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CATECISMO
DE
PBRSBVERANÇA.
lx.
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\
CATECISM()
PffiRSffiWffiRANGA
ExpostÇÃ0 fl§I0RICÀ, DoGilllTICA, tt0RA[, LITUR0IC/Ir ÂP0t0[EII0a, PIII0§0PHICÂ
E §o0nt
DA REL]GIÃo,
I}ESDE A Í)BIGEM D() MUNÍ)(} ATÉ I{OSSÍ,S DIAS
TOMO IX.
TrBAr»IrzÍDO Da 8.. EDIÇÃO
POR
P ORTO
I,IVRANIA DE VIUVA MORÉ.
I 868.
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CA.TICISilI()
DE
rcffiffisffi.vffiffiffi§tr@ffi
QUABTA PABTE
PRtMEtRA LtÇÃo
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6 cATEcISMo
para que se ouÇa a voz dos magistrados, já para que as partes não este'
jam mais expostas que vós ás intemperies das estações?
«gra, ãizei-me, que é tudo isto, senão o culto externo da justiça
bumana? E porque é tutlo isto, senão porque trataes, não com anjos,
mas sim com homens, isto é, com creaturas corpgreas e que não so dei'
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DE PEnSEVERANÇA. 7
a inspirar respeito aos magistraclos e ás leis; os palacios
em gue vos abri-
gaes do calor, do frio, da saraiva, da neve e ãa
chuva; oü untus fazei
com que o homem seja anjo, e então podercis supprimir
o culto externo.
Illas em tanto que o homem fôr uma intelligen cia sertsid,a
e mui frequen-
temente at;assallacla por orgãos, querer reduzir
a Religião ab puro espi-
ri[ual, é desterral.a para o imperio r]a lua.
«Entretanto que um riso approvador acolhia
a replica do velho geo-
metra, o advogado, confuso, se deu pressa em retirai
e em transferir a
conversação para nOyo terreno. Estavamos n'esse ponto
quando a corneta
do conductor deu o signar da chegada á muda. 0s
dois ôavarheiros apea-
ram-se, e esperamos que a meza relonda fará as pâ20s.»
Com risco de perturbarmos a digestão do angelico adversario
das
nossas ceremonias, \ramos chamal-o de novo
a combate. Não é nossa in-
m a elle n€m aos quo compartem as suas preoccu-
uil-os a todos fazendo-rhes conhe*r , n.r.rsidade,
e as vantagens do culto externo da Egreja catholica.
{.o DnrruçÃo E .RrGEnr D0 curr,. E primeiramtntu, que -ce en-
-
tende por estas palavras: culto ealerno, ceremonias, riros
e titurgia?
Em todas as linguas, a paravra curto quer dizer honrA,
resyieito, tse-
neraçdo, reuerencia, seruiç0. Na lingua religiosa
chamamo s culio interno
aos sentimentos tle fé, adrniraçã0, respeito, agracrecimento,
conÍiança,
amor e submissão que devemos a Deus, po.quu n'Elle
reconhecemos
todas as perfeições. chamamos culto erternà
aos signaes sensiveis, pelos
quaes manifestamos aquelles sentimentos,
c0m0 as genuflexões, as pros-
ternações, as orações, as promessas e as offrenclas.
Ensinamos que,
quanclo estes testemunhos não são acompanhaclos
dos sentimentos do
coraçã0, não é isso culto verdacleiro e sincero, é pura
trypocrisia:, vjcio
que Nosso Senhor Jesus Christo e os Prophetas
moitas ouzes exprobraram
aos judeus.
ReconhecemOs um curto suprenn: compõe-se
dos sentimentos e tes.
timunhos que sci a Deus são devidos; um culto inferior
e suborilinado,
que rendemos a,s Anjos e a,s santos, e por
meio rio qual respeitamos e
honramos, nos Ànjos e santos que lhes fez Deus,
a dignidarle a que os exalçou, ede. Entre os ju-
deus já este culto inferior
er Disse-lhes Deus :
Respeitae o meu Anjo, p,rque n'eile o meunome
estd (r). vêmos a mu-
(1) Eaod,,XX[I,21.
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g CÀTECISMo
De*s, e'o poder cle operar milagres (r). Assim é que na ordem civil se
(1)
(2)
(3) x,40. Yeja.se Bergier, Dicc, de theologia, »t, Culto;
Jaufiret, '
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I
DE PEnSEVERANÇA. g
(1). nerioa'se de carr lcer, coragâo, e rnoneo, adveutir, manifestar, dar. a conhe-
eer. Yeja-se Bergier, aú,'Ceràrn.
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t0 GATECISMo
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DE PEBSEVERANÇÀ. II
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I2 CATECISUO
sem o auxilio dos signaes sensiveis, elevar-se á meditação das coisas di'
vinas, estabeleceu a Egreja, como terna mãe que e, certos ritos, e 0r-
denou que certas partes da Missa se digam cm v6z baixa e outras em
voz alta. Tambem instituiu ceremonias: taes são as bençãros mysteriosas,
aS tochas, os incensos, aS vestes e muitas Outras coisas, segundo a dis-
ciplina e tratlições apostolicas (l).» Tutlo isto tem por objecto realçar a
magesta6e tlo augusto SacriÍicio e levar o espirito dos Íieis, por meio
d'eites signaos visiveis de pieclade e Religiã0, á contemplação dos pro-
fundos mysterios occultos no Christianismo.
Sobre este ponto os impios, nas suas palavras e moclo de proceder,
estão perfeitamente acordes comnosco. «A Religiã0, reduzitia a0 puro es-
piritual, diz um d'elles, em breve e desterrada para o imperio da Ina.'
ôutro accrescenta: «0s dogmas desappareceram com oS signaes exter'
nos que os attestavam.» Qttando, no Íim do seculo passado, os clisciptt-
los d-'estes homens que discorriam tam bem quizeram destruir a Reli'
gião entre nós, por onde comeÇaram? pelo culto externo. Primeiro met-
ierrm a ridiculo aS ceremonias, e depois abateram os templos, aS cruzes
e os altares.
ilIas embalde quer o homem luctar.contra a natureza. Apenas aquel-
les inexoraveis inimigos do culto externo empttnharam as rédeas do go'
verng, quando conheceram toda a necessidade dos ritos publicos e so'
Iemnes. Para converterem 0S povos á sua moral, deram-se pressa em
praticar 0 que condemnavam nos catholicos, chamando em seu auxilio o
culto externo. Unicamente lhe trocaram o objecto immortal, e o attribui-
ram inteiramente ás humanas virtudes, que não são mais que um pom'
poso nada quando se separam do seu auctor.
Escarneciam nas suas obras e nos seus lyceus do culto dos Santos,
e substituiram-lhe o dos heroes, á maneira dos pagãos, que não tribu'
tavam as honras da apotheose senão ás acções famosas e aos genios as
mais das vezes devastaclores das nações. lllettiam a ridiculo a piedarle
dos catholicos para com as preciosas reliquias do homem justo, e tribu-
taram honras quasi divinas aos seus grrndes homens. Finalmente, ha por
ventura uma só parte do culto catholico de que não hajam lanqado mão
para grangearem ás suas liÇões mais favor e credito, mais accesso o con-
fiança no animo da multidão ? 0s bymnos, os canticos, oS altares, as ta-
boas da lei, a arca da constituiçã0, 0S candelabros, o fogo sagrado, o uso
(1) ^Sess.
XXII, c. Y.
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DE PERSEVEnÀNÇA. l3
clos perfumes, os dias de festa, as figuras da Liberdade'e Egualtlade, os
genios tutelares e os outros emblemas da revolnção não nos offereceram
uma serie de ceremonias religiosas tam extensas como as dos outros cul-
tos ?
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M cargcrsMo
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DE PERSEVERANÇA. I5
mente. O culto externo preservou os primeiros homens da idolatria e de
todos os crimes que d'ella se seguiram. Visto gue ao homem são neces-
sarios ritos externos, não póde ser preservado das ceremonias supersti-
ciosas senão por meio de práticas santas e racionaes.
sob a lei do Illoyses, quando os homens, sahindo do estado do mes-
tico, passavam ao nacional, eram destinados os ritos religiosos a recor-
dar aos judeus que Deus é não só o unico senhor da natureza, senão tam-
bem o supremo legislador, o fundador e pae da sociedade civil, e o ar-
bitro das nações, que dispõe da sorte d'ellas c0m0 lhe apraz, as re00m-
pensa com a prosperidade e as pune com desgraças. A maior parte das
ceremonias judaicas eram outros tantos monumentos dos factos milagrosos
quo provavam a missão de Moyses, a protecção especial de Deus ao seu
p0v0, e a certeza da§ promessas que Deus Ihe havia feito. Deviam por
tanto ter os judeus de sobre-aviso contta 0 erro gera[ dos outros povos,
contra os deuses locaes, indigenas e nacionaes, aos quaes oÍIereciam os
gentios o seu incenso. 0 mesmo Deus manifesta pelos seus Prophetas que
não prescreveu aos judeus aquello numero de ceremonias senão para re.
primir a propensão d'elles á idolatria (l).
E se não vêde : em tanto que 0s philisteus, os chaldeus, os persas,
0s gregos, os egypeios, os carthaginezes, 0s gaulezes e os romanos, t0-
dos esses povos tão exaltados estavam prostrados ante divintlades infa.
mes e cruois cujas fêstas celebravam com sacriÍicios humanos e ceremo-
nias abominaris, só o povo judaico não adorava senão um unico Deus,
graças em grande parte a0 seu culto externo, que estabelecia entre elle
e as nações pagãs uma barreira insuperavel.
sob o christianismo, quando todos os povos são chamados a formar
uma só familia, unida pelo duplo vinculo da mesma fe e da mesma caridade,
teem as ceremonias um objecto ainda mais augusto, e um sentido mais
sublime. Poem-nos continuamente diante dos olhos um Deus santifica-
dor dos homens, que, por meio de Jesus clrristo seu Filho, nos resgatou
do peccado e da condemnação; que, com gra.ças contÍnuas, provê a todas
as necessidades da nossa alma ; que estabeleceu entre todos os homens,
de qualquer nação' que seJam, uma sociedade religiosa universal, a que
nÓs chamamos a, clmnx?tnhdo dos Santos (2).
D'est'arte, assim sob o christianismo c0m0 sob a Lei e sob os pa-
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Irl
16 0ATECISMo
oRAÇÁ0.
O' meu Deus que sois todo amor I graças vos dou por haverdes es-
tabelecido o culto externo para conservardes a Religião; concedei'nos a
graça de nos fazerdes comprehender bem o sentido das ceremonias da
Egreja.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas aS cousas, e ao pro.
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e em testimunho d'este
amor, eslaillarei com rnuito cutdado esta quarta parle do Catecismo.
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DT' PENSEVERÀNCA. 17
SEGUNDA UÇÃO
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\
t8 cÀrECIsMo
dito (l).
À terceira vantagem do culto externo é, ser um ainculo soctal' Diz'
os primei-
nos a historia que 0s primeiros pontos de reunião das nações,
r0S m0numentos dos povos, os primeiros asyios das rirtudes sociaes, fo-
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-.
t9
ou mercado. Diz-se a missa de Strasburgo, a missa de Fraricfort, para
significar as feiras que se fazem n'estãs duas cidades. Àté muitas vezes
a humilde cella do solitario deu principio a villas e cidades. De redor da
cruz de madeira plantada pelo missionario é que tiveram começo as gran-
des cidades do Novo-[Iundo. Ainda hoje, o verdadeiro ponto de reunião
é. a egreja parochial. Se a destruirdes, os habitadores dos campos, isto
é, as tres quartas partes dos homens, viverão eternamente sós, á maneira
das tribus selvagens da America.
A, municipalidade, direis, os reunirá. Dou-o de barato; porém não
os civilisará. Para civilisar os homens, não basta ajuntal-os, é mister
melhoral-os. Ora unicamente 0 culto catholico tem esta vantagem : as
nossas egrejas' são verdadeiras escholas de moral. Alli, todos os habi-
tantes d'uma comarca, reunidos na casa de seu Pae commum, ouvem a
palavra eternamente social, porque é toda caridade. Alli, ouvem a voz
do seu pastor, ou do seu Bispo, e comprehendem que estão em relação
de fraternidade com 0s habitantes d'uma vasta provincia. Àlli, ouvem
nomear com respeito o summo PontiÍice, oram por elle, e comprehendem
que são filhos d'essa grande sociedade, espalhada por todos os pontos do
globo. Para elles, não ha já montes nem mares, gregos nem barbaros.
Yêem irmãos e amigos em todos os catholicos. Sabem que, ao orarem,
oram com elles; que, n0 momento em que estão reunidos ao pé dos al-
tares, mil vozes se erguem do oriente e occidente, quc se unem á sua,
e, todas júntas, levam aos pés do throno de Deus os votos, as homena-
gens, os corações da grande familia humana.
E depois, quantas recordações proprias para melhorar os homens I
A egreja em que se foi baptisado e casado, onde se ha de ser apresen-
tado pela clerradeira vez depois da morte ; e o velho pastor de cabellos
brancos que instruiu a infancia e fez celebrar a primeira communhão; e
flnalmente o cemiterio onde dormem os avôs, o cemiterio que é preciso
atravessar para entrar na egreja : todas estas recordações, g ainda muil,as
outras, contribuem muito mais do que se pensa para tornar os homens
mais desapegados da terra, menos egoistas, mais moraes, n'uma palavra
mais sociaes. Se duvidaes d'isto, vêde 0 que são os habitantes das cida-
des e aldêas que não frequentam a egreja.
Alli tambem, n'aquellas reuniões, são os homens chamados á egual-
dade necessaria ao bem da sociedade, porque abate o orgulho d'uns, e
levanta o animo d'outros. Na egreja, não se conhecem titulos nem digni-
dades, porquo o sacerdote não vê senão filhos e irmãos. Ao proclamar os
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20 cÀurcrsuo
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DE PERSEVEBÀNÇA. 2t
,, a'r.t. : só a elle pertence esta nova
as de poesia, architectura, pintura
o
elo mahornetismo, por todas as
-?
Ao culto catholico ainda e que devemos
os mais bellos iistrumentos
de musica, o orgão e o sino : o orgã0,
reunião de todos os instrumentos
o ongã0, que, pela variedacle dos sons, ;
agita toclas as Íibras da alma, falla
todas as linguas, faz ouvir todas as
vozes ; voz da dôr, voz do pavor,
da esperanÇa e da alegria , yoz da voz
morte, uo, ao Ceo ; o sino, que enche
as nossas cidades e aldêas de ineflavel
harmonia; o sino, que n,um in.
stante leva ao longe o mesm, sentimento
a mir corações diversos.
em indubitavelmente o sino uma
bel-
e os artistas chamam o granite.
O
só pela sua grandeza: o mesmo se
os volcões, das cataractas, da voz de
um p0v0 inteiro. pythagoras, gue appricava
o ouvido ao marho do ferreiro,
com gue pfazer não escutaria o som los nossos sinos na vespera d,uma
so-
t
Iemnidade da Egreja póde a arma
ser enternecida peras harmonias
d'uma lyra, porem não Íicará arreb
a desperta o trovão clos combates o
na região das nuvens os triumphos d
Perpetuar as verdades da Religi
ques da impiedade e da heresia, ser
um vincuro social, elevar o homem
e co uzir inimitaveis obras pri-
mas,
catholico. São necessarias
mais Oh I nós, os catholicos,
deve 1
é origem fecunda de tan-
tas bellezas, e principio de tantas vlrtudes.
cunruoxrÀs.- Agora falremos da origem das ceremonias
que o con-
stituem, do respeit, que se rhes deve tribõtar,
dos fructos gue produzem
e da necessidade de conhecêl-as. Deus e quem ireu ao t or.,n
são de manifestar por signaes exteriores oJ sentinrentos
, p.eci
que lhe nascem
na alma : por conseguinte e Elle o primeiro auct
Fez .
Deus sentir a necessidade d,ellas; inspirou os pri
Elle mesmo regulo-u entre os judeus a manifesta
io;;;
hrde,
seu proprio Filho, havenclo descido á habitação
d u cer-
(1) Genio d,o Chri*tianisrno,Iy parte, c. f.
e
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22 cÀrECtsMO
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DE PERSEVEnANÇA. 23
exemplo, tão grande diÍIerença entre os ritos grego e latino. sem
em-
bargo o grego e 0 romano catholico professam a mesma Religiã0,
teem a
mesma fé, e observam os mesmos preceitos.
Por conseguinte esta diversidade de ritos em nada prejudica
a uni-
dade da Egreja. Que digo t faz sobresahir brilhantemrniu
á sua arreba-
tadora formosura. «A unidade da fe, diz s. Agostinho,
QU. é a mesma
para toda a Egreja, é o que constitue a formosura
do ,órp, da esposa
de Jesus christo, segundo estas palavras do propheta: rõaa
a formo-
sLcra da filha da rei estri no interior. Se, no
culto produzido por esta
uni'dade de Íe, se encontram práticas difierentes,
não e essa diversiclado
de ceremonias mais qüe a varieclade da veste da celestial
esposa, confor-
me se diz no mesmo ponto : A esposa estd ailornaila
de uma t)esüe cvm
bordado d'luro, recamado d,e d,iaeisas côres (l).
' Pretenderam os philosophos e os protestantes que
as nossas cere-
monias eram imitadas clos pagãos : não sei de e*probrrção
mais inepta.
certo é que todos os p0v0s tiveram ceremonia, .uiigiorur.
N,esse acervo
de práticas religiosas, res[avam, assim c,mo Das crenças e na
moral, al_
guns fragmentos d'uma reveração primiüiva.
Que fez a Egreja ? univer-
sal herdeira de todas as verdad es, fez, rrpr,.rção do verdadeiro
e do
falso, do bom e do mau. Adoptando o que ,ônoo bom
e verdadeiro, ex-
pulsou 0s usurpadores e disse-lhes :
uEu estou antes de vós, sou a pri-
meira, remonto aos primeiros dias do mundo, recebi a verdade
em de-
posito e herança, e reassumo o. que me pertence;
tudo quanto vós ten-
des conservado bom, verdadeiro e Iouvau.i, é meu.,
Depàis purificou e
santiÍicou esses usos, como santificou os templos dos
idolos e os fez ser-
vir para gloria du verdadeiro Senhor d,elles.
Tal é o sentido da resposta de S. Àgostinho a Fausto o manicheu
(2)' «0 emprego das ceremonias no culto do verdadeiro Deus, diz Ber-
gier, não é um empres[imo, e sim a restituição d,um roubo
feito pelos
pagãos. A Religião verdadeira é mais antiga que
;
as falsas por isso
tem direito a reivindicar uns ritos que as suis rivaes prorrnr.am.
Ha-
vemos de abster-nos de orar a Deus porque os pagãos
oraram a Ju_
piter ? de deixar de ajoelhar-nos porque elús
so prostraram diante tlos
idolos ?»
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-_/
zll CÀTECIS\Í0
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.- r! t\
DE PEnSEVERANÇA. 2ü
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26 CÀTECI§MO
0RAÇÃO.
O' meu Deus, que sois todo amor ! graças vos dou por haverdes
tornado sensiveis a meus olhos as verdades da Religião; e peço-vos per-
dão por não ter tido bastante respeito ás ceremonias da Egreja.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao pro-
ximo c0m0 a mim mesmo por amor de Dcus; e, em testimunho d'este
amor, esüudarei com muito cuidado as ctenxlnias d,a Bgreia.
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_\
DE }ERSEVEftÀNÇÀ 9,7
TERCETRA LrÇÃO
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--t----\
28 cArEcrsuc
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\
DE PEn§EVEnANÇA. 29
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30 cÀTEclsuo
gue seus paes haviam desterrado, queimado e profanado com tanto furor
e tanta cegueira (l).
Se pois decoramos as egrejas, não e porque Deus precise d'essa
;
magnificencia nós é que precisamos d'ella para nos elevarmos a Elle.
Precisamos rle oflerecer-lhe o nosso ouro, as nossas riquezas e os primo-
res das artes, porque e um dever o prestarmos homenagem de todas
estas coisas áquelle de quem veem o 0ur0, as riquezas e os talentos.
Este tributo de agradecimento e adoração é um titulo para se conseguirem
novos beneÍicios, a0 passo que a ingratid?io é vento abrazador que secca
o manancial clas graças. Sob este D0v0 prrt][o de vista, é ainda a pompa
do culto completamente do nosso interesso.
E' certo que Nosso Senhor nasceu n'ctmt presepio, e instituiu a sagratla
Eucharistia n'etma camara. Com esta simplicidade e pobreza, qaiz mos.
trar-nos 0 seu immenso amor, que não e:rige, para manifestar.se, nem a
riqueza dos edificios, nem a pompa das ceremonias. Pobres de todas as
gerações, Deus quiz ensinar-vos que vós tambem poderieis tomar parte
nos seus mysterios de amor, e que Elle se dignaria de habitar sob a vossa
egreja coberta de colmo. Quiz tambem ensinar aos christãos que o ver-
dadeiro culto era o do espirito e do coraç?[0, e por esse modo preservar-
nos das illusões do povo carnal, demasiado propenso a suppôr que 0 ap-
parato das ceremonias o o grande numero das victimas eram quanto o
Senhor d'elle exigia.
Não quiz porém prohibir a magnifir:encia do culto externo áliás:
teria abandonado ao espirito de mentira tr Egreja sua esposa ; teria des-
conhecido a natureza humana; teria querido o aniquilamento da Religiã0.
Ora, Deus sabia melhor que os nossos ptrilosophos que o homem só por
meio dos sentidos póde ser impressionado, e que urna religião reduzida
ao puro espiritual em breve seria desten'ada para o imperio da lua.
3.0 A pompa exterior deve passar do templo material ao templo
vivo, is[o é, ao homem. f)eve-se andar cc)nvenientemente vestido nos dias
festivos, a fim de demonstrar o respeito (true se tem a Deus, reconhecer
que todos os bens proveem d'elle, e que tudo deve ser consagrado ao seu
serviç0. E' tam natural este sentimento, rlue existe no coração de todos
os homens. 0 mesmo pobre c o habitador dos campos 0 comprehendem
tambem, quo, para assistirem ás assembleas religiosas nos dias festivos,
se vestem o mais asseadamente que lhes e possivel.
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DE PENSEVERANÇA 3{
. E assim deve ser, para que esse apparato exterior o faça lembrar-se
da pureza da alma que lá deve levar, para que os grandes que desdenham
aquellas assembleas, tenham menos repugnancia em juntar-se com o povo,
e para que a enorme desproporção que estabelecem as riquezas entre
uns e ou[ros, desappareça um tanto,. ante o supremo senhor, aos olhos
do qual são eguaes todos os homens. Já era o mesmo na antiga Lei. Jacob,
prestes a oÍIerecer um sacrificio á frente da sua casa, manda aos seus
que se lavem e mudem de vesl,idos (t). Deus ordenou a mesma coisa aos
hebreus guando lhes quiz dar a sua lei no monte sinai (2). Este signal
exterior de respeito encontra-se em todas as nações: todas, sem excepçã0,
empregam nas homenagen§ que prestam á Divindade a maior pompa que
Ihes e possivel (3).
Não cuideis que este apparato exterior, este ar de festa não tenha
influencia sobre o espirito e coraçã0. 0h r tem ; pois indic a e faz nascer
as disposições interiores com que se deve ir á egreja ; e sobretudo des,
perta o sentimento que então deve dominar todos os mais, o sentimento
da alegria. com effeito, vêr a egreja é vêr a casa de nosso pae, a casa
em que elle nos espera, com 0s braços abertos, com o coração abrasado
de amor, para nos receber e abraçar, para nos alimentar do seu pão ce-
leste e nos saciar do seu vinho delicioso.
Yêr a egreja e vêr a casa em que nascemos, em que experimentamos
as primeiras alegrias, em que 0 nosso espirito se abriu á verdade e o
nosso coração á innocencia; em que os nossos passos se roboraram na§
Pae : san[0, san[O, santo é o senhor Deus rros exercitos, dos anjos e dos
homens.
Yêr a egreja ao pé da quar está o cemiterio, é vêr a sepultura de
nossa mãe, de nossa irmã, de nosso irmã0, sobre a quat noi será per-
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32 cÀrEclsMo
mittido, ao passarmos, depÔr uma lagrima, uma oração e uma flÔr. Yêr a
egreja e vêr o logar aonde se vae dizer aos ricos que dêem esmolas aos
póbrur, aot grandes que sejam protectores dos pequenos e dos fracos,
ãor ,*ot que tratem com hrandura seus creados, e a nós todos gue ngs
amemos, que nos ajudemos, 9ü0 nos perdoemos como irmãoS e que não
formemos todos juntos mais que um coração e uma alma. Como não se
experimentará o estremecimento de jubilo dos israelitas convidados a di-
rigirem-se ao templo de Jerusalem: Regosiiamo"nls clm a noua de que
iriamos em breue d casa do Senhor (t) ? Cheios d'esta disposiçã0, vamos
para a egreja. A Íim de a respeitarmos e amarmos ainda mais, aprenda'
mos a conhecêl'a bem; eis a sua historia e descripçã0.
Destle o principio, tiveram nossos paes logares consagrados ás as-
semblêas da Religião e ao offerecimento dos sagrados mysterios (2). Mas
nas Catacumbas e que se devem procurar o modelo e o elementos pri-
mitivos das nossas egrejas (3). Tudo n'es[as lraz á lembrança aquelles lo'
gares para sempre seneraveis, como faremos notar ao fallarmos de cada
parte da egreja. Quando lhes foi licito celebrarem 0 seu culto á face do
iol, apressaram-se os christãos a edificar egrejas e a dispol'as do modo
mais acommodado ao cumprimento das ceremonias usadas n'aquelles dias
de santa memoria. Eram divididas em sete partes (4), como se pÔde vêr
na descriPção seguinte :
,t. 0portico ou aestibulo erterior (5). Era um espaÇoso oblongo
que havia á entrada da egreja ; era coberto e sustentado por columnas
situadas de distancia em distancia. 0s imperadores ambicionavam a
honra de serem sepultados sob o vestibulo das egrejas : 0 que faz dizet a
S. Chrysostomo que os imperadores são na casa dos pescadores, isto é,
ngs templos declicados aos Apostolos, o mesmo que são os porteiros na
casa dos imPeradores.
t-
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DE PERSEVEBANÇÀ. 33
(1) Claustrum.
(2) Atrium.
(3) Gen.,, XXXY.
(4) ü Thomaz, 3.o p,, quest. 65, art. 1.
(5) Nartex intêriorl '
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3tL CÀTECISMO
(1) Navis.
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i
t)E PDESEVERÀNÇÀ. 35
(1) §er. l-a celebraçâo clo casamento, se inverte esta ordem, é para que o es.
poso esteja á direita da esposa de quem é óhefe.
(2) E' ainda geral ná Italia.
(3) Chorus.
(4) Bema vel santuarium.
(5) Eomíl.Ill in Ephe*
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36 CÀTECISMO
(1) .Nunca a Egreja, diz o snr. abbatle Pascal (carta ao snr'. Diclron), prescre-
veu com severidade se dirigissem os templos para o oriente... S. Paulino, que vi'
via no quarto seculo, reconheceu que o uso mais orclinario é o de dirigir as egrejas
para o oriente; mas está tam longe de vêr n'este costume uma l'egra liturgica, que
manda ao mesmo tempo construir em Tyro urn templo christão, que vilajustamente
Seria pois falsificar o espirito da Egreja o fazer considerar como regra constante e
absoluta o que NUNcÀ foi senâo de pura converriencia e facultativo.o Isto é verdadel
porém o celebrante que diz Missa no altar papal está virado para o oriente.
(2) Crgpta, caverua, cova, subterraneo.
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DE PERSEVEnANÇA. 37
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38 cÀTECISMo
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D[ PERSEVEMNqA. 39
oRAÇÃ0.
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40 CÀTECISMO
QUARTA LlÇÃ0.
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I
DE PERSEVERÀNÇÀ. Ll
raes e das pinturas que decoram as nossas egrejas, e são novas recorda-
ções das Catacumbas.
{.o ,4s tochas. Obrigados a fugir á luz do sol, a suppriam nossos
paos, nos subterraneos que por tanto tempo lhes servirarn de asylo e de
templo, por lampadas e tochas. Estas Iampadas encontram-se aos milha-
res nas Catacumbas. Acham-se alli collocadas de duas maneiras diiferen-
tes, que certamente se referem tambem a duas intençoes distinctas. As
primeiras estão mettidas em nichosinhos ou Íixas em especies de cachor-
ros de pedra salientes ao longo dos corredores, ou tambem suspensas
por uma corrente á abobada das paredes das capellas. Tudo prova que
serviam para guiar os passos dos fieis e para allumiar as ceremonias re-
ligiosas que n'aquelles subterraneos se praticavam.
Às segundas estão seguras fóra dos [umulos sobre que se celebravam
os santos mysterios, e ate ás vezes postas no interior das sepulturas como
symbolo d'immortalidade. Esta intenção não póde pôr-se em duvida, pois
que se deriva do uso seguido nos funeraes christãos (l). Este uso das
lampadas conservou-se entre nós sob outra fórma, por meio das tochas
accêsas na ceremonia das exequias.
As lampadas da primeira e segunda classe sã0, pela maior parte, de
barro cozido. e algumas de bronze; acharam-se tambem algumas de prata
ou ainda de ambar. Teem geralmente a fórma de barca, porque entre
nossos paes era um dos symbolos mais populares da Egreja. Não citare-
mos como exemplo senão uma bella lampada achada ha pouco nas Ca-
tacumbas. E' em fórma de barca e tem dois personagens, S. Pedro as-
sentado ao leme, e S. Paulo em pé, á prôa, pregando o Evangelho. 0
maior numero d'estas lampadas são ornadas de figuras symbolicas: pal-
mas, corôas, cordeiros, pombas, peixes e candelabros. As mais das ve.
zes, teem a cifra de Nosso Senhor. D'onde veio o uso de gravar nos pés
dos nossos cas[içaes d'altar os attributos, a cifra ou a figura de Nosso Se-
nhor e da SS. Trindade.
A vista dos nossos cirios nos leva pois dezoito seculos atraz, ao tem-
p0 das perseguições, a0 mesmo berço do Cbristianismo. Não dirá nada
esta vista a0 noss0 coração? Leva-nos ate muito atraz, porgue o uso das
tochas e dos candelabros, como parte do culto divino, remonta ao tempo
da lei mosaica. Herdeira de todas as ceremonias immortaes da Synago-
(1) Este uso ó attestado por S. Jeronymo: Curn alii cereos l,arrynd,uque, alii,
Bottari, t. III, p. 67 e 68.
choros psall,entüum d,ucerent, Vide
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LZ cÀTEclsuo
(1) A'cerca das lampadas, pinturas, etc., vide a nosss Histori,a das Cata-
cumbas.
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DE PERSEVERÀNÇÀ. &3
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&b carEcrsMo
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DE PERSEVERÀNÇÀ. &5
(1) 9r.g. Nyss., Orot. de Laud,ib. Theoilor., e Paulin. Nol., Natal, I de Or-
nafi, eccl,.; Greg., l,ib, IX, epist, IX, e Greg. Naz,, epi,st, XLIX,
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40 carrclsuo
(1) Polyb., Yirg., l,i,b, d,e Inuentorib, rerunx.Id. onupht,, Epí,st, surnm,, Pontif,
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DE PEnSEVERANÇÀ. &7
distinguir estes grandes sinos das sinetas havia muito conhecidas (l).
Durante os tres primeiros seculos, obrigados os Christãos a escon-
der-se para fugirem á perseguiçã0, não tinham signal algum publico para
se chamarem aos san[os oÍficios. E' provavel que se avisassem mutuamente
em segredo, ou q e se annunciasse publicamen[e nas assemblêas o dia
e a hora da reunião seguinte. Quando foi dada a paz á Egreja, no impe-
rio de Constantino, e se construiram vastas basilicas, houve sem duvifla
algum signal publ co para convocar os Íieis. Crê-se que era o tinitlo de
laminas mui delgadas batidas com malhos, ou enormes matracas de pau,
mais fortes do qne aquellas de que ainda hoje nos servimos, nos tres ul-
timos dias da Semana Santa.
Em certos mosteiros serviam-se de trombetas; em outros cantando
a Alleluia era que se convidavam para 0 ofÍicio (2) ; flnalmenüe, tornou-
se geral 0 uso dos sinos no Occiden[e, .d'onde passou insensivelmente á
Egreja oriental. Logo que foram inventados os sinos, foi necessario edifl-
car-lhes elevadas [orres, para que fosse ouvido o som de mais longe. Col-
locou-se sobre a maior parte d'estas torres uma pyramide terminada por
um globo, em cima do qual se arvorou a cruz ; sobre a üoz pôz-se um gallo,
emblema popular que indica 0 uso dos sinos na Bgreja. Aos Pastores lembra
a vigilancia ; aos fieis, o zêlo na oraçã0, ê 0 ardor no trabalho (B) ; bem
como a Üuz, collocada sobre o globo da pyramide, annuncia ao ceo e á
terra a victoria de Jesus Christo sobre o mundo.
assim c0m0 tudo quanto servô nD seu culto, abençôa a Egreja o sino:
esta benção chama'se baptismo. Não é porque creia susceptivel o sino de
virtude interior e de verdadeira santidade ; mas e sua intenção separal-o
da ordem das coisas communs, e an unciar quo, uma vez consagrado ao
(1) As-sinetas nào serviaT.nala chamar o povo á oragão. A este respeito, conta
q grLvg cardeal Bona, segundo Sirabo, uma en§raçada anãcdota. Chego'u-oà to""-
clor d'alaúde a uma.ilha da Grecia pala alli moitrár o seu talento. ÀÍo"iu-.e toao
9.nov9 á roda do_artista ambulante-e_prepdra-se para escutal-o ; mas áil;;. extra-
hiu alguns sols do instrumento. quandõ sê ouve o'toque d'uma Jiofiárãíãultidâ,o
começâ a fugir a toclo correr. {o.pgbre musico nâo ficou mais que uú ouviote cuSo
lImparo era um pouco duro. «Felicito-vos e agradego-vos, lhe^disse o artista, por
haverdes ficado só para escutar-me i -.or, na võsstr tórra, po.qou ióg.. q"roaô'oo-
l-em.o -toque, d'uma.sineta ? - Pois a srrneta tocou ? repliôoil oiurrlo.-- Sim.
tào tenho a honra de vos.saudar» ;-e deitou a correr com toda a força gritarao - En-ao
musico d nE' o rnercaclo do pei-xe.» (4çr.ritu,rg,,I. r, c. xxlr, pl i-gt)
(2) Ritib. Eccl,. Cathol.,l.I, c. XXt.
(3) íturg,,l. I, c. XXII.
E revo cer r,"i,iltl i JXl??\ s,ii,Tj'"T,
ár.crerus, i,n Embl,Cmq,t e.
.""
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48 cATEcrsMo
serviço do Senhor, não póde ser empregatlo em outros usos sem uma es-
pecie de profanaçã0. Quer tambem tornar mysteriosos e santos o instru-
mento e o som que devem convocar os Christãos para quanÍo ha mais
santo debaixo do ceo, a palavra de Deus, os oÍlicios, a assistencia o par-
ticipação nos nossos augustos mysl,erios.
E' o sino a trombeta da Egreja militante ({); deve soar em todas as
circumstancias notaveis da vida. D'onde a variedade de orações e cere-
monias com que se abençôa. Deve soar n0 baptismo, e assim purifica-se com
agua benta. Deve soar 0s combates da nossa vida desde o dia em que entra-
mos na sagrada liça pela Confirmaçã0, ate áquelle em que expirarmos no
leito mortal : eis ahi porque se lhe fazem repetidas uncções com o santo
chrisma e o oleo dos enfermos. Deve soar o augusto Sacrificio, e eis por-
que se perfuma de incenso. Deve lembrar-nos incessantemen[e a Jesus
cruciÍicado, aucl,or e consummador da nossa fê: eis porque se repete tan-
tas vezes, durante a ceremonia, o sagrado signal da cruz. Dá-se ao sino
o nome d'um Santo ou d'uma Santa.' esta itlêa e cheia d'encantos. Nos-
sos paes crêram que a piedade seria mais ac[iva, mais alegre, mais Íiel,
e se suppozesse que um Santo ou uma Santa e quem nos chama á egre-
ia (2).
Depois que é abençoado o sino, o Presbytero ou Bispo, o padrinho
e a madrinha o tocam brandamente por tres vezes, c0m0 para lbe darem
a sua missã0. Cobre-se o sino com um panno branco ate se subir ao
campanario, por causa do respeito que se deve ao santo chrisma; e o of-
ficiante, havendo feito sobre e[[e o signal da wuz, se relira para a sa-
cristia.
N'uma das orações da bençã0, diz o Sacerdote: «0' Deus, gue, por
Moyses, v0ss0 servo, mandastes fazer trombetas de prata, para que, pela
doçura do seu som, frtsse avisado o povo para ir ao sacriÍicio e prepa-
rar-se para vos orar, fazei com que este vaso que se destina á vossa
Dgreja, seja santificado pelo vosso Espirito Santo, para que, sendo ferido
e soltando um som melodioso e agradavel ao ouvido dos vossos povos,
augmentem de dia para dia a sua fe e o seu fervor; para quo os embus-
tes dos seus inimigos, o ru,itlo das saraiuas, as troaoadas, os redomoinhos
e a aiolencia das tentpestades se dissipem; para, que se afastem os lerri-
veis effeitos do lroud,o; detende com a vossa omnipolente mão os inimigos
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DE PERSEVERÀNÇA. 49
da nossa saltaçã0, e fazei com que, ouvindo este sino, tremam á vista da
cruz de Jesus Christo, a cujo nome todo o joelho se dobra no ceo, na
terra e nos infernos (l).,
0s nossos sabios e espirituosos philosophos teem escarnecido muito
da simplicidade de nossos avôs, que tocavam 0s sinos para afastarem as
trovoadas. Tocar o sino, dizem doutamente, é abalar a columna d'ar, é
attrahir o raio. Sim, discorreis tcílaez justamente (2), vós gue não vêdes
n0 som do sino mais que um som material; porem, se visseis n'elle o gue
viam nossos paes, o gue vê tambem a Egreja catholica, que sabe mais
que vós, uma 0raÇã0, um grito de rebate, uma instante supplica dirigida
ao Sentror do trovão, [0rnar-vos-ieis talvez mais reservados. Ora, o som
do sino era uma oração vocal: a supracitada benção da Bgreja vol-o in-
dica. Se escarneceis d'isto, escarnecereis [ambem do proprio Deus? Não
.diz Elte em termos claros que 0 toque dos instrumentos, o som das gran-
des vozes, o clangor das trombetas, excitam a sua misericordia? Tocareis
l,rombeta, erqu,ereis grandes gritos, e a Dlssa lembrança ird d presença
do Senhor, Dossl Deus, e sereis libertados das md,os dos aossos inimigos (3).
Se o progresso das sciencias vos permitte desviar o raio seln recor-
rerdes á oraçã0, gloriÍicae, por esse facto, o Deus das sciencias, que vos
fez recobrar parte do imperio do primeiro homern sobre as creaturas;
mas não escarneçaes de vossos avôs, que recorriam á oração para al-
cançarem o mesmo Íim.
Que diremos de todas as impressões que produz o som do sino no
homem e no Chris[ão? Tem este som qnantidacle de relações secretas com-
n0sc0. Quantas vezes, no meio da quietação da noite, as badaladas d'unra
agonia, similhantes ás lentas pulsações d'um coração expirante, não atter-
raram o criminoso que velava para perpetrar o crime I Mais gratos senti-
mentos se unem tambem ao som dos sinos. Quando, antes do r:anto da
cotovia, se 0uvem, a0 roÍnper da aurora, os repiqtresinhos das nossas al-
deias, dir-se-ia que o anjo das messes, para despertar os lavradores, sus-
pira em algum instrumento dos hebreus a historia de Sephora ou cle
Noemi. 0s sons dos sinos, no meio das nossas festas, parecem âugÍDerr-
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50 carEcrsMo
tar a alegria publica; nas calamidades, pelo contrario, esses mesmos to-
ques são terriveis. Arripiam-se ainda os cabellos na cabeça ao recorda-
rem-se os dias de morte e de fogo, em que resoaram os clamores do
rebate.
Todos os sentimentos que origina o repique dos nossos templos são
tanto mais bellos, quanto é certo que se junta a elles uma lembrança do
ceo, uma lembrança de charidade e religiã0. Desde a campainha que um
homent agitava nes ruas das nossas cidades durante a noite que precedia
as nOssas festas, repetindo estas palavras: «Acorilae, ó aós que d,ormis,
e \rae pelos ntortos,» ate ao sino da aldeia solitaria, que Íoca a recolher
para avisar o viandante perdido nas montanhas e florestas d'emtorno, e
ao sino grande que se toca de noite em certos portos de mar para diri-
gir o piloto atravez dos escolhos, casam-se todos os sinos com a nossa
situação presente, e levam-nos alternativarnente á alma a tristeza, a ale-
gria, a esperanÇa e o [error religioso. D'onde provém este mysterio ?
E' que os sinos s.ao essencialmente reli,giosos. se fossem empregados em
qualquer outro monumento que não fosse as nossas egrejas, perderiam
a sua sympathia moral com 0s nossos corações (l).
0RAÇÃ0.
0' meu Deus, que sois todo amor t graças vos dou por terdes con-
servado nas nossas egrejas tantas recordações tão proprias para em nós
excitarem a piedade firmando-nos na fé. Concedei-nos que nunca mais
sejamos surclos a todas essas vozes que prêgam a virtude e o vosso
amor.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as cousas, e ao pro-
ximo c0m0 a minr mesmo por amor cle Deus; e, em prova d'este amor,
hei de enl,rq,r na egreja corn o mais profunilo respe;rü0.
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DE PBRSEVERÀNÇA. õt
QUTNTA LrÇÃ0.
o
0 christianisno Íornado sensivel.
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52 cATEcrsMo
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DE PERSEVERANÇÀ. 53
agua, o fogo e a tema; abençôo os teus alimentos, os teus campos
e as
tuas vinhas; abençôo os animaes que te servem, porque devem approxi-
mar-se de ti, estar em contacto comtigo; abençôo a tua derradeira
m0.
rada, que digo t consagro-a peras mãos d,um pontifice, porque
essa terra
deve tocar no teu pó. santo, deves, depois da. morte, reporsai
n,uma coisa
santa, assim como nasceste, como cresceste e como viveste,
no meio das
coisas santas. » Isto posto, facil vos é comprehender o gue
são na Egreja
catholica as bençãos.
Na lingua da Egreja , abençoar uma coisa significa tiral-a
do seu es-
tado natural, separal-a dos usos communs e ordinarios, tornal-a
santa de
profana que era, dedical-a a Deus e ás ceremonias
da Religião; n,uma
palavra, determinal-a e apprical-a a usos piedosos
e sagrados.
Dissemos acima que, depois cle ter creado o univeiso, Deus
o aben.
Ç00u. Àssim, são boas todas as creaturas, e foram applicadas á gloria de
Deus ou santificadas por uma benção e approvação geraes. Deus,áiz
a sa-
grada Escriptura, olhou todas as coisas que haaia
feito, e achou-as opti,-
mas (.1). 0 peccado porém, entrando no mundo, estragou viciou
e todas
as creaturas (2). D'onde a indispensavel necessidade
dJ purifical-a s pela
palaura de Deus e pela oraçã0, a flm de afugentar
o demonio e paraly-
sar a sua funesta influencia (3). Tal é a razáoprofundamente philosophióa
das bençãos.
Por isso as vêmos usadas desde o principio do mundo. No
Antigo
Testamerrto, torna Moyses, por meio d'uma benção que
lhe revela o ceo,
dôces as aguas de Mara (a). Purifica Eliseu as fontes-de
Jerichó lançando-
:
Ihes sal em tanto que pronunciava estas palavras Eis que
o iliz o senhor :
Eu tornei salubres estas agu,as, que nd,o mais proiluzirão a morte (ü).
Abençôa Tobias, por meio da oração, a camara nupcial e expulsa
d,ella
os demonios (6). sabe-se a benção solemne e cheia de mysteiios que
se
lançava, todos os annos, ao feixe de [rigo e aos fructos novos. Antes
do
sacrificio impunham-se as mãos ás viciimas, e orava-se sobre
o azeite,
pão, etc., para santifical-os e fazêl-os dignos de
Deus (z).
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
(7)
4
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§tL CÀTECISIIO
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-r--
-a1
DE PEnSEVERÀNÇA. 55
0s effeitos inherentes ás suas bengãos são geraes ou particulares.
0s geraes são: l.o subtrahir o objecto bento ao imperio do demonio,
e
livral-o da sua maligna influencia ; z.o separal-o das coisas communs
e
profanas; e 3.o communicar-lhe a virtude de excitar
sentimentos de fé,
amor de Deus e Religiã0, e por esse modo obter a remissão
dos pecca-
dos veniaes.
ondem ás intençoes da Egreja, e sã.0
diffe a consagra e o objecto que se propõe.
,ra as tentações e os ataques do inimigo
da salvaçã,, .ra para premunir o corpo e pol-o a salvo
das incommodi-
dades que lhe possam sobrevir. Ella abençou o fogo, para que
não faça
damno ao homem, mas sim venha a ser para elle
o emblema da chari-
dade e da verdade. Àbençôa os templos, os altares
e os vasos do Sacrifi-
cio, porque nada e assaz santo para o culto do senhor. Abençôa
a mora-
da do homem e os alimentos, a fim de gue elle possa
rep,usar em pã2,
e tomar com reconltecimento e sem temor o sustento necessario
a0 corpo.
Abençôa o gado, os praclos e os campos, a flm de preserval-os
das doen-
Ças e dos flagellos que possam fazêl-os morrer ou tornal-os estereis,
e privar o pobre lavrador do fructo dos seus trabalhos.
Nas grandes cidados, onde se desembaraçam quanto podem
do ex-
terior da Religiã0, oncle tacham de ileuoçõrr-populorrr rí práticas
mais
louvaveis, perderam-se 0s tocantes usos de qró riurr,s,
e, com effeito,
que precisão tem das bençãos de Deus o ,iro
usurario ou devasso que
talvez não creia n,Elle ? Mas 0 povo das aldêas, que
se sente mais imme-
diatamente sob a mão do Deus, que vê muitas oârm
a sua fazenda e as
suas esperanças destruidas por um flagello, que
comprehende que coisa
alguma póde prosperar se Deus não lhe poe i mã0, recorre mais vezes
ás orações da Egreia, e ajunta-lhes boas ôbrrr,
esmoras, e argum serviço
prestado aos pobres. 0 desejo de tornar maii
eÍlicazes as bãnçãos que
pede, conserva d'este modo e alimenta n'elle os
sentimentos de humani.
dade. Ântes de escarnecerem d'eile, deveriam os herejes
e os impios pro-
var em que são oppostas estas bençãos á verdadeira philosopbia,
á verda-
deira piedade, á conÍiança em Deus, ao reconhecimento,
á obediencia, á
palavra de Deus, e á crença universar do genero
humano (r).
Quanto aos gue teem o poder de abençoar, são os Bispos e os pres-
byteros. Revestidos da plenitude do sacerdoció, pocrem
os Birpo, .oo.
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- ,/
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56 CÀTECISMo
jurisdicçã0.
sagrar e abençoar todos os objectos que teem debaixo rie sua
A elles sÓs pertencem as bençãos que são acompanhadas de uncções,
como a consagração das egreias, dos altares, do calix e da patena, a sa'
gração dos reis e das rainhas, e a benção dos santos oleos, dos abbades,
ãas abbadessas e dos cavalleiros. Ha outras bençãos que lhes estão re-
servadas, as das roupas d'altar, dos ornamentos, dos sinOs, dos cemiteriOs,
etc., mas das quaes se podem encarregar simples Presbyteros'
Às bençãos que são da competencia dos Presbytero§, são as dos ca'
samentos, dos fructos da terra, da agua misturada com sal,
das cinzas,
dos ramos, das tochas, etc.
0 effeito tla benção não depende das disposições d'aquelle que a
ilá; pois não obra em seu proprio nome, senão em nome de Jesus Christo'
a elle
clo qual não é mais que lnstrumento. Todavia, para lembrarJhe
func-
mesmo a santidade de que convém que esteja ornaclo n'esta augusta
emblema da innocencia, e da es'
çã0, deve estar revestirJó da sobrepelliz,
iola, symbolo do seu poder. Um joven acolito, imagem d'um anjo, deve
acompãnhal-0, tendo n-'uma das mãos uma vela accêSa, flgura da charidade
e da fe, e na outra a caldeira da agua benta'
Ào recitar a formula cle bençã0, tem o ministro sagrado as mãos
juntas ou elevadas para o Ceo, para exprimir o fervor da oraÇão e 0 ar-
com a mão o sig'
clente desejo que tem de ser attendido. Faz varias vezes
nal da cruz sobre o objecto que abençÔa, para recordar
que totla a graça,
Senhor é
vem da cruz, e que si em oittode dos merecimentos de Nosso
d'agua benta, para
que temos parte nas suas misericorclias. Asperge-o
pro'
significar que, pela oração da Egreja, elle sahiu da classe
das coisas
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DE PERSEVERÀNgÀ. 57
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58 caTocrsuo
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DE PERSEVERÀNÇÀ. 59
. (-1) Até á occupagâ,o í,*anceza enterlava-se n'ollas totla a gente ; descle entâo
só n'ellas se sepulta pãrtô da populaçâo.
(2) Bergier, ait, Cemiteri,ô,
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60 cÀrEcrsuo
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DE PERSEVERÀNÇÀ 6I
pó, tanto mais o cerca de respeito a Religiã0. Na vespera da ceremonia,
plantam-se cinco cruzes de pau da altura d'um homem. A primeira, mais
elevada que.às outras, no meio ; as outras adiante e atraz, á direita e es-
querda, nas extremidades do cemiterio. Diante de cada cruz eleva-se uma
estaca de pau da altura de dois pés, que tem na extremidade tres pontas
do pau proprias para segurar cirios.
Que quer dizer esta ceremonia na apparencia tam extravaganto?
Longe dos vossos labios o impio sorriso do desprezo. Tudo é grande na Re-
ligião; tudo é cheio de mysterios. Aquellas cruzes de pau collocadas aos
quatro pontos cardeaes representam 0 Salvador do munclo, aguelle que é
a, resurreiçd,o e a tida de todo o genero humano (l). Àquelles postes de
côr brancacenta, que se tomariam por tibias (2) descarnadas, são a ima-
gem do homem, a quem a morte torna similhante a um pau sêcco e inutil.
A noite que segue a plantação da cruz recorda as trevas do sepulcro,
assim como a ceremonia do dia seguinte e a viva imagem da resurreiçã0.
Aquella cruz em pe diante d'aquelles postes annuncia altamente que Jesus
Christo protege n0 mesmo sepulcro os despojos do homem, que 0s con-
serva sob a sua mã0, e que saberá devolver-lhes a vida no dia marcado.
No seguinte dia, havendo-se o Bispo revestido de sobrepelliz, estola
e capa branca, dirige-se ao cemiterio. E' empregada a côr branca porque
vae effectuar-se uma alegre ceremonia, vae proclamar-se um mysterio
consolador. Precedido do clero, vae o Bispo collocar-se diante da cruz
do centro. Àccendem-se quinze cirios, tres em cada um dos postes col-
locados diante das cruzes.
Collocados sobre aquelle pau privado de seiva e de vida, fidelissima
imagem do homem no sepulcro, aquelles cirios accêsos annunciam a re-
surreiçã0. 0 seu numero indica e proclama aos quatro extremos do mun-
do a Santissima Trindade, em nome e pelo poder da qual se deve operar
a resurreiçã0. A oração que 0 Bispo logo recita, nos revela o espirito
d'estas bellas ceremonias. Eil-a: «0' Deus omnipotente e cheio de mise-
ricordia, vós que sois o guarda das almas, a ancora da salvação e a es-
perança dos Íieis, escutae com favor a nossa humilde oraçã0, e dignae-vos,
pela vossa benção inteiramente celeste, de purificar este lugar e tornal-o
santo, para que 0s corpos que aqui repousem, depois do curso d'esta
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62 carncrsuo
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DE PERSEYEnÂNÇÀ. 63
ORAÇÃO.
0' meu Deus, que sois todo amor I graças vos dou por haverdes
tido tanto cuidado em me santificar e em santiÍicar a todas as creaturas;
concedei-me o comprehendor bem as saudaveis lições gue me daes com
todas as vossas bençãos.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao pro-
-rimo c0m0 a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amor,
lerei grande respeito a mí,m rnesmo,
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64 CÀTECI§MO
sExrA LtÇÃo.
(1) J. B. Bousseau.
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DD PERSEVERÀNÇÀ. 65
mim, maldictos, ide para o fogo eterno que foi preparado para o de'
, monio e para 0s seils anjos (l). A' vista d'isto, que é o tempo aos olhos
cla fe, isto é, da verdade ? E' o tempo 0 praso concedido pela justiça
divina á raça humana para fazer penitencia. Sim, assim e: o tempo, a
vida, é uma penitencia perpetua: o oraculo infallivel 0 proclama, em
harmonia com a ruzáo (2).
Quantos erros dissipados, quantos systemas derribados, quantas
ideas rectificadas, quantos arrependimentos talvez e quantos remorsos
I
excitados em mais d'uma alma só por esta definição Quantos anciãos
encanecidos aprendem aqui que se póde morrer de cem annos sem ter
t
vivido um só dia Quando a gente reflecte n'esta definição e lança um
oltrar para a face clo mundo, quando vê o uso que do tempo fazem reis
e povgs, sabios e ignorantes, ricos e pObres, moçOS e velhos, ha motivo
para escontler o rosto entre as mãos e assentar-§e, como Jeremias, para
chorar as ruinas da intelligencia. Homem t fllho d'um criminoso e cri-
minoso tambem, tu não tens mais que um dia para lavares a macula
que te inquina a alma, e esse dia emprégal-o em correr apÓs fantasmas I
Escravo clo demonio, não tens mais que um dia para despedaçares o ju-
g0, 0 esse dia empregal-o em fortalecer os grilhões I Eis gue vem a noi'
[e, a noite negra, profunda e immobil da eternidade, onde já ninguem po'
derá obrar I e tu nem pensas n'isso !
Para chamar incessantemente o homem a si mesmo, dividiu a Egreja
o tempo. Como tudo quanto vem da Egreja catholica, apresenta esta
divisão do tempo um grande cunho de sabedoria e utilidade. Com effei-
t0, divide-se 0 anno ecclesiastico em tres partes: a primeira, que com-
prehende o tempo do Àdvento ao Natal, nos memora os quatro mil an'
nos de preparação, e 0s suspiros e esperanças do mundo antigo, até ao
mornento em que os ceos entre-abertos deixaram descer o Justo, o De-
sejado das nações; a segunda, que se estende desde o Natal ate á Ascen'
sã0, encerra toda a vida mortal do Redemptor: o Íinalmente a terceira,
que começa no Pentecostes e termina no dia de Todos os Santos, recorda
a vida da Egreja.
Assim esta divisão do tempo, que nos memora toda a historia do
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66 cÀrncrsuo
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DE PERSEVERÀNCÀ. 67
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68 carEorsuo
dith, e o livramento dos judeus por Esther foram entre elles objecto de
festas perpetuas.
0 mesmo succedeu no Christianismo. Desde o principio, celebrou-
se a Íesta dos Martyres. Segundo o modo de pensar de nossos paes na
fé, era a morte d'um martyr para elle uma victoria, para seus irmãos
um modêlo, e para a Religião um triumpho. 0 sangue d'esta testimunha
cimentava o edificio da Egreja. Solemnisava-se o dia da sua morte, reu-
niam-se no seu sepulcro, e alli celebravam 0s santos mysterios; e os fieis
reanimavam a sua fé e coragem com o exemplo d'elle. Desde o começo
do segundo seculo, apparece este costume nos actos do martyrio de S.
Ignacio e de S. Polycarpo, e não podemos duvidar de que fosse seguido
em Roma, irnmediatamente depois do martyrio de S. Pedro e S. Paulo.
0 testimunho dos Apostolos e dos seus discipulos, sellado com 0
seu sangue, era tam precioso que não podia deixar-se de pôl-o continua-
mente ante os olhos dos Íieis. 0s mesmos motivos que flzeram estabele-
cer as festas dos marl,yres, deram origem ás dos confessores; isto e, dos
Santos que, sem haverem soffrido a morte, edificaram a Egreja com o
heroismo das suas virtudes. E' a sua vida um glorioso testimunho á san-
tidade do Christianismo e uma prova de que a moral evangelica não é
impraticavel para ninguem. Que lição mais util para consagrar-se com
uma festa perpetua I
0 que precede faz-nos comprehender a superioridade das festas
christãs ás judaicas e patriarchaes. N'estas, honravam-se sem duvida
grandes acontecimentos; mas, por maiores que fossem, não eram mais
que a sombra de acontecimentos ainda maiores. Que havemos de con-
cluir d'aqui, senão que as nossas disposições para as celebrarmos devem
ser muito mais perfeitas que as dos judeus e dos Patriarchas?
Que diremos da belleza das nossas festas, isto é, da sua harmonia
com as estações em que se celebram, com os mysterios que recordam, e
com as necessidades do nosso coração ? E' mui digno de lastima aquelle
que é insensivel á admiravel successão das nossas solemnidades Sup-I
primi as nossas festas, e vêde que monotonia existe no decurso do annol
como se torna tudo enfadonho e insipido na successão dos dias e das
estaçõesI Tentae inverter a ordem em que se celebram, e vereis que
profunda sabedoria determinou a epocha d'ellas.
Citemos alguns exemplos: collocae a fes[a da Paschoa ou da Resur-
reição no outono, quando tudo na natureza apresenta a imagem da morte,
e os dias que diminuem, e as arvores que se despem, e as folhas sêccas
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DE PEnSEVERANÇA. 69
que rolam arrebatadas pelo aquilão como o pó dos sepulcros, 0 0 hori-
sonte que se carrega de nuvens e qrie se obümbra: que vos parece?
Não ha ahi um contraste desagradavel e extrema difficuldade de entrar
' no espirito da solemnidade ? Da mesmo fórma tambem, celebrae o Corpo
de Deus n0 mez de janeiro, e dizei-me se sentis nascer nos corações
aquelles sentimentos de jubilo que deve inspirar o triumpho do Homem.
Deus ?
.(1)
moDta e
do sol.
perfeita
Iaçôes.
s
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70 cÀrEclsMo
(1) Homo cum in honore esset, non irrtellexit: comparatus est jumentis iusi-
pientibus et similis factus est iUis. Psal,rn,, LVIII.
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I
DE PEnSEYBnANÇA. 7l
Festas civis I mas hde, divididos como estamos por odios poNiticos, ixr
festas civis offendem e humilham parte das populações: que o triumpho
dos vencedores exaspena os vencidos.
Deixareis ao povo o cuidado de arranjar festas ? mas o p0v0, e por
povo, repito, entendo tanto os ricos como os pobres, assim os que habi-
tam em palacios como os que dormem sob o colmo, o povo irá pedil-as
á devassidã0. Haveis de vêr uns, passando alternativamente da mesa ao
theatro, arruinar-se em loucas prodigalidades; haveis de vêr outros so-
pultar-se nas tabernas, aviltar-se, embrutecer.se, e, devorando em algu-
mas horas a substancia da familia durante uma semana inteira, condem-
nar os filhos e as mulheres á fome e ás lagrimas.
Uma vez estabelecido este movimento desregrado, cada dir fanl no.
vos progresso§. Multiplicar-se-ão as salas de espectaculo, os botiquins,
as eseolas do vicio e os logares de devassidão de todas as especies. Uma
falsa politica, um sordido interesse e um fundo de inreligião persuadirão
que se Jornaram necessarios esses estabelecimentos pestilenciaes. Os bons
cidadãos e os artisÍ,as honrados se queixarão d'elles, porque não poderão
deter nas officinas os aprendizes nem os officiaes: pãréiir inutoÉ gemi-
dos I ao poyo são necessarias festas.
Tirastes-lhe as que lhe convinham, porqu€ so ellas o podiam fazer
mais activo e laborioso, e por conseguinte mais mgral. Metiestelo a ri-
diculo quando a ellas assistia, e desgostastel-o d'ellas: procurou outras.
Àgora, es§e povo immoral e descontente vos inquiet, o romno e perturba
os g0z0s' em tanto que vos não paga com o roubo e eom a violencia
as
vossas lições de impiedade: tanüo peor para vós ! . .
E quaes eram essas festas uuicas que oonvinham ao povo, porque
convinham á sociedade toda ? Eram as fes[as religiosas. Etrt primeiro 10.
gar, todos podem tomar parte n'ellas. Não são mais
excluidos d'ellas os
' habitantes das aldêas, que os das cidades. Não são onerosas
ao rico, nem
ao pobre; mui[as vezes se gloriam e comprazem elles em contribuir vo-
Iuntariamente para a magnificencia d'ellai. Aqui ninguem é offendido.
Nem o triumpho, nem a derrota dos outros é o que íõ
celebra; nos nos-
sos templos não se conhecem partitltrr; os filhos não teom
odio quando
estão juntos nô negaço da mãe: se ha lagrimas, são lagrimas
d,alegria ou
d'arrependimentO. Os concerto_s profanos, as voluptuosás danças dos
thea-
tros, as vocifera@es da lubricidado, os arrcbatamentos do furor, e
as d-
ras da devassidã0, são substituidos por santos canticos, e maflrificas
e
patheticas ceremonias. callam-se as páixoes, r.cobra
a alna o ,ão ,úãr;
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CÀTECI§MO
saude.
Havia-se pois mostrado a Egreja mui sabia e mui maternal ao mul-
tiplicar as suàs solemnidades. Nunca fez do seu poder uso mais util;
feiizes de nós ao menos se soubermos aproveitar-nos das festas que ti-
veram por bem deixar-nos t Para isso é mister santifical-as, e para san'
tifical.as é necessario entrar no espirito d'ttma solemnidade. Mas o que é
o espirito d'uma solemuidacle ? E' a intenção que se propÔz a Egreja ao
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I
DE PERSEVERANÇa. 73
0RAÇÃ0.
O' meu Deus, que sois todo amor I graças vos dou por terdes esta-
belecido festas para me recordarem 0s vossos beneficios e me levarem
mais eflicazmente á virtude.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amor,
me prepqrarei para as festas com ufixa, nloena,
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7ü, CÀIECI§UO
SET|MA LtÇÂo.
IDomlngo.
- Sua lrlslorla. - §eu obJeoúo. - Domlngo enúre o!
prlmelros Glrrlsúãos. Oração ern Gommum, Officlo. Orl-
- -
Eem do Oflolo dlvino. - IDiíferenúes lroras do Ofllclo. -Sua
Irarmonla oom lDeut, Gom o homem e oorn o mundo.
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I}E PER§EVEBAN.OA. 75
tecimento dos artistas e operarios I 8.o a destruigâo da vicla de familia; e 9.0 a au-
sencia do vinculo moral entre o mestre e o operario.
(2) Genio d,o Christ.,IY parte.
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76 cATEcrsMo
_ (l) Veja-se, ua segunda parte d'esta obra, o que dizemos do Domiugo, LIX
ligão.
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DE PERSE\|ERANqA. 77
(1) .Oitenta annos depois de S. Justino, dizia ainda Tertulliano.. «Presidem el-
guns anciâ,os recommendaieis : cada um de'nós
anciâos recommendaveis dã'nós leva eaila
eada mezmez o seu modico tributo.
tributo,
-
qlrqpdqIo_ quer
quer_ee como quer,
quer-, em proporçâo dos seus meios ,. "porque uinguem a il;-é
sàuí*àiór,;tporqrL isso é
"i"ãil;;-
obrigado, tuclo é voluntario. E' a-quillo como que um dópãsitó de pie?ade que nâo
se consome em ^- L--^.-^3^- --^--- --- i ,
banquetes nem em. êstereis dissi^pagôes ; emprega-se
eô tro sustento dos
lncllgentes,
'ntligentes, nos gastos
gastôs d_o
do seu_enterro,
seu enter e na manutengào o dos pobres orphâos, dos crea-
dos exhalstos_pela edad_e, e dos naufragos. Ilavendó Chr.istàos condômoudor ás mi-
,thlistâ,os condemnados
longe da patria ou deiidos nas prisôes unicamente pela causa de
desterrados-longe
nas, desterradôs
s, prove-se {gga
Deusr^provê-se â sua subsistencia,»
subsrstencia,» Apol,oqet,
Altologet,
(2) Apol,. Vide Mamacbi, t. I, p-. 28?.
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78 cÀrucrsuo
quantos velhos costumes o santos usos ella recorda. Coisa admiravel t não
ha em toda a christandado aldêa e logarejo, Qü0 não possa offerecer de
oito em oito dias, aos sabios e eruditos, reminiscencias da antiguidade, re-
cordações dos Cesares, do Circo, das catacumbas e dos martyres (l).
ls orações com,nums de nossos paes na fé dão-nos margem a fallar-
mos aqui do officio dirsino, isto é, da verdad eira oraçd,o em commum do
christianismo. Posto que os fleis já não digam o oflicio, comtudo assis-
tem a elle ao menos uma vez cada Domingo. Ate recitam parte d'elle,
Vesperas, por exemplo, e ás vezes Completas. A sua fé, piedade, e res-
peito ás oraçães e usos da Egreja, não podem deixar de lucrar muito em
conhecerem o sentido e a ruzáo do officio no seu conjuncto.
0rigem do ofi,cio dioino. Todos os homens oraram, e oraram em com-
mum. Os primeiros Christãos especialmente gostavam de reunir-se para
offerecerem a Deus o sacriÍicio de seus labios. Aos seus ouvidos resoayam
ainda estas palavras do divino Mestre: 0nde esl,ão reunidos dois ou tres
em rneu nlme, eslou eu,no meio d'elles (2). Perseguidos, acossados como
innocentes ovelhas por lobos crueis, buscavam a força e constancia que
lhes eram necessarias pondo seus corações, votos e orações em commum
com seus irmãos, assim como repartiam com elles a fazenda e os perigos.
Assiú de noite como de dia, havia horas marcadas para a oraçã0. As
Constiluições aposlolicas ordenam aos fieis orem pela manhã, á [erceira
hora, á sexta, á nona, a tarde e á meia noite (3). S. Jeronymo, escreven-
do a uma grande dama acerca da educação de sua filha, diz-lhe: «Ponde
junto d'ella uma virgem d'etlade madura, modelo de fé e pudor, que lhe
ensine e a habitue com o exemplo a levantar-se de noil,e para orar e can-
tar os psalmos sagrados ; pela rnanhd,, os hymnos sagrados; d Terça,
Seuta e Nôa a continuar o combate, como heroina de Jesus Christo ; e
ao pôr do sol, a accender a sua lampada, como virgem sabia, e offerecer
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DE PER§EIEAÀNÇA. 79
o sacrificio da tarde (l).» O mesmo Santo nos aÍfrma, nas sua§ Cartas,
que o ceifador christão acompanhava 0s seus trabalhos do canto tlos psal-
mos, e que o vinhateiro podando a vinha repetia os canticos de David (2).
0s monges do Egypto e da Thebaida, os solitarios do Oriente, da
Palestina e da Mesopotamia, em cada mosteiro, reuniam-se varias vezes
ao dia para recitarem psalmos e cantarem hymnos á gloria tlo Senhor.
Não eram só os religiosos os que oravam assim ás differentes horas clo
dia e da noite, pois o commum dos fieis seguia este santo uso. S. Agos-
tinho, diriginrlo-.ce ao seu povo, diz-lhe : «Meus queridos irmãos, rogo-vos
que vos levanteis mais cêdo para assistirdes ás vesperas. Yinde primeiro
que tudo ao officio de Terça, Seata e Nôa. Ninguem se exima d'esta
obra santa, a não ser que seja impedido por alguma enfermidade, por
algum serviço que preste ao publico, 0u por uma grande necessidade (3).»
A reunião de todas estas orações chama-se officio diuino, porquo é
um deaor que se tributa a Deus para o adorar e aplacar, e para lhe dar
graças e pedir-lhe os seus favores. Pelo que precede se vê que o officio,
tal pouco mais ou menos quat hoje existe, remonta á mais remota anti-
guidade. Herdeira das tradições antigas, cstabeleceu-o a Egreja para per-
petuar aquelles canticos sagrados que resoaram no templo de Jerusalem,
nos eccos do Sinai, e nas praias do mar Yermelho: tambem quiz facilitar
aos christãos o exercicio da oraçã0.
Differentes horas do offi,cio.-Tambem aqui ha uma tradição de tres
mil annos. David dizia ao Senhor: Eu canl,o 0s oossos louuores sele oe-
zes ao tlia @); e o oflicio divino divide-se em sete partes, que se chamam
Horas, porque se recitam a sete horas differentes da noite e do dia. Eis
o nome d'estas differentes horas: Maüinas, Prima, Terça, Seuta, Nóa,
Vesperas e Complelas. E' da mais remota antiguidade esta divisão (5).
ã?3,,*:
is;
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80 carEcrsuo
ls Laude§, que se contam ás vezes por oitava hora, fazem parte das Ma-
tinas ou do officio da noite. Por tanto sobre a veneravel auctoridado
d'uma tradição de tros mil annos é que está estabelecida a divisão do
officio em sete horas adoptada pela Egreja. Mas em que descança esta
mesma tradição ? Nas admiraveis harmonias do numero sete com Deus,
comohomemecomomundo.
l..o 0 numero sete é o dos dons do Espirito santo. «A antiga ser-
pente, diz a este respeito S. Jeronymo, expulsa do coração humano, volta
com sete demonios mais maus que ella; e e-nos impossivel resistir-lhe,
se não somos fortificados pelos sete dons do Espirito Santo. para os
obtermos é que oramos sete vezes ao dia ({).» zP o numero sete é o
dos sete peccados mortaes. Para os evitarmos, ou para nos erguermos
se 0s commettemos, é que oramos sete vezes ao dia. 3.0 Todas as ne-
cessidades espirituaes e temporaes do gerero humano são sete em nu-
mero, encerradas na§ seto petições do Pater. para alcançarmos o objecto
de cada uma d'estas petições é que oramos sete vezes ao dia. 4.o 0 nu-
mero sete é o dos dias da creação e do descanço de Deus. para nos
lembrarmos d'essa grande semana que viu sahir do nada o mundo, e nos
excitarmos a dar graças a Deus por cada parto da creaçã0, a flm de que
fazendo bom uso das creaturas cheguemos ao santo deseanço da eterni-
dade, e que oramos sete vezes ao dia. As razões d'esta divisão septe-
naria da oração já existiam ha tres mil annos. Eis ahi o fundamento
d'esta veneranda tradiçã0, e a prova da profunda sabedoria da Egreja.
São sonhos tudo isso, dirão acaso os homens levianos, desacostu-
mados a reflectir. Pois sejam sonhos quanüo vos aprouver : que nós pre-
ferimos sonhar com s. Jeronymo, s. Basilio, s. Agostinho e yarrã0, a
raciocinar comvosco (2).
Belleza do olficio. Para fazerdes uma idea da excellencia do ofli-
-
cio divino, basta-vos saber de que se compõe. E' um resu,mo (B) de tudo
quanto ha mais bello n0 mais bello de todos os livros, o Àntigo e o
Novo Testamento; de tudo quanto nos offerece a historia dos Santos
mais pathetico e mais sublime; de todas as orações sahidas do.coração
abrazado dos mais bellos genios, e ao mesmo tempo dos maiores santos
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DE PEASEVERANÇA. gl
que o mundo tem conhecido; e de toclos os canticos sagrados que a fé
inspirou á piedade christã. Encerra inteiros esses cantos inimitaveis, es-
sas poesias immortaes do real propheta, em que o coraçã0, o espirito e
a imaginação encontram um como oceano cle bellezas sem eguàes, de
pensamentos sublimes, e de sentimentos divinos. Houve nunca mais bello
breviario de coisas mais bellas ? houve nunca oração mais poclerosa ?
Quer um monarcha encher de favores sua esposa querida ; mas
quer que sua esposa lh'os peÇa. E eis que elle proprio lhe traça a sup-
plica, lhe indica todos os termos de que ella derie servir-se, e depols
Ih'a põe na§ mãos fazenclo-lhe juramenlo pelo coração de conceder-lhe
tudo quanto lhe prometteu, Iogo que se apresentar com a supplica na
mã0, nos labios e no coração : eis ahi Deus, eis ahi a Egreja, eis ahi o
breviario.
I
0h que poder não devem úer sobre o coração de Deus esses tre-
zentos ou quatrocentos mil sacerdotes catholicos, que cacla dia se apresentam
sete vezes ante o throno do Esposo da Egreja, pedindo-lhe c0m0 quer os
favores que Elle mesmo prometteu e de que tem precisão esta esposa
querida I
E quando se pensa gue a cada hora do dia e da noite hi mi-
Ihares de sacerdotes occupados n'esta sublime funcçã0, que ora o 6riente
quando repousa o 0ccidente, de sorte que nunca se interrompe a voz 6a
oraçã0, não vos parece estar na Jerusalem celeste, onde os bemaventu-
rados repetem sem fim o cantico da eternidade: santo, sa,nt1, sa,nty, o
Senhor Deus dos euercitos (l) ? Que rio de bençãos não tleve fazer cor-
rer sobre a terra esta potente supplica ? Mundo criminoso I a ella é que
tu a conservaçã0, e esquecel-o t
deves
Oue mais hei tle dizer ? Todos os seculos, todos os paizes, todas as
linguas, cantam comnosco quando cantamos os psalmos de Davicl. Em
quanto os fazemos resoar nas abobadas de nossas egrejas, repetem-se es-
ses immor[aes canticos em Roma, ern Jerusalem, em pekin, ert Mexico,
em Petersburgo, n0 Cairo, em constantinopla, em paris e em Londres.
0 templo de salomã0, as planicies de Babylonia e de Memphis, as mar-,
gens do Jordã0, os desertos da Thebaida, as catacumbas de Roma, e as
Basilicas de Nicêa, Corintho e Antiochia os ouviram.
t
Por quantas bÔccas mais puras que a minlra teem passado Tobias
no Ieito de dôres, Judith n0 campo de Holophernes, Esther na côrte
d'Assuero, e Judas Machabeu á frente dos guerreiros d'Israel, os repeti-
(1) Apol,,,IV, 8.
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82 cÀrEcI§Mo
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DE PERSEVERÀNqA 83
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--'-.--
84. cA.TEcrsMo
(1) Durando, l. V.
(?'l Adhuc te loqueute ecce adsum. Isaias, LV[I, 9.
... (q) _Alguns auctores dâo á Gl,oria origem mais autiga,
cilio de Nisêa.
atiribuindo-a ao con-
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DE PERSEVEnÀNÇÀ. gB
oRAÇÃ0.
0' meu Deus, que sois todo amor t graças vos dou por haverdes insti-
tuido o santo dia do Domingo; é muito *ri, por
causa de mim qo. fo,
causa dg vós que este dia cleve ser
consagradã á oração ; concedei-me a
mercê de bem o santiÍicar.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas
as coisas, e ao pro-
ximo c'mo a mirn mesmo por amor de Deus;
e, em prova d,este amor-
me applicarei a comprehender bem as cerem,nias
ila-Egreja.
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86 CÀTECISMO
otTAVA LlÇÃ0.
I.Hyuxo.
- Depois da Gloria Patri, d'esse impulso d'amor, d'esse
brarlo d'alegria erguidg para a SS. Trindatle; depois da repetiçã6 do
in'
vitatorio, canto d'alegria ou de tristeza conforme o mysterio que se ce-
'hymno, o hymno destinado a louvar a Deus, a elevar a0
lebra, vem o
ceo os pensamentos e aS affeições, e a formar ou fortificar em nós oS
sentimentos e as virtudes gue deve inspirar a festa do dia. Assim é
que
DE PERSEVENÀNÇÀ. 87
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88 cÀrEclsMo
(1)
(2)
(3)
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DE PERSEVEBANÇA. 89
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90 GÀTEcrsuo
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DE PERSEVEnANÇÀ. 9t
Eis-nos instruirlos, o até reconhecidos, pela doutrina que acabamos
de receber. Ora, que meio de testificarmos 0 nosso reconhecimento, se-
não pondo em prática a palavra santa, e imitando os bellos exemplos quo
nos acabam de pôr ante os olhos ? A isto é que se obrigam todos os as-
sistentes pelos responslrios que se recitam logo depois da liçã0, e alter-
nativamente pelos dois córos. 0s responsorios da terceira lição terminam
pela Gloria Patri, a fim de recordar-nos quo todas as nossas orações e
obras devem referir-se a0 supremo flm de todas as coisas, á SS. Trin-
dade.
Assim se recita ou se canta o primeiro nocturno, isto e, a primeira
parte das Matinas. Durante os primeiros seculos, dizia-se pelas nove ho-
ras da noite, no momento em que os homens costumam ir descançar. Em
diversas egrejas, era sem invitatorio, porque os ministros sagrados o recita-
vam sós sem que fosse convocado o povo. Este primeiro nocturno chama-
va-se propriamente vela ou vigilia, em memoria dos pastores que velavam
pelos seus rebanhos nos arredores de Bethlem, quando nasceu o Salvador
do mundo. Quantos mysterios nos l'ecorda esta hora sagra.da I a véla dos
pastores, as ternas despedidas do §alvador aos Apostolos, 0 â sua agonia
n0 jartlim de Gethsemani. Se temos fé, que effusões de coraçã0, que
fervorosas orações se juntarã0, clurante o primeiro nocturno, aos penho-
res d'amor e a0 sangue da grande Victima I
Nas egrejas onde o povo não assistia ao principio do oÍflcio, co-
meçava o segundo nocturno pelo inuilatorio, porgue todos os fieis,
homens e mulheres, eram para elle convocados, Aqui ha tambem uma
bella tradiçã0, uma tocante harmonia. Anjos da terra, convidavam os
ecclesiasticos á adoração do Salvador 0s Íieis confiados á sua vigilancia,
c0m0 0s Anjos haviam convidado os pastores de Bethlem. 0 segundo
nocturno cantava-se á meia noite. Quantos mysterios nos recorda tambem
esfa hora sagrada ! o nascimento do Salvador, o chamamento dos Anjos
e a adoração dos pastores, e os soffrimentos do Jesus perante os tribu-
naes de Annás e Caiphás.
O terceiro nocturno recitava-se pelas tres horas da madrugada. Isto
por tres grandes razões: primeira, a flm de honrar o Salvador nas igno-
minias d'aquella noite horrivel que passou á mercê dos creados s solda-
dos; segunda, para pedir perdão da sentença de morte proferida contra
elle áquella hora por Caiphás; e terceira, para expiar a negação de S.
Pedro.
« Eis aqui, dizem nossos paes, a razão d'esta mysteriosa distribuição
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92 carucrsuo
(1) Dwendo, l. V.
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DE PERSEVERANçA, 9S
oraÇões, tão gelidos uo seu culto, tão inimigos da Egroja romana, o teem
oonservado cuidadosamente.
Mas porque se diz elle no fim do terceiro nocturno ? Eis a resposta
a esta pergunta. Todos os filhos de Deus, sacerdotes e fieis, acabam de
louvar o Senhor, e de se excitarem mutuamente á charidade e ao fervor.
Àcabam de ouvir a leitura da lei que dilata o coraçã0, 0 â historia de
seus irmãos já glorificados no seio do Pae commum. Yiram palmas e
corôas, uma recompensa immortal por um trabalho de breve duragã0.
Como quereis que todos juntos, cheios d'estes pensamentos, não rom-
pam em acções de graças ? Não vos admireis de que cantem o Te-Deum.
0 som dos sinos, que outr'ora so juntava á voz d'elles, era uma nova
expressão da alegria e ardor universaes, uma solemne convocação que
faziam a todos 0s seus irmãos e a todas as creaturas, de louvarem com
elles um Pae tão magnifico e tão bom.
VIII. LauDEs. _. 0s tres nocturnos formam as tres primeiras partes
das Matinas, e as Laudes, a quarta. Estabeleceu-se esta divisã0, como
já indicamos, para santiÍicar as quatro velas da noite. As Laudes recita-
vam-se antigamen[e, e deveriam, regularmente fallaudo, recitar-se ainda
ao romper do dia. Eis aqui as razões: l.u foi a0 romper do dia que
Nosso senhor saNu victorioso do sepulcro; e 2." foi ao romper do dia
que caminhou pelas ondas e fez caminhar a S. Pedro.
A palavra Laudes quer dizer louvores. com effeito, n'esta parte do
oÍlicio da noi[e, é que celebramos particularmente os louvores de Deus,
e quo Ihe damos graQas : 'l.o pela resurreição do Salvador, milagre fun.
damental do christianismo, operado n'aquella occasião; 2.o pelas mercês
que nos concede o senhor para andarmos, como s. Pedro, durante a
noite d'esta vida sobre o mar tempestuoso do mundo; B.o pela creação do
universo, cuja imagem nos pinta 0 apparecimento da luz; e r*.o finalmen-
t0, pelo cuidado paternal com que Deus velou por nós durante a noite,
e pela bondade com que nos dá um novo dia.
Da mesma fórma que os nocturnos, comeÇam as Laudes pela invo.
cação Deus in adjutoriunt, acompanhada do signal da cruz, e seguida da
Gloria Patri, da .Alleluia e da imposição da antifona. No fim de cada
psalmo repete-se a Gluia Patri. o agradecimento exige que assim seja.
Não vimos que os psalmos exprimem 0s boas obras, o trabalho christão?
Ora, que coisa mais justa que dar graças a Deus, de quem vem toda a
boa obra, e que merece por conseguinte §e louve e se lhe agradeça como
no principio, quando creou o ceo e a terra ; a ügordo QUe conserva o
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94 cAructsuo
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DE PEnSEVERANÇÀ. Q 9ô
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96 cÀrgcrsuo
:
tempestades, dão-se graças á SS. Trindade dizendo Gloria Pawi. Pro-
testamos-lhe do noyo o nosso illimitado amor com a'repetição da antifo-
na. Finalmente pedimos-lhe o cumprimento de todas as suas promessas
pela oração que termina o officio.
Ide agora, soldados de Jesus Christo, casa de Deus, campo d'Israel;
ide ao combate: nada vos falta para colherdes louros. Oh ! se nós reci-
tassemos es[as admiraveis orações do officio com intelligencia e no espi-
rito de fe que as dispoz, não seriamos, ao sahirmos d'alli, segundo o dito
de S. João Chrysostomo, como leões que respiram fogo, e cujo só aspecto
faz tremer as legiões infernaes ? E porque não hade ser assim ? de que
depende isso ? De nós, e só de nós.
oRAÇÃ0.
O' meu Deus, que sois todo amor I graças vos dou por haverdes es-
tabelecitlo tantas bellas orações, por meio das quaes estamos certos de
obter todas as mercês de que precisamo§; e peço'vos perdão pela pouca
fé õom que tenho orado até agora.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre totlas as coisas, e ao pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova deste amor,
direi muitas vezes como os Apostolos: Senhor, ensinae-me ü orar.
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DE PERSEVERÀNCÀ. 97
NONA LtçÃo.
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98 cÀrEcrsuo
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DE PERSEVEnÀNÇA. gg
Em Prima, lê-se o lVlartyrologio: ê a historia cruenta mas gloriosa
de nossos
irmãos, guO, Outr'ora soldados como nós, descançam noie no
ceo sobre
os seus immarcessiveis louros.
Depois da leitura do Martyrologio, diz o oÍliciante : E, preciosa pe-
rante Deus! A mot"te dos seus santos, responde o côro; e, em nome de
-
todos os seus irmãos, erprime o officiante este voto tam
christão
ss. virgem e todos os santos nos ajudem com as suas orações junto do
«a :
§enhor, para que mereçamos ser por Elle protegidos e santiÉcados.»
D_epois d'esta oraçã0, repete o ofliciante tres urr.r,
senhor, oinil,e em melt
dürilio, e o côro accrescen ta: senhor, apresscte-t)os a soccyryet -me. Estas
tres repetições são destinadas a obter protecção contra os nossos tres
inimigos, mundo, diabo e carne. sao segúiclas ãa 0bria patri,
a Íirn de
darmos graÇas, em nome de todos 0s nossos irmãos, á
augusta Trindade,
de quem veio a preciosa morte dos santos e de quem virá a nossa.
Mas, ai I são para temer quedas; e tam graode a fraqueza humana t
D'antemão pedimos misericordia, e tres vezes dizemo.s: Kyrie eleison
oa
christe eleison: senhor, christo, tenile compaird,o ile nós. A fim de ob-
termos com mais certeza esta misericordia, recitamos a Oração do
Senhor.
Terminamol-a supplicando ao Pae celeste dirija seus filhos, e seus filhos
somos nós; e nos ajude a dirigir 0s nossos, e 0s nossos filhos
são os nos-
sos pensamentos e obras.
r. Trnç.1. Terça é a seguncla hora do oÍlicio do ttia. Dá-se-lhe
-
este nome porque se recitava á terceira hora do dia, segundo o modo
de contar dos antigos; para nós, Terça corresponde ás nove horas da
manhã. Prima e Terça compoem-se das mesmas partes, á excepção das
orações flnaes. a Egreja, gue, por meio dos seus sacramentos, imprime
em cer[o modo a santidade em todos 0s nossos sentidos, escreve tambem
bs seus augustos mysterios em cada hora do clia. 0 seu oÍflcio os recorda
successivamente á nossa adoração e amor. 0 salvador, perseguido pelos
sanguinarios clamores dos judeus, prêso á columna por orclem de pilatos,
e cruelmente flagellado; o Espirito Santo descendo sobre os Apostolos e
dando origem á Egreja: taes são 0s memoraveis acontecimentoi que
ce-
lebramos com as orações de Terça. Como as outras horas, remonta esta
aos tempos apostolicos (l).
Em memoria da Lei nova, escripta em letras de fogo no coração dos
Apostolos, canta-se nas pequenas horas o psalmo em que David celebra
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100 cÀrncrsuo
(1)
(2)
Catech,,
Eis rnais
in crucem ascendit, sexto clie sreculi, in s
domadis et sexta'hora sexti dieir, etc
Heçaem,
(3) Basil,, dn Regul,, i,ntet'rog, XXXIV.
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DE PERSEVERANÇÀ. t0t
cimentos gue nos repete esta hora. acaso os houve mais proprios para
nos fazerem derramar diante de Deus orações e lagrimas?
0s psalmos das pequenas horas do domingo offerecem-nos uma har-
monia tam bella, QUe não podemos resistir ao prazer de vol-a signalar.
'Mostrará
que tudo, até um jota, está disposto, nos officios tla Egreja, com
uma sabedoria e profundeza de vistas que nunca se poderá admirar suffi-
cientemente. Todas as pequenas horas d'este dia se compoem de dois
psalmos, o segundo dos quaes se divide em Prima, Terça, sexta e Nôa.
Cada divisão d'este psalmo contém dezeseis versiculos. Porque sómente
estes dois psalmos ? Porque estes dezeseis versiculos ? 0s dois psalmos
recordam as duas allianças de Deus com os homens, a antiga e a nova.
0s dezeseis versiculos significam os interpretes d'estas duas allianças.
Para a antiga os doze pequenos Prophetas e os quatro grandes; para a
nova, os doze Àpostolos e os quatro Evangelistas ({).
0s psalmos e hymnos das pequenas horas estão tambem em harmo-
nia com as differen[es horas do dia a que os recitamos. Ao nascer do sol
o começo, a Terça a continuaçã0, a sexta a perfeiçã0, a Nôa o fim da
charidade e da vida; pois, ai I a vida não é mais que um dia.
v. vospnnes. são as vesperas a quinta hora do officio do dia. a
- i
sua antiguitlade é a mesma que oa ngrõja (z). Oht como foi com justa
causa que a Egreja consagrou esta hora á oração !
Quantas recordações
ella nos suscita t Em primeiro logar é o sacrificio da tarde offerecido to.
dos os dias no templo de Jerusalem; depois a insti[uição cla sagrada Eu-
charistia; e finalmente a descida da Cruz e o enterro de Nosso Senhor.
Taes são as razões por que deseja a Egreja tam vivamente que nós este-
jamos em oração clurante esta hora memoranda.
Conhecem o valor da oração esses Christãos de todas as edades e
condições que desdenham assistir ás Yesperas, e sabe-lhes o coração pal-
pitar de reconhecimento? As Vesperas, dizem na sua impia leviandade,
as Yesperas são para os Padres; Então não foi para vós que se instituiu
a sagrada Eucharistia ?
Não deveis nada a Deus por este beneficio ? Não
foi por amor de vós que'se immolou Jesus Christo? Não vos diz nada a
hora a que foram operados estes grandes milagres? E que fazeis vós d'esta
hora sagrada em que deveriam lagrimas ardentes correr.vos dos olhos e
(1) Durandus, l. V, c. V.
(2) Constit, apost.,l. VIII, c. XL. '7
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t02 cArEcIsMo
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DE PERSEVEhÀNCA. 103
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t04 carECIsMo
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DE PERSEVERANCÀ. t05
os idolos fracos e impotentes das nações, nos instiga esta terna mãe, em
toda a extensão da sua charidade, a abjurar o culto dos deuses estranhos,
para ngs unirmos irrevogavelmen[e ao Senhor, que nos deu tão estrOn'
dosas demonstrações da sua grandeza, poder e bondade.
p
lidade, contém ás santas palavras que elle o
que
que tem aos membros de Jesus Christo e
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t00 caruorsuo
0RAÇ40.
O' msu Dêus, que sois todo amor I graças vos dou por me haverdes
instruido nas santas ceremonias do vosso culto; fazei com que ellas rea-
nimem em mim o espiriüo da fé o da oraçã0.
Tomo a resolução de amar a Dous sobre todas as coisas, e ao pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Dous; e, em prova d'esto amor,
aasisti,rei rcgularmenlc ds Vosperas.
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I
DE PERSEVERANCÀ. t07
DECTMA LtçÃo.
Oompleúa§.
- Uso do lingua laúlna na liúurgia. - Sabedorla,
da DgreJa. - Canúo, su& rozrlo, §ua origem e belleza. -
Dxemplo de §. Agorúinlro, do Joõo Jacques.Eousseau.
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t08 CATECISMO
(1) Completas quer dizer comgtlunenüo, porque esta hora compleúa o ofrcio.
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DE PEBSEVERANÇÀ. [09
:
Que resta agora ? dar-nos um conselho mui saudavel é o de estar-
mOs nós proprios precatados, e, Se acordarmOs durante a noil,e, volver'
mos logo o coração para Deus. Tal e o objecto do terceiro psalmo : Ecce
nunc benedicite Dominum: E agora bemdizei o Senhor. Se assim faz,
:
cOnclue a Egreja Do alto dq montanha de Sid,o, o Deus que cre1u o Ceo
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il0 CATECISMO
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DE PERSEVERÀNÇA. trt
para aquelles que sabem santifical-o verdadeiramente. A oraçã0, a chari-
ãade, alegrias innocentes, reuniões tle familia, ocios pacificos o enche'
ram; e quando é findo esse dia, quando, com todos os ouüros dias, vae
cahir no abysmo do passado, vae radiante das boas obras que fez prati-
car e perfumado do incenso queimado ante os altares (l).,
Terminemos 0 que diz respeito ás Completas, accrescentando que esta
derradeira hora do officio do dia se acha indicada nos antigos Padres da
Egreja (2). O uso de orar an[es de ir descançar parece estabelecido pela
propria na[uroza. Â Egreja consagrou-0. Mandando-nos dar graças a Deus
no fim do dia, propõe á nossa adoração o Salvador encerrado no sepulcro:
de fórma que, no seu officio quotitliano, honra o seu divino Esposo des'
de o nascimento ato á sepultura. Que bello assumpto tle meditação para
seus filhos t que admiravel meio de os tOrnar taes quaes devem sor, 0u-
tros Jesus Christo (3) I
II. Uso Do LÀrrlu. Todas as horas do seu officio, offerece-as a Egreja
-
a Deus n'uma lingua hoje desconhecida á maioria dos fieis ; e dirige'lh'as
cantando. E' iusto que vos faça admirar n'estes dois usos a profunda sa-
bedoria de vossa mãe. E primeiramente, porquo se usa da lingua latina
nas orações publicas ?
l.o E' para conservar a unidaile da fé. Ao nascer o Christianismo,
fez-se o serviço divino em lingua vulgar na maioria das egrejas. Mas, como
todas as coisas humanas, estão as linguas sujeitas á mudança. À lingua
franceza, por exemplo, já não é a mesma que era ha dueentos annos; bom
numero de termos envelheceram, e outros mudaram de significaçã0. O
torneio das phrases differe tanto quanto differem as nossas maneiras das
de nossos avôs. Todavia uma coisa tleve permanec,er immutavel, que é a
fé. Para pôt-a a salvo d'essa instabilidade perpetua das linguas vivas, em-
prega a Egreja catholica uma lingua fixa, uma lingua que, não sendo já
fallada, já não está sujeita á mudança.
A experiencia prova que a Egreja foi dirigitla, n'isto como em todas
as coisas, por uma sabedoria divina. Yêde o quo succede entre os protes-
tantes. Quizeram empregar nas suas liüurgias as linguas vivas, e eis que
incessanl,emente se vêem obrigados a renovar as formulas, e a retocar as
versões da Biblia : d'onde altorações infinrlas. Se a Egreja houvosse feito
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Lt2 CÀTECISMO
I
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DE PERSEVERÀNÇA. il3
nhora do mundo quadra a lingua dos dominadores do mundo, como a
uma doutrina immortal quadra uma lingua immutavel. Se a Religião e a
raz"ao devem acções de graças á Egreja catholica por ter adoptrdo as lin-
guas grega e latina, não lhe devem menos reconhecimento as sciencias.
Immortalisando a sua lingua, immor[alisou a Egreja a litteratura dos gre-
gos e romanos, do mesmo modo que 0s Papas salvaram, santificando'os,
0s monumentos dos Cesares. Se não fosse a cruz que a domina, ha muito
que estaria em terra a columna Trajana.
De resto, não e certo que, pelo ttso d'uma lingua morta, se achem
os Íieis privados do conhecimento do que se contem na liturgia. Longe de
vedar-lhes este conhecimento, recommenda a Bgreja aos seus ministros
expliquem a0 povo as differentes partes do santo Sacrificio e o sentido das
orações publicas (l). Muito mais, não prohibiu absolutamente as traduc-
ções das orações da liturgia, pelas quaes póde vêr o p0v0 na sua lingua o
que dizem os Sacerdotes no altar (2). Não e pois verdade, como lhe ar-
guem os protestantes, que ella quizesse occultar 0s seus mysterios; nã0,
só quiz pôl-os a salvo das alterações, inevitavel consequencia das mudan-
ças de ljnguagem (3),
m. Uso D0 cANro. Da lingua da Egreja catholica passemos ao
-
canto; digamos a sua origem, o seu uso e a sua belleza. 0 canto ê na-
tural ao homem ; encontra-se entre todos os povos. 0 canto é essencial-
:
mente religioso no principio vê-se por todas as partes empregado no
culto divino. Este acôrdo universal prova que 0 canto e agradavel ao
Senhor, e que é o meio legitimo de lhe rendermos parte do culto que
lhe devemos. Mas que é o canto ? 0 canto, responde um antigo e pio
auctor, é a lingua dos anjos (&) ; tah,ez fosse a lingua que o homem fal-
lava antes da queda.
N'esta hypothese, a nossa palavra actual não seria mais que uma
ruina da palavra primitiva (5). Havendo sido aviltado o homern todo pelo
crime original, comprehende-se que devesse a sua palaora soffrer um
aviltamento correspondente. Ao menos parece que 0 canto ha-de ser a
lingua do Ceo ou do homem completamente regenerado, pois não se
falla senão de cantos e harmonias entre os felizes habitadores da Jeru-
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ll,tt CÀTECISMO
(1) S. Âgost.
(?) S. Bnsil., ,_1. VI, e. XXI;S. Chrys,ri,n psal.Xltl.
(?) §r1ÍI, -Ei Y, XXXVII;' Theodoreio, I. fII, c. I.
(4) lY Reg", 1 Dan.,III.
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DE PInSEVERANÇA. ttB
seu culto o brilho e a pompa conveniente: foi auctorisada a isso pelas
lições de Jesus Christo e dos Apostolos. 0 nascimento d'este divino Sal-
vador fôra annunciado aos pastores de Bethlem pelos canticos dos Anjos.
São conhecidos os de Zacharias, da SS. Yirgem, e do velho Simeã0. Du'
rante a sua pregaçã0, achou conveniente o proprio Salvador que as mul'
tidões do povo vindas ao seu encontro o acompanhassem na entrada em
: !
Jerusalem cantando Hosanna bemdito seia aquelle que oern em nome
do Senhor, saude e prosperidade ao ft,lho de Daoid, e continuassem assirn
até ao templo (l). S. Paulo exhorta os fieis a excitarem-se mutuamente á
piedade por meio de hymnos e canticos espirituaes (2); elle proprio com
Silas cantava á meia noite na prisã0.
Nossos paes na fe pozeram em prática as lições do grande Apostolo.
Interrogando-os Plinio o moço para saber o que se passava nas suas
assemblêas, disseram-lhe que se reuniam ao Domingo para cantarem hym-
nos a Jesus Christo como a um Deus (3). Aconteceu o mesmo em todo
o correr dos seculos. 0s maiores homens que tem produzido a Egreja e
que tem admirado a terra, ligavam ao canto tal importancia, que não des-
denhavam de o regularem em pessoa e de o ensinarem aos outros: tes-
timunha S. Athanasio, S. Chrysostomo, S. Agostinho, S. Ambrosio e
S. Gregorio Papa.
A exemplo de David, Pepino, rei de França, nnas principalmente
Carlos lVlagno, seu Íilho, dedicaram grande cuidado ao canto religioso.
Havendo notado que 0 canto gallicano era menos agradavel que o de
Roma, enviaram a esta capital do mundo christão clerigos intelligentes
para estudarem e aprenderem o canto de S. Gregorio, e breve o intro-
duziram nas Gallias. Todavia nem todas as Egrejas de França o adopta-
ram uniformemente; algumas não tomaram senão parte d'elle, e o junta-
ram com o que estava precedentemente em uso. Tal é a causa da diffe-
renÇa que se nota entre o canto de diversas dioceses (4).
IY. Brr,r,nzÀ Do cÀNro. Comtudo este canto, tal qual existe hoje,
-
e posto que soffresse grandes perdas passando pelas mãos dos barbaros
modernos, ainda tem bellezas de primeira ordem, e permanece,'pelo uso
a que se applica, muito acima da musica. 0fferece aos entendedores não
(1) Math.,'iXXI, 9.
(2) Ephee., V, 19.
(3) Epi.st., XCVII; vicle tambem os concilios cle Laodicêa, c. XY; de Car-
thago, IY, can. 10; d'Agda, e.2l; d'Aix, c. 732,133, etc.
(4) Lebeut Trataclo hist, ilo eante, c. III.
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It6 CATECISIÍO
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DE PERSEVEnANÇÀ. ll7
d'essas maravilhas me enchia o coração de incrivel suavidade. Quantas
lagrimas me fazia derramar o canto dos hymnos e dos psalmos gue se
cantavam na Yossa Egreja, e quão vivamente me comrnovia ao ouvir re-
soarem os vossos louvores na. bôcca dos fleis t porque á proporção que
aquellas palavras inteiramente divinas me feriam os ouvidos, as verdades
que exprimiam se me insinuavam no coração, e 0 ardor dos sentimentos
de piedade que lá excitavam, me fazia correr dos olhos grande ab.undan-
cia de lagrimas, porém lagrimas deliciosas, e que eram então o maior
prazer da minha vida (l).»
E para citarmos um homem mui differente, rliremos que ainda lem-
bra ter'se visto mais d'uma vez João Jacques Rousseau assistir ás yespe-
ras de S. Sulpicio, para experimentar aquelle divino enthusiasmo de que
não póde eximir-se uma alma sensivel, quando tomar parte com algum
recolhimento nas sublimes melodias que, juntas ao accôrtlo d'um povo
immenso e á decencia dos ritos sagrados, assumiam n'aquella vasta egreja
um grau de interesse capaz de elevar a piedade ate aos ceos, e de en-
ternecer o proprio coração d'um sceptico. 0 simples recitativo das nossas
orações fazia n'aquelle homem tal impressã0, que não podia ouvil.o sem
commover-se até derramar lagrimas.
«Um dia, diz Bernardim de Saint-Pierre, indo passear com Rous-
seau a0 Monte Yaleriano, quando chegamos ao topo da montanha, fize-
mos o projecto de pedir de jantar aos ermitas que fizeram cl'elle mora-
da sua. chegamos a casa d'elles um p0uc0 antes de se pôrem à mesa e
quando estavam na egreja ; J. J. Rousseau propôz-me entrarmos n'ella e
fazermos oraçã0. 0s ermitas recitavam então as Laclainhas da Providen-
cia, que são mui bellas. Depois de fazermos oração n'uma capellinha o
de se encaminharem os ermitas para o refeitorio; me disse João Jacques
:
com enternecimento «Agora experimento o que se diz no Evangeltro:
Quando alguns de vós es[iverem reunidos em meu nome, eu me achare
no meio cl'elles. Ha aqui um sentimen[o de paz, e felicidade que penetra
a alma (2). »
Tal é o canto da Egreja com os effeitos que prorJuz. chamamos as-
sim ao canto-chão e não a essa supposta musica religiosa que ha bastante
tempo faz irrupção nas nossas egrejas. Musica mundana, profana, sen-
sualista até, que não traduz pensamento algum christã0, que enfada o
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a
ü8 CATECISMO
ORAÇÃO.
0' meu Deus, que sois todo amor ! graças vos dou por haverdes es-
tabelecido tantos meios de me fallardes ao coração ; não permittaes que
eu seja insensivet á vossa voz.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas e ao pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amor,
cantarei tanto de coraçdo coml de bôcca os loutsores de Deus.
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DE PEBSEYERÀNCA. tr9
UNDEC|MA UçÃ0.
. .. (1) oblatio fa.cta.Deg per immutationem alicujus rei, in sisnum supremi do-
iltt+.
ex lesitima instirurioie, S. t-.,ig,, Thra;i,-,;;.'í;'dr;il;.;.;ií.íJ. Í,
t
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-
120 cÀrEclsuo
todos os seres'creados.
mas não
Segue-se d'ahi que todo o sacriflcio demanda a destruiqã0,
por
a morte da victimr, oão sendo a morte mais que uma das maneiras
quo potlem ser destruidas as coisas, ou que representam a destruição
das coisas; porque a destruição das coisas offerecidas
a Deus em sacrifi-
cio sob a lei de Moysés se effectuava de differentes maneiras. Por
exem'
plo, os pães de proposição eram destruidos pela manducação e consumi-
pela morte;
ãos petó fogo natural do estomago; o cortleiro paschal era'o
e outras victimas Pelo fogo.
E, pois o sacrificio o acto essencial e indispensavel da Religião. E'
tam impôssivel comprehender uma religião sem sacrificio, comg cgmpre-
hender a Deus sem dominio sobre as suas creaturas, e as creaturas §em
obrigação de renderem homenagem a Deus. No estado de innocencia
consãrvada, teria havitlo sacrificios, pois que teria havido uma religião;
mas não teria havido sauificios cruentos, pois que a morte não entrou
no
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DE PERSEVERANÇÀ. l?l
mundo senão pelo peccado, conforme a linguagem do apostolo S. Paulo (l).
Desde o peccado, tornou-se o sacriÍicio cruento, e devia sêl-0. A
Iembrança da culpa original Íicou profundamente gravada na memoria do
homem; este sentiu que tinha necessidade de expiaçã0. «0s deuses são
bons, e recebemos d'elles totlos os bens de que gozamos; devemos-lhes
louvor e acção de graças; mas os deuses são justos e nós somos culpados:
é preciso aplacal-os; é preciso expiarmos os nossos crimes, e, para o con-
seguirmos, o meio mais poderoso é o sacrificio. »
Tal foi a crença antiga, e tal é ainda, sob differentes fórrnas, a de
todo o universo. 0s homens primitivos de quem recebeu o genero huma-
n0 0s seus conhecimentos fundamentaes, julgaram-se criminosos: as in-
stituiçoes geraes fundaram-se todas n'este dogma; de fórma que todos os
homens de todos os seculos não cessaram de confessar a degradação pri-
mitiva e universal, e de dizer c0m0 nós, posto que d'um modo menos
explicito: Nossas mães conceberam-nls no crime; pois não ha dogma al-
gum christão que não tenha origem na natureza intima do homem e n'uma
tradição tam antiga c0m0 o genero humano.
Persuadido de que era criminoso, de que merecêra a morte e lhe era
necessaria uma expiaçã0, o homem degollou vietimas. 0 proprio Deus lhe
ensinára o merecimento dos sacrificios cruentos. Com effeito, como poderia
imaginar o homem que um animal immolado em seu logar o exemptava da
morte, e que Deus acceitava esta substituição ? Se não fosse revelada,
seria esta ideia a mais estranha e ate a mais absurda que se póde conceber.
Mas ao ensinar ao homem o sacrificio cruento, disse-lhe Deus: «Tu es cri-
minoso, e mereces a mor[e; quero que o reconheças. Immolarás pois vic-
timas, e confessarás por esse modo quo tu é que deverias ser immolado.
Em logar do teu sangue, acceitarei o d'ellas, te exemptarei da morte que
mereces e te perdoarei os crimes que te fizeram digno d'ella.»
Para que o homem não esquecesse que elle é que deveria ser a vic-
tima, quiz Deus que se escolhessem para 0 sacrifrcio os animaes mais
preciosos pela sua utilidade, mais mansos, mais innocentes, e mais em
relação com o homem pelo seu instincto e pelos seus habitos. Não se
podendo em fim immolar o homem para salvar o homem, escolhiam-se na
especie animal as victimas mais humanas, se e licito exprimir-me assim,
e sempre a victima era queimada no todo ou em parte, para attestar que
(1) Yide, sobre todas estas noçôes, a excellente obra do P. de Conclren, Id,eia
Sacrifinio d,e Jesws Christo, p. 48.
d,o Saceriloci,o e d,o
Yide tambem S. Thomaz, p. Ir gu, 45, art. Y.
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122 catgclsilÍo
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DE PEnSEYEnANÇÀ. r23
mente digno d'Elle. Eis o que dizia aos judeus pela bôcea de Malachias,
quinhentos annos antes da immolação da grande Victima: Eu ndo quero
ile oós, nem receberei mais offrenil,a alguma da oossa mdo. Eis que d,esde
o nascer do sol até ao poenle é granile o tnew nlme entre as nações; em
toilos os logares é offereoida e sacrificada üma tsictima para gloria ila
meu nome, porque o meu nome é grande enlre as nações (l)-
Sem embargo o Senhor quiz dissimular e esperar por espaço tle gua-
renta seculos; mas alfim soou a hora da grantle expiação no relogio da
eternidade. Na plenitude dos tempos, desceu á terra o Cordeiro de Deus,
a augusta e santa Victima, esperada corn tanta impaciencia. Immmolações,
hostias pacificas, holocaustos, sacriflcios de todas as especie§, van§ som'
bras, desapparecei: eis que chega a realidade. 0 genero humano já não
precisa de vós: um sacrificio unico vae substituir-vos; por si só satisfará
todas as exigencias do Creador, e [odas as necessidades'da creatura.
Ouvi o Filho de Deus, o Sacerdote catholico do Pae (2), que, a0 en-
trar no mundo, annunCia o fim do vosso reinado: «0' meu Pael disse, vóS
não quizestes hostias nom oblações, mas formastes'me um corpo: não
acceitastes os holocaustos nem os sacrificios pelo peccado, e então eu vo§
disse: Eis que eu venho para cumprir a vossa vontade; quero'o' o a vossa
vontade é uma lei escripta no principio do livro da minha vida e gravatla
no meio do meu coração (3).»
E a santa Yictima foi immolada, e nós conhecemos o lugar, o dia, a
hora e a eÍlicacia do seu sacrificio. 0 altar foi em Jerusalem, mas o lan'
gue ila Victima banhou o unioerso (lL). A' vista d'este sangue, Deus e o
hgmem, o Ceo e a terra, os Anjos e todaS aS creaturas estremegeram em
oerto modo de dôr e alegria. Este sangue foi util a todos. A Deus devol-
veu a gloria, ao homem a paz; porque (aprouve a Deus reconciliar tOdas
as coisas por meio d'Àquelle que ó o principio da vida e o primogenito
dos mor[os, tendo pacificado com O §angue que derramou na uuz tanto
o que está na terra como o gue esÍá no Ceo (5).»
Pelas palavras que o Filho de Deus dirige a §eu Pae, é claro que o
saorificio do Salvador foi substituido a todos os sacrificios antigos, e quo
encerra todas as propriedades d'elles. Estes sacrificios eram de quatro
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l2tL CÀTECISMO
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DE PEnSEVEnAN§À. t2õ
prophetica, annunciava óutra communhã0, como os sacriÍicios antigos an.
nunciavam outro sacriÍicio.
Este sacrificio é o do calvario. E' tempo de mostrarmos que corres-
ponde perfeitamente aos sacriÍicios antigos e que os completa a todos. l.o
0 sacriÍicio do Calvario e holocaustico ou latreutico, porque e todo con.
sagrado e offerecido a Deus, para quem a victima é immolada toda z.o
;
é, pacifr,co ou d'acção de graças, pois que e offerecido para agradecer a
Deus os seus beneficios, e para lhe render homenagem dos seus dons ;
3.0 é propiciatorio, pois que foi ofÍerecido para expiar os peccados do
mundo e para satisfazer a justiça divina ; I*.o e impetratorio, pois que foi
offerecido para merecer e obter a todos os homens as graças e os bens
necessarios á vida do corpo e da alma, do tempo e da eternidade. Com-
pleta e substitue todos os sacriÍicios antigos, pois que é d'um valor infi-
nito: tal é a doutrina da Egreja Catholica ({).
Como todos os sacrificios antigos, deve o sacrificio cla nova alliança
ser acompanhado cl'uma communhão na Victima santa. Sendo este sacri-
flcio o de todos os tempos, de todos os paizes até ao Íim clo mundo, é
mister que a communhão na Victima que e n'elle offerecida seja possivel
a todas as gerações que vierem á terra até á consummação dos seculos.
E eis que entrou nos incomprehensiveis designios do amor [odo.poderoso
o perpetuar até ao Íim do mundo, e por meios muito superiores á nossa
fraca intelligencia, es[e mesmo sacrificio do Calvario, materialmente offe-
recido uma só vez pela salvagão do genero humano. por uma bãndade
immensa, atacando uma immensa degradaçã0, a carne divinisada e perpe-
tuamente immolada da Yictima do calvario se apresenta ao homem sob
a fórma exterior do seu alimento privilegia d,o; e aquelle que recusar c1nxer
d'ella não aitserd, (2).
Assim como a palavra, que não e na ordem material senão uma se-
rie de ondulaçoes circulares excitadas n0 ar, similbantes ás que vemgs
na superÍicie da agua tocada n'um ponto ; assim c0rn0 esta palavra, digo,
cbega todavia na sua rtrysteriosa integridade a torlo o ouvido tocado em todo
o ponto do fluido agitado, assim tambem a essencia corporea d,aquelle que
se chama palavra, radiando do centro da omnipotencia, que está em toda
a par[e, entra inteira em cada bôcca,e se multiplica ate ao infinito sem
se dividir.
Mais rapido que o relampago, mais activo que o raio, o sangue
(1) Çon. T1!d.,Sess. XXIf, c, I[ e III.
(2) Joan., YI, 54,
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t26 CÀTECISUO
i,os,
idem nunc ofrerens sacerdotis ministerio,
offerendi ratione diversa. Conc' Trid', §ess'
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DE PER§EVERÀNÇA. I27
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-/
128 CATECI§MO
(1) Ccenam suam aledit, Passionem suam tlediü. Agost., in Psal,. XXI.
(2) Cor., XI, 26.
(3) Passío esi enim Domini sacrifisium quotl ofrerimus. Epist. LXIII ail Cacil,,
(4) PsaL, CX.
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DE PERSEVERÀNÇÀ. 129
Ora, esta divina Yictima não podia ser comida pelos fieis no Calva-
rio. Eis o que faltava ao altar tla cruz, e no altar da Egreja é que se
effectua essa manducação por meio da communhã0. A mesma Victima se
offerece n0 Calvario e nos nossos altares ; mas no Calvario não é mais
que offerecida, 'aqui e offerecida e distribuida, conforme a expressão de
S. Agostinho ({). «No al[ar, accrescenta S. Agostinho, é que se realisa a
perfeição do Sacrificio da cruz, porque Jesus Christo nos alimenta real-
mente todos os dias do sacramento da sua Paixão (2).
D'este modo, com 0 SacriÍicio da cruz, pagou Nosso Senhor o preço
do nosso resgate, e com o do altar applica-nos o fructo d'este pagamen-
to. D'onde se segue que o sacrificio da grande Victima, começado no
Calvario, não terminou entã0, mas comeÇou para durar pelos seculos
dos seculos (3). E' preciso que todas as gerações que venham a este
mundo achem preparado o divino banquete, e que possam santificar-se,
divinisar-se, christianisar-se, se me ê permittido dizêl-0, incorporando
em si o sangue e a carne de Christo, victima unica, eterna, catholica,
do ceo e da terra. A ilIissa e pois absolutamente necessaria no plano
christão da nossa santiflcacã0.
' oRAÇÃ0.
0' meu Deus, que sois todo amor I graças vos dou por terdes in-
stituido o Sacrificio dos nossos altares para perpetuar o Sacrificio do Cal-
vario e applicar-nos o fructo d'elle ; concedei-me que assista sempre á
santa Missa com as disposições necessarias para me aproveitar.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amor,
assistirei ao Sacrificio do altar coml teria assistido ao Sawificio do Cal-
tsario,
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t30 CATECISMO
DU0DECIMA LtÇÃ0.
I.
ExcelleNclÀ D0 sÀNTo sacRlrrcro DÀ [nssa. Ajuntae os rnereci-
mentos da augusta
-
llaria, as adoraÇões dos Ànjos, os trabalhos flos Apos-
tolos, os soffrimentos tlos martyres, as austeridades dos anachgretas, a
pureza das virgens, as vir[udes dos confessores, n'uma palavra, as boas
obras de todos os Santos que existiram, existem e hão de existir desde
o principio do mundo até á consummação clos seculos ; accrescentae-lhes
pelo pensamento os merecimentos dos Santos de mil mundos mais per-
:
feitos que o n0ss0 e de fé que não tereis o valor d'uma só Missa. a
razáo d'isto e facil de comprehender. Todas as honras que as creaturas
podem tributar a Deus são honras finitas, em tanto que honra que re-
verte a Deus do Sacrificio dos nossos altares, sendo.lhe tributada por
uma pessoa divina, e uma honra infinita (l). Tal é pois a excellencia do
augusto sacriflcio dos nossos altares considerado em si mesmo.
Não é menos grande se 0 considerardes nos seus effoitos: é a con-
(1) Couc. Trid,, §eeo. XX[.
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DE PERSEVERÀNÇÀ. l3l
sequencia do que acabamos de dizer. De todas as obras, nenhuma ha
mais querida a Deus que a santa Missa, nenhuma que possa tão eÍflcaz-
mente desarmar a sua ira; que descarregue tão terrivel golpe nas po'
tencias do inferno; que proporcione tão grande abundancia de graÇa§ ao
homem viajante; que obtenha tão grandes allivios ás almas do Purgato'
rio.
D'oncle essas magnificas, mas justas expressões dos Padres da Egreja
e dos santos Doutores. À Missa, diz S. Odon, abbade do Cluni, é a obra
a que está ligada a salvação do mundo (l)., «A' missa, aiunta Timotheo
de Jerusalem, é que a terra deve a sua conservação; se não fosse ella,
ha muito que a teriam aniquilado os peccados dos homens (2) «Cada ,
vez que Se immola sobre o altar, continúa S. Boaventura, não faz Nosso
Senhor a0 genero humano menor favor que o que lhe concedeu fazendo-
se homem (3)., «Não sendo o Sacrificio do altar, diz S. Thomaz, senão
a applicaçã0. e renovaÇão do Sacrificio da cruz, uma missa ê para o bem
e salvação dos homens tão efficaz c0m0 o Sacrificio do Calvario (4).»
D'onde esta magniflca consequencia tirada por S. Chrysostomo: «Uma
Missa rale tanto como o Sacriflcio da cruz (5).»
Supponhamos agora que um selvagem, sahido do fundo dos deser-
tos, chega de subito a uma das nossas cidades christãs, e que lhe dizem:
Ha entre fos um sacrificio em que, á voz d'um Sacerdote, se abre o Ceo,
o Filho do grande Espirito desce a um altar, immola-se nas mãos do sa-
criÍicador, ,e nos dá a sua carne a comer e 0 seu sangue a beber, a fim
de fazer-nos viver a sua vida e fazer de nós deuses. Quaes crêdes que
seriam os pensamentos d'este pobre selvagern ? o seu respeito a tam au-
gusto sacrificio ? o seu desejo de tomar parte n'elle ? a sua preparaçã0,
0 seu terror religioso antes de participar d'elle ? a sua ternura partici-
pando ? o seu reconhecimento e jubilo depois de ter participado ?
Ora, todos estes sentimentos devemos nós sim, rlevemos nós experi-
mentar. Que digo? devem ser em nós tanto mais perfeitos, quanto mais ricos
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t
132 cÀrccrsuo
somos em luzes e graças. Todavia, metta cada um de nós aqui a mão na cons-
ciencia, e diga se não deve invejar a fé e as disposições do selvagem ignorante
de quem acabamos de fallar. apressemo'-nos a mudar. Aliás, que des-
culpas teremos que apresentar a0 supremo Juiz ? que resposta a esta ar-
;
guição bem merecida Desgraçada ile ti, Bethsaitla, clesgraçada de ti,
Corozain, pois se os milagt'es que eu l,enho operado d,íante clos teus olhos
hou,uessem sido feitos em fatsor de Sodoma e Gomorrha, isto é, dos povos
mais selvagens e corruptos , teriam feito ,penitencia na cinza e no ctli-
cio (l)t
Para desviarmos de nós este anathema, temos dois deveres gue cum-
prir. Consiste o primeiro em assistir Íielmente á NIissa, lembrando-nos
d'es[e proverbio mil vezes confirmado pela experiencia: A Míssa nd,o ilemora
mais do que empobrece a esmola. A este respeito lêmos na vida de S. João
Esmoler a historia seguinte: Dois oÍliciaes do mesmo oÍlicio habitavam
a mesma cidade. Um estava carregado de numerosa familia ; o outro era
sÓ com sua mulher. 0 primeiro tinha c0m0 dever o assistir todas as ma.
nhãs á Missa em que recommendava com fervor as suas necessidades es-
pirituaes e temporaes. 0 outro, pelo contrario, para não perder um só
instante de trabalho, nunca apparecia na egreja durante a semana : até
ás vezes faltava á Missa ao domingo, sob pretexto do que a obra o não
deixava. .
Entretanto o primeiro prosperava, em tanto que o segundo perma-
necia na indigencia. D'oncle yem, disse um dia este ao cor3panheiro,
que tu te sahes bem em tudo, e que quanto mais eu trabalho, menos
adianto ? não tens mais que vir comigo, e eu te levarei ao
-a'manhã
logar onde encontro tanto que ganhar. De manhã cêdo estava elle á
porta clo visinho dizendo Eis-me aqui.: Bem t partamos. E o visinho
-
o levou á egreja, e, depois de ter ouvido i\Iissa, lhe disse que f6sse tra-
balhar. No dia seguinte fez o mesmo. Emfim no terceiro dia o homem
:
disse a0 seu piedoso visinho E' inutil levar-me de novo á egreja, pois
já sei o caminho; o que te peç0, e que me mostres o sitio onde encon-
tras tanto que ganhar, para .que eu possa aproveitar-me das tuas indica-
ções.
Meu amigo, esse sitio é a egreja; não sei d'outro melhor para ga-
nhar thesouros espirituaes e temporaes. Não sou eu que o digo, e o
proprio Jesus Christo. Não conheces estas palavras do Evangelho: pro.
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DE PEnSEVEnÀNça. 133
curae primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será
dado por acrescimo; e não é na .missa que Nosso senhor, que é dono
de tudo, abre os seus thesouros ? Ao ouvir estas palavras ficou todo es-
pantado o pobre artista; entretanto, despertando-se-lhe a fé no coração,
seguiu o exeüplo do amigo. Todas as manhãs ia á missa, e depois de ter
exposto as suas necessidades ao Pae celeste, ia para o trabalho : Deus o
abençoou e breve viu prosperarem-lhe os negocios alêm das suas espe-
raDças.
0 segundo dever que temos que cumprir, é Ievar d'ora em diante
ao augusto Sacrificio as disposições que pedem o Sacerdote que oflerece,
e a Yictima gue é offerecida e na qual devemos participar (t). Com este
intuito, recolhamos cuidadosamente as preciosas instrulções'e os piedo-
sos sentimentos do que a Egreja nos offelece tam abundante manancial
em tudo quanto precede 0u acompanha a celebração dos nossos augustos
mysterios.
II. Pnun.l,nlçÃo oo slcnnnorn- attentae primeiro no saenrdote
que é ministro d'elles, e vêde com-que cuidado se prepara para este
emprego inteiramente divino. Considerae este homem tornado superior
em poder aos proprios Anjos.. À Egreja tirou-o da massa commum para
o elevar a funcções que fazem tremer os espiritos celestes. Separou-0,
experimentou-o longo tempo, fêl-o passar por muitos graus antes que po-
desse chegar ao santuario. Foi preciso formar-lhe o coraçã0, ornar-lhe o
espirito, certificar-se de que 0s seus labios seriam fieis depositarios da
sciencia, e o seu procedero modêlo do rebanho. 0 Pontifice da'nova al-
Iiança, depois de ter consultado o Ceo e a terra, depois de jejuns e rei-
teradas supplicas, fez correr sobre elle a uncção divina, o oleo flo sacer-
docio real. A palavra de Jesus Christo está alli empenhada; a sua pro-
messa é formal ; o Espirito santo desceu sobre aquelle homem, e
communicou-lhe os seus mais excellontes dons e poderes sobre-huma-
n0§.
Tantos preparativos não são ainda sufficientes. O ministro sagrado
levanta-se antes do romper da aurora para se entregar a longas orações.
Quando alfim o sino, trombeta da Egreja militante, sôa a hora do Sacri-
ficio, recolhido, penetratlo, tremulo á vista das suas augustas funcções,
caminha o Sacerdote para offerecer a Yictima quo reconcilia a creatura
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13,4 cÀrnclsuo
com o Seu Deus. Silencio n0 Ceo, silencio na terra I que elle vae nego'
ciar os maiores interesses do genero humano.
Chegado á sacristia, lava o Sacerdote as mãos dizendo: «Senhor,
purificae as minhas mãos, para que eu possa, sem macula d'alma e de
corpo, cumprir 0 vosso santo ministerio.» 0 costume de lavar as mãos
antes da oração remonta aos seculos apostollcos, e os primeiros Christãos
nunca faltavam a elle. Assim e que nas suas mais pequenas prátisas tem
conservado a Bgreja venerandas tradições.
ilI. OnNauuNros D0 Sr\cERDoro.-Detenhamo'-nos agora a examinar
as vestes sagradas de que vae revestir-se o Sacerdote. São como um li-
vro cheio de instrucção c piedade, Qü0 muitas vezes talvez tenha sido
aberto á nossa vista, e do qual nós nada tenhamos comprehendido. As
vestes do Sacerdote que celebra os santos mysterios são : {.o o amicto,
2! a alva, 3.o o cingulo, 4.o a manipuia, 5.o a estola, e 6." a casula. Se
o celebrante e Bispo, ajunta ainda outras que mais adiante explicaremos.
Na antiga lei, quizera Deus que 0s Sacerdotes e 0s levitas tivessem
vestes particulares e consagradas, quando immolavam as victimas. Herdeira
tlas tradições antigas, quiz a Egreja que 0s seus ministros estivessem tam-
bem revestidos de vestes particulares e sagradas no exercicio de suas au-
gustas funcções. 0 respeito devido ás coisas santas, assim pelos Sacer-
dotes como pelos Íieis, o impõe como dever. Além d'isso não precisam
sempre os homens de signaes externos e sensiveis cJue os chamem inte-
riormen[e á grandeza invisivel dos mysterios ? Assim e que o uso das
vestes sacerdotaes remonta aos Apostolos ('l).
«Às vestes ecclesiasticas de que se servem os Sacerdotes e 0s ou-
tros ministros para offerecerem a Deus o culto divino com todo 0 res-
peito que merece, devem ser asseadas e consagradas, e, c0m0 taes, nin-
guem deve fazer uso d'ellas senão os Sacerdotes e os que se dedicam ao
santo ministerio (2).» Acabaes de ottvir as palavras de S. Estevã0, Papa
e martyr, que vivia em 2õ0. «À religião divina, accrescenta S. Jerony-
[0, tem um trajo para 0 ministerio do altar, e outro para o uso com-
IIIUII1. »
(1)
(Zl
IIr.
tambem Tertull., d'e Monogamía, c. XII; Orig.,
Homii.,'X eron., l. XIII, comrnent. in cap. XLIY Dzeclr.;B3;
na, l. Í, c armenüe, sobr-e o urcsmo assumpto, S. Thomaz, III
p. suppl.,
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DE PERSEVDBÀNçA. I3S
vest€s sagradas; mas quando a Egreja esteve em paz, e contou entre os
seus filhos os potentados do seculo, não temeu celebran o seu culto com
magnificencia. Tudo quanto ha grande Do mundo vem de Deus e deve
ser con§agrado á sua gloria. 0 ouro e a prata peraencem-me, disse o se-
nhor (l). E que mais nobre uso se póde fazw d'elles, que empregal.os
no' cul[o d'aqtrelle que os cróou e que nos faz presente d'elles?-
Desde o principio, se teve o maior respeito ás vestes sagradas. Iyão
era licito ás mulheres tocar-lhes; guardavarn-se com religioso cuiflado em
logares consagrados. 0 sacerdote Rogaciano dava tanto valor á tunica de
que estaYa revestido ao offerecer o santo Saeriflcio,
Que a deixou em teç
tamento a s. Jeronymo, por quem tinha particularissima veneração (z).
Estudemos agora a origem d'estes diversos ornamentos, as mudanças que
os seculos teenr n'elles introduzido, as intenções da Egreja fazendo-os
usar aos seus ministros, e a razão por que são de diversas côres, segundo
as festas.
' l.o Amcro (3). o amicto é um véo braneo que o sacerdote põe
primeiro na cabeça, e desce depois ao pescogo e aos hombros. prende.o
com dois cordões que se cruzam sobre o peito. A palavra amicto vem
d'um verbo latino que significa cobrir (4). Esta veste foi introduzida,ha
mais de mil annos para cobrir o pescoço que os ecclesiasticos e os leigos
traziam nú até entã0.
A extensão dos officios, e a continuidade do canto nas frias e vastas
basilicas da edade media, exigiam esta precauçã0, 0 seu natural destino
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-/
t36 cÀtEclsMo
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DIr PEBSEVEnÀNÇA. r37
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138 GATEoI§Mo
clem de Herodes, d'uma tunica branca figurada pela alva, que d'esta sorte
yem a ser a memoria d'essa circumstancia das ignominias do Salvador.
3.0 Crxcur,o (l). Depois de ter vestido a alva, cinge-se o Sacerdote
como um guerreiro prestes para o combate. 0 cingulo e a alva sío da mes-
ma antiguidade. 0s povos antigos, que se serviam de vestidos compridos e
largos, tomaram sempre um cinto para andarem e obrarem mais commoda-
mente. Hoje o cingulo serve para o mesmo, uso : é destinado a segurar a
alva, que se não fosse isto se tornaria incommoda. Alem d'isso, adverte
o Sacerdote de que deve a sua virtude ser forte e energica, o seu animo
sem fraqueza, e deque, parasubir ao altar do Cordeiro sem macula, para
beber o seu sangue, deve desterrar ate o minimo sentimento da vida sen-
sual e mundana. À Egreja quer que, cingindo-se assim, elle peça a Deus
«qü0 lhe ponha em volta dos rins um cinto de innocencia e pureza, a Íim
de conservar a mais amavel das virüudes. »
O cingulo, Que é uma especie de corda, póde servir para nos recor-
dar os laços com que o Salvador esteve preso no jardim das Oliveiras, pe-
rante os seus juizes, á columna, e ao subir ao Calvario. Ào irem para a
Missa, devem tambem os fieis cingir-se com 0s laços do Salvador, isto é,
desterrar toda a molleza, toda a superfluidade perigosa, depôr toda a vaida-
de, e encerrar-se nos limi[es da mor[ificação christã, a Íim de não se verem
embaraçados ao caminhar atraz do divino Mestre e combater com elte (2).
4.' 0 rÍÀNrpuro (3) que o Sacerdote leva no braço esquerdo era ou-
tr'ora uma especie de lenço destinado a limpar o rosto durante os san-
tos oÍlicios. Debaixo d'este ponto de vista, é o manipulo da mais remota
antiguidade. Pelo decimo seculo, ornou-se aquelle lenç0, e guarneceu-se
de franjas e dourados, de sor[e que veio a ser um ornamento cuja mys-
teriosa significação é ao mesmo tempo a historia das nossas miserias e a
consolação das nossas magoas (4).
Servia primeiramente para limpar as lagrimas e 0 suor. Este antigo
uso do manipulo nos recorda que aqui estamos condemnados ao trabalho;
que o Ceo soffre violencia; que é necessario ganharmos com o suor do
rosto o pão da vida eterna; gue temos mil motivos de chorar tlurante a
noite do nosso desterro, mas que breve virá o dia da eterniilade em que
(1) Cingulum.
(2) Raban. Maur., l,I, Instit, cleric., c. XIII l Bernardo, l,ib. Sentent:;Beda,
l,ib. Coll,ectaneü i Bona, Ber.litwrg., l. I, c. XXY[.
(3) Manipulum.
(4) Bona, ibiil,.
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DE PEnSEVEnANÇA. u39
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lJ
t{0 CATECISMO
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DU PER§EVERÀNÇÀ. t&t
cas pessoas conhecem. Duraqte a Quaresma e n0§ outros dias de jejum,
o Diacono e Sub:Diacono acolyüam sem dalmatica.. Como na primitiva
Egreja as suas funcções eram mais multiplicadas nos dias de jejum e tle
Quaresma por causa da affluencia dos fieis, doixavam os seus ornamen-
tos ou os levantavam mais para estarem mais livres. Diaconi leoant pla-
netas in scapulas, diz a Oidem romana. Hoje íiram a ilalmatica por um
resto do antigo uso.
0 Bispo, ao dar a casula ao Sacerdote na ordenaçã0, o adverte de
gue ella é o signal da cbaridade que nos deve revestir inteiramente ;
d'essa eharidade que deve diffundir-se em totlas as nossas obras e ser a
gloria das outras nossas virtudes, do mesmo modo'que esta vestidura co-
bre todas as outras; d'essa charidade que deve fazer-nos compadecer das
miserias d'outrem e ensinar-nos a cobril-as com um manto de misericor-
dia que as occulte aos olhos dos homens, e d'um manto de perdão quo
as apague aos olhos de Deus.
À casula é tambem a figura do jugo de Nosso Senhor, que os Sa-
cerdotes e fieis devem levar totlos os dias ; d'osse jugo suat e e amavel
quo é a nossa gtoria e felicidade. Uma graÍrde cruz esiá marcada na ca-
sula; outras, mais pequenas, nas tlifferentes coisas que servem no Sacri-
ficio. E' para que tenhamos incessantemente diante dos olhos a obrigação
de levarmos a cruz affaz do Salvador, e para fazer-nos lembrar de que
nada podemos senão pela cruz ; que esta é toda a nossa experança; que
o altar é um verdadeiro Calvario onde se renova e perpetúa o Sacrificio da
ü:u7, e onde nós mesmos devemos immolat-nos na cruz ds Jesus Christo.
IV. OnulMENros oo DrlcoNo E Sus-»llcoNo. Dos ornamentos do
-
Presbytero passemos aos do Diacono e Sub-Diacono que o acolytam. Àlém
do amicto, da alva, do cinto e do manipulo, trazem os Diaconos a dalma-
tica e uma estola que lhes é propria. O vestido particular ao Sub-Diacono
é à tunica.
A estola do Diacono põe-se no hombro esquerdo: este uso é iml-
tado dos romanos. Nas festas solemnes do povo-rei, os principaes minis-
tros das mezas punham um guardanapo d'honra sobre o hombro esquer-
do. A Egreja deu este signal de distincção aos que serviam no banquete
divino e nas mezas em que se reuniam os fieis para celebrarem as suas
innocentes agapes. Mas este panno branco, prêso no hombro esquerdo
dos Diaconos, voava quando elles iam e vinham na egreja para cumpri-
rem 0 seu ministerio. Como podia embaraçal-os, sobretudo quando to-
mou uma fórma muito alongada, fizeram passar as duas extromidades
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{&2 CATECISMO
(l) Dalmatica.
(2)
(3) c. XXII l Bona, l. f, c. XXIY.
(4) nime,l. I, c. CCXXIX.
(5)
(6) pona, l. I, c. XXIY.
(7) Pluviale.
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DE PEBSEVDnANÇA. t&3
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t&4 CATECISMO
oRAÇÃ0.
0' meu Deus, que sois todo amor I graças vos dou por terdes mul-
tiplicado as vestes sagradas dos vossos ministros; fazei com que eu me
instrua d'or'avante ao vêl-as, e gue me excite a praticar as virtudes que
ellas representam.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, o ao pro.
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em proya d'este amor,
estuilarei com cuidado as ceremonias da Egreja.
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DE PERSEVERÀNÇA. l,l*ô
DECTMA-TEBCEtBA LtÇÃ0.
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l&6 cÀrncrsuo
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DE PERSEVERÀNÇA. Lh7
(1) Annulus.
.(?) Jerem., c, XXII; Trebell. Poll., in M,9eqttim.r.Dur.auti, lib. II, c. fX,
n." 37 e seg.
(3) Ordem romana.
(4) Mitr.a, cidaris.
(5) Honor., Gemma animer l. f, c. CCXIV.
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{48 cÀrgcrsMo
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DE PERSEVEnÂNÇÀ. r49
de lã branca, da Iargura de dois dêdos, que pendem sobre o peito e sobre
as cOstas, e que são semeadas de cl'uzes pretas. 0s metropoliüanos o
usam como signal de jurisdicção sobre as egrejas da sua provincia. E'
considerado tambem c0m0 o emblema da humildade, innocencia e cha-
ridade. serve para recordar ao Prelaclo a quem adorna que deve, a exem-
plo de Jesus christo, principe dos pastores, procurar a ovelha desgarra-
da, e reconduzil-a ao redil sobre os hombros. A propria materia do pal-
Iio indica sensivelmente esta tocante significação.
E' feito da lã de cordeiros completamente brancos. Em dia do
s. Ignez, e na egreja do seu nome, edificada em Roma na via Nomentana,
ahençoam'se todos 0s annos alguns cordeiros brancos, cuja lã deve servir
para fazer o pallio. Guardam-se depois em alguma communidade de reli-
giosas até ser chegado o tempo de tosquial-os. 0s pallios feitos da sua
lã depoem-se sobre o sepulcro de s. Pedro, e alli ficam totla a noite que
precede a festa d'este Apostolo. No dia seguinte são abençoaclos no altar
da egreja que lhe é consagrada, e enviados aos Prelados que teem di-
reito de 0s usar. Este direito está restringido a certos dias, e não se es.
tende além da egreja. Pelo contrario, o summo pontiflce traz sempre e
em toda a parte o pallio, por isso que está investido do supremo poder
e da jurisdicção universal sobre todas as Egrejas (l).
0 pallio e da mais remota antiguidade. s. Isidoro de pellus a (z),
que viveu no meado do quinto seculo, e s. Gregorio Magno fallam do
pallio e explicam as suas differentes signiÍicações (3). Àttribue-se a ori-
gem d'elle a s. Lino, segundo successor de s. pedro (4). Lembra o
ephod do gran-sacerdote dos judeus.
{0
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150 cÀrEcrsMo
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t' DE PDRSEVERÀNCA. t5t
Emprega-se o verde para os domingos ordinarios e para as ferias.
com effeito, não é justo consagrar, por meio d'um uso mais frequente,
esta cÔr que temos continuamente diante dos olhos? Não é conveniente
que o habitante dos campos, que vae na manhã de cada dia receber a
benção do Pae de familia antes de ir para a sua herdade, ou que vae ao
domingo descançar ante o Senhor dos trabalhos da semana, encontre nos
nossos templos o seu prado, a sua arvore, a sua parra ? Não é esta uma
bella e tocante harmonia? E depois, vós todos que gostaes de contemplar
as maravilhas da natureza, não sois felizes encontrando a[é ao pê dos al-
tares uma memoria dos beneficios do Creador, e um novo motivo de bem-
dizerdes Aquelle que espalha a verdura nas nossas aldeias e a fecundidade
nos nossos campos, QUe veste o lyrio do valle, que sustenta o passarinho,
musico das choupanas, e que prepara alimentos a tudo quan[o respira ?
0 roxo, cuja côr ê meio escura, meio brilhante, recorda juntamente
os trabalhos e as vantagens da penitencia. Emprega-se nos tempos e nas
circurnstancias em que a dôr e a esperança, que nasce d'essa mesma dôr,
são a essencia do culto divino. assim, durante o Á,dvento, geme-se, sus-
pira-se, mas geme-se sómente pela demora. suspira-se, mis osses sus-
piros chamam o Justo e o fazem descer: emprega-se pois o roxo. Na
Quaresma choramos as nossas culpas, mas vêmos o pãrdão no fim da
santa quarentena. Choramos os soffrimentos de Jesus Christo, mas vêmos
apparecer o dia glorioso da sua resurreiçã0. Choramos nas calamidades,
nas aflicções publicas ou particulares, mas esperamos o fim das mesmas
lagrimas gue derramamos. Este ineffavel mixto de tristeza e consolaçã0,
dôr e esperança, é expresso pelo roxo.
Na morto dos reis, como o poder não morre (l), e como o mesmo
golpe que faz cahir a corôa da cabeça d'um a põe na d,outro, usa-se o
roxo. Esta cÔr deve pois aniquilar-nos e confundir-nos sempre na nossa
miseria, mas reanimar o vosso valor com a consideração das misericordias
infinitas do senhor. Deve rlizer-nos sempre que devemos cbegar á gloria
pelas tribulações; que a nossa unica esperãnça está na ,roi,e
a nossa
unica felicidade n'este mundo na esperança, porque não ha na terra
senão
alegrias soÍIredoras.
Mas quando a Egreja chora seus filhos, que morreram inteiramente
para a vida presente, entã0, não encaraodo senao as penas
do purgatorio,
d'onde é mister tiral-os, não ouvindo senão as suas lãmentosas su[pucas,
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tü2 CATECISTÍO ,
para a
não rcndo senão com terror aquella passagem terrivel do tempo
eternidade, sentindo sempre a desgraçada ferida que introduziu a morte
d'aquelle
no mundo, e sempre incerta ácerca das derracleiras disposições
por quem ora; então essa terna mãe, toda entregue á sua dôr, Se veste
áe preto, e assim se apresenta ante o seu divino Esposo.
Por meio d'esta lugubre côr lhe diz eloquentemente quam grande é
a sua afflicçã0, guantaõ ideias tristes desperta n'ella aquelle castigo do
peccado que se eiecuta sobre o genero humano ha seis mil annos.
Não
iei Se me engano, mas parece'me que, Sem flizer coisa alguma, o SaCer'
tll';,'t;,ffii.nx, r, c. Yrrr.
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DE PENSEVENAN.CÀ. t53
vam as paretles das egrejas grinaldas de lyrios e rosas (l). Hoie tres toa-
lhas se poem sobre o altar, e a que está por cima é adornada de rendas
e bordados. Prescreveu a Egreja o uso d'estas tres toalhas de linho e fa-
ceis de lavar, para occorrer ao grave inconveniente que podera resultar
do cahir o calix. 0 altar deve ser consagrado pelo Bispo. Antes d'esta
consagração, gue remonta á mais remota antiguidade, não é licito celobrar
n'elles os santos mysterios (2).
Sobre o altar, vêdes tres quadros chama dos canonas, porque servem
para dirigir o Sacerdo[e, pondo-lhe diante dos olhos orações que se veria
obrigado a lêr com embaraço no missal. O maior põe-se no meio tliante
-0
tlo tabernaculo, o segundo á esquerda, e o terceiro á direita. altar, se-
gundo o antigo costume, está collocado ao oriente, para gue os fieis em
oração olhem o sol nascente, imagem d'Àquelle que é o verdadeiro Sol,
e cuja luz, depois de ter dissipado as trevas do paganismo, allumia totlo
o homem que vem a este mundo (3).
No meio do altar está o tabernaculo, onde se conserva a sagrada Eu-
charistia. Ao fallarmos da Communhã0, na segunda parte do Catecismo,
explicamos a fórma dos'antigos tabernaculos. 0 uso de conservar o SS.
Sacramento n'um tabernaculo collocado no centro do altar, debaixo tlo pé
da cruz, é de bastante remota antiguidade (4). Notaes todas as bellas tra-
dições que recorda esla palavra tabernaculo? 0 deserto do Sinai, o manná,
Aarão e os' seus levitas, todas as maravilhas realisadas a favor da antiga
Egreja, ha mais de tres mil annos, estão reunidas n'esta só palavra. Hoje,
esta mesma palavra vos recorda outras maravilhas ainda maiores: a Ceia,
o Calvario, a passagem do Redemptor pela terra, e a sua presença per-
petua no meio dos filhos dos homens. Dizei-me, conheceis palavra mais
rica que esta ?
0 tabernaculo é sobrepujado d'uma grande wlz. Mqitos seculos já
alli a toem visto, muiÍ,as gerações a teem alli adorado. Está alli para re-
cordar que o Sacrificio dos nossos al[ares é a continuação do Sacriflcio do
Calvario, e para ensinar que só a Deus é que se refere este acto supremo
de religiã0, e não aos Santos nem aos Martyres. Tres cirios, ou pelo me-
nos um de cada lado, ardem durante a Missa para honrar o signal da Re-
, (1) Hier., Epüaph, Nepot,; Grcg. Turon., de Gl,orí,a eonfr. e. L; Paulino, Nat.
IIII, §. Iel,ici,s,
(2) Ilincmarus §em-en1q iry ÇapituLl Beda, l.Y, Hdet., c. XIl Athan., Apol,
aitr C'oíwnnti,um; E,:useb., l. IV, de Viia Coistantihi,
(3) Tertull,, ailu. Valenú., q. III.
(4) YÍde Burchard, l,I, Decret, c. IX.
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tô{. CAÍECTSMO
0RaÇÃ0.
0'meu Deus, que sois todo amorl graças vos dou por haverdes tido
tanto cuidado em inslruir-me multiplicando os ornamentos e os signaes
sagrados da Religião; abri-me o espirito e o coração a estas sanüas lições.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao proxi-
mo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amor,
ilarei graças a Deus por ter eslabeleciil,o as auguslas ceremonias ila Re-
ligiã0.
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DE PERSEVERÀNÇA. l5ü
DEcTMA.QUARTA I-tçÃ0.
(1) Duranto, l. I, c. VII. Esta data é mui preciosa para firar a edade des
copas eucharisticas de vidro eucoutradas nas Catacumba§, Vide a uossâ flistori,a
il,as Catacwmbas. -
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t56 CATECISMO
prata, pelo menos a copa, cujo interior deve ser dourado. Em respeito ao
corpo e sangue de Nosso Senhor, consagram-se 0s vasos que servem n0
altar: esta consagração é da nais remota antiguidade (,l).
Quando todo o p0v0 commungava sob a especie do vinho, eram os
calices muito maiores que hoje. Cita-se um, enlre outros, dado por Carlos
lllagno á egreja de Aquisgram, do pêso de dezoito libras. Estes calices
tinham ordinariamente duas azas para poderem transportar-se facilmen[e.
Parece todavia que não era n0 calix principal que 0 p0v0 tomava o pre-
cioso Sangue, mas sim em calices mais pequenos, em que se deitava parte
do sangue do Salvador, consagrado no altar no calix principal (2).
Era tambem em calices particulares que 0 povo offerecia o vinlro e
a agua que deviam ser consagrados (3) : foram substituidos pelas galhe-
tas. Por mais santos que fossem todos estes vasos destinados ao altar, os
Bispos mais piedosos e illustrados, c0m0 S. Ambrosio em Milã0, S. Agos-
tinho em Hippona, e Deo Gral,ias em Carthago, não hesitavam em ven-
dêl-os para soccorrer os pobres ou remir os captivos: davam 0 menos
pelo mais (4).
A patena é um pratinho d'ouro ou de prata dourada em que dos-
cança o pão que deve ser consagrado. Quando, durante os bellos dias da
Egreja, todos aquelles que assistiam á itylissa tinham a felicidade de re-
ceber a sagrada Eucharistia, cada fiel apresentava por offrenda o pão que
devia ser conver[ido no c0rp0 de Nosso Senhor. Estas offrendas eram
collocadas sobre a patena o postas sobre o altar. ltrntão as patenas eram
muito maiores; nem é duvidoso que houvesse varias. 0 Sacerdote ser-
via-se d'ellas tambem para partir o pão e distrihuil-o mais commoda-
mente. Hoje a patena não é util senão ao Sacerdote, para depositar a
hostia que deve consagrar no santo Sacrificio. 0 uso da offrenda está
abolido. 0 numero dos que commungam e infelizmente menos conside-
ravel; e empregam-se, para distribuir a Bucharistia, os ciborios onde se
conservam as especies consagradas.
0 ciborio, feito enr fórma de calix coberto, deve ser de prata, e o
in[erior da copa dourado. Guardava-se n'outro tempo este precioso vaso
n'uma torre ou n'uma pomba de prata suspensa por cima do altar: hoje
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DE PEASEVERANCA. r57
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tS8 GArEcIsMo
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rrE PERSEVEAANçA. tsg
Que quer pois a Egreja abençoando a agua e derramandea sobre
os fieis ? Mãe terna e cheia do sollicitude, quer recordar aos filhos a sua
queda e redempção; quer purifical-os e dar-lhes toda a santidade D0c0s.
saria para assistirem dignamente aos mysterios formidaveis; quer final-
mente preserval-os de tudo quanto podesse manchal-os e prejudical-os.
Com este intuito, junta ás suas orações os signaes mais convenientes
para mostrar o fim que se propõe.
A qualidade propria da agua é lavar; o sal preserva da corrupçã0,
e a agua e o sal misturados são um symbolo de purezâ e innocencia:
taes são as duas materias da agua benta. Revestida do mesmo poder de
seu divino Esposo a quem foi dada 4 omnipotencia no Ceo e na terra,
ordena a Egreja aos seus ministros que sub[raiam estas duas creaturas,
a agua o o sal, ao poder do demonio, e as tornem uteis ao homem, cha-
mando-as, pela santificação, ao seu primitivo destino: e o Sacerdote exor-
cisaaaguaoosal.
Exorcisar quer dizer conjurar e mandar : é termo que não convém
senão aos que fallam com suprema auctoridade. Na lingua da Egreja,
exorcisar signiÍica conjurar o demonio, expulsal-0, prohibir.lhe que faça
damno. Exorcisar a agua e o sal quer dizer que o sacerdote manda ao
demonio, da parte de Deus e pelos merecimentos da cruz de Jesus Chris-
t0, que deixe livres aquellas duas creaturas, o que deixe de servir-se
d'ellas para fazer mal aos homens, de sorte que sejam d'ahi em diante
uteis á nossa salvaçã0. Tat é o sentido dos exorcismos que so fazem so-
bre todas as creaturas inanimadas.
Dirige-so a gente a ellas, mas a0 demonio e que vão os mandados;
do mesmp modo que sobre o demonio é quo recahiu o anathema divino
depois da quéda de nossos primeiros paes, posto que Deus não fallasse
senão á serpenüe. Que as creaturas estejam viciadas, que o demonio
exerça sobre ellas grando imperio, que tenham necessidade de ser santi-
ficadas, é uma verdade de fe catholica, cujas provas démos ao fallarmos
das bençãos em geral.
ao domingo, pois, antes da llliss'a, o sacerdote, representanto d'À-
quelle quo creou os elementos, gue durante a sua vida mortal mandou
ás creaturas inanimadas, ao mar, aos ventos e ás tempestadeb, e que tan-
tas vezes expulsou os demonios dos possessos; o Sacerdote reveste-se
d'uma sobrepelliz e d'uma estola; e, precetlitlo de dois acolytos, um dos
quaes leva um cirio accêso, e o outro um pouco de sal e um hyssopê,
se dirigo á pia da agua benta.
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160 CÀTECISMO
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J
DE PERSEVERÀN.CA. 16I
genero humano. E quem sois vós para yos arrogardes similhante direito
e para dizerdes: Só eu sou sabio, só eu sou illustrado entre os mortaes ?
0 Sacerdote, pois, tendo santificado o sal, toma de novo a attitude
do mando. Estende a mã0, e dirigindo-se á agua, diz : «Agua, creatura
de Deus, eu te exorciso em nome de Deus f , Pae todo-poderoso, em nome
de Jesus Christo j-, seu Filho, Nosso Senhor, e pela virtude do Espirito
Santo f,
para que sejas uma agua pura e santa, capaz de destruir o po'
der do n0ss0 inimigo e de o abater a elle mesmo com 0S seus anjos apos-
tatas. Por Nosso Senhor Jesus Christo que ha de vir a julgar os vivos e
os mortos e o seculo pelo fogo. »
E o Sacerdote convida os fieis a pedirem com elle que Deus queira
operar o que pede. Orentos, diz, e continúa assim : «0'Detts ! que, em fa'
vor do genero humano, déstes á agua immensas propriedades, escutae
favoravelmente as nossas orações e derramae a virtude da vossa benção
f sobre este elernento que se prepara para diversas purificações. Fazei
cgm que, servindo para 0s vossos myterios, receba o effeito da vossa graÇa
;
tlivina para expulsar os demonios e curar os enfermos com que tudo
quanto fôr espargido com esta agua, nas casas e nos outros logares onde
se acharem os Íieis, seja preservado de toda a impureza e de todos os
males. Esta agua afaste d'elles todo o sopro pestilencial e corrompido;
clesvie as ciladas do inimigo occulto, e tudo quanto possa haver prejudi-
cial á saude 0u a0 descanço d'aquelles que 0s habitam, e Íinalmettte esta
saude, que pedimos pela intercessão dO vosso santo nome, seja-nos con-
servada contra todas as especies tl'ataques. Por Jesus Christo Nosso Se-
nhor, etc. »
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,
t62 CATECISUO
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DE PERSEYERANÇÀ. {63
(1) Os factos espi.rítualisúar. que dào hoje volta ao mundo, tornado nouarnente
pagã,o, sào a jusLificagâo brilbante da Egreja nas suas presuipgões aDti-demoniacas,
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16ll cÀrEorsilo
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I
DE I'ERSEVERANCA.
a t65
ORAÇÃ0.
0' meu Deus, que sois todo amor I graças vos dou por terdes es-
tabelecido bençãos para santiÍicar todas as creaturas ; concedei-me que
nunca me sirva d'ellas senão para gloria vossa.
Tomo a resolugão de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amor,
farei todos os esforços plr assistir tÍ aspersão da agua benta antes da
Missa.
il
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t66 CÀTECISMO
DECIMA-QUINTA LlÇÃ0.
(1) Eaoil., c. XV; Jud,ith, c. XV e XYI l Esther, c. IV; Joel, c.I7; Josué,
c. VI.
(Z) Ácerca das procissões dos pagâos, vicle Brisson, 1. VII, de ?ormuits 1 e
aa Trà Rotnas, t. III, Descripção ilo granile circo,
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DE PERSEYERANCÀ. r67
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r68 CÀTECISilO
i:k::!?rT,II*,3ÍT*I
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..e
DE PERSEVENANÇÀ. r69
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--
t70 e,â,TECISM0
(1) À respeito de tudo- i!to, vide os iuteressantes pormeaores dados por Du-
randà,'.Rcríon.-ilia. ofu.t l. IV, c. IV.
(2) 'Fallamos alo uso antigo.
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DE PDR§EVDNANÇA. l'll
coilrmunulente que foi o Papa Agapeto que estabeleceu a prucissão dO
tlomingo (l).
dizêl-o ? : As procissões com as oeremoülas e oraçoes
E; nàcessario
viajantes
de que são acompanhadas, devem fazer'nos pensar qqe §omos
na terra, que 0 Ceoé a nossa patria, e que temos precisão de Nosso Se-
verdade e
nhor para-tendermo§ e chegarmos a ella. Elte é o caminho, a
a vida: o caminho por onde se vae, a verdade a que Se tood6, o a viila
em qus se permanece eternamente (2)'
III.MrrsA, pRrMEtRÀ pÀRrE. Eis-nos de volta da procissão reco-:
-
agora, que vae começar o augusto sacrificio. Dividiremos a
lhamo,-nos
Missa em seis -fazpartós (3). À primeira comprehende a preparação do Sa-
crificio, que se no fundo do altar; a segunila, desde o Inhoito até ao
Qffertorio ; a úerceira, desde o Offertorio átg ao Canon ; a quarta, detde
o Canon até ao Pater; a quinta, desde a oração Libera mos a[é á Com'
munhão; e a seaüa, desde a Comrnunhão até ao fim da Missa (4).
À palavra missa quor clizer despeiliia. Nos primeiros seculos da
Egroja, iravia tluas despetlitlas dos assistentes. A primeira era depois do
evangelho e da instrucção, quanilo o Diac.ono avisava os cathecumenos, os
iúeii, os penitentes e todos o§ que não deviam tomar parte nos santos
mysterios, para sahirem da Egreja: esta despedida chamava-se a rrmi§§4
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--
172 cArEcrsuo
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-
DE PEBSEVEBANÇA. t73
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ne CÀTECI§UO
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DE PEn§E3EBÂNÇA. 17Ü
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t76 cÀrEcrsuo
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DE PERsEvERÀNÇÀ. l-t7
a vós.» Por ventura ha desejo mais tocante e mais amplo? Não lbe po-
nhamos obstaculos, e elle se cumprirá em nosso fat'or.
A resposta que o povo dá ao Sacerdote encerra os mesmos votos:
E com o Dossl espirito. 0 povo não diz: E comvosco, mas sim: Com o
vosso espirito; ( porque, diz um auctor do nono secttlo, tudo é myste-
rioso. e espiritual nas funcções quç elle vae desempenhar, e porque o seu
coração não póde ser penetrado da grandeza do seu ministerio senão em
quanto o seu espirito se applica a reflectil nas grandes verdades contidas
nas orações que deve recitar. » N'uma palavra, o povo não considera o
Sacerdote c0m0 um homem, mas sim como um pur0 espirito, c0m0 um
anjo de Deus que vae penetrar por elle no tremendo santuario, e desem-
penhar a funcção mais angelica com que póde ser honrada uma creatura.
D'este modo, o Sacerdote deseja aos fieis que Nosso Senhor esteja no
meio d'elles, e 0 p0v0 faz a mesma supplica pelo Sacerdote, para que
Nosso Senhor seja tudo em todos; para que Elle só ore, ame, adore em
todos os coraç,ões, e para que todos os corações reunidos não formem se-
não um só coração em Jesus Christo. A Íim de conservar e renovar esta
união, repete-se a bella oração que a exprime ate oito vezet durante a
Missa: oxalá não o esqueçamos I
Ha uma longa serie de seculos (t) que a piedade catholica gosta de
vêr, nas ceremonias do augusto Sacrificio dos nossos altares, as diversas
circumstancias do Sacrificio da uoz. Gosta de seguir passo a passo a
grande Victima caminhantlo lentamente para o altar sangrento, desde o
jardim de Gethsemani até ao topo do Calvario. N'esta via dolorosa expe-
rimenta uma tocante variedade de sentimentos de compuncÇã0, reconhe-
cimento, humildade, confiança e amor. Sem darmos a estas approxima-
ções exaggerada importancia, expol-as-emos successivamente. S. Francisco
de Sales será o n0ss0 guia; convir-se-á em que não podiamos escolher
outro melhor (2).
Celebra-se a santa Missa em memoria da Paixão de Nosso Senhor,
como Elle mandou aos seus Apostolos dizendo-lhes: Fazei isto em me-
moria de mim. Como se quizesse dizer: Quando offerecerdes o augusto
Sacrificio, lembrae-vos da ninha Paixão e morle. Entremos no desejo do
Salvador, e, durante a primeira parte da Missa, vejamos, no Sacerdote
entrando no altar, Jesus enlrando no jardim; no Sacerdote recitando as
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r78 CÀTECI§ilo
0RAÇÃ0.
0' meu Deus, que sois todo amor graÇas vos dou por haverdes
t
estabelecido o santo sacrificio da Missa, em que me applicaes os mereci-
mentos da vossa morte e Paixão; concedei-me que assista a elle com mais
piedade do que tenho feito até agora.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas e ao proximo
como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amor, reci-
tarei o Confiteor no principio da Missa com muita piedade.
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DE PERSEYERÀNÇÀ. t79
DECTMA.SEXTA LtçÃo.
o InÚrolÚo
rncensamenúog.
- Segunda lDarúe da ilissa, desde
até ao Offerúorio, - Inúroiúo. - «Kyrie eleison». - nGloria
ln exoelgis.»
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-
I80 CÀTECISMO
pelo nlme d,e Jesus (l). E' com mzáo que se encommenda o Sacerdote
aos Santos em geral e aos martyres em particular. As orações d'uns e o
sangue dos oul,ros, unidos aos merecimentos e a0 sangue de Nosso Se-
nhor, são d'um valor inflnito, e a Sua poderosa intercessão é mui capaz
de lhe alcançar de Deus a remissão de toclas aS suas culpas. 0 Sacerdote
faz em vgz baixa estas duas orações, porque lhe dizem respeito pessoal'
mente: são mui antigas na Egreja (2).
I. IxcnNsaMsNros. -- Nas lVlissas solemnes, depois que o Sacerdote
diz as orações precedentes e beija o altar, o Diacono lhe pede que aben'
çôe o incenso tlizendo-lhe: «Abençoae, meu reverendo Padre.»
A pala-
vra Padre e mui tocante pela veneranda antiguidade que recorda. B' o
ngme qqe davam os primeiros christãos aos Sacerdotes e Bispos, do mes-
'mo
modo que aos auctores dos seus dias. Nada mais justo: não são os
Sacerdotes e Bispos 0s paes das nossas almas ? 0 uso d'este appellido
conservou-se intacto nas communidades religiosas, onde se refugiaram
com o verdadeiro espirito do Evangelho as santas tradições da Egreja
primitiva. 0 celebrante deita incenso no thuribulo, dizendo: «Bemdito
sejas por Aquelle em honra do qual has-de ser queimado,» e o abençÔa
fazentlo o signal da cruz. Recebe o thuribulo das mãos do Diacono, in-
censa a cruz, o fundo do altar, a frente e os dois lados.
D'onde vem 0 uso dos incensamentos e qual é a sua significação ?
Eis mais uma d'essas perguntas cuja solução está impaciente por obter
a vossa curiosidade. Para se chegar á origem do incenso no culto divi-
no, é necessario transpôr tres mil e quinhentos annos, transportar-se ao
deserto do Sinai e escutar o proprio Deus prescrevendo a Moysés a ma'
neira de compôr o perftrme que devia ser queimado no tabernaculo (3).
Quando um uso estriba em similhante antiguidade e vem d'uma ori-
gem tam respeitavel, póde-se certamente pratical-o sem córar. Uma das
funcções principaes dos Sacerdotes da antiga lei, era queimar incenso
no altar dos perfumes. 0s pagãos, herdeiros infieis da tradição primiti-
va, conservaram o uso do incenso nas SuaS ceremonias (A). Ao adoptal'o
para as suas, não foi a Egreja catholica imitadora dos pagãos, não fez
mais que praticar sob o Evangelho o que se ordenava sob a Lei.
0 proprio Sah,ador Ihe ensinou, com o seu exemplo, que a offrenda
do incenso continuaria a ser agradavel a Deus. Entre os presentes que
(1) Ápoc,, XI, 9.
(2) Bona, l. II, c. XXII.
(3) Eooil,., XXX, 34.
(4) Tertull., A1tol,,, c, XXX I Arnob.l l. I[.
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DE PERSEVERANÇA. l8t
inspira aos Magos para deporem a seus pés, designa-se o incenso em
termos expressos. Mais tarde, convidado o Filho do Homem para jantar
em casa d'um phariseu, se queixa de que lhe não perfumaram a cabeça,
como faziam ás pessoas a quem queriam honrar (l). Maria, irmã de La-
zaro, não faltou a isso n'uma occasião similhante (2). Desde os primei-
ros seculos, fez uso a Egreja dos incensamentos (B) ; e vêmos constan-
tino, apenas subiu ao throno dos cesares, apressar-se a fazer presenl,e
ás egrejas de thuribulos d'ouro para lhes servirem durante a celebração
dos augustos mysterios (4).
III. sroNmlclçÃo Do rNcENso.-Qual é agora a razáo d,este uso tam
constante, antigo e universal ? {.0 0 incenso que se queima durante os
santos mysterios, é como urn holocausto offerecido a Deus. TestiÍica-se
d'este modo que todas as creaturas devem ser empregarlas e consumidas
n0 seu serviço e para gloria sua. A liturgia oriental exprime claramente
esta intençã0, pois que faz acompanhar o incensamento d'esta oração:
«Gloria á santissima, consubstancial e viviÍicante Trindade, agora, sem-
pre e por todos os seculos dos seculos (5).,
2! 0 incenso que se queima no al[ar d'onde se espalha o perfume
pela egreja, e uma Íigura do bom cheiro de Jesus christo qor ie espa-
lha do altar sobre a alma dos fieis. Toda a antiguidade christã é acorde
em reconhecer-lhes esta bella e mysteriosa significação (6). 0s Santos
Padres nos dizem que o thuribulo representa a humanidade de Jesus
christo, o fogo a sua divindade, e o vapor rlo perfume a sua graça. q0
thuribulo, diz s. Agostinbo, é como o corpo do senhor, e o incenso co-
mo este mesmo corpo offerecido em sacriticio peta salvação do muoclo e
recebido como um dôce perfume pelo pae celeste (7).»
Penetrados d'estas idéas mysteriosas e sublimes, tinham os primei-
ros christãos em tanta veneração o incenso que se queimava na egreja,
que buscavam respirar o seu cheiro dizendo o que diz o Sacerdote ainda
hoje: «o senhor accenda em nós o fogo do seu amor e a chamma da
eterna charidade (8) l»
t2
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{82 cÀrEcISMo
3.0 Foi sempre tomado o incenso por uma viva expressão das suppli-
cas que dirigimos a Deus e do ardente desgjo que temos de que se elevem a
Elle como se eleva ao Ceo aquelle suave perfume. A oração que acompanhava
os incensamentos nas antigas liturgias e que ainda hoje os acompanha, não
deixa duvidâ alguma a tal respeito. «0' Jesus Christo, diz a Egreja orien'
tal, que sois Deus, nóS vos offerecemos este incenso como um perfume
espiritual, para que vos digncis de recebêl'o no vosso santo e sublime
altar, d'onde esperamos os effeitos da vgssa misericordia ('l)...»
«À minha oraçã0, Senhor, diz a Egrcja occitlental, eleve-se a Vós
c0m0 este incenso. » Certamente para conformar-se com o espirito da Egreja
é que n0 anno de 526, em Cesarea da Palestina, o santo Sacerdote Zozimas,
tlesfazendo-se em lagrimas no momento em que foi abysmada a cidade
d'Antiochia, mandou levar o thuribulo para o cÔro, accendeu incenso, pros'
trou-se por terra e juntou ao fumo d'aquelle incenso as suas lagrimas,
suspiros e orações, forcejando por aplacar a ira do Senhor (2).
E' pois cer[o que o incenso foi considerado sempre Como um sym-
bolo das nossas preces. Podia-se enconlrar outro mais expressivo ? 0 in'
censo não se ergue a0 ceo senão pela actividade que lhe dá o fogo : e as
nossas orações, que realrnente nã0 são senão os desejos do nosso coração,
não podem chegar a Deus se não forem animadas pelo fogo do amor di-
0
vino. que se eleva do incenso ê o bom clreiro: tocante lição que nos
diz que preparemos o nosso coração de tat sorte, que d'elle nada se ele'
ve que não seja agradavel a Deus. Todo o incenso é consumido, não res-
tando parte alguma que Se não eleve em vapor; do mesmo modo todos
os desejos do nosso coração devem tender para Deus Sem que nenhum
d'elles se prenda á terra.
4.o Se o incenso representa aS orações dos Santos da tepa, com
maior razão representa as dos Santos do Ceo. Eis porque nos diz o apos-
tOlo S. João: 0s ancid,os estar;am prostrados ante o Cordeiro, tmdo to'
ilos taças d,'ouro cheias cle perfumes, çlu,e sã,0 as orações dos Santos G).
pois que o incenso é o emblema da oraçã0, o primeiro incensamento não
porlia ser mais bem collocado que clepois da oração )ramus /e, na qual
iogrmo, a Deus que al,l,enda ás supplicas dos Santos para ter de nÓs mi'
sericordia (&).
(1)
(z) .Eggl., p.52.
l. rY, c, YIr.
(3)
(4)
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ô
DE PERSEVERANÇÂ. r83
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
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\'--l
| 8& cÀrEclsuo
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DE PEBSEVERÀNÇA. 18õ
(1) nii.
(2) Con
. (3) As centam: .«O.
povo, a cada nma das
coisas__que o_ ison, e principalmente as creangas.D
L. V[I, c. Y
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b"
186 cATEcI§Mo '
sim, as creanças, os anjos da terra cujo coração puro e mãos innocentes,
erguidos para o Ceo, são omnipotentes sobre o coração de Deus. E o
Diacono fazia ern voz alta diversos pedidos a favor rlos cathecumenos.
Dizia : «Oremos todos pelos catltecumenos,
para que o Senhor, cheio de
bondade e misericordia, ouça as suas orações e lhes conceda as potições
do seu coraçã0.» 0s fieis, e principalmente as creanças, respondiam: Ky-
rie, eleisoz: «Senhor, tende compaixã0.»
Diacono: «Para que lhes descubra o Evangelho de Jesus Christo.»
:
Fieis, e 'principalmente as crecünças «Kyrie eleison: Senhor, tende
compaixã0.»
Diacono: «Para que os allumie e lhes ensine o§ seus mandamen-
tos. r
Fiei,s,{e Ttrinci'ltalntente as crean"ld,s : «Senhor, tende compaixã0.»
Diacono: «Para que lhes inspire um temor casto e saudavel; paÍa
que lhes abra os ouvidos do coraçã0, a Íim de que se occupem da sua
lei dia e noite. D '
Fieis, e principalmente (ts crea,nçüsi «Senhor, tende compaixã0.»
Diacono: «Para que 0s una e ponha no numero âe suas ovelhas, tor-
nando-os dignos da regeneração e da vesto da immortalidade.»
Fieis, e princilta,lmente as creünçüs: «Senhor, tende compaixã0.»
Diacono: Para que os purifique de toda a macula de corpo e espi-
rito, habite n'elles com o seu Christo, abençôe a sua entrada e sahida, e
faça que tenham bom exito todos os seus projectos.»
Fieis, e Ttrincipalmente as cfeanças: «Senhor, tende compaixã0.»
Diacono: nPara que recebam a remissão dos peccatlos pelo Baptis-
m0, a Íim de que se tornem dignos dos santos mysterios e da mansão dos
Santos. »
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.-
DE PER§EVENANÇÀ. r87
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lE-
tg8 cArEcr§Mo
corda bem a maneira como foi cantado peros Ànjos. um d,estes espiritos
celestes apparece aos pastores, e lhes annuncia a grande nova. Ainàa não
acabou de fallar, quando multidão d'Anjos, unindo as suas vozes á d,elle,
cantam com elle: Gloria a Deus nas alturas dns Ceos, e na, terr(r, püz
q,os homens deboa uontade (l).
0 Introito exprime os votos dos Patriarchas, a Gloria in ercelsis an-
nuncia o cumprimento d'elles. Duas grandes épocas do genero humano,
a época anterior ao Messias e a época que lhe é posterior, se reunem
d'este modo na segunda parte do SacriÍicio catholico. Não é este pensa-
mento tam elevatlo que nos diga alguma coisa? será incapaz de nos es-
clarecer o entendimento, de nos Íixar a imaginação e de nos inflammar o
coração ?
oRAÇÃ0.
0'meu Deus, que sois todo amorl graças vos trou por terdes perpe-
tuado o SacriÍicio do Calvario; concedei-me que entre nos sentimentos de
compuncÇã0, reconhecimento e alegria que inspiram as primeiras orações
da Missa.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao proxi-
mo c0m0 a mim mesmo pOr amor de Deus; e, em prova d'este amor,
me esforçarei em recitar o Kyrie eleison coml os prim,eiros Christd,os,
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DE PEnSEVEnÀNÇÀ. t89
DEC|MA.SETtMA LtÇÃo.
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t90 CÀTECISMO
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.J
DE PERSEVEnANÇA. l$l
coisa qoo prece i bençd,0, porgue é destinada a attrahir sobre a Egreja a
benção de Deus ; collecta, por duas razões : primeira, porque se faz so-
bre o povo reunido, e a palavra collecta quer dizer assemblêa; segunda,
porque é um compendio de tudo o que o Sacerdote deve pedir a Deus,
quer para si, quer para os fieis.
A maior parto das collectas que estão ainda em uso, foram redigi-
tlas pelos Summos Pontifices S. Gregorio e Gelasio, mas a essencia é de
tradição apostolioa ('l). Nada é mais veneravel, e podemos acmescentar
que nada ê mais completo: as collectas da missa formam uma collecção
unica. Por mais variaclas que sejam as nossas necessidades, votos e sof-
frimentos, não ha nem um só que nãO encontre sua expressão n'estas
admiraveis orações. Accrescentae que ha n'estas collectas uma simplici-
dade e uncção que em balde se buscariam em outra parte. SÓ á Egreja
catholica pertencia o compol-as. Só a esposa verdadeira conhece a ma-
neira de fallar a Seu esposo e o caminho que vae ter ao seu coraçã0.
Quanto vence as seitas pela verdade do seu ensino, tanto lhes e supe-
rior pela belleza das suas orações.
Commummente, nos dias de penitencia, diz o Sacerdote varias. Nas
grandes solemnidades, restringe-as a uma só, para Íixar os fieis no mys-
terio do dia, unico objecto que os deve occupar nas festas importantes.
A Egreja quer que nós comprehendamos que é pedir tudo a Deus o pe-
dir-lhe a applicagão do mysterio gue ella celebra.
Nas festas dos Santos, são as collectas unra petição relativa ás prin-
cipaes virtudes que dis[inguiram es[es amigos de Deus, e para nós um
incentivo á imitação dos seus exemplos. Mas a Egreja tem muito cuidado
do fazer-nos perceber a diflerença essencial que a fe lhe faz estabelecer
entre o Santo a quem honra e o Deus a quem invoca. Aqui, o Santo é
designado pelo nome de Seroo, e Deus é invocado sob 0 nome de Se'
nhor e Amo.
As collectas dirigem-se ordinariamente a Deus Padre, porque a elle
:
é que se offerece o Sacrificio. Acabam por es[a conclusão Per Domi'
num nlstrum f esu,m Christum; Por Jesus Christo .Nosso Senhor. Quer
isto dizer que e em Jesus Christo e por Jesus Christo que se faz toda a
oração; pois não ha outro mediador entre Deus e o homem que o Sal-
vador Jesus. Quer isto dizer ainda que Jesus Christo, que está carregado
tle todas as nossas dividas, se encarrega tambem de apresentar todas as
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192 carocrsuo
nos§as supplicas e todos os nossos votos. Finalmente quer isto dizer que
toda a graÇa nos é dada em virtude dos merecimentos de Jesus Chris-
to. Como este divino intercessor se immola sobre o altar, e nós o da-
mos a seu Pae em troca dos benefir:ios que esperamos, nada ha mais
proprio que esta formula para reanimar a nossa con0ança. Pedindo por
Jesus Christo, temos direito a obter tudo. Oxalá estejamos bem conven-
cidos d'isso ao recitarmos a collecta t
No fim da collecta, respondem os assis[entes: Amenl Esta palavra
é uma acclamação breve, mas energica, que quer dizer aqui «Assim :
seja, 0s votos que acabaes de apresentar ao Senhon sejam attentlitlos.
Desejamol-0, e unimo'-nos a vós para o pedirmos; e promettemos não
lhe pôr obstaculo algum, nem por actos, nem por vontades contrarias. »
À significação d'esta palavra varia conforme as circumstancias. Dita de-
pois da expressão das verdades da fé, depois do canto do Symbolo, por
exemplo, significa: Isso é certo, creio-0. Depois da petição d'um favor
ou da exposição d'um dever, am,en signi0ca: Consinto n'isso, dese-
jo'0.
Ámnn I eis ainda uma d'aquellas palavras que não devemos pronun-
ciar sem o mais profundo respeito. E como não ha-de ser assim, se nos
lembrarmos de que tem passado de seculo em seculo, repetido pelos la-
bios angelicos do tantos santos Pontifices, de tantas virgens, de tantos
solitarios, de tantos Christãos, nossos paes na fe e nossos modêlos na
virtude ? Foi pronunciada pelos llartyres nas Catacumbas, nas prisões o
até mesmo nos cadafalsos ; parece ainda coberta do seu sangue e perfu-
mada do incenso da sua charidade (l).
Que será se pensarmos que este Ámez, pronunciado pelos Anjos e
pelos Santos, resôa perpetuamente e ha-de resoar pelos seculos dos se-
culos sob as abobadas da Jerusalem celeste ? 0h t reanimemos a nossa
fé, e a Egreja da terra nos representará d'um motlo sensivel a Egreja do
Ceo, se, can[anclo o mesmo cantico, o cantarmos no mesmo espirito. Se
não sabemos dizer senão Amen, esforcemo'-nos ao menos por o dizer-
mos como os Anjos, os escolhidos e os Santos. Tenhamos cuidado: re-
petindo esta bella palavra, nunca mentimos ? Dizemos Amen a tudo o
que a Egreja pede e promette em nosso nome, etalvez não deixemos de
seguir a perversidade das nossas vontades e desejos t 0' meu Deus t que
é o amen do hypocrita, o úmen do avaro, o üruen do ambicioso, o a,nren
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DE PERSEVERÀNÇÀ. {93
tlo vingatit'o, o anT n dos voluptuosos, senão uma ultrajante ironia? Des-
graçado d'aquelle que se torna reo d'ella I
,
Depois rla oração liz o celebrante com voz intelligivel a Epistola,
porque e uma instrucção para o povo. Nas lllissas cantadas, é o Sub-Dia-
cono que â canta. Nos primeiros seculos, pertencia esta funcção ao lei-
tor : a Epistola não se cantava, lia-se (l). 0 uso de lêr a Escriptura Sa-
grada nas assemblêas de religião remonta á mais remota antiguidade. 0s
judeus comeÇavam as suas oraÇões nas Synagogas pela leitura de l\loysés
e dos Prophetas (2). 0s primeiros Christãos imitaram este uso nas suas
reuniões do Domingo. «Reunimo'-nos, diz Tertulliano, para lêr as divi-
nas Escripturas, e vêr 0 que convém aos diversos tempos (3).» A'lei-
tura do Antigo Testamento juntava-se a do Novo: olêem-Se na assem-
blêa, diz S. Jus[ino, 0s escriptos dos Prophetas e Apostolos (&).» À
Egreja conservou religiosamente esta prática.
Não só se liam na primitiva Egreja os livros da Escriptura Sagrada,
mas tambem 0s actos dos Martyres (5), assim c0m0 as cartas dos Sum-
mos Pontif,ces e dos outros Bispos, gue se chamavam cartas de paz ou
de COmmunhã0. Por meio d'este commercio de cartas, se conservavam a
paz e unidade entre o PontiÍice de Roma, chefe supremo da Egreja, e 0s
Bispos de todas as Egrejas do munclo. Estas cartas faziam tambem dis-
tinguir os Catholicos dos herejes. Enviavam-n'as d'uma Egreja a outra,
para que os Íieis conhecessem quem eram aquelles com quem deviam
communicar (6).
Esta leitura chama-se Epistolo porque e ordinariamente tirada das
Epistolas dos Apostolos, e principalmente de S. Paulo. Devedores aos
gregos e aos barbaros, missionarios do mundo inteiro, não podiam 0s
Apostolos assistir longo tempo em Egrejas que haviam fundado. Para sus-
tentarem na fe os fllhos que acabavam de gerar a Jesus Christo, lhes es-
creviam, n0 meio das suas excursões e trabalhos, cartas cheias d'uteis
conselhos. Nunca familia alguma ternamente unida sentiu tanta alegria
ao receber novas de um pae querido, como aquelles fervorosos Christãos
á chegada das cartas de seus paes na fe. trIonumentos tla sollicitude e
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19tL CÀTECISMO
(2) Hebr,I,7.
(3) Duranto, l. II, c. XYI[; Alcuino, De Celebr, Mísscp,
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DE PEnSEVERÀNÇÀ, 195
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t96 cÀrocrsmo
«!, alleluia está pois reservacla para os tempos d'alegria. Mas que I
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DE PERSEVEnANÇÀ. ,,9'l
não achar palavras para exprimir o que sentia ({) ? E comtudo aquellas
riquezas não lhe pertenciam, aquelle palacio não era para ella. Filhos do
verdadeiro Salomão, herdeiros do seu throno, futuros companheiros da
sua felicidade, ah t esforcemo'-nos por excitar em nós, á vista do Ceo que
nos está destinado, alguns dos sentimentos da rainha estrangeira I
As neumas deram logar ás prosas: eis de que maneira. Sob aquella
longa serie de notas, se pozeram algumas palavras, e depois alguns ver-
siculos, que exprimiam a alegria e eram como uma continuação da alleluia.
Pouco a pouco se augmentou o numero d'ellas, e finalmente fizeram-so
hymnos, isto é, cantos d'alegria, analogos á festa: esta mudança effe-
ctuou-se pelo nono seculo. D'onde vem l.o que a Egreja romana, sempre
Íiel aos antigos usos, não tem senão um pequenino numero de prosas;
d'onde vem 2.o que as prosas foram e são ainda chamadas sequencia, que
quer tlizer continuaçd,o; com effeito, são a continuação ou prolongamento
da alleluia; d'onde vem 3.0 que não se dizem as prosas senão nas Mis-
sas em que se canta a alleluia.
Cumpre exceptuar a Missa solemne pelos defunctos, ertr que se diz
a prosa Dies irm. Posto quo, segundo a opinião comrnum, ella seja obra
do Cardeal Malabranca, que morreu em | 294, nÁo se disse á Missa senão
no principio do seculo decimo-septimo. Era isso em respeito ao antigo
uso, que não permittia se dissessem prosas quando não havia alleluia.
Ao depois deixou-se de attender ás razões da instituição das prosas, para
não vêr n'ellas mais que uma mostra de solemnidade. Por consequencia,
não se quer tiral-a ás missas cantadas de defunctos, em que se acha mui-
tas vezes uma numerosa assemblêa.
A palavra prosa significa discurso liure, que não é embaraçado pela
medida metrica como a poesia pagan. A fim de ser mais cantante e mais
facilmente retida, a prosa e ordinariamente rimada. D'onde veio a poesia
dos povos modernos. Ha além d'isso na isenção do metro pagão uma li-
berdade que convém muito á oraçã0. Aqui, como em tudo, vê-se aquella
familiaridade tocante, e por vezes ingenua, da esposa quando falla ao seu
divino Esposo. Não sei, mas a medida dos versos, a obrigação de encerrar
o pensament0 n'um numero determinado de syllabas, invariavelmente lon-
gas ou breves, estorva as expansões do coraçã0, comprime os seus im-
pulsos e esfria o seu ardor. Para dizer tudo n'uma palavra, parece.mo
que as prosas, principalmente as antigas, oro,nt, e que os nossos hymnos
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198 cÀrncrsMo
0RAÇÃ0.
0' meu Deus, que sois todo amor t graças vos dou por haverdes jun-
tado as instrucções com as orações durante a segunda parte da Missa, a
fim de me preparar dignamente para os santos mysterios; concedei-me
que attenda ao sentido de todos os canticos e de todas as ceremonias.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas e ao pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amor,
hei ile esautar a Epistolü clnx grande desejo de aproae,itar.
- c.(U_
2,
Radulf. Tungrensis t prop, 23 ; Cornel. Schultingus, Bibl,ioth, c@1, t. f, p.
VI e YII.
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DE PERSEVERÀNÇA. {99
DECTMA-o|TAVA UÇÃ0.
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200 cÀrDCIsMo
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DE PEBSEVERANÇA. 201
o mgsmo Jesus Christo, ao vêr o livro que continha as suas divinas pala-
vras (l).
A honra de cantar o Evangelho está reservada ao Diacono. 0 res-
peito devido a es[e livro divino e a magestade das ceremonias que acom-
panham a leitura d'elle, exigiam que este oflicio fosse desempenhaclo pelo
ministro sagrado gue mais se approxima da dignidade sacerdotal (2).
Outr'ora, na Egreja d'Alexandria, es[a nobre funcção era só desempenhada
pelo Arcediago. Em outras partes estava reservada a Presbyteros e até
a Bispos nas grandes festas, como em Constantinopla no dia de Paschoa
(3). Diremos de passagem que em Roma, quando o Summo Pontifico ce-
lebra Missa solemne, a Epistola e o Evangelho se cantam em grego e la-
tim: é um Cardeal que canta o Evangeltto. A divina palavra annunciada
n'estas duas linguas recorda a antiga união do Or'iente com o 0ccidente:
oxalá a divina Providencia a restabeleça um dia I
0 Diacono sobe ao altar, põe-se de joelhos e recita a oração que
acima referimos Deus todo-poderlsl, purif,cae, etc. N'este Diacono que
sobe ao altar não yos parece r'êr Moysés chamado pela voz do Eterno ao
monte Sinai, no meio dos raios e relampagos, para receber a Lei e trans-
mi,ttil-a a0 povo d'Israel? 0 Diacono prostra-se ao pé do altar e á vista do
livro tla Lei, porque sabe que não pertence ao homem ser orgão das ver-
darles eternas. Levanta-se e toma sobre o altar o livro que contém essas
adoraveis verdades, o que significa que as recebe da propria bôcca de
Jesus Christo, gue o altar representa, para que os fleis não ignorem que
são as verdades do Ceo as que lhe vão ser manifestadas.
0 Diacono [orna-se a ajoelhar, pede a benção ao Presbyüero ou ao
Bispo, e lhe beija a mão. 0 Diacono havia pedido a Deus o poder annun-
ciar dignamente o Evangelho, e petle agora ao Presbytero ou ao Bispo
licença de o annunciar; pois, na Egreja, ninguem deve exercer ministerio
algum se não e a elle chamado. Respondendo á sua petiçã0, lhe diz o
celebrante: «0 Senhor esteja no vosso coração e nos vosso§ labios, para
que annuncieis clignamente e como cumpre o Evangelho.» Conn Curnpre,
isto e, com piedade e modestia, para que seja util a vós mesmo, e para
que todos aquelles que a ouvirem fiquem edificados. Recebendo a bengão
do celebrante, o Diasono ltre beiia a mão para mostrar-lhe o seu respeito
e reconhecimento.
(t) Amalar,, De offic. eccl., l. III, c. Y.
iZ) Bona, l. II, c. YII.
(3) Sozom., Hisú\ l. VII.
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202 carEcr§Mo
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DE PDn§EVERANÇA. 203
curn: O Senhor seja comülscl, e tem mais precisão d'isso que nunca
n'aquelle momento solemne, quando todo o povo se levanta respondendo:
Et cum spiritu ttto: E clnx o Dlsso espirito. Nos seculos passados, terieis
visto todos os fieis, depondo respeitosamente oS seus bordões, e os ca-
valleiros das differentes ordens militares e a nobreza polaca tirar a espada
da bainha e têl-a elevada durante toda a leitura do Evangelho, testificando
assim a sua disposição a seguirem a santa Lei do Senhor, a combaterem
valorosamente e a derramarem o Seu sangue em defensa da Religiã0.
Está ahi a historia, brilhante com os feitos immortaes d'elles, para attes-
tar que não era aquella uma vã ceremonia ([).
O Diacono, fazendo o signal da cruz sobre o livro sagrado, e depois
Da testa, labios e coraçã0, annuncia logo aquelle dos Evangelistas que
nos transmittiu a verdade que a Egreja vae propÔr á nossa meditaçã0.
Posto que Nosso Senhor conÍiasse a quatro dos seus discipulos o cuidado
de nos transmittirem 0s seus preceitos e acções, reina entre elles tal con-
certo, tam perfeito accÔrtlo, que é Sempre a clnüinuaçu,o do Eaangelho
de Jesus Christo: sequentia sancti Eaangelii. Assim e que respondemos:
/
Gloria a, aós, o meu, Deu,s Posto o livro dos Evangelhos n'uma estan-
t0, 0u seguro pelo Sub-Diacono, o incensa o Diacono tres vezes : uma
aO meio, ou[ra á direita, e a terceira á esquerda, c0m0 para mostrar quo
é aquella a origem do perfume da divina palavra que se deve diffundir
nos nossos espiritos.
Depois que o Diacono canta o Evangelho, o Sub-Diacono leva o
livro aberto ao celebrante, que 0 beija, e ê incensado como o principal
rninistro, rlue deoe, segundo a expressão do S. Paulo, espalhar em todos
os logares o bom cheiro do conheci,mento de Jesus Christo (2). De todo
este apparato que a Egreja emprega na leitura do Evangelho, do todas
as orações que a precedem, de todas a§ ceremonias que a acompanham
e seguem, que havemos de concluir, a não ser que nunca devemos assistir
a ellas senão com coraÇão puro, ou ao menos com Coração penitente, e
que o temor, a veneração, a docilidade, a confiança e a f,delidade são ou-
tras tantas disposições relativas a esta ceremonia ?
Aos domingos e dias santi0cados e a leltura do Evangelho seguida
da instrusção. Este uso á tam antigo como o Christianismo: vêmol-o pra-
ticaclo tlesde os tempos apostolicos (3); nada mais natural. 0 Evangelho
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20e carEcrsuo
(1) Praeonium.
(2) Yide Jauftet, Do culto grubl,ico, pag,244.
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DII PERSEVERaNÇÀ. 20s
depois de nós.
Se o mesmo milagre tle que fallamos chamasse á vida todos os he-
rejes, todos os protestantes dos diversos seculos e paizes, e se pedisse a
catla um d'elles a sua profissão de fé, que ouviriamos ? uma confusão de
toilo-poil,eroso,
-«Matheus
disse: D'onileha'il'e ai't' a -iulqar os aiuos e os mortos'
«Thiago, filho d'Alpheu, disse z Creío íro Esgti,rí,to Santo, na santa Egteia ca-
tholi,ca.
asimâo disse: Na communhà,o ilos Santos, na rerníssào il,os peccad,os'
oJudas disse : Na reswrreiçd'o d,a carne.
rMathias terminou dizendo : Na uid,a eterna,» Aog., Serrn. Domini'ín Ram,
palffi.
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206 CATECI§MO
(1) Collectqtteorum.
(2) r.
(q) bws qd Miss, pertin., c. II.
(4)
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DE PERSEVERANÇA. 207
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-
208 carncrsuo
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DE PER§EVERÀNÇÀ. 209
collocava alli; depois deitava atravez d'um coador o vinho no calix onde
primeiro
se devia fazer a c0nsagragão; um sub-Diacono ia receber do
que deitava d'ellano
cantor a galheta d'agua (l) e a levava ao Arcediago,
no altar diante do PontiÍice, á direita das
calix, Aeplis do quà a coliocava
oblações (2).
0s Presbyteros e os outros ministros da Egreja faziam as suas of'
da ba-
frendas no altar, a0 passo que os fieis as faziam fóra do cÔro ou
(3). Era alli que o Bispo ou o
laustrada que separru, o clero do povo
á dignidade soberana de
Presbytero oÍflciante os ia receber. Dm respeito
regra geral para
que estava revestido, era exceptuado o imperador d'esta
pão que
ós leigos. EIle mesmo levava a sua offrenda ao altar, a saber: o
tinha preparado por suas proprias mãos. Por motivo d'este uso teve lo-
gr, ,à dos factõs mais notaveis da nossa santa antiguidaile' E' assim
relatado por S. Gregorio de Nazianzo:
Estando em Cãsarea o imperador Valente, foi á egreja no clia da
juntou-se, pro forma,
Epiphania, cercado cle todos o§ seus guardas, e
,ô poro catholico, pois era ariano. Quando ouviu 0 canto dos psalmos'
e víu aquelle povo immenso e a ortlem que havia no santuario e nas vi-
que a homens,
sinhanças, os ministros sagraclos, mais similhantes a anjos
S. Basilio dianüe do altar, com o c0rp0 immovel, o olbar Íixo, 0 d'espi'
rito unido a Deus, cgmo se não houvesse succedido nada extraordinario,
e os que o rodeavam cheios de temor e respeito ; quando, digo, Valente
viu tudo isto, foi para elle um espectaculo tam n6vo, que a cabeça lhe
a princi-
andou á roda . , uirtu se lhe escureceu. Ninguem o percebeu
a que tinha
pio; mas, quando foi necessario letsar ao altar offrenda
/ei,to por suas md,os, vendo que ningugrn a recebia, segundo o costume,
anüigos Âeis.
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\-,-
210 CATECISilO
0RaÇÃ0.
0' meu Deus, gue sois todo amor r graças vos dou por haverdes
cercado o santo sacriÍicio de tantas orações e
ceremonias tam proprias
para reanimar a minha fé e piedade; concedei-me
que penetre bem d,el-
las o espirito.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre tocras
as coisas, e a0 pro-
ximo com. a mim mesmo p.r amor de Deus; e, em pr.va
d,este amor,
hei ite escutar a leitura do-Et:angellto como teria
esculailo /fosso Senhor
em pess0a.
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\
DE PERSEYERÀNÇÀ. 2M
DECTMA-NONA LtçÃO.
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---
2L.,2 CÀTECISMO
(1)
- L Na Italia nâo eriste o cartâ,o, o quo torna
muito m
(2) 5.
. Í3L_
Apol^,.'!Í
o, S. Basilio, e S. Chr.rsostomo; S. Justiuo,
. etc. I Bouaj l. II, c. ÍX,
(4)
(5)
(6)
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DE PEnSEVERÀNÇÀ. 2t3
Taes são as grandes idéas expressas pela oração que faz o Presby'
tero ao abençoar aquella agua que representa o povo fiel, aquella agua
que não vae fazer mais que um com o vinho do Sacrificio, aquelle povo
que, pela transsubstanciaçã0, não vae fazer mais que um com o Filho de
Deus.
Nas Missas de defunctos, o Presbytero não abençôa a agua com o sig-
nal da cruz: é uma consequencia da mysteriosa significação da agua.
Não se emprega este signal externo para abençoar a agua, que significa
o povo, porque se está todo occupado cgm as almas do Purgatorio, que
não estão no caso de serem abençoadas pelo Presbytero. Não se deita no
calix senão uma pequena quantidade d'agua, «pârâ, diz um concilio, que
a magestade do sangue de Jesus Christo seja mais abundante que a fra-
gilidade do povo representado pela agoa (l).»
Nas Missas solemnes, e o Sub-Diacono quem deita a agua no calix.
0 Diacono apresenta o pão e o vinho, para que saibamos bem que o Pres'
bytero não offerece só, que não sacrifica por si só, e que não desempenha
um ministerio estranho ao resto dos Íieis. 0 Diacono e o Sub'Diacono, que
occupam como que o meio termo entre o leigo e o Presbytero, represen-
tam aqui o povo inteiro. Pondo nas mãos do Presbytero as subs[ancias quO
devem Ser consagradas, offerecem em certO mOdo em nome dO pOvO, pe-
Ias mãos do Presbytero. Que ligão para nós t
Que outra lição nos elementos que escolheu o Salvador para o seu
Sacrificio t 0 pã0, que se compõe de muitos grãos de trigo, e o vinho,
que se faz de muitos grãos de uva, não representam admiravelmente a
EgreJa, composta do muitos membros, que são tirados da massa corrom-
pida, para serem convertidos em Jesus Christo e se tornarem no seu cor-
po mystico, como aquelle pão e vinho se convertem realmente no seu c0rp0
natural e n0 seu verdadeiro sangue? Que elcquente ensino d'esta verdade,
base de todas as sociedades, principío de todas as virtudes e de todos os
sacrificios generosos : Vós todos nao deuets formar senã,0 um coracãa e
u,ma alma !
0 pão e o vinbo fazem pois as vezes d'aquelles que os offerecem, e
;
n'elles de toda a Egreja porque sendo o pão e o vinho o alimento, a
substancia e c0m0 que a.vida dos homens, quando esl,es os offerecem no
altar, offerecem em certo modo a sua vida e o mundo inteiro que foi feito
para elles. Offerecem-se a si mesmos a Deus, a Íim de serem sacriÍicados
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%e CATECISMO
á sua gloria com Jesus Christo seu chefe. Tal é, com effeito, a verdadeira
disposição em que se deve estar para fazer a oblação do pão e vinho com
o Presbytero. Quando esta,es assentados d meza do Principe, diz a Es-
criptura, considerae o que se Dls serue; ponde uma faca &0 pesclçl, e
sabei que o Principe esperü qu,e lhe pagu,eis na mesma moeda (l).
Que meza é esta, pergunta S. Agostinho, senão aquella onde rece'
bemos o corpo e sangue de Jesus Christo ? e que signiÍicam es[as pala-
vras: Sabei que é preciso quo pagueis na mesma moeda, senão o que
disse S. João : Como Jesus Christo deu a uida por nós, é preciso do mes'
mo modo que nós dêmos a aida plr nlssls irmaos (2) ? Assim, assistir
á missa com espirito de victima, de victima irnmolatla com Jesus Christo,
e para 0s mesmos fins que Jesus Christo, isto é, para gloria de Deus e
bem de nossos irmãos, tal é a grande disposição com que devemos ir ao
Sacrificio augusto. Esta disposição comprehende todas as outras.
Preparado assim o calix, volta o Presbytero ao meio do altar, e o
offerece como offereceu o pã0, com a differença de que não falla só, mas
em nCIme de toda a assemblêa, que eleva por assim dizer ao Ceo n'a-
quella agua misturada com o vinho do oalix: ceremonia sublime, que,
com a oração de que é acompanhada, mostra claramen[e que Jesus Christo,
como diz Tertulliano, é o Sacerdote catholico do Pae, purificando com o
Seu sangue a terra e o Ceo ; pois é a aíctima de propiciaçd,o pelos 710§§0s
peccados, e nd,o só pelos ??0ss0s, send,o pelos de todo o uniaerso (3).
0 Presbylero taz com 0 calix o signal da cntz sobre o altar, para
mostrar que põe a oblação sobre a cruz de Jesus Christo. Mas, ai I tgmos
mo[ivo para temer que a nossa indignidade junte á offr"enda algun:a coisa
que seja rlesagradavel a Deus. Àssim é que o Presbytero se inclina, com
as mãos juntas sobre o al[ar, em signal de snpplica, e diz ern nome de
todos os assis[entes o que diziam os jovens hehreus, captivos em Babylo-
nia, no momento em qrre se offereoiam animosamente em ltoloeausto para
serem lançados na fornalha: «Recebei-nos, Senltor, a nós qtle nos apre-
sentamos ante vós corn espirito humilhado e coragão contricto, e fazei
que hoje 0 n0ss0 sacriÍicio se consumme em vossa presença, d'um modo
que vol-o torne agradavel. »
(1) Prou., XXI[, l, 2. Eccli,., XXXI; 12. Yide a este respeito os magnificos
commentatios dos Santos Paclres em Cornel. a Lapid., in Proaerb. XXI[, L, 21e
Dccli., XXXI, 12.
(2\ Aue.. Serm. XXXI.
(gÍ r Jóa'n., rr, 2.
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-,
DE PENSEVERÀNCÀ. 2l$
Então o Presbytero ergue os olhos e as mãos ao Ceo para cbamar o
Espirito Santo, esse espirito de fogo, esse espiriüo santificador, que con-
sumia ás vezes visivelmente os holocaustos antigos, e que todos os dias
consome, mudando-os d'um modo tão admiravel, os dons que offerece-
mos. Ao mesmo tempo faz o signal da cruz sobre o calix e sobre a hos-
tia, para indicar que só pela virtude da cruz é que espera do Espirito
Santo a santificação dos dons, que devem ser convertidos no corpo e san-
gue do Salvador.
Este momento ê o mais precioso para nos offerecermos a nós mes-
mos. Que motivo de confiança I Não somos apresentados sós a Deus; ai I
guem quizera a nossa indignidade ? mas, apresentados com Jesus Christo,
não fazemos mais que um com elle. A nossa miseria, a nossa imperfeição
está occulta e c0m0 que absorvida na dignidade inÍinita da pessoa de
Nosso Senhor a quem Deus seu Pae nunca recusa coisa alguma.
Entrernos bem nos sentimentos de oblação a que a circumstancia
nos convida, offereÇemos o bem que existe em nós, para que, unido aos
merecimentos do Salvador, seja purificado das imperfeições com que o
juntamos, e se torne digno de Deus; offereçamos o mal que existe em
nós, para que seja escondido e consumido pela grande charidado da vic.
tima; offereçamos o nosso corpo e todos os seus sentidos, a nossa alma
e todas as suas faculdades: Jesus Christo, nosso primogenito, não reserva
nada. Desde que imos a0 seu Sacrificio, cessamos de pertencer a nós;
consentimos em ser victimas com elle; consentimos em entregar tudo a
Deus, de quem [udo recebemos, e a quem tudo pertence.
Quando acabam as orações e ceremonias do offertorio, o Diacono,
nas Missas cantadas, apresen[a a naveta ao celebrante, que abençôa o in-
censo, o incensa primeiro o pão e o vinlto. Como já dissemos, o incenso
é um symbolo das nossas orações e da oblação de nós mesmos. 0 Pres-
bytero incensa o pão e o vinho, para mos[rar mais sensivelmente que
juntamos a estas oblações os nossos vo[os, pessoas e bens. E' o que ex-
primem mui claramente as orações que o Presbytero recita durante o in-
eensamento das oblações e do altar.
Em certas egrejas, depois do incensamento é que tem logar a of-
frenda do pão bento, assim como as differentes esmolas. E' importante
reanimar a nossa fe sobre estes dois usos tres vezes yeneraveis, pela sua
antiguidatle, pelas tocantes recordações que suscitam, e pelas lições que
nos dã0.
Conhecer-se.d, que sots meus discipulos, dizia o Salvador, se oos arnar-
*
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2'16 cÀrncrsuo
des uns aos outros (l). Fieis a este mandamento, nossos paes na fé
não formavarn senão um coração e uma alma (2). À Egreja não era se-
não uma grande familia espalhada por todas as partes do mundo. Porém
todos aquelles irmãos que se amavam sem nunca se terem visto, quize-
ram dar um signal sensivel da charidade que os unia. Escolheram o mais
energico de todos, o pã0. Como o pão se compõe de muitos grãos de
trigo de tal modo unidos que não formam senão um só e mesmo todo,
exprimiarn, enviando-o uns aos outros, quc erarn zm entre si ; um em
certo modo c0m0 as pessoas divinas s.ao otm, entre si. Deu-se a este pão
0 nome de eulogia, porque antes de o enviarem 0 abençoavam : estc uso
remonta aos tempos apos[olicos (3). Àinda mais, enviavam uns aos outros
tambem a Eucharistia. Alguns Diaconos a levavam ás egrejrs mais afas-
tadas (a), Tal é a veneravel origem do pão bento.
Primeiramente, pois, fez-se uso d'elle para rnostrar e manter a união
entre os Christãos afastados uns dos outros. Depois usou-se para ser um
signal d'união entre todos aquelles que se acham juntos á mesma Missa.
0 signal d'união por excellencia é a sagrada Eucharistia ; mas, ai ! nem
toda a gente já communga. Instituiu pois a Egreja outro signal que re-
corda a recepção do corpo e sangue do Salvador, para que os Christãos
d'hoje possam dizer ainda, posto que n'um sentido clifferente, o que di-
ziam os Christãos dos primeiros dias : Todos participam,os do mesmo pd,o
(5). Dizei se e possivel achar meio rnais proprio para inculcar aos homens
esta verdadê, eminentemente religiosa e social : que são todos irmãos, to-
dos eguaes perante Deus., pois comem todos 0 mesmo pão ; que devem
amar-se todos uns aos outros e,não fazer senão uma grande familia? 0'
meu Deus t porque ha de ser tão p0uco comprehendicla e tão mal obser-
vada a vossa santa Religião (6) ?
0
que prececle nos faz comprehender c0m que sentimentos de res-
peito, alegria, charidade e confiança, é necessario estar para receber o
pão bento. l.o Devemos respeital-o ; os Fadres da Egreja advertem aos
Íieis que tenham o maior respeito a estes dons, porque receberam a
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DE PEnSEVEnÀNÇ4. 2t7
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2t8 CÀTECI§MO
da Asia, fazendo nas assemblêas dos fieis peditorios para os seus pobres
irmãos de Jerusalem. Estabeleceu, diz s. Chrysostomo, que elles se fa-
riam ao domingo (l). Por consequencia, no dia do sol, isto e, no domin-
90, cada um de nós, dizem Tertulliano e s. Justino, leva á assemblêa a
sua modica offrenda, conforme os seus meios: ninguem é tributado; é
como um thesouro pio que nós empregamos no soccorro dos pobres,
dos eníermos, dos orphãos, dos desterrados, d'aqueltes que es[ão con-
demnados ás minas por causa da fé (2).
Perguntareis porquo estabeleceu s, Paulo que os peditorios e as os-
molas se fizessem principalmente ao Domingo ? Yae responder-r,os s.
Chrysostomo :
«E' porquo o domingo é o dia em que foi vencido o in-
ferno, destruido o peccado, os homens reconcitiados com Deus, e a nossa
raça restitulda á sua antiga gloria; que digo ? a uma gtoria maior, em
que 0 sol allumia o e.spantoso milagre do homem tornado de subito im-
mortal. Paulo, guerendo mover o nosso coraçã0, escolheu este dla para
excitar a nossa charidade, dizendo-nos: Lembra-te, ó homem, de que
males foste livrado, e de que bens fos[e enchido n'este dia t Se pois ce-
lebramos o anniversario do nosso nascimento com banquetes e presentes
que damos aos nossos amigos, quanto mais devemos honrar com nossas
liberalidades esto dia, que sem receio se póde chamar o dia do renasci-
mento de todo o genero humano (3)» ?
0 mesmo Santo Padre oxhorta depois os fieis a darem alguma coisa
todos os domingos para os pobres; pois s. paulo não exceptua ninguem
quando diz que cada qual , unusquisque, ponha de parte alguma esmola.
Não são exceptuados os pobres, pois que não são tam pobres como a
viuva do Evangelho, {ü0 não tinha senão as duas mais pequenas moe-
das, e as deu.
0 eloquente Patriarcha desenvoh,e depoisa ruzáo por que permitte
a Egreja que os pobres mendiguem á porta dos seus templos: «E', diz
olle, para que qualquer possa, antes d'alli entrar, purificar as mãos e a
consciencia pela esmola. Sem duvida é santo 0 uso que estabeleceu fon-
tes diante das portas das egrejas e dos oratorios, para que a gente possa
lavar as mãos antes de entrar e orar; porem mais santo ainda e neces-
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DE PER§EVEnÀNÇA. 2t9
sario é o uso que colloca os pobres á porta dos nossos templos, para
lavarmos as nodoas e maculas da nossa alma antes de nos apresentarmos
ante a magestade do Deus [res vezes santo. Ora, nossos paes estabele-
ceram os pobres á porta das nossas egrejas, como fontes de purificação;
porque a esmola e muito mais poderosa para purificar as nossas almas
que a mesma agua para puriÍicar as nossas mãos (l),,
Abstende-vos pois de abolir os pedi[orios das nossas Missas canta-
das, que apagarieis um dos mais preciosos vestigios da nossa santa anti-
guidado. Que os protestantes, quo nío teem apego a nada do passado, e
cujas doutrinas dlvidem em logar de unirem, hajam supprimido os pedi-
;
torios nos seus templos, comprehende-se porém a Egreja catholica
ha de conserval-os em quanto fôr a Íiel herdeira do passado, em quanto
tiver no coração amor de mãe, em quanto souber que por obras e não
por vãs palavras é que deve paten[oar-se a charidade. E depois, que me-
lhor preparação para o SacriÍicio o para a sagrada Communhão que essa
esmola fei[a pelo amor do Deus quo vae dar-se a nós, e á vista dos fieis
para os edificar ?
Yoltemos agora ao altar. Eis o Presbytero que torna para 0 lado da
Epistola e lava os dêdos. Esta ceremonia, da mais remota an[iguidade,
basêa-se em duas razões, uma natural e outra mysleriosa. A razão na-
tural e que as duas ceremonias gue precedem, a saber : a recepção das
offrendas dos fieis, como se praticqva nos seculos passados, e o incensa-
mento, que ainda hoje se pratica, podem exigir que ello lave as mãos,
por uma razão natural o de deceocia. A razão mysteriosa é ensinar aos
Sacerdotes e aos fieis que devem, para offerecer o sacrificio, purificar-
so das mais peguenas maculas.
«Já vistes, diz S. Cyrillo de Jerusalem, que um Diacono,dá agua para
lavar as mãos ao Sacerdote que oÍflcia e aos outros sacerdotes que estão
em volta do altar. Pensaes que seja para limpar o corpo ? ile modo ne-
uhum. Não temos costume, quando entramos na egreja, de ir em tal es-
tado que precisemos de lavar-nos para ficarmos limpos. Esta lavagem de
mãos nos recorda que devemos estar puros de todos os nossos peccados,
porque as nossas mãos signiÍicam as acções; lavar as mãos não é outra
coisa que purificar as nossas obras (2). »
Em conformidade com este pensamento, não prescreve a rubrica aos
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---'----/
220 cÀrgclsuo
'a
Sacerdotes senão ablução da extremidade dos dêdos. rEsta abluçã0,
diz S. Dionysio, não se Íaz para apagar as immundicias do corpo, que já
foram lavadas, mas sim para denotar que a alma deve purificar-se das
mais pequenas maculas; ê por este motivo que o Sacerdote lava unica-
mente a extremidade dos dêdos e não as mãos.» Ao lavar as mãos, diz
o Sacerdote o psalm o Larsabo. Convém tam perfeitamente a esta acçã0,
que, desde os primeiros seculos, já se reci[ava na mesma occasião (l).
Este espectaculo não diria nada aos fieis ? Não devem elles tambem
estar puros para assistirem aos tremendos mysterios ? Repitam, pois, en:
tão eom toda a sinceridade dos seus corações: Lavae-me, Senhor, cada
ver, mais de todas as minhas ioiquidades, purificae os rpensamentos do
meu espirito e os desejos do meu coraçã0, para que eu possa unir'me ás
disposições do Sacerdote e participar dos fructos do SauiÍicio.
0RAÇÃO.
O'meu Deus, quo sois todo amort graças vos dou por me recordar-
des, com a offrenda do pão benio, que somos todos irmãos; concedei-nos
que nos amemos uns aos outros como os filhos da mesma familia.
Tomo a resolução do amar a Deus sobre totlas as coisas, e ao pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amorr
darei ao peditot'io do domingo lodas a,s oezes que podér,
(l) Dionys,, de Dcal,, Eier,, c, LI[; Liturg. rie §. Cbrya,, fiwhol,, Grac,, p. 60.
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DE PEBSEVERANÇÀ. 22r
VEGESTMA LrÇAO.
0 chrisÍianismo [ornado,se[siyel.
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222 cargcrsuo
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DE PERSEVEnÀNÇÀ. . 228
ções secretas senão hradando mui alto para exhortar os fieis a terem a
Meus irmd,os, Esta tocantê expressão data do dezoito seculos; resoou nas
Catacumbas foi pronunciada por povos de Santos : era o nomo que da'
;
vam uns aos outros nossos paes na fé. E quando os pagãos espantados
lhes perguntavam : «Como e que sois todos irmãos ?» respondiam : «Por'
que todos nascemos do mesmo pae, que e Jesus Christo, e da mesma
mãe, que é a Egreja (l).,
Quam tocante ê este nome na occasião da
Missa em que o pronuncia o Presbytero I Meus irmãos, diz, unidos pelos
vinculos do sangue, sejamol-o pelos vinculos da charidade. Não nos se'
paremos agora que se trata da nossa Causa commum. Yamos todos as'
sentar-nos á mesma meza, parlir 0 mesmo pão ; e este pão manterá em
nós a mesma vida. O mesmo sangue divino correrá nas nossas veias, o
será para nós o penhor da mesma herança: Meus irmaos !!
Diz o mett, sacrificio que o é tambem D0ss0. E' meu, eu sou o mi-
nistro rJ'elle. E'offerecido por mim, e a vic[ima pertence'me. E' tambem
vosso, vós mesmos o oÍIereceis pelas vossas mãos : a victima e vossa.
Accrescenta: Para clue seja propiciantente recebido. [Ias que t póde ser
rejeitada essa oblação do sangue d'um Deus, do Filho unico do Pae ?
Não; mas tenho ou[ra victima que offerecer com eSSa, sois vós, sou eu ;
e o Deus tres vezes santo póde achar maoulas n'esta segunda victima ;
póde vêr nas nossas mãos injustiças, nos nossos corações desejos crimi-
nosos, e nas nossas consciencias immundicias. Para vos levar a novos
sentimentos de dÔr e pranto pelos nossos peccados communs, e que eu
vos renovo a adver[encia para orardes: Orate, fratres.
A um convite tam justo e tam util, respondo o poro: «Sio, orare-
mos para que o Senhor receba das vossas mãos o Sacrificio para honra
e gloria do seu nome, e para nossa utilidade e de toda a Egreja.» Que
bella lição de charidade é esta oração I Recorda-nos que s0m0s todos fi-
Ihos da mesma familia; pois a Deus, nosso Pae commum, é que vae ser
apresentado o Sacrificio; Jesus Christo, nosso irmã0, é quem vae offere-
cer-se ; pelas mãos d'um ministro oscolhido tl'entre nós é que vae ser
offerecido; para santificação de todos é que se consummou o grande mys-
terio que yae renovar-se á nossa vista. Se gueremos gue as no§sa§ ora-
(l) Unde estis omnee fratres? De uno patre, Christold.e una madre, Eecle-
sia, Aiáob., in Psal,. CXXXIU.
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22& cargcrsilo
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DE PERSEVERÀNÇÀ. 225
(1)
(2)
(gj ram outros, de data menos antiga
(Conà.,
' t. a Santa Sé.
(4) S. Chrysostomo.
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226 cArEcrsMo
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DE PERSEVERANÇÀ. 227
leste, Deus por natureza, homem por obediencia, Rei do Ceo, e Senhor
do genero humano, Dominu,m nostrwn, foi Elte quem desatou a nossa
Iingua para a pôr em estado de louvar a Deus; é Elle quem associa a
nossa voz á voz dos espiritos bemaventurados,. e e por Elle que toda a
milicia celeste rende a Deus as homenagens proporcionadas á cathegoria
que lhe marcou o Eterno : Per quenx magestatem tuam. Entã0, ó mo-
mento solemne I dos canticos dos anjos e dos canticos dos homens se fór-
ma um só cantico, url só voz que repete e ha-de repetir eternamente:
Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos erercitos: Sanctus, Sanctus, elc.
0 Sanctus e um hymno que a terra deve ao Ceo. Isaias, arrebatado
em espirito, ouviu-o cantar alternativamente pelos Seraphins, e S. João
diz que os San[os o farão resoar eternamente na Jerusalem celeste (l).
O Sanctus e pois um d'aquelles cantos sublimes que a Egreja triumphante
enviott a sua irmã, a Egreja militante, para que aprenda a balbucial-o tto
desterro, e balbuciando-o se console com a esperança de o cantar um
dia. 0 Sanctus acha-se nas mais antigas liturgias (2).
Ao dizer o Sanctus, o Sacerdote abaixa a voz, assim porque esta
variedade allivia o que recita, como porque desperta a attençã0. Pronun-
cia-o comtudo com voz intelligivel, porque o povo foi sempre convidado
a dizer este cantico (3) : d'onde vem que nas Xlissas cantadas ainda é re-
petido pelo côro. Para mostrar mais profundo respeito ao recitar o Sanc-
Ízs, junta 0 Sacerdote as mãos e conserva-se inclinado. Toca-se uma
campainha para advertir os assistentes de gue 0 Sacerdote vae entrar na
grande oração do Canon que deve operar a consagração do corpo de Nosso
Senhor e renovar o mysterio da Incarnaçã0. O Sanctus termina por estas
palavras : Hosanna in ercelsis Saltsa,e-nls, elt, nls.r0g0, rsós que habitaes
as alturas dos ceos. Hosannü, brado d'alegria, acclamação cheia de ener-
gia, é palavra hebraica como a,nlen e allelu,ia, QUe a Egreja conservou
por trarluzir. Ao dizer estas ultimas palavras, o Sacerdote se indireita e
faz em si o signal da cruz, porque pela virtude da cruz ê que nós temos
parte nas bcnçãos que Jesus Christo veio derramar sobre a terra. Segue
immedratamente o Canon.
A palavra ca,non quer dizer regra. Foi dado este nome á oração da
Missa que começa por estas palavras ; Te igitu,r, e que se estende atê ao
Pater, porque encerra todas as orações prescriptas pela Egreja para of-
(1) Apoc.,I\r, 8.
(2\ Liturg, de S. Thiago; S. Cyril., Catec. tnyst., Y.
(3) Greg.-Nyss., Orat.-de not?, cliff. Baptisrn,, p. 302.
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228 carpcrsuo
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DE PERSEVERANÇÀ. 229
que elles oravam. Este espectaculo tam rico em recordações não dirá
nada ao nosso coração ?
0 Sacerdote orou por toda a Egreja. Pediu a paz e união entre seus
fllhos; a conservação do SLrmmo PontiÍice, centro da unidado catholica e
representante de Jesus Christo na terra; a do Bispo do logar, porque está
estabelecido para pastorear parte do rebanho; a do rei, que e o Bispo do
exterior; e flnalmente a graça para todos aquelles que professam a fé
catholica e orthodoxa.
Em segunda oração encommenda a Deus todos os assistentes, e em
particular aquelles por quem vae offerecer a santa Yictima.
Reconheçamos aqui o maternal coração da Egreja. Saude da alma
e do corpo, paz, uniã0, charidade, salvação eterna para todos os seus fi-
lhos : eis o que pede a0 seu divino Esposo ; eis o que quer que nós pe-
çamos uns para os outros. Mas isto não é sufiiciente para a sua [ernura.
Depois de ter reunido todos os seus flthos que ainda viajam com ella por
esta terra, depois de lhes ter dito que não formem todos entre si mais
que um coração e uma alma, depois de os ter coberto em certo modo
com as suas azas, c0m0 a gallinha cobre os pintainhos, esta terna mãe
nos adverte gue ergamos os olhos com ella; que contemplemos Dossos
irmãos que reinam nos ceos, que nos estendem os braços, e os Ànjos
que se preparam para pÔr as nossas orações nos seus thuribulos d'ouro
para as apresentarem a0 Senhor, como perfume de agradavel cheiro.
Resorda-nos pois odogma consolador da conrmunhão dos Santos que
não faz dos Christãos da terra e dos Christãos do Ceo, senão uma só fa-
milia cujos interesses são communs. Meus queridos, nos diz, vós a quem
eu gero agora em Jesus Christo, tende conflança; estaes em communhão
com vossos irmãos mais velhos: as suas orações apoiarão as vossas: o
vosso sacrificio e o d'elles. E eil-a que começa a recitar-nos o nome d'al-
guns d'estes illustres habitantes dos ceos : o de Nlaria nossa mãe, e mãe
de Jesus Chrísto nosso irmão ; o dos Apostolos e d'alguns dos nossos
mais gloriosos martyres. Durante esta oraçã0, tem o Sacerdote as mãos
erguidas, e faz uma inclinaçã0, em signal de respeito, ao noúes de Je-
sus e Maria.
Parece que bastava, sem nomear tam grande numero de bemaven-
:
turados, dizer trIonrando a memoria dos uo,ssos Santos, a cujos mere-
cirnentos e orações dignae-uos de conceder, etc., etc.; porém a Egreja
quiz perpetuar a recordação d'um uso precioso da sua veneravel antigul-
dade. Havia ou[r'ora nas egrejas tres cathalogos ou diptacos qJe se con-
l5
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230 cÀrucrsrío
servavam com muito cuidado: a palavra diptyco quer dizer taboas dobra-
das em dois.
No primeiro diplyco escrevia-se o nome da SantissimaYirgem, dos San-
tos, dos Apostolos e sobretudo dos Martyres; mais tarde tambem se inseriu
n'ello o nome dos Bispos mortos com cheiro de santidade. Quando se que-
ria declarar santo um homem, punha-se o seu nome no diptyco dos San-
tos. D'onde veio a palavra canonisar, porque se recitava durante o Canon.
No segundo punha-se o nome dos fieis que ainda viviam e que eram
recommendaveis pela sua dignidade, ou pelos serviços que tinham pres-
taclo á Egreja. Este cathalogo encerraya os nomes do Papa, do Patriar-
cha, do Bispo, do clero da diocese, dos reis, dos principes, dos magis-
trados, etc.
No terceiro inscreviam-se os nomes dos fieis mortos na communhão
da Egroja. Estes tres cathalogos eram recitados publicamente na egreja,
rlurante o santo sacrificio da Missa, pelo Sacertlote, ou por um Diacono,
ou por um Sub-Diacono.
D'este antigo uso conservamos nós vestigios. No principio do Canon
recitamos os nomes do Papa, do Bispo, do rei, etc.; no primeiro Memento,
os nomes dos vivos; no segundo, os nomes dos mortos; e an[es e depois
da consagraçã0, os nomes dos principaes Santos da Egreja. Na estação
enoontram-se ainda restos da mesma tradiçã0. 0ra-se pelos vivos e mor-
tos, e nomeam-se uns e outros. Na nossa opiniã0, nada e mais tooante e
charitativo (l). Yêde como na nossa liturgia ttdo respira a grande vir-
tude do Christianismo, a virtude que civitisou o mundo, a virtude que
ainda é a força dos Estados, a felicidade das familias e o encanto da vida:
a charidade I
ORAÇÃO.
O' meu Deus, que sois todo amor ! graças vos dou pelas grandes li-
ções de fervor e charidade que me apresentaes nas orações do santo Sa-
crificio; ajudae-me a comprehendêl-as bem e a recital'as como os primei-
ros Christãos.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e a0 pro'
ximO como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amqr,
hei de assistir tÍ Missa com espirito de oictimn.
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DE PERSEVERÀNÇA. 23t
VEGEStMA.PRtMEtBA LtÇÂ0.
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232 cÀrECIsMo
çao por excellencia; e que d'este modo a divina victima, a victima es-
iencialmente bemclita nos communique todas as suas bençãos. A Egreja
do altar
encerra em geral tutlo quanto pócle desejar tocante á oblação
pedindo rlue íep, bemd,ita ent, toilas as coisas; mas, para melhor denotar
palavras seguin-
ãrs, grrnãe graça que espera, individualisa pelas quatro
tes tudo o gue espera de Deus.
Aitmittiita,, qoe Elle a acceite, que a receba, e que a oblação que
fazemos de nós *àroros não seja tambem rejeitada,
mas admittida com a
de Jesus Christo.
Ratifi,cad,a: que Se torne uma victima permanente, que não ntude
e que a nos§a
c0m0 os antigos sacrificios clos animaes que foram abolidos,
a des-
oblação seja tambem irrevogavel, de sorte que nunca tenhamos
graÇa de nos separarmos de Deus.
Racional: aqui, ; adora em silencio Aquelle
raz.ao humana, calla-te
que com uma palavra creou o universo, e que póde fallando operar prg-
0 teu pensamento' Pedimos
digio, mais facilmente do que tu expressas
qu; a victima que está sobre o altar se torne uma victima humana, ra-
a unica
cional, e até a unica dotada de razã0, a razd'o por excellencia,
digna de nos reconciliar com Deus (l) ; pois todas as victimas cujo
san'
antigo por e§paço de quarenta secu-
gue correu nos altares clo mundo
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DE PERSEVERANÇA. 23S
los não eram raciona,es, e nem eram dignas do homem nem de Deus.
Ágrad,atsel: quer dizer que a oblação do altar se torne o corpo e
sangue do Filho muito amado, em guem o Senhor pÔz todas as suas
complacencias. Não pedimos unicamente que esta oblação seja tudo isso,
mas até que 0 seja por amor do nós, para nosso bem.
E estes procligios de porler e bondado, vêdes c0m que simplicidade
de palavras os sollicita a Egreja t Com tanta simplicidade como a Escrip-
tura Sagrada exprime o maior dos milagres na ordem da natureza, a
creação : Faça-se a luz; e o maior na ordem religiosa, a incarnação :
Faça-se segunilo ü t)ossa palaura; pede a Egreja o prodigio que encerra
todos os outros, o grande milagre da transformação do pão e vinho no
C6rpo e sangue de Jesus Clrristo ; para nós o c0rp0
Torne-se esta oblaçã,0
e sangue de oosso rluerido Filho,.Nosso Senhor Jesus Christo 1...
E' isto sublime? Encontrae alguma coisa comparalel nos auctores pro'
fanost E' pois verdade, Religião santa, que tu reunes todos os litulos ao
amor do Christão e á admiração do homem illustrado. Em cada pagina
da tua liturgia, como em cada um dos teus dogmas e preceitos, brilha o
sêllo da tua celeste origem. Ao pronunciar as palavras que acabamos do
explicar, faz o Sacerdote varios signaes de cruz, para mostrar que n0 0m'
nipotente nome de Jesus Christo e que pedo o milagre.
Finalmente, eis-nos no momento em que 0 Filho de Deus, o Eterno,
o Forte, o 0mnipotente, o Creador dós mundos, vae tornar's'e obediente
á voz d'um mortal. 0 Sacerclote limpa a0 corporal o pollegar e o segundo
dêdo de cada mã0, a Íim de lhes tirar a humidade ou o pó, e de pol-os
mais em estado de tocarem decentemente n0 corpo do Senhor. Com os
dêdos que purificou, e que foram consagrados pela ordenação' pega na
hostia e com um tom simples e singelo, como fazia o Salvador cujo logar
oc6upa, quanrlo operava milagres, pronuncia as palavras omnipotentes cla
consagraçã0.
Está consummado o milagre t 0 Sacerdote cahe de joelhos; os assis-
tentes prostram-se; e o sino, trombeta da Egreia militante, adverte ao
longe os Íieis para atlorarem. Yiam-se n'outro tempo, a0 Som do bronze
sagiado, pôrem-se de joelhos nas casas, nas ruas, n0§ Campgs, e recita'
re, u oração do Senhor. Entretanto o Sacerdote eleva o corpo adoravel
do Fitho de Deus, que acaba de se encarnar nas suas mãos, e n'esse mO'
men[o da elevaçã0, aS antigas basilicas se commoviam: abriam-se as
portas Santas, descerravam-se as cortinas que haviam occultado o san-
iuario, e S. Chrysoslomo clizia ao seu povo: « Olhae o interior do san'
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234 carEcrsuo
ã3ir""""'::::?tti:'liily'1tl?3";f i'ür;
de fé para todos os seculos pos-
myst-eri_o
,
a razào humanf o possa compreheudei.
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DE PERSEVEaÀNÇA. 23ô
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236 cArucrsuo
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DE PERSEVERANÇÀ. 237
cida pelas mãos d'um mortal; ó porque á hostia sem macula se juntam
outras hostias infinitamente menos puras, os corações dos Íieis. Assim
que a Egreja, lembrando ao Padre Eterno que o sacriftcio de seu Filho
é o sacrificio catholico, o sacriÍicio de que os antigos não eram mais que
sombras, roga a0 Senhor que dê a seus filhos as santas disposições que
animavam os antigos sacriÍicadores, quando immolar:am as victimas figu-
rativas: a innocencia d'Àbel, a fé d'Abrahã0, e a santidade de lVlelchise-
dech.
Entremos aqui em nós mesmos: temos a innocencia e generosidade
d'Abel, que offerecia os mais preciostls dos seus cordeiros ? Temos a fê
e o animo d'Abrahã0, que já empunhava a espada para immolar Isaac ?
Temos a santidade de Melchisedech, que nos apparece sem pae, sem mãe,
sem genealogia, isto é, desprendido de todas as affeições humanas ? Sc não
temos eSSaS disposições, peçamol-as com ardor durante aquella oraçã0.
Se nos faltam inteiramente, como aproveitar o Sacrificio, como tomarparte
na communhão que se aPProxima ?
A oração seguinte deve inspirar-nos outros sentimentos. Yejo o Sa-
cerdote que toma de ropente a posição d'um supplicante, baixa os olhos,
se inclina profundamente, junta as mãos como um homem vassallo, e a§
pousa sobre Porque e tudo isto ? E' porque vae pedir a Deus
o altar.
que a victima que acaba de immolar seja levada, pelas mãos do Anjo que
é a mesma santidade, ao altar strblime do Ceo.
Como fazer comprehender o profundo sentido d'esta magnifica ora-
ção ? Na precedente, rogou o Sacerdote ao Senhor que l,ivesse
por agra'
davel a hostia que lhe offerecia. De repente, como penetrado d'uma in-
spiração do alto, acha um meio iofallivel de fazer receber esta Yictima, e
os nossos votos e corações que a acompanham. Dirigindo-se a Deus, lhe
supplica ordene que a victima lhe seja letada a0 pe do seu throno pela
mesma Yictima. Em respeito a Nosso Senhor, não se atreve o Sacerdote
a nomeal-o a Deus Padre ; contenta-se em designal-o por estas palavras :
0 tsosso Anjo. Sim, por excellencia, esse Anjo do grande con-
esse Anjo
selho, esse Anjo mediador da alliança ({), que, egual a Deus, está certo
de fazer acceitar o seu sacrificio e o nosso, e de attrahir sobre as nos-
sas cabeças um orvalho de todas as especies de bençãos.
0s signaes de muz com que o Sacerdote acompanha a sua oração
indican a presença real d'aquella victima santa, d'aquella victima celes-
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2S8 carncrsuo
snum
absque
:il:,f;i?llTfll?;,ll;
preposita ad superiora
bia sic
.Ad primum. Affirmative.
.Ad secundum.- Negative.
.Ad tertium. -Ut in secundo.
.ad -
.Ad
.Ad
olq quor-um fidem, etc. Daúum^Romrc ex secretaria ejusdem sacr* congrege-
tionis indulgentiarum die 11 aprilis 1840.
nloco
f sigiui :fi^Sffi;,tô:ffiil^,1ft,lrrerectus'
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DE PERSEVERANÇÀ. 239
sent.
nQuaritur 2.0 An confessio octavo die ante festivitatem peracta vi hujus in-
dulgenti suffragetur tantum ad unam indulgentiam lucrandam, an-vero per hanc con-
fess-ionem alia etiam lucrifieri possint indulgentie qua infra pradietum tempus oc-
current, et ad quas lucrand.as sacramentalis confessio cateroquin requireretur.
nDubium If. Quaritur an, cum in Bulla vel Brevi quo conceditur indulgen-
tia, confessio tanquam conditio si,ne qua non pta,scribitur, necesse sit ut sâcramoD-
talis absolutio penitentibus detur et indulgeutiam lucrandam.
nSacra congregatio indulgentiis sacrisque reliquiis prmposita respondeudum
egse censuit.
oAd dubium primum:
oAd primum.-Afrrmative quoad primam partem I negative quoed secundam.
oAd secundum. primam I affirmative quoatl secundam.
- Negative quoad
.Ad dubium secundum: .
nRespondetur : Negative.
ofn quorum fidem, etc. Datum Roma ex Secret, ojusclem sacre Congregatio-
nis Indulgentialum die 15 decembris 1841,
(1) Esta oraçâo encontra-§e nas mais antigas liturgias. Bona, l. II, c. XIY;
Durando, l. II, c. XLI[.
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2&0 cArncrsuo
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Dri PERSEVERÀNÇÀ. 2t*l
sUs Christo é que nós temos a Eucharistia, I que por conseguinte o pão
e o vinho são santiÍicados, vitificados e abençoados. Não faz signal algum
:
de cruz ao dizer Vós creaes, porque todas as coisas foram creadas por
Jesus Ctrristo como sabedoria do Pae, Yerbo eterno, e não com0 incar-
nado e immolado na 61loz. 0s outros signaes de cruz que acompanham
esta oração exprimem que a hostia e o calix conteem invisivelmen[e a
Jesus Christo morto na cruz, e que pelo seu sacrificio são dignamente
honrados o Pao e o Espirito Santo.
E nós tambem tenhamos cuidatlo de nos unirmos á santa Yictima
para honrarmos o Pae e o Espirito Santo, para os louvarmos e comeÇar'
mos na terra o hymno que devemos cantar n0 ceo. Não sei se me enga-
D0, mas parece-me que, dttrante esta oraçã0, nos importa Sobretudo ter
os corações em harmonia com os labios, para que estas bellas palavras
não sejam desmenticlas pelo nosso apego ás creaturas. Ao pronunciarmos
esta sublime oraçã0, as nossas vozes se unem ás dos Anjos e Santos.
Illas se, de volta a nossas casas, os nossos pensamentos são tam terres-
tres, os nossgs clesejos tam carnaes, as nossas inclinações tam desregra-
das como antes de sahirrnos, então cahimos em certo modo do ceo á ter'
ra; deixamos a mansão da immortalitlade para nos divertirmos na do des-
terro, e, como loucos, preferimos a linguagem dos homens á dos amigOS
de Deus : oxalá nunca assim seja !
Que dizer agora das tocantes relações que a piedade soube desco-
brir entre as ceremonias d'esta quarta parte cla Nlissa e as circumstancias
da Paixão ? 0 Sacerdote recita o Prefacio , Jesus é condemnado d morte.
0 Sacerdote diz o MemenÍo dos vivos e leva aos pes de Deus as necessi-
clarlesfla terra, Jesus leua a sl,ta, crlcz. 0 Sacerdote continua o Canon
durante o qual se realisa a consagraçã0, lesus continúa a caminhar parú
o Calcari,o, e u,nta, santa mulher lhe limpa clnt uttt panno a face adora'
ael. O Sacerrlote abençôa as offrendas com o signal da cruz varias vezes
repetido, Jesors é pregado na cru,z. O Sacerdo[e eleva a hostia, lesus é
eleuad,o n0, cruz. 0 Sacerdote eleva o calix, o sangue de Jesus corue-lhe das
chagas. 0 Sacerd ote faz o Memenüo dos finados, Jesus ora plr todos os
homens e princi,palmente pelos seus algozes. O Sacerdote, batendo no peito,
ora por todos os peccadores, Jesus conaerte o bom ladrã0.
A flm de excitardes em vós o sentimento adaptado a esta quarta parte
da Missa, lembrae-vos que ella se realisa no Calvario. Todo banhailo do
sangue do vosso Deus, c0m0 não haveis de experimentar um ineffavel
sentimento do amor? Corre o Sangue, corre pOr mim, corre Sobre mim,
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gLq
CÀTECISMO
corre por causa de mim; sangue expiador dos meus peccaclos e dos pec-
cados do mundo inteiro, lava-me, purifica-me a alma e o corpo. Horror
profundo ao mal, a toda a especie de mal, e amor immenso á santa e
dôce Yictima: tal é o duplo sentimento que deve occupar-nos o coração
ao pé do altar durante a consagraçã0, como o houvera occupado ao pe da
cruz durante a crucificagã0.
oRAÇÃ0.
0' meu Deus, que sois todo amor ! graças vos dou por terdes insti-
tuido o augusto Sacrificio dos nossos altares; concedei-me que assista a
elle como houvera assistido ao do Calvario.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e a0 pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus,. e, em prova d'este amor,
estarei profundamente recolhido du,rante q clnsa,graçã0.
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DE PERSEVERANCA. 2&3
vEGESTMA-SEGU N DA UÇÃO.
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24& cÀrnclsmo
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DE PERSEYERÀNÇÀ. 24Ü
oppunha á nossa paz (l). Põe a patena debairo da hostia, a fim de po-
der pegar n'es[a mais facilmen[e. Descobre depois o calix, faz uma genu-
flexão para o adorar; e, pegando na hostia, parte-a em [res por cima do
precioso sangue, para que as par[es que possam desprender-se d'ella caiam
no mesmo calix.
Porque ê esta fracção da hostia ? E' para suscitar uma das mais ve-
nerandas recordações da Religiã0. Antes de o distribuir aos seus Apos-
:
tolos, pegou o Salvador no pão e o partiu dizendo Tomae e comei. E'
pois certo que na mais pequena das nossas ccremonias está um thesouro
de recordações e de piedade. Esta divisão da hostia tem logar em todas
as Egrejas do Oriente e Occidente (2). Uma das partes e deitada n0 ca-
lix; a segunda era n'outro tempo distribuida ao povo, e o Sacerdote com-
munga com a [erceira. Na antiguidade, a hostia consagrada pelo Sacerdote
era maior e mais grossa, sendo possivel daf parte d'ella aos Íieis. tloje,
sendo mais pequena, consome-a toda o Sacerdote; e as hostias pequenas
servem para a communhão do povo.
o sacerdote, tendo entre o pollegar e o index da mão direita a par-
ticula da hostia que vae juntar ao precioso sangue, faz tres signaes de
cruz sobre o calix d'uma borda á oul,ra, dizendo : A paz d,o Senhor seja
:
sempre clmuoscl, e o povo responde E com o Dossl espirito. 0 Sa-
cerdote faz o signal da cruz sobre o sangue do Salvador, pois por este
sangue dirino é que toclas as coisas foram paciÍicadas (3) ; fal-o [res ve-
zes, ern honra das tres pessoas da SS. Trinrlade.
Drrrante os seis primeiros seculos, este desejo do Sacerdote : A paz
do Senhor seja sempre clmülsco, era o signal rla paz qlle os Clrristãos de-
tiam dar uns aos outros abraçando-se. Tivereis visto todos aquelles Íilhos
da mesma familia, chamados á mesa do Pae commurn, Dcus de charidade,
ahraçar-se ternamente, para mostrarern que não havia no seu coração aze-
dume, nern al'ersâo, nem frieza, mas sim a mais franca e viva charidade.
Tivereis outitlo os pagãos exclamar : Vêtle como elles se amam, e como
I
estão promptos a morre r uns pelos outros Aquella sociedade nascente
encontrou na sua cltaridadc o principio da sua rir:[oria sobre o paganismo,
porque a ttnião faz a força. 0s homens davam aos homens o san[o osculo,
as mulheres ás mulheres ; e todo aquelle povo d'irmãos se approximava
(1) D'onde vem que, em muitas egrejas, se dá a beijar a patena nas offren-
das dizendo : Poa oobis : A p*, seirr eomvosco.
(2) Errchol. gr@c\ p.81, ad,horn. Amalar.,l. UI, p.6351Bona, l. II, c. XY.
(3) Colots.,I,20.
l6
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246 cÀrrcrsuo
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DE pEnSEVERÀNÇÀ. *ltT
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248 cÀrrclsuo
oraçã0. Não ha senão esta casta pomba que gema, e cuios ineffaveis ge-
midos sejam escutados pelo Seuhor, porgue só esses são formaclos pelo
seu Espirito.
Nos primeiros seculos, não pozera aqui a Egreja oração alguma, por-
que todas as oraqões que precederam a communhão podem considerar-se
como preparação suÍficiente. Mâs muitos santos Sacerdotes, não podendo
vêr o momento da recepção do precioso sangue do Salvador sem serem
.tomados d'um santo temor, pediam com mais instancia a remissão dos
seus peccados e a graça de participarem dignamente da sagrada Eucha-
ristia. Esta disposição frzera introduzir varias orações cheias dos mais
ternos sentimentos. A Egreja escolheu duas d'ellas que, ha seiscentos ou
setecentos annos, faz recitar todos os dias (l).
Uma tem de admiravel o recordar-nos que unicamente pela morte
de Jesus Christo e que foi vivificado o mundo. Ora, nós tomamos parte
na morte e no Sacrificio de Jesus Christo pela communhã0, do mesmo
modo que os judeus não tinham parte nos sacriÍicios da Lei senão co-
mendo a carne das hostias, e commungando assim com Deus por meio
das hostias que lhe erarn offerecidas. A commuolrão eucharistica, isto é,
sensitsel, n0 corpo de Nosso Senhor, não foi instituida senão como meio
para commungar interior e invisivelmente na graça e no espirito de todos
os mysterios do Homem-Deus (2).
Na ultima oraÇã0, reanima o Sacerdote os seus sentimentos de hu-
mildade e compuncçã0, e pede a Nosso Senhor que 0 seu corpo adora-
vel lhe seja preserva[ivo contra os peccados mortaes, e saudavel remedio
para os pcccados veniaes.
Depois d'estas orações, o Sacerdote, a ponto de consummar o Sacri'
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DE PERSEVEnANÇA. 2&9
mor :
na sua caroe repousa o penhor da resurreição fu[ura.
Depois de ter tomado a santa hostia, emprega o Sacerdote o instante
de que tem precisão para a engulir, em exprimir vivamente ao Salvador
o §eu amor e reconhecimento. Logo que se vê em estado de fallar, dá
graças ao senhor. E que sentimento póde oxistir n'um coração onde ro-
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2ü0 cÀrEclsuo
í1) Vicle tambem a ests respeito os interessantes pormeuores clados por Du-
II, LV. '
rantil í.
".
(2) fiebrun, P. 636.
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DE PEBSEVERàNÇÀ. PÜI
logar decente e consagrado a este uso. Desde aquella epocba, faz o Sa-
cerdote duas abluções, uma com vinho puro, e outra com vinho e agua
que lhe deitam nos dêdos o acolyto e o Sub-Diacono. Mas, em quanto
está occupado n'estes cuidados exteriores, a sua alma, unida ao seu Deus,
mantêm com Elle um santo commercio. Pede-lhe, o quê ? Âh I que póde,
que deve pedir uma alma viajante, desterrada, quc estil unidà ao seu
Deus, a seu Pae, ao seu fim, senão que se digne de immortalisar essa
união ? Tal é o sentido das orações que acompanham as abluções.
Que mais bellos sentimentos poderiam os fieis, que tiveram a feli-
eidade do commungar, exprimir em acção de graças ? Mas quer hajam
commungado real quer espiritualmente, devem os assistentes, n'esses in-
stantes tão preciosos e tão breves. praticar com o divino Mes[re, adoral-0,
agradecer-lho, e pedir-lhe com confiança tudo o que póde ser-lhes Deces-
sario para o corpo e a alma. «0 momento que segue a communhã0, diz
S. Thereza, é o tempo mais precioso da vida.»
Aqui tambem, conforme o nosso cosl,ume, digamos as relaçõer ioe
uma engenhosa e [erna piedade se compraz em vêr entre as ceremonias da
quinta parte do Sacrificio do al[ar e as circums[ancias do Sacrificio da
cruz: não esqueçamos que 0 nosso guia e sempro o amavel e santo Bis-
po de Genebra. 0 Sacerdote diz o Pater composto de sete petições, Jesus,
iln alto dn sun cru,z, pronuncia as sete m,ernoraüeis palatsras que formom
o seu, üesüomuúo. 0 Sacerdote parte a hostia, Jesu,s eapira. 0 Sacerdote
deita uma parcella da hos[ia no calix, a alma ile Jesus d,esce aos infertns.
0 Sacerdote oommunga, Jesus é sepultado.
Interroguernos agora a nossa fé ; e ella nos dirá que sentimento deve
dominar na nossa alma durante a quinta par[e da Missa. E' pois certo
que alli, sobre o allar, es[á o mesmo Jesus que nos amou a ponto de
dar o seu sangue por nós; o mesmo que disse e diz ainda: Que quereis
que eu faça por vós ? as minhas delicias são estar com os filhos dos
homens. Yinde a mim, vós todos que estaes na aflicoã0, e eu vos alli-
viarei. Confiança, confiança iltimitada, infantil, eis o que deve existir no
no§so coraçã0, e por conseguinte nos no§§o§ labios. Peçamos para nós,
para nossos parentes, para no§sos amigos, para todos os nossos irmãos
sem excepçã0. Que póde recusar-Dos Aquelle que se dá a si proprio ?
o' meu Deus t como é possivel que não sejamos todos ricos de bens es-
piri[uaes, nós a quem todos os dias é aberta a fonte d'elles com tão surpre-
hendente bondade? Ah I a culpa não é senão nossa ; mas está decidido, d'ora
em diante não teremos que arguir-nos de desconfiauça nom do tibieza.
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2ô2 CATECISMO
oBAÇÃ0.
0'meu Deus, quo sois torlo amor t graqas vos dou por me haverdes
permittido o assislir tantas vezes ao vosso adoravel Sacrificio ; e peço'vO§
perdao de toclas as irreverencias de que me tenho tornado ré0.
Tomo a re-qolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao pro-
XimO como a mitn mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este am6r,
commungarei sacramental ou espiritualmenle todas as oezes que ouoir
IlIissa.
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DE PER§EVENANÇA. 2õ3
VEGEStMA.TEBCEtRA LtÇÃ0.
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2ô& cÀrEcI§Mo
tinham relação com esta santa acçã0. No 0riente, era o bello cantico
que começa por estas palavras : Com,o o r:eado serluioso suspira pela fonte
iXagua aioo, assim a minha alma suspira por aÓs, Ó meu Deus (l)l
No Occidente, era o psalmo trinta e tres : Bemdirei o Senhor ern todo o
üempo: 0 seu loursor estara sentpre nos meus labios (2).
Nós imitamos este pio uso quando nas nossas grandes solemnidades
se cantam psalmos ou canticos durante a commu0lrã0. Que coisa mais bella?
0s festins dos reis e dos grandes da terra são acompanhados de cantos
e musica. Não convinba que melodiosos can[os resoassem duran[e o fes-
tim sagrado a que o proprio Dous, hospedeiro, alimento e conviva, con-
vida seus filhos ? Em quanto as abobadas dos nossos templos retumbam
COm os canlos do noSso amor, os anjos, presenles aO divino banquele,
repetem nas SuaS harpas d'ouro a bOndade de Deus e a t'entura do homem.
Quando a commuohão tocava no seu [ermo, fazia o Bispo signal ao
chefe rlo côro, e cantava-se a Gloria Patri para terminar o hymno do
fesl,im. Havendo infelizmente diminuido o fervor dos fieis, reduziram-se
Os psalmoS a um versiculo que se Chama an[iíona, porque era canl,adO
alüeroativamente pelos dois cÓros: tal é a oração da Missa a que cltama-
mos communlrã0.
0 Sacerdote recita-a do lado da Epistola; porque, em quanto elle
cobriu o calix, o acolyto mudou o Missal para aquelle lado. E'o logar
que melhOr convém ao livro, porque e do lado do assento do Bispo ou
Sacerdote. Alli se deixaria sempre s0 uma razáo mysteriosa não bou-
vesse determinado a lêr o Evangelho do lado do aquilã0, e se, desde o
oflertorio, não fosse necessario desembaraçar o lado do alÍar onde se
apresen[am as abluções e as galhetas, onde se prepara o calix, etc.; por-
que a sacris[ia, d'onde se leva tudo quanto é necessario, está.ordinaria-
mente do mosmo lado.
Recitada a communhão, vae o Sacerdote ao meio do al[ar, e beija'o
por amor e respeito; e depois, voltando-se para o povo, convida-o á ora'
Qão e ao reconhecimento com estas palavras : 0 Senhor seja comüo$co.
O povo responde : E com o l)osso espirito. 0 Sacerdote torna ao Missal,
e om nome de totlos diz : 0remus: 0remos; e recita em voz alta a Post.
communio, QUe é uma oração d'acção de graças. Ah I se nós conhecer-
nos o dom do Deus e o favor que acaba de fazer-no§, com que profundo
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DE PERSEVERANÇÀ. 2Ü5
sentim€nto de amor não diremos no Íim d'esta ora$o: Amen, assim seja,
amor, acção de graças, reconttecimento eterno t
0 numero das postcornmunios e o mesmo que o das collec[as e se-
cretas antes do prefacio. Com eÍIcito, é justo egualar o numero dos nos-
sos agradecimen[os ao das nossas petições. A's postcommunios ajunta-
s0, na Quaresma, uma oração que se chama oração pelo povo. E' pre-
cerlida d'este convite feito pelo.Diatnno: Humiliate capita aestra Deo:
«Humilhae as vossas cabeças diante de Deus.» Qualquer que seja o mo-
tivo que haja feito insl,ituir esta oração, quer se haja di[o pelos Íieis que
não haviam commungado quer pelos peccadores que cumpnam a sua pe-
nitencia, os assis[entes, em quanto se recita, devem humiltrar os corações
e pedir a Deus que 0s mude e santifique.
Depois da postcommunio, o Sacerdote, vol[ando ao meio do altar,
que beija com amor, se vira para o povo e ltre drrige 0s scus ultimos
votos: 0 Senhm sejo clm,üoscl. 0h I sim, comvosco, pios Ctrristãos, que
viestes ao romper da aurora, 0orl0 os tieis israeliÍ,as, apanlrar o manná
cabido do ceo. Alimentae-vos do pão sagra.tlo no decurso d'eo'te dia que
começa; viajantes da eternidade, n elle eor:ontrareis força para contiauar-
des o vosso camirrho para a Patria. 0 Senhor seja comvosco para allumiar-
vos, proteger-vos, consolar-vos, conservar-vos o fructo do Sacrificio, e
recordar-vos 0 que vis[es esta manhã e o que Íizcstes. Penetrado d'um
resonhecimento mais vivo que nunca para com o Sacerdote que foi mi-
nistro do grande Sacrificio, responde o p0v0: E com o Dlsso espirito. Eis
ahi, pois, os desejos que o pastor e o rebanho, o pae e os Íiltros se diri-
gem no momento de se separarem. Conheceis outros mais felzes e mais
commovedores ?
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-
2ü6 cÀTgctsilo
(1) Lebrun, p. 642 e seg.; Durando, l, VI, e. LY, LYII; Duranto, l. II, c.
LYI; Bona, l. II, c. XX; Espirito ilas C rem,, p, 377,
(2) Mi,uolog., c. XXII.
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DE PERSEVERÀNCA. 2ô7
o abençôa fazendo o signal da cruz e dizendo: «0 Deus omnipotente vos
abençoe; em nome do padre, e do Filho, e do Espirito santo.» 0 povo
responde com a acclamação ordinaria: Ámen, Deus queira escutar o voto
que por nós fazeis. Nas Missas de defunctos omitte-se
a benção: não pótle
servir-lhes, pois não é senão para os assistentes.
como são formosas as ceremonias com que o Sacerdote acompanha
esta derradeira benção! Elle mesmo toma a benção de Jesus Christo bei-
jando o altar que o represen[a. Ergue os olhos
e as mãos para o ceo,
para mostrar que a esse Pontiíice eterno, que está assentado
á direita do
Altissimo, c0m0 o verdadeiro Melchisedech, pertence abençoar o povo fiel
e os Íilhos do verdadeiro Abrahão; abençoal-os para o ceo e para a eter-
nidade, pelos merecimentos dos seus mysterios e da sua cruz.
0 Bvangelho de S. João é a segunda addição feita á Missa pela devo-
ção reunida dos sacerclotes e fieis. Desde o principio da Egreja, tinham
os Christãos pelas sublimes palavras do Disr:ipulo muito amatlo a mais
profunda veneraçã0. s. Agostinho não desapprouaua o uso, já estabelecido
n0 seu [empo, de pôr este santo Evangelho sobre a cabeça dos enfermos
para 0s curar, e o Papa Paulo V mandou que, indo visital-os, se reciüasse
o Evangellro de s. João com a imposição das mãos. 0s proprios pagãos,
movidos da profrrndeza e subiimidade do mesmo Evangelho, diziam que
se deveria escrevêl-o em lettras d'ouro em todos os logares d'ajuntamento,
para qlle toda a gente o podesse lêr.
0s fieis desejaram com tanto ardor que fosse recitado no fim da
Missa,que o pediam expressamente nas doações que faziam ás Egrejas (l).
Ern breve se tornott inrrtil es[a petiçã0. Trlr-los os Sacerdotes recihtram o
E|angellro antes de deixarem o artar, e o papa s. pio v converteu em lei
essa prátir:a. Diz-se todos os dias, a não ser que haja oflicio duplo por
causa d'alguma festa. N'esse caso, recita-se o Evangelho da Missa que se
não pôde dizer; por exemplo, quando a Assumpção da sS. Virgem cahe
ao domingo, celebra-se o oÍlicio d'esta festa solemne; mas o ultimo Evan-
gelho é o do domingo cujo oÍlicio se supprime.
A recitação do Evangelho de s. João e acompanhada das mesmas ce.
remonias que a do Evangelho ordinario. No começ0, o Sacerdote desperta
a attenção dos fieis dizendo-lhes: 0 Senhor seja comaosco; e o povo res-
ponde; E com 0 t0ss0 espirito. 0 Sacerdote faz com o pollegar o signal
da cruz sobre o quadro onde está escripto o Evangelho, e depois fal-o na
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258 cÀrgcrsuo
testa, nos labios e n0 c0raçã0, para protestar o seu amor e a sua fé. Ao
mesmo tempo dizl. Principio do Etsangelho segunila S. Jodo; a0 que o
povo responde: Gloria a uos, Senhor.
0 Sacerdote prosegue:
«No principio era o Verbo, e o Yerbo estava em Deus, e o Yerbo
era Deus,» etc. A estas palavras: E o Verbo se fez carne, faz o Sacerdote
uma genuflexão para honrar o profundo abatimento do Verbo divino, que,
para nos remir, teve por bem aniquilar-se a ponto de tomar a fórma d'es-
cravo, isto é, do homem escravo do demonio e do peccado.
0 pensamento de terminar as orações do santo Sacrificio pelo Evan-
gelho de S. João é cheio de sabedoria e piedade. Com eÍfeito, as palavras
que elle comprelrentle re.sumem tudo quanto o Verbo fez por nós na eler-
nidade e no tempo. I\lostram-n'o no seio de seu Pae, Deus c0m0 elle, por
quem tudo foi feito, e que e a vida e a luz do mundo. lIostram'n'o des-
cido á terra, verdadeiro, sol de justiça que brilhou nas trevas, e que al-
lumia aquelles que es[avam assentados na sombra da morte. Recordam-
nos que por elle é que nós somos Íilhos de Deus, pois se fez r.rrne e ha'
bitou entre nós, para nos remir da escravidão do peccado e nos livrar da
COndemnação eterna. Vimos a sua gloria n0 presepio, n0 Thabor, no Cal'
vario e n0 sepulcro. Vêmol-o todos os dias na sagrada Eucharistia, e lou.
vamol-o e bemdizemol-o porque é cheio de graça e de verdade (l).
No fim do Evangelho de S, João, todo o povo, pela bôcca do acolyto,
responde : Deo gratias: Datnos graÇa a Deus. Es[a breve oração é tiao
santa, tão perfeita e tão digna de Deus, que Se não podia terminar o
maior dos myterios por uma phrase mais mysteriosa e divina. «Que po'
deriamos pensar, pergunta S. Agostinho, Qtle poderiamos dizer, que p0'
deriamos escrever melhor que esta phrase : Deo gratias: Graças a Deus?
Nã0, não se póde dizer nada mais breve, ouvir nada mais agradavel, con-
ceber nada mais granile, e fazer nada mais util e de maior fructo que
esta oraçáo: Deo gratias: Graças a Detts (2).'
Oh t sim, graças a Deus, o Ceo está reconciliado com a terra : a au-
gusta Yictirna, esperada por espaÇo de quarenta seculos, acaba de immo'
lar-se; foi recebida por Deus por meio do Sacrificio, e pelos homens por
meio da communhã0. Graças ao Pae, que nos deu seu Filho; graças a0
Filho, que se revestiu da nossa natureza ; graças ao Espirito Santo, que
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DE PEN§EVERANçÀ. !59
nos santificou em Jesus christo; graÇas á augusta Trindade por todos os
seus dons, por todas as suas inÍinitas misericordias, cujo compendio é o
sacri0cio catholico.
Terminemos esta ultima parte da Missa, como as precedentes, por
algumas approximações piedosas entre esta parte do Sacrificio rlo altar e
as circumstancias do Sacrifioio da cÍol.0 Sacerdote toma abluções, Jesus
é embalsamado. 0 sacerdote, depois da communhã0, vae para o lado da
Epistola, lesus resuscita. 0 Sacerdote volta-se para os fieis para dizer
Dominus aobiscum, Jesu,s clnt)ersü tsarias Dezes com os seus Discipulos.
0 Saeerdote diz o ultimo Dominus oobiscum, Jesu,s iliz aileus a1s seys
Ápostolos e sobe ao Ceo. O Sacerdote abençôa o povo, Jesus erusiao Esyti-
rito Santo. 0 Sacerdote diz o Evangelho de S. Joã0, Jesus coroail,o de gto-
ria reina triu,mphante nos Ceos e rsela pela sua Egreja.
E' inulil dizer qne o reconhecimento e o sentimento que deve do-
minar no nosso coração durante a ultima parte da Missa. Qúeremos tor-
nar mais vivo este sentimento? Reanimemos a nossa fé sobre as questões
seguintes: Quem é aqnelle que acaba de immolar-se ? por quem se im-
molou ? Por gue se immolou ? Irnmolando-se, que me deu ? [Íeditemos, e,
se podermds, eximamo'-nos de dizer coru s. paulo : se alguem nd,o ama
o Saloador Jesr.ts, seja dnathematisaito (l).
E agora, como devernos sahir da Missa ? como sahiam d,ella nossos
paes na fe ? Que santirlarle deve reinar nos nossos pensamentos, nos nos-
sos desej0s, ncs nossas palavras, nos n0ss0s olhares, em todas as nossas
relações com Deus e com o proximo? Não o esqueÇamos; o Ceo, a terra,
o proprio inferno, teem os olhos Íitos em nós; o ceo, para se alegrar
cOm a nossa felicidade; a terra, para se erliÍicar com a nossa santirjade; e o
inferno, para nos roubar o Íruc[o do Sacrificio. Que vigilancia da nossa parte t
Abstenhamo'-nos de alegrar o inferno, de contristar o Ceo e de fazer
blasphemar o norne de Christão entre os homens. Vivamos como teria-
mos vivido no dia da crucificação do Homem-Deus, ss houvessemos assis-
tido á sua immolação no Calvario. Ao sahirmos da Missa, flescemos da
mesma montanha, vimos de assis[ir ao mesmo SacriÍicio. Seremos como
os judeus que desceram do calvario, mais endurecirlos e cegos, ou como
o centurião que publicava em voz alta a gloria do Filho de Deus, ou como
Maria e João, cujo amor ao salvador augrnentára em proporção das dô-
res de que acabavam de ser tertimunhas ? Escolhamos.
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260 CATECI§MO
oRAÇÃ0.
0'meu Deus, que sois [odo amor t graças vou dou por vos terdes im'
molatlo por mim no Calvario e renovardes todos os dias 0 vosso Sacrif,cio
oo, oorios al[ares. Supplico-vos que ponltaes no meu coração as disposi'
ções do vosso quando morres[es na cruz.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e a0 prg'
ximO c0m0 a mim mesmo por amor de Derts: e, em prova d'este amor,
hei d,e sahir da Missa com profundo recolhimento.
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DE PER§IIVERANCÀ. 26t
vEGESTMA-QUARTA LrÇAO.
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262 carnclsuo
gue, se os judeus tinham certos dias da festa, era uma sombra do que
deria succeder sob o Evangelho, quando todos os dias não formassem
mais que uma festa, em que os homens se abstivessem de tudo o que
póde oÍIender a Deus; 2.0 que as festas e a mesma vida inteira não são
mais que um tirocinio da festa do'Ceo; que o tempo e a vigilia da eter-
nidade, pois que não é senão em vista da eternidade que é dada a vida
ao hoúem, o tempo a0 genero humano, e que podemos sempre alimen-
[ar-nos da carne ou da palavra do Yerbo incarnado, da qual a gente se
alimenta tambem no Ceo.
Insistindo n'esta bella idêa de que a vida não é mais gue uma longa
festa em que devemos ser santos o piedosos como nas solemnidades par-
ticulares, continúa Origenes n'estes termos: «0 Cbristã0, diz, que tem
intelligencia da sua Religiã0, está persuadido de que cada dia é para elle
um dia de domingo, um dia do Senhor ao qual unicamente liga o cora-
ção e os pensamentos ; de que cada dia e para elle uma scxta feira, e
a[ê uma sexta feira santa, porque doma as suas paixões e recebe râ süâ 1
carne as impressões da cruz de Jesus Christo ; de que cada dia é para
elle um dia de Paschoa, porque continua incessantemen[e a separar-se
d'este mundo de corrupção e a passar ao mundo invisivel e incorruptivel,
alimentando-se da palavra e da carne do Yerbo humanado ; finalmente,
" de que cada dia é para elle um dia de Pentecostes, porquo resuscitou
em espirito com Jesus Christo, elevou-se com elle até ao Ceo, ate ao
throno do Pae, onde está assentado com Jesus Christo e em Jesus Christo,
pelo qual recebe a pleniturle do Espirito Santo (l).»
Todos os dias- do anno sã0, pois, dias santos, dias de festa. «Mas,
accrescenta o mesmo Padre, como ha muitos christãos que não querem
ou não podem resolver-se a passar toda a vida como um só dia de festa,
foi preciso, para acommodar-se á sua fraqueza, determinar festas parli-
culares. Na sua maternal sollir:itude, as estabeleceu a Egreja para que
os mais dissipados e os mais languidos podessem adquirir n'ellas novo
vigor, desembaraçando-se, ao menos por um pouco de tempo, dos ne-
gocios d'este munclo. Todavia não são essas, segundo a expressão de
S. Paulo, senão partes d'um dia de festa, d'essa festa contínua que os jus-
tos celebram toda a sua vida e que os bemaveuturatlos hão de celebrar
na eternidade (2). »
Tal é a sublime idêa que o Christianismo, pela bôcca dos seus dou-
(l) Contr. Cels., L VIII.
@) fd.,l. VIII ; Hierou., in Epist. ad, Galat,, c. IY.
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DE PEnSEVERÀNÇÀ. 263
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-
26IL CÀTECISMO
A' celebragão d'esta festa perpetua que compõe a vida dos justos, e
que devêra compôr a de todos os homens, nã0 se oppoem nem o traba-
lho manual, nem 0s empregos mais baixos, nem as obras servis; pois o
justo animado da ctraridacle é livre, livre pela Iiberdade dos Íilhos de Deus;
e nenhuma das suas obras é servil. Quer pode a Sua vinha, quer cttl[ive
os seus campos ou navegue no mar, não cessa de celebrar essa festa con-
tinua dos justos, pois que nã0 ce.qsa, entre essas occupações, dq amar
seu Pae celeste e de cantar 0s seus louvores ('l). Se todas essas coisas
são vedadas nos dias de festa particulares, é para que os cuidados tem-
poraes não sejam obs[aculo á meditação das coisas divinas e á oraçá0.
À vida do homem n'este mundo e pois uma festa, porém uma festa
que elle deve celebrar c0m0 o guerreiro nc meio dos combates, alcan-
çando contiouas victorias; com0 o tlesterrado, caminhando continuamente
para a patria; como um rei cahido do throno, procurando com contínuos
esftrrços [ornar a subir a elle. Para o Christã0, isto é, para o tromem que
comprehende o seu destino, e pois a festa da vida, se e licito dizêl-0, uma
festa paciente e laboriosa. Mas animo, ó homem! guerreiro desterrado, rei
decahido, animo! para [i virão a seu tempo as palmas, a patria e a Ôorôa.
lI. Nonros p.lcÃos Dos DIAS DA sEMANA. Que alta philosophia n'esta
-
irjêa que a Religião nos dá da nossa existencia temporal I como orien[a
OS nSSSoS pensamenlos, aS noSSaS affeições, aS noSSaS emprezas ! ComO
nos ennobrece t Como nos anima á virl,nde I 0ra, esta preciosa noçã0, ai t
havia-a o lromem esquecirlo, e fizera da sna vida a festa dos demonios,
e a sua exis[encia temporal não era senão um caminbar para a horrivel
festa do inferno. Na sua cegueiro, distinguira cada um dos dias com o
noÍne d'uma creatura 00 d'urna divindatle infame a cujo culto o bavia
consagrado. 0 primeiro dos dias da semana havia-o dedicado a0 sol, o
segund,o á lua, oterceÍro a Marte, Oquarto a MerCurio,o quinÍo aJupi-
ter, O serto a Ventts, e O septimo a SaturnO. TodOS esteS nomes, Carrega-
dos de vergonhosas recordações e manchatlos por sacriÍicios borriveis ou
a.cções indignas, faziam succeder os crimes aos crimes, e afastavam cada
vez mais o homem criminoso do seu Íim derladeiro.
m. Nours cuatstÃos.
- Reparadora ttniversal. apressou-se a Egreja
ca[holica a destruir os deuses rl r dtrsterrar' 0s seus nomes da linguagem.
Designou todos os dias da semana por uma só palavra, a de feria (feira),
patar,ra c[eia do sentido profunrlo, pois quer dizer festa ou descanço: fesla,
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DE PEnsEvEnANÇA. 265
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266 cArEcrsuo
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DE PEnSEVEn^UgA. 2fr7
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268 cArEcrstrro
gem de Deus, cria em certo modo durante esta vida, e que ha de entrar
um dia no sabbado, ou no descanço eterno, figurado pelo septimo dia;
depois, lembrou que o Salvador escolhêra muitas vezes o dia do sabbado
para operar curas e milagres, e para ir prégar nas synagogas. Esta ul-
tima consideração foi que determinou o imperador Constantino a pro-
mulgar a sua lei para Íazer honrar publicamente o sabbado (l).
Na Egreja de Roma, era este dra consagrado ao jejum. 0 mesmo
acontecia em Alexantlria do Egypto. Estas duas Egrejas, fundadas uma
por S. Pedro, e outra por S. Marcos seu discipulo, praticando 0 mesmo
uso, são uma nova prova do facto a que se refere a origem d'elle. 0s an-
tigos romanos diziam que S. Pedro, na sua primcira viagem a Roma,
aonde o acompantrára S. Marccls, devendo combater a Simão o Mago um
dia de domingo, jejuou no sabbado, e mandou a todos os Íieis que o imi-
tassem. Em memoria do triumpho que alcançou o Apostolo sobre o agente
do demonio, proseguiu-se o uso de jcrjuar a0 sabbado (2); e conservou-se
por espaço de mrritos seculos.
Mas, se o jejum era par[icular á Egreja de Roma. não succedeu o
mesmo com a abstinencia. No undecinro scculo, em 1078, o Papa S. Gre-
gorio VII, n'um concilio de Roma, a constituiu como lei geral para torla
a Egreja (3). Esta lei todavia não foi recebida em todas as partes. Yarias
provincias da christandade conservaram o habito de comer carne. No de-
cimo-quinto seculo, S. Antonino, Arcebispo de Florença, faltecido em
1,459, examinando a obrigação d'esta abstinencia do sabbado, dá a se-
guinte resposta: «Ha peccado em comer carne n'este dia nos paizes onde
está geralmente estabelecido o costume de a não comer; mas, quem vive
nos logares onde subsiste o costume contrario, coulo na Cal,alunha e em
varios outros paizes, póde-se conformar sern escrupulo com 0s usos d'estes
reinos (4). »
Alguns annos depois da morte de S. Antonino, toda a Egreja de
França recebeu a lei da abstinencia do sabbado. Contentou-se em excep-
tuar os d'entre o Natal e a Purificaçã0. Até aos nossos dias varias dioee-
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DE PEnSEVERANÇA. 269
ses nem seguer esses isentavam. Esta lei não se estabeleeeu em Hespa'
nha. N'este reino, não se frzeram até agora outras modificações á liber-
tlade de comer carne, senão a de contentar-se com 0s intestinos e com os
meudos 0u extremidades dos animaes nos dias de sabbarlo ({). Ainda
que menos geral que a da sexta feira, não deve a abstinencia do sabbado
.ser menos religiosarnente obsefvada. A auctorirlade que presmeve uma
e outra é a mesma: e a auctorirlade da Egreja nossa mãe, esposa de Jesus
:
Christo, da qual disse o proprio Salvador Se alguem nã,0 obedecer d
Egreja, seja para aós como u,m pagao e ?crn publicano (2).
Como vêdes. o sabbado foi desde o principio da Egreja mui vene-
rado entre os Íieis (3). Pelo Íim do trndecimo seculo, em 1095, o Papa
Urbano II, para attrahir aos Cruzados as bençãos do Ceo pela intercessão
de l\Iaria, dedicou o sabbado á SS. \rirgem, e ordenou que se fizesse o
seu oÍlicio n'esse clia (A). Desde essa epocha, teem os Íieis por dever o
cônsagrar o sabbaclo em honra de Maria, e teslimunhar a esta divina Mãe
a sua ternura e reconhecimento, já pelo jejum, já pela assistencia ao santo
sacriÍicio da Missa, já por qualquer oul,ro exercicio de pietlade: nada mais
tocante e mais util (5).
Assim cada dia da semana traz ao Christão um novo motivo de fer-
\'0r e santidacle. Crêrles que esta maneira de distinguir os dias não seja
tam lnoral como a tlas pessoas do mundo, que não distinguem os Seus
senão pela variedade dos seus negocio,s ou prazeres?
V. Berruzl E urrLrDADn D0 calendario catholico.-0 que fez a Egreja
para cada dia da semana, fêl-o para os mezes e annos. Parti do principio
tle gue 0 homem fraco e inconstante prccisa incessantornente tle novos
motivos para se excitar á virtude; que tendo todos os estados seus deve'
res e trabalhos particulares, sã0 necessarios aos hornens de todos 0s es-
tados modêlos de santidade; e Íinalmente, que a vida do ltomem e uma
alternativa continua de adversidade e prospericlades, em que se acham
algumas alegrias e muitas lagrimas; e não podereis oximir-vos de admirar
o calendario catholico. Que alta lição tle virtude, que manancial inexhau-
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270 cÀrgcrsuo
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DE PEnSRVEnANçÀ. 271
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--\=â\__.<
272 cÀrcctsuo
E'
impossivel, especialmente na primeira edade, não se entregar ao
desejo de assimillrar-se-lhes. Como duvidar que este desejo, confiado á
prudencia materna, possa vir a ser um dia, para os fllhos, germen da
mais pura virtude, e para os paes origem das mais abundantes consola-
ções? E'necessario citar o exemplo de S. Agostinlto, de S. Ignacio, de
S. Thereza, e de tantos out,ros que deveram só á leitura da Vida dos San-
tos a sua volta á Religiã0, e os milagres de suntidade qug hão de fazer
d'elles a admiração eterna dos seculos ?
E depois, vêde que grande lição de eguidade na Vida ilos Santos.
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DE PERSEVERÀNÇÀ. 273
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27 e cArncrsuo
SANS.CULOTTIDÀS.
F'E§TAS.
1 Da Virtude.
2 Do Genio.
3 Do Tlabalho.
4 Da Opirriâ,o.
õ Das Recompensao.
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DE PEnSnVERÀNÇA. "271
isso que a Religião o coroou segunda vez. Àssim o heroe desapparece ante
o Christã0, e não lhe sobrevivem de todas as suas virtudes senão aquellas
que merecem sobreviver-lhe e servir de exemplo á virtude de todos os
mortaes (l).
0 calendario catholico é por tanto uma eschola de todas as virtudes,
um itinerario da terra ao Ceo, um guia collocado no caminho da vida,
que diz a todo o homem, a toda a hora e em todos os tons: Eis os ves-
tigios que vos deixaram os Santos ao vol[arem á patria, segui-os; á direita
e esquerda estão abysmos (2).
ORAÇÃ0.
0' meu Deus, que sois todo amor I graças vos dou por me haverdes
dado na vida dos Santos e em cada dia da semana novos exemplos e mo-
tivos de me santiÍicar : concedei-me que os aproveite para gloria vossa e
felicidade de meus irmãos.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e a0 pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amor,
hei-de lér todos os dias a aida dos Santos.
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27$ CÀTECISMO
vEcEstMA-QUtNTA LtçÃO.
Ârlvenío.
- saberlorla rta Egreja.-anúiguirlarto do Árlvenúo.
-Práúicas rle «levocão r: perriúeneia.-Liíungio rlo adven-
10.
- Primeiro dominso, - segunrlo rlomiugo. l[erceiro
e quarúo. tr'esúa «!a Dxpecúaoão. ll,ntifouaã -O,.
- -
A vitla do homem deve ser uma festa contÍnua. Toclos os dias, to-
das as horas que a compoem tlevem ser santificatlas, de sorte que não
hala nem um momenlo da nossa exislencia que não seja um.trymno á
gloria d'Aquelle que creou o homem e o tempo. Mas tal e a nussa [ra-
goeza, tal a preoccupaçÍo dos negocios, tal a violencia das nossas pai-
xões, que a Egreja, na sua sollicitude, determinou dias e [empos particu-
lares espeoialtuente des[inados a purificannos o coração por meitr da ora-
çáo, da penitencia c da meditação das verdades eternas. Eis ahi 0 quc
vimos no catecisnro precedente.
I. InÊ.1 no AovENro. - Na primeira classe tl'estas epochas saudaveis
cumpre collocar o tempo do Arivento. Com effeito, o Àdverrto é um tcmpo
de oração e penitencia que a Egreja estabeleceu prtra prepârar seus [i-
Ihos para o nascimento do Salvarlor. 0 que são as vigilias para as festas
ordioarias, o que e a Quaresma para a Paschoa, o (.llre forarn os qua[ro
mil annos do antigo mundo pilra a vinda do llessias, é-o o Àdvenlo para
a festa do Natal. Qualro semanas de preparação não vos parecerão de-
masiado longas, se considerardes .r excellencia do myslerio que as segue.
Se o povo d'Israel deveu preparar-se com tanto cuidado para receber a
lei promulgada n0 cumc clo Sinai, pat'a passai as aguas do Jorclão e pe-
netrar na Terra promettida, para participar das suas viclimas impotentes,
ou para celebrar as'suas festas figurativas: quaes pensaes que deyam ser
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DE PERSEVBRÀNÇÀ. 277
os preparativos dos christãos para receberem o Deus do ceo, o verbo
eterno, o legislador supremo, a victima sem mac,ula, o typo eterno de
todas as festas e de todos os sacrificios ?
II. Axrrcurnloe oo Ánveuro. penetrada d,estes grandes pensa-
-
mentos, instituiu a Egreja o Advento para aplanar ao l\[essias o caminho
dos nossos corações. A instituição do Adven[o parece tam antiga
comg a
da festa do Natal, posto que a disciplina da Égreja a tal res[eito nem
sempre haja sido a mesma. por espaço d'alguns seculos, foi ó A4vento
de quarenta dias como a Quaresma : começava no s. Martinho. Fiel
aos
seus antigos usos, conservou a Egreja de Milão as seis semanas do
Ad-
vento primitivo, que haviam sido adoptadas pelas Egrejas d'Hespanba.
cêdo o reduziu a Egreja de Roma a quatro semanas, isto é, a quatro do-
mingos com a parte da semana que resta atê ao Natal: todo o occidente
seguiu este exemplo.
0utr'ora jejuava'se durante o Advento. Em certos paizes era este
jejum de preceito para toda a gente, em outras partes
de simptes devo-
çã0. A obrigação do jejum attribue-se a s. Gregório l\Iagno, que todavia
nunca teve tenção de fazer d'ella uma lei geral. No meado do quinto
se-
culo, n0 anno de L6z, s. perpetuo, Bispo de Tours, ordenou, para a
sua diocese, tres dias de jejum por semana, desde a festa de s. Illarti-
nho até ao Natal. Este regulamento se tornou geral na Egrdja de
l.rança
no septimo seculo, depois da celebração do concilio da Mâcón, em 5gl.
Esta santa assemblêa prescreveu que para o commurn dos
Íieió os jejuns
fossem ás segundas, qttar[as e sextas feiras de cada semana,
r]esde a feria
ou festa de s. Nlartinho até á do nascimento cle Nosso senhor; que
e os
oÍlicios, particularmente o Sacrificio da Missa, se celebrassem como na
Quaresma. Prohibiu tambem o uso da carne todos os dias durante o
tempo do Advento.
A mesma abstinencia se observava nas outras regiões catholicas ;
uma doação pia d'aquella epocha nos dá a prova d'isso. Em z5B, üendo
Astolpho, rei dos lombardos, em Italia, concetlido as aguas de Nonantula
á abbadia d'este nome, conservára para si quarenta lucios para uso da
sua tneza durante a Quaresma do s. Illartinho. D'onde ,. pooe inferir
que, no oitavo seculo, os lombarclos observavam o jejum durinte os qua-
renta dias gue precedem a festa do Natal, ou que praticavam ao menos
a abs[inencia das carnes (l).
de penitensi2' «En'
Ao jejum uniam-se a oração e outros exercicios
até á do Na-
tre nós, diz um antigo auctor, rlesde a festa de s. Martinho
todos os fllhos
tal, e mandada a abitinencia de totla e qualquer carne a
ai]pr0ximarem dos sacramen'
da Egreja, como meio indispensavel de se
tos no dia clo nascimento tlo Salvador. » 0 Papa Bonifacio VII, na bulla
de Carlos
de canonisação de S. Luiz, declara quo este digno successgr
Magno passava os dias do Advento em jejum e orações (l). Tal era o
proceder dos simPles fleis. ,\
Quanto aos,tligioror, jejuavam comordurante a Quaresma; a malor
ate hoje' Accrescen-
parte d'elles teem cónservaclo este piedoso cos[ume
dias todos são uma
taremos que succede sempre assim. Aquelle cujos
e que conserva as strictas
continua preparação para as coisas eternas,
jejurn; aqtrelle que não está na batalba, é
observancias de preprrrçao e
; é uma distracção'
que guarda a aima6ura e aquelle cuja vida inteira
rlt sarma-se e não vela para defender-
uma cadêa de prazeres e perigos,
se do inimigo (2).
Iil.Ltrunct..t.noAovnnTo._EntretantoaEgrejanãopoupamelo
fert'or de seus paes' Não é
algum de despertar em seus Íilhos o antigo
e menos amavel' menos
isso corn justa razáo? 0 l\[enin0 quc esperamos
outr'ora? Deixou de
santo, menos digno de toclo o nor, ) amor
hoje que
a sua vinda ás nos-
ser amigo 6os ãorações puros ? c nrenos necessaria
todos os irlolos que Elle viera
sas almas? Aht tal'ez lá t,erhanoos erguido
avisados' enlretnos nas
derribar ha dezoito seculos. sejamos pois mais
nrãe trlttlIilrlica a -sollicitude
vistasda Egreja, e vejatnos coflr0 êstâ l,eI0il
e ctraridads' necessariag
para fr.lrmar em n,is as disposições tle pcnitcncia
à Uo, recepção do illenino de Betlrlent'
d'alegria' e toma o
Niis seus oÍficios cleixa ella os sells ornamentos
roxo em signal cle compuncçr'ro. A' Gloria
in encelsis e omi[tida na Missa;
ela esperança. Eis ahi porque, ao do'
uia. Supprime-a nas ferias para nos
istãos d'hoje: Para vossos paes todos
bstinencia e jeium; sejam ao menos
para vós dias de arrependimen"o e oração'
Paraexcitarerntooasasalmasestesdoissentimentosdeesperança
(1) Rainaldo, an' de. 1287,^ ãHi:
per tôtüm Adventum, -Per totam W t. Y,
íá6aot. Insuper in solemnitatibus,
o,448.
---(z)
"' Jfesúas chriat', P'46'
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DE PER§E!'ERÀNÇÀ. 279
e c0mpuncÇãO, eis successivamente a voz de Paulo, a voz d'Isaias, a voz
de João nas margens do Jordã0, a voz do proprio Messias que se junta
aos accentos dos pregadores e aos hymnos da Dgreja. «E' tempo de
acordarmos, a hora da nossa redempção approxima-ser a noite
caminha,
o dia vae briltrar: apressemo'-nos pois a deixar as obras de trevas, e re-
vistamo"nos das armas de luz. Caminhenos com clecencia e honestidade,
cOmo convém durante o dia; não vos deixeis levar pelos vicios, mas
re-
vesti'vos de Nosso Senhor Jesus Christo ({).» Taes são as advertencias
que nos dá o apostolo s. paulo na Epistota do primeiro domingo do
Àdvento.
Para tornar mais instante esta liçã0, nos recorda a Egreja, no Evan-
gelho, o juizo Íinal e a segunda vinda do Filho de Deui,
ão*o se nos
dissesse: se quereis vêr chegar sem temor o Deus que vos annuncio,
quando descer c0m0 juiz supremo dos vivos e clos mortos, preparae-vos
para o receberdes agora gue vem c0m0 salvador. Felizes se
fôrdes doceis
I
aOs meus conselhos pois vêde quam formidavel será a sua segunda vinda.
«Haverá signaes no sOl, na lua e nas estrellas; as nações
da terra
estarão consternadas; os homens seccarão de temor na espectativa
do que
deve acontecer ao universo, e as columnas dos ceos serão abatadas.
En-
tão se verá rir o Filho do Homem
n'uma nuvem com grande poder e
grande magestade. Qrranto a vós, quando virdes succefler estal
coisas,
abri os olhos e levantae a cabeça, porque está proxima a vossa redempçã0.
Julgae d'ella pela comparação da Íigueira e das outras arvores.
Quando
as vêdes rebentar, dizeis: Reconhecei que o ver5o vae clregar. Da nresma
fórma, quanrlo virries o que vos annuncio, sabei que 0 reino de Deus
está
proximo. Bm verdade vol-o digo, esta geração não acabará sem que isto
se realise; o ceo e a terra passarã0, mas as minhas palavras não 1ão de
pâSSâr. »
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280 cÀrBCISnlo
a meu resPeito !»
em que 0 lÍessias
Quanto mais se approxima o mgmento solemne
exhortações'
deve entrar n0 mundo, tanto mais multiplica a Egreja aS suas
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DE EEnSEYEnANÇÀ. . 281
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282 . cÀTuctrsto
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DE PEnSEVEnANÇA. 283
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284 carncrsuo
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DE PEB§EVERANÇA. 28õ
corações: eis que toda a carne verá breve o Saivador enviado por Deus?»
2.0 0 reconhecimento para com o Salvador. Que era o homem an'
tes da incarnação do Salvador'l que S0m0s nós sem elle ? Pobres, cégos,
escravos, victimas do demonio, do peccado e do inferno, quanto lhe não
devemos t E allumiar-nos, liber[ar-nos, reunir-nos e devolver-nos 0s nos-
sos direitos pertlidos, quantcÍ não custou ao Filtto de Deus I Um Deus
que Se reveste da fórma d'escravo, que Se vota a todas as miserias da
miseravel humanidade; um Deus pobre; um Deus menino : não dirá isto
nada ao nosso coração ? Nós que temos reconhecimento para 0s mais pe-
quenos beneÍicios, nã0 o teremos para um Deus que se dá em pesslü a nós !
3.o 0 n0ss0 interesse espiritual. A fonte das graças não secca em
tempo algum; mas as grandes festas são dias mais propicios, dias em que
essas graÇas são diffundidas com mais abundancia. Toda a Egreja, ani-
mada então do mesmo espirito, oÍIerece a Deus uma homenagem mais
solemne, lhe dirige orações mais ferventes e o yence com mais sinceras
lagrimas. Jesus Christo nasceu para nossa salvaçãn ; porem não derrama
as suas graÇas senão sobre aquelles que se apresentam com coração pre-
parado para as receber. As disposiçoes que encontra em nós são a me-
dida dos seus favores. Não temos nada ou pouca coisa que pedir-lhe ?
Desçamos ao fundo do nosso coraçã0, interroguemos a nossa vida passa-
da, 0 n0ss0 estado presente, o o n0ss0 porvir : o abysmo das nossas mi-
serias lesponderá (l).
ORAÇÃO.
0' meu Deus, gue sois todo amor ! graças vos dou por tercles esta-
belecido o santo tempo do Àdvento para me preparar para a festa do
Natal concedei-me que a passe santamente.
;
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amor,
hei de repetir todos üas, durante o Adaento, esta oração: Düsino Menino
Jesus, ainde nascer no meu cora,cdo,
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286 CATECISMO
vEGEStMA.SEXTA LtÇÃ0.
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DE PEn§EVERÀNça, 287
Tal é o milagre cuja memoria celebra a Egreja, tal ó o beneficio por que
clá graças a Deus na festa da Immaculada Conceiçã0.
il.
DannlçÁo Do DoGuA. Maria foi concebida sem peccado : antes
-
de ser dogma de fé, era certa esta verdade. A Egreja náo faz novos dog-
0
mas. que crê hoje, creu-o sempre. Só torna a sua crença mais clara,
mais explicita e obrigatoria, fixando-a por meio d'uma definição solemne,
conforme as necessidades dos tempos.
Pelo que respeita á Immaculada Conceiçã0, foram consultados os
Bispos de todas as partes do mundo. Prestaram testimunho da c,rença
dos seus povos. 0 Summo Prln[iÍice ouviu este testimunho, e veriÍicou a
universalidade d'elle; e por sua auctoridade suprema deÍiniu que a Con-
ceição Immaculada da SS. Virgern e um dogma de fe catholica, que se
não póde pôr em duvida sem calrir na heresia.
A deÍiniÇão infallivel do Yigario de Jesus Christo não estriba uni-
camen[e na universalidado actual dos testimunhos, senão tambem na sua
antiguidade. Em todos os seculos se encontra a crença mais ou menos
explicita na Immaculada Conceiçã0. Era necessario que fosse mui geral
e mui acreditada entre os Christãos, llara que 0s proprios mahometanos
consagrassem a recordação d'ella. Quem o acreditaria ? o Alcorão e um
dos primeiros monumentos em que se acha consignada (l). Com eÍIeito,
no segundo seculo, Origenes a insinira, e n0 quarto o mais brilhante lu-
minar da Egreja, S. Agostinho, nunca deixa de exceptuar a Maria quando
falla do peccado original. «E', diz elle, com respeito a l\Iaria e á honra
que se deve a seu Filho que não fallamos d'ella todas as vezes que se
trata clo peccado original (2). »
0 concilio de Trento, resumindo a tradição de todas as edades cbris-
tãs, expressa-se assim no seu cclebre decreto relativo ao peccado origi-
nal :
«0 santo concilio declara que não e sLta intenção comprehender no
decreto em que se trata do peccado original a beata e immaculada Yir-
gem Maria, mãe de Deus ; porem manda seguir n'este ponto as consti-
tuições do Papa Xisto IV, sob as penas comminadas n'estas constitui-
çoes (3).»
Ora, em 1,479, havia xisto IV concedido inclulgencias aos que as-
sistissem ao oÍlicio e á Missa da festa da Conceiçã0. Quatro annos depois,
deu uma consüituição em que prohibiu o censurar esta festa ou condem-
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288 caruclsuo
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DE PIIRSEVERÀNÇA. 289
minha ponoba é a unica bella, a unica prlra, a unica perfeita entre as filhas
de sua mãe (,t).» Isto quer rlizer que todas as almas justas são Íilhas da
divina graÇa ; mas ha uma entre ellas que mereceu o nome de pomba,
porque e sem macula; e flnalmente de ttni,ca, porque ella só foi conce'
bida na graça (2).
Taes são algumas das auctoridades e das altas conveniencias que,
antes da deÍinição solemne da Egreja, faziam admittir no mundo catho'
Iico a crença na Immaculada Conceição de 1\[aria. Não eram, pois, espi-
ritos fracos todos esses Paclres da Bgreja, todos esses theologos, luz do
seu seculo e admiração cla posteridade, que sttstentavam c0m tanta elo-
quencia, que criam com tanta sinceridade n'esta augusta prerogativa de
Illaria. Não eram tampouco espiritos fracos todos esses doutores das uni-
versidades de França, Inglaterra, Hespanha e ltalia, todos esses cava['
leiros das ordens militares, que faziam proÍissão de crêr na Immaculada
Conceição da Mãe de Deus, e que se obrigavam por juramento a defen'
t
der esta crenÇa Finalmente, não era espirito fraco o Bispo de Meaux,
quando dizia: «A crença na Immaculada Conceição tem não sei que força
que persuade as almas piedosas. Depois dos artigos de fé, não conheço
coisa mais segura. Por isso não me aclmira que a eschola de theologos
de Paris obrigue todos 0s seus fllhos a defender esta doutrina...... Ouanto
a mim, estou encantado por seguir hoje as suas intenções. Depois de ter
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290 cÀrEcrsMo
sido alimentado com o seu leite, submetto-me de boa vontarle ás suas or-
dens, tanto mais quanto é essa tambem, parece.me, a vontade da Egreja.
« Esta tem urna opinião muito honrosa da conceição de
Maria;
não nos obriga a crêl-a immaculada, mas dá-nos a entender que esta
crença lhe e agradavel. Ha coisas que ella mancla em gue nós damos a
conhecer a nossa obediencia ; ha outras que insinua em que podemos
testificar a nossa affeiçã0. tsstá da nossa piedacle, se somos verdadeiros
filhos da Egreja, nã0 só obedecer aos mandamentos, senão tambem cur-
var-nos a0s menores signaes da vontade de tam boa e terna mãe ({)».
Espiritos fratos são todos esses grandes genios que correm as ruas,
e que censuram e rejeitam o qus não sabem, unicamente porque isso não
convém á sua fraca razáo nem ao seu coraÇão tlepravado, ou porque a
Egreja catholica o adrnitte.
m. Fosr.t DA IilMrcuLnn.q. coNcurçÃ0. A festa da Immaculada
-
Conceição justiÍica as palat'ras de Bossue[, o maniÍesta bem o sentimento
da Egreja sobre este ponto. No Oriente a fesÍa de Illaria immaculada era
iá antiga no septimo seculo (2). No 0ccidente, remonta além do rluode-
cimo. Celebrada a principio por algumas Egrejas particulares, foi forte-
mente sustentada e propagada por s. Anselmo, Arcebispo de cantuaria,
fallecido em 1,I09. Duzentos an00s tlepois, um concilio de Londres a tor-
n0u obrigatoria (3). Da Gran-Bretanlra passou esta fesía para 0 conti-
nente, e se espalhou rapidamente por França, Hespanha, Italia e pelas
outras partes da christandade. Finalrnente n0 decimo-quinto seculo, o
concilio de Basilea e prinr;ipalmente o papa xisto IV lhe deram ainda
maior curso e consistencia pelas indulgencias que llre foram unirlas (ú.).
a inslituição, ao parecer tam tardia, d'uma festa em gr]e se honra o
r[ais glorioso privilegio drl Maria, clá margem a uma refleiao que se ap-
plica com a mesma jrrsteza ao estabelecimento tlas outras festas. Assim
c0m0 a ltrgreja não decidiu d'urna só vez, e logo na sua origem, todas as
questões cle dogma e de moral, assim tambem não es[abeleceu d,uma vez
so as di[Ierentes práticas do seu culto. seguiu os tempos.e proporcionou-
se ás necessidades dos fleis : e esta uma nova prova da sua profunda
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DE PER§EVERÀNÇÀ. 2gI,
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-
2gZ cÀrgcrsuo
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DE PERSEVERÀNÇÀ. 293
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"--
29L carEcrsrro
Eis alri o typo divino que nos apresenta hoje a religião em Maria.
Era preciso nada menos gue um motlêlo tam perfeito para tornar a mu-
Iher respeitavel a seus olhos e aos olhos do bomem, tam envilecida es-
tava no mundo antigo, tanto o está ainda em tocla a parte onde não é co-
nhecida a nova Eva. No dia para sempre bemdito di Immaculada Concei-
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DE PENSEYERANÇÀ. 295
Tal ér a saudavel inÍluencia que a razáo reconhece no mysterio de
Maria concebida sem peccado. Ainda isto não é tudo; a fé, vindo em au-
xilio da razã0, sua filha e pupilla, lhe descobre outra vantagem d,este
mysterio. Era preciso, lhe diz, que Maria fosse sem macula, porque devia
ser um dia a Mãe de Deus; o seu casto seio devia ser o tabernaculo do
Yerbo eterno. Se a arca d'alliança devia ser santa e revestida do ouro
mais puro por dentro e por fóra, porque devia encerrar as taboas da lei,
quanto mais santa e pura não era necessario que fosse Maria para trazer
nas suas entranhas o Mestre da lei!
A esta lição de fe exclama o homem: comprehendo, Maria devia ser
sem macula. Mas que I não me está reservada a honra de receber em mim
o meu Deus em pessoa? na communhã0, não estou associado em certo
modo á maternidade divina ? e não estou obrigado a fazu esta commu-
nhã0, sob pena de morte? não está escripto: Sa nd,o comeriles a carne ilo
Filho do Homenr, e se não beberdes o seu sangue, ndo tereis a tsiila em
aós (l) ? sim, é preciso que eu commungue. Mas que é a minha santida-
de, comparada com a de Maria? A este pensamento, profundos sentimen-
tos d'humildade, saudaveis remorsos, e generosas resoluções se formam
na alma. 0teor de vidamodifica-se, e avigilancia, e adoçura, eaterna
piedade, e a obediencia, que sei eu ? e todas as virtudes gue são o en-
canto da vida, a felicidade das familias e a força da sociedade, brotam,
como por milagre, á recordação de ll[aria concebida sem peccado, de
Maria sempre pura e sem macula, porque devia receber o seu Deus. 0s
sentidos, o espirito e o coração regeneram-se; o homem dá mais um passo
para o fim a que deve tender; e eis, para a familia e para a sociedade,
uma nova garantia de paz e felicidade.
vI. Lrruner.t DA FESTA. para tornar tam viva quanto possivel a
-
saudavel influencia do typo divino que nos apresenta esta festa, nol-o faz
a Egreja encarar sob todas as suas faces. Rodeia-o das mais graciosas ima-
gens, fal-o por assim dizer tomar posiçã,0, para que cada um de nós possa
estudal-o á vontade e copial-o inteiramente.
Assim, a Missa da Conceição nos mostra a Maria reunindo todas as
especies de gloria e nobreza. No Introito, nos apparece a augusta filha
dos reis de Judá como o objecto das antigas prophecias, como a Virgem
por excellencia, a Yirgem Mãe de }lanuel, que deve occupar o throno de
David. A Epistola nos falla do seu poder e da victoria que ha de alcançar
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'
296 ,ÀTECI§Mo
(1) Reseripto do nosso Sauto Padre o Papa Pio VI, de 21 de novembro de 1793.
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DE PEnSEVEnANçÀ. 2s7
0RAÇÃO.
0' meu Deus, que sois todo amor I graças vos dou ppr terdes pro-
servado a SS. Virgem da macula do peccado original ; concedei-rnc que
conserve toda a minha vida ou recobre pronrp[arnente a innocencia do
meu Blptismo.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao pro-
ximo como a mim mesrno por alttrrr de Deus; e, em prola d'este atnor,
hei, ile recitar todos os dias ,res Ave-Marias em honra da lmmaculada
Conceiçã0.
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298 CATECISMO
I.
onrcl:u DÀs TENTpoRAS. Na terceira semana do advento chegam
-
as Temporas do outono. As Temporas são tres dias de jejunr gue se ob-
servam no fim de cada estaçã0. Se a antiguidade d'uma prática átiás sau-
davel é propria para [ornal-a veneranda, deixo-vos que penseis que res-
peito devemos ter a es[es dias consagrados á penitencia, e com que reli-
giosa exactidão devemos observal-os. A ins[ituição das Temporas remonta
aos primelros seculos da Egreja ({); a mesma Synagoga nos offerece ves-
tigios d'ellas. 0 jejum das estações do estio, outonc e inverno e clara.
mente indieado pelo propheÍa Zacharias (2). Herdeira do todas as santas
práticas assim como de todas as verdades antigas, a esposa de Jesus Christo
conservou, santificou e aperfeiçoou o uso do jejum nas quatro estações.
Por pouco que nos dêmos ao trabalho de estuclar o'seu proceder,
lhe encontraremos o cunho de profunda sabedoria, isto é, a um tempo
de profundo conhecimento da condição do homem n'es[e mundo, do seu
caracter e de grande sollicitude pela sua felicidade.
Com effeito, que é o homem ? E' um rei decahido, é um ente envi-
lecido. Eis o gue nos diz o indefinivel mixto de grandeza e baixeza que
encontramos em nós mesmos. Dois homens existem em nós sempre d'ar-
mas em punho, oppostos em pensamentos, sentimentos e desejos : um
(1) Baron_., _qu.__5_1_". 126 e127 ; Isid , O.frr, c. XXXYII e XXXYIII ; Raban.
Maur., fnsfit.r l. II, XIX, etc.
(2) Zach., Y[I, 19.
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DE PEffSüYERAiTçA. 29p
bom, guc aspira a Íudo guanto é nobre ê virtuoso; outfb meu; que tehde
com, raiva a tudo quanto é vil e criminoso. A qoal perlencerá a victsria?
a nós ouÍopre decidit-0. Se gueremos que o hornem bom domine o'hd-
mem mâu, gus o espirito love a melhor sobre a carne, é necessario en.
fraquecermos a carne, é necessario fortalecermos a alma : eis ahi o que
nos diz a razáo, A gloria e a felicidade, são'o premio da victoria do es-
pirito sobre e carDe. 0 remorso, a vergonha e a desgraça no tempo e Da
eteraidade, são a inevitavel consoquencia do imperio dos sentidos sobrê 0
espirito.
Que é tambem o homem ? E' um cri'minoso. Eis ahi o que nos bra-
&m todos os seculos e todos os povos. Eis ahi o qud nos dizem os sfi.
crificios, as expiações de todas as especies que se eàeonffam por üodas
as paÉes, bem como as innumeras miserias que nos opprimem. Obra d'um
Deus bom, não e o homem d'esgraçado senão porque está envilecido, e ttão
está' envilecido senão porque ê criminoso.
Pois somos criminosos, estarnos obrigados u Íazet penitencia. Sim,
assim é; diz-nol-o a voz da razã0, diz-nol-o tambem o eosino da fs. Ts-
das as paginas do Antigo Testamento recordam esta necessidade da pe-
ni[encia'; o Evangelho confirma esta lei immutavel. Quantas vezes não
disse o Salvador do mundo que a peni[encia era a condição'indispen'sa.
vel da salvação ? Não foi da sua bÔcca que sahiram estas palavras: §V
rúo fizerdes penitencia, perecereis úodos sem' üstincção (I) ?' O?gfo inu
frllivel do,Homem-Deus, não accrescenta a Egneja que a vida do Christão
deve ser 6mx, penitencia continua (2)?
Que é tambem o homem ? E' um onte que é' chamado a imitar um
nodêlo divino, cuja vida foi Uma penitencia continua. Assim, eôuio ho.
mens, como peccadores e como Christãosr somos obrigados á. penitencia,
E' ella para nós de direito nâtural 6'de'direito divino. E' o unico meio
dg tornarmos a subir ao throno d'onde cahimos, de voltarmos á ordetÍI
do quo nos desviamos, e finalmente de imitarmos o augusto modêlo com
que; sob pena de morte, devemos assimilhar-nos.
Mas esta penitencia, de que modo déve' fazer-se ? em que tempo ?
Qtre,ohras é preciso impõr-se? Se deixardes a' cada particular o cuidado
de resolver estas guestões; chegareis logo a'uma estranha confusão d'idêa§,
e depoÍs a praticus absurdas, ridiculas, m0nstruosas talvez; Interroga€'d
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800 cArEcrsuo
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DE PERSEVERÀNÇA. 3OI
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IM eÂTEcI§TTo
(1)
Medicus,
Iibus au
salutem,
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DE PER§EVERANçA. 30s
ao Dascer do,sol para ter um lantar mais sumptuoso ao meio dia, iejuar
abstendo-se da caroe dos animacs para lhos substituir com o mesmo luxo
a dos peixes, g jejuar á maneira d'Epicuro. Jejuar e não unir o jejum á
esmola, é em cer[o modo roubar ao pobro a economia d'um jantar; é cor-
romper o preceil,o no seu senüido mais sublime, e prestar um motivo'de
escandalo mui real á irrisão dos, impios (l).
m. RlzÃo DAs Teuponly E DAS Yrcr;rÀs. E' pois. mui sabia
-
[greja catholica, na obrigação'geral que Dos impõe de jejuarmos. Não s
a,
.
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404 caruorsuo
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DE PERSTNVTTRÀNÇÀ. 30t
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306 rÀrEgrsMo
0RAÇÃ0.
0' meu Deus, que sois todo amor t graças vos dou por haverdes es-
tabelecido as Temporas; concedei-me que entre bem no espirito d'esta
saudavel instituiçã0.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e a0 pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e, eru prova d'este amor,
hei de juntar a esmola ao jejum e d oraçuo.
(1) Yide Thom., Tratailo ilo jejum, part. I, c. XYII ; pa$. l[, c. XIy.
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DII PER.§EVERANCT\. 307
vEGEStMA.0tTAVA LtÇÃO.
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308 cArEcrsuo
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DE PERSEVERÀNÇÀ. 309
gra, José e Maria, que eram ambos da real familia de David, foram
á cidade de David, chamada Bethlem. Alli foram inscriptos 0s seus nomes;
e os registros do inrperio romano attestaram que Jesus, Íillto de Maria,
era descendente de David, e as prophecias que o haviam annunciado ve-
rificaram-se por um monumen[o authentico.
il. DoscnrnçÃo DÀ GRUrÀ. - Entretanto, Jose e Maria, chegados á
cidade de seus paes, em vão procuravam pousada. 0u porque 0 Seu êtr-
Agrippa egi.
ZO
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3r0 CÀTECISUO
. 2..'9u9 fez o terceiro com o seu collega Tiberio, no consulado de Sexto Pompeio e
Serto Âpp u I ei o, quatorze rro s chri s to :
H. if;;:,S: rrr.Ju
Ca... Sex. Pompeio. et. Ser.
^ -- 3.o qo
Gallo:
sd, no consulado de Caio Mario Censorino e Caio Asinio
solvs. feci. Censor. ..
T:.:lit.Ivstrvm.
Cos. . .
(1) Quoniam Joseph n-o:r htbebat in vico illo Bethleem, quo diverteret, in spe-
!.uqUuemda.m prope vrgum divertit, et cum illi essent ibi, pepôriü Maria Cni:istdn.
§. Justo, Dialog. cwm Trgph
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DE PERSEVERÀNÇ4. 3tt
branco, incrustatlo de jaspe, e rodeado d'um circulo de prata, radiado em
fórma de sol. Lêem-se es[as palavras em redor:
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3t2 CÀTECISMO
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I
DE PERSEVERÀNÇA. 8t3
E' que hoje, na cid,ade d,e Daaid, nasceu unx Salrsador que é o Chris'
Dos
a Deus (3).
Assim uns homens simples, pobres e obscuros, foram os primeiros
conÍidentes do nascimento do Messias, os primeiros a quem Deus Padre
reservou a insigne honra de depÔrem aS suas homenagen§ aos pés de
seu Fitho: este só facto contém uma revolução moral inteira. E o prin-
cipio da nova ordem de idêas que deve mudar a face do mundo. Rique-
zas, despotismo, orgulho, o vosso reinado acabou; começa o do despren'
dimento, da humildade e da charidade.
Estas palavras que o Ànjo diz aos pastores : Nada temaes, nasceu'
vos um Salvador, dirige-as a Egreja catholica cada anno a todos os seus
filhos, a vós como a mim. Durante o À'Jvento, [omára a voz d'Isaias e de
:
João Baptista para dizer-Dos Preparae os caminhos do Senhor : appro-
xima-se o momento em que tocla a carne ha de vêr o Senhor enviado
por Deus. Dep.ois, quando as quatro mysteriosas sema0as tocam n0 seu
:
flm, indica um derradeiro dia de jejum e preparação SantiÍicae-vos, nos
diz, que ámanhã fará o Senhor entre vós coisas admiraveis.
V. Lt'runctA. À fim de associar.nos á feticidade dos pastores, quer
-
(1) A tracliçào noe diz que erâm em numero de tres. Yicle as Tru Romas,
t. I ;' os'Pi,fferari, e §andini, Hist, famil,, lq,u,
(2\ Lucas, I.
(3) I..rucas, 1I,9,20.
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ile cÀTECTSM0
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DE PERSEVARANÇÀ. 3t5
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316 CÀTECI§il0
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DE PEnSEVEnAJ{çA. 317
zeres. Estes tres amores hão sido como uma febre ardente. Por espaço
de quatro mil annos esteve o genero humano n um delirio contÍnuo, e
viu-se este grande enfermo agitar-se como um furioso no seu leito de dôr-
Lançando mão successivamente de todas as creaturas para apagar a sêde
que o devgrava, atormentou-as de mil maneiras, para as forçar a darem-
Ihe um poucg tle allivio; depois lançou-se aos seus pés, e, com voz Sup-
plicante, lhes pediu a esmola cla felicidade. Yans supplicas I inuteis esfor-
ços t e, no seu desespero,
amaldiçoou todas as crea[uras, amaldiçoou a
,idr, ,*rldiçoou-se a si mesrno, exclamou pela bôcca do mais feliz dos
mortaes : Vaiilad,e, menti,ra, afil,icçd,0, tudo é só engano (l). Mais oale
o
(1) DceJ'I,2
(2) ld., yrr,2.
iaí Christus'elegit quotl salubrius juclicat, vos elegitis quotl reprobaf quisJru-
ttentiií e duobus?..,Au"t istàfallitur, aut úuudus errat. Beru,, Serm^lIIin Nati'u. Dom,
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3t8 OÀTECISMO
. (l) _Ántemus puerunl' de Bethleem ; atnemrrs puerurn cle Betltleem. Amemos o NIe-
nino de Betltleur ; â.memos o Menino de llethlem t tat era a divisa e como que o grito
d.e guerla do seraphico S. Francisco.
Yide Bethlenx ou a Esch,ola do ilIeníno Jesus, seguudo S. Affouso de Liguori,
in-18. Debalde se procuraria coisa mais instructivá e tocaute.
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DD PER§EVENANÇ4. 3t0
Pois bem ! minha alma, eis o que fez por ti o Filho de Deus. Quem
és tu ? e que e o homem, senão um bicho da terra,
e um bicho da terra
vel'me diante do ho-
ingrato e perÍido ? E's menos diante de Deus que um
,ó*. Que importava a Deus que este natla rebelde permanecesse n0esse setl
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320 'cArsqsuo
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DE PERSEVERÀNÇÀ. 3?t
chivos do impêrio (l). De mais, é mister remoi tar aos primeiros seculos
para encontrar a origem da festa do Natal (2).
Uma das mais celebres do anno, goza de d ris mui gloriosos privile-
gios : primeiro, suspender a lei da abstinencia, de fórma que se póde
comer carne no dia de Natal, ainda que seja sexta feira ou sabbado (3);
segundo, dar aos Sacerdotes a faculdade de dizerem tres missas. Diz-se
a primeira para celebrar o nascimento eterno do Filho de Deus no seio
de seu Pae; a segunda, o seu nascimento da bemaventuratla Virgem Ma-
ria ; e a [erceira, o seu nascimento espiritual nas nossas almas pela fé e
charidade.
0utr'ora os Sacerdotês estavam n0 costume de dizer catla dia varias
missas ; tinham toda a liberdade de obrar conforme os movimentos da
sua devoçã0. 0 concilio de Salgunstadt, perto tle Moguncia, celebrado no
anno de 1002, é que restringiu 0 numero d'cllas a tres cada dia e cada
Sacerdote. Mas o Papa Àlexandre II, que morreu em {073, mudou este
costume e não deixou a liberdede de dizer as tres missas senão no dia
de Natal. 0s Íieis não podem fazer coisa melhor que assistir a ellas, ma§
a Egreja não lh'o impõe como obrigação: uma só missa basta para cum-
prir o seu preceito.
oRAÇÃ0.
O' meu Deus, que sois todo amor I graças vos dou por terdes en'
viado o vosso ditino Filho para nos remir; fazei-nos comprehender, amar
e praticar as lições que elle nos dá no presepio.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e a0 pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amor,
hei de dizer muitas vezes : Dioino Menino Jesus, tornae o rnezt, aoração
similhante a,o oosso.
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322 CATECISMO
vEGESTMA-NONA LtÇÃO.
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a
DE PERSEVERÀNÇÀ. 323
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32{- CÀTECIsMo
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DE PERSEYERAN.CA. 325
guem das tradições sagradas da sua patria, diz expressamente que o Sal-
vador foi circumcidado no estabulo tle Bethlem (l), e provavelmente pela
mão da ss. virgem ou de s. José. Jesus, sendo Deus, podia dispensar-se
d'esta dolorosa ceremonia da lei mosaica; porem quiz submetter-se a ella
por varias razões egualmente dignas da sua sabedoria e do seu amor.
l.o subjeitando a ella a sua sagrada pessoa, abrogava d'um modo
honroso um rito que Deus não estabelecêra senão por algum tempo.
2.o Provava por esse modo que tinha na verdade corpo humano, e
confundia antecipadamente os sophismas da heresia, que, não obstante a
proYa evidente tirada dos soflrimentos e acções da sua vida mortal, devia
um dia negar a realidade d'ella.
3.o Mostrand0 que era Íilho d'Àbrahã0, de quem devia descender o
Messias, prevenia as objecções que podessem fazer os judeus para lhe con-
testarem a divina qualidade de Messias, sob o pretexto de que era estrangei-
r0, e adquiria o direito de conversar com elles para salvação de suas almas.
&.o Tornava-se o nosso modêlo, ensinava-nos a obetliencia âs leis
de Deus, inspirava-nos horror ao peccado, e fazia-se victima nossa.
m. DrsnosrçóEs pARA À FESTA. 0 dever de nós todos é entrar-
-
mos nos sentimentos do Salvador e aproveitarmo'-nos das lições que nos
dá hoje. Para isso, ,l.o esforcemo'-nos por conceber vivo horror ao pec-
cado que subjeita aquelle tenro Menino a uma ceremonia tam dolorosa;
2.o desprendamo'-nos seriamente das coisas creatlas, e velemos exacta.
mente na guarda dos nossos sentidos, para os preservarmos da seduc-
rd:rlffi*:à"T*-,
atre delatus est. Sed
ü[:i:ÍIi
rr i er o s or y m am B e r h r e e m u m q u e, g e s ta t e
t ilxl'.:'Ê:i ffi 3il, ;: lí. 3:.,?
ad edes.quasdam cum_matró et Josepho divertisiet, qui jam grandis natu^cum Ma-
ria degebat, secundo ab nativitatis anno a
ornatus est. Eadem vero noet
nitus, iu .,&gyptum transfertur
mortuo jam Herode, ac succede
Herodis anno quar.tum etatis
ac triginta confeetis annis vive
impetavit; quo le.glrum ineunte Josephus ex ,iEgypto cum Maria et puero digressus,
ubi Archelaum impelare didicit, in Galilrearã-slecessit, ac tum Nazareti óusidit.
(Here*, t.I; Her.r-XX.
- Id, Eures,Ll.)
2L
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32t, cÀrnclsuo
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DE PERSEVERÀNÇÀ. 327
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328 carBCISMo
(1) In hoc salus mundi tota congistit. Odo Clun., O1nnc.r l. II, c. XXYII;
§, Liguorio, Selu., t. I, p. 255.
(2) Ápol,., c. XXII.
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DE PEB§EVERANÇA. 329
será o meu descanço; se estiver doente, será Jesus o meu medico e con-
solador; se morrer, será no seio do Jesus ; Jesus será a minha felicida-
de, e o seu nome o meu epitaphio.»
Estamos obrigados a render homenagem ao nome de Jesus, não só
por gratidã0, senão tambem para obedecermos ao Padre eterno, que quiz
que a este nome todo o joelho se dobrasse no ceo, na terra e nos infer-
nos (l). D'esta ordem divina veio o an[iquissimo cos[ume de todos os fieis
manifcstarem a sua veneração ao santo nome de Jesus inclinando a ca-
beça todas as vezes que o pronunciam ou ouvem pronunciar. Em 127 &,
confirmou o segundo concilio geral de Lyão este piedoso costume.
Mais tarde, concedeu Xisto Y indulgencia de vinte dias áquelles que,
com sentimentos de sincera contriçã0, inclinassem a cabeça ao proferirem
o santo nome de Jesus. Em 1587, concedeu o mesmo Pontifice a todos os
Chri'stãos indulgencia de cincoenta tlias, todas as vezes que saudando usas-
sem da formula seguinte, quer em latim, quer em lingua vulgar z Lou-
tsad,o seja Nosso Senhor Jesus Christo, Laudetur Jesus Christus, ou que
respondessem : Àssim seja, ot Por todos os seculos, In sacula saculo-
rurn, Foi tambem concedida indulgenoia plenaria no arligo da morte áquel-
les que, tendo feito saudações em nome de Jesus ou llIaria, com prática
habitual, as repetissem n0 seu coraÇã0, não tendo já força de articular.
Estas indulgencias foram confirmadas em 1728 por Benedicto XIII (2).
Y. Anrreummr: E RAzÃo DA FEsrÀ »l CmcuucrsÃ0.
- 0 respeito
profundo gue a Egreja teve sempre ao Salvador e ao seu admiravel nome
é uma prova da antiguidade das festas estabelecidas em honra sua. Posto
que a solemnidade da Circumcisão não se ache nomeada pela primeira vez
senão no segundo concilio de Tours, em 567, não se póde duvidar de que
seja muito mais antiga e remonte pelo menos ao quarto seculo (3). Com
effeito, este concilio diz expressamente que não faz mais que renovar o
estatu[o dos antigos Padies. Tornou-se mais celebre esta festa, ordenaram-se
orações mais longas, e prescreveu-se o jejum; porém não era senão meio
jejum, cuja observancia era mui compativel com a solemnidade. 0utr'ora
era costume celebrarem-se duas missas n'aquelle mesmo dia: uma em
honra da Circumcisão do Nosso Senhor, e outra em honra da SS. Virgem,
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S80 cÀrEcISMo
para que a divina Mãe tivesse parte nas festas quà se fazem destle o Na-
tal para gloria de seu Filho. D'onde vem que se encontram ainda no oÍli'
cio e na missa muitas coisas que se referem á SS. Yirgem (l).
Rec6nhecei aqui a intelligente sollicitude da Egreja. 0 dia da Circum-
cisã0, que cahe no primeiro dia do anno, era para os pagãos um dia de
desorclem. A Egreja lhe oppoz o culto de Jesus soffredor e de Maria sua
mãe, e mãe das virgens, assim como o iejum e as santas orações (2). 0s
pagãos honravam n'aquelle dia a sua deusa Strena oa Strenuo com a troca
de presentes a que Íicou o nome de estrêas, isto ê, presentes offerecidos
em honra da deusa Strenu,. Estes regosijos, acompanhados de mil exces-
sos, começavaú entre oS romanos a l7 de dezembro. Por espaço de oito
dias, celebravam as suas saturnaes ou festas de Saturno. Então 0s escrâ-,
vos comiam com os seus senhores; e tinham liberdade de dizer tudo. 0
flm d'este costume supersticioso era perpetuar a memoria da fabula da
edade d'ouro, em que se pretendia que não tinha havido distincção de
classes entre os homens.
0s mesmos povos celebravam tambem as Calendas ou o principio
de janeiro, em honra do seu Deus Jano, Com espectaculos tam extrava-
gantes como licenciosos. Este deus impozera o seu nome a0 mez de ja-
neiro e parecia dar principio ao anno. Tal e a origem dos regosijos pro-
fanos do primeiro dia do anno, dos Reis e do carnaval, aos quaes tan-
tos Christãos não se envergonham de entregar-se: varios concilios os con-
demnaram severamente. Sabemos de S. Isidoro de Sevilha e d'Àlcuino
que algumas Egrejas ordenavam um jejum no í.0 de janeiro, a flm de
reprimirem mais eÍlicazmente esÍ,es abusos (3).
U. Sanrm'rc.q,ÇÃo Do nRIMEIRo DIA D0 ÀNNo.-Já não resta, no pri-
meiro tlia do anno, mais que o uso das estrêas. Não obstante a sua ori-
gem pagã, nada tem hoje que seja contrario á santidade do Christia-
T":
(3) Lib. II, d,e Ofio, c. XL ; lib.
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\
DE PERSEVEftANÇÀ. s8t
nismo. Ató póde ser a feliz occasião da reconciliação entre os membnos
da mesma familia, pois é proprio para estreitar os vinculos da charidade
mutua. A nós cumpre santitical-o pela pureza das nossas intenções.
0 mesmo succede com os desejos de bom anno. Para muilas pes-
soas, são palavras ao vento e vans formulas. Porque não haviamos de
fazer d'elles uma coisa santa ? porque não haviamos de Íazer d'elles uma
supplica do coração ? porque não haviamos de desejar sinceramente uns
aos outros um anno r,erdadeiramente bom, isto é, bom diante de Deus
e para o Ceo, santificado pelo amor de Deus e do proximo ? Se almas
simples o fazem, porque não o haviamos nós de fazer?
Mais illustrados que nós, porque eram mais christãos, dirigiam nos-
sos paes uns aos outros votos muito mais completos que os nossos. Di-
ziam mutuamen[e na sua ingenua charidade : Desejo-rsls u,rn bom annn,
acompanhado de mu'itos outrls, e o Paraiso no fi,m dos dias. Tal-
"-o§sos
vez mofeis d'esta formula ? Pois bem, dizei-nos se conheceis outra mais
digna do homem e do Christã0. 0s vossos desprêsos causam mêdo e
dó; reseryae-os para vós; reservae os vossos sarcasmos para 0s insul-
sos cumprimentos, para as palavras mentirosas, para o vão ceremonial
das pessoas do mundo no principio do anno novo. A formula de nossos
paes esteja pois nos nossos labios 0u no nosso coraçã0. Qualquer outra
é incompleta ou men[irosa
E' pois louvavel o desejar bom anno a todas as pessoas que nos são
charas ou a quem devemos considerações, porem não esqueçamos Aquelle
a quem devem dirigir-se 0s nossos primeiros votos. Sim, desejemos bom
anno a n0ss0 Pae celeste; digamos-lhe com conÍiança e ingenuidade in-
fantis : Meu Deus, eu vos desejo um bom anno, desejo-vos um anno em
que sejaes conhecido, amado e glorificado por todo o mundo. 0ÍIereça-
mos-lhe as nossas estrêas: 0 nosso coração, e uma santa resolução para
o n0v0 ann0. Peçamos-lhe as suas; 0s seus lhesouros estão abundante-
mente providos; deixemos-lhe a escolha : a sua mã0, dirigida pelo seu
coração de pae, nos dará o que sabe ser-nos mais util.
Sejamos sobretudo mui fieis ao tocante costume estabelecido n'um
Catecismo de PerseveranÇa que los não é desconhecido. Sabeis gue, no
primeiro dia do anno, a mesma presidenta faz o peditorio para o menino
Jesus. Dinheiro, Iaranjas e dôces, tudo se recebe e dá como estrêas ao
menino Jesus, na pessoa d'uma creancinha pobre d'antemão escolhida.
Não e isto uma ficção; reanimae a vossa fe. No Evangelho, não diz Nosso
:
Senhor 0s pobres tiveram fome ; os pobres tivoram sêde; mas diz :
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___
332 cArECrsMo
Eu, sim, eu, vosso Deus, tive fome, tive sêde; é pois realmente ao me-
nino Jesus identificado com o pobre que se dirigem as vossas estrêas.
Rogo-vos que adopteis este tocante costume. Nada e mais proprio para
attrahir as bençãos do Ceo sobre o anno que comeÇa. E depois e tam
grato fazer um feliz, um feliz d'um pobre menino que, se não fosseis
vós, veria, tremendo com frio, e desprovido de pã0, os companheiros
da sua edade gozarem alegremente as doçuras e jubilos d'esta epocha
tam desejada I
Finalmente, o primeiro dia do anno deve inspirar-nos graves pen-
samentos. Esse anno que finda e que cahe como uma gôta d'agua n0
oceano da eternidade, cahe para mim puro de todo o peccado ? Que fiz
eu por Deus e pela minha alma ? sou melhor no fim d'esse anno do que
era n0 principio ? De que defeito me corrigi ? que virtude adquiri ? Se
fosse necessario dar contas, que merecimentos teria que apresentar ? E
comtudo quantas graÇas não recebi I
um util exercicio, na vespera e no dia do anno novo, e confessar-se
e commungar como em viatico. Para isto faz-se exame por espaÇo d'um
quarto d'hora, recitam-se as orações dos agonisantes, o prepara-se a
gente para a morte; n'uma palavra, procura-se regular os negocios da
consciencia, como os negociantes regulam n'aquella epocha as contas rlo
seu commercio. Ate quando, ó meu Deus, serão os Íilhos do seculo mais
prudentes que os filhos de luz ?
0RAÇÃ0.
0' meu Deus, que sois todo amor ! graças vos dou por terdes derra-
mado por mim as primeiras gôtas do vosso sangue no dia da Circumci-
são; dae-me um grande respeito e uma grande confiança para com o v0ss0
santo nome.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao pro-
ximo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prova d'este amor,
hei de pronunciar todas as manhd,s, d,o o,cordar, os sa,túos nlmes de Jesus
e Maria.
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DE PERSEVERANÇÀ. 333
TRTGESTMA L|ÇAO.
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a&4 carDcrsMo
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L
DE PEnSEVERANÇA. 835
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336 carncrsuo
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DE PERSEVERÀNqA. 337
fissão de não saber outra coisa dos [Iagos senão o que aprendeu do Evan-
gelho. Crê só que depois de terem regressado á sua terra, tiveram grande
cuidado em conservar e fazer aproveitar a graÇa que tinham recebido, e
que ctregaram á gloria do ceo, depois de terem annunciado Jesus Christo
á terra, tanto pela sua instrucçã0, c0m0 pelo exemplo da sua vitla (l).
Todavia uma ant,iga tradição diz que eram em numero de tres, e que
eram reis (2). Outra os designa pelos nomes seguintes : Melchior, GaS'
par e Balthazar. Melchior, o primeiro dos Magos, diz esta tradiçã0, era
um velho calvo, e tinlra uma grânde barba e compridos cabellos brancos.
Vestia, guando se prostrou ante o Menino annunciado pela estrella, uma
tunica côr de jacintho ou azul celeste, um manto amarello ou alaranjado,
uns sapatos de côr mesclada de azul e branco, e um manto real de diffe-
rentes côres. Offereceu ouro a0 Rei Jesus.
0 segundo Mago chamava-se Gaspar. Era moç0, sem barba, córado,
vestido d'uma tunica alaranjada e d'um manto vermelho; os sapatos eram
côr de jacintho: offereceu incenso para reconhecer a divindade do Filho
de Maria.
0 terceiro chamava-se Balthazar. Era trigueiro, trazia grande barba,
e es[ava vestido d'uma tunica vermelha e d'um manto de cÔres varias ;
os sapatos eram amarellos : offereceu myrrha ao Salvador para denotar
a sua mortalidade (3). Esta tradição póde ser objecto d'uma piedosa
crença, mas não d'uma fé obrigada.
Quanto á profissão dcs Magos, crê-se que cram reis e que faziam
um estudo particular da astronomia (&). Versados no conbecimento das
tradições antigas, reconheceram na estrella milagrosa aquella estrella pre-
tlicta quinze seculos antes por Balaam. E' sabirlo que quando entraram
na Terra promettida, sob a direcção tle Josue, os israelitas ficaram em
todas as partes triumphantes. A fama das suas victorias, e ainda mais os
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'----/
338 cÀrEcrsMo
ffiHf-::
sabios
os
$';;1;'"Xl*;
tempo e os seus
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DE PENSIIVERÀNCÀ, 339
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-\-_
340 CÀTECISMO
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DB PUTISDVERÀNCA. 34t
Do meio d'essas ruinas da sua antiga gloria, nos bradam essas na'
ções e cidades : Povos da Europa, nós fomos vossas irmãs mais velhas
na civilisação ; a nós pertenceram as primicias da fe; fomos o que vós
sois, illustradas, livres e felizes; guardae bem o que possuis: a Religião
que vos tirou da barbarie, é o que impede que n'ella torneis a cahir.
0h t nã0, meu Deus, não e sem razão que vós cercaes as nações chris-
tãs d'uma vasta faxa de povos idolatras ou barbarisados; quereis, com
esse espectaculo a um tempo lamentavel e terrivel, instruir-nos e tornar-
nos agradecidos e fieis.
Façam-nos estas graves lições entrar em nós, e mova-se-nos o cora'
ção á vista de tantas miserias: mas não nos limitemos a uma esteril com-
paixã0, voemos em soccorro d'esses povos desventurados. Pequenas es-
molas, coadjuvando o heroico zêlo dos nossos missionarios, proporcio-
nem a esses homens, remidos c0mo nós por sangue divino, a felicidade
que nós disfructamos talvez com mui pouüo reconhecimento. Quem sa-
be? a consenação da fé entre nós talvez se consiga por esse preço. Sub-
ministrar a luz do Evangelho aos que estão abysmados nas sombras do
erro, é, não o duvideis, o verdadeiro meio d'entrar no espirito da festa
da Epiphania e de celebral-a dignamente.
0 procedimento dos ilIagos é tambem um exemplo que devemos
imitar. Não é tempo de mostrarmos a mesma fidelidade á graça? Todas
as vezes que Deus nos falla, ou pela bôcca dos seus ministros, ou pelaS
suas santas inspirações, ou pelas revoluqões, flagellos e beneficios, é uma
estrella qae faz brilhar n0 nosso horisonte : é um astro que nos chama
a Deus. Sigamol-o como os l\fagos seguiram a estrella, prompta, gene'
rlsa, pura e fielmente, e como elles encontraremos a Jesus Christo ; e
em seguida, tambem como elles, depois de o termos encontrado, depois de
termos deposto a Seus pes a homenagem do nosso coração, vamos por
outro caminho; abstenham0'-n0s, possuidores do proprio Deus e da sua
graça, cle voltar junto dos Herodes que querem mandar matar o Menino.
Esses herodes todos os conhecem-são os maus cbristãos, cujas fal-
-e
las, exemplos e sarcasmos tendem a roubar-nos o thesouro da innocencia.
Reconhecimento pela nossa vocação á, fe, zêlo pela propagação do
Evangelho (l), uma disposição sincera a corresponder á graça, a flm de
(1) A historia seguinte é bem propria para inspirar-nos grantle zêlo pela obra
da proparaçãodt fé.
' À 5t'd'agosto dezeuove jovens. francezas, allemans, italiauas_e iuglezas, to'
mayam o habitõ religioso ,re cúmunidade do Bom Pastor d'Augers. *o *;f d'ellas
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3&2 CÀTBCISNO
se reconhecia, pela tez acobreada, uma joven africana, ácerca da qual tiveram a
boudnde de transmittir-nos patticularitlades que Iamentamos nâo potler dar senflo
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DE PERSEVERANÇA. 3&3
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SlLtt CÀTT)CISIIO
christâ, o tinha instruitlo bem. O zeloso missionario correu logo, e eneontrou effec-
tivamente o homem proximo a expirar', e, ao pé d'elle, sua mulher e a menina de
quem lhe tinham fallado. Qual nào foi a sua alegria, quanclo depois de a ter con-
templado conbeceu a sua Zoesinha, que, toda occupada com os horlivcis soffrimentos
de seu padrinho, nâo havia conhecido o P. Suchet ! I'eudo-lhe este'feito algumas
perguntas, íe lhe lançou ella aos pés, banhada em lagrimas, e dizendo-lhe : cSou
Zoé, vossa plotegida I sim, vós sois aquelle bom marabuto christâo que, depois de
me terdes ealvado da morte, me baptis.astes, e que me enchesteude tantas bonda-
des. Oh ! sim, soi e sois ego-vos bem'!, O homem de
Deus derramava Então e que 8eu pae adoptivo a ti-
nha euviado do E junto nho enfermo, o qual expirou
algumas horas de santo
O snr. abbade Suchet, julgando que era em fim tempo de usar dos seus direi-
tos, se dirigiu ao paço, e decidiu-se entre elle e }Ions. Pavy que Zoé nào voltasse
ao Fond-Ouck, junto de seu pae adoptivo, mas que fosse mettida no Bom Pastor
d'El-Biar, perto d'Argel, dirigido pelas religiosas d'Angers. O snr. Suchet manda
chamar uma rodeila, e lhe confia a menina para a levar á communidade. Antes dc
partir, entregu dez francos a Zoé, dizendo á rodeira que lhe deixasse comprar o que
quizesse. A joven kabyla pede á boa irmâ que a leve a casa d'uma modista I ella,
posto que esparrtada, a acompanba. A rnenina pede corôas de perpetuas, e corre ao
cemiterio a depôr' este ultimo
tiva, fallecida pouco tempo a
pedidas. rAgora já nào teu
para onde quizerdes., Cheg
sua modestia, e todas as suas jovens companheiras lhe conferiram o premio d'honrs.
O snr. Bispo e o snr. §uchet, r'endo-se obrigados a ausentar-se pol espaço de dois
mezes, recornmendaram
De volta, o snr.
a esta grande aeçâo.
de Gonzaga, teve a feli
no uromeDto de fazer
para fazer voto de ser religiosa I tendo-lh'orecusado o prudente missionario, con-
tentou-se ella em offerecer a Deus o seu desejo. Depois eontinuou a sêr a edificaSo
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DE PITRSEVENANCÀ. 3&5
A super.iora d'El-Biar
dispunha-s6 a levar ajoven
sua resolucâo, veio de Food-
tasse pala ao pé d'elle, offerecendo-lhe at
a joven kabyln ficou inabalavel, recusa
%:'r*x',:.',n;,""T;X',
o em El-Biar, edificou
babito religioso com o
.
-. ^ §.- duvida, Ê'"qol a alguns annos, a ilmâ S. Fernando regressar.á ao seu clima
mustilr)
9'$f.ti"1, para ensinai ás infelizes não enconirar'âo a dignidade e
felicidade do ás santas evangelica. As joveís negrag
educaclas c dado na casa quereiào tambem dar estas su-
blimes liçõ es da Asia.
-.^ . (1) do, Ration., , c, XYI. e Thomass., l. II, e. yI; Conc.
d'Orleans, Auxerre, em
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3&6 CÀTECTSMO
ORAÇÃO.
0'meu Deus, que sois todo amor ! graças vos dou por terdes cha'
mado os gentios á fé; allumiae os infieis que vos não conhecem e os he-
rejes que vos desconhecem; e fazei com que, doceis á voz da graça, nÓs
mereçamos conservar a fé.
Tomo a resolução de amar a Deus sobre todas as coisas, e ao prOxi'
mo como a mim mesmo por amor de Deus; e, em prgva d'eSte amor,
hei de associar-me tÍ propagaçdo da fé.
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(
INDICD
DÀS
QfIAEtIra PAFtTrr'!.
PRIMEIRA LIÇÃ0.
SEGUNDÀ LIÇÃO.
TERCBIRA LIÇÃO.
*
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348 INDICD
QUÀRrA tIÇÃO.
QUINTA LIÇÃO.
SEXTA LICAO.
OrravA LrÇÃ0.
O elrrisúlanisrno úor.Íaílo serrgivel.
N0NA LrÇÃo.
UNDECIMA LIÇÃo.
O chrigúlanigmo úornado rencivel.
Natureza do sacrificio.- Sua necessidade.- Sacrificios antigos.- Saerificio
do Calvalio.-Sacrificio cruento.-Reune completando-os todos os sacri-
ficios antigos.:A Missa é um verdadeiro sacriÊcio, o mesmo que o do
Calvario.-A Missa é necessaria 119
DUODECIMA LIÇÃ0.
Estola.
-Suas -
-Àmicto. -Alva. -Cingulo -Manipulo.
a do Diacono.- Dalmatica.-Tunica do Sub.Dia-
-Casula.-Estol
cono.-sobrepelliz.- Capa d'asperges.-Riqueze dos ornamentos. 130
DECIMA.TERCEIRA LIÇÃO.
DECTMA-QUARTA trÇÃO.
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350 INDICE
DECIMA.QUINTA LIÇÃO.
DECTMA.SEXTA LrÇÃO.
DECTMA-orrAVA LrÇÃO,
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DAS MATERIAS COI{TIDÂS N'E§TE VOLUME. 35t
VIGESIMA.PRIMEIRA LIÇÃO.
VIGESIMA.SEGUNDA LIÇÃ0.
VIGESIMÀ-TERCEIRA LIÇÃ0.
VTGESTMA-0UARTA LIÇÃO.
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3õ2 INDICE
vrGEsrMA-sExra LrÇÃ0.
VTGESTMA-SETr}IA LrÇÃO.
VTGESTMA-0rTÀVÀ LrÇÃo.
VIGESIMA-NONA LICÃO.
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DÀS MÀTERIÀS CONTIDAS N,ESTE VOLUME 353
TRIGESIMÀ LICÃO.
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