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Pobres e Mr.

Demon no Getsemani
Alceu A. Sperança

Conta-se que Judas


sacou “trinta moedas
de prata” de seu caixa
demoníaco.

Não se sabe ao certo se seu chefe traído tenha recebido no


Getsemani qualquer oferta para adquirir um cartão de crédito, mas
com certeza o diabólico Mr. D. ofereceu a JC todos os bens de
consumo do mundo em troca de um belo ativo, belíssima hipoteca –
uma alma valorizadíssima –, o que já sinaliza para essa coisa de
crédito consignado para pagamento posterior.
Costumam dizer que os grileiros e os jagunços expulsaram os
posseiros e colonos das terras paranaenses nos tempos da
“Gloriosa”. Apurando bem, os bancos tomaram mais terras que eles,
além de ter os próprios grileiros como sócios ou clientes
privilegiados e jagunços na folha de pagamento.
O que se convencionou chamar de “jagunços” eram em geral
“seguranças” rurais de bancos.
Em 2010, um milhão de famílias estadunidenses tiveram suas
casas tomadas pelos bancos. “The dream is over”, ressoam as
palavras de John Lennon, morto a tiros no coração de Nova Iorque.
Exatamente ao mesmo tempo, os líderes brasileiros se dedicam a
aumentar a “inclusão bancária” do nosso pobre povo. Já se
descobriu que distribuir migalhas ao populacho rende bem: ele
consome mais, fortalece o mercado interno, cala a boca e vota
agradecido.
Mas, disgusting, a maioria desse povo carente ainda não caiu nas
garras dos banqueiros, que astutamente mantêm o cliente
“fidelizado”, palavra linda para substituir “atrelado” ou
“escravizado”.
O Ipea, instrumento do governo a
serviço do “desenvolvimentismo”,
descobriu que cerca de 40% da
população brasileira está excluída do
sistema bancário, sem conta em
banco. Homessa, como vamos nos
desenvolver assim?!
Para os bancos, esses 40% são um filé para seus cartões em forma
de fritas, sobretudo porque a pesquisa do Ipea aponta que quase a
metade dos excluídos bancários pretende abrir uma conta.
“Há que se criar produtos e serviços específicos para esta
população de modo a incorporá-la ao sistema bancário e socializar o
acesso a esse serviço público operado por concessão”, diz o Ipea.
“Socializar” a dependência, veja a ponto chegamos... O Brasil está
“socializado” fartamente: a dívida trilionária resulta da submissão do
País aos bancos, que fazem “de todos nós esse gado cibernético que
pasta mansamente entre os serviços e mercadorias ofertadas”, como
diz o professor Peter Pál Pelbart.
Os bancos executaram hipotecas de 69.847 propriedades nos EUA
em dezembro, encerrando o ano passado com 1,05 milhão. Superou
o recorde anterior de 918.000 casas tomadas em 2009, segundo a
empresa de dados imobiliários RealtyTrac. Em 2005, antes do
colapso imobiliário, os bancos executaram no ano inteiro apenas 100
mil hipotecas, o equivalente a dois meses de 2010.
A inclusão bancária de brasileiros pobres, incapazes de fazer
contas por conta da má educação, será a glória. Representa a
salvação, ao menos provisória, para um sistema em ruínas.
Os bancos financiaram fartamente a proposta neoliberal do
“Estado mínimo”, mas ao quebrar foram se socorrer justamente nas
tetas do odiado Estado... que se já fosse mínimo como desejavam
não poderia mais socorrê-los.
Pobre dá lucro. Dê-lhe migalhas no Shopping Getsemani e ele lhe
dará feliz o fruto de seu trabalho e votos. Até quando, não se sabe.
Os “bancariamente incluídos” estadunidenses começam a perder até
as casas onde moram.

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