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Participações em publicações:
“Relações de complementaridade na obra Toccatina, ponteio e final de Marlos
Nobre”;
“Processos Texturais sobre sinais intervalares e fluxo auditivo em Continuo em
Mi de Denise Garcia: diálogo e contexto como momento e local”;
“Modelização de textura e discurso pela aplicação de Monte-Carlo: Living
Room Music de John Cage como uma „jam‟ estocástica”,
“A tópica do canto de pássaros sob tratamento figural, imagético e discursivo
aplicado à Shang Yang em Do Livro dos Seres Imaginários de Valéria
Bonafé”;
“Ciclos e Palíndromos rítmicos na obra Living Room Music de John Cage”
“Noção de gesto como agenciador formal cíclico nas 3 Miniaturas para Piano
de Edino Krieger: um mosaico de figuras”.
Relatório: comentários
2019-2020
São Paulo – SP, Janeiro/2020
Relatório de Atividades
Bolsista:
Danilo Aparecido do Carmo Alves
No. USP: 9799703
Instituição:
Universidade de São Paulo, USP (Departamento de
Música, CMU/ECA/USP).
RESUMO
i
RELATÓRIO DE ATIVIDADES E RESULTADOS
Sob orientação de Adriana Lopes da Cunha Moreira, eu, Danilo Aparecido do Carmo
Alves, foi desenvolvida esta pesquisa de Iniciação Científica a qual integra as atividades do Grupo
de Pesquisa TRAMA: Teoria e Análise Musical, e do Laboratório PAM, de Teoria, História,
Estética e Análise Musical, ambos sediados no Departamento de Música da USP e co-coordenados
pela mesma orientadora. Além desta produção acadêmica, este trabalho rendeu oportunidades
extracurriculares, possibilitando a participação em grandes congressos nacionais, seguida da
aprovação para comunicações orais e pôsteres com publicação nos seguintes congressos:
CONGRESSOS:
XXIX Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música
(ANPPOM) – 2019, Pelotas/RS (26 à 30 de Agosto).
II Congresso da Associação Brasileira de Teoria e Análise Musical (TeMA) IV Congresso
Internacional de Música e Matemática (21 à 26 de Outubro).
V Encontro Internacional de Teoria e Análise Musical (EITAM) – 2019, Campinas/SP (05 à
07 de Novembro).
PUBLICAÇÕES:
“Relações de complementaridade na obra Toccatina, ponteio e final de Marlos Nobre”;
“Processos Texturais sobre sinais intervalares e fluxo auditivo em Continuo em Mi de
Denise Garcia: diálogo e contexto como momento e local”;
“Modelização de textura e discurso pela aplicação de Monte-Carlo: Living Room Music de
John Cage como uma „jam‟ estocástica”,
“A tópica do canto de pássaros sob tratamento figural, imagético e discursivo aplicado à
Shang Yang em Do Livro dos Seres Imaginários de Valéria Bonafé”;
“Ciclos e Palíndromos rítmicos na obra Living Room Music de John Cage”
“Noção de gesto como agenciador formal cíclico
ii
como aluno, representando, além de uma grande oportunidade pessoal, a possibilidade de demonstração
da capacidade de ensino e pesquisa da USP e, por conseguinte, do curso de Música ECA/USP.
Durante os eventos, participei como palestrante e ouvinte de grande parte das atividades.
Diariamente, os cronogramas contavam com atividades das 9h às 21h, com pequenas pausas para
refeições e cafés. Nesse contexto, o evento possibilitou grandes aprendizados, posto que existe uma
discussão aprofundada a cerca das pesquisas realizadas em todo país. Isto possibilitou, durante o
período de evento, uma grande troca profissional de conhecimento, o qual agregou imensamente
para meu crescimento quanto pesquisador da área. Além disso, tive grande mérito pela pesquisa
apresentada, criando forte vínculo com discentes e docentes de diversas universidades nacionais.
iii
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Cronograma do projeto. ...................................................................................................... 7
Tabela 2 - Compositores latino-americanos localizados na pesquisa do edital PUB 2017/2018. ..... 50
Tabela 3 - Artigos extraídos da revista opus, parte da bibliografia do edital PUB 2017/2018 .......... 51
iv
Índice-Sumário
I. Introdução – Sobre o projeto, métodos e expectativas ..................................................................... 1
v
3.1. Resumo ................................................................................................................................ 20
vi
6.4. Metodologia ......................................................................................................................... 37
vii
I. Introdução – Sobre o projeto, métodos e expectativas
1
1. Resumo: o projeto
Prestando continuidade ao projeto contemplado pelo Programa PUB 2017/2018,
“Levantamento, percepção e análise formal de obras musicais publicadas por compositoras e
compositores latino-americanos nos séculos XX e XXI”, o presente projeto tem por objetivo
realizar análises formais de obras musicais compostas séculos XX e XXI, aplicando estratégias para
a percepção, teorias e técnicas de análise consolidadas internacionalmente. Para tanto, o bolsista
realizou como atividade o levantamento e análise das obras selecionadas durante o projeto. Diante
disso, foram selecionadas obras especificas tanto para apreciação, discutida neste relatório, quanto
para análise, expondo isto também como resultado neste relatório. Assim, como expectativa deste
projeto, debruçou-se sobre o trabalho de compositoras brasileiras, dentre elas: Dinorah de Carvalho
(MG, 1905-1980), Ester Scliar (RS, 1926-1978), Marisa Rezende (RJ, 1944), Alda de Oliveira (BA,
1945), Denise Garcia (SP, 1955) e Valéria Bonafé (SP, 1984).
Dessa forma, os dados levantados interagem como estudo crítico de técnicas emergentes
para a análise de obras musicais compostas nos séculos XX-XXI que vem sendo desenvolvido pela
docente responsável, com apoio do Auxílio Regular FAPESP. Este estudo integra a linha de
pesquisa em Musicologia, Teoria e Análise Musical, cujo desenvolvimento no Brasil interage
efetivamente com as pesquisas internacionais, porém prescinde de enfoques analíticos na produção
musical latino-americana.
2
Esse processo de solidificação da prática analítica sofreu algumas flutuações ao longo
do século XX. No início do século, quando alguns compositores passaram a escrever sobre sua
própria obra, uma função de elucidação foi sendo fortemente relacionada à prática analítica. Em
meados do século, “o desenvolvimento da teoria musical contemporânea” encabeçada Allen Forte
(McCRELESS, 1997: 295; BABBITT, 1987: 121 apud CARVALHO, 2014, p. 128) provocou uma
dissociação entre as disciplinas Análise e Teoria musical, e muitas vezes pudemos observar
trabalhos teóricos que se valiam de exemplos analíticos provendo conveniente sustentação ao
desenvolvimento da proposta teórica. No final do século, os conceitos da Nova Musicologia
contribuíram para uma aproximação entre a musicologia e a teoria: por um lado, os musicólogos
deveriam aproximar-se mais do contexto estrutural; por outro, os teóricos deveriam conhecer
melhor o contexto histórico-cultural.
Nesses contextos históricos, formaram-se vertentes analíticas, cujas mais estruturalistas
podem ser assim agrupadas: (1) teorias sobre transformações harmônicas, agrupamentos, tempo,
rítmica e forma (análise motívica, formal, harmônica e estrutural, teoria transformacional, teoria
processual, teoria dos conjuntos e análise do contorno); (2) teorias sobre vozes condutoras; (3)
textos voltados a inter-relações entre composição, análise, performance e percepção musical; (4)
teorias voltadas à análise de obras asmáticas. Logo, tal agrupamento foi referenciado durante o
trabalho realizado, buscando a completude da produção acadêmica proposta pelo projeto.
3
II. Análises das obras relacionadas ao desenvolvimento do projeto
4
1. Resenha: Dissertação sobre a análise
5
Nesse contexto, para a análise das obras compostas a partir da segunda metade do
século XX, por base a bibliografia abaixo apresentada, se prestará sustentação aos estudos
acusmáticos. Em meados do século XX, a revolução tecnológica intensificou o ambiente de
experimentação que vinha emergindo a partir de obras como o tratado L'arte dei rumori (1913) de
Luigi Russolo, The Banshee (1925) de Henry Cowell, Ionisation (1931) de Edgard Varèse,
Bacchanale (1940) de John Cage, ou Turangalîla Symphony (1948) de Olivier Messiaen, obras
essas que, por diferentes razões, expandiram noções do que poderia ser considerado material
musical e som musical. Em meio a essa consciência expandida do que seria música, o acesso a
equipamentos eletrônicos viabilizou o surgimento de processos que foram recebendo designações
específicas ao longo do século XX. Assim, a atualmente denominada música acusmática é projetada
ou composta em estúdio e difundida em concerto através de altofalantes, consituindo-se enquanto
meio sonoro que se concentra no espaço e na experiência espacial como sendo esteticamente
centrais (SMALLEY, 2007, p. 35). Para além dos aspectos acústicos e filosóficos apresentados por
Pierre Schaeffer (1966, Traité des objets musicaux e 1967, Solfège de l'objet sonore), nossa equipe
irá se valer das propostas de S. Emmerson e D. Smalley (1986, 1997 e 2007) e Thoresen (2007).
6
forma de resumo expandido (1000 palavras) os artigos que foram elaborados no decorrer do projeto,
trazendo a discussão os artigos anteriormente produzidos nos projetos passados a fim de
contextualização.
7
III. Análises das obras relacionadas ao desenvolvimento do projeto
8
1. Toccatina, Ponteio e Final de Marlos Nobre
9
Relações de complementariedade na obra Toccatina, ponteio e final de Marlos Nobre
1.1. Resumo
Este artigo trata da obra Toccatina, Ponteio e Final, de Marlos Nobre e tem como
objetivo revelar um possível método composicional que esclarece questões estruturais de seu
primeiro movimento. Sobre o ponto de vista pós-tonal, propõe-se um método analítico baseado na
Teoria dos Conjuntos, utilizando vocabulário musical principalmente relacionado aos princípios de
Ciclicidade e Coleção. Por fim, apresentam-se como os conjuntos contribuem para a completude
das coleções base da obra, esclarecendo estruturalmente sua organização.
Palavras-chave: Marlos Nobre. Toccatina, Ponteio e Final. Análise Musical. Música do século XX. Teoria dos Conjuntos.
1.2. Introdução
Marlos Nobre é atualmente um dos principais compositores da América Latina, com cerca
de 243 obras para diversas formações (SCARAMBONE, 2006, p. 2) e contando com um bom número
de obras gravadas e premiações, sendo também objeto de artigos, entrevistas, livros e teses acadêmicas
(NEVES, 2007, p. 13; GOULART, 1985; MARTINELLI, 2014; FRANÇA, 1990). Nesse contexto, o
presente artigo traz uma análise de uma de suas obras para piano: Toccatina, Ponteio e Final, Op. 12
(1963), uma das últimas obras de sua primeira fase composicional (BARANCOSKI, 1997, p. 50), na
qual, segundo o próprio compositor, houve “uma evolução claramente captada desde o op. 1 até o op.
14: apresentando os materiais tonal-modal-politonal-atonal, todos, através de sistematizações extremas”
(NOBRE, Revista Musical Chilena, p. 43).
1.3. Objetivos
De fato, no primeiro movimento da op. 12, verifica-se a aplicação de técnicas atonais e
dodecafônicas, porém apresentando centros claros e estruturalmente importantes para a unidade e
organicidade da peça. Em diálogo com outros trabalhos realizados sobre a linguagem do
compositor, esta análise pretende fomentar a discussão analítica através da aplicação da Teoria de
Conjuntos, a fim de evidenciar relações de complementariedade presente no movimento Toccatina
de maneira objetiva, assegurando, também, os aspectos cronológicos e estilísticos apontados pelo
compositor e pelos pesquisadores aqui elencados.
1.4. Metodologia
Diferentemente de outros trabalhos voltados a análise de Marlos Nobre, tendo como
principal correlato a análise desta mesma obra por Ingrid Barancoski (1997), esta análise se
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incumbirá estritamente de observações sucintas sobre as características e ocorrências dos elementos
constituintes da obra, de modo que se deixe discutir em profundidade as relações de
complementariedade entre os conjuntos, a partir da relação entre elementos componentes da obra.
11
Imagem 3 - Seção A, frases (I) e (II), subestruturas (a) e (b), e suas coleções no ciclo.
1.6. Conclusões
A discussão acerca de questões de ordens criativa e estrutural traz à tona possibilidades
técnicas que, disponibilizadas a compositores e intérpretes, abrem possibilidades comunicativas
durante o fazer artístico. Nesse contexto, o primeiro movimento desta obra dialoga através da
análise de formação de conjuntos, aspectos de simetria e ciclicidade, ressaltando o interesse de
complementariedade entre as camadas texturais, as quais esclarecem questões estruturais e
composicionais marcantes do movimento. A obra apresenta-se como um amálgama de influências
dodecafônicas com centros tonais estruturalmente relevantes para sua unidade e organicidade. As
conjunções entre estrutura e material são permeadas por um processo composicional organicamente
articulado, em que o gosto estético do compositor mantém uma presença marcante.
Tal discussão se torna de grande valia à caracterização estilística do compositor
brasileiro e de seu material de trabalho. Encontramos nessa peça uma solidez composicional
amarrada por uma grande trama a qual chamamos “um jogo de complementariedades e omissões”,
um processo técnico do qual qualquer compositor pode se valer para resolver questões inerentes a
continuidade. É como se o material se auto influenciasse. Desta maneira, a análise dessa peça
acabou por revelar a exploração engenhosa da potencialidade do material composicional por parte
do compositor, sendo uma interação mútua de ambas as partes.
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1.7. Referências Bibliográficas
BARANCOSKI, Ingrid. The interaction of Brazilian national identity and contemporary musical
language: the stylistic development in selected piano works by Marlos Nobre. Dissertação
(Mestrado em Música). The University of Arizona, Tucson, 1997.
COOK, Nicholas. A guide to musical analysis. New York: W. W. Norton, 1987.
FERRAZ, Silvio. Música e repetição: a diferença na composição contemporânea. SP: EDUC-
Editora da PUC-SP, 1998.
FRANÇA, Eurico Nogueira. A arte da música através dos tempos: ensaios histórico-criticos sobre a
música do ocidente: ensaios. Editora Atheneu Cultura, 1990.
GOULART, S. P. Marlos Nobre, um Representante da Música Brasileira. Brasiliana: revista
semestral da Academia Brasileira de Música, v. XV, p. 45-53, 1985.
GREEN, Douglass Marshall. Form in tonal music: an introduction to analysis. New York: Holt,
Rinehart and Winston, 1979.
KOSTKA, Stefan. Materials and techniques of post-tonal music. 4. ed. New York: Routledge, 2016
MARTINELLI, Leonardo. Marlos Nobre: 75 anos a mil. Revista Concerto, São Paulo, p. 22-25, 22
de abril de 2014.
MATHES, James. The analysis of musical form. Upper Saddle River: Pearson Education, 2007
NEVES, Nelson. A comprehensive analysis of jazz elements in Marlos Nobre's piano music
through selected works. Tese (Doctor of Musical Arts). The University of Nebraska,
Lincoln, 2007.
NOBRE, Marlos. "Nueve Perguntas a Marios Nobre" [Nine Questions for Marios Nobre].
Revista Musical Chilena, v. 33, n. 148, 1979, p. 37-47.
NOBRE, Marlos. Toccatina, Ponteio e Final for piano, op. 12. São Paulo-Rio de Janeiro: Irmãos
Vitale, 1969.
SCARAMBONE, Bernardo. The piano works of Marlos Nobre. Tese (Doctor of Musical Arts).
University of Houston, Houston, 2006.
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2. 3 Miniaturas para Piano de Edino Krieger
14
Noção de gesto como agenciador formal cíclico nas 3 Miniaturas para Piano de
Edino Krieger: um mosaico de figuras-motivo
2.1. Resumo
Este artigo tem por finalidade a análise da obra 3 Miniaturas para Piano de Edino
Krieger. Nesta, demonstra-se como o material composicional, tratado sob a noção de gesto, atua
como motivo gerador através de processo similar ao de colagem. Os gestos submetidos a processos
de variação estruturam a composição de maneira cíclica e fragmentaria durante todos os três
movimentos. Assim, propõe-se da leitura deste artigo a visualização do processo composicional
como a construção de um mosaico de gestos e figuras independentes em prol da forma cíclica.
2.2. Introdução
A noção de gesto e seus diferentes enfoques representam um tópico recorrente da
bibliografia musical mais recente. Dentre suas abordagens mais comuns, a noção de gesto
referencia-se a bibliografia analítica de Bério, especialmente às Sequenze (1958-2002) e a Sonata
per Piano Forte (2001). Segundo Reinhold Brinkmann (2005), em Bério a noção de gesto recai
como categoria formal, compreendida dentro do campo da criação e análise musical. Ou seja, o
gesto seria um elemento de estruturação e inflexão da forma, tal como na noção de motivo sendo
gérmen formal nas obras tonais. Logo, o gesto é um elemento capaz de agenciar a forma musical.
Nesse contexto, as 3 Miniaturas para Piano de Edino Krieger (1949-52), encontram-se
entre os 5 Epigramas (1947-51, em sua primeira fase, experimental e universalista) e a Sonata para
Piano a 4 mãos (1953, obra pianística de sua segunda fase, neoclássica-nacionalista) (PAZ, 2012,
p.23). Como definido por José Wellington dos Santos, as 3 Miniaturas para Piano é a última obra
pianística dodecafônica de Krieger, possuindo aspecto cíclico e fragmentário quanto à sua
estruturação formal e sem procedimentos dodecafônicos ortodoxos, definindo-a tal como um
“mosaico” - obra, trabalho composto de pedaços justapostos (DOS SANTOS, 2013, p.8).
2.3. Objetivos
Deste ponto de análise, se propõem a discutir o modo que as justaposições dos objetos
musicais selecionadas pelo compositor, tratados aqui como gesto/figuras, moldam a forma e o
discurso musical das 3 Miniaturas para Piano. Dessa forma, mesmo sendo uma obra representativa
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do primeiro período do compositor, com aspecto cíclico aplicado às pequenas formas e uso do
dodecafonismo, não se realizará a identificação da serie. Assim, por conta do contexto histórico,
escuta e análise realizada, demostra-se como a obra se vale da unidade garantida pela “figura-
motivo”, a qual delineia a forma através de colagem dos gestos.
2.4. Metodologia
Como método, buscou-se verificar o trabalho formal aderido e complementado por
questões motívicas e gestuais. A obra possui um princípio de escrita aforística que consiste na
fragmentação e síntese somada à densidade de materiais. Além disso, a peça antecipa elementos
idiomáticos recorrentes nas próximas fases composicionais de Krieger, como o uso de paralelismos
intervalares predominante sobre quartas e quintas (DOS SANTOS, 2013, p.48). Quanto a sua
forma, visto que os movimentos possuem um mesmo material temático, define-se uma forma cíclica
(MATHES, 2007, p.212). Entendendo gesto como uma categoria formal, este se torna um elemento
estrutural central à expressão musical (BONAFÉ, 2011, p.49). Assim, o gesto demonstra-se como
ferramenta técnica que propõe a organização do material, sendo um meio para a compreensão
expressiva e estrutural da música instrumental (BRINKMANN, 2005, p.485). Dessa forma, aplica-
se gesto a partir de sua derivação proposta por Ferneyhough denominada figura. O gesto seria um
símbolo genérico e por isso “não sobrevive do detalhe, das nuanças do som, mas sim daquilo que
nele é habitual e comum” (FERRAZ, 1998, p.169). Logo, do gesto, cujas características escapam de
um contexto específico, definem-se figuras (FERNEYHOGH, 1993a, p.37).
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colcheia. A curiosidade deste tema é que, somado a sua base, garante a completude dos doze sons,
evidenciando interesse dodecafônico como cerne do planejamento composicional.
Imagem 4 – Gestos catalogados na análise da obra (I. c.1, 2, 4 e II. c.5, respectivamente)
2.6. Conclusões
O trabalho demonstra um amalgama de questões referentes ao processo composicional
influenciado pelo dodecafonismo e a noção de gesto. Os processos de variação estruturam a
composição de maneira cíclica e fragmentaria durante todos os três movimentos, da qual se
propõem a visualização do processo como a construção de um mosaico. Ou seja, pela justaposição
de gestos-figuras, consolidam-se características timbrísticas típicas aos gestos, corroborando a uma
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maior compreensão dos eventos musicais, fomentando uma prática artística composicional e
performática lúcida musicalmente. Logo, mostra-se relevante também, como método técnico e
analítico, a revalidação da noção de gesto como um componente estruturador da formal da obra, ou
seja, como elemento musical expressivo.
b. Bibliografia Auxiliar
COOK, Nicholas. A Guide to Musical Analysis. New York, W. W. Norton & Company, 1987.
DOS SANTOS, José Wellington. Aspectos do Modalismo Expresso na Sonata Nº 2 para Piano
(1956) De Edino Krieger. Anais do SIMPOM, v. 2, n. 2, 2012.
_____________. Estudo Intervalar para Piano N. 2 de Edino Krieger: Um Estudo De
Ressonância. Anais do SIMPOM, n. 1, 2010.
FERNEYHOUGH, Brian. Il tempo della figura. In: Perspectives of New Music vol. 31, n° 1
(1993b).
_____________. Brian Ferneyhough: Collected Writings. Amsterdan: Harwood, 1998.
HATTEN, Robert S. Interpreting musical gestures, topics, and tropes: Mozart, Beethoven,
Schubert. Indiana University Press, 2004.
IAZZETTA, Fernando. Meaning in musical gesture. Trends in gestural control of music, p. 259-
268, 2000.
KOSTKA, Stefan. Materials and Techniques of Post-Tonal Music. 4ª edition. New York, NY,
USA: Routledge, 2016
KOZU, Fernando Hiroki. A complexidade, a figura, e o ritmo no pensamento composicional de
Bryan Ferneyhough. In: Anais do V Fórum CLM, São Paulo, ECA/USP, 2002, pp.45-57
SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da composição musical. Tradução de Eduardo Seincman.
São Paulo: Edusp, 1993.
18
3. Shang Yang, Do Livro dos Seres Imaginários de Valéria Bonafé
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A tópica do canto de pássaros sob tratamento figural, imagético e discursivo
aplicado à Shang Yang em Do Livro dos Seres Imaginários de Valéria Bonafé
3.1. Resumo
Esta análise tem como objetivo discutir o contexto imagético do terceiro movimento da
obra Do Livro dos Seres Imaginários de Valéria Bonafé. Apresenta-se um olhar analítico debruçado
sobre o dialogo intertextual proporcionado pela relação entre o documento musical e literário
referenciado na obra. Para tal finalidade, aplica-se noções como a de gesto e de tópica musical.
Como conclusão, consolida-se um cenário analítico e composicional que atua em prol da construção
de um discurso musical, estrutural e imagético com teor e caráter lúdico.
3.2. Introdução
A capacidade de produzir entidades mentais são uma das mais recorrentes e sofisticadas
atividades humanas, relacionada à antecipação de eventos, raciocínio e criatividade (MELLET, et
al., 1998). Neste sentido, a Imagética Musical tornou-se objeto de estudo da neurociência cognitiva,
sobretudo a partir da década de 1990, e demonstra não se restringir a escutar música com os
“ouvidos da mente” (CHAVES, 2011, p.1051). Logo, a Imagética Musical não se delimita como
sendo apenas uma modalidade mental auditiva, podendo desencadear durante o processo outras
atividades cognitivas. Nesse contexto, a capacidade imagética, estando ligada a noções auditivas,
visuais, tácteis, gustativas, olfativas, cenestésicas e orgânicas do Homem (DICKSTEIN;
DEUTSCH, 2007), dialoga com contextos de criação e análise musical, tratados aqui a partir da
ideia de gesto e tópica musical. Sinteticamente, gesto é o elemento que se ocupa em aproximar as
noções de signo e significado (BRIKMANN, 2005; BONAFÉ, 2011; FERRAZ, 1998), possibilitando a
catalogação de estruturas formais e o uso movimentos físicos como material composicional, vistos como
escrita imagética ou descritiva. Assim, a noção advinda das tópicas complementa o gesto, atribuindo a
tais figuras retóricas, devido a um senso comum cultural, uma imagem ou memória dentro de um
contexto musical (RIPKE, 2017, p.75), posto que “cada tópica incorpora a união de um significante e
um significado verbalmente mediado” (AGAWU, 1991, p.128).
3.3. Objetivos
Através da questão analítica e lúdica apresentada na obra, tem-se como objetivo
estabelecer a compreensão da estrutura musical como sendo um resultado criativo do momento
imagético. Assim, possibilita-se a reflexão acerca do modo que o material composicional adquire
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significado por meio do contexto extramusical da obra, reconstruindo o percurso de soluções
composicionais que satisfazem questões literárias e musicais que tangem a imagem e sonoridade do
terceiro movimento, Shang Yang.
3.4. Metodologia
Shang Yang, tal como os demais movimentos da obra, é um ser místico retirado da
enciclopédia de criaturas escrita por Jorge Luís Borges (1967), podendo ser brevemente descrito
como “o pássaro da chuva”. Concebendo a imagem do pássaro, passa-se a estabelecer correlações
de estrutura e organização da obra através da catalogação de estruturas gestuais. A partir da
catalogação, realizou-se uma análise comparativa de questões estruturais e musicais, propondo
relações imagéticas que corroboram ao discurso musical. Define-se como célula analítica o gesto,
sendo seu contorno e textura os aspectos mais importantes de sua singularidade, atentando-se
também as suas variações, tratadas aqui por figuras, pois seria o gesto cujas características escapam
de um contexto específico e habitual (FERNEYHOGH, 1993a, p.37).
Imagem 7 – Gesto (a) (BONAFÉ) comparado com transcrição do canto de sabiá coleira (VELLIARD)
21
por garantir objetivos simples como de estabelecimento de variação, quanto por apresentar a
singularidade do material de composição a partir de ideia lúdica gestual da obra.
Imagem 8 – Gesto (b) em suas ocorrências variadas (c.5, 10, 31 e 44, respectivamente)
O último gesto (c) demonstra-se texturalmente organizado em duas camadas que são,
entre si, ritmicamente independentes. É um gesto demarcado pelo texto fluido e delicado, como
chuva fina. Através da interpretação sonora deste elemento como um fenômeno natural (a chuva
fina), fica evidente uma estreita relação entre imagem e escrita musical, de modo que tais ideias
aproximam o texto musical do literário referenciado pela obra.
Nesta ocorrência do Gesto (c), ainda pode-se atentar as pequenas apogiaturas inseridas,
que caracterizam a sobreposição do gesto (a) ao (c). Este fato garante ao gesto função de
agenciador/delineador formal, bem como de criador do ambiente lúdico e imagético, quase
descritivo, dos momentos relacionados à imagem de Shang Yang, o pássaro da chuva.
3.6. Conclusões
De certa forma, as questões extramusicais desta obra delineiam fortemente seu processo
composicional, consolidando durante a escuta um ambiente que é sonoro e imagético. As
justaposições dos gestos moldam forma e discurso, frutos da relação entre material e conteúdo. Em
outras palavras, estabeleceu-se um método que garante organicidade e organização estrutural a
partir de estratégias imagéticas de composição, evidenciadas aqui pela análise da partitura,
apresentando capacidade ortodoxa para aplicações composicionais, interpretativas e perceptivas.
Logo, cada gesto deve ser concebido como a representação de eventos, configurando assim uma
imagética musical que auxilia compositores, ouvintes e interpretes na compreensão da obra.
22
3.7. Referências Bibliográficas
a. Bibliografia referência
AGAWU, Kofi. Music as discourse: Semiotic adventures in romantic music. Oxford University
Press, 2014.
BONAFE, Valéria Muelas. Estratégias composicionais de Luciano Berio a partir de uma
análise da Sonata per pianoforte. Dissertação (Tese Mestrado) – Escola de Comunicação e
Artes, USP, São Paulo, 2011.
BORGES, Jorge Luis. The book of imaginary beings. Translated by Norman Thomas di Giovanni
in collaboration with the author. 2. ed. Buenos Aires: Editorial Kier, 1967.
BRINKMANN, Reinhold. A note from the Sonata's dedicatee. Texto publicado em encarte de
CD. In: LUCCHESINI, Andrea. Luciano BERIO – Piano Music. Gravado entre Out-
Nov/2004 – Firenze (Itália). Avie Records, 2007 – AV2104.
BRINKMANN, Reinhold. Luciano Berio’s Sonata per pianoforte solo or The Disclosures of a
Sketch Page. na, 2005.
CHAVES, Renan Paiva. Imagética musical: aspectos cognitivos da prática musical. Estudos e
Pesquisas em Psicologia, v. 11, n. 3, p. 1050-1057, 2011.
COSTA, Juliana Ripke da. Tópicas afro-brasileiras como tradição inventada na música
brasileira do século XX. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 2017.
DICKSTEIN R.; DEUTSCH J. E. Motor imagery in physical therapist practice. Physical
Therapy, v. 87, n. 7, p. 942-953, 2007.
FERRAZ, Silvio. Música e repetição: a diferença na composição contemporânea. EDUC-
Editora da PUC-SP, 1998.
FERRAZ, Silvio. Cinco invenções sobre diferença e repetição: composição e análise.
Dissertação de Mestrado, ECA/USP, São Paulo, 1990.
MELLET, E.; PETIT, L.; MAZOYER, B.; DENIS, M.; TZOURIO, N. Reopening the mental
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VALÉRIA BONAFÉ. Disponível em: <https://www.valeriabonafe.com/>. Acesso em: 14/12/2018.
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b. Bibliografia Auxiliar
COOK, Nicholas. A Guide to Musical Analysis. New York, W. W. Norton & Company, 1987.
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USA: Routledge, 2016
MATHES, James. The Analysis of Musical Form. Upper Saddle River, NJ, USA: Pearson
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ZATORRE, R. J.; HALPERN, A. R. Mental concerts: musical imagery and auditory cortex.
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23
4. Continuo em Mi de Denise Garcia
24
Processos Texturais sobre sinais intervalares e fluxo auditivo em Continuo em
Mi de Denise Garcia: dialogo e contexto como momento e local
4.1. Resumo
O objetivo deste artigo é demonstrar um olhar analítico de obras sobre estilo meccanico,
atribuído à bibliografia analítica de Ligeti, através de princípios como interval signals, auditory
streaming e análise textural paramétrica a fim de obter uma melhor compreensão da obra musical
Continuo em Mi de Denise Garcia. Através do dialogo entre estas três frentes principais para a
análise, passa-se a explicar os desafios auditivos apresentados pelo tratamento singularmente
textural e notável na escrita da obra. Associado a interpretação de massas sonoras, lançam-se novas
hipóteses para compreensão e organização da estrutura musical e seus agenciadores formais.
4.2. Introdução
Em uma obra em que os padrões de altura e intervalo evoluem gradual e suavemente sob
uma superfície articulada que se comporta "como um mecanismo de precisão", é a definição de um
estilo de escrita comumente atribuído à Gyorgy Ligeti: o estilo meccanico (HICK, 1993, p.172;
CAMBOUROPOULOS, 2009, p.120). Nesse contexto, como sugere Josef Hausler, o estilo não é nada
menos do que uma "visão traumática kafkiana e mecânica", que dita a "ansiedade das operações
mecânicas que se desfazem” (HÄUSLER, "Trompe-l'Oreille", p.12). Assim, "o que você percebe
como ritmo não é ritmo vindo da sucessão de notas tocadas por seus dedos. O ritmo real da peça é uma
pulsação que emerge da distribuição das notas, da frequência de suas repetições" (LIGETI, 1963, p.61).
Logo, as noções de cross-rhythms, micropolifonia, "massa sonora" e assim por diante são notáveis que
pode-se referir à maior parte de sua obra como "música de superfície", entendendo o intervalo e a forma
em seu trabalho como uma "composição que consiste principalmente em injetar um sistema de ligações
em ideias musicais ingênuas" a fim de criar uma "rede musicalmente consistente e vinculada" (LIGETI,
1963, p.124). É dentro deste contexto composicional que se insere a obra de Denise Garcia foco deste
artigo, a qual inclusive recebe o mesmo nome que uma das peças mais representativas do estilo
meccanico de Ligeti: Continuum/Continuo.
4.3. Objetivos
Da leitura deste artigo tem-se como objetivo apreender, a partir da obra Continuum em
Mi de Denise Garcia, as técnicas fundamentais de sinalização, bruma e discursividade, bem como
de percepção musical, que criam uma linguagem musical compreensível e flexível o suficiente para
25
permitir uma variedade de designs composicionais. Tais pontos surgem por sua apreciação já
demonstrar uma clara intertextualidade com repertório canônico de Ligeti além do interesse focado
num tratamento textural, onde a composição de massas sonoras apela à percepção e compreensão
sinestésica da obra. Assim a avaliação da textura pretende organizar a compreensão da obra sem se
deixar levar por particularidades próprias da escrita adotada ou de propriedades exclusivamente
sonoras (FERRAZ, 1990, p.78).
4.4. Metodologia
Em contato com bibliografia analítica sobre a obra Continuum de Ligeti, pode-se
estabelecer parâmetros de análise que tanto dialogam com o estado da arte da musicológica, quanto
se demonstraram analiticamente competentes. Desta forma, a partir da noção de interval signals e
auditory stream pretende-se satisfazer a análise tanto quanto propor um olhar didático sobre a obra
tanto quanto contextual que se mostra Continuum em Mi de Denise Garcia.
A noção de sinais intervalares (interval signals) é a percepção de classes intervalares
como agenciador da forma musical. A natureza desses sinais varia de acordo com o obscurecimento
por preenchimento (filling), por acréscimo (accretion) ou por deslocamento (shifting), sendo que
essas três técnicas fundamentais de “desfoque” (blurring) podem ocorrer em várias combinações
dentro de um único episódio de "nebulosidade" (HICK, 1993, p.174). A partir disto, pela relação de
integração/segregação do fluxo auditivo (auditory stream), pretende-se determinar como as
sucessões dos eventos musicais são percebidas como pertencentes a sequências estruturalmente
coerentes, subjacente a regras heurísticas de agrupamento de percepção por: Proximidade,
Semelhança, Continuação e Destino Comum (CAMBOUROPOULOS, 2009, p.124). Por fim, tudo
será tratado, tal como proposto por Silvio Ferraz, por uma análise textural segundo parâmetros de:
Densidade (Estratos Sonoros), Superfície e Encadeamento (Contorno) e Permeabilidade Variavel
(Estruturação Temporal dos Eventos).
26
Imagem 10 – Forma geral e estrutura de alturas da obra em representação esquemática (preto: padrão-mecânico, cinza:
sustentado; eixo x: tempo, eixo y: altura)
4.6. Conclusões
O Continuo em Mi de Denise Garcia é um exemplo representativo sobre a releitura do
estilo meccanico, na qual as rápidas ações físicas do instrumentista se desdobram gradualmente
criando um continuum musical orgânico. No presente artigo, os processos baseados em princípios
27
como interval signals, auditory streaming e análise textural paramétrica, são usados como
ferramenta analítica para explicar vários fenômenos musicais que aparecem na peça. Nesse
contexto, demonstrou-se como a percepção musical além da notação musical pode desempenhar um
papel direto na análise musical, fornecendo meios para outra compreensão da estrutura musical.
Além disso, a integração de perspectivas perceptuais e musicológicas na metodologia analítica
musical contemporânea enriquece não apenas nossa compreensão da estrutura musical, mas também
fornece uma estrutura mais ampla e mais "científica" para a análise musical que pode levar a várias
aplicações práticas pedagógicas, composicionais, computacionais e assim por diante.
b. Bibliografia Auxiliar
BREGMAN, A. S. (1990). Auditory Scene Analysis. Cambridge (Ma): The MIT Press.
CAMBOUROPOULOS, E. (2008) Voice and Stream: Perceptual and Computational Modeling
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CHAVES, Renan Paiva. Imagética musical: aspectos cognitivos da prática musical. Estudos e
Pesquisas em Psicologia, v. 11, n. 3, p. 1050-1057, 2011.
FERRAZ, Silvio. Música e repetição: a diferença na composição contemporânea. EDUC-
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HURON, D. (2001). Tone and Voice: A Derivation of the Rules of Voice-Leading from
Perceptual Principles. Music Perception, 19(1), 1-64.
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Tomes. Tome I. Paris: Alphonse Leduc, 1994.
SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da composição musical. Tradução de Eduardo Seincman.
São Paulo: Edusp, 1993.
28
5. II. Solene, Sonata para piano de Esther Scliar
29
A Harmonia do Nacionalismo de Vanguarda: o tratamento harmônico do
segundo movimento da Sonata para Piano de Esther Scliar
5.1. Resumo
Este artigo apresenta um estudo analítico sobre o segundo movimento da Sonata para
piano (1961) de Esther Scliar. Para tal, estabeleceu-se como foco de análise a linguagem harmônica
adotada, bem como sua consequência sendo elemento que agencia a forma musical. Sendo a Sonata
para piano de 1961 de seu conjunto de obras a única para piano solo remanescente, se abordará
traços composicionais a partir de afinidades com preceitos nacionalistas e neoclássicos no uso da
forma sonata, propondo um olhar analítico que enriqueça a compreensão da estrutura musical,
apresentando diversas aplicações práticas.
5.2. Introdução
Em contato com a produção analítica e biografia sobre a compositora, a Sonata para Piano
(1961) de Esther Scliar (1926-1978) apresenta-se como a única obra para piano solo remanescente.
Apresenta-se como uma obra representativa de seu repertório, sendo a obra premiada no concurso de
Composição da Rádio Mec no Rio de Janeiro no mesmo ano de sua composição. “A obra apresenta
traços de sua preocupação nacionalista, de sua atração pelos preceitos neoclássicos, e ainda evidências
do trabalho desenvolvido com o mestre Koellreutter, de quem Scliar foi aluna de composição a partir de
1947” (HOLANDA, 2005, p.853). Além disso, a partir da análise e escuta, observam-se outros traços
composicionais latentes do nacionalismo brasileiros e típicos dos integrantes do Grupo Música Vivos,
no qual atuava ativamente (NEVES, 191:104). Nesse sentido, verificam-se métodos de aplicação e
escrita de vanguarda relacionada ao uso de intervalos de quarta, modalismos, tópicas nacionalistas
(como a estrutura do tresillo) e um minucioso trabalho formal, todos revisitados a partir das noções
extraídas da pratica de sua época.
5.3. Objetivos
Frente ao contexto introdutório, da importância observada na época sobre questões
intervalares, interessa imensamente saber quais os resultados e soluções dadas ao tratamento
harmônico. Assim, através de um olhar analítico, os métodos de contraponto e encaminhamento de
vozes demonstram suprir a necessidade para esta compreensão, de modo que se extraiam resultados
e processos de sua escrita por um viés “cientifico”. Desta forma, o objetivo do trabalho é extrair
tópicos referentes ao trabalho harmônico adotado no segundo movimento da Sonata, assim
30
analisando métodos e resultados da escrita datada da obra que oferecem recursos tanto para
esclarecimento estrutural quanto elucidações práticas, beneficiando uma valorização, compreensão
e desenvolvimento do processo observável como sugestão prática.
5.4. Metodologia
Tal como exposto, para cumprimento da proposta do trabalho, verificou-se a escrita de
Scliar a partir do olhar harmônico sobre a perspectiva de resultantes harmônicas, consequente do
encaminhamento de vozes adotado pela compositora. Tal resultante reflete não apenas noções de
um método perceptivo, mas em contato com a análise observa-se sua função estrutural como agente
formal, de modo a garantir questões de ordem prática do compositor, principalmente tangente à
eficiência e solidez do material composicional como algo unificado e orgânico. Como questões de
ordem catalogar pode ser observado em bibliografias de análise sobre esta mesma obra, o presente
trabalho se assegura em demonstrar como a microestrutura corrobora a construção da forma,
evitando questões superficiais de contorno e noção escalares que não dialogam no sentido
horizontal da escuta temporal da obra. Tal moral advém do fato contextual de produção da obra
(época), de modo que apesar de centros claros o caminho percorrido analisado pela sucessão de
coleções individuais utilizadas não caracterizam processo (estilo).
31
Imagem 11 – Forma geral de estruturação sobre redução harmônica e encaminhamento de vozes no segundo movimento
da Sonata para Piano de Esther Scliar, compassos 1-8.
32
A análise dos primeiros oito compassos do segundo movimento de acordo com o
gráfico (Imagem 1), apontam não só um questão elucidaria mas uma proposta de processo
perceptivo e método aplicável de compreensão estrutural. O tema apresenta-se em razoável
congruência com o material harmônico, de modo que sugerir a sensação de suspensão La#-Sol#
consequente da proximidade insere Lá# ao material temático. Percebendo tal suspensão, as relações
de quarta que compõem o tema podem ser vista como encaminhamentos de duas camadas oriundas
do bloco inicial, sendo demonstrado no gráfico o bloco quartal Si-Mi-Lá# com encaminhamento:
Lá#-Sol#-Fá e Mi-Ré#-Dó# (Imagem 2). Desta mesma perspectiva questões intervalares também
são extraídas e demonstradas importâncias deste tratamento em congruência com outros trabalhos
analíticos (vide HOLANDA, 2006). Ainda podem-se retirar como conclusões questões baseadas na
Teoria dos Conjuntos, das quais o conjunto 5-29 é reiterado como resultante harmônica e estrutural
em diversos momentos deste segundo movimento. Por fim, ainda há insistência também em
relações harmônicas por terças, quartas e voicings caracterizados por coleções modais.
Imagem 12 – Resultado perceptivo do primeiro compasso temático sobre a perspectiva de Redução Harmônica e
Encaminhamento de Vozes no segundo movimento da Sonata para Piano de Esther Scliar.
5.6. Conclusões
De acordo com breve exposição, os resultados aqui demonstrados elucidam um
processo composicional ou método baseado na concepção e construção harmônica através de sólido
conhecimento de relações intervalares como agenciador da forma. Demonstrando grande destreza
composicional por parte da compositora, este olhar dos resultados, culmina em consciência dos
elementos derivativos, disponibilizando recursos práticos para metodologia analítica musical
contemporânea, bem como a de aplicações práticas pedagógicas, composicional, perceptivas,
performáticas, interpretativas e assim por diante.
33
5.7. Referências Bibliográficas
a. Bibliografia referenciada
AFONSO JUNIOR, Daniel Rufino. The a Cappella Works for Mixed Chorus of Esther Scliar
(1926-1978) Iowa: Iowa University, 2003. Dissertação (Doutorado em Artes), Departamento
de Música, Iowa University, 2003.
CAMBOUROPOULOS, Emilios; TSOUGRAS, Costas. Auditory Streams in Ligeti's
Continuum: A Theoretical and Perceptual Approach. Journal of interdisciplinary music
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CUNHA, Laura Cardoso. Feminaria Musical II: o que (não) se produz sobre música e mulheres
no Brasil nos anais dos encontros das associações musicais brasileiras. Redor-Encontro
Nacional Da Rede Feminista Norte E Nordeste De Estudos E Pesquisa Sobre A Mulher E
Relações De Gênero, v. 18, p. 3353-3980, 2014.
GERLING, Cristina Capparelli e HOLANDA Joana Cunha de. Os Verbetes ‘Sonata’ e ‘Forma
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Horizonte, v. 7, p.85-91.
HOLANDA, Joana Cunha de. Eunice Katunda (1915-1990) e Esther Scliar (1926-1978):
trajetórias individuais e análise de "Sonata de Louvação" (1960) e “Sonata para
Piano" (1961). 2006.
HOLANDA, Joana Cunha de; GERLING, Cristina Capparelli. A Sonata Para Piano De Esther
Scliar (1926-1978): linguagem harmônica e esquema formal. ANPPOM, p.852-859,
2005.
MACHADO, Aída. Esther Scliar- Um Olhar Perceptivo. São Paulo: USP, 2002. Dissertação
(Mestrado em Artes), Faculdade de Comunicação e Artes, USP, 2002.
NEVES, José Maria. Música Contemporânea Brasileira. São Paulo: Ricordi Brasileira, 1981.
SHEPARD, R. (1999). Cognitive Psychology and Music. In Music, Cognition and
Computerized Sound: An Introduction to Psychoacoustics. Perry R. Cook (Ed.).
Cambridge (Ma): The MIT Press.
b. Bibliografia Auxiliar
BREGMAN, A. S. (1990). Auditory Scene Analysis. Cambridge (Ma): The MIT Press.
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SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da composição musical. Tradução de Eduardo Seincman.
São Paulo: Edusp, 1993.
34
6. Pássaro Triste de Dinorá de Carvalho
35
O desenvolvimento rítmico-melódico e o caráter atonal da obra Passarinho
Triste de Dinorá de Carvalho: composição sobre o olhar de conjuntos e variação
6.1. Resumo
Este artigo apresenta um estudo analítico de Passarinho Triste para piano de Dinorá de
Carvalho, com o objetivo de compreender o tratamento rítmico como ferramenta composicional
aplicada aos motivos geradores e construção temática da técnica atonal. O estudo compreendeu a
consulta bibliográfica sobre a obra e história da compositora, contribuindo para a consolidação da
metodologia e método adotados. Tais fatos possibilitaram uma análise harmônica baseada na Teoria
de Conjuntos e uma análise rítmica através da verificação dos processos de variação adotados para
o desenvolvimento do discurso da obra.
6.2. Introdução
A compreensão das relações formais e estruturantes do estilo e da linguagem musical de
uma obra auxilia na memória lógica para sua execução (CERQUEIRA, 2009). Tal consciência dos
elementos composicionais atua diretamente na definição dos recursos fisiológicos, por exemplo, na
definição das digitações ou dedilhados mais adequados para executar as passagens musicais da obra,
bem como na definição de questões musicais ligadas a prática performática e interpretativa dos
instrumentistas. Nesse contexto, Passarinho Triste (1968) de Dinorá de Carvalho apresenta traços do
dualismo entre as estéticas atonal e dodecafônica europeia, apresentada da maneira como a compositora
concilia a utilização de certos processos seriais de composição aliado às características rítmicas diversas
e parâmetros intervalares pouco ortodoxas. Desta forma, a obra demonstra uma preocupação já contida
na estética musical da vanguarda brasileira de sua época, linguagem esta que muitas vezes e ainda hoje
se mostra ponto de segregação prática e conceitual entre os interpretes.
6.3. Objetivos
Da leitura deste artigo tem-se como objetivo apreender, a partir da obra Passarinho
Triste para piano de Dinorá de Carvalho, o tratamento rítmico como ferramenta composicional
aplicada aos motivos geradores e construção temática da técnica atonal. Assim, soma-se ressaltar
um foco analítico voltado a identificação de elementos rítmicos, intervalares e de contorno
aplicados sobre as influências da música atonal. Logo, buscou-se abordar as características de sua
construção harmônico-melódica e rítmica que sirvam de ferramenta para a compreensão das
características da obra, auxiliando a elaboração de concepções interpretativas e composicionais.
36
6.4. Metodologia
Para cumprimento dos objetivos desta análise, se utilizou como ferramenta as noções
advindas das técnicas analíticas da Teoria dos Conjuntos somadas à ampla bibliografia destinada a
relacionados a fundamentos de composição como, por exemplo, processos de criação e variação
bem como forma. Tal metodologia advém e dialoga com a influência do pensamento musical de
vanguarda europeia, observável na obra em questão, demonstrada adiante devido a estrutura
harmônico-melódica vinculada a uma linguagem atonal.
A partir desta questão estrutural, ou ponto crucial a formação intervalar recai sobre a
recorrência de certos conjuntos intervalares, principalmente: tricordes 3-4 (015), 3-5 (016), 3-8
(026) e 3-11 (037), além dos tetracordes 4-16 (0157) e 4-20 (0158). Estes tetracordes tem como
subsets os tricordes acima citados, de modo que, devido a suas combinações intervalares, se cria
uma unidade sonora e estrutural a partir da recorrência intervalar. Vale ressaltar, que no decorrer da
análise ainda se mostraram outros tri e tetracordes, contudo, estes se definem estruturalmente.
37
A partir da recorrência dessa questão intervalar, verificou-se o trabalho rítmico que
funciona sobre a consequência derivada das células base do tema. Neste sentido, as noções que mais
importam para este tipo de análise proposta é observar permanências e mudanças, adições e
subtrações de acordo com o padrão proposto. Logo, tem-se o padrão retirado do primeiro compasso,
do qual se extrai parâmetros rítmicos e texturais fundamentais a estruturação da obra. V ale ressaltar
que a obra em uma visão geral, molda-se pela lógica de independência na relação entre
acompanhamento e melodia, tanto em contorno quanto ritmo (DA SILVEIRA RANNA, 2016).
Imagem 15 – Padrão de contorno, ritmo e textura retirada da célula base temática em comparação com partitura.
6.6. Conclusões
Pela metodologia aplicada nesta análise, observou-se que Dinorá de Carvalho não se faz
uso de qualquer a técnica dodecafônica de maneira estrita. No entanto, apresenta diversas formas de
manipulações tipicamente seriais como permutação, fragmentação, transposição, deslocamentos de
oitavas e verticalização dentre outras, que se dão de forma muito livre no decorrer da obra. Um
exemplo de aplicação do pensamento dodecafônico de forma não estrita pode ser visto na maneira
de apresentação das doze notas do total cromático no tema. Todavia, este raciocínio é apenas uma
analogia que Dinorá fez à técnica serial, reinterpretada e posta em um contexto mais próximo de
uma linguagem atonal em si. Sendo assim, a partir de toda a exposição dos resultados, Tal
consciência dos elementos derivado de questões estruturais intervalares, atua-se diretamente na
definição de recursos práticos para metodologia analítica musical contemporânea, enriquecendo não
apenas nossa compreensão da estrutura musical, levando a várias aplicações práticas pedagógicas,
composicionais, computacionais, performáticas, interpretativas e assim por diante.
38
6.7. Referências Bibliográficas
a. Bibliografia referenciada
ALVES, Aline; MARTIN, Maurícy. Fusão estilística nas Variações Rítmicas, Opus 15 de
Marlos Nobre. Performa‟11, 2011.
CARVALHO, Flavio Cardoso de et al. Canções de Dinorá de Carvalho: Uma análise
interpretativa. 1996.
CERQUEIRA, Daniel Lemos. Proposta para um modelo de ensino e aprendizagem da
performance musical. OPUS, v. 15, n. 2, p. 105-124, 2009.
DA SILVEIRA RANNA, Luís Cláudio Cabral; MEIRINHOS, Eduardo. Duas transcrições para
canto e violão de canções para canto e piano de Dinorá de Carvalho: processos
composicionais e adaptação ao idiomatismo técnico instrumental. Revista Vórtex, v. 4,
n. 3, 2016.
DOS SANTOS, Lucivan. Presença de Dinorá de Carvalho (1895-1980) no acervo de Mário de
Andrade. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, n. 39, p. 205-214, 1995.
TAFFARELLO, Tadeu Moraes; PASCOAL, Maria Lúcia. Coleção Dinorá de Carvalho do
acervo CDMC: histórico e constituição.
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MESSIAN, Oliver. Traité de Rythme, de Couleur, et d’Ornithlogie: (1949-1992) em Sept
Tomes. Tome I. Paris: Alphonse Leduc, 1994.
SCHOENBERG, Arnold. Fundamentos da composição musical. Tradução de Eduardo Seincman.
São Paulo: Edusp, 1993.
39
7. Contrastes de Marisa Rezende
40
Percepção como Interação em Contrastes de Marisa Rezende: a noção de arte de
participação aplicada à escuta por Gestalt, auditory stream e intertextualidade
7.1. Resumo
Este artigo apresenta um estudo analítico-perceptivo sobre a obra Contrastes (2001) de
Marisa Rezende. Da leitura deste trabalho pretende-se, primeiramente, estabelecer o ato de escuta
como um processo que reside em noções de uma “arte participativa”. A partir desta premissa, se
discorrerá sobre um processo perceptivo de apreciação da obra Contrastes de Marisa Rezende.
Guiada por noções de percepção e analise, almeja-se discutir e refutar o processo individual de
escuta como agente de interatividade e construção de significado estrutural da obra em questão.
7.2. Introdução
Demonstra-se cada vez mais próximo do estado atual da arte a discussão sobre recepção e
interatividade, datando praticas por quase todo o século XX. No caso da música, se não se realiza de
forma ativa, esta interatividade acaba recaindo especialmente ao participante próprio deste tipo de
pratica artística: o ouvinte, o receptor. Para L. Ferrara “A participação do receptor é tônica que perpassa
os manifestos da arte moderna em todos os seus momentos e caracteriza a necessidade de justificar a sua
especificidade” (FERRARA, 1981 apud PLAZA, 2003). Tal fato estabelece uma intertextualidade ao
conteúdo musical, introduzindo um novo modo de leitura que faz estalar a linearidade do texto, cujo
vocabulário é a soma dos textos existentes e plausíveis à interpretação. Assim, o importante é a ideia de
uma Estética da Recepção, em que “os atos de leitura e recepção pressupõem interpretações
diferenciadas e atos criativos que convertem a figura do receptor em co-criador” (PLAZA, 2003, p.12).
7.3. Objetivos
A parit desta introdução, chamo atenção para a ideia de que o contato proporcionado
pela escuta de uma obra proporciona um ambiente interativo entre compositor e ouvinte, de modo
que o segundo se torna co-criador, numa interação passiva, reafirmando os aspectos que
subjetivamente julga importante da obra. Pela apreciação do repertório de Marisa Rezende, tal fato
mostrou-se latente à minha escuta, especialmente em obras como “Ressonâncias”, “Mutações” e
“Contrastes”. Ambas tem em comum o piano como instrumento, mas também o fato de seus títulos
trazerem preposições estruturais – expectativas – das quais se espera que, de certo modo, sejam
esclarecidas durante a escuta da obra no tempo. Logo, é deste interesse, perceptivo e estrutural
relacionado à escuta, que o trabalho se debruça, fazendo uma análise do processo perceptivo a partir
de uma experiência individual do autor em contato com a obra Contrastes (2001).
41
7.4. Metodologia
Parafraseando noções Cubistas das artes plásticas, o olhar abre a discussão interpretativa
a uma quarta-dimensão de percepção, que neste trabalho defino como sendo a percepção e
reafirmação da obra numa escuta de presente, expectativa e retrospectiva. Sim, digo cubismo, pois
“a estética cubista se fundamenta na destruição da harmonia clássica das figuras e na decomposição
da realidade” (PROENÇA, 1996, p. 156), assim “sua estrutura formal é a demonstração de que é
possível enganar o tempo, e que a matéria que está contida no espaço é o que o define e lhe dá
significado. São esses observadores virtuais que observam a tela cubista e criam mundos distintos
da tridimensionalidade” (PEREZ, 2007, p.62). Por fim, “A percepção é um exercício de confronto
entre diferentes sistemas e sentidos. Essas tensões produzem a necessidade da criação de um campo
poético, no qual a visão de mundo particular de cada um pode se tornar questionável” (AMARAL,
2008, p.46). Tal cenário, gera um intervalo (espaço de sentido) que aqui será correlacionado a
noção de Vazio, sendo que “na estética oriental o “vazio” não é algo para ser preenchido (como na
visão ocidental), mas algo que seria “Gestalt” (ou unidade de percepção), manancial prenhe de
potência de onde, pela dança da energia, nascem todas as formas” (PLAZA, 2003, p.13). Assim,
parafraseando Georges Braque: “o que interessa é o espaço entre objetos e não os objetos. É o
intervalo que possibilita a leitura do heterogêneo (do outro) e não do homogêneo (o mesmo)” (apud
PLAZA, 2003, p.13), frase que define a leitura realizada para os objetivos do trabalho, identificar o
espaço de percepção dos objetos por meio dos princípios acima assinalados.
42
Imagem 16 – materiais x e y (vide SENNA NETO, 2007) e excerto representativo da proposta perceptiva.
7.6. Conclusões
Parafraseando um paragrafo de Janete da Silva, “conforme Chipp, a cor enquanto
expressão da luz, claro-escuro, continua a ser usada como meio de criar formas e se mantém em
dois acordes harmônicos: amarelo-ocre e cinza, e verde e cinza (CHIPP, 1999, p.257). Assim, as
cores dão expressão ao plano pictórico. A cor não anula o caráter da forma da imagem, está
servindo de referência visual para o que ocorre nos limites da composição” (apud SILVA, 2014,
p.24). Como visto, a observação da obra Contrastes como composta por dois materiais x e y, tal
qual definido por Caio Senna Neto (2007), dialogam muito com “dois acordes harmônicos” de cor e
caráter citado por Chipp (1999), que por um processo de escuta numa visão temporal, extrai-se “a
43
razão de os meios tradicionais não propiciarem a percepção individual dos elementos que a constituem,
dado a percepção de boa parcela da música do século XX acontecer por meio de blocos sonoros em suas
interligações e transformações no decorrer da composição” (MACEDO, 2013, p.117). Tais noções
dialogam estritamente com a obra de Rezende, especialmente explicado por Silvio Ferraz em Primeiro
afeto: como jogar notas ao vento (2006), explicando como o caso de Ressonâncias (1983) abre porta a
outras noções perceptivas. Logo da leitura deste artigo aborda-se a noção perceptiva utilizando como
meio diversas noções e relações interdisciplinares que se voltam à retrospectiva e entendimento da
estrutura da obra por questões de dicotomia temporal.
44
IV. Conclusão: Análise do processo de pesquisa
45
Como dito, este projeto prestou continuidade ao projeto contemplado pelo Programa
PUB 2017/2018, tendo como principal objetivo realizar análises formais de obras musicais
compostas séculos XX e XXI, aplicando estratégias para a percepção, teorias e técnicas de análise
consolidadas internacionalmente. Diante disso, as obras específicas selecionadas tanto para
apreciação, discutida neste relatório, quanto para análise, expõem como resultado neste relatório a
expectativa deste projeto debruçada sobre o trabalho de compositoras brasileiras. Foram elas:
Dinorah de Carvalho (MG, 1905-1980), Ester Scliar (RS, 1926-1978), Marisa Rezende (RJ, 1944),
Alda de Oliveira (BA, 1945), Denise Garcia (SP, 1955) e Valéria Bonafé (SP, 1984).
Os dados levantados interagem como estudo crítico de técnicas emergentes para a
análise de obras musicais compostas nos séculos XX-XXI, integrando a linha de pesquisa em
Musicologia, Teoria e Análise Musical, cujo desenvolvimento no Brasil interage efetivamente com
as pesquisas internacionais. No esteio do recente processo de solidificação das pesquisas brasileiras
sobre música, vários trabalhos de pesquisadores brasileiros têm tido momentos de interlocução com
as pesquisas internacionais. Também deste projeto, o agrupamento de métodos analíticos recentes
referenciados durante o trabalho realizado, representa a completude da produção acadêmica
proposta pelo projeto.
Por fim, os exemplos musicais que integram o corpo teórico desse trabalho versam
somente sobre a produção brasileira e feminina, possibilitando, sobre tudo, um maior conhecimento
sobre as obras que têm sido compostas no Brasil durante o Século XX, tendo como consequência a
correlação direta com produções de outros países que formam a América Latina, por sua
proximidade geográfica e cultural. O projeto teve por objetivo analisar essas obras levantadas por
fases, e acabou mostrando a engenhosidade das abordagens composicionais de mulheres brasileiras,
contribuindo para sua legitimação junto aos estudos teóricos internacionais da área de Música.
46
V. Referências Bibliográficas
47
Bibliografia obrigatória do projeto
AGAWU, Kofi. How We Got out of Analysis, and How to Get Back in Again. Music Analysis, New Jersey,
p. 267-286, jul-out. 2004.
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STRAUS, Joseph. Introdução à Teoria Pós-Tonal. 3 ed. Tradução de Ricardo Mazzini Bordini. Salvador:
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WHITTALL, Arnold. Form. In: SADIE, Stanley; TYRRELL, John (Ed.). The New Grove Dictionary of
Music and Musicians. 2. ed. London: Macmillan Publ., 2001.
48
VI. Anexos
49
Anexo
AGUIRRE, Julián; BAZÁN, Oscar; BÉRTOLA, Eduardo; BUDÓN, Osvaldo; ESCALANTE, E.;
Argentina ETKIN, Mariano; GANDINI, Gerardo; GINASTERA, Alberto; GUASTAVINO, C.; LASALA, A.;
MASTROPIETRO, Carlos; MUCILO, L.; PARASKEVAÍDIS, Graciela; PIAZOLLA, Astor.
CABA, E.; GARCIA, Oscar; LEONARDINI, Guilhermo; MAIDANA, José María Velasco;
Bolívia
PRUDENCIO, Cergio.
ANDRADE, Rafaele; BARBOSA, Cacilda B.; CÂMARA, Marcos; CAMARGO GUARNIERI, M.;
CORRÊA, Sergio Vasconcellos; DOTTORI, Maurício; EDLER-COPES, Aurelio; ESCOBAR,
Aylton; ESPINOZA, Nico; FLORENTINO, Felipe André; GATI, Tiago; KATUNDA, Eunice; KOZU,
Fernando; KRIEGER, Edino; LACERDA, O.; LOMBARDI, N.; MACHADO, Henrique; MAHLE,
Brasil
E.; MELLO, Chico; MENDES, G.; MESTRE, André; MIRANDA, Ronaldo; OLIVEIRA, Helder;
PASCALE, Rodrigo; PIGARI, Lucas; PRESSUTO, Renato; RAMOS, Tarso; RAPOSO, Paulo
Henrique; RINALDI, Arthur; SOUZA, Ladson; SOUZA, R. Coelho de; VIERIRA, A.; VILLANI-
CORTES, E.; BIRGILLIO, Eduardo; ZAMPONHA, Edson;
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Anexo
O diom tico de Camargo Guarnieri nas obras para piano Alex Sandra Grossi 2004 10
Música eletroacústica: permanência das sensações e situação de escuta Carole Gubernikoff 2005 11
Uma análise das fugas para piano de bruno kiefer: padrões estilísticos Rafael Liebich, Any Raquel
2005 11
na sua escrita contrapontística Carvalho, Cristina Capparelli
Alberto Ginastera y el dodecafonismo: El Concierto para viol n (1963) Edgardo J. Rodríguez 2010 16/ 2
Compositores Latino-Americanos and New Paradigms of the 20th Eliana Monteiro da Silva,
2013 19/ 2
Century Classical Music Almicar Zani
Tabela 3 - Artigos extraídos da revista opus, parte da bibliografia do edital PUB 2017/2018
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