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‘conto de autor “O Tesouro” ‘Ssplicitagao do nosso Roteiro, chegou finalmente 0 momento de ilustrarmos as etapas cinco e seis, recorrendo a andlise do conto “O Tesouro” in Contos de Ega de Queirds, séeulo XIX, entusiasta do Realismo (movimento que preconizavaa ideia que oromance 2 espelho" da realidade) e dotado de um reconhecido sentido de ironia 25 principais caracteristicas do conto: narrativa curta, com um numero reduzide de e unidade de acgao (uma unica histéria). @ssim & descoberta de uma nova aventura... das Categorias da Narrativa (etapa 3) ‘Santo, podemos delimitar quatro momentos: = situagGo inicial - engloba os dois primeiros pardgrafos do texto - “Os trés irrnaos (...) mais Srevios que lobos.” O narrador apresenta as personagens, o espaco e os acontecimentos Gearridos no Inverno. = peripécias - decorre do terceiro pardgrafo “Ora, na Primavera, (...)" até ao paragrafo ~ E venenol”. Nesta parte, sucedem-se os seguintes acontecimentos: descoberta do ‘sour; reacc&o dos trés irmaos a esta descoberta; partida de Guanes para Retortilho, == comprar mantimentos e alforges; Rui planeia a morte de Guanes; incentivado por =u) Rostabal mata Guanes com uma espada; Rui mata Rostabal com uma navalha perto c= uma fonte; euforia de Rui pela posse Unica do tesouro; aproveitando os mantimentos comprados por Guanes, Rui sacia a sua fome e bebe uma garrafa de vinho; agonia e morte de Rul por envenenamento. * o ponto culminante - corresponde ao antepentiltimo paragrafo do conto - “Oh! D. Rui, o avisado (...) todo 0 tesouro.”. Neste momento, o narrador dé a conhecer que Guanes planeou a morte de Rui, com vinho envenenado. > odesenlace - composto pelos dois ultimos pardgrafos- “Anaiteceu. (...) matade Roquelanes.”. Onarrador conclui a historia, referindo que os corpos dos trés irm&os mortos se encontram na mata de Roquelanes, bem como o tesouro. 4c entificarmos os acontecimentas que constituem a acgéio deste conto, concluimos que @S™mesmos so narrados por ordem cronoldgica, ou seja, surgem encadeados uns nos outros. ‘Dizemos, enti, que o processo de organizagao das sequéncias narrativas é o encadeamento. ‘Teedoem conta odesenlace do conto (atéao pentiltimo parégrafo), classificamos esta acco como | Schada, visto conhecer-se ao pormenor o fim da histéria e o destino de todas as personagens. No entanto, 0 tiltimo pargrafo do texto ("O tesouro ainda lé est, na mata de Roquelanes”’) abre “me perspectiva diferente, sugerindo que seja o leitor a imaginar o destino final do tesouro, o ‘uel verdadeiramente se desconhece. Neste sentido, podemos considerar que estamos perante ims narrative aberta. Resta coneluir que, ao longo do conto, surgem varios indicios que evidenciam o final tragico das personagens e da prépria histéria: a letra da cantiga de Guanes, a referéncia a “sorte ruim" e a0 “bando de corvos" e, por vitimo, a diivida de Rui "Mas porque trouxera ele, para trés convivas, sd duas garrafas?”. Personagens e sua caracterizagao No primeiro pargrafo do conto, so apresentadas trés personagens - Rui, Guanes e Rostabal, coma sendo os irmaos de Medranhos. A sua caracterizagao inicial é feita colectivamente, ou seja, o narrador indica caracteristicas comuns aos trés irmaos. A descoberta do tesouro é o factor que permite a revelagdo do cardcter individual de cada uma destas personagens. Contudo, a ordem pela qual so referidas, no inicio da narrativa, aponta ja par @ individualizac3o de cada personagem, prendendo-se com a sua principal caracteristica: Rui € 0 mais “avisado”; Guanes é 0 mais traigoeiro e Rostabal, apesar de ser o mais velho, 6 0 mais ingénuo. Rui, Guanese Rostabal surgemassimcomopersonagens principais, pois todos os acontecimentos se desenrolam a sua volta. Verifica-se a existéncia de uma personagem figurante, o “velho droguista judeu” a quem Guanes comprau o veneno. O levantamento das expressdes textuais que indicam as caracteristicas fisicas, psicolégicas, comportamentais e sociais das personagens principais permite elaborar o retrato de cada uma delas e perceber se as suas caracteristicas, o seu comportamento e as suas atitudes evolufram ao longo da histéria. Aonivel social, estas personagens apresentam caracteristicas comuns entre si, pois representam a classe da nobreza em decadéncia e que vive na miséria: “os fidalgos mais famintos e os mais remendados" do Reino das Asturias. O narrador evidencia a miséria dos trés irmaos, nomeadamente através da referéncia as suas “solas rotas" e ao facto de terem “tras éguas (...) esfaimadas como eles’. Aponta também a miséria como sendo a causa dos irmos se terem tornado “mais bravios que lobos". E ainda a miséria que justifica as reacgdes dos irmaos de Medranhos 8 descoberta do tesouro: “emogao’, “estalaram a rir’; "“mergulhando furiosamente as maos no ouro"; “bruscamente se encararam, com os olhos a flamejar, numa desconfianga (...) desabrida”. Quanto a sua caracterizagao fisica e psicolégica, cada personagem apresenta caracteristicas prdprias. As tabelas seguintes - Retrato de Rui, de Guanes e de Rostabal - exemplificam o levantamento de expressées textuais, a partir das quais se conclui acerca dos tracos dominantes de cada personagem. Oretrato de Rui Fisico *gordoe ruivo" tem um “sombrero” com “vethas plumas roxas” ‘cogando a bara” ‘tem uma "targa navatha” sentolise na relva para comer, "com as pernas abertas” *pescaca peludo” "Melo enterrada na erva negra, toda a fave de Rui se tornara negra" Psicolégico “omais avisado” ‘eomegou por decidir que 0 tesouro (..) pertencia 20s trés* “fala avisada e mansa" “tirou lentamente, do cinto, a sua larga navalha” mata Rostabal “serenamente” “respirou deliciosemente” (epés matar Rostabal e the tirer acheve} Pensa que se tomard “o magnifico senhor de Medranos" com 0 oure todo, sentiu uma imensa fore" “devorava a grandes dentadas" (uma asa do capo) *bebeu em sorvos tentos’ (0 vinho} “pensava em Medranhos coberto de telha nova, nas altas chamas da lereira par noites de neve, © 0 seu leito com brrocadios, onde teria sempre mulheres” “tomado de uma ansiedade” levou as duas maos afltas ao peita’ “Os seus bragos torcidos batiam o ar desesperadamente” “esbugalhendlo pavorosamente os olhos, berrou, como se compreendesse enfim a traicso” No conto, refere-se diversas vezes que Rui é 0 mais “avisado" dos trés irméos de Medranhos. O comportamento desta personagem evicenciao seuespiritode lideranga:éRui quem decide, distribui as tarefas pelos irmaos e manipula a acgao. Pensa e age de forma racional e calculista, denotando © seu carécter ambicioso e mostrando uma certa frieza nos actos que pratica, caracteristicas sugeridas pelo uso de alguns advérbios - “lentamente’, “serenamente' e “deliciasamente’. O desespero apodera-se de Rui apenas nos momentos que antecedem a sua morte. A sua afligao advém do mal-estar fisico que sente e da descoberta da traig&io de que foi vitima. Rui morre por envenenamento, o qual provoca uma morte lenta e agonizante. - Oretrato de Guanes Fisico Psicolégico “mais love" enrugado* “pele negra do seu pescoco de grou" “desconfiado {ola “brutalmente “desanuviado" (depois de cerrar a sua fechadura do cote} *a sua cantiga costumeda e dotente’ Rui diz que Guanes gastaré a sue parte do ouro no jogo. "elas tavernas’, Rostabal atirma que Guanes é “s6freqa “cantiga dolente e rouca” (antes de ser morta} Planeiaamortedosirméos,compranco venenaemisturando-o no vinha, para ser 0 nica @ usufruir do tesour, Guanes é 0 irmao leviano e esbanjador. E encarregue de ir a vila vizinha comprar mantimentos e “trés alforges de couro” para carregar 0 ouro. Aproveita entao para comprar veneno, a fim de o diluir no vinho. A sua gandncia leva-o a planear a morte dos irméos, de forma a usufruir sozinho do tesouro encontrado. Guanes é “descanfiado" e é 0 mais traigoeiro dos trés irmaos. E ele o responsdvel pela morte de Rui, levando-Lhe vinho envenenado para beber. Esta personagem aparece associada a uma carga simbdlica negativa, a qual indicia o final tragico das trés personagens: a letra da sua “cantiga” (“negro luto”) e o tom negro (da sua pele, do chao devido ao “sangue que escarra”). O retrato de Rostabal ie Fisico “homem mais alto que um pinheiro, de Longe quedelhe, ecom ‘uma barba que the cafa desde os olhos raiados de sangue até a fivela do cinturao" "barbas negras” mais velho” dos trés irmaos “o mais forte e0 mais destro” (segundo Rul) tem um "sombrero", uma “long espada” “mangas arregagadas “tongas cabelos" “velha escarcela de cou Psicolégico Carécter animalesco: “rugiu’ “rosnou surdemente e com furor” “bocejava com fome” “cerdo’, “torpe” (segundo Guanes) Nao sabe “a letra nem os nimeros” a booejar, com fore” Tnduzido por Rui, mata Guanes com a sua espada. “fugindo, |.) todo encolhide, arrepiado com o sabor do sangue que the espirrara para a boca! (ep6s matar Guanes) lavava,ruidosamente, a face ¢ as barbas" (ands matar Guanes) “resfolegava, com as lngas barbas pingando” Rostabal € 0 irmao mais velho e, simultaneamente, 0 mais ingénuo. Nao planeia a morte dos irm&os, No entanto, deixa-se persuadir por Rui e mata Guanes. Seguidamente, e enquanto Rostabal se lava no tanque, 6 assassinado por Rui O seu comportamento evidencia claramente um caracter animalesco. Rostabal tem atitudes instintivas bdsicas (bocejar, ter fome, fugir). Associa-se ao seu discurso verbos que indicam a forma como se expressam os animais (rugir, rosnar). Os seus gestos demonstram alguma rudeza - “lavava, ruidosamente, a face” e “resfolegava, com as longas barbas pingando’, a qual 6 reforgada por alguns tracos fisicos - a “longa guedelha’, a barba longa até a cintura - e pelo facto de ser analfabeto. Estas trés personagens tém, ainda em comum, o facto de matar um irmao. No entanto, Rui, Guanes e Rostabal utilizam meios diferentes para cometer o crime: navalha, veneno e espada, respectivamente. Pode estabelecer-se uma relagéo entre os tragos dominantes de cada personagem e o meio escolhido para matar. Assim: + Ruimata Rostabal com uma navalha, que é um objecto pequeno e certeiro, remetendo para o cardcter decidido desta personagem. * Guanes mata Rui por envenenamento. O veneno provoca uma morte lenta, a qual Guanes pretenderia assistir. Existe, portanto, um plano de traigao. + Rostabal mata Guanes com uma espada, que é considerada uma arma nobre por pertencer aos cavaleiros. Vitima da troga dos outros, Rostabal, ao empunher a espada, recupera a seriedade da sua imagem. No que diz respeito 4 concepgo das personagens, conclui-se que estas mantém o mesmo comportamento ao longo da histdria, classificando-se por isso como personagens planas. Quanto aos processos de caracterizagiio das Personagens, coexistem os dois tipos: caracterizagdo directa e indirecta, E utilizado o processo de caracterizagao directa quando: * 0 narrador caracteriza as personagens - "Rui (...) era gordo e ruivo, e o mais avisado’: “enrugado, desconfiado” (Guanes) e *homem mais alto que um pinheiro, de longa guedelha” (Rostabal), "uma personagem atribui uma ou mais caracteristicas a outra - Numa das suas falas, Rostabal afirma que Guanes 6 “séfrego" e Rui diz a Rostabal que Guanes 0 tratava por “cerdo" e “torpe’, referindo-se ao seu analfabetismo. Contudo, o retrato das personagens completa-se através das conclusdes do leitor, acerca da sua evolugao comportamental - caracterizagao indirecta + "E Rui alargando os bragos, respirou deliciosamente.” - Rui tem este comportamento apés matar Rostabal e, portanto, tornar-se 0 Unico dono do tesouro. O gesto dos bracos indica satisfagao e vitdria. A forma como respira (“deliciosamente”) reforga o seu carécter racional ecalculista, + “Tanto mais que a parte de Guanes seria em breve dissipada, com rufides, aos dados, pelas tavernas." - Através desta frase, a personagem é associada ao jogo, reforgando-se 0 seu carécter leviano e esbanjador. * “Também eu quero a minha, mil raios! - rugiu logo Rostabal.” - A utilizagao do verbo “rugir” associa esta personagem ao mundo animal, remetendo para o seu cardcter irracional e rude. Tempo As referéncias textuais relativas a alguns espagos e acontecimentos permitem definir com clareza 0 tempo histérico de uma narrativa. Neste conto, a histdria desenrola-se no periodo da Idade Média (século IX), facto que se comprova através da referéncia ao “Reino das Asttirias’, onde viviam trés irm&os, que pertenciam a classe social da nobreza decadente (‘os fidalgos mais famintos e os mais remendados"). Salienta-se igualmente a sua actividade social prioritaria, a qual honraria a morte destes fidalgos: “Mortos como? Como devem morrer os de Medranhos - a pelejar contra o Turco!". Recorrendo uma vez mais aos elementos textuais, é possivel sintetizar as referéncias ao tempo cronoldgico através do seguinte esquema: Primavera = Inverno Domingo manha —» tarde —> noite A primeira referéncia temporal é 0 “Inverno” (segundo paragrafo), estacao do ano que surge associada a miséria dos trés irméos, pois é quando se evidenciam as suas precdrias condi¢des de vida (casa e alimentagao). O terceiro pardgrafo inicia-se com uma referéncia temporal diferente - “na Primavera, por uma silenciosa manha de domingo -, a qual remete para um espago aberto, a mata de Roquelanes. Todos os acontecimentos que seguidamente sdo relatados, desde a descoberta do tesouro até & morte de Rui, ocorrem durante aquele “domingo”, dia da semana que ironicamente simboliza 0 dia da familia. A acgéo decorre, portanto, durante um dia de Primavera, no qual se delimitam os trés momentos - manh@, tarde e noite: “nessa manha’, “hoje” , *(...) calculava as horas pelo Sol, que ja se inclinava para as serras’, “A tarde descia, pensativa e doce (...)", “Anoiteceu.”, “Uma estrelinha tremeluzia no céu.”. A cada um destes momentos correspondem acontecimentos especificos: a manhé é © momento da descoberta do tesouro, a tarde é o momento em que se cometem os crimes de morte € a noite surge, apés a morte por envenenamento de Rui. A chegada da noite assinala igualmente 0 desenlace dos acontecimentos e 0 final do ciclo de vida desta familia, que se autodestrdi por ganancia. Ao longo do conto, a narrag&o dos acontecimentos {tempo do discurso) segue a ordem cronolégica dos mesmos. No entanto, destaca-se 0 recurso ao processo da analepse, ou seja, existem duas passagens em que o narrador relata acontecimentos passados, relativamente ao presente da histéria narrada: 0 segundo paragrafo da parte II e o antepentiltimo paragrafo da parte III do conto. Espago Sao varias as referéncias textuais aos lugares onde os acontecimentos se desenrolam. 0 espago fisico mais alargado é 0 "Reino das Asturias’. Num primeiro momento, o narrador apresenta e descreve o espaco habitado pelos trés fidalgos - 0s “Pacos de Medranhos” (Esquema A) -, referindo a existéncia de alguns compartimentos, tais como a cozinha, 0 patio e a estrebaria. A descrigao desta casa demonstra a situacdo de miséria e pobreza extrema em que as trés personagens principais vivem: “o vento da serra levara vidragae telha" da casa; na cozinha, existe uma “vasta lareira negra, onde desde muito nao estalava lume, nem fervia a panela de ferro”; & noite, vao “sem candeia, através do patio" “dormir a estrebaria, para aproveitar o calor das trés éguas’, Esquema A Pagos de Medranhos casa cozinha patio estrebaria No “Reino das Asturias” (Esquema B), existe portanto os "Pagos de Medranhos”. espace fisico que 6 descrito para apresentar a situago inicial das trés personagens - a sua miséria e a forma como viviam naquela casa durante o Inverno. Esquema B Reino das Asturias Pagos de Medranhos Mata de Roquelanes No entanto, com a segunda referéncia temporal ("Primavera” - terceiro paragrafo), surge igualmente um outro espaco fisico - a “mata de Roquelanes’ -, local onde se desenrola a sucessao de acontecimentos ocorridos naquele ‘domingo’, Ao longo do conto, o narrador procede a descrigaio deste espago, em fungao do desenvolvimento dos acontecimentos e dos elementos que sao captados pelos sentidos, suscitando no leitor sensagées de varios tipos. Eis alguns elementos que integramn aquele espaco: + “relva nova de Abril", "boa erva pintalgada de papoulas e batdes-de-ouro”, “relva espessa” , “nuvenzinhas cor-de-rosa’, “erva negra’, “uma estrelinha tremeluzia no céu" - sensagdes visuais; + “um fio de agua brotando entre rochas" - sensagées visuais e auditivas; + “um metro a assobiar", "um bando de corvos (...) grasnando”, “a fonte cantava” - sensagdes auditivas; + “um cheiro errante de violetas adogava 0 ar Luminoso” - sensagies olfactivas e visuais. Do atras exposto, conclui-se que a “mata de Roquelanes’ se afigura como um espago de beleza assinalavel, que suscita bem-estar e tranquilidade. Todavia, existem também neste espaco idilico alguns elementos de mau agoiro, que pressagiam a morte - a “erva negra” € os corvos. Por ultimo, refira-se que a primeira caracteristica atribuida aos trés irmaos - “os fidalgos mais famintos e os mais remendados" - define o espago social em que decorre a aceao, visto permitir identificar a classe social das personagens principais (a nobreza) e as suas precdrias condigdes econdémicas, que denunciam a sua decadéncia. Narrador Quanto a sua presenea na historia, o narrador é nao participante ou heterodiegético porque nao € uma personagem da historia. A narrativa esté escrita em terceira pessoa, 0 que se comprova pela utilizagao das formas verbais relativas a terceira pessoa do singular e do plural e dos pronomes pessoais “ele” / “eles: “Nos Pagos de Medranhos, (...) passavam eles as tardes desse Inverno, (...)"; “Por isso ele entendia que o mano Guanes (...) devia trotar para a vila vizinha de Retortilho (...)"; “Rui sorriu” Quanto a ciéncia, o narrador é omnisciente porque conhece tudo sobre a historia e as personagens. Manipula 0 tempo cronoldgico dos acontecimentos, fazendo por vezes recuos na aceao, para dar a conhecer alguns antecedentes que justificam os factos que esto a ser relatados (consultar o item “Tempo") Para além disto, este narrador parece conhecer profundamente o interior das suas personagens, revelando o que pensam e sentem relativamente aos acontecimentos e as outras personagens, tal como se pode verificar nestes dois excertos: “Entéo Rui, que tirara o sombrero e the cofiava as velhas plumas roxas, comegou a considerar, na sua fala avisada e mansa, que Guanes, nessa manh@, ndo quisera descer com eles a mata de Roquelanes. E assim era a sorte ruim! Pois que se Guanes tivesse quedado em Medranhos, 36 eles dois teriam descoberto 0 cofre, e s6 entre eles dois se dividiria 0 ouro! Grande pena! Tanto mais que a parte de Guanes seria em breve dissipada, com rufides, aos dados, pelas tavernas.” “Estendido sobre o cotovelo, descansando, pensava em Medranhos coberto de telha nova, nas altas chamas da lareira por noites de neve, e 0 seu leito com brocados, onde teria sempre mulheres.” E de salientar ainda que o narrador assume, por vezes, uma postura muito préxima dos acontecimentos que narra e da personagem Rui. Parece mesmo existir uma observago tao préxima dos factos que leva 0 narrador a “interagir" com Rui, através de alguns comentérios, Os exemplos que se seguem fundamentam esta proximidade, que se afigura como uma estratégia para captar a atencdo do leitor, visto dar mais vivacicade ao acto de narrar e vida ao préprio narradar que, supostamente pelo seu estatuto de nao participante, deveria manter-se como uma entidade alheia a histdria que conta: “Oh vinho bendito, que t4o prontamente the aquecia o sangue!” “Que é, D. Rui? Raios de Deus! Era um lume, um lume vivo, que se [he acendera dentro, Lhe subia até as goelas.” “Oh! D. Rui, 0 avisado, era veneno!" Relativamente ao ultimo exemplo, deve ter-se em atengao o seu valor enquanto comentario de fina ironia, recurso téo sabiamente utilizado por Ega de Queirés na sua obra, pois se Rui era assim tao cauteloso e astuto, deveria ter-se privado de beber o vinho, tanto mais que ele préprio tinha estranhado 0 facto de Guanes apenas ter comprado duas garrafas, em vez de trés. Modos de Representagaio e de Express&o do Discurso (etapa 4) Modos de Representagao Neste conto, existem momentos de narragaio e de descrig&o. Tratando-se 0 conto de uma narrativa curta, facilmente se justifica o predominio da narragao, Bois os acontecimentos sdo sucessivamente relatados, dando conta da evolugdo da histéria. E durante estes momentos de narragdo que a accéo avanga, dal recorrer-se a utilizaczo de verbos de acgéo conjugados no pretérito perfeito e, por vezes, no pretérito mais-que-perfeito (sempre que se pretence relatar um facto anterior a um acontecimento passado), presentes a titulo exemplificativo nos seguintes excertos: + Pretérito perfeito: ‘Cambaleou até a fonte para apagar aquela labareda, tropecou sobre Rostabal; (...). Recuou, caiu para cima da relva (...)"; + Pretérito mais-que-perfeito: “Porque Guanes, apenas chegara a Retortilho, mesmo antes de comprar os alforges, correra cantando a uma viela, por detrds da catedral, a comprar a0 velho droguista judeu o veneno (...)". No entanto, por vezes, 0 narrador cria momentos de pausa no seu relato e detém-se na descrigao dos espagos fisicos, dos objectos e das personagens. Assim, descreve a casa dos “Pacos de Medranhos" (parte I, segundo pardgrafo) e a "mata de Roquelanes’ (parte IT, primeiro paragrafo). Aolongo do conto, traga também o retrato das personagens, incidindo sobretudo nas personagens principais, visto as caracter‘sticas atribuidas perspectivarem os seus comportamentos, atitudes @ pensamentos (consultar item “Personagens e sua caracterizacao") Na descri¢&o, sobressai claramente o uso do adjectivo, a utilizacéio de formas verbais no pretérito imperfeito e, as vezes, a utilizag’io de recursos estilisticos; 0s quais se exemplificam através da transcrigao parcial da descriggo da “mata de Roquelanes": "Na clareira, em frente a moita que encobria o tesouro (e que os trés tinharn desbastado a cutiladas) um fio de agua brotando entre rachas, cafa sobre uma vasta laje escavada, onde fazia como um tanque, claro e quieto, antes de se escoar para as relvas altas. E ao lado, na sombra de uma faia, jazia um velho pilar de granito, tombado e musgoso.” + adjectivos: "vasta’, “escavada’, “claro”, “quieto’, “altas’, “velho", "tombado’, “musgoso”, * formas verbais (predominio do pretérito imperfeito): “encobria’, “cala", “fazia’, "jazia’ ; * recursos estilisticos: a comparagao - “onde fazia como um tanque”; a dupla adjectivacao - “um tanque, claro e quieto’, “pilar de granito, tombado e musgoso”, Modos de Expresséo Identificam-se alguns momentos de didlogo, nos quais se reproduz a fala das personagens, utilizando-se portanto 0 discurso directo. Estes momentos permitem o avango da acgdo e imprimem bastante autenticidade a esta histéria. Contudo, e também porque se pretende uma narrativa curta (conto), este modo de discurso no € muito utilizado, apenas sobressaindo a sua utilizagao na parte IT do conto. Aimportancia da sua utilizagao nesta fase da narrativa prende-se com varias razGes. Por um lado, quebra a monotonia do discurso narrativo presente nas partes I e III do conto. Por outro lado, torna a trama da morte de Guanes mais real e auténtica, uma vez que 0 didlogo se estabelece entre Rui e Rostabal com aquele propésito: Para além disso, acresce ainda o facto de permitir enriquecer a caracterizacao das personagens e da sua personalidade. Através da fala de Rui, que a seguir se transcreve, evidenciam-se algumas caracteristicas de Rostabal e dé-se a conhecer a opiniao de Rui e de Guanes sobre o seu irmao: + “Logo adiante, ao fim do tritho, ha um sitio bom, nos silvados. E hds-de ser tu, Rostabal, que és 0 mais forte e o mais destro. Um golpe de ponta pelas costas. E é justiga de Deus que sejas tu, que muitas vezes, nas tavernas, sem pudor, Guanes te tratava de «cerdo» e de «torpe», por ndo saberes a letra nem os ntimeros.” Linguagem (etapa 5) Aspectos linguisticos relevantes. Quando se analisa um texto narrativo, criam-se linhas de leitura, as quais nao raras vezes se fundamentam em aspectos lingu(sticos especfficos. Quer isto dizer que estes aspectos sao indissocidveis da propria interpretagao textual. Sendo assim, verifica-se que uma grande parte dos aspectos linguisticos considerados fundamentais na analise global deste texto foram oportunamente indicados e exemplificados: a utilizagao dos advérbios (no retrato de Rui), o predom\nio dos adjectivos e das formas verbais no pretérito imperfeito do modo indicativo (na descric&o de espacos e personagens), a abundancia de verbos de acg&o nos pretéritos perfeito e mais-que-perfeito (nas sequéncias de narragao) e o recurso ao discurso directo (na reprodugao dos didlogos). No entanto, para além destes aspectos, outros merecem ter uma referéncia,.pelo facto de enriquecerem igualmente a narrativa: o recurso aos graus dos adjectivos e a utilizacdo do discurso indirecto livre. Nos momentos de descri¢éio, a utilizacdo dos adjectives no grau superlativo relativo de superioridade sao um recurso expressivo importante porque reforga a caracteristica atribuida: + apenas distinguindo a personagem das outras - “Os trés irm&os de Medranhos (...) entao, em todo o reino das Asturias, os fidalgos mais famintos € os mais remendados.' (...) o mais avisado’, “tu (Rostabal), o mais velho dos de Medranhos”; + ou servindo para persuadir uma personagem a praticar um acto - “tu, Rostabal, que és 0 mais forte e o mais destro’. Por outro lado, a utilizagao do grau comparativo de superioridade permite estabelecer uma comparagao entre a personagem e um outro elemento. Neste conto, os irm&os sao comparados aelementos do mundo animal e material: + “Ea miséria tornara estes senhores mais bravios que lobes’, *(...) os trés senhores ficaram mais lividos do que cirios.” Ao nivel da caracterizac&o fisica, Rostabal € comparado a uma rvore, realgando-se a sua altura: "Rostabal, homem mais alto que um pinheiro”. Ficou anteriormente claro 0 predominio dos momentos de narrag&o 20 longo deste conto, bem como a introducao pontual do didlogo, através do discurso directo (consultar item “Modos de Representagao"). Deve, contudo, acrescentar-se o recurso ao discurso indirecto livre, o qual permite ao narrador reproduzir a fala da personagem, integrando-a no seu prdprio discurso. Este tipo de discurso aproxima o relato do narrador da intenc&o comunicacional da personagem, tornando 0 excerto mais expressivo. Dispense a utilizagio da pontuagao subjacente 4 introdugdo de uma fala (paragrafo, travesso), mas integra na narragdo frases de tipo exclamativo e interrogativo. Exemplifica-se seguidamente este tipo de discurso, através de um excerto do conto em analise: + “Entao Rui (...) comegou a considerar, na sua fala avisada e mans, que Guanes, nessa manh, no quisera descer com eles 4 mata de Roquelanes. E assim era a sorte ruim! Pais que se Guanes tivesse quedado em Medranhos, sé eles teriam descoberto a cofre, e sé entre eles dois se dividiria 0 ouro! Grande pena! Tanto mais que a parte de Guanes seriaem breve dissipada, com rufides, aos dados, pelas tavernas.” Recursos Estilisticos Através destes recursos, o narrador tem como objectivo enriquecer a mensagem que transmite Numa leitura cuidada do conto em estudo, sobressaem 0 uso de intimeros adjectives e a expressividade da linguagem, obtida através de um conjunto variado de figuras de estilo, as quais se apresentam na tabela seguinte. Segmentos textuais a ‘Seu valor expressivo i estilisticos sat Mostra os efeitos contraditérios que a desco- “No terror e no esplendor da emog3o" Antitese berta do tesouro suscitou nos irmaos de Me- drenhos, Adjectvacto Gatti the « seers pe “Rui, que era gordo € ruivo, ¢ 0 mais avisado” rs Potissindeto Realga a caracterizagao feita, gs racter decidido di eee comprise —-— tone dato da crag Evidencia alqumas caracteristicas fisicas Soran de Rostabal (altura, cabelo, barba e olhos), *Rostabal, homem mais alto que um pinheiro, recorrendo 20 seu exagero para tornar claro de longa guedetha, e com uma barba que Ut o.seu aspecto menos agradavel. caia desde os olhos ralados de sangue até Seeeoa iit ‘Apresenta uma sucessdo de diferentes ca- Enumeragéo racteristicas fisicas de Rostabal, permitindo tragar em geral o seu retrato fisico. Evidencia a fealdade de Guanes, assoviando a “a pele negra do seu pescoga de grou! Metafors ease pasod - “cantiga costumada e dotente” ‘cantiga dolentee rauca® : Dupla adjectivagso “um tanque, claro e quieta” “na sua fala avisada e mansa” Dupla adjectivacao “oatatho, estreito e pedregaso como um leito de torrente” Comparagso a boa erva pintalgada de papoules © botoes- z -de-curo" er Um cheira errante de violetas adogava 0 ar =< luminoso" *Rostabal (..) de novo the merguthau a espa- da, agarrada pela fotha come um punhal, na ‘Comparacao peito ena garganta"” “como se pregasse uma estaca num . 2 Comparacao cantei “Com aquela cor vetha e quente” fo vinho} Sinestesia limpava as grossas bagas de um suor hor- ee renda que o regelava como neve” = “sentia os ossos a estalarem como as traves fe de uma casa em fogo* ae "Mas @ égua mais 0 queimava, como se fosse a uum metal derretido.” oa “OnD. vi nen!” ‘Oh! D. Rui, o avisado, era venenc! Tae Mess Ge Gis tinh por habito cantar Saat ecm cantiga, num tom lastimoso (esico de traps). Ao toes lesmme=o de Guanes, acresce a sua ez roves. como que a indiciar que em breve se denars de une o que realmente sucede visto ser assassinado logo 2 seguir Veloriza a impidez e 2 calmaria da agua. Selienta 0 carécter racional de Rui e 0 seu ‘tom persuasive. Atribui coracteristicas nexatives ao atalho, onde Rostabal espere por Guanes para assassinar, Associa-se uma carecteristica do atalho a um ‘sutru elemento natural. para realgar 0 seu as- ecto acidentado. Evidencia os diferentes elementos da natu- Teza € 0 seu aspecto cotorido. Reforga uma diversidade de sensagdes alfac- cconferindo & mata de Roquela- Estabelece uma associagao entre a espada de Rostabal e um punhal, salientando 0 seu ‘aspecto pontiaguda, Mostra a frieza © 3 descontrangéo que Rui ppossul, perante 0 acto que vai cometer - ma- taro seu irmao Rostabal, O name "cot" associa-se a0 sentido da visao, O adjectiva “quente" esté ligada aa sentido do tacte. Assim, a cor do vinho é carscterizada através de uma expresso que suscita duas sensagies diferentes, suor frio dé Rui, durante os seus mamentos de agonia, € associada & neve, provocando na personagem uma sensagao de enregelamento, Ao assemethar 0 que Rul sente nas seus os- 505, Nos momentos que antecedem a sua morte, & destruigfo que 0 fogo provoca nas traves de uma casa, exalts-se as sensagbes dolerosas da morte por envenenamento. Estabelece uma semelhanga entre a agua e um metal derretido, evidenciando 9 sensacao que Rui tem ao ingeri-ta e 0 seu mal-estar fisico, durante os mamentos que antecedem a sua morte (envenenamente). Demonstra que Rui, afinal, nda era tao astuto come parecia, Simbologia, titulo e moralidade (etapa 6) Simbologia Os simbolos despertam sentidos, associando-se aos acontecimentos relatados. Perceber a simbologia de certos elementos constitui uma forma de compreender mais profundamente o sentido de um texto. Este conto apresenta objects e referéncias com uma simbologia propria, alguns dos quais Constituem indicios de acontecimentos futuros. O“tesouro” surge como o primeiro simbolo: a sua existéncia remete paraa possibilidade dos trés irm&os poderem alterar significativamente a sua vida, melhorando as suas condigdes econémicas. Noentanto, e devido ao cardcter das trés personagens principais, o "tesauro” surge como simbolo da ganéincia, do materialismo e do calculismo, levando esta familia & auto-destruigao E de realgar a forma como os trés irmaos encontram este objecto: “(-.) 0s irm&os de Medranhos encontraram, por trés de uma moita com espinheiros, numa cova de rocha, um velho cofre de ferro. Como se o resguardasse uma torre segura, conservava as suas trés chaves nas suas trés fechaduras. Sobre a tampa, mal decifravel através da ferrugem, corria um distico em letras arabes. E dentro, até as bordas, estava cheio de dobrdes de ouro!” O “tesouro” apresenta alguns elementos descritivos, que reforgam a sua simbologia: 0 “ouro” que aparece guardado dentro de um “velho cofre de ferro’, o "cofre” que tem "tras Chaves’ e "trés fechaduras” e um “distico em letras drabes" 0 “our” é 0 simbolo da perfeicao e da salvago, No entanto, o seu valor material é sobrevalorizado pelos trés irmaos, que pdem assim em causaa sua salvagao. O facto do “cofre" conservar as “trés chaves nas suas trés fechaduras", permitindo assim um acesso imediato ao “ouro’, configura-se como 0 caminho da felicidade, a qual é representada pelo prdprio “ouro” e pelo numeral "trés” Por outro lado, 0 facto do “tesouro” estar guardado num "velho cofre de ferro” com “um distico em letras arabes’ confere-the algumas caracteristicas: 6 tdo preciso que foi guardado em tempos remotos (dai 0 distico) € 0 “ferro”, que é um material resistente, permitiu que assim permanecesse de gerag&o em geracao. Areferéncia as estagdes do “Inverno” e da “Primavera’ encerra igualmente em si um sentido préprio, que ultrapassa o tempo cronolégico, em que se desenrolam as acontecimentos, Assim, @ porque o “Inverno” é a estagao por exceléncia do frio, remete para a privagdo e a escuridao existentes na vida e na casa dos irmaos de Medranhos e ainda para a sua morte, funcionando assim como um prentincio, se bem que 0 mesmo s¢ se concretiza porque aquela familia no soube aproveitar a oportunidade de mudanea, Contrariamente a esta estagao do ano, a “Primavera” - momento em que decorrem todos os acontecimentos inerentes & descoberta do tesouro - aponta para o renascimento da natureza, para alluze paraa vida, Por isso, é nessa altura que surge a possibilidade dos irmaos recomecarem uma vida nova, rompendo em definitivo com a sua miséria e pobreza extremas. O facto dos crimes de morte ocorrerem num “domingo” - dia do convivio e da familia - representa 0 desprezo dos trés irméos pela espiritualidade e pelos valores morais e 0 seu apego aos bens materiais, a sua ganancia e avareza. Dal que. tendo desaniieris o “tesourn” pela manha, perante as decisdes tomadas durante a tarde (cometer cnmmes Ge marie! =o Cansequente desrespeito pelo valor da familia, sé restasse aos trés inmaos o deste Gl SS7 -25ue morte, o seu triste fim. Por ultimo, refira-se que a “cantiga” de Guanes t= umn welier smisclico importante, que advém tanto da propria letra como da forme coma aqueis SerSamagem Ss canis - 3 cantiga é “dolente e rouca’. A “cantiga” surge antes dos crimes serem cometides, constituindo no entanto o prentncio da morte dos trés irmaos: “Olé! Olé! Sale la cruz de la iglesia, Vestida de negro luto..” A “cruz” simboliza o sacrificio redentor oua Condenacao. A “igreja” é um local sagrado, simbolo da espiritualidade, que os irmaos nao conseguem atingir. 0 “negro luto” representa, no fundo, a consequéncia das suas atitudes. Quando Guanes regressa de Retortilho, ouve-se “o Tepique leve dos sinos’. Ora, 0 toque do sino, aliado ao grasnar do bando de corvos, anunciam a morte que vai ocorrer - a de Guanes. Titulo Embora a leitura do titulo permita ao leitor perspectivar um conjunto de ideias sobre o contetido da obra, estas néio passam de meras hipdteses. A sua interpretagdo s6 fica completa quando 0 leitor conhece a histéria e consegue relaciond-la com o seu titulo e até mesmo justificd-lo Neste sentido, importa reconhecer que o titulo deste conto apresenta um elemento importante da historia, orientando o Leitor para esse objecto precioso - um tesouro. Este aparece portanto como Motivo da histdria e do desenvolvimento da intriga, facto que se comprova pelos acontecimentos Gue s20 relatados, ap6s a sua descoberta pelos trés irm&os, o que sucede no inicio do conto, logo apés 0 narrador apresentar a situacdo inicial da histéria O tesouro desperta a ambigao, 2 gan&ncia, o materialismo dos trés irméos, realgando o lado negativo do ser humano. Quer isto dizer que o tesouro, pelo valor que tem, oferece uma oportunidade de mudanga ao nivel espiritual e material, mas a sobrevalorizagao do seu valor material anula o respeito pela vida humana, conduzindo a desgraca das personagens - a morte constitui 0 seu castigo. Moralidade Oconto é uma narrativa com uma dupla fungaio: 0 divertimento (fungdo Ltidica) e o ensinamento (fung&o moralizadora). Neste conto, so varios os aspectos da natureza humana focados, nomeadamenteo materialismo, @ ganancia, a desconfianga, 0 calculismo e a traigo. No entanto, todas estas caracteristicas humanas surgem quando se apodera do ser humano uma ambig&io desmesurada A moralidade deste conto prende-se precisamente com uma critica a este tipo de ambigao do homem, a ambig&o que leva o mesmo a cometer actos social e moralmente reprovaveis e merecedores de um castigo, de uma forte punigao. Desta forma, podemos associar & fung&o moralizadora deste conto um dos seguintes provérbios: A ambicdo é md conselheira. Quem tudo quer, tudo perde. A cada um aquilo que é seu. O castigo tarda mas néio falha. Os homens sobem por ambicao e por ela vém ao chéo.

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