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CONCEITO DIREITO ROMANO

Não há agrupamento humano que dispense um conjunto de


normas que imponham aos seus elementos determinados
comportamentos. A actividade humana é dirigida por normas que a
orientam na realização de determinadas acções.
Normas não são só jurídicas, havendo normas sociais,
religiosas, morais… Por isso importa distinguir os caracteres que
distinguem as normas jurídicas.
Os jurisconsultos romanos esforçaram-se por individualizá-las:
procuraram isolá-las das outras e dar-lhes uma formação abstracta.
Expressam em termos gerais o imperativo de fazer ou não fazer algo,
na previsão de circunstâncias futuras.
A jurisdicidade da norma é determinada pela sua fonte.
Direito Romano  conjunto de normas ou regras jurídicas que
vigoraram no mundo romano desde a fundação de Roma (753 a.C.
segundo a tradição) até 565 (ano da morte do imperador do Oriente,
Justiniano). O DR sofreu várias e profundas alterações para poder
corresponder às transformações sociais ocorridas nos 14 séculos da
sua vigência.
ÉPOCAS DIREITO ROMANO
• 753 a.C. – 130 a.C. = Época Arcaica

• 130 a.C. – 230 d.C. = Época Clássica

• 230 – 530 = Época Pós-Clássica

• 530 – 565 = Época Justiniana

130 a. C  Marca o fim da época arcaica. Porquê?

Processo das fórmulas  Afastando o arcaico do sistema processual romano


das leges actiones e cointribuindo para o grande desenvolvimento do direito
romano

 Época Arcaica:

Época deficientemente documentada em que o jurídico, o religioso e o


moral se confundem. As instituições jurídicas eram rudimentares. Até 242
a.C., o DR foi exclusivamente aplicado nas relações inter cives romanos
(época do DR nacionalista). Depois, com a criação do pretor peregrino,
passou a regulamentar as relações entre cives romani e peregrini e entre
estes (época do DR universalista).

 Época Clássica:

Substituição do Processo das Fórmulas pela Cognitio extraordinária e


esgotamento da jurisprudência. Subdivide-se em 3 etapas:

1) Época pré-clássica = 130 a.C. a 30 a.C.


Verifica-se nesta época um desenvolvimento ascensional da Jurisprudência
(no DR era a ciência do direito) com grande significado.

2) Época clássica central = 30 a.C. a 130 d.C


Esplendor da Jurisprudência, atingiu-se a perfeição do DR com uma sábia
estilização casuística (saber distinguir o que é relevo jurídico ou não).

Conseguiu-se um equilíbrio entre casuísmo, regras jurídicas e princípios


doutrinais com a criação de novas actiones (acções) que integram e
modernizam o ius civile (direito civil romano).
3) Época Clássica Tardia = 130 a 230
Início da decadência do ius civile. A jurisprudência banalizou-se e virou-se
para o direito público.

230  O processo das fórmulas é substituído pelo sistema da Cognitio


Extraordinária.

 Época pós-Clássica:
Subdivide-se em 2 grupos:

1) 230 a 295

Divisão do Império por Teodósio em Ocidental (para o seu filho Honório) e


Oriental (para o seu filho Acádio). Verifica-se uma confusão de terminologia
de conceitos e de instituições (surge uma ciência jurídico simplista e
elementar).

2) 395 a 530

• Ocidental  para o filho Honório

Verifica-se o fenómeno da vulgarização com a simplificação de conceitos, a


confusão de noções e o predomínio do aspecto prático sem atentar pelas
categorias lógicas (é um direito sem elaboração científica)

• Oriental  para o filho Acádio

Reacção antivulgarista, alimentada pelas escolas de Alexandria, Constantino


e Beirute. Há um retorno ao classicismo e verifica-se um fenómeno de
helenização (princípios e ideias filosóficas gregas)

 Época Justiniana
530  Justiniano (imperador do Oriente) encarregou Triboniano de elaborar
os Digesta seu Pandectae.

565  Ano da morte de Justiniano


Época exclusivamente oriental, marcada pelo classicismo e pela helenização
e tem como grande marco a elaboração do Corpus Iuris Civilis (compilação
que actualizou o DR, o transmitiu às gerações vindouras e que chegou aos
nossos dias)

CORPUS IURIS CIVILIS: (Justiniano) concretiza a velha aspiração de


reunir num só corpo os IURA e as LEGES. É uma imponente
compilação.

soluções jurisprovidênciais e solúveis constituições imperiais

A designação Corpus Iuris Civilis só surge em 1583, apesar de se


apresentar como um mosaico de fontes de épocas diversas, a
continuação tem um carácter orgânico e unitário.

PARTES DO CORPUS IURIS CIVILIS:


• INSTITUCIONES: trata-se de um manual elementar de direito romano
destinado aos estudantes que iniciavam o seu estudo.
Estão divididos em quatro livros, estes põe sua vez
dividem-se em títulos que estão divididos em parágrafos.
• DIGESTO/PANDECTAS: consiste numa compilação de fragmentos
extraídos das obras dos principais jurisconsultos clássicos.
Dividia-se em cinquenta livros que por sua vez, eram
divididos em títulos que também se dividiam em
fragmentos. A partir da Idade Média, os fragmentos
dividiram-se em parágrafos.
• CODEX: compilação de leges, desde Adriano até Justiniano,
publicada em 534.
• NOVELLAE: trata-se de uma compilação de constituições imperiais
promulgada depois do Codex.
DISTINÇÃO ENTRE DIREITO CIVIL E DIREITO PRETÓRIO

Ius Civile Romanorum  Direito Civil Romano (é o direito


específico dos civis romanos). As suas fontes são:
• As leis
• Os plebiscitos
• Os senatus consultus
• As constituições imperiais
• A jurisprudência
• O costume

Era um direito formalista e rígido cujas normas regulavam sobretudo


as relações jurídicas em que intervinham os poderes pessoais dos
paterfamilias (pai família romano). Em 367 a.C. foi criada uma
magistratura especial para administrar a justiça, o chamado praetor
urbanus a quem foram atribuídos poderes (imperium, potestas e
iurisdictio). Inicialmente, a função do pretor urbano era restrita,
limitando-se a limitar o exercício pelos particulares das faculdades
que lhes eram reconhecidas. Em 242 a.C., foi criada uma
magistratura complementar, a do praetor peregrinus, com o oficio de
administrar a justiça entre cidadãos e peregrinos e entre peregrinos.
Todavia, começou a surgir uma acção com vista à integração de
lacunas e à correcção dos rigores dos ius civiles por parte do pretor
urbano. Ora, quando este começou a proteger casos não previstos no
ius civile, cria-se um novo sistema jurídico: o Ius Praetorium.

Surgiu, assim um dualismo jurídico com o ius civile de um lado e o


ius praetorium de outro, algo que substituiu até Justiniano e que se
revelou em todas as esferas do DR.
Para essa coexistência entre os dois sistemas jurídicos contribuiu o
facto de o mesmo magistrado (o pretor urbano) aplicar ambos e
contribuiu também a Jurisprudência (ciência do direito) que
coordenou os 2 sistemas, atenuando a rigidez do ius civile e
extraindo da actividade do pretor princípios jurídicos e regras teóricas
que facilitaram a fusão num único sistema.

Em síntese:
Fontes
Ius Civile Ius Praetorium
• As leis • Poder jurisdicional do pretor
• Os plebiscitos reflectido no Edictum
• Os senatus consultus
• Actividades dos jurisconsultos Espécie de programa de normas
• As constituições imperiais e casos a que os sucessivos
• A jurisprudência pretores urbanos outorgavam
• O costume protecção jurídica

Conteúdo e espírito
Ius Praetorium
Ius Civile • Flexível, amplo, sem grandes
• Rígido, inflexível e formalista formalidades e adaptando-se aos
casos concretos

Modos de operar
Ius Civile Ius Praetorium
• A eficácia é automática e • Defende a autoridade
imediata. Primeiro surge o direito e jurisdicional do pretor. O direito
só depois surge a acção que o visa só surge com a criação da
proteger respectiva acção
Ius Honorarium  É o direito introduzido pelos Edicta de alguns
magistrados (pretor, edis curuis e governadores das províncias).
Os ius honorarium quase se confunde com o ius praetorium pois o
direito dos outros magistrados é pouco significativo.

Ius Honoraium

Ius Praetorium
FONTES DO IUS CIVILIS: (fontes do Direito)
• FONTES EXSISTENDI: são os órgãos que produzem as normas
jurídicas:
- o povo;
- os comícios;
- os consílios da plebe;
- o Senado;
- alguns magistrados;
- o Imperador;
- os Jurisconsultos.
• FONTES MANIFESTANDI: são os modos de formação das normas
jurídicas:
- o costume;
- a Lex Rogata;
- o Plebiscito;
- o Senatus cônsul;
- o Edictum dos magistrados;
- a Constituição Imperial;
- o Responsum dos Jusrisconsultos.
• FONTES COGNOSCENDI: são os textos que contém as normas jurídicas,
como é o caso do Corpus Iuris Civilis.

Até finais da Época Clássica, coexistem com igual eficácia várias


fontes manifestandi. Depois disso, assiste-se a um processo de
centralização que culminou na Época Justinianeira com a afirmação
do Imperador como única fonte exsistendi do Direito.

Único órgão que podia criar


Observe-se que o Corpus Iuris Civilis, na Época Justinianeira, não
deixa de referir as fontes precedentes, porém a sua eficácia é dada
pelas constituições imperiais que promulgaram as suas fontes.
VÁRIAS FONTES MANIFESTANDI DO DIREITO ROMANO AO LONGO DA SUA EVOLUÇÃO

1) Costume: o grosso do Direito Romano nos seus três primeiros


séculos foi constituído pelos MORES MAIORUM

Regras jurídico-religiosas que iam formando os valores a as crenças


da antiga sociedade romana. Era aos colégios que incumbia a tarefa
de os revelar (INTERPRETARE). Portanto, e em suma, estamos perante
uma tradição de uma comprovada moralidade que a INTERPRETATIO

jurisprudência desenvolveu a adaptou às novas circunstâncias da vida


(Época Arcaica). O termo CONSUETUDO surge na Época Pós-Clássica
afirmando uma regra estritamente jurídica.

NOTAS CARACTERIZADORAS:

• é uma prática constante


• observada por largo tempo
• pela generalidade dos que participam numa dada relação
• do mesmo modo e com a força obrigatória da lei

EVOLUÇÃO DA FORÇA VINCULATIVA DO COSTUME: numa primeira fase, as leges


tanto podiam ser derrubadas pelo costume como vice-versa, pois
considerava-se que ambos eram fruto do consenso do povo (embora
manifestado de forma diferente). Mais tarde, na Época Pós-Clássica,
o Imperador Constantino determina que o costume não pode
prevalecer sobre a lei, o costume passa, assim, a ter uma função
subsidiária face à constituição imperial.

função suplente: só quando não houvesse lei imperial que desse resposta,
se recorria ao costume
USUS: é o simples hábito de agir sem qualquer obrigatoriedade, não é
portanto costume.

2) Lei: declaração solene com valor normativo feito pelo povo


romano que reunido nos comícios aprova uma proposta apresentada
pelo magistrado que preside. O Senado terá ainda de confirmar.

LEX PÚBLICA LEX ROGATA (rogada, pedida): é aquela que é proposta por
um magistrado à assembleia comicial a
que preside, depois de aprovada é
referendada pelo Senado.
LEX DATA: é dada por um magistrado no uso de
faculdades conferidas pelos comícios
contendo normas de Direito
Administrativo.
LEX PRIVADA: é a convenção que acompanha e se propõe disciplinar um
acordo entre particulares.

PROCESSO FORMATIVO DA LEX ROGATA:

1. PROMULGATIO: consiste na afixação do projecto em lugar público;


2. CONCIONES: reunião em praça pública para discussão do
projecto;
3. ROGATIO: pedido do magistrado que fez o projecto no sentido
da aprovação deste;
4. VOTAÇÃO: numa primeira fase era oral, mas posteriormente
passou a ser por voto escrito e secreto;
5. APROVAÇÃO PELO SENADO;

6. AFIXAÇÃO: em tabúas de madeira ou de bronze.

ESTRUTURA DA LEX ROGATA (partes):


• PRAESCRIPTIO: consistia no prefácio da lei e era constituído por
elementos com o nome do magistrado proponente, o lugar e a
data da votação e o primeiro cidadão que votou;
• ROGATIO: consistia no texto da lei;
• SANCTIO: fixa os termos para assegurar a eficácia da lei.

3 TIPOS DE LEGES ROGATA SANCTIO:


• LEX PERFECTA: é aquela que declara nulos todos os actos contrários;
• LEX MINUS QUAM PERFECTA: que impõe aos transgressores penas mas sem
declarar a nulidade dos actos contrários;
• LEX IMPERFECTA: que não estabelece qualquer sanção.
Em 438, estabeleceu-se como regra a nulidade dos actos contrários à
lei.

3) Plebiscito: deliberação da plebe, que reunida em assembleia,


aprova a proposta de um tribuno da plebe.

EVOLUÇÃO DO CARÁCTER VINCULATIVO: primeiramente, o Plebiscito não tinha


carácter vinculativo. Em 449 a.C., a LEX VALERIA HORATIA DE PLEBISCITIS
atribui-lhe a força vinculativa face aos plebeus. Em 287 a.C., a LEX
VALERIA HORTENSIA DE PLEBISCITIS estende a eficácia do Plebiscito aos
patrícios, ficando o Plebiscito equiparado às leis comissiais (leis
aprovadas nos comícios, por exemplo a lex rogata).

4) Senatus Consultus: na fase do Principado, o poder legislativo


deslocou-se das assembleias comissiais para o Senado. Contudo, o
Senado limitava-se a acolher as propostas do Princeps. Mais tarde,
chegará ao ponto de aprovar tudo o que lhe é proposto. (mera caixa
de ressonância do Imperador)
ESTRUTURA:
• PRAEFATIO: que contém o nome do magistrado que convocou o
Senado, os Senadores que intervieram na redacção do Senatus
consultos e o lugar e data;
• RELATIO: composta pelos motivos que levaram ao Senatus
consultos, a proposta que esteve na sua origem e a resolução
tomada.

5) Constituição imperial: é a lei que manifesta a vontade do


Imperador.

EVOLUÇÃO DA SUA IMPORTÂNCIA:

A actividade legislativa do Senado é reduzida a uma mera


formalidade e as outras fontes de Direito revelam-se pouco
adequadas à vastidão do império. O Pretor tem uma actividade cada
vez menos criativa e subordinada ao que já anteriormente os
Pretores tinham decidido.
Finalmente, na fase do Dominado, depois de Deocleciano, a
constituição imperial torna-se a única fonte do Ius Civile.

6) Jurisprudência: é a ciência do Direito, fruto do trabalho do


Jurisconsultos que vão revelar (interpretare) e desenvolver o Direito
adaptando às exigências de cada momento. É uma actividade que
não é meramente cognitiva mas criadora.

FUNÇÕES:
1. RESPONDERE: consistia em resolver casos práticos através de
pareceres (os responsa) dados a particulares ou a
magistrados;
2. CAVERE: traduzia-se no aconselhamento a particulares quanto à
força de realizar negócios jurídicos;
3. AGERE: aconselhamento de particulares em matéria processual.

Nos primeiros tempos, a actividade jurisprudencial era da


responsabilidade dos sacerdotes que interpretavam os MORES, mas por
volta do ano 300 a.C., a Jurisprudência começa a laicizar-se. Teve o
seu esplendor no período do Principado (27 a.C. – 230).
Distinguiram-se duas escolas jurisprudências: a escola Sabiniana
(maior conservadorismo e prudência/cautela) e a escola Proculeiana
(maior arrocho de soluções, mais progressista e ousada)
DEFESA DOS DIREITOS

Nos primeiros tempos, a reacção suscitada pela violação do direito


traduzia-se no recurso à força para a tutela do direito. Temos, assim, um
sistema de autodefesa. Contudo, cai-se facilmente na vingança e na
desproporção. Por isso, surgiu a preocupação de fixar limites ao livre
exercício da tutela privada dos direitos, procurando-se verificar se existia do
direito que não se respeitou. Assim, foi-se limitando progressivamente a
Justiça privada e triunfou definitivamente a Justiça administrativa pela
autoridade pública, ficando a primeira restringida a casos excepcionais. E
como defesa do direito, surge-nos a:

ACTIO: Consiste no instrumento jurídico que permite a uma pessoa obter a


tutela de um direito previamente reconhecido pelo ordenamento
jurídico ou de uma situação de facto que o magistrado promete
proteger no seu Edictum. Portanto, a actio constitui um meio de
protecção de um direito subjectivo previamente reconhecido pelo
ordenamento jurídico, normalmente o ius civile, ou então que protege
uma situação de facto que o magistrado considera digna de
protecção.
No primeiro caso: temos a ACTIO CIVILIS ou IN IUS CONCEPTA;
No segundo caso: temos a ACTIO PRAETORIA ou IN FACTUM CONCEPTA.
CLASSIFICAÇÃO DAS ACÇÕES: é uma classificação que tem por base a fonte da
tutela jurídica que a ACTIO concretiza.

1. ACTIO CIVILIS: é outorgada pelo IUS CIVILIS, está prevista no ius civile
para protecção de direitos aí reconhecidos;
2. ACTIO HONORARIA: concedida por magistrados podendo ser:
• ACTIO PRAETORIAE: se concedida pelo pretor;

• ACTIO AEDILICIAE: se concedida pelos Edis Curúis.

DISTINÇÃO ACTIO IN REM E ACTIO IN PERSONAM E ACTIO MIXTA

É uma classificação que se apoia num critério que atende à natureza


da relação jurídica a ao direito subjectivo tutelado.
ACTIO IN REM (acção real): protege direitos sobre coisas (direitos reais),
faculdades que derivam de relação jurídicas familiares e
direitos sucessórios. Esta actio contém uma afirmação
absoluta e categoria de um direito e, por isso, pode ser
instaurada contra qualquer pessoa que o lese.
EX: a REIVINDACATIO que permite ao proprietário recuperar a posse de
RES que lho pertence; e a Actio Negatoria
ACTIO IN PERSONAM: Afirma um oportere (dever) assumido pelo demandado
e, por isso, apenas permitem demandar quem se obrigou
por contrato ou por delito a dare, facere ou praestare. No
processo das fórmulas as actiones in personam
concedidas pelo ius civile têm uma intentio que pode ser
certa (o objecto do direito em litígio é determinado) ou
incerta (o objecto do direito em litígio é indeterminado)

A distinção entre ACTIO IN REM e ACTIO IN PERSONAM inspirou a dogmática moderna


que transportando para o âmbito dos direitos subjectivos aquilo que os
jurisconsultos romanos admitiram nas actiones, distingue os direitos
subjectivos em REAIS e PESSOAIS (ou de CRÉDITO).

CARACTERÍSTICAS:
DIREITOS REAIS DIREITOS PESSOAIS OU DE CRÉDITO
• podem ser invocados contra • só podem ser invocados contra
qualquer pessoa; quem contrair a obrigação ou
seus herdeiros;
• são direitos de domínios sobre • a sua satisfação depende da
uma coisa, podendo as suas cooperação do sujeito passivo,
faculdades serem realizadas sem isto é, do devedor;
a cooperação de terceiros,
bastando os actos de domínio do
titular do direito;
• a obrigação correspondente é • ao direito de crédito tanto lhe
universal (recai sobre toda e podem corresponder obrigações
qualquer pessoa) e de conteúdo do conteúdo positivo (maior
negativo (consiste num non parte dos casos) como
facere, numa abstenção) obrigações de conteúdo negativo
ou de abstenção.

Ademais, surgiu uma nova categoria de actiones cuja estrutura é, ao


mesmo tempo, in rem e in personam: são as actiones mixtae. São in rem
porque podem ser instauradas contra pessoas inicialmente indeterminadas;
e in personam enquanto deduzem um dever a cargo do demandado.

ACTIO BONAE FIDEI (DE BOA FÉ)

STRICTI IURIS (DE DIREITO ESTRITO)

É uma distinção que corresponde, no domínio do direito das


obrigações, aquela que opõe os negócios de direito estrito aos negócios de
boa fé.

NEGÓCIOS DE DIREITO ESTRITO: é um negócio que gera obrigações com um


conteúdo bem determinado cujo cumprimento
importa observar rigorosamente – o juiz não
deve apreciar nada mais.
NEGÓCIOS DE BOA FÉ: produzem obrigações cujo conteúdo não está
precisamente determinado nem pela lei nem pela
vontade/acordo das partes. O devedor encontra-se
obrigado a tudo o que se exige a uma pessoa
honrada, fiel e leal. A prestação a que o devedor está
obrigado versa sobre algo incerto que o juiz deve
precisar, de acordo com as circunstâncias do caso
concreto.

ACÇÃO DE DIREITO RESTRITO

Exige o cumprimento dos negócios de direito estrito. O juiz limita-se


a apreciar a existência ou inexistência da obrigação e na sentença deve
observar rigorosamente o que foi estipulado pelas partes sem considerar
qualquer circunstância que possa ter influenciado o conteúdo da obrigação.
O juiz não deve apreciar circunstâncias como o dolo, o medo, um pacto de
não pedir ou um crédito que o demandante possa opor ao demandado.
(O juiz só tem de apreciar se existe ou não uma obrigação)

ACÇÃO DE BOA FÉ

Nestas acções, o juiz deve apreciar em que consiste aquilo que se


deve dar ou fazer de acordo com a boa fé. O juiz deve apreciar no
determinado conteúdo da obrigação as circunstâncias concretas que se
verificaram e considerar o que exigem cada uma das partes, a lealdade, a
honorabilidade e a fidelidade à palavra. O juiz deve atender mais ao que se
quis fazer do que ao que foi feito.

PROCESSO DO AGERE PER FORMULAS

A rigidez do velho sistema processual das LEGIS ACTIONES combinada com


a necessidade de proteger situações não previstas no IUS CIVILI conduzira à
apreensão do processo do AGERE PER FORMULAS que durante muito tempo
coexistiu com o processo anterior.
Foi reconhecido legalmente pela LEX AEBUTIA DE FORMULIS (130 A.C.). As
suas solenidades consistiam num documento escrito, a FÓRMULA, que fixa os
termos do litígio e designa ao juiz a quem é ordenado que absolva ou
condene o demandado, consoante se provem ou não os factos alegados
pelo demandante.
− IN IURE
2 FASES
− APUD IUDICEM

IN IURE

Era presidida pelo magistrado que depois de aluir as alegações das


partes na presença das testemunhas, concede ou denega a actio pedida
pelo demandante.

APUD IUDICEM

É presidida por uma juiz privado a quem incumbia emitir uma opinião,
a SENTENTIA, sobre o litigio depois da provadas ou não os factos alegados
pelas partes.

CONCLUSÃO:
Através do processo das fórmulas, o pretor pode proteger situações
não previstas pelo IUS CIVILE. Assim, ao lado das ACTIONES CIVILES, surgiram as
ACTIONES PREATORIAE que tornaram possivel o extraordinário desenvolvimento do
direito romano.

DISTINÇÃO ACTIO DIRECTA E ACTIO CONTRARIA


Em determinados contractos e situações jurídicas surge normalmente
uma única actio in personam contra a pessoa obrigada (actio directa). Mas
também pode acontecer que resulte de uma actio in personam contra a
outra parte: para exigir a indemnização pelos gastos realizados no
desempenho da função a que se obrigou (actio contraria).
CASO PRÁTICO 1

No dia 4 de Agosto do ano 103, Horatius – paterfamilias romano,


abeirou-se de Petronius – também paterfamilias, e aproveitando-se da sua
superioridade física, torceu um braço a Petronius, perguntando-lhe:
«Prometes dar-me 50 mil sestércios?». Apavorado e cheio de dores,
Petronius respondeu: «Prometo». Assim se celebrou uma STIPULATIO.

a) Inconformado com a situação, Petronius consultou, dias mais


tarde, o pretor, procurando protecção. QUID IURIS?

b) Imagine agora que ao invés de lhe ter torcido o braço, Horatius


tinha ameaçado Petronius com a reivindicação de um prédio
que este estava a ocupar ilicitamente.

RESPOSTA:
O negócio celebrado consistia numa STIPULATIO que era um negócio de
direito estrito e que, por isso, era plenamente válido e eficaz à luz do IUS

CIVILE. Todavia, existia um expediente de protecção jurídica extra processual


que, por motivos de equidade, permitia que não se reconhecessem efeitos
jurídicos a tais actos válidos e eficazes. Era a chamada RESTITUTIO IN INTEGRUM

(expediente utilizado pelo magistrado que, por motivos de equidade,


declara não reconhecer os efeitos a um facto ou acto jurídico plenamente
válido e eficaz segundo o ius civile).

REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DA UMA RESTITUTIO:

1. produção de um prejuízo em consequência da estrita aplicação do IUS CIVILE;

2. existência de uma causa justificativa;


3. inexistência de meios jurídicos que permitissem reparar o prejuízo sofrido.

Os dois primeiros requisitos encontram-se preenchidos. Por um lado,


há um prejuízo advindo da estrita aplicação do IUS CIVILE, pois Petronius ficou
obrigado ao pagamento de 50 mil sestércios. Por outro lado, como a
STIPULATIO era um negócio de direito estrito na correspondente acção de
direito estrito, não podiam ser reconhecidos vícios da vontade ou outras
circunstâncias, pelo que também não há outros meios jurídicos de que
Petronius pudesse lançar mão (não há meios de protecção).

Quanto ao requisito da causa justificativa, o EDICTUM de pretor previa as


seguintes causas (faltam 3 da pág. 432 do Volume I):
1. Restitutio in integrum ob errorem  por causa do erro
2. Restitutio in integrum ob metum  por causa do medo
3. Restitutio in integrum ob dolum  por causa do dolo
4. Restitutio in integrum ob fraudem creditorum  por causa de
fraude a credores

OB ERROREM: POR CAUSA DO MEDO

Era concedida a quem tivesse cometido um erro essencial em matéria


negocial ou processual.
O erro é um dos vícios da vontade que pode afectar ao negócios
jurídicos e que consiste na ignorância ou na falsa ideia do declarante (que
faz a declaração) sobre certas circunstâncias de facto ou de direito e que foi

decisiva na formação da sua vontade.


Se o declarante tivesse conhecimento do verdadeiro estado das coisas, não
teria querido o negócio ou não o teria querido nos termos em que o
celebrou. Trata-se de um erro que recai sobre os motivos que
determinaram a vontade.
É nesta atenção à vontade negocial que nos surge a importância da
RESTITUTIO IN INTEGRUM OB ERROREM.

OB METUM: POR CAUSA DO MEDO

Beneficiava quem praticasse um acto jurídico por ter sido gravemente


ameaçado. Surge-nos aqui a ideia de coacção.
A coacção é um vício da vontade que se traduz na ameaça de um mal
grave a uma pessoa, sem património ou família, para que celebre um
determinado negócio jurídico.
Deve tratar-se de uma ameaça injusta, grave e actual.
Injusta  contrária ao direito. Não comete violência o credor que
ameaça o devedor como exercício dos meios executivos/jurídicos que a lei
lhe confere.
Grave  Susceptível de impressionar um homem normal
Actual  não bastando a simples suspeita de ameaça. Só nos negócios
que dão origem a uma acção de boa fé, o juiz podia absolver o demandado
com base em coacção do demandante.

OB DOLUM: POR CAUSA DO DOLO

Era concedida a quem realizou um acto jurídico em consequência de


um engano que viciou a sua vontade. Aqui surge-nos a noção de DOLO.

DOLUS MALUS (DOLO MAU): é outro vício da vontade que consiste numa astúcia,
falácia ou maquinação utilizada para iludir ou enganar
alguém. Trata-se de artifícios de que uma pessoa se serve
para enganar outra, para que manifeste a sua vontade num
determinado sentido, que a saber a verdade manifestaria
ou declararia de forma diferente.
O DOLO compreende dois momentos:
1. o conhecimento da actividade fraudulenta;
2. a decisão ou propósito de realizar essa actividade.

NOTA: Não confundir o DOLO MAU com o DOLUS BONUS (DOLO BOM) que é a mera
habilidade ou engenho que traduz o comportamento normal de um homem
na decisão/conclusão dos negócios, não produzindo efeitos jurídicos (sendo
juridicamente irrelevante).

OB FRAUDEM CREDITORUM: POR CAUSA DA FRAUDE CONTRA OS CREDORES


Beneficiava os credores prejudicados por actos que o devedor praticou
com a intenção de fraudulentamente criar ou aumentar a sua insolvência
(capacidade de pagar as dívidas).

Pode pedir a restitutio in integrum o lesado (ou sucessores) contra o


favorecido (ou sucessores) pelo acto jurídico que se procura destruir; e em
alguns casos pode ser solicitada contra terceiros que lucraram com o acto
lesivo. O procedimento começa com a postulatio que o interessado dirige ao
magistrado (deve ser apresentada na presença do adversário e num prazo
determinado contado a partir do momento em que o obstáculo cessa: 1ano
útil na época clássica e 4anos contínuos na época justinianeia). Segue-se
um estudo sumario da caso concreto para determinar se houve prejuízo, se
há motivos de equidade que aconselhem a sua concessão e se não existe
outro meio jurídico a que possa recorrer-se; finalmente, se o estudo for
favorável, o magistrado emite um decretum em que concede a restitutio.

RESPOSTA:
No presente caso também se verificava o requisito da causa
justificativa, pois Petronius celebrou a STIPULATIO sob coacção. De facto, ele
apenas manifestou a sua vontade porque foi vítima de uma ameaça
contrária ao direito grave e actual. Assim, podia ser outorgada a favor de
Petronius uma RESTITUTIO IN INTEGRUM OB METUM que teria como consequência o
não reconhecimento de efeitos à STIPULATIO celebrada.

NOTA !
Antes de passar ao direito das obrigações  ver MISSIO IN POSSESSIONEM
(pág. 435 do Volume I) e INTERDICTUM (pág. 438, 439 e 441 do Volume I)
DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

OBLIGATIO (OBRIGAÇÃO): vinculo jurídico por virtude do qual uma pessoa, o


DEVEDOR, está adstrita para com outra, o CREDOR, à realização
de um determinado comportamento – a chamada
PRESTAÇÃO. Veja-se actualmente o art. 397º do Código Civil.
Distingue-se de um direito real porque enquanto o titular
deste obtém o beneficio económico que lhe é
proporcionado através da sua actividade directamente
sobre a Rés, o titular do direito de crédito somente o
realiza por meio da conduta do sujeito passivo (devedor).

POSSÍVEIS OBJECTOS/CONTEÚDO DE UMA OBRIGAÇÃO (o seu conteúdo)


1. DARE: consiste na constituição ou transferência de um direito real;
2. FACERE: consiste na realização de uma actividade que não se traduza
em DARE podendo consistir numa abstenção – NON FACERE;

3. PRAESTARE: identifica-se com DARE e FACERE mas designa especialmente o


assumir de uma garantia de uma obrigação.

REQUISITOS DO OBJECTO / CONTEÚDO DAS OBRIGAÇÕES:

1. possibilidade física e jurídica – seria nula a obrigação fisicamente


impossível (Ex: apagar o sol) ou juridicamente impossível (Ex: transferir
a propriedade de uma res que já é propriedade do credor ou o
casamento de dois irmãos);
2. licitude – o conteúdo da obrigação não podia contrariar a lei, nem
a moral (exemplo: matar uma pessoa);
3. determinabilidade – é necessário que se conheça o critério que
determine a prestação a cargo do devedor (não é válida por exemplo: a
obrigação de pura e simplesmente entregar-se ao credor vinho, é preciso
definir ‘quantos litros?’, ‘de que tipo?’, ‘de que ano?’…);
4. patrimonialidade – tem de ser proporcionado ao credor um
beneficio económico (nos nossos dias já não se entende assim, o que
decorre do art. 398º/2 do Código Civil).

CASO PRÁTICO 2
Em 105, Alfenus, paterfamilias romano, deu em locação a Celsus,
também paterfamilias, um fundus (terreno). Como Celsus era uma pessoa
com dificuldades económicas, convencionaram que a retribuição não seria
paga em dinheiro mas através de favores sexuais que a esposa de Celsus,
Agripina, prestaria a Alfenus. No momento do pagamento, Alfenus reclamou
os favores de Agripina, mas esta recusou. Achando que o seu direito estava
a ser violado, Alfenus recorreu ao pretor para o efectivar. QUID IURIS? (Qual a
solução jurídica?)

RESPOSTA:
O comportamento que Celsus se obrigou a realizar perante Alfenus
acabaria por reduzir a sua uxor (esposa) à condição de prostituta e a
prostituição era profundamente reprovada pela moralidade romana. Assim
sendo, não estava preenchido um dos requisito de validade a que deveria
obedecer o objecto ou conteúdo da obrigação, e que era a sua licitude, ou
seja, a conformidade ao direito e à moral. Deste modo, sendo a obrigação
inválida, o seu cumprimento não poderia ser exigido e o pretor nunca
poderia atender a pretensão de Alfenus.
O objecto da obrigação para ser válido deve obedecer a certos
requisitos. Actualmente, veja-se o art. 280º do Código Civil.

AS FONTES DAS OBRIGAÇÕES

São factos que criam um vínculo jurisdicional obrigacional entre duas


ou mais pessoas. As INSTUTUCIONES DE JUSTINIANO classificaram as fontes das
obrigações em quatro categorias: CONTRATOS, QUASE CONTRATOS, DELITOS e QUASE

DELITOS.

QUASE CONTRATOS: eram actos lícitos que, sendo unilaterais, não são contratos;
DELITOS: eram actos ilícitos já tutelados pelo ius civile e gerando obligationes
civiles.
QUASE DELITOS: eram actos ilícitos tutelados pelo IUS PRAETORIUM (pertencendo ao
ius praetorium) e que implicavam para o seu autor o pagamento de
uma pena.
CONTRATOS: à fase inicial do Direito Romano, corresponde a ideia de que as
obrigações só podiam surgir da prática de um dos actos solenes
rigidamente fixados pelo IUS CIVILE e que a vontade das partes não
podia alterar. Mais tarde, começou a surgir a importância da
vontade das partes. Depois desta evolução, pode definir-se o
CONTRATO como um acordo de vontades de duas ou mais pessoas que,
obedecendo a esquemas fixados pelo IUS CIVILE, visa constituir uma
relação jurídica obrigacional. + Contrato como acordo de duas ou
mais pessoas dirigido à produção de efeitos jurídicos. É uma
convenção de que nascem obrigações e os correspondentes direitos
de crédito.

ELEMENTOS DO CONTRATO:

1. CAUSA: é o fim que o IUS CIVILE reconhece como social e


economicamente digno de protecção. A procura da causa não era necessária
nos antigos contratos romanos, enquanto negócios abstractos, bastando
observar as formas prescritas para produzirem os seus efeitos. A procura da
causa já tinha muito interesse nos contratos consensuais para se verificar
se o fim económico que as partes visavam correspondia ao fim específico
fixado pelo ordenamento jurídico para aquele tipo de contrato.

2. CONVENTIO: é o acordo das partes cujas vontades convergem para o


mesmo fim. Fim esse que constitui a causa fixada pelo IUS CIVILE ao
contrato utilizado.

CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS (ver pág. 26, 27 e 28 do Volume II):


1. UNILATERAIS: Obrigação para uma das partes. Contrato em que só uma
das partes se obriga a realizar uma prestação, por exemplo, o mútuo.
BILATERAIS OU SINALAGMÁTICOS: Obrigação para ambas as partes. Contratos
em que cada parte se obriga em relação à outra a realizar a sua prestação
(exemplo: a compra e venda e a locação).
• BILATERAIS IMPERFEITOS: aquele em que a obrigação de uma das partes
não surge inicialmente, mas apenas eventualmente durante a vigência do
contrato. São os casos do COMODATO, o DEPÓSITO, o PENHOR ea FIDÚCIA se a contra-
parte fizer despesas cujo ressarcimento pode exigir através da ACTIO

CONTRARIA.

Em relação aos contratos bilaterais aplica-se o princípio de que quem


não satisfez ou pelo menos não ofereceu a sua prestação, não pode exigir
que a outra parte satisfaça a sua prestação. Este princípio está na base da
moderna doutrina da excepção de não cumprimento dos contratos,
consagrada no art. 28º/4 ou 428º/4 do Código Civil.

2. Contratos do Ius Civile e do Ius gentium


Pertencem ao ius civile os contratos celebrados por cives romani. Os
contratos do ius gentium são celebrados entre cives e peregrini ou entre
peregrini. Têm a sua origem no ius gentium os contratos consensuais, os
contratos reais, a transcriptio a rei n personam não celebrada na forma de
sponsio.

3. Contratos de boa-fé e contratos de direito estrito

- DE BOA-FÉ: são, por exemplo, os contratos de compra e


venda, a locação, a sociedade, o mandato, o depósito, o

CONTRATOS comodato…

- DE DIREITO ESTRITO: por exemplo, a stipulatio.

4. Contratos onerosos e contratos gratuitos

1. ONEROSOS: são contratos que criam, para ambas as partes, obrigações


que se equivalem ou se equilibram. A perda patrimonial que uma parte
sofre com a realização da sua prestação, corresponde a uma perda
patrimonial da outra parte, como por exemplo na COMPRA E VENDA e na LOCAÇÃO.
2. GRATUITOS: são contratos em que só uma das partes sofre uma perda
patrimonial em benefício da outra, como por exemplo, na DOAÇÃO, no COMODATO

e no DEPÓSITO.

1. REAIS: são aqueles contratos para os quais o acordo entre partes não
basta para que produzam efeitos jurídicos. Para isso é também necessária a
prática de um certo acordo material em relação à RES a que o contrato diz
respeito. Esse acto material era, numa primeira fase, apenas de
transferência da propriedade da RES (DATIO). Nas INSTUTUCIONES DE JUSTINIANO, o
referido acto já se caracteriza pela transferência da propriedade (DATIO), pela
transferência da posse (TRADITIO) ou mesmo da simples detenção da RES para
a realização da finalidade do contrato.

2. CONSENSUAIS: são os contratos que se caracterizam pelo facto de a sua


vontade só depender do acordo das partes, não sendo necessário qualquer
acto material respeitante à RES.

CASO PRÁTICO 3
Em 18 de Fevereiro de 552, Appius, paterfamilias romano, deu a Caius
5 mil sestércios, comprometendo-se este a restituir-lhe tal quantia no prazo
de um ano. Estabeleceram também que Caius pagaria juros de 6%. Em 19
de Fevereiro de 553, Caius ainda não pagara qualquer quantia a Appius.
Este pretende saber o que fazer. QUID IURIS?

METODOLOGIA DE RESOLUÇÃO DE CASOS PRÁTICOS:

1. enquadrar a situação num enquadramento dogmático (qual a


matéria jurídica, enquadrar factos no domínio jurídico do direito);
2. análise do concreto regime jurídico.

RESPOSTA: (ver pág. 34 do Volume II)


O acordo celebrado entre Appius e Caius constitui um CONTRATO DE MÚTUO,

que era um contrato real e unilateral através do qual o mutuário recebe a


propriedade de uma COISA FUNGÍVEL, obrigando-se a restituir outro tanto do
mesmo género e qualidade. Veja-se o art. 1142º do Código Civil. De
facto, estão presentes os dois elementos essenciais que constituem o
contrato de mútuo:
1º a DATIO REI – transferência da propriedade de uma res fungível, neste
caso, dinheiro (veja-se o art. 1144º do Código Civil);
2º a CONVENTIO – acordo das partes em que o mutuário se obriga a
restituir outro tanto do mesmo género e qualidade .

A relação obrigacional resultante do mútuo de dinheiro era protegida


pela ACTIO CERTAE CRETITAE PECUNIAE. Já se o objecto do negócio fosse outra coisa
fungível diferente de dinheiro, o meio processual de protecção era a CONDITIO

CERTAE REI, ou na época Justinianeira, a CONDICTIO TRITICARIA.

Logo, como Caius não restituiu os 5 mil sestércios no prazo acordado,


Appius deveria recorrer ao pretor para que este lhe concedesse uma actio
certae creditae pecuniae contra o mutuário.
O mútuo era geralmente um contrato gratuito, só assim não sendo nos
casos do MÚTUO DE MERCADORIAS, do MÚTUO CONCEDIDO POR BANCOS, do MÚTUO CONCEDIDO

POR UMA CIDADE e do EMPRÉSTIMO MARÍTIMO conhecido por FOENUS NUATIEUS. Portanto, a
obrigação de juros que recaía sobre Cauis, não se tratando de uma dos
casos de mútuo oneroso, não resultava do próprio contrato de mútuo, mas
de uma relação autónoma inicialmente criada por uma STIPULATIO USURARUM e a
partir da época Pós-Classica, como se passa no nosso caso, originada por
um contrato literal. Para tutelar o cumprimento da obrigação de juros,
Appius devia lançar mão não da actio certae creditae pecuniae, que servia
apenas para pedir a restituição do capital – os 5 mil sestércios, mas sim da
ACTIO AUTÓNOMA proveniente da relação acessória que gerou a obrigação de
juros. A estipulação de juros em 6% era válida, pois esse era o limite
máximo permitido na época Justinianeira (nos finais da República, esse
limite era de 12%. Sobre os limites actuais dos juros no mútuo civil, veja-se
o art. 1146º do Código Civil).
Em suma, Appius devia intentar contra Caius uma actio certae creditae
pecuniae para que lhe fosse restituído o capital e uma outra acção para que
lhe fossem pagos os juros.

CASO PRÁTICO 4
Em 28 a.C., Mauricius, paterfamilias romano, teve de se ausentar da
sua residência em Pavia para tratar de negócios no Oriente. Como vivia
sozinho, durante a sua ausência confiou ao seu amigo Laurencius um touro
de que era proprietário para que Laurencius o guardasse. Laurencius
aceitou o encargo atendendo à enorme amizade que existia entre os dois.
a) Quando regressou, Mauricius constatou que Laurencius num aceso
de fúria tinha matado o touro e pretende responsabilizar o amigo. QUID
IURIS?
Suponha agora que Laurencius usara o touro como besta de carga durante
o período de ausência de Mauricius, poderá este reagir?

RESPOSTA (ver pág. 41 do Volume II)


a) Dos elementos apresentados no enunciado conclui-se que os dois
amigos celebraram um CONTRATO DE DEPÓSITO em que o depositante, Mauricius,
entregou ao depositário, Laurencius, uma COISA MÓVEL para que o último a
guardasse. O depósito era um contrato real e bilateral imperfeito, além de
ser de boa fé. Verifica-se ainda outro elemento essencial do depósito e que
era a sua gratuitidade. De facto, Laurencius nada recebeu em troca, tendo
guardado o animal apenas pela amizade que o unia ao depositante. Sendo
obrigações do depositário a guarda da coisa e a sua restituição no final do
período convencionado, o certo é que Laurencius acabou por não cumprir
tais obrigações. Assim sendo, Mauricius podia lançar mão da ACTIO DEPOSITI

que era o meio processual adequado de responsabilização do depositário


em casos de perda ou deterioração da coisa depositada.

b) Ao depositário a res só era confiada para efeitos de guarda ou


custódia, pelo que não poderia usá-la. Ao utilizar o touro, Laurencius estava
sujeito à pena correspondente ao furto de uso e respectiva ACTIO FURTI. A res
depositada apenas podia ser usada no chamado DEPÓSITO IRREGULAR (ver art.
1205º do Código Civil) que é aquele que incide sobre coisas fungíveis e no
qual o depositário se torna proprietário das coisas depositadas e, por isso,
pode usá-las, embora tenha que restituir outro tanto do mesmo género e
qualidade.

CASO PRÁTICO 5
Em 470, Pompilius, paterfamilias romano, viu a sua casa ser destruída
por uma inundação. Chocado com a situação, o seu amigo Rufus, de
imediato disponibilizou uma moradia de que era proprietário e que estava
desocupada, para que Pompilius e a sua família para lá fossem habitar até
ao fim do inverno. Alguns meses depois, Rufus descobriu que, na realidade,
Pompilius estava a explorar na sua casa um estabelecimento de vinhos e de
petiscos, que muito contribuía para a degradação do imóvel.
a) Teria Rufus o direito de reagir contra tal conduta de Pompilius?
b) E se a casa de Rufus tivesse sofrido avultados danos decorrentes de
uma tempestade, danos esses que tinham sido reparados por Pompilius?

RESPOSTA (ver página 44 do Volume II)


a) Atendendo à situação que gerou a entrega da casa a Pompilius e
nada se dizendo em contrário, tudo leva a crer que Rufus o fez
gratuitamente. Deste modo, foi celebrado entre ambos um COMODATO, que é
um contrato real, bilateral imperfeito e de boa fé, mediante o qual o
comodante entrega gratuitamente uma res móvel ou imóvel ao comodatário
para que este a use segundo o modo acordado e a restitua no final do prazo
estabelecido. Está regulado, actualmente, nos art. 1129º a 1141º do Código
Civil. Distingue-se da locação designadamente porque esta é um contrato
oneroso.
O contrato de comodato gerava três obrigações ao comodatário:
1. usar a res segundo que foi expressa ou tacitamente acordado;
2. não deteriorar a res;
3. restituir a res nas mesmas condições em que foi recebida.
Ou seja, tendo a res sido emprestada para a habitação do comodatário e da
sua família, torna-se claro que Pompilius não cumpriu a obrigação a que
estava adstrito de não usar a res para fins diferentes do que foi
convencionado, o que constituía, aliás, um FURTO DE USO. Também as
deteriorações provocadas no imóvel constituíam uma violação de uma
obrigação contratual, podendo a concretizar através da ACTIO COMODATI.

b) Por seu turno, podiam decorrer do contrato de comodato duas


obrigações fundamentais a cargo do comodato:
1. ressarcir o que o comodatário tenha feito para conservar a res;
indemnizar os danos que a res eventualmente possa ter sofrido, ao
comodatário.

Estas obrigações a cargo do comodante só surgiam eventualmente durante


a vigência do contrato, sendo o COMODATO um contrato bilateral imperfeito.
Conforme nos é indicado, Pompilius reparou a res depois de esta ter sido
danificada por uma tempestade, sendo que todas as despesas feitas nessa
conservação do imóvel lhe deveriam ser ressarcidas pelo comodante. Para
efectivar esse direito, o comodatário disponha da ACTIO COMODATI CONTRARIA e até
do IUS RETENTIONIS (direito de retenção) que lhe permitia não resrituir a res
enquanto aqueles gastos não lhe fossem pagos.

CASO PRÁTICO 6
Suponha que em 14 a.C., Basílius vendeu um cavalo a Tigelinus por 4
mil sestércios. Para espanto do comprador, quando este já estava na posse
da res, Valerius opôs-lhe, com êxito, uma sentença, na qual se reconhecia
que era ele o verdadeiro proprietário do cavalo.
a) Como poderia Tigelinus reagir?
b) Adstringindo da titularidade do direito de propriedade sobre o
cavalo, como poderia Tigelinus reagir se alguns dias após a compra
descobrisse que o cavalo sofria de uma doença oculta que o tornava inútil
para qualquer finalidade?
c) Suponha agora que não tendo qualquer doença, o cavalo morria
fulminado por um raio antes de o preço ser entregue ao vendedor. QUID
IURIS?

RESPOSTA
a) O contrato de compra e venda é um contrato bilateral, surgindo
obrigações para ambas as partes. Enquanto um dos contraentes não
realizar a sua prestação, não pode exigir ao outro a realização da sua.

A COMPRA E VENDA é um contrato consensual (ou seja, daqui só se geram


obrigações). O contrato consensual caracteriza-s pelo facto de a sua validade

só depender do acordo das partes, que pode manifestar-se de qualquer


modo; não é necessária uma forma determinada (como nos contratos
verbais ou literais) nem a entrega de uma res (como nos contratos reais).
Na compra e venda o vendedor obrigava-se a transferir para o comprador a
posse de uma res e assegurar-lhe o seu gozo pacífico. Obrigando-se o
comprador a transmitir ao vendedor a propriedade de determinada PECUNIA, o
chamado preço. Temos assim, como:

ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA COMPRA E VENDA

1. CONVENTIO: acordo de vontades em que o vendedor se obriga a


transmitir a posse livre e pacífica da res vendida e o
comprador se obriga a pagar o preço. (Segundo Gaius, a
obligatio é criada pela conventio);
2. RES: objecto do contrato. Pode ser corpórea ou não corpórea, presente
futura;
3. PRETIUM: (preço) que devia consistir em numerata pecunia (dinheiro),
ser certo ou determinável e no Direito Justinianeu, ser justo
(Se um imóvel fosse vendido por um preço inferior a metade
do seu valor justo, o vendedor podia pedir a rescisão da
venda, a menos que o comprador preferisse pagar a
diferença que faltasse para o justo preço)

Sendo um contrato bilateral surgem obrigações para ambas as partes.


SOBRE O VENDEDOR IMPENDIAM AS SEGUINTES OBRIGAÇÕES:

1. transferir a posse, livre e pacífica, da res, deve encontrar-se livre de


vícios e não ser precária. O comprador pode exigir a realização dos negócios
que transfiram para si a propriedade da res vendida:
MANCIPATIO
IN IURE CESSIO

2. Responder por EVICÇÃO  O vendedor respondia ainda por EVICÇÃO, ou


seja, responde pela privação da res na sequência de uma sentença que
reconheça a propriedade de um terceiro sobre a res ou a titularidade de um
penhor, servidão ou usufruto que lhe confira a posse. No respectivo
processo, o comprador devia requerer a presença do vendedor para que
este o defendesse evitando a evicção.
Ora no caso apresentado, tendo o comprador sofrido a perda da
«coisa» em virtude do reconhecimento judicial do direito de propriedade de
Valerius e não tendo o vendedor evitado a sentença desfavorável quando
para isso fosse requerido, comprador podia responsabilizá-lo pela evicção
da «coisa» através da ACTIO AUTORITATIS, pelo meio da qual poderia exigir ao
vendedor o dobro do preço da res.

b) Além das obrigações já referidas, o vendedor tinha ainda duas


obrigações emergentes do CONTRATO DE COMPRA E VENDA:

1. a obrigação de cuidar da res até à sua entrega (o limite desta


responsabilidade divide a romanística);
2. a obrigação de responder pelos vícios ocultos da res. Esta
responsabilidade por vícios não aparentes que afectavam as «coisas»,
especialmente escravos e animais, foi aperfeiçoada e disciplinada pelos EDIS

CURÚIS que estabeleciam no seu EDICTUM que os vendedores deviam declarar,


aquando da conclusão dos contratos, os defeitos ocultos da res.

Se os defeitos não declarados se manifestassem depois da compra e venda,


o comprador podia demandar o vendedor com uma das seguintes acções
concedidas pelo EDIL:

1- ACTIO REDHIBITORIA: produzia a resolução da compra e venda e a


condenação do vendedor ao pagamento do dobro da pecunia
recebida, a menos que preferisse restituir o preço com juros. Devia
ser intentada no prazo do dois meses a contar do momento em que o
defeito se revelou.
2- ACTIO QUANTI MINORIS: permitia ao comprador obter uma diminuição do
preço proporcional à diminuição do valor da res devido ao vício
oculto. Devia ser intentada no prazo de seis meses a contar do
momento em que o vício se manifestou.

Tigelinus podia pois lançar mão de uma destas acções contra o


vendedor, pois como o caso indica, a doença do cavalo não tinha sido
declarada por Basílius. No Direito Justinianeu, aliás, as acções edilícias
foram estendidas à venda de qualquer res.

c) Eram OBRIGAÇÕES DO COMPRADOR:

1. transmitir a propriedade do preço ao vendedor e pagar juros se


não o fizesse após certo tempo a contar da recepção da res;
2. receber a res a pedido do vendedor caso contrário incorria na
obrigação de ressarcir o dono causado pelo acaso;
3. reembolsar o vendedor relativamente aos gastos feitos em
reparações necessárias;
4. responder pelo risco de perda ou deterioração da res em caso
fortuito ou de força maior.

Entre as obrigações do vendedor e do comprador há uma relação de


interdependência.

Assim, como em geral o risco de perda da «coisa» no contrato de


compra e venda corre por conta do comprador, a morte do cavalo ao ser
fulminado por um raio não desvinculava Tigelinus da sua obrigação de
pagar o preço ao vendedor.
CASO PRÁTICO7

Em 4 a.C., Pelautus cedeu a Crassus por um mês uma alfaia agrícula,


de que era comodatário, pela quantia de 50 sistércios. No último dia do
prazo, Crassus não restituiu a alfaia. QUID IURIS?

RESPOSTA
Verificam-se os elementos essenciais do CONTRATO DE LOCAÇÃO de «coisa»
(LOCATIO-CONDUCTIO REI)  A locação é um contrato consensual em que uma
pessoa se obriga para com a proporcionar-lhe o gozo temporário de uma
res ou a prestar determinados serviços ou a realizar uma obra, mediante o
pagamento de uma renumeração (merces). A diversidade de fins levou a
romanística a distinguir 3 contratos diferentes: locação de coisa (locatio-
conductio rei), de trabalho (locatio-conductio operarum, em que o locator se
obriga a pôr a sua actividade laboral à disposição do conductor durante um
certo tempo, mediante o pagamento de uma renumeração, a merces) e de
obra (locatio-conductio operis em que o locator deve entregar a res ao
conductor para realizar a obra acordada e pagar-lhe a merces como
retribuição. Por sua vez, o conductor deve executar essa obra com
correcção e entregá-la no prazo acordado ou, se não foi fixado, no
tempo normalmente utilizado para a realizar).

Elementos essenciais da Locatio-Conductio:


1. CONSENSUS: acordo das partes que em contratos consensuais, como a
locação, era suficiente para criar a relação jurídica obrigacional. Neste caso,
o acordo vai no sentido de o locador se obrigar a proporcionar o gozo
temporário de uma res ao locatário e este obriga-se a pagar àquele uma
retribuição;
2. OBJECTO (OU RES): consistia numa res não consumível que o locatário
deve usar segundo o modo acordado durante certo tempo;
3. MERCES: contraprestação devida pelo uso da res, devendo ser
verdadeira e certa e consistir em pecunia;
4. TEMPO: a utilização de res deve ocorrer durante o prazo acordado.
A nível da Locatio-Conductio Rei:

O LOCADOR ESTAVA OBRIGADO A:

1. proporcionar ao locatário o livre gozo da res durante o tempo e nas


condições acordadas;
2. fazer as reparações necessárias para evitar a destruição ou
deterioração da res;
3. ressarcir/indemnizar o locatário dos gastos feitos em reparações
necessárias.

OBRIGAÇÕES DO LOCATÁRIO (CONDUCTOR):


1. pagar a merces;
2. conservar a res em boas condições e dela não fazer um uso
reprovável;
3. restituir a res no final do prazo acordado;
4. ressarcir/indemnizar o locador por danos causados na res.

Crassus violou assim a obrigação de restituir a res quando o prazo da


locação chegou ao fim. Pelo que o locador podia intentar contra ele a ACTIO

LOCATI. Para tutelar a posição contratual do locatário, existia a ACTIO CONDUCTI.

CASO PRÁTICO 8
Em 146 a.C., Iulianus, Paulus e Ceptinius acordaram entre si explorar
um estabelecimento de petiscos situado em Ravena. Iulianus cedeu o
prédio, de que era proprietário, onde o estabelecimento foi aberto; Paulus
contribuiu com os utensílios de cozinha e algum dinheiro; Ceptinius ficou
encarregado de cozinhar e de atender os clientes. Convencionaram que
todos os ganhos seriam repartidos pelos três em partes iguais, mas que
eventuais perdas seriam partilhadas na proporção de ¼ para Iulianus, ¼
para Paulus e metade para Ceptinius.
a) O negócio revelou-se um fracasso, tendo originado perdas de
enorme montante. Ceptinius pretende que todos respondam por elas na
mesma medida. Terá razão?
b) Algum tempo depois da abertura do estabelecimento, Paulus
comprou a Celestinus 10 porcos cuja carne se destinava ao consumo dos
clientes. Como nunca foi pago o preço acordado, Celestinus pretende
demandar os três empresários. QUID IURIS?

RESPOSTA
a) O acordo celebrado pelos três amigos traduz-se num CONTRATO DE

SOCIEDADE (sociedade é o contrato consensual em que duas ou mais pessoas


se obrigam reciprocamente a pôr em comum determinados bens ou
trabalho com vista à obtenção de um fim patrimonial comum. A sociedade é
um contrato bilateral de que resultam obrigações para os socci  cada
sócio deve contribuir com o que foi acordado, res ou trabalho, e também é
responsável pela evicção e pelos vícios ocultos da res entregue). No caso
estão presentes os 3 ELEMENTOS ESSENCIAIS que caracterizavam este contrato de
sociedade no direito romano:
1. CONSENSUS: acordo de vontades dos sócios no sentido de colocarem
em comum determinadas coisas ou dirigirem o seu trabalho para a
realização de um fim útil. Tal acordo era suficiente para a perfeição do
contrato, uma vez que a sociedade era um contrato consensual.

2. OBJECTO: é constituído por RES, por OPERAE (actividade laboral dos


sócios de carácter manual ou intelectual) ou por ambas as coisas – RES +
OPERAE. Tinhamos assim, SOCIEDADES RERUM, SOCIEDADES OPERARUM e SOCIEDADES MISTAS.

No nosso caso, a sociedade era mista, Iulianus e Paulus entraram para a


sociedade com res e Ceptinius com operae.

3. FINALIDADE: interesse comum que as partes vão realizar e que deve


ser lícito e constituir uma utilidade ou vantagem patrimonial para todos os
sócios. Não produz efeitos o contrato de sociedade que reserve os ganhos
para um ou alguns sócios e as perdas para outros, é o chamado PACTO LEONINO

(actualmente previsto no art. 994º do Código Civil). Isto não se confunde


com participação desigual nos ganhos e nas perdas, que foi precisamente
aquilo que os três sócios convencionavam, pelo que nada mais restava a
Ceptinius do que arcar com metade das perdas.
b) O contrato de sociedade não criava uma pessoa jurídica distinta dos
sócios, pelo que não há relações obrigacionais entre a sociedade e terceiros
mas apenas direitos e obrigações de cada sócio face a terceiros. Se um dos
sócios celebrar um contrato com terceiros, a relação obrigacional é entre
eles; se foram todos os sócios a celebrar o contrato com o terceiro, a
relação considera-se assumida de modo proporcional pelos sócios ou se o
contrato de sociedade assim o determinar originar-se-ta uma obrigação
solidária.

Exemplo: A empresta a D  A só pode pedir o dinheiro a D


Exemplo: A, B, C devem cada um 1200 a D (credor)  D pode pedir a
totalidade só a C que pode responsabilizar os restantes a pagar as
respectivas partes.

No nosso caso, foi apenas Paulus quem assumiu obrigações para com
Celestinus, só aquele podendo ser responsabilizado. Só muito mais tarde,
na Época Justinianeira, veio a ser possível demandar os outros sócios se
estes obtiveram um enriquecimento. Eventualmente, Paulus poderia tentar
ceder aos outros sócios a sua parte de responsabilidade pela dívida, visto
que actou como gestor de negócios ou mandatário.

CASO PRÁTICO 9
Tulius, paterfamilias romano, adoeceu repentinamente. Ficou, assim,
impossibilitado de se deslocar a uma localidade longínqua para vender
azeite, tal como normalmente fazia para ganhar a vida. Por isso, pediu ao
seu velho amigo Pomponius que este fosse vender a mercadoria na sua vez.
Pomponius aceitou de imediato. O que Tuluis ignorava é que Pomponius
com a idade perdera as suas qualidades de grande negociante e foi com
estupefacção que veio a saber que aquele em quem tinha confiado vendera
o azeite por um preço muito inferior ao que era praticado normalmente.
a) Poderia Tulius reagir? Se sim, como?
b) Suponha que o azeite estava completamente rançoso e o
comprador pretende reagir. Como deverá actuar?
RESPOSTA (ver pág. 80 do Volume II)
a) Tulius celebrou com Pomponius um MANDATO, estando presentes todos os
elementos deste negócio. O mandato é um contrato consensual e bilateral
imperfeito e no qual uma pessoa (mandante) encarrega outra (mandatário)
de realizar uma determinada actividade no interesse do mandante, de um
terceiro, ou destes e do mandatário, que se obriga, por sua vez, a realizá-la
gratuitamente. É um contrato do ius gentium, de boa fé e inspira-se na
confiança das partes.

ELEMENTOS DO MANDATO:

1. CONSENSUS: acordo pelo qual o mandante encarrega o mandatário de


realizar determinado acto, neste caso, a venda do azeite. Tal como na
sociedade, este acordo pode manifestar-se por qualquer modo e para a sua
perfeição bastava o consenso das partes;

2. OBJECTO: é a actividade que o mandatário se obrigava a realizar. Deve


ser lícita e determinada, não sendo necessário que consistisse, tal como no
presente caso, num negócio jurídico, pois todo o serviço pode ser objecto
de mandato desde que seja gratuito, sem prejuízo de um SALARIUM que veio a
poder ser exigido no processo da COGNITIO EXTRAORDINÁRIA (sistema processual que
marca o fim da Época Clássica e a entrada na Época Pós-Clássica que veio
substituir o «Processo das Fórmulas»);

3. FINALIDADE: o mandato deve satisfazer um interesse do mandante, do


terceiro ou destes e do mandatário. No nosso caso, foi no exclusivo
interesse do mandante (não há mandato por parte do mandatário).

ERAM OBRIGAÇÕES DO MANDATÁRIO:

1. prestar contas da sua actividade ao mandante e caso surjam direitos


em relação a terceiros, devem ser transmitidas ao mandante as
correspondentes actiones;
2. cumprir o encargo segundo as instruções ou, se estas não existirem,
segundo a natureza da actividade a realizar.
No caso vertente e na falta de instruções mais específicas, Pomponius
não exerceu a actividade a que estava obrigado segundo aquilo a que a
natureza daquela impunha, pois vendeu o azeite a um preço muito mais
baixo do que o normal. Assim sendo, Tulius podia reagir contra ele através
da ACTIO MANDATI que tutelava a posição do mandante. Para tutela do
mandatário existia a ACTIO MANDATI CONTRARIA.

ERAM OBRIGAÇÕES DO MANDANTE:

• ressarcir os gastos feitos pelo mandatário na execução do encargo que


lhe deu
• indemnizá-lo dos danos sofridos

b) A relação de MANDATO é estranha a terceiros pelo que, inicialmente, o


comprador do azeite apenas poderia demandar aquele com quem negociara
(o mandatário), não podendo o mandante e o terceiro demandar um contra
o outro. Contudo, tal foi progressivamente afastado pela actividade do
pretor, que concedeu acções úteis ao mandante e ao terceiro para que se
pudessem demandar, impondo-se a representação directa. Ou seja, a partir
de certa altura passou a ser também possível ao comprador demandar
directamente (Tulius) pelos defeitos da coisa através da correspondente
ACTIO útil.

CASO PRÁTICO 10
Maevius, paterfamilias romano, surpreendeu Natarius a retirar várias
galinhas da capoeira do quintal de sua casa, colocando-as numa carroça.
Indignado, Maevius recorreu ao pretor. QUID IURIS?

RESPOSTA
A actuação de Natarius ao subtrair da capoeira de Maevius as galinhas
de que este era proprietário, com clara intenção de se apoderar delas, pois
estava inclusivamente a colocá-las na sua carroça, constitui um FURTO.
O FURTO constitui no apoderamento fraudulento com vista à obtenção de
uma coisa, do seu uso ou posse ou ainda de um lucro. Para a sua
verificação tinham de estar preenchidos dois elementos:
1. um elemento OBJECTIVO: a chamada CONCRECTATIO REI;

2. e um elemento SUBJECTIVO: o ANIMUS FORANDI.

A CONCRECTATIO REI podia consistir numa de três modalidades:

1. SUBTRACÇÃO DE UMA res CORPÓREA MÓVEL que se encontra no património, na


posse ou na detenção de outra pessoa;
2. FURTUM USUS (FURTO DE USO) consiste no uso ilícito de uma, res alheia que
acontecia, por exemplo, quando o depositário usasse a res ou quando o
comodatário a usasse de forma diferente do que fora convencionado;
3. FURTUM POSSESSIONIS traduz-se na tomada de posse indevida de uma res.
Verificava-se, por exemplo, se o DEVEDOR PIGNORATIO se apoderasse da res
antes de cumprir a obrigação garantida ou se o mero detentor não
restituísse a res ao proprietário e começasse a possuí-la como própria ou
ainda se o proprietário se apoderasse da res que o credor detinha em
virtude do IUS RETENCIONES.

O ELEMENTO SUBJECTIVO, o chamado ANIMUS FORANDI, consistia na intenção de


lesar outra pessoa ao realizar-se a CONTRECTATIO REI.

Distinguiam-se duas espécies de furto:


1. o FURTO MANIFESTO: em que o autor é surpreendido quando pratica o
furto;
2. e o FURTO NÃO-MANIFESTO: quando o autor não é surpreendido.

No nosso caso, o FURTO era manifesto, o que numa primeira fase, podia
conduzir à aplicação de açoites e à entrega do autor ao lesado, ou até se
aquele fosse escravo, à sua morte por despenhamento da rocha tarpeia.
Mais tarde, a crueldade das penas corporais levou a que fosse criada uma
ACTIO FURTI MANIFESTI, fixando a pena pecuniária no quádruplo do valor da res.
Se o furto fosse não-manifesto, o autor era condenado ao pagamento
do dobro do valor da res. O furto era um delito, ou seja, um acto ilícito que
ofende um indivíduo e é punido com uma pena pecuniária, sendo outra das
fontes das obrigações previstas nas INSTITUIÇÕES DE JUSTINIANO.
No caso vertente, Maevius devia intentar a ACTIO FURTI MANIFESTI para que
Natarius fosse condenado ao pagamento da pena devida. Mas isto não
impedia que também intentasse as acções competentes no sentido de lhe
serem restituídas as res furtadas ou de lhe serem ressarcidos danos
causados, pois a ACTIO FURTI era acumulável com outras acções derivadas do
mesmo delito.

CASO PRÁTICO 11
Em 237, Glauco, paterfamilias romano, dirigiu-se a casa de Pelius, com
quem tinha relações pessoais difíceis com o objectivo de lhe dar uma
descompostura. Tendo batido várias vezes à porta, sem que fosse atendido,
apercebeu-se de que Pelius estava lá mas fingia que não.
a) Revoltado e enfurecido, Glauco partiu a pontapé uma estatueta que
ornamentava o jardim de Pelius. Este pretende saber como reagir.
b) Suponha agora que Glauco ao invés de partir a estatueta tinha
agredido violentamente Pelius, causando-lhe várias fracturas e tinha ainda
libertado da capoeira todas as galinhas de Pelius, que, assim, fugiram. QUID
IURIS?

RESPOSTA

a) Com o seu comportamento destemperado e colérico, Glauco produziu


culposamente um dano sobre uma res alheia. Cometeu portanto um dano
causado com INJÚRIA, ou seja, um comportamento anti-jurídico que se
traduzia no dano produzido directamente sobre res alheia através de um
contacto material – CORPORE CORPORI. O dano devia ainda ser produzido com
dolo ou negligência. dois graus de culpa (dolo culpado).

O dano causado com injúria era um delito regulado pela LEX AQUILIA (287
a.C.). Assim sendo, Pelius podia recorrer ao pretor para que este lhe
conceda uma ACTIO LEGIS AQUILIAE no sentido de ser ressarcido pelos danos
causados, isto é, o correspondente ao maior valor da res nos últimos 30
dias.

b) A jurisprudência acabou por concluir que a LEX AQUILIA era muito


restrita, por isso, sugeriu ao pretor certos instrumentos que permitissem a
extensão daquela LEX a casos nela não previstos. Assim, estendeu-se a
protecção Aquiliana aos danos não provocados directamente sobre a res por
virtude de uma ACÇÃO CORPORIA, como por exemplo: libertar um animal de uma
jaula ou matar por inanição um escravo alheio porque foi mantido fechado
num cárcere. Estendeu-se também essa protecção a danos causados a
quem não era proprietário, como o usufrutuário e o possuidor de boa fé e a
danos resultantes de lesões corporais em pessoas livres.
MECANISMOS PARA ESTENDER A LEX AQUILIA:
• quanto aos danos não produzidos directamente, foram outorgadas
ACTIONES IN FACTUM CONCEPTAE;

• quanto aos danos que lesavam não proprietários, outorgaram-se


ACTIONES UTILES;

• finalmente, no que respeita aos danos corporios produzidos em


pessoas livres, foram concedidas ACTIONES IN FACTUM.

A figura do dano causado com injúria e a disciplina da LEX AQUILIA foram


sendo sucessivamente aperfeiçoadas, estando na base da responsabilidade
civil extracontratual prevista no art. 483º e seguintes do Código Civil como
uma das fontes das obrigações.

GARANTIAS DAS OBRIGAÇÕES

É um reforço da expectativa do credor no sentido do cumprimento da


obrigação principal. Tal reforço pode incidir sobre todo o património do
garante (GARANTIAS PESSOAIS) ou incidir sobre certos bens pertencentes ao
garante (GARANTIAS REAIS).

GARANTIAS PESSOAIS: consistem em obrigações constituídas a favor do credor


com vista ao reforço da expectativa do cumprimento da obrigação
principal. O garante, ou seja, quem constitui a garantia, que pode
ser o devedor ou um terceiro, responde directamente com a sua
pessoa e indirectamente com o seu património.

TRÊS TIPOS DE GARANTIAS PESSOAIS NO DIREITO ROMANO:

1. SPONCIO: é uma promessa solene de origem sacral e exclusiva dos


cidadãos romanos – o credor perguntava ao garante: ‘IDEM DAR SPONDES?’ ao
que o garante, o chamado SPONSOR respondia: ‘SPONDEO!’. Deste formalismo
nascia uma obrigação entre o credor e o sponsor através da qual o último
garantia o cumprimento de uma obrigação anteriormente constituída e que
se designava OBRIGAÇÃO PRINCIPAL. A sponcio só permitia garantir obrigações
constituídas verbalmente, sendo intransmissível aos herdeiros do sponsor.
Inicialmente, o obrigação gerada pela sponcio não era acessória da
obrigação principal, pois se esta fosse ineficaz, o sponsor não deixava de
responder.
autonomia total

Além disso, esta garantia não tinha carácter subsidiário, pois o credor podia
demandar directamente o sponsor sem que tivesse de exigir primeiro o
cumprimento ao devedor principal. A responsabilidade do garante era
contudo solidária, pois se cumprisse a obrigação principal, podia exigir ao
devedor principal e a outros sponsores as correspondentes partes. A SPONCIO

manteve-se na época Clássica e foi substituída pela FIDEIUSSIO.

2. FIDEPROMISSIO: promessa solene em que se invocava a deusa FIDES e que


era utilizada para garantir obrigações constituídas verbalmente entre
cidadãos e peregrinos. O seu regime era semelhante ao da SPONCIO e também
foi substituída na época Justinianeira pela FIDEIUSSIO.

3. FIDEIUSSIO: era uma garantia pessoal que era acessível a cidadãos e a


peregrinos, consistindo numa pergunta que o credor dirigia ao garante e
correspondente resposta. Pergunta que fazia o credor: ‘IDEM FIDE TUA ESSE

IUBES?’ e a resposta: ‘FIDEIUBEO’. Ao contrário da SPONCIO e da FIDEPROMISSIO,


garantia o cumprimento de qualquer obrigação (verbal ou não). A obrigação
resultante da FIDEIUSSIO tinha carácter acessório, não podendo ser maior ou
mais gravosa do que a obrigação principal e dependendo da existência e
validade dela. Na época Clássica, a responsabilidade de quem prestava a
garantia era solidária, pois o credor podia exigir indiferentemente o
cumprimento da obrigação ao garante ou ao devedor principal. Mas na
época Justinianeira (535), a responsabilidade do FIDEIUSSOR (quem prestava a

FIDEIUSSIO) passou a ser subsidiária, pois foi concedida ao garante o chamado


BENEFÍCIO DA EXCLUSÃO podendo exigir ao credor que exija primeiro ao devedor
principal a satisfação do crédito.

4. Mandatum pecuniae credendae: é um instituto criado pela


jurisprudência para garantir uma obligatio alheia, evitando alguns
inconvenientes da fideiussio. Consistia no encargo que uma pessoa
(mandante) dava a outra (mandatário) para emprestar a um terceiro
determinada pecunia ou uma quantidade de res fungíveis. Surgiam, assim
dois contratos distintos:
Mutum entre o mandatário (credor) e um terceiro (devedor);
Mandatum entre o mandante e o mutuante
GARANTIAS REAIS: aqui o reforço de expectativa do credor de cumprimento
incide directamente e exclusivamente sobre certos bens
pertencentes ao devedor principal ou a terceiro.

1. FIDÚCIA CUM CREDITORI: através desta figura, transferia-se para o credor a


propriedade de uma res com a finalidade de garantir uma obrigação.
Quando esta fosse cumprida, o credor devia restituir a res ao proprietário.
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA FIDÚCIA:

• um negócio solene de transferência de propriedade da res e que podia


consistir numa MANCIPATIO ou numa IN IURE CESSIO;

• um PACTUM FIDUCIAE que era um acordo de vontades que regulava os


termos em que se devia processar a restituição de res, bem como os modos
de satisfação do credor.
O garante perdia a propriedade da res, mas se fosse acordado podia
manter a sua posse e se o fizesse por mais de um ano, poderia recuperar a
propriedade através da USURECEPTIO EX FIDUCIA que era uma forma especial de
USUCAPIÃO (forma de aquisição de direito real). Para obstar este risco de o
credor perder a garantia, as partes tinham de acordar que a res era detida
pelo garante a título de LOCATIO ou de PRECARIUM, pois o locatário e o precarista
eram meros detentores, não podendo adquirir por usucapião.
Se o credor fidussiário não cumprisse a sua obrigação de restituição
da res, o fidussiante tinha como meio de tutela a ACTIO FIDUCIAE. Para exigir o
reembolso das despesas que fizesse na conservação da res, bem como o
ressarcimento de eventuais danos que esta lhe causasse, o credor
fidussiário tinha como meio de tutela a ACTIO FIDUCIAE CONTRARIA e até o direito
de retenção. No caso de a obrigação garantida não ser cumprida, o credor
podia conservar definitivamente a res ou então se as partes tivessem
convencionado o chamado PACTUM DE VENDENDO, o credor podia vendê-la e fazer
seu o preço; se este fosse superior ao valor da obrigação garantida, a
diferença deveria ser entregue ao garante. A partir de certa altura, deixou
de ser necessária a celebração do PACTUM DE VENDENDO que passou a ser
considerado um efeito natural da fidúcia.
2. Pignus (na pág. 170 do Volume II): É uma garantia real que se
traduz na entrega (traditio) de uma res móvel ou imóvel ao credor, que se
obriga a restituí-la após o cumprimento da obligatio garantida. Em regra,
constituía-se através de um contrato real. O garante mantinha o dominium
sobre a res e o credor tornava-se detentor, ou seja, possuía em nome
daquele.
Assinala-se ao pignus o desempenho de duas funções:
Coacção psicológica
Satisfação ao credor

3. Hipoteca (na pág. 174 do Volume II): Garantia real que consiste na
especial afectação de uma res, móvel ou imóvel, ao cumprimento duma
obligatio. É a mais recente das garantias reais e assinala-se, como seu
precedente, a afectação de animais, escravos e instrumentos à obrigação de
pagar a renda (merces).

Ver no Volume II

• Contratos Reais  Pág. 33


Fidúcia
Penhor

• Contratos Formais  Pág. 84


Stipulatio

• Contratos Inominados  Pág. 97


Conventio
Permuta
Aestimatum
Precário
Transacção

• Delitos e quase delitos


Delito público
Delito privado
Furtum
Rapina
Iniuria
Damnum iniuria datum

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