montadora, Idê
Lacreta, que editaram o material de 170 horas.
Os workshops que precederam os sete meses de filmagens, em 2001,
também justificam esse trabalho em grupo, e a evidência dessa parceria se dá na
imagem: não há distinção visual entre o material filmado pelo fotógrafo Aloysio
Raulino e aquele filmado pelos presidiários. Mesmo os sons, ruídos e músicas foram
captados ali e editados fora da casa de detenção.
Esse livre trânsito cruzando a muralha do presídio é fruto de uma confiança
mútua que se fez fundamental para que O Prisioneiro da Grade de Ferro desse
conta do seu projeto, que é cap tar o cotidiano desses homens órfãos de liberdade.
Neste reality show, são os presos que se expressam, libertos do típico
determinismo dos noticiários. Nesse passeio íntimo, o filme de Sacramento descobre
semelhanças entre o mundo do Carandiru e o que est á para além de suas muralhas.
As desigualdades entre a "periferia" (as selas do "Amarelo", superlotadas e
mantendo os criminosos em condições animais) e os cárceres enfeitados com
televisão.
As atividades corriqueiras, como lavar o chão, jogar futebol, fa zer compras,
passar pelo médico, sonhar pela grade do xilindró com a alegria de fogos de artifício
que estouram no horizonte. Nada mais verdadeiro sobre os prisioneiros do que
mostrá-los em suas atividades mais corriqueiras, criando vida naquele terreno de
morte da Casa de Detenção.
E ao dar a esses homens imagens que lhes servem mais como espelhos,
"auto-retratos", o filme os recoloca na memória - eles que, removidos do local,
tiveram a desgraça apagada do imaginário coletivo quando o presídio foi desativa do
e destruído, em 2002. Por isso a primeira seqüência, a da implosão do Carandiru
mostrada de trás para frente, com os pavilhões levantando -se dos seus escombros.
O Prisioneiro da Grade de Ferro (Auto -Retratos) devolve a existência a esses
homens através da imagem.
O título e a premissa do filme dessa última sessão faz retornar àquela que
deve ser a questão mais recorrente do cinema documental: a representação do
Outro, da experiência do Outro. O filme de Sacramento nasce a partir do resultado
de oficinas de vídeo oferecidas para os presos na (hoje desativada e parcialmente
demolida) casa de detenção de São Paulo ± o Carandiru ± durante seis meses.
Iniciados nos procedimentos técnicos e narrativos do audiovisual, esses homens se
dispuseram a registrar aspectos de suas vidas (por isso, o subtítulo) lá dentro. O
Prisioneiro é a junção dessas imagens a outras, feitas pela equipe durante todo o
processo.
Objetos da representação viciada do telejornalismo, que os recriam enquanto
resíduo social indesejável, mal a ser combatido, os detentos, por meio de seus auto -
retratos, ganham não somente uma dimensão mais complexa que aquela da mídia
de massa, mas também enquanto criadores de sua própria imagem, vão de objetos
à sujeitos da representação.
Antes de discutir a posição do preso no mundo, O Prisioneiro da Grade de
Ferro quer problematizar o lugar deste (e consequentemente, o do realizador) no
filme: postas as regras, tudo o que veremos deixa de ser realidade imaculada a ser
captada pela câmara, para tornar -se interação entre preso e equipe, entre câmara e
gente. Por esse viés nos chegam as imagens da vivência no Carandiru, estas muitas
vezes captadas nos momentos em que o diretor e a equipe estavam ausentes.
A atitude de Paulo Sacramento não é experiência isolada. Podemos pensar,
também dentro da tradição do documentário brasileiro, em Jardim Nova Bahia
(1971), de Aloysio Raulino (não por mera coincidência, fotógrafo d¶O Prisioneiro da
Grade de Ferro, bem como um dos responsáveis pelas oficinas oferecidas aos
detentos), em que o diretor também entrega a câmara para seu personagem.
Entretanto, se no filme de Raulino ainda existe a preocupação em preservar
uma certa pureza dos registros, especificando quem filma em cada momento, no de
Sacramento isto não ocorre: na montagem, as imagens dos alunos são misturadas
às imagens da equipe, sem que possamos distinguir claramente quem porta a
câmara, numa dupla contaminação que desautoriza qualquer relativização, tentativa
de perspectiva, em ambas as direções. Só nos chegam os momentos, os
fragmentos da vida na cadeia, sejam eles captados pelo diretor ou não.
Para onde aponta essa radicalização no sentido de representar a experiência
alheia? Embora sujeitos na captação de imagens, os detentos não participaram da
montagem, instância organizadora determinante. Não esqueçamos de que
Sacramento é autor e não se pretende invisível em seu filme.
Coube ao diretor organizar o material, mas aqui a questão é a de realizar em
conjunto, e o produto desse processo é a consequ ência do encontro, não um
veredicto anterior à experiência alheia, e muito menos uma intenção totalitária em
relação ao real.
O sistema carcerário brasileiro visto de dentro: um ano antes da desativação
da Casa de Detenção do Carandiru, em São Paulo, detentos aprendem a usar
câmeras de vídeo e documentam seu cotidiano no maior presídio da América Latina.
O documentário retrata também a ineficácia do sistema carcerário brasileiro,
sua falha no processo de re-socialização, e sua falha no sistema de prevenção.
Mostra a desobediência a vários princípios constitucionais, principalmente em
relação à dignidade das pessoas.
Apesar de mostrar assassinos, estupradores, ladrões, entre outros, o filme
revela que a sua condição de seres humanos não é respeitada e que os prisoneiros
são tratados como animais, vivendo em condições desumanas, fazendo que aqueles
que retornam à sociedade, estejam ainda piores e mais revoltados do que quando
entraram.
Como ensina o escritor português José Saramago: para ver melhor as coisas
há que se lhe dar a volta. Utilizo, nesta oportunidade, um título de filme como mote
para as minhas reflexões. A razão desta escolha, como lembra o professor Rubem
Alves em suas palestras, quem sabe, no futuro, quando alguém se interesse por
meus rabiscos e venha a dizer: "... aquele articulista, policial, educador ou o que
quer que seja quis dizer isso quando escreveu aquilo".
Sabe-se que o mais importante nunca se conta. A história secreta se constrói
com o não-dito, com o subentendido e a vaidosa alusão. Acredit a-se que nossas
escolhas ainda que inconscientes guarda sempre um paralelo com nossos desejos e
inquietações mais imediatos, com as nossas provisórias certezas.
O mote que me atrevo a utilizar, hoje, é do premiado documentário de Paulo
Sacramento, que tem a ve r com a possibilidade que temos para repensar o que está
presente e fazemos isso de várias formas.
Um bom filme tem o papel fundamental de muito mais que entreter tentar
reverter. Retratar o homem em sua intimidade, em seu dia -a-dia de preso faz com
que cada um nós reflita sobre algo que não quer se calar, ou seja, vivemos a cada
dia em uma sociedade de controle.
Esse registro cinematográfico me fará um dia lembrar, por exemplo, que a
época assistíamos às mortes anunciadas no Zoológico de São Paulo, quand o
alguém usou a metáfora do pai explicando a seu filho que os ³bichos´ ficavam
presos dentro da jaulas para protegê -los de nós humanos, ou a emblemática cena
do traficante sendo carregado em um carrinho de mão utilizado na construção civil, e
que foi capa de vários jornais.
Por conta da preciosidade do tempo, somos pressionados para irmos direto
ao ponto ou para reduzirmos a uma cena todo um contexto histórico, o que faz com
os textos mais ricos sejam aqueles que conseguem abarcar o todo de forma
sintética.
Ao fazer um esforço de precisão intelectual, a meu ver, o aprendizado que
obtemos do filme é quanto a marca humana por excelência: a lágrima nos olhos.
Sacramento quando registra o olhar desolado e, na seqüência, o vemos
lacrimejando, é como se o preso dissesse ao mundo: errei, devo ser punido ou
reeducado! E em seu, ou nosso oculto pensar surge a questão: mas é esta a forma?
Aquele olhar tem o peso da cena descrita em artigo de Contardo Calligaris, na
Folha de São Paulo, quando ele relembra o gesto de Rosa Parks, a costureira negra
que, num dia de 1955, em Montgomery, Alabama, sentou -se nas fileiras do ônibus
reservadas aos brancos e não quis mais se mexer.
Ela não pedia compensação por danos sofridos nem, a bem dizer, lutava por
um futuro diferente. A repercussão de seu ato (que iniciou o movimento americano
dos direitos civis liderado por Martin Luther King) deve-se, provavelmente, ao fato
seguinte: Rosa Parks não cobrou créditos passados nem futuros, apenas revoltou -
se, ou seja, autorizou-se a viver o presente que queria e que lhe parecia justo. Coma
isso, transformou a sua vida e o mundo.
O filme de Sacramento pode não transformar o mundo , mas traz novos ares a
milhares de detentos. O inesperado do filme surpreende -nos. O homem é
alimentado por um gênio criativo que sempre nos surpreenderá. Tenta-se ao
interpretar fazer um trabalho similar ao de um historiador ou assim como o do
arqueólogo, que deve procurar desvendar o passado da humanidade, reconstruir os
seus eventos, fazer reviver a vida dos homens de outrora, reconstruir as sociedades
já desaparecidas na voragem dos tempos.
A história, no sentido restrito e tradicional do termo, estuda e faz reviver o
passado da humanidade baseando -se nos documentos escritos, enquanto a
arqueologia se baseia, pa ra alcançar o mesmo fim, em toda a espécie de vestígios
materiais não-escritos, desde edifícios gigantescos aos pólens microscópicos. Em
ambos os casos, pois, se faz história no sentido amplo, completo e verídico do
termo; como fez Paulo Sacramento e equip e, pois deram a volta e viram melhor.
Primeiro longa-metragem dirigido por Paulo Sacramento, O Prisioneiro da
Grade de Ferro pretende retratar e refletir sobre a realidade do sistema carcerário
brasileiro, em um momento em que suas contradições se exacerba m, extrapolando
os limites da aceitabilidade.
Sacramento, há tempos incomodado com o que era veiculado pela mídia
sobre o complexo penitenciário Carandiru ± ³é sempre rebelião e fuga´ ± sentiu
vontade de investigar e saber mais sobre a vida daqueles homens . Em 1996,
realizou as primeiras filmagens e partiu para a captação de recursos.
Em 2001, o diretor percebeu que a maneira mais eficiente de dar voz aos
presos e conhecer efetivamente o cotidiano daquelas pessoas seria fazer um filme
em parceria. Buscando um registro documental, optou por ministrar cursos e
workshops a detentos interessados, ensinando -os a manipular câmeras de vídeo.
Um ano antes da desativação da Casa de Detenção do Carandiru, os detentos
registraram, sem intermediários, o cotidiano deste que foi o maior presídio da
América Latina.
Impactantes imagens da implosão de três Pavilhões ± 6, 8 e 9 ±, ocorrida em
dezembro de 2002, abrem o documentário. Ao longo dos 123 minutos de projeção,
dezenas de detentos, devidamente identificados, falam so bre a rotina na cadeia,
suas histórias, expectativas, injustiças.
Mostram-se perdidos em algumas situações e seguros na convicção de que
sua própria sobrevivência depende da atitude diária perante os colegas. Diversos
aspectos são levantados e um mundo paralelo começa a ser descortinado. O filme
ainda traz depoimentos de ex -diretores da Casa de Detenção.
Sacramento captou R$ 600 mil e levou sete meses para a captação de todo o
material que lhe serviu para a montagem e edição final. Foram 170 horas de mater ial
registrado. O sistema carcerário brasileiro visto de dentro: um ano antes da
desativação da Casa de detenção do Carandiru, detentos aprendem a utilizar
câmeras de vídeo e documentam o cotidiano do maior presídio da América Latina.


 * 

Sobrecarga. Acesso em 19.06.10. Disponível em:


http://www.sobrecarga.com.br/node/view/2561

Cineclube. Acesso em 20.06.10. Disponível em:


http://www.cineclube.ufsc.br/cinema-documentario/o-prisioneiro-da-grade-de-ferro/

Folha Renascer. Acesso em 20.06.10. Disponível em:


http://folharenascer.webnode.com.br/news/filme -o-prisioneiro-da-grade-de-ferro-
documentario-/

Mnemocine. Acesso em 18.06.10. Disponível em:


http://www.mnemocine.com.br/promo/promocaoprisioneiro.htm

Wikipédia. Acesso em 20.06.10. Disponível em:


http://pt.wikipedia.org/wiki/Prisioneiro_da_Grade_de_Ferro_(Autorretratos)

Programadora Brasil. Acesso em 17.06.10. Disponível em:


http://www.programadorabrasil.org.br/programa/17/
http://www.programadorabrasil.org.br/filme/184/

Foco Jornalístico. Acesso em 19.06.10. Disponível em:


http://www.focojornalistico.com.br/imprensa_detalhes.asp?id=17

Jornal da Mídia. Acesso em 19.06.10. Disponível em:


http://www.jornaldamidia.com.br/noticias/2004/07/Opiniao/17 -
O_prisioneiro_da_grade_de_ferr.shtml

Das könnte Ihnen auch gefallen