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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PPG


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES ÉTNICAS E
CONTEMPORANEIDADE – PPGREC
ÓRGÃO DE EDUCAÇÃO E RELAÇÕES ÉTNICAS – ODEERE
PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM RELAÇÕES ÉTNICAS E
CONTEMPORANEIDADE
LINHA DE PESQUISA 1: ETNICIDADE, MEMÓRIA E EDUCAÇÃO

ROSEMARY SANTOS SOUZA

PROJETO DE PESQUISA

ETNICIDADES DA MULHER QUE PROCURA O SUS NA CIDADE DE


JEQUIÉ/BA: IDENTIDADE EM PROCESSO

JEQUIÉ/BA
2019
ROSEMARY SANTOS SOUZA

PROJETO DE PESQUISA

ETNICIDADES DA MULHER QUE PROCURA O SUS NA CIDADE DE


JEQUIÉ/BA: IDENTIDADE EM PROCESSO

Projeto de pesquisa elaborado para avaliação na


Disciplina Metodologia da Pesquisa, ministrada
pela Professora Drª Ana Angélica Leal Barbosa,
do Mestrado Acadêmico em Relações Étnicas e
Contemporaneidade, do Programa de Pós-
Graduação em Relações Étnicas e
Contemporaneidade (PPGREC), oferecida pelo
Órgão de Educação das Relações Étnicas
(ODEERE).
Linha 1: Etnicidade, memória e educação

JEQUIÉ/BA
2019
1. INTRODUÇÃO/JUSTIFICATIVA

Este trabalho surge da inquietação em identificar os elementos étnicos que envolvem o


processo formação da identidade das mulheres que utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS)
na cidade de Jequié-Bahia, no Bairro Mandacaru, usuárias1 do Centro de Saúde Sebastião
Azevedo (CSSA), cadastradas do Programa de Saúde Hiperdia, hipertensão arterial (HAS) e
diabetes mellitus (DM), bem como demonstrar as etnicidades que se entrelaçam entre os
elementos constitutivos do grupo social no qual essa mulher está inserida. Nota-se que a
dificuldade em informar a identidade étnica se mostra presente entre mulheres, na maioria,
com idade inferior a 40 anos, assistidas pelo espaço em questão.
Considerando que as discussões sobre relações étnicas têm se aflorado com muita
força em diferentes áreas do conhecimento, na tentativa de se entender e valorizar os
diferentes elementos constitutivos do povo brasileiro, bem como entender como se dá o
processo de formação da identidade individual, esta pesquisa tem sua relevância na
perspectiva de verificarmos como a não atenção às etnicidades podem afetar os cuidados da
saúde dessas mulheres cadastradas nos Programas de Saúde oferecidos pelo SUS.
No âmbito pessoal, esta pesquisa traz um marco referencial de formação de minha
própria identidade; a relevância social e acadêmica reside no fato de ser oportuno o momento
de pesquisas relacionadas a este tema, podendo despertar interesse em levantar reflexões
acerca do atendimento no cuidado da saúde da população negra por parte dos profissionais
desses referidos programas.
Diante da premissa da formação da identidade étnica, optou-se por discutir o processo
de formação da identidade da mulher usuária do SUS na cidade de Jequié/BA, fomentando a
seguinte problemática: Que elementos étnicos influenciaram no processo de formação da
identidade étnica da mulher usuária do SUS na cidade de Jequié, moradoras do bairro
Mandacaru?
O problema de pesquisa diz respeito àquilo que se pretende responder. Surge da
percepção de um fenômeno que se repete cotidianamente mas não se consegue responder

1
Usuário, cliente, paciente?
Cliente é a palavra usada para designar qualquer comprador de um bem ou serviço, incluindo quem confia sua
saúde a um trabalhador da saúde. O termo incorpora a ideia de poder contratual e de contrato terapêutico
efetuado. Se, nos serviços de saúde, o paciente é aquele que sofre, conceito reformulado historicamente para
aquele que se submete, passivamente, sem criticar o tratamento recomendado, prefere-se usar o termo cliente,
pois implica em capacidade contratual, poder de decisão e equilíbrio de direitos. Usuário, isto é, aquele que usa,
indica significado mais abrangente, capaz de envolver tanto o cliente como o acompanhante do cliente, o familiar
do cliente, o trabalhador da instituição, o gerente da instituição e o gestor do sistema.
baseado no senso comum, e sim, a partir da construção de uma base teórico-metodológica,
com autores que tratam do fenômeno específico observado (MINAYO, 2002)2.
A opção pela escolha do gênero citado, surgiu da observação da persistência de um
quantitativo maior de mulheres participantes, assíduas dos programas de saúde que assistem à
comunidade do bairro Mandacaru, por conta dos homens serem menos participativos, apesar
do empenho das Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) da unidade de saúde, realizar um
trabalho de conscientização em campo sobre a importância do cadastro e seguir a agenda de
atendimento mensal com a profissional responsável pelo Programa de Saúde.
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2009)3, o Sistema Único de Saúde (SUS), é
regido por princípios e diretrizes que permitem cumprir a tarefa de promover e proteger a
saúde da população. Para tal, o SUS se organiza conforme alguns princípios, previstos no
artigo 198 da Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 8.080/1990. Esta lei regula, em todo o
território nacional, as ações e serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em
caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou
privado, tendo como base três princípios básicos: universalidade, integralidade e gratuidade.
As ações e serviços de saúde devem ser pautados pelo princípio da humanização, o
que significa dizer “que as questões de gênero (feminino e masculino), crença, cultura,
preferência política, etnia, raça, orientação sexual, populações específicas (índios,
quilombolas, ribeirinhos etc.) precisam ser respeitadas e consideradas” na organização das
práticas de saúde. Significa dizer também, que essas práticas devem estar relacionadas ao
compromisso com os direitos do cidadão (BRASIL, 2009, p. 17).
Para que as políticas públicas direcionadas à saúde consigam ser implementadas e
aplicadas, o Ministério da Saúde propõe a realização de ações educativas em cada programa
existente nas unidades de saúde de todo país, voltadas para o público específico, conforme
datas comemorativas na área de saúde.
Na unidade de saúde em questão, Centro de Saúde Sebastião Azevedo (CSSA) realiza-
se palestras, encontros e salas de espera com subtemas relacionados à saúde da população em
geral, em suas diferentes fases da vida conduzindo os usuários à conscientização sobre a
importância dos cuidados com a saúde, principalmente no que diz respeito à prevenção.

2
MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes,
1994. 21ª ed, 2002.
3
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. O trabalho do
agente comunitário de saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção
Básica. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009. 84 p. : il. – (Série F. Comunicação e Educação em Saúde).
O interesse peculiar pela temática, parte da observação enquanto agente administrativa
da Unidade de Saúde em questão, onde percebe-se que há um certo desconforto por parte de
algumas mulheres, fenotipicamente negra, cor da pele e traços físicos (a partir da
heteroidentificação), mas que não se reconhecem como pertencentes ao grupo étnico das
características citadas acima, antes se declaram pardas ou morenas, ou que ficaram expostas
ao sol, em uma tentativa explícita de negarem ou não reconhecerem seu pertencimento étnico-
racial em relação às demais componentes do grupo cujas características se opunham àquelas.
Assim, o eixo central das discussões desta pesquisa estará envolto das seguintes
categorias: etnicidade, identidade étnica, cultura, raça. Em pesquisas qualitativas com técnica
de observação participante, que é o caso desta pesquisa, outras categorias podem surgir assim
como alguma das categorias propostas pode não aparecer.
Este fenômeno, e com o problema já posto, seguiu-se em direção à construção das
hipóteses que se pretende confirmar ou negar, a partir do questionamento levantado:
- A mulher nega sua identidade étnica, pois no processo de formação, seu grupo social
não identifica etnicidades como pertencente àquele grupo;
- A mulher assume sua identidade étnica, pois na sua relação com o “outro” ela não
omite suas etnicidades;
- A mulher assume sua identidade étnica conforme semelhanças com suas etnicidades
do grupo social no qual está inserida.

Pensando que as identidades não são homogêneas, nem contínuas, Hall4 (2006),
afirma que as mesmas estão sujeitas à mudanças sociais e aos desdobramentos das
conjunturas políticas local e global, mas não obedecem a um modelo fixo.
Desse modo, para se entender a construção de identidade, “é muito mais proveitoso
entendê-la a partir das relações que os membros de certos grupos articulam com outros
considerados como diferentes” (LUCENA; LIMA, 2009, p. 35)5. O ato de considerar-se negro
significa a negação de um estereótipo social cuja afirmação condiz com as regras sociais
vigentes.
O objetivo geral, para que se possa seguir uma linha de raciocínio literária, assim foi
constituído no intuito de Identificar de que maneira os elementos/marcadores étnicos

4
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução de Tomaz Tadeu da Silva e Guacira
Lopes Louro. Rio de Janeiro: DP&A editora, 2006. 102 p.
5
LUCENA, Francisco Carlos de. LIMA, Jorge dos Santos. Ser negro: um estudo de caso sobre “identidade
negra”. SABERES, Natal – RN, v. 1, n.2, maio 2009.
influenciaram no processo de formação da identidade étnica da mulher usuária do SUS
na cidade de Jequié/BA.
A escolha desse objetivo está delineada de questionamentos subjetivos no tocante a
representação dos sujeitos envolvidos neste processo, o tratamento das histórias de vida
dessas mulheres e se a etnia tem alguma interferência no processo saúde e doença das
mulheres atendidas no Programa de Saúde Hiperdia.
Para responder ao objetivo geral, traçou-se os seguintes objetivos específicos:
- Investigar as identidades étnicas das mulheres usuárias do SUS;
- Identificar os elementos/marcadores étnicos das mulheres usuárias do SUS;
- Verificar como se dão as relações de etnicidade entre as mulheres usuárias do SUS, no
Programa de Hiperdia com os(as) profissionais que as acompanham;
- Verificar a relevância do processo de formação da identidade da mulher usuária do
SUS cujas etnicidades apontam sua identidade étnica, no processo de saúde e doença
na unidade de saúde.

As categorias levantadas para embasar as discussões (cultura, etnicidade, identidade


étnica, raça/racismo) terão aporte nos principais autores discutidos durante o período de
ministração de aulas e que são referência para o Programa de Pós-Graduação do qual faço
parte.
Assim, o aporte teórico que fundamentará esta pesquisa será os estudos de Philippe
Poutignat e Jocelyne Striff-Fenart, Fredrik Barth, Manuela Carneiro da Cunha, Roberto
Cardoso de Oliveira, Stuart Hall, Tomaz Tadeu da Silva, Roque de Barros Laraia e Kabengele
Munanga para dialogarmos sobre cultura, etnicidade, identidade étnica e raça/racismo; sobre
gênero, Ângela Davis e Cláudia Fonseca. Reiteramos que outros/as estudiosos/as e
escritores/as podem aparecer nas discussões, caso seja necessário.
Por se tratar de um estudo que envolve também a saúde da população negra, há uma
base estrutural da saúde em nosso país através do Ministério dos Direitos Humanos (MDH),
que atua juntamente com o Ministério da Saúde (MS) no acompanhamento da Política
Nacional de Saúde, e tem como marcas o reconhecimento do racismo, das desigualdades
étnico-raciais e do racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde,
com vistas à promoção da equidade em saúde. Sendo seu objetivo promover a saúde integral
da população negra, priorizando a redução das desigualdades étnico-raciais, o combate ao
racismo e à discriminação nas instituições e serviços do Sistema Único de Saúde (SUS)6.
Apesar de racismo não fazer parte das categorias elencadas de nosso estudo, existe
uma necessidade teórica e prática em se falar do mesmo, pois é uma realidade presente em
pleno século XXI em nosso país, apesar das constantes e contínuas campanhas e eventos que
discutem formas de combate.
Certamente o racismo perpassa pelo processo de formação de identidade do sujeito de
pesquisa deste trabalho, assim abordaremos seu conceito e definição a fim de melhor
esclarecer o sentido que ele exerce nesse processo.

6
MDH e MS trabalham pela execução da Política Nacional de Saúde integral para população negra publicado:
19/06/2018 18h12, última modificação: 19/06/2018 18h12. Disponível em: https://www.mdh.gov.br/todas-as-
noticias/2018/junho/mdh-e-ms-trabalham-pela-execucao-da-politica-nacional-de-saude-integral-para-
populacao-negra. Acesso em 10 jun 2019.
2. REFERENCIAL TEÓRICO

Na realização deste ponto, cuja função é a busca em sites e portais acadêmicos em que
se pode encontrar estudos sobre o tema que se pretende pesquisar. Segundo a autora Gerhardt7
(2009), revisão bibliográfica ou estado da arte, “é expor resumidamente as principais ideias já
discutidas por outros autores que trataram do problema, levantando críticas e dúvidas, quando
for o caso” (GERHARDT; SILVEIRA, 2009, p.66).
Este projeto visa responder ao questionamento sobre a influência dos elementos
étnicos na formação da identidade étnica da mulher usuária dos serviços de saúde do Sistema
Único de Saúde em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), na cidade de Jequié/BA, com
moradoras do bairro Mandacaru.
O problema proposto nesse estudo, como se deu o processo de formação da identidade
étnica, perpassa pelos conceitos de cultura, etnicidade, raça e identidade étnica relacionados
ao uso dos serviços de saúde oferecidos pelo SUS, conseguimos encontrar artigos que
tratassem da temática específica, e artigos com problemáticas semelhantes com temas sobre
saúde da população negra, saúde da mulher, construção da identidade da mulher nos
diferentes espaços sociais, dentre outros. Desta forma, após leitura de alguns resumos,
escolhemos três artigos para fundamentar essa revisão de bibliografia:
1) A identidade da mulher na modernidade, de Josênia Antunes Vieira, relata
as mudanças na constituição da formação da identidade da mulher frente às
novas perspectivas da modernidade e como as transformações sociais podem
interferir nesse processo.
2) Atuação de enfermeiros sobre práticas de cuidados afrodescendentes e
indígenas, de Maria do Rosário de Araújo Lima et al, cujo objetivo foi analisar
a atuação de profissionais de enfermagem em Programas de Saúde da Família
sobre o conhecimento da origem de grupos étnicos específicos, afro-
descendentes e indígenas.
3) Da concordância à ação: reflexões sobre raça, etnicidade e saúde na
América Latina, de Simone Monteiro e Lívio Sansone (orgs), que analisou as
questões étnico-raciais, étnicas e de racismo frente às políticas públicas no

7
GERHARDT, Tatiana Engel. SILVEIRA, Denise Tolo (orgs). Métodos de pesquisa. coordenado pela
Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRGS e pelo Curso de Graduação Tecnológica – Planejamento e
Gestão para o Desenvolvimento Rural da SEAD/UFRGS. – Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
âmbito da América Latina em que são consideradas as questões subjetivas, de
cor, condição social no processo saúde/doença.

Faremos uma retrospectiva dos fundamentos da antropologia, por ter o homem como
seu principal objeto de estudo. E, a partir daí, adentrarmos nos aspectos referenciais
categóricos, objetos de estudo deste projeto.
Segundo Laplatine8 (1997), a antropologia surge a partir do final do século XVIII, com
cunho científico, tomando o homem como objeto de conhecimento, aplicando nele os
métodos até então utilizados em outras áreas do saber (física ou biologia, por exemplo.).
No tocante às explicações do ponto de vista antropológico, há muito têm-se tentado
explicar as diferenças de comportamento entre os homens, a partir de variáveis ambientais e
genéticas, mas a discussão que se trava entre antropólogos, que tanto geográfica como
biologicamente não são meios de comprovação das diferenças entre os homens (LARAIA,
2001)9.
Até então via-se o homem enquanto mito, arte, teologia, filosofia mas não numa
perspectiva teleológica, tendo em vista a visão empírica da ciência. Por conta disto um dos
primeiros objetos de estudo da antropologia foram as sociedades primitivas10 não pertencentes
à civilização ocidental do início do século XX.
Na pós-modernidade, com o avanço da tecnologia e a difusão de diferentes formas de
comunicação, o contato ou a fricção interétnica tem sido comum entre diferentes grupos e
indivíduos de ordem nacional, racial ou cultural (OLIVEIRA, 2003a)11.
Santos12 (1994), nos afirma que todas as mudanças ocorridas na história da
humanidade são marcadas por contatos e conflitos, quer por forças internas ou como
consequência direta desses conflitos.
Laraia13, assim como Laplatine (1997) nos mostra que a cultura acontece através de
um processo de aprendizagem, portanto a escola tem um importante papel na formação do
indivíduo. Os determinantes da cultura são discutidos e analisados sob uma ótica crítica no

8
LAPLATINE, François. Aprender antropologia. Trad.: Marie-Agnès Chauvel. 4ª ed. São Paulo: Brasiliense,
1991. (10 reimpressão, 1997).
9
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 14 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 2001.
10
Comunidades camponesas européias depois grupos marginais e hoje, na França, o setor urbano.
11
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Identidade étnica, identificação e manipulação. In: OLIVEIRA, Roberto
Cardoso de. Identidade, etnia e estrutura social. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1976. Rev. Sociedade e
Cultura. v.6, n.2, jul/dez.2003. p.117-131.
12
SANTOS, José Luíz dos. O que é cultura? 14ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. Coleção Primeiros Passos.
13
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 11 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1997. (Coleção antropologia Cultural).
intuito de esclarecer aos leitores quais os fatores, no decorrer da história, se consolidaram
como determinantes da cultura.
Por constituir-se de uma globalidade de aspectos e da forma como estes retratam as
diversidades históricas e geográficas com vistas a construir um arquivo da humanidade em
suas diferenças significativas nos deteremos no cerne da antropologia social e cultural,
seguindo o conceito que o próprio Laplatine (1997, p. 120) dá para as duas:

O social é a totalidade das relações (relações de produção, de exploração, de


dominação...) que os grupos mantêm entre si dentro de um mesmo conjunto
(etnia, região, nação...) e para com os outros conjuntos, também
hierarquizados. A cultura, por sua vez não é nada mais que o próprio social,
mas considerado dessa vez sob o ângulo dos caracteres distintos que
apresentam os comportamentos individuais dos membros desse grupo, bem
como suas produções originais (artesanais, artísticas, religiosas...)
(LAPLATINE, 1997, p. 120)

A partir dessa definição entendemos que o homem é produto das escolhas culturais
que o próprio faz para viver nesta ou naquela sociedade. E o que traz a unidade do homem é,
justamente seus modos de vida diversificados e de organização social. Isto é, o que caracteriza
a unidade do homem é, justamente a variação cultural e sua identidade étnica.
Essa variação nunca foi pensada como diferente, mas frequentemente, pensa-se em
reduzi-la, supondo sempre a unificação, a igualdade, rompendo a diversidade intrínseca a todo
ser humano, tornando-o, enquanto ser pensante, alienado a um único modo de vida.
Pensando nesse sentido, de que a identidade é construída a partir da individualidade
dentro de um contexto coletivo, Oliveira14 (2003a), discute o conceito de identidade, descreve
algumas modalidades de constituição da identidade bem como sua explicação e por fim
aponta a importância desta investigação nas relações interétnicas.
O autor apresenta conceitos de etnia e de grupo étnico como justificativa para a
inclusão de identidade étnica nas discussões, partindo da crítica feita que Fredrik Barth (1969)
apud Oliveira15 (2003a), faz ao conceito de grupo étnico como “unidade portadora de cultura”
como um “modelo organizacional”, deduzida da literatura antropológica, apresenta algumas
características que definem um grupo étnico:

14
OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Identidade étnica, identificação e manipulação. Rev. Sociedade e Cultura.
v.6, n.2, jul/dez.2003. p.117-131. In: OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Identidade, etnia e estrutura social. São
Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1976.
15
OLIVEIRA, Roberto C. de. Identidade étnica, identificação e manipulação. Rev. Sociedade e Cultura. v.6, n.2,
jul/dez.2003. p.117-131. In:OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Identidade, etnia e estrutura social. São Paulo:
Livraria Pioneira Editora, 1976.
a) ‘se perpetua principalmente por meios biológicos’; b) ‘compartilha de
valores culturais fundamentais, postos em prática em formas culturais num
todo explícito’; c) ‘compõe um campo de comunicação e interação’; d) ‘tem
um grupo de membros que se identifica e é identificado por outros como
constituinte de uma categoria distinguível de outras categorias da mesma
ordem’ (BARTH, 1969, apud OLIVEIRA, 2003a, p. 117).

O que se pode extrair dessa exposição é a importância de compartilhar a cultura


comum. Barth afirma que: “[...] é mais proveitoso considerar-se esta importante característica
como uma implicação ou um resultado do que como uma característica primária e de
definição da organização dos grupos étnicos” (BARTH, 1969, p.11 apud OLIVEIRA, 2003a,
p.117).
Ainda é preciso dizer que cada indivíduo carrega consigo os traços da cultura do grupo
e esses traços particulares precisam ser vistos de forma objetiva pelo observador etnográfico
(BARTH, 1969, p.12 apud OLIVEIRA, 2003a). De posse desta visualização, as diferenças
centrais acontecem entre manifestações culturais que são relacionadas como itens ou traços
culturais.
Assim, fez-se necessário, durante o estudo do processo de assimilação cultural, sendo
esta definida então como “o ‘processus’ pelo qual um grupo étnico se incorpora noutro,
perdendo (a) sua peculiaridade cultural e (b) sua identificação étnica anterior” (OLIVEIRA,
1960a, p.11116 apud OLIVEIRA, 2003a, p.118).
Oliveira (2003a), estudando o processo de assimilação cultural ou assimilação social
há mais de dez anos, o conduziu a formular um conceito que abarcasse a peculiaridade
cultural do grupo étnico estudado e a identificação étnica de seus membros, sendo que a
noção para identificação étnica foi ampliada seguindo o pensamento de Daniel Glaser,
“Identificação étnica refere-se ao uso que uma pessoa faz de termos raciais, nacionais ou
religiosos para se identificar e, desse modo, relacionar-se aos outros” (GLASER, 1958, p.31;
OLIVEIRA, 1960a, p.125 apud OLIVEIRA, 2003a, p.118).
Pode-se afirmar, que a identificação étnica é a apropriação de um traço cultural de um
grupo utilizado por um indivíduo fora do grupo, mas que este indivíduo portador deste traço é
percebido e aceito como pertencente ao grupo. Segundo Barth (1969, p.12) apud Oliveira
(2003a, p.118), identificação étnica “é a característica de auto-atribuição por outros”, e estes
indivíduos formam grupos étnicos que o autor vê como forma de organização.
Conforme estudos de antropólogos como W.H. Goodenough (1963) e M. Moerman
(1965) e sociólogos como E. Goffman (1963) e McCall & Simmons (1966) citados por
16
OLIVEIRA, Roberto C. de. O processo de assimilação dos Térena. Museu Nacional: Rio de Janeiro, 1960.
Oliveira (2003a, p.117/118), o conceito de identidade perpassa por duas dimensões: a social e
a individual, interconectadas, distinguindo-se apenas em níveis de organização, podendo as
mesmas serem tomadas como dimensões de um mesmo e inclusivo fenômeno.
Os estudos de ordem individual e coletiva fazem emergir diferentes formas de
identificação e conduz a pesquisa buscar a identidade tanto dos indivíduos como do grupo
estudado. Deve-se estar atento para o fato de que, segundo Oliveira (2003a) quando uma
mesma pessoa não é reconhecida em diferentes locais, ele afirma que nenhuma identidade
social poderia ser construída, pois, conforme Goodenough (1963, p.204) apud Oliveira (2003,
p.119, nota 10), a identificação envolve a ideia de “sistemas de categorização”, característica
necessária da identidade étnica.
Quando uma pessoa não tem sua identificação com um grupo social, o código de
categorias se perde no âmbito do relacionamento entre ambos e passa a se apresentar como
um sistema de “oposições” ou “contrastes”. Aqui, Oliveira (2003a, p.120) chama nossa
atenção para a necessidade de construção da noção de “identidade contrastiva”, que não foi
trabalhada por Barth como conceito nem teoricamente.
A identidade contrastiva se forma na essência da identidade étnica por surgir
exatamente do contraste ou oposição de um grupo ou indivíduo em relação ao outro que é
confrontado. As características que se opõem demarcam a diferença e a identidade de um
indivíduo ou grupo sobre o outro no confronto.
Na identidade étnica, a afirmação se dá por “negação” da outra identidade, que é
olhada etnocentricamente, ou seja, uma sobrepõe e sobrepuja a outra. Nesse sentido, a
identidade étnica de um indivíduo ou grupo, não julga a identidade dos outros mas o próprio
“outro”, dando a identidade étnica um peso de “valor”, pondo em questão a relevância do
outro em relação há um “outro” exterior. Em maior dimensão, o etnocentrismo se conclama
como ideologia.
O mais importante nessa discussão é entender que o que faz surgir como identidade
étnica, o que transforma um indivíduo em pessoa, em sentido fenomenológico, é a
consciência. Esta transformação “consciente” se dá por meio da relação interétnica, não
exclusivamente, o que Oliveira (2003a, p. 120), chama de fricção interétnica como um meio
de descrever a situação de contato entre os grupos étnicos.
Essa discussão não cessa aqui, pois ainda se tem muito a falar sobre identidade étnica
e de todos os aspectos acerca de construção de conceitos, os próprios aspectos
fenomenológicos que cerca a construção desse conceito e de como a experiência de
construção da identidade envolve uma multiplicidade de aspectos.
3. METODOLOGIA

Esta pesquisa tem como objetivo investigar de que maneira os elementos étnicos
influenciam no processo de formação da identidade étnica da mulher usuária do SUS,
atendidas em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), no Programa de Hiperdia, na cidade de
Jequié/BA, moradoras do bairro Mandacaru, nessa premissa faremos um aporte dos estudos
de John W. Creswell17 para referendar a metodologia que se seguirá na obtenção de dados da
pesquisa. O autor afirma que se faz necessário conhecer a visão geral do processo de pesquisa
por diferentes autores para que se possibilite utilizar o que melhor se adequar à pesquisa.
Neste viés, Minayo18 (2009) elucida que o labor científico caminha sempre em duas
direções: numa, elabora suas teorias, seus métodos, seus princípios e estabelece seus
resultados; noutra, inventa, ratifica seu caminho, abandona certas vias e encaminha-se para
certas direções privilegiadas.
Assim, a presente pesquisa será de caráter etnográfico, uma vez que o intuito da
mesma é observar e focalizar em todo um grupo que compartilha uma cultura, buscando
descrever e interpretar os padrões compartilhados e aprendidos de valores, comportamentos,
crenças e linguagem (HARRIS, 1968 apud CRESWELL, 2014, p. 82).

Em 1993, Blomberg argumentou que desta forma, para orientar a atividade etnográfica
apresentou quatro princípios:

● Encontro inicial – passar algumas horas no ambiente onde os processos ocorrem


para estudar as pessoas nas suas atividades diárias;
● Holismo – crença que os comportamentos apenas podem ser entendidos no
contexto em que ocorrem;
● Descrição e não prescrição – descrever como as pessoas se comportam realmente
e não como se deveriam comportar;
● Ponto de vista dos participantes - descrever os comportamentos de forma
relevante para os participantes do estudo.

Estes princípios implicam que os pesquisadores devem capturar toda a estrutura social
que constitui a atividade e não devem predefinir qualquer estrutura conceptual.

17
CRESWELL, John W.. Investigação qualitativa e projeto de pesquisa. Escolhendo entre cinco abordagens.
3ª ed. São Paulo: Grupo A Educação S/A, 2014.
18
MINAYO, Maria Cecília de Souza. (org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 28 ed.
Petrópolis/RJ: Vozes, 2009.
O trabalho é uma atividade socialmente organizada, onde muitas vezes o
comportamento real difere da forma como é descrito por quem o faz, e dessa forma é
importante confiar tanto nas entrevistas quanto nas observações diárias das pessoas no próprio
local de trabalho onde a tecnologia deverá ser inserida.

A pesquisa parte do estudo de um problema, que desperta interesse do pesquisador, e


especifica sua pesquisa em determinado foco do problema, para ser confirmado ou negado,
mas nunca ignorado.
Para obtenção de dados que respondessem à questão norteadora do projeto,
recorreremos à metodologia de pesquisa qualitativa, considerando que ela não é apenas a
obtenção de dados ou informações, mas sim o confrontar dados, evidências e informações
coletadas sobre o assunto de interesse e o que se tem escrito sobre ele (MINAYO, 2009).
O enfoque na abordagem qualitativa se deve ao argumento:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se


preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser
quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser
reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2009, p. 21-22).

Na abordagem qualitativa os procedimentos para a coleta dos dados são geralmente


descritivos e, neste caso, abstrações extraídas das vivências das mulheres residentes no Bairro
Mandacaru, onde será aplicado um questionário semi-estruturado, com questões centradas no
problema-tema deste projeto bem como a observação descritiva de comportamentos a partir
da convivência na localidade específica para nos servir de guia-comparativo quando da
análise dos dados coletados.
Para Haguette19 (2010), compartilhar os aspectos subjetivos das ações pesquisadas
parece-nos um requisito fundamental na compreensão da ação humana. Desta forma, a técnica
utilizada nesta pesquisa será de observação-participante pelo fato de que ela tem como
finalidade não somente a coleta de dados, mas a introdução de mudanças sociais no ambiente.
O campo para o desenvolvimento da pesquisa será o Centro de Saúde Sebastião
Azevedo (CSSA), localizado no bairro do Mandacaru, no Município de Jequié/BA. O
município está localizado na região sudoeste do estado da Bahia, com aproximadamente
155.800 habitantes, segundo dados do IBGE (2018), tem em média 85 estabelecimentos de

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HAGUETTE, Teresa Maria Frota.Metodologias qualitativas na Sociologia.12 ed. Petrópolis RJ: Vozes,
2010.
saúde SUS, sendo o local escolhido para o desenvolvimento da uma dessas Unidades de
Atendimento.
As participantes da pesquisa serão três mulheres, escolhidas conforme os critérios:
residentes naquela localidade, que utilizam os programas oferecidos pela Unidade de Saúde,
especificamente o Hiperdia, com a faixa etária entre 35 – 65 anos. Será observada a relação
entre a enfermeira responsável pelo Programa e três Agentes Comunitárias de Saúde (ACS),
sendo o total da amostra de sete participantes.
Considerando as relações étnicas presentes na construção da identidade e as relações
de etnicidades entre as participantes de pesquisa, a importância que aloca ao papel do
observador participante, insistindo que ele representa o cerne da metodologia nas Ciências
Sociais. Haguette (2010, p.75), preocupando-se com as experiências e interpretações desses
sujeitos, e, sendo eles colaboradoras deste estudo ao qual será submetido ao Comitê de Ética e
Pesquisa (CEP), toma-se como aporte ético um termo de consentimento livre e esclarecido
assinado por eles, os quais estarão livres para seguirem ou abandonarem a colaboração,
quando assim desejarem, de acordo com a Resolução 510/2016.
6. CRONOGRAMA

Atividades Meses / 2020

1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º

Revisão do projeto de pesquisa X

Envio do projeto para Comitê de Ética X X


(Submissão ao CEP)

Coleta de dados X X X X

Análise e discussão dos dados X

Atividades Meses / 2021

1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º

Análise e discussão dos dados X X X

Revisão do texto X X X

Redação final X X X

Defesa e qualificação X
REFERÊNCIAS

BLOMBERG, J., GIACOMINI, J., MOSHER, A., & SWETON-WALL, P. (1993). Métodos
etnográficos de campo e sua relação com o design. Em SCHULER, D., e NAMIOKA, A.
(Eds.) , Design participativo: Princípios e práticas, 123-155. Hillsdale, NJ: Lawrence
Erlbaum Associates .

LAPLATINE, François. Aprender antropolo6gia. Trad.: Marie-Agnès Chauvel. 4ª ed. São


Paulo: Brasiliense, 1991. (10ª reimpressão, 1997).

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 11ª ed. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1997. (Coleção antropologia Cultural).

MINAYO, Maria Cecília de Souza (org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade.
Petrópolis: Vozes, 1994. 21ª ed, 2002.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Identidade, etnia e estrutura social. São Paulo: Livraria
Pioneira Editora, 1976.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Identidade étnica, identificação e manipulação. Rev.


Sociedade e Cultura. v.6, n.2, jul/dez.2003. p.117-131.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Reconsiderando etnia. Rev. Sociedade e Cultura. v.6, n.2,
jul/dez.2003. p.133-147.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. Do índio ao bugre: o processo de assimilação dos


Terena; (prefácio de Darcy Ribeiro). Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976. 2 ed. Revisada.

SANTOS, José Luíz dos. O que é cultura? 14ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. Coleção
Primeiros Passos.

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