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NOTA DE TR ADUÇÃO

Esta tradução começou a ser feita no início dos anos 70, quan•
do, como professor de Estética Teatral, desejei estudar com os meus
alunos o texto de Nietzsche e constatei, com espanto, que as versões
existentes em português obedeciam a modos de transposição
demasiado presos aos códigos do "bom" vernáculo literário e a adaptações
interpretativas às vezes bastante fantasiosas. Tudo o que pude
compulsar, na época, apresentava deficiências no tocante à reposição
conceitual e estilística do original, e os excertos, tão bem traduzidos
por Rubens Rodrigues Torres Filho para o volume Nietzsche
da coleção da Abril, só apareceram mais tarde, em 1974. Assim, no
calor da hora, sem medir bem as dificuldades do empreendimento,
lancei-me à tentativa. Não é preciso dizer que logo o meu ardor começou
a arrefecer. Ao cabo de vinte e poucas páginas já era quase
um fogo morto, sobre o qual vieram desabar outras obrigações e
encantamentos, levando-me a adiar o penoso trabalho. O volume
Die Geburt der Tragddie* foi, portanto, relegado àquele melancólico
canto em que emurchecem, com uma presença que não raro incomoda,
os projetos mal resolvidos, senão gorados. Razão pela qual,
em conversas descompromissadas sobre "o que você está produzindo?",
vez por outra eu me sentia impelido a incluir como efetiva atualidade
a mal parada tradução do escrito nietzschiano. E foi numa dessas
conversas que mencionei o fato a Paulo César de Souza, estudioso
das falas de Zaratustra e tradutor que vem prestando o seu zelo e
competência para uma leitura adequada de Nietzsche no Brasil. À
menção (Ó língua, quem mandou você falar?) o meu interlocutor não
(*) Friedrich Nietzsche, Werke I, Die Geburt der Tragódie oder Griechentum
und Pessimismus, pp. 9-1 34, editado por Karl Schechta, Verlag Ullstein.
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FRIEDRICHNIETZSCHE
me disse nada, como estímulo. Limitou-se a perguntar se eu tinha
isto, mais aquilo outro. E verificando a minha indigência, alguns dias
depois mos trouxe. Eu estava no laço! E o Paulo César foi quem
apertou o meu próprio nó. Não pude mais fugir dele e de mim mesmo
... Foi assim que no segundo semestre do ano passado me pus,
com suor e maldições, a desfazer a armadilha em que eu me metera.
Se, com isso, consegui algo mais do que me livrar de minhas voltas
comigo próprio, só ele, Paulo César, o daimon desta tradução, e
o meu leitor poderão dizer. De minha parte, espero que as soluções
por mim adotadas, com a ajuda computadorizada de minha mulher
Gita e minha filha Ruth, possam dar, em português, alguma carnação
textual a este poderoso lance de poeticidade e pensamento que
é O nascimento da tragédia.
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