Beruflich Dokumente
Kultur Dokumente
desamparo (Besset, 2001), embora o sujeito parece estar elidido dele; tal como
ocorre na inibição? É possível tomar o Pânico como sintoma?
A passagem de uma angústia paralisante para uma angústia-sinal pressupõe a
implicação do sujeito no fenômeno que experimenta.
A hipótese sobre a ‘fase aguda de uma neurose histérica’ (histeria de
angústia/fobia)
A hipótese do fracasso na transformação da angústia em fobia;
Transformação direta da excitação em angústia; primeira teoria da angústia
(neuroses atuais); donde uma falha da representação; a excitação não
encontra inscrição psíquica e retorna diretamente sobre o corpo na forma de
descarga [descarga neurovegetativa];
O pânico verdadeiro como o oposto ou avesso do sintoma;
Os transtornos ditos psicossomáticos implicam numa lesão orgânica, produzida
no desenvolvimento da afecção, o que não se verifica no quadro de pânico,
onde nenhuma lesão é produzido a nível do órgão, tampouco ameaça as
funções vitais. Nesse sentido, o quadro de Pânico, quando comparado aos
transtornos psicossomáticos, acarreta muito menos perigo, posto que sua
violência é muito menor.
Convém situar: 1) as circunstâncias que envolvem a eclosão da primeira crise;
2) a fantasia frequentemente presente na fala dos sujeitos que padecem dessa
afecção que Riva Schwartzmann (1997) denomina “fantasia de anonimato”.
“[...] a eclosão da primeira crise ocorre num momento especialmente difícil de
suas vidas, o qual, no entanto, não era reconhecido como tal” (Schwartzmann,
1997, p. 92)
“[...] minha observação leva-me a pensar que ela surge num momento de
ruptura de um certo tipo de rede protetora de ligações afetivas e narcísicas”
(ibid, p. 92).
A fantasia de anonimato: “trata-se do medo, mesclado com uma convicção
antecipatória de que, se passarem mal na rua, não serão socorridos por
ninguém” (idem)/ “no desamparo da crise, a angústia é a de não ser
reconhecido como objeto privilegiado de amor” (idem).
“Assim como os sonhos são um caminho privilegiado para o inconsciente, a
lembrança, da primeira crise de pânico condensa a história da composição de
pressões que resulta na ruptura do dique protetor interno daquela pessoa, em
um momento determinado. Ela toma o lugar das produções psíquicas que,
nesse momento, são insuficientes” [p. 93].
“[...] esse grande desamparo que e crise de pânico produz é, também ele,
indicativo de uma inundação pulsional” [p. 95].
A hipótese de que o pânico é efeito de um rompimento com o ideal: “[...] pode
acontecer o rompimento do vínculo libidinal que liga, especificamente, o ego
com seu ideal, no caso de o ego não suportar as injunções superegóicas
relativas às exigências dos ideais; Nesse sentido, o superego falha na sua
função de manter o ideal. Situamos o pânico como efeito de um aumento do
sentimento de culpa que o sujeito não pode tolerar” (Menezes, 2005, p. 202).
Nesse quadro, o sujeito pode erotizar a culpa como meio de fazê-la suportável,
transformando-a, assim, em fonte de satisfação masoquista. No pânico, estaria
em jogo um superego feroz, sádico, que em lugar de fazer barreiras para a
satisfação pulsional desregrada, fomenta-a, tomando para si a força pulsional
para exercer sua tirania;
No pânico está em jogo o masoquismo como figura de servidão;
o sujeito em panico parece dirigir-se diretamente a uma instância que supõe
capaz de simbolizar de modo completo, sem resto, a sua experiência
inominável; é uma tentativa neurótica de restaurar no plano imaginário a figura
de um ideal onipotente que proteja o sujeito e dê um destino para seu
desamparo; No panico há um pedido de amor desesperado, de
reconhecimento, dirigido ao pai protetor onipotente e transcendente, ao pai pré-
histórico, o único que pode libertá-lo de sua terrível vivência de estar morrendo.
O panico constitue-se num apelo do sujeito para não ser abandonado a seu
próprio desamparo, apelo esse que, no circuito pulsional diz respeito a ativação
do masoquismo primário (idem).
O sujeito panicado até então se acreditava acima da finitude: uma pessoa
concreta ou uma situação estável compensavam sua incapacidade de lidar
com a falta e com a castração. O indivíduo vivia-se como castrado, mas estava
protegido a tal ponto por uma situação favorável, que se dispensava de
elaborar subjetivamente a ausência de um pai protetor absoluto. Por vezes,
essa situação era sustentada por um “protetor” concreto, mas que até a
constatação do risco de seu desaparecimento, nunca havia sido visto
efetivamente como mortal. Até o início das crises, a questão do desamparo
não se colocara de fato. Quando, subitamente, o indivíduo vê-se confrontado a
ela, a ilusão desaba mas nada consegue ser colocado em seu lugar. Não há
nenhuma possibilidade de subjetivação da falta de garantias pois essa
“descoberta” terrível é feita toda de uma vez. Restam apenas o desespero e o
esforço desatinado para “fazer alguma coisa”: a confluência dessas duas
tendências materializa-se no pânico (Pereira, p.268)
“[...] o pânico diz respeito à angústia despertada pelo desabamento da ilusão
de um ideal protetor onipotente, que garantia a estabilidade do mundo psíquico
organizado longe de incertezas, da falta de garantias e de indefinições”
(Menezes, p. 197).
Essa é a motivação básica do pânico: a perda do ideal protetor ou o medo
da perda do amor (idem).
O ataque de pânico constitui uma maneira desesperada de se fazer face a
essa condição insuperável de falta de garantias sobre a qual se desenvolve a
existência de todos os humanos (Pereira, XXXX, p. XX).
O pânico como fenômeno de dupla incidência, qual seja, aquela referida ao
campo da angústia – do angustiante – e a que se delimita no campo das
relações de grupo;
O pânico constitui, assim, a expressão de tal incapacidade de se apropriar
subjetivamente do próprio desamparo (Pereira, XXXX, p. XX).
No artigo de 1920, Psicologia das massas e análise do eu, Freud refere-se a
ambiguidade subjacente ao termo Panik (Panico) relativo tanto para designar
qualquer ‘medo coletivo’ quanto o medo no indivíduo quando ele “excede todos
os limites”; quanto a isso comenta Pereira (XXXX): “Freud mostra como Panik,
em sua ambiguidade essencial, presta-se a exprimir uma continuidade
fundamental entre o estado afetivo individual e o fenômeno de desagregação
de uma multidão. Seu mérito consiste, então, em colocar em evidência uma
estrutura subjacente, comum a essas diferentes ocorrências do emprego da
palavra ‘pânico’ e que garante uma certa unidade entre elas. Em ambos os
casos, o pânico advém, segundo Freud, da desagregação de um conjunto até
então coeso, devida a ruptura dos laços libidinais entre os elementos que o
constituíam” [p. 59]. E continua: “Se levarmos adiante as consequências de tal
analogia, poderemos afirmar que, tanto num caso, quanto no outro, a cessação
dos laços acontece por causa da perda de uma figura de natureza paterna,
quer seja ela erigida em líder de multidão ou em Ideal do eu” [idem].