Sie sind auf Seite 1von 4

Caça as bruxas

Há certas coisas que não se consegue aceitar.

Era assim que Sophia se sentia: injustiçada. Ela havia estudado tanto,
se dedicado tanto, apostado tanto, confiado tanto para no fim de tudo
ser recompensada dessa maneira. Vou contar-lhes a história dessa
garota e deixar que tirem suas próprias conclusões.

Em 1984 Sophia nasceu numa cidade brasileira, filha primogênita de


pais pobres porem dedicados e esforçados. Seu pai trabalhou
bastante e acendeu a classe média alta brasileira, mas a alegria não
durou muito. Com a ingenuidade própria da juventude ele confiou
suas finanças a um contador que parecia uma grande pessoa, mas na
realidade sonegava impostos da empresa e os desviava para um
paraíso fiscal. O pai de Sophia descobriu, mas já era tarde, o mal
estava feito. Graças à justa justiça brasileira, embora tendo provado
que foi enganado, o pobre homem foi condenado a pagar os anos de
sonegação, perdeu sua empresa, suas economias e ficou com seu
nome e sua honra manchados.

Tudo isso ocorreu quando Sophia estava na adolescência. Mas ao


invés de se dar ao luxo de ser uma típica adolescente com manhas e
birras, ela teve que se adaptar a nova, antiga realidade. Foi duro
trocar sua confortável suíte por um quarto apertado que teve que
dividir com seus três irmãos, mas para ela o mais duro era ver o
desespero de seu pai tentando manter uma família de 6 pessoas e
uma cadela com praticamente nenhuma fonte de renda. Além disso,
ver que seus irmãos mais novos, que ela tanto amava, não teriam as
coisas que ela teve, como uma boa educação particular, já que não
havia opções decentes de ensino público, uma boa alimentação, uma
vida confortável e divertida, lhe doía mais que tudo. Mas a família
superou essa crise unida.
Sua mãe era uma mulher única, durante a infância de Sophia ela
tinha um salão de beleza que ajudava muito nas finanças, mas com o
nascimento das duas caçulas ela ficou asmática, o que a obrigou a
parar de trabalhar. A família enfrentou um pequeno inferno com sua
matriarca entre idas e vindas da UTI. Sophia se lembra que muitas
vezes ia dormir com a mãe no quarto ao lado e acordava com a
notícia de que ela passara mal e fora levada a emergência sendo
internada depois na UTI. No período mais crítico toda a família
entrava no carro e dirigia até um terreno que compraram em um
condômino fechado que na época tinha apenas uma casa e algumas
praças, tudo na esperança que o ar puro do lugar permitisse que sua
mãe respirasse. Às vezes funcionava, às vezes não, e o próximo
passo era o hospital. Sophia era apenas uma criança, mas tinha medo
de perder sua mãe ou que o casamento de seus pais não resistisse a
tanto sofrimento. Mas o pai de Sophia também era único e nunca
abandonou sua esposa. Com o tempo ela aprendeu a controlar a
doença, mas não voltou a trabalhar, passou a administrar as casa que
construíram no terreno do condomínio que veio as se tornar um dos
mais luxuosos da cidade. Anos depois, quando a crise financeira
abateu a família, a mãe não pensou duas vezes e voltou a trabalhar,
mas dessa vez a realidade era outra. Ter um salãozinho na periferia
da cidade, não era o mesmo que ter salão no centro, logo o lucro era
pequeno, muito pequeno, mas ajudou muito a família.

Foi em meio a essa realidade que Sophia terminou o segundo grau e


decidiu cursar a faculdade. Mas para isso seria preciso passar no
vestibular super concorrido da universidade pública, que sempre foi a
única opção na família, pois não havia dinheiro para pagar uma
faculdade particular, além de que as publicas eram as melhores. Seus
pais com muito esforço pagaram cursinho para ela, mas o curso de
medicina era muito concorrido e por mais que nadasse, ela sempre
morria na praia, bem próximo ao seu objetivo, mas não próximo o
bastante.
Depois da última vez que não passou no vestibular Sophia ficou muito
triste. Ela não sabia como superar isso, por mais que estudasse o
nervosismo no dia da prova fazia com que ela esquecesse até os
assuntos que dominava. Ela foi a um retiro espiritual, pois queria
saber de Deus o porquê de tudo isso.

Vale a pena mencionar que a família de Sophia era muito


espiritualizada, seus pais criam muito em Deus e que todas as coisas
estavam sobre a Sua vontade. Na realidade foi essa fé que os ajudou
na superação de suas dificuldades. A mãe de Sophia era uma pessoa
muito sensível, ela conseguia ver além do que as pessoas normais
viam, conseguia sentir coisas que não eram perceptíveis a maioria,
além disso, ela tinha uma fé que impressionava até mesmo sua filha.
Sophia brincava que a mãe tinha uma linha direta com Deus e Ele
contava tudo pra ela, na realidade Sophia acreditava que sua mãe
não era comum, tinha algo muito especial nela. O pai também tinha
sua peculiaridade, Sophia se impressionava com sua capacidade de
sempre dar os conselhos certos, sua sabedoria inspirava a menina.

Quando retornou do retiro Sophia estava decidida a dar um tempo e


tentar se encontrar, a fim de controlar suas emoções. Disse a seus
pais que iria a um seminário, longe de casa e passaria um ano lá, a
fim de conhecer melhor a si mesma e a Deus. Pois embora cresse em
Deus, Sophia não sentia nada daquilo que sua mãe a descrevia. Foi
difícil ficar um ano longe de sua família, mas as experiências foram
tão ricas que ela não conseguia desistir. Ela foi enviada a uma região
muito podre e necessitada do país, lá ela pode ver que por mais difícil
que fosse a queda social da sua família não era comparável a
realidade das pessoas que ela conheceu. Um dia ela adoeceu
seriamente, e foi muito difícil estar longe da sua mãe e dos seus. Mas
para a surpresa de Sophia a pessoa que ela menos simpatizava foi
quem cuidou dela, na verdade cuidou muito bem dela. Foi ai que ela
viu como Deus podia cuidar dela de maneira que ela não esperava.
Quando retornou para casa, depois de um ano e muitas experiências
Sophia era outra pessoa, mas independente, responsável, confiante e
principalmente ela tinha entendido porque seus pais confiavam tanto
em Deus.

Mais uma vez Sophia estudou e tenteou o vestibular, mas dessa vez
ela fez duas coisas que nunca tinha tentado, fez a seleção para um
curso diferente do que ela sempre tentava e para uma faculdade
numa cidade longe de seus pais. Dessa vez Sophia passou e foi morar
numa outra cidade, no começo foi bem difícil. Seu pai começara a
reorganizar as finanças, sua família voltou a morar na casa que
tinham construído, mais ainda não era o suficiente para sustentar
Sophia longe de casa. Por isso ela foi morar em um pequeno quarto
nos fundos da casa de uma amigos da família que a receberam muito
bem. Foi uma fase difícil, mais uma vez longe da família, mas agora
com responsabilidades que ela nunca tinha experienciado. Com o
tempo Sofia de adaptou a nova realidade e seus esforços nos estudos
foram recompensados com uma bolsa de estudos. Alguns anos depois
Sophia foi morar com uns amigos da família que chegaram a cidade,
foi bom ter um ambiente familiar novamente. Sophia terminou a
faculdade e decidiu fazer mestrado. Estudou bastante e passou como
primeira colocada. Mas mesmo assim não recebeu bolsa de estudo.
Pois a bolsa foi dada a candidata que foi a terceira colocada. Sophia
se sentiu injustiçada, pois tinha se esforçado por aquilo, mas relevou,
pois a pessoa que ganhara a bolsa era alguém de quem ela gostava,
tinha sido sua colega durante a graduação.

Das könnte Ihnen auch gefallen